mensalão do pt - recebimento da denúncia

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Seçáo de Processos Diversos do Plenário

TERMO DE ABERTURA

Em O q de h-@ de , fica formado o 5% volume dos presentes autos (a) que se

inicia a folha no / i A . W Y . Seção de Processos Diversos do Plenário Eu, &&p/ , Analista/Técnico Judiciário, lavrei este termd.

.

Page 8: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

RELATOR AUTOR (A/s) (ES) DENUNCIADO(A/~) ADVOGADO (A/S )

DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO (A/S )

DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO (A/S ) DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S)

DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S ) DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (AI'S) DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S)

DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S ) DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO (A/Sl DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO (A/S) DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S) DENUNCIADO (A/S) ADVOGADO (A/S )

DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO (A/S) DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S )

DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S) DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S )

011728

TRIBUNAL PLENO

MIN. JOAQUIM BARBOSA MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA JOSÉ LUIS MENDES DE OLIVEIRA LIMA E OUTROS JOSÉ GENOÍNO NETO SANDRA MARIA GONÇALVES PIRES E OUTROS DELÚBIO SOARES DE CASTRO CELSO SANCHEZ VILARDI E OUTRO(A/S) SÍLVIO JOSÉ PEREIRA GUSTAVO HENRIQUE RIGHI IVAHY BADARÓ E OUTROS MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA MARCELO LEONARDO E OUTROS RAMON HOLLERBACH CARDOSO HERMES VILCHEZ GUERRERO E OUTROS CRISTIANO DE MELLO PAZ CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES FILHO E OUTROS ROGÉRIO LANZA TOLENTINO PAULO SÉRGIO ABREU E SILVA SIMONE REIS LOBO DE VASCONCELOS LEONARDO ISAAC YAROCHEWSKY E OUTROS GEIZA DIAS DOS SANTOS PAULO SÉRGIO ABREU E SILVA KÁTIA RABELLO THEODOMIRO DIAS NETO E OUTROS JOSE ROBERTO SALGADO MAURÍCIO DE OLIVEIRA CAMPOS JÚNIOR E OUTROS VINÍCIUS SAMARANE JOSÉ CARLOS DIAS E OUTRO(A/S) AYANNA TENÓRIO TORRES DE JESUS MAURÍCIO DE OLIVEIRA CAMPOS JÚNIOR E OUTROS JOÃO PAULO CUNHA ALBERTO ZACHARIAS TORON E OUTRA LUIZ GUSHIKEN JOSÉ ROBERTO LEAL DE CARVALHO E OUTROS

Page 9: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R?g&%?m c2ZU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

D E N U N C I A D O ( A / S ) ADVOGADO ( A / S ) D E N U N C I A D O ( A / S )

DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO ( A / S )

DENUNCIADO ( A / s ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO ( A / s ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO (A/s) DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO ( A / S )

DENUNCIADO ( A / s ) ADVOGADO ( A / s ) DENUNCIADO ( A / s ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO (A/s )

ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO (AI'S) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO ( A / S 1

DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO (AI'S) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO (AI'S)

ADVOGADO ( A / S )

HENRIQUE P I Z Z O L A T O MÁRIO DE OLIVEIRA FILHO E OUTROS PEDRO DA S I L V A CORRÉA DE O L I V E I R A ANDRADE NETO EDUARDO ANTONIO LUCHO FERRÃO E OUTRO ( A / S ) J O S E MOHAMED JANENE MARCELO LEAL DE L I M A O L I V E I R A E OUTROS PEDRO HENRY NETO JOSÉ ANTONIO DUARTE ALVARES E OUTRO JOÃO CLÁUDIO DE CARVALHO GENU MARCO ANTONIO MENEGHETTI E OUTROS ENIVALDO QUADRADO P R I S C I L A CORRÊA G I O I A E OUTROS BRENO F I S C H B E R G LEONARDO MAGALHÃES AVELAR E OUTROS CARLOS ALBERTO QUAGLIA DAGOBERTO ANTORIA DUFAU E OUTRA VALDEMAR COSTA NETO MARCELO L U I Z ÁVILA DE B E S S A E OUTRO ( A / S ) J A C I N T O DE SOUZA LAMAS DÉLIO L I N S E S I L V A E O U T R O ( A / S ) ANTONIO DE PÁDUA DE SOUZA LAMAS DÉLIO L I N S E S I L V A E O U T R O ( A / S ) CARLOS ALBERTO RODRIGUES P I N T O ( B I S P O RODRIGUES) MARCELO L U I Z ÁVILA DE B E S S A E OUTROS ROBERTO J E F F E R S O N MONTEIRO FRANCISCO L U I Z FRANCISCO CORRÊA BARBOSA EMERSON ELOY P A L M I E R I ITAPUÃ P R E S T E S DE M E S S I A S E OUTRA ROMEU F E R R E I R A QUEIROZ JOSÉ ANTERO MONTEIRO F I L H O E OUTRO ( A / s ) JOSÉ RODRIGUES BORBA INOCÊNCIO MÁRTIRES COELHO E OUTRO PAULO ROBERTO GALVÃO DA ROCHA MÁRCIO L U I Z S I L V A E O U T R O ( A / S ) A N I T A LEOCÁDIA P E R E I R A DA COSTA LUÍS MAXIMILIANO LEAL T E L E S C A MOTA L U I Z CARLOS DA S I L V A ( P R O F E S S O R L U I Z I N H O ) MÁRCIO L U I Z SILVA E OUTROS

Page 10: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R* NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO (A/S ) DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO(A/S)

DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO (A/S 1

ADVOGADO (A/S) DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S)

: JOÃO MAGNO DE MOURA : OLINTO CAMPOS VIEIRA E OUTROS : ANDERSON ADAUTO PEREIRA : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES FILHO E

OUTRO (A/S) : JOSÉ LUIZ ALVES : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES FILHO E

OUTRO (A/S) : JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE MENDONÇA

( DUDA MENDONÇA) : TALES CASTELO BRANCO E OUTROS : ZILMAR FERNANDES SILVEIRA : TALES CASTELO BRANCO E OUTROS

R E L A T Ó R I O

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - (Relator): Sra.

Presidente, o eminente Procurador-Geral da República apresentou

denúncia contra JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA, JOSÉ GENOINO

NETO, DELÚBIO SOARES DE CASTRO, SILVIO JOSÉ PEREIRA, MARCOS

VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA, RAMON HOLLERBACH CARDOSO, CRISTIANO

DE MELLO PAZ, ROGÉRIO LANZA TOLENTINO, SIMONE REIS LOBO DE

VASCONCELOS, GEIZA DIAS DOS SANTOS, KÁTIA RABELLO, JOSÉ ROBERTO

SALGADO, VINICIUS SAMARANE, AYANNA TENÓRIO TORRES DE JESUS, JOÃO

PAULO CUNHA, LUIZ GUSHIKEN, HENRIQUE PIZZOLATO, PEDRO DA SILVA

CORRÊA DE OLIVEIRA ANDRADE NETO, JOSÉ MAHAMED JANENE, PEDRO

HENRY NETO, JOÃO CLÁUDIO DE CARVALHO GENÚ, ENIVALDO QUADRADO,

BRENO FISCHBERG, CARLOS ALBERTO QUAGLIA, VALDEMAR COSTA NETO,

JACINTO DE SOUZA LAMAS, ANTONIO DE PÁDUA DE SOUZA LAMAS, CARLOS

ALBERTO RODRIGUES PINTO (BISPO RODRIGUES), ROBERTO JEFFERSON

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fie fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011731

MONTEIRO FRANCISCO, EMERSON ELOY PALMIERI, ROMEU FERREIRA

QUEIROZ, JOSÉ RODRIGUES BORBA, PAULO ROBERTO GALVÃO DA ROCHA,

ANITA LEOCÁDIA PEREIRA DA COSTA, LUIZ CARLOS DA SILVA (PROFESSOR

LUIZINHO), JOÃO MAGNO DE MOURA, ANDERSON ADAUTO PEREIRA, JOSÉ

LUIZ ALVES, JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE MENDONÇA (DUDA MENDONÇA)

e ZILMAR FERNANDES SILVEIRA, pela suposta prática de diversos

crimes que serão minudenciados mais adiante neste relatório.

Passo a sintetizar o conteúdo da denúncia cujo teor,

desde o seu oferecimento, é público e já foi amplamente

divulgado pelos meios de comunicação.

Farei um breve resumo do extenso e complexo documento

de 138 laudas, de modo a demonstrar as imputações que dele

constam.

Obviamente, as partes pertinentes da denúncia serão

novamente reproduzidas, quando necessário, no decorrer do meu

voto.

Antes de descrever as condutas de forma

individualizada e de proceder as imputações específicas em

relação a cada denunciado, o chefe do Ministério Público Federal

apresenta um capítulo introdutório, no qual são narrados os

fatos notórios que deram origem ao presente inquérito (fls.

56161'5620).

Diz o PGR na referida Introdução (fls. 5616-5620):

"I) INTRODUÇÃO

Page 12: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@gl?k.zw B u & u Inq 2 . 2 4 5 / MG

Os f a t o s de que t r a t a m a presente denúncia tornaram-se públ icos a p a r t i r da divulgação pela imprensa de uma gravação de v ídeo na qual o e x Chefe do DECAM/ECT, Mauricio Marinho, s o l i c i t a v a e também recebia van tagem indevida para i l i c i t a m e n t e b e n e f i c i a r um suposto empresário i n t e r e s s a d o em negociar com o s Corre ios , mediante contra tações e spúr ias , das q u a i s resu l tar iam vantagens econômicas t a n t o para o corruptor , quanto para o grupo de serv idores e d i r i g e n t e s da ECT que o Marinho d i z i a representar .

Na negociação en tão es tabe lec ida com o suposto empresário e seu acompanhante, Mauricio Marinho expôs, com riqueza de d e t a l h e s , o esquema de corrupção de agentes públ icos e x i s t e n t e naquela empresa púb l i ca , conforme s e depreende da l e i t u r a da reportagem divulgada na r e v i s t a V e j a , Edição de 18 de maio de 2005, com o t i t u l o " O Homem Chave do PTB".

As i nves t igações e f e tuadas pela Comissão Parlamentar M i s t a de Inquér i to e também no âmbito do presente i n q u é r i t o evidenciaram o loteamento p o l i t i c o dos cargos públ icos em troca de apoio a s propostas do Governo, p rá t i ca que representa um dos p r i n c i p a i s f a t o r e s do desv io e má apl icação de recursos púb l i cos , com o o b j e t i v o de f i nanc iar campanhas mi l ionár ias nas e l e i ç õ e s , além de proporcionar o enriquecimento i l í c i t o de agentes públ icos e p o l í t i c o s , empresários e l o b i s t a s que atuam nessa pern ic iosa engrenagem.

Acuado, po i s o esquema de corrupção e desv io de d inhe i ro púb l i co es tava focado, em um primeiro momento, em d i r i g e n t e s da ECT indicados pe lo P T B , r e su l tado de sua composição p o l í t i c a com i n t e g r a n t e s do Governo, o e x Deputado Federal Roberto J e f f e r s o n , en tão Presidente do PTB, d ivu lgou , i n i c ia lmen te pela imprensa, de ta lhes do esquema de corrupção de parlamentares, do qual fa z ia p a r t e , esclarecendo que parlamentares que compunham a chamada "base a l iada" recebiam, periodicamente, recursos do Partido dos Trabalhadores em razão do seu apoio ao Governo Federal, cons t i tu indo o que se denominou como "mensalão". Roberto Je f f e rSon indicou nomes de

parlamentares b e n e f i c i á r i o s desse esquema, e n t r e os quais o ex Deputado Bispo Rodrigues - FL; o Deputado Jose Janene - PP; o Deputado Pedro Corrêa - PP; o Deputado Pedro Henry - PP e o Deputado Sandro Mabel - PL. Informou também que e l e própr io , como Presidente do P T B , bem como o ex - t e soure i ro do Part ido, Emerson

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Inq 2.245 / MG 011733

Palmieri , haviam recebido do Partido dos Trabalhadores a quantia de R$4 mi lhões de r e a i s , não declarada a Receita Federal e à Jus t i ça E l e i t o r a l , uma vez que t a l d inhe i ro não poderia s e r con tab i l i zado em razão de a s u a origem não s e r p a s s i v e l de declaração.

O ex Deputado esc lareceu ainda que a atuação de i n t e g r a n t e s do Governo Federal e do Partido dos Trabalhadores para garant i r apoio de parlamentares ocorria de duas formas: o loteamento p o l i t i c o dos cargos púb l i cos , o que denominou " f á b r i c a s de d inhe i ro" , e a d i s t r i b u i ç ã o de uma "mesada" aos parlamentares.

A s i tuação d e s c r i t a por Roberto J e f f e r s o n , no que se r e f e r e ao loteamento de cargos na e s t ru tura do Governo, é f a t o púb l i co , vez que prat icado de forma i n s t i t u c i o n a l i z a d a não apenas pe lo Partido dos Trabalhadores, e s e encontra corroborada por d i ver sos depoimentos co lh idos nos au tos , e n t r e os quais : e x Deputado' Federa1 José Borba, Deputado José Janene ( f l s . 1702/1708) e ex Tesoureiro do PTB Emerson Palmieri .

N o depoimento que prestou na Comissão de Ét ica da Câmara dos Deputados e também na CPMI "dos Correios" , Roberto J e f f e r s o n afirmou que o esquema pe lo mesmo n o t i c i a d o era d i r i g i d o e operacional izado, e n t r e o u t r o s , pe lo ex Minis t ro Chefe da Casa C i v i l , José Dirceu, pe lo e x Tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, Delúbio Soares, e por um empresário do ramo de publ ic idade de Minas Gerais , a t é então desconhecido do grande públ ico , chamado Marcos V a l é r i o , ao qual incumbia a d i s t r i b u i ç ã o do d inhe iro .

Tornado públ ico o esquema do chamado "Mensalão", def lagraram-se, no âmbito dessa Corte , a s i nves t igações que instruem a presente denúncia, redirecionaram-se os t rabalhos da CPMI "dos Correios" que j á s e encontravam em andamento, e i n s t a l o u - s e uma nova Comissão Parlamentar, a CPMI da "Compra de Votos" .

Relevante des tacar , conforme será demonstrado nes ta peça, que todas a s imputações f e i t a s pe lo e x Deputado Roberto J e f f e r s o n ficaram comprovadas.

Tanto é que o p ivõ de toda essa e s t ru tura de .corrupção e lavagem de d inhe i ro , o p u b l i c i t á r i o Marcos V a l é r i o , b e n e f i c i á r i o de importantes contas de publ ic idade no Governo Federal, em sua mani fes tação de pseudo-interesse em colaborar com a s i nves t igações ,

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Inq 2.245 / MG

a p r e s e n t o u uma r e l a ç ã o d e v a l o r e s q u e t e r i a m s i d o r e p a s s a d o s d i r e t a m e n t e a p a r l a m e n t a r e s e a o u t r a s p e s s o a s f í s i c a s e j u r í d i c a s i n d i c a d a s p o r D e l ú b i o S o a r e s , a c r e s c e n d o - s e , a l i s t a i n d i c a d a p o r R o b e r t o J e f f e r s o n , os s e g u i n t e s p a r l a m e n t a r e s : Deputado João Magno - P T ; Deputado João Pau lo Cunha - PT; Deputado J o s é Borba - PMDB; Deputado J o s i a s Gomes da S i l v a - P T ; Deputado Pau lo Rocha - P T ; Deputado P r o f e s s o r L u i z i n h o - PT; Deputado Romeu F e r r e i r a Q u e i r o z - PTB; e Deputado Vadão Gomes - PP.

O c r u z a m e n t o d o s d a d o s b a n c á r i o s o b t i d o s p e l a CMPI " d o s C o r r e i o s " e também p e l o s a f a s t a m e n t o s d o s s i g i l o s d e f e r i d o s n o â m b i t o d o p r e s e n t e i n q u é r i t o p o s s i b i l i t o u a v e r i f i c a ç ã o d e r e p a s s e s d e v e r b a s a t o d o s o s b e n e f i c i á r i o s r e l a c i o n a d o s n a s l i s t a g e n s em a n e x o . Na r e a l i d a d e , a s a p u r a ç õ e s e f e t i v a d a s n o â m b i t o d o i n q u é r i t o em a n e x o foram a l é m , e v i d e n c i a n d o e n g e n d r a d o s esquemas d e e v a s ã o d e d i v i s a s , sonegação f i s c a l e l avagem d e d i n h e i r o p o r empresas l i g a d a s a o s p u b l i c i t á r i o s Marcos V a l é r i o e Duda Mendonça e também p o r o u t r a s e m p r e s a s f i n a n c e i r a s e n ã o f i n a n c e i r a s , que s e r ã o o b j e t o d e a p r o f u n d a m e n t o d a s i n v e s t i g a ç õ e s n a s i n s t â n c i a s j u d i c i a i s adequadas .

Em o u t r a l i n h a , a a n á l i s e d a s m o v i m e n t a ç õ e s f i n a n c e i r a s d o s i n v e s t i g a d o s e d a s o p e r a ç õ e s r e a l i z a d a s p e l a s i n s t i t u i ç õ e s f i n a n c e i r a s e n v o l v i d a s n o esquema demons t ra q u e e s t e s , f a z e n d o t a b u l a r a s a da l e g i s l a ç ã o v i g e n t e , mant inham um i n t e n s o mecanismo d e l avagem d e d i n h e i r o com a o m i s s ã o d o s ó r g ã o s d e c o n t r o l e , uma que p o s s u í a m o a p o i o p o l í t i c o , a d m i n i s t r a t i v o e o p e r a c i o n a l d e J o s é D i r c e u , q u e i n t e g r a v a o Governo e a c ú p u l a d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s .

A o r i g e m d e s s e s r e c u r s o s , e m sua i n t e g r a l i d a d e , a i n d a n ã o f o i i d e n t i f i c a d a , s o b r e t u d o e m r a z ã o d e e x p e d i e n t e s a d o t a d o s p e l o s p r ó p r i o s i n v e s t i g a d o s , q u e se u t i l i z a r a m d e uma e l a b o r a d a e n g e n h a r i a f i n a n c e i r a , f a c i l i t a d a p e l o s b a n c o s e n v o l v i d o s , n o t a d a m e n t e o Banco R u r a l , onde o d i n h e i r o p ú b l i c o m i s t u r a - s e com o p r i v a d o , p e r p a s s a p o r i n ú m e r a s c o n t a s para f i n s d e p u l v e r i z a ç ã o a t é o s e u d e s t i n o f i n a l , i n c l u i n d o m u i t a s v e z e s s a q u e s e m f a v o r d o p r ó p r i o e m i t e n t e e o u t r a s i n t r i n c a d a s o p e r a ç õ e s com o f f s h o r e s e e m p r e s a s t i t u l a r e s d e c o n t a s n o e x t e r i o r , t e n d o como d e s t i n o f i n a l p a r a í s o s f i s c a i s .

A p r e s e n t e d e n ú n c i a refere-se à d e s c r i ç ã o d o s f a t o s e c o n d u t a s r e l a c i o n a d o s a o esquema que

Page 15: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e d?z&&U Inq 2.245 / MG

envolve especificamen te os integrantes do Governo Federal que constam do pólo passivo; o grupo de Marcos Valério e do Banco Rural; parlamentares; e outros empresários.

0s denunciados operacionalizaram desvio de recursos públicos, concessões de benefícios indevidos a particulares em troca de dinheiro e compra de apoio político, condutas que caracterizam os crimes de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, corrupção e evasão de divisas. "

Em seguida, é formulada a denúncia, dividida em 7

itens distintos, excluindo-se a já citada Introdução, sendo que

alguns desses itens, por sua vez, estão divididos em subitens.

Assim está composta a denúncia: I- Introdução; II-

Quadrilha; 111- Desvio de Recursos Públicos; 111.1 - Câmara dos

Deputados; 111.2- Contratos No 99/1131 e 01/2003 - DNA

Propaganda Ltda. e Banco do Brasil (Processo TC 019.032/2005-0;

111.3- Transferências de recursos do Banco do Brasil para a

Empresa DNA propaganda Ltda. por meio da Companhia Brasileira de

Meios de Pagamento - Visanet; 111.4- Contrato no 31/2001-

SMP&B/Ministério dos Transportes; contrato no 12.371/2003 -

SMP&B/ Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT;

Contrato no 4500002303 - DNA Propaganda/ Centrais Elétricas do

Norte do Brasil S.A/Eletronorte; IV. - Lavagem de Dinheiro - Lei

no 9.613/98; V- Gestão Fraudulenta de Instituição Financeira -

artigo 4" da Lei no 7.492/86; VI - Corrupção ativa, corrupção

passiva, quadrilha e lavagem de dinheiro (Partidos da Base

Aliada do Governo); VI.l - Partido Progressista; VI.2- Partido

Page 16: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@$2ie?m &&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

011736

Libera l ; VI.3- Partido Trabalh is ta Bras i l e i ro ; V I . 4 - Partido

Movimento Democrático Bras i l e i ro ; VI1 - Lavagem de Dinheiro

(Par t ido dos Trabalhadores e o ex-Ministro dos Transpor tes ) ;

VI11 - Evasão de Divisas e Lavagem de Dinheiro - Duda Mendonça e

Zilmar Fernandes.

No i t em I1 da denúncia o procurador-geral d a

República narra os f a t o s que supostamente configurariam o d e l i t o

prev i s to no a r t i g o 2 8 8 do Código Penal, sustentando es tar - se

d iante de uma organização criminosa d iv id ida em t r ê s núcleos

d i s t i n t o s ( f l s . 5 6 2 5 - 5 6 2 6 ) :

"As provas colhidas no curso do Inquér i to demonstram exatamente a e x i s t ê n c i a de uma complexa organização criminosa, d iv id ida em t r ê s partes d i s t i n t a s , embora i n t e r l i g a d a s em sucessivas operações: a ) núcleo cen t ra1 : José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino e S í l v i o Pereira; b) núcleo operacional e f inanceiro , a cargo do esquema p u b l i c i t á r i o : Marcos V a l é r i o , Ramon Hollerbach, Cr i s t iano Paz, Rogério Tolent ino , Simone Vasconcelos e Geiza Dias; e c ) núcleo operacional e f inanceiro: José Augusto Dumont ( f a l e c i d o ) , a cargo da a l t a direção do Banco Rural : Vice-pres idente , José Roberto Salgado, Vice-presidente Operacional, Ayanna Tenório, Vice- Presidente , V i n í c i u s Samarane, Diretor e s t a t u t á r i o e Kátia Rabello, pres idente .

Ante o t e o r dos elementos de convicção angariados na fase pré-processual, não remanesce qualquer dúvida de que os denunciados José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e S í l v i o Pereira, objet ivando a compra de apoio p o l í t i c o de outros Partidos p o l í t i c o s e o financiamento fu turo e p r e t é r i t o (pagamento de d i v i d a s ) das suas próprias campanhas e l e i t o r a i s , associaram-se de forma es táve l e permanente aos denunciados Marcos Va lér io , Ramon Hollerbach, Cr i s t iano Paz, Rogério Tolent ino , Simone Vasconcelos, Geiza Dias (núcleo p u b l i c i t á r i o ) , e a José Augusto Dumont ( f a l e c i d o ) , José Roberto Salgado,

Page 17: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

Ayanna Tenório, Vinícius Samarane e Kátia Rabello (núcleo Banco Rural), para o cometimento reiterado dos graves crimes descri tos na presente denúncia. "

Consta também do item I1 a imputação do crime do

artigo 299, segunda parte, do Código Penal, ao denunciado Marcos

Valério, por duas vezes, em razão da suposta utilização da

esposa Renilda como "laranja" nas empresas SMP&B e Graffiti

Participação Ltda

Na terceira parte (item 1111, a denúncia cuida do

suposto desvio de recursos públicos, versando sobre a

contratação de agências de publicidade pelos poderes Executivo e

Legislativo. Neste trecho da inicial, foi imputada

(fls.5667/5668), no subitem 111.1, a prática de crimes aos

denunciados João Paulo Cunha (art. 312 - 2 vezes - pelo suposto

desvio de R$ 252.000,OO em proveito próprio e R$ 536.440,55 em

proveito alheio -; art. 317 do Código Penal -pelo suposto

recebimento de cinquenta mil reais- e art. l0 incisos V, VI e

VII, da Lei no 9.613/1998 -pela suposta utilização da Sra Márcia

Regina para receber cinquenta mil reais-), Marcos Valério, Ramon

Hollerbach, Cristiano Paz e Rogério Tolentino (art. 312 suposto

desvio de R$ 536.440,55- e art. 333 do Código Penal -suposto

pagamento de cinquenta mil reais-)

Ainda no item I11 da denúncia, especificamente no

subitem 111.2, ao tratar do suposto desvio de recursos por meio

da contratação da empresa DNA pelo Banco do Brasil, foi imputada

Page 18: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c@&kwW fl&&& Inq 2.245 / MG . .

011738

a prática do crime previsto no artigo 312 do Código Penal aos

denunciados Henrique Pizzolato -suposto desvio de R$

2.923.686,15 em proveito alheio-, Marcos Valério, Ramon

Hollerbach, Cristiano Paz e Rogério Tolentino -suposto desvio de

R$ 2.923.686,15-. (£1~.5672)

Em seguida, no item 111.3, em razão da transferência

de recursos do Banco do Brasil para a empresa DNA Propaganda

LTDA por meio da Companhia Brasileira de Meios de Pagamento-

Visanet, foram imputados ao denunciado Henrique Pizzolato os

delitos previstos nos artigos 312 (quatro vezes) e 317 do Código

Penal suposto recebimento de R$ 326.660,27 - além do delito

previsto no artigo 1°, incisos V, VI e VII, da lei no 9.613/1998

-suposta utilização do Sr. Luiz Eduardo Ferreira para receber R$

326.660,27. Ao denunciado Luiz Gushiken foi imputado o crime

previsto no artigo 312 do Código Penal. Aos denunciados Marcos

Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz e Rogério Tolentino

foram imputados os crimes previstos no artigo 312 (quatro vezes)

e 333, do Código Penal. Aos denunciados José Dirceu, José

Genoíno, Sílvio Pereira e Delúbio Soares, foi imputado, em

concurso material (4 vezes), o delito previsto no artigo 312 do

CP (fls.5679/5680).

O subitem 111.4 da denúncia foi utilizado pelo PGR

unicamente para ilustrar uma das supostas formas de atuação do

Page 19: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R+ fla&a Inq 2 .245 / MG

011739

chamado " núcleo Marcos V a l é r i o " , não constando qualquer

imputação dessa parte da i n i c i a l acusa tór ia .

Passo s e g u i n t e , no i t e m IV da peça acusatór ia , a

denúncia t r a t a da suposta ocorrência do crime de lavagem de

d inhe i ro ( L e i n o 9 .613 /98) , conforme se i n f e r e do seguin te

t r echo ( f l s . 5 6 8 6 / 5 6 8 7 ) :

" O s d i r i g e n t e s do Banco Rural (José Augusto Dumont ( f a l e c i d o ) , V i n i c i u s Samarane, Ayanna Tenório, José Roberto Salgado e Kátia Rabel lo) estruturaram um s o f i s t i c a d o mecanismo de branqueamento de c a p i t a i s que f o i u t i l i z a d o de forma e f i c i e n t e pe lo núcleo Marcos V a l é r i o (Ramon Hollerbach, C r i s t i a n o Paz, Rogério To len t ino , Simone Vasconcelos e Geiza D i a s ) . "

Após descrever o funcionamento do suposto esquema de

branqueamento de c a p i t a i s , o c h e f e do Min i s t é r io Público Federal

a t r i b u i aos denunciados c i t a d o s no t recho acima t r a n s c r i t o a

prát ica do d e l i t o p r e v i s t o no a r t i g o 1 ° , i n c i s o s V , V I e V I I , d a

l e i no 9.613/1998.

A f a s e seguin te da denúncia ( i t e m V ) é r e f e r e n t e a

suposta prát ica do d e l i t o de Gestão Fraudulenta de I n s t i t u i ç ã o

Financeira, p r e v i s t o no a r t i g o 4 ' d a Lei no 7 . 4 9 2 / 8 6 . Essa parte

d a denúncia se i n i c i a com o seguin te parágrafo ( f l s . 5 6 9 7 ) :

" A s apurações desenvolvidas no âmbi t o do presente i n q u é r i t o , envolvendo a a n á l i s e de documentação bancária e dos processos e procedimentos i n t e r n o s das i n s t i t u i ç õ e s f i nance i ras , especialmente sob o enfoque dos supostos empréstimos as empresas do grupo de Marcos V a l é r i o ao Part ido dos Trabalhadores, descortinam uma s é r i e de i l i c i t u d e s que evidenciam que o Banco R u r a l f o i gerido de forma fraudulenta. "

Page 20: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- &&&& Inq 2 .245 / MG

011740

Após pormenorizar os f a t o s r e f e r e n t e s a suposta

ocorrência de gestão f raudulenta , o procurador-geral da

República imputa aos denunciados José Roberto Salgado, Ayanna

Tenório, V i n í c i u s Samarane e Kátia Rabello o crime do a r t i g o 4O

d a Lei no 7 . 4 9 2 / 1 9 8 6 .

Em seguida, no i t e m V I , a denúncia aponta a suposta

ocorrência dos d e l i t o s de corrupção a t i v a , passiva, quadrilha e

lavagem de d inhe i ro , supostamente praticados pelos d i r i g e n t e s

dos part idos d a base a l iada do governo. É o que se i n f e r e do

seguin te t r echo ( f l s . 5 7 0 6 ) :

"Toda a e s t r u t u r a montada por José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e S í l v i o Pereira t inha e n t r e seus o b j e t i v o s angariar i l i c i t a m e n t e o apoio de outros par t idos p o l í t i c o s para formar a base de sustentação do Governo Federal.

Nesse s e n t i d o , e1 e s ofereceram e , poster iormente , pagaram v u l t o s a s quant ias a d i ver sos parlamentares f e d e r a i s , pr incipalmente os d i r i g e n t e s p a r t i d á r i o s , para receber apoio p o l i t i c o do Partido Progressis ta - P P , Partido Libera1 - P L , Partido Trabalhis ta B r a s i l e i r o - PTB e par t e do Partido do Movimento Democrático B r a s i l e i r o - PMDB.

Para a execução dos pagamentos de propina, José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e S í l v i o Pereira valeram-se dos se rv i ços criminosos prestados por Marcos V a l é r i o , Ramon Hollerbach, Cr i s t iano Paz, Rogério To len t ino , Simone Vasconcelos e Geiza Dias.

Portanto, na forma do a r t i g o 2 9 do Código Penal, os denunciados indicados deverão responder em concurso mater ia l por todos os crimes de corrupção a t i v a que praticaram, os quais serão devidamente narrados em tóp icos ind iv idua l i zados para cada par t ido p o l í t i c o . "

Na sequência, ao de ta lhar os f a t o s concernentes aos

crimes supostamente cometidos pelos membros de cada agremiação

Page 21: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

partidária, a denúncia trata separadamente dos fatos atinentes a

cada partido político envolvido.

O item VI.l trata dos fatos que envolvem o Partido

Progressista, e se inicia com o seguinte parágrafo (fls.

"Os denunciados José Janene, Pedro Corrêa, Pedro Henry, João Cláudio Genú, Enivaldo Quadrado, Breno Fischberg e Carlos Alberto Quaqlia montaram uma estrutura criminosa voltada para a prática dos crimes de corrupção passiva e branqueamento de capitais. "

O referido item termina com a imputação do crime do

artigo 333 do Código Penal (por três vezes) aos denunciados José

Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino, Sílvio Pereira, Marcos

Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz, Rogério Tolentino,

Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Aos denunciados José Janene,

Pedro Corrêa e Pedro Henry, foram imputados, em concurso

material, os crimes previstos nos artigos 288 e 317 do Código

Penal, além do crime previsto no artigo 1°, incisos V, VI e VII,

da Lei no 9.613/1998 (15 vezes). A João Cláudio Genú foi

imputada a prática dos delitos previstos nos artigo 288, 317 do

CP (por três vezes) e artigo l0, incisos V, VI e VII, da Lei no

9.613/1998 (15 vezes). Enivaldo Quadrado e Breno Fischberg foram

apontados como incursos nas penas dos crimes previstos no artigo

288 do Código Penal e artigo l0, incisos V, VI e VII, da Lei no

9.613/1998 (11 vezes). Carlos Alberto Quaglia foi apontado como

incurso nas penas dos crimes do artigo 288 do CP e artigo 1°,

Page 22: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ 8a&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

incisos V, VI e VII, da Lei no 9.613/1998 (7

vezes). (fls.5715/5716)

Em seguida, no item VI.2, a denúncia aborda os fatos

relativos ao Partido Liberal, iniciando nos seguintes termos

Os denunciados Valdemar Costa Neto, Jacinto Lamas e Antônio Lamas, juntamente com Lúcio Funaro e José Carlos Batista, montaram uma estrutura criminosa v01 tada para a prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O recebimento de vantagem indevida, motivada pela condição de parlamentar federal do denunciado Valdemar Costa Neto, tinha com o contraprestação o apoio politico do Partido Liberal - PL ao Governo Federal".

Após a pormenorização dos fatos referentes ao Partido

Liberal, foram apontados como incursos nas penas do artigo 333

do Código penal os denunciados José Dirceu, Delúbio Soares, José

Genoíno, Sílvio Pereira, Marcos Valério, Ramon Hollerbach,

Cristiano Paz, Rogério Tolentino, Simone Vasconcelos e Geiza

Dias. Ao denunciado Valdemar Costa Neto foram imputados os

crimes dos artigos 288 e 317 do CP e do artigo 1°, incisos V, VI

e VI1 da Lei no 9.613/1998 (41 vezes). O denunciado Jacinto

Lamas foi apontado como incurso nas penas dos artigos 288 e 317

do Código Penal e do artigo 1°, incisos V, VI e VI1 da Lei no

9.613/1998 (40 vezes). Por sua vez, Antônio Lamas foi apontado

como incurso nas penas do artigo 288 do Código Penal e do artigo

lo, incisos V, VI e VI1 da Lei no 9.613/1998. Bispo Rodrigues

Page 23: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

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01174 J

foi apontado como incurso nas penas do artigos 317 do Código

Penal e do artigo 1°, incisos V, VI e VI1 da Lei no 9.613/1998

( 2 vezes).

O item VI.3 da denúncia se ocupa dos fatos que

envolvem o Partido Trabalhista Brasileiro, conforme o trecho a

seguir transcrito:

"José Dirceu, De1 úbio Soares, José Genoino e Sílvio Pereira, mediante pagamento de propina, adquiriram apoio político de Parlamentares federais do Partido Trabalhista Brasileiro - PTB.

Os paqamen tos foram viabilizados pelo núcleo publicitário-financeiro da organização criminosa.

Os parlamentares federais que receberam vantagem indevida foram José Carlos Martinez (falecido), Roberto Jefferson e Romeu Queiroz. Todos contaram com o auxílio direto na prática dos crimes de corrupção passiva do denunciado Emerson Palmieri. " (f 1 S . 5 725/5 72 6 )

Após discorrer sobre os fatos relativos ao PTB, o item

VI.3 da denúncia termina com as seguintes imputações: Aos

denunciados José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno, Sílvio

Pereira, Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz,

Rogério Tolentino, Simone Vasconcelos e Geiza Dias foi imputado

o crime do artigo 333 do Código penal (por três vezes). Ao

denunciado Anderson Adauto, foi atribuída a autoria do delito do

artigo 333 do CP, por duas vezes. Roberto Jefferson foi

denunciado como incurso nas penas do artigo 317 do CP e artigo

1°, incisos V, VI e VI1 da Lei no 9.613/1998 (7 vezes). Romeu

Page 24: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R+ &a&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

Queiroz foi denunciado como incurso nas penas do artigo 317 do

CP e artigo I", incisos V, VI e VI1 da Lei no 9.613/1998 (4

vezes). Emerson Palmieri foi denunciado como incurso nas penas

do artigo 317 (3 vezes) do CP e artigo 1°, incisos V, VI e VI1

da Lei no 9.613/1998 (10 vezes).

Na sequência, no item VI.4, a inicial acusatória cuida

dos fatos relativos ao Partido Movimento Democrático Brasileiro

- PMDB. Transcrevo o seguinte trecho dessa parte da denúncia:

"Por meio de acordo firmado com José Dirceu, De1 úbio Soares, José Genoino e Sílvio Pereira, o então Deputado federal José Rodrigues Borba, no ano de 2003, também integrou o esquema de corrupção em troca de apoio político.

Líder da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, mantinha constantes contatos com Marcos Valério por considerá-lo "uma pessoa influente no Governo Federal", a quem recorria para reforçar seus pleitos de nomeação de cargos junto á administração pública . " (fls . 5 730/5 731 / O referido trecho, após descrever os detalhes das

supostas operações criminosas, termina por fazer as seguintes

imputações penais: José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino,

Silvio Pereira, Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz,

Rogério Tolentino, Simone Vasconcelos e Geiza Dias foram

denunciados como incursos nas penas do artigo 333 do Código

Penal. José Borba, em concurso material, foi denunciado como

incurso nas penas do artigo 317 do Código Penal e artigo I",

incisos V, VI e VI1 da Lei no 9.613/1998 (6 vezes).

Page 25: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

& $ fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

011745

O i t e m VI1 da denúncia t r a t a da suposta ocorrência do

d e l i t o de lavagem de d inhe i ro praticado pelo Partido dos

Trabalhadores e o ex-Minis tro dos Transportes . Transcrevo o

t r echo i n i c i a l des ta parte da denúncia:

"Além da compra de apoio p o l í t i c o mediante o pagamento de propina, o s recursos oriundos do núc leo p u b l i c i t á r i o - f i n a n c e i r o também serviram para o repasse dos m a i s variados va lores aos i n t e g r a n t e s do Part ido dos Trabalhadores. O então Min i s t ro dos Transportes Anderson Adauto também s e va leu do esquema.

Objetivando não s e envolverem nas operaçoes de apropriação dos montantes , p o i s tinham conhecimento que os recursos vinham de organização criminosa dest inada à prát ica de crimes contra a administração públ ica e contra o sistema f inance i ro nac ional , Paulo Rocha, João Magno, Luiz Carlos da S i l v a (vulgo "Professor Luizinho") e Anderson Adauto empregaram mecanismos f raudulentos para mascarar a origem, natureza e , pr inc ipalmente , d e s t i n a t á r i o s f i n a i s das quant ias .

Nas r e t i r a d a s em e s p é c i e , buscando não de ixar qualquer s i n a l da s u a par t ic ipação, o s b e n e f i c i á r i o s r e a i s apresentavam um t e r c e i r o , indicando o seu nome e q u a l i f i c a ç ã o para o recebimento dos v a l o r e s . " ( f l s . 5733)

Detalhados os f a t o s acima, a denúncia imputa a prát ica

do d e l i t o p r e v i s t o no a r t i g o 1 ° , i n c i s o s V, V I e VI1 d a Lei no

9.613/1998 aos denunciados Paulo Rocha ( 8 v e z e s ) , Anita Leocádia

( 7 v e z e s ) , João Magno ( 4 v e z e s ) , Luiz Carlos d a S i l v a , vu lgo

"Pro fes sor Luizinho", Anderson Adauto (16 v e z e s ) e José Luiz

Alves (16 v e z e s ) .

Finalmente, no i t e m VIII, a denúncia t r a t a

espec i f icamente dos d e l i t o s de evasão de d i v i s a s e lavagem de

d inhe iro supostamente praticados por Duda Mendonça e Zilmar

Page 26: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

~~ &&&& Inq 2.245 / MG

011746

Fernandes. C i t o o seguin te t r echo d a denúncia, que reputo

e l u c i d a t i v o :

"Os va lores remetidos ao e x t e r i o r por ordem de Duda Mendonça e sua sócia Z i l m a r Fernandes, a p r i n c i p i o , re ferem-se unicamente ao l u c r o l i q u i d o de ambos quanto ao s e r v i ç o de publ ic idade prestado ao P T , p o i s segundo informado por Z i l m a r Fernandes: " o l u c r o l i q u i d o aproximado pela prestação dos se rv i ços anteriormente ind icados pode v a r i a r e n t r e t r i n t a a cinquenta por cento" . Ou s e j a , dos aproximadamente R$ 56 milhões pactuados com o Partido dos Trabalhadores, Duda Mendonça e Z i l m a r Fernandes t iveram um l u c r o l i q u i d o na ordem de R$ 17 a R$ 28 mi lhões .

Em v i r t u d e do esquema de lavagem engendrado por Duda Mendonça e Z i l m a r Fernandes, o grupo de Marcos V a l é r i o promoveu, sem autor ização l e g a l , a saída de d i v i s a s para o e x t e r i o r . " ( f l s . 5 7 4 2 )

A denúncia, após de ta lhar o suposto esquema de lavagem

de d inhe i ro e evasão de d i v i s a s , culmina por imputar a Marcos

V a l é r i o , Ramon Hollerbach, C r i s t i a n o Paz, Rogério To len t ino ,

Simone Vasconcelos e Geiza Dias a prá t ica do d e l i t o prev i s to no

a r t i g o 2 2 , parágrafo único , d a Lei no 7.492/1986 ( 5 3 v e z e s ) . A

prát ica do mesmo d e l i t o f o i imputada a José Roberto Salgado,

Ayanna Tenório, V i n í c i u s Samarane e Kátia Rabello ( 2 7 v e z e s )

Duda Mendonça e Zilmar Fernandes foram denunciados como incursos

nas penas do crime p r e v i s t o no a r t i g o 2 2 , parágrafo único da Lei

n07492/1986 e (53 v e z e s ) nas penas do a r t i g o I " , i n c i s o s V , V I e

v11 da Lei no 9.613/1998 ( 7 v e z e s )

São e s t a s , em l i n h a s g e r a i s , as imputações cons tantes

da denúncia o f e r e c i d a pelo procurador-geral da República.

Page 27: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

Passo a fazer um breve relato dos principais

argumentos de defesa trazidos pelos denunciados em suas

respectivas respostas (cf. art. 4O, caput, da Lei 8.038/1990).

No que tange as defesas, todas alegaram a ausência de

descrição individualizada da conduta de cada acusado <violação

ao art. 41 tio Código de Processo Penal), a inexistência de

indícios mínimos de autoria (ausência de justa causa) e a

atipicidade das condutas narradas pelo Parquet, por delas não

constarem elementos integrantes do núcleo tipico de cada um dos

crimes imputados aos acusados, ou por ausência do elemento

subjetivo do tipo.

Passo a resumir os demais argumentos apresentados por

cada um dos acusados, no sentido do não recebimento da denúncia.

O denunciado DELÚBIO SOARES DE CASTRO alega que a

denúncia se limitou a indicar o cargo por ele exercido no

Partido dos Trabalhadores e sua amizade com um dos acusados

(MARCOS VALÉRIO), o que não é suficiente para demonstrar a

existência de uma associação criminosa prévia e estável de todos

os agentes para o cometimento de crimes contra várias vítimas

(Apenso 120). Para o acusado, o máximo que se pode concluir, a

partir da leitura da denúncia, é que haveria um concurso de

agentes em ações isoladas, e não formação de quadrilha.

Relativamente a acusação de peculato, assevera que a denúncia

não imputou um só ato ao acusado, no sentido da execução do

Page 28: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&g2.%z.w flu&u Inq 2 . 2 4 5 / MG

011748

crime, e teria se limitado a dizer que o Partido dos

Trabalhadores se beneficiou dos desvios. Salienta que "o

dinheiro relacionado à VIÇANET nunca pôde ser desviado por

funcionários públicos; o dinheiro em questão sequer esteve sob a

posse deles", já que não pertencia a Administração Pública nem

estava sob sua guarda (fls. 37/38 do Apenso 120).

Por fim, no que diz respeito a imputação de corrupção

ativa, o acusado argumenta que jamais ofereceu propina aos

parlamentares aliados; o que houve foi, na explicação da defesa,

uma aliança partidária entre o Partido dos Trabalhadores e as

agremiações que o apoiavam, na qual o Diretório Nacional do PT

decidiu que os custos de campanha seriam partilhados, de forma a

garantir a manutenção e possivel expansão da base de apoio ao

Governo. Mas isso jamais teria sido condicionado a prática de

atos de oficio de parlamentares, como emissão de pareceres ou

votos. E destaca que a denúncia não demonstrou, de forma

veemente, a existência de reciprocidade entre o valor pago e os

atos do funcionário público realizados em favor dos interesses

do suposto corruptor.

O denunciado JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA alega,

com relação a imputação do delito do artigo- 288 do Código Penal,

que todos os denunciados do denominado "núcleo central" -

Delúbio Soares, Silvio Pereira e José Genoino- sempre negaram

peremptoriamente que ele tivesse participação ou mesmo ciência

Page 29: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

nos empréstimos e repasses de recursos descritos na denúncia.

Quanto as imputações relativas ao delito do artigo 312 do Código

Penal, aponta que a denúncia não narra qual teria sido a sua

participação e tampouco indica quais seriam os indícios de tal

participação, cerceando o seu direito de defesa. No que concerne

a suposta compra de apoio político, sustenta que as evidências

estão a indicar que o repasse irregular de verbas não tinha

relação com a compra de votos, não buscava assegurar a

governabilidade e não partia do Governo, aduzindo, também, que,

na qualidade de Chefe da Casa Civil, não participava das

questões financeiras do Partido dos Trabalhadores.

O acusado JOSÉ GENOÍNO NETO também pugnou pela

rejeição da denúncia, alegando que foi denunciado "pelo que

era", ou seja, Presidente do Partido dos Trabalhadores, a época

dos fatos. Destaca que "negociar apoio político, pagar dívidas

pretéritas do Partido e também custear gastos de campanha e

outras despesas do PT e dos seus aliados", não constitui conduta

criminosa. Sustenta que "um Partido Político estruturado como é

o Partido dos Trabalhadores, ao contrário de uma empresa, não

apresenta situação hierárquica entre seus dirigentes. Em outras

palavras, não há relação de subordinação entre o presidente e

qualquer outro secretário da agremiação". Relativamente ao crime

de formação de quadrilha, o acusado nega que tenha se reunido

com o denominado "núcleo publicitário" ou com o "núcleo

Page 30: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&-&a Inq 2.245 / MG O11750

financeiro" . Afirma que teve, apenas, encontros esporádicos com

Marcos Valério, na sede do PT ou em solenidades públicas, o que,

por si só, não configura ilícito penal. Assevera que, na época

das supostas reuniões narradas pelo Procurador-Geral da

República, em que se teria acordado a associação para formação

de quadrilha (segundo semestre de 2002), o acusado sequer

presidia o ,PT; era apenas candidato ao Governo de São Paulo.

No que tange aos empréstimos supostamente simulados,

JOSÉ GENOÍNO afirma que competia ao presidente do partido, por

condição estatutária, a sua assinatura. Este seria um requisito

formal que foi cumprido, mas a tomada dos empréstimos em si era

de competência do Secretário de Finanças.

Referindo-se a imputação de peculato, consistente na

transferência de recursos do Banco do Brasil para a DNA

Propaganda Ltda. através do fundo de investimento VISANET, a

defesa alega que JOSÉ GENOÍNO, na presidência do Partido dos

Trabalhadores, não tinha qualquer influência nos contratos de

publicidade celebrados pelo Banco do Brasil.

Por fim, relativamente ao crime de corrupção ativa, o

Procurador-Geral da República não teria esclarecido quais as

pessoas o acusado teria indicado para o recebimento de repasses

de dinheiro. A defesa reconhece não haver dúvida a respeito da

existência de reuniões entre os partidos, mas salienta que ali

"eram discutidas alianças políticas, inclusive pelo denunciado,

Page 31: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

que tinha essa atribuição enquanto ocupava o cargo de Presidente

Nacional do Partido dos Trabalhadores". Entretanto, o apoio

financeiro a ser prestado pelo PT seria da alçada exclusiva do

Secretário de Finanças, DELÚBIO SOARES, razão pela qual, também

neste capitulo, a defesa pede a rejeição da denúncia.

O acusado SILVIO JOSÉ PEREIRA alega, no que diz

respeito ao crime de quadrilha, que a conduta narrada na inicial

é atipica, por não conter nenhum elemento descrito no art. 288

do Código Penal. Relativamente ao crime de peculato, o acusado

considera que, por não ser funcionário público para fins penais,

não poderia praticar, como autor, referido crime, de modo que

deveria ter sido descrita sua colaboração na condição de

participe, o que, segundo ele, não aconteceu. Quanto ao crime de

corrupção ativa, alega que não houve indicação do ato de oficio

que deveria ser praticado por funcionário público (Apenso 105).

SIMONE VASCONCELOS e m c o s VALÉRIO foram

representados pelo mesmo patrono e apresentaram respostas

escritas semelhantes (Apensos 114 e 115), sendo a de MARCOS

VALÉRIO mais abrangente, até em razão do maior número de

imputações que lhe foram feitas na denúncia. Foram arguidas

inúmeras preliminares, que detalharei no corpo de meu voto, além

de argumentos em prol do não recebimento/improcedência da

denúncia, elencados em complemento aqueles que todos os outros

denunciados sustentaram - isto é, ausência de individualização

Page 32: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

das condutas dos acusados e ausência de justa causa/indicios

para a instauração da ação penal.

Relativamente a imputação de formação de quadrilha, a

defesa alega que a denúncia não descreveu o vinculo subjetivo

entre os acusados, no sentido da associação para o fim de

prática de crimes.

Quanto a imputação de falsidade ideológica, MARCOS

VALÉRIO alega que não são falsas as alterações contratuais nas

empresas SMP&B e GRAFFITI, em que ele saiu e deu lugar a sua

esposa, RENILDA MARIA, no quadro societário. Destaca que sua

atuação nas empresas, em nome de sua esposa, deu-se através de

procurações por instrumento público, e que ninguém foi

prejudicado com isso, razão pela qual pede a rejeição da

denúncia.

No que tange a acusação de corrupção ativa, esta

defesa também insiste no argumento de que não foi descrito o ato

de oficio que os parlamentares teriam praticado. Ademais, também

não estaria presente o dolo de cometimento do crime, tendo em

vista que DELÚBIO SOARES afirmava que o dinheiro era destinado

ao pagamento de dívidas de campanha, e não de compra de apoio de

parlamentares. No que se refere ao "repasse" de cinqiienta mil

reais ao Deputado JOÃO PAULO CUNHA, em troca de receber

tratamento privilegiado no procedimento licitatório da Câmara

dos Deputados, alegam que as concorrentes da SMPhB não

Page 33: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

reclamaram nem recorreram contra o resultado da licitação, de

modo que sua lisura não poderia ser posta em cheque. Ainda,

quanto a imputação de corrupção ativa de que seria sujeito

passivo HENRIQUE PIZZOLATO (Diretor de Marketing do Banco do

Brasil), a defesa igualmente alega que os repasses não se

destinaram a prática de qualquer ato de ofício por PIZZOLATO,

mas sim, tal como outros repasses, ao pagamento de despesas de

campanha do diretório estadual carioca do PT.

No que diz respeito às imputações de peculato,

envolvendo o contrato de publicidade entre SMP&B e Câmara dos

Deputados e os dois contratos entre DNA Propaganda Ltda. e Banco

do Brasil, a defesa afirma que não houve o desvio narrado na

inicial, tendo em vista que a subcontratação de serviços de

terceiros estava expressamente prevista no contrato. Diz, ainda,

especificamente em relação a subcontratação da empresa IFT -

Idéias, Fatos e Texto Ltda., do jornalista e assessor de JOÃO

PAULO CUNHA, LUÍS COSTA PINTO (apelidado Lula), que teria

possibilitado o desvio de R$ 252.000,OO em favor do próprio

Deputado JOÃO PAULO CUNHA, a defesa observa que "aquela empresa

já prestava serviços para a Câmara dos Deputados, em data

anterior ao contrato da SMP&B (31/12/2003)". Assim, a SMP&B

"apenas manteve a subcon tra tada, por orientaçáo da SECOM/CDM

(fls. 85/86 do Apenso 115).

Page 34: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

Quanto a imputação de lavagem de dinheiro, a defesa

argumenta que, como anteriormente sustentou, os crimes

antecedentes não foram praticados, razão pela qual seria atípica

a conduta. Também estaria ausente o dolo de praticar o crime

narrado na inicial.

Por fim, acerca da imputação do crime de evasão de

divisas, a defesa alega que nenhuma das pessoas do denominado

"núcleo Marcos Valério" praticou a conduta típica descrita no

art. 22, parágrafo único, da Lei no 7 . 4 9 2 / 8 6 . Diz, ainda:

"Em resumo, os reais permaneceram no Brasil. Houve, no exterior, transferência de dólares de diferentes contas bancárias ali existentes para a conta da empresa DUSSELDORF. Isto se chama de operações 'dólar cabo' . Estas operações 'dólar cabo' não realizam o tipo do parágrafo único do art. 22 da Lei n o 7 . 4 9 2 / 8 6 , uma vez que não há saída de moeda ou divisas do pais. O dinheiro nacional (reais) permanece no Brasil e o dinheiro estrangeiro (dólares) troca de conta bancária no exterior. "

Em seu último argumento, a defesa finaliza a resposta

alegando que há evidente excesso na capitulação da peça inicial,

quando pediu a aplicação da regra do concurso material,

considerando que, em razão da idêntica circunstância de tempo,

lugar e maneira de execução, há, em tese, continuidade delitiva,

demandando a aplicação do art. 71 do Código Penal. Adianto que

este argumento não será objeto de decisão nesta fase, tendo em

vista que não se procederá a aplicação de pena alguma, mas

Page 35: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&*H&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011'?65

apenas à análise da viabilidade ou não da denúncia, para efeitos

de dar i n i c i o a ação penal.

O acusado CRISTIANO DE MELLO PAZ (Apenso 112) salienta

que as ligações da SMPLB com o Banco Rural eram meramente

comerciais, e que os empréstimos tomados pelas empresas SMPLB,

Graffiti e DNA junto ao BMG e ao Rural não eram fraudulentos,

tanto que estão sendo objeto de execução judicial. Esclarece, de

todo modo, que tais empréstimos foram tomados por solicitação do

Partido dos Trabalhadores e o dinheiro a ele se destinava (fls.

07). Diz, também, que a imputação de corrupção at iva pelo

repasse de R$ 50.000,OO a JOÃO PAULO CUNHA não procede, uma vez

que tal repasse deu-se por determinação de DELÚBIO SOARES.

Acerca da licitação vencida pela SMPLB na Câmara dos Deputados,

o acusado afirma que a contratação foi amplamente fiscalizada e

que o Deputado JOÃO PAULO CUNHA não teve a mínima participação

no procedimento licitatório. Nega, também, a imputação de

peculato, consistente no suposto desvio de R$ 536.440,55, em

favor da SMPLB, valor este que, segundo o PGR, consistiu em

"remuneração para nada fazer", j á que "O núcleo Marcos Valério,

por meio da empresa SMP&B, assinou o contrato n a 2003/204.0 para

não prestar qualquer serviço. Nessa linha, subcontratou 99 ,9% do

objeto contratual". Segundo CRISTIANO PAZ, não se pode afirmar

que houve subcontratação, mas sim a contratação de serviços de

terceiros, que são fornecedores.

Page 36: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

CRISTIANO PAZ também rebateu a acusação de peculato

desvio, a ele imputada por força de contratos firmados entre DNA

Propagada Ltda. e Banco do Brasil. Salienta que não lhe pode ser

imputado esse delito "pela simples e boa razâo de que sócio da

DNA ele não era. Esclarece que f o i sócio da Graffiti até

26/02/2004, que, por sua vez, era sócia da D W . Alega, ainda,

que o peculato é crime que deixa vestigios, razão pela qual

seria necessária a realização de auto de corpo de delito, que

não consta dos autos.

Quanto a acusação de lavagem de dinheiro, sustenta a

atipicidade da conduta, tendo em vista que a denúncia não narrou

de quais crimes antecedentes seriam provenientes os recursos

repassados a terceiros. Limitou-se o PGR a dizer que tais

recursos foram obtidos através de empréstimos bancários, que

afirma serem simulados, afirmação que, para a defesa, não tem

base probatória.

Quanto a imputação de corrupção ativa, o acusado nega

a acusação, afirmando que nada ofereceu a qualquer Deputado, e

que está ausente o "ato de oficio", elemento do tipo penal em

questão.

Por fim, quanto a acusação de evasão de divisas, o

denunciado sustenta que, se os recursos foram transferidos entre

contas existentes no exterior, não há falar-se em evasão de

divisas, destacando, também, que não se indicou de quais contas

Page 37: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

no Brasil os recursos teriam saido, o que tornaria inviável a

defesa.

O acusado RAMON HOLLERBACH CARDOSO argumenta, quanto

ao crime de formação de quadrilha (art. 288 do Código Penal),

não ter sido narrado, na denúncia, o necessário vinculo

subjetivo eventualmente existente entre os acusados. Em relação

as imputações de peculato descritas no item 111.1 da denúncia,

no sentido de que a SMP&B teria se limitado a intermediar

contrataçóes em troca de uma comissão de cinco por cento, o

acusado destaca que esse percentual estava previsto no contrato,

como uma das formas de remuneração dos serviços de publicidade

prestados a Câmara dos Deputados. Ademais, alega que não poderia

cometer o crime em questão, tendo em vista não ostentar a

condição de funcionário público e o fato de o Procurador-Geral

da República não ter narrado sua contribuição como participe.

A denunciada GEIZA D I A S DOS SANTOS alega (apenso no

106) que nunca soube de pagamentos feitos a parlamentares,

partidos políticos e outras pessoas, com a finalidade descrita

na denúncia. Sustenta que, na qualidade de mera funcionária da

empresa SMP&B comunicação Ltda., nunca questionou seus

superiores sobre o destino das quantias descritas na denúncia,

além de não ter obtido qualquer vantagem com os fatos descritos

na inicial acusatória.

Page 38: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e fl&@U Inq 2.245 / MG

011758

O denunciado ROGÉRIO LANZA TOLENTINO alega, em sua

resposta (apenso 1071, que não era sócio de nenhuma das empresas

vinculadas ao "grupo de Marcos Valério", supostamente utilizadas

como instrumento para o cometimento dos crimes narrados na

inicial. Sendo assim, alega que a denúncia não descreveu

qualquer fato criminoso passível de ser atribuído ao suplicante,

pois somente os sócios-gerentes respondem por atos delituosos

cometidos através de sociedade.

Os denunciados AYANNA TENÓRIO TÔRRES DE JESUS, JOSÉ

ROBERTO SALGADO, KÁTIA RABEUO E VINÍCIUS SAMARANE alegam que

não houve a demonstração efetiva do dolo de praticar o crime de

lavagem de dinheiro, qual seja, a intenção de ocultar os

valores. Sustentam que é prática comum no ramo publicitário o

saque de valores em dinheiro com o objetivo de pagar

fornecedores, de modo que o Banco Rural não teria qualquer

relação com a lavagem de dinheiro, que ocorria em momento

posterior. Da mesma forma, a transferência interbancária de

valores seria um mecanismo regularmente utilizado no meio

bancário para operacionalização dos saques.

Quanto a imputação de gestão fraudulenta de

instituição financeira (art. 4O da Lei 7.492/1986), os

denunciados alegam que os supostos empréstimos fictícios foram

devidamente registrados pelo Banco Central. Argumentam, ainda,

que optaram por renovar os empréstimos feitos a Marcos Valério,

Page 39: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

para evitar a necessidade de uma execução judicial da divida de

um cliente antigo do Banco.

Quanto ao crime de evasão de divisas, alegam apenas as

questões "gerais" antes mencionadas, ou seja, ausência de

individualização das condutas e de indícios mínimos de sua

autoria.

O denunciado J0L0 PAULO CUNHA (apenso 96) alega quanto

ao crime de corrupção ativa, que não houve indicação do ato de

ofício que deveria ter praticado em contraprestação à suposta

vantagem indevida, faltando, além disso, lastro probatório

mínimo para essa acusação. Quanto ao crime de lavagem de

dinheiro, argumenta que a denúncia não descreve os elementos do

tipo, limitando-se a acusação a repetir a letra da lei. Alega,

por fim, a atipicidade e a ausência de justa causa no que toca à

imputação de peculato, pois não dispunha da posse dos recursos

supostamente desviados, e a denúncia nào apresenta provas de que

ele teria influenciado a contratação da IFT - Idéias, Fatos e

Texto Ltda. ou de que esta teria prestado-lhe assessoria direta.

O acusado LUIZ GUSHIKEN alega que não estava em sua

alçada permitir as antecipações de recursos do fundo Visanet

para a DNA Propaganda Ltda, não havendo provas de que o co-

denunciado Henrique Pizzolato estivesse agindo em cumprimento as

suas ordens.

Page 40: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R$2+%%w Inq 2.245 / MG

0 1 1 7 6 0

O acusado HENRIQUE PIZZOLATO sustenta que, na

qualidade de diretor de marketing do Banco do Brasil, não deteve

sob sua guarda os recursos que ficavam em poder da Visanet para

pagamento direto aos seus fornecedores, razão pela qual seria

atipica a conduta classificada pelo Procurador-Geral da

República como configuradora do crime de peculato. Argumenta que

a diretoria de marketing do Banco do Brasil não participava de

nenhuma das instâncias de decisão da Visanet e/ou do Fundo

Visanet. Alega, com ralação às imputações dos crimes de

corrupção passiva e lavagem de dinheiro, que não sabia da

existência de R$ 3 2 6 . 6 6 0 , 2 7 nos envelopes que recebeu de Eduardo

Ferreira, e afirma que tais envelopes foram entregues a uma

pessoa que se identificou como membro do PT do Rio de Janeiro.

O acusado PEDRO CORRÊA (Apenso 9 9 ) refuta a imputação

de formação de quadrilha, afirmando que, se a denúncia trata de

um só crime, praticado por várias pessoas, haveria concurso de

pessoas, sendo que, no caso em questão, haveria autores mediato

e um autor imediato (JOÃO CLÁUDIO GENÚ). Afirma, também, que o

Procurador-Geral da República, na denúncia, atribuiu-lhe

responsabilidade objetiva, uma vez que teria sido acusado pelo

simples fato de ser Presidente do Partido Progressista a época

dos fatos. No que tange a imputação de lavagem de dinheiro, o

acusado PEDRO CORRÊA nega sua prática, afirmando não ter

qualquer relação com as empresas Bônus Banval e a Natimar,

Page 41: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

fie &&&& Inq 2.245 / MG

sequer conhecendo seus administradores e co-denunciados Enivaldo

Quadrado, Breno Fischberg e Carlos Quaglia. Por fim,

relativamente a imputação de corrupção passiva, o acusado

argumenta que o Partido Progressista realmente obteve recursos

junto ao PT, mas para a finalidade lícita de pagar honorários

advocatícios para a defesa de um dos membros da bancada do PP.

Ademais, argumenta que nem sempre votou a favor dos projetos de

interesse do Governo, de modo que estaria ausente o liame

objetivo entre a suposta vantagem e o ato de ofício que teria

praticado.

A defesa do acusado PEDRO HENRY segue na mesma linha

da anterior (Apenso 9 8 ) , acrescentando apenas o fato de ter sido

absolvido pela CPMI dos Correios. Afirma, ainda, que o acusado

JOÃO CLÁUDIO GENÚ pedia autorização apenas para PEDRO CORRÊA e

JOSÉ JANENE antes de efetuar os saques e determinar a destinação

dos recursos sacados.

O acusado JOSÉ MOHAMED JANENE (Apenso 1131, no que

respeita ao crime de corrupção passiva, também salienta a

inexistência do ato de ofício em contraprestação a suposta

vantagem indevida, visto que em várias ocasiões votou em

dissonância com o Governo. A acusação de lavagem de dinheiro

também seria infundada, tendo em vista serem conhecidas a origem

e a destinação do dinheiro, ambas regulares. Por fim, no que

tange à imputação de formação de quadrilha, a defesa considera

Page 42: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R- &&&& Inq 2.245 / MG

que 'cai por terra, por falta dos crimes a justificarem o

enquadramento na tipificação legal", além de não ter sido

demonstrado o liame subjetivo entre os agentes.

O acusado JOÃO CLÁUDIO DE CARVALHO G E W (Apenso 91)

alega que era apenas um mensageiro de seus superiores

hierárquicos na Câmara dos Deputados. No que concerne à

imputação de formaçáo de quadrilha, argumenta o acusado que não

se encontra suficientemente descrito o vinculo subjetivo entre

os supostos agentes do delito. Seria infundada, igualmente, a

acusação de corrupção passiva, pois a inicial não demonstra que

tenha sido ele o beneficiário das quantias sacadas. Por fim,

quanto a acusação de lavagem de dinheiro, o denunciado alega que

a denuncia não demonstra que este tinha conhecimento da origem

ilegal das quantias sacadas.

O denunciado BRENO FISCHBERG alega que foi denunciado

com base na mera circunstância de ser sócio da Bônus Banval

(responsabilidade objetiva), não constando dos autos indicios de

que conhecia a origem ilicita dos valores em questão, nem de que

teria agido com o objetivo de ocultá-la.

O denunciado ENIVALDO QUADRADO, em sua defesa (apenso

no 1 0 3 ) , alega a violação a indivisibilidade da ação penal, em

razão de ter o PGR deixado de oferecer denúncia contra Lúcio

Bolonha Funaro e José Carlos Batista. Sustenta, ainda, a

Page 43: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

ausência de justa causa para a instauração de ação penal contra

si.

A defesa do denunciado VALDEMAR COSTA NETO foi feita

pelo mesmo patrono de BISPO RODRIGUES, que sustentou basicamente

os mesmos argumentos em relação as imputações de corrupção

passiva e lavagem de dinheiro. Acresce, em relação a VALDEMAR

COSTA NETO, argumentos relativos a acusação de formação de

quadrilha, que não foi imputada a BISPO RODRIGUES. Para a

defesa, a acusação é manifestamente inepta, porque descreveu uma

estrutura criminosa composta por VALDEMAR COSTA NETO, JACINTO

LAMAS, ANTONIO LAMAS, LÚCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA.

Entretanto, como o PGR denunciou apenas os três primeiros, não

teria sido obedecido o elemento do tipo legal que exige a

presença de mais de três pessoas para a configuração do delito.

A defesa sustenta o seguinte (fls. 16 do Apenso 123):

. . . conclui-se que LÚCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA não foram denunciados porque o ilustre Procurador-Geral da República entendeu que eles não haviam cometido o crime de quadrilha. "

A par disto, a defesa sustenta, ainda, que a denúncia

não indicou um concerto preparatório para delinquir,

indeterminada e permanentemente, elementos que seriam

necessários para a configuração do tipo penal e o recebimento da

denúncia.

Page 44: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

O denunciado JACINTO DE SOUZA LAMAS alega ser

absolutamente inocente, razão pela qual a denúncia deveria ser

julgada improcedente, de plano (Apenso 93). Alega que a denúncia

não esclareceu qual teria sido o apoio politico dispensado ao PT

em troca da suposta vantagem ilícita recebida, tendo em vista

que LAMAS não é parlamentar e, portanto, não pode ter votado a

favor de projetos do governo. Para a defesa, JACINTO LAMAS seria

um mero "cumpridor de ordens" do acusado VALDEMAR COSTA NETO,

seu patrão, desconhecendo que se tratava de valores provenientes

de ilícitos penais - o que afastaria, também, a imputação de

lavagem de dinheiro. JACINTO LAMAS invoca, tal como VALDEMAR

COSTA NETO, o não oferecimento de denúncia contra LUCI0 FUNARO e

JOSÉ CARLOS BATISTA como motivo para a sua rejeição, de modo a

haver igualdade de tratamento entre todos os envolvidos.

Relativamente à imputação de formação de quadrilha, a defesa

alega ser improcedente, inclusive tendo em vista que os

colaboradores LÚCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA afirmaram não

conhecerem nem nunca terem vis to o acusado JACINTO LAMAS, razão

pela qual não é possível vislumbrar como se teriam associado a

ele de modo estável para o cometimento de crimes. Acrescenta

que, ao contrário do afirmado pelo Procurador-Geral da República

na denúncia, o patrimõnio do acusado é, sim, compatível com sua

renda.

Page 45: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+&&&a Inq 2.245 / MG 011765

O denunciado ANTÔNIO DE PÁDUA DE SOUZA LAMAS, alega

que sua participação nos fatos narrados resumiu-se a condição de

mensageiro e subalterno do verdadeiro beneficiário dos recursos,

o co-denunciado VhDEMAR DA COSTA NETO, então Presidente do

Partido Liberal. Dessa forma, estaria ausente o elemento

subjetivo do tipo, consistente na intenção de se associar com

mais de três pessoas para o fim de cometer crimes. Afirma,

ainda, que a acusação viola o princípio da igualdade, pois o

acervo fático-probatório demonstra a existência de saques de

valores provenientes da SMP6B realizados por outras pessoas, que

não foram denunciadas por isso. Argumenta que a existência de

apenas um saque comprovadamente realizado afasta a habitualidade

imprescindível a configuração da "associação estável" exigida

para a incidência do tipo penal em questão.

No que tange a imputação de crime de lavagem de

dinheiro (art. 1°, incisos V, VI e VII, da Lei 9.613/1998),

ANTÔNIO DE PÁDUA DE SOUZA LAMAS alega a inépcia da denúncia,

ante a inexistência do elemento subjetivo do tipo.

O denunciado BISPO RODRIGUES (Apenso 121) destaca,

inicialmente, a inexistência de nexo causal entre a conduta a

ele imputada e o ato funcional que teria praticado. Salienta que

o apoio do denunciado ao Governo Federal decorre da aliança

política e de recursos previamente travada entre o PT e o PL

(fls. 19). Diz, também, que "o 'ato funcional' supostamente

Page 46: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R- fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

praticado em função de vantagem indevida, qual seja, a aprovação

das referidas emendas previdenciárias e tributárias, deu-se em

m o m e n t o m u i t o posterior ao suposto recebimento da quantia de R$

150.000,OO pelo d e n u n c i a d o " . Além disso, o numerário chegou às

mãos do denunciado para honrar as dívidas contraidas com o custo

da campanha eleitoral. Quanto a acusação de l a v a g e m de dinheiro,

a defesa alega que, tendo em vista não ter sido praticado o

crime de corrupção passiva, inexiste o c r i m e antecedente,

descaracterizando a suposta lavagem. Diz, também, que o

denunciado não praticou qualquer ato típico previsto no art. l0

da Lei no 9.613/98.

O acusado ROBERTO JEFFERSON MONTEIRO FRANCISCO alega

que as condutas descritas na inicial não c o n f i g u r a m o d e l i t o de

corrupção p a s s i v a , uma vez que a função pol í t ica de D e p u t a d o

F e d e r a l não se subsume ao conceito de funcionário público para

efeito de incidência de normas penais (art. 327 do Código

Penal) . ROBERTO JEFFERSON argumenta, ainda, que não foi

apontado na denúncia nenhum ato de ofício por ele realizado em

contraprestação a vantagem indevida, faltando assim uma

elementar do tipo penal da corrupção ativa.

O denunciado ROMEU FERREIRA DE QUEIROZ alega que a

mera indicação, para um correligionário, de uma pessoa de

confiança para receber determinada quantia em estabelecimento

Page 47: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e fla&& Inq 2.245 / MG

O!. 1787

bancário é fato penalmente irrelevante. Argumenta que a denúncia

não especifica qual seria o ato de oficio que teria praticado,

razão por que o delito de corrupção passiva não estaria

caracterizado. No que concerne a imputação de lavagem de

dinheiro, assevera que não foi demonstrada a existência do crime

antecedente

O denunciado EMERSON ELOY PALMIERI sustenta (apenso

n097) jamais ter participado de qualquer esquema de compra de

votos. Argumenta que, na qualidade de dirigente do Partido

Trabalhista Brasileiro, é responsável somente pela gestão

administrativa do partido. Sustenta que participou apenas do

acordo ocorrido entre o PT e o PTB, acordo esse que seria

absolutamente legitimo.

O ex-Deputado Federal JOSÉ BORBA também negou a

prática dos crimes que lhe foram imputados. Destaca que

desconhecia a origem supostamente ilícita dos valores recebidos,

razão pela qual não teve o dolo do cometimento do crime de

lavagem de dinheiro. Diz que a denúncia está calcada tão-somente

no depoimento de MARCOS VALÉRIO, pessoa que não seria confiável

(fls. 13 do Apenso 125). Quanto a acusação de corrupção passiva,

bate no mesmo ponto dos demais: ausência de descrição do ato de

oficio que praticou ou deixou de praticar em troca de vantagem

ilicita.

Page 48: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O denunciado PAULO ROBERTO GALVÃ0 DA ROCBA alega não

ter mascarado a origem, a natureza e os destinatários finais das

quantias recebidas, de modo que não teria praticado o delito de

lavagem de dinheiro. Ademais, alega ausência de justa causa para

a propositura da ação penal e atipicidade dos fatos que lhe são

imputados.

A denunciada ANITA LEOCÁDIA PEREIRA DA COSTA (Apenso

90) alega, simplesmente, que não tinha conhecimento da origem

i l í c i t a dos valores sacados no Banco Rural, circunstância que

afasta a tipicidade do c r i m e de lavagem de dinheiro, em razão da

ausência do elemento subjetivo do tipo.

O denunciado JOÃO MAGNO DE MOURA sustenta (apenso no

102) a ausência de dolo quando do recebimento de recursos do

grupo supostamente liderado pelo denunciado Marcos Valério.

Alega que teria agido de boa-fé, ao receber valores da empresa

SMP&B, além de sustentar que não há, nos autos, a comprovação da

ocorrência do crime antecedente ao suposto crime de lavagem de

dinheiro de que é acusado. Sustenta a atipicidade da conduta que

lhe é imputada, e que a denúncia teria sido formulada de forma

genérica.

O denunciado LUIZ CARLOS DA SILVA ("Professor

Luizinho") alega que a qualificação do crime de lavagem de

dinheiro a ele imputado não condiz com os fatos narrados na

denúncia, uma vez que os atos descritos tinham como finalidade

Page 49: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ B&&& Inq 2.245 / MG

apenas obter financiamento para campanhas eleitorais, não

havendo provas de que o denunciado visasse a ocultação ou

dissimulação de quantias de origem ilícita. LUIZ CARLOS alega,

ainda, a atipicidade da conduta, pois a utilização de pessoa

interposta para sacar valar destinado ao denunciado não

configura meio fraudulento para mascarar a origem, a natureza e

o destinatário das quantias.

O denunciado ANDERSON ADAUTO Pereira alega a

atipicidade da conduta apontada pelo PGR na denúncia como

configuradora do delito de corrupção passiva (apenso n0108).

O denunciado JOSÉ LUIZ ALVES afirma que foi incumbido

pelo seu superior hierárquico, o também denunciado Anderson

Adauto, de efetuar retiradas e pagamentos referentes ao acordo

financeiro existente entre o PT e o PL. Sustenta que sua conduta

foi atipica e, no que concerne ao delito de lavagem de dinheiro,

menciona não ter sido comprovada a existência do delito

antecedente. Admite ter efetuado quatro saques de quantias a

mando do denunciado Anderson Adauto, e não dezesseis, como

consta da denúncia.

0s denunciados JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE MENDONÇA

(DUDA MENDONÇA) e ZILMAR E'ERNANDES DA SILVEIRA alegam (apenso

119) que a mera manutenção de depósito bancário no exterior não

configura o tipo penal do art. 22, parágrafo único da Lei

7.492/1986. Argumentam, além disso, que, neste contexto, o

Page 50: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+ &&&& Inq 2 .245 / MG

suposto ilicito cometido contra o sistema financeiro nacional

consistiria em mero crime-meio para o cometimento do delito-fim,

qual seja, o crime contra a ordem tributária (sonegação fiscal).

Sendo assim, o principio da consunção determina que a

punibilidade do crime-meio restou extinta, pelo adimplemento

espontâneo dos impostos devidos por DUDA MENDONÇA.

DUDA MENDONÇA e ZILMAR FERNANDES alegam, por fim, no

que tange a imputação de lavagem de dinheiro, que os valores

recebidos constituiam mera contra-prestação aos serviços

publicitários prestados ao Partido dos Trabalhadores, não tendo

origem i l í c i t a .

Destaco que o acusado CARLOS ALBERTO QUAGLIA não

apresentou resposta e scr i ta .

Após a vinda das respostas escritas, o Procurador-

Geral da República apresentou manifestação em atendimento ao

comando do artigo 5' da Lei no 8 . 0 3 8 / 9 0 .

Faço agora um breve resumo da tramitação do inquérito

no 2245 nesta Corte, destacando os principais incidentes

ocorridos desde a autuação do feito neste Tribunal, pois a

enumeração exaustiva de todos os atos praticados no inquérito

não se mostra adequada, tendo em vista que foram proferidos,

desde a autuação do feito, cerca de 200 (duzentos) atos

decisórios cujo conteúdo varia desde despachos de mero

Page 51: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c&gfkmv &a&& Inq 2 .245 / MG 011771

expediente a decisões sobre pedidos de medidas cautelares

formulados pelo PGR.

O presente inquérito foi autuado nesta Corte em

26.07.2005.

Em 16.08.2005 determinei que fossem enviados, a esta

Corte, pela Polícia Federal, todos os apensos que integravam o

presente apuratório, abrindo, em seguida, vista ao Procurador-

geral da República.

Em 02.09.2005 deferi a medida cautelar de busca e

apreensão proposta pelo Procurador-Geral da República, a ser

realizada na residência do Sr. JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE

MENDONÇA e de sua sócia ZILMAR FERNANDES e na sede de suas

empresas.

Tal medida cautelar foi autuada em apartado, como PET,

sob o n03479.

Em 18.10.2005, determinei, a pedido do Procurador-

Geral da República, que fosse expedido oficio ao BankBoston

Banco Múltiplo S.A., para que fornecesse a esta Corte, no prazo

de cinco dias, planilha com a indicação dos titulares dos

recursos movimentados nos últimos cinco anos na conta de número

0008971305 do Nassau Branch of BankBoston, bem como com completa

qualificação, origem e destino dos recursos e data e natureza da

operação.

Page 52: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

Contra essa decisão foi interposto agravo regimental,

cujo julgamento ocorreu em 29.11.2006.

Na ocasião do julgamento do agravo, o Tribunal, por

maioria, deu provimento parcial ao agravo, nos termos do voto

condutor da Senhora Ministra Cármen Lúcia, que ficou incumbida

da lavratura do acórdão. Fiquei vencido, na companhia do

eminente Ministro Carlos Britto.

Em 27.10.2005 deferi, a pedido do Procurador-Geral da

República, uma série de medidas cautelares, autuadas na forma de

Ação Cautelar e registradas sob o no 1011. O conteúdo das

diligências deferidas compreendeu: 1) o arresto dos bens imóveis

de propriedade do Sr. MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA e sua

esposa RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUZA, relacionados

no Anexo 11, impropriamente definido pelo artigo 136 do CPP como

sequestro, para fins de resguardar a inscrição da hipoteca

legal. 2) o sequestro dos bens móveis e semoventes arrolados no

Anexo I1 do requerimento formulado, na forma do art. 137 do CPP

e do §I0 do art. 4' do Decreto-Lei 3.240/41; 3) a

indisponibilidade de todos os recursos financeiros, de qualquer

natureza, existentes em contas de aplicação (poupança, fundos,

CDB, ações, etc) das empresas DNA COMUNICAÇÃO LTDA; SMP&B

COMUNIC. LTDA (em ambos os CNPJ citados no anexo 11); SMP&B SÃO

PAULO COMUNIC. LTDA; STAR ALLIANCE PARTICIPAÇÕES LTDA(em ambos

Page 53: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

os CNPJ mencionados no anexo 11) e GRAFFITI PARTICIP. LTDA, cujos

dados cadastrais se encontram no Anexo I1 do pedido.

Esta decisão também foi impugnada por agravo

regimental, cujo julgamento ocorreu em 10.11.2006, ocasião na

qual o Plenário da Corte decidiu, por maioria de votos, negar

provimento ao agravo regimental, nos termos do voto que proferi,

vencido o eminente ministro Marco Aurélio, que lhe dava

provimento.

Em 08.11.2005 deferi pedido de medida cautelar de

quebra de sigilo bancário formulada pelo Procurador-Geral da

República, dirigido contra a empresa NATIMAR NEGÓCIOS E

INTERMEDIAÇÕES LTDA, bem como dos seus sócios CARLOS ALBERTO

QUAGLIA e NATHALIE QUAGLIA IBANES.

Em 14.11.2005 deferi a realização de medida cautelar

de busca e apreensão nas dependências da empresa LC

Envelopamentos e Etiquetagem Ltda, atendendo a requerimento

formulado pelo Procurador-Geral da República. Tal pedido foi

autuado nesta Corte como Ação Cautelar, sob o n01014.

Em 29.06.2006 deferi pedido formulado pelo procurador-

geral da República, de arresto e inscrição da hipoteca legal

sobre os bens imóveis e sequestro dos bens móveis pertencentes a

José Eduardo Cavalcanti de Mendonça e sua sócia Zilmar Fernandes

da Silveira.

Page 54: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

A referida medida cautelar foi autuada como Ação

Cautelar, sob o no 1189 e foi impugnada por via de agravo

regimental.

O agravo regimental interposto pela defesa dos

denunciados José Eduardo Cavalcanti de Mendonça e Zilmar

Fernandes foi julgado pelo Plenário deste Supremo Tribunal

Federal em 10.11.2006, ocasião na qual o Tribunal, por

unanimidade, decidiu negar provimento ao agravo regimental, nos

termos do voto por mim proferido.

Em 07.03.2006, o Procurador-Geral da República

requereu a prisão preventiva dos investigados José Dirceu de

Oliveira e Silva, José Genoíno Neto, Delúbio Soares de Castro,

Sílvio José Pereira, Marcos Valério Fernandes de Souza, Ramon

Hollerbach Cardoso, Cristiano de Mello Paz, Rogério Lanza

Tolentino, Simone Reis Lobo de Vasconcelos, Geiza Dias dos

Santos, Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Vinicius Samarane e

Ayanna Tenório Torres de Jesus, sob duplo fundamento: para a

garantia da ordem pública e por conveniência da instrução

criminal.

Indeferi o pedido, por considerar ausentes os

fundamentos autorizadores da custódia cautelar.

O PGR formulou pedido de reconsideração que foi por

mim indeferido em 05.05.2006.

Page 55: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

& g fl&&& Inq 2.245 / MG 011775

Ressalto que a decisão acerca da prisão e o próprio

pedido tramitaram sob sigilo, em razão da evidente necessidade

de se resguardar o sucesso da diligência, caso fosse deferida, e

em face da possibilidade de modificação das circunstâncias de

fato, que poderiam provocar eventual reconsideração da decisão

de indeferimento.

Em 30.06.2006 deferi a realização de diligência de

busca e apreensão nas dependências da Companhia Brasileira de

Meios de Pagamentos - CBMP (Visanet), requerida pelo procurador-

geral da República e autuado como Ação Cautelar, sob o no 1258.

Em 06.12.2006 sugeri ao Plenário da Corte, em questão

de ordem, o desmembramento do feito com a permanência sob a

jurisdição do Supremo Tribunal Federal unicamente dos

denunciados atualmente detentores de mandato parlamentar. Tal

proposta não foi acolhida pela Corte, de modo que o pólo passivo

do presente feito permanece inalterado.

São esses, em apertada síntese, os principais

incidentes ocorridos no âmbito do inquérito n02245, ocorridos

ate a apresentação da denúncia pelo procurador da República, em

30 de março de 2006.

Informo, Senhora Presidente, que em meu voto serão

abordadas matérias constitucionais, especialmente no que diz

respeito as questões preliminares arguidas pelas defesas.

É o relatório.

Page 56: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS V O T O - - - -

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - (Relator): Sra.

Presidente, como assinalei no relatório, no presente inquérito

são narrados crimes de formação de quadrilha, peculato, lavagem

de dinheiro, corrupção ativa, corrupção passiva, gestão

fraudulenta de instituição financeira e evasão de divisas, nos

termos constantes da denúncia.

Procedo ao julgamento, iniciando pela análise das

questões preliminares arguidas pelas defesas dos acusados.

PRELIMINARES

No presente capítulo, não serão objeto de análise as

alegações de ausência de individualização das condutas ou de

justa causa para o oferecimento da denúncia, nem a pretensa

atipicidade dos fatos narrados pelo Procurador-Geral da

República, pois estes temas são, por assim dizer, o "mérito" da

fase do art. 6' da Lei no 8 . 0 3 8 / 9 0 , que examinarei de forma

destacada, capitulo por capitulo, mais ou menos de acordo com a

estruturação da denúncia.

Foi sustentada, em primeiro lugar, a preliminar de

incompetência do STF para julgar a acusação formulada contra os

Page 57: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@*H&&& Inq 2.245 / MG 011779

34 Acusados que não são detentores de prerrogativa de foro,

pedindo que se fixe a competência, quanto a estes, do juiz

federal prevento para o caso - juiz federal da 4 = Vara de Belo

Horizonte (por todos, v. (fls. 09/16 da resposta de MARCOS

VALÉRIO; fls. 3/5 da resposta de ANITA LEOCÁDIA - Apenso 90).

Destaco, desde logo, que o tema já foi decidido em

questão de ordem, por votação majoritária deste plenário, no

sentido da necessidade de se manter um processo único, a

tramitar perante o Supremo Tribunal Federal. Assim, está

preclusa a matéria.

Algumas defesas alegam, ainda preliminarmente, que a

denúncia estaria baseada em provas obtidas por meio ilícito

(SIMONE VASCONCELOS, Apenso 114; MARCOS VALÉRIO, Apenso 115; e

AYANNA TEN~RIO, JOSÉ ROBERTO SALGADO, KÁTIA RABELLO e VINÍCIUS

SAMARANE, Apenso 1181, pelas seguintes razões.

Primeiro, estes denunciados sustentam que o BMG

procedeu a quebra de sigilo bancário atendendo a pedido direto

do PGR, sem que houvesse autorização judicial para tanto.

Sustentam, ainda, que o Banco Central do Brasil também

procedeu a quebra do sigilo bancário do acusado sem autorização

judicial, atendendo a pedido direto do PGR. Requer-se, portanto,

a rejeição da denúncia, "pelo menos em toda a parte em que se

refere a 'recursos originários de supostos empréstimos bancários

junto aos bancos Rural e BMG e aos supostos benefícios dados

Page 58: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

pelo Governo Federal ao banco BMG em troca da alimentação do

esquema da organização criminosa com aqueles mesmos recursos,

bem como à participação na organização criminosa dos dirigentes

do Banco Rural e realização de saques em espécie para lavagem de

dinheiro'." (fls. 29 da resposta de MARCOS VALÉRIO - Apenso

115).

Para os acusados MARCOS VALÉRIO e SIMONE VASCONCELOS,

também seria ilícita a quebra de sigilo bancário realizada pela

autoridade judiciária de 1" grau (4= Vara Federal da Seção

Judiciária de Minas Gerais), cuja incompetência absoluta foi

reconhecida pelo próprio órgão do Ministério Público Federal lá

atuante.

Assim, as defesas de MARCOS VALÉRIO e SIMONE

VASCONCELOS pedem a rejeição da denúncia, "pelo menos em toda a

parte que se refere a 'movimentação de recursos financeiros por

MARCOS VALÉRIO, seus sócios e suas empresas, para compra de

suporte político de outros Partidos Poli ticos e do financiamento

futuro e pretérito (pagamento de dívidas) das campanhas

eleitorais e realização de saques em espécie para lavagem de

dinheiro'." (fls. 34 da resposta de VALÉRIOI.

Outra ilegalidade teria ocorrido nas provas obtidas

mediante compartilhamento de dados, de documentos e de

informações obtidos através de quebras de sigilos bancário,

fiscal e telefõnico pela CPMI DOS CORREIOS, que seriam estranhas

Page 59: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

ao fato determinado que deu origem a comissão e teriam se

baseado, apenas, em publicações da imprensa, algumas fruto de

vazamento ilícito de dados sigilosos.

Com base nesta argumentação, pleiteia-se a rejeição da

denúncia "em toda a parte em que se refere a 'contratos das

agências de publicidade -com BANCO DO BRASIL e CÂMARA DOS

DEPUTADOS, ( . . . ) pagamentos, no Brasil ou no exterior, a DUDA

M E N D O N ~ ~ e r e a l i z a ç ã o d e saques em espécie para lavagem de

dinheiro'." (fls. 37 da resposta de MARCOS VALÉRIO).

As defesas também consideram que seria ilícita a prova

emprestada obtida no banco de dados do Caso Banestado, que foi

utilizada pelo PGR para dar respaldo a acusação contida no item

VI11 da denúncia em exame (fls. 47 da resposta de VALÉRIO; 05/07

da resposta de AYANNA TEN~RIO, JOSÉ ROBERTO SALGADO, KÁTIA

RABELLO e VINÍCIUS SAMARANE, Apenso 118).

Em outra preliminar, o acusado MARCOS VALÉRIO pede que

se declare a ilicitude da análise, em laudos do Instituto

Nacional de Criminalística, de dociimentos bancários recebidos no

Brasil em novembro de dezembro de 2005, fruto de quebra de

sigilo bancário no exterior sem que houvesse prévia autorização

de autoridade judiciária brasileira.

Alguns acusados sustentam, ainda, ter havido violação

ao princípio constitucional do devido processo legal e falta de

Page 60: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

dg4.e- NU&& Inq 2.245 / MG

011780

justa causa para propositura da denúncia, em razão do fato de o

PGR haver oferecido a denúncia antes .de concluídas as

investigações e apresentado o relatório pela autoridade

policial.

Pelas razões antes expostas, as defesas de SIMONE

VASCONCELOS (Apenso 114) e MARCOS VALÉRIO (Apenso 115) pedem o

desentranhamento de todos os documentos que, segundo eles, foram

obtidos por meios ilicitos.

Individualmente, LUIZ GUSHIKEN alegou a ocorrência de

cerceamento de defesa por não ter tido acesso ao resultado da

pericia então em andamento junto a Policia Federal, razào pela

qual solicita reabertura de prazo para complementação da

resposta, tão logo seja juntado aos autos o laudo da pericia

(Apenso 89) .

O acusado JOSÉ DIRCEU alega que este é um julgamento

político, que só a população, através do voto, teria direito de

fazer (fls. 4, Apenso 100).

Estas as preliminares arguidas pelas defesas.

Considero que todas devem ser rejeitadas.

' Esta acusação será analisada no item V I 1 1 do presente voto.

Page 61: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Ngfk?mo NU&& Inq 2.245 / MG

011781

Relativamente a alegada precipitação no oferecimento

da denúncia (Apensos 114/115) que a defesa alega ter violado o

devido processo legal, tendo em vista que algumas diligências

ainda deveriam ser feitas e que o Relatório Policial ainda não

havia sido apresentado, a tese não tem amparo jurídico algum.

Ora, se o Procurador-Geral da República entender, como

entendeu, que existem indícios mínimos de autoria e

materialidade de fatos tidos como criminosos, não há qualquer

obstáculo ao oferecimento da denúncia. O máximo que pode ocorrer

é o não recebimento da denúncia, por inexistência de justa

causa, mas não sua rejeição liminar, pelo mero fato de não ter

aguardado "o momento mais adequado". A decisão sobre o momento

de oferecer a denúncia é da alçada única do autor da ação penal

Quanto a não apresentação do Relatório Policial,

trata-se, obviamente, assim como o próprio inquérito policial,

de peça dispensável, razão pela qual sua ausência nos autos não

pode ensejar, por si só, a rejeição da denúncia

A preliminar de nulidade das decisões proferidas na

primeira instância, por sua alegada "incompetência absoluta",

também não merece prosperar. Quando o Magistrado de 1' grau

proferiu sua primeira manifestação, no sentido da quebra de

sigilo bancário e fiscal (autos 2005.023624-O), não havia

qualquer indício da participação ativa e concreta de qualquer

agente político ou autoridade que possuísse foro por

Page 62: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+&&&a Inq 2.245 / MG 011782

prerrogativa de função nos fatos objeto da investigação

policial. Foram f a t o s novos , supervenientes aquela decisão, que

acarre taram uma a l t e r a ç ã o do quadro p roba tó r io , r e p e r c u t i n d o na

competência daque le j u i z o f e d e r a l , que a s s i m s e m a n i f e s t o u :

" a ) d e c l i n o da competência para o Supremo Tr ibuna l Federa1 - S T F , para onde deverão ser remetidos imediatamente os autos e os demais apensos e anexos, o s q u a i s serão en t r egues mediante O f í c i o na pessoa do Senhor M i n i s t r o P r e s i d e n t e , adotando-se t o d a s a s c a u t e l a s para a preservação do s i g i l o das i n fo rmações , dados e documentos jun tados ;

b) de termino à S e c r e t a r i a do j u í z o a adoção das p rov idênc ia s n e c e s s á r i a s , devendo o s a u t o s e demais peças ser l a c r a d o s , de forma a p r e s e r v a r a i n v i o l a b i l i d a d e das i n fo rmações ;

c ) o f i c i a r à au tor idade p o l i c i a l p r e s i d e n t e do I n q u é r i t o o d i s p o s i t i v o d e s t a d e c i s ã o , a f i m de que possa ado ta r a s p r o v i d ê n c i a s a d m i n i s t r a t i v a s no que ..

toca ao r e g i s t r o e tombamento do I P ; d ) de terminar a ba i xa na d i s t r i b u i ç ã o ,

inclusive em relação às &&das cautelares 2005.022754-9, 2005.023624-0 e 2005.025508-9, para as quais deverá ser trasladada cópia desta decisão, promovendo-se as anotações e registros de praxe."

R e s s a l t o que , chegados o s au to s ao STF, o en tão

p r e s i d e n t e Ministro Nelson Jobim deferiu todos os requerimentos

formulados pelo Procurador-Geral da República, qua i s sejam:

' ( 1 o reconhecimento da competência do SUPREMO para processamento das i n v e s t i g a ç õ e s e m c u r s o , autuando-se para c l a s s e de INQUÉRITO;

( 2 ) a juntada aos a u t o s do procedimento PGR/MPF n o 1 .00 .000 .006045 /2005 -55 , i n s t a u r a d o na PGR (CASO ROBERTO JEFFERSON) .

(3 ) (. . . ) a ratificação das decisões judiciais prolatadas nos autos das medidas cautelares de busca e apreensão e afastamento do sigilo bancário (Processos n o 2005.022754-9; 2005.023624-0 e 2005.025508-9), d i s t r i b u í d a s por dependência ao

Page 63: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&* fl&&4 Inq 2 .245 / MG

011783

~nquérito pollclal que tramitava perante a 4" Vara Federal de Belo Horizonte;

(4) a extensão do afastamento do s i g i l o bancário das empresas DNA Propaganda Ltda. E SMP&B Comunicação Ltda., de MARCOS VALÉRIO ZERN2WDES DE SOUZA e sua esposa RENILDA MARIA SANTIAGO EZUNANDES DE SOUZA, desde janeiro de 1998 a t é a presente data.

(5) autorização para compartilhamento de todas as informações bancárias já obtidas pela CPMI dos 'Correios' , para anállse em conjunto com os dados constantes destes autos."

Desta forma, não há que se falar em ilegalidade ou

nulidade nos atos praticados pelo juizo de primeira instância,

pois quando do deferimento das medidas cautelares, o juiz a quo

era competente para t a i s a tos , tendo declinado de sua

competência tão logo surgiram indícios da participação de

agentes públicos detentores da prerrogativa de foro.

As defesas também alegaram a ilegalidade da prova

emprestada do caso ,Banestado. Esta alegação também não merece

aceitação. Isto porque o acesso a base de dados da CPMI do

Banestado fora autorizado pela CPMI dos Correios. Ademais, o

então Ministro Presidente desta Corte, Nelson Jobim, de fe r iu o

compartilhamento de todas as informações obtidas pela C P M I dos

correios para análise em conjunto com os dados constantes dos

presentes autos. Eis o que o Procurador-Geral da República falou

sobre o tema (fls. 10177/10178, volume 48):

A correta decisão atendia ao objetivo de racionalizar o trabalho de apuração, evitando uma indesejável e anti-econômica duplicidade de esforços.

Pois bem : entre vários requerimentos aprovados pela CPMI dos correios, alguns tiveram como

Page 64: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- fl&&& Inq 2.245 / MG

objeto justamente o acesso a base de dados do denominado caso Banestado. A CPMI dos correios efetivamente aprovou o acesso à base de dados da CPMI do Banestado.

Além disso, registre-se que o trabalho de qualquer CPMI tem como destinatário, para fins jurídicos (ação penal, ação civil públlca, entre outras medidas) o Ministério Público, que passa a ter acesso irrestrito aos documentos produzidos pelo órgão legislativo.

Diante desse quadro, havia sim autorização para utilização emprestada das provas colhidas na mencionada investigação (Banestado) .

Aliás, recentemente, no caso da Operação Furacão (Inq.

no 2 4 2 4 ) , esta Corte autorizou o compartilhamento das provas que

compõem o acervo daquele inquérito com o Superior Tribunal de

Justiça, para instrução de processo disciplinar, caso em que

havia inclusive interceptações telefõnicas. Com muito mais

razão, as provas obtidas pela CPMI do caso Banestado podem ser

aproveitadas no presente caso.

Assim, Senhora Presidente, diante da existência de

autorização judicial para o compartilhamento de todas as provas

colhidas pela CPMI dos Correios, dentre as quais aquelas do caso

Banestado, eu rejeito, também, a preliminar em questão.

Quanto a alegação de que a CPMI dos correios

investigou fatos estranhos aquele que determinou sua instalação,

é amplamente conhecido que a investigação findou por ser

ampliada em razão de fatos novos, relacionados com aqueles que

constituíam seu objeto (investigar a corrupção e outros atos

administrativos praticados na Empresa Brasileira de Correios e

Page 65: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

d$?&?.w&&&& Inq 2.245 / MG 011785

T e l é g r a f o s , a E C T , tendo em v i s t a a n o t i c i a do recebimento de

vantagem indevida pelo S r . Maurício Marinho, funcionário daquela

e s t a t a l , f lagrado por gravação de v i d e o ) . Esta ampliação do

ob je to da CPMi dos Correios nada contém de i l e g a l , como entende

e s t a Corte , v e r b i s :

,, (. . .) AUTONOMIA DA IWESTIGAÇÃO

PARLAMENTAR - O i n q u é r i t o parlamentar, r ea l i zado por qualquer CPI, q u a l i f i c a - s e como procedimento jur íd ico - cons t i tuc iona l r e v e s t i d o de autonomia e dotado de f ina l idade própr ia , c ircunstância e s ta que permite a Comissão l e g i s l a t i v a - sempre respe i tados os l i m i t e s i n e r e n t e s à competência mater ia l do Poder L e g i s l a t i v o e observados os f a t o s determinados que d i t a r a m a sua c o n s t i t u i ç ã o - promover a p e r t i n e n t e inves t igação , ainda que o s a t o s i nve s t i ga tó r io s possam incidir, eventualmente, sobre aspectos referentes a acontecimentos s u j e i t o s a inquér i tos p o l i c i a i s ou a processos j ud i c ia i s que guardem conexão com o .evento pr incipal ob je to da apuração congressual. Doutrina. " (MS 23.639/DF, Pleno, r e l . Min. Celso de Mello, DJ 16.02.2001, p . 91)

. . . A comissão parlamentar de i n q u é r i t o encontra na jur isd ição cons t i tuc iona l do Congresso seus l i m i t e s . Por uma necessidade funcional , a comissão parlamentar de i n q u é r i t o não tem poderes u n i v e r s a i s , mas l i m i t a d o s a f a t o s determinados, o que não quer d i z e r que não possa haver tan tas comissões quantas as necessár ias para r e a l i z a r as inves t igações recomendáveis, e que outros fa tos in ic ia lmente p rev i s t o s não possam ser aditados aos ob je t i vos da comissão de i nquér i t o , já em ação. O poder de i nve s t i gar não é um fim em si mesmo, mas M poder instrumental ou anc i lar relacionado com as a tr ibuições do Poder Leg i s la t i vo . Quem quer o fim dá os meios (. . . ) . " (HC 71.039/RJ, Pleno, r e l . Mln. Paulo Brossard, DJ 06.12.1996, p . 4 8 . 708) .

Page 66: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&-H&&& Inq 2 .245 / MG

01178F

Assim, não deve prosperar o pleito dos denunciados de

que a CPMI dos correios não tinha competência para investigar os

fatos trazidos no presente inquérito.

Ainda em relação à CPMI dos Correios, alegou-se que os

afastamentos de sigilos ali determinados teriam origem,

exclusivamente, em matérias jornalisticas. Ocorre que, além de

não ser esta a realidade dos fatos, referidos dados foram objeto

de decisão judicial autônoma no âmbito do Inquérito no 2245 e

ações cautelares incidentais a e l e (por exemplo: sigilo bancário

de Renilda Fernandes, DNA e SMP&B), de modo que as provas

obtidas com afastamento de sigilo, no âmbito do presente

Inquérito, foram colhidas com autorização judicial.

O acusado MARCOS VALÉRIO considera, ainda, que a

denúncia deve ser rejeitada, "pelo menos em toda a parte em que

se refere a 'recursos originários de sugostos empréstimos

bancários juiito aos bancos Rural e BMG e aos supostos benefícios

dados pelo Governo Federal ao banco BMG em troca da alimentação

do esquema da organização .crimínoS+ com.aquehS mesmos recursos,

bem como a participação na organização criminosa dos dirigentes

do Banco Rural e realização de saques em espécie para lavagem de

dinheiro'." (fls. 2 9 da resposta de MARCOS VALÉRIO - Apenso

115).

Alega, neste sentido, que as provas obtidas para

respaldar e s t a parte da acusação foram colhidas de modo i legal ,

Page 67: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

pois o BACEN teria atendido a pedido direto do Procurador-Geral

da República, sem que houvesse autorização judicial para tanto.

Na verdade, o que consta dos autos em respaldo as

acusações de lavagem de dinheiro são relatórios de fiscalização

do BACEN, que foram objeto de requerimento aprovado na CPMI dos

correios (requerimento na 9 1 , do Senador Álvaro Dias, aprovado

em 21 de junho de 2005 - v. www.camara.gov.br, onde é possível

ter acesso a tabela de todos os requerimentos aprovados pela

CPMI dos Correios), nos termos do art. 4 O , 1 da Lei

Complementar no 105, de 10 de janeiro de 2001, que dispõe:

51" AS comissões parlamentares de inquérito, no exercício de sua competência constitucional e legal de ampla investigação, obterão as inforniações e documentos sigilosos de que necessitarem, diretamente das instituições financeiras, ou por intermédio do Banco Central do Brasil ou da Comissão de Valores Mobiliários.

Como vimos, o Ministro NELSON JOBIM, então Presidente

desta Corte, autorizou o "compartilhamento de todas as

informações bancárias já obtidas pela CPMI dos "Correios", para

análise em conjunto com os dados constantes destes autos" (f 1s.

408, volume 2), decisão esta proferida em 25 de julho de 2005.

Além disso, também eu proferi decisão, em 30 de agosto

de 2005, como consta de fls. 1245/1249 (volume 5 destes autos).

Ali, destaquei que o afastamento do sigilo bancário, desde

janeiro de 1 9 9 8 , de todas as contas mantidas por MARCOS VALÉRIO

e "demais pessoas f ís icas e jurídicas que com ele cooperam, ou

Page 68: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+H&&& Inq 2.245 / MG

por ele são controladas", apontadas pelo Procurador-Geral da

República na manifestação de fls. 1167/1183, mostrava-se

"necessária à completa elucidação da origem dos recursos

financeiros movimentados" nos fatos investigados neste inquérito

(v. fls. 1247).

Veja-se, ainda,, que as remessas ,diretas dos documentos

pelo ÉACEN ao Procurador-Geral da República foram por mim

autorizadas, para maior celeridade processual, e me eram sempre

comunicadas pelo Presidente do Banco Central v., p. ex., fls.

3397, volume 15 dos autos).

Assim, o fato é que houve regular quebra de sigilo de

todas as contas do acusado .Marcos Valério e suas empresas,

autorizada tanto pela CPMI dos Correios como por este Tribunal.

Por estas razões, rejeito também esta preliminar.

Relativamente aos documentos encaminhados pelo Banco

BMG ao Ministério Público Federal, atendendo a pedido direto do

órgão ministerial, não assiste razão a defesa. O oficio

requisitório do Ministério Público amparou-se na decisão

anterior que afastou o sigilo bancário dos investigados (fls.

407/410), decisão esta proferida pelo então ministro Presidente

desta Corte, NELSON JOBIM, durante o recesso forense (25 de

julho de 2005). Houve, ainda, posteriormente, nova decisão, por

mim proferida, afastando o sigilo bancário de modo amplo,

abarcando todas as operações de empréstimos objeto do oficio

Page 69: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

.(fls. 1245/1249). Foi, inclusive, determinada, naquela mesma

decisão, a realização de perícia com acesso amplo e irrestrito

as operações. bancárias do Banco BMG. Assim, não merece ser

acolhida a preliminar em questão, inclusive porque não houve

qualquer impugnação no momento em que aquelas decisões foram

proferidas.

Destaco, por fim, que também a CPMI ,dos Correios

afastou o sigilo bancário de todas as operações questionadas

pela defesa.

Em anexo ao meu voto eu disponibilizo uma lista de

todos os requerimentos aprovados pela CPMI dos Correios, dentre

os quais a transferência do sigilo bancário, fiscal e telefônico

do acusado MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA, requisição ao

Banco Rural para identificar todos os saques realizados em

dinheiro nas Agências de Belo Horizonte, desde janeiro de 2003,

superiores a R$ 100mi1, a partir das contas da SMP&B

Comunicação, suas coligadas e sócios, dentre os mais de 1800

ato3 praticados pela CPMI e listados na tabela anexa (v.

www.camara.gov.br).

No que diz respeito aos documentos bancários recebidos

do exterior, a defesa de MARCOS VALÉRIO pede que se declare a

ilicitude da análise, em laudos do Instituto Nacional de

Criminalistica, de docmentos bancários recebidos no Brasil em

Page 70: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R$kw%w &&&;.'-.c Inq 2 .245 / MG 011790

novembro de dezembro de 2005, f r u t o de quebra de s i g i l o bancário

no e x t e r i o r .

A d e f e s a alega o seguin te ( f l s . 4 5 ) :

" O Decreto n o 3.810, de 02/05/2001, promulga o Acordo de Ass i s t ênc ia Judic iár ia em Matéria Penal e n t r e o Governo da República Federativa do B r a s i l e o Governo dos Estados Unidos da América, celebrado em B r a s i l i a , e m 14 de outubro de 1997 ( . . . ) .

Consta do mencionado Acordo, quanto ao uso das provas o b t i d a s , uma r e s t r i ç ã o expressa. As mesmas só podem ser usadas nos inquér i tos .ou processos que deram origem ao pedido de cooperação in ternacional , não sendo permitido o seu uso, indiscriminadamente ( . . . ) .

Como não houve nenhuin pedido formal do Governo do Bras i l à s Autoridades Americanas so l i c i tando autorização para u t i l i z a r , no presente Inquéri to no 2 2 4 5 d e 2005 , o s dados e documentos bancários enviados em 2003 e 2004 ( . . . ) , o uso daquele banco de dados na rea l i zação de todos os laudos p e r i c i a i s r ea l i zados pe lo I n s t i t u t o Nacional de Cr imina l í s t i ca do DPF, no presente i n q u é r i t o , acima re lac ionados , tornou-os prova i l í c i t a , porquanto derivados da prova emprestada i l i c i t a ."

Não há qualquer respaldo jur íd i co a alegação.

Destaco, em primeiro lugar , que a de fe sa não

i n t e r p r e t o u corretamente o Decreto no 3.810/2001

O a r t i g o V I I , número 1 , daquele diploma l ega l não

es tabelece que o uso dos documentos enviados se r e s t r i n j a ao

inquér i to que deu origem ao pedido do Estado Requerente. Ele

apenas autor iza que a Autoridade Central do Estado Requerido

imponha essa r e s t r i ção de uso. Ou s e j a , para que o Estado

Requerente e s t e j a impedido de usar as provas em outros

processos, é preciso que o Estado Requerido s o l i c i t e ,

Page 71: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

expressamente, que os dados não sejam usados em outros

procedimentos que não aqueles d e s c r i t o s na s o l i c i t a ç ã o .

Transcrevo o t e o r do d i s p o s i t i v o em ques tão:

" A r t i g o VII Res t r i ções ao Uso

1 . A Autoridade Central do Estado Requerido pode s o l i c i t a r que o Estado Requerente de ixe de usar qualquer informação ou prova obt ida por força d e s t e Acordo em inves t igação , i n q u é r i t o , ação penal ou procedimentos ou t ros que não aqueles d e s c r i t o s na s o l i c i t a ç ã o , sem o prév io consentimento da Autoridade Central do Estado Requerido. Nesses casos, o Estado Requerente deverá r e s p e i t a r a s condições e s tabelecidas" .

No caso em questão, não houve a restrição prevista em

tal norma! A única condição imposta t e v e por base o Ar t igo V I I ,

número 2 , que dispõe o segu in te :

" 2 . A Autoridade Central do Estado Requerido poderá requerer que as informações ou provas produzidas por força do presente Acordo sejam mantidas c o n f i d e n c i a i s ou usadas apenas sob os termos e condições por ela especificados. Caso o Estado Requerente a c e i t e as informações ou provas s u j e i r a s a e s sas condições, e l e deverá r e s p e i t a r t a i s condições. "

A condição imposta pela Autoridade Americana, i n casu,

f o i apenas que os documentos fossem utilizados apenas pelos

Procuradores da República e pela Policia Federal, que não

deveriam compartilhar com outras ent idades ou autoridades do

B r a s i l . Mas não ficaram impedidos de utilizar aqueles documentos

em outros inquéritos.

Page 72: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e &&H& Inq 2.245 / MG 0 1 1 7 9 2

Acrescento que o STF foi informado de todos os passos

da obtenção das provas no exterior, recebendo, ao final, o

resultado dos pedidos feitos pela Policia Federal e pela

Procuradoria-Geral da República. Eis o que constou na

manifestação do Ministério Público de £1. 1180:

"53. Em razão dessas informações, faz-se necessário o afastamento do sigilo bancário das contas do publicitário 'DUDA MEiVDONÇA' e empresas, no Brasil, incluindo as contas 'CC-S / , devidamente indicadas nos itens '1' e '2' acima.

54. Quando às dema~s contas mantldas no exterior, após o afastamento pelo Supremo Tribunal Federal do sigllo acima requerido, diligenciarei o acesso às mesmas junto aos órgãos internacionais competentes, com base nos Acordos e demais normas que disciplinam a matéria. "

O afastamento de sigilo assim solicitado foi acatado

na decisão de fl. 1248', demonstrando a lisura de todo o

procedimento e o seu pleno conhecimento pela autoridade judicial

competente (STF) .

Como afirmou a própria defesa e conforme documento

salientado no próprio Laudo n o 2293/05, do INC, o sigilo das

contas em questão foi afastado pela Autoridade norte-americana

competente, que .autorizou, no bojo do presente inquérito, seu

uso pelo Procurador-Geral da República e pela Policia Federal.

Eis o que consta dos oficios que remeteram referidos

documentos bancários (fls. 3796 e 3822, volume 17):

Page 73: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

"Em r e f e r ê n c i a aos pedidos acima r e f e r i d o s do Governo do B r a s i l , formulados conforme o Tratado e n t r e os Estados Unidos e o B r a s i l sobre Ass i s t ênc ia Jur íd ica Mútua e m Matéria Criminal , assinado em 1 4 de outubro de 1 9 9 7 , encaminhamos anexadas a e s t a carta o i t o ca ixas contendo cópias de r e g i s t r o s bancários encaminhados ao nosso e s c r i t ó r i o pe lo E s c r i t ó r i o do Procurador D i s t r i t a l do Condado de Nova Iorque. O E s c r i t ó r i o do Procurador D i s t r i t a l do Condado de Nova Iorque obteve ordens judiciais para abrir os - - documentos apenas para os Procuradores Federais bras i le i ros e para a Polícia Federal brasi le ira ( . . . ) . Portanto, neste momento não comparti lhe as provas anexadas com quaisquer outras en t idades ou autoridades no B r a s i l , i n c l u s i v e a Comissão Parlamentar de Inquér i to , que s o l i c i t o u o compartilhamento dos documentos pe lo pedido de 2 4 de outubro de 2005 ( O f í c i o n o 4766/2005ISNJ-MJ) " .

Deste modo, não há que se f a l a r em nulidade a

propósi to da per í c ia f e i t a pelo I N C nos documentos bancários

provenientes do e x t e r i o r , t endo em v i s t a a permissão para abr i r

o s documentos t a n t o para os Procuradores da República quanto

para a Polícia Federal, sendo que o I n s t i t u t o Nacional de

Cr imina l í s t i ca é, como sabido, órgão do Departamento de Pol ic ia

Federal

Portanto, como v i s t o , todas as provas existentes nos

autos foram legalmente colhidas no curso do presente Inquér i to .

Individualmente , o acusado L U I Z G U S H I K E N alegou t e r

havido cerceamento de d e f e s a , porque t e r iam s ido juntados

documentos após a apresentação de sua impugnação. Requereu,

Posteriormente, o Pleno deu provimento a agravo regimental no qual se impugnava apenas a parte da decisão deste relator que decretara a quebra do sigilo bancário das contas CC-5.

Page 74: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

assim, abertura de prazo para complementar a defesa "após serem

carreados para os autos todos os elementos anteriormente

requisitados à Policia Federal pelo Ministério Público, bem como

descritos em auto próprio os conteúdos dos CDs que acompanharam

os ditos apensos" (fls. 14).

Ocorre que a denúncia foi oferecida com base, tão-

somente, nos documentos até então existentes, não servindo, para

a decisão que se proferirá nesta sessão, documentos

eventualmente juntados pelo Parquet após o oferecimento da

inicial. Até porque, tais documentos não podem ter influenciado

no convencimento do órgão ministerial ao apresentar a denúncia.

Como destacou o Procurador-Geral da República as fls. 10173, "os

demais documentos servirão para instruir a ação penal, momento

no qual o denunciado terá pleno acesso aos respectivos

conteúdos".

Relativamente aos conteúdos dos CDs, que a defesa

requer sejam "descritos em auto próprio", esclareço apenas que

há, nos autos, precisa indicação dos mesmos, estando disponíveis

às defesas para consulta.

Por fim, quanto a alegação do acusado JOSÉ DIRCEU, no

sentido de que se pretende fazer um julgamento político de seus

atos, não há qualquer base para tal afirmação. Como veremos nos

capítulos seguintes, são-lhe imputados fatos em tese típicos e

antijurídicos, com base em indícios que analisaremos para saber

Page 75: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

se são suficientes ou não para dar inicio a ação penal. Não há

qualquer alusão a atos ou posicionamentos político-ideológicos

do acusado, mesmo porque o Poder Judiciário não tem legitimidade

democrática para julgá-los.

Rejeito, assim, TODAS as questões preliminares.

DA IMPuTAÇÃO DE DESVIO DE RECURSOS PÚBLICOS - Capitulo I11 da Denúncia

Os fatos criminosos narrados no item I11 da denúncia

(fls. 5649-5686) referem-se a supostas ilicitudes cometidas no

âmbito de contratos celebrados entre órgãos da administração

pública e empresas vinculadas ao grupo de MARCOS VALÉRIO,

nomeadamente a DNA Propaganda Ltda. e a SMP&B Comunicações Ltda.

Esta parte da denúncia encontra-se subdividida em

quatro subitens, conforme o órgão que contratou os serviços das

referidas empresas.

No subitem 111.1, o procurador-geral da República

aborda as supostas ilegalidades perpetradas durante licitação

para contratação de serviços publicitários pela Câmara dos

Deputados(Concorrência 11/2003), durante o período no qual o

denunciado João Paulo Cunha ocupava a Presidência da Casa, bem

como aquelas supostamente cometidas ao longo da execução do

contrato administrativo correspondente(2003/204.0), celebrado

com a SMP&B Comunicações Ltda.

As imputações constantes desse subitem sào as

seguintes:

(i) Corrupção ativa e passiva (fls. 5668):

"a) JOÃO PAULO CUNHA, em concurso material,

está incurso nas penas do:

Page 76: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&$ke.vw fl&&& Inq 2.245 / MG 011796

a . 1 ) a r t i g o 317 d o Cód igo Penal P á t r i o

( r e c e b i m e n t o d e c i n q u e n t a m i l r e a i s ) - F l s . 5667

[ . . . I b) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,

CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, em c o n c u r s o

m a t e r i a l , e s t ã o i n c u r s o s n a s p e n a s d o :

b . 1 ) a r t . 3 3 3 d o Cód igo Penal P á t r i o

(pagamento d e c i n q u e n t a m i l r e a i s ) " - F l s . 5668

(ii) Lavagem de Dinheiro (fls. 5667) :

" a ) JOÃO PAULO CUNHA, em c o n c u r s o m a t e r i a l ,

e s t á i n c u r s o n a s p e n a s d o :

[ . . . I a . 2 ) a r t i g o 1 ° , i n c i s o s V , V I e V I I , da L e i

n o 9 . 613 /1998 ( u t i l i z a ç ã o da S r a . Márcia Regina para

receber c i n q u e n t a m i l reais)"

(iii) Peculato (fls. 5667-5668)

" a ) JOÃO PAULO CUNHA, em c o n c u r s o m a t e r i a l ,

e s t á i n c u r s o n a s p e n a s d o : [. . . ] a . 3 ) 0 2 ( d u a s ) vezes n o a r t i g o 312 d o

Cód igo Penal ( d e s v i o d e R$ 252.000,OO em p r o v e i t o

p r ó p r i o e R$ 536 .440 ,55 em p r o v e i t o a l h e i o ) ; "

[ . . - I b) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,

CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, em c o n c u r s o

m a t e r i a l , e s t ã o i n c u r s o s n a s p e n a s d o : [ . . . ] b . 2 ) a r t . 312 d o Cód igo Penal P á t r i o

( d e s v i o d e R$ 5 3 6 . 4 4 0 , 5 5 ) . "

Page 77: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

No subitem 111.2 o Procurador-Geral da República

aponta supostas i l i c i t u d e s em contra tos de publicidade do Banco

do Bras i l com a empresa DNA Propaganda Ltda ( c o n t r a t o s no

99/1131 E 01/2003).

O segu in te t r echo da denúncia s i n t e t i z a bem

o t e o r do subitem I I I . 2 :

"Em re lação à empresa DNA Propaganda Ltda . ,

o s Ana l i s tas do TCU apuraram que desde a sua primeira

contratação, ocorrida e m 22/03/2000, a empresa, por

seus d i r i g e n t e s , vem s e bene f i c iando , com a t o t a l

conivência dos responsáveis pela contra tação, o

Gerente Execut ivo de Propaganda e Diretor de Marketing

do Banco do B r a s i l , de va lores concernentes a

descontos e b o n i f i c a ç õ e s que, contratualmente ,

pertencem ao próprio banco e que são indevidamente

desviados em b e n e f i c i o da agência de publ ic idade . "

( f l s . 5668/5669)

Após a pormenorização das c i rcuns tânc ias em que t e r iam

ocorrido as supostas i l i c i t u d e s , foram f e i t a s as seguin tes

imputações no subitem 111.2 da denúncia:

"Ass im procedendo de modo l i v r e e

consc ien te , na forma do a r t . 29 do Código Penal:

a ) HENRIQUE PIZZOLATO e s t á incurso nas

penas do a r t i g o 312 do Código Penal (desv io de R$

2.823.686,15 em prove i to a l h e i o ) ; e

b) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,

CRIÇTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO e s t ã o incursos nas

penas do a r t i g o 312 do Código Penal (desv io de R$

2.923. 686,15). "

Page 78: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&* &&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

011798

Q u a n t o a o s u b i t e m 111.3 da d e n ú n c i a , e s t e t r a t a d a s

t r a n s f e r ê n c i a s , s u p o s t a m e n t e i l í c i t a s , d e r e c u r s o s d o Banco d o

B r a s i l para a empresa DNA Propaganda L t d a . por m e i o da Companhia

B r a s i l e i r a d e Meios d e Pagamento - V i s a n e t .

O s e g u i n t e t r e c h o s i n t e t i z a a n a r r a t i v a d o s u b i t e m

111.3:

"O e x - M i n i s t r o da S e c r e t a r i a d e Comunicação

e G e s t ã o E s t r a t é g i c a da P r e s i d ê n c i a da R e p ú b l i c a , L u i z

G u s h i k e n , e o e x Diretor d e M a r k e t i n g e Comunicação d o

Banco d o B r a s i l , Henr ique P i z z o i a t o , em a t u a ç ã o

o r q u e s t r a d a , d e s v i a r a m , n o p e r í o d o d e 2003 e 2 0 0 4 , em

b e n e f í c i o d o g r u p o l i d e r a d o p o r Marcos V a l é r i o

( C r i s t i a n o Paz , Ramon H o l l e r b a c h e R o g é r i o T o l e n t i n o )

e d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ( J o s é D i r c e u , J o s é

G e n o í n o , S í l v i o P e r e i r a e D e l ú b i o S o a r e s ) , v u l t o s a s

q u a n t i a s d o Fundo d e I n v e s t i m e n t o VISANET, c o n s t i t u í d o

com r e c u r s o s d o Banco d o B r a s i l S /A ."

Ao f i n a l d o s u b i t e m 111.3, s ã o f e i t a s a s s e g u i n t e s

i m p u t a ç õ e s :

" A s s i m p r o c e d e n d o d e modo l i v re e

c o n s c i e n t e , na forma d o a r t . 2 9 d o Cód igo P e n a l :

a ) HENRIQUE PIZZOLATO, em c o n c u r s o

m a t e r i a l , e s t á i n c u r s o n a s r e p r i m e n d a s d o :

a . 1 ) a r t i g o 31 7 d o Cód igo Penal P á t r i o

( r e c e b i m e n t o d e R$ 326 .660 ,27 ) ;

a . 2 ) a r t i g o 1 O , i n c i s o s V , V I e V I I , da L e i

n . " 9 . 613 /1998 ( u t i l i z a ç ã o d o S r . L u i z Eduardo

F e r r e i r a para receber R$ 3 2 6 . 6 6 0 , 2 7 ) ; e

Page 79: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&* c f z A w d & u Inq 2.245 / MG 011799

a . 3 ) 4 ( q u a t r o ) vezes n o a r t i g o 3 1 2 d o

C ó d i g o P e n a l ( 1 9 . 0 5 . 2 0 0 3 - R$ 23.300.000,OO;

2 8 . 1 1 . 2 0 0 3 - R$ 6 . 4 5 4 . 3 3 1 , 4 3 ; 1 2 . 0 3 . 2 0 0 4 -

R $ 3 5 . 0 0 0 . 0 0 0 , 0 0 ; e 0 1 . 0 6 . 2 0 0 4 - R $ 9 . 0 9 7 . 0 2 4 , 7 5 ) ;

b) LUIZ GUSHIKEN, em c o n c u r s o m a t e r i a l ,

e s t á i n c u r s o 4 ( q u a t r o ) vezes n a s r e p r i m e n d a s d o

a r t i g o 3 1 2 d o C ó d i g o P e n a l ( 1 9 . 0 5 . 2 0 0 3 - R$

23.300.000,OO; 2 8 . 1 1 . 2 0 0 3 - R$ 6 . 4 5 4 . 3 3 1 , 4 3 ;

1 2 . 0 3 . 2 0 0 4 - ~ $ 3 5 . 0 0 0 . 0 0 0 , 0 0 ; e 0 1 . 0 6 . 2 0 0 4 -

R $ 9 . 0 9 7 . 0 2 4 , 7 5 ) ;

c) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,

CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO SOLENTINO, em c o n c u r s o

m a t e r i a l , e s t ã o i n c u r s o s n a s r e p r i m e n d a s d o :

c . 1 ) a r t i g o 3 3 3 d o C ó d i g o P e n a l P á t r i o

( p a g a m e n t o d e R$ 3 2 6 . 6 6 0 , 2 7 ) ; e

c .2) 4 ( q u a t r o ) vezes no a r t i g o 3 1 2 d o

C ó d i g o Pena l ( 1 9 . 0 5 . 2 0 0 3 - R$ 23.300.000,OO;

2 8 . 1 1 . 2 0 0 3 - R$ 6 . 4 5 4 . 3 3 1 , 4 3 ; 1 2 . 0 3 . 2 0 0 4 -

R$35 .000 .000 ,00; e 0 1 . 0 6 . 2 0 0 4 - R $ 9 . 0 9 7 . 0 2 4 , 7 5 ) ; e

d ) JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOINO, S Í L V I O

PEREIRA e DELÚBIO SOARES, em c o n c u r s o m a t e r i a l , e s t ã o

i n c u r s o s 4 ( q u a t r o ) vezes nas r e p r i m e n d a s d o a r t i g o

3 1 2 d o C ó d i g o P e n a l ( 1 9 . 0 5 . 2 0 0 3 - R$ 23.300.000,OO;

2 8 . 1 1 . 2 0 0 3 - R$ 6 . 4 5 4 . 3 3 1 , 4 3 ; 1 2 . 0 3 . 2 0 0 4 -

R $ 3 5 . 0 0 0 . 0 0 0 , 0 0 ; e 0 1 . 0 6 . 2 0 0 4 - R $ 9 . 0 9 7 . 0 2 4 , 7 5 ) . "

Page 80: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@- fl&&& Inq 2.245 / MG 01180Q

Quanto ao item 111.4, este não traz qualquer imputação

e é unicamente ilustrativo das atividades da suposta organização

criminosa, apontando supostas irregularidades em diversos

contratos das empresas do grupo liderado por Marcos Valério com

a administração pública federal.

Consta da denúncia que as supostas ilicitudes

descritas no subitem 111.4 serão tratadas nos respectivos

procedimentos civeis e/ou investigações criminais, não sendo

objeto, portanto, de apreciação por esta Corte.

Passo agora a analisar cada um dos subitens do item

I11 da denúncia para o fim de que seja admitida, ou não, a

abertura de ação penal para apuração das imputações constantes

desta parte da denúncia.

111.1 - Câmara dos Deputados

O item 111.1 trata de fatos relacionados ao

procedimento licitatório instaurado na Câmara dos Deputados para

a contratação de agência de publicidade (Concorrência 11/2003).

Os fatos supostamente tipicos distribuem-se em três

situações distintas.

Na primeira delas, o procurador-geral da República

narra que JOÃO PAULO CUNHA, então presidente da Câmara dos

Deputados, teria cometido o crime previsto no art. 317 do Código

Penal (corrupção passiva), ao receber vantagem indevida no valor

de cinquenta mil reais.

Tal quantia teria sido oferecida por MARCOS VALÉRIO em

concurso com RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO

TOLENTINO, com o propósito de obter tratamento privilegiado para

sua empresa (SMP&B) na licitação então em curso na Câmara dos

Deputados. Assim agindo, estes últimos teriam incorrido nas

penas do art. 333 do Código Penal (corrupção ativa).

Page 81: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

dg?&?-w NU&& Inq 2.245 / MG 0 1 1 8 ~ ~

Transcrevo o s t r e c h o s da denúncia p e r t i n e n t e s a s

imputações :

"Assim procedendo de forma l i v r e e

c o n s c i e n t e na forma do a r t . 29 do Código Penal:

a ) JOÃO PAULO CUNHA, em concurso m a t e r i a l ,

e s t á i n c u r o s nas penas do:

a . a r t i g o 317 do Código Penal P á t r i o

( receb imento d e c inquen ta m i l rea is )"

[ . . . I b) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,

CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, em concurso

m a t e r i a l , e s t ã o i n c u r s o s nas penas do:

b . 1 ) a r t . 333 do Código Penal P á t i r o

(pagamento de c inquen ta m i l r e a i s ) " ( denúnc ia , f l s .

5667-5668 dos a u t o s ) .

Narra a denúncia que JOÃO PAULO CUNHA s e v a l e u do

poder de que dispunha como au to r idade máxima da Câmara dos

Deputados para b e n e f i c i a r a empresa S M P & B Propaganda Ltda,

a t r a v é s , e n t r e o u t r o s me ios , da nomeação da Comissão Espec ia l

que e laborou o e d i t a 1 e julgou as propostas apresen tadas .

Importante d e s t a c a r o s e g u i n t e t r e c h o d a i n i c i a l a c u s a t ó r i a ,

para d e i x a r bem c l a r a a obed iênc ia ao a r t . 4 1 do Código de

Processo Penal ( f l s . 5666, volume 2 7 ) :

A empresa SMP&B, com o a v a l de João Paulo

Cunha, subcon tra tou 99,9% do o b j e t o l i c i t a d o . D e uma

soma t o t a l de R$ 10.745.902,17, somente R$ 17.091,00

foram pagos por serv iços prestados diretamente pe la

SMP&B, represen tando 0,018.

Page 82: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+k?- &&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011802

A SMP&B, do núc leo Marcos V a l é r i o ,

par t i c ipou do contra t o apenas para intermediar

subcontratações, recebendo honorários de 5% por i s s o .

Referida s i tuação carac ter i za grave lesão ao erário,

além do crime de pecula to .

Com e f e i t o , João Paulo Cunha desvlou R$

536.440,5592 do contra to n . " 2003/204.0 em prove i to do

núc leo Marcos V a l é r i o da organização criminosa.

Expl ica-se .

O núcleo Marcos V a l é r i o , por meio da

empresa SMP&B, ass inou o con t ra to n . " 2003/204.0 para

não prestar qualquer serviço. Nessa 1 inha ,

subcontratou 99,98% do o b j e t o con t ra tua l .

Por conta d i s s o , recebeu gratuitamente R$

536.440,55, valor dos honorários fixados na avença.

Foi remunerado para nada f a z e r .

João Paulo Cunha viaòilizou o repasse

indevido desse montante em razão da subcontra tação

t o t a l do o b j e t o , pois autorizava expressamente todas

as subcontratações.

O desv io favoreceu o núcleo Marcos V a l é r i o ,

tendo . em v i s t a que o recurso ingressou em seu

patrimônio. A razão para essa l i b e r a l i d a d e com o

d inhe i ro públ ico é o seririço prestado para o núcleo

central da organização criminosa. A1 em d i s s o , r e p i t a -

s e , passou a e x i s t i r um in t imo v incu lo e n t r e Marcos

V a l é r i o e João Paulo Cunha, com inúmeras trocas de

favores . Importante des tacar que com a saida de João

Paulo Cunha da Presidência da Câmara dos Deputados a

p a r t i r de 15 de f e v e r e i r o de 2005, os va lores da

Page 83: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&$ha?.w &&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011803

execução contra tua1 com a empresa SMP&B despencaram

vertiginosamente ( . . . ) .

Ou seja, está bem claro o ato de ofício em tese

praticado pelo acusado. A circunstância de JOÃO PAULO CUNHA

ocupar a Presidência da Câmara dos Deputados, aliada aos

elementos constantes dos autos no sentido de que ele de fato

teria recebido quantia proveniente da SMP&B, constituem indícios

idôneos de materialidade e autoria do delito capitulado no art.

317 do Código Penal, aptos a ensejar o recebimento da inicial

para posterior apuração dos fatos em instrução criminal.

É digno de nota que a publicação do edita1 da

licitação ocorreu apenas nove dias após a realização do saque

suspeito em favor de JOÃO PAULO CUNHA. Ademais, há evidências de

que o então presidente da Câmara dos Deputados manteve intenso

contato telefônico e pessoal com o co-denunciado MARCOS VALÉRIO,

sócio da SMP&B, empresa vencedora da licitação (cf. anotações da

agenda ex-secretária do Sr. MARCOS VALÉRIO, FERNANDA KARINA

SOMAGGIO, às fls. 1076-1077 e 1071-1082).

Passo a análise das objeçôes ao recebimento da inicial

levantadas nas respostas dos denunciados

Em sua resposta, JOÃO PAULO CUNHA alega desconhecer a

origem do dinheiro:

"... não há qualquer elemento que indique que este valor tivesse sido oferecido ou recebido pelo

Page 84: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- Q2zxAd&u Inq 2 .245 / MG

01180.1

denunciado de MARCOS VALERIO [ s i c ] . Muito menos que

t a l d inhe i ro t i v e s s e qualquer relaçâo com a l i c i t a ç ã o

real izada pela Câmara dos Deputados na Presidência do

denunciado." [ F l s . 10 do apenso 961

Ora, os i n d i c i o s cons tantes dos autos , e já

ass inalados , tornam implaus ive l essa a s s e r t i v a . Por outro lado,

a própria esposa do denunciado admite t e r assinado, por ocasião

do saque, documento em que constava expressamente que a origem

do cheque emi t ido era a empresa S M P L B .

Nesse sen t ido , t ranscrevo t recho per t inente do

depoimento prestado a Pol ic ia Federal pela esposa de JOÃO PAULO

CUNHA, Sra. Regina Milanésio ( f l s . 978-979):

"QUE confirma t e r real i zado em 04 de

setembro de 2003 um saque no va lor de R$ 50 m i l junto

à Agência do Banco R u r a l em B r a s i l i a ; QüE confiímia s e r

sua a assinatura constando do documento às f l s . JFMG

726 no qual consta autorização para que a Sra. MARCIA

REGINA CUNHA receba a quantia de R$ 50 m i l r e feren te

ao cheque SMP&B PROPAGANDA LTDA; QUE real i zou o saque

junto à Agência do Banco Rural em Bras í l ia a pedido de

seu esposo, JOÃO PAULO CUNHA; QUE a DEPOENTE f o i

sozinha à Agência do Banco R u r a l e procedeu ao

r e f e r i d o saque; QUE após t e r rea l i zado o saque, o

numerário f o i entregue diretamente a seu esposo em sua

res idênc ia ; QUE após terem s i d o veiculadas na m i d i a

n o t i c i a s acerca de saques nas agências do Banco Rural,

a DEPOENTE perguntou a seu esposo qual o d e s t i n o que

havia s ido dado ao d inheiro sacado, tendo o mesmo l h e

Page 85: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

informado que o dinheiro tinha sido utilizado para o

pagamento de pesquisas de campanhas pré-eleitorais".

(Grifei)

Outras evidências indicam que as relações entre JOÃO

PAULO CUNHA E MARCOS VALÉRIO não se restringiram a contatos

profissionais esporádicos. Nesse ponto, tomo a liberdade de

transcrever trecho do depoimento prestado a Policia Federal por

Silvana Paz Japiassú, secretária de JOÃO PAULO CUNHA desde 1999,

em que esta admitiu ter sido presenteada com uma viagem (fls.

6520) :

"QUE recebeu de MARCOS -10, como

presente de seu aniversário e de sua f i l h a , duas

passagens aéreas no trecho Brasílla/Rlo de Janeiro/

Brasilla e hospedagem em hotel que não se recorda; QUE

apesar de não manter qualquer relacionamento de

amizade com MARCOS WUÉRIO, foi surpreendida com este

presente após ter comentado com o publlcltárlo, em uma

vlslta deste ao Congresso, que estava procurando uma

opção de passeio para comemorar seu anrversárlo e de

sua fllha."

Pois bem, JOÃO PAULO CUNHA era o presidente da Câmara

dos Deputados. A época dos fatos a SMP&B, empresa que, segundo

os elementos constantes dos autos, pagou os 50.000 reais a sua

esposa, figurava entre as onze concorrentes habilitadas na

licitação então em curso. Isto me basta para reconhecer a

Page 86: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

e x i s t ê n c i a de i n d í c i o s idôneos , aptos a j u s t i f i c a r o recebimento

da denúncia quanto 2 s imputações cons tan tes das a l í n e a s a.1 e

b . 1 do seu i t e m 111.1, concernentes , respect ivamente , ao suposto

crime de corrupção a t i v a perpetrado por MARCOS V A L É R I O e ao de

corrupção passiva supostamente cometido por JOÃO PAULO CUNHA.

Para tornar mais c lara a subsunção dos f a t o s aos

r e s p e c t i v o s t i p o s penais, peço l i cença para t ranscrever os

d i s p o s i t i v o s em exame:

"Corrupção passiva

A r t . 317 - S o l i c i t a r ou receber , para s i ou

para outrem, d i r e t a ou ind ire tamente , ainda que fora

da função ou a n t e s de assumi-la, mas em razão d e l a ,

vantagem indev ida , ou a c e i t a r promessa de t a l

vantagem:

Pena - rec lusão , de 2 ( d o i s ) a 12 (doze)

anos, e mul ta .

[ . . . I Corrupção ativa

A r t . 333 - Oferecer ou prometer vantagem

indevida a funcionário púb l i co , para determiná-lo a

p r a t i c a r , o m i t i r ou re tardar a t o de o f i c i o :

Pena - rec lusão , de 2 ( d o i s ) a 12 (doze)

anos, e mul ta . "

Em sua d e f e s a MARCOS V A L É R I O alega que o t i p o penal d a

corrupção passiva ex ige que a acusação aponte um a t o de o f í c i o ,

cuja prá t i ca , omissão ou retardamento é buscado em t roca d a

Page 87: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&g&mo &a&& Inq 2 .245 / MG 011807

vantagem indevida oferecida ou prometida ao funcionário público.

Da denúncia não constaria o ato de oficio determinado, razão

pela qual, segundo se alega, esta seria inepta.

Esse mesmo argumento é trazido pelos demais co-

denunciados (JOÃO PAULO CUNHA - apenso 96; RAMON HOLLERBACH -

apenso 111; ROGÉRIO TOLENTINO - apenso 107; e CRISTIANO PAZ -

apenso 112), que alegam em suas respectivas respostas a ausência

de justa causa para propositura da ação penal, seja pela falta

de indicação do ato de ofício em que se consubstanciou o suposto

favorecimento a empresa SMPLB, seja por inexistência de

substrato fático mínimo capaz de justificar a instauração de

ação penal.

Entendo, ao contrário, que o procurador-geral da

República logrou trazer aos autos indícios da realização de

diversos atos suspeitos em benefício da SMPLB, tanto no

procedimento licitatório quanto no decorrer da execução do

contrato subsequente.

O procurador-geral da República faz remissão expressa

às conclusões constantes de relatório preliminar realizado por

equipe de auditoria do Tribunal de Contas da União, em que se

apontam indícios de irregularidade, tais como problemas com a

definição do objeto do contrato e a excessiva subjetividade nos

critérios de avaliação utilizados pela comissão especial de

licitação.

Page 88: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

Com efeito, no que concerne a ausência de projeto

básico na licitação e aos problemas com a definição do objeto,

consigna o relatório do Tribunal de Contas da União (fls. 759-

760 do apenso 84):

"19.3 Achado: Ausência de projeto básico

I...]

19.3.1.8A caracterização imprecisa do

objeto levou a realização de um contrato do tipo

"guarda-chuvas", pelo qual a Câmara dos Deputados

estaria habilitada a contratar sem licitação quaisquer

serviços enquadráveis no objeto genérico então criadõ,

contrariando o disposto no art. 55, inciso I, da Lei

no 8.666/93.

19.3.1.9Ainda, a ausência de um estudo

técnico preliminar, também elemento de um projeto

básico, levou à celebração dos Contratos 2001/082.4 e

2003/204.0 com objetos múltiplos tais como:

assessoria, divulgação, clipping e pesquisa de

opinião, prática considerada irregular pelo TCU,

conforme se constata da Decisão no 650/97 - Plenário e

no Acórdão no 1805/03 - l a Câmara.

19.3.1.10 Tais serviços deveriam ser

licitados separadamente, em consonância com o disposto

no art. 23, 5 l0 da Lei no 8.666/93. Quando da

licitação, o julgamento seria com base no menor preço,

resultando numa economia de no mínimo 5%, haja vista

os honorários da contratada incidirem sobre os valores

faturados pelas subcontratadas."

Page 89: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

Quanto a s u b j e t i v i d a d e n o s c r i t é r i o s d e a v a l i a ç ã o ,

t r a n s c r e v o d o r e f e r i d o r e l a t ó r i o :

li 9 A Câmara dos Deputados p r e f e r i u

s e g u i r o modelo a d o t a d o n o P o d e r E x e c u t i v o , q u e

c o n s i s t i a na a v a l i a ç ã o da m e l h o r t é c n i c a . O s c r i t é r i o s

de j u l g a m e n t o a d o t a d o s foram o s d e t e r m i n a d o s p e l a

IN/SECOM/PR no 07/95 p a r a os órgãos d o Poder

E x e c u t i v o , q u a i s se jam: c a p a c i d a d e de a t e n d i m e n t o ,

r e p e r t ó r i o , r e l a t o s de s o l u ç õ e s de p r o b l e m a s de

comunicação e p l a n o d e comunicação, o q u a l se

s u b d i v i d i a e m r a c i o c í n i o b á s i c o , e s t r a t é g i a de

comunicação p u b l i c i t á r i a , i d é i a c r i a t i v a e e s t r a t é g i a

d e m í d i a . Sua avaliação é subjetiva, abrindo

possibilidades de direcionamento.

L.. . ]

12 Quando da f a s e de h a b i l i t a ç ã o ,

v a l e r e g i s t r a r q u e a empresa SMP&B a p r e s e n t o u a t e s t a d o

d e c a p a c i d a d e t é c n i c a com texto idêntico ao objeto do

edital, fornecido pelo Sistema Financeiro Rural, do

Grupo Rural (fl . 32 - Volume 1) . "

Além d i s s o , apontam-se i n d í c i o s d e i r r e g u l a r i d a d e s

também na execução d o c o n t r a t o 2003/210.0 , c e l e b r a d o com a SMPLB

Comunicação L t d a . a p ó s o r e s u l t a d o f a v o r á v e l na c o n c o r r ê n c i a

11 /03 .

Conforme r e l a t ó r i o d e a u d i t o r i a a c o s t a d o a d e n ú n c i a ,

JOÃO PAULO CUNHA a u t o r i z o u a s u b c o n t r a t a ç ã o d e nada menos que

99,98% do o b j e t o do c o n t r a t o 2003/210.0, a p e s a r d e e x i s t i r e m

Page 90: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&* &&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

vedações expressas a essa prática na Lei 8.666/1993, no

Regulamento dos Procedimentos Licitatórios da Câmara dos

Deputados e no edita1 da concorrência 11/2003.

Do mesmo modo, entendo que o precedente firmado por

esta Corte quando do julgamento da ação penal no 307, em nada

invalida o que é apresentado na denúncia ora em análise.

Transcrevo a seguir importante trecho do voto

condutor do Ministro Ilmar Galvão, relator da Ação Penal no

307, quando do julgamento final da ação penal:

"Assim, para configuração do crime do

art. 31 7, do Código Penal, a atividade visada pelo

suborno há de encontrar-se abrangida nas atribuições

ou na competência do funcionário que a realizou ou se

comprometeu a realizá-la, ou que, ao menos, se

encontre numa relação funcional imediata com o

desempenho do respectivo cargo, assim acontecendo

sempre que a realização do ato subornado caiba no

âmbito dos poderes de fato inerentes ao exercício do

cargo do agente. (fls.2203)"

Do trecho acima transcrito é possivel verificar que,

no caso da Ação Penal no 307, esta Corte concluiu que o ato de

oficio a ser praticado, ou omitido, ato este que deveria estar

dentro das atribuições do então Presidente da República, não

havia sido demonstrado.

É o que consta do seguinte trecho do voto do eminente

Ministro Celso de Mello, na referida ação penal:

Page 91: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

"Por t a i s razões , o eminente Minis t ro Revisor

conc lu iu , com a c e r t o , o seu v o t o , absolvendo, com

fundamento no a r t . 386, 111, do Código de Processo

Penal, Fernando A f fonso Co l lor de Mello e Paulo César

Cavalcante Farias da imputação de corrupção passiva

p e r t i n e n t e ao ep i sód io VASP/PETROBRÁS, Por

simplesmente não c o n s t i t u i r e s s e f a t o i n f r a ç ã o penal

t i p i f i c a d a em l e i , consideradas a s razões

anteriormente mencionadas p e r t i n e n t e s a ausência, no

caso, de r e q u i s i t o t í p i c o e s s e n c i a l : a r e f e r ê n c i a

obje iva e concre ta , na denúncia, a um e s p e c i f i c o a t o

funcional per tencente a e s f e r a de competência do

Presidente da República.

Quanto ao ep i sód io MERCEDES-BENZ/CURIÓ,

constatou-se que o M i n i s t é r i o Público em sua denúncia,

ao deduz ir a imputação penal pe lo crime de corrupção

pass i va , nenhuma r e f e r ê n c i a f e z a qualquer a t o de

o f í c i o imputável à e s f e r a de a t r i b u i ç õ e s func ionais do

Presidente da República."(fls.2676-2677)

Ocorre que, no caso ora em a n á l i s e , a denúncia é

s u f i c i e n t e m e n t e c lara ao demonstrar os a tos de o f i c i o ,

po tenc ia i s ou e f e t i v o s i n s e r i d o s na competência do denunciado

João Paulo Cunha, na condição de Presidente da Câmara dos

Deputados.

Tanto a autorização para a subcontratação do o b j e t o

dos contra tos firmados com a SMP&B quanto a designação d a

comissão e spec ia l de l i c i t a ç ã o para acompanhar o mencionado

processo l i c i t a t ó r i o são exemplos de a t o s de o f í c i o e f e t i vamen te

Page 92: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@g?k?m G5z&@& Inq 2.245 / MG * C ' : * o 1 .;. 2 L :-

praticados pelo denunciado João Paulo Cunha na qualidade de

Presidente da Câmara dos Deputados (v. documentos cons tantes do

Apenso n o 8 4 ) . C i t o , por exemplo, dentre inúmeras outras, as

seguin tes au tor i zações assinadas pelo denunciado JOÃO PAULO

CUNHA, cons tantes do Apenso n o 8 4 :

"Por e s s e s mot ivos , AUTORIZO a contratação dos s e r v i ç o s de consu l tor ia da "Ucho Carvalho Comunicações e Propaganda", com a f i na l idade de desenvolver a adequação da ident idade v i s u a l d a TV Câmara, ao c u s t o de R$ 58.800,OO (cinquenta e o i t o m i l e o i t o c e n t o s r e a i s ) , já i n c l u í d o s os honorários da agência SMP&B Comunicação L tda . , conforme contra to n o 2003.204.0, nos termos da ins t rução do processo." (ass inado pelo acusado em 0 6 . 0 4 . 2 0 0 4 )

"Por e s s e s mo t i vos , e tendo em v i s t a o re su l tado da consul ta ao mercado real izada pela Agência SMP&B, AUTORIZO a contratação da empresa Ucho Carvalho Comunicações e Propaganda para a rea l i zação do p r o j e t o , no va lor t o t a l de R$ 110.250,OO (cen to e dez m i l duzentos e cinquenta r e a i s ) , que j á i n c l u i a comissão de 5% da agência, conforme contra to n o 2003.204.0, firmado com a SMP&B." (ass inado pelo acusado em março de 2 0 0 4 )

"Por e s s e s mot ivos , AUTORIZO a contratação da empresa Vox Populi Pesquisa e Projetos para a r ea l i zação do p r o j e t o , no va lor t o t a l de R$ 409.500,OO (quatrocentos e nove m i l e quinhentos r e a i s ) , que j á i n c l u i a comissão de 5% da Agência SMP&B, conforme contra to n o 2003/204.0." (assinado pelo acusado em 2 9 de junho de 2 0 0 4 ) .

Dai a necessidade de se r acolhida, em mero ju i zo de

del ibação, a imputação f e i t a pelo P G R , pois há elementos nos

autos que apontam p a r a a p rá t i ca , potencial ou e f e t i v a , de a t o

de o f í c i o pelo denunciado João Paulo Cunha, atendendo,

aparentemente a ex igênc ia do t i p o penal do a r t i g o 3 3 3 .

Page 93: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

4.$ &&&& Inq 2 .245 / MG 011813

Ademais, tais indícios são suficientes para conduzir

ao desvendamento de outros prováveis atos de oficio que o

denunciado JOÃO PAULO CUNHA possa ter praticado ou deixado de

praticar, como contraprestação a suposta vantagem indevida

recebida.

Note-se que os tipos penais da corrupção ativa e

passiva não exigem para sua configuração a descrição

pormenorizada do momento exato em que ocorreu o recebimento da

suposta vantagem indevida, tampouco impõe a descrição minuciosa,

cabal e antecipada de cada um dos 'atos de ofício" praticados

pelo funcionário público corrompido.

Nesse sentido, cito voto que proferi no HC 84 .224

(rel. para o acórdão min. Joaquim Barbosa, j . 2 7 . 0 2 . 2 0 0 7 ) em que

a Segunda Turma negou habeas corpus que pedia o trancamento de

ação penal:

"Da leitura que fiz acima, entendo não

haver inépcia flagrante, que revele uma denúncia

teratológica, como pretende indicar o impetrante. É

certo que a peça acusatória não prima pela boa

técnica, já que promove a transcrição de longos e

enfadonhos trechos de diálogos cifrados, bem como faz

emergir noticias relativas a inúmeros fatos sem

pertinência com os que são imputados ao paciente - que

é a prática do delito de corrupção passiva.

Entretanto, os termos da acusação são plenamente

Page 94: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c5gkW.w flu&- Inq 2.245 / MG 011814

cognoscíveis, com aparente respaldo em documentos

legitimamente apreendidos e em gravações telefônicas

legalmente autorizadas, apontando o possível

recebimento de vantagens indevidas (dinheiro, carro),

em razão do cargo ocupado pelo Paciente -

subprocurador-gera1 da república, atuante na área

criminal junto ao Superior Tribunal de Justiça."

Ora, como entendeu a egrégia Segunda Turma desta Corte

no precedente citado, é perfeitamente razoável entender-se que o

recebimento de uma quantia suspeita por parte de um funcionário

público, quantia esta proveniente de uma empresa concorrente em

licitação em curso perante o órgão público em que esse mesmo

agente público figura como autoridade máxima, tenha ocorrido em

razão do cargo que ele detém, com vistas a influenciar o

comportamento do funcionário em questão.

Outra objeção, arguida tanto por JOÃO PAULO quanto por

RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, é a de que

a denúncia não identificou quaisquer condutas particulares por

eles perpetradas, limitando-se a inclui-los de forma genérica e

impessoal no "grupo de Marcos Valério".

Quanto ao denunciados Ramon Hollerbach e Cristiano de

Me10 Paz, estes figuram na denúncia como as pessoas que,

juntamente com Marcos Valério, controlavam a SMP&B Comunicação

Ltda, dirigindo as ações da referida pessoa jurídica e,

Page 95: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- fl&&& Inq 2.245 / MG

supostamente, contribuindo para os crimes de autoria coletiva

constantes do subitem b.1 do item 111.1 da denúncia.

É certo que, nos crimes de autoria coletiva, nem

sempre é possível individualizar,, com detalhes, a contribuição

de cada co-autor para o crime, especialmente quando se trata de

delito praticado por intermédio de pessoa juridica, cujos atos

são dirigidos e controlados pelas pessoas fisicas responsáveis

pela sua administração.

A jurisprudência desta Corte, nos crimes de autoria

coletiva, tem admitido que seja recebida a denúncia, sem que a

narrativa constante da peça acusatória contenha a descrição

pormenorizada da conduta individual de cada partícipe, sob pena

de se inviabilizar a persecução penal e estimular a utilização

de pessoas jurídicas para a prática de atividades criminosas. É

nesse sentido a jurisprudência desta Corte (HC 86.294, rel. min.

Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJ 03.02.2006; HC 80.812, rel.

para o acórdão min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJ 05.03.2004,

HC 83.369, rel. min. Carlos Britto, Primeira Turma DJ

21.10.2003).

Assim, a prova minha da suposta autoria dos crimes do

artigo 333 do Código Penal imputada aos denunciados Ramon

Hollerbach e Cristiano de Me10 Paz no sub-item b.1 do item I11

da denúncia, deve ser aferida mediante a análise de dois

aspectos.

Page 96: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

Primeiro, deve ser analisado se os denunciados acima

mencionados possuiam poder de gestão junto à sociedade

empresária SMP&B Comunicação Ltda.

Numa segunda fase, deve ser perquirido se a sociedade

SMP&B atuou de forma a contribuir para a consumação dos crimes

de corrupção ativa narrados no capitulo da denúncia ora em

análise (item I11 e seus subitens).

A resposta aos dois questionamentos acima é positiva,

devendo ser rechaçada a alegação de que estaria sendo atribuída

responsabilidade objetiva aos denunciados Ramon Hollerbach e

Cristiano de Me10 Paz.

Com efeito, há, nos autos, elementos concretos no

sentido de que eles participavam efetivamente da gestão da SMP&B

Comunicação Ltda, empresa esta que, segundo consta de denúncia,

exercia grande parte das suas atividades utilizando-se de meios

ilegais para obter facilidades junto ao governo federal.

O seguinte trecho da denúncia descreve a atuação dos

referidos denunciados (fls. 5.643) :

"Inicialmente, destaque-se que Marcos

Valério montou uma intricada rede societária com o

objetivo de tornar viável suas praticas criminosas.

Nesse diapasão, Ramon H011 erba ch e

Cristiano Paz, como sócios de Marcos Valério nas

empresas SMP&B Comunicação Ltda, Graffiti Participaçáo

Page 97: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c&ghmW &&H& Inq 2 .245 / MG 011817

Ltda e DNA Propaganda, t iveram par t ic ipação a t i v a nos

crimes perpetrados. "

Sobre e s s e ponto, é importante t ranscrever o seguin te

t r e c h o do e l u c i d a t i v o depoimento prestado por Marco Auré l io

Prata, contador da empresa S M P & B Comunicação LTDA:

,, (. . . ) RESPONDEU: QUE é o responsável pela

contabi l idade das empresas DNA PROPAGANDA LTDA, SMP&B

~OMUNICAÇÃO LTDA, G R A F I T E P A R T I C I P A Ç Õ E S , MULTIACTION,

MG5 P A R T I C I P A Ç ~ E S , ESTRATÉGIA, 2s P A R T I C I P A Ç Õ E S ,

sOLIMÕES (an t iga SMP&B PUBLICIDADE) e ou t ras de cuja

denominação não se recorda; (. . . ) QUE conheceu MARCOS

VALÉRIO a t ravés dos demais sóc ios da SMP&B

PUBLICIDADE; (. . . ) QUE t a i s f i l i a i s foram aber tas por

questões de i n c e n t i v o s f i s c a i s , uma vez que a a l íquota

do I S S cobrada em t a l município p a r t i u dos d i r e t o r e s

das empresas; QUE todos os t r ê s s ó c l o s , a saber ,

CRISTIANO, RAMON e MARCOS VALERIO, participavam das

decisões administrativas da SMP&B COMUNICAÇÃO e DNA

PROPAGANDA; "

Em suas declarações, prestadas perante a Pol ic ia

Federal, o denunciado C r i s t i a n o de Me10 P a z f a z a seguinte

afirmação ( f l s . 2 2 5 3 - 2 2 5 6 ) :

" (. . .) QUE exerc ia função executiva apenas

na SMP&B, sendo o pres iden te da empresa, onde cuidava

das áreas de cr iação , planejamento e relacionamento

com os c l i e n t e s ; QUE i n q u i r i d o a r e s p e i t o dos

empréstimos bancários rea l i zados pe las empresas

Page 98: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+&%-H&&& Inq 2.245 / MG

vinculadas a MARCOS VALÉRIO, declara não ter

par t i c ipado diretamen t e das negociações; QUE MARCOS

VALERIO era o responsável pela negociação dos

empréstimos com os bancos, p o i s era quem gerenciava

toda par te f inance ira das empresas; (. . .) "

Por outro lado, há f o r t e s i n d í c i o s da atuação do

denunciado C r i s t i a n o de Me10 Paz na área das f inanças d a SMP&B

Comunicação LTDA, conforme o segu in te t r e c h o do depoimento do

denunciado Rorneu Queiroz ( f l s . 2 . 1 2 5 - 2 . 1 3 0 ) :

"QUE em agos to de 2004 recebeu um conta to

t e l e f ô n i c o do S r . CRISTIANO PAZ, sóc io de Marcos

V a l é r i o na SMP&B PUBLICIDADE; QUE CRISTIANO PAZ era o

pres iden te da empresa; QUE n e s t e conta to CRISTIANO PAZ

d i s s e ao dec larante que a empresa USIMINAS t inha

d i s p o n i b i l i z a d o R$ 150.000,OO (Cento e Cinquenta M i l

Reais) de doação para d i v e r s a s campanhas e1 e i t o r a i s

munic ipais , de i n t e r e s s e do PTB; QUE e s s e s recursos

foram des t inados para d iver sos coordenadores de

campanhas p o l í t i c a s em v i n t e municipios do Estado de

Minas Gerais; QUE e s s e s recursos não foram

con tab i l i zados pe lo PTB, j á que foram t r a n s f e r i d o s

diretamente da SMP&B para os candidatos dos d i v e r s o s

municípios de Minas Gerais; ( . . . ) QUE ind icou a pessoa

de PAUILO LEITE NUNES para receber os va lores

mencionados acima no Banco Rural ao S r . CRISTIANO P A Z ,

QUE não se lembra da data e x a t a , m a s pode a f i r m a r que

a indicação desse ind iv íduo ocorreu no mesmo dia que

recebeu a l igação do S r . CRISTIANO dizendo que o

d inhe i ro es tava d isponíve l no Banco Rural; ( . . . ) "

Page 99: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+ &&@& Inq 2.245 / MG

011869

Some-se a isso o fato de que, no item I1 da denúncia,

o procurador-geral da República argumentou de modo convincente e

plausível no sentido de que os denunciados MARCOS VALÉRIO, RAMON

HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO - bem como SIMONE

VASCONCELOS e GEIZA DIAS - faziam parte do núcleo financeiro-

publicitário da quadrilha, responsável, entre outras coisas,

pela transferência periódica de vultosas quantias para as

pessoas indicadas pelo núcleo central da mesma.

Assim, para evitar repetições desnecessárias, trago,

como reforço de argumento, as considerações que serão feitas

quando da análise dos itens IV, VI, VI1 e I1 da denúncia,

ocasião em que examinarei mais detidamente os argumentos do

procurador-geral da República de que os co-denunciados MARCOS

VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA, RAMON HOLLERBACH e CRISTIANO PAZ

operavam com unidade de desígnios e mediante divisão de tarefas,

com vistas ao cometimento de crimes contra o sistema financeiro

nacional e a Administração Pública.

JOAO PAULO CUNHA afirma em sua resposta que a suposta

vantagem indevida por ele recebida destinava-se, na verdade, ao

pagamento de dividas de campanha eleitoral, tendo sido

disponibilizada pelo tesoureiro nacional do Partido dos

Trabalhadores, DELÚBIO SOARES.

Page 100: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

RgtkZw flu&u Inq 2.245 / MG

011820

Quanto a esta objeção, observo que existem evidências

robustas nos autos a indicar que o saque de altas quantias em

dinheiro, naquela agência especifica do Banco Rural, constituía

o passo f inal de um suposto esquema de lavagem de dinheiro

montado por MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA, RAMON HOLLERBACH,

CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO em conluio com a cúpula do

Banco Rural S/A (Ver análise do item I1 da denúncia, supra. Ver

também o Relatório de Análise no 191/2006, p. 388-397 do apenso

81)

Além disso, sendo a corrupção passiva um crime formal,

ou de consumação antecipada, é indiferente para a tipificação da

conduta a destinação que o agente confira ou pretenda conferir

ao valor ilícito auferido, que constitui, assim, mera fase de

exaurimento do delito.

Ressalto também que, embora as irregularidades

verificadas tanto no procedimento licitatório quanto no contrato

deste decorrente estejam ainda em processo de investigação,

basta, nesta fase preliminar, que a acusação contenha narrativa

clara e que os elementos probatórios trazidos aos autos confiram

respaldo minimo as imputações constantes da mesma.

Pois bem. Sobre esse tópico da denúncia, extrai-se dos

autos o seguinte: JOÃO PAULO CUNHA teria recebido, em razão da

condição de presidente da Câmara dos Deputados, vantagem

indevida oferecida por MARCOS VALÉRIO em nome dos também

Page 101: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+ Inq 2 . 2 4 5 / MG

0 1 1 8 2 1

denunciados RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ E ROGÉRIO TOLENTINO.

A vantagem ilícita cifrou-se em cinquenta mil reais sacados pela

sua esposa em agência do Banco Rural utilizada inúmeras vezes

como palco para semelhantes operações suspeitas, e teria como

contrapartida o favorecimento da então licitante SMPLB

Comunicação Ltda., no certame realizado na Câmara dos Deputados

com vistas a contratação de agência de publicidade.

Assim, presentes os requisitos do art. 41 do Código de

Processo Penal, e ausentes pressupostos negativos do art. 43 do

mesmo diploma, recebo a denúncia quanto ao crime de corrupção

passiva (art . 317 do Código Penal) imputado ao denunciado JOÃO

PAULO CUNHA, e quanto ao crime de corrupção ativa correspondente

imputado aos denunciados MARCOS VALÉRIO E'ERNANDES DE SOUZA,

RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ.

Contudo, em relação ao denunciado Rogério Tolentino,

no que tange a imputação de corrupção ativa constante do Item

111.1, sub-item b. 1, entendo que a denúncia não preenche os

requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal.

De fato, em relação a esse acusado, a denúncia limita-

se a dizer o seguinte:

"Em uma dessas reuniões, Marcos Valério, em

nome de Ramon Hollerbach, Cristiano Paz e Rogério

Tolentino, ofereceu vantagem indevida (50 mil reais) a

João Paulo Cunha, tendo em vista sua condição de

Presidente da Câmara dos Deputados, com a finalidade

Page 102: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&$2m.?w fla&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011822

de receber tratamento privilegiado no procedimento

licita tório em curso naquela Casa Legisla tiva para

contratação de agência de publicidade." (fls. 5660-

5661)

É certo que, como já afirmei acima, nos crimes de

autoria coletiva o atendimento aos requisitos do artigo 41 do

Código Penal deve ser observado de modo a evitar que seja

inviabilizada a persecução penal.

Por outro lado, é imprescindível que a denúncia

informe como o denunciado teria supostamente contribuído para a

consecução do delito que lhe é imputado, o que não foi

obedecido, com relação ao denunciado Rogério Lanza Tolentino, no

item 111.1, sub-item b.1 da denúncia.

Fica claro, pelo teor da denúncia, que os denunciados

Ramon Hollerbach e Cristiano Paz teriam contribuído, na

qualidade de gestores da SMP&B, com a suposta consumação do

delito de corrupção ativa a eles imputados no item 111.1, sub-

item b.1 da denúncia.

O mesmo não se dá, porém, no que toca ao denunciado

Rogério Lanza Tolentino. Apesar de Rogério Tolentino ser citado

pelo denunciado Marcos Valério como seu "sócio", a denúncia não

apresenta a descrição fática mínima para que se possa distinguir

como ele teria contribuído para a suposta consumação do delito

Page 103: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

de corrupção ativa constante do sub-item b.1 do item I11 da

denúncia.

Não se viabiliza, pois, ao denunciado, o pleno

exercício do direito de defesa.

Pelas razões acima expostas, não recebo a denúncia,

com relação ao denunciado Rogério Lanza Tolentino,

especificamente no que concerne a imputação constante do subitem

b.1, do i t e m 111.1 da denúncia (pagamento de cinqiienta m i l

r ea i s ) .

Page 104: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&*diz&&& Inq 2.245 / MG

Passo a examinar o segu in te t ó p i c o d a denúncia:

SUBITEM 111.1 da denúncia (fls. 5.667) - Imputação:

crime de Lavagem de Dinheiro.

Denuncia:

"a) JOÃO PAULO CUNHA, em concurso m a t e r i a l , e s t á incursos nas penas do:

I - . . ] a . 2 ) a r t i g o I", i n c i s o s V, VI e VII , da Lei

no 9.613/1998 ( u t i l i z a ç ã o da S r a . M á r c i a Regina para receber cinquenta m i l r e a i s ) " - F l s . 5667

A segunda s i tuação d e s c r i t a no subitem 111.1 d a

denúncia d i z r e s p e i t o a suposta part ic ipação de JOÃO PAULO C U N H A

em crime de lavagem de d inhe i ro para ocu l tar o recebimento d a

vantagem indevida r e f e r e n t e ao h i p o t é t i c o crime de corrupção

passiva anal isado na s i tuação a n t e r i o r .

Transcrevo o t r echo da denúncia per t inen te a e s t a

imputação:

"[ . . . I consc ien te de que o d inhe iro t inha como origem organização criminosa voltada para a p rá t i ca de crimes contra o sistema f inance i ro nacional e contra a administração púb l i ca , o J O Ã O PAULO CUNHA [ s i c ] , almejando o c u l t a r a origem, natureza e rea l d e s t i n a t á r i o do v a l o r pago como propina, enviou sua esposa Márcia Regina para sacar no caixa o v a l o r de cinquenta mil r e a i s em e s p e c i e .

A r e t i rada do montante de cinquenta m i l r e a i s em espéc ie f o i rea l i zada no dia 4 de setembro de 2003 no Banco Rural em B r a s i l i a , com o emprego de estratagema fraudulento montado pe los denunciados dos núcleos p u b l i c i t á r i o e f inanceiro . " ( F l s . 5661-5662 - g r i f e i )

Page 105: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R+ &&H& Inq 2 . 2 4 5 / MG 0 1 1 8 2 5

Assim agindo, JOÃO PAULO CUNHA teria cometido o delito

de lavagem de dinheiro previsto no art. 1°, incisos V, VI e VII,

da Lei 9.613/1998, cujo teor é o seguinte:

"Art. l 0 Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direi tos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime:

[. . . I V - contra a Administração Pública,

inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou preço para a prática ou omissão de atos administra tivos;

VI - contra o sistema financeiro nacional; VII - praticado por organização criminosa. I . . .I Pena: reclusão de três a dez anos e multa. "

O suposto esquema de lavagem de dinheiro encontra-se

pormenorizadamente descrito no item IV da denúncia. Conforme a

descrição do procurador-geral da República, o mesmo teria sido

montado pela cúpula do Banco Rural em conluio com a diretoria da

SMPLB Propaganda Ltda., com o intuito de ocultar a verdadeira

identidade dos beneficiários de valores suspeitos provenientes

de contas bancárias desta agência de publicidade.

Constam dos autos indícios de que o Banco Rural

informou ao Banco Central que os valores dos saques suspeitos

destinavam-se ao pagamento de fornecedores da SMP&B Comunicação

Ltda (cf. Relatório de Análise 191/2006, p. 388-397 do Apenso

Page 106: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&* Inq 2 .245 / MG

011026

Transcrevo t recho do RA 191/2006 em que são d e s c r i t o s

os passos f i n a i s do modus operandi supostamente seguido nas

r e f e r i d a s operações de lavagem de d inhe i ro :

"Analisando a documentação f í s i c a encaminhada pe lo Banco R u r a l , anexa a e s t e Re la tór io , constatamos que o modus operandi f o i o segu in te :

[ . . . I 4 " ) Fac-s ímile , enviado pela agência do

Banco Rural de Belo Horizonte à agência do Banco Rural de B r a s í l i a , autorizando o pagamento àquelas pessoas indicadas pela funcionária da SMPB no e-mail ;

5" Saque na "boca do caixa" e f e tuado pela pessoa autor izada , contra rec ibo , mui tas vezes mediante uma rubrica em papel improvisado, e em outras s i tuações , mediante o r e g i s t r o da pessoa que e f e t u o u o saque no documento emi t ido pe lo Banco Rural, denominado "Automação de Retaguarda - Contabil idade".

6" O Banco Rural, embora t i v e s s e conhecimento dos verdadeiros sacadores /bene f ic iár ios dos recursos sacados na "boca do caixa", r eg i s t rou no Sistema do Banco Central (Sisbacen = opção PCAF 5 0 0 , que r e g i s t r a operações e s i tuações com i n d í c i o s de crime de lavagem de d inhe i ro ) que os saques foram e fe tuados pela SMP&B Comunicação Ltda e que s e destinavam a pagamento de fornecedores." ( p . 3 8 9 do apenso 81)

Examinando os au tos , v e r i f i c o que de le s constam

documentos que demonstram que o saque e f e t u a d o pela esposa do

S r . JOÃO PAULO C U N H A seguiu as etapas f i n a i s do modus operandi

do suposto esquema de lavagem de d inhe i ro , exatamente como

d e s c r i t o pelo procurador-geral da República.

Neles pode-se l o c a l i z a r a cópia do fac - s ími l e remetido

d a agência "Assembléia" do Banco Rural (Be lo Horizonte) para sua

sucursal " B r a s í l i a " , autorizando à Sra. Márcia Regina Milanésio

Cunha receber quantia no va lor de cinquenta m i l r e a i s ,

Page 107: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

referentes ao "cheque SMP B Propaganda Ltda. que se encontra em

nosso poder.". (Fls. 726 do apenso no7)

Menciono, também, cópia do documento de "automação de

retaguarda - contabilidade" com a identificação da sacadora

Márcia Regina, acompanhada de cópia de sua carteira de

identidade (p. 243/246 do apenso 84).

Por outro lado, existem evidências de que, em casos

semelhantes (ver item IV da denúncia), o Banco Rural escondeu a

identidade dos verdadeiros beneficiários, informando falsamente

ao Banco Central que os valores movimentados destinavam-se ao

pagamento de fornecedores da SMP&B.

Nessas condições, considero presente o conjunto

probatório mínimo necessário a instauração de ação penal contra

JOÃO PAULO CUNHA quanto à imputação da conduta tipificada no

art. 1°, incisos V, VI e VII, da Lei 9.613/1998.

Do exposto, recebo a denúncia quanto ao crime de

lavagem de dinheiro (art. 1°, incisos V, VI e VI1 da Lei

n09.613/1998 (utilização da Sra. Márcia Regina para receber

cinquenta mil reais)) imputado ao denunciado JOÃO PAULO CUNHA,

no subitem a.2 do item 111.1 da denúncia.

Page 108: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e &-&a Inq 2 . 2 4 5 / MG

011828

SUBITEM 111.1 DA DENÚNCIA - 3a Imputação: PECULATO.

Denúncia :

"a) JOÃO PAULO CUNHA, em concurso material, está incurso nas penas do: [. . . I

a .3 ) 02 (duas) vezes no art igo 312 do Código Penal (desvio de R$ 252.000,OO em proveito próprio e R$ 5 3 6 . 4 4 0 , 5 5 em proveito alheio);" - Fls. 5 6 6 7

I . . . I b) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,

C R I S T I A N O PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, em concurso material, estão lncursos nas penas do: [ . . . I

b . 2 ) a r t . 312 do %Código Penal Pátrio (desvio de R$ 5 3 6 . 4 4 0 , 5 5 ) . " - Fls. 5 6 6 8

Finalmente, na terceira situação descrita, o

procurador-geral da República narra condutas que supostamente

configurariam crimes de peculato, consistentes em desvios de

verbas públicas originalmente destinadas a execução do contrato

A primeira imputação é dirigida somente a JOÃO PAULO

CUNHA, e se refere ao suposto desvio de verbas públicas ocorrido

por meio da contratação da empresa denominada Idéias, Fatos e

Textos Ltda. - pertencente ao Sr. Luis Costa Pinto e sua esposa

-, sob o falso pretexto de prestação de serviços de consultoria

em comunicação, serviços esses que, segundo se alega, nunca

teriam sido prestados.

Segundo a denúncia, JOÃO PAULO CUNHA teria se valido

do poder de autorizar subcontratações no âmbito do contrato

2003/204.0 para desviar verbas públicas em proveito próprio, de

Page 109: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

forma a remunerar a assessor ia pessoal prestada por Luis Costa

Pinto ( p . 856 do apenso 8 4 ) .

Através d a subcontratação em exame, a . I F T se

comprometeu a produzir, e n t r e outras co i sas ( f l s . 5 6 6 3 ) :

" b o l e t i n s mensais com o resumo das ações propostas , a expl icação dos trabalhos desenvolvidos por e la e a aval iação da opinião da midia em relação à Câmara dos Deputados a s e r produzida a p a r t i r de conversas reservadas em i n s i g h t s junto aos formadores de opinião dos maiores meios de Comunicação credenciados junto a Câmara. "

Segundo a denúncia, os serv iços mencionados jamais

foram prestados, nem foram apresentados os b o l e t i n s mensais

prometidos, configurando es se f a t o o crime de peculato prev i s to

no a r t . 3 1 2 , caput, do Código Penal.

Transcrevo t recho per t inente d a i n i c i a l ( f l s . 5664-

" N a verdade, a subcontratação f o i uma armação para que o Luis Costa Pinto fos se bem remunerado ( v i n t e m i l r e a i s por mês) para pres tar assessoria d i r e t a a João Paulo Cunha.

Contratado pela empresa SMP&B sob o manto formal do s e r v i ç o apresentado em sua proposta, Luis Costa Pinto prestava assessor ia d i r e t a a JOÃO PAULO CUNHA. A empresa I F T , cu jos sóc ios são Luis Costa Pinto e sua esposa tem como endereço regis t rado na Receita Federal exatamente a residência dos propr ie tár ios , indicando que s e t r a t a de uma empresa de fachada.

O desv io perpetrado por JOÃO PAULO CUNHA, no período compreendido e n t r e f e v e r e i r o de 2.004 a t é dezembro de 2.004, alcançou o montante de R$ 252.000,OO (duzentos e cinquenta e do i s m i l r e a i s ) , va lor pago ao S r . Luis Costa Pinto."

Page 110: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

fZ5g- &&H& Inq 2 .245 / MG 0 1 1 8 3 0

Compulsando os autos, verifico que há indícios

convincentes de que pelo menos parte do objeto da subcontratação

foi indevidamente cumprido. Nesse sentido, consta dos autos

ofício da Câmara dos Deputados (Ofício/Gab/SECOM/CD No 182, de

04.08.05), assinado pela diretoria da SECOM/CD, no qual se

afirma que nenhum dos servidores do órgão se lembra da

existência dos boletins prometidos. Tampouco os arquivos do

órgão registram a presença de tais boletins. (Fls. 710 do Apenso

84)

Essa circunstância é suficiente para gerar, pelo menos

em tese, a responsabilidade do ex-presidente da Câmara dos

Deputados pelos possíveis prejuízos causados ao Erário.

Ressalto ademais, que os indícios constantes dos autos

sinalizam que, na prática, a atuação da empresa subcontratada

IFT - vale dizer, a atuação do Sr. Luiz Costa Pinto -, resumiu-

se ao assessoramento pessoal de JOÃO PAULO CUNHA.

Entre as evidências que corroboram essa assertiva

encontram-se aquelas que indicam ter Luiz Costa Pinto atendido a

diversas reuniões com membros das empresas DNA e SMP&B, algumas

vezes acompanhando o Sr. JOÃO PAULO CUNHA, outras vezes

representando-o junto aos co-denunciados MARCOS VALÉRIO, ROGÉRIO

TOLENTINO e SÍLVIO PEREIRA.

Assim, a anotação contida na agenda pessoal da ex-

secretária de MARCOS VALÉRIO (fls. 1071-1082) referente ao dia

Page 111: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

czhg&ww &-&a Inq 2.245 / MG

011831

17.09.2003 (fls. 1077) indica que Luis Costa Pinto (codinome

Lula) reuniu-se com MARCOS VALÉRIO e ROGÉRIO TOLENTINO na

empresa DNA. No mesmo sentido, a anotação do dia 20.10.2003

(fls. 1078-1079) menciona reunião com MARCOS VALÉRIO, ROGÉRIO

TOLENTINO, JOÃO PAULO CUNHA e SÍLVIO PEREIRA (ex-secretário

geral do Partido dos Trabalhadores e co-denunciado neste

inquérito).

O Sr. JOÃO PAULO CUNHA argúi em sua resposta (apenso

96) três pontos principais: (i) a acusação não encontra respaldo

no material probatório constante dos autos; (ii) o denunciado

não poderia interceder em favor da IFT, pois não detinha a posse

dos recursos supostamente desviados, tendo sido o contrato

celebrado exclusivamente com a agência de publicidade SMP&B;

(iii) a empresa subcontratada efetivamente prestou os serviços

acordados, conforme atestam notas fiscais referentes aos mesmos.

Em primeiro lugar, verifico que não conduz a rejeição

da denúncia o argumento de que o denunciado não poderia

influenciar na subcontratação da IFT. Com efeito, o denunciado

tinha poder para autorizar ou não a subcontratação, tendo a

proposta da subcontrataçâo em exame - assim como todas as demais

sobre as quais pesam suspeitas de irregularidade - sido

submetida diretamente ao Sr. JOÃO PAULO CUNHA, por meio de

oficio expedido por órgão da própria Câmara dos Deputados.

Transcrevo o ato de autorização assinado pelo denunciado em 30

Page 112: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

de janeiro de 2004, constante do anexo à denúncia (Apenso no 84,

documento 4 4 ) :

"Isto posto, e tendo em vista ter sido esta

a melhor das três propostas apresentadas, AUTORIZO a

contratação da empresa IFT Consultoria em Comunicação

6 Estratégia para a prestação de serv iço de

consultoria em comunicação, pelo período de 6 (seis)

meses, no valor total de R$ 126.000,OO (cento e vinte

e seis mil reais), devendo o pagamento ser feito pela

empresa SMP&B Comunicação Ltda., nos termos do

contrato n o 2003/204. O . "

Há, no mesmo volume dos autos, outra autorização

subscrita pelo acusado para a subcontratação da empresa IFT,

pertencente ao seu assessor, também pelo valor de R$ 126.000,00,

datada de 30 de junho de 2004, cinco meses depois da acima

transcrita.

Assim, não procede a alegação de que faltaria

tipicidade à conduta, por não dispor o denunciado da posse dos

recursos supostamente desviados. Na verdade, a "posse em razão

do cargo" a que faz referência o tipo penal do art. 312 do

Código Penal se satisfaz com o mero poder atribuído ao superior

hierárquico de dispor indiretamente dos bens, mediante ordens ou

requisições. Nesse sentido, colho a seguinte preleção

doutrinária:

"Quanto à conceituação de posse, precisa é a lição de Fragoso: 'A posse aqui deve ser entendida

Page 113: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&* H-&& 011853 Inq 2.245 / MG

em sentido amplo, compreendendo não só o poder material de disposição sobre a coisa, como também a chamada disponibilidade juridica, isto é, a possibilidade de livre disposição que ao agente faculta (legalmente) o cargo que desempenha. [. . . ] Tem, assim, a posse, o funcionário a quem incumbe receber, guardar ou conferir a coisa, como também seu chefe e superior hierárquico, que dela pode dispor mediante ordens ou requisições. "' (cf. MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 21a ed. São Paulo: Atlas, 2006. vol. 3, p. 283).

O denunciado, na condição de presidente da Câmara, era

o responsável pela autorização .de todas as subcontratações

referentes ao contrato 2003/204.0, e conseqüentemente detinha a

posse dos recursos repassados a IFT. Assim, não se sustenta a

afirmação de que o Sr. JOAO PAULO CUNHA não poderia ter tido

qualquer responsabilidade sobre o hipotético desvio de verba

pública.

Em segundo lugar, o acervo probatório existente nos

autos é mais do que suficiente ao recebimento da denúncia quanto

a esse tópico, tendo em vista especialmente a afirmação

categórica partida da diretoria de comunicação da Câmara dos

Deputados (SECOM/CD), no sentido de que os serviços contratados

não foram prestados.

Por todo o exposto, recebo a denúncia quanto aos

crimes de peculato imputados a JOAO PAULO CUNHA na primeira

parte do subitem a.3, do item 111.1 da denúncia (desvio de R$

252.000,OO em proveito próprio).

Page 114: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@*NU&& Inq 2.245 / MG

O segundo desv io envolve JOÃO PAULO CUNHA em concurso

com MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISITANO PAZ e ROGÉRIO

TOLENTINO, e t e r i a ocorrido por meio d a cobrança de honorários

para subcontratação de empresas no âmbito do contra to

Consta d a denúncia ( f l s . 5 6 6 6 - 5 6 6 7 ) :

" A empresa SMP&B, com o aval de João Paulo Cunha, subcontratou 99,9% do o b l e t o l i c i t a d o . De uma soma t o t a l de R$ 10.745.902,17 , somente R$ 17.091,00 foram pagos por s e r v i ç o s prestados diretamente pela SMP&B, representado 0,01%.

A SME@&B, do núcleo Marcos V a l é r i o , p a r t i c i p o u do c o n t r a t o apenas para in termediar subcontratações , recebendo honorários de 5% por i s s o . Re fe r ida s i tuação c a r a c t e r i z a grave l e s ã o ao e r á r i o , além do crime d e pecu la to .

Com e f e i t o , João Paulo Cunha desviou R$ 536.490.55 do contra to n o 2003 /204 .0 em prove i to do núcleo Marcos V a l é r i o da organização criminosa. Explica - se .

O núc leo Marcos V a l é r i o , por meio da empresa SMP&B, ass inou o c o n t r a t o n o 2003/204.0 para não p r e s t a r qualquer s e r v i ç o . Nessa l i n h a , subcontratou 99,9% do o b j e t o con t ra tua l .

Por conta d i s s o , recebeu gratuitamente R$ 536.440,55, v a l o r dos honorários f ixados na avença.

Foi remunerado para nada f a z e r . João Paulo Cunha v i a b i l i z o u o repasse

indev ido desse montante em razão da subcontratação t o t a l do o b j e t o , p o i s au tor i zava expressamente todas a s subcontratações .

O desv io favoreceu o núcleo Marcos Va lér io , tendo em v i s t a que o recurso ingressou em seu patrimônio. A razão para essa l ibera l idade com o d inhe i ro públ ico é o s e r v i ç o prestado para o núcleo cen t ra l da organização criminosa. Além d i s s o , r e p i t a - s e , passou a e x i s t i r um ín t imo v ínculo e n t r e Marcos Va lér io e João Paulo Cunha, com inúmeras t rocas de favores . " ( G r i f e i ) .

Page 115: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&* flu&u Inq 2 . 2 4 5 / MG 011835

A subcontratação total do o b j e t o do contra to era

expressamente proibida não apenas pelo e d i t a l de Concorrência

n011/2003, como também pelos a r t s . 723 e 7 8 , VI^, da Lei

Com e f e i t o , o i t e m 9.7 do e d i t a l c i tado prescrevia:

" 9 . 7 . A CONTRATADA poderá subcon t r a t a r ou tras empresas, para execução parcial do objeto desta Concorrência, desde que mantida a preponderância da atuação da contratada na execução do o b j e t o como um todo e haja anuência prév ia , por e s c r i t o , da CONTRATANTE, após avaliada a l ega l idade , adequação e conveniência de permi t i r -se a subcontratação. ressalvando-se que a subcon t r a tação não t r a n s f e r e responsabi l idades a t e r c e i r o s nem exonera a CONTRATADA das obrigações assumidas, nem implica qualquer acréscimo de cus tos para a con t ra tan te . " ( G r i f e i ) .

Ora, a equipe t écn ica do Tribunal de Contas d a União

que auditou o con t ra to em questão não apenas constatou a

subcontratação quase t o t a l do o b j e t o do con t ra to 2003/204.0 ( o

que era expressamente vedado) , como também a subcontratação de

empresas para realização d e serviços alheios ao o b j e t o

contratado:

%, . . . a subcontratação de empresas para real i zação de serv iços a lhe ios ao o b j e t o l i c i t a d o , ou além dos l i m i t e s permit idos no Edita1 de Lic i tação e /ou contra to configura contratação d i r e t a , sem que a h ipó tese e s t e j a contemplada dentre aquelas p r e v i s t a s para a e spéc ie nos d i s p o s i t i v o s do Es ta tu to de

Art. 72. O contratado. na execução do contrato. sem prejuizo das responsabilidades contratuais e legais. poderá subcontratar partes da obra, seiviço ou fornecimento, até o limite admitido. em cada caso, pela Administração.

Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato: (...)VI - a subcontratação total ou parcial do seu objeto, a associação do contratado com outrem, a cessão ou transferência, total ou parcial. bem como a fusão, cisão ou incorporação, não admitidas no edital e no contrato;

Page 116: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&* fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

Licitações e Contratos Administrativos [. . . ] . " (Fls. 144 do apenso 84)

Conforme o mencionado relatório de auditoria, os

serviços prestados diretamente pela SMP&B somaram o valor

irrisório de R$ 17.091,00, de um total de R$ 10.745.902,17

recebidos da Câmara dos Deputados para a execução do contrato.

Tal circunstância constitui indício robusto de que o papel da

SMP&B pode de fato ter se resumido a mera intermediação de

serviços em troca de percentagem cobrada das empresas

subcontratadas, que, na prática, executaram a totalidade do

objeto do contrato 2003/204.0.

Nesse contexto, não é desprovida de substrato fático a

imputação do Ministério Público Federal segundo a qual o então

presidente da Câmara dos Deputados, em concurso com os co-

denunciados MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ e

ROGÉRIO TOLENTINO, concorreram para desviar a SMP&B parte do

dinheiro público destinado ao contrato 2003/204.0.

De fato, os indícios apontam no sentido de que essa

empresa pode ter recebido tais recursos sem que houvesse

contrapartida concreta sob a forma de serviços prestados.

Essa conduta caracteriza, pelo menos em tese, o crime

de peculato tal como definido no Código Penal:

"Pecula to Art. 312 - Apropriar-se o funcionário

público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em

Page 117: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R $ diz&&& Inq 2.245 / MG

011837

razão do cargo, ou desv iá - lo , em prove i to próprio ou a l h e i o :

Pena - rec lusão , de d o i s a doze anos, e mul t a .

5 1" - Aplica-se a mesma pena, s e o funcionário púb l i co , embora não tendo a posse do d i n h e i r o , va lor ou bem, o s u b t r a i , ou concorre para que se ja subtra ído , em prove i to próprio ou a l h e i o , valendo-se de f a c i l i d a d e que l h e proporciona a qualidade de func ionár io . "

Recebo, pois, a denúncia com relação as imputações

dirigidas ao denunciado João Paulo Cunha e aos co-denunciados

Marcos Valério, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, relativas aos

subitens a.3, segunda parte e b.2, do item 111.1 da denúncia

(desvio de R$ 536.440,55).

Não recebo a denúncia em relação ao acusado ROGÉRIO

LANZA TOLENTINO, por ausência de descrição de sua conduta no

mesmo tópico.

Page 118: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c ? 5 q e &&&& Inq 2.245 / MG

0 1 1 8 3 8

SUBITENS 111.2 (CONTRATOS No 99/1131 E 01/2003 - DNA

PROPAGANDA LTDA E BANCO DO BRASIL - PROCESSO TC 019.032/2005-0)

e 111.3 (TRANSFERÊNCIAS DE RECURSOS DO BANCO DO BRASIL PARA A

EMPRESA DNA PROPAGANDA LTDA POR MEIO DA COMPANHIA BRASILEIRA DE

MEIOS DE PAGAMENTO - VISANET)

Nos subitens 111.2 e 111.3, o procurador-geral da

República narrou as supostas ilegalidades referentes, de um

lado, aos contratos de publicidade celebrados entre o Banco do

Brasil e a DNA Propaganda Ltda, e de outro, a transferência de

recursos do fundo Visanet a empresa de publicidade do denunciado

Marcos Valério.

Subitem 111.2

Transcrevo as imputações feitas no subitem 111.2 da

inicial (fls. 5672) :

"Assim procedendo de modo livre e consciente, na forma do art. 29 do Código Penal:

a) HENRIQUE PIZZOLATO está incurso nas penas do a r t i g o 312 do Código Penal (desvio de R$ 2.923. 686,15 em proveito alheio) ; e

b) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO estão incursos nas penas do a r t i g o 312 do Código Penal (desvio de R$ 2.923.686,15) ."

Narra a denúncia que HENRIQUE PIZZOLATO, então

Diretor de Marketing do Banco do Brasil, incorreu nas penas do

Page 119: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

art. 312 do caput do Código Penal ípeculato), ao supostamente

permitir o desvio de vultosos valores para a agência de

publicidade DNA Propaganda Ltda.

O procurador-geral da República acusa, além disso,

MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISISANO PAZ e ROGÉRIO

TOLENTINO de concorrerem, na qualidade de "responsáveis pelas

empresas do núcleo Marcos Valério" (fls. 5671), para o

cometimento do crime em questão.

Narra a inicial que a agência DNA Propaganda Ltda.

foi uma das três empresas vencedoras de licitação (Concorrência

01/2003) realizada com vista a contratação de agências para

prestação de serviços de publicidade ao conglomerado Banco do

Brasil.

0s supostos desvios dos recursos do contrato de

publicidade subsequente a licitação ocorreram da seguinte forma:

(i) o Banco do Brasil repassava a DNA o preço total dos serviços

necessários a consecução do contrato, incluindo os valores

destinados às bonificações e descontos especiais; (ii) a agência

de publicidade descontava um percentual desse valor e utilizava

o restante para pagar fornecedores subcontratados pela própria

agência DNA, a qual, (iii) com a conivência de Henrique

Pizzolato, não devolvia o valor dos descontos especiais e

bonificações ("bônus ou bonificação de volume - BV") recebidos

das empresas intermediadas ao Banco do Brasil.

Page 120: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

Narra o Ministério Público que o desvio ocorreu

precisamente mediante a cobrança dos chamados BVs, os quais eram

pagos diretamente a DNA Propaganda Ltda. pelas empresas

subcontratadas. A agência de publicidade se apropriava, então,

dessas quantias, embora o contrato firmado com o Banco do Brasil

previsse expressamente a devolução integral ou abatimento dos

bônus de volume da fatura emitida pela empresa subcontratada.

Transcrevo o item 2.7.4.6 do contrato celebrado entre

a DNA Propaganda Ltda. e o Banco do Brasil, segundo o qual

constitui dever da agência publicidade:

"Envidar esforços para obter as melhores condições nas negociações junto a terceiros e t r a n s f e r i r , integralmente, ao BANCO os descontos espec ia i s (além dos normais, p rev i s t o s em t a b e l a s ) , bonif icações, reaplicações, prazos espec ia i s de pagamento e outras vantagens. " (Grifei)

O procurador-geral da República, baseando-se em

relatório de equipe técnica do Tribunal de Contas da União,

estima que o desvio atingiu O montante mínimo de R$

2.923.686,15, quantia esta referente a pagamentos efetuados

durante a gestão de Henrique Pizzolato na Diretoria de Marketing

do Banco do Brasil (31.03.2003 a 14.06.2005).

Transcrevo trecho da denúncia pertinente aos fatos ora

em exame (fls. 5670-5671) :

"O desvio desses recursos efetivou-se porque os dirigentes do Banco do Brasil responsáveis pelo acompanhamento e fiscalização do contra to, em conluio com o grupo de Marcos Valério, permitiram que

Page 121: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

cZJ5ig- fl&&& Inq 2.245 / MG 011841

a agência de publ ic idade cobrasse do fornecedor subcontratado a comissão denominada "bônus de volume" que, no caso de ambos os con t ra tos firmados com o Banco do B r a s i l , deveria s e r integralmente devolvida ou mesmo descontada da fatura emitida pe lo fornecedor contra o banco.

[ . . . I No que concerne ao Banco do B r a s i l , o

desv io desses recursos f o i e f e tuado pe lo Diretor de Marketing do Banco do B r a s i l , Henrique P i z z o l a t o , responsável d i r e t o pe lo acompanhamento e execução do con t ra to e pleno conhecedor d a s c láusulas con t ra tua i s que obrigavam a t rans fe rênc ia da comissão "bônus de v01 ume" ao banco con t ra tan te .

Do lado b e n e f i c i a d o , constam Marcos V a l é r i o , Ramon Hollerbach, C r i s t i a n o Paz e Rogério To len t ino , responsáveis pe las empresas do núcleo Marcos V a l é r i o .

Henrique P i z zo la to desviou os va lores em prol do grupo l iderado por Marcos Va lér io , po i s t inha pleno conhecimento que c i tada quadrilha aplicava os va lores correspondentes a comissão BV em b e n e f i c i o do núc leo cen t ra l da organização d e l i t i v a , caracterizando um dos mecanismos para al imentar o esquema criminoso ora denunciado.

Por e s s e mot ivo , de forma deliberada e consc ien te , deixou de desempenhar as suas atribuiçcies func iona i s , c o n s i s t e n t e em impedir o desv io desses v u l t o s o s va lores . "

O r e l a t ó r i o de aud i tor ia do Tribunal de Contas d a

União ( P T 019.032/2005-0) ass ina la que os ges tores do Banco do

Bras i l responsáveis pela f i s c a l i z a ç ã o dos contra tos não tomaram

providências no sen t ido de se f a z e r cumprir a c láusula

contra tual que obrigava as agências de publicidade a devolver as

b o n i f i c a ç õ e s de volume - BV ob t idas de fornecedores

subcontratados.

Tal negl igência ensejou a conversão d a aud i tor ia do

TCU em tomada de contas e s p e c i a l , para responsabi l ização t a n t o

Page 122: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

fie NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

011842.:

dos representantes das agências contratadas quanto dos

funcionários do Banco do Brasil envolvidos - entre eles HENRIQUE

PIZZOLATO -, cujas condutas omissivas supostamente contribuíram

para o descumprimento do dever legal de devolução dos recursos

referentes as bonificações assinaladas.

HENRIQUE PIZZOLATO, na condição de Diretor de

Marketing do Banco do Brasil a época dos fatos narrados, tinha o

dever de zelar pelo bom cumprimento das condições fixadas nas

cláusulas dos contratos de publicidade firmados com a DNA.

Essa provável omissão ou negligência adquire ainda

maior relevância quando examinada no contexto geral dos fatos

trazidos pelo procurador-geral da República, tais como os

indícios de que parte dos recursos desviados em favor da DNA :

podem ter sido utilizados em esquemas de pagamentos suspeitos a

cargo do núcleo financeiro-publicitário da hipotética quadrilha

(MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISITANO PAZ e ROGÉRIO

TOLENTINO) .

É importante ressaltar que recursos da ordem de

dezenas de milhões de reais foram transferidos diretamente a

agência DNA, a titulo de serviços a serem prestados no futuro,

sem que houvesse, entretanto, qualquer garantia de prestação de

serviços ou de devolução em caso de não-utilização como

contrapartida ao pagamento antecipado.

Page 123: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&gh.em B&&& Inq 2.245 / MG 0 1 1 8 4 3

Nesse contexto, assume relevância no plano penal o

fato de o denunciado HENRIQUE PIZZOLATO ter permitido a

multiplicação de irregularidades nos contratos sob sua

fiscalização, mantidos entre o Banco do Brasil e a DNA

Propaganda, especialmente quando levadas em consideração as

evidências de que os recursos provenientes destas contratações

podem ter sido utilizados no esquema de pagamentos vulgarmente

conhecido como "Valerioduto".

Com efeito, contribui para o robustecimento das

alegações do PGR o registro encontrado nos autos acerca da

existência de um empréstimo celebrado em 26.05.2003 entre a

SMP&B e o Banco Rural, o qual teve como garantia justamente o

contrato de publicidade mantido entre a DNA e o Banco do Brasil

(cf. documento de fls. 1039, do apenso no 77).

Ante o exposto, recebo a denúncia com relação a

imputação do delito do artigo 312 do Código Penal feita ao

denunciado HENRIQUE PIZZOLATO no subitem "a", do item 111.2 da

denúncia, bem como a imputação relativa ao mesmo tipo penal, no

que tange aos denunciados MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH e

CRISTIANO PAZ, conforme consta subitem "b" do item 111.2 da

denúncia (desvio de R$ 2.923.686,15).

Já no que toca ao denunciado Rogério Lanza Tolentino,

entendo que a denúncia não descreve suficientemente a sua

conduta, de modo a possibilitar-lhe o exercicio da ampla defesa.

Page 124: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Q 5 g g flu&u Inq 2.245 / MG

011844

Ao contrário dos denunciados Marcos Valério, Ramon

Hollerbach e Cristiano paz, cuja efetiva participação na gestão

da empresa DNA está demonstrada na denúncia, o denunciado

Rogério Lanza Tolentino, cujo nome não figura no quadro

societário da empresa DNA, não tem sua conduta suficientemente

descrita na inicial acusatória, o que contraria o artigo 41 do

Código de processo Penal.

Deixo, portanto, de receber a denúncia contra Rogério

Lanza Tolentino, em relação ao delito do artigo 312 do Código

Penal, constante do subitem "b" do item 111.2 da denúncia.

Page 125: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

cgg&vm NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

011845 Subitem 111.3

No s u b i t e m 1 1 1 . 3 , o p r o c u r a d o r - g e r a l da R e p ú b l i c a

f o r m u l a v á r i a s i m p u t a ç õ e s , t o d a s r e l a c i o n a d a s em m a i o r ou menor

g rau com o s u p o s t o d e s v i o d e r e c u r s o s d o Fundo d e I n c e n t i v o da

Companhia B r a s i l e i r a d e Meios d e Pagamen to /V i sane t ( f l s . 5679-

" A s s i m p r o c e d e n d o d e modo l ivre e c o n s c i e n t e , na forma d o a r t . 29 d o Cód igo P e n a l :

a ) HENRIQUE PIZZOLATO, em concurso mater ia l , e s t á i n c u r s o n a s r e p r i m e n d a s do :

a . 1 ) a r t i g o 317 do Código Penal Pá t r io ( r e c e b i m e n t o d e R$ 326 .660 ,27 ) ;

a . 2 ) a r t i g o 1 O, i n c i s o s V, VI e VII , da Lei n . O 9.61311998 ( u t i l i z a ç ã o d o S r . L u i z Eduardo F e r r e i r a p a r a receber R$ 326 .660 ,27) ; e

a . 3 ) 4 (quatro) v e z e s no a r t i g o 312 do Código Penal ( 1 9 . 0 5 . 2 0 0 3 - R$ 23.300.000,OO; 2 8 . 1 1 . 2 0 0 3 - R$ 6 .454 .331 ,43 ; 12 .03 .2004 -

R$35.000 .000 ,00; e 0 1 . 0 6 . 2 0 0 4 - R $ 9 . 0 9 7 . 0 2 4 , 7 5 ) ;

h) LUIZ GUSHIKEN, em cohcurso m a t e r i a l , e s t á i n c u r s o 4 (quatro) vezes n a s r e p r i m e n d a s d o a r t i g o 312 do Código Penal (19 .05 .2003 - R$ 23.300.000,OO; 28 .11 .2003 - R$ 6 .454 .331 ,43; 12 .03 .2004 - R$35.000 .000 ,00; e 01 .06 .2004 -

RS9.097 .024 , 7 5 ) ;

c ) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, em concurso mater ia l , e s t ã o i n c u r s o s n a s r e p r i m e n d a s d o :

c . I ) a r t i g o 333 do Código Penal Pá t r io (pagamento d e R$ 3 2 6 . 6 6 0 , 2 7 ) ; e

c .2) 4 (quatro) v e z e s no a r t i g o 312 do Código Penal ( 1 9 .05 .2003 - R$ 23.300.000,OO;

Page 126: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R- NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

d) JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOINO, SÍLVIO PEREIRA e DELÚBIO SOARES, em concurso material, estão incursos 4 (quatro) vezes nas reprimendas do a r t i g o 312 do Código Penal (19 .05 .2003 - R$ 23.300.000,OO; 28 .11 .2003 - R$ 6 .454 .331 ,43; 12.03.2004 -

R$35.000.000,00; e 01.06.2004 - R$9 .097 .024 ,75 ) . "

São várias as condutas supostamente criminosas

narradas neste subitem. Passo a examiná-las separadamente

Em primeiro lugar, abordo os supostos desvios de

recursos do Fundo de Incentivo da Companhia Brasileira de Meios

de Pagamento/Visanet.

Narra a denúncia que HENRIQUE PIZZOLATO e LUIZ

GUSHIKEN (então ministro da Secretaria de Comunicação e Gestão

Estratégica da Presidência da República) teriam - em concurso

com o núcleo financeiro-publicitário (MARCOS VALÉRIO, CRISTIANO

PAZ, RAMON HOLLERBACH e ROGÉRIO TOLENTINO) e o núcleo central

(JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOINO, SÍLVIO PEREIRA e DELÚBIO SOARES) da

hipotética quadrilha - montado um esquema para desviar recursos

do Fundo de Incentivo da Companhia Brasileira de Meios de

Pagamento/Visanet, com o intuito de irrigar o mecanismo ilícito

de distribuição de valores em dinheiro para a base aliada do

governo, vulgarmente conhecido como "Valerioduto".

São estas as imputações pertinentes (fls. 5679-5680):

"Assim procedendo de modo livre e consciente, na forma do art. 29 do Código Penal:

Page 127: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

a) HENRIQUE PIZZOLATO, em concurso material, está incurso nas reprimendas do:

[ . . . I a.3) 4 (quatro) vezes no artigo 312 do

Código Penal (19.05.2003 - R$ 23.300.000,OO; 28.11.2003 - R$ 6.454.331,43; 12.03.2004 - R$35.000.000,00; e 01.06.2004 - R$9.097.024,75) ;

[ - - - I b) LUIZ GUSHIKEN, em concurso material,

está incurso 4 (quatro) vezes nas reprimendas do artigo 312 do Código Penal (19.05.2003 - R$ 23.300.000,OO; 28.11.2003 - R$ 6.454.331,43; 12.03.2004 - R$35.000.000,00; e 01.06.2004 - R$9.097.024,75) ;

L . . . I C) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,

CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, em concurso material, estão incursos nas reprimendas do:

[ . - . I c.2) 4 (quatro) vezes no artigo 312 do

Código Penal (19.05.2003 - R$ 23.300.000,OO; 28.11 .ZOO3 - R$ 6.454.331,43; 12.03.2004 -

R$35.00O.OOO, 00; e 01.06.2004 - R$9.097.024,75) ;"

A Companhia Brasileira de Meios de Pagamento/Visanet é

uma empresa privada pertencente a instituições financeiras que

têm em comum o fato de serem clientes dos cartões de crédito da

linha Visa. A participação destas instituições no capital social

da Visanet é proporcional as fatias respectivas que detêm no

mercado de cartões de crédito.

O Banco do Brasil possuía 31,9964% do capital social

da Companhia Brasileira de Meios de Pagamento/Visanet em 2003.

No ano de 2001, a Visanet instituiu um findo de

Incentivo, destinado a promoção da marca Visa, cujos recursos

provinham de aporte proporcional a participação de cada uma das

instituições financeiras no seu capital social. A estas

Page 128: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@&k.mw &&H& Inq 2 .245 / MG

011848

i n s t i t u i ç õ e s cabia o gerenciamento da parcela do Fundo

correspondente a sua part ic ipação.

No caso do Banco do B r a s i l , os recursos geridos eram,

a semelhança das demais i n s t i t u i ç õ e s f inance i ras associadas,

equivalentes a sua part ic ipação no c a p i t a l d a Visanet - ou s e j a ,

31 ,9964% do t o t a l .

Narra a denúncia ( f l s . 5 6 7 4 ) :

"Nos meses de maio de 2003 (19.05.2003 - R$ 23.300.000,00), novembro de 2003 (28.11 .ZOO3 - R$ 6.454.331,43) , março de 2004 (12.03.2004 -

R$35.000.000,00) e junho de 2004 (01.06.2004 -

R$9.097.024,75), sob a gestão de Henrique P i z zo la to , a Diretoria de Marketing do Banco do Brasi l - Dimac aprovou a l iberação para a DNA, a t i t u l o de antecipação, de recursos f inance i ros no montante t o t a l de R$ 73.851.000,00, sendo informado por essa própria Dire tor ia que a s antecipações foram e fe tuadas para a r ea l i zação de 93 ações de i n c e n t i v o d i s t i n t a s .

Fato é que as c i t a d a s ações não s e encontram respaldadas em qualquer documentação que legi t imamente possa comprovar a apl icação desses recursos .

No período de 2003 a 2004, enquanto e r a Dire tor de Marketing Henrique P i z z o l a t o , a DNA f o i a única b e n e f i c i á r i a dessas antec ipações , as qua i s , conforme d e s c r i t o no item "6.4.15" do r e l a t ó r i o de a u d i t o r i a [do Tribunal de Contas da União] c i t a d o : " s e davam p e l o c r é d i t o de v a l o r , pela CBMP, em conta c o r r e n t e de l i v r e movimentação da empresa de pub l i c idade , contra apresentação de documento f i s c a l e m i t i d o pela agência , com descr ição genérica dos s e r v i ç o s e a n t e s que a s ações de i n c e n t i v o correspondentes t i ves sem s i d o executadas".

Segundo o Minis tér io Público Federal, essas

antecipações, autorizadas por HENRIQUE PIZZOLATO na condição de

Diretor de Marketing do Banco do B r a s i l , não eram acompanhadas

Page 129: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

N- B&&& Inq 2 .245 / MG

das devidas precauções para garantia do posterior ressarcimento

do Banco do Brasil.

Quanto a decisão de centralizar na agência DNA

Propaganda Ltda. os serviços de publicidade atinentes à Visanet,

o Ministério Público aponta que tal ocorreu sem que houvesse a

celebração de qualquer contrato com a Visanet, referente a

utilização dos recursos do Fundo. O Ministério Público afirma,

ainda, que essa centralização não era prevista no contrato de

publicidade celebrado entre a DNA Propaganda Ltda. e o Banco do

Brasil.

Enfatize-se que a prática adotada pela Diretoria de

Marketing do Banco do Brasil sob a gestão de HENRIQUE PIZZOLATO,

qual seja, a de autorizar adiantamentos aparentemente temerários

de recursos do Fundo de Incentivo para a DNA Propaganda Ltda. -

empresa sem vinculo contratual direto com a Visanet - não foi

seguida por nenhuma das outras instituições financeiras

acionistas.

Referidos adiantamentos eram realizados sem

documentação comprobatória da aplicação desses recursos na

execução de tarefas pertinentes ao objetivo do Fundo de

Incentivo, conforme se extrai das conclusões constantes do

relatório de auditoria do Tribunal de Contas da União.

Page 130: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

d$k=mw fl&&& Inq 2 .245 / MG

011850

Julgo pertinente, neste ponto, transcrever trecho da

auditoria interna do Banco do Brasil citado pelo procurador-

geral da República em sua denúncia (fls. 5674):

"A inexistência, no âmbito do Banco do Brasil, de formalização de instrumento, ajuste ou equivalente para disciplinar as destinaçoes dadas aos recursos adiantados às agências de publicidade dificulta a obtenção de convicção de que tais recursos tenham sido utilizados exclusivamente na execução de ações de incentivo ao abrigo do Fundo. "

O procurador-geral da República faz menção a quatro

antecipações irregulares (nos termos descritos acima) de

recursos oriundos do Fundo de Incentivo Visanet para a empresa

DNA Propaganda Ltda., ocorridas respectivamente em 19.05.2003

(valor: R$ 23.300.000,OO); 28.11.2003 (valor: R$ 6.454.331,43);

12.03.2004 (valor: R$35.000.000,00) ; e 01.06.2004 (valor:

Em depoimento prestado a CPMI dos Correios,

expressamente mencionado na denúncia pelo procurador-geral da

República, HENRIQUE PIZZOLATO afirmou que as operações

irregulares de transferências de recursos foram ordenadas pelo

então ministro da Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica

da Presidência da República, o co-denunciado LUIZ GUSHIKEN

Transcrevo trecho pertinente do mencionado depoimento

(fls. 5676) :

"CÉZAR BORGES (PFL BA) Mas o Ministro Gushiken sempre disse 'assine o que é preciso assinar'.

Page 131: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

S R . HENRIQUE PIZZOLATO S i m , senhor. No caso dessa nota e s p e c í f i c a e l e d i s s e : ' A s s i n a , porque não há nenhum problema. I s s o é bom. O banco.. .

S R . CÉZAR BORGES (PFL BA) Então e l e l h e deu e s s e respaldo de responsabi l idade que o S r . dever ia a s s i n a r i n c l u s i v e a q u i l o que autor izava o adiantamento da DNA.

S R . HENRIQUE PIZZOLATO Olha, en tend i a q u i l o como uma ordem. Eu não i r i a me con f ron tar ao Min i s t ro e . . .

O S R . EDUARDO PAES (PSDB R J ) S r . P i z z o l a t o , se V . S" não q u i s e r responder, não responda. M a s eu e s t o u fazendo uma pergunta o b j e t i v a : o Min i s t ro Gushiken determinou a V . S a . que f i z e s s e o pagamento a Agência DNA?

O S R . HENRIQUE PIZZOLATO Ele disse-me que era para a s s i n a r as n o t a s . . .

S R . EDUARDO PAES (PSDB RJ) Assinar a nota s i g n i f i c a o quê? Por que V . 5 " . t i nha de a s s i n a r a nota ?

O S R . HENRIQUE PIZZOLATO: Porque eu t inha que dar o ' de acordo' .

O S R . EDUARDO PAES (PSDB RJ) O ' d e acordo' de V . S a s i g n i f i c a v a autor ização?

SR . HENRIQUE PIZZOLATO: S i g n i f i c a v a que a D i re tor ia de Marketing i r i a e s t r u t u r a r as campanhas com recursos da V i sane t jun to com os demais. . . "

Passo a ana l i sar as pr inc ipa i s objeções ao recebimento

da denúncia aduzidas pelos co-denunciados em suas respos tas

HENRIQUE PIZZOLATO af irma que não detinha con t ro le

sobre os recursos do Fundo de i n c e n t i v o d a V i s a n e t , pois o

con t ro le das relações e n t r e e s t e e o Banco do Brasi l es tava a

cargo d a Diretoria de Varejo dessa i n s t i t u i ç ã o f i n a n c e i r a .

Af irma, também, que os recursos do Banco do Brasi l apl icados no

Fundo de Incen t i vo d a V i sane t não poderiam a t r a i r a inc idênc ia

do a r t . 312 do Código Penal, uma vez que e l e s pertenciam a

Page 132: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@* fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

Companhia Brasileira de Meios de Pagamento/Visanet, uma empresa

privada.

Constato que existem nos autos indícios convincentes

de que a Diretoria de Marketing do Banco do Brasil de fato

detinha autonomia para gerenciar a parcela de recursos do Fundo

correspondentes a sua participação.

Nesse sentido, transcrevo trecho de correspondência da

Visanet endereçada a CPMI dos Correios (vide fls. 583-584 de seu

Relatório Final), em que se atesta que:

"Os recursos alocados para as ações planejadas pelo Banco do Brasil na qualidade de Emissor Visa foram pagos pela Visanet aos respect ivos fornecedores contra tados, cotados e negociados pelo próprio Banco do Bras i l , entre e l e s a DNA Propaganda. Como não há in ter ferênc ia d i r e t a da Visanet nessa contratação, não existem contratos formais firmados pela Visanet/Servinet e r e f e r i d a empresa. A ação baseou no plano proposto pelo Banco do Brasll e o pagamento se baseou em uma comunicação do Banco do Brasil informando que a ação foi realizada dentro do escopo do Fundo de Incentivo Visanet e encaminhado a nota fiscal do fornecedor." (Grifei).

Além disso, os recursos do Fundo de Incentivo da

Companhia Brasileira de Meios de Pagamento/Visanet provinham do

Banco do Brasil, que tem natureza de sociedade de economia

mista, a qual, não obstante seja pessoa jurídica de direito

privado, integra a administração indireta, opera com dinheiro

público e está submetida ao controle do Tribunal de Contas da

União, de modo que não procede o argumento de atipicidade da

conduta por supostamente pertencerem as quantias desviadas a uma

Page 133: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

empresa privada. Além disso, o tipo penal do peculato incide

também sobre valores particulares, desde que a posse sobre estes

se dê "em razão de do cargo".

Ora, os indícios constantes dos autos parecem indicar

que HENRIQUE PIZZOLATO, na condição de Diretor de Markenting do

Banco do Brasil, assim como LUIZ GUSHIKEN, então ministro da

Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica, tinham ampla

margem de discricionariedade para alocar os bens do fundo de

Incentivo Visanet, conforme ele própria admitiu, em depoimento

prestado perante a CPMI dos Correios, e mencionado na denúncia

(fls. 5676):

" S R . EDUARDO PAES (PSDB R J ) A s s i n a r a n o t a s i g n i f i c a o q u ê ? Por que o Ministro Gushiken determinou a V. S e . que fizesse o pagamento à Agência DNA?

O S R . HENRIQUE PIZZOLATO E l e d i s s e - m e que era para assinar as notas . . .

S R . EDUARDO PAES (PSDB R J ) A s s i n a r a n o t a s i g n i f i c a o q u ê ? P o r q u e V . S a . t i n h a d e a s s l n a r a n o t a ?

O S R . HENRIQUE PIZZOLATO: Porque eu tinha que dar o 'de acordo'.

O S R . EDUARDO PAES (PSDB R J ) O ' d e a c o r d o ' d e V . S a s i g n i f i c a v a a u t o r i z a ç ã o ? " (Grifei).

Fica clara, portanto, a existência de indicios de que

as ordens de desembolso de quantias partiram diretamente do Sr.

Henrique Pizzolato, em cumprimento a suposta ordem do denunciado

Luiz Gushiken.

Diante desses indicios, julgo presentes os indicios

mínimos de materialidade e autoria, quanto aos crimes de

Page 134: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- fla&& Inq 2.245 / MG 0 1 1 8 5 4

peculato (art. 312 do Código Penal), de modo que recebo a

denúncia oferecida contra HENRIQUE PIZZOLATO quanto as

imputações do subitem a.3, ou seja:

- 4 (quatro) vezes no artigo 312 do Código Penal

(19.05.2003 - R$ 23.300.000,OO; 28.11.2003 - R$ 6.454.331,43;

12.03.2004 - R$35.000.000,00; e 01.06.2004 - ~$9.097.024,75);

E contra LUIZ GUSHIKEN, constantes do subitem "b":

- 4 (quatro) vezes nas reprimendas do artigo 312 do

Código Penal (19.05.2003 - R$ 23.300.000,OO; 28.11.2003 - R$

6.454.331,43; 12.03.2004 - R$35.000.000,00; e 01.06.2004 -

R$9.097.024,75), todos do Item 111.3 da denúncia".

No que concerne a participação do núcleo central da

hipotética quadrilha (JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOÍNO, SÍLVIO PEREIRA

e DELÚBIO SOARES) nos desvios assinalados, o douto procurador-

geral da República argumenta que estes co-denunciados também

contribuíram, em concurso de pessoas, para a realização dos

desvios de recursos públicos em questão, devendo, portanto,

sofrer as penas do art. 312 do Código Penal imputadas a HENRIQUE

PIZZOLATO e LUIZ GUSHIKEN.

Extraio o trecho pertinente da denúncia:

" [. . . 1 uma vez sob disposição do núcleo Marcos Valério, o montante foi empregado para pagar propina e dívidas de campanhas eleitorais por ordem de José Dirceu, José Genoíno, Sílvio Pereira e Delúbio Soares. Além disso, como já relatado, uma das

Page 135: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R- fl&&& Inq 2.245 / MG 011855

antecipações serviu para abater um dos empréstimos do BMG que suportaram a engenharia ora denunciada. "

Quanto aos co-denunciados JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOÍNO,

SÍLVIO PEREIRA e DELÚBIO SOARES, verifico que o procurador-geral

da República não explicitou de forma satisfatória o papel que

tiveram na realização da conduta tipificada no art. 312 do

Código Penal, que transcrevo, para melhor aclaramento deste

ponto:

"Peculato Art. 312 - Apropriar-se o funcionário

público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:

Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. "

Relativamente a JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOÍNO, SÍLVIO

PEREIRA e DELÚBIO SOARES, a denúncia não descreve de forma

explicita como sua conduta contribuiu para o cometimento do

crime de peculato, não se verificando a imprescindível exposição

do fato criminoso em todas as suas circunstâncias.

Com efeito, o Chefe do parquet limitou-se a afirmar

que o valor desviado por HENRIQUE PIZZOLATO e LUIZ GUSHIKEN "foi

empregado para pagar propina e dividas de campanhas eleitorais",

em respeito a ordens emanadas dos membros do núcleo central,

sem, contudo, argumentar nem trazer indícios comprobatórios da

divisão de trabalho na execução da ação típica. Ressalve-se a

possibilidade de o Ministério Público aditar a inicial, desde

Page 136: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

que descreva, individualizadamente, as condutas dos referidos

denunciados.

Não recebo, portanto, a denúncia em relação aos

denunciados José Dirceu, José Genoino, Sílvio Pereira e Delúbio

Soares, no que concerne ao subitem d , do item 111.3 da

denúncia: 4 (quatro) vezes nas reprimendas do artigo 312 do

Código Penal (19.05.2003 - R$ 23.300.000,OO; 28.11.2003 - R$ 6.454.331,43; 12.03.2004 - R$ 35.000.000,00; e 01.06.2004 - R$

9.097.024,75).

Porém, o mesmo não pode ser dito quanto a suposta

participação do núcleo de MARCOS VALÉRIO (RAMON HOLLERBACH,

CRISTIANO PAZ) nos hipotéticos desvios, uma vez que a DNA

Propaganda Ltda., na condição de beneficiária direta das

antecipações aparentemente irregulares, contribuiu para a

perpetração das condutas tidas como típicas.

Em suas respostas, esses denunciados alegam a

ausência de individualização de suas condutas, circunstância que

tolheria o direito de defesa e tornaria a denúncia inepta quanto

as imputações dirigidas contra eles.

Observo que quando a denúncia descreve crimes que

envolvem complexas operações no âmbito de uma sociedade

empresária, não se faz necessária a individualização exaustiva,

já na fase de oferecimento da denúncia, do papel específico

atribuído a cada um dos membros do grupo, uma vez que a

Page 137: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R+ Inq 2.245 / MG 0 1 1 8 5 7

individualização mais pormenorizada das condutas poderá ser

realizada posteriormente, na fase de instrução penal.

Para efeito de recebimento da denúncia, basta a

circunstância de que os acusados integrantes do chamado núcleo

publicitário-financeiro foram os beneficiários dos desvios

apontados.

Desta forma, recebo a peça acusatória em relação ao

subitem c.2 do item 111.3, assim: 4 (quatro) vezes no artigo 312

do Código Penal (19.05.2003 - R$ 23.300.000,OO; 28.11.2003 - R$

6.454.331,43; 12.03.2004 - R$ 35.000.000,00; e 01.06.2004 - R$

9.097.024,75) contra os denunciados Marcos Valério, Ramon

Hollerbach e Cristiano Paz.

No que diz respeito ao denunciado Rogério Lanza

Tolentino, este não era gestor da empresa DNA Propaganda LTDA.,

de modo que não consta da denúncia descrição que permita saber

de que modo ele teria contribuído para a suposta consumação do

delito do artigo 312 do Código Penal.

Por tais razões, não recebo a denúncia em relação ao

denunciado Rogério Lanza Tolentino, no que concerne as

imputações constantes do subitem c.2 do item 111.3 da denúncia:

4 (quatro) vezes no artigo 312 do Código Penal (19.05.2003 - R$

23.300.000,OO; 28.11.2003 - R$ 6.454.331,43; 12.03.2004 - R$

35.000.000,00; e .01.06.2004 - R$ 9.097.024,75), por não ter sido

Page 138: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

fl- flu&u Inq 2 . 2 4 5 / MG 011858

atendida, quanto a e l e , a exigência do artigo 4 1 do Código de

processo penal.

Page 139: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&* fl&&& Inq 2 .245 / MG 011859

Dando prosseguimento a a n á l i s e da presença dos

r e q u i s i t o s para o recebimento da denúncia quanto as condutas

narradas no subitem 111.3, examino as imputações r e f e r e n t e s a

crimes de lavagem de d inhe i ro ( a r t i g o 1 ° , i n c i s o s V , V I e V I I ,

da Lei 9.613/1998) e de corrupção passiva e a t i v a ( a r t s . 317 e

3 3 3 do Código P e n a l ) , envolvendo H E N R I Q U E P I Z Z O L A T O e o núcleo

de MARCOS V A L É R I O ( C R I S T I A N O PAZ, RAMON HOLLERBACH E R O G É R I O

T O L E N T I N O ) .

Transcrevo os t r echos per t inen tes da i n i c i a l ( f l s .

"Henrique P i z zo la to , em razão do cargo de Dire tor de Marketing do Banco do B r a s i l , também recebeu de Marcos V a l é r i o , C r i s t i a n o Paz, Ramon Hollerbach e Rogério Tolen t i n o , valendo-se de um in t e rmed iár io , na data de 15 de jane iro de 2004, a quantia de R$ 326.660,67 como contraprestação pe los b e n e f í c i o s i l i c i t a m e n t e proporcionados, no e x e r c í c i o de sua função, ao grupo empresarial de Marcos V a l é r i o .

f.. . I C ien te de que o d inhe i ro t inha como origem

organização criminosa vol tada para a prá t ica de crimes contra o sistema f inance i ro nacional e contra a administração púb l i ca , Henrique Pizzola t o , buscando o c u l t a r a origem, natureza e o rea l d e s t i n a t á r i o do va lor pago como propina, enviou o mensageiro da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do B r a s i l -

Previ , Luiz Eduardo Ferre ira , para sacar em espéc ie R$ 326.660,27.

Referida operação, v e r i f i c a d a em razão do seu cargo de Diretor de Marketing, f o i executada por intermédio da manobra de lavagem de d inhe i ro engendrada pe los núcleos Marcos V a l é r i o e Banco R u r a l .

Após sacar o va lor de R$ 326.660.27 em e s p é c i e , Eduardo Ferre ira , u t i l i z a d o como in t e rmed iár io , entregou o montante diretamente ao denunciado Henrique P i z zo la to em s u a r e s idênc ia . "

Page 140: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

,. R- NU&&

Inq 2.245 / MG

011860

A s s i m p r o c e d e n d o de modo l i v r e e c o n s c i e n t e , na forma d o a r t . 2 9 d o Código Pena l :

a ) HENRIQUE P I Z Z O L A T O , em concurso mater ia l , e s t á i n c u r s o n a s r e p r i m e n d a s do:

a . 1 ) a r t i g o 317 do Código Penal Pá t r io ( r e c e b i m e n t o de R$ 326.660,27) ;

a .2 ) a r t i g o 1 ° , i n c i s o s V, VI e V I I , da L e i n . 9.613/1998 ( u t i l i z a ç ã o d o S r . L u i z Eduardo F e r r e i r a p a r a receber R$ 326.660,27) ; e

C) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, em concurso mater ia l , e s t ã o i n c u r s o s n a s r e p r i m e n d a s do:

c. I ) a r t i g o 333 do Código Penal P á t r i o (pagamento de R$ 326.660,27) "

Há s u f i c i e n t e s i n d í c i o s n o s a u t o s d e q u e HENRIQUE

PIZZOLATO r e c e b e u a q u a n t i a d e R$ 3 2 6 . 6 6 0 , 2 7 no d i a 15 .01 .2004 ,

p o r meio d e s a q u e r e a l i z a d o p e l o m e n s a g e i r o Eduardo F e r r e i r a d a

S i l v a e m a g ê n c i a do Banco R u r a l

Da mesma forma, a s e v i d ê n c i a s i n d i c a m que a o f a z ê - l o ,

HENRIQUE PIZZOLATO u t i l i z o u Eduardo F e r r e i r a d a S i l v a p a r a ,

s a c a n d o e m s e u nome a q u a n t i a menc ionada , o c u l t a r ou d i s s i m u l a r

a n a t u r e z a e a o r igem d o s v a l o r e s s u s p e i t o s .

Nesse s e n t i d o , c o l h o t r e c h o d o depo imen to p r e s t a d o a

P o l í c i a F e d e r a l p e l o m e n s a g e i r o Eduardo F e r r e i r a d a S i l v a ( f l s .

"QUE no d i a q u i n z e de j a n e i r o de 2004, r e c e b e u uma l i g a ç ã o de HENRIQUE PIZZOLATO n o s e t o r onde o d e p o e n t e t r a b a l h a ; QUE n e s t a l i g a ç ã o , PIZZOLATO

Page 141: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

d$k=mm flu#a Inq 2 . 2 4 5 / MG

0 1 1 8 6 1

so l ic i tava que o depoente fosse ao BANCO RURAL e pegasse "um documento"; [. . . ] QUE d i r i g i u - s e de carro a t é o BANCO RURAL l o c a l i z a d o no centro do Rio de Janeiro, c u j o endereço não s e recorda, entrando sozinho no es tabe lec imento bancário; QUE l á den t ro , procurou a pessoa indicada por HENRIQUE PIZZOLATO, que o atendeu em um s e t o r onde não e x i s t e atendimento ao públ ico; [. . . ] QUE o funcionário do banco colocou d o i s pacotes embrulhados em papel pardo em cima da mesa, e pediu ao depoente que ass inasse um rec ibo; '. . .] QUE assinou uma espéc ie de formulário mas não chegou a l e r o seu conteúdo; QUE o func ionár io ainda s o l i c i t o u ao depoente que fornecesse sua iden t idade , t i rando cópia da mesma ; [ . . . 1 QUE chegando na residência de HENRIQUE PIZZOLATO, f o i o mesmo quem o recepcionou na porta de seu apartamento; QUE entregou o s dois embrulhos nas mãos de HENRIQUE PIZZOLATO; [. . . I QUE na da t a do dia 1 4 de julho do corrente ano f o i chamado na s a l a da aud i tor ia da PREVI, pe lo aud i tor ANTONIO, vulgo "TUNINHO", e pe lo consul tor j u r í d i c o da PREVI, JOSE LUIZ; QUE nes ta oportunidade informaram ao depoente que seu nome constava como recebedor "do mensalão"; QUE naquele momento chegou a f i c a r atordoado; QUE também disseram ao depoente que seu nome constava no . COAF como tendo sacado importância de trezentos e vinte e seis mil rea is no BANCO RURAL no dia quinze de janeiro de 2004."

As declarações cont idas no depoimento em exame revelam

um procedimento suspe i to de saque de va lores de origem

desconhecida bas tante semelhante ao modus operandi seguido em

outros saques suspe i tos enumerados pelo procurador-geral da

República ao longo da denúncia, conforme j á v i s t o no i t em 111.1

supra, e em consonância com a descrição do suposto esquema de

lavagem de d inhe i ro rea l i zado no i t em IV d a i n i c i a l , i n f r a .

Constato, ass im, que se encontra su f i c i en temen te

fundamentada nos i n d í c i o s cons tantes dos autos a acusação do

procurador-geral d a República no sen t ido de que os recursos

Page 142: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c5g.- B a & 4 Inq 2.245 / MG 011862

provenientes do Banco Rural, sacados em favor de HENRIQUE

PIZZOLATO, são oriundos do suposto esquema de lavagem de

dinheiro conhecido como "Valerioduto".

Diante desse quadro, recebo a denúncia contra Henrique

Pizzolato, em relação ao subitem a.2 do item 111.3 da inicial,

ou seja: "artigo I", incisos V, YI e VII, da Lei n. O 9.613/1998

(utilização do Sr. Luiz Eduardo Ferreira para receber R$

326.660,27)".

Verifico, ademais, que há base indiciária sólida a

justificar o recebimento da denúncia contra Henrique Pizzolato

pela prática do crime de corrupção passiva, tendo em vista o

depoimento' de Eduardo Ferreira da Silva, que declarou ter

recebido para o ex-diretor do Banco do Brasil o valor de R$

3 2 6 . 6 6 0 , 2 7 . É significativo, também, o fato de que o nome deste

denunciado constava da lista apresentada pelo co-denunciado

MARCOS VALÉRIO perante a autoridade policial (fls.606), como

destinatário da quantia acima mencionada.

Enfatize-se que, a época dos fatos narrados, o

responsável pela supervisão dos contratos de publicidade

mantidos com a DNA Propaganda Ltda. era exatamente o denunciado

HENRIQUE PIZZOLATO. Não há, assim, dúvidas quanto a

plausibilidade da tese de que os recursos suspeitos entregues ao

denunciado o foram em razão do cargo por ele ocupado, uma vez

que o mesmo, na condição de diretor de Marketing do Banco do

Page 143: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

~ ~ H ~ & & Inq 2.245 / MG

0 1 1 8 6 3

Brasil, dispunha de competência para expedir atos de oficio

suscetíveis de beneficiar a agência de publicidade DNA

Propaganda Ltda., como, aliás, fez ao autorizar o aditamento de

recursos nos referidos contratos, conforme descrito na denúncia

Às fls. 5674 dos autos, in verbis:

"Nos meses de maio de 2003 (19.05.2003 - R$

23.300.000,00), novembro de 2003 (28.11 .ZOO3 - R$

6.454.331,43), março de 2004 (12.03.2004 -

R$35.000.000,00) e junho de 2004 (01.06.2004 -

R$9.097.024,75), sob a gestão de Henrlque Pizzolato, a

Diretoria de Marketing do Banco do Brasil - Dimac

aprovou a liberação para a DNA, a título de

antecipação de recursos financeiros no montante total

de R$ 73.851.000,00, sendo informado por essa própria

Diretoria que as antecipações foram efetuadas para a

realização de 93 ações de incentivo distintas.

Fato é que as citadas açóes não se

encontram respaldadas em qualquer documentação que

legitimamente possa comprovar a aplicação desses

recursos. "

Ante o exposto, recebo a denúncia com relação a

imputação constante do subitem a.1, do item 111.3 da denúncia

(artigo 317 do Código Penal - recebimento de R$ 326.660,27),

dirigida ao denunciado Henrique Pizzolato.

Pelas mesmas razões, considero viável o recebimento

da denúncia quanto a imputação do crime de corrupção ativa aos

diretores da SMP&B Propaganda Ltda.

Page 144: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

Com efeito, o Relatório de Análise no 124/2006,

anexado aos autos (apenso 87, pp. 726-727), indica que os

recursos sacados de forma suspeita provieram da compensação, em

15.01.2004, do cheque no 413170, emitido pela agencia DNA

Propaganda Ltda, empresa da qual são diretores os co-denunciados

MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH e CRISTIANO PAZ).

Sendo assim, em face da presença de indícios mínimos

de autoria e materialidade, recebo a denúncia em relação ao

crime de corrupção ativa (art. 333 do Código Penal) supostamente

praticado pelos co-denunciados MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH

e CRISTIANO PAZ, sócios da DNA Propaganda Ltda., conforme consta

do subitem c.1 do item 111.3 da denúncia.

Não recebo, porém, a denúncia, em relação ao subitem

c. 1 do item 111.3 (artigo 333 do Código Penal) , no que toca ao

co-denunciado ROGÉRIO TOLENTINO, uma vez que o procurador-geral

da República não logrou demonstrar nenhuma relação direta entre

este e os sócios da SMPhB para o cometimento do delito de

corrupção ativa em exame, de modo que não se atendeu ao disposto

no artigo 41 do Código de Processo Penal.

Page 145: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

DA IMPUTA~ÃO DE LAVAGEM DE DINHEIRO - LEI No 9.613/98

- Capítulo IV da denúncia Em seu Capítulo 4, a denúncia imputa a prática de

lavagem de dinheiro aos dirigentes do Banco Rural JOSÉ ROBERTO

SALGADO, AYANNA TENÓRIO, VINÍCIUS SAMARANE e KÁTIA RABELLO, bem

como ao publicitário MARCOS VALÉRIO e seus sócios RAMON

HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ, ROGÉRIO TOLENTINO, SIMONE VASCONCELOS

e GEISA DIAS.

A acusação consiste na suposta estruturação de um

mecanismo de lavagem de capitais que, baseada na antiga relação

entre o núcleo Marcos Valério e o Banco Rural, iniciada em 1998,

bem como na confiança mútua dai oriunda, teria permitido a

transferência dissimulada de grandes somas em dinheiro para os

beneficiários finais do suposto esquema. Assim, o núcleo Marcos

Valério, juntamente com os dirigentes do Banco Rural, teriam

praticado ocultação e dissimulação da origem, natureza,

movimentação e destino final dos vultosos recursos em questão.

Na outra ponta deste "mecanismo de branqueamento", estariam os

supostos beneficiários finais dos recursos "lavados", que, de

acordo com o Parquet, teriam sido indicados diretamente por

Delúbio Soares, em concretização do suposto acordo firmado, em

momento anterior, entre os denunciados por formação de quadrilha

e corrupção ativa.

A denúncia assim narra os fatos (fls. 5688):

Page 146: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@-NU&& Inq 2.245 / MG

011866

A e s t r u t u r a a r t i c u l a d a p e l o s d i r i g e n t e s d o

Banco Rura l p o s s i b i l i t o u q u e o grupo d e Marcos

V a l é r i o , n o t a d a m e n t e S imone V a s c o n c e l o s e G e i s a D i a s ,

c o m u n i c a s s e a o g e r e n t e da c o n t a da SMP&B o u DNA n o

Banco Rura l d e B e l o H o r i z o n t e , a g â n c i a A s s e m b l é i a , a

o p e r a ç ã o q u e s e r i a d e s e n c a d e a d a , ou s e j a , pagamento d e

d e t e r m i n a d a q u a n t i a , n a s p r a ç a s d e B e l o H o r i z o n t e ,

B r a s i l i a , São P a u l o o u R i o d e J a n e i r o , q u a l i f i c a n d o a

p e s s o a que e f e t u a r i a o r e c e b i m e n t o e t r a n s p o r t e , em

m a l a s ou s a c o l a s , d o s r e c u r s o s f i n a n c e i r o s .

F u n c i o n á r i o s da a g ê n c i a A s s e m b l é i a d o Banco

R u r a l i n f o r m a v a m , a o s da a g ê n c i a em q u e se r e a l i z a r i a

o s a q u e , a i d e n t i f i c a ç ã o da p e s s o a c r e d e n c i a d a para o

r e c e b i m e n t o d o s v a l o r e s , disponibilizados em espécie,

m e d i a n t e a s i m p l e s a s s i n a t u r a ou rubrica em um

documento informal, destinado apenas ao controle

interno de Marcos Valerio, q u e , o b v i a m e n t e ,

n e c e s s i t a v a d e alguma comprovação m a t e r i a l d o

pagamento e f e t u a d o .

Segundo d e p o i m e n t o do e x T e s o u r e i r o d o

Banco R u r a l em ~ r a s i l i a ~ , r e s p o n s á v e l p e l a e n t r e g a da

m a i o r i a d o s r e c u r s o s d i s p o n i b i l i z a d o s n e s t a c a p i t a l

f e d e r a l , a f r e q u ê n c i a d e pagamentos d e d i n h e i r o em

e s p é c i e e r a b a s t a n t e a l t a e , quando i n d a g a d o s o b r e os

b e n e f i c i á r i o s d e s s e s r e c u r s o s , e s c l a r e c e u o s e g u i n t e :

"Que, em geral , eram pessoas simples, que não trajavam

ternos e que se dirigiam ao depoente dizendo o

seguinte 'vim pegar uma encomenda ' . " ( . . . )

J o s e F r a n c i s c o Rego, demi t ido do Banco R u r a l e m 2 0 0 4 .

9 1

Page 147: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@- &&&& Inq 2.245 / MG

0 1 1 8 6 7

Esse esquema de lavagem, praticado

rei teradamente durante mais de dois anos,

caracterizou-se pela sua estrutura simples, mas

eficiente, possibilitando a total dissimulação do

destino final do dinheiro, deixando apenas alguns

vestígios materiais dos repasses, em razão da

necessidade de Marcos Valério resguardar-se, por meio

dos e-mails e fac-símiles ( . . . ) .

Ainda de acordo com a acusação, os dirigentes do Banco

Rural (JOSÉ AUGUSTO DUMONT, Vice-presidente falecido; JOSÉ

ROBERTO SALGADO, Vice-presidente Operacional; AYANNA TENÓRIO,

Vice-presidente; VINÍCIUS SAMARANE, Diretor Estatutário; e KÁTIA

RABELLO, Presidente) eram responsáveis pelo Comitê de Prevenção

a Lavagem de Dinheiro e pelas áreas de compliance,

contabilidade, jurídica e tecnológica da instituição financeira.

Com isto, eles teriam "estabelecido mecanismos de

operacionalização dos vultosos pagamentos em espécie às pessoas

indicadas por Marcos Valério, de forma a possibilitar a não

identificação dos efetivos beneficiários, bem como burlar a

legislação e normas infralegais, que estabelecem a necessidade

de identificação e comunicação às autoridades competentes de

operações com indicativos de lavagem de dinheiro".

Conclui a denúncia:

Os dirigentes do Banco Rural, denunciados,

viabilizaram, juntamente com Marcos Valerio e seu

grupo, mecanismos e estratagemas para omitir o

Page 148: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+&mo

Inq 2.245 / MG

0 1 1 8 6 8

regis t ro no SISBA(=EN dos verdadeiros

beneficiários/sacadores de recursos das contas da

SMP&B Comunicação Ltda. , situação plenamente conhecida pelos mesmos, e permitiram que cheques emitidos,

nominais e endossados pela SMP&B, em poder da agência

do Banco Rural em Belo Horizonte, fossem sacados nas

agências de Brasi l ia , São Paulo ou Rio de Janeiro,

infringindo, deliberadamente, a s normas que

estabelecem procedimentos para a comunicação ao BACEN

de operações suspeitas.

Assim, e tendo em vista a suposta "parceria"

estabelecida desde 1998 entre o denominado "núcleo" Marcos

Valério e o Banco Rural, o Procurador-Geral da República conclui

pela existência de dolo por parte dos dirigentes do Banco Rural,

no sentido do cometimento do crime de lavagem, uma vez que

"tinham consciência de que os recursos movimentados a mando do

núcleo Marcos Valério eram oriundos de uma organização voltada

para o cometimento de crimes contra a Administração Pública".

Passo a análise sobre a presença ou não de indícios da

prática de lavagem de dinheiro pelos ora denunciados.

Inicio pelos denunciados do denominado "núcleo

publicitário".

MARCOS VUÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ,

Em primeiro lugar, o Laudo de Exame Contábil no

3058/2005-INC, de 29 de novembro de 2005 (v. apenso 51, vol. 2,

Page 149: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@-.-Na&& Inq 2.245 / MG

fls. 192/212), dá notícia da ocultação e dissimulação de

movimento de valores, promovida pela emissão de inúmeras notas

fiscais frias pelas empresas SMP&B Comunicação Ltda. e pela DNA

Propaganda Ltda. Estas notas fiscais falsas tiveram a finalidade

de dar suporte ao recebimento de recursos de empresas como o

Banco do Brasil, a Eletronorte e, também, advindos do Ministério

dos Transportes, aparentemente simulando a prestação de serviços

para estes órgãos, sendo relevante notar que membros tanto do

Banco do Brasil quanto do Ministério dos Transportes foram

denunciados pelo Procurador-Geral da República em outros

capítulos da denúncia (111 - peculato; VI1 - lavagem).

Pois bem.

De acordo com os peritos contábeis, a empresa SMP&B

emitiu notas fiscais que já haviam sido canceladas pelo órgão

fiscal correspondente, em um número minimo de 2497 (duas mil

quatrocentas e noventa e sete), conforme se lê as fls. 147 do

volume 2 do Apenso 51

Conclui, ainda, o laudo 3058/2005 que foram impressas

80.000 (oitenta mil) notas fiscais falsas no período analisado

(V. Apenso 51, vol. 2, fl. 211).

Ademais, segundo consta do Laudo, a contabilidade das

empresas deste "núcleo publicitário" foi alterada de maneira

substancial (v. fls. 210). "Observou-se, por amostragem,

quantidade significativa de cheques de valores superiores a R$

Page 150: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

~ ~ & ~ ~ & I n q 2.245 / MG

011870

10.000,OO ( d e z m i l r e a i s ) , d e b i t a d o s na c o n t a 60022414, a g ê n c i a

9 , b a n c o 453 (Banco R u r a l ) , q u e n ã o e s t a v a d e v i d a m e n t e

r e g i s t r a d a na c o n t a b i l i d a d e da empresa DNA"

T a i s c h e q u e s , e m i t i d o s e n t r e 19 d e a g o s t o d e 2003 e 19

d e se tembro d e 2004, e s t ã o e l e n c a d o s à s f l s . 198/199,

t o t a l i z a n d o R$ 4.552.677,89 ( g u a t r o m i l h õ e s qu inhen to s e

c inq i i en ta e d o i s m i l s e i s c e n t o s e s e t e n t a e sete r e a i s e o i t e n t a

e nove c e n t a v o s ) não r e g i s t r a d o s na c o n t a b i l i d a d e d a empresa.

Mais que i s s o , d e s t a c a o Laudo n o 3058/2005-INC:

Além d i s s o , ao a n a l i s a r o i t e m 66 d o s

documen tos apreendidos na s e d e da DNA, e n c o n t r o u - s e a

4= v i a da n o t a f i s c a l - f a t u r a no 037402, emi t ida em

13/02/04 p e l a DNA, CNPJ 17 .397 .076 /0003-67 ( f i l i a l R i o

A c i m a ) , no v a l o r d e R$ 35.000.000,00 [TRINTA E CINCO

MILHÕES DE R E A I S ] , cons tando como sacado a r=SMP (Anexo

I , f l s . 3 5 ) . ( . . . ) O h l s t ó r l c o d e s t e lançamento i n d i c a

q u e o v a l o r t o t a l da n o t a f i s c a l - f a t u r a f o i

cons iderado como r e c e i t a d e p r e s t a ç ã o d e s e r v i ç o s .

No e n t a n t o , o Demonstrat ivo d e Resu l t ado d o

E x e r c í c i o (DRE) - de 2004 ( f l s . 4464 d o l i v r o D i á r i o n o

3 7 , vo lume 1 2 ) . r e g l s t r a um mon tan t e anual d e r e c e i t a

b r u t a d e R$ 22.679.370,26, v a l o r b a s t a n t e i n f e r i o r a

e s s a n o t a f i s c a l - f a t u r a no 037402, mencionada n o

parágra fo a n t e r i o r .

Fa to s l m i l a r f o i verificado com o u t r a n o t a

f i s c a l - f a t u r a , d e n o 039179 , e m l t i d a em 1 3 / 0 5 / 0 4 , n o

v a l o r d e R$ 9.097.024,75, que também apre sen ta como

Page 151: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

sacado a CBMP, escriturada no livro Diário n o 37, fls.

1554 e 1767.

Esses fatos demonstram que o DRE

[Demonstrativo de Resultado do Exercício] foi

elaborado em desacordo com a escrituração. E, ainda,

cabe ressaltar que, em testes realizados pela perícia,

o sistema contábil utilizado (Enterprise-Microuni)

permitiu, a critério do usuário, selecionar as contas

gue iriam compor o demonstrativo.

Ou seja, senhora Presidente, os peritos atestaram que

o sistema contábil utilizado na contabilidade da SMPLB e da DNA

permitia o uso de artificios fraudulentos no registro das

receitas e despesas destas empresas.

Tudo isto indica que, muito provavelmente, vultosas

quantias movimentadas pelas empresas do chamado "núcleo Marcos

Valério", e aparentemente utilizadas no suposto esquema

criminoso narrado na denúncia, tiveram sua origem ocultada ou

dissimulada, através da não escrituração ou de sua escrituração

com base em notas fiscais falsas, impedindo, assim, que se

descobrisse, além de sua origem, também sua movimentação,

localização e propriedade, que são elementos do tipo do art. l 0

da Lei de Lavagem de Capitais.

De acordo com os peritos criminais que subscreveram o

laudo em comento, havia duas escriturações contábeis (original e

retificadora) para a mesma pessoa jurídica, num mesmo periodo de

Page 152: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

referência (anos de 2003 e 2004, ou seja, o período em que os

supostos ilícitos teriam sido praticados), sendo que os valores

registrados em cada uma eram significativamente diferentes,

conforme se nota no item 35, letra a (fls. 200/201, apenso 51).

A título ilustrativo, enquanto na contabilidade

original o ativo total era de R$ 5.874.975,08 (cinco milhões

oitocentos e setenta e quatro mil novecentos e setenta e cinco

reais e oito centavos) em 31/12/03, na contabilidade

retificadora o ativo total escriturado totalizava nada mais,

nada menos, que R$ 53.204.539,57 (cinquenta e três milhões

duzentos e quatro mil quinhentos e trinta e nove reais e

cinquenta e sete centavos), para aquela mesma data.

O laudo se debruça, ainda, sobre os alegados

"contratos de mútuo" entre as empresas do grupo.

Aliás, abro aqui um parêntese para salientar que,

dentre os "mutuantes" e "mutuários" destes supostos "contratos",

estão a "Lanza Tolentino e Associados Ltda." e a "Rogério Lanza

Tolentino" .

Portanto, diferentemente do que assinalei no capitulo

anterior, em que apreciamos os crimes de peculato e corrupção

ativa, desde já firmo posição de que este dado - participação

aparente das empresas de TOLENTINO nos fatos supostamente

típicos - afasta, a meu ver, ao menos neste momento de judicium

accusationis, a possibilidade de se acolher o argumento contido

Page 153: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

cg&kmw &&&4 Inq 2.245 / MG

iill8'7.2

na resposta escrita do denunciado ROGÉRIO LANZA TOLENTINO, no

sentido de que não é sócio das empresas de Marcos Valério (SMP&B

Comunicação Ltda.; DNA Propaganda Ltda e Graffiti Participações

Ltda) .

Como também salientei anteriormente, MARCOS VALÉRIO é

sócio de ROGÉRIO TOLENTINO na LANZA TOLENTINO e ASSOCIADOS, que

presta serviços de advocacia para a SMP&B.

Além disso, assinalo que, como é óbvio, não é só a

qualidade de sócio de MARCOS VALÉRIO que justifica a denúncia de

ROGÉRIO TOLENTINO, mas sim o envolvimento, em tese, também de

suas empresas (ROGÉRIO LANZA TOLENTINO e 2 s PARTICIPAÇ~ES) nos

supostos repasses ilegais de recursos a parlamentares, o

denominado "mensalão", objeto do capítulo VI da denúncia, que

veremos oportunamente.

Prossigo, então, no raciocínio

Esses contratos de mútuo, de que participou, dentre

outros, o acusado ROGÉRIO LANZA TOLENTINO, e celebrados entre

empresas consideradas como sendo do mesmo grupo, teriam sido

manipulados, de acordo com as considerações dos peritos.

Destacam os laudos que os denominados "mútuos" não estavam

escriturados na contabilidade original, e que houve simulação na

preparação dos documentos de suporte dos referidos contratos.

Aliás, como veremos em um importante depoimento do ex-

Superintendente de Compliance do Banco Rural, qualquer entrada

Page 154: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

de recursos pode ser justificada através de sua classificação

como "empréstimo".

Assim, nota-se claramente a existência de fortes

indicios de ocultação e dissimulação do movimento de valores,

supostamente praticadas pelos denunciados ligados as empresas de

VALÉRIO e TOLENTINO.

Outros indicios se somam as conclusões do Laudo de

Exame Contábil.

Em primeiro lugar, um dos depoimentos do acusado

MARCOS VALÉRIO especificamente aquele acostado as fls. 355/360

(volume 21, prestado ao Departamento de Policia Federal, é

bastante esclarecedor:

"Os saques de valores destinados a

terceiros eram efetuados diretamente na agência

Assembléia do Banco Rural em Belo Horizonte/MG, sempre

mediante cheque nominal à s empresas SMP&B e DNA,

endossados no verso, com prévia comunicação ao Banco

de que haveria o saque em espécie. Igual procedimento

era adotado no caso de recebimento do numerário nas

demais agências. ( . . . I Os saques variavam de valores e

diversos eram os beneficiários indicados por De1 úbio.

O vaior t o t a l dos empréstimos ao PT [quase quarenta

milhões de rea is ] foi transferido em dinheiro na forma

indicada ou mediante pagamento por cheque nominal - a s

empresas apontadas por Delúbio. A soma dessas

transferências por saque nas agências e aquelas por

cheque nominal [a SMP&B] corresponde ao valor

Page 155: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

H&&& Inq 2 .245 / MG

aproximado dos empréstimos, em torno de quarenta

milhões de rea is . ( . . . ) As declarações agora prestadas

retif icam a s afirmações do dec larante perante a

Pol íc ia Federal, no sentido de que os saques de

valores em dinheiro destinavam-se exclusivamente ao

pagamento de fornecedores, aplicação em at ivos ou

dis t r ibuição de lucros ent re sócios."

Ou s e j a , MARCOS V A L É R I O negou que os saques de valores

em dinheiro s e destinassem exclusivamente ao pagamento de

fornecedores, que f o i alegado por muitos dos acusados de

corrupção passiva, como veremos oportunamente.

Outro depoimento muito re l evan te do acusado MARCOS

V A L É R I O é o de f l s . 727 /735 (volume 3 dos a u t o s ) . C i t o os

t r echos per t inen tes ( a p a r t i r de f l s . 7 3 1 ) :

( . . . ) no que se r e f e r e aos empréstimos

contraídos em b e n e f i c i o do P T , a s informações que l h e

foram detalhadamente repassadas por Delúblo Soares

eram no s e n t i d o de que esse dinheiro não entrar ia na

contabilidade o f i c i a l do part ido e, portanto, ele,

Delúbio Soares, indicar ia ao declarante os

dest inatár ios de parcelas do montante t o t a l ( . . . ) que,

como os par t idos d e s t i n a t á r i o s dos recursos também não

contabilizaram essas dívidas, os recursos tinham que . ,

s e entregues em espécie, Ja que a movimentação no

sistema financeiro deixaria um regis t ro de operações

gue não tinham sido contabilizadas; que, desta forma,

surgiu a sistemática de saques das contas do

declarante e repasses, em dinheiro, à s pessoas

Page 156: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@&?&mo fl&&& Inq 2 .245 / MG

011876

indicados por Delúbio Soares, ou mesmo trans ferência a

fornecedores pelo mesmo indicados;".

Ora, o acusado confessa a ocultação do movimento das

vu l tosas quantias que alimentavam, em t e s e e nos termos da

denúncia, o suposto esquema criminoso de corrupção de

parlamentares.

MARCOS VALÉRIO d i z mais , no mesmo depoimento:

"Que, quanto a origem dos empréstimos, o

dec larante e sc larece que t e v e conhecimentos que, por

ocasião das suas t r a t a t i v a s para obtenção dos mesmos

jun to ao BMG e Rural , Delúbio Soares l h e informou que

JOSÉ DIRCEU t e v e reuniões com os d i r i g e n t e s de ambos

os bancos; que, a reunião com d i r igen t e s do Banco

Rural ocorreu no Hotel Ourominas, em Belo Horizonte,

num jantar, e a outra reunião, com a Diretoria do

Banco BMG, ocorreu em Brasil ia/DF; que, no primeiro

semes t r e , o declarante acompanhou as Diretorias de

ambos os bancos em audiências o f i c i a i s com o então

Ministro José Dirceu ( . . . ) ; que, indagado sobre o

empréstimo a ex esposa do ex-Ministro José Dirceu,

chamada Ângela, o depoente confirmou que e fe t ivamente

houve o empréstimo do Banco Rural e a coiocaçâo com

emprego no Banco BMG; que, o dec larante f o i procurado

por S í l v i o Pereira para a u x i l i a r o e x Minis t ro José

Dirceu na resolução de um problema pessoal com sua ex

esposa, que pretendia t rocar de apartamento e não

t inha recursos f inanceiros; que, des ta forma, foi conseguido o empréstimo e o emprego, e , também, o

sócio do declarante, ROGÉRIO TOLENTINO, para reso lver

Page 157: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

o problema, j á que o c r é d i t o i m o b i l i á r i o dependia do

pagamento de recursos em d inhe i ro , comprou o

apartamento da S ra . Ânge la , pagou a v i s t a e dec la rou a

a q u i s i ç ã o n o seu i m p o s t o d e renda; ( . . . ) que, sobre o

documento i n t i t u l a d o "Relação de pe s soas i n d i c a d a s

p e l o PT que receberam recursos emprestados a o PT",

pres ta os segu in te s esc larec imentos: Waldemar Costa

Neto /Jac in to Lamas: Delúbio Soares l h e repassou o nome

de ambos, i n c l u s i v e t e l e f o n e de conta to , para

t rans fe rênc ia de recursos , primeiramente para a

empresa GUARANHUNS EMPREENDIMENTOS, I N T E R M E D I A Ç ~ E S E

PARTICIPAÇÕEs S/C, conforme indicado na p lani lha

apresentada, e , num segundo momento, na modalidade de

saques r e a l i z a d o s na agênc ia d o Banco Rural em

B r a s i l i a , ou por SIMONE VAÇCONCELOS, ou p e l o s p r ó p r i o s

d e s t i n a t á r i o s d o s r e c u r s o s ; que, e s c l a r e c e que, n a

época, f o i f e i t o um c o n t r a t o entre a SMP&B e a empresa

GUdWiWüNS, para j u s t i f i c a r a s s a í d a s d e r e c u r s o s ,

embora a c o n t a b i l i z a ç ã o da empresa tenha s i d o f e i t a

como emprés t imos a o PT; que, f o i JACINTO LAMAS quem

apresentou o nome da GUARANHUNS como sendo

d e s t l n a t á r l a desses recursos f lnance lros; ( . . . ) esc larece que a s i s t e m á t i c a adotada em con jun to com a

d i r e ç ã o d o Banco Rural para f a c i l i t a r a s

t r a n s f e r ê n c i a s dos r e c u r s o s f o i a i n d i c a ç ã o , por

r e p r e s e n t a n t e s da SMP&B, por fdx ou e -ma i l , a o s

f u n c i o n á r i o s da agênc ia d o Banco Rural em B e l o

Hor i zon t e , do número d o cheque, v a l o r e pessoa que

i r i a l e v a n t a r os r e c u r s o s , uma v e z que se t ra tavam d e

cheques nomina is a SMP&B, endossados n o s e u v e r s o

( . . . ) ; que, em algumas s i tuações , somente em B r a s í l i a ,

Page 158: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R+ fl&&& Inq 2 .245 / MG

011878

a gerente SIMONE comparecia a agência do Banco R u r a l e

entregava pessoalmente o s recursos ou deixava o s

v a l o r e s separados na agência à d i spos ição dos

b e n e f i c i á r i o s ( . . . ) .

Ainda, a acusada SIMONE VASCONCELOS, Diretora

Financeira d a SMP&B, quando questionada acerca da razão pela

qual os saques e repasses de d inhe i ro para t e r c e i r o s eram f e i t o s

a través de cheques nominais a SMP&B, e não aos r e a i s

b e n e f i c i á r i o s daqueles v a l o r e s , respondeu o seguin te ( f l s .

593/595 , volume 3 ) :

"Que, mesmo sendo Diretora Financeira da

SMP&B, desconhece a natureza de vár las autorizações de

pagamento, bem como o d e s t i n a t á r i o , de cheques

emi t idos pe la SMP&B, po i s apenas seguia ordens d e

MARCOS vT~RIo; ( . . . ) Que o s cheques des t inados a

ZILMAR -ES DA SILVEIRA eram emi t idos

nominalmente à SMP&B e endossados pe la mesma; Que - t a l

procedimento seguia determinação de MARCOS VALÉRIO;

( . . . ) Que realmente f o l a responsável pelos

lançamentos g r á f i c o s cons tantes no verso do documento

de f l s . 4 4 do Apenso 5 dos au tos , a exceção dos nomes

VANDERVAL e C É L I O ; ( . . . ) Que, em 2004, MARCOS vALÉRIo

passou a o r i e n t a r a dec larante que r e a l i z a s s e

depós i tos na conta da empresa BOiVü.5 &9NVAL, d e va lores

que seriam des t inados ao P T ; ( . . . ) Que MARCOS vALÉRIo

também or ien tou a dec larante a e f e t u a r t r a n s f e r ê n c i a s

e depós i tos para a conta da GUARANHUNS

EMPREENDIMENTOS, I-DIAÇÕES E PARTICIPAÇ~ES S / C

LTDA; ( . . . ) Que acred l ta que todos o s va lores sacados

Page 159: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

I n q 2 .245 / MG

em seu nome e que foram e n t r e g u e s a t e r c e i r o s , bem

como o s d e p ó s i t o s n a s c o n t a s das empresas BÔNUS BANVAL

e G U . S r e f e r e m - s e a o s emprés t imos f e i t o s p o r

MARCOS VALÉRIO j u n t o a i n s t i t u i ç õ e s b a n c á r i a s e que

eram d e s t i n a d o s a o P a r t i d o dos Trabalhadores; ( . . . ) Que, da mesma forma, todos os va lores repassados pe las

empresas de MARCOS VALÉRIO, conforme re la tado , t lveram

or igem nos emprés t imos r e a l i z a d o s j u n t o a o s bancos BMG

e Rura l ; ( . . . ) I r .

O acusado JACINTO LAMAS t rouxe outras contr ibuições

para as inves t igações , corroborando os termos d a denúncia ( f l s .

"Que recebeu uma l i g a ç ã o d e SIMONE

VASCONCELOS; Que SIMONE f a l o u para o DECLARANTE que

e s t a v a com a encomenda que DELÚBIO h a v i a ped ido para

e n t r e g a r a o Deputado VALDEMAR COSTA NETO; ( . . . ) Que,

sa lvo engano, SIMONE VASCONCELOS combinou a e n t r e g a d o

dinheiro em um hotel; Que, pe lo que se recorda, - o

h o t e l onde r ecebeu p e l a p r ime i ra v e z v a l o r e s d e SIMONE

foi o Kubitschesk P laza ; Que, após receber l i gação de

SIMONE, d l r l g l u - s e ao l o c a l do encontro para receber a

encomenda; Que, ao chegar no h o t e l , f o i d i r e tamen te

para o apartamento onde SIMONE e s t a v a hospedada; Que - o

DECLARANTE e n t r o u n o q u a r t o e recebeu d e suas mãos um

enve lope d e pape l pardo grande, contendo em s eu

i n t e r i o r uma q u a n t i a em d i n h e i r o ; ( . . . ) Que SIMONE

apenas f a l o u que aque la encomenda e r a d o D r . DELÚBIO

SOARES para o Deputado VALDEMAR COSTA NETO; Que SIMONE

estava sozlnha no h o t e l ; ( . . . ) Que após p r i m e i r o saque,

ocorrldo provavelmente em junho d e 2003, recebeu

Page 160: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

H&&& Inq 2 .245 / MG 011880

o u t r o s chamados de SIMONE para receber v a l o r e s em

e s p é c i e ; Que a entrega de v a l o r e s por SIMONE não t i n h a

nenhuma regular idade d e data; ( . . . ) Q u e , s a l v o e n g a n o ,

se encontrou com SIMONE duas o u t r a s vezes, no h o t e l

MERCURE, para receber v a l o r e s em dinheiro, c o n f o r m e

o r l e n t a ç á o d o Deputado F e d e r a l VALDEMAR COSTA NETO;

Que, e s s a s d u a s o u t r a s e n t r e g a s foram r e a l ~ z a d a s

s e g u i n d o o mesmo procedimento já r e l a t a d o , ou s e j a , g

DECLARANTE receb ia l i g a ç õ e s t e l e f õ n i c a s , pr imeiro do

Deputado VALDEMAR COSTA NETO, a v l s a n d o da i m l n ê n c l a da

e n t r e g a d o s valores, e , em seguida, de SIMONE

VASCONCELOS, informando o horár io e o l o c a l da entrega

do d inhe i ro ; ( . . . ) Que, da mesma forma, entregou os

d o i s saques d ire tamente para o Deputado Federal

VALDEMAR COSTA NETO, em encontros ocorridos em sua

r e s i d ê n c i a ; . . . ) . . . ) Que em uma oportunidade recebeu

v a l o r e s de SIMONE na sede da SMP&B em Brasil ia/DF,

l o c a l i z a d a no E d i f í c i o da Confederação Nacional do

Comércio - CNC, no S e t o r Bancário N o r t e ; Que pode ter

recebido uma segunda v e z v a l o r e s na sede da SMP&B em

Brasil ia/DF; ( . . . ) p o d e t e r recebido l i g a ç õ e s de

MARCOS VALÉRIO informando que SIMONE já es tava em

~ r a s i l i a / D F para lhe procurar; ( . . . ) Q u e , s a l v o

e n g a n o , em três ou quatro v i s i t a s que f e z à sede da

SMP&B em Belo Horizonte , recebeu de empregados de

MARCOS MRIO envelopes contendo documentos a serem

entregues ao Deputado Federal VALDEMAR COSTA NETO em

São Paulo/SP; Que n ã o s a b e d l z e r d o que se t r a t a v a m

t a l s d o c u m e n t o s ; ( . . . ) ".

Page 161: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

Assim, há, também aí, indícios de ocultação e

dissimulação da movimentação e propriedade de valores,

supostamente arquitetadas pelo núcleo publicitário, juntamente

com o Banco ~ u r a l ~ , que teria viabilizado os repasses de grande

volume de dinheiro, em espécie, sem qualquer tipo de registro

formal .

Examino a situação especifica do denunciado ROGÉRIO

LANZA TOLENTINO.

Embora, como já assinalei anteriormente, o acusado

ROGÉRIO LANZA TOLENTINO negue, em sua resposta escrita, que seja

sócio de MARCOS VALÉRIO e, com isto, busque afastar os indícios

de sua participação nos crimes objeto da denúncia, este fato não

é relevante. Assinalo, apenas para registro, que o acusado

MARCOS VALÉRIO, em inúmeros depoimentos (como o lido acima),

contradiz esta afirmação. Confira-se, por exemplo, o depoimento

de fls. 1454/1465, do qual retiro o seguinte trecho:

Que [JOSÉ] JANENE afirmou ao DECLARANTE que

gostaria que os recursos a serem repassados em nome do

Partido dos Trabalhadores para o Partido Popular

fossem encaminhados para a corretora BÔNUS BANVAL;

( . . . ) Que os recursos encaminhados à BONUS BANVAL

partiram das contas das empresas 2s PARTICIPAÇÕES

LTDA. E ROGÉRIO LÃNZA TOLENTINO ASSOCULDOS; Que a

TOLENTINO ASSOCIADOS transferiu para a BÔNUS BANVAL o

Cuja participação será analisada a seguir.

106

Page 162: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@-&&&a Inq 2.245 / MG

0 11 8 8 2

total de R$ 3.460.850,OO (três milhões quatrocentos e

sessenta mil oitocentos e cinquenta reais) . . .

Como já salientei, ROGÉRIO TOLENTINO era, de fato,

advogado da SMPSB, através da empresa LANZA TOLENTINO &

ASSOCIADOS, da qual MARCOS &RIO também é sócio, mas isto é

irrelevante para efeitos de recebimento da denúncia, ante os

indicios acima apontados. Assim, deixa de ser importante o fato

de o acusado não ser sócio efetivo da SMPSB.

Com relação aos demais denunciados do denominado

"núcleo publicitário", os depoimentos de fls. 631/633; 655/657;

752/754; 818/820; 838/840; 992/994; 1030/1032; 1440/1443;

1619/1620; 1622/1624; 1675/1677; 1686/1691; 1693/1696;

1698/1700; e 2022/2023, também trazem indicios da prática do

crime de lavagem de dinheiro pelos acusados, tendo em vista que

os depoentes - a maioria formada por pessoas de baixa condição

financeira - confirmam ter recebido elevado valor em espécie nas

agências do Banco Rural, sendo que este valor seria destinado a

outras pessoas, sem que o "sacador" soubesse, necessariamente,

quem seria o destinatário final do dinheiro.

Assim, por exemplo:

- Benoni Nascimento de Moura, motorista da Bônus

Banval (fls. 655/657);

- Aureo Marcato, "office bof da Bônus Bonval, sem

carteira assinada (fls. 818/820);

Page 163: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+&&&& Inq 2.245 / MG 011883

- Francisco de Assis Novaes Santos, garçom (fls.

838/840) ;

- Luiz Eduardo Ferreira da Silva, mensageiro;

- Luiz Carlos da Costa Lara, policial civil,

supostamente usado por GEISA DIAS (fls. 1030/1032);

- Júlio Cesar Marques Cassao, empregado da DNA

PROPAGANDA LTDA (fls. 1619/1620);

- Wagner Valter Monteiro, empregado da DNA PROPAGANDA

LTDA. (fls. 1622/1624);

- David Rodrigues Alves, inspetor da Polícia Civil do

Estado de Minas Gerais, que afirma ter efetuado saques no valor

de duzentos mil a trezentos mil reais, a pedido de SIMONE

VASCONCELOS e, principalmente, GEISA DIAS, a quem, geralmente,

entregava os valores recebidos na agência do Banco Rural (fls.

1693/1696) ;

- Alessandro Ferreira dos Santos, "office bof da

SMP&B (fls. 1698/1700);

- Wildeu Gleidson Castro Silva, vendedor de peixes

(fls. 2022/2023) .

Estas e outras pessoas foram incumbidas, seja por

GEISA DIAS, por SIMONE VASCONCELOS, por RAMON HOLLERBACH (v.

fls. 1441, depoimento de Aluísio Espírito Santo - volume 6 dos

autos), por CRISTIANO PAZ (v. fls. 1694, depoimento de David

Rodrigues Alves - volume 8 dos autos), ou por seus subordinados,

Page 164: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R- 8 Z k b d & & Inq 2 .245 / MG 011884

de se dirigirem a uma agência do Banco Rural e sacar elevadas

quantias em espécie, para destinação por eles desconhecida.

Por esta razão, Sra. Presidente, meu voto é no sentido

do recebimento da denúncia contra os acusados MARCOS VALÉRIO,

ROGÉRIO TOLENTINO, RAMON HOLLERBAH, CRISTIANO PAZ, SIMONE

VASCONCELOS e GEISA DIAS, tendo em vista a descrição dos fatos,

sua obediência ao art. 41 do Código de Processo Penal e a

existência de justa causa para tanto.

Relativamente ao denominado "núcleo financeiro" da

suposta quadrilha, temos alguns dados muito importantes que

corroboram o teor da inicial acusatória.

É de se observar, em primeiro lugar, que os saques

eram feitos, em geral, através de cheques nominais a SMPLB.

Entretanto, os valores eram entregues a outras pessoas, e não a

SMPLB (que, como nominada, era a única que poderia sacá-lo).

É, portanto, patente a completa irregularidade da

transação. Ou seja, o Banco Rural permitia o saque, POR

TERCEIROS, de cheques nominais a SMPLB. Este não é, obviamente,

o procedimento legalmente previsto para o saque de um cheque

nominal !

Page 165: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

Assim, de acordo com o afirmado pelo Parquet na

denúncia, o Banco Rural tinha conhecimento de quem era o

verdadeiro sacador, bem como em nome de quem aquelas pessoas

sacavam - ou seja, os denunciados conheciam o beneficiário final dos recursos sacados na "boca do caixa" das contas de Marcos

Valério. E esta assertiva se comprova com os e-mails enviados

por GEISA Dias, informando quem era, de fato, a pessoa que iria

sacar/rec&er o dinheiro, e por quem recebia.

Ao contrário, porém, o Banco Rural registrava, em

acordo com o núcleo de Marcos Valério, que o valor havia sido

sacado pela própria SMP&B e que os recursos sacados se

destinavam ao 'pagamento de fornecedores'. Ora, fi.ca claro que

se pretendeu, ao menos em tese, dissimular a localização,

propriedade e movimentação de valores provenientes,

supostamente, de crimes praticados por organização criminosa.

Isto porque, em vez de se fazer uma transferência bancária ou um

DOC, ou, no mínimo, lançar, no anverso do cheque, o verdadeiro

sacador, portador do cheque nominal (cheque este que, portanto,

deveria estar nominal .a ele, sacador) , lançava-se o nome da

própria SMPhB, fazendo parecer que os valores, em espécie,

entregues pelo Banco Rural se destinavam, efetivamente, à

agência de publicidade. Este o conceito de dissimulação (fazer

parecer), que é elemento do tipo de lavagem de dinheiro.

Page 166: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

d$kSeW NU&& Inq 2 .245 / MG

011886

Apenas para exemplificar com um dos casos narrados

pelo Parquet, o procedimento foi adotado pelo Banco Rural, em

acordo com MARCOS VALÉRIO e seus sócios aqui denunciados, na

ocasião em que JOÃO CLÁUDIO GENU, assessor do líder do PP na

Câmara, sacou 300 mil reais, em espécie, na agência de Brasilia

do Banco Rural, ocasião em que a instituição registrou, na opção

PCAF 500 do Sisbacen, que a sacadora havia sido a SMPhB

Comunicação Ltda., beneficiária "oficial" do cheque, na agência

de Belo Horizonte, e que tinha por fim o 'pagamento de

fornecedores'. Tais informações constam do Relatório de Análise

no 191/2006, elaborado pela Divisão de Pesquisa, Análise e

Informação da Procuradoria da República no Distrito Federal

(apenso no 81).

Este teria sido, portanto, o modus operandi utilizado

pelo grupo de MARCOS VALÉRIO e pelo Banco Rural para omitir do

Banco Central a identificação dos verdadeiros

beneficiários/sacadores de recursos, permitindo que terceiros

recebessem os valores sacados através de cheques nominais à

SMP&B (o suposto valerioduto) .

Aliás, no que tange a suposta responsabilidade do

Banco Rural pela concepção desse mecanismo de lavagem narrado

pelo Procurador-Geral da República, é interessante ler a

entrevista concedida por CARLOS GODINHO, ex-Superintendente de

Page 167: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@e NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

011887 ~ o m ~ l i a n c e ' do Banco Rural ( f l s . 3368/3373, volume 1 5 ) , à Revista

Época (Edição 391 - Nov/05) , em reportagem i n t i t u l a d a " A caixa-

preta do Rural", v e r b i s :

Desde que apareceu como a casa do mensalão,

o Banco Rural alega t e r se envolvido com o PT e Marcos

Va lér io por i n i c i a t i v a exclusiva de seu ex-vice-

presidente José Augusto Dumont, fa lec ido no ano

passado. Dumont era realmente amigo de Va lér io e por

meio de le se aproximou de Delúbio Soares, então

t e soure i ro do par t ido . H á f o r t e s s i n a i s , no entanto,

de que o esquema não foi coisa só de Dumont.

Documentos obt idos por ÉPOCA e o depoimento do ex-

superintendente do Rural Carlos Godinho mostram que,

mesmo após a morte do executivo, toda a d i r e to r ia do

banco continuou encenando a farsa dos empréstimos - e

ninguém desconhecia que tudo era mesmo uma enorme

farsa .

( . . . I

Carlos Godinho, 52 anos, 17 no R u r a l ,

ocupava uma posição de confiança no banco. Como

superintendente de compliance, área que cuida do

cumprimento das regras do banco, t inha acesso às

informações mais importantes da i n s t i t u i ç ã o . Seu

depoimento não é prova, mas o ferece elementos novos à

invest igação dos supostos empréstimos f e i t o s ao PT e à

' Setor de "controle interno" da Instituição Financeira, em que se busca adequar suas atividades as leis e a regulamentos internos e externos, bem como assegurar a observância a princípios éticos e normas de conduta. Dentre outras medidas, a área de Compliance é responsável pelo fomento a cultura de Prevenção a Lavagem de Dinheiro, através de treinamentos específicos. V. Resolução na 2.554/98, do Banco Central do Brasil, que impôs a criação do setor de controle interno nas Instituições Financeiras. Sobre o tema: http://www.abbi.com.br/funcaodecom.~liance.h:iiil.

Page 168: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@e fl&&& Inq 2.245 / MG

011888

SMP&B, de MARCOS VALÉRIO. A segu i r , trechos de quatro

e n t r e v i s t a s que e l e concedeu na semana passada.

ÉPOCA - Os empréstimos do Banco R u r a l para

o PT e para a agêncla SMP&B de Marcos Va lér io , foram

f a j u t o s ?

Carlos Godinho - É f o r t e f a l a r I S S O , mas

e l e s não são uma prát lca normal de mercado. Na conta

da SMP&B entrava d i n h e i r o , mas o Marcos V a l é r i o não

l iqu idava os empréstimos. É s u s p e i t o . No caso do PT, é

o a v a l de duas pessoas que não têm patrlmônio para

garant i r a operação (o ex- tesoure iro do partido

Delúbio Soares e o ex-presidente José Genoino).

ÉPOCA - O senhor acha que esses empréstimos

foram feitos para não ser pagos?

Godlnho - Com c e r t e z a . São empréstimos para

mascarar a entrada de recursos que vinham d e o u t r a s

formas. Você j u s t i f i c a qualquer recurso que en t rou v i a

emprés timo. Não era para pagar.

ÉPOCA - Se era tudo tão e s q u i s i t o , por que

o senhor não av isou? Sua função era essa .

Godinho - Minha função era manter a

i n s t i t u i ç ã o l i v r e dos r i s c o s operacionais , de imagem e

l e g a i s . A d i r e t o r i a f o i a l e r tada . Mas, como a prát ica

do Rural era manter um relacionamento com os c l i e n t e s ,

e l e s não deram ~mpor tânc la . No caso da SMP&B,

alertamos também para a movimentação d e l a , que es tava

fora dos padrões e t i n h a i n d í c i o s de lavagem de

d inhe i ro em função dos cons tan tes saques em espéc ie .

Page 169: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@i&zk?.w &a&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

ÉPOCA - Q u a i s eram os i n d í c i o s d e l avagem

d e d i n h e i r o ?

Godinho - O Banco Rural tem um processo

informatizado que, se você movimentar dez vezes mais

que seu faturamento médio mensal, aponta i s s o para a

área d e compliance. O que a gente faz? Pega esse

r e l a t ó r i o , manda para o d i r e t o r e o v ice-pres idente ,

dizendo que aquele cliente ultrapassou a movimentação

dele. No caso, a S M P & B , em 2003 e 2004, todo mês

acontecia i s s o . E n t ã o , a gente encaminhava para a

d i r e t o r i a dizendo que o cliente estava com i n d í c i o s d e

lavagem d e dinheiro. E nenhuma providência f o i tomada.

ÉPOCA - Quem v o c ê s a l e r t a r a m ?

Godinho - T a n t o o J o s é A u g u s t o Dumont como

o José Roberto Salgado, a Ayanna Tenório, todos os

v ice-pres identes tomaram ciência dessa movimentação.

ÉPOCA - Em v á r l a s ocasiões, a a tual

d i r e t o r i a do Rural a t r i b u i u o e n v o l v l m e n t o com Marcos

V a l é r l o e com o PT ao fa lec ido vice-presidente do

banco José Augusto Dumont...

Godlnho - I s s o f o i uma coisa que nos

i r r i t o u profundamente. É fa l sa essa afirmação. Esses

empréstimos venciam d e 90 em 90 d ias e , depois da

morte do José Augusto, foram renovados com ciência do

comitê d e créd i to , dos v ice-pres identes e , i n c l u s i v e ,

da pres idente .

Page 170: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

ÉPOCA - O R u r a l sempre deu a entender que

K á t i a Rabello (pres iden te do banco) estava por fora

d i s s o tudo. E l a autorizou a rolagem dos empréstimos?

Godinho - Autorizou. Tem um dos empréstimos

em que ela votou eletronicamente, com sua senha

pessoal. Isso é prova do conhecimento. Então é o

segu in te : o José Augusto não é o v i l ã o da h l s t ó r l a .

ÉPOCA - Quem é o v l l ã o ?

Godinho - O v i l ã o é o sistema que se

mantinha no Rural, que pactuou com as operações do PT

e do Marcos Valério em troca de favores, lobbies,

recursos ao Banco Central, a Órgãos fiscalizadores e

negócios que beneficiaram o Rural nestes anos.

ÉPOCA - O s a l e r t a s que o senhor fa z ia eram

por e s c r i t o ou eram verba i s?

Godinho - A gente t inha boletins de

conrpliance, em que a gente alertava por escrito. Assim

que o primeiro fo i impresso, emitido e assinado, - foi

dada ordem para não fazer mais, para comunicar ao

diretor verbalmente.

ÉPOCA - Mandaram não f a z e r m a i s b o l e t i n s ?

Godinho - Mandaram não fazer nos casos da

SMP&B e do PT. Não deixaram colocar nos r e l a t ó r i o s a s

irregularidades de movimentações acima dos padrões, de

r i s c o de c r é d i t o em função de cons tantes renovações. É

que esses documentos ficam a disposição do Banco

Central. Então, mandaram t i r a r para o Banco Central

não ter acesso.

Page 171: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

~~ &&&& Inq 2 .245 / MG

ÉPOCA - Quando f o i i s s o ?

Godinho - De 2003 a 2005 não se colocou

nada das i r regu lar idades . Não podia colocar. A gente

colocava, mas na ed ição f i n a l eram de le tadas . E a

gente era obrigado a ass inar o r e l a t ó r i o modificado.

Tinha de ass inar daquela forma, já v inha da d i r e t o r i a

a versão f i n a l para ser assinada.

ÉPOCA - Quem o senhor avlsava sobre os

r l s c o s dos empréstnnos ?

Godlnho - O V i n i c i u s Samarane, que era meu

imedia to , diretor e s t a t u t á r i o . O José Roberto Salgado.

I n c l u s i v e ele era o responsável pe la prevenção à

lavagem de d inhe i ro no banco na época do José Augusto

Dumont. Depois da entrada da Ayanna, ele s a i u e - e l a

passou a ser a responsável - e também era avisada das

i r regu lar idades . O Banco Central teve conhecimento de

todas a s renovações.

ÉPOCA - Como?

Godinho - Nós temos de mandar todo mês um

arquivo para a Central de Risco do Banco Central de

todos os empréstimos, e l á f a l a " i s s o é renovação". No

caso do PT e da SMP&B, você informava todos os meses

ao Banco Central os empréstimos tomados, o saldo

devedor e se era empréstimo novo ou renovação. O Banco

Central t inha conhecimento da constância com que o PT

e a SMP&B f a z i a m reformas de empréstimos. Toda a

movimentação f o i para o Coaf, mas e l e s não olham. Se

olham, e x i s t e um lobby muito f o r t e em cima d i s s o .

Page 172: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R* Inq 2 .245 / MG

ÉPOCA - Eles tinham obrigação de saber ou é

tanta informação que e l e s não conseguem examinar tudo?

Godinho - E l e s fazem um moni toramento , a

função d e l e s é min imi zar o r i s c o do mercado

f i n a n c e i r o . Um d o s m o t i v o s d e c r i a r a Cen t ra l d e R i s c o

f o i jus tamente mon i to rar o s bancos e p r i n c i p a l m e n t e

e s s a rolagem d e dívidas.

Ve ja - se , também, t recho do depoimento de JACINTO SOUZA

LAMAS, que revelou t e r recebido valores diretamente das mãos de

S I M O N E VASCONCELOS num primeiro momento, e , depois , t e r passado

a sacar os va lores na agência do Banco Rural em Bras i l ia ( f l s .

6 1 2 ) :

"Que , sa lvo engano, se encon trou com SIMONE

duas o u t r a s v e z e s , n o hotel MERCüRE, para receber

v a l o r e s em dinheiro, conforme or ien taçáo do Deputado

Federal VALDEMAR COSTA NETO; Que, essas duas outras

entregas foram rea l i zadas seguindo o mesmo

procedimento lá re la tado , ou s e j a , o DELCARANTE

r e c e b i a l i g a ç õ e s t e l e f ô n i c a s , p r ime i ro do Deputado

VALDEMAR COSTA NETO, avisando da iminência da entrega

dos va lores , e , em s egu ida , d e SIMONE VASCONCELOS,

in formando o h o r á r i o e o l o c a l da e n t r e g a d o d i n h e i r o ;

( . . . ) Que, da mesma forma, en t r egou o s d o i s saques

d i r e t a m e n t e para o Deputado Federal VALDEMAR COSTA

NETO, em encon t ro s o c o r r i d o s em sua r e s i d ê n c i a ; Que,

p o s t e r i o r m e n t e , o procedimento mudou, quando o

d e c l a r a n t e passou a b u s c a r o documento encaminhado p o r

DELÚBIO SOARES na Agência B r a s i l i a d o Banco Rura l ; Que

Page 173: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

& $ fl&&& Inq 2.245 / MG

se encontrou duas vezes com SIMONE na agência Brasilia

do Banco Rural, tendo recebido de suas mãos os pacotes

com quantias de dinheiro; Que algumas vezes SIMONE

deixava anotações na agência Brasília do Banco Rural,

com autorizações para que o DECLARANTE efetuasse o

saque dos valores; Que todo o dinheiro recebido na

Agência Brasilia do Banco Rural também foi repassado

diretamente para o Deputado VALDEMAR COSTA NETO;

( . . . ) " .

Assim, pode-se perceber que há indícios de

participação do Banco Rural nos fatos objeto da acusação.

Os acusados negam todas as acusações e reclamam da

ausência de uma individualização detalhada da conduta de cada um

na prática dos supostos crimes de lavagem de dinheiro. Fica a

pergunta: quem, então, estaria envolvido nos ilícitos

supostamente praticados no interior das agências do Banco Rural?

Para respondê-la, ao menos neste momento inicial, em que somente

se exige um minimo de prova, é necessária a leitura de trecho do

depoimento prestado nos autos do inquérito por CARLOS ROBERTO

SANCHES GODINHO, no qual fica claro que os empresários do Banco

Rural denunciados pelo PGR eram responsáveis diretos pela área

de Prevenção a Lavagem de Dinheiro, bem como que possivelmente

tiveram responsabilidade direta na estruturação e funcionamento

deste suposto esquema de lavagem.

Page 174: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

fzgikwm &zU&& Inq 2.245 / MG

A importância d e s t e depoimento e s t á no f a t o de que o

depoente se tornou dissidente da estrutura do Banco Rural, no

momento em que notou que as operaçces suspeitas de lavagem de

dinheiro realizadas pela SMP&B e pelo PT não estavam sendo

incluídas nos relatórios enviados ao BACEN pela administração

superior do Banco, aqui denunciada.

Vejamos, en tão , o s esclarecimentos de CARLOS GODINHO

acerca da part ic ipação dos denunciados nos f a t o s o b j e t o do

presente i n q u é r i t o (v. denúncia, f l s . 5 6 9 1 , v o l . 27 e , ainda,

apenso 8 4 , onde e s t á acostada a in t egra do depoimento) :

' . . . ) Que, durante a s apurações da CPI do

"PC F a r i a s " , o Banco R u r a l d e f i n i u a criação de uma

aud i tor ia m a i s dinâmica e automa t i z a d a , razão pela

qual o depoente f o i convidado para ocupar a respec t iva

Superintendência, e por s e r também uma pessoa de

confiança do D r . Sabino Rabel lo , então Presidente;

( . . . ) Que atuava hierarquicamente vinculado a um

Diretor Estatutário, que, na época, era o Sr. José

Augusto Dumont; Que, t ranscorr ido e s s e periodo, o

depoente retornou à área de in formát i ca , onde

permaneceu a t é o ano de 2001, ocasião em que f o i

d e f i n i t i v a m e n t e t r a n s f e r i d o para a área de compliance;

Que, na época, o Dire tor E s t a t u t á r i o dessa área era o

S r . João Heraldo L i m a , que era subordinado ao V ice -

Presidente José Augusto Dumont, e , a partir de 2004, o

depoente, enquanto Superintendente de Compliance,

estava diretamente subordinado ao Diretor Estatutário

Vinicius Samarane; ( . . . ) Que o Diretor Es ta tu tár io de

Page 175: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&gk%w fla&& Inq 2.245 / MG

0 1 1 5 9 5

Controles In t e rnos , V i n í c i u s Samarane, e n c o n t r a v a -se

s u b o r d i n a d o à V i c e - P r e s i d ê n c i a d e A p o i o O p e r a c i o n a l , q u e era ocupada p e l a S r a . Ayanna Tenório; Q u e , a t é o

f a l e c i m e n t o d o V i c e - p r e s i d e n t e J o s é A u g u s t o Dumont,

t o d o s os Diretores E s t a t u t á r i o s eram s u b o r d i n a d o s à

V i c e - P r e s i d ê n c i a E x e c u t i v a ; Q u e , a p ó s o f a l e c i m e n t o ,

no ano de 2004, foram cr iadas duas Vice-Pres idênc ias ,

uma operacíonal e a o u t r a de apoio operacional; Que

t o d a a á r e a c o m e r c i a l e i n t e r n a c i o n a l f i c o u

s u b o r d i n a d a a o S r . José Roberto Salgado, V i c e -

P r e s i d e n t e da Área O p e r a c i o n a l , que também ocupava a

Pres idênc ia do Comitê de Prevenção à Lavagem de

D i n h e i r o , onde permaneceu desde a cr iação desse

Comitê, no ano de 2002, a t é o a n o , d e 2004, quando f o i

s u b s t i t u í d o p e l o Dire tor V i n i c i u s Samarane; Que a

o u t r a V i c e - P r e s i d ê n c i a , ocupada p e l a S r a . Ayanna

Tenório, de t inha o poder sobre a s Di re tor ias d e

Compliance, Contabi l idade, Jur id i co e Tecnologia,

sendo também responsável jun to ao Banco Central pe la

prevenção ao crime de lavagem de d i n h e i r o e i l i c i t o s

f i nance i ros ; Q u e , acima das Vice-Presidências ,

encontra-se a Presidência d o Banco, ocupada pe la Sra.

Kát ia Rabel lo desde 2001; ( . . . ) Que o C o m i t ê d e

Prevenção à Lavagem d e D i n h e i r o tem a f u n ç ã o d e

d e f i n i r a s p o l í t i c a s e d i r e t r i z e s e a n a l i s a r os casos

de i n d í c i o s de lavagem . . Q u e , com o ingresso de

V i n i c i u s Samarane na Presidência do Comitê, e s t e órgão

perdeu um pouco a sua dinâmica, v e z que o própr io

Di re tor d e Compliance e s tava respondendo p e l o Órgão

encarregado da prevenção à lavagem; Q u e , havendo

i n d í c i o de lavagem de d inhe i ro , a palavra f i n a l sobre

Page 176: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@e NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

os procedimentos a serem adotados é a do D i r e t o r

Responsável pe la C i rcu lar BACEN 2852; Que e s s e

Di re tor , quando de seu i n g r e s s o , e ra José Roberto

Salgado, s u b s t i t u í d o , em 2 0 0 4 , pe la Sra. Ayanna; Que o

S r . Ájax, enquanto a c i o n i s t a e membro do Conselho de

Administração, não t inha poder qerencial maior do que

a famí l ia do S r . Sabino, p r i n c i p a l a c i o n i s t a do Banco,

in tegrada p e l o mesmo e p e l a s suas f i l h a s , Júnia e

Kátia; Que, embora a Vice-Presidência sempre tenha

desempenhado poder admin i s t ra t i vo e qerenc ia l do

Banco, a ú l t ima palavra sempre competiu ao Pres idente;

Que a função de compliance é a de manter a

conformidade dos procedimentos do banco com a

l e g i s l a ç ã o e normativos ex t e rnos e i n t e r n o s ; Que,

sendo um banco de negócios com um número l i m i t a d o de

c l i e n t e s , há uma maior f a c i l i d a d e para v e r i f i c a ç ã o de

i r regu lar idades e i n c o n s i s t ê n c i a s nos procedimentos

adotados pe los c l i e n t e s ; Que a função do depoente não

era a de f i s c a l i z a r , m a s s i m de recomendar a

regular ização da ocorrência; Que, para t a n t o , f o i

cr iado um instrumento para f a c i l i t a r o t rabalho

denominado 'programa de compliance' , c o n s t i t u í d o de um

código de é t i c a do banco, p o l í t i c a de "conheça seu

c l i e n t e " , procedimentos de prevenção a lavagem de

d i n h e i r o , tre inamento para todos o s funcionários sobre

a Le i 9.613/98; ( . . . ) Que a p o l i t i c a de "conheça seu

c l i e n t e " f o i implantada em 2002, com a cr iação do

r e l a t ó r i o "conheça seu cliente", que apresentava

i n d í c i o s dos clientes que movimentavam dez e quinze

v e z e s o seu faturamento mensal . . . Que e s s a s

ocorrênc ias geravam um r e l a t ó r i o automático, chamado

Page 177: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@+ fl&d*s& Inq 2 .245 / MG

"conheça seu cliente", que e ra encaminhado à Dire tor ia

E s t a t u t á r i a (Operacional e Dire tor responsáve l ,

segundo a C i rcu lar 2852) para j u s t i f i c a r se se t r a t a v a

de i n d i c i o d e lavagem; Que a s providências adotadas

pela Dlreção do Banco não eram de conhecimento do

depoente; Que e s s e r e l a t ó r i o cont inha campos para a

ind icação da j u s t i f i c a t i v a referente à ocorrência

levantada p e l o s i s t ema , permanecendo arquivado no

Banco, à dispos ição do BACEN e de outros órgãos, pe lo

período de cinco anos; Que a s j u s t i f i c a t i v a s devem ser

assinadas p e l o s r e s p e c t i v o s Di re tores , a quem compete

comunicar o f a t o ao Banco Centra l nas s i tuações que

entenderem c a b í v e i s ; Que esse r e l a t ó r i o era

apresentado mensalmente, havendo c l i e n t e s que

apareciam todo mês; Que a empresa SMPfiB aparecia

constantemente no r e f e r i d o r e l a t ó r i o , i n c l u s i v e a

p a r t i r do ano de 2003, ass im como a empresa G r a f f i t i ,

cu ja aparição pode a f i rmar ter ocorr ido ao menos uma

v e z ; ( . . . ) Que, pela Resolução Bacen 2554, o banco é - obrigado a elaborar um r e l a t ó r i o semestral de

con t ro les i n t e r n o s e de compliance, que é encaminhado

ao Conselho de Administração e assinado pe los seus

membros ( ) ; Que esse documento r e l a t a a s

i r regu lar idades encontrados p e l o compliance,

a u d i t o r i a , i n s p e t o r i a e c o n t r o l e s i n t e r n o s , suas

recomendações para adoção de prov idências bem como o

prazo e o setor responsável para regu lar i zar a

s i tuação; Que a s informações referentes à s operações

(empréstimos, movimentação, saques em espéc ie )

r e a l i z a d a s pe lo PT e SMP&B nunca foram i n s e r i d a s nesse

r e l a t ó r i o ; Que esse r e l a t ó r i o não e ra gerado

Page 178: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

automaticamente pe lo sistema desenvolvido pelo

depoente, mas s im elaborado pe los responsáveis de

compliance, audi tor ia i n t e rna e in spe to r ia , sendo

assinado pelos respec t i vos Superintendentes e pelo

Diretor de Controles Internos e Compliance, com a

c iência de todo o conselho d e Administração; Q u e o

primeiro r e l a t ó r i o f o i elaborado a p a r t i r do ano de

2003 - não obs tan te a Resolução 2554 d a t a r do ano de

1998 - em razão de so l i c i t ação do Banco Central , após

real ização de inspeção globalizada; Que, nesse período

foram elaborados s e i s relatórios semes t ra i s , sendo

que, como no ú l t imo não apontava a s irregularidades

r e l a t i v a s a SMPB e ao P T , o depoente se recusou a

assiná-lo; Que esse ú l t imo r e l a t ó r i o data d e 30 de

junho de 2005; Que, nos demais, também não constaram

a s irregularidades das operações da SMPB e do PT, que

foram iden t i f i cadas nos r e l a t ó r i o s de compliance, mas

o depoente se v i u compelido a ass inar para garantir o

seu emprego; Que o depoente , em razão da sua função no

banco, era o responsável pela elaboração da versão

i n i c i a l desse r e l a t ó r i o semes tra l ; Que faz ia constar

todas a s irregularidades apuradas pelo compliance,

audi tor ia in terna e inspe tor ia ; Que esse r e l a t ó r i o

seguia para o s seus superiores, a saber, João Heraldo

L i m a e , poster lormente , V in i c iu s Samarane, retomando

a versão f i n a l , já assinada pelos superiores, com o

nome do depoente e demais superintendentes para

ass inatura , sem aqueles apontamentos d e

irregularidades in ic ia lmente regis trados; Que, ao

observar que o documento com a ú l t i m a versão já

retornava a suas mãos assinado, i n c l u s i v e pelos

Page 179: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

& g B a & & Inq 2 .245 / MG

membros do Conselho de Administração, o depoente

entendeu não l h e r e s t a r outra a l t e r n a t i v a senão

a s s i n a r o documento; Que, por ocasião da elaboração do

ú l t imo r e l a t ó r i o , como o s f a to s j á estavam muito

expostos na d d i a , o depoente se recusou a ass iná- lo ,

sendo s inal izado que o compliance ser ia t e rce i r i zado - e

gue o depoente s e r ia convidado a deixar o banco v i a

PDV; Que o depoente comunicou a recusa em ass inar o - r e l a t ó r i o ao Diretor V i n i c i u s , o que ocasionou a

subs t i tu ição do r e f e r i d o documento, com a supressão do

campo dest inado à assinatura do Superintendente de

Compliance; Que, logo após, o Diretor V in i c iu s lhe

comunicou que o s s e to re s de Compliance e Auditoria

Interna seriam terce i r i zados , o que se comprovou com a

publicação do balanço em agosto de 2005; Que o

depoente entrou no PDV em agosto e saiu em setembro;

Que a única pessoa com autorização para i n t e r a g i r com

o Conselho de Administração era o Diretor V in i c iu s

Samarane, que também era responsável pela Secre tar ia -

Gera1 do Banco; ( . . . ) que outro relatório, elaborado

pela Inspe tor ia , é de responsabi l idade do s e t o r de

moni toramen t o , responsável por informar ao Banco

Central o s saques e depósi tos em espécie acima d e 100

mil r e a i s , bem como o s c l i e n t e s que apresentavam

movimentação com i n d í c i o s de lavagem d e dinheiro; Que

a Inspetor ia , depois de de tec tar os i n d í c i o s ,

s o l i c i t a v a autorização ao Diretor responsável pela

prevenção à lavagem de d inheiro para informar ao Banco

Central; Que, indagado, e sc larece que o grande

problema f o i o de não seguir a s normas de compliance,

notadamente quanto à ausência de segregação; Que, 5

Page 180: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

, Inq 2 . 2 4 5 / MG

p a r t i r de agos to de 2003, o depoente se recorda d e ter

observado movimentações fora dos padrões por p a r t e da

empresa SMPB, o que r e s t o u constatado por ambos os

r e l a t ó r i o s c r iados pe la sua Superintendência; Que os

r e l a t ó r i o s " conheça s e u c l i e n t e " e "movimentação acima

d o s padrões" eram g e r a d o s m e n s a l m e n t e na

S u p e r i n t e n d ê n c i a d e I n s p e t o r i a , que os apresentava ao

Diretor responsável pe la prevenção à lavagem de

d i n h e i r o ( . . . ) Que a V ice -pres iden te Ayanna n ã o

i n t e g r a v a o C o m i t ê C e n t r a l d e C r é d i t o , m a s , como

responsável pe la prevenção a lavagem d e dinheiro, não

podia a l egar que desconhecia a a t i p i c i d a d e das

movimentações acima do padrão; ( . . . ) Q u e , ~ n d a g a d o

sobre os i n d í c i o s de lavagem de d i n h e i r o nas operações

envolvendo Marcos V a l é r i o , o d e p o e n t e e s c l a r e c e q u e o s

mesmos d e c o r r e m da express i va movimentação de c r é d i t o

v i a t r a n s f e r ê n c i a e l e t r õ n i c a - TED, d o s empréstimos

concedidos e não l iqu idados ou amortizados e d o

excesso de saque em e s p é c i e , c a r a c t e r i z a n d o uma

p r á t i c a que, pe la l e g i s l a ç ã o , conf igura i n d í c i o de

lavagem de d inhe i ro ; Que, por tan to , conforme determina

a p a

ser informadas ao Banco Central como i n d í c i o de

lavagem de d inhe i ro ; Que o Banco R u r a l , a o a l e g a r ter

" i n f o r m a d o a o COAF" a s o p e r a ç õ e s em comen to ,

con t emp lava a p e n a s o s s a q u e s aclma d e 100 m i l r e a i s ,

c o n t r a r i a n d o o q u e d e t e r m i n a a L e i n . 9 . 613 ; Q u e , na

área i n t e r n a c i o n a l , não havia a tuação da

Superintendência de Compliance, da Superintendência de

Inspe tor ia ou de a u d i t o r i a i n t e r n a , sob alegação de

t u t e l a do s i g i l o bancário r e l a t i v o à i n s t i t u i ç ã o

Page 181: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

f inance i ra no e s t r a n g e i r o ; Que o S r . José Roberto

Salgado, a t u a l Vice-Pres idente , acumula a função de

d i r e t o r da Área In ternacional ( inc lu indo o câmbio), e ,

a t é 2004, também acumulava a função responsável pe la

prevenção à lavagem d e d inhe i ro ; Que a S r a . A y a ~ a

Tenório f o i contratada logo após a morte do D r . José

Auqusto Dumont, assumindo, de uma v e z , o cargo de

Vice-Pres idente de Apoio Operacional e a função de

responsável pe la prevenção à lavagem de dinheiro,

sucedendo o Vice-Pres idente José Roberto Salgado; Que

o depoente não tem conhecimento de que a Sra. A y a ~ a

t i n h a exper iênc ia na área bancár ia , tampouco em

procedimentos de prevenção à lavagem de d inhe i ro ; Que,

ao s e r convidado a i ngressar no PDV, sob pena de

desligamento sumário do banco, o depoente f i cou numa

s i tuação de d i f í c i l colocação no mercado, em razão da

desmoralização da área de compliance do Banco Rural e

das indicações da t e r c e i r i z a ç ã o da r e f e r i d a área ; Que

ou t ra razão que l e v o u o depoente a tornar públ icos o s

f a t o s narrados f o i a preocupação com eventual

imputação à área de compliance, p e l o Banco Rural , de

responsabi l idade pe las i r regu lar idades ( . . . ) ".

Ora, os d i r i g e n t e s do Banco Rural denunciados n e s t e s

autos t inham, como afirmado no depoimento supra,

responsabi l idade d i r e t a pela gestão da i n s t i t u i ç ã o f inance i ra ,

i n c l u s i v e no que concerne ao Comitê de Prevenção a Lavagem de

Dinheiro e pelas áreas de compliance, contabi l idade , jur ídica e

tecnológica ( o s denunciados são Presidente [Kát ia R a b e l l o ] ,

V ice-Pres idente [José Roberto Salgado] e Dire tores de Compliance

Page 182: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R- fl&&& Inq 2.245 / MG

[Ayanna Tenório] .e do Comitê de Prevenção a Lavagem [Vinicius

Samarane]).

Assim, não pode ser acolhida a alegação da defesa no

sentido de que não houve individualização detalhada da conduta

de cada um dos denunciados do Banco Rural.

No caso em questão, a acusação dirigida contra todos

se justifica em razão da evidente responsabilidade conjunta dos

gestores no sentido de prevenir a prática de lavagem, não sendo

possível narrar os atos individuais praticados por cada um.

Além disso, o depoimento de GODINHO demonstra que há

indícios de que os dirigentes do Banco Rural não apenas deixaram

de comunicar ao Banco Central as operaçoes suspeitas realizadas

pelos denunciados do núcleo MARCOS VALÉRIO, mas também, teriam

viabilizado e idealizado o suposto mecanismo para as ocultações

e dissimulações da movimentação e propriedade de vultosas

quantias em espéciee, em aparente união de desígnios com a

suposta organização criminosa, objeto da acusação.

Veja-se que, embora os acusados procurem atribuir a

responsabilidade por todas as irregularidades ao falecido José

Augusto Dumont, há indícios que corroboram a denúncia. Assim, em

primeiro lugar, cito pequeno trecho do depoimento da acusada

KÁTIA RABELLO perante o Conselho de Ética, no qual ela afirma

Cuja localização e propriedade, como sabemos, é impossível se não houver um registro bancário formal.

Page 183: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

t e r participado de encontros com o denunciado JOSÉ DIRCEU, na

época Ministro da Casa Civil, no ano d e 2003, inclusive quando

José Augusto Dumont ainda era vivo - e sem a participação deste

último (Apenso 81) :

O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - A senhora

esteve também aqui na Casa C i v i l com o S r . José

Dirceu, então Ministro?

A SRA. KÁTIA RABELLO - sim.

O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - Quando foi?

A SRA. K Á T I A RABELLO - Essa data também eu

não tenho certeza. É 2003 , eu sei que é 2003, porque o

Z é Augusto estava v i vo , no segundo semestre de 2003.

O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - Agora, pelo

que eu entendi , o S r . Marcos Va lér io também part ic ipou

dessa reunião.

A SRA. KÁTIA RABELLO - E l e part icipou.

O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - Em que

condição ?

A SRA. KÁTIA RABELLO - Na condição de

acompanhante do banco.

Page 184: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&-NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - Acompanhante

do Banco Rural?

A SRA. KÁTIA RABELLO - D o Banco Rural. É,

e l e f o i um convidado nosso, já que t inha s i d o e l e o

f a c i l i t a d o r do encontro.

O SR . DEPUTADO CHICO ALENCAR - E s s e s e g u n d o

encontro, se n ã o m e e n g a n o , é um j a n t a r em B e l o

Horizonte com o M i n i s t r o ?

A SRA. KÁTIA RABELLO - S i m .

O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - Também f o i

agendado pe lo S r . Marcos Valér io? Foi e l e quem falou

da poss ib i l idade que o Ministro e s t a r i a em Belo

Horizonte? Foi o Sr . Marcos Valério?

A SRA. KÁTIA RABELLO - sim.

O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - A í , e l e n ã o

c o m p a r e c e u a esse j a n t a r ?

A SRA. KÁTIA RABELLO - Não c o m p a r e c e u .

O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - @em eram os

par t i c ipan tes?

Page 185: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Re8-&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

A SRA. KÁTIA RABELLO - É r a m o s e u , o

Min i s t ro e um d i r e t o r meu. ( . . . )

O SR. DEPUTADO JÚLIO DELGADO - V . s a .

poderia p r e c i s a r a data d e s s e jantar?

A SRA. KÁTIA RABELLO - E s s a e u posso: 6 d e

a g o s t o . Eu sei porque e r a a n i v e r s á r i o d o m e u f i l h o .

O S R . DEPUTADO JÚLIO DELGADO - S e i s d e

a g o s t o d e . . . ?

A SRA. KÁTIA RABELLO - De 2004.

O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - O s encontros

com o ex - t e soure i ro do Par t ido dos Trabalhadores,

Delúbio Soares, foram três ou quatro encontros . A

senhora também t e r i a condições depois de prec i sar

quando ocorreram?

A SRA. KÁTIA RABELLO - Não tenho a menor

condição porque, como eu disse, não eram encontros

formais, como o s com o Deputado. Eram encontros

absolutamente i n f o r m a i s . ( . . . ) E l e p a s s a v a p e l o b a n c o ,

t a l v e z m a r c a s s e com o Z é A u g u s t o , e a i me ligavam:

"Olha, podemos i r à sua sala?". A q u e l a s c o i s a s , n ã o é.

Para tomar um c a f é , en f im .

Page 186: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e fl&&& Inq 2 .245 / MG d, 1 L 3 G 6

O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - O Z é Augusto

ainda era v i v o .

A SRA. K Á T I A RABELLO - Era v i v o . E depois

houve algumas ve ze s , também, m a s sempre n e s s a . . . Em

uma in formal idade . Por i s s o é muito d i f í c i l de eu

p r e c i s a r .

O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - E qual era o

assunto fundamental des ses encontros?

A SRA. K Á T I A RABELLO - Olha, era tudo muito

rápido , mui to breve , era m a i s um cumprimentar, "e s tou

passando aqui por Belo Horizonte , vim cumprimentá-la".

Mas e l e , em algum momento, que eu não s e i exatamente

prec isar a data , confirmou que o dinheiro emprestado à :

SMP6B t e r i a s i do repassado para qu i tar d ív idas do

par t ido .

Em outro t r echo de seu depoimento, na mesma sessão do

Conselho de É t i ca , a Presidente do Banco Rural respondeu às

questões r e f e r e n t e s aos saques v u l t o s o s que eram real i zados nas

agências de B r a s i l i a e Belo Horizonte (v. Apenso 8 1 ) :

O S R . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - S r .

Pres idente , nobre Rela t o r , S r s . Conselheiros , eminente

Min i s t ro , que ora exerce aqui a de fensor ia da

depoente , i l u s t r e depoente, S r a . Kátia Rabello. V . S a .

fa lou super f i c ia lmen te sobre a questão dos saques

ocorr idos . E , por também i n t e g r a r a CPI dos Correios ,

na condição de Sub-Rela t o r , o que nós ver i f icamos l á é

Page 187: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+&%- &&#& I n q 2 .245 / MG

011907 q u e eram 3 a s m o d a l i d a d e s e x i s t e n t e s . Numa d e l a s , a

SMP&B [emitia] c h e q u e para a p r ó r p i a SMP&B, a s s i n a v a

a t r á s , e n d o s s a v a , s a c a v a n o p r ó p r i o Banco d e Minas

G e r a i s . A segunda m o d a l i d a d e , s a b e - s e l á p o r q u a l

r a z ã o , o p o r t a d o r d e s s e c h e q u e v i n h a s a c á - l o a q u i e m

B r a s i l i a , porém f i c a v a r e g i s t r a d o como s a i n d o d o c a i x a

d e B e l o H o r i z o n t e . Mas t e r i a uma t e r c e i r a m o d a l i d a d e ,

q u e é a q u e l a na q u a l o b a n c o d e B e l o H o r i z o n t e

a u t o r i z a v a o c h e q u e a q u i . Não h a v i a a q u e s t ã o d o

c h e q u e a q u i . O c h e q u e e r a a u t o r i z a d o para o s a q u e

a q u i , e , p o r t a n t o , e r a c o n t a b i l i z a d o n o c a i x a d a q u i ,

que eram a q u e l a s h i p ó t e s e s e m q u e a S imone v i n h a s a c a r

o s v a l o r e s a q u i . E n t ã o , s ã o e s s a s 3 m o d a l i d a d e s ?

A SRA. K Á T I A RABELLO - Não s o u a m e l h o r

p e s s o a para r e s p o n d e r i s s o , e p e ç o d e s c u l p a s , mas me

parece que s im . E a o u t r a modalidade é que o saque e r a

e f e t u a d o l á , mas o d i n h e i r o e r a r e c e b i d o a q u i , a t r a v é s

d e uma t r a n s f e r ê n c i a i n t e r a g ê n c i a s , não é?

O S R . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - É

e x a t a m e n t e e s t a , a t e r c e i r a e n t ã o . ( . . . ) Nes ta s

operações i n t e r c a s a s , o s saques m u i t a s v e z e s eram

v u l t o s o s , chegavam à q u a n t i a d e 650 mil r e a i s num

ú n i c o saque. E s s e t i p o d e operação não chamava a

a t enção d o Banco Rura l , uma v e z que q u a l q u e r

mov imen tação acima d e 100 m i l , o p r ó p r i o COAF t e m d e

ser i n f o r m a d o ? Mas, independentemente da missáo d o

COAF e do Banco C e n t r a l , e n q u a n t o a g e n t e s

f i s c a l i z a d o r e s , o p r ó p r i o Banco Rural não v i a d e uma

forma d i f e r e n c i a d a um saque na boca d o c a i x a em

Page 188: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Brasilia, por exemplo, como esse de 650 mil reais,

onde foi solicitado um carro-forte?

A SRA. KÁTIA RABELLO - ( . . . ) esse cliente,

como outros clientes, ,ele t e m um comportamento, e o

estudo das áreas que são, v a m o s d i z e r , responsáveis

por essa área do banco, e l e é f e i to muito de acordo

com o comportamento. E x i s t e uma p r i m e i r a p r e o c u p a ç ã o ,

q u e é a o r i g e m d o d inheiro , p o r q u e , n a v e r d a d e , a

l a v a g e m do d i n h e i r o se d á n a o r i g e m , n ã o é ? ( . . . ) Na

h o r a em q u e o dinheiro e n t r a n a i n s t i t u i ç ã o

f i n a n c e i r a , d i g a m o s . E n t ã o , nosso cliente t inha uma

origem conhecida, que eram os . . . Todo mundo já sabe,

os contratos. . .

O SR . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - C o n t r a t o s

p ú b l i c o s e p r i v a d o s .

A SRA. K Á T I A RABELLO - . . . o próprio

empréstimo do banco. Então, o banco conhecia e sabia

que o cliente tinha origem e capacidade financeira.

Então, i sso já, vamos dizer, não colocava tanto em

evidência ou tanta preocupação sobre a movimentação. E

o o u t r o p o n t o ~ m p o r t a n t e - e que gerou também algumas

discussões até entre nós - é o t r a t a m e n t o . Q u a n d o você

u s a , d e n t r o desse m e i o , a p a l a v r a " n o r m a l " , a i a l g u é m

f a l a a s s l m : " N o s s a ! Mas n ã o é n o r m a l I S S O " , é p o r q u e o

n o r m a l , n o c a s o , e l e o b e d e c e a uma n o r m a . E os saques

em dinheiro, eles vêm, se você olhar na documentação,

eles vêm, desde 2000, 2001, obedecendo a uma norma.

Eles têm um certo padrão. Normalmente, é i sso que é

Page 189: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@- B&&& I n q 2 .245 / MG

011909 olhado , que é observado. Se você tem um c l i e n t e , por

exemplo, que movimenta l á , que saca em d inhe i ro , s e i

l á , 200 m i l . . .

O S R . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - Com

frequência ?

A SRA. KÁTIA RABELLO - . . . e um b e l o dia e l e

v a i e saca 5 , en f im , a i você t e v e uma quebra da norma.

E é i s s o que chama a atenção. E , n o caso d e s s a s

empresas, e x i s t i a uma normal idade nesse s e n t i d o , d e

m u i t o s anos .

O S R . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - Na verdade,

n a quebra d o s i g i l o b a n c á r i o d o S r . Marcos V a l é r i o e

das empresas d e l e , na ve rdade , não se v e r i f i c o u , a n t e s

d e 2002, saques na boca do c a i x a em v a l o r e l e vado . É - apenas após 2003. Por I S S O que eu d lgo que - é uma

inovação . Não v inha com uma c e r t a normal idade, saques

d e 200, saques d e 300, saques d e 400. Não e r a a r e g r a .

Mui to p e l o c o n t r á r i o . E l a s e l n l c l o u , t a l v e z não s e j a

também d o seu conhecimento . . .

A SRA. KÁTIA RABELLO - É... -

O S R . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - . . . mas e l a

se i n i c i o u e f e t i vamen te a p a r t i r de 2003.

A SRA. KÁTIA RABELLO - A informação que eu

tenho é que os saques aconteciam em va lores menores,

e , de cer ta forma, vamos d i z e r , es tariam expl icados

Page 190: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

I n q 2 .245 / MG

p e l o p r ó p r i o aumen to da mov imen tação . Ou s e j a , e r a uma

empresa que t i n h a menos or igem n o passado, o s saques

eram c o m p a t í v e i s com aque la o r igem menor, com aque la

movimentação menor. A medida que a movimentação v a i

aumentando, o volume dos saques vão aumentando. É isso

que eu me lembro d e ter visto.

( . . . )

V e j a - s e , a i n d a , o d e p o i m e n t o p r e s t a d o p e l o a c u s a d o

JACINTO SOUZA LAMAS ( f l s . 612 , vo lume 3 ) :

Que a l g u m a s v e z e s SIMONE de i xava ano tações

na agênc ia B r a s í l i a d o Banco R u r a l , com a u t o r i z a ç õ e s

para que o DECLAR?NTE e f e t u a s s e o saque dos v a l o r e s ;

Que t o d o o dinheiro r e c e b i d o na Agência B r a s i l i a d o

Banco Rural também f o i repassado d i r e tamen te para o

Deputado VALDEMAi? COSTA NETO; Que também e f e t u o u

a lguns r eceb imen to s n a agênc ia B r a s i l i a d o Banco

Rura l , com b a s e em a u t o r i z a ç õ e s que eram encaminhadas

p e l a Agência d o Banco Rural d e B e l o Horizonte/MG; Q u e ,

mesmo nesses c a s o s , a inda r e c e b i a t e l e f onema d e SIMONE

informando a d i s p o n i b i l i d a d e dos r e c u r s o s na Agência

B r a s í l i a d o Banco Rura l ; Q u e , d e s s a forma, comparecia

na Agência do Banco Rura l , r e c e b i a o d i n h e i r o e

a s s i n a v a um r e c i b o i n f o r m a l ; Que apenas f a z i a uma

r u b r i c a , s e n d o q u e a lgumas v e z e s q u e l h e fo l e x l g l d a

a p r e s e n t a ç ã o d e documento d e i d e n t i d a d e ; Que esse

r e c i b o i n f o r m a l e r a uma t i r a d e p a p e l com a l g u n s

m a n u s c r i t o s e c a r i m b o s ; Q u e , após c e r t o tempo, f i c o u

conhecido d o s empregados da Agênc ia , que não m a i s lhe

ex ig iam apre sen tação d e documento d e i d e n t i d a d e ; ( . . . )

Que o i r m ã o d o DECLARANTE, d e nome ANTÔNIO DE PÁDUA DE

Page 191: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

I n q 2 .245 / MG

SOUZA LAMAS, também recebeu v a l o r e s da Agência

B r a s i l i a d o Banco R u r a l , a ped ido do Deputado Federal

VALDEMAR COSTA m T O ; Que t a i s pagamentos ocorreram

seguindo o mesmo procedimento já re la tado; ( . . . )

Os i n d i c i o s de part ic ipação d e s t e s denunciados são

c laros nos au tos , sendo re l evan te notar que a l g o em t o r n o d e R$

3 m i lhões de r e a i s foram r e t i r a d o s nas agências do Banco Rural,

sem i d e n t i f i c a ç ã o do sacador . A l i á s , a Presidente do Banco

Rural, a acusada K Á T I A RABELLO, f o i questionada também a e s t e

r e s p e i t o durante seu depoimento ao Conselho de É t i c a , do qual

destaco o seguin te t r echo (Apenso 81, f l s . 173/208 dos autos

d i g i t a l i z a d o s ) :

O SR. DEPUTADO JÚLIO DELGADO - A CPMI dos

Correios tem f e i t o uma apuração, e nós j á temos .o

conhecimento de que os saques f e i t o s no esquema

chamado, denominado "va ler lodu to" , vár los d e l e s foram

identificados. Nós temos conhecimento de que a l g o em

t o r n o d e 3 m i l h õ e s foram f e i t o s sem i d e n t i f i c a ç ã o do

sacador n a s agênc ia s d o Banco Rura l . A senhora pode

d a r alguma e x p l i c a ç ã o a r e s p e i t o d e s s e s saques sem

i d e n t i f i c a ç ã o ?

A SRA. KÁTIA RABELLO - ( . . . ) Dentro dessa

questão dos saques, de como se processavam os saques,

e x i s t i a m bas i camen te duas maneiras d e esses saques

serem processados . Em algumas sl t u a ções era envlada

uma ordem de pagamento da SMP&B para a SMP&B. Alguém

da SMP&B assinava. I s s o é per fe i tamente dentro da

legal idade . ( . . . ) Porque, na verdade, o saque era

Page 192: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

011912

feito em Belo Horizonte, ele era registrado em Belo

Horizonte, mas, em alguns casos, desse saque era feito

um envio em dinheiro, que é um processo entre

agências, em nome de determinada pessoa. Esse

procedimento coube exclusivamente ao cl iente . Ou se ja ,

em alguns casos, o c l i en te optou por enviar esse

dinheiro em nome do recebedor, na imensa maioria das

vezes, em Brasi l ia . Então, nesses casos, esse nome

dessa pessoa vem registrado em todos os momentos,

vamos dizer, de todos os controles de contabilidade,

de sistema. E, quando era SMP&B para SMP&B, então não

tinha o nome da pessoa que i a lá receber, porque era

uma pessoa da própria agência. Então, dentro da norma

bancária, não s e r i a necessário isso. É essa a

informação que eu tenho.

O que a acusada não explicou foi a razão pela qual o

Banco Rural aceitou registrar, como saque da SMP&B na agência de

Belo Horizonte, valores elevados de dinheiro em espécie que, na

verdade, seriam sacados da conta da SMP6B por te rce i ras pessoas,

na agência do Banco Rural em Bras i l ia .

Não haveria maiores suspeitas contra o Banco Rural se

essas mesmas operações tivessem sido efetuadas através de

transferências bancárias ou DOC's para as contas das pessoas que

efetivamente receberam os valores, como é usualmente feito pelos

consumidores bancários. Mas o Banco Rural, ao contrário, não

registrou quem foram as pessoas que s e beneficiaram do dinheiro

repassado pela SMP6B através das agências de Brasi l ia , São Paulo

Page 193: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@$ke.%?o fl&&& I n q 2.245 / MG 011913

e Be lo Hor i zon te , razão pela qual o supos to " va l e r iodu to"

contou, em tese, com a p a r t i c i p a ç ã o a t i v a dos dirigentes

denunciados.

Aliás, KÁTIA RABELLO afirmou, várias vezes, que os

valores envolvidos nas operações irregulares sequer seriam tão

elevados para a realidade do Banco. Leio, nesse sentido, outro

trecho de seu depoimento ao Conselho de Ética (Apenso 81):

O S R . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - A P e t r o s ,

que é o fundo d e pensão da PETROBRÁS, a o que sei, no

Governo passado não a p l i c a v a n o Banco Rura l . No i n í c i o

d e s t e Governo, passou a a p l i c a r n o Banco Rura l , - e a

g u a n t i a i n i c i a l foi d e 5 m i l h õ e s d e r e a i s ,

aproximadamente. Já n o segundo s emes t r e d e 2003, a

P e t r o s , que nunca h a v i a a p l i c a d o nada e que n o i n i c i o

d o Governo passou a a p l i c a r 5,2 m i l h õ e s d e r e a i s n o

Banco R u r a l , subiu esse i n v e s t i m e n t o , e s s a ap l i cação ,

para 24 m i l h õ e s , o que i m p l i c o u aumento d e 371% das

a p l i c a ç õ e s dos fundos ...

A SRA . KÁTIA RABELLO - Quando que seria

isso?

O S R . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - Foi n o

i n i c i o d e 2003 a p r ime i ra a p l i c a ç ã o . . .

A SRA. KÁTIA RABELLO - A h . . . E o aumento?

Page 194: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c?qkem &&&& Inq 2 .245 / MG

O SR. DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - Antes não

havia. E depo i s , digamos ass im, desse ep i sód io dos

empréstimos, no segundo semestre , e s s a apl icação

s a l t o u para 24 ,5 milhões de r e a i s , num aumento de

371%. ( . . . ) A senhora chegou a ter conhecimento dessas

apl icações?

A SRA. KÁTIA RABELLO - É, espec i f icamente

dessas ap l i cações não, porque, mais uma v e z , é

sempre.. . A gen te sempre tem que c o n t e x t u a l i z a r .

Exis tem va lores que, para o nosso uso pessoal , no d ia -

a-dia, são r e p r e s e n t a t i v o s , mas qüe, den t ro do volume

da i n s t i t u i ç ã o f inance i ra não o são. Então, por

exemplo, todos o s d o i s va lores aqui mencionados não

representam nada d e s i g n i f i c a t i v o dentro do pass ivo do

Banco naquela época. Então, eu não t e r i a nem porque

saber, espec i f icamente - e não acompanho

espec i f icamente e s s a s apl icações . O que eu acompanho e

acompanhei, e f u i tomando pé, principalmente depois da

morte do Zé , são os grandes apl icadores . Então,

ass im. . . O que eu posso a f i rmar , porque es se estudo

f o i f e i t o e é alguma coisa que a gen te . . . A gente tem

algum problema com a questão do s i g i l o , de mandar

i s s o , mas me parece que a gente poderia fa zer um

somatório considerando o somatório dos fundos l i g a d o s

ao Governo Federal durante o Governo passado e durante

esse Governo. Essa proporção, e l a se manteve assim.. . Houve, parece, que uma mínima queda. Ou s e j a , e l a se

manteve i g u a l . Então, observando de uma maneira geral

a aplicação dos fundos do Banco Rural de um Governo

Page 195: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e &-&a Inq 2.245 / MG 011915

para o outro, existe uma manutenção da relação. Fui

clara ?

O SR. DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - A

informação que me chegou era a de que a Petros não

aplicava no Banco Rural. Passou a aplicar em 2003 e

aumentou muito no segundo semestre de 2003. É uma

informação que seria importante se tivéssemos aqui.

A SRA. KÁTIA RABELLO - Eu não tenho essa

informação não ( . . . )

No que tange a verdadeira representatividade dos

valores envolvidos nos ilicitos supostamente praticados -

através dos empréstimos, dos saques em espécie, dos

investimentos dos Fundos de Pensão - a acusada KÁTIA RABELLO

afirmou, diversas vezes, como vimos antes, que tais valores, por

não serem elevados, dentro da realidade do Banco Rural, não

chegavam ao seu conhecimento, no exercício da Presidência.

Entretanto, ao final de seu depoimento perante o Conselho de

Ética, parece-me ter havido uma certa contradição de sua parte,

verbi s :

O SR. DEPUTADO JÚLIO DELGADO - A CPI - isso

é uma tese, e eu não estou lhe perguntando sobre tese

Page 196: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ BU&& 011916 Inq 2.245 / MG

- chega ou anal isa a poss ib i l idade d e esses

empréstimos não terem s ido f e i t o s d e forma regular e

não serem -rés t imos. A CPI estuda essa

poss ib i l idade , e é uma tese que a cada d ia se

fo r ta l ece naqueles estudos. Esses empréstimos teriam

s i d o uma forma de repassar recursos para o S r . Marcos

Va lér io para que, eventualmente, pudesse passar para o

par t ido . Essa é uma t e s e das CPIs que a gente u t i l i z a ,

porque é a base da representação do Part ido

Trabalhista Bras i l e i ro [PTB] que a gente e s t á

analisando.

O Sr . Marcos Va lér io , a senhora disse, teve

uma grande relação - e tem - com o banco. É um dos

c l i e n t e s p r e f e r e n c i a i s ; era intermediador dos contatos

en t r e o banco e o PT , o Part ido dos Trabalhadores ... o

par t ido ou os encontros. E o S r . Marcos Valér io vinha

d e um Governo passado, com contas pub l i c i t á r ia s , que

passou para este Governo, com contas pub l i c i t á r ia s ,

com um aumento considerável desses contratos. I s so não

tem nada a ver, porque alguns desses contratos foram

o ferec idos , i n c l u s i v e , como garantia dos empréstimos.

A SRA. K Á T I A RABELLO - É verdade.

O S R . DEPUTADO J Ú L I O DELGADO - A últ ima

pergunta que eu l h e coloco, em função d i s s o tudo: a

senhora admite a h ipótese de o Banco Rural ter

es tabelec ido, ao não executar o suposto empréstimo

( . . . ) de essa relação, por ser a pioneira, do seu

conhecimento, na sua gestão, ter s ido uma p o l í t i c a

es tabelec ida. . . E a p o l i t i c a de relação ser

Page 197: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

estabelecida pelo banco - com o Governo e com o

Partido dos Trabalhadores - que es tava entrando em um

pro je to e , por isso, celebrado o s empréstimos e , a t é

.então, não ter executado?

A SRA. KÁTIA RABELLO - De forma alguma.

O SR. DEPUTADO JÚLIO DELGADO - Não f o i uma

p o l í t i c a es tabelec ida pelo banco para ter uma relação

com o par t ido no poder?

A SRA. &TIA RABELLO - Acho que os valores

são totalmente inadmiss íve is numa relação como essa .

São valores a l t i s s imos , o que não cabe imaginar.

Do exposto, Senhora Presidente, entendo que a denúncia

reúne condições para ser recebida, no ponto em anál i se , estando

devidamente instruidos os autos com elementos que consubstanciam

a ex i s t ênc ia d e justa causa para a regular instauração de ação

penal contra os denunciados: MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,

CRISTIANO PAZ, ROGÉRIO LANZA TOLENTINO, SIMONE VASCONCELOS,

GEISA DIAS, JOSÉ ROBERTO SALGADO, AYANNA TENÓRIO, VINÍCIUS

SAMARANE e KÁTIA RABELLO, na forma do art. 29 do Código Penal,

pela suposta prática, por 65 (sessenta e c inco) ve ze s , do crime

definido no a r t . 1°, V , V I e V I I , da Lei no 9.613/98, nos termos

do i t e m IV da denúncia.

Page 198: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&- fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

DA IMPUTAÇÃO DE GESTAO FRAUDULENTA DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - ARTIGO 4 O DA LEI No 7 . 4 9 2 / 8 6 - Capítulo V da denúncia

No presente capitulo, o Parquet acusa os dirigentes do

Banco Rural JOSÉ ROBERTO SALGADO (Vice-presidente Operacional),

AYANNA TENÓRIO (Vice-presidente); VINÍCIUS SAMARANE (Diretor

Estatutário) e KÁTIA RABELLO (Presidente) de terem operado um

mecanismo fraudulento na gestão da instituição financeira,

conforme descrito no tipo previsto no art. 4O da Lei no

7.492/86, que reza:

Art . d o . Gerir fraudulentamente instituição

financeira :

Pena - Reclusão, de 3 (três) a 12 (doze)

anos, e multa.

Parágrafo único. Se a gestão é temerária:

Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito)

anos, e multa.

Os fatos consistiriam no seguinte (v. denúncia, fls.

5697 e seguintes, vol. 27):

"Nos termos consignados pelos auditores do

Banco Central, os dirigentes do Banco Rural efetuaram

dezenove operações de c réd i t o com as empresas de

Marcos Valér io , C r i s t iano Paz, Ramon Eollerbach e

Rogério Tolentino, e com o Partido dos Trabalhadores,

total izando R$ 292,6 milhões de r e a i s na data-base de

31/05/2005, correspondente a 10% da car te i ra de

c réd i t o da i n s t i t u i ç ã o .

Page 199: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

I n q 2.245 / MG

Das dezenove operações de crédito acima

mencionadas, que não apresentavam a c o r r e t a

c l a s s i f i c a ç ã o do nivel d e r i s c o de crédito, oito foram

reclassificadas pelo próprio Banco Central, h a j a v i s t a

a v e r i f i c a ç ã o d e d i s c r e p â n c i a entre a s c l a s s i f i c a ç õ e s

o r i g i n a r i a m e n t e a t r i b u í d a s p e l o s d i r i g e n t e s d o Banco

Rura l e o r e a l nivel d e r i s c o das operações ,

representando dívidas no montante d e R$

183.871.188,08.

As operações d e c r e d i t o em que ocor reu

ma ior d i s c r e p â n c i a entre o s níveis c l a s s i f i c a d o s p e l o s

d i r i g e n t e s d o Banco Rural e a q u e l e s determinados p e l o s

a u d i t o r e s do Banco C e n t r a l , em face da situação de

total inadimplência, foram jus tamente aque la s

e f e t u a d a s com a s empresas e n v o l v i d a s n o esquema ora

denunciado.

- SMP&B Comunicação Ltda., reclassificada

dos níveis "B" e "C" para "H", apresentando saldo

devedor de R$ 36.874.855,67;

- GRAFFITI Participações Ltda.,

reclassificada do nivel "B" para "H", apresentando

saldo devedor de R$ 16.139.139,82; e

- Partido dos Trabalhadores - PT,

reclassif icada do nivel "A" para "H", apresentando

saldo devedor de R$ 5.913.532,38.

A expressiva discrepância dos níveis de

classificação do risco de crédito resultou, segundo

consta taça0 dos próprios auditores do Banco Central

(fl. 19 do PT 0501301503) , d e de l i be rada ação dos

g e s t o r e s d o Banco Rura l , com o p r o p ó s i t o d e o m i t i r o

Page 200: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&;.--NU&& Inq 2 .245 / MG 011320

e f e t i v o nivel de r i s c o das operações e , por

conseguinte, d e i x a r de e f e t u a r a s devidas prov isões

que, no caso dos erês empréstimos acima, t e r iam que

ser rea l i zadas no t o t a l do montante emprestado.

Tal s i tuação r e v e l a que o s d i r i g e n t e s do

Banco Rural , empregando exped ien te s f raudulentos ,

deixaram de a t r i b u i r a verdadeira c l a s s i f i c a ç ã o aos

r i s c o s de c r é d i t o s das empresas W & B e G r a f f i t i , e do

Par t ido dos Trabalhadores, simulando uma s i tuação

c o n t á b i l que, de f a t o , não e x i s t i a .

A manobra em tela, acarretando a não

provisão dos valores acima, i n p l i c a a l t e ração do

balanço da i n s t i t u i ç ã o bancária e reflete diretamente

na sua s i tuação f inance ira em re lação a t a i s a t i v o s ,

aumentando f i c t i c i a m e n t e sua capacidade operacional .

( . . . )

A própria concessão dos empréstimos, caso

a s operações sejam e fe t i vamen te como t a l consideradas,

r e s u l t a de exped ien te s a r d i l o s o s dos d i r i g e n t e s do

Banco Rural para j u s t i f i c a r a l i beração de recursos à s

empresas SMP&B e G r a f f i t i e ao Par t ido dos

Trabalhadores, pois, tecnicamente, as concessões não

eram recomendáveis.

Assim, a imputação pode ser resumida ao fato de terem

sido deliberadamente realizadas operações de nível de risco

elevado, nos termos da Resolução do BACEN no 2.682, de 21 de

novembro de 1999, com emprego de artifícios, pelos dirigentes do

Banco Rural, para camuflar tal risco e, inclusive, para

ludibriar as autoridades, de modo a que não se percebesse a

Page 201: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&g?kmo NU&& Inq 2 .245 / MG

alegada prática de atividades ilícitas (lavagem de dinheiro)

pela instituição.

A par de preliminares já vistas no item anterior

(prova obtida diretamente pelo MPF, prova emprestada de outra

investigação, prova obtida pela CPMI dos Correios), a defesa

alega (apenso no 118) que a denúncia faz acusações "em bloco",

presumindo a culpa dos acusados, sem apontar as fraudes

existentes na concessão dos empréstimos nem quais seriam os

responsáveis por tais fraudes. Afirma que "os quatro dirigentes

do Banco Rural são indiscriminadamente acusados", "sem levar em

conta as suas d iversas responsabi l idades funcionais". Diz que,

"ainda que possa ter havido falhas nos procedimentos bancários",

os empréstimos foram devidamente registrados no BACEN. Assim,

' e s s a s operações contabi l i zadas não fariam sen t ido , fos se - o

o b j e t i v o do Banco canal i zar dinheiro para pagamento de

propinas" .

Por fim, afirma a defesa que "as renegociações foram

sempre amparadas em pareceres técnicos favoráveis. Verificando-

se, finalmente, após a eclosão da crise, o inadimplemento

insuperável em faço do vencimento da última renovação, o Banco

ajuizou as competentes medidas judiciais para recuperação de

seus créditos".

Não obstante isto, Senhora Presidente, as alegações do

Parquet encontram indícios nos autos.

Page 202: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&e fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 0 1 1 9 2 2

É i n t e r e s s a n t e a l e i t u r a de t r echo do depoimento da

acusada KÁTIA RABELLO ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar

d a Câmara dos Deputados, em 2 2 de setembro de 2 0 0 5 , que

t ranscrevo (Apenso 8 1 ) :

O S R . DEPUTADO JÚLIO DELGADO - E o Banco

Rural tem como p r á t i c a , ao conceder um empréstimo

d e s s e , l e v a n t a r recursos e a c e i t a r a v a l i s t a s com b a s e ,

exclusivamente , no seu p r e s t í g i o , ou ele a c e i t a

a v a l i s t a s com base numa aprovação de cadastro prév io?

A SRA. K Á T I A RABELLO - Deixa eu v o l t a r

então um pouco. Nessa época, quem tra tava dos

empréstimos era o José Augusto. Então, é d i f í c i l pra

m i m d i s c u t i r , a t é porque, dentro da p o l i t i c a de

c r é d i t o do Banco, e x i s t e toda uma normativa de

a lçadas , de garant ias ver sus c l i e n t e . Então, são como

2 pra tos de uma balança: quando você tem uma garant ia

mu i to f o r t e , você pode ter um c l i e n t e mais f r á g i l ;

quando você tem um cliente, onde você tem uma c e r t e z a

maior de receber, você pode ter uma garant ia mais

f r á g i l . ( . . . ) O S R . DEPUTADO JOSÉ DELGADO - Em 1998, o

Banco Rural f e z um empréstimo na mesma l i n h a , no mesmo

s e n t i d o , em Minas Gerais , f o i também o banco que f o i

u t l l l z a d o para empréstimo por par t e de uma campanha do

PSDB, foram dadas como garant ia contas p u b l i c i t á r i a s . E esse empréstimo [ terminou] também não sendo pago, na

ordem de 9 milhões ( . . . ) e que, guase 5 anos depois

( . . . ) f o i gu i tado esse d é b i t o p e l o S r . Marcos V a l é r i o

na ordem de 2 mi lhões . No momento em que se r e p e t e uma

operação, quase que 7 anos depois , 6 anos depo i s , nas -

Page 203: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

mesmas c a r a c t e r í s t i c a s , com as mesmas garantias ,

sabendo-se da probabilidade do não-pagamento, conforme

ocorreu a t é quanto surgiram a s denúncias, não houve

uma surpresa - e a í V . As. j á es tava na direção do

Banco - que essa transação r e p e t i d a , f a l í v e l , que

t rouxe p r e j u í z o ao Banco Rural , pudesse s e r repe t ida

nas mesmas c a r a c t e r í s t i c a s , e o Banco aprovar, com

t o t a l isenção, um f a t o que t inha a in terveniência de

empresa de publicidade com par t ido p o l í t i c o , com

campanha e l e i t o r a l ? Não houve indignação e surpresa de

i s s o t e r s i d o repe t ido com par t idos d i f e r e n t e s ?

A SRA. K Á T I A RABELLO - ( . . . ) Só para

c o n t e x t u a l i z a r , na época o Banco Rural t inha alguma

coisa em torno de 5 b i l h õ e s de a t i v o - 4 para 5

b i l h õ e s de a t i v o - e a operação era uma operação.. . E r a m 2 operações que to ta l i zavam cerca de 30 milhões

de r e a i s . ( . . . ) Então, a maneira que eu percebo pode

t e r s i t o o r a c i o c í n i o do José Augusto é: "Bom, eu

perdi a t r á s , m a s tenho uma empresa que agora e s t á com

condição, e s t á com uma capacidade f inance i ra , tem

contra tos de va lores maiores e que v a i poder honrar e ,

de alguma forma, eu vou conseguir recuperar aqu i lo que

eu perd i l á a t r á s . " Eu acompanhei e s s e rac ioc ín io d e l e

em alguns ou t ros casos. E , em alguns casos, e x i s t i a

essa expressão " sa lgar a carne podre", porque, à s

v e z e s , você coloca m a i s d inhe i ro num devedor e , chega

l á na f r e n t e , e l e não consegue honrar. Parece que,

i n f e l i z m e n t e , f o i o caso.

O SR . DEPUTADO JÚLIO DELGADO - ( . . . ) A

constatação que a gente faz é que o Banco, em valores

e que o Banco pode considerar i n s i g n i f i c a n t e s , mas para

Page 204: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

a sociedade não são, na ordem de um empréstimo de 9

milhões fei tos junto ao PSDB, ao Marcos Valério, em

1998, tenha sido repetido em 2003, sabendo que isso

trouxe prejuizo da ordem de 7 milhões para o banco, e

t e r sido fe i ta , também, novamente correndo o risco de

prejuízo ao Banco, como está acontecendo agora com

esse empréstimo que fo i f e i to ao Partido dos

Trabalhadores. É uma consta tação. Não falo com relação

ao processo, mas a instituição financeira que repete

uma operação fal ível em termos dos propósitos a que

ela se dispõe como instituição, de arrecadação de

fundos e de capitalização de recursos. ( . . . I

A SRA. K Á T I A RABELLO - Só gostaria de

de ixar c laro que e u . . . É muito d i f i c i l a s i tuação,

porque, ao mesmo tempo, f i c a muito f e i o jogar a culpa

em alguém que j á morreu, e x i s t e um f a t o rea l que pode

s e r comprovado em documentos, pessoas de dentro do

Banco, c l i e n t e s que se relacionavam com o Banco,

a s s i m , fartamente, de que de f a t o José Augusto era o

senhor, e l e era o número um, era a pessoa que tocava o

Banco e que tocava e s s e s c r é d i t o s e qye negociou e s s e s

c r é d i t o s e s p e c í f i c o s pessoalmente. ( . . . )

A acusada KÁTIA RABELLO prestou, ainda, outras

declarações ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar d a Câmara

dos Deputados, na mesma sessão antes c i tada ( 2 2 / 0 9 / 2 0 0 5 , v .

Apenso 8 1 ) :

O S R . DEPUTADO JAIR0 CARNEIRO - (. . . ) S r a .

K á t i a Rabel lo , eu i n i c i o tomando por base o t e x t o da

representação movida pe lo PTB contra o Deputado José

Page 205: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

D i r c e u , q u a n d o d i z q u e o S r . M a r c o s V a l é r i o e a S r a .

R e n i l d a , s u a e s p o s a , em d e p o i m e n t o a o P r o c u r a d o r - G e r a l

d a R e p ú b l i c a , d e c l a r a r a m q u e o S r . D e p u t a d o J o s é

D i r c e u , em c o n l u i o com D e l ú b i o S o a r e s , l e v a n t a r a m

f u n d o s j u n t o a o B a n c o R u r a l e com o b j e t i v o s e s p ú r i o s .

É o q u e vem no t e x t o S u b s e q u e n t e . EU q u e r o q u e V . S a .

d e c l a r e se o B a n c o R u r a l p a r t i c i p o u d e s s e t i p o d e

o p e r a ç ã o q u e a r e p r e s e n t a ç ã o a t r i b u i a d e c l a r a ç õ e s d o

c a s a l ?

A SRA. K Á T I A RABELLO - Não

O SR . DEPUTADO J A I R 0 CARNEIRO - M a i s

a d i a n t e , d i z a representação, comprometendo a

honorabilidade do seu banco, dizendo que esses

contratos não foram ob je to de cobrança por sua

i n s t i t u i ç ã o . O que a senhora declara sobre i s s o ?

A SRA. KÁTIA RABELLO - Acho muito

importante sempre con tex tua l i zar . Quando um b a n c o t e m

um devedor que e s t á em di f i cu ldades de qu i tar o seu

déb i to , e x i s t e um processo de negociação que é sempre

pre fer ido ao processo j ud i c ia l , por r a z õ e s q u e e u

i m a g i n o q u e t o d o s a q u i i m a g i n e m . O s p r o c e s s o s

l i t i g i o s o s s ã o e x t r e m a m e n t e l e n t o s e , m u i t a s v e z e s ,

o n e r o s o s e i n e f i c a z e s , n o c a s o , p a r a o c r e d o r . Então,

a nossa decisão, na verdade, a minha decisão e dos

meus pares, naquele momento em que o José Augusto, que

era primeiro execut ivo do banco, pessoa que t inha

negociado aqui lo tudo, não es tava mais presente, f o i

t en ta r negociar com o devedor, receber. E h a v i a uma

Page 206: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

promessa r e i t e r a d a d e l e d e q u e i r i a p a g a r , e n f i m , t o d o

um p r o c e s s o d e n e g o c i a ç ã o q u e é b a s t a n t e comum, a t é , e

q u e , em a lgumas s i t u a ç õ e s , em m u i t a s s i t u a ç õ e s , o

b a n c o c o n s e g u e , d e f a t o , n e g o c i a r com o d e v e d o r , a s

v e z e s , se i l á , a l o n g a r a d i v i d a , f a z alguma a l t e r a ç ã o

n o c o n t r a t o , mas c o n s e g u e receber, f a z um d e s c o n t o ,

mas c o n s e g u e receber sem ter q u e , d e f a t o , e x e c u t a r .

E n t ã o , esse argumen to d e q u e o b a n c o n ã o e x e c u t o u

p o r q u e s a b i a d i s s o ou d a q u i l o , d e f a t o , não v a l e para

a a t i v i d a d e b a n c á r i a . Uma p r á t i c a na a t i v i d a d e

b a n c á r i a é n e g o c i a r a t é a ú l t i m a t e n t a t i v a , p o r q u e o

l i t i g i o é o que n inguém q u e r .

O SR. DEPUTADO JAIR0 CARNEIRO - A senhora

d e v e compreender que e s s a a r g u i ç ã o f e i t a p e l a

r e p r e s e n t a ç ã o o b j e t i v a e n v o l v e r e comprometer o b a n c o

com esses n e g ó c i o s , com e s s a s o p e r a ç õ e s . E r e s t a r á uma

r e s p o n s a b i l i d a d e e v e n t u a 1 r e m a n e s c e n t e do b a n c o

p e r a n t e a s autoridades c o n s t l t u i d a s . Mas a s e n h o r a . . . Porque, pe lo exposto aqui , em função da arguição f e i t a

pe lo nobre Relator , somente 6 anos após é que o banco

recebeu o empréstimo, e com uma redução

extraordinária, de 9 milhões para 2 milhões. E , pe lo

h i s t ó r i c o de informações que temos, a s empresas do Sr .

Marcos Va lér io t iveram faturamento razoável e

crescente , já no Governo passado, do D r . Fernando

Henrique Cardoso, que pode c r i a r uma cer ta contradição

com essa bonif icação, que é realmente em valor

altamente express ivo . E n t ã o , se eram 9 , cobrou apenas

2. E a empresa não estava em si tuação de insolvência

ou de d i f i cu ldade f inanceira. E l e s e s t a v a m operando

Page 207: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

dghwmz&&&& Inq 2.245 / MG

011927

com faturamento bom. E multiplicou muito mais no atual

Governo do Presidente Lula. Quando cobrou, já era o

Governo Lula, com muitos contratos com empresas

governamentais, com faturamento muito expressivo das

empresas do grupo do Sr. Marcos Valério. Por I S S O ,

numa breve insistência com a senhora. Como explicar

essa negociação com essa redução drástica, se a

empresa não estava em dificuldade, o devedor.

A SRA. K Á T I A RABELLO - M a i s uma v e z , v o l t o

a i n s i s t i r que eu não t ra tava desses assuntos nem na

época em que o empréstimo f o i contra ído nem quando e l e

f o i negociado. Então, vou e x p l i c a r alguma coisa que eu

não f i z . É d i f í c i l . Mas, de alguma forma, ex is tem

algumas v a r i á v i s que eu acho que são importantes de

considerar . Uma de las são os juros . Eu s e i que parece

que houve uma a l t e ração de juros nesse empréstimo. E

que houve uma execução j u d i c i a l , a t é . Então, são

e s s a s , vamos d i z e r , a s v a r i á v e i s que eu conheço.

É i n t e r e s s a n t e notar que, logo após "perdoar" R$ 7

milhões de divida de Marcos Valério junto ao Banco Rural ( e l e

pagou apenas R$ 2 mi lhões , de R$ 9 milhões que foram

empres tados) , perdão que se deu, de acordo com a Presidente do

Banco, KÁTIA RABELLO, em razão das "dificuldades financeiras do

cliente", o Banco Rural concedeu novo empréstimo a MARCOS

V A L É R I O , empréstimo que t e r i a se dado de modo semelhante com

Page 208: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

aque le tomado em 1998 , du ran te a campanha do PSDB em Minas

Gera i s . A con t r ad i ção e n t r e a p o s t u r a do Banco Rural em r e l a ç ã o

a SMP&B e a s dec l a rações p r e s t a d a s por sua P re s iden te é, a meu

v e r , mui to c l a r a .

Veja-se, a inda , que não apenas foram concedidos

empréstimos sem g a r a n t i a s u f i c i e n t e , como a inda e s t e s

empréstimos foram renovados mesmo sem que houvesse qualquer

amortização, e sem a devida e levação do n í v e l de r i s c o da

operação, inclusive durante a Presidência da acusada KÁTIA

RABELLO. É o que cons t a da Ver i f i cação Espec i a l r e a l i z a d a pe lo

BACEN sobre a s Operações de C r é d i t o do Banco Rural (v . Apenso

7 7 ) , no qua l s e c o n s t a t a o s e g u i n t e :

A SMP&B Comunicação, empresa c o n s t i t u í d a e m

ju1/96, com sede em Belo Horizonte , a t u a na p r e s t a ç ã o

d e s e r v i ç o s de p u b l i c i d a d e e propaganda. Per tence ao

grupo d a s empresas G r a f f i t i P a r t i c i p a ç õ e s Ltda e DNA

Propaganda Ltda.

A empresa p o s s u i duas operações d e c a p i t a l

d e g i r o j u n t o ao Banco Rural , sendo uma no v a l o r de R$

36 milhões , com g a r a n t i a s de d i r e i t o s c r e d i t ó r i o s e

a v a l , e o u t r a no v a l o r d e R$ 837 m i l , somente com

g a r a n t i a d e a v a l .

Até maio/2003, a empresa possuía uma conta

garantida no valor de R$ 10 milhões, que foi liquidada

em 22/05/2003 (Análise 7/7), com recursos advindos da

empresa ligada DNA Propaganda (c/c junto ao Banco do

Brasil) . (Anál ise 7 / 8 ) .

Page 209: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

C2q- fl&&& Inq 2.245 / MG

01P9Z3 Em 26/05/2003, f o i concedido c a p i t a l d e

g i r o no v a l o r de R$ 19 mi lhões , o qual vem sendo

renovado com incorporação de juros , perfazendo,

atualmente , o s a l d o devedor de R$ 36 mi lhões .

E s t e empréstimo f o i concedido com garant ia

de ava l dos s ó c i o s , t e n d o s l d o p o s t e r i o r m e n t e agregada

garant ia de d i r e i t o s c r e d i t ó r i o s ( con ta to de prestação

de s e r v i ç o s entre DNA Propaganda e Banco do B r a s i l ,

celebrado em 23/09/2003). O v a l o r do empréstimo (R$ 19

m i l h õ e s ) , no en tan to , e ra incompatível com a

capacidade f inance ira da empresa, considerando seu

volume anual de r e c e i t a (R$ 10,6 mi lhões ) e geração de

ca ixa (R$ 2 m i l h õ e s ) .

V a l e r e s s a l t a r , a l n d a , q u e o Banco Rural

concedeu t a i s empréstimos à SMP&B, apesar de haver

h i s t ó r i c o recente de perda em operações de c r é d i t o de

empresa do grupo. A DNA Propaganda possuía d í v i d a de

R$ 13 mi lhões , baixada a p r e j u í z o desde out/2000, a

q u a l f o l l i qu idada p e l o v a l o r d e R$ 2 mi lhões , em

f ev /03 .

Em 25/11/2004~, f o i concedido c a p i t a l de

g i r o no v a l o r de R$ 707 mil, para v e n c e r em 2 8 / 0 3 / 0 5 ,

tendo s i d o renovado em 17/08/05, com incorporação de

ju ros . O s a l d o d e v e d o r a t u a l da o p e r a ç ã o é d e R$ 837

m i l .

A ú l t i m a a n á l i s e d e c r é d i t o da i n s t i t u i ç ã o ,

r e a l i z a d a em 1 1 / 0 1 / 2 0 0 5 , c o n c l u i u q u e , "mesmo

c o n s i d e r a n d o a c a p a c i d a d e d e g e r a ç ã o d e r e c e i t a da

Como visto no item IV deste voto, o Sr. JOSÉ AUGUSTO DUMONT, a quem os gestores do Banco Rural denunciados atribuíram toda a responsabilidade pelos empréstimos supostamente fraudulentos, faleceu em 04 de abril de 2004, como consta de certidão de óbito juntada ao Apenso 81 - anexo da denúncia.

Page 210: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&-NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG

011?3n

proponente, entendemos que o r i s c o t o t a l é elevado

para seu porte" (Anál i se 7 / 5 ) .

O r i s c o da empresa junto ao Banco Rural

aumentou consideravelmente nos ú l t i m o s d o i s anos,

passando de R$ 6,8 milhões em fev/03 para R$ 25,3

( fev/O4) e R$ 36 mi lhões (mar/05).

O contra to de prestação de serv iços de

publ ic idade e n t r e a empresa DNA Propaganda e o Banco

do B r a s i l , que garante a s operações da SMP&B e

G r a f f i t i , f o i firmado em 23/09/2003, pe lo prazo de 12

meses, tendo s i d o prorrogado, em 22/09/2004, por igual

período (Anál i se 7 /2) .

( . . . )

O c o n t r a t o prevê que o s c r é d i t o s

decorrentes do mesmo somente poderão ser cedidos ou

dados em garant ia se houver autor i zação prév ia e por

e s c r i t o da Dire tor ia de Marketing e Comunicação do

Banco do B r a s i l (c láusula 5 O Banco Rural não

possu i t a l au tor i zação, o que torna a garant ia sem

v a l o r j u r í d i c o .

O s d i r e i t o s c r e d i t ó r i o s referentes a este

con t ra to e s t ã o sendo deposi tados na conta corrente da

DNA Propaganda junto ao Banco do B r a s i l e o Banco

Rural não comprovou se vem recebendo t o t a l ou

parcialmente t a i s recursos . Pelos ex tra t os das

empresas SMP&B Comunicação e G r a f f i t i Participações

junto ao Banco Rural, r e f e r e n t e ao periodo de

maio/2003 a abri1/2005, não i d e n t i f i c a m o s nenhuma

t r a n s f e r ê n c i a de t a i s c r é d i t o s .

Sol ic i tamos a i n s t i t u i ç ã o os e x t r a t o s da

conta-corrente da empresa DNA Propaganda junto ao

Page 211: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG 01192f

Banco do Bras i l , na qual e s tão sendo depositados o s

d i r e i t o s c red i t ó r io s dados em garantia, para

v e r i f i c a r m o s a quan t i a e f e t i v a m e n t e receb ida pe la

empresa desde o i n í c i o do c o n t r a t o ( s e t / 2 0 0 3 ) .

A i n s t i t u i ç ã o apresen tou somente o s

e x t r a t o s r e f e r e n t e s ao l 0 t r i m e s t r e / 2 0 0 5 , em que foram

depos i t ados o s s e g u i n t e s v a l o r e s : R$ 6.459.106,57 em

jan /05 , R$ 7.253.897,22 em f e v / 0 5 e R$ 1.901.443,60 em

mar/05 ( A n á l i s e 0 7 / 0 6 ) .

Esses e x t r a t o s , no entanto, foram

i n s u f i c i e n t e s para comprovar se a quantia e fe t ivamente

recebida pela DNA Propaganda é compatível com o volume

de c réd i t o garantido (R$ 52,5 milhões) . Ressaltamos,

ainda, que o s recursos recebidos naqueles meses não

foram t rans fer idos à s contas da SMP&B e G r a f f i t i no

Banco Rural, conforme ve r i f i cado pelos ex t ra to s de

conta-corrente/conta-garaxitida ( A n á l i s e 7 / 1 0 ) .

( . . . I Em r eun ião r e a l i z a d a com a i n s t i t u i ç ã o em

17 /06 /05 , o v i c e - p r e s i d e n t e operac iona l ( S r . José

Roberto Salgado) reconheceu a f r a g i l i d a d e do c r é d i t o

após o s r e c e n t e s acon tec imentos envolvendo a s empresas

do grupo e s ó c i o s .

Pelos f a t o s e x p o s t o s , determinamos a

r e c l a s s i f i c a ç ã o das operaçoes para o n í v e l de r i s c o

" H " .

Em o u t r a V e r i f i c a ç ã o Espec ia l r e a l i z a d a pelo BACEN

sobre a s Operações de C r é d i t o do Banco Rural , documento c i t a d o

na denúnc ia , r e v e l a , ao menos como i n d í c i o , que o Conglomerado

Page 212: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

procurou ocultar, deliberadamente, os empréstimos concedidos ao

PT e suas sucessivas renovações. Consta o seguinte daquele

documento, verbis:

Pelas análises realizadas, verificamos que

a expressiva discrepância nas classificações das

operações deve-se a procedimentos deliberados do

Conglomerado, visando a omitir o real nível de risco

das operações e, assim, não efetuar as devidas

provisões, mesmo havendo claros indícios de

inadimplência .

Tais "procedimentos deliberados" que camuflam o risco

das operações se deram de três formas, ainda de acordo com a

Verificação Especial do BACEN: renovações sucessivas das

operações, aumento do limite de conta garantida ou liquidação de

uma operação com outra, em modalidade diferente. Com isto, o

Rural impedia que as operações de crédito realizadas com o

núcleo Marcos Valério e o Partido dos Trabalhadores

apresentassem atrasos. As conseqüências são as seguintes, nos

termos da Verificação Especial realizada pelo BACEN:

O Banco Rural, ao impedir que as operações

atrasem, conforme descrito no item anterior, dá às

operações de crédito em evidente situação de

renegociação/inadimplência tratamento de operação em

curso nozmal, reconhecendo nos resultados as rendas

destas.

Os atos normativos relativos ao assunto

vedam o reconhecimento, no resultado, de receitas de

Page 213: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

operações de crédito com atraso igual ou superior a 60

dias (art. 9", Resolução 2682/99) e, no caso de

operações renegociadas, o ganho deve ser apropriado ao

resultado somente quando do seu efetivo recebimento

(Parágrafo 2O, art. 8 O , Resolução 2682/99) . Com e s t e procedimento, a in s t i tu i ção gera

um resul tado f i c t í c i o , elevando patrimônio (PR), com

conseqüente aumento dos l i m i t e s operacionais

(Bas i l é ia , Imobilização, e t c ) .

Consta, ainda, deste mesmo relatório do BACEN, que "A

a1 ta administração do Conglomerado aprovou operações de crédito,

ora reclassificadas com pleno conhecimento de que se tratava de

empréstimos de alto risco, com grande probabilidade de não serem

pagos, v i s t o que eram incompatíveis com a capacidade financeira

dos devedores e não possuíam garantias que lhes conferissem

l iqu idez" . Dentre tais empréstimos, estão os concedidos as

empresas SMP&B Comunicação (R$ 19 milhões) e Graffiti

Participações (R$ 10 milhões), realizados em maio de setembro de

2003, respectivamente, e cuja caracterização como "empréstimo" o

Ministério Público Federal põe em dúvida.

Esta inspeção concluiu no sentido da existência de

indícios de irregularidades na gestão do banco, que classificou

como 'temerária", razão pela qual, dentre as providências

recomendadas, estava a proposta de comunicação ao Ministério

Público das irregularidades descritas. No Relatório de Análise

Page 214: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

I n q 2 .245 / MG

353/05 (apenso 8 4 ) , assim e s t ã o resumidas as conclusões do

BACEN :

O BACEN propôs abertura de comunicação ao

Min i s t é r io Público, f l . 9 , por i n d í c i o s de Gestão

Temerária, em face das prá t i cas adotadas pela

i n s t i t u i ç ã o , tendo em v i s t a a s d i versas operações de

c r é d i t o aprovadas, caracterizadas pela inobservância

às normas bás icas de concessão e gestão de c r é d i t o e à

boa técnica bancária, bem como aos p r i n c í p i o s de

prudência e segurança.

Ressal ta a e x i s t ê n c i a de sucess ivas

renovações de operações, visando ocu l tar a

inadimplência e o rea l r i s c o dos c r é d i t o s concedidos;

o aumento indiscriminado do l i m i t e de contas

garantidas; l iqu idação de operações de c r é d i t o

inadimplentes com a concessão de novos c r é d i t o s em

modalidades d i f e r e n t e s das in i c ia lmen te e f e tuadas ;

concessões de c r é d i t o temerárias; geração de l u c r o s

f i c t í c i o s ; conivência do Comitê de Crédi to por aprovar

c r é d i t o apesar da e x i s t ê n c i a de parecer t écn ico

contrár io à sua concessão; i n d í c i o s d e d e s v i o d e

r e c u r s o s d o Banco para empresas p e r t e n c e n t e s ou

l i g a d a s ao Contro lador d o Conglomerado F inance i ro

Rura l ; t r a n s f e r ê n c i a d e a t i v o s para fundo d e d i r e i t o s

c r e d i t ó r i o s admin i s t rado p e l o Banco Rura l ; e x i g ê n c i a

d e r e c i p r o c i d a d e para a s concessões d e c r é d i t o ;

emprés t imos a empresas n a c i o n a i s c u j o c o n t r o l e

a c i o n á r i o é d e empresas l o c a l i z a d a s em p a r a í s o s

f i s c a i s , com p o s s i b i l i d a d e d e possu í rem re lac ionamento

entre s i e com o Controlador d o Banco Rura l ; e

Page 215: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@e fl&&& Inq 2.245 / MG

0 1 1 9 3 5 indícios de utilização de Cédulas de Produtor Rural - CPRs para desviar recursos para empresas não

financeiras.

O P a r q u e t , reunindo outras informações, com indícios

da prática de crimes de formação de quadrilha e lavagem de

dinheiro, considerou não apenas temerária, mas fraudulenta, a

gestão do conglomerado do Banco Rural. Vale dizer, nos termos da

denúncia, os dirigentes do Banco Rural, praticaram,

voluntariamente, atos de gestão, administração e gerência,

mediante o emprego de ardis.

A meu ver, a classificação típica da conduta está

adequada a narrativa contida na denúncia ofertada pelo

Ministério Público Federal, pois, ao menos neste primeiro

momento, não é possível afastar o dolo de fraude por parte dos

gestores do Banco Rural

Outras respostas dadas pela acusada &TIA RABELLO

durante a Sessão do Conselho de Ética em 22/09/2005 corroboram a

acusação, no sentido de conferir justa causa a imputação de

prática do crime de gestão fraudulenta de instituição financeira

aos acusados no tópico em análise. Volto a transcrever trecho

daquele depoimento (Apenso 81):

O S R . DEPUTADO J A I R 0 CARNEIRO - O banco,

por acaso, ficou sob regime de fiscalização de alguma

autoridade governamental em razão de operações que, em

Page 216: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

tese, poderiam ser potencialmente t i das como

irregulares?

A SRA. KÁTIA RABELLO - Nâo. -

O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - D u r a n t e

t o d o esse p e r í o d o , não houve qualquer t i p o d e

f i sca l i zação , por s indicância de Banco Central ou de

outra autoridade governamental?

A SRA. K Á T I A RABELLO - Na v e r d a d e , a

a u t o r i d a d e f i s c a l i z a d o r a , q u e é o B a n c o C e n t r a l , e l a

t e m p r o c e d i m e n t o s q u e s ã o n o r m a i s à a t i v i d a d e d e l a

como ó r g ã o f i s c a l i z a d o r . E n t ã o , s ã o v á r i o s

p r o c e d i m e n t o s , s ã o v á r i a s f i s c a l i z a ç õ e s , d e v á r i o s

d e p a r t a m e n t o s , sobre v á r i a s á r e a s d o b a n c o . I s so é

c o n s t a n t e dentro d e t o d o s os b a n c o s . Não houve nenhuma

f i sca l i zação e não se levantou, por parte dessas

autoridades, apesar dessa f i sca l i zação constante e

normal, nenhuma questão sobre esses empréstimos ou a t é

sobre o s saques.

O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Nenhuma

a u t u a ç ã o ?

A SRA. KÁTIA RABELLO - Nem a u t u a ç ã o , nem

q u e s t i o n a m e n t o . Na v e r d a d e , o q u e h o u v e f o i um

q u e s t i o n a m e n t o , como e u j á e x p l i q u e i , q u a n d o os a t i v o s

d o b a n c o b a i x a r a m e essas operações se tornaram, em

termos r e l a t i v o s , i q o r t a n t e s dentro do a t i v o do

banco. A í , s i m , a a u t o r i d a d e . . . I n c l u s i v e e u f a ç o uma

Page 217: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

cg&=a?w d%z&&& Inq 2.245 / MG

011937

m e n ç ã o a i s s o no m e u t e x t o . Nesse momento, a

autoridade questionou, vamos dizer, a capacidade de

quitação desse devedor. 10

O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Os

contratos celebrados com o P T , 1 ou 2 contratos, os

s i g n a t á r i o s d o s c o n t r a t o s pe lo PT, quem s u b s c r e v e u os

c o n t r a t o s ?

A SRA. KÁTIA RABELLO - V o u v o l t a r a

i n s i s t i r . É um contrato que eu tenho conhecimento. Eu

não participei. Acho que eu nunca v i esses contratos,

para f a l a r a verdade. Eu tenho conhecimento de que

parece que o S r . Delúbio avaliza e o Deputado Genoino

também.

O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora

não era Presidente?

A SRA. KÁTIA RABELLO - Não , eu era. Mas é

como eu expliquei, o valor do empréstimo, ele é muito

pequeno para que viesse ao meu conhecimento.

O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - S i m . A

s e n h o r a n ã o é s i q n a t á r i a d o c o n t r a t o ?

' O Como já visto, essa fiscalização pelo BACEN foi dificultada em razão da classificação incorreta do risco das operações e da ausência de comunicação, pelo Banco Rural, de que as movimentações realizadas pelo grupo de MARCOS VALÉRIO eram incompatíveis com a renda declarada, o que seria indício de lavagem de dinheiro.

Page 218: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@ $ &&&& Inq 2.245 / MG

011938 A SRA. K Á T I A RABELLO - Não , n ã o s o u . Não

S O U

O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora

sabe das exigências que a s i n s t i t u i ç õ e s f inanceiras

impõem nas avenças, nas operações, s e ja quando à

exigência d e garantias, s e ja quanto à t i t u la r idade ou

legi t imidade de quem assina um contrato, uma operação.

E n t ã o , o j u r í d i c o d e s u a e m p r e s a d e v e ter t o d o c u i d a d o

e , creio e u , p e l a s a n á l i s e s q u e f i z , q u e o P a r t i d o d o s

T r a b a l h a d o r e s , p a r a c e l e b r a r uma o p e r a ç ã o d e c r é d i t o ,

p a r a c o n t r a i r um e m p r é s t i m o , t e m d e t e r a l e g i t i m i d a d e

d a r e p r e s e n t a ç ã o l e g a l p a r a a s s i n a r . O s e u

d e p a r t a m e n t o j u r í d i c o d e v e ter e x a m i n a d o i s s o . E ,

i n c l u s i v e , c r e io eu que, pelo e s t a t u t o do PT - aqui

temos membros do PT, que seguramente conhecem muito

mais do que eu - se r ia necessária uma autorização da

ins tânc ia competente do part ido. Houve essa

autorização?

A SRA. KÁTIA RABELLO - Não sei responder,

peço d e s c u l p a s . A g e n t e p o d e . . .

O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A s e n h o r a

p o d e r i a o f e r e c e r e s s a i n f o r m a ç ã o p a r a e s t e C o n s e l h o ?

A SRA. K Á T I A RABELLO - S i m , com t o d a a

c e r t e z a .

O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E p o d e r i a

f o r n e c e r c ó p i a d e s s e c o n t r a t o , t ambém?

Page 219: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R $ flzGa/&& I n q 2 .245 / MG

A SRA. KÁTIA RABELLO - P e r f e i t a m e n t e .

O S R . DEPUTADO J A I R O CARNEIRO - E n t ã o , esse

é um d o c u m e n t o i m p o r t a n t e p a r a es te C o n s e l h o .

A S R A . KÁTIA RABELLO - E u m e coloco

t o t a l m e n t e à d i s p o s i ç ã o p a r a c o l a b o r a r e f o r n e c e r o

d o c u m e n t o . A g e n t e s ó t e m que tomar um pouco d e

cuidado com a ques tão d o s i g i l o , não sei como é que

f i c a .

O S R . DEPUTADO J A I R O CARNEIRO - S i m , a

senhora pode f a z e r r e s t r i ç ã o d o s i g i l o , f i c a r somente

no u s o r e s t r i t o d o Conselho. Pode r e g i s t r a r i s s o . na

correspondênc ia que encaminhar.

A S R A . KÁTIA RABELLO - Aí vou p e d i r a o D r .

Jo se C a r l o s que me a j u d e a . . .

O S R . DEPUTADO J A I R O CARNEIRO - E n t ã o , v o u

repet ir a p e n a s p e l a i m p o r t â n c i a : quem é que e s t a v a

l e g i t i m a d o , como r e p r e s e n t a n t e l e g a l , a a s s i n a r o

con t ra t o ? @ a i s foram a s g a r a n t i a s c o n t r a t u a i s ? E ,

quando eu f a l o em l e g i t i m i d a d e , t em que ver segundo o

e s t a t u t o da organização c o n t r a t a n t e , mutuar ia , se

houve a u t o r i z a ç ã o , a s s i m como numa empresa ... ( . . . ) à s

vezes, é o Conselho d e Admin i s t ração que a u t o r i z a

alguém a a s s i n a r o c o n t r a t o . No p a r t i d o p o l i t i c o e n o

e s t a t u t o d o p a r t i d o também existe i s s o .

Page 220: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&-NU&& Inq 2 .245 / MG 011940

Nos encon t ros e j a n t a r e s com o Deputado

J o s é Dirceu, em nenhum momento fo i tratado qualquer

assunto relacionado com empréstimos para o PT nem com

empréstimos para sua ex-mulher, ou houve?

A SRA. KÁTIA RABELLO - Não. Na verdade,

durante o jantar e le falou um pouco sobre a ex-mulher,

mas no sentido pessoal, contando lá da loja que eles

tinham, parece, em sociedade. Jamais tocou n e s s e

a s sun to .

Tendo em v . i s ta todo o con tex to f á t i c o - p r o b a t ó r i o

envolvendo os denunciados, t r a n s b o r d a r i a o s l i m i t e s do judicium

a c c u s a t i o n i s , momento que é r eg ido p e l o p r i n c í p i o do i n dubio

p r o s o c i e t a t i s , a c o l h e r desde logo o argumento da de fe sa de que

a s operações de renovação de empréstimos p e l a adminis t ração do

Banco Rural "devem ser i n t e r p r e t a d a s como um e s f o r ç o pragmát ico

de g e s t ã o de r i s c o p e r a n t e um a n t i g o c l i e n t e que apresentava

d i f i c u l d a d e s econômicas". Como bem des t aca RODOLFO T I G R E MAIA",

a o b j e t i v i d a d e j u r i d i c a do t i p o d e f i n i d o no a r t . 4' da Lei n o

7 . 4 9 2 / 8 6 é a "transparência, a l isura, a honradez e a l icitude

na gestão das instituições financeiras, requisitos

indispensáveis à credibilidade e à existência destas e do

sistema que conformam".

Page 221: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

R- N&&& Inq 2 .245 / MG 011941

Ainda, o depoimento de G U I L H E R M E RABELLO, Diretor

Operacional do BANCO RURAL S .A . , demonstra a plausibilidade d a

acusação por gestão f raudulenta , e não meramente temerár ia ,

quando af irmou o seguin te ( f l s . 3 6 0 5 / 3 6 0 6 ) :

Que, alguns d i a s após o falecimento de JOSÉ

AUGUSTO DUMONT, passou a t e r conhecimento dos

empréstimos tomados pe las empresas vinculadas a MARCOS

VALÉRIO, bem como pe lo Partido dos Trabalhadores-PT;

Que se assus tou com os va lores dos empréstimos

concedidos, tendo estranhado o f a t o de não ter havido

o trâmite normal de aprovação de c r é d i t o s ; ( . . . ) Que,

após o fa lec imento d e AUGüSTO DUMONT a s operações d e

empréstimos a MARCOS VALÉRIO e ao PT ficaram e v i d e n t e s

aos demais d i r e t o r e s do Banco Rural , que v e r i f i c a r a m

que a s operações estavam vencidas; Que, ao v e r i f i c a r o

vencimento d a s operações, a Diretoria do banco começou

a t r a t a r a poss í ve l l iqu idação das operações, e para

t a n t o necessitavam de tempo; Que a s empresas de MARCOS

VALÉRIO foram chamadas para negociar o pagamento dos

empréstimos; Que a convocação para a renegociação dos

empréstimos ocorreu l o g o após o falecimento de JOSÉ

AUGUSTO DUMONT e a n t e s da ec losão do denominado "CASO

MENSd0"; Que não conversou com nenhum representante

das empresas SMP&B e GRAFITTE sobre a negociação dos

empréstimos; Que não sabe d i z e r qua i s forani o s

represen tan tes do banco nessas negociações, mas - provavelmente JOSÉ ROBERTO SALCPDO par t i c ipou das

conversas; Que JOSÉ ROBERTO SALGADO é o a tual V ice -

l? Dos Crimes con t r a o Sistema F inance i ro Nacional . 1' ed . Z a t i r agem. São Paulo: Malheiros E d i t o r e s , 1 9 9 9 . p . 56 .

Page 222: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ 8a&u Inq 2.245 / MG 0 1 1 9 4 2

Presidente Executivo do GRUPO RURAL; Que não sabe

dizer se o PT foi chamado para negociar o pagamento do

empréstimo; Que, após o falecimento de AUGUSTO DUMONT,

a diretoria passou a renovar os empréstimos1z na busca

de uma solução amigável para o empréstimo; ( . . . ) Que

somente o Departamento Jurídico do Banco Rural pode

explicar as negociações que levaram ao acordo judicial

que permitiu que empresas de MARCOS VALÉRIO sacassem

dinheiro de suas contas bancárias que mantinham no

Banco Rural; ( . . . )

Por fim, a alegação de que não houve uma correta

individualização das condutas de cada um dos denunciados não me

parece suficiente para impedir o recebimento da denúncia neste

ponto.

É verdade que a jurisprudência da Corte vem ganhando

novos contornos no tema da "denúncia genérica" em crimes

societários. Mas a nova orientação não se estende ao caso em

análise.

O delito de gestão fraudulenta de instituição

financeira é classificado como crime próprio, para o qual se

exige uma especial qualidade do sujeito ativo, que, no caso, é

dada pelo art. 25 da Lei no 7 . 4 9 2 / 8 6 , verbis:

Art. 25. São penalmente responsáveis, nos

termos desta Lei, o controlador e os administradores

l2 O que demonstra que as renovações continuaram mesmo após o falecimento de JOSÉ AUGUSTO DUMONT.

Page 223: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

de instituição financeira, assim considerados os

diretores, gerentes (vetado) .

0s denunciados são, exatamente, as pessoas

responsáveis pela gestão do Banco Rural, como, aliás, se lê nos

depoimentos de Carlos Sanches Godinho, ex Superintendente de

Compliance do Banco, e do denunciado José Roberto Salgado. Veja-

se o seguinte e relevante trecho do depoimento de GODINHO'~

(Apenso 84 ) :

Que, indagado sobre os empréstimos do PT e

das empresas de Marcos Valério, esclareceu que esses

empréstimos foram formalizados, contabilizados,

informados à Central de Risco de Crédito do Bacen, mas - não foram pagos; Que a Resolução do BACEN 2682, que

dispõe sobre "RATING" de clientes e operações de

crédito, estabelece que [as Instituições Financeiras]

devem seguir um critério de provisionamento em função

de qualidade das garantias e pontualidade do

pagamento, e, no caso especifico do PT e SMPB, - os

empréstimos foram classificados como "rating" AA, o

gue evitou a contabilização do provisionamento das

renovações ocorridas a cada 90 dias, independentemente

de pagamento ou amortização; Que o único

provisionamento apontado é aquele ocorrldo em função

de determinação do BACEN por ocasião do balanço

semestral; Que, pela Resolução do BA(3EN, a situação

dos empréstimos do PT e SMPB exigia uma

l 3 Carlos Godinho, como visto no capitulo 4, foi forçado a entrar no PDV, em razao de ter se recusado a assinar um relatório em que o Conselho de Administração excluiu, de suas conclusões, os indícios de lavagem de dinheiro por parte da SMPLB e do PT.

Page 224: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@$2&%?w NU&& Inq 2.245 / MG

011944 reclassificação do "rating" em função da falta de

pagamento/amortização; Que a c l a s s i f i c a ç ã o do "ra t ing"

incumbia ao Serv iço de Assessoria de Crédi to ,

subordinada ao Dire tor E s t a t u t á r i o Welerson Antônio da

Rocha, o q u a l , por sua v e z , se reportava ao Vice-

Presidente Operacional José Roberto Salgado; Que todo

emprés t~mo t inha uma proposta e l e t r ô n i c a , com

autorização por a lçadas , de acordo com o va lor e o

s e t o r de a t l v l d a d e econômica do c l i e n t e , e , no caso

específico, tanto a Dra. Kátia Rabello, Presidente do

Rural, como o Vice-presidente Gperacional, José

Roberto Salgado, aprovaram as renovações/operaçÔes

novas; Que, no caso dos empréstimos para o PT e SMPB,

a alçada era do Comitê de Crédito Central, com - aprovação da Presidente ou do Vice-presidente

Operacional ; Que a Vice-presidente Ayanna não

Integrava o Comitê Central de Crédl to , mas, como

responsável pela prevenção à lavagem de dinheiro, - não

podia alegar que desconhecia a atipicidade das

movimentações acima do padrão; ( . . . ) esc larece que, em

razão do excesso de recursos que ingressaram nas

contas da SMPB, ultrapassando muito o faturamento

mensal cadastrado no Banco Rural e a falta de

amortizaçÕes/pagamentos dos empréstimos, a situação

pode ser considerada atipica em relação ao mercado

financeiro;

A l i á s , a própria acusada KÁTIA RABELLO admitiu essa

sua posição de quem é informada sobre tudo o que se passa no

banco. Ainda que de modo i n d i r e t o , e l a as s ina lou , em depoimento

Page 225: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ B&@& Inq 2 . 2 4 5 / MG

0 1 1 9 4 5

ao Conselho de É t i c a , que t i n h a conhecimento do que se passava

nesses contra tos de empréstimo celebrados pelo Banco Rural com o

PT e com Marcos V a l é r i o . Leio, apenas para demonstrar que e s t a

afirmação tem base nos au tos , mais um t r e c h o do depo imen todes ta

acusada perante o Conselho de Ét ica e Decoro Parlamentar da

Câmara (Apenso 81) :

O S R . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - ( . . . ) Diz a

acusação contra o Deputado José Dirceu, a t r ibu indo

também ao c a s a l , o S r . Marcos V a l é r i o e a sua esposa,

S r a . Renilda: "Dirceu sabia dos empréstimos ao PT".

"Mulher de V a l é r i o l i g a Dirceu a empréstimos".

"Renilda envolve Dirceu e apressa sua convocação". Sem

qualquer r i s c o de lapso de memória de V . S a . , c r e i o

que já haja respondido anteriormente , mas é importante

de ixar muito pa ten te . Então, r e p i t o , sem qualquer

r i s c o de lapso de memória, a senhora declara o que,

quanto a e s s a s af irmações publicadas em manchetes de

jornais? O Deputado José Dirceu t inha conhecimento das

operações contraidas pe lo PT junto ao seu banco?

A SRA. K Á T I A RABELLO - Não POSSO fazer essa

afirmação.

O S R . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - M a s do seu

conhecimento. . .

A SRA. K Á T I A RABELLO - Não.

Page 226: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&-&&H& Inq 2.245 / MG O 1 1 9 4 6

O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Do seu

conhecimento não.

A SRA. KÁTIA RABELLO - Não. DOS meus

contatos com ele . . .

O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sobre

recebedores de saques, listagens de recebedores de

saques, nas anotações que foram oferecidas e

fornecidas por sua empresa, nos depoimentos prestados

e no conjunto de informações fornecidos as BMi's, em

algum momento, figura o nome do Deputado José Dirceu

como destinatário de qualquer valor?

A SRA. KÁTIA RABELLO - Não que seja do meu

conhecimento. Acho que, se tivesse, eu saberia.

Considerando que as fraudes narradas pelo Parquet

foram supostamente praticadas em concurso com outros crimes

(lavagem de dinheiro, evasão de divisas), com a participação de

inúmeros outros agentes, não seria possível que a denúncia

individualizasse, minudenciasse, a conduta de cada acusado, dada

a impossibilidade material de fazé-10.

Diferentemente dos casos em que começou a se esboçar a

nova orientação da Corte, não se imputou aos gestores do Banco

Rural a prática de crime que poderia ter sido praticado por um

qualquer diretor do Banco, isoladamente. Os dirigentes

denunciados não comunicaram ao Banco Central a ocorrência de

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& q B&@& Inq 2.245 / MG 0 1 1 9 4 7

movimentações financeiras suspeitíssimas, comparadas ao

rendimento do cliente. No caso em análise, os quatro denunciados

eram responsáveis pelo Comitê de Prevenção a Lavagem de

Dinheiro, pelas áreas de compliance, contabilidade, jurídica e

tecnológica, justamente as áreas em que as supostas fraudes na

gestão da instituição financeira teriam sido praticadas. Assim,

seria impossível excluir um ou alguns deles dos fatos narrados

na denúncia, ao menos por ora. Neste momento, a única conclusão

possível é de que, ao menos .em tese, seria necessária a

participação de todos os denunciados para que as supostas

fraudes pudessem ser praticadas.

Do exposto, Senhora Presidente, considero

perfeitamente atendidos os termos do art. 41 do Código de

Processo Penal, não havendo qualquer dificuldade para que os

denunciados se defendam dos fatos a eles atribuídos na denúncia,

não sendo exigível, por ora, que o P a r q u e t enuncie exatamente os

atos praticados por cada um para caracterizar as fraudes na

gestão do Banco Rural, mesmo porque não é de se supor que tenham

deixado registros próprios dos crimes eventualmente praticados.

Recebo a denúncia contra JOSÉ ROBERTO SALGADO, AYANNA

TEN~RIO, VINÍCIUS SAMARANE e KÁTIA RABELLO, pela suposta prática

do crime definido no art. 4 O da Lei no 7 . 4 9 2 / 8 6 , nos termos do

art. 29 do Código Penal, conforme descrito no item V da inicial

acusatória.

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DAS IMPUTAÇÕES DE CORRUP~ÃO ATIVA, CORRUPÇÃO PASSIVA,

QUADRILHA E LAVAGEM DE DINHEIRO (PARTIDOS DA BASE ALIADA DO

GOVERNO) - Capitulo VI da denúncia

Este c a p i t u l o d a denúncia é d i v i d i d o em s u b i t e n s ,

sendo r e l e v a n t e , para sua adequada compreensão, a l e i t u r a d a

introdução f e i t a pelo Procurador-Geral d a República, nos

seguin tes termos ( f l s . 5 7 0 5 / 5 7 0 7 ) :

Toda a e s t r u t u r a montada por José Dirceu,

Delúbio Soares, José Genoíno e S í l v i o Pereira t i n h a ,

e n t r e seus o b j e t i v o s , angariar i l i c i tamente o apoio de

outros par t idos p o l í t i c o s , para formar a base de

sustentação ao Governo Federal.

Nesse s e n t i d o , e1 e s ofereceram e ,

poster iormente , pagaram v u l t o s a s quant ias a diversos

parlamentares federa i s , principalmente os d i r i g e n t e s

p a r t i d á r i o s , para receber apoio p o l í t i c o do Partido

Progressis ta - PP, Part ido Trabalhis ta B r a s i l e i r o -

PTB e par te do Part ido do Movimento Democrático

B r a s i l e i r o - PMDB.

P a r a a execução dos pagamentos de propina,

José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e S i l v i o

Pereira valeram-se dos s e r v i ç o s prestados por Marcos

V a l é r i o , Ramon Hollerbach, C r i s t i a n o P a z , Rogério

To len t ino , Simone Vasconcelos e Geiza Dias.

Portanto, na forma do a r t i g o 29 do Código

Pena 1 , o s denunciados ind icados deverão responder, em

concurso m a t e r i a l , por todos os crimes de corrupção

a t i v a que praticaram, os quais serão devidamente

Page 229: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+ &-&- Inq 2 . 2 4 5 / MG

narrados em tópicos individualizados para cada partido

poli tico.

De plano, importante destacar que algumas

das agremiações políticas corrompidas, como s e verá

ad ian te , chegaram a estruturar quadrilhas autônomas

para viabilizar o cometimento dos crimes de corrupção

passiva e lavagem de capitais, c o n s i s t e n t e s no

recebimento direto ou disfarçado dos pagamentos de

propina em troca de integrarem a base de apoio ao

Governo Federal.

Quando eram rea l i zadas retiradas em

espécie, obje t ivando não de ixar qualquer s inal da sua

par t ic ipação, os beneficiários reais apresentavam um

terceiro, indicando o seu nome e qua l i f i cação para o

recebimento de v a l o r e s .

Além dos pagamentos, que foram comprovados

pelos documentos obtidos em razão do cumprimento de

medida de busca e apreensão no Banco Rural, é prec iso

reg i s t rar que vários repasses foram efetuados

diretamente por Marcos V a l é r i o e Simone Vasconcelos,

sem qualquer registro formal, ainda que rudimentar.

Com e f e i t o , era muito comum Simone

Vasconcelos sacar o s va lores em espéc ie e entregar

pessoalmente aos b e n e f i c i á r i o s f i n a i s , assim como era

habi tual que a s quant ias sacadas em dinheiro fossem

entregues diretamente a Marcos Va lér io para que

entregasse ao d e s t i n a t á r i o f i n a l

Como já podemos notar a p a r t i r des ta introdução, o

Minis tér io Público F e d e r a l acusa:

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0 1 1 9 5 0 1) JOSÉ DIRCEU, DELÚBIO SOARES, JOSÉ GENOÍNO, SÍLVIO

PEREIRA, MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ,

ROGÉRIO TOLENTINO, SIMONE VASCONCELOS e GEIZA DIAS de oferecerem

e, posteriormente, pagarem vultosas quantias a diversos

parlamentares federais, principalmente os dirigentes

partidários, para receber apoio politico do Partido Progressista

- PP, Partido Liberal - PL, Partido Trabalhista Brasileiro - PTB

e parte do Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB.

Tal conduta configura, em tese, crime de corrupção

ativa, por conter os elementos típicos descritos no art. 333 do

Código Penal, verbis:

Corrupção ativa

Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem

indevida a funcionário público, para determiná-lo a

praticar, omitir ou retardar ato de oficio:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze)

anos, e multa.

( . . . I

2 ) Acusa, ainda, Parlamentares federais e,

principalmente, dirigentes partidários do PP, PL, PTB e PMDB, de

receberem pagamento de propina em troca de "apoio político" ao

Governo Federal nas votações realizadas no Congresso.

Imputa, assim, a tais denunciados, a prática do crime

de corrupção passiva, cujos elementos típicos estão, ainda em

tese, configurados. Senão, vejamos:

Page 231: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Seçáo de Processos Diversos do Plenário

TERMO DE ENCERRAMENTO DE VOLUME

Em 0&I de de &003 , fica encerrado o 35' volume dos presentes autos do (a) % à folha no 5 , Seção de Processos Diversos do Plenário. Eu,

P/ , Analista/Técnico Judiciário, lavrei o p/esente ~errho.