mensalão do pt - recebimento da denúncia
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Seçáo de Processos Diversos do Plenário
TERMO DE ABERTURA
Em O q de h-@ de , fica formado o 5% volume dos presentes autos (a) que se
inicia a folha no / i A . W Y . Seção de Processos Diversos do Plenário Eu, &&p/ , Analista/Técnico Judiciário, lavrei este termd.
.
INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS
RELATOR AUTOR (A/s) (ES) DENUNCIADO(A/~) ADVOGADO (A/S )
DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO (A/S )
DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO (A/S ) DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S)
DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S ) DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (AI'S) DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S)
DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S ) DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO (A/Sl DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO (A/S) DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S) DENUNCIADO (A/S) ADVOGADO (A/S )
DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO (A/S) DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S )
DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S) DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S )
011728
TRIBUNAL PLENO
MIN. JOAQUIM BARBOSA MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA JOSÉ LUIS MENDES DE OLIVEIRA LIMA E OUTROS JOSÉ GENOÍNO NETO SANDRA MARIA GONÇALVES PIRES E OUTROS DELÚBIO SOARES DE CASTRO CELSO SANCHEZ VILARDI E OUTRO(A/S) SÍLVIO JOSÉ PEREIRA GUSTAVO HENRIQUE RIGHI IVAHY BADARÓ E OUTROS MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA MARCELO LEONARDO E OUTROS RAMON HOLLERBACH CARDOSO HERMES VILCHEZ GUERRERO E OUTROS CRISTIANO DE MELLO PAZ CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES FILHO E OUTROS ROGÉRIO LANZA TOLENTINO PAULO SÉRGIO ABREU E SILVA SIMONE REIS LOBO DE VASCONCELOS LEONARDO ISAAC YAROCHEWSKY E OUTROS GEIZA DIAS DOS SANTOS PAULO SÉRGIO ABREU E SILVA KÁTIA RABELLO THEODOMIRO DIAS NETO E OUTROS JOSE ROBERTO SALGADO MAURÍCIO DE OLIVEIRA CAMPOS JÚNIOR E OUTROS VINÍCIUS SAMARANE JOSÉ CARLOS DIAS E OUTRO(A/S) AYANNA TENÓRIO TORRES DE JESUS MAURÍCIO DE OLIVEIRA CAMPOS JÚNIOR E OUTROS JOÃO PAULO CUNHA ALBERTO ZACHARIAS TORON E OUTRA LUIZ GUSHIKEN JOSÉ ROBERTO LEAL DE CARVALHO E OUTROS
R?g&%?m c2ZU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
D E N U N C I A D O ( A / S ) ADVOGADO ( A / S ) D E N U N C I A D O ( A / S )
DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO ( A / S )
DENUNCIADO ( A / s ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO ( A / s ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO (A/s) DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO ( A / S )
DENUNCIADO ( A / s ) ADVOGADO ( A / s ) DENUNCIADO ( A / s ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO (A/s )
ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO (AI'S) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO ( A / S 1
DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO (AI'S) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO ( A / S ) ADVOGADO ( A / S ) DENUNCIADO (AI'S)
ADVOGADO ( A / S )
HENRIQUE P I Z Z O L A T O MÁRIO DE OLIVEIRA FILHO E OUTROS PEDRO DA S I L V A CORRÉA DE O L I V E I R A ANDRADE NETO EDUARDO ANTONIO LUCHO FERRÃO E OUTRO ( A / S ) J O S E MOHAMED JANENE MARCELO LEAL DE L I M A O L I V E I R A E OUTROS PEDRO HENRY NETO JOSÉ ANTONIO DUARTE ALVARES E OUTRO JOÃO CLÁUDIO DE CARVALHO GENU MARCO ANTONIO MENEGHETTI E OUTROS ENIVALDO QUADRADO P R I S C I L A CORRÊA G I O I A E OUTROS BRENO F I S C H B E R G LEONARDO MAGALHÃES AVELAR E OUTROS CARLOS ALBERTO QUAGLIA DAGOBERTO ANTORIA DUFAU E OUTRA VALDEMAR COSTA NETO MARCELO L U I Z ÁVILA DE B E S S A E OUTRO ( A / S ) J A C I N T O DE SOUZA LAMAS DÉLIO L I N S E S I L V A E O U T R O ( A / S ) ANTONIO DE PÁDUA DE SOUZA LAMAS DÉLIO L I N S E S I L V A E O U T R O ( A / S ) CARLOS ALBERTO RODRIGUES P I N T O ( B I S P O RODRIGUES) MARCELO L U I Z ÁVILA DE B E S S A E OUTROS ROBERTO J E F F E R S O N MONTEIRO FRANCISCO L U I Z FRANCISCO CORRÊA BARBOSA EMERSON ELOY P A L M I E R I ITAPUÃ P R E S T E S DE M E S S I A S E OUTRA ROMEU F E R R E I R A QUEIROZ JOSÉ ANTERO MONTEIRO F I L H O E OUTRO ( A / s ) JOSÉ RODRIGUES BORBA INOCÊNCIO MÁRTIRES COELHO E OUTRO PAULO ROBERTO GALVÃO DA ROCHA MÁRCIO L U I Z S I L V A E O U T R O ( A / S ) A N I T A LEOCÁDIA P E R E I R A DA COSTA LUÍS MAXIMILIANO LEAL T E L E S C A MOTA L U I Z CARLOS DA S I L V A ( P R O F E S S O R L U I Z I N H O ) MÁRCIO L U I Z SILVA E OUTROS
R* NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO (A/S ) DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO(A/S)
DENUNCIADO(A/S) ADVOGADO (A/S 1
ADVOGADO (A/S) DENUNCIADO (A/s) ADVOGADO (A/S)
: JOÃO MAGNO DE MOURA : OLINTO CAMPOS VIEIRA E OUTROS : ANDERSON ADAUTO PEREIRA : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES FILHO E
OUTRO (A/S) : JOSÉ LUIZ ALVES : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES FILHO E
OUTRO (A/S) : JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE MENDONÇA
( DUDA MENDONÇA) : TALES CASTELO BRANCO E OUTROS : ZILMAR FERNANDES SILVEIRA : TALES CASTELO BRANCO E OUTROS
R E L A T Ó R I O
O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - (Relator): Sra.
Presidente, o eminente Procurador-Geral da República apresentou
denúncia contra JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA, JOSÉ GENOINO
NETO, DELÚBIO SOARES DE CASTRO, SILVIO JOSÉ PEREIRA, MARCOS
VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA, RAMON HOLLERBACH CARDOSO, CRISTIANO
DE MELLO PAZ, ROGÉRIO LANZA TOLENTINO, SIMONE REIS LOBO DE
VASCONCELOS, GEIZA DIAS DOS SANTOS, KÁTIA RABELLO, JOSÉ ROBERTO
SALGADO, VINICIUS SAMARANE, AYANNA TENÓRIO TORRES DE JESUS, JOÃO
PAULO CUNHA, LUIZ GUSHIKEN, HENRIQUE PIZZOLATO, PEDRO DA SILVA
CORRÊA DE OLIVEIRA ANDRADE NETO, JOSÉ MAHAMED JANENE, PEDRO
HENRY NETO, JOÃO CLÁUDIO DE CARVALHO GENÚ, ENIVALDO QUADRADO,
BRENO FISCHBERG, CARLOS ALBERTO QUAGLIA, VALDEMAR COSTA NETO,
JACINTO DE SOUZA LAMAS, ANTONIO DE PÁDUA DE SOUZA LAMAS, CARLOS
ALBERTO RODRIGUES PINTO (BISPO RODRIGUES), ROBERTO JEFFERSON
fie fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011731
MONTEIRO FRANCISCO, EMERSON ELOY PALMIERI, ROMEU FERREIRA
QUEIROZ, JOSÉ RODRIGUES BORBA, PAULO ROBERTO GALVÃO DA ROCHA,
ANITA LEOCÁDIA PEREIRA DA COSTA, LUIZ CARLOS DA SILVA (PROFESSOR
LUIZINHO), JOÃO MAGNO DE MOURA, ANDERSON ADAUTO PEREIRA, JOSÉ
LUIZ ALVES, JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE MENDONÇA (DUDA MENDONÇA)
e ZILMAR FERNANDES SILVEIRA, pela suposta prática de diversos
crimes que serão minudenciados mais adiante neste relatório.
Passo a sintetizar o conteúdo da denúncia cujo teor,
desde o seu oferecimento, é público e já foi amplamente
divulgado pelos meios de comunicação.
Farei um breve resumo do extenso e complexo documento
de 138 laudas, de modo a demonstrar as imputações que dele
constam.
Obviamente, as partes pertinentes da denúncia serão
novamente reproduzidas, quando necessário, no decorrer do meu
voto.
Antes de descrever as condutas de forma
individualizada e de proceder as imputações específicas em
relação a cada denunciado, o chefe do Ministério Público Federal
apresenta um capítulo introdutório, no qual são narrados os
fatos notórios que deram origem ao presente inquérito (fls.
56161'5620).
Diz o PGR na referida Introdução (fls. 5616-5620):
"I) INTRODUÇÃO
@gl?k.zw B u & u Inq 2 . 2 4 5 / MG
Os f a t o s de que t r a t a m a presente denúncia tornaram-se públ icos a p a r t i r da divulgação pela imprensa de uma gravação de v ídeo na qual o e x Chefe do DECAM/ECT, Mauricio Marinho, s o l i c i t a v a e também recebia van tagem indevida para i l i c i t a m e n t e b e n e f i c i a r um suposto empresário i n t e r e s s a d o em negociar com o s Corre ios , mediante contra tações e spúr ias , das q u a i s resu l tar iam vantagens econômicas t a n t o para o corruptor , quanto para o grupo de serv idores e d i r i g e n t e s da ECT que o Marinho d i z i a representar .
Na negociação en tão es tabe lec ida com o suposto empresário e seu acompanhante, Mauricio Marinho expôs, com riqueza de d e t a l h e s , o esquema de corrupção de agentes públ icos e x i s t e n t e naquela empresa púb l i ca , conforme s e depreende da l e i t u r a da reportagem divulgada na r e v i s t a V e j a , Edição de 18 de maio de 2005, com o t i t u l o " O Homem Chave do PTB".
As i nves t igações e f e tuadas pela Comissão Parlamentar M i s t a de Inquér i to e também no âmbito do presente i n q u é r i t o evidenciaram o loteamento p o l i t i c o dos cargos públ icos em troca de apoio a s propostas do Governo, p rá t i ca que representa um dos p r i n c i p a i s f a t o r e s do desv io e má apl icação de recursos púb l i cos , com o o b j e t i v o de f i nanc iar campanhas mi l ionár ias nas e l e i ç õ e s , além de proporcionar o enriquecimento i l í c i t o de agentes públ icos e p o l í t i c o s , empresários e l o b i s t a s que atuam nessa pern ic iosa engrenagem.
Acuado, po i s o esquema de corrupção e desv io de d inhe i ro púb l i co es tava focado, em um primeiro momento, em d i r i g e n t e s da ECT indicados pe lo P T B , r e su l tado de sua composição p o l í t i c a com i n t e g r a n t e s do Governo, o e x Deputado Federal Roberto J e f f e r s o n , en tão Presidente do PTB, d ivu lgou , i n i c ia lmen te pela imprensa, de ta lhes do esquema de corrupção de parlamentares, do qual fa z ia p a r t e , esclarecendo que parlamentares que compunham a chamada "base a l iada" recebiam, periodicamente, recursos do Partido dos Trabalhadores em razão do seu apoio ao Governo Federal, cons t i tu indo o que se denominou como "mensalão". Roberto Je f f e rSon indicou nomes de
parlamentares b e n e f i c i á r i o s desse esquema, e n t r e os quais o ex Deputado Bispo Rodrigues - FL; o Deputado Jose Janene - PP; o Deputado Pedro Corrêa - PP; o Deputado Pedro Henry - PP e o Deputado Sandro Mabel - PL. Informou também que e l e própr io , como Presidente do P T B , bem como o ex - t e soure i ro do Part ido, Emerson
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Palmieri , haviam recebido do Partido dos Trabalhadores a quantia de R$4 mi lhões de r e a i s , não declarada a Receita Federal e à Jus t i ça E l e i t o r a l , uma vez que t a l d inhe i ro não poderia s e r con tab i l i zado em razão de a s u a origem não s e r p a s s i v e l de declaração.
O ex Deputado esc lareceu ainda que a atuação de i n t e g r a n t e s do Governo Federal e do Partido dos Trabalhadores para garant i r apoio de parlamentares ocorria de duas formas: o loteamento p o l i t i c o dos cargos púb l i cos , o que denominou " f á b r i c a s de d inhe i ro" , e a d i s t r i b u i ç ã o de uma "mesada" aos parlamentares.
A s i tuação d e s c r i t a por Roberto J e f f e r s o n , no que se r e f e r e ao loteamento de cargos na e s t ru tura do Governo, é f a t o púb l i co , vez que prat icado de forma i n s t i t u c i o n a l i z a d a não apenas pe lo Partido dos Trabalhadores, e s e encontra corroborada por d i ver sos depoimentos co lh idos nos au tos , e n t r e os quais : e x Deputado' Federa1 José Borba, Deputado José Janene ( f l s . 1702/1708) e ex Tesoureiro do PTB Emerson Palmieri .
N o depoimento que prestou na Comissão de Ét ica da Câmara dos Deputados e também na CPMI "dos Correios" , Roberto J e f f e r s o n afirmou que o esquema pe lo mesmo n o t i c i a d o era d i r i g i d o e operacional izado, e n t r e o u t r o s , pe lo ex Minis t ro Chefe da Casa C i v i l , José Dirceu, pe lo e x Tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, Delúbio Soares, e por um empresário do ramo de publ ic idade de Minas Gerais , a t é então desconhecido do grande públ ico , chamado Marcos V a l é r i o , ao qual incumbia a d i s t r i b u i ç ã o do d inhe iro .
Tornado públ ico o esquema do chamado "Mensalão", def lagraram-se, no âmbito dessa Corte , a s i nves t igações que instruem a presente denúncia, redirecionaram-se os t rabalhos da CPMI "dos Correios" que j á s e encontravam em andamento, e i n s t a l o u - s e uma nova Comissão Parlamentar, a CPMI da "Compra de Votos" .
Relevante des tacar , conforme será demonstrado nes ta peça, que todas a s imputações f e i t a s pe lo e x Deputado Roberto J e f f e r s o n ficaram comprovadas.
Tanto é que o p ivõ de toda essa e s t ru tura de .corrupção e lavagem de d inhe i ro , o p u b l i c i t á r i o Marcos V a l é r i o , b e n e f i c i á r i o de importantes contas de publ ic idade no Governo Federal, em sua mani fes tação de pseudo-interesse em colaborar com a s i nves t igações ,
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a p r e s e n t o u uma r e l a ç ã o d e v a l o r e s q u e t e r i a m s i d o r e p a s s a d o s d i r e t a m e n t e a p a r l a m e n t a r e s e a o u t r a s p e s s o a s f í s i c a s e j u r í d i c a s i n d i c a d a s p o r D e l ú b i o S o a r e s , a c r e s c e n d o - s e , a l i s t a i n d i c a d a p o r R o b e r t o J e f f e r s o n , os s e g u i n t e s p a r l a m e n t a r e s : Deputado João Magno - P T ; Deputado João Pau lo Cunha - PT; Deputado J o s é Borba - PMDB; Deputado J o s i a s Gomes da S i l v a - P T ; Deputado Pau lo Rocha - P T ; Deputado P r o f e s s o r L u i z i n h o - PT; Deputado Romeu F e r r e i r a Q u e i r o z - PTB; e Deputado Vadão Gomes - PP.
O c r u z a m e n t o d o s d a d o s b a n c á r i o s o b t i d o s p e l a CMPI " d o s C o r r e i o s " e também p e l o s a f a s t a m e n t o s d o s s i g i l o s d e f e r i d o s n o â m b i t o d o p r e s e n t e i n q u é r i t o p o s s i b i l i t o u a v e r i f i c a ç ã o d e r e p a s s e s d e v e r b a s a t o d o s o s b e n e f i c i á r i o s r e l a c i o n a d o s n a s l i s t a g e n s em a n e x o . Na r e a l i d a d e , a s a p u r a ç õ e s e f e t i v a d a s n o â m b i t o d o i n q u é r i t o em a n e x o foram a l é m , e v i d e n c i a n d o e n g e n d r a d o s esquemas d e e v a s ã o d e d i v i s a s , sonegação f i s c a l e l avagem d e d i n h e i r o p o r empresas l i g a d a s a o s p u b l i c i t á r i o s Marcos V a l é r i o e Duda Mendonça e também p o r o u t r a s e m p r e s a s f i n a n c e i r a s e n ã o f i n a n c e i r a s , que s e r ã o o b j e t o d e a p r o f u n d a m e n t o d a s i n v e s t i g a ç õ e s n a s i n s t â n c i a s j u d i c i a i s adequadas .
Em o u t r a l i n h a , a a n á l i s e d a s m o v i m e n t a ç õ e s f i n a n c e i r a s d o s i n v e s t i g a d o s e d a s o p e r a ç õ e s r e a l i z a d a s p e l a s i n s t i t u i ç õ e s f i n a n c e i r a s e n v o l v i d a s n o esquema demons t ra q u e e s t e s , f a z e n d o t a b u l a r a s a da l e g i s l a ç ã o v i g e n t e , mant inham um i n t e n s o mecanismo d e l avagem d e d i n h e i r o com a o m i s s ã o d o s ó r g ã o s d e c o n t r o l e , uma que p o s s u í a m o a p o i o p o l í t i c o , a d m i n i s t r a t i v o e o p e r a c i o n a l d e J o s é D i r c e u , q u e i n t e g r a v a o Governo e a c ú p u l a d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s .
A o r i g e m d e s s e s r e c u r s o s , e m sua i n t e g r a l i d a d e , a i n d a n ã o f o i i d e n t i f i c a d a , s o b r e t u d o e m r a z ã o d e e x p e d i e n t e s a d o t a d o s p e l o s p r ó p r i o s i n v e s t i g a d o s , q u e se u t i l i z a r a m d e uma e l a b o r a d a e n g e n h a r i a f i n a n c e i r a , f a c i l i t a d a p e l o s b a n c o s e n v o l v i d o s , n o t a d a m e n t e o Banco R u r a l , onde o d i n h e i r o p ú b l i c o m i s t u r a - s e com o p r i v a d o , p e r p a s s a p o r i n ú m e r a s c o n t a s para f i n s d e p u l v e r i z a ç ã o a t é o s e u d e s t i n o f i n a l , i n c l u i n d o m u i t a s v e z e s s a q u e s e m f a v o r d o p r ó p r i o e m i t e n t e e o u t r a s i n t r i n c a d a s o p e r a ç õ e s com o f f s h o r e s e e m p r e s a s t i t u l a r e s d e c o n t a s n o e x t e r i o r , t e n d o como d e s t i n o f i n a l p a r a í s o s f i s c a i s .
A p r e s e n t e d e n ú n c i a refere-se à d e s c r i ç ã o d o s f a t o s e c o n d u t a s r e l a c i o n a d o s a o esquema que
&e d?z&&U Inq 2.245 / MG
envolve especificamen te os integrantes do Governo Federal que constam do pólo passivo; o grupo de Marcos Valério e do Banco Rural; parlamentares; e outros empresários.
0s denunciados operacionalizaram desvio de recursos públicos, concessões de benefícios indevidos a particulares em troca de dinheiro e compra de apoio político, condutas que caracterizam os crimes de quadrilha, peculato, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, corrupção e evasão de divisas. "
Em seguida, é formulada a denúncia, dividida em 7
itens distintos, excluindo-se a já citada Introdução, sendo que
alguns desses itens, por sua vez, estão divididos em subitens.
Assim está composta a denúncia: I- Introdução; II-
Quadrilha; 111- Desvio de Recursos Públicos; 111.1 - Câmara dos
Deputados; 111.2- Contratos No 99/1131 e 01/2003 - DNA
Propaganda Ltda. e Banco do Brasil (Processo TC 019.032/2005-0;
111.3- Transferências de recursos do Banco do Brasil para a
Empresa DNA propaganda Ltda. por meio da Companhia Brasileira de
Meios de Pagamento - Visanet; 111.4- Contrato no 31/2001-
SMP&B/Ministério dos Transportes; contrato no 12.371/2003 -
SMP&B/ Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT;
Contrato no 4500002303 - DNA Propaganda/ Centrais Elétricas do
Norte do Brasil S.A/Eletronorte; IV. - Lavagem de Dinheiro - Lei
no 9.613/98; V- Gestão Fraudulenta de Instituição Financeira -
artigo 4" da Lei no 7.492/86; VI - Corrupção ativa, corrupção
passiva, quadrilha e lavagem de dinheiro (Partidos da Base
Aliada do Governo); VI.l - Partido Progressista; VI.2- Partido
@$2ie?m &&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
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Libera l ; VI.3- Partido Trabalh is ta Bras i l e i ro ; V I . 4 - Partido
Movimento Democrático Bras i l e i ro ; VI1 - Lavagem de Dinheiro
(Par t ido dos Trabalhadores e o ex-Ministro dos Transpor tes ) ;
VI11 - Evasão de Divisas e Lavagem de Dinheiro - Duda Mendonça e
Zilmar Fernandes.
No i t em I1 da denúncia o procurador-geral d a
República narra os f a t o s que supostamente configurariam o d e l i t o
prev i s to no a r t i g o 2 8 8 do Código Penal, sustentando es tar - se
d iante de uma organização criminosa d iv id ida em t r ê s núcleos
d i s t i n t o s ( f l s . 5 6 2 5 - 5 6 2 6 ) :
"As provas colhidas no curso do Inquér i to demonstram exatamente a e x i s t ê n c i a de uma complexa organização criminosa, d iv id ida em t r ê s partes d i s t i n t a s , embora i n t e r l i g a d a s em sucessivas operações: a ) núcleo cen t ra1 : José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino e S í l v i o Pereira; b) núcleo operacional e f inanceiro , a cargo do esquema p u b l i c i t á r i o : Marcos V a l é r i o , Ramon Hollerbach, Cr i s t iano Paz, Rogério Tolent ino , Simone Vasconcelos e Geiza Dias; e c ) núcleo operacional e f inanceiro: José Augusto Dumont ( f a l e c i d o ) , a cargo da a l t a direção do Banco Rural : Vice-pres idente , José Roberto Salgado, Vice-presidente Operacional, Ayanna Tenório, Vice- Presidente , V i n í c i u s Samarane, Diretor e s t a t u t á r i o e Kátia Rabello, pres idente .
Ante o t e o r dos elementos de convicção angariados na fase pré-processual, não remanesce qualquer dúvida de que os denunciados José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e S í l v i o Pereira, objet ivando a compra de apoio p o l í t i c o de outros Partidos p o l í t i c o s e o financiamento fu turo e p r e t é r i t o (pagamento de d i v i d a s ) das suas próprias campanhas e l e i t o r a i s , associaram-se de forma es táve l e permanente aos denunciados Marcos Va lér io , Ramon Hollerbach, Cr i s t iano Paz, Rogério Tolent ino , Simone Vasconcelos, Geiza Dias (núcleo p u b l i c i t á r i o ) , e a José Augusto Dumont ( f a l e c i d o ) , José Roberto Salgado,
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Ayanna Tenório, Vinícius Samarane e Kátia Rabello (núcleo Banco Rural), para o cometimento reiterado dos graves crimes descri tos na presente denúncia. "
Consta também do item I1 a imputação do crime do
artigo 299, segunda parte, do Código Penal, ao denunciado Marcos
Valério, por duas vezes, em razão da suposta utilização da
esposa Renilda como "laranja" nas empresas SMP&B e Graffiti
Participação Ltda
Na terceira parte (item 1111, a denúncia cuida do
suposto desvio de recursos públicos, versando sobre a
contratação de agências de publicidade pelos poderes Executivo e
Legislativo. Neste trecho da inicial, foi imputada
(fls.5667/5668), no subitem 111.1, a prática de crimes aos
denunciados João Paulo Cunha (art. 312 - 2 vezes - pelo suposto
desvio de R$ 252.000,OO em proveito próprio e R$ 536.440,55 em
proveito alheio -; art. 317 do Código Penal -pelo suposto
recebimento de cinquenta mil reais- e art. l0 incisos V, VI e
VII, da Lei no 9.613/1998 -pela suposta utilização da Sra Márcia
Regina para receber cinquenta mil reais-), Marcos Valério, Ramon
Hollerbach, Cristiano Paz e Rogério Tolentino (art. 312 suposto
desvio de R$ 536.440,55- e art. 333 do Código Penal -suposto
pagamento de cinquenta mil reais-)
Ainda no item I11 da denúncia, especificamente no
subitem 111.2, ao tratar do suposto desvio de recursos por meio
da contratação da empresa DNA pelo Banco do Brasil, foi imputada
c@&kwW fl&&& Inq 2.245 / MG . .
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a prática do crime previsto no artigo 312 do Código Penal aos
denunciados Henrique Pizzolato -suposto desvio de R$
2.923.686,15 em proveito alheio-, Marcos Valério, Ramon
Hollerbach, Cristiano Paz e Rogério Tolentino -suposto desvio de
R$ 2.923.686,15-. (£1~.5672)
Em seguida, no item 111.3, em razão da transferência
de recursos do Banco do Brasil para a empresa DNA Propaganda
LTDA por meio da Companhia Brasileira de Meios de Pagamento-
Visanet, foram imputados ao denunciado Henrique Pizzolato os
delitos previstos nos artigos 312 (quatro vezes) e 317 do Código
Penal suposto recebimento de R$ 326.660,27 - além do delito
previsto no artigo 1°, incisos V, VI e VII, da lei no 9.613/1998
-suposta utilização do Sr. Luiz Eduardo Ferreira para receber R$
326.660,27. Ao denunciado Luiz Gushiken foi imputado o crime
previsto no artigo 312 do Código Penal. Aos denunciados Marcos
Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz e Rogério Tolentino
foram imputados os crimes previstos no artigo 312 (quatro vezes)
e 333, do Código Penal. Aos denunciados José Dirceu, José
Genoíno, Sílvio Pereira e Delúbio Soares, foi imputado, em
concurso material (4 vezes), o delito previsto no artigo 312 do
CP (fls.5679/5680).
O subitem 111.4 da denúncia foi utilizado pelo PGR
unicamente para ilustrar uma das supostas formas de atuação do
R+ fla&a Inq 2 .245 / MG
011739
chamado " núcleo Marcos V a l é r i o " , não constando qualquer
imputação dessa parte da i n i c i a l acusa tór ia .
Passo s e g u i n t e , no i t e m IV da peça acusatór ia , a
denúncia t r a t a da suposta ocorrência do crime de lavagem de
d inhe i ro ( L e i n o 9 .613 /98) , conforme se i n f e r e do seguin te
t r echo ( f l s . 5 6 8 6 / 5 6 8 7 ) :
" O s d i r i g e n t e s do Banco Rural (José Augusto Dumont ( f a l e c i d o ) , V i n i c i u s Samarane, Ayanna Tenório, José Roberto Salgado e Kátia Rabel lo) estruturaram um s o f i s t i c a d o mecanismo de branqueamento de c a p i t a i s que f o i u t i l i z a d o de forma e f i c i e n t e pe lo núcleo Marcos V a l é r i o (Ramon Hollerbach, C r i s t i a n o Paz, Rogério To len t ino , Simone Vasconcelos e Geiza D i a s ) . "
Após descrever o funcionamento do suposto esquema de
branqueamento de c a p i t a i s , o c h e f e do Min i s t é r io Público Federal
a t r i b u i aos denunciados c i t a d o s no t recho acima t r a n s c r i t o a
prát ica do d e l i t o p r e v i s t o no a r t i g o 1 ° , i n c i s o s V , V I e V I I , d a
l e i no 9.613/1998.
A f a s e seguin te da denúncia ( i t e m V ) é r e f e r e n t e a
suposta prát ica do d e l i t o de Gestão Fraudulenta de I n s t i t u i ç ã o
Financeira, p r e v i s t o no a r t i g o 4 ' d a Lei no 7 . 4 9 2 / 8 6 . Essa parte
d a denúncia se i n i c i a com o seguin te parágrafo ( f l s . 5 6 9 7 ) :
" A s apurações desenvolvidas no âmbi t o do presente i n q u é r i t o , envolvendo a a n á l i s e de documentação bancária e dos processos e procedimentos i n t e r n o s das i n s t i t u i ç õ e s f i nance i ras , especialmente sob o enfoque dos supostos empréstimos as empresas do grupo de Marcos V a l é r i o ao Part ido dos Trabalhadores, descortinam uma s é r i e de i l i c i t u d e s que evidenciam que o Banco R u r a l f o i gerido de forma fraudulenta. "
&- &&&& Inq 2 .245 / MG
011740
Após pormenorizar os f a t o s r e f e r e n t e s a suposta
ocorrência de gestão f raudulenta , o procurador-geral da
República imputa aos denunciados José Roberto Salgado, Ayanna
Tenório, V i n í c i u s Samarane e Kátia Rabello o crime do a r t i g o 4O
d a Lei no 7 . 4 9 2 / 1 9 8 6 .
Em seguida, no i t e m V I , a denúncia aponta a suposta
ocorrência dos d e l i t o s de corrupção a t i v a , passiva, quadrilha e
lavagem de d inhe i ro , supostamente praticados pelos d i r i g e n t e s
dos part idos d a base a l iada do governo. É o que se i n f e r e do
seguin te t r echo ( f l s . 5 7 0 6 ) :
"Toda a e s t r u t u r a montada por José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e S í l v i o Pereira t inha e n t r e seus o b j e t i v o s angariar i l i c i t a m e n t e o apoio de outros par t idos p o l í t i c o s para formar a base de sustentação do Governo Federal.
Nesse s e n t i d o , e1 e s ofereceram e , poster iormente , pagaram v u l t o s a s quant ias a d i ver sos parlamentares f e d e r a i s , pr incipalmente os d i r i g e n t e s p a r t i d á r i o s , para receber apoio p o l i t i c o do Partido Progressis ta - P P , Partido Libera1 - P L , Partido Trabalhis ta B r a s i l e i r o - PTB e par t e do Partido do Movimento Democrático B r a s i l e i r o - PMDB.
Para a execução dos pagamentos de propina, José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e S í l v i o Pereira valeram-se dos se rv i ços criminosos prestados por Marcos V a l é r i o , Ramon Hollerbach, Cr i s t iano Paz, Rogério To len t ino , Simone Vasconcelos e Geiza Dias.
Portanto, na forma do a r t i g o 2 9 do Código Penal, os denunciados indicados deverão responder em concurso mater ia l por todos os crimes de corrupção a t i v a que praticaram, os quais serão devidamente narrados em tóp icos ind iv idua l i zados para cada par t ido p o l í t i c o . "
Na sequência, ao de ta lhar os f a t o s concernentes aos
crimes supostamente cometidos pelos membros de cada agremiação
Inq 2.245 / MG
partidária, a denúncia trata separadamente dos fatos atinentes a
cada partido político envolvido.
O item VI.l trata dos fatos que envolvem o Partido
Progressista, e se inicia com o seguinte parágrafo (fls.
"Os denunciados José Janene, Pedro Corrêa, Pedro Henry, João Cláudio Genú, Enivaldo Quadrado, Breno Fischberg e Carlos Alberto Quaqlia montaram uma estrutura criminosa voltada para a prática dos crimes de corrupção passiva e branqueamento de capitais. "
O referido item termina com a imputação do crime do
artigo 333 do Código Penal (por três vezes) aos denunciados José
Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino, Sílvio Pereira, Marcos
Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz, Rogério Tolentino,
Simone Vasconcelos e Geiza Dias. Aos denunciados José Janene,
Pedro Corrêa e Pedro Henry, foram imputados, em concurso
material, os crimes previstos nos artigos 288 e 317 do Código
Penal, além do crime previsto no artigo 1°, incisos V, VI e VII,
da Lei no 9.613/1998 (15 vezes). A João Cláudio Genú foi
imputada a prática dos delitos previstos nos artigo 288, 317 do
CP (por três vezes) e artigo l0, incisos V, VI e VII, da Lei no
9.613/1998 (15 vezes). Enivaldo Quadrado e Breno Fischberg foram
apontados como incursos nas penas dos crimes previstos no artigo
288 do Código Penal e artigo l0, incisos V, VI e VII, da Lei no
9.613/1998 (11 vezes). Carlos Alberto Quaglia foi apontado como
incurso nas penas dos crimes do artigo 288 do CP e artigo 1°,
&+ 8a&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
incisos V, VI e VII, da Lei no 9.613/1998 (7
vezes). (fls.5715/5716)
Em seguida, no item VI.2, a denúncia aborda os fatos
relativos ao Partido Liberal, iniciando nos seguintes termos
Os denunciados Valdemar Costa Neto, Jacinto Lamas e Antônio Lamas, juntamente com Lúcio Funaro e José Carlos Batista, montaram uma estrutura criminosa v01 tada para a prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
O recebimento de vantagem indevida, motivada pela condição de parlamentar federal do denunciado Valdemar Costa Neto, tinha com o contraprestação o apoio politico do Partido Liberal - PL ao Governo Federal".
Após a pormenorização dos fatos referentes ao Partido
Liberal, foram apontados como incursos nas penas do artigo 333
do Código penal os denunciados José Dirceu, Delúbio Soares, José
Genoíno, Sílvio Pereira, Marcos Valério, Ramon Hollerbach,
Cristiano Paz, Rogério Tolentino, Simone Vasconcelos e Geiza
Dias. Ao denunciado Valdemar Costa Neto foram imputados os
crimes dos artigos 288 e 317 do CP e do artigo 1°, incisos V, VI
e VI1 da Lei no 9.613/1998 (41 vezes). O denunciado Jacinto
Lamas foi apontado como incurso nas penas dos artigos 288 e 317
do Código Penal e do artigo 1°, incisos V, VI e VI1 da Lei no
9.613/1998 (40 vezes). Por sua vez, Antônio Lamas foi apontado
como incurso nas penas do artigo 288 do Código Penal e do artigo
lo, incisos V, VI e VI1 da Lei no 9.613/1998. Bispo Rodrigues
flgh%?m4Z &&&a Inq 2 .245 / MG
01174 J
foi apontado como incurso nas penas do artigos 317 do Código
Penal e do artigo 1°, incisos V, VI e VI1 da Lei no 9.613/1998
( 2 vezes).
O item VI.3 da denúncia se ocupa dos fatos que
envolvem o Partido Trabalhista Brasileiro, conforme o trecho a
seguir transcrito:
"José Dirceu, De1 úbio Soares, José Genoino e Sílvio Pereira, mediante pagamento de propina, adquiriram apoio político de Parlamentares federais do Partido Trabalhista Brasileiro - PTB.
Os paqamen tos foram viabilizados pelo núcleo publicitário-financeiro da organização criminosa.
Os parlamentares federais que receberam vantagem indevida foram José Carlos Martinez (falecido), Roberto Jefferson e Romeu Queiroz. Todos contaram com o auxílio direto na prática dos crimes de corrupção passiva do denunciado Emerson Palmieri. " (f 1 S . 5 725/5 72 6 )
Após discorrer sobre os fatos relativos ao PTB, o item
VI.3 da denúncia termina com as seguintes imputações: Aos
denunciados José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno, Sílvio
Pereira, Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz,
Rogério Tolentino, Simone Vasconcelos e Geiza Dias foi imputado
o crime do artigo 333 do Código penal (por três vezes). Ao
denunciado Anderson Adauto, foi atribuída a autoria do delito do
artigo 333 do CP, por duas vezes. Roberto Jefferson foi
denunciado como incurso nas penas do artigo 317 do CP e artigo
1°, incisos V, VI e VI1 da Lei no 9.613/1998 (7 vezes). Romeu
R+ &a&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
Queiroz foi denunciado como incurso nas penas do artigo 317 do
CP e artigo I", incisos V, VI e VI1 da Lei no 9.613/1998 (4
vezes). Emerson Palmieri foi denunciado como incurso nas penas
do artigo 317 (3 vezes) do CP e artigo 1°, incisos V, VI e VI1
da Lei no 9.613/1998 (10 vezes).
Na sequência, no item VI.4, a inicial acusatória cuida
dos fatos relativos ao Partido Movimento Democrático Brasileiro
- PMDB. Transcrevo o seguinte trecho dessa parte da denúncia:
"Por meio de acordo firmado com José Dirceu, De1 úbio Soares, José Genoino e Sílvio Pereira, o então Deputado federal José Rodrigues Borba, no ano de 2003, também integrou o esquema de corrupção em troca de apoio político.
Líder da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados, mantinha constantes contatos com Marcos Valério por considerá-lo "uma pessoa influente no Governo Federal", a quem recorria para reforçar seus pleitos de nomeação de cargos junto á administração pública . " (fls . 5 730/5 731 / O referido trecho, após descrever os detalhes das
supostas operações criminosas, termina por fazer as seguintes
imputações penais: José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino,
Silvio Pereira, Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Cristiano Paz,
Rogério Tolentino, Simone Vasconcelos e Geiza Dias foram
denunciados como incursos nas penas do artigo 333 do Código
Penal. José Borba, em concurso material, foi denunciado como
incurso nas penas do artigo 317 do Código Penal e artigo I",
incisos V, VI e VI1 da Lei no 9.613/1998 (6 vezes).
& $ fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
011745
O i t e m VI1 da denúncia t r a t a da suposta ocorrência do
d e l i t o de lavagem de d inhe i ro praticado pelo Partido dos
Trabalhadores e o ex-Minis tro dos Transportes . Transcrevo o
t r echo i n i c i a l des ta parte da denúncia:
"Além da compra de apoio p o l í t i c o mediante o pagamento de propina, o s recursos oriundos do núc leo p u b l i c i t á r i o - f i n a n c e i r o também serviram para o repasse dos m a i s variados va lores aos i n t e g r a n t e s do Part ido dos Trabalhadores. O então Min i s t ro dos Transportes Anderson Adauto também s e va leu do esquema.
Objetivando não s e envolverem nas operaçoes de apropriação dos montantes , p o i s tinham conhecimento que os recursos vinham de organização criminosa dest inada à prát ica de crimes contra a administração públ ica e contra o sistema f inance i ro nac ional , Paulo Rocha, João Magno, Luiz Carlos da S i l v a (vulgo "Professor Luizinho") e Anderson Adauto empregaram mecanismos f raudulentos para mascarar a origem, natureza e , pr inc ipalmente , d e s t i n a t á r i o s f i n a i s das quant ias .
Nas r e t i r a d a s em e s p é c i e , buscando não de ixar qualquer s i n a l da s u a par t ic ipação, o s b e n e f i c i á r i o s r e a i s apresentavam um t e r c e i r o , indicando o seu nome e q u a l i f i c a ç ã o para o recebimento dos v a l o r e s . " ( f l s . 5733)
Detalhados os f a t o s acima, a denúncia imputa a prát ica
do d e l i t o p r e v i s t o no a r t i g o 1 ° , i n c i s o s V, V I e VI1 d a Lei no
9.613/1998 aos denunciados Paulo Rocha ( 8 v e z e s ) , Anita Leocádia
( 7 v e z e s ) , João Magno ( 4 v e z e s ) , Luiz Carlos d a S i l v a , vu lgo
"Pro fes sor Luizinho", Anderson Adauto (16 v e z e s ) e José Luiz
Alves (16 v e z e s ) .
Finalmente, no i t e m VIII, a denúncia t r a t a
espec i f icamente dos d e l i t o s de evasão de d i v i s a s e lavagem de
d inhe iro supostamente praticados por Duda Mendonça e Zilmar
~~ &&&& Inq 2.245 / MG
011746
Fernandes. C i t o o seguin te t r echo d a denúncia, que reputo
e l u c i d a t i v o :
"Os va lores remetidos ao e x t e r i o r por ordem de Duda Mendonça e sua sócia Z i l m a r Fernandes, a p r i n c i p i o , re ferem-se unicamente ao l u c r o l i q u i d o de ambos quanto ao s e r v i ç o de publ ic idade prestado ao P T , p o i s segundo informado por Z i l m a r Fernandes: " o l u c r o l i q u i d o aproximado pela prestação dos se rv i ços anteriormente ind icados pode v a r i a r e n t r e t r i n t a a cinquenta por cento" . Ou s e j a , dos aproximadamente R$ 56 milhões pactuados com o Partido dos Trabalhadores, Duda Mendonça e Z i l m a r Fernandes t iveram um l u c r o l i q u i d o na ordem de R$ 17 a R$ 28 mi lhões .
Em v i r t u d e do esquema de lavagem engendrado por Duda Mendonça e Z i l m a r Fernandes, o grupo de Marcos V a l é r i o promoveu, sem autor ização l e g a l , a saída de d i v i s a s para o e x t e r i o r . " ( f l s . 5 7 4 2 )
A denúncia, após de ta lhar o suposto esquema de lavagem
de d inhe i ro e evasão de d i v i s a s , culmina por imputar a Marcos
V a l é r i o , Ramon Hollerbach, C r i s t i a n o Paz, Rogério To len t ino ,
Simone Vasconcelos e Geiza Dias a prá t ica do d e l i t o prev i s to no
a r t i g o 2 2 , parágrafo único , d a Lei no 7.492/1986 ( 5 3 v e z e s ) . A
prát ica do mesmo d e l i t o f o i imputada a José Roberto Salgado,
Ayanna Tenório, V i n í c i u s Samarane e Kátia Rabello ( 2 7 v e z e s )
Duda Mendonça e Zilmar Fernandes foram denunciados como incursos
nas penas do crime p r e v i s t o no a r t i g o 2 2 , parágrafo único da Lei
n07492/1986 e (53 v e z e s ) nas penas do a r t i g o I " , i n c i s o s V , V I e
v11 da Lei no 9.613/1998 ( 7 v e z e s )
São e s t a s , em l i n h a s g e r a i s , as imputações cons tantes
da denúncia o f e r e c i d a pelo procurador-geral da República.
Inq 2.245 / MG
Passo a fazer um breve relato dos principais
argumentos de defesa trazidos pelos denunciados em suas
respectivas respostas (cf. art. 4O, caput, da Lei 8.038/1990).
No que tange as defesas, todas alegaram a ausência de
descrição individualizada da conduta de cada acusado <violação
ao art. 41 tio Código de Processo Penal), a inexistência de
indícios mínimos de autoria (ausência de justa causa) e a
atipicidade das condutas narradas pelo Parquet, por delas não
constarem elementos integrantes do núcleo tipico de cada um dos
crimes imputados aos acusados, ou por ausência do elemento
subjetivo do tipo.
Passo a resumir os demais argumentos apresentados por
cada um dos acusados, no sentido do não recebimento da denúncia.
O denunciado DELÚBIO SOARES DE CASTRO alega que a
denúncia se limitou a indicar o cargo por ele exercido no
Partido dos Trabalhadores e sua amizade com um dos acusados
(MARCOS VALÉRIO), o que não é suficiente para demonstrar a
existência de uma associação criminosa prévia e estável de todos
os agentes para o cometimento de crimes contra várias vítimas
(Apenso 120). Para o acusado, o máximo que se pode concluir, a
partir da leitura da denúncia, é que haveria um concurso de
agentes em ações isoladas, e não formação de quadrilha.
Relativamente a acusação de peculato, assevera que a denúncia
não imputou um só ato ao acusado, no sentido da execução do
&g2.%z.w flu&u Inq 2 . 2 4 5 / MG
011748
crime, e teria se limitado a dizer que o Partido dos
Trabalhadores se beneficiou dos desvios. Salienta que "o
dinheiro relacionado à VIÇANET nunca pôde ser desviado por
funcionários públicos; o dinheiro em questão sequer esteve sob a
posse deles", já que não pertencia a Administração Pública nem
estava sob sua guarda (fls. 37/38 do Apenso 120).
Por fim, no que diz respeito a imputação de corrupção
ativa, o acusado argumenta que jamais ofereceu propina aos
parlamentares aliados; o que houve foi, na explicação da defesa,
uma aliança partidária entre o Partido dos Trabalhadores e as
agremiações que o apoiavam, na qual o Diretório Nacional do PT
decidiu que os custos de campanha seriam partilhados, de forma a
garantir a manutenção e possivel expansão da base de apoio ao
Governo. Mas isso jamais teria sido condicionado a prática de
atos de oficio de parlamentares, como emissão de pareceres ou
votos. E destaca que a denúncia não demonstrou, de forma
veemente, a existência de reciprocidade entre o valor pago e os
atos do funcionário público realizados em favor dos interesses
do suposto corruptor.
O denunciado JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA alega,
com relação a imputação do delito do artigo- 288 do Código Penal,
que todos os denunciados do denominado "núcleo central" -
Delúbio Soares, Silvio Pereira e José Genoino- sempre negaram
peremptoriamente que ele tivesse participação ou mesmo ciência
Inq 2 . 2 4 5 / MG
nos empréstimos e repasses de recursos descritos na denúncia.
Quanto as imputações relativas ao delito do artigo 312 do Código
Penal, aponta que a denúncia não narra qual teria sido a sua
participação e tampouco indica quais seriam os indícios de tal
participação, cerceando o seu direito de defesa. No que concerne
a suposta compra de apoio político, sustenta que as evidências
estão a indicar que o repasse irregular de verbas não tinha
relação com a compra de votos, não buscava assegurar a
governabilidade e não partia do Governo, aduzindo, também, que,
na qualidade de Chefe da Casa Civil, não participava das
questões financeiras do Partido dos Trabalhadores.
O acusado JOSÉ GENOÍNO NETO também pugnou pela
rejeição da denúncia, alegando que foi denunciado "pelo que
era", ou seja, Presidente do Partido dos Trabalhadores, a época
dos fatos. Destaca que "negociar apoio político, pagar dívidas
pretéritas do Partido e também custear gastos de campanha e
outras despesas do PT e dos seus aliados", não constitui conduta
criminosa. Sustenta que "um Partido Político estruturado como é
o Partido dos Trabalhadores, ao contrário de uma empresa, não
apresenta situação hierárquica entre seus dirigentes. Em outras
palavras, não há relação de subordinação entre o presidente e
qualquer outro secretário da agremiação". Relativamente ao crime
de formação de quadrilha, o acusado nega que tenha se reunido
com o denominado "núcleo publicitário" ou com o "núcleo
&-&a Inq 2.245 / MG O11750
financeiro" . Afirma que teve, apenas, encontros esporádicos com
Marcos Valério, na sede do PT ou em solenidades públicas, o que,
por si só, não configura ilícito penal. Assevera que, na época
das supostas reuniões narradas pelo Procurador-Geral da
República, em que se teria acordado a associação para formação
de quadrilha (segundo semestre de 2002), o acusado sequer
presidia o ,PT; era apenas candidato ao Governo de São Paulo.
No que tange aos empréstimos supostamente simulados,
JOSÉ GENOÍNO afirma que competia ao presidente do partido, por
condição estatutária, a sua assinatura. Este seria um requisito
formal que foi cumprido, mas a tomada dos empréstimos em si era
de competência do Secretário de Finanças.
Referindo-se a imputação de peculato, consistente na
transferência de recursos do Banco do Brasil para a DNA
Propaganda Ltda. através do fundo de investimento VISANET, a
defesa alega que JOSÉ GENOÍNO, na presidência do Partido dos
Trabalhadores, não tinha qualquer influência nos contratos de
publicidade celebrados pelo Banco do Brasil.
Por fim, relativamente ao crime de corrupção ativa, o
Procurador-Geral da República não teria esclarecido quais as
pessoas o acusado teria indicado para o recebimento de repasses
de dinheiro. A defesa reconhece não haver dúvida a respeito da
existência de reuniões entre os partidos, mas salienta que ali
"eram discutidas alianças políticas, inclusive pelo denunciado,
Inq 2 . 2 4 5 / MG
que tinha essa atribuição enquanto ocupava o cargo de Presidente
Nacional do Partido dos Trabalhadores". Entretanto, o apoio
financeiro a ser prestado pelo PT seria da alçada exclusiva do
Secretário de Finanças, DELÚBIO SOARES, razão pela qual, também
neste capitulo, a defesa pede a rejeição da denúncia.
O acusado SILVIO JOSÉ PEREIRA alega, no que diz
respeito ao crime de quadrilha, que a conduta narrada na inicial
é atipica, por não conter nenhum elemento descrito no art. 288
do Código Penal. Relativamente ao crime de peculato, o acusado
considera que, por não ser funcionário público para fins penais,
não poderia praticar, como autor, referido crime, de modo que
deveria ter sido descrita sua colaboração na condição de
participe, o que, segundo ele, não aconteceu. Quanto ao crime de
corrupção ativa, alega que não houve indicação do ato de oficio
que deveria ser praticado por funcionário público (Apenso 105).
SIMONE VASCONCELOS e m c o s VALÉRIO foram
representados pelo mesmo patrono e apresentaram respostas
escritas semelhantes (Apensos 114 e 115), sendo a de MARCOS
VALÉRIO mais abrangente, até em razão do maior número de
imputações que lhe foram feitas na denúncia. Foram arguidas
inúmeras preliminares, que detalharei no corpo de meu voto, além
de argumentos em prol do não recebimento/improcedência da
denúncia, elencados em complemento aqueles que todos os outros
denunciados sustentaram - isto é, ausência de individualização
Inq 2.245 / MG
das condutas dos acusados e ausência de justa causa/indicios
para a instauração da ação penal.
Relativamente a imputação de formação de quadrilha, a
defesa alega que a denúncia não descreveu o vinculo subjetivo
entre os acusados, no sentido da associação para o fim de
prática de crimes.
Quanto a imputação de falsidade ideológica, MARCOS
VALÉRIO alega que não são falsas as alterações contratuais nas
empresas SMP&B e GRAFFITI, em que ele saiu e deu lugar a sua
esposa, RENILDA MARIA, no quadro societário. Destaca que sua
atuação nas empresas, em nome de sua esposa, deu-se através de
procurações por instrumento público, e que ninguém foi
prejudicado com isso, razão pela qual pede a rejeição da
denúncia.
No que tange a acusação de corrupção ativa, esta
defesa também insiste no argumento de que não foi descrito o ato
de oficio que os parlamentares teriam praticado. Ademais, também
não estaria presente o dolo de cometimento do crime, tendo em
vista que DELÚBIO SOARES afirmava que o dinheiro era destinado
ao pagamento de dívidas de campanha, e não de compra de apoio de
parlamentares. No que se refere ao "repasse" de cinqiienta mil
reais ao Deputado JOÃO PAULO CUNHA, em troca de receber
tratamento privilegiado no procedimento licitatório da Câmara
dos Deputados, alegam que as concorrentes da SMPhB não
Inq 2.245 / MG
reclamaram nem recorreram contra o resultado da licitação, de
modo que sua lisura não poderia ser posta em cheque. Ainda,
quanto a imputação de corrupção ativa de que seria sujeito
passivo HENRIQUE PIZZOLATO (Diretor de Marketing do Banco do
Brasil), a defesa igualmente alega que os repasses não se
destinaram a prática de qualquer ato de ofício por PIZZOLATO,
mas sim, tal como outros repasses, ao pagamento de despesas de
campanha do diretório estadual carioca do PT.
No que diz respeito às imputações de peculato,
envolvendo o contrato de publicidade entre SMP&B e Câmara dos
Deputados e os dois contratos entre DNA Propaganda Ltda. e Banco
do Brasil, a defesa afirma que não houve o desvio narrado na
inicial, tendo em vista que a subcontratação de serviços de
terceiros estava expressamente prevista no contrato. Diz, ainda,
especificamente em relação a subcontratação da empresa IFT -
Idéias, Fatos e Texto Ltda., do jornalista e assessor de JOÃO
PAULO CUNHA, LUÍS COSTA PINTO (apelidado Lula), que teria
possibilitado o desvio de R$ 252.000,OO em favor do próprio
Deputado JOÃO PAULO CUNHA, a defesa observa que "aquela empresa
já prestava serviços para a Câmara dos Deputados, em data
anterior ao contrato da SMP&B (31/12/2003)". Assim, a SMP&B
"apenas manteve a subcon tra tada, por orientaçáo da SECOM/CDM
(fls. 85/86 do Apenso 115).
Inq 2.245 / MG
Quanto a imputação de lavagem de dinheiro, a defesa
argumenta que, como anteriormente sustentou, os crimes
antecedentes não foram praticados, razão pela qual seria atípica
a conduta. Também estaria ausente o dolo de praticar o crime
narrado na inicial.
Por fim, acerca da imputação do crime de evasão de
divisas, a defesa alega que nenhuma das pessoas do denominado
"núcleo Marcos Valério" praticou a conduta típica descrita no
art. 22, parágrafo único, da Lei no 7 . 4 9 2 / 8 6 . Diz, ainda:
"Em resumo, os reais permaneceram no Brasil. Houve, no exterior, transferência de dólares de diferentes contas bancárias ali existentes para a conta da empresa DUSSELDORF. Isto se chama de operações 'dólar cabo' . Estas operações 'dólar cabo' não realizam o tipo do parágrafo único do art. 22 da Lei n o 7 . 4 9 2 / 8 6 , uma vez que não há saída de moeda ou divisas do pais. O dinheiro nacional (reais) permanece no Brasil e o dinheiro estrangeiro (dólares) troca de conta bancária no exterior. "
Em seu último argumento, a defesa finaliza a resposta
alegando que há evidente excesso na capitulação da peça inicial,
quando pediu a aplicação da regra do concurso material,
considerando que, em razão da idêntica circunstância de tempo,
lugar e maneira de execução, há, em tese, continuidade delitiva,
demandando a aplicação do art. 71 do Código Penal. Adianto que
este argumento não será objeto de decisão nesta fase, tendo em
vista que não se procederá a aplicação de pena alguma, mas
&*H&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011'?65
apenas à análise da viabilidade ou não da denúncia, para efeitos
de dar i n i c i o a ação penal.
O acusado CRISTIANO DE MELLO PAZ (Apenso 112) salienta
que as ligações da SMPLB com o Banco Rural eram meramente
comerciais, e que os empréstimos tomados pelas empresas SMPLB,
Graffiti e DNA junto ao BMG e ao Rural não eram fraudulentos,
tanto que estão sendo objeto de execução judicial. Esclarece, de
todo modo, que tais empréstimos foram tomados por solicitação do
Partido dos Trabalhadores e o dinheiro a ele se destinava (fls.
07). Diz, também, que a imputação de corrupção at iva pelo
repasse de R$ 50.000,OO a JOÃO PAULO CUNHA não procede, uma vez
que tal repasse deu-se por determinação de DELÚBIO SOARES.
Acerca da licitação vencida pela SMPLB na Câmara dos Deputados,
o acusado afirma que a contratação foi amplamente fiscalizada e
que o Deputado JOÃO PAULO CUNHA não teve a mínima participação
no procedimento licitatório. Nega, também, a imputação de
peculato, consistente no suposto desvio de R$ 536.440,55, em
favor da SMPLB, valor este que, segundo o PGR, consistiu em
"remuneração para nada fazer", j á que "O núcleo Marcos Valério,
por meio da empresa SMP&B, assinou o contrato n a 2003/204.0 para
não prestar qualquer serviço. Nessa linha, subcontratou 99 ,9% do
objeto contratual". Segundo CRISTIANO PAZ, não se pode afirmar
que houve subcontratação, mas sim a contratação de serviços de
terceiros, que são fornecedores.
Inq 2 . 2 4 5 / MG
CRISTIANO PAZ também rebateu a acusação de peculato
desvio, a ele imputada por força de contratos firmados entre DNA
Propagada Ltda. e Banco do Brasil. Salienta que não lhe pode ser
imputado esse delito "pela simples e boa razâo de que sócio da
DNA ele não era. Esclarece que f o i sócio da Graffiti até
26/02/2004, que, por sua vez, era sócia da D W . Alega, ainda,
que o peculato é crime que deixa vestigios, razão pela qual
seria necessária a realização de auto de corpo de delito, que
não consta dos autos.
Quanto a acusação de lavagem de dinheiro, sustenta a
atipicidade da conduta, tendo em vista que a denúncia não narrou
de quais crimes antecedentes seriam provenientes os recursos
repassados a terceiros. Limitou-se o PGR a dizer que tais
recursos foram obtidos através de empréstimos bancários, que
afirma serem simulados, afirmação que, para a defesa, não tem
base probatória.
Quanto a imputação de corrupção ativa, o acusado nega
a acusação, afirmando que nada ofereceu a qualquer Deputado, e
que está ausente o "ato de oficio", elemento do tipo penal em
questão.
Por fim, quanto a acusação de evasão de divisas, o
denunciado sustenta que, se os recursos foram transferidos entre
contas existentes no exterior, não há falar-se em evasão de
divisas, destacando, também, que não se indicou de quais contas
Inq 2 . 2 4 5 / MG
no Brasil os recursos teriam saido, o que tornaria inviável a
defesa.
O acusado RAMON HOLLERBACH CARDOSO argumenta, quanto
ao crime de formação de quadrilha (art. 288 do Código Penal),
não ter sido narrado, na denúncia, o necessário vinculo
subjetivo eventualmente existente entre os acusados. Em relação
as imputações de peculato descritas no item 111.1 da denúncia,
no sentido de que a SMP&B teria se limitado a intermediar
contrataçóes em troca de uma comissão de cinco por cento, o
acusado destaca que esse percentual estava previsto no contrato,
como uma das formas de remuneração dos serviços de publicidade
prestados a Câmara dos Deputados. Ademais, alega que não poderia
cometer o crime em questão, tendo em vista não ostentar a
condição de funcionário público e o fato de o Procurador-Geral
da República não ter narrado sua contribuição como participe.
A denunciada GEIZA D I A S DOS SANTOS alega (apenso no
106) que nunca soube de pagamentos feitos a parlamentares,
partidos políticos e outras pessoas, com a finalidade descrita
na denúncia. Sustenta que, na qualidade de mera funcionária da
empresa SMP&B comunicação Ltda., nunca questionou seus
superiores sobre o destino das quantias descritas na denúncia,
além de não ter obtido qualquer vantagem com os fatos descritos
na inicial acusatória.
&e fl&@U Inq 2.245 / MG
011758
O denunciado ROGÉRIO LANZA TOLENTINO alega, em sua
resposta (apenso 1071, que não era sócio de nenhuma das empresas
vinculadas ao "grupo de Marcos Valério", supostamente utilizadas
como instrumento para o cometimento dos crimes narrados na
inicial. Sendo assim, alega que a denúncia não descreveu
qualquer fato criminoso passível de ser atribuído ao suplicante,
pois somente os sócios-gerentes respondem por atos delituosos
cometidos através de sociedade.
Os denunciados AYANNA TENÓRIO TÔRRES DE JESUS, JOSÉ
ROBERTO SALGADO, KÁTIA RABEUO E VINÍCIUS SAMARANE alegam que
não houve a demonstração efetiva do dolo de praticar o crime de
lavagem de dinheiro, qual seja, a intenção de ocultar os
valores. Sustentam que é prática comum no ramo publicitário o
saque de valores em dinheiro com o objetivo de pagar
fornecedores, de modo que o Banco Rural não teria qualquer
relação com a lavagem de dinheiro, que ocorria em momento
posterior. Da mesma forma, a transferência interbancária de
valores seria um mecanismo regularmente utilizado no meio
bancário para operacionalização dos saques.
Quanto a imputação de gestão fraudulenta de
instituição financeira (art. 4O da Lei 7.492/1986), os
denunciados alegam que os supostos empréstimos fictícios foram
devidamente registrados pelo Banco Central. Argumentam, ainda,
que optaram por renovar os empréstimos feitos a Marcos Valério,
Inq 2.245 / MG
para evitar a necessidade de uma execução judicial da divida de
um cliente antigo do Banco.
Quanto ao crime de evasão de divisas, alegam apenas as
questões "gerais" antes mencionadas, ou seja, ausência de
individualização das condutas e de indícios mínimos de sua
autoria.
O denunciado J0L0 PAULO CUNHA (apenso 96) alega quanto
ao crime de corrupção ativa, que não houve indicação do ato de
ofício que deveria ter praticado em contraprestação à suposta
vantagem indevida, faltando, além disso, lastro probatório
mínimo para essa acusação. Quanto ao crime de lavagem de
dinheiro, argumenta que a denúncia não descreve os elementos do
tipo, limitando-se a acusação a repetir a letra da lei. Alega,
por fim, a atipicidade e a ausência de justa causa no que toca à
imputação de peculato, pois não dispunha da posse dos recursos
supostamente desviados, e a denúncia nào apresenta provas de que
ele teria influenciado a contratação da IFT - Idéias, Fatos e
Texto Ltda. ou de que esta teria prestado-lhe assessoria direta.
O acusado LUIZ GUSHIKEN alega que não estava em sua
alçada permitir as antecipações de recursos do fundo Visanet
para a DNA Propaganda Ltda, não havendo provas de que o co-
denunciado Henrique Pizzolato estivesse agindo em cumprimento as
suas ordens.
R$2+%%w Inq 2.245 / MG
0 1 1 7 6 0
O acusado HENRIQUE PIZZOLATO sustenta que, na
qualidade de diretor de marketing do Banco do Brasil, não deteve
sob sua guarda os recursos que ficavam em poder da Visanet para
pagamento direto aos seus fornecedores, razão pela qual seria
atipica a conduta classificada pelo Procurador-Geral da
República como configuradora do crime de peculato. Argumenta que
a diretoria de marketing do Banco do Brasil não participava de
nenhuma das instâncias de decisão da Visanet e/ou do Fundo
Visanet. Alega, com ralação às imputações dos crimes de
corrupção passiva e lavagem de dinheiro, que não sabia da
existência de R$ 3 2 6 . 6 6 0 , 2 7 nos envelopes que recebeu de Eduardo
Ferreira, e afirma que tais envelopes foram entregues a uma
pessoa que se identificou como membro do PT do Rio de Janeiro.
O acusado PEDRO CORRÊA (Apenso 9 9 ) refuta a imputação
de formação de quadrilha, afirmando que, se a denúncia trata de
um só crime, praticado por várias pessoas, haveria concurso de
pessoas, sendo que, no caso em questão, haveria autores mediato
e um autor imediato (JOÃO CLÁUDIO GENÚ). Afirma, também, que o
Procurador-Geral da República, na denúncia, atribuiu-lhe
responsabilidade objetiva, uma vez que teria sido acusado pelo
simples fato de ser Presidente do Partido Progressista a época
dos fatos. No que tange a imputação de lavagem de dinheiro, o
acusado PEDRO CORRÊA nega sua prática, afirmando não ter
qualquer relação com as empresas Bônus Banval e a Natimar,
fie &&&& Inq 2.245 / MG
sequer conhecendo seus administradores e co-denunciados Enivaldo
Quadrado, Breno Fischberg e Carlos Quaglia. Por fim,
relativamente a imputação de corrupção passiva, o acusado
argumenta que o Partido Progressista realmente obteve recursos
junto ao PT, mas para a finalidade lícita de pagar honorários
advocatícios para a defesa de um dos membros da bancada do PP.
Ademais, argumenta que nem sempre votou a favor dos projetos de
interesse do Governo, de modo que estaria ausente o liame
objetivo entre a suposta vantagem e o ato de ofício que teria
praticado.
A defesa do acusado PEDRO HENRY segue na mesma linha
da anterior (Apenso 9 8 ) , acrescentando apenas o fato de ter sido
absolvido pela CPMI dos Correios. Afirma, ainda, que o acusado
JOÃO CLÁUDIO GENÚ pedia autorização apenas para PEDRO CORRÊA e
JOSÉ JANENE antes de efetuar os saques e determinar a destinação
dos recursos sacados.
O acusado JOSÉ MOHAMED JANENE (Apenso 1131, no que
respeita ao crime de corrupção passiva, também salienta a
inexistência do ato de ofício em contraprestação a suposta
vantagem indevida, visto que em várias ocasiões votou em
dissonância com o Governo. A acusação de lavagem de dinheiro
também seria infundada, tendo em vista serem conhecidas a origem
e a destinação do dinheiro, ambas regulares. Por fim, no que
tange à imputação de formação de quadrilha, a defesa considera
R- &&&& Inq 2.245 / MG
que 'cai por terra, por falta dos crimes a justificarem o
enquadramento na tipificação legal", além de não ter sido
demonstrado o liame subjetivo entre os agentes.
O acusado JOÃO CLÁUDIO DE CARVALHO G E W (Apenso 91)
alega que era apenas um mensageiro de seus superiores
hierárquicos na Câmara dos Deputados. No que concerne à
imputação de formaçáo de quadrilha, argumenta o acusado que não
se encontra suficientemente descrito o vinculo subjetivo entre
os supostos agentes do delito. Seria infundada, igualmente, a
acusação de corrupção passiva, pois a inicial não demonstra que
tenha sido ele o beneficiário das quantias sacadas. Por fim,
quanto a acusação de lavagem de dinheiro, o denunciado alega que
a denuncia não demonstra que este tinha conhecimento da origem
ilegal das quantias sacadas.
O denunciado BRENO FISCHBERG alega que foi denunciado
com base na mera circunstância de ser sócio da Bônus Banval
(responsabilidade objetiva), não constando dos autos indicios de
que conhecia a origem ilicita dos valores em questão, nem de que
teria agido com o objetivo de ocultá-la.
O denunciado ENIVALDO QUADRADO, em sua defesa (apenso
no 1 0 3 ) , alega a violação a indivisibilidade da ação penal, em
razão de ter o PGR deixado de oferecer denúncia contra Lúcio
Bolonha Funaro e José Carlos Batista. Sustenta, ainda, a
Inq 2.245 / MG
ausência de justa causa para a instauração de ação penal contra
si.
A defesa do denunciado VALDEMAR COSTA NETO foi feita
pelo mesmo patrono de BISPO RODRIGUES, que sustentou basicamente
os mesmos argumentos em relação as imputações de corrupção
passiva e lavagem de dinheiro. Acresce, em relação a VALDEMAR
COSTA NETO, argumentos relativos a acusação de formação de
quadrilha, que não foi imputada a BISPO RODRIGUES. Para a
defesa, a acusação é manifestamente inepta, porque descreveu uma
estrutura criminosa composta por VALDEMAR COSTA NETO, JACINTO
LAMAS, ANTONIO LAMAS, LÚCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA.
Entretanto, como o PGR denunciou apenas os três primeiros, não
teria sido obedecido o elemento do tipo legal que exige a
presença de mais de três pessoas para a configuração do delito.
A defesa sustenta o seguinte (fls. 16 do Apenso 123):
. . . conclui-se que LÚCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA não foram denunciados porque o ilustre Procurador-Geral da República entendeu que eles não haviam cometido o crime de quadrilha. "
A par disto, a defesa sustenta, ainda, que a denúncia
não indicou um concerto preparatório para delinquir,
indeterminada e permanentemente, elementos que seriam
necessários para a configuração do tipo penal e o recebimento da
denúncia.
Inq 2 . 2 4 5 / MG
O denunciado JACINTO DE SOUZA LAMAS alega ser
absolutamente inocente, razão pela qual a denúncia deveria ser
julgada improcedente, de plano (Apenso 93). Alega que a denúncia
não esclareceu qual teria sido o apoio politico dispensado ao PT
em troca da suposta vantagem ilícita recebida, tendo em vista
que LAMAS não é parlamentar e, portanto, não pode ter votado a
favor de projetos do governo. Para a defesa, JACINTO LAMAS seria
um mero "cumpridor de ordens" do acusado VALDEMAR COSTA NETO,
seu patrão, desconhecendo que se tratava de valores provenientes
de ilícitos penais - o que afastaria, também, a imputação de
lavagem de dinheiro. JACINTO LAMAS invoca, tal como VALDEMAR
COSTA NETO, o não oferecimento de denúncia contra LUCI0 FUNARO e
JOSÉ CARLOS BATISTA como motivo para a sua rejeição, de modo a
haver igualdade de tratamento entre todos os envolvidos.
Relativamente à imputação de formação de quadrilha, a defesa
alega ser improcedente, inclusive tendo em vista que os
colaboradores LÚCIO FUNARO e JOSÉ CARLOS BATISTA afirmaram não
conhecerem nem nunca terem vis to o acusado JACINTO LAMAS, razão
pela qual não é possível vislumbrar como se teriam associado a
ele de modo estável para o cometimento de crimes. Acrescenta
que, ao contrário do afirmado pelo Procurador-Geral da República
na denúncia, o patrimõnio do acusado é, sim, compatível com sua
renda.
@+&&&a Inq 2.245 / MG 011765
O denunciado ANTÔNIO DE PÁDUA DE SOUZA LAMAS, alega
que sua participação nos fatos narrados resumiu-se a condição de
mensageiro e subalterno do verdadeiro beneficiário dos recursos,
o co-denunciado VhDEMAR DA COSTA NETO, então Presidente do
Partido Liberal. Dessa forma, estaria ausente o elemento
subjetivo do tipo, consistente na intenção de se associar com
mais de três pessoas para o fim de cometer crimes. Afirma,
ainda, que a acusação viola o princípio da igualdade, pois o
acervo fático-probatório demonstra a existência de saques de
valores provenientes da SMP6B realizados por outras pessoas, que
não foram denunciadas por isso. Argumenta que a existência de
apenas um saque comprovadamente realizado afasta a habitualidade
imprescindível a configuração da "associação estável" exigida
para a incidência do tipo penal em questão.
No que tange a imputação de crime de lavagem de
dinheiro (art. 1°, incisos V, VI e VII, da Lei 9.613/1998),
ANTÔNIO DE PÁDUA DE SOUZA LAMAS alega a inépcia da denúncia,
ante a inexistência do elemento subjetivo do tipo.
O denunciado BISPO RODRIGUES (Apenso 121) destaca,
inicialmente, a inexistência de nexo causal entre a conduta a
ele imputada e o ato funcional que teria praticado. Salienta que
o apoio do denunciado ao Governo Federal decorre da aliança
política e de recursos previamente travada entre o PT e o PL
(fls. 19). Diz, também, que "o 'ato funcional' supostamente
R- fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
praticado em função de vantagem indevida, qual seja, a aprovação
das referidas emendas previdenciárias e tributárias, deu-se em
m o m e n t o m u i t o posterior ao suposto recebimento da quantia de R$
150.000,OO pelo d e n u n c i a d o " . Além disso, o numerário chegou às
mãos do denunciado para honrar as dívidas contraidas com o custo
da campanha eleitoral. Quanto a acusação de l a v a g e m de dinheiro,
a defesa alega que, tendo em vista não ter sido praticado o
crime de corrupção passiva, inexiste o c r i m e antecedente,
descaracterizando a suposta lavagem. Diz, também, que o
denunciado não praticou qualquer ato típico previsto no art. l0
da Lei no 9.613/98.
O acusado ROBERTO JEFFERSON MONTEIRO FRANCISCO alega
que as condutas descritas na inicial não c o n f i g u r a m o d e l i t o de
corrupção p a s s i v a , uma vez que a função pol í t ica de D e p u t a d o
F e d e r a l não se subsume ao conceito de funcionário público para
efeito de incidência de normas penais (art. 327 do Código
Penal) . ROBERTO JEFFERSON argumenta, ainda, que não foi
apontado na denúncia nenhum ato de ofício por ele realizado em
contraprestação a vantagem indevida, faltando assim uma
elementar do tipo penal da corrupção ativa.
O denunciado ROMEU FERREIRA DE QUEIROZ alega que a
mera indicação, para um correligionário, de uma pessoa de
confiança para receber determinada quantia em estabelecimento
&e fla&& Inq 2.245 / MG
O!. 1787
bancário é fato penalmente irrelevante. Argumenta que a denúncia
não especifica qual seria o ato de oficio que teria praticado,
razão por que o delito de corrupção passiva não estaria
caracterizado. No que concerne a imputação de lavagem de
dinheiro, assevera que não foi demonstrada a existência do crime
antecedente
O denunciado EMERSON ELOY PALMIERI sustenta (apenso
n097) jamais ter participado de qualquer esquema de compra de
votos. Argumenta que, na qualidade de dirigente do Partido
Trabalhista Brasileiro, é responsável somente pela gestão
administrativa do partido. Sustenta que participou apenas do
acordo ocorrido entre o PT e o PTB, acordo esse que seria
absolutamente legitimo.
O ex-Deputado Federal JOSÉ BORBA também negou a
prática dos crimes que lhe foram imputados. Destaca que
desconhecia a origem supostamente ilícita dos valores recebidos,
razão pela qual não teve o dolo do cometimento do crime de
lavagem de dinheiro. Diz que a denúncia está calcada tão-somente
no depoimento de MARCOS VALÉRIO, pessoa que não seria confiável
(fls. 13 do Apenso 125). Quanto a acusação de corrupção passiva,
bate no mesmo ponto dos demais: ausência de descrição do ato de
oficio que praticou ou deixou de praticar em troca de vantagem
ilicita.
O denunciado PAULO ROBERTO GALVÃ0 DA ROCBA alega não
ter mascarado a origem, a natureza e os destinatários finais das
quantias recebidas, de modo que não teria praticado o delito de
lavagem de dinheiro. Ademais, alega ausência de justa causa para
a propositura da ação penal e atipicidade dos fatos que lhe são
imputados.
A denunciada ANITA LEOCÁDIA PEREIRA DA COSTA (Apenso
90) alega, simplesmente, que não tinha conhecimento da origem
i l í c i t a dos valores sacados no Banco Rural, circunstância que
afasta a tipicidade do c r i m e de lavagem de dinheiro, em razão da
ausência do elemento subjetivo do tipo.
O denunciado JOÃO MAGNO DE MOURA sustenta (apenso no
102) a ausência de dolo quando do recebimento de recursos do
grupo supostamente liderado pelo denunciado Marcos Valério.
Alega que teria agido de boa-fé, ao receber valores da empresa
SMP&B, além de sustentar que não há, nos autos, a comprovação da
ocorrência do crime antecedente ao suposto crime de lavagem de
dinheiro de que é acusado. Sustenta a atipicidade da conduta que
lhe é imputada, e que a denúncia teria sido formulada de forma
genérica.
O denunciado LUIZ CARLOS DA SILVA ("Professor
Luizinho") alega que a qualificação do crime de lavagem de
dinheiro a ele imputado não condiz com os fatos narrados na
denúncia, uma vez que os atos descritos tinham como finalidade
&+ B&&& Inq 2.245 / MG
apenas obter financiamento para campanhas eleitorais, não
havendo provas de que o denunciado visasse a ocultação ou
dissimulação de quantias de origem ilícita. LUIZ CARLOS alega,
ainda, a atipicidade da conduta, pois a utilização de pessoa
interposta para sacar valar destinado ao denunciado não
configura meio fraudulento para mascarar a origem, a natureza e
o destinatário das quantias.
O denunciado ANDERSON ADAUTO Pereira alega a
atipicidade da conduta apontada pelo PGR na denúncia como
configuradora do delito de corrupção passiva (apenso n0108).
O denunciado JOSÉ LUIZ ALVES afirma que foi incumbido
pelo seu superior hierárquico, o também denunciado Anderson
Adauto, de efetuar retiradas e pagamentos referentes ao acordo
financeiro existente entre o PT e o PL. Sustenta que sua conduta
foi atipica e, no que concerne ao delito de lavagem de dinheiro,
menciona não ter sido comprovada a existência do delito
antecedente. Admite ter efetuado quatro saques de quantias a
mando do denunciado Anderson Adauto, e não dezesseis, como
consta da denúncia.
0s denunciados JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE MENDONÇA
(DUDA MENDONÇA) e ZILMAR E'ERNANDES DA SILVEIRA alegam (apenso
119) que a mera manutenção de depósito bancário no exterior não
configura o tipo penal do art. 22, parágrafo único da Lei
7.492/1986. Argumentam, além disso, que, neste contexto, o
@+ &&&& Inq 2 .245 / MG
suposto ilicito cometido contra o sistema financeiro nacional
consistiria em mero crime-meio para o cometimento do delito-fim,
qual seja, o crime contra a ordem tributária (sonegação fiscal).
Sendo assim, o principio da consunção determina que a
punibilidade do crime-meio restou extinta, pelo adimplemento
espontâneo dos impostos devidos por DUDA MENDONÇA.
DUDA MENDONÇA e ZILMAR FERNANDES alegam, por fim, no
que tange a imputação de lavagem de dinheiro, que os valores
recebidos constituiam mera contra-prestação aos serviços
publicitários prestados ao Partido dos Trabalhadores, não tendo
origem i l í c i t a .
Destaco que o acusado CARLOS ALBERTO QUAGLIA não
apresentou resposta e scr i ta .
Após a vinda das respostas escritas, o Procurador-
Geral da República apresentou manifestação em atendimento ao
comando do artigo 5' da Lei no 8 . 0 3 8 / 9 0 .
Faço agora um breve resumo da tramitação do inquérito
no 2245 nesta Corte, destacando os principais incidentes
ocorridos desde a autuação do feito neste Tribunal, pois a
enumeração exaustiva de todos os atos praticados no inquérito
não se mostra adequada, tendo em vista que foram proferidos,
desde a autuação do feito, cerca de 200 (duzentos) atos
decisórios cujo conteúdo varia desde despachos de mero
c&gfkmv &a&& Inq 2 .245 / MG 011771
expediente a decisões sobre pedidos de medidas cautelares
formulados pelo PGR.
O presente inquérito foi autuado nesta Corte em
26.07.2005.
Em 16.08.2005 determinei que fossem enviados, a esta
Corte, pela Polícia Federal, todos os apensos que integravam o
presente apuratório, abrindo, em seguida, vista ao Procurador-
geral da República.
Em 02.09.2005 deferi a medida cautelar de busca e
apreensão proposta pelo Procurador-Geral da República, a ser
realizada na residência do Sr. JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE
MENDONÇA e de sua sócia ZILMAR FERNANDES e na sede de suas
empresas.
Tal medida cautelar foi autuada em apartado, como PET,
sob o n03479.
Em 18.10.2005, determinei, a pedido do Procurador-
Geral da República, que fosse expedido oficio ao BankBoston
Banco Múltiplo S.A., para que fornecesse a esta Corte, no prazo
de cinco dias, planilha com a indicação dos titulares dos
recursos movimentados nos últimos cinco anos na conta de número
0008971305 do Nassau Branch of BankBoston, bem como com completa
qualificação, origem e destino dos recursos e data e natureza da
operação.
Inq 2 .245 / MG
Contra essa decisão foi interposto agravo regimental,
cujo julgamento ocorreu em 29.11.2006.
Na ocasião do julgamento do agravo, o Tribunal, por
maioria, deu provimento parcial ao agravo, nos termos do voto
condutor da Senhora Ministra Cármen Lúcia, que ficou incumbida
da lavratura do acórdão. Fiquei vencido, na companhia do
eminente Ministro Carlos Britto.
Em 27.10.2005 deferi, a pedido do Procurador-Geral da
República, uma série de medidas cautelares, autuadas na forma de
Ação Cautelar e registradas sob o no 1011. O conteúdo das
diligências deferidas compreendeu: 1) o arresto dos bens imóveis
de propriedade do Sr. MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA e sua
esposa RENILDA MARIA SANTIAGO FERNANDES DE SOUZA, relacionados
no Anexo 11, impropriamente definido pelo artigo 136 do CPP como
sequestro, para fins de resguardar a inscrição da hipoteca
legal. 2) o sequestro dos bens móveis e semoventes arrolados no
Anexo I1 do requerimento formulado, na forma do art. 137 do CPP
e do §I0 do art. 4' do Decreto-Lei 3.240/41; 3) a
indisponibilidade de todos os recursos financeiros, de qualquer
natureza, existentes em contas de aplicação (poupança, fundos,
CDB, ações, etc) das empresas DNA COMUNICAÇÃO LTDA; SMP&B
COMUNIC. LTDA (em ambos os CNPJ citados no anexo 11); SMP&B SÃO
PAULO COMUNIC. LTDA; STAR ALLIANCE PARTICIPAÇÕES LTDA(em ambos
Inq 2 . 2 4 5 / MG
os CNPJ mencionados no anexo 11) e GRAFFITI PARTICIP. LTDA, cujos
dados cadastrais se encontram no Anexo I1 do pedido.
Esta decisão também foi impugnada por agravo
regimental, cujo julgamento ocorreu em 10.11.2006, ocasião na
qual o Plenário da Corte decidiu, por maioria de votos, negar
provimento ao agravo regimental, nos termos do voto que proferi,
vencido o eminente ministro Marco Aurélio, que lhe dava
provimento.
Em 08.11.2005 deferi pedido de medida cautelar de
quebra de sigilo bancário formulada pelo Procurador-Geral da
República, dirigido contra a empresa NATIMAR NEGÓCIOS E
INTERMEDIAÇÕES LTDA, bem como dos seus sócios CARLOS ALBERTO
QUAGLIA e NATHALIE QUAGLIA IBANES.
Em 14.11.2005 deferi a realização de medida cautelar
de busca e apreensão nas dependências da empresa LC
Envelopamentos e Etiquetagem Ltda, atendendo a requerimento
formulado pelo Procurador-Geral da República. Tal pedido foi
autuado nesta Corte como Ação Cautelar, sob o n01014.
Em 29.06.2006 deferi pedido formulado pelo procurador-
geral da República, de arresto e inscrição da hipoteca legal
sobre os bens imóveis e sequestro dos bens móveis pertencentes a
José Eduardo Cavalcanti de Mendonça e sua sócia Zilmar Fernandes
da Silveira.
Inq 2 . 2 4 5 / MG
A referida medida cautelar foi autuada como Ação
Cautelar, sob o no 1189 e foi impugnada por via de agravo
regimental.
O agravo regimental interposto pela defesa dos
denunciados José Eduardo Cavalcanti de Mendonça e Zilmar
Fernandes foi julgado pelo Plenário deste Supremo Tribunal
Federal em 10.11.2006, ocasião na qual o Tribunal, por
unanimidade, decidiu negar provimento ao agravo regimental, nos
termos do voto por mim proferido.
Em 07.03.2006, o Procurador-Geral da República
requereu a prisão preventiva dos investigados José Dirceu de
Oliveira e Silva, José Genoíno Neto, Delúbio Soares de Castro,
Sílvio José Pereira, Marcos Valério Fernandes de Souza, Ramon
Hollerbach Cardoso, Cristiano de Mello Paz, Rogério Lanza
Tolentino, Simone Reis Lobo de Vasconcelos, Geiza Dias dos
Santos, Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Vinicius Samarane e
Ayanna Tenório Torres de Jesus, sob duplo fundamento: para a
garantia da ordem pública e por conveniência da instrução
criminal.
Indeferi o pedido, por considerar ausentes os
fundamentos autorizadores da custódia cautelar.
O PGR formulou pedido de reconsideração que foi por
mim indeferido em 05.05.2006.
& g fl&&& Inq 2.245 / MG 011775
Ressalto que a decisão acerca da prisão e o próprio
pedido tramitaram sob sigilo, em razão da evidente necessidade
de se resguardar o sucesso da diligência, caso fosse deferida, e
em face da possibilidade de modificação das circunstâncias de
fato, que poderiam provocar eventual reconsideração da decisão
de indeferimento.
Em 30.06.2006 deferi a realização de diligência de
busca e apreensão nas dependências da Companhia Brasileira de
Meios de Pagamentos - CBMP (Visanet), requerida pelo procurador-
geral da República e autuado como Ação Cautelar, sob o no 1258.
Em 06.12.2006 sugeri ao Plenário da Corte, em questão
de ordem, o desmembramento do feito com a permanência sob a
jurisdição do Supremo Tribunal Federal unicamente dos
denunciados atualmente detentores de mandato parlamentar. Tal
proposta não foi acolhida pela Corte, de modo que o pólo passivo
do presente feito permanece inalterado.
São esses, em apertada síntese, os principais
incidentes ocorridos no âmbito do inquérito n02245, ocorridos
ate a apresentação da denúncia pelo procurador da República, em
30 de março de 2006.
Informo, Senhora Presidente, que em meu voto serão
abordadas matérias constitucionais, especialmente no que diz
respeito as questões preliminares arguidas pelas defesas.
É o relatório.
TRIBUNAL PLENO
INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS V O T O - - - -
O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - (Relator): Sra.
Presidente, como assinalei no relatório, no presente inquérito
são narrados crimes de formação de quadrilha, peculato, lavagem
de dinheiro, corrupção ativa, corrupção passiva, gestão
fraudulenta de instituição financeira e evasão de divisas, nos
termos constantes da denúncia.
Procedo ao julgamento, iniciando pela análise das
questões preliminares arguidas pelas defesas dos acusados.
PRELIMINARES
No presente capítulo, não serão objeto de análise as
alegações de ausência de individualização das condutas ou de
justa causa para o oferecimento da denúncia, nem a pretensa
atipicidade dos fatos narrados pelo Procurador-Geral da
República, pois estes temas são, por assim dizer, o "mérito" da
fase do art. 6' da Lei no 8 . 0 3 8 / 9 0 , que examinarei de forma
destacada, capitulo por capitulo, mais ou menos de acordo com a
estruturação da denúncia.
Foi sustentada, em primeiro lugar, a preliminar de
incompetência do STF para julgar a acusação formulada contra os
@*H&&& Inq 2.245 / MG 011779
34 Acusados que não são detentores de prerrogativa de foro,
pedindo que se fixe a competência, quanto a estes, do juiz
federal prevento para o caso - juiz federal da 4 = Vara de Belo
Horizonte (por todos, v. (fls. 09/16 da resposta de MARCOS
VALÉRIO; fls. 3/5 da resposta de ANITA LEOCÁDIA - Apenso 90).
Destaco, desde logo, que o tema já foi decidido em
questão de ordem, por votação majoritária deste plenário, no
sentido da necessidade de se manter um processo único, a
tramitar perante o Supremo Tribunal Federal. Assim, está
preclusa a matéria.
Algumas defesas alegam, ainda preliminarmente, que a
denúncia estaria baseada em provas obtidas por meio ilícito
(SIMONE VASCONCELOS, Apenso 114; MARCOS VALÉRIO, Apenso 115; e
AYANNA TEN~RIO, JOSÉ ROBERTO SALGADO, KÁTIA RABELLO e VINÍCIUS
SAMARANE, Apenso 1181, pelas seguintes razões.
Primeiro, estes denunciados sustentam que o BMG
procedeu a quebra de sigilo bancário atendendo a pedido direto
do PGR, sem que houvesse autorização judicial para tanto.
Sustentam, ainda, que o Banco Central do Brasil também
procedeu a quebra do sigilo bancário do acusado sem autorização
judicial, atendendo a pedido direto do PGR. Requer-se, portanto,
a rejeição da denúncia, "pelo menos em toda a parte em que se
refere a 'recursos originários de supostos empréstimos bancários
junto aos bancos Rural e BMG e aos supostos benefícios dados
Inq 2.245 / MG
pelo Governo Federal ao banco BMG em troca da alimentação do
esquema da organização criminosa com aqueles mesmos recursos,
bem como à participação na organização criminosa dos dirigentes
do Banco Rural e realização de saques em espécie para lavagem de
dinheiro'." (fls. 29 da resposta de MARCOS VALÉRIO - Apenso
115).
Para os acusados MARCOS VALÉRIO e SIMONE VASCONCELOS,
também seria ilícita a quebra de sigilo bancário realizada pela
autoridade judiciária de 1" grau (4= Vara Federal da Seção
Judiciária de Minas Gerais), cuja incompetência absoluta foi
reconhecida pelo próprio órgão do Ministério Público Federal lá
atuante.
Assim, as defesas de MARCOS VALÉRIO e SIMONE
VASCONCELOS pedem a rejeição da denúncia, "pelo menos em toda a
parte que se refere a 'movimentação de recursos financeiros por
MARCOS VALÉRIO, seus sócios e suas empresas, para compra de
suporte político de outros Partidos Poli ticos e do financiamento
futuro e pretérito (pagamento de dívidas) das campanhas
eleitorais e realização de saques em espécie para lavagem de
dinheiro'." (fls. 34 da resposta de VALÉRIOI.
Outra ilegalidade teria ocorrido nas provas obtidas
mediante compartilhamento de dados, de documentos e de
informações obtidos através de quebras de sigilos bancário,
fiscal e telefõnico pela CPMI DOS CORREIOS, que seriam estranhas
Inq 2.245 / MG
ao fato determinado que deu origem a comissão e teriam se
baseado, apenas, em publicações da imprensa, algumas fruto de
vazamento ilícito de dados sigilosos.
Com base nesta argumentação, pleiteia-se a rejeição da
denúncia "em toda a parte em que se refere a 'contratos das
agências de publicidade -com BANCO DO BRASIL e CÂMARA DOS
DEPUTADOS, ( . . . ) pagamentos, no Brasil ou no exterior, a DUDA
M E N D O N ~ ~ e r e a l i z a ç ã o d e saques em espécie para lavagem de
dinheiro'." (fls. 37 da resposta de MARCOS VALÉRIO).
As defesas também consideram que seria ilícita a prova
emprestada obtida no banco de dados do Caso Banestado, que foi
utilizada pelo PGR para dar respaldo a acusação contida no item
VI11 da denúncia em exame (fls. 47 da resposta de VALÉRIO; 05/07
da resposta de AYANNA TEN~RIO, JOSÉ ROBERTO SALGADO, KÁTIA
RABELLO e VINÍCIUS SAMARANE, Apenso 118).
Em outra preliminar, o acusado MARCOS VALÉRIO pede que
se declare a ilicitude da análise, em laudos do Instituto
Nacional de Criminalística, de dociimentos bancários recebidos no
Brasil em novembro de dezembro de 2005, fruto de quebra de
sigilo bancário no exterior sem que houvesse prévia autorização
de autoridade judiciária brasileira.
Alguns acusados sustentam, ainda, ter havido violação
ao princípio constitucional do devido processo legal e falta de
dg4.e- NU&& Inq 2.245 / MG
011780
justa causa para propositura da denúncia, em razão do fato de o
PGR haver oferecido a denúncia antes .de concluídas as
investigações e apresentado o relatório pela autoridade
policial.
Pelas razões antes expostas, as defesas de SIMONE
VASCONCELOS (Apenso 114) e MARCOS VALÉRIO (Apenso 115) pedem o
desentranhamento de todos os documentos que, segundo eles, foram
obtidos por meios ilicitos.
Individualmente, LUIZ GUSHIKEN alegou a ocorrência de
cerceamento de defesa por não ter tido acesso ao resultado da
pericia então em andamento junto a Policia Federal, razào pela
qual solicita reabertura de prazo para complementação da
resposta, tão logo seja juntado aos autos o laudo da pericia
(Apenso 89) .
O acusado JOSÉ DIRCEU alega que este é um julgamento
político, que só a população, através do voto, teria direito de
fazer (fls. 4, Apenso 100).
Estas as preliminares arguidas pelas defesas.
Considero que todas devem ser rejeitadas.
' Esta acusação será analisada no item V I 1 1 do presente voto.
Ngfk?mo NU&& Inq 2.245 / MG
011781
Relativamente a alegada precipitação no oferecimento
da denúncia (Apensos 114/115) que a defesa alega ter violado o
devido processo legal, tendo em vista que algumas diligências
ainda deveriam ser feitas e que o Relatório Policial ainda não
havia sido apresentado, a tese não tem amparo jurídico algum.
Ora, se o Procurador-Geral da República entender, como
entendeu, que existem indícios mínimos de autoria e
materialidade de fatos tidos como criminosos, não há qualquer
obstáculo ao oferecimento da denúncia. O máximo que pode ocorrer
é o não recebimento da denúncia, por inexistência de justa
causa, mas não sua rejeição liminar, pelo mero fato de não ter
aguardado "o momento mais adequado". A decisão sobre o momento
de oferecer a denúncia é da alçada única do autor da ação penal
Quanto a não apresentação do Relatório Policial,
trata-se, obviamente, assim como o próprio inquérito policial,
de peça dispensável, razão pela qual sua ausência nos autos não
pode ensejar, por si só, a rejeição da denúncia
A preliminar de nulidade das decisões proferidas na
primeira instância, por sua alegada "incompetência absoluta",
também não merece prosperar. Quando o Magistrado de 1' grau
proferiu sua primeira manifestação, no sentido da quebra de
sigilo bancário e fiscal (autos 2005.023624-O), não havia
qualquer indício da participação ativa e concreta de qualquer
agente político ou autoridade que possuísse foro por
@+&&&a Inq 2.245 / MG 011782
prerrogativa de função nos fatos objeto da investigação
policial. Foram f a t o s novos , supervenientes aquela decisão, que
acarre taram uma a l t e r a ç ã o do quadro p roba tó r io , r e p e r c u t i n d o na
competência daque le j u i z o f e d e r a l , que a s s i m s e m a n i f e s t o u :
" a ) d e c l i n o da competência para o Supremo Tr ibuna l Federa1 - S T F , para onde deverão ser remetidos imediatamente os autos e os demais apensos e anexos, o s q u a i s serão en t r egues mediante O f í c i o na pessoa do Senhor M i n i s t r o P r e s i d e n t e , adotando-se t o d a s a s c a u t e l a s para a preservação do s i g i l o das i n fo rmações , dados e documentos jun tados ;
b) de termino à S e c r e t a r i a do j u í z o a adoção das p rov idênc ia s n e c e s s á r i a s , devendo o s a u t o s e demais peças ser l a c r a d o s , de forma a p r e s e r v a r a i n v i o l a b i l i d a d e das i n fo rmações ;
c ) o f i c i a r à au tor idade p o l i c i a l p r e s i d e n t e do I n q u é r i t o o d i s p o s i t i v o d e s t a d e c i s ã o , a f i m de que possa ado ta r a s p r o v i d ê n c i a s a d m i n i s t r a t i v a s no que ..
toca ao r e g i s t r o e tombamento do I P ; d ) de terminar a ba i xa na d i s t r i b u i ç ã o ,
inclusive em relação às &&das cautelares 2005.022754-9, 2005.023624-0 e 2005.025508-9, para as quais deverá ser trasladada cópia desta decisão, promovendo-se as anotações e registros de praxe."
R e s s a l t o que , chegados o s au to s ao STF, o en tão
p r e s i d e n t e Ministro Nelson Jobim deferiu todos os requerimentos
formulados pelo Procurador-Geral da República, qua i s sejam:
' ( 1 o reconhecimento da competência do SUPREMO para processamento das i n v e s t i g a ç õ e s e m c u r s o , autuando-se para c l a s s e de INQUÉRITO;
( 2 ) a juntada aos a u t o s do procedimento PGR/MPF n o 1 .00 .000 .006045 /2005 -55 , i n s t a u r a d o na PGR (CASO ROBERTO JEFFERSON) .
(3 ) (. . . ) a ratificação das decisões judiciais prolatadas nos autos das medidas cautelares de busca e apreensão e afastamento do sigilo bancário (Processos n o 2005.022754-9; 2005.023624-0 e 2005.025508-9), d i s t r i b u í d a s por dependência ao
&* fl&&4 Inq 2 .245 / MG
011783
~nquérito pollclal que tramitava perante a 4" Vara Federal de Belo Horizonte;
(4) a extensão do afastamento do s i g i l o bancário das empresas DNA Propaganda Ltda. E SMP&B Comunicação Ltda., de MARCOS VALÉRIO ZERN2WDES DE SOUZA e sua esposa RENILDA MARIA SANTIAGO EZUNANDES DE SOUZA, desde janeiro de 1998 a t é a presente data.
(5) autorização para compartilhamento de todas as informações bancárias já obtidas pela CPMI dos 'Correios' , para anállse em conjunto com os dados constantes destes autos."
Desta forma, não há que se falar em ilegalidade ou
nulidade nos atos praticados pelo juizo de primeira instância,
pois quando do deferimento das medidas cautelares, o juiz a quo
era competente para t a i s a tos , tendo declinado de sua
competência tão logo surgiram indícios da participação de
agentes públicos detentores da prerrogativa de foro.
As defesas também alegaram a ilegalidade da prova
emprestada do caso ,Banestado. Esta alegação também não merece
aceitação. Isto porque o acesso a base de dados da CPMI do
Banestado fora autorizado pela CPMI dos Correios. Ademais, o
então Ministro Presidente desta Corte, Nelson Jobim, de fe r iu o
compartilhamento de todas as informações obtidas pela C P M I dos
correios para análise em conjunto com os dados constantes dos
presentes autos. Eis o que o Procurador-Geral da República falou
sobre o tema (fls. 10177/10178, volume 48):
A correta decisão atendia ao objetivo de racionalizar o trabalho de apuração, evitando uma indesejável e anti-econômica duplicidade de esforços.
Pois bem : entre vários requerimentos aprovados pela CPMI dos correios, alguns tiveram como
&- fl&&& Inq 2.245 / MG
objeto justamente o acesso a base de dados do denominado caso Banestado. A CPMI dos correios efetivamente aprovou o acesso à base de dados da CPMI do Banestado.
Além disso, registre-se que o trabalho de qualquer CPMI tem como destinatário, para fins jurídicos (ação penal, ação civil públlca, entre outras medidas) o Ministério Público, que passa a ter acesso irrestrito aos documentos produzidos pelo órgão legislativo.
Diante desse quadro, havia sim autorização para utilização emprestada das provas colhidas na mencionada investigação (Banestado) .
Aliás, recentemente, no caso da Operação Furacão (Inq.
no 2 4 2 4 ) , esta Corte autorizou o compartilhamento das provas que
compõem o acervo daquele inquérito com o Superior Tribunal de
Justiça, para instrução de processo disciplinar, caso em que
havia inclusive interceptações telefõnicas. Com muito mais
razão, as provas obtidas pela CPMI do caso Banestado podem ser
aproveitadas no presente caso.
Assim, Senhora Presidente, diante da existência de
autorização judicial para o compartilhamento de todas as provas
colhidas pela CPMI dos Correios, dentre as quais aquelas do caso
Banestado, eu rejeito, também, a preliminar em questão.
Quanto a alegação de que a CPMI dos correios
investigou fatos estranhos aquele que determinou sua instalação,
é amplamente conhecido que a investigação findou por ser
ampliada em razão de fatos novos, relacionados com aqueles que
constituíam seu objeto (investigar a corrupção e outros atos
administrativos praticados na Empresa Brasileira de Correios e
d$?&?.w&&&& Inq 2.245 / MG 011785
T e l é g r a f o s , a E C T , tendo em v i s t a a n o t i c i a do recebimento de
vantagem indevida pelo S r . Maurício Marinho, funcionário daquela
e s t a t a l , f lagrado por gravação de v i d e o ) . Esta ampliação do
ob je to da CPMi dos Correios nada contém de i l e g a l , como entende
e s t a Corte , v e r b i s :
,, (. . .) AUTONOMIA DA IWESTIGAÇÃO
PARLAMENTAR - O i n q u é r i t o parlamentar, r ea l i zado por qualquer CPI, q u a l i f i c a - s e como procedimento jur íd ico - cons t i tuc iona l r e v e s t i d o de autonomia e dotado de f ina l idade própr ia , c ircunstância e s ta que permite a Comissão l e g i s l a t i v a - sempre respe i tados os l i m i t e s i n e r e n t e s à competência mater ia l do Poder L e g i s l a t i v o e observados os f a t o s determinados que d i t a r a m a sua c o n s t i t u i ç ã o - promover a p e r t i n e n t e inves t igação , ainda que o s a t o s i nve s t i ga tó r io s possam incidir, eventualmente, sobre aspectos referentes a acontecimentos s u j e i t o s a inquér i tos p o l i c i a i s ou a processos j ud i c ia i s que guardem conexão com o .evento pr incipal ob je to da apuração congressual. Doutrina. " (MS 23.639/DF, Pleno, r e l . Min. Celso de Mello, DJ 16.02.2001, p . 91)
. . . A comissão parlamentar de i n q u é r i t o encontra na jur isd ição cons t i tuc iona l do Congresso seus l i m i t e s . Por uma necessidade funcional , a comissão parlamentar de i n q u é r i t o não tem poderes u n i v e r s a i s , mas l i m i t a d o s a f a t o s determinados, o que não quer d i z e r que não possa haver tan tas comissões quantas as necessár ias para r e a l i z a r as inves t igações recomendáveis, e que outros fa tos in ic ia lmente p rev i s t o s não possam ser aditados aos ob je t i vos da comissão de i nquér i t o , já em ação. O poder de i nve s t i gar não é um fim em si mesmo, mas M poder instrumental ou anc i lar relacionado com as a tr ibuições do Poder Leg i s la t i vo . Quem quer o fim dá os meios (. . . ) . " (HC 71.039/RJ, Pleno, r e l . Mln. Paulo Brossard, DJ 06.12.1996, p . 4 8 . 708) .
&-H&&& Inq 2 .245 / MG
01178F
Assim, não deve prosperar o pleito dos denunciados de
que a CPMI dos correios não tinha competência para investigar os
fatos trazidos no presente inquérito.
Ainda em relação à CPMI dos Correios, alegou-se que os
afastamentos de sigilos ali determinados teriam origem,
exclusivamente, em matérias jornalisticas. Ocorre que, além de
não ser esta a realidade dos fatos, referidos dados foram objeto
de decisão judicial autônoma no âmbito do Inquérito no 2245 e
ações cautelares incidentais a e l e (por exemplo: sigilo bancário
de Renilda Fernandes, DNA e SMP&B), de modo que as provas
obtidas com afastamento de sigilo, no âmbito do presente
Inquérito, foram colhidas com autorização judicial.
O acusado MARCOS VALÉRIO considera, ainda, que a
denúncia deve ser rejeitada, "pelo menos em toda a parte em que
se refere a 'recursos originários de sugostos empréstimos
bancários juiito aos bancos Rural e BMG e aos supostos benefícios
dados pelo Governo Federal ao banco BMG em troca da alimentação
do esquema da organização .crimínoS+ com.aquehS mesmos recursos,
bem como a participação na organização criminosa dos dirigentes
do Banco Rural e realização de saques em espécie para lavagem de
dinheiro'." (fls. 2 9 da resposta de MARCOS VALÉRIO - Apenso
115).
Alega, neste sentido, que as provas obtidas para
respaldar e s t a parte da acusação foram colhidas de modo i legal ,
Inq 2.245 / MG
pois o BACEN teria atendido a pedido direto do Procurador-Geral
da República, sem que houvesse autorização judicial para tanto.
Na verdade, o que consta dos autos em respaldo as
acusações de lavagem de dinheiro são relatórios de fiscalização
do BACEN, que foram objeto de requerimento aprovado na CPMI dos
correios (requerimento na 9 1 , do Senador Álvaro Dias, aprovado
em 21 de junho de 2005 - v. www.camara.gov.br, onde é possível
ter acesso a tabela de todos os requerimentos aprovados pela
CPMI dos Correios), nos termos do art. 4 O , 1 da Lei
Complementar no 105, de 10 de janeiro de 2001, que dispõe:
51" AS comissões parlamentares de inquérito, no exercício de sua competência constitucional e legal de ampla investigação, obterão as inforniações e documentos sigilosos de que necessitarem, diretamente das instituições financeiras, ou por intermédio do Banco Central do Brasil ou da Comissão de Valores Mobiliários.
Como vimos, o Ministro NELSON JOBIM, então Presidente
desta Corte, autorizou o "compartilhamento de todas as
informações bancárias já obtidas pela CPMI dos "Correios", para
análise em conjunto com os dados constantes destes autos" (f 1s.
408, volume 2), decisão esta proferida em 25 de julho de 2005.
Além disso, também eu proferi decisão, em 30 de agosto
de 2005, como consta de fls. 1245/1249 (volume 5 destes autos).
Ali, destaquei que o afastamento do sigilo bancário, desde
janeiro de 1 9 9 8 , de todas as contas mantidas por MARCOS VALÉRIO
e "demais pessoas f ís icas e jurídicas que com ele cooperam, ou
&+H&&& Inq 2.245 / MG
por ele são controladas", apontadas pelo Procurador-Geral da
República na manifestação de fls. 1167/1183, mostrava-se
"necessária à completa elucidação da origem dos recursos
financeiros movimentados" nos fatos investigados neste inquérito
(v. fls. 1247).
Veja-se, ainda,, que as remessas ,diretas dos documentos
pelo ÉACEN ao Procurador-Geral da República foram por mim
autorizadas, para maior celeridade processual, e me eram sempre
comunicadas pelo Presidente do Banco Central v., p. ex., fls.
3397, volume 15 dos autos).
Assim, o fato é que houve regular quebra de sigilo de
todas as contas do acusado .Marcos Valério e suas empresas,
autorizada tanto pela CPMI dos Correios como por este Tribunal.
Por estas razões, rejeito também esta preliminar.
Relativamente aos documentos encaminhados pelo Banco
BMG ao Ministério Público Federal, atendendo a pedido direto do
órgão ministerial, não assiste razão a defesa. O oficio
requisitório do Ministério Público amparou-se na decisão
anterior que afastou o sigilo bancário dos investigados (fls.
407/410), decisão esta proferida pelo então ministro Presidente
desta Corte, NELSON JOBIM, durante o recesso forense (25 de
julho de 2005). Houve, ainda, posteriormente, nova decisão, por
mim proferida, afastando o sigilo bancário de modo amplo,
abarcando todas as operações de empréstimos objeto do oficio
Inq 2.245 / MG
.(fls. 1245/1249). Foi, inclusive, determinada, naquela mesma
decisão, a realização de perícia com acesso amplo e irrestrito
as operações. bancárias do Banco BMG. Assim, não merece ser
acolhida a preliminar em questão, inclusive porque não houve
qualquer impugnação no momento em que aquelas decisões foram
proferidas.
Destaco, por fim, que também a CPMI ,dos Correios
afastou o sigilo bancário de todas as operações questionadas
pela defesa.
Em anexo ao meu voto eu disponibilizo uma lista de
todos os requerimentos aprovados pela CPMI dos Correios, dentre
os quais a transferência do sigilo bancário, fiscal e telefônico
do acusado MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA, requisição ao
Banco Rural para identificar todos os saques realizados em
dinheiro nas Agências de Belo Horizonte, desde janeiro de 2003,
superiores a R$ 100mi1, a partir das contas da SMP&B
Comunicação, suas coligadas e sócios, dentre os mais de 1800
ato3 praticados pela CPMI e listados na tabela anexa (v.
www.camara.gov.br).
No que diz respeito aos documentos bancários recebidos
do exterior, a defesa de MARCOS VALÉRIO pede que se declare a
ilicitude da análise, em laudos do Instituto Nacional de
Criminalistica, de docmentos bancários recebidos no Brasil em
R$kw%w &&&;.'-.c Inq 2 .245 / MG 011790
novembro de dezembro de 2005, f r u t o de quebra de s i g i l o bancário
no e x t e r i o r .
A d e f e s a alega o seguin te ( f l s . 4 5 ) :
" O Decreto n o 3.810, de 02/05/2001, promulga o Acordo de Ass i s t ênc ia Judic iár ia em Matéria Penal e n t r e o Governo da República Federativa do B r a s i l e o Governo dos Estados Unidos da América, celebrado em B r a s i l i a , e m 14 de outubro de 1997 ( . . . ) .
Consta do mencionado Acordo, quanto ao uso das provas o b t i d a s , uma r e s t r i ç ã o expressa. As mesmas só podem ser usadas nos inquér i tos .ou processos que deram origem ao pedido de cooperação in ternacional , não sendo permitido o seu uso, indiscriminadamente ( . . . ) .
Como não houve nenhuin pedido formal do Governo do Bras i l à s Autoridades Americanas so l i c i tando autorização para u t i l i z a r , no presente Inquéri to no 2 2 4 5 d e 2005 , o s dados e documentos bancários enviados em 2003 e 2004 ( . . . ) , o uso daquele banco de dados na rea l i zação de todos os laudos p e r i c i a i s r ea l i zados pe lo I n s t i t u t o Nacional de Cr imina l í s t i ca do DPF, no presente i n q u é r i t o , acima re lac ionados , tornou-os prova i l í c i t a , porquanto derivados da prova emprestada i l i c i t a ."
Não há qualquer respaldo jur íd i co a alegação.
Destaco, em primeiro lugar , que a de fe sa não
i n t e r p r e t o u corretamente o Decreto no 3.810/2001
O a r t i g o V I I , número 1 , daquele diploma l ega l não
es tabelece que o uso dos documentos enviados se r e s t r i n j a ao
inquér i to que deu origem ao pedido do Estado Requerente. Ele
apenas autor iza que a Autoridade Central do Estado Requerido
imponha essa r e s t r i ção de uso. Ou s e j a , para que o Estado
Requerente e s t e j a impedido de usar as provas em outros
processos, é preciso que o Estado Requerido s o l i c i t e ,
Inq 2.245 / MG
expressamente, que os dados não sejam usados em outros
procedimentos que não aqueles d e s c r i t o s na s o l i c i t a ç ã o .
Transcrevo o t e o r do d i s p o s i t i v o em ques tão:
" A r t i g o VII Res t r i ções ao Uso
1 . A Autoridade Central do Estado Requerido pode s o l i c i t a r que o Estado Requerente de ixe de usar qualquer informação ou prova obt ida por força d e s t e Acordo em inves t igação , i n q u é r i t o , ação penal ou procedimentos ou t ros que não aqueles d e s c r i t o s na s o l i c i t a ç ã o , sem o prév io consentimento da Autoridade Central do Estado Requerido. Nesses casos, o Estado Requerente deverá r e s p e i t a r a s condições e s tabelecidas" .
No caso em questão, não houve a restrição prevista em
tal norma! A única condição imposta t e v e por base o Ar t igo V I I ,
número 2 , que dispõe o segu in te :
" 2 . A Autoridade Central do Estado Requerido poderá requerer que as informações ou provas produzidas por força do presente Acordo sejam mantidas c o n f i d e n c i a i s ou usadas apenas sob os termos e condições por ela especificados. Caso o Estado Requerente a c e i t e as informações ou provas s u j e i r a s a e s sas condições, e l e deverá r e s p e i t a r t a i s condições. "
A condição imposta pela Autoridade Americana, i n casu,
f o i apenas que os documentos fossem utilizados apenas pelos
Procuradores da República e pela Policia Federal, que não
deveriam compartilhar com outras ent idades ou autoridades do
B r a s i l . Mas não ficaram impedidos de utilizar aqueles documentos
em outros inquéritos.
&e &&H& Inq 2.245 / MG 0 1 1 7 9 2
Acrescento que o STF foi informado de todos os passos
da obtenção das provas no exterior, recebendo, ao final, o
resultado dos pedidos feitos pela Policia Federal e pela
Procuradoria-Geral da República. Eis o que constou na
manifestação do Ministério Público de £1. 1180:
"53. Em razão dessas informações, faz-se necessário o afastamento do sigilo bancário das contas do publicitário 'DUDA MEiVDONÇA' e empresas, no Brasil, incluindo as contas 'CC-S / , devidamente indicadas nos itens '1' e '2' acima.
54. Quando às dema~s contas mantldas no exterior, após o afastamento pelo Supremo Tribunal Federal do sigllo acima requerido, diligenciarei o acesso às mesmas junto aos órgãos internacionais competentes, com base nos Acordos e demais normas que disciplinam a matéria. "
O afastamento de sigilo assim solicitado foi acatado
na decisão de fl. 1248', demonstrando a lisura de todo o
procedimento e o seu pleno conhecimento pela autoridade judicial
competente (STF) .
Como afirmou a própria defesa e conforme documento
salientado no próprio Laudo n o 2293/05, do INC, o sigilo das
contas em questão foi afastado pela Autoridade norte-americana
competente, que .autorizou, no bojo do presente inquérito, seu
uso pelo Procurador-Geral da República e pela Policia Federal.
Eis o que consta dos oficios que remeteram referidos
documentos bancários (fls. 3796 e 3822, volume 17):
Inq 2 . 2 4 5 / MG
"Em r e f e r ê n c i a aos pedidos acima r e f e r i d o s do Governo do B r a s i l , formulados conforme o Tratado e n t r e os Estados Unidos e o B r a s i l sobre Ass i s t ênc ia Jur íd ica Mútua e m Matéria Criminal , assinado em 1 4 de outubro de 1 9 9 7 , encaminhamos anexadas a e s t a carta o i t o ca ixas contendo cópias de r e g i s t r o s bancários encaminhados ao nosso e s c r i t ó r i o pe lo E s c r i t ó r i o do Procurador D i s t r i t a l do Condado de Nova Iorque. O E s c r i t ó r i o do Procurador D i s t r i t a l do Condado de Nova Iorque obteve ordens judiciais para abrir os - - documentos apenas para os Procuradores Federais bras i le i ros e para a Polícia Federal brasi le ira ( . . . ) . Portanto, neste momento não comparti lhe as provas anexadas com quaisquer outras en t idades ou autoridades no B r a s i l , i n c l u s i v e a Comissão Parlamentar de Inquér i to , que s o l i c i t o u o compartilhamento dos documentos pe lo pedido de 2 4 de outubro de 2005 ( O f í c i o n o 4766/2005ISNJ-MJ) " .
Deste modo, não há que se f a l a r em nulidade a
propósi to da per í c ia f e i t a pelo I N C nos documentos bancários
provenientes do e x t e r i o r , t endo em v i s t a a permissão para abr i r
o s documentos t a n t o para os Procuradores da República quanto
para a Polícia Federal, sendo que o I n s t i t u t o Nacional de
Cr imina l í s t i ca é, como sabido, órgão do Departamento de Pol ic ia
Federal
Portanto, como v i s t o , todas as provas existentes nos
autos foram legalmente colhidas no curso do presente Inquér i to .
Individualmente , o acusado L U I Z G U S H I K E N alegou t e r
havido cerceamento de d e f e s a , porque t e r iam s ido juntados
documentos após a apresentação de sua impugnação. Requereu,
Posteriormente, o Pleno deu provimento a agravo regimental no qual se impugnava apenas a parte da decisão deste relator que decretara a quebra do sigilo bancário das contas CC-5.
Inq 2 . 2 4 5 / MG
assim, abertura de prazo para complementar a defesa "após serem
carreados para os autos todos os elementos anteriormente
requisitados à Policia Federal pelo Ministério Público, bem como
descritos em auto próprio os conteúdos dos CDs que acompanharam
os ditos apensos" (fls. 14).
Ocorre que a denúncia foi oferecida com base, tão-
somente, nos documentos até então existentes, não servindo, para
a decisão que se proferirá nesta sessão, documentos
eventualmente juntados pelo Parquet após o oferecimento da
inicial. Até porque, tais documentos não podem ter influenciado
no convencimento do órgão ministerial ao apresentar a denúncia.
Como destacou o Procurador-Geral da República as fls. 10173, "os
demais documentos servirão para instruir a ação penal, momento
no qual o denunciado terá pleno acesso aos respectivos
conteúdos".
Relativamente aos conteúdos dos CDs, que a defesa
requer sejam "descritos em auto próprio", esclareço apenas que
há, nos autos, precisa indicação dos mesmos, estando disponíveis
às defesas para consulta.
Por fim, quanto a alegação do acusado JOSÉ DIRCEU, no
sentido de que se pretende fazer um julgamento político de seus
atos, não há qualquer base para tal afirmação. Como veremos nos
capítulos seguintes, são-lhe imputados fatos em tese típicos e
antijurídicos, com base em indícios que analisaremos para saber
Inq 2.245 / MG
se são suficientes ou não para dar inicio a ação penal. Não há
qualquer alusão a atos ou posicionamentos político-ideológicos
do acusado, mesmo porque o Poder Judiciário não tem legitimidade
democrática para julgá-los.
Rejeito, assim, TODAS as questões preliminares.
DA IMPuTAÇÃO DE DESVIO DE RECURSOS PÚBLICOS - Capitulo I11 da Denúncia
Os fatos criminosos narrados no item I11 da denúncia
(fls. 5649-5686) referem-se a supostas ilicitudes cometidas no
âmbito de contratos celebrados entre órgãos da administração
pública e empresas vinculadas ao grupo de MARCOS VALÉRIO,
nomeadamente a DNA Propaganda Ltda. e a SMP&B Comunicações Ltda.
Esta parte da denúncia encontra-se subdividida em
quatro subitens, conforme o órgão que contratou os serviços das
referidas empresas.
No subitem 111.1, o procurador-geral da República
aborda as supostas ilegalidades perpetradas durante licitação
para contratação de serviços publicitários pela Câmara dos
Deputados(Concorrência 11/2003), durante o período no qual o
denunciado João Paulo Cunha ocupava a Presidência da Casa, bem
como aquelas supostamente cometidas ao longo da execução do
contrato administrativo correspondente(2003/204.0), celebrado
com a SMP&B Comunicações Ltda.
As imputações constantes desse subitem sào as
seguintes:
(i) Corrupção ativa e passiva (fls. 5668):
"a) JOÃO PAULO CUNHA, em concurso material,
está incurso nas penas do:
&$ke.vw fl&&& Inq 2.245 / MG 011796
a . 1 ) a r t i g o 317 d o Cód igo Penal P á t r i o
( r e c e b i m e n t o d e c i n q u e n t a m i l r e a i s ) - F l s . 5667
[ . . . I b) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,
CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, em c o n c u r s o
m a t e r i a l , e s t ã o i n c u r s o s n a s p e n a s d o :
b . 1 ) a r t . 3 3 3 d o Cód igo Penal P á t r i o
(pagamento d e c i n q u e n t a m i l r e a i s ) " - F l s . 5668
(ii) Lavagem de Dinheiro (fls. 5667) :
" a ) JOÃO PAULO CUNHA, em c o n c u r s o m a t e r i a l ,
e s t á i n c u r s o n a s p e n a s d o :
[ . . . I a . 2 ) a r t i g o 1 ° , i n c i s o s V , V I e V I I , da L e i
n o 9 . 613 /1998 ( u t i l i z a ç ã o da S r a . Márcia Regina para
receber c i n q u e n t a m i l reais)"
(iii) Peculato (fls. 5667-5668)
" a ) JOÃO PAULO CUNHA, em c o n c u r s o m a t e r i a l ,
e s t á i n c u r s o n a s p e n a s d o : [. . . ] a . 3 ) 0 2 ( d u a s ) vezes n o a r t i g o 312 d o
Cód igo Penal ( d e s v i o d e R$ 252.000,OO em p r o v e i t o
p r ó p r i o e R$ 536 .440 ,55 em p r o v e i t o a l h e i o ) ; "
[ . . - I b) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,
CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, em c o n c u r s o
m a t e r i a l , e s t ã o i n c u r s o s n a s p e n a s d o : [ . . . ] b . 2 ) a r t . 312 d o Cód igo Penal P á t r i o
( d e s v i o d e R$ 5 3 6 . 4 4 0 , 5 5 ) . "
No subitem 111.2 o Procurador-Geral da República
aponta supostas i l i c i t u d e s em contra tos de publicidade do Banco
do Bras i l com a empresa DNA Propaganda Ltda ( c o n t r a t o s no
99/1131 E 01/2003).
O segu in te t r echo da denúncia s i n t e t i z a bem
o t e o r do subitem I I I . 2 :
"Em re lação à empresa DNA Propaganda Ltda . ,
o s Ana l i s tas do TCU apuraram que desde a sua primeira
contratação, ocorrida e m 22/03/2000, a empresa, por
seus d i r i g e n t e s , vem s e bene f i c iando , com a t o t a l
conivência dos responsáveis pela contra tação, o
Gerente Execut ivo de Propaganda e Diretor de Marketing
do Banco do B r a s i l , de va lores concernentes a
descontos e b o n i f i c a ç õ e s que, contratualmente ,
pertencem ao próprio banco e que são indevidamente
desviados em b e n e f i c i o da agência de publ ic idade . "
( f l s . 5668/5669)
Após a pormenorização das c i rcuns tânc ias em que t e r iam
ocorrido as supostas i l i c i t u d e s , foram f e i t a s as seguin tes
imputações no subitem 111.2 da denúncia:
"Ass im procedendo de modo l i v r e e
consc ien te , na forma do a r t . 29 do Código Penal:
a ) HENRIQUE PIZZOLATO e s t á incurso nas
penas do a r t i g o 312 do Código Penal (desv io de R$
2.823.686,15 em prove i to a l h e i o ) ; e
b) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,
CRIÇTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO e s t ã o incursos nas
penas do a r t i g o 312 do Código Penal (desv io de R$
2.923. 686,15). "
&* &&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
011798
Q u a n t o a o s u b i t e m 111.3 da d e n ú n c i a , e s t e t r a t a d a s
t r a n s f e r ê n c i a s , s u p o s t a m e n t e i l í c i t a s , d e r e c u r s o s d o Banco d o
B r a s i l para a empresa DNA Propaganda L t d a . por m e i o da Companhia
B r a s i l e i r a d e Meios d e Pagamento - V i s a n e t .
O s e g u i n t e t r e c h o s i n t e t i z a a n a r r a t i v a d o s u b i t e m
111.3:
"O e x - M i n i s t r o da S e c r e t a r i a d e Comunicação
e G e s t ã o E s t r a t é g i c a da P r e s i d ê n c i a da R e p ú b l i c a , L u i z
G u s h i k e n , e o e x Diretor d e M a r k e t i n g e Comunicação d o
Banco d o B r a s i l , Henr ique P i z z o i a t o , em a t u a ç ã o
o r q u e s t r a d a , d e s v i a r a m , n o p e r í o d o d e 2003 e 2 0 0 4 , em
b e n e f í c i o d o g r u p o l i d e r a d o p o r Marcos V a l é r i o
( C r i s t i a n o Paz , Ramon H o l l e r b a c h e R o g é r i o T o l e n t i n o )
e d o P a r t i d o d o s T r a b a l h a d o r e s ( J o s é D i r c e u , J o s é
G e n o í n o , S í l v i o P e r e i r a e D e l ú b i o S o a r e s ) , v u l t o s a s
q u a n t i a s d o Fundo d e I n v e s t i m e n t o VISANET, c o n s t i t u í d o
com r e c u r s o s d o Banco d o B r a s i l S /A ."
Ao f i n a l d o s u b i t e m 111.3, s ã o f e i t a s a s s e g u i n t e s
i m p u t a ç õ e s :
" A s s i m p r o c e d e n d o d e modo l i v re e
c o n s c i e n t e , na forma d o a r t . 2 9 d o Cód igo P e n a l :
a ) HENRIQUE PIZZOLATO, em c o n c u r s o
m a t e r i a l , e s t á i n c u r s o n a s r e p r i m e n d a s d o :
a . 1 ) a r t i g o 31 7 d o Cód igo Penal P á t r i o
( r e c e b i m e n t o d e R$ 326 .660 ,27 ) ;
a . 2 ) a r t i g o 1 O , i n c i s o s V , V I e V I I , da L e i
n . " 9 . 613 /1998 ( u t i l i z a ç ã o d o S r . L u i z Eduardo
F e r r e i r a para receber R$ 3 2 6 . 6 6 0 , 2 7 ) ; e
&* c f z A w d & u Inq 2.245 / MG 011799
a . 3 ) 4 ( q u a t r o ) vezes n o a r t i g o 3 1 2 d o
C ó d i g o P e n a l ( 1 9 . 0 5 . 2 0 0 3 - R$ 23.300.000,OO;
2 8 . 1 1 . 2 0 0 3 - R$ 6 . 4 5 4 . 3 3 1 , 4 3 ; 1 2 . 0 3 . 2 0 0 4 -
R $ 3 5 . 0 0 0 . 0 0 0 , 0 0 ; e 0 1 . 0 6 . 2 0 0 4 - R $ 9 . 0 9 7 . 0 2 4 , 7 5 ) ;
b) LUIZ GUSHIKEN, em c o n c u r s o m a t e r i a l ,
e s t á i n c u r s o 4 ( q u a t r o ) vezes n a s r e p r i m e n d a s d o
a r t i g o 3 1 2 d o C ó d i g o P e n a l ( 1 9 . 0 5 . 2 0 0 3 - R$
23.300.000,OO; 2 8 . 1 1 . 2 0 0 3 - R$ 6 . 4 5 4 . 3 3 1 , 4 3 ;
1 2 . 0 3 . 2 0 0 4 - ~ $ 3 5 . 0 0 0 . 0 0 0 , 0 0 ; e 0 1 . 0 6 . 2 0 0 4 -
R $ 9 . 0 9 7 . 0 2 4 , 7 5 ) ;
c) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,
CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO SOLENTINO, em c o n c u r s o
m a t e r i a l , e s t ã o i n c u r s o s n a s r e p r i m e n d a s d o :
c . 1 ) a r t i g o 3 3 3 d o C ó d i g o P e n a l P á t r i o
( p a g a m e n t o d e R$ 3 2 6 . 6 6 0 , 2 7 ) ; e
c .2) 4 ( q u a t r o ) vezes no a r t i g o 3 1 2 d o
C ó d i g o Pena l ( 1 9 . 0 5 . 2 0 0 3 - R$ 23.300.000,OO;
2 8 . 1 1 . 2 0 0 3 - R$ 6 . 4 5 4 . 3 3 1 , 4 3 ; 1 2 . 0 3 . 2 0 0 4 -
R$35 .000 .000 ,00; e 0 1 . 0 6 . 2 0 0 4 - R $ 9 . 0 9 7 . 0 2 4 , 7 5 ) ; e
d ) JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOINO, S Í L V I O
PEREIRA e DELÚBIO SOARES, em c o n c u r s o m a t e r i a l , e s t ã o
i n c u r s o s 4 ( q u a t r o ) vezes nas r e p r i m e n d a s d o a r t i g o
3 1 2 d o C ó d i g o P e n a l ( 1 9 . 0 5 . 2 0 0 3 - R$ 23.300.000,OO;
2 8 . 1 1 . 2 0 0 3 - R$ 6 . 4 5 4 . 3 3 1 , 4 3 ; 1 2 . 0 3 . 2 0 0 4 -
R $ 3 5 . 0 0 0 . 0 0 0 , 0 0 ; e 0 1 . 0 6 . 2 0 0 4 - R $ 9 . 0 9 7 . 0 2 4 , 7 5 ) . "
@- fl&&& Inq 2.245 / MG 01180Q
Quanto ao item 111.4, este não traz qualquer imputação
e é unicamente ilustrativo das atividades da suposta organização
criminosa, apontando supostas irregularidades em diversos
contratos das empresas do grupo liderado por Marcos Valério com
a administração pública federal.
Consta da denúncia que as supostas ilicitudes
descritas no subitem 111.4 serão tratadas nos respectivos
procedimentos civeis e/ou investigações criminais, não sendo
objeto, portanto, de apreciação por esta Corte.
Passo agora a analisar cada um dos subitens do item
I11 da denúncia para o fim de que seja admitida, ou não, a
abertura de ação penal para apuração das imputações constantes
desta parte da denúncia.
111.1 - Câmara dos Deputados
O item 111.1 trata de fatos relacionados ao
procedimento licitatório instaurado na Câmara dos Deputados para
a contratação de agência de publicidade (Concorrência 11/2003).
Os fatos supostamente tipicos distribuem-se em três
situações distintas.
Na primeira delas, o procurador-geral da República
narra que JOÃO PAULO CUNHA, então presidente da Câmara dos
Deputados, teria cometido o crime previsto no art. 317 do Código
Penal (corrupção passiva), ao receber vantagem indevida no valor
de cinquenta mil reais.
Tal quantia teria sido oferecida por MARCOS VALÉRIO em
concurso com RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO
TOLENTINO, com o propósito de obter tratamento privilegiado para
sua empresa (SMP&B) na licitação então em curso na Câmara dos
Deputados. Assim agindo, estes últimos teriam incorrido nas
penas do art. 333 do Código Penal (corrupção ativa).
dg?&?-w NU&& Inq 2.245 / MG 0 1 1 8 ~ ~
Transcrevo o s t r e c h o s da denúncia p e r t i n e n t e s a s
imputações :
"Assim procedendo de forma l i v r e e
c o n s c i e n t e na forma do a r t . 29 do Código Penal:
a ) JOÃO PAULO CUNHA, em concurso m a t e r i a l ,
e s t á i n c u r o s nas penas do:
a . a r t i g o 317 do Código Penal P á t r i o
( receb imento d e c inquen ta m i l rea is )"
[ . . . I b) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,
CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, em concurso
m a t e r i a l , e s t ã o i n c u r s o s nas penas do:
b . 1 ) a r t . 333 do Código Penal P á t i r o
(pagamento de c inquen ta m i l r e a i s ) " ( denúnc ia , f l s .
5667-5668 dos a u t o s ) .
Narra a denúncia que JOÃO PAULO CUNHA s e v a l e u do
poder de que dispunha como au to r idade máxima da Câmara dos
Deputados para b e n e f i c i a r a empresa S M P & B Propaganda Ltda,
a t r a v é s , e n t r e o u t r o s me ios , da nomeação da Comissão Espec ia l
que e laborou o e d i t a 1 e julgou as propostas apresen tadas .
Importante d e s t a c a r o s e g u i n t e t r e c h o d a i n i c i a l a c u s a t ó r i a ,
para d e i x a r bem c l a r a a obed iênc ia ao a r t . 4 1 do Código de
Processo Penal ( f l s . 5666, volume 2 7 ) :
A empresa SMP&B, com o a v a l de João Paulo
Cunha, subcon tra tou 99,9% do o b j e t o l i c i t a d o . D e uma
soma t o t a l de R$ 10.745.902,17, somente R$ 17.091,00
foram pagos por serv iços prestados diretamente pe la
SMP&B, represen tando 0,018.
&+k?- &&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011802
A SMP&B, do núc leo Marcos V a l é r i o ,
par t i c ipou do contra t o apenas para intermediar
subcontratações, recebendo honorários de 5% por i s s o .
Referida s i tuação carac ter i za grave lesão ao erário,
além do crime de pecula to .
Com e f e i t o , João Paulo Cunha desvlou R$
536.440,5592 do contra to n . " 2003/204.0 em prove i to do
núc leo Marcos V a l é r i o da organização criminosa.
Expl ica-se .
O núcleo Marcos V a l é r i o , por meio da
empresa SMP&B, ass inou o con t ra to n . " 2003/204.0 para
não prestar qualquer serviço. Nessa 1 inha ,
subcontratou 99,98% do o b j e t o con t ra tua l .
Por conta d i s s o , recebeu gratuitamente R$
536.440,55, valor dos honorários fixados na avença.
Foi remunerado para nada f a z e r .
João Paulo Cunha viaòilizou o repasse
indevido desse montante em razão da subcontra tação
t o t a l do o b j e t o , pois autorizava expressamente todas
as subcontratações.
O desv io favoreceu o núcleo Marcos V a l é r i o ,
tendo . em v i s t a que o recurso ingressou em seu
patrimônio. A razão para essa l i b e r a l i d a d e com o
d inhe i ro públ ico é o seririço prestado para o núcleo
central da organização criminosa. A1 em d i s s o , r e p i t a -
s e , passou a e x i s t i r um in t imo v incu lo e n t r e Marcos
V a l é r i o e João Paulo Cunha, com inúmeras trocas de
favores . Importante des tacar que com a saida de João
Paulo Cunha da Presidência da Câmara dos Deputados a
p a r t i r de 15 de f e v e r e i r o de 2005, os va lores da
&$ha?.w &&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011803
execução contra tua1 com a empresa SMP&B despencaram
vertiginosamente ( . . . ) .
Ou seja, está bem claro o ato de ofício em tese
praticado pelo acusado. A circunstância de JOÃO PAULO CUNHA
ocupar a Presidência da Câmara dos Deputados, aliada aos
elementos constantes dos autos no sentido de que ele de fato
teria recebido quantia proveniente da SMP&B, constituem indícios
idôneos de materialidade e autoria do delito capitulado no art.
317 do Código Penal, aptos a ensejar o recebimento da inicial
para posterior apuração dos fatos em instrução criminal.
É digno de nota que a publicação do edita1 da
licitação ocorreu apenas nove dias após a realização do saque
suspeito em favor de JOÃO PAULO CUNHA. Ademais, há evidências de
que o então presidente da Câmara dos Deputados manteve intenso
contato telefônico e pessoal com o co-denunciado MARCOS VALÉRIO,
sócio da SMP&B, empresa vencedora da licitação (cf. anotações da
agenda ex-secretária do Sr. MARCOS VALÉRIO, FERNANDA KARINA
SOMAGGIO, às fls. 1076-1077 e 1071-1082).
Passo a análise das objeçôes ao recebimento da inicial
levantadas nas respostas dos denunciados
Em sua resposta, JOÃO PAULO CUNHA alega desconhecer a
origem do dinheiro:
"... não há qualquer elemento que indique que este valor tivesse sido oferecido ou recebido pelo
&- Q2zxAd&u Inq 2 .245 / MG
01180.1
denunciado de MARCOS VALERIO [ s i c ] . Muito menos que
t a l d inhe i ro t i v e s s e qualquer relaçâo com a l i c i t a ç ã o
real izada pela Câmara dos Deputados na Presidência do
denunciado." [ F l s . 10 do apenso 961
Ora, os i n d i c i o s cons tantes dos autos , e já
ass inalados , tornam implaus ive l essa a s s e r t i v a . Por outro lado,
a própria esposa do denunciado admite t e r assinado, por ocasião
do saque, documento em que constava expressamente que a origem
do cheque emi t ido era a empresa S M P L B .
Nesse sen t ido , t ranscrevo t recho per t inente do
depoimento prestado a Pol ic ia Federal pela esposa de JOÃO PAULO
CUNHA, Sra. Regina Milanésio ( f l s . 978-979):
"QUE confirma t e r real i zado em 04 de
setembro de 2003 um saque no va lor de R$ 50 m i l junto
à Agência do Banco R u r a l em B r a s i l i a ; QüE confiímia s e r
sua a assinatura constando do documento às f l s . JFMG
726 no qual consta autorização para que a Sra. MARCIA
REGINA CUNHA receba a quantia de R$ 50 m i l r e feren te
ao cheque SMP&B PROPAGANDA LTDA; QUE real i zou o saque
junto à Agência do Banco Rural em Bras í l ia a pedido de
seu esposo, JOÃO PAULO CUNHA; QUE a DEPOENTE f o i
sozinha à Agência do Banco R u r a l e procedeu ao
r e f e r i d o saque; QUE após t e r rea l i zado o saque, o
numerário f o i entregue diretamente a seu esposo em sua
res idênc ia ; QUE após terem s i d o veiculadas na m i d i a
n o t i c i a s acerca de saques nas agências do Banco Rural,
a DEPOENTE perguntou a seu esposo qual o d e s t i n o que
havia s ido dado ao d inheiro sacado, tendo o mesmo l h e
Inq 2 . 2 4 5 / MG
informado que o dinheiro tinha sido utilizado para o
pagamento de pesquisas de campanhas pré-eleitorais".
(Grifei)
Outras evidências indicam que as relações entre JOÃO
PAULO CUNHA E MARCOS VALÉRIO não se restringiram a contatos
profissionais esporádicos. Nesse ponto, tomo a liberdade de
transcrever trecho do depoimento prestado a Policia Federal por
Silvana Paz Japiassú, secretária de JOÃO PAULO CUNHA desde 1999,
em que esta admitiu ter sido presenteada com uma viagem (fls.
6520) :
"QUE recebeu de MARCOS -10, como
presente de seu aniversário e de sua f i l h a , duas
passagens aéreas no trecho Brasílla/Rlo de Janeiro/
Brasilla e hospedagem em hotel que não se recorda; QUE
apesar de não manter qualquer relacionamento de
amizade com MARCOS WUÉRIO, foi surpreendida com este
presente após ter comentado com o publlcltárlo, em uma
vlslta deste ao Congresso, que estava procurando uma
opção de passeio para comemorar seu anrversárlo e de
sua fllha."
Pois bem, JOÃO PAULO CUNHA era o presidente da Câmara
dos Deputados. A época dos fatos a SMP&B, empresa que, segundo
os elementos constantes dos autos, pagou os 50.000 reais a sua
esposa, figurava entre as onze concorrentes habilitadas na
licitação então em curso. Isto me basta para reconhecer a
Inq 2 .245 / MG
e x i s t ê n c i a de i n d í c i o s idôneos , aptos a j u s t i f i c a r o recebimento
da denúncia quanto 2 s imputações cons tan tes das a l í n e a s a.1 e
b . 1 do seu i t e m 111.1, concernentes , respect ivamente , ao suposto
crime de corrupção a t i v a perpetrado por MARCOS V A L É R I O e ao de
corrupção passiva supostamente cometido por JOÃO PAULO CUNHA.
Para tornar mais c lara a subsunção dos f a t o s aos
r e s p e c t i v o s t i p o s penais, peço l i cença para t ranscrever os
d i s p o s i t i v o s em exame:
"Corrupção passiva
A r t . 317 - S o l i c i t a r ou receber , para s i ou
para outrem, d i r e t a ou ind ire tamente , ainda que fora
da função ou a n t e s de assumi-la, mas em razão d e l a ,
vantagem indev ida , ou a c e i t a r promessa de t a l
vantagem:
Pena - rec lusão , de 2 ( d o i s ) a 12 (doze)
anos, e mul ta .
[ . . . I Corrupção ativa
A r t . 333 - Oferecer ou prometer vantagem
indevida a funcionário púb l i co , para determiná-lo a
p r a t i c a r , o m i t i r ou re tardar a t o de o f i c i o :
Pena - rec lusão , de 2 ( d o i s ) a 12 (doze)
anos, e mul ta . "
Em sua d e f e s a MARCOS V A L É R I O alega que o t i p o penal d a
corrupção passiva ex ige que a acusação aponte um a t o de o f í c i o ,
cuja prá t i ca , omissão ou retardamento é buscado em t roca d a
&g&mo &a&& Inq 2 .245 / MG 011807
vantagem indevida oferecida ou prometida ao funcionário público.
Da denúncia não constaria o ato de oficio determinado, razão
pela qual, segundo se alega, esta seria inepta.
Esse mesmo argumento é trazido pelos demais co-
denunciados (JOÃO PAULO CUNHA - apenso 96; RAMON HOLLERBACH -
apenso 111; ROGÉRIO TOLENTINO - apenso 107; e CRISTIANO PAZ -
apenso 112), que alegam em suas respectivas respostas a ausência
de justa causa para propositura da ação penal, seja pela falta
de indicação do ato de ofício em que se consubstanciou o suposto
favorecimento a empresa SMPLB, seja por inexistência de
substrato fático mínimo capaz de justificar a instauração de
ação penal.
Entendo, ao contrário, que o procurador-geral da
República logrou trazer aos autos indícios da realização de
diversos atos suspeitos em benefício da SMPLB, tanto no
procedimento licitatório quanto no decorrer da execução do
contrato subsequente.
O procurador-geral da República faz remissão expressa
às conclusões constantes de relatório preliminar realizado por
equipe de auditoria do Tribunal de Contas da União, em que se
apontam indícios de irregularidade, tais como problemas com a
definição do objeto do contrato e a excessiva subjetividade nos
critérios de avaliação utilizados pela comissão especial de
licitação.
Inq 2.245 / MG
Com efeito, no que concerne a ausência de projeto
básico na licitação e aos problemas com a definição do objeto,
consigna o relatório do Tribunal de Contas da União (fls. 759-
760 do apenso 84):
"19.3 Achado: Ausência de projeto básico
I...]
19.3.1.8A caracterização imprecisa do
objeto levou a realização de um contrato do tipo
"guarda-chuvas", pelo qual a Câmara dos Deputados
estaria habilitada a contratar sem licitação quaisquer
serviços enquadráveis no objeto genérico então criadõ,
contrariando o disposto no art. 55, inciso I, da Lei
no 8.666/93.
19.3.1.9Ainda, a ausência de um estudo
técnico preliminar, também elemento de um projeto
básico, levou à celebração dos Contratos 2001/082.4 e
2003/204.0 com objetos múltiplos tais como:
assessoria, divulgação, clipping e pesquisa de
opinião, prática considerada irregular pelo TCU,
conforme se constata da Decisão no 650/97 - Plenário e
no Acórdão no 1805/03 - l a Câmara.
19.3.1.10 Tais serviços deveriam ser
licitados separadamente, em consonância com o disposto
no art. 23, 5 l0 da Lei no 8.666/93. Quando da
licitação, o julgamento seria com base no menor preço,
resultando numa economia de no mínimo 5%, haja vista
os honorários da contratada incidirem sobre os valores
faturados pelas subcontratadas."
Inq 2 .245 / MG
Quanto a s u b j e t i v i d a d e n o s c r i t é r i o s d e a v a l i a ç ã o ,
t r a n s c r e v o d o r e f e r i d o r e l a t ó r i o :
li 9 A Câmara dos Deputados p r e f e r i u
s e g u i r o modelo a d o t a d o n o P o d e r E x e c u t i v o , q u e
c o n s i s t i a na a v a l i a ç ã o da m e l h o r t é c n i c a . O s c r i t é r i o s
de j u l g a m e n t o a d o t a d o s foram o s d e t e r m i n a d o s p e l a
IN/SECOM/PR no 07/95 p a r a os órgãos d o Poder
E x e c u t i v o , q u a i s se jam: c a p a c i d a d e de a t e n d i m e n t o ,
r e p e r t ó r i o , r e l a t o s de s o l u ç õ e s de p r o b l e m a s de
comunicação e p l a n o d e comunicação, o q u a l se
s u b d i v i d i a e m r a c i o c í n i o b á s i c o , e s t r a t é g i a de
comunicação p u b l i c i t á r i a , i d é i a c r i a t i v a e e s t r a t é g i a
d e m í d i a . Sua avaliação é subjetiva, abrindo
possibilidades de direcionamento.
L.. . ]
12 Quando da f a s e de h a b i l i t a ç ã o ,
v a l e r e g i s t r a r q u e a empresa SMP&B a p r e s e n t o u a t e s t a d o
d e c a p a c i d a d e t é c n i c a com texto idêntico ao objeto do
edital, fornecido pelo Sistema Financeiro Rural, do
Grupo Rural (fl . 32 - Volume 1) . "
Além d i s s o , apontam-se i n d í c i o s d e i r r e g u l a r i d a d e s
também na execução d o c o n t r a t o 2003/210.0 , c e l e b r a d o com a SMPLB
Comunicação L t d a . a p ó s o r e s u l t a d o f a v o r á v e l na c o n c o r r ê n c i a
11 /03 .
Conforme r e l a t ó r i o d e a u d i t o r i a a c o s t a d o a d e n ú n c i a ,
JOÃO PAULO CUNHA a u t o r i z o u a s u b c o n t r a t a ç ã o d e nada menos que
99,98% do o b j e t o do c o n t r a t o 2003/210.0, a p e s a r d e e x i s t i r e m
&* &&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
vedações expressas a essa prática na Lei 8.666/1993, no
Regulamento dos Procedimentos Licitatórios da Câmara dos
Deputados e no edita1 da concorrência 11/2003.
Do mesmo modo, entendo que o precedente firmado por
esta Corte quando do julgamento da ação penal no 307, em nada
invalida o que é apresentado na denúncia ora em análise.
Transcrevo a seguir importante trecho do voto
condutor do Ministro Ilmar Galvão, relator da Ação Penal no
307, quando do julgamento final da ação penal:
"Assim, para configuração do crime do
art. 31 7, do Código Penal, a atividade visada pelo
suborno há de encontrar-se abrangida nas atribuições
ou na competência do funcionário que a realizou ou se
comprometeu a realizá-la, ou que, ao menos, se
encontre numa relação funcional imediata com o
desempenho do respectivo cargo, assim acontecendo
sempre que a realização do ato subornado caiba no
âmbito dos poderes de fato inerentes ao exercício do
cargo do agente. (fls.2203)"
Do trecho acima transcrito é possivel verificar que,
no caso da Ação Penal no 307, esta Corte concluiu que o ato de
oficio a ser praticado, ou omitido, ato este que deveria estar
dentro das atribuições do então Presidente da República, não
havia sido demonstrado.
É o que consta do seguinte trecho do voto do eminente
Ministro Celso de Mello, na referida ação penal:
Inq 2.245 / MG
"Por t a i s razões , o eminente Minis t ro Revisor
conc lu iu , com a c e r t o , o seu v o t o , absolvendo, com
fundamento no a r t . 386, 111, do Código de Processo
Penal, Fernando A f fonso Co l lor de Mello e Paulo César
Cavalcante Farias da imputação de corrupção passiva
p e r t i n e n t e ao ep i sód io VASP/PETROBRÁS, Por
simplesmente não c o n s t i t u i r e s s e f a t o i n f r a ç ã o penal
t i p i f i c a d a em l e i , consideradas a s razões
anteriormente mencionadas p e r t i n e n t e s a ausência, no
caso, de r e q u i s i t o t í p i c o e s s e n c i a l : a r e f e r ê n c i a
obje iva e concre ta , na denúncia, a um e s p e c i f i c o a t o
funcional per tencente a e s f e r a de competência do
Presidente da República.
Quanto ao ep i sód io MERCEDES-BENZ/CURIÓ,
constatou-se que o M i n i s t é r i o Público em sua denúncia,
ao deduz ir a imputação penal pe lo crime de corrupção
pass i va , nenhuma r e f e r ê n c i a f e z a qualquer a t o de
o f í c i o imputável à e s f e r a de a t r i b u i ç õ e s func ionais do
Presidente da República."(fls.2676-2677)
Ocorre que, no caso ora em a n á l i s e , a denúncia é
s u f i c i e n t e m e n t e c lara ao demonstrar os a tos de o f i c i o ,
po tenc ia i s ou e f e t i v o s i n s e r i d o s na competência do denunciado
João Paulo Cunha, na condição de Presidente da Câmara dos
Deputados.
Tanto a autorização para a subcontratação do o b j e t o
dos contra tos firmados com a SMP&B quanto a designação d a
comissão e spec ia l de l i c i t a ç ã o para acompanhar o mencionado
processo l i c i t a t ó r i o são exemplos de a t o s de o f í c i o e f e t i vamen te
@g?k?m G5z&@& Inq 2.245 / MG * C ' : * o 1 .;. 2 L :-
praticados pelo denunciado João Paulo Cunha na qualidade de
Presidente da Câmara dos Deputados (v. documentos cons tantes do
Apenso n o 8 4 ) . C i t o , por exemplo, dentre inúmeras outras, as
seguin tes au tor i zações assinadas pelo denunciado JOÃO PAULO
CUNHA, cons tantes do Apenso n o 8 4 :
"Por e s s e s mot ivos , AUTORIZO a contratação dos s e r v i ç o s de consu l tor ia da "Ucho Carvalho Comunicações e Propaganda", com a f i na l idade de desenvolver a adequação da ident idade v i s u a l d a TV Câmara, ao c u s t o de R$ 58.800,OO (cinquenta e o i t o m i l e o i t o c e n t o s r e a i s ) , já i n c l u í d o s os honorários da agência SMP&B Comunicação L tda . , conforme contra to n o 2003.204.0, nos termos da ins t rução do processo." (ass inado pelo acusado em 0 6 . 0 4 . 2 0 0 4 )
"Por e s s e s mo t i vos , e tendo em v i s t a o re su l tado da consul ta ao mercado real izada pela Agência SMP&B, AUTORIZO a contratação da empresa Ucho Carvalho Comunicações e Propaganda para a rea l i zação do p r o j e t o , no va lor t o t a l de R$ 110.250,OO (cen to e dez m i l duzentos e cinquenta r e a i s ) , que j á i n c l u i a comissão de 5% da agência, conforme contra to n o 2003.204.0, firmado com a SMP&B." (ass inado pelo acusado em março de 2 0 0 4 )
"Por e s s e s mot ivos , AUTORIZO a contratação da empresa Vox Populi Pesquisa e Projetos para a r ea l i zação do p r o j e t o , no va lor t o t a l de R$ 409.500,OO (quatrocentos e nove m i l e quinhentos r e a i s ) , que j á i n c l u i a comissão de 5% da Agência SMP&B, conforme contra to n o 2003/204.0." (assinado pelo acusado em 2 9 de junho de 2 0 0 4 ) .
Dai a necessidade de se r acolhida, em mero ju i zo de
del ibação, a imputação f e i t a pelo P G R , pois há elementos nos
autos que apontam p a r a a p rá t i ca , potencial ou e f e t i v a , de a t o
de o f í c i o pelo denunciado João Paulo Cunha, atendendo,
aparentemente a ex igênc ia do t i p o penal do a r t i g o 3 3 3 .
4.$ &&&& Inq 2 .245 / MG 011813
Ademais, tais indícios são suficientes para conduzir
ao desvendamento de outros prováveis atos de oficio que o
denunciado JOÃO PAULO CUNHA possa ter praticado ou deixado de
praticar, como contraprestação a suposta vantagem indevida
recebida.
Note-se que os tipos penais da corrupção ativa e
passiva não exigem para sua configuração a descrição
pormenorizada do momento exato em que ocorreu o recebimento da
suposta vantagem indevida, tampouco impõe a descrição minuciosa,
cabal e antecipada de cada um dos 'atos de ofício" praticados
pelo funcionário público corrompido.
Nesse sentido, cito voto que proferi no HC 84 .224
(rel. para o acórdão min. Joaquim Barbosa, j . 2 7 . 0 2 . 2 0 0 7 ) em que
a Segunda Turma negou habeas corpus que pedia o trancamento de
ação penal:
"Da leitura que fiz acima, entendo não
haver inépcia flagrante, que revele uma denúncia
teratológica, como pretende indicar o impetrante. É
certo que a peça acusatória não prima pela boa
técnica, já que promove a transcrição de longos e
enfadonhos trechos de diálogos cifrados, bem como faz
emergir noticias relativas a inúmeros fatos sem
pertinência com os que são imputados ao paciente - que
é a prática do delito de corrupção passiva.
Entretanto, os termos da acusação são plenamente
c5gkW.w flu&- Inq 2.245 / MG 011814
cognoscíveis, com aparente respaldo em documentos
legitimamente apreendidos e em gravações telefônicas
legalmente autorizadas, apontando o possível
recebimento de vantagens indevidas (dinheiro, carro),
em razão do cargo ocupado pelo Paciente -
subprocurador-gera1 da república, atuante na área
criminal junto ao Superior Tribunal de Justiça."
Ora, como entendeu a egrégia Segunda Turma desta Corte
no precedente citado, é perfeitamente razoável entender-se que o
recebimento de uma quantia suspeita por parte de um funcionário
público, quantia esta proveniente de uma empresa concorrente em
licitação em curso perante o órgão público em que esse mesmo
agente público figura como autoridade máxima, tenha ocorrido em
razão do cargo que ele detém, com vistas a influenciar o
comportamento do funcionário em questão.
Outra objeção, arguida tanto por JOÃO PAULO quanto por
RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, é a de que
a denúncia não identificou quaisquer condutas particulares por
eles perpetradas, limitando-se a inclui-los de forma genérica e
impessoal no "grupo de Marcos Valério".
Quanto ao denunciados Ramon Hollerbach e Cristiano de
Me10 Paz, estes figuram na denúncia como as pessoas que,
juntamente com Marcos Valério, controlavam a SMP&B Comunicação
Ltda, dirigindo as ações da referida pessoa jurídica e,
&- fl&&& Inq 2.245 / MG
supostamente, contribuindo para os crimes de autoria coletiva
constantes do subitem b.1 do item 111.1 da denúncia.
É certo que, nos crimes de autoria coletiva, nem
sempre é possível individualizar,, com detalhes, a contribuição
de cada co-autor para o crime, especialmente quando se trata de
delito praticado por intermédio de pessoa juridica, cujos atos
são dirigidos e controlados pelas pessoas fisicas responsáveis
pela sua administração.
A jurisprudência desta Corte, nos crimes de autoria
coletiva, tem admitido que seja recebida a denúncia, sem que a
narrativa constante da peça acusatória contenha a descrição
pormenorizada da conduta individual de cada partícipe, sob pena
de se inviabilizar a persecução penal e estimular a utilização
de pessoas jurídicas para a prática de atividades criminosas. É
nesse sentido a jurisprudência desta Corte (HC 86.294, rel. min.
Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJ 03.02.2006; HC 80.812, rel.
para o acórdão min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJ 05.03.2004,
HC 83.369, rel. min. Carlos Britto, Primeira Turma DJ
21.10.2003).
Assim, a prova minha da suposta autoria dos crimes do
artigo 333 do Código Penal imputada aos denunciados Ramon
Hollerbach e Cristiano de Me10 Paz no sub-item b.1 do item I11
da denúncia, deve ser aferida mediante a análise de dois
aspectos.
Inq 2 .245 / MG
Primeiro, deve ser analisado se os denunciados acima
mencionados possuiam poder de gestão junto à sociedade
empresária SMP&B Comunicação Ltda.
Numa segunda fase, deve ser perquirido se a sociedade
SMP&B atuou de forma a contribuir para a consumação dos crimes
de corrupção ativa narrados no capitulo da denúncia ora em
análise (item I11 e seus subitens).
A resposta aos dois questionamentos acima é positiva,
devendo ser rechaçada a alegação de que estaria sendo atribuída
responsabilidade objetiva aos denunciados Ramon Hollerbach e
Cristiano de Me10 Paz.
Com efeito, há, nos autos, elementos concretos no
sentido de que eles participavam efetivamente da gestão da SMP&B
Comunicação Ltda, empresa esta que, segundo consta de denúncia,
exercia grande parte das suas atividades utilizando-se de meios
ilegais para obter facilidades junto ao governo federal.
O seguinte trecho da denúncia descreve a atuação dos
referidos denunciados (fls. 5.643) :
"Inicialmente, destaque-se que Marcos
Valério montou uma intricada rede societária com o
objetivo de tornar viável suas praticas criminosas.
Nesse diapasão, Ramon H011 erba ch e
Cristiano Paz, como sócios de Marcos Valério nas
empresas SMP&B Comunicação Ltda, Graffiti Participaçáo
c&ghmW &&H& Inq 2 .245 / MG 011817
Ltda e DNA Propaganda, t iveram par t ic ipação a t i v a nos
crimes perpetrados. "
Sobre e s s e ponto, é importante t ranscrever o seguin te
t r e c h o do e l u c i d a t i v o depoimento prestado por Marco Auré l io
Prata, contador da empresa S M P & B Comunicação LTDA:
,, (. . . ) RESPONDEU: QUE é o responsável pela
contabi l idade das empresas DNA PROPAGANDA LTDA, SMP&B
~OMUNICAÇÃO LTDA, G R A F I T E P A R T I C I P A Ç Õ E S , MULTIACTION,
MG5 P A R T I C I P A Ç ~ E S , ESTRATÉGIA, 2s P A R T I C I P A Ç Õ E S ,
sOLIMÕES (an t iga SMP&B PUBLICIDADE) e ou t ras de cuja
denominação não se recorda; (. . . ) QUE conheceu MARCOS
VALÉRIO a t ravés dos demais sóc ios da SMP&B
PUBLICIDADE; (. . . ) QUE t a i s f i l i a i s foram aber tas por
questões de i n c e n t i v o s f i s c a i s , uma vez que a a l íquota
do I S S cobrada em t a l município p a r t i u dos d i r e t o r e s
das empresas; QUE todos os t r ê s s ó c l o s , a saber ,
CRISTIANO, RAMON e MARCOS VALERIO, participavam das
decisões administrativas da SMP&B COMUNICAÇÃO e DNA
PROPAGANDA; "
Em suas declarações, prestadas perante a Pol ic ia
Federal, o denunciado C r i s t i a n o de Me10 P a z f a z a seguinte
afirmação ( f l s . 2 2 5 3 - 2 2 5 6 ) :
" (. . .) QUE exerc ia função executiva apenas
na SMP&B, sendo o pres iden te da empresa, onde cuidava
das áreas de cr iação , planejamento e relacionamento
com os c l i e n t e s ; QUE i n q u i r i d o a r e s p e i t o dos
empréstimos bancários rea l i zados pe las empresas
@+&%-H&&& Inq 2.245 / MG
vinculadas a MARCOS VALÉRIO, declara não ter
par t i c ipado diretamen t e das negociações; QUE MARCOS
VALERIO era o responsável pela negociação dos
empréstimos com os bancos, p o i s era quem gerenciava
toda par te f inance ira das empresas; (. . .) "
Por outro lado, há f o r t e s i n d í c i o s da atuação do
denunciado C r i s t i a n o de Me10 Paz na área das f inanças d a SMP&B
Comunicação LTDA, conforme o segu in te t r e c h o do depoimento do
denunciado Rorneu Queiroz ( f l s . 2 . 1 2 5 - 2 . 1 3 0 ) :
"QUE em agos to de 2004 recebeu um conta to
t e l e f ô n i c o do S r . CRISTIANO PAZ, sóc io de Marcos
V a l é r i o na SMP&B PUBLICIDADE; QUE CRISTIANO PAZ era o
pres iden te da empresa; QUE n e s t e conta to CRISTIANO PAZ
d i s s e ao dec larante que a empresa USIMINAS t inha
d i s p o n i b i l i z a d o R$ 150.000,OO (Cento e Cinquenta M i l
Reais) de doação para d i v e r s a s campanhas e1 e i t o r a i s
munic ipais , de i n t e r e s s e do PTB; QUE e s s e s recursos
foram des t inados para d iver sos coordenadores de
campanhas p o l í t i c a s em v i n t e municipios do Estado de
Minas Gerais; QUE e s s e s recursos não foram
con tab i l i zados pe lo PTB, j á que foram t r a n s f e r i d o s
diretamente da SMP&B para os candidatos dos d i v e r s o s
municípios de Minas Gerais; ( . . . ) QUE ind icou a pessoa
de PAUILO LEITE NUNES para receber os va lores
mencionados acima no Banco Rural ao S r . CRISTIANO P A Z ,
QUE não se lembra da data e x a t a , m a s pode a f i r m a r que
a indicação desse ind iv íduo ocorreu no mesmo dia que
recebeu a l igação do S r . CRISTIANO dizendo que o
d inhe i ro es tava d isponíve l no Banco Rural; ( . . . ) "
@+ &&@& Inq 2.245 / MG
011869
Some-se a isso o fato de que, no item I1 da denúncia,
o procurador-geral da República argumentou de modo convincente e
plausível no sentido de que os denunciados MARCOS VALÉRIO, RAMON
HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO - bem como SIMONE
VASCONCELOS e GEIZA DIAS - faziam parte do núcleo financeiro-
publicitário da quadrilha, responsável, entre outras coisas,
pela transferência periódica de vultosas quantias para as
pessoas indicadas pelo núcleo central da mesma.
Assim, para evitar repetições desnecessárias, trago,
como reforço de argumento, as considerações que serão feitas
quando da análise dos itens IV, VI, VI1 e I1 da denúncia,
ocasião em que examinarei mais detidamente os argumentos do
procurador-geral da República de que os co-denunciados MARCOS
VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA, RAMON HOLLERBACH e CRISTIANO PAZ
operavam com unidade de desígnios e mediante divisão de tarefas,
com vistas ao cometimento de crimes contra o sistema financeiro
nacional e a Administração Pública.
JOAO PAULO CUNHA afirma em sua resposta que a suposta
vantagem indevida por ele recebida destinava-se, na verdade, ao
pagamento de dividas de campanha eleitoral, tendo sido
disponibilizada pelo tesoureiro nacional do Partido dos
Trabalhadores, DELÚBIO SOARES.
RgtkZw flu&u Inq 2.245 / MG
011820
Quanto a esta objeção, observo que existem evidências
robustas nos autos a indicar que o saque de altas quantias em
dinheiro, naquela agência especifica do Banco Rural, constituía
o passo f inal de um suposto esquema de lavagem de dinheiro
montado por MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA, RAMON HOLLERBACH,
CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO em conluio com a cúpula do
Banco Rural S/A (Ver análise do item I1 da denúncia, supra. Ver
também o Relatório de Análise no 191/2006, p. 388-397 do apenso
81)
Além disso, sendo a corrupção passiva um crime formal,
ou de consumação antecipada, é indiferente para a tipificação da
conduta a destinação que o agente confira ou pretenda conferir
ao valor ilícito auferido, que constitui, assim, mera fase de
exaurimento do delito.
Ressalto também que, embora as irregularidades
verificadas tanto no procedimento licitatório quanto no contrato
deste decorrente estejam ainda em processo de investigação,
basta, nesta fase preliminar, que a acusação contenha narrativa
clara e que os elementos probatórios trazidos aos autos confiram
respaldo minimo as imputações constantes da mesma.
Pois bem. Sobre esse tópico da denúncia, extrai-se dos
autos o seguinte: JOÃO PAULO CUNHA teria recebido, em razão da
condição de presidente da Câmara dos Deputados, vantagem
indevida oferecida por MARCOS VALÉRIO em nome dos também
@+ Inq 2 . 2 4 5 / MG
0 1 1 8 2 1
denunciados RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ E ROGÉRIO TOLENTINO.
A vantagem ilícita cifrou-se em cinquenta mil reais sacados pela
sua esposa em agência do Banco Rural utilizada inúmeras vezes
como palco para semelhantes operações suspeitas, e teria como
contrapartida o favorecimento da então licitante SMPLB
Comunicação Ltda., no certame realizado na Câmara dos Deputados
com vistas a contratação de agência de publicidade.
Assim, presentes os requisitos do art. 41 do Código de
Processo Penal, e ausentes pressupostos negativos do art. 43 do
mesmo diploma, recebo a denúncia quanto ao crime de corrupção
passiva (art . 317 do Código Penal) imputado ao denunciado JOÃO
PAULO CUNHA, e quanto ao crime de corrupção ativa correspondente
imputado aos denunciados MARCOS VALÉRIO E'ERNANDES DE SOUZA,
RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ.
Contudo, em relação ao denunciado Rogério Tolentino,
no que tange a imputação de corrupção ativa constante do Item
111.1, sub-item b. 1, entendo que a denúncia não preenche os
requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal.
De fato, em relação a esse acusado, a denúncia limita-
se a dizer o seguinte:
"Em uma dessas reuniões, Marcos Valério, em
nome de Ramon Hollerbach, Cristiano Paz e Rogério
Tolentino, ofereceu vantagem indevida (50 mil reais) a
João Paulo Cunha, tendo em vista sua condição de
Presidente da Câmara dos Deputados, com a finalidade
&$2m.?w fla&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 011822
de receber tratamento privilegiado no procedimento
licita tório em curso naquela Casa Legisla tiva para
contratação de agência de publicidade." (fls. 5660-
5661)
É certo que, como já afirmei acima, nos crimes de
autoria coletiva o atendimento aos requisitos do artigo 41 do
Código Penal deve ser observado de modo a evitar que seja
inviabilizada a persecução penal.
Por outro lado, é imprescindível que a denúncia
informe como o denunciado teria supostamente contribuído para a
consecução do delito que lhe é imputado, o que não foi
obedecido, com relação ao denunciado Rogério Lanza Tolentino, no
item 111.1, sub-item b.1 da denúncia.
Fica claro, pelo teor da denúncia, que os denunciados
Ramon Hollerbach e Cristiano Paz teriam contribuído, na
qualidade de gestores da SMP&B, com a suposta consumação do
delito de corrupção ativa a eles imputados no item 111.1, sub-
item b.1 da denúncia.
O mesmo não se dá, porém, no que toca ao denunciado
Rogério Lanza Tolentino. Apesar de Rogério Tolentino ser citado
pelo denunciado Marcos Valério como seu "sócio", a denúncia não
apresenta a descrição fática mínima para que se possa distinguir
como ele teria contribuído para a suposta consumação do delito
Inq 2 .245 / MG
de corrupção ativa constante do sub-item b.1 do item I11 da
denúncia.
Não se viabiliza, pois, ao denunciado, o pleno
exercício do direito de defesa.
Pelas razões acima expostas, não recebo a denúncia,
com relação ao denunciado Rogério Lanza Tolentino,
especificamente no que concerne a imputação constante do subitem
b.1, do i t e m 111.1 da denúncia (pagamento de cinqiienta m i l
r ea i s ) .
&*diz&&& Inq 2.245 / MG
Passo a examinar o segu in te t ó p i c o d a denúncia:
SUBITEM 111.1 da denúncia (fls. 5.667) - Imputação:
crime de Lavagem de Dinheiro.
Denuncia:
"a) JOÃO PAULO CUNHA, em concurso m a t e r i a l , e s t á incursos nas penas do:
I - . . ] a . 2 ) a r t i g o I", i n c i s o s V, VI e VII , da Lei
no 9.613/1998 ( u t i l i z a ç ã o da S r a . M á r c i a Regina para receber cinquenta m i l r e a i s ) " - F l s . 5667
A segunda s i tuação d e s c r i t a no subitem 111.1 d a
denúncia d i z r e s p e i t o a suposta part ic ipação de JOÃO PAULO C U N H A
em crime de lavagem de d inhe i ro para ocu l tar o recebimento d a
vantagem indevida r e f e r e n t e ao h i p o t é t i c o crime de corrupção
passiva anal isado na s i tuação a n t e r i o r .
Transcrevo o t r echo da denúncia per t inen te a e s t a
imputação:
"[ . . . I consc ien te de que o d inhe iro t inha como origem organização criminosa voltada para a p rá t i ca de crimes contra o sistema f inance i ro nacional e contra a administração púb l i ca , o J O Ã O PAULO CUNHA [ s i c ] , almejando o c u l t a r a origem, natureza e rea l d e s t i n a t á r i o do v a l o r pago como propina, enviou sua esposa Márcia Regina para sacar no caixa o v a l o r de cinquenta mil r e a i s em e s p e c i e .
A r e t i rada do montante de cinquenta m i l r e a i s em espéc ie f o i rea l i zada no dia 4 de setembro de 2003 no Banco Rural em B r a s i l i a , com o emprego de estratagema fraudulento montado pe los denunciados dos núcleos p u b l i c i t á r i o e f inanceiro . " ( F l s . 5661-5662 - g r i f e i )
R+ &&H& Inq 2 . 2 4 5 / MG 0 1 1 8 2 5
Assim agindo, JOÃO PAULO CUNHA teria cometido o delito
de lavagem de dinheiro previsto no art. 1°, incisos V, VI e VII,
da Lei 9.613/1998, cujo teor é o seguinte:
"Art. l 0 Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direi tos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime:
[. . . I V - contra a Administração Pública,
inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou preço para a prática ou omissão de atos administra tivos;
VI - contra o sistema financeiro nacional; VII - praticado por organização criminosa. I . . .I Pena: reclusão de três a dez anos e multa. "
O suposto esquema de lavagem de dinheiro encontra-se
pormenorizadamente descrito no item IV da denúncia. Conforme a
descrição do procurador-geral da República, o mesmo teria sido
montado pela cúpula do Banco Rural em conluio com a diretoria da
SMPLB Propaganda Ltda., com o intuito de ocultar a verdadeira
identidade dos beneficiários de valores suspeitos provenientes
de contas bancárias desta agência de publicidade.
Constam dos autos indícios de que o Banco Rural
informou ao Banco Central que os valores dos saques suspeitos
destinavam-se ao pagamento de fornecedores da SMP&B Comunicação
Ltda (cf. Relatório de Análise 191/2006, p. 388-397 do Apenso
&* Inq 2 .245 / MG
011026
Transcrevo t recho do RA 191/2006 em que são d e s c r i t o s
os passos f i n a i s do modus operandi supostamente seguido nas
r e f e r i d a s operações de lavagem de d inhe i ro :
"Analisando a documentação f í s i c a encaminhada pe lo Banco R u r a l , anexa a e s t e Re la tór io , constatamos que o modus operandi f o i o segu in te :
[ . . . I 4 " ) Fac-s ímile , enviado pela agência do
Banco Rural de Belo Horizonte à agência do Banco Rural de B r a s í l i a , autorizando o pagamento àquelas pessoas indicadas pela funcionária da SMPB no e-mail ;
5" Saque na "boca do caixa" e f e tuado pela pessoa autor izada , contra rec ibo , mui tas vezes mediante uma rubrica em papel improvisado, e em outras s i tuações , mediante o r e g i s t r o da pessoa que e f e t u o u o saque no documento emi t ido pe lo Banco Rural, denominado "Automação de Retaguarda - Contabil idade".
6" O Banco Rural, embora t i v e s s e conhecimento dos verdadeiros sacadores /bene f ic iár ios dos recursos sacados na "boca do caixa", r eg i s t rou no Sistema do Banco Central (Sisbacen = opção PCAF 5 0 0 , que r e g i s t r a operações e s i tuações com i n d í c i o s de crime de lavagem de d inhe i ro ) que os saques foram e fe tuados pela SMP&B Comunicação Ltda e que s e destinavam a pagamento de fornecedores." ( p . 3 8 9 do apenso 81)
Examinando os au tos , v e r i f i c o que de le s constam
documentos que demonstram que o saque e f e t u a d o pela esposa do
S r . JOÃO PAULO C U N H A seguiu as etapas f i n a i s do modus operandi
do suposto esquema de lavagem de d inhe i ro , exatamente como
d e s c r i t o pelo procurador-geral da República.
Neles pode-se l o c a l i z a r a cópia do fac - s ími l e remetido
d a agência "Assembléia" do Banco Rural (Be lo Horizonte) para sua
sucursal " B r a s í l i a " , autorizando à Sra. Márcia Regina Milanésio
Cunha receber quantia no va lor de cinquenta m i l r e a i s ,
Inq 2.245 / MG
referentes ao "cheque SMP B Propaganda Ltda. que se encontra em
nosso poder.". (Fls. 726 do apenso no7)
Menciono, também, cópia do documento de "automação de
retaguarda - contabilidade" com a identificação da sacadora
Márcia Regina, acompanhada de cópia de sua carteira de
identidade (p. 243/246 do apenso 84).
Por outro lado, existem evidências de que, em casos
semelhantes (ver item IV da denúncia), o Banco Rural escondeu a
identidade dos verdadeiros beneficiários, informando falsamente
ao Banco Central que os valores movimentados destinavam-se ao
pagamento de fornecedores da SMP&B.
Nessas condições, considero presente o conjunto
probatório mínimo necessário a instauração de ação penal contra
JOÃO PAULO CUNHA quanto à imputação da conduta tipificada no
art. 1°, incisos V, VI e VII, da Lei 9.613/1998.
Do exposto, recebo a denúncia quanto ao crime de
lavagem de dinheiro (art. 1°, incisos V, VI e VI1 da Lei
n09.613/1998 (utilização da Sra. Márcia Regina para receber
cinquenta mil reais)) imputado ao denunciado JOÃO PAULO CUNHA,
no subitem a.2 do item 111.1 da denúncia.
&e &-&a Inq 2 . 2 4 5 / MG
011828
SUBITEM 111.1 DA DENÚNCIA - 3a Imputação: PECULATO.
Denúncia :
"a) JOÃO PAULO CUNHA, em concurso material, está incurso nas penas do: [. . . I
a .3 ) 02 (duas) vezes no art igo 312 do Código Penal (desvio de R$ 252.000,OO em proveito próprio e R$ 5 3 6 . 4 4 0 , 5 5 em proveito alheio);" - Fls. 5 6 6 7
I . . . I b) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,
C R I S T I A N O PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, em concurso material, estão lncursos nas penas do: [ . . . I
b . 2 ) a r t . 312 do %Código Penal Pátrio (desvio de R$ 5 3 6 . 4 4 0 , 5 5 ) . " - Fls. 5 6 6 8
Finalmente, na terceira situação descrita, o
procurador-geral da República narra condutas que supostamente
configurariam crimes de peculato, consistentes em desvios de
verbas públicas originalmente destinadas a execução do contrato
A primeira imputação é dirigida somente a JOÃO PAULO
CUNHA, e se refere ao suposto desvio de verbas públicas ocorrido
por meio da contratação da empresa denominada Idéias, Fatos e
Textos Ltda. - pertencente ao Sr. Luis Costa Pinto e sua esposa
-, sob o falso pretexto de prestação de serviços de consultoria
em comunicação, serviços esses que, segundo se alega, nunca
teriam sido prestados.
Segundo a denúncia, JOÃO PAULO CUNHA teria se valido
do poder de autorizar subcontratações no âmbito do contrato
2003/204.0 para desviar verbas públicas em proveito próprio, de
Inq 2 .245 / MG
forma a remunerar a assessor ia pessoal prestada por Luis Costa
Pinto ( p . 856 do apenso 8 4 ) .
Através d a subcontratação em exame, a . I F T se
comprometeu a produzir, e n t r e outras co i sas ( f l s . 5 6 6 3 ) :
" b o l e t i n s mensais com o resumo das ações propostas , a expl icação dos trabalhos desenvolvidos por e la e a aval iação da opinião da midia em relação à Câmara dos Deputados a s e r produzida a p a r t i r de conversas reservadas em i n s i g h t s junto aos formadores de opinião dos maiores meios de Comunicação credenciados junto a Câmara. "
Segundo a denúncia, os serv iços mencionados jamais
foram prestados, nem foram apresentados os b o l e t i n s mensais
prometidos, configurando es se f a t o o crime de peculato prev i s to
no a r t . 3 1 2 , caput, do Código Penal.
Transcrevo t recho per t inente d a i n i c i a l ( f l s . 5664-
" N a verdade, a subcontratação f o i uma armação para que o Luis Costa Pinto fos se bem remunerado ( v i n t e m i l r e a i s por mês) para pres tar assessoria d i r e t a a João Paulo Cunha.
Contratado pela empresa SMP&B sob o manto formal do s e r v i ç o apresentado em sua proposta, Luis Costa Pinto prestava assessor ia d i r e t a a JOÃO PAULO CUNHA. A empresa I F T , cu jos sóc ios são Luis Costa Pinto e sua esposa tem como endereço regis t rado na Receita Federal exatamente a residência dos propr ie tár ios , indicando que s e t r a t a de uma empresa de fachada.
O desv io perpetrado por JOÃO PAULO CUNHA, no período compreendido e n t r e f e v e r e i r o de 2.004 a t é dezembro de 2.004, alcançou o montante de R$ 252.000,OO (duzentos e cinquenta e do i s m i l r e a i s ) , va lor pago ao S r . Luis Costa Pinto."
fZ5g- &&H& Inq 2 .245 / MG 0 1 1 8 3 0
Compulsando os autos, verifico que há indícios
convincentes de que pelo menos parte do objeto da subcontratação
foi indevidamente cumprido. Nesse sentido, consta dos autos
ofício da Câmara dos Deputados (Ofício/Gab/SECOM/CD No 182, de
04.08.05), assinado pela diretoria da SECOM/CD, no qual se
afirma que nenhum dos servidores do órgão se lembra da
existência dos boletins prometidos. Tampouco os arquivos do
órgão registram a presença de tais boletins. (Fls. 710 do Apenso
84)
Essa circunstância é suficiente para gerar, pelo menos
em tese, a responsabilidade do ex-presidente da Câmara dos
Deputados pelos possíveis prejuízos causados ao Erário.
Ressalto ademais, que os indícios constantes dos autos
sinalizam que, na prática, a atuação da empresa subcontratada
IFT - vale dizer, a atuação do Sr. Luiz Costa Pinto -, resumiu-
se ao assessoramento pessoal de JOÃO PAULO CUNHA.
Entre as evidências que corroboram essa assertiva
encontram-se aquelas que indicam ter Luiz Costa Pinto atendido a
diversas reuniões com membros das empresas DNA e SMP&B, algumas
vezes acompanhando o Sr. JOÃO PAULO CUNHA, outras vezes
representando-o junto aos co-denunciados MARCOS VALÉRIO, ROGÉRIO
TOLENTINO e SÍLVIO PEREIRA.
Assim, a anotação contida na agenda pessoal da ex-
secretária de MARCOS VALÉRIO (fls. 1071-1082) referente ao dia
czhg&ww &-&a Inq 2.245 / MG
011831
17.09.2003 (fls. 1077) indica que Luis Costa Pinto (codinome
Lula) reuniu-se com MARCOS VALÉRIO e ROGÉRIO TOLENTINO na
empresa DNA. No mesmo sentido, a anotação do dia 20.10.2003
(fls. 1078-1079) menciona reunião com MARCOS VALÉRIO, ROGÉRIO
TOLENTINO, JOÃO PAULO CUNHA e SÍLVIO PEREIRA (ex-secretário
geral do Partido dos Trabalhadores e co-denunciado neste
inquérito).
O Sr. JOÃO PAULO CUNHA argúi em sua resposta (apenso
96) três pontos principais: (i) a acusação não encontra respaldo
no material probatório constante dos autos; (ii) o denunciado
não poderia interceder em favor da IFT, pois não detinha a posse
dos recursos supostamente desviados, tendo sido o contrato
celebrado exclusivamente com a agência de publicidade SMP&B;
(iii) a empresa subcontratada efetivamente prestou os serviços
acordados, conforme atestam notas fiscais referentes aos mesmos.
Em primeiro lugar, verifico que não conduz a rejeição
da denúncia o argumento de que o denunciado não poderia
influenciar na subcontratação da IFT. Com efeito, o denunciado
tinha poder para autorizar ou não a subcontratação, tendo a
proposta da subcontrataçâo em exame - assim como todas as demais
sobre as quais pesam suspeitas de irregularidade - sido
submetida diretamente ao Sr. JOÃO PAULO CUNHA, por meio de
oficio expedido por órgão da própria Câmara dos Deputados.
Transcrevo o ato de autorização assinado pelo denunciado em 30
Inq 2 . 2 4 5 / MG
de janeiro de 2004, constante do anexo à denúncia (Apenso no 84,
documento 4 4 ) :
"Isto posto, e tendo em vista ter sido esta
a melhor das três propostas apresentadas, AUTORIZO a
contratação da empresa IFT Consultoria em Comunicação
6 Estratégia para a prestação de serv iço de
consultoria em comunicação, pelo período de 6 (seis)
meses, no valor total de R$ 126.000,OO (cento e vinte
e seis mil reais), devendo o pagamento ser feito pela
empresa SMP&B Comunicação Ltda., nos termos do
contrato n o 2003/204. O . "
Há, no mesmo volume dos autos, outra autorização
subscrita pelo acusado para a subcontratação da empresa IFT,
pertencente ao seu assessor, também pelo valor de R$ 126.000,00,
datada de 30 de junho de 2004, cinco meses depois da acima
transcrita.
Assim, não procede a alegação de que faltaria
tipicidade à conduta, por não dispor o denunciado da posse dos
recursos supostamente desviados. Na verdade, a "posse em razão
do cargo" a que faz referência o tipo penal do art. 312 do
Código Penal se satisfaz com o mero poder atribuído ao superior
hierárquico de dispor indiretamente dos bens, mediante ordens ou
requisições. Nesse sentido, colho a seguinte preleção
doutrinária:
"Quanto à conceituação de posse, precisa é a lição de Fragoso: 'A posse aqui deve ser entendida
&* H-&& 011853 Inq 2.245 / MG
em sentido amplo, compreendendo não só o poder material de disposição sobre a coisa, como também a chamada disponibilidade juridica, isto é, a possibilidade de livre disposição que ao agente faculta (legalmente) o cargo que desempenha. [. . . ] Tem, assim, a posse, o funcionário a quem incumbe receber, guardar ou conferir a coisa, como também seu chefe e superior hierárquico, que dela pode dispor mediante ordens ou requisições. "' (cf. MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. 21a ed. São Paulo: Atlas, 2006. vol. 3, p. 283).
O denunciado, na condição de presidente da Câmara, era
o responsável pela autorização .de todas as subcontratações
referentes ao contrato 2003/204.0, e conseqüentemente detinha a
posse dos recursos repassados a IFT. Assim, não se sustenta a
afirmação de que o Sr. JOAO PAULO CUNHA não poderia ter tido
qualquer responsabilidade sobre o hipotético desvio de verba
pública.
Em segundo lugar, o acervo probatório existente nos
autos é mais do que suficiente ao recebimento da denúncia quanto
a esse tópico, tendo em vista especialmente a afirmação
categórica partida da diretoria de comunicação da Câmara dos
Deputados (SECOM/CD), no sentido de que os serviços contratados
não foram prestados.
Por todo o exposto, recebo a denúncia quanto aos
crimes de peculato imputados a JOAO PAULO CUNHA na primeira
parte do subitem a.3, do item 111.1 da denúncia (desvio de R$
252.000,OO em proveito próprio).
@*NU&& Inq 2.245 / MG
O segundo desv io envolve JOÃO PAULO CUNHA em concurso
com MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISITANO PAZ e ROGÉRIO
TOLENTINO, e t e r i a ocorrido por meio d a cobrança de honorários
para subcontratação de empresas no âmbito do contra to
Consta d a denúncia ( f l s . 5 6 6 6 - 5 6 6 7 ) :
" A empresa SMP&B, com o aval de João Paulo Cunha, subcontratou 99,9% do o b l e t o l i c i t a d o . De uma soma t o t a l de R$ 10.745.902,17 , somente R$ 17.091,00 foram pagos por s e r v i ç o s prestados diretamente pela SMP&B, representado 0,01%.
A SME@&B, do núcleo Marcos V a l é r i o , p a r t i c i p o u do c o n t r a t o apenas para in termediar subcontratações , recebendo honorários de 5% por i s s o . Re fe r ida s i tuação c a r a c t e r i z a grave l e s ã o ao e r á r i o , além do crime d e pecu la to .
Com e f e i t o , João Paulo Cunha desviou R$ 536.490.55 do contra to n o 2003 /204 .0 em prove i to do núcleo Marcos V a l é r i o da organização criminosa. Explica - se .
O núc leo Marcos V a l é r i o , por meio da empresa SMP&B, ass inou o c o n t r a t o n o 2003/204.0 para não p r e s t a r qualquer s e r v i ç o . Nessa l i n h a , subcontratou 99,9% do o b j e t o con t ra tua l .
Por conta d i s s o , recebeu gratuitamente R$ 536.440,55, v a l o r dos honorários f ixados na avença.
Foi remunerado para nada f a z e r . João Paulo Cunha v i a b i l i z o u o repasse
indev ido desse montante em razão da subcontratação t o t a l do o b j e t o , p o i s au tor i zava expressamente todas a s subcontratações .
O desv io favoreceu o núcleo Marcos Va lér io , tendo em v i s t a que o recurso ingressou em seu patrimônio. A razão para essa l ibera l idade com o d inhe i ro públ ico é o s e r v i ç o prestado para o núcleo cen t ra l da organização criminosa. Além d i s s o , r e p i t a - s e , passou a e x i s t i r um ín t imo v ínculo e n t r e Marcos Va lér io e João Paulo Cunha, com inúmeras t rocas de favores . " ( G r i f e i ) .
&* flu&u Inq 2 . 2 4 5 / MG 011835
A subcontratação total do o b j e t o do contra to era
expressamente proibida não apenas pelo e d i t a l de Concorrência
n011/2003, como também pelos a r t s . 723 e 7 8 , VI^, da Lei
Com e f e i t o , o i t e m 9.7 do e d i t a l c i tado prescrevia:
" 9 . 7 . A CONTRATADA poderá subcon t r a t a r ou tras empresas, para execução parcial do objeto desta Concorrência, desde que mantida a preponderância da atuação da contratada na execução do o b j e t o como um todo e haja anuência prév ia , por e s c r i t o , da CONTRATANTE, após avaliada a l ega l idade , adequação e conveniência de permi t i r -se a subcontratação. ressalvando-se que a subcon t r a tação não t r a n s f e r e responsabi l idades a t e r c e i r o s nem exonera a CONTRATADA das obrigações assumidas, nem implica qualquer acréscimo de cus tos para a con t ra tan te . " ( G r i f e i ) .
Ora, a equipe t écn ica do Tribunal de Contas d a União
que auditou o con t ra to em questão não apenas constatou a
subcontratação quase t o t a l do o b j e t o do con t ra to 2003/204.0 ( o
que era expressamente vedado) , como também a subcontratação de
empresas para realização d e serviços alheios ao o b j e t o
contratado:
%, . . . a subcontratação de empresas para real i zação de serv iços a lhe ios ao o b j e t o l i c i t a d o , ou além dos l i m i t e s permit idos no Edita1 de Lic i tação e /ou contra to configura contratação d i r e t a , sem que a h ipó tese e s t e j a contemplada dentre aquelas p r e v i s t a s para a e spéc ie nos d i s p o s i t i v o s do Es ta tu to de
Art. 72. O contratado. na execução do contrato. sem prejuizo das responsabilidades contratuais e legais. poderá subcontratar partes da obra, seiviço ou fornecimento, até o limite admitido. em cada caso, pela Administração.
Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato: (...)VI - a subcontratação total ou parcial do seu objeto, a associação do contratado com outrem, a cessão ou transferência, total ou parcial. bem como a fusão, cisão ou incorporação, não admitidas no edital e no contrato;
&* fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
Licitações e Contratos Administrativos [. . . ] . " (Fls. 144 do apenso 84)
Conforme o mencionado relatório de auditoria, os
serviços prestados diretamente pela SMP&B somaram o valor
irrisório de R$ 17.091,00, de um total de R$ 10.745.902,17
recebidos da Câmara dos Deputados para a execução do contrato.
Tal circunstância constitui indício robusto de que o papel da
SMP&B pode de fato ter se resumido a mera intermediação de
serviços em troca de percentagem cobrada das empresas
subcontratadas, que, na prática, executaram a totalidade do
objeto do contrato 2003/204.0.
Nesse contexto, não é desprovida de substrato fático a
imputação do Ministério Público Federal segundo a qual o então
presidente da Câmara dos Deputados, em concurso com os co-
denunciados MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ e
ROGÉRIO TOLENTINO, concorreram para desviar a SMP&B parte do
dinheiro público destinado ao contrato 2003/204.0.
De fato, os indícios apontam no sentido de que essa
empresa pode ter recebido tais recursos sem que houvesse
contrapartida concreta sob a forma de serviços prestados.
Essa conduta caracteriza, pelo menos em tese, o crime
de peculato tal como definido no Código Penal:
"Pecula to Art. 312 - Apropriar-se o funcionário
público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em
R $ diz&&& Inq 2.245 / MG
011837
razão do cargo, ou desv iá - lo , em prove i to próprio ou a l h e i o :
Pena - rec lusão , de d o i s a doze anos, e mul t a .
5 1" - Aplica-se a mesma pena, s e o funcionário púb l i co , embora não tendo a posse do d i n h e i r o , va lor ou bem, o s u b t r a i , ou concorre para que se ja subtra ído , em prove i to próprio ou a l h e i o , valendo-se de f a c i l i d a d e que l h e proporciona a qualidade de func ionár io . "
Recebo, pois, a denúncia com relação as imputações
dirigidas ao denunciado João Paulo Cunha e aos co-denunciados
Marcos Valério, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, relativas aos
subitens a.3, segunda parte e b.2, do item 111.1 da denúncia
(desvio de R$ 536.440,55).
Não recebo a denúncia em relação ao acusado ROGÉRIO
LANZA TOLENTINO, por ausência de descrição de sua conduta no
mesmo tópico.
c ? 5 q e &&&& Inq 2.245 / MG
0 1 1 8 3 8
SUBITENS 111.2 (CONTRATOS No 99/1131 E 01/2003 - DNA
PROPAGANDA LTDA E BANCO DO BRASIL - PROCESSO TC 019.032/2005-0)
e 111.3 (TRANSFERÊNCIAS DE RECURSOS DO BANCO DO BRASIL PARA A
EMPRESA DNA PROPAGANDA LTDA POR MEIO DA COMPANHIA BRASILEIRA DE
MEIOS DE PAGAMENTO - VISANET)
Nos subitens 111.2 e 111.3, o procurador-geral da
República narrou as supostas ilegalidades referentes, de um
lado, aos contratos de publicidade celebrados entre o Banco do
Brasil e a DNA Propaganda Ltda, e de outro, a transferência de
recursos do fundo Visanet a empresa de publicidade do denunciado
Marcos Valério.
Subitem 111.2
Transcrevo as imputações feitas no subitem 111.2 da
inicial (fls. 5672) :
"Assim procedendo de modo livre e consciente, na forma do art. 29 do Código Penal:
a) HENRIQUE PIZZOLATO está incurso nas penas do a r t i g o 312 do Código Penal (desvio de R$ 2.923. 686,15 em proveito alheio) ; e
b) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO estão incursos nas penas do a r t i g o 312 do Código Penal (desvio de R$ 2.923.686,15) ."
Narra a denúncia que HENRIQUE PIZZOLATO, então
Diretor de Marketing do Banco do Brasil, incorreu nas penas do
Inq 2.245 / MG
art. 312 do caput do Código Penal ípeculato), ao supostamente
permitir o desvio de vultosos valores para a agência de
publicidade DNA Propaganda Ltda.
O procurador-geral da República acusa, além disso,
MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISISANO PAZ e ROGÉRIO
TOLENTINO de concorrerem, na qualidade de "responsáveis pelas
empresas do núcleo Marcos Valério" (fls. 5671), para o
cometimento do crime em questão.
Narra a inicial que a agência DNA Propaganda Ltda.
foi uma das três empresas vencedoras de licitação (Concorrência
01/2003) realizada com vista a contratação de agências para
prestação de serviços de publicidade ao conglomerado Banco do
Brasil.
0s supostos desvios dos recursos do contrato de
publicidade subsequente a licitação ocorreram da seguinte forma:
(i) o Banco do Brasil repassava a DNA o preço total dos serviços
necessários a consecução do contrato, incluindo os valores
destinados às bonificações e descontos especiais; (ii) a agência
de publicidade descontava um percentual desse valor e utilizava
o restante para pagar fornecedores subcontratados pela própria
agência DNA, a qual, (iii) com a conivência de Henrique
Pizzolato, não devolvia o valor dos descontos especiais e
bonificações ("bônus ou bonificação de volume - BV") recebidos
das empresas intermediadas ao Banco do Brasil.
Inq 2 .245 / MG
Narra o Ministério Público que o desvio ocorreu
precisamente mediante a cobrança dos chamados BVs, os quais eram
pagos diretamente a DNA Propaganda Ltda. pelas empresas
subcontratadas. A agência de publicidade se apropriava, então,
dessas quantias, embora o contrato firmado com o Banco do Brasil
previsse expressamente a devolução integral ou abatimento dos
bônus de volume da fatura emitida pela empresa subcontratada.
Transcrevo o item 2.7.4.6 do contrato celebrado entre
a DNA Propaganda Ltda. e o Banco do Brasil, segundo o qual
constitui dever da agência publicidade:
"Envidar esforços para obter as melhores condições nas negociações junto a terceiros e t r a n s f e r i r , integralmente, ao BANCO os descontos espec ia i s (além dos normais, p rev i s t o s em t a b e l a s ) , bonif icações, reaplicações, prazos espec ia i s de pagamento e outras vantagens. " (Grifei)
O procurador-geral da República, baseando-se em
relatório de equipe técnica do Tribunal de Contas da União,
estima que o desvio atingiu O montante mínimo de R$
2.923.686,15, quantia esta referente a pagamentos efetuados
durante a gestão de Henrique Pizzolato na Diretoria de Marketing
do Banco do Brasil (31.03.2003 a 14.06.2005).
Transcrevo trecho da denúncia pertinente aos fatos ora
em exame (fls. 5670-5671) :
"O desvio desses recursos efetivou-se porque os dirigentes do Banco do Brasil responsáveis pelo acompanhamento e fiscalização do contra to, em conluio com o grupo de Marcos Valério, permitiram que
cZJ5ig- fl&&& Inq 2.245 / MG 011841
a agência de publ ic idade cobrasse do fornecedor subcontratado a comissão denominada "bônus de volume" que, no caso de ambos os con t ra tos firmados com o Banco do B r a s i l , deveria s e r integralmente devolvida ou mesmo descontada da fatura emitida pe lo fornecedor contra o banco.
[ . . . I No que concerne ao Banco do B r a s i l , o
desv io desses recursos f o i e f e tuado pe lo Diretor de Marketing do Banco do B r a s i l , Henrique P i z z o l a t o , responsável d i r e t o pe lo acompanhamento e execução do con t ra to e pleno conhecedor d a s c láusulas con t ra tua i s que obrigavam a t rans fe rênc ia da comissão "bônus de v01 ume" ao banco con t ra tan te .
Do lado b e n e f i c i a d o , constam Marcos V a l é r i o , Ramon Hollerbach, C r i s t i a n o Paz e Rogério To len t ino , responsáveis pe las empresas do núcleo Marcos V a l é r i o .
Henrique P i z zo la to desviou os va lores em prol do grupo l iderado por Marcos Va lér io , po i s t inha pleno conhecimento que c i tada quadrilha aplicava os va lores correspondentes a comissão BV em b e n e f i c i o do núc leo cen t ra l da organização d e l i t i v a , caracterizando um dos mecanismos para al imentar o esquema criminoso ora denunciado.
Por e s s e mot ivo , de forma deliberada e consc ien te , deixou de desempenhar as suas atribuiçcies func iona i s , c o n s i s t e n t e em impedir o desv io desses v u l t o s o s va lores . "
O r e l a t ó r i o de aud i tor ia do Tribunal de Contas d a
União ( P T 019.032/2005-0) ass ina la que os ges tores do Banco do
Bras i l responsáveis pela f i s c a l i z a ç ã o dos contra tos não tomaram
providências no sen t ido de se f a z e r cumprir a c láusula
contra tual que obrigava as agências de publicidade a devolver as
b o n i f i c a ç õ e s de volume - BV ob t idas de fornecedores
subcontratados.
Tal negl igência ensejou a conversão d a aud i tor ia do
TCU em tomada de contas e s p e c i a l , para responsabi l ização t a n t o
fie NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
011842.:
dos representantes das agências contratadas quanto dos
funcionários do Banco do Brasil envolvidos - entre eles HENRIQUE
PIZZOLATO -, cujas condutas omissivas supostamente contribuíram
para o descumprimento do dever legal de devolução dos recursos
referentes as bonificações assinaladas.
HENRIQUE PIZZOLATO, na condição de Diretor de
Marketing do Banco do Brasil a época dos fatos narrados, tinha o
dever de zelar pelo bom cumprimento das condições fixadas nas
cláusulas dos contratos de publicidade firmados com a DNA.
Essa provável omissão ou negligência adquire ainda
maior relevância quando examinada no contexto geral dos fatos
trazidos pelo procurador-geral da República, tais como os
indícios de que parte dos recursos desviados em favor da DNA :
podem ter sido utilizados em esquemas de pagamentos suspeitos a
cargo do núcleo financeiro-publicitário da hipotética quadrilha
(MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISITANO PAZ e ROGÉRIO
TOLENTINO) .
É importante ressaltar que recursos da ordem de
dezenas de milhões de reais foram transferidos diretamente a
agência DNA, a titulo de serviços a serem prestados no futuro,
sem que houvesse, entretanto, qualquer garantia de prestação de
serviços ou de devolução em caso de não-utilização como
contrapartida ao pagamento antecipado.
&gh.em B&&& Inq 2.245 / MG 0 1 1 8 4 3
Nesse contexto, assume relevância no plano penal o
fato de o denunciado HENRIQUE PIZZOLATO ter permitido a
multiplicação de irregularidades nos contratos sob sua
fiscalização, mantidos entre o Banco do Brasil e a DNA
Propaganda, especialmente quando levadas em consideração as
evidências de que os recursos provenientes destas contratações
podem ter sido utilizados no esquema de pagamentos vulgarmente
conhecido como "Valerioduto".
Com efeito, contribui para o robustecimento das
alegações do PGR o registro encontrado nos autos acerca da
existência de um empréstimo celebrado em 26.05.2003 entre a
SMP&B e o Banco Rural, o qual teve como garantia justamente o
contrato de publicidade mantido entre a DNA e o Banco do Brasil
(cf. documento de fls. 1039, do apenso no 77).
Ante o exposto, recebo a denúncia com relação a
imputação do delito do artigo 312 do Código Penal feita ao
denunciado HENRIQUE PIZZOLATO no subitem "a", do item 111.2 da
denúncia, bem como a imputação relativa ao mesmo tipo penal, no
que tange aos denunciados MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH e
CRISTIANO PAZ, conforme consta subitem "b" do item 111.2 da
denúncia (desvio de R$ 2.923.686,15).
Já no que toca ao denunciado Rogério Lanza Tolentino,
entendo que a denúncia não descreve suficientemente a sua
conduta, de modo a possibilitar-lhe o exercicio da ampla defesa.
Q 5 g g flu&u Inq 2.245 / MG
011844
Ao contrário dos denunciados Marcos Valério, Ramon
Hollerbach e Cristiano paz, cuja efetiva participação na gestão
da empresa DNA está demonstrada na denúncia, o denunciado
Rogério Lanza Tolentino, cujo nome não figura no quadro
societário da empresa DNA, não tem sua conduta suficientemente
descrita na inicial acusatória, o que contraria o artigo 41 do
Código de processo Penal.
Deixo, portanto, de receber a denúncia contra Rogério
Lanza Tolentino, em relação ao delito do artigo 312 do Código
Penal, constante do subitem "b" do item 111.2 da denúncia.
cgg&vm NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
011845 Subitem 111.3
No s u b i t e m 1 1 1 . 3 , o p r o c u r a d o r - g e r a l da R e p ú b l i c a
f o r m u l a v á r i a s i m p u t a ç õ e s , t o d a s r e l a c i o n a d a s em m a i o r ou menor
g rau com o s u p o s t o d e s v i o d e r e c u r s o s d o Fundo d e I n c e n t i v o da
Companhia B r a s i l e i r a d e Meios d e Pagamen to /V i sane t ( f l s . 5679-
" A s s i m p r o c e d e n d o d e modo l ivre e c o n s c i e n t e , na forma d o a r t . 29 d o Cód igo P e n a l :
a ) HENRIQUE PIZZOLATO, em concurso mater ia l , e s t á i n c u r s o n a s r e p r i m e n d a s do :
a . 1 ) a r t i g o 317 do Código Penal Pá t r io ( r e c e b i m e n t o d e R$ 326 .660 ,27 ) ;
a . 2 ) a r t i g o 1 O, i n c i s o s V, VI e VII , da Lei n . O 9.61311998 ( u t i l i z a ç ã o d o S r . L u i z Eduardo F e r r e i r a p a r a receber R$ 326 .660 ,27) ; e
a . 3 ) 4 (quatro) v e z e s no a r t i g o 312 do Código Penal ( 1 9 . 0 5 . 2 0 0 3 - R$ 23.300.000,OO; 2 8 . 1 1 . 2 0 0 3 - R$ 6 .454 .331 ,43 ; 12 .03 .2004 -
R$35.000 .000 ,00; e 0 1 . 0 6 . 2 0 0 4 - R $ 9 . 0 9 7 . 0 2 4 , 7 5 ) ;
h) LUIZ GUSHIKEN, em cohcurso m a t e r i a l , e s t á i n c u r s o 4 (quatro) vezes n a s r e p r i m e n d a s d o a r t i g o 312 do Código Penal (19 .05 .2003 - R$ 23.300.000,OO; 28 .11 .2003 - R$ 6 .454 .331 ,43; 12 .03 .2004 - R$35.000 .000 ,00; e 01 .06 .2004 -
RS9.097 .024 , 7 5 ) ;
c ) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, em concurso mater ia l , e s t ã o i n c u r s o s n a s r e p r i m e n d a s d o :
c . I ) a r t i g o 333 do Código Penal Pá t r io (pagamento d e R$ 3 2 6 . 6 6 0 , 2 7 ) ; e
c .2) 4 (quatro) v e z e s no a r t i g o 312 do Código Penal ( 1 9 .05 .2003 - R$ 23.300.000,OO;
R- NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
d) JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOINO, SÍLVIO PEREIRA e DELÚBIO SOARES, em concurso material, estão incursos 4 (quatro) vezes nas reprimendas do a r t i g o 312 do Código Penal (19 .05 .2003 - R$ 23.300.000,OO; 28 .11 .2003 - R$ 6 .454 .331 ,43; 12.03.2004 -
R$35.000.000,00; e 01.06.2004 - R$9 .097 .024 ,75 ) . "
São várias as condutas supostamente criminosas
narradas neste subitem. Passo a examiná-las separadamente
Em primeiro lugar, abordo os supostos desvios de
recursos do Fundo de Incentivo da Companhia Brasileira de Meios
de Pagamento/Visanet.
Narra a denúncia que HENRIQUE PIZZOLATO e LUIZ
GUSHIKEN (então ministro da Secretaria de Comunicação e Gestão
Estratégica da Presidência da República) teriam - em concurso
com o núcleo financeiro-publicitário (MARCOS VALÉRIO, CRISTIANO
PAZ, RAMON HOLLERBACH e ROGÉRIO TOLENTINO) e o núcleo central
(JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOINO, SÍLVIO PEREIRA e DELÚBIO SOARES) da
hipotética quadrilha - montado um esquema para desviar recursos
do Fundo de Incentivo da Companhia Brasileira de Meios de
Pagamento/Visanet, com o intuito de irrigar o mecanismo ilícito
de distribuição de valores em dinheiro para a base aliada do
governo, vulgarmente conhecido como "Valerioduto".
São estas as imputações pertinentes (fls. 5679-5680):
"Assim procedendo de modo livre e consciente, na forma do art. 29 do Código Penal:
Inq 2.245 / MG
a) HENRIQUE PIZZOLATO, em concurso material, está incurso nas reprimendas do:
[ . . . I a.3) 4 (quatro) vezes no artigo 312 do
Código Penal (19.05.2003 - R$ 23.300.000,OO; 28.11.2003 - R$ 6.454.331,43; 12.03.2004 - R$35.000.000,00; e 01.06.2004 - R$9.097.024,75) ;
[ - - - I b) LUIZ GUSHIKEN, em concurso material,
está incurso 4 (quatro) vezes nas reprimendas do artigo 312 do Código Penal (19.05.2003 - R$ 23.300.000,OO; 28.11.2003 - R$ 6.454.331,43; 12.03.2004 - R$35.000.000,00; e 01.06.2004 - R$9.097.024,75) ;
L . . . I C) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,
CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, em concurso material, estão incursos nas reprimendas do:
[ . - . I c.2) 4 (quatro) vezes no artigo 312 do
Código Penal (19.05.2003 - R$ 23.300.000,OO; 28.11 .ZOO3 - R$ 6.454.331,43; 12.03.2004 -
R$35.00O.OOO, 00; e 01.06.2004 - R$9.097.024,75) ;"
A Companhia Brasileira de Meios de Pagamento/Visanet é
uma empresa privada pertencente a instituições financeiras que
têm em comum o fato de serem clientes dos cartões de crédito da
linha Visa. A participação destas instituições no capital social
da Visanet é proporcional as fatias respectivas que detêm no
mercado de cartões de crédito.
O Banco do Brasil possuía 31,9964% do capital social
da Companhia Brasileira de Meios de Pagamento/Visanet em 2003.
No ano de 2001, a Visanet instituiu um findo de
Incentivo, destinado a promoção da marca Visa, cujos recursos
provinham de aporte proporcional a participação de cada uma das
instituições financeiras no seu capital social. A estas
@&k.mw &&H& Inq 2 .245 / MG
011848
i n s t i t u i ç õ e s cabia o gerenciamento da parcela do Fundo
correspondente a sua part ic ipação.
No caso do Banco do B r a s i l , os recursos geridos eram,
a semelhança das demais i n s t i t u i ç õ e s f inance i ras associadas,
equivalentes a sua part ic ipação no c a p i t a l d a Visanet - ou s e j a ,
31 ,9964% do t o t a l .
Narra a denúncia ( f l s . 5 6 7 4 ) :
"Nos meses de maio de 2003 (19.05.2003 - R$ 23.300.000,00), novembro de 2003 (28.11 .ZOO3 - R$ 6.454.331,43) , março de 2004 (12.03.2004 -
R$35.000.000,00) e junho de 2004 (01.06.2004 -
R$9.097.024,75), sob a gestão de Henrique P i z zo la to , a Diretoria de Marketing do Banco do Brasi l - Dimac aprovou a l iberação para a DNA, a t i t u l o de antecipação, de recursos f inance i ros no montante t o t a l de R$ 73.851.000,00, sendo informado por essa própria Dire tor ia que a s antecipações foram e fe tuadas para a r ea l i zação de 93 ações de i n c e n t i v o d i s t i n t a s .
Fato é que as c i t a d a s ações não s e encontram respaldadas em qualquer documentação que legi t imamente possa comprovar a apl icação desses recursos .
No período de 2003 a 2004, enquanto e r a Dire tor de Marketing Henrique P i z z o l a t o , a DNA f o i a única b e n e f i c i á r i a dessas antec ipações , as qua i s , conforme d e s c r i t o no item "6.4.15" do r e l a t ó r i o de a u d i t o r i a [do Tribunal de Contas da União] c i t a d o : " s e davam p e l o c r é d i t o de v a l o r , pela CBMP, em conta c o r r e n t e de l i v r e movimentação da empresa de pub l i c idade , contra apresentação de documento f i s c a l e m i t i d o pela agência , com descr ição genérica dos s e r v i ç o s e a n t e s que a s ações de i n c e n t i v o correspondentes t i ves sem s i d o executadas".
Segundo o Minis tér io Público Federal, essas
antecipações, autorizadas por HENRIQUE PIZZOLATO na condição de
Diretor de Marketing do Banco do B r a s i l , não eram acompanhadas
N- B&&& Inq 2 .245 / MG
das devidas precauções para garantia do posterior ressarcimento
do Banco do Brasil.
Quanto a decisão de centralizar na agência DNA
Propaganda Ltda. os serviços de publicidade atinentes à Visanet,
o Ministério Público aponta que tal ocorreu sem que houvesse a
celebração de qualquer contrato com a Visanet, referente a
utilização dos recursos do Fundo. O Ministério Público afirma,
ainda, que essa centralização não era prevista no contrato de
publicidade celebrado entre a DNA Propaganda Ltda. e o Banco do
Brasil.
Enfatize-se que a prática adotada pela Diretoria de
Marketing do Banco do Brasil sob a gestão de HENRIQUE PIZZOLATO,
qual seja, a de autorizar adiantamentos aparentemente temerários
de recursos do Fundo de Incentivo para a DNA Propaganda Ltda. -
empresa sem vinculo contratual direto com a Visanet - não foi
seguida por nenhuma das outras instituições financeiras
acionistas.
Referidos adiantamentos eram realizados sem
documentação comprobatória da aplicação desses recursos na
execução de tarefas pertinentes ao objetivo do Fundo de
Incentivo, conforme se extrai das conclusões constantes do
relatório de auditoria do Tribunal de Contas da União.
d$k=mw fl&&& Inq 2 .245 / MG
011850
Julgo pertinente, neste ponto, transcrever trecho da
auditoria interna do Banco do Brasil citado pelo procurador-
geral da República em sua denúncia (fls. 5674):
"A inexistência, no âmbito do Banco do Brasil, de formalização de instrumento, ajuste ou equivalente para disciplinar as destinaçoes dadas aos recursos adiantados às agências de publicidade dificulta a obtenção de convicção de que tais recursos tenham sido utilizados exclusivamente na execução de ações de incentivo ao abrigo do Fundo. "
O procurador-geral da República faz menção a quatro
antecipações irregulares (nos termos descritos acima) de
recursos oriundos do Fundo de Incentivo Visanet para a empresa
DNA Propaganda Ltda., ocorridas respectivamente em 19.05.2003
(valor: R$ 23.300.000,OO); 28.11.2003 (valor: R$ 6.454.331,43);
12.03.2004 (valor: R$35.000.000,00) ; e 01.06.2004 (valor:
Em depoimento prestado a CPMI dos Correios,
expressamente mencionado na denúncia pelo procurador-geral da
República, HENRIQUE PIZZOLATO afirmou que as operações
irregulares de transferências de recursos foram ordenadas pelo
então ministro da Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica
da Presidência da República, o co-denunciado LUIZ GUSHIKEN
Transcrevo trecho pertinente do mencionado depoimento
(fls. 5676) :
"CÉZAR BORGES (PFL BA) Mas o Ministro Gushiken sempre disse 'assine o que é preciso assinar'.
Inq 2 .245 / MG
S R . HENRIQUE PIZZOLATO S i m , senhor. No caso dessa nota e s p e c í f i c a e l e d i s s e : ' A s s i n a , porque não há nenhum problema. I s s o é bom. O banco.. .
S R . CÉZAR BORGES (PFL BA) Então e l e l h e deu e s s e respaldo de responsabi l idade que o S r . dever ia a s s i n a r i n c l u s i v e a q u i l o que autor izava o adiantamento da DNA.
S R . HENRIQUE PIZZOLATO Olha, en tend i a q u i l o como uma ordem. Eu não i r i a me con f ron tar ao Min i s t ro e . . .
O S R . EDUARDO PAES (PSDB R J ) S r . P i z z o l a t o , se V . S" não q u i s e r responder, não responda. M a s eu e s t o u fazendo uma pergunta o b j e t i v a : o Min i s t ro Gushiken determinou a V . S a . que f i z e s s e o pagamento a Agência DNA?
O S R . HENRIQUE PIZZOLATO Ele disse-me que era para a s s i n a r as n o t a s . . .
S R . EDUARDO PAES (PSDB RJ) Assinar a nota s i g n i f i c a o quê? Por que V . 5 " . t i nha de a s s i n a r a nota ?
O S R . HENRIQUE PIZZOLATO: Porque eu t inha que dar o ' de acordo' .
O S R . EDUARDO PAES (PSDB RJ) O ' d e acordo' de V . S a s i g n i f i c a v a autor ização?
SR . HENRIQUE PIZZOLATO: S i g n i f i c a v a que a D i re tor ia de Marketing i r i a e s t r u t u r a r as campanhas com recursos da V i sane t jun to com os demais. . . "
Passo a ana l i sar as pr inc ipa i s objeções ao recebimento
da denúncia aduzidas pelos co-denunciados em suas respos tas
HENRIQUE PIZZOLATO af irma que não detinha con t ro le
sobre os recursos do Fundo de i n c e n t i v o d a V i s a n e t , pois o
con t ro le das relações e n t r e e s t e e o Banco do Brasi l es tava a
cargo d a Diretoria de Varejo dessa i n s t i t u i ç ã o f i n a n c e i r a .
Af irma, também, que os recursos do Banco do Brasi l apl icados no
Fundo de Incen t i vo d a V i sane t não poderiam a t r a i r a inc idênc ia
do a r t . 312 do Código Penal, uma vez que e l e s pertenciam a
@* fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
Companhia Brasileira de Meios de Pagamento/Visanet, uma empresa
privada.
Constato que existem nos autos indícios convincentes
de que a Diretoria de Marketing do Banco do Brasil de fato
detinha autonomia para gerenciar a parcela de recursos do Fundo
correspondentes a sua participação.
Nesse sentido, transcrevo trecho de correspondência da
Visanet endereçada a CPMI dos Correios (vide fls. 583-584 de seu
Relatório Final), em que se atesta que:
"Os recursos alocados para as ações planejadas pelo Banco do Brasil na qualidade de Emissor Visa foram pagos pela Visanet aos respect ivos fornecedores contra tados, cotados e negociados pelo próprio Banco do Bras i l , entre e l e s a DNA Propaganda. Como não há in ter ferênc ia d i r e t a da Visanet nessa contratação, não existem contratos formais firmados pela Visanet/Servinet e r e f e r i d a empresa. A ação baseou no plano proposto pelo Banco do Brasll e o pagamento se baseou em uma comunicação do Banco do Brasil informando que a ação foi realizada dentro do escopo do Fundo de Incentivo Visanet e encaminhado a nota fiscal do fornecedor." (Grifei).
Além disso, os recursos do Fundo de Incentivo da
Companhia Brasileira de Meios de Pagamento/Visanet provinham do
Banco do Brasil, que tem natureza de sociedade de economia
mista, a qual, não obstante seja pessoa jurídica de direito
privado, integra a administração indireta, opera com dinheiro
público e está submetida ao controle do Tribunal de Contas da
União, de modo que não procede o argumento de atipicidade da
conduta por supostamente pertencerem as quantias desviadas a uma
Inq 2.245 / MG
empresa privada. Além disso, o tipo penal do peculato incide
também sobre valores particulares, desde que a posse sobre estes
se dê "em razão de do cargo".
Ora, os indícios constantes dos autos parecem indicar
que HENRIQUE PIZZOLATO, na condição de Diretor de Markenting do
Banco do Brasil, assim como LUIZ GUSHIKEN, então ministro da
Secretaria de Comunicação e Gestão Estratégica, tinham ampla
margem de discricionariedade para alocar os bens do fundo de
Incentivo Visanet, conforme ele própria admitiu, em depoimento
prestado perante a CPMI dos Correios, e mencionado na denúncia
(fls. 5676):
" S R . EDUARDO PAES (PSDB R J ) A s s i n a r a n o t a s i g n i f i c a o q u ê ? Por que o Ministro Gushiken determinou a V. S e . que fizesse o pagamento à Agência DNA?
O S R . HENRIQUE PIZZOLATO E l e d i s s e - m e que era para assinar as notas . . .
S R . EDUARDO PAES (PSDB R J ) A s s i n a r a n o t a s i g n i f i c a o q u ê ? P o r q u e V . S a . t i n h a d e a s s l n a r a n o t a ?
O S R . HENRIQUE PIZZOLATO: Porque eu tinha que dar o 'de acordo'.
O S R . EDUARDO PAES (PSDB R J ) O ' d e a c o r d o ' d e V . S a s i g n i f i c a v a a u t o r i z a ç ã o ? " (Grifei).
Fica clara, portanto, a existência de indicios de que
as ordens de desembolso de quantias partiram diretamente do Sr.
Henrique Pizzolato, em cumprimento a suposta ordem do denunciado
Luiz Gushiken.
Diante desses indicios, julgo presentes os indicios
mínimos de materialidade e autoria, quanto aos crimes de
&- fla&& Inq 2.245 / MG 0 1 1 8 5 4
peculato (art. 312 do Código Penal), de modo que recebo a
denúncia oferecida contra HENRIQUE PIZZOLATO quanto as
imputações do subitem a.3, ou seja:
- 4 (quatro) vezes no artigo 312 do Código Penal
(19.05.2003 - R$ 23.300.000,OO; 28.11.2003 - R$ 6.454.331,43;
12.03.2004 - R$35.000.000,00; e 01.06.2004 - ~$9.097.024,75);
E contra LUIZ GUSHIKEN, constantes do subitem "b":
- 4 (quatro) vezes nas reprimendas do artigo 312 do
Código Penal (19.05.2003 - R$ 23.300.000,OO; 28.11.2003 - R$
6.454.331,43; 12.03.2004 - R$35.000.000,00; e 01.06.2004 -
R$9.097.024,75), todos do Item 111.3 da denúncia".
No que concerne a participação do núcleo central da
hipotética quadrilha (JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOÍNO, SÍLVIO PEREIRA
e DELÚBIO SOARES) nos desvios assinalados, o douto procurador-
geral da República argumenta que estes co-denunciados também
contribuíram, em concurso de pessoas, para a realização dos
desvios de recursos públicos em questão, devendo, portanto,
sofrer as penas do art. 312 do Código Penal imputadas a HENRIQUE
PIZZOLATO e LUIZ GUSHIKEN.
Extraio o trecho pertinente da denúncia:
" [. . . 1 uma vez sob disposição do núcleo Marcos Valério, o montante foi empregado para pagar propina e dívidas de campanhas eleitorais por ordem de José Dirceu, José Genoíno, Sílvio Pereira e Delúbio Soares. Além disso, como já relatado, uma das
R- fl&&& Inq 2.245 / MG 011855
antecipações serviu para abater um dos empréstimos do BMG que suportaram a engenharia ora denunciada. "
Quanto aos co-denunciados JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOÍNO,
SÍLVIO PEREIRA e DELÚBIO SOARES, verifico que o procurador-geral
da República não explicitou de forma satisfatória o papel que
tiveram na realização da conduta tipificada no art. 312 do
Código Penal, que transcrevo, para melhor aclaramento deste
ponto:
"Peculato Art. 312 - Apropriar-se o funcionário
público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. "
Relativamente a JOSÉ DIRCEU, JOSÉ GENOÍNO, SÍLVIO
PEREIRA e DELÚBIO SOARES, a denúncia não descreve de forma
explicita como sua conduta contribuiu para o cometimento do
crime de peculato, não se verificando a imprescindível exposição
do fato criminoso em todas as suas circunstâncias.
Com efeito, o Chefe do parquet limitou-se a afirmar
que o valor desviado por HENRIQUE PIZZOLATO e LUIZ GUSHIKEN "foi
empregado para pagar propina e dividas de campanhas eleitorais",
em respeito a ordens emanadas dos membros do núcleo central,
sem, contudo, argumentar nem trazer indícios comprobatórios da
divisão de trabalho na execução da ação típica. Ressalve-se a
possibilidade de o Ministério Público aditar a inicial, desde
Inq 2.245 / MG
que descreva, individualizadamente, as condutas dos referidos
denunciados.
Não recebo, portanto, a denúncia em relação aos
denunciados José Dirceu, José Genoino, Sílvio Pereira e Delúbio
Soares, no que concerne ao subitem d , do item 111.3 da
denúncia: 4 (quatro) vezes nas reprimendas do artigo 312 do
Código Penal (19.05.2003 - R$ 23.300.000,OO; 28.11.2003 - R$ 6.454.331,43; 12.03.2004 - R$ 35.000.000,00; e 01.06.2004 - R$
9.097.024,75).
Porém, o mesmo não pode ser dito quanto a suposta
participação do núcleo de MARCOS VALÉRIO (RAMON HOLLERBACH,
CRISTIANO PAZ) nos hipotéticos desvios, uma vez que a DNA
Propaganda Ltda., na condição de beneficiária direta das
antecipações aparentemente irregulares, contribuiu para a
perpetração das condutas tidas como típicas.
Em suas respostas, esses denunciados alegam a
ausência de individualização de suas condutas, circunstância que
tolheria o direito de defesa e tornaria a denúncia inepta quanto
as imputações dirigidas contra eles.
Observo que quando a denúncia descreve crimes que
envolvem complexas operações no âmbito de uma sociedade
empresária, não se faz necessária a individualização exaustiva,
já na fase de oferecimento da denúncia, do papel específico
atribuído a cada um dos membros do grupo, uma vez que a
R+ Inq 2.245 / MG 0 1 1 8 5 7
individualização mais pormenorizada das condutas poderá ser
realizada posteriormente, na fase de instrução penal.
Para efeito de recebimento da denúncia, basta a
circunstância de que os acusados integrantes do chamado núcleo
publicitário-financeiro foram os beneficiários dos desvios
apontados.
Desta forma, recebo a peça acusatória em relação ao
subitem c.2 do item 111.3, assim: 4 (quatro) vezes no artigo 312
do Código Penal (19.05.2003 - R$ 23.300.000,OO; 28.11.2003 - R$
6.454.331,43; 12.03.2004 - R$ 35.000.000,00; e 01.06.2004 - R$
9.097.024,75) contra os denunciados Marcos Valério, Ramon
Hollerbach e Cristiano Paz.
No que diz respeito ao denunciado Rogério Lanza
Tolentino, este não era gestor da empresa DNA Propaganda LTDA.,
de modo que não consta da denúncia descrição que permita saber
de que modo ele teria contribuído para a suposta consumação do
delito do artigo 312 do Código Penal.
Por tais razões, não recebo a denúncia em relação ao
denunciado Rogério Lanza Tolentino, no que concerne as
imputações constantes do subitem c.2 do item 111.3 da denúncia:
4 (quatro) vezes no artigo 312 do Código Penal (19.05.2003 - R$
23.300.000,OO; 28.11.2003 - R$ 6.454.331,43; 12.03.2004 - R$
35.000.000,00; e .01.06.2004 - R$ 9.097.024,75), por não ter sido
fl- flu&u Inq 2 . 2 4 5 / MG 011858
atendida, quanto a e l e , a exigência do artigo 4 1 do Código de
processo penal.
&* fl&&& Inq 2 .245 / MG 011859
Dando prosseguimento a a n á l i s e da presença dos
r e q u i s i t o s para o recebimento da denúncia quanto as condutas
narradas no subitem 111.3, examino as imputações r e f e r e n t e s a
crimes de lavagem de d inhe i ro ( a r t i g o 1 ° , i n c i s o s V , V I e V I I ,
da Lei 9.613/1998) e de corrupção passiva e a t i v a ( a r t s . 317 e
3 3 3 do Código P e n a l ) , envolvendo H E N R I Q U E P I Z Z O L A T O e o núcleo
de MARCOS V A L É R I O ( C R I S T I A N O PAZ, RAMON HOLLERBACH E R O G É R I O
T O L E N T I N O ) .
Transcrevo os t r echos per t inen tes da i n i c i a l ( f l s .
"Henrique P i z zo la to , em razão do cargo de Dire tor de Marketing do Banco do B r a s i l , também recebeu de Marcos V a l é r i o , C r i s t i a n o Paz, Ramon Hollerbach e Rogério Tolen t i n o , valendo-se de um in t e rmed iár io , na data de 15 de jane iro de 2004, a quantia de R$ 326.660,67 como contraprestação pe los b e n e f í c i o s i l i c i t a m e n t e proporcionados, no e x e r c í c i o de sua função, ao grupo empresarial de Marcos V a l é r i o .
f.. . I C ien te de que o d inhe i ro t inha como origem
organização criminosa vol tada para a prá t ica de crimes contra o sistema f inance i ro nacional e contra a administração púb l i ca , Henrique Pizzola t o , buscando o c u l t a r a origem, natureza e o rea l d e s t i n a t á r i o do va lor pago como propina, enviou o mensageiro da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do B r a s i l -
Previ , Luiz Eduardo Ferre ira , para sacar em espéc ie R$ 326.660,27.
Referida operação, v e r i f i c a d a em razão do seu cargo de Diretor de Marketing, f o i executada por intermédio da manobra de lavagem de d inhe i ro engendrada pe los núcleos Marcos V a l é r i o e Banco R u r a l .
Após sacar o va lor de R$ 326.660.27 em e s p é c i e , Eduardo Ferre ira , u t i l i z a d o como in t e rmed iár io , entregou o montante diretamente ao denunciado Henrique P i z zo la to em s u a r e s idênc ia . "
,. R- NU&&
Inq 2.245 / MG
011860
A s s i m p r o c e d e n d o de modo l i v r e e c o n s c i e n t e , na forma d o a r t . 2 9 d o Código Pena l :
a ) HENRIQUE P I Z Z O L A T O , em concurso mater ia l , e s t á i n c u r s o n a s r e p r i m e n d a s do:
a . 1 ) a r t i g o 317 do Código Penal Pá t r io ( r e c e b i m e n t o de R$ 326.660,27) ;
a .2 ) a r t i g o 1 ° , i n c i s o s V, VI e V I I , da L e i n . 9.613/1998 ( u t i l i z a ç ã o d o S r . L u i z Eduardo F e r r e i r a p a r a receber R$ 326.660,27) ; e
C) MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ e ROGÉRIO TOLENTINO, em concurso mater ia l , e s t ã o i n c u r s o s n a s r e p r i m e n d a s do:
c. I ) a r t i g o 333 do Código Penal P á t r i o (pagamento de R$ 326.660,27) "
Há s u f i c i e n t e s i n d í c i o s n o s a u t o s d e q u e HENRIQUE
PIZZOLATO r e c e b e u a q u a n t i a d e R$ 3 2 6 . 6 6 0 , 2 7 no d i a 15 .01 .2004 ,
p o r meio d e s a q u e r e a l i z a d o p e l o m e n s a g e i r o Eduardo F e r r e i r a d a
S i l v a e m a g ê n c i a do Banco R u r a l
Da mesma forma, a s e v i d ê n c i a s i n d i c a m que a o f a z ê - l o ,
HENRIQUE PIZZOLATO u t i l i z o u Eduardo F e r r e i r a d a S i l v a p a r a ,
s a c a n d o e m s e u nome a q u a n t i a menc ionada , o c u l t a r ou d i s s i m u l a r
a n a t u r e z a e a o r igem d o s v a l o r e s s u s p e i t o s .
Nesse s e n t i d o , c o l h o t r e c h o d o depo imen to p r e s t a d o a
P o l í c i a F e d e r a l p e l o m e n s a g e i r o Eduardo F e r r e i r a d a S i l v a ( f l s .
"QUE no d i a q u i n z e de j a n e i r o de 2004, r e c e b e u uma l i g a ç ã o de HENRIQUE PIZZOLATO n o s e t o r onde o d e p o e n t e t r a b a l h a ; QUE n e s t a l i g a ç ã o , PIZZOLATO
d$k=mm flu#a Inq 2 . 2 4 5 / MG
0 1 1 8 6 1
so l ic i tava que o depoente fosse ao BANCO RURAL e pegasse "um documento"; [. . . ] QUE d i r i g i u - s e de carro a t é o BANCO RURAL l o c a l i z a d o no centro do Rio de Janeiro, c u j o endereço não s e recorda, entrando sozinho no es tabe lec imento bancário; QUE l á den t ro , procurou a pessoa indicada por HENRIQUE PIZZOLATO, que o atendeu em um s e t o r onde não e x i s t e atendimento ao públ ico; [. . . ] QUE o funcionário do banco colocou d o i s pacotes embrulhados em papel pardo em cima da mesa, e pediu ao depoente que ass inasse um rec ibo; '. . .] QUE assinou uma espéc ie de formulário mas não chegou a l e r o seu conteúdo; QUE o func ionár io ainda s o l i c i t o u ao depoente que fornecesse sua iden t idade , t i rando cópia da mesma ; [ . . . 1 QUE chegando na residência de HENRIQUE PIZZOLATO, f o i o mesmo quem o recepcionou na porta de seu apartamento; QUE entregou o s dois embrulhos nas mãos de HENRIQUE PIZZOLATO; [. . . I QUE na da t a do dia 1 4 de julho do corrente ano f o i chamado na s a l a da aud i tor ia da PREVI, pe lo aud i tor ANTONIO, vulgo "TUNINHO", e pe lo consul tor j u r í d i c o da PREVI, JOSE LUIZ; QUE nes ta oportunidade informaram ao depoente que seu nome constava como recebedor "do mensalão"; QUE naquele momento chegou a f i c a r atordoado; QUE também disseram ao depoente que seu nome constava no . COAF como tendo sacado importância de trezentos e vinte e seis mil rea is no BANCO RURAL no dia quinze de janeiro de 2004."
As declarações cont idas no depoimento em exame revelam
um procedimento suspe i to de saque de va lores de origem
desconhecida bas tante semelhante ao modus operandi seguido em
outros saques suspe i tos enumerados pelo procurador-geral da
República ao longo da denúncia, conforme j á v i s t o no i t em 111.1
supra, e em consonância com a descrição do suposto esquema de
lavagem de d inhe i ro rea l i zado no i t em IV d a i n i c i a l , i n f r a .
Constato, ass im, que se encontra su f i c i en temen te
fundamentada nos i n d í c i o s cons tantes dos autos a acusação do
procurador-geral d a República no sen t ido de que os recursos
c5g.- B a & 4 Inq 2.245 / MG 011862
provenientes do Banco Rural, sacados em favor de HENRIQUE
PIZZOLATO, são oriundos do suposto esquema de lavagem de
dinheiro conhecido como "Valerioduto".
Diante desse quadro, recebo a denúncia contra Henrique
Pizzolato, em relação ao subitem a.2 do item 111.3 da inicial,
ou seja: "artigo I", incisos V, YI e VII, da Lei n. O 9.613/1998
(utilização do Sr. Luiz Eduardo Ferreira para receber R$
326.660,27)".
Verifico, ademais, que há base indiciária sólida a
justificar o recebimento da denúncia contra Henrique Pizzolato
pela prática do crime de corrupção passiva, tendo em vista o
depoimento' de Eduardo Ferreira da Silva, que declarou ter
recebido para o ex-diretor do Banco do Brasil o valor de R$
3 2 6 . 6 6 0 , 2 7 . É significativo, também, o fato de que o nome deste
denunciado constava da lista apresentada pelo co-denunciado
MARCOS VALÉRIO perante a autoridade policial (fls.606), como
destinatário da quantia acima mencionada.
Enfatize-se que, a época dos fatos narrados, o
responsável pela supervisão dos contratos de publicidade
mantidos com a DNA Propaganda Ltda. era exatamente o denunciado
HENRIQUE PIZZOLATO. Não há, assim, dúvidas quanto a
plausibilidade da tese de que os recursos suspeitos entregues ao
denunciado o foram em razão do cargo por ele ocupado, uma vez
que o mesmo, na condição de diretor de Marketing do Banco do
~ ~ H ~ & & Inq 2.245 / MG
0 1 1 8 6 3
Brasil, dispunha de competência para expedir atos de oficio
suscetíveis de beneficiar a agência de publicidade DNA
Propaganda Ltda., como, aliás, fez ao autorizar o aditamento de
recursos nos referidos contratos, conforme descrito na denúncia
Às fls. 5674 dos autos, in verbis:
"Nos meses de maio de 2003 (19.05.2003 - R$
23.300.000,00), novembro de 2003 (28.11 .ZOO3 - R$
6.454.331,43), março de 2004 (12.03.2004 -
R$35.000.000,00) e junho de 2004 (01.06.2004 -
R$9.097.024,75), sob a gestão de Henrlque Pizzolato, a
Diretoria de Marketing do Banco do Brasil - Dimac
aprovou a liberação para a DNA, a título de
antecipação de recursos financeiros no montante total
de R$ 73.851.000,00, sendo informado por essa própria
Diretoria que as antecipações foram efetuadas para a
realização de 93 ações de incentivo distintas.
Fato é que as citadas açóes não se
encontram respaldadas em qualquer documentação que
legitimamente possa comprovar a aplicação desses
recursos. "
Ante o exposto, recebo a denúncia com relação a
imputação constante do subitem a.1, do item 111.3 da denúncia
(artigo 317 do Código Penal - recebimento de R$ 326.660,27),
dirigida ao denunciado Henrique Pizzolato.
Pelas mesmas razões, considero viável o recebimento
da denúncia quanto a imputação do crime de corrupção ativa aos
diretores da SMP&B Propaganda Ltda.
Inq 2.245 / MG
Com efeito, o Relatório de Análise no 124/2006,
anexado aos autos (apenso 87, pp. 726-727), indica que os
recursos sacados de forma suspeita provieram da compensação, em
15.01.2004, do cheque no 413170, emitido pela agencia DNA
Propaganda Ltda, empresa da qual são diretores os co-denunciados
MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH e CRISTIANO PAZ).
Sendo assim, em face da presença de indícios mínimos
de autoria e materialidade, recebo a denúncia em relação ao
crime de corrupção ativa (art. 333 do Código Penal) supostamente
praticado pelos co-denunciados MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH
e CRISTIANO PAZ, sócios da DNA Propaganda Ltda., conforme consta
do subitem c.1 do item 111.3 da denúncia.
Não recebo, porém, a denúncia, em relação ao subitem
c. 1 do item 111.3 (artigo 333 do Código Penal) , no que toca ao
co-denunciado ROGÉRIO TOLENTINO, uma vez que o procurador-geral
da República não logrou demonstrar nenhuma relação direta entre
este e os sócios da SMPhB para o cometimento do delito de
corrupção ativa em exame, de modo que não se atendeu ao disposto
no artigo 41 do Código de Processo Penal.
Inq 2.245 / MG
DA IMPUTA~ÃO DE LAVAGEM DE DINHEIRO - LEI No 9.613/98
- Capítulo IV da denúncia Em seu Capítulo 4, a denúncia imputa a prática de
lavagem de dinheiro aos dirigentes do Banco Rural JOSÉ ROBERTO
SALGADO, AYANNA TENÓRIO, VINÍCIUS SAMARANE e KÁTIA RABELLO, bem
como ao publicitário MARCOS VALÉRIO e seus sócios RAMON
HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ, ROGÉRIO TOLENTINO, SIMONE VASCONCELOS
e GEISA DIAS.
A acusação consiste na suposta estruturação de um
mecanismo de lavagem de capitais que, baseada na antiga relação
entre o núcleo Marcos Valério e o Banco Rural, iniciada em 1998,
bem como na confiança mútua dai oriunda, teria permitido a
transferência dissimulada de grandes somas em dinheiro para os
beneficiários finais do suposto esquema. Assim, o núcleo Marcos
Valério, juntamente com os dirigentes do Banco Rural, teriam
praticado ocultação e dissimulação da origem, natureza,
movimentação e destino final dos vultosos recursos em questão.
Na outra ponta deste "mecanismo de branqueamento", estariam os
supostos beneficiários finais dos recursos "lavados", que, de
acordo com o Parquet, teriam sido indicados diretamente por
Delúbio Soares, em concretização do suposto acordo firmado, em
momento anterior, entre os denunciados por formação de quadrilha
e corrupção ativa.
A denúncia assim narra os fatos (fls. 5688):
@-NU&& Inq 2.245 / MG
011866
A e s t r u t u r a a r t i c u l a d a p e l o s d i r i g e n t e s d o
Banco Rura l p o s s i b i l i t o u q u e o grupo d e Marcos
V a l é r i o , n o t a d a m e n t e S imone V a s c o n c e l o s e G e i s a D i a s ,
c o m u n i c a s s e a o g e r e n t e da c o n t a da SMP&B o u DNA n o
Banco Rura l d e B e l o H o r i z o n t e , a g â n c i a A s s e m b l é i a , a
o p e r a ç ã o q u e s e r i a d e s e n c a d e a d a , ou s e j a , pagamento d e
d e t e r m i n a d a q u a n t i a , n a s p r a ç a s d e B e l o H o r i z o n t e ,
B r a s i l i a , São P a u l o o u R i o d e J a n e i r o , q u a l i f i c a n d o a
p e s s o a que e f e t u a r i a o r e c e b i m e n t o e t r a n s p o r t e , em
m a l a s ou s a c o l a s , d o s r e c u r s o s f i n a n c e i r o s .
F u n c i o n á r i o s da a g ê n c i a A s s e m b l é i a d o Banco
R u r a l i n f o r m a v a m , a o s da a g ê n c i a em q u e se r e a l i z a r i a
o s a q u e , a i d e n t i f i c a ç ã o da p e s s o a c r e d e n c i a d a para o
r e c e b i m e n t o d o s v a l o r e s , disponibilizados em espécie,
m e d i a n t e a s i m p l e s a s s i n a t u r a ou rubrica em um
documento informal, destinado apenas ao controle
interno de Marcos Valerio, q u e , o b v i a m e n t e ,
n e c e s s i t a v a d e alguma comprovação m a t e r i a l d o
pagamento e f e t u a d o .
Segundo d e p o i m e n t o do e x T e s o u r e i r o d o
Banco R u r a l em ~ r a s i l i a ~ , r e s p o n s á v e l p e l a e n t r e g a da
m a i o r i a d o s r e c u r s o s d i s p o n i b i l i z a d o s n e s t a c a p i t a l
f e d e r a l , a f r e q u ê n c i a d e pagamentos d e d i n h e i r o em
e s p é c i e e r a b a s t a n t e a l t a e , quando i n d a g a d o s o b r e os
b e n e f i c i á r i o s d e s s e s r e c u r s o s , e s c l a r e c e u o s e g u i n t e :
"Que, em geral , eram pessoas simples, que não trajavam
ternos e que se dirigiam ao depoente dizendo o
seguinte 'vim pegar uma encomenda ' . " ( . . . )
J o s e F r a n c i s c o Rego, demi t ido do Banco R u r a l e m 2 0 0 4 .
9 1
@- &&&& Inq 2.245 / MG
0 1 1 8 6 7
Esse esquema de lavagem, praticado
rei teradamente durante mais de dois anos,
caracterizou-se pela sua estrutura simples, mas
eficiente, possibilitando a total dissimulação do
destino final do dinheiro, deixando apenas alguns
vestígios materiais dos repasses, em razão da
necessidade de Marcos Valério resguardar-se, por meio
dos e-mails e fac-símiles ( . . . ) .
Ainda de acordo com a acusação, os dirigentes do Banco
Rural (JOSÉ AUGUSTO DUMONT, Vice-presidente falecido; JOSÉ
ROBERTO SALGADO, Vice-presidente Operacional; AYANNA TENÓRIO,
Vice-presidente; VINÍCIUS SAMARANE, Diretor Estatutário; e KÁTIA
RABELLO, Presidente) eram responsáveis pelo Comitê de Prevenção
a Lavagem de Dinheiro e pelas áreas de compliance,
contabilidade, jurídica e tecnológica da instituição financeira.
Com isto, eles teriam "estabelecido mecanismos de
operacionalização dos vultosos pagamentos em espécie às pessoas
indicadas por Marcos Valério, de forma a possibilitar a não
identificação dos efetivos beneficiários, bem como burlar a
legislação e normas infralegais, que estabelecem a necessidade
de identificação e comunicação às autoridades competentes de
operações com indicativos de lavagem de dinheiro".
Conclui a denúncia:
Os dirigentes do Banco Rural, denunciados,
viabilizaram, juntamente com Marcos Valerio e seu
grupo, mecanismos e estratagemas para omitir o
&+&mo
Inq 2.245 / MG
0 1 1 8 6 8
regis t ro no SISBA(=EN dos verdadeiros
beneficiários/sacadores de recursos das contas da
SMP&B Comunicação Ltda. , situação plenamente conhecida pelos mesmos, e permitiram que cheques emitidos,
nominais e endossados pela SMP&B, em poder da agência
do Banco Rural em Belo Horizonte, fossem sacados nas
agências de Brasi l ia , São Paulo ou Rio de Janeiro,
infringindo, deliberadamente, a s normas que
estabelecem procedimentos para a comunicação ao BACEN
de operações suspeitas.
Assim, e tendo em vista a suposta "parceria"
estabelecida desde 1998 entre o denominado "núcleo" Marcos
Valério e o Banco Rural, o Procurador-Geral da República conclui
pela existência de dolo por parte dos dirigentes do Banco Rural,
no sentido do cometimento do crime de lavagem, uma vez que
"tinham consciência de que os recursos movimentados a mando do
núcleo Marcos Valério eram oriundos de uma organização voltada
para o cometimento de crimes contra a Administração Pública".
Passo a análise sobre a presença ou não de indícios da
prática de lavagem de dinheiro pelos ora denunciados.
Inicio pelos denunciados do denominado "núcleo
publicitário".
MARCOS VUÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ,
Em primeiro lugar, o Laudo de Exame Contábil no
3058/2005-INC, de 29 de novembro de 2005 (v. apenso 51, vol. 2,
@-.-Na&& Inq 2.245 / MG
fls. 192/212), dá notícia da ocultação e dissimulação de
movimento de valores, promovida pela emissão de inúmeras notas
fiscais frias pelas empresas SMP&B Comunicação Ltda. e pela DNA
Propaganda Ltda. Estas notas fiscais falsas tiveram a finalidade
de dar suporte ao recebimento de recursos de empresas como o
Banco do Brasil, a Eletronorte e, também, advindos do Ministério
dos Transportes, aparentemente simulando a prestação de serviços
para estes órgãos, sendo relevante notar que membros tanto do
Banco do Brasil quanto do Ministério dos Transportes foram
denunciados pelo Procurador-Geral da República em outros
capítulos da denúncia (111 - peculato; VI1 - lavagem).
Pois bem.
De acordo com os peritos contábeis, a empresa SMP&B
emitiu notas fiscais que já haviam sido canceladas pelo órgão
fiscal correspondente, em um número minimo de 2497 (duas mil
quatrocentas e noventa e sete), conforme se lê as fls. 147 do
volume 2 do Apenso 51
Conclui, ainda, o laudo 3058/2005 que foram impressas
80.000 (oitenta mil) notas fiscais falsas no período analisado
(V. Apenso 51, vol. 2, fl. 211).
Ademais, segundo consta do Laudo, a contabilidade das
empresas deste "núcleo publicitário" foi alterada de maneira
substancial (v. fls. 210). "Observou-se, por amostragem,
quantidade significativa de cheques de valores superiores a R$
~ ~ & ~ ~ & I n q 2.245 / MG
011870
10.000,OO ( d e z m i l r e a i s ) , d e b i t a d o s na c o n t a 60022414, a g ê n c i a
9 , b a n c o 453 (Banco R u r a l ) , q u e n ã o e s t a v a d e v i d a m e n t e
r e g i s t r a d a na c o n t a b i l i d a d e da empresa DNA"
T a i s c h e q u e s , e m i t i d o s e n t r e 19 d e a g o s t o d e 2003 e 19
d e se tembro d e 2004, e s t ã o e l e n c a d o s à s f l s . 198/199,
t o t a l i z a n d o R$ 4.552.677,89 ( g u a t r o m i l h õ e s qu inhen to s e
c inq i i en ta e d o i s m i l s e i s c e n t o s e s e t e n t a e sete r e a i s e o i t e n t a
e nove c e n t a v o s ) não r e g i s t r a d o s na c o n t a b i l i d a d e d a empresa.
Mais que i s s o , d e s t a c a o Laudo n o 3058/2005-INC:
Além d i s s o , ao a n a l i s a r o i t e m 66 d o s
documen tos apreendidos na s e d e da DNA, e n c o n t r o u - s e a
4= v i a da n o t a f i s c a l - f a t u r a no 037402, emi t ida em
13/02/04 p e l a DNA, CNPJ 17 .397 .076 /0003-67 ( f i l i a l R i o
A c i m a ) , no v a l o r d e R$ 35.000.000,00 [TRINTA E CINCO
MILHÕES DE R E A I S ] , cons tando como sacado a r=SMP (Anexo
I , f l s . 3 5 ) . ( . . . ) O h l s t ó r l c o d e s t e lançamento i n d i c a
q u e o v a l o r t o t a l da n o t a f i s c a l - f a t u r a f o i
cons iderado como r e c e i t a d e p r e s t a ç ã o d e s e r v i ç o s .
No e n t a n t o , o Demonstrat ivo d e Resu l t ado d o
E x e r c í c i o (DRE) - de 2004 ( f l s . 4464 d o l i v r o D i á r i o n o
3 7 , vo lume 1 2 ) . r e g l s t r a um mon tan t e anual d e r e c e i t a
b r u t a d e R$ 22.679.370,26, v a l o r b a s t a n t e i n f e r i o r a
e s s a n o t a f i s c a l - f a t u r a no 037402, mencionada n o
parágra fo a n t e r i o r .
Fa to s l m i l a r f o i verificado com o u t r a n o t a
f i s c a l - f a t u r a , d e n o 039179 , e m l t i d a em 1 3 / 0 5 / 0 4 , n o
v a l o r d e R$ 9.097.024,75, que também apre sen ta como
Inq 2.245 / MG
sacado a CBMP, escriturada no livro Diário n o 37, fls.
1554 e 1767.
Esses fatos demonstram que o DRE
[Demonstrativo de Resultado do Exercício] foi
elaborado em desacordo com a escrituração. E, ainda,
cabe ressaltar que, em testes realizados pela perícia,
o sistema contábil utilizado (Enterprise-Microuni)
permitiu, a critério do usuário, selecionar as contas
gue iriam compor o demonstrativo.
Ou seja, senhora Presidente, os peritos atestaram que
o sistema contábil utilizado na contabilidade da SMPLB e da DNA
permitia o uso de artificios fraudulentos no registro das
receitas e despesas destas empresas.
Tudo isto indica que, muito provavelmente, vultosas
quantias movimentadas pelas empresas do chamado "núcleo Marcos
Valério", e aparentemente utilizadas no suposto esquema
criminoso narrado na denúncia, tiveram sua origem ocultada ou
dissimulada, através da não escrituração ou de sua escrituração
com base em notas fiscais falsas, impedindo, assim, que se
descobrisse, além de sua origem, também sua movimentação,
localização e propriedade, que são elementos do tipo do art. l 0
da Lei de Lavagem de Capitais.
De acordo com os peritos criminais que subscreveram o
laudo em comento, havia duas escriturações contábeis (original e
retificadora) para a mesma pessoa jurídica, num mesmo periodo de
Inq 2.245 / MG
referência (anos de 2003 e 2004, ou seja, o período em que os
supostos ilícitos teriam sido praticados), sendo que os valores
registrados em cada uma eram significativamente diferentes,
conforme se nota no item 35, letra a (fls. 200/201, apenso 51).
A título ilustrativo, enquanto na contabilidade
original o ativo total era de R$ 5.874.975,08 (cinco milhões
oitocentos e setenta e quatro mil novecentos e setenta e cinco
reais e oito centavos) em 31/12/03, na contabilidade
retificadora o ativo total escriturado totalizava nada mais,
nada menos, que R$ 53.204.539,57 (cinquenta e três milhões
duzentos e quatro mil quinhentos e trinta e nove reais e
cinquenta e sete centavos), para aquela mesma data.
O laudo se debruça, ainda, sobre os alegados
"contratos de mútuo" entre as empresas do grupo.
Aliás, abro aqui um parêntese para salientar que,
dentre os "mutuantes" e "mutuários" destes supostos "contratos",
estão a "Lanza Tolentino e Associados Ltda." e a "Rogério Lanza
Tolentino" .
Portanto, diferentemente do que assinalei no capitulo
anterior, em que apreciamos os crimes de peculato e corrupção
ativa, desde já firmo posição de que este dado - participação
aparente das empresas de TOLENTINO nos fatos supostamente
típicos - afasta, a meu ver, ao menos neste momento de judicium
accusationis, a possibilidade de se acolher o argumento contido
cg&kmw &&&4 Inq 2.245 / MG
iill8'7.2
na resposta escrita do denunciado ROGÉRIO LANZA TOLENTINO, no
sentido de que não é sócio das empresas de Marcos Valério (SMP&B
Comunicação Ltda.; DNA Propaganda Ltda e Graffiti Participações
Ltda) .
Como também salientei anteriormente, MARCOS VALÉRIO é
sócio de ROGÉRIO TOLENTINO na LANZA TOLENTINO e ASSOCIADOS, que
presta serviços de advocacia para a SMP&B.
Além disso, assinalo que, como é óbvio, não é só a
qualidade de sócio de MARCOS VALÉRIO que justifica a denúncia de
ROGÉRIO TOLENTINO, mas sim o envolvimento, em tese, também de
suas empresas (ROGÉRIO LANZA TOLENTINO e 2 s PARTICIPAÇ~ES) nos
supostos repasses ilegais de recursos a parlamentares, o
denominado "mensalão", objeto do capítulo VI da denúncia, que
veremos oportunamente.
Prossigo, então, no raciocínio
Esses contratos de mútuo, de que participou, dentre
outros, o acusado ROGÉRIO LANZA TOLENTINO, e celebrados entre
empresas consideradas como sendo do mesmo grupo, teriam sido
manipulados, de acordo com as considerações dos peritos.
Destacam os laudos que os denominados "mútuos" não estavam
escriturados na contabilidade original, e que houve simulação na
preparação dos documentos de suporte dos referidos contratos.
Aliás, como veremos em um importante depoimento do ex-
Superintendente de Compliance do Banco Rural, qualquer entrada
Inq 2 . 2 4 5 / MG
de recursos pode ser justificada através de sua classificação
como "empréstimo".
Assim, nota-se claramente a existência de fortes
indicios de ocultação e dissimulação do movimento de valores,
supostamente praticadas pelos denunciados ligados as empresas de
VALÉRIO e TOLENTINO.
Outros indicios se somam as conclusões do Laudo de
Exame Contábil.
Em primeiro lugar, um dos depoimentos do acusado
MARCOS VALÉRIO especificamente aquele acostado as fls. 355/360
(volume 21, prestado ao Departamento de Policia Federal, é
bastante esclarecedor:
"Os saques de valores destinados a
terceiros eram efetuados diretamente na agência
Assembléia do Banco Rural em Belo Horizonte/MG, sempre
mediante cheque nominal à s empresas SMP&B e DNA,
endossados no verso, com prévia comunicação ao Banco
de que haveria o saque em espécie. Igual procedimento
era adotado no caso de recebimento do numerário nas
demais agências. ( . . . I Os saques variavam de valores e
diversos eram os beneficiários indicados por De1 úbio.
O vaior t o t a l dos empréstimos ao PT [quase quarenta
milhões de rea is ] foi transferido em dinheiro na forma
indicada ou mediante pagamento por cheque nominal - a s
empresas apontadas por Delúbio. A soma dessas
transferências por saque nas agências e aquelas por
cheque nominal [a SMP&B] corresponde ao valor
H&&& Inq 2 .245 / MG
aproximado dos empréstimos, em torno de quarenta
milhões de rea is . ( . . . ) As declarações agora prestadas
retif icam a s afirmações do dec larante perante a
Pol íc ia Federal, no sentido de que os saques de
valores em dinheiro destinavam-se exclusivamente ao
pagamento de fornecedores, aplicação em at ivos ou
dis t r ibuição de lucros ent re sócios."
Ou s e j a , MARCOS V A L É R I O negou que os saques de valores
em dinheiro s e destinassem exclusivamente ao pagamento de
fornecedores, que f o i alegado por muitos dos acusados de
corrupção passiva, como veremos oportunamente.
Outro depoimento muito re l evan te do acusado MARCOS
V A L É R I O é o de f l s . 727 /735 (volume 3 dos a u t o s ) . C i t o os
t r echos per t inen tes ( a p a r t i r de f l s . 7 3 1 ) :
( . . . ) no que se r e f e r e aos empréstimos
contraídos em b e n e f i c i o do P T , a s informações que l h e
foram detalhadamente repassadas por Delúblo Soares
eram no s e n t i d o de que esse dinheiro não entrar ia na
contabilidade o f i c i a l do part ido e, portanto, ele,
Delúbio Soares, indicar ia ao declarante os
dest inatár ios de parcelas do montante t o t a l ( . . . ) que,
como os par t idos d e s t i n a t á r i o s dos recursos também não
contabilizaram essas dívidas, os recursos tinham que . ,
s e entregues em espécie, Ja que a movimentação no
sistema financeiro deixaria um regis t ro de operações
gue não tinham sido contabilizadas; que, desta forma,
surgiu a sistemática de saques das contas do
declarante e repasses, em dinheiro, à s pessoas
@&?&mo fl&&& Inq 2 .245 / MG
011876
indicados por Delúbio Soares, ou mesmo trans ferência a
fornecedores pelo mesmo indicados;".
Ora, o acusado confessa a ocultação do movimento das
vu l tosas quantias que alimentavam, em t e s e e nos termos da
denúncia, o suposto esquema criminoso de corrupção de
parlamentares.
MARCOS VALÉRIO d i z mais , no mesmo depoimento:
"Que, quanto a origem dos empréstimos, o
dec larante e sc larece que t e v e conhecimentos que, por
ocasião das suas t r a t a t i v a s para obtenção dos mesmos
jun to ao BMG e Rural , Delúbio Soares l h e informou que
JOSÉ DIRCEU t e v e reuniões com os d i r i g e n t e s de ambos
os bancos; que, a reunião com d i r igen t e s do Banco
Rural ocorreu no Hotel Ourominas, em Belo Horizonte,
num jantar, e a outra reunião, com a Diretoria do
Banco BMG, ocorreu em Brasil ia/DF; que, no primeiro
semes t r e , o declarante acompanhou as Diretorias de
ambos os bancos em audiências o f i c i a i s com o então
Ministro José Dirceu ( . . . ) ; que, indagado sobre o
empréstimo a ex esposa do ex-Ministro José Dirceu,
chamada Ângela, o depoente confirmou que e fe t ivamente
houve o empréstimo do Banco Rural e a coiocaçâo com
emprego no Banco BMG; que, o dec larante f o i procurado
por S í l v i o Pereira para a u x i l i a r o e x Minis t ro José
Dirceu na resolução de um problema pessoal com sua ex
esposa, que pretendia t rocar de apartamento e não
t inha recursos f inanceiros; que, des ta forma, foi conseguido o empréstimo e o emprego, e , também, o
sócio do declarante, ROGÉRIO TOLENTINO, para reso lver
Inq 2 .245 / MG
o problema, j á que o c r é d i t o i m o b i l i á r i o dependia do
pagamento de recursos em d inhe i ro , comprou o
apartamento da S ra . Ânge la , pagou a v i s t a e dec la rou a
a q u i s i ç ã o n o seu i m p o s t o d e renda; ( . . . ) que, sobre o
documento i n t i t u l a d o "Relação de pe s soas i n d i c a d a s
p e l o PT que receberam recursos emprestados a o PT",
pres ta os segu in te s esc larec imentos: Waldemar Costa
Neto /Jac in to Lamas: Delúbio Soares l h e repassou o nome
de ambos, i n c l u s i v e t e l e f o n e de conta to , para
t rans fe rênc ia de recursos , primeiramente para a
empresa GUARANHUNS EMPREENDIMENTOS, I N T E R M E D I A Ç ~ E S E
PARTICIPAÇÕEs S/C, conforme indicado na p lani lha
apresentada, e , num segundo momento, na modalidade de
saques r e a l i z a d o s na agênc ia d o Banco Rural em
B r a s i l i a , ou por SIMONE VAÇCONCELOS, ou p e l o s p r ó p r i o s
d e s t i n a t á r i o s d o s r e c u r s o s ; que, e s c l a r e c e que, n a
época, f o i f e i t o um c o n t r a t o entre a SMP&B e a empresa
GUdWiWüNS, para j u s t i f i c a r a s s a í d a s d e r e c u r s o s ,
embora a c o n t a b i l i z a ç ã o da empresa tenha s i d o f e i t a
como emprés t imos a o PT; que, f o i JACINTO LAMAS quem
apresentou o nome da GUARANHUNS como sendo
d e s t l n a t á r l a desses recursos f lnance lros; ( . . . ) esc larece que a s i s t e m á t i c a adotada em con jun to com a
d i r e ç ã o d o Banco Rural para f a c i l i t a r a s
t r a n s f e r ê n c i a s dos r e c u r s o s f o i a i n d i c a ç ã o , por
r e p r e s e n t a n t e s da SMP&B, por fdx ou e -ma i l , a o s
f u n c i o n á r i o s da agênc ia d o Banco Rural em B e l o
Hor i zon t e , do número d o cheque, v a l o r e pessoa que
i r i a l e v a n t a r os r e c u r s o s , uma v e z que se t ra tavam d e
cheques nomina is a SMP&B, endossados n o s e u v e r s o
( . . . ) ; que, em algumas s i tuações , somente em B r a s í l i a ,
R+ fl&&& Inq 2 .245 / MG
011878
a gerente SIMONE comparecia a agência do Banco R u r a l e
entregava pessoalmente o s recursos ou deixava o s
v a l o r e s separados na agência à d i spos ição dos
b e n e f i c i á r i o s ( . . . ) .
Ainda, a acusada SIMONE VASCONCELOS, Diretora
Financeira d a SMP&B, quando questionada acerca da razão pela
qual os saques e repasses de d inhe i ro para t e r c e i r o s eram f e i t o s
a través de cheques nominais a SMP&B, e não aos r e a i s
b e n e f i c i á r i o s daqueles v a l o r e s , respondeu o seguin te ( f l s .
593/595 , volume 3 ) :
"Que, mesmo sendo Diretora Financeira da
SMP&B, desconhece a natureza de vár las autorizações de
pagamento, bem como o d e s t i n a t á r i o , de cheques
emi t idos pe la SMP&B, po i s apenas seguia ordens d e
MARCOS vT~RIo; ( . . . ) Que o s cheques des t inados a
ZILMAR -ES DA SILVEIRA eram emi t idos
nominalmente à SMP&B e endossados pe la mesma; Que - t a l
procedimento seguia determinação de MARCOS VALÉRIO;
( . . . ) Que realmente f o l a responsável pelos
lançamentos g r á f i c o s cons tantes no verso do documento
de f l s . 4 4 do Apenso 5 dos au tos , a exceção dos nomes
VANDERVAL e C É L I O ; ( . . . ) Que, em 2004, MARCOS vALÉRIo
passou a o r i e n t a r a dec larante que r e a l i z a s s e
depós i tos na conta da empresa BOiVü.5 &9NVAL, d e va lores
que seriam des t inados ao P T ; ( . . . ) Que MARCOS vALÉRIo
também or ien tou a dec larante a e f e t u a r t r a n s f e r ê n c i a s
e depós i tos para a conta da GUARANHUNS
EMPREENDIMENTOS, I-DIAÇÕES E PARTICIPAÇ~ES S / C
LTDA; ( . . . ) Que acred l ta que todos o s va lores sacados
I n q 2 .245 / MG
em seu nome e que foram e n t r e g u e s a t e r c e i r o s , bem
como o s d e p ó s i t o s n a s c o n t a s das empresas BÔNUS BANVAL
e G U . S r e f e r e m - s e a o s emprés t imos f e i t o s p o r
MARCOS VALÉRIO j u n t o a i n s t i t u i ç õ e s b a n c á r i a s e que
eram d e s t i n a d o s a o P a r t i d o dos Trabalhadores; ( . . . ) Que, da mesma forma, todos os va lores repassados pe las
empresas de MARCOS VALÉRIO, conforme re la tado , t lveram
or igem nos emprés t imos r e a l i z a d o s j u n t o a o s bancos BMG
e Rura l ; ( . . . ) I r .
O acusado JACINTO LAMAS t rouxe outras contr ibuições
para as inves t igações , corroborando os termos d a denúncia ( f l s .
"Que recebeu uma l i g a ç ã o d e SIMONE
VASCONCELOS; Que SIMONE f a l o u para o DECLARANTE que
e s t a v a com a encomenda que DELÚBIO h a v i a ped ido para
e n t r e g a r a o Deputado VALDEMAR COSTA NETO; ( . . . ) Que,
sa lvo engano, SIMONE VASCONCELOS combinou a e n t r e g a d o
dinheiro em um hotel; Que, pe lo que se recorda, - o
h o t e l onde r ecebeu p e l a p r ime i ra v e z v a l o r e s d e SIMONE
foi o Kubitschesk P laza ; Que, após receber l i gação de
SIMONE, d l r l g l u - s e ao l o c a l do encontro para receber a
encomenda; Que, ao chegar no h o t e l , f o i d i r e tamen te
para o apartamento onde SIMONE e s t a v a hospedada; Que - o
DECLARANTE e n t r o u n o q u a r t o e recebeu d e suas mãos um
enve lope d e pape l pardo grande, contendo em s eu
i n t e r i o r uma q u a n t i a em d i n h e i r o ; ( . . . ) Que SIMONE
apenas f a l o u que aque la encomenda e r a d o D r . DELÚBIO
SOARES para o Deputado VALDEMAR COSTA NETO; Que SIMONE
estava sozlnha no h o t e l ; ( . . . ) Que após p r i m e i r o saque,
ocorrldo provavelmente em junho d e 2003, recebeu
H&&& Inq 2 .245 / MG 011880
o u t r o s chamados de SIMONE para receber v a l o r e s em
e s p é c i e ; Que a entrega de v a l o r e s por SIMONE não t i n h a
nenhuma regular idade d e data; ( . . . ) Q u e , s a l v o e n g a n o ,
se encontrou com SIMONE duas o u t r a s vezes, no h o t e l
MERCURE, para receber v a l o r e s em dinheiro, c o n f o r m e
o r l e n t a ç á o d o Deputado F e d e r a l VALDEMAR COSTA NETO;
Que, e s s a s d u a s o u t r a s e n t r e g a s foram r e a l ~ z a d a s
s e g u i n d o o mesmo procedimento já r e l a t a d o , ou s e j a , g
DECLARANTE receb ia l i g a ç õ e s t e l e f õ n i c a s , pr imeiro do
Deputado VALDEMAR COSTA NETO, a v l s a n d o da i m l n ê n c l a da
e n t r e g a d o s valores, e , em seguida, de SIMONE
VASCONCELOS, informando o horár io e o l o c a l da entrega
do d inhe i ro ; ( . . . ) Que, da mesma forma, entregou os
d o i s saques d ire tamente para o Deputado Federal
VALDEMAR COSTA NETO, em encontros ocorridos em sua
r e s i d ê n c i a ; . . . ) . . . ) Que em uma oportunidade recebeu
v a l o r e s de SIMONE na sede da SMP&B em Brasil ia/DF,
l o c a l i z a d a no E d i f í c i o da Confederação Nacional do
Comércio - CNC, no S e t o r Bancário N o r t e ; Que pode ter
recebido uma segunda v e z v a l o r e s na sede da SMP&B em
Brasil ia/DF; ( . . . ) p o d e t e r recebido l i g a ç õ e s de
MARCOS VALÉRIO informando que SIMONE já es tava em
~ r a s i l i a / D F para lhe procurar; ( . . . ) Q u e , s a l v o
e n g a n o , em três ou quatro v i s i t a s que f e z à sede da
SMP&B em Belo Horizonte , recebeu de empregados de
MARCOS MRIO envelopes contendo documentos a serem
entregues ao Deputado Federal VALDEMAR COSTA NETO em
São Paulo/SP; Que n ã o s a b e d l z e r d o que se t r a t a v a m
t a l s d o c u m e n t o s ; ( . . . ) ".
Inq 2 .245 / MG
Assim, há, também aí, indícios de ocultação e
dissimulação da movimentação e propriedade de valores,
supostamente arquitetadas pelo núcleo publicitário, juntamente
com o Banco ~ u r a l ~ , que teria viabilizado os repasses de grande
volume de dinheiro, em espécie, sem qualquer tipo de registro
formal .
Examino a situação especifica do denunciado ROGÉRIO
LANZA TOLENTINO.
Embora, como já assinalei anteriormente, o acusado
ROGÉRIO LANZA TOLENTINO negue, em sua resposta escrita, que seja
sócio de MARCOS VALÉRIO e, com isto, busque afastar os indícios
de sua participação nos crimes objeto da denúncia, este fato não
é relevante. Assinalo, apenas para registro, que o acusado
MARCOS VALÉRIO, em inúmeros depoimentos (como o lido acima),
contradiz esta afirmação. Confira-se, por exemplo, o depoimento
de fls. 1454/1465, do qual retiro o seguinte trecho:
Que [JOSÉ] JANENE afirmou ao DECLARANTE que
gostaria que os recursos a serem repassados em nome do
Partido dos Trabalhadores para o Partido Popular
fossem encaminhados para a corretora BÔNUS BANVAL;
( . . . ) Que os recursos encaminhados à BONUS BANVAL
partiram das contas das empresas 2s PARTICIPAÇÕES
LTDA. E ROGÉRIO LÃNZA TOLENTINO ASSOCULDOS; Que a
TOLENTINO ASSOCIADOS transferiu para a BÔNUS BANVAL o
Cuja participação será analisada a seguir.
106
@-&&&a Inq 2.245 / MG
0 11 8 8 2
total de R$ 3.460.850,OO (três milhões quatrocentos e
sessenta mil oitocentos e cinquenta reais) . . .
Como já salientei, ROGÉRIO TOLENTINO era, de fato,
advogado da SMPSB, através da empresa LANZA TOLENTINO &
ASSOCIADOS, da qual MARCOS &RIO também é sócio, mas isto é
irrelevante para efeitos de recebimento da denúncia, ante os
indicios acima apontados. Assim, deixa de ser importante o fato
de o acusado não ser sócio efetivo da SMPSB.
Com relação aos demais denunciados do denominado
"núcleo publicitário", os depoimentos de fls. 631/633; 655/657;
752/754; 818/820; 838/840; 992/994; 1030/1032; 1440/1443;
1619/1620; 1622/1624; 1675/1677; 1686/1691; 1693/1696;
1698/1700; e 2022/2023, também trazem indicios da prática do
crime de lavagem de dinheiro pelos acusados, tendo em vista que
os depoentes - a maioria formada por pessoas de baixa condição
financeira - confirmam ter recebido elevado valor em espécie nas
agências do Banco Rural, sendo que este valor seria destinado a
outras pessoas, sem que o "sacador" soubesse, necessariamente,
quem seria o destinatário final do dinheiro.
Assim, por exemplo:
- Benoni Nascimento de Moura, motorista da Bônus
Banval (fls. 655/657);
- Aureo Marcato, "office bof da Bônus Bonval, sem
carteira assinada (fls. 818/820);
@+&&&& Inq 2.245 / MG 011883
- Francisco de Assis Novaes Santos, garçom (fls.
838/840) ;
- Luiz Eduardo Ferreira da Silva, mensageiro;
- Luiz Carlos da Costa Lara, policial civil,
supostamente usado por GEISA DIAS (fls. 1030/1032);
- Júlio Cesar Marques Cassao, empregado da DNA
PROPAGANDA LTDA (fls. 1619/1620);
- Wagner Valter Monteiro, empregado da DNA PROPAGANDA
LTDA. (fls. 1622/1624);
- David Rodrigues Alves, inspetor da Polícia Civil do
Estado de Minas Gerais, que afirma ter efetuado saques no valor
de duzentos mil a trezentos mil reais, a pedido de SIMONE
VASCONCELOS e, principalmente, GEISA DIAS, a quem, geralmente,
entregava os valores recebidos na agência do Banco Rural (fls.
1693/1696) ;
- Alessandro Ferreira dos Santos, "office bof da
SMP&B (fls. 1698/1700);
- Wildeu Gleidson Castro Silva, vendedor de peixes
(fls. 2022/2023) .
Estas e outras pessoas foram incumbidas, seja por
GEISA DIAS, por SIMONE VASCONCELOS, por RAMON HOLLERBACH (v.
fls. 1441, depoimento de Aluísio Espírito Santo - volume 6 dos
autos), por CRISTIANO PAZ (v. fls. 1694, depoimento de David
Rodrigues Alves - volume 8 dos autos), ou por seus subordinados,
R- 8 Z k b d & & Inq 2 .245 / MG 011884
de se dirigirem a uma agência do Banco Rural e sacar elevadas
quantias em espécie, para destinação por eles desconhecida.
Por esta razão, Sra. Presidente, meu voto é no sentido
do recebimento da denúncia contra os acusados MARCOS VALÉRIO,
ROGÉRIO TOLENTINO, RAMON HOLLERBAH, CRISTIANO PAZ, SIMONE
VASCONCELOS e GEISA DIAS, tendo em vista a descrição dos fatos,
sua obediência ao art. 41 do Código de Processo Penal e a
existência de justa causa para tanto.
Relativamente ao denominado "núcleo financeiro" da
suposta quadrilha, temos alguns dados muito importantes que
corroboram o teor da inicial acusatória.
É de se observar, em primeiro lugar, que os saques
eram feitos, em geral, através de cheques nominais a SMPLB.
Entretanto, os valores eram entregues a outras pessoas, e não a
SMPLB (que, como nominada, era a única que poderia sacá-lo).
É, portanto, patente a completa irregularidade da
transação. Ou seja, o Banco Rural permitia o saque, POR
TERCEIROS, de cheques nominais a SMPLB. Este não é, obviamente,
o procedimento legalmente previsto para o saque de um cheque
nominal !
Inq 2.245 / MG
Assim, de acordo com o afirmado pelo Parquet na
denúncia, o Banco Rural tinha conhecimento de quem era o
verdadeiro sacador, bem como em nome de quem aquelas pessoas
sacavam - ou seja, os denunciados conheciam o beneficiário final dos recursos sacados na "boca do caixa" das contas de Marcos
Valério. E esta assertiva se comprova com os e-mails enviados
por GEISA Dias, informando quem era, de fato, a pessoa que iria
sacar/rec&er o dinheiro, e por quem recebia.
Ao contrário, porém, o Banco Rural registrava, em
acordo com o núcleo de Marcos Valério, que o valor havia sido
sacado pela própria SMP&B e que os recursos sacados se
destinavam ao 'pagamento de fornecedores'. Ora, fi.ca claro que
se pretendeu, ao menos em tese, dissimular a localização,
propriedade e movimentação de valores provenientes,
supostamente, de crimes praticados por organização criminosa.
Isto porque, em vez de se fazer uma transferência bancária ou um
DOC, ou, no mínimo, lançar, no anverso do cheque, o verdadeiro
sacador, portador do cheque nominal (cheque este que, portanto,
deveria estar nominal .a ele, sacador) , lançava-se o nome da
própria SMPhB, fazendo parecer que os valores, em espécie,
entregues pelo Banco Rural se destinavam, efetivamente, à
agência de publicidade. Este o conceito de dissimulação (fazer
parecer), que é elemento do tipo de lavagem de dinheiro.
d$kSeW NU&& Inq 2 .245 / MG
011886
Apenas para exemplificar com um dos casos narrados
pelo Parquet, o procedimento foi adotado pelo Banco Rural, em
acordo com MARCOS VALÉRIO e seus sócios aqui denunciados, na
ocasião em que JOÃO CLÁUDIO GENU, assessor do líder do PP na
Câmara, sacou 300 mil reais, em espécie, na agência de Brasilia
do Banco Rural, ocasião em que a instituição registrou, na opção
PCAF 500 do Sisbacen, que a sacadora havia sido a SMPhB
Comunicação Ltda., beneficiária "oficial" do cheque, na agência
de Belo Horizonte, e que tinha por fim o 'pagamento de
fornecedores'. Tais informações constam do Relatório de Análise
no 191/2006, elaborado pela Divisão de Pesquisa, Análise e
Informação da Procuradoria da República no Distrito Federal
(apenso no 81).
Este teria sido, portanto, o modus operandi utilizado
pelo grupo de MARCOS VALÉRIO e pelo Banco Rural para omitir do
Banco Central a identificação dos verdadeiros
beneficiários/sacadores de recursos, permitindo que terceiros
recebessem os valores sacados através de cheques nominais à
SMP&B (o suposto valerioduto) .
Aliás, no que tange a suposta responsabilidade do
Banco Rural pela concepção desse mecanismo de lavagem narrado
pelo Procurador-Geral da República, é interessante ler a
entrevista concedida por CARLOS GODINHO, ex-Superintendente de
@e NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
011887 ~ o m ~ l i a n c e ' do Banco Rural ( f l s . 3368/3373, volume 1 5 ) , à Revista
Época (Edição 391 - Nov/05) , em reportagem i n t i t u l a d a " A caixa-
preta do Rural", v e r b i s :
Desde que apareceu como a casa do mensalão,
o Banco Rural alega t e r se envolvido com o PT e Marcos
Va lér io por i n i c i a t i v a exclusiva de seu ex-vice-
presidente José Augusto Dumont, fa lec ido no ano
passado. Dumont era realmente amigo de Va lér io e por
meio de le se aproximou de Delúbio Soares, então
t e soure i ro do par t ido . H á f o r t e s s i n a i s , no entanto,
de que o esquema não foi coisa só de Dumont.
Documentos obt idos por ÉPOCA e o depoimento do ex-
superintendente do Rural Carlos Godinho mostram que,
mesmo após a morte do executivo, toda a d i r e to r ia do
banco continuou encenando a farsa dos empréstimos - e
ninguém desconhecia que tudo era mesmo uma enorme
farsa .
( . . . I
Carlos Godinho, 52 anos, 17 no R u r a l ,
ocupava uma posição de confiança no banco. Como
superintendente de compliance, área que cuida do
cumprimento das regras do banco, t inha acesso às
informações mais importantes da i n s t i t u i ç ã o . Seu
depoimento não é prova, mas o ferece elementos novos à
invest igação dos supostos empréstimos f e i t o s ao PT e à
' Setor de "controle interno" da Instituição Financeira, em que se busca adequar suas atividades as leis e a regulamentos internos e externos, bem como assegurar a observância a princípios éticos e normas de conduta. Dentre outras medidas, a área de Compliance é responsável pelo fomento a cultura de Prevenção a Lavagem de Dinheiro, através de treinamentos específicos. V. Resolução na 2.554/98, do Banco Central do Brasil, que impôs a criação do setor de controle interno nas Instituições Financeiras. Sobre o tema: http://www.abbi.com.br/funcaodecom.~liance.h:iiil.
@e fl&&& Inq 2.245 / MG
011888
SMP&B, de MARCOS VALÉRIO. A segu i r , trechos de quatro
e n t r e v i s t a s que e l e concedeu na semana passada.
ÉPOCA - Os empréstimos do Banco R u r a l para
o PT e para a agêncla SMP&B de Marcos Va lér io , foram
f a j u t o s ?
Carlos Godinho - É f o r t e f a l a r I S S O , mas
e l e s não são uma prát lca normal de mercado. Na conta
da SMP&B entrava d i n h e i r o , mas o Marcos V a l é r i o não
l iqu idava os empréstimos. É s u s p e i t o . No caso do PT, é
o a v a l de duas pessoas que não têm patrlmônio para
garant i r a operação (o ex- tesoure iro do partido
Delúbio Soares e o ex-presidente José Genoino).
ÉPOCA - O senhor acha que esses empréstimos
foram feitos para não ser pagos?
Godlnho - Com c e r t e z a . São empréstimos para
mascarar a entrada de recursos que vinham d e o u t r a s
formas. Você j u s t i f i c a qualquer recurso que en t rou v i a
emprés timo. Não era para pagar.
ÉPOCA - Se era tudo tão e s q u i s i t o , por que
o senhor não av isou? Sua função era essa .
Godinho - Minha função era manter a
i n s t i t u i ç ã o l i v r e dos r i s c o s operacionais , de imagem e
l e g a i s . A d i r e t o r i a f o i a l e r tada . Mas, como a prát ica
do Rural era manter um relacionamento com os c l i e n t e s ,
e l e s não deram ~mpor tânc la . No caso da SMP&B,
alertamos também para a movimentação d e l a , que es tava
fora dos padrões e t i n h a i n d í c i o s de lavagem de
d inhe i ro em função dos cons tan tes saques em espéc ie .
@i&zk?.w &a&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
ÉPOCA - Q u a i s eram os i n d í c i o s d e l avagem
d e d i n h e i r o ?
Godinho - O Banco Rural tem um processo
informatizado que, se você movimentar dez vezes mais
que seu faturamento médio mensal, aponta i s s o para a
área d e compliance. O que a gente faz? Pega esse
r e l a t ó r i o , manda para o d i r e t o r e o v ice-pres idente ,
dizendo que aquele cliente ultrapassou a movimentação
dele. No caso, a S M P & B , em 2003 e 2004, todo mês
acontecia i s s o . E n t ã o , a gente encaminhava para a
d i r e t o r i a dizendo que o cliente estava com i n d í c i o s d e
lavagem d e dinheiro. E nenhuma providência f o i tomada.
ÉPOCA - Quem v o c ê s a l e r t a r a m ?
Godinho - T a n t o o J o s é A u g u s t o Dumont como
o José Roberto Salgado, a Ayanna Tenório, todos os
v ice-pres identes tomaram ciência dessa movimentação.
ÉPOCA - Em v á r l a s ocasiões, a a tual
d i r e t o r i a do Rural a t r i b u i u o e n v o l v l m e n t o com Marcos
V a l é r l o e com o PT ao fa lec ido vice-presidente do
banco José Augusto Dumont...
Godlnho - I s s o f o i uma coisa que nos
i r r i t o u profundamente. É fa l sa essa afirmação. Esses
empréstimos venciam d e 90 em 90 d ias e , depois da
morte do José Augusto, foram renovados com ciência do
comitê d e créd i to , dos v ice-pres identes e , i n c l u s i v e ,
da pres idente .
Inq 2 . 2 4 5 / MG
ÉPOCA - O R u r a l sempre deu a entender que
K á t i a Rabello (pres iden te do banco) estava por fora
d i s s o tudo. E l a autorizou a rolagem dos empréstimos?
Godinho - Autorizou. Tem um dos empréstimos
em que ela votou eletronicamente, com sua senha
pessoal. Isso é prova do conhecimento. Então é o
segu in te : o José Augusto não é o v i l ã o da h l s t ó r l a .
ÉPOCA - Quem é o v l l ã o ?
Godinho - O v i l ã o é o sistema que se
mantinha no Rural, que pactuou com as operações do PT
e do Marcos Valério em troca de favores, lobbies,
recursos ao Banco Central, a Órgãos fiscalizadores e
negócios que beneficiaram o Rural nestes anos.
ÉPOCA - O s a l e r t a s que o senhor fa z ia eram
por e s c r i t o ou eram verba i s?
Godinho - A gente t inha boletins de
conrpliance, em que a gente alertava por escrito. Assim
que o primeiro fo i impresso, emitido e assinado, - foi
dada ordem para não fazer mais, para comunicar ao
diretor verbalmente.
ÉPOCA - Mandaram não f a z e r m a i s b o l e t i n s ?
Godinho - Mandaram não fazer nos casos da
SMP&B e do PT. Não deixaram colocar nos r e l a t ó r i o s a s
irregularidades de movimentações acima dos padrões, de
r i s c o de c r é d i t o em função de cons tantes renovações. É
que esses documentos ficam a disposição do Banco
Central. Então, mandaram t i r a r para o Banco Central
não ter acesso.
~~ &&&& Inq 2 .245 / MG
ÉPOCA - Quando f o i i s s o ?
Godinho - De 2003 a 2005 não se colocou
nada das i r regu lar idades . Não podia colocar. A gente
colocava, mas na ed ição f i n a l eram de le tadas . E a
gente era obrigado a ass inar o r e l a t ó r i o modificado.
Tinha de ass inar daquela forma, já v inha da d i r e t o r i a
a versão f i n a l para ser assinada.
ÉPOCA - Quem o senhor avlsava sobre os
r l s c o s dos empréstnnos ?
Godlnho - O V i n i c i u s Samarane, que era meu
imedia to , diretor e s t a t u t á r i o . O José Roberto Salgado.
I n c l u s i v e ele era o responsável pe la prevenção à
lavagem de d inhe i ro no banco na época do José Augusto
Dumont. Depois da entrada da Ayanna, ele s a i u e - e l a
passou a ser a responsável - e também era avisada das
i r regu lar idades . O Banco Central teve conhecimento de
todas a s renovações.
ÉPOCA - Como?
Godinho - Nós temos de mandar todo mês um
arquivo para a Central de Risco do Banco Central de
todos os empréstimos, e l á f a l a " i s s o é renovação". No
caso do PT e da SMP&B, você informava todos os meses
ao Banco Central os empréstimos tomados, o saldo
devedor e se era empréstimo novo ou renovação. O Banco
Central t inha conhecimento da constância com que o PT
e a SMP&B f a z i a m reformas de empréstimos. Toda a
movimentação f o i para o Coaf, mas e l e s não olham. Se
olham, e x i s t e um lobby muito f o r t e em cima d i s s o .
R* Inq 2 .245 / MG
ÉPOCA - Eles tinham obrigação de saber ou é
tanta informação que e l e s não conseguem examinar tudo?
Godinho - E l e s fazem um moni toramento , a
função d e l e s é min imi zar o r i s c o do mercado
f i n a n c e i r o . Um d o s m o t i v o s d e c r i a r a Cen t ra l d e R i s c o
f o i jus tamente mon i to rar o s bancos e p r i n c i p a l m e n t e
e s s a rolagem d e dívidas.
Ve ja - se , também, t recho do depoimento de JACINTO SOUZA
LAMAS, que revelou t e r recebido valores diretamente das mãos de
S I M O N E VASCONCELOS num primeiro momento, e , depois , t e r passado
a sacar os va lores na agência do Banco Rural em Bras i l ia ( f l s .
6 1 2 ) :
"Que , sa lvo engano, se encon trou com SIMONE
duas o u t r a s v e z e s , n o hotel MERCüRE, para receber
v a l o r e s em dinheiro, conforme or ien taçáo do Deputado
Federal VALDEMAR COSTA NETO; Que, essas duas outras
entregas foram rea l i zadas seguindo o mesmo
procedimento lá re la tado , ou s e j a , o DELCARANTE
r e c e b i a l i g a ç õ e s t e l e f ô n i c a s , p r ime i ro do Deputado
VALDEMAR COSTA NETO, avisando da iminência da entrega
dos va lores , e , em s egu ida , d e SIMONE VASCONCELOS,
in formando o h o r á r i o e o l o c a l da e n t r e g a d o d i n h e i r o ;
( . . . ) Que, da mesma forma, en t r egou o s d o i s saques
d i r e t a m e n t e para o Deputado Federal VALDEMAR COSTA
NETO, em encon t ro s o c o r r i d o s em sua r e s i d ê n c i a ; Que,
p o s t e r i o r m e n t e , o procedimento mudou, quando o
d e c l a r a n t e passou a b u s c a r o documento encaminhado p o r
DELÚBIO SOARES na Agência B r a s i l i a d o Banco Rura l ; Que
& $ fl&&& Inq 2.245 / MG
se encontrou duas vezes com SIMONE na agência Brasilia
do Banco Rural, tendo recebido de suas mãos os pacotes
com quantias de dinheiro; Que algumas vezes SIMONE
deixava anotações na agência Brasília do Banco Rural,
com autorizações para que o DECLARANTE efetuasse o
saque dos valores; Que todo o dinheiro recebido na
Agência Brasilia do Banco Rural também foi repassado
diretamente para o Deputado VALDEMAR COSTA NETO;
( . . . ) " .
Assim, pode-se perceber que há indícios de
participação do Banco Rural nos fatos objeto da acusação.
Os acusados negam todas as acusações e reclamam da
ausência de uma individualização detalhada da conduta de cada um
na prática dos supostos crimes de lavagem de dinheiro. Fica a
pergunta: quem, então, estaria envolvido nos ilícitos
supostamente praticados no interior das agências do Banco Rural?
Para respondê-la, ao menos neste momento inicial, em que somente
se exige um minimo de prova, é necessária a leitura de trecho do
depoimento prestado nos autos do inquérito por CARLOS ROBERTO
SANCHES GODINHO, no qual fica claro que os empresários do Banco
Rural denunciados pelo PGR eram responsáveis diretos pela área
de Prevenção a Lavagem de Dinheiro, bem como que possivelmente
tiveram responsabilidade direta na estruturação e funcionamento
deste suposto esquema de lavagem.
fzgikwm &zU&& Inq 2.245 / MG
A importância d e s t e depoimento e s t á no f a t o de que o
depoente se tornou dissidente da estrutura do Banco Rural, no
momento em que notou que as operaçces suspeitas de lavagem de
dinheiro realizadas pela SMP&B e pelo PT não estavam sendo
incluídas nos relatórios enviados ao BACEN pela administração
superior do Banco, aqui denunciada.
Vejamos, en tão , o s esclarecimentos de CARLOS GODINHO
acerca da part ic ipação dos denunciados nos f a t o s o b j e t o do
presente i n q u é r i t o (v. denúncia, f l s . 5 6 9 1 , v o l . 27 e , ainda,
apenso 8 4 , onde e s t á acostada a in t egra do depoimento) :
' . . . ) Que, durante a s apurações da CPI do
"PC F a r i a s " , o Banco R u r a l d e f i n i u a criação de uma
aud i tor ia m a i s dinâmica e automa t i z a d a , razão pela
qual o depoente f o i convidado para ocupar a respec t iva
Superintendência, e por s e r também uma pessoa de
confiança do D r . Sabino Rabel lo , então Presidente;
( . . . ) Que atuava hierarquicamente vinculado a um
Diretor Estatutário, que, na época, era o Sr. José
Augusto Dumont; Que, t ranscorr ido e s s e periodo, o
depoente retornou à área de in formát i ca , onde
permaneceu a t é o ano de 2001, ocasião em que f o i
d e f i n i t i v a m e n t e t r a n s f e r i d o para a área de compliance;
Que, na época, o Dire tor E s t a t u t á r i o dessa área era o
S r . João Heraldo L i m a , que era subordinado ao V ice -
Presidente José Augusto Dumont, e , a partir de 2004, o
depoente, enquanto Superintendente de Compliance,
estava diretamente subordinado ao Diretor Estatutário
Vinicius Samarane; ( . . . ) Que o Diretor Es ta tu tár io de
&gk%w fla&& Inq 2.245 / MG
0 1 1 5 9 5
Controles In t e rnos , V i n í c i u s Samarane, e n c o n t r a v a -se
s u b o r d i n a d o à V i c e - P r e s i d ê n c i a d e A p o i o O p e r a c i o n a l , q u e era ocupada p e l a S r a . Ayanna Tenório; Q u e , a t é o
f a l e c i m e n t o d o V i c e - p r e s i d e n t e J o s é A u g u s t o Dumont,
t o d o s os Diretores E s t a t u t á r i o s eram s u b o r d i n a d o s à
V i c e - P r e s i d ê n c i a E x e c u t i v a ; Q u e , a p ó s o f a l e c i m e n t o ,
no ano de 2004, foram cr iadas duas Vice-Pres idênc ias ,
uma operacíonal e a o u t r a de apoio operacional; Que
t o d a a á r e a c o m e r c i a l e i n t e r n a c i o n a l f i c o u
s u b o r d i n a d a a o S r . José Roberto Salgado, V i c e -
P r e s i d e n t e da Área O p e r a c i o n a l , que também ocupava a
Pres idênc ia do Comitê de Prevenção à Lavagem de
D i n h e i r o , onde permaneceu desde a cr iação desse
Comitê, no ano de 2002, a t é o a n o , d e 2004, quando f o i
s u b s t i t u í d o p e l o Dire tor V i n i c i u s Samarane; Que a
o u t r a V i c e - P r e s i d ê n c i a , ocupada p e l a S r a . Ayanna
Tenório, de t inha o poder sobre a s Di re tor ias d e
Compliance, Contabi l idade, Jur id i co e Tecnologia,
sendo também responsável jun to ao Banco Central pe la
prevenção ao crime de lavagem de d i n h e i r o e i l i c i t o s
f i nance i ros ; Q u e , acima das Vice-Presidências ,
encontra-se a Presidência d o Banco, ocupada pe la Sra.
Kát ia Rabel lo desde 2001; ( . . . ) Que o C o m i t ê d e
Prevenção à Lavagem d e D i n h e i r o tem a f u n ç ã o d e
d e f i n i r a s p o l í t i c a s e d i r e t r i z e s e a n a l i s a r os casos
de i n d í c i o s de lavagem . . Q u e , com o ingresso de
V i n i c i u s Samarane na Presidência do Comitê, e s t e órgão
perdeu um pouco a sua dinâmica, v e z que o própr io
Di re tor d e Compliance e s tava respondendo p e l o Órgão
encarregado da prevenção à lavagem; Q u e , havendo
i n d í c i o de lavagem de d inhe i ro , a palavra f i n a l sobre
@e NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
os procedimentos a serem adotados é a do D i r e t o r
Responsável pe la C i rcu lar BACEN 2852; Que e s s e
Di re tor , quando de seu i n g r e s s o , e ra José Roberto
Salgado, s u b s t i t u í d o , em 2 0 0 4 , pe la Sra. Ayanna; Que o
S r . Ájax, enquanto a c i o n i s t a e membro do Conselho de
Administração, não t inha poder qerencial maior do que
a famí l ia do S r . Sabino, p r i n c i p a l a c i o n i s t a do Banco,
in tegrada p e l o mesmo e p e l a s suas f i l h a s , Júnia e
Kátia; Que, embora a Vice-Presidência sempre tenha
desempenhado poder admin i s t ra t i vo e qerenc ia l do
Banco, a ú l t ima palavra sempre competiu ao Pres idente;
Que a função de compliance é a de manter a
conformidade dos procedimentos do banco com a
l e g i s l a ç ã o e normativos ex t e rnos e i n t e r n o s ; Que,
sendo um banco de negócios com um número l i m i t a d o de
c l i e n t e s , há uma maior f a c i l i d a d e para v e r i f i c a ç ã o de
i r regu lar idades e i n c o n s i s t ê n c i a s nos procedimentos
adotados pe los c l i e n t e s ; Que a função do depoente não
era a de f i s c a l i z a r , m a s s i m de recomendar a
regular ização da ocorrência; Que, para t a n t o , f o i
cr iado um instrumento para f a c i l i t a r o t rabalho
denominado 'programa de compliance' , c o n s t i t u í d o de um
código de é t i c a do banco, p o l í t i c a de "conheça seu
c l i e n t e " , procedimentos de prevenção a lavagem de
d i n h e i r o , tre inamento para todos o s funcionários sobre
a Le i 9.613/98; ( . . . ) Que a p o l i t i c a de "conheça seu
c l i e n t e " f o i implantada em 2002, com a cr iação do
r e l a t ó r i o "conheça seu cliente", que apresentava
i n d í c i o s dos clientes que movimentavam dez e quinze
v e z e s o seu faturamento mensal . . . Que e s s a s
ocorrênc ias geravam um r e l a t ó r i o automático, chamado
@+ fl&d*s& Inq 2 .245 / MG
"conheça seu cliente", que e ra encaminhado à Dire tor ia
E s t a t u t á r i a (Operacional e Dire tor responsáve l ,
segundo a C i rcu lar 2852) para j u s t i f i c a r se se t r a t a v a
de i n d i c i o d e lavagem; Que a s providências adotadas
pela Dlreção do Banco não eram de conhecimento do
depoente; Que e s s e r e l a t ó r i o cont inha campos para a
ind icação da j u s t i f i c a t i v a referente à ocorrência
levantada p e l o s i s t ema , permanecendo arquivado no
Banco, à dispos ição do BACEN e de outros órgãos, pe lo
período de cinco anos; Que a s j u s t i f i c a t i v a s devem ser
assinadas p e l o s r e s p e c t i v o s Di re tores , a quem compete
comunicar o f a t o ao Banco Centra l nas s i tuações que
entenderem c a b í v e i s ; Que esse r e l a t ó r i o era
apresentado mensalmente, havendo c l i e n t e s que
apareciam todo mês; Que a empresa SMPfiB aparecia
constantemente no r e f e r i d o r e l a t ó r i o , i n c l u s i v e a
p a r t i r do ano de 2003, ass im como a empresa G r a f f i t i ,
cu ja aparição pode a f i rmar ter ocorr ido ao menos uma
v e z ; ( . . . ) Que, pela Resolução Bacen 2554, o banco é - obrigado a elaborar um r e l a t ó r i o semestral de
con t ro les i n t e r n o s e de compliance, que é encaminhado
ao Conselho de Administração e assinado pe los seus
membros ( ) ; Que esse documento r e l a t a a s
i r regu lar idades encontrados p e l o compliance,
a u d i t o r i a , i n s p e t o r i a e c o n t r o l e s i n t e r n o s , suas
recomendações para adoção de prov idências bem como o
prazo e o setor responsável para regu lar i zar a
s i tuação; Que a s informações referentes à s operações
(empréstimos, movimentação, saques em espéc ie )
r e a l i z a d a s pe lo PT e SMP&B nunca foram i n s e r i d a s nesse
r e l a t ó r i o ; Que esse r e l a t ó r i o não e ra gerado
automaticamente pe lo sistema desenvolvido pelo
depoente, mas s im elaborado pe los responsáveis de
compliance, audi tor ia i n t e rna e in spe to r ia , sendo
assinado pelos respec t i vos Superintendentes e pelo
Diretor de Controles Internos e Compliance, com a
c iência de todo o conselho d e Administração; Q u e o
primeiro r e l a t ó r i o f o i elaborado a p a r t i r do ano de
2003 - não obs tan te a Resolução 2554 d a t a r do ano de
1998 - em razão de so l i c i t ação do Banco Central , após
real ização de inspeção globalizada; Que, nesse período
foram elaborados s e i s relatórios semes t ra i s , sendo
que, como no ú l t imo não apontava a s irregularidades
r e l a t i v a s a SMPB e ao P T , o depoente se recusou a
assiná-lo; Que esse ú l t imo r e l a t ó r i o data d e 30 de
junho de 2005; Que, nos demais, também não constaram
a s irregularidades das operações da SMPB e do PT, que
foram iden t i f i cadas nos r e l a t ó r i o s de compliance, mas
o depoente se v i u compelido a ass inar para garantir o
seu emprego; Que o depoente , em razão da sua função no
banco, era o responsável pela elaboração da versão
i n i c i a l desse r e l a t ó r i o semes tra l ; Que faz ia constar
todas a s irregularidades apuradas pelo compliance,
audi tor ia in terna e inspe tor ia ; Que esse r e l a t ó r i o
seguia para o s seus superiores, a saber, João Heraldo
L i m a e , poster lormente , V in i c iu s Samarane, retomando
a versão f i n a l , já assinada pelos superiores, com o
nome do depoente e demais superintendentes para
ass inatura , sem aqueles apontamentos d e
irregularidades in ic ia lmente regis trados; Que, ao
observar que o documento com a ú l t i m a versão já
retornava a suas mãos assinado, i n c l u s i v e pelos
& g B a & & Inq 2 .245 / MG
membros do Conselho de Administração, o depoente
entendeu não l h e r e s t a r outra a l t e r n a t i v a senão
a s s i n a r o documento; Que, por ocasião da elaboração do
ú l t imo r e l a t ó r i o , como o s f a to s j á estavam muito
expostos na d d i a , o depoente se recusou a ass iná- lo ,
sendo s inal izado que o compliance ser ia t e rce i r i zado - e
gue o depoente s e r ia convidado a deixar o banco v i a
PDV; Que o depoente comunicou a recusa em ass inar o - r e l a t ó r i o ao Diretor V i n i c i u s , o que ocasionou a
subs t i tu ição do r e f e r i d o documento, com a supressão do
campo dest inado à assinatura do Superintendente de
Compliance; Que, logo após, o Diretor V in i c iu s lhe
comunicou que o s s e to re s de Compliance e Auditoria
Interna seriam terce i r i zados , o que se comprovou com a
publicação do balanço em agosto de 2005; Que o
depoente entrou no PDV em agosto e saiu em setembro;
Que a única pessoa com autorização para i n t e r a g i r com
o Conselho de Administração era o Diretor V in i c iu s
Samarane, que também era responsável pela Secre tar ia -
Gera1 do Banco; ( . . . ) que outro relatório, elaborado
pela Inspe tor ia , é de responsabi l idade do s e t o r de
moni toramen t o , responsável por informar ao Banco
Central o s saques e depósi tos em espécie acima d e 100
mil r e a i s , bem como o s c l i e n t e s que apresentavam
movimentação com i n d í c i o s de lavagem d e dinheiro; Que
a Inspetor ia , depois de de tec tar os i n d í c i o s ,
s o l i c i t a v a autorização ao Diretor responsável pela
prevenção à lavagem de d inheiro para informar ao Banco
Central; Que, indagado, e sc larece que o grande
problema f o i o de não seguir a s normas de compliance,
notadamente quanto à ausência de segregação; Que, 5
, Inq 2 . 2 4 5 / MG
p a r t i r de agos to de 2003, o depoente se recorda d e ter
observado movimentações fora dos padrões por p a r t e da
empresa SMPB, o que r e s t o u constatado por ambos os
r e l a t ó r i o s c r iados pe la sua Superintendência; Que os
r e l a t ó r i o s " conheça s e u c l i e n t e " e "movimentação acima
d o s padrões" eram g e r a d o s m e n s a l m e n t e na
S u p e r i n t e n d ê n c i a d e I n s p e t o r i a , que os apresentava ao
Diretor responsável pe la prevenção à lavagem de
d i n h e i r o ( . . . ) Que a V ice -pres iden te Ayanna n ã o
i n t e g r a v a o C o m i t ê C e n t r a l d e C r é d i t o , m a s , como
responsável pe la prevenção a lavagem d e dinheiro, não
podia a l egar que desconhecia a a t i p i c i d a d e das
movimentações acima do padrão; ( . . . ) Q u e , ~ n d a g a d o
sobre os i n d í c i o s de lavagem de d i n h e i r o nas operações
envolvendo Marcos V a l é r i o , o d e p o e n t e e s c l a r e c e q u e o s
mesmos d e c o r r e m da express i va movimentação de c r é d i t o
v i a t r a n s f e r ê n c i a e l e t r õ n i c a - TED, d o s empréstimos
concedidos e não l iqu idados ou amortizados e d o
excesso de saque em e s p é c i e , c a r a c t e r i z a n d o uma
p r á t i c a que, pe la l e g i s l a ç ã o , conf igura i n d í c i o de
lavagem de d inhe i ro ; Que, por tan to , conforme determina
a p a
ser informadas ao Banco Central como i n d í c i o de
lavagem de d inhe i ro ; Que o Banco R u r a l , a o a l e g a r ter
" i n f o r m a d o a o COAF" a s o p e r a ç õ e s em comen to ,
con t emp lava a p e n a s o s s a q u e s aclma d e 100 m i l r e a i s ,
c o n t r a r i a n d o o q u e d e t e r m i n a a L e i n . 9 . 613 ; Q u e , na
área i n t e r n a c i o n a l , não havia a tuação da
Superintendência de Compliance, da Superintendência de
Inspe tor ia ou de a u d i t o r i a i n t e r n a , sob alegação de
t u t e l a do s i g i l o bancário r e l a t i v o à i n s t i t u i ç ã o
Inq 2 .245 / MG
f inance i ra no e s t r a n g e i r o ; Que o S r . José Roberto
Salgado, a t u a l Vice-Pres idente , acumula a função de
d i r e t o r da Área In ternacional ( inc lu indo o câmbio), e ,
a t é 2004, também acumulava a função responsável pe la
prevenção à lavagem d e d inhe i ro ; Que a S r a . A y a ~ a
Tenório f o i contratada logo após a morte do D r . José
Auqusto Dumont, assumindo, de uma v e z , o cargo de
Vice-Pres idente de Apoio Operacional e a função de
responsável pe la prevenção à lavagem de dinheiro,
sucedendo o Vice-Pres idente José Roberto Salgado; Que
o depoente não tem conhecimento de que a Sra. A y a ~ a
t i n h a exper iênc ia na área bancár ia , tampouco em
procedimentos de prevenção à lavagem de d inhe i ro ; Que,
ao s e r convidado a i ngressar no PDV, sob pena de
desligamento sumário do banco, o depoente f i cou numa
s i tuação de d i f í c i l colocação no mercado, em razão da
desmoralização da área de compliance do Banco Rural e
das indicações da t e r c e i r i z a ç ã o da r e f e r i d a área ; Que
ou t ra razão que l e v o u o depoente a tornar públ icos o s
f a t o s narrados f o i a preocupação com eventual
imputação à área de compliance, p e l o Banco Rural , de
responsabi l idade pe las i r regu lar idades ( . . . ) ".
Ora, os d i r i g e n t e s do Banco Rural denunciados n e s t e s
autos t inham, como afirmado no depoimento supra,
responsabi l idade d i r e t a pela gestão da i n s t i t u i ç ã o f inance i ra ,
i n c l u s i v e no que concerne ao Comitê de Prevenção a Lavagem de
Dinheiro e pelas áreas de compliance, contabi l idade , jur ídica e
tecnológica ( o s denunciados são Presidente [Kát ia R a b e l l o ] ,
V ice-Pres idente [José Roberto Salgado] e Dire tores de Compliance
R- fl&&& Inq 2.245 / MG
[Ayanna Tenório] .e do Comitê de Prevenção a Lavagem [Vinicius
Samarane]).
Assim, não pode ser acolhida a alegação da defesa no
sentido de que não houve individualização detalhada da conduta
de cada um dos denunciados do Banco Rural.
No caso em questão, a acusação dirigida contra todos
se justifica em razão da evidente responsabilidade conjunta dos
gestores no sentido de prevenir a prática de lavagem, não sendo
possível narrar os atos individuais praticados por cada um.
Além disso, o depoimento de GODINHO demonstra que há
indícios de que os dirigentes do Banco Rural não apenas deixaram
de comunicar ao Banco Central as operaçoes suspeitas realizadas
pelos denunciados do núcleo MARCOS VALÉRIO, mas também, teriam
viabilizado e idealizado o suposto mecanismo para as ocultações
e dissimulações da movimentação e propriedade de vultosas
quantias em espéciee, em aparente união de desígnios com a
suposta organização criminosa, objeto da acusação.
Veja-se que, embora os acusados procurem atribuir a
responsabilidade por todas as irregularidades ao falecido José
Augusto Dumont, há indícios que corroboram a denúncia. Assim, em
primeiro lugar, cito pequeno trecho do depoimento da acusada
KÁTIA RABELLO perante o Conselho de Ética, no qual ela afirma
Cuja localização e propriedade, como sabemos, é impossível se não houver um registro bancário formal.
Inq 2.245 / MG
t e r participado de encontros com o denunciado JOSÉ DIRCEU, na
época Ministro da Casa Civil, no ano d e 2003, inclusive quando
José Augusto Dumont ainda era vivo - e sem a participação deste
último (Apenso 81) :
O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - A senhora
esteve também aqui na Casa C i v i l com o S r . José
Dirceu, então Ministro?
A SRA. KÁTIA RABELLO - sim.
O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - Quando foi?
A SRA. K Á T I A RABELLO - Essa data também eu
não tenho certeza. É 2003 , eu sei que é 2003, porque o
Z é Augusto estava v i vo , no segundo semestre de 2003.
O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - Agora, pelo
que eu entendi , o S r . Marcos Va lér io também part ic ipou
dessa reunião.
A SRA. KÁTIA RABELLO - E l e part icipou.
O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - Em que
condição ?
A SRA. KÁTIA RABELLO - Na condição de
acompanhante do banco.
&-NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - Acompanhante
do Banco Rural?
A SRA. KÁTIA RABELLO - D o Banco Rural. É,
e l e f o i um convidado nosso, já que t inha s i d o e l e o
f a c i l i t a d o r do encontro.
O SR . DEPUTADO CHICO ALENCAR - E s s e s e g u n d o
encontro, se n ã o m e e n g a n o , é um j a n t a r em B e l o
Horizonte com o M i n i s t r o ?
A SRA. KÁTIA RABELLO - S i m .
O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - Também f o i
agendado pe lo S r . Marcos Valér io? Foi e l e quem falou
da poss ib i l idade que o Ministro e s t a r i a em Belo
Horizonte? Foi o Sr . Marcos Valério?
A SRA. KÁTIA RABELLO - sim.
O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - A í , e l e n ã o
c o m p a r e c e u a esse j a n t a r ?
A SRA. KÁTIA RABELLO - Não c o m p a r e c e u .
O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - @em eram os
par t i c ipan tes?
Re8-&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
A SRA. KÁTIA RABELLO - É r a m o s e u , o
Min i s t ro e um d i r e t o r meu. ( . . . )
O SR. DEPUTADO JÚLIO DELGADO - V . s a .
poderia p r e c i s a r a data d e s s e jantar?
A SRA. KÁTIA RABELLO - E s s a e u posso: 6 d e
a g o s t o . Eu sei porque e r a a n i v e r s á r i o d o m e u f i l h o .
O S R . DEPUTADO JÚLIO DELGADO - S e i s d e
a g o s t o d e . . . ?
A SRA. KÁTIA RABELLO - De 2004.
O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - O s encontros
com o ex - t e soure i ro do Par t ido dos Trabalhadores,
Delúbio Soares, foram três ou quatro encontros . A
senhora também t e r i a condições depois de prec i sar
quando ocorreram?
A SRA. KÁTIA RABELLO - Não tenho a menor
condição porque, como eu disse, não eram encontros
formais, como o s com o Deputado. Eram encontros
absolutamente i n f o r m a i s . ( . . . ) E l e p a s s a v a p e l o b a n c o ,
t a l v e z m a r c a s s e com o Z é A u g u s t o , e a i me ligavam:
"Olha, podemos i r à sua sala?". A q u e l a s c o i s a s , n ã o é.
Para tomar um c a f é , en f im .
&e fl&&& Inq 2 .245 / MG d, 1 L 3 G 6
O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - O Z é Augusto
ainda era v i v o .
A SRA. K Á T I A RABELLO - Era v i v o . E depois
houve algumas ve ze s , também, m a s sempre n e s s a . . . Em
uma in formal idade . Por i s s o é muito d i f í c i l de eu
p r e c i s a r .
O S R . DEPUTADO CHICO ALENCAR - E qual era o
assunto fundamental des ses encontros?
A SRA. K Á T I A RABELLO - Olha, era tudo muito
rápido , mui to breve , era m a i s um cumprimentar, "e s tou
passando aqui por Belo Horizonte , vim cumprimentá-la".
Mas e l e , em algum momento, que eu não s e i exatamente
prec isar a data , confirmou que o dinheiro emprestado à :
SMP6B t e r i a s i do repassado para qu i tar d ív idas do
par t ido .
Em outro t r echo de seu depoimento, na mesma sessão do
Conselho de É t i ca , a Presidente do Banco Rural respondeu às
questões r e f e r e n t e s aos saques v u l t o s o s que eram real i zados nas
agências de B r a s i l i a e Belo Horizonte (v. Apenso 8 1 ) :
O S R . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - S r .
Pres idente , nobre Rela t o r , S r s . Conselheiros , eminente
Min i s t ro , que ora exerce aqui a de fensor ia da
depoente , i l u s t r e depoente, S r a . Kátia Rabello. V . S a .
fa lou super f i c ia lmen te sobre a questão dos saques
ocorr idos . E , por também i n t e g r a r a CPI dos Correios ,
na condição de Sub-Rela t o r , o que nós ver i f icamos l á é
&+&%- &&#& I n q 2 .245 / MG
011907 q u e eram 3 a s m o d a l i d a d e s e x i s t e n t e s . Numa d e l a s , a
SMP&B [emitia] c h e q u e para a p r ó r p i a SMP&B, a s s i n a v a
a t r á s , e n d o s s a v a , s a c a v a n o p r ó p r i o Banco d e Minas
G e r a i s . A segunda m o d a l i d a d e , s a b e - s e l á p o r q u a l
r a z ã o , o p o r t a d o r d e s s e c h e q u e v i n h a s a c á - l o a q u i e m
B r a s i l i a , porém f i c a v a r e g i s t r a d o como s a i n d o d o c a i x a
d e B e l o H o r i z o n t e . Mas t e r i a uma t e r c e i r a m o d a l i d a d e ,
q u e é a q u e l a na q u a l o b a n c o d e B e l o H o r i z o n t e
a u t o r i z a v a o c h e q u e a q u i . Não h a v i a a q u e s t ã o d o
c h e q u e a q u i . O c h e q u e e r a a u t o r i z a d o para o s a q u e
a q u i , e , p o r t a n t o , e r a c o n t a b i l i z a d o n o c a i x a d a q u i ,
que eram a q u e l a s h i p ó t e s e s e m q u e a S imone v i n h a s a c a r
o s v a l o r e s a q u i . E n t ã o , s ã o e s s a s 3 m o d a l i d a d e s ?
A SRA. K Á T I A RABELLO - Não s o u a m e l h o r
p e s s o a para r e s p o n d e r i s s o , e p e ç o d e s c u l p a s , mas me
parece que s im . E a o u t r a modalidade é que o saque e r a
e f e t u a d o l á , mas o d i n h e i r o e r a r e c e b i d o a q u i , a t r a v é s
d e uma t r a n s f e r ê n c i a i n t e r a g ê n c i a s , não é?
O S R . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - É
e x a t a m e n t e e s t a , a t e r c e i r a e n t ã o . ( . . . ) Nes ta s
operações i n t e r c a s a s , o s saques m u i t a s v e z e s eram
v u l t o s o s , chegavam à q u a n t i a d e 650 mil r e a i s num
ú n i c o saque. E s s e t i p o d e operação não chamava a
a t enção d o Banco Rura l , uma v e z que q u a l q u e r
mov imen tação acima d e 100 m i l , o p r ó p r i o COAF t e m d e
ser i n f o r m a d o ? Mas, independentemente da missáo d o
COAF e do Banco C e n t r a l , e n q u a n t o a g e n t e s
f i s c a l i z a d o r e s , o p r ó p r i o Banco Rural não v i a d e uma
forma d i f e r e n c i a d a um saque na boca d o c a i x a em
Brasilia, por exemplo, como esse de 650 mil reais,
onde foi solicitado um carro-forte?
A SRA. KÁTIA RABELLO - ( . . . ) esse cliente,
como outros clientes, ,ele t e m um comportamento, e o
estudo das áreas que são, v a m o s d i z e r , responsáveis
por essa área do banco, e l e é f e i to muito de acordo
com o comportamento. E x i s t e uma p r i m e i r a p r e o c u p a ç ã o ,
q u e é a o r i g e m d o d inheiro , p o r q u e , n a v e r d a d e , a
l a v a g e m do d i n h e i r o se d á n a o r i g e m , n ã o é ? ( . . . ) Na
h o r a em q u e o dinheiro e n t r a n a i n s t i t u i ç ã o
f i n a n c e i r a , d i g a m o s . E n t ã o , nosso cliente t inha uma
origem conhecida, que eram os . . . Todo mundo já sabe,
os contratos. . .
O SR . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - C o n t r a t o s
p ú b l i c o s e p r i v a d o s .
A SRA. K Á T I A RABELLO - . . . o próprio
empréstimo do banco. Então, o banco conhecia e sabia
que o cliente tinha origem e capacidade financeira.
Então, i sso já, vamos dizer, não colocava tanto em
evidência ou tanta preocupação sobre a movimentação. E
o o u t r o p o n t o ~ m p o r t a n t e - e que gerou também algumas
discussões até entre nós - é o t r a t a m e n t o . Q u a n d o você
u s a , d e n t r o desse m e i o , a p a l a v r a " n o r m a l " , a i a l g u é m
f a l a a s s l m : " N o s s a ! Mas n ã o é n o r m a l I S S O " , é p o r q u e o
n o r m a l , n o c a s o , e l e o b e d e c e a uma n o r m a . E os saques
em dinheiro, eles vêm, se você olhar na documentação,
eles vêm, desde 2000, 2001, obedecendo a uma norma.
Eles têm um certo padrão. Normalmente, é i sso que é
@- B&&& I n q 2 .245 / MG
011909 olhado , que é observado. Se você tem um c l i e n t e , por
exemplo, que movimenta l á , que saca em d inhe i ro , s e i
l á , 200 m i l . . .
O S R . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - Com
frequência ?
A SRA. KÁTIA RABELLO - . . . e um b e l o dia e l e
v a i e saca 5 , en f im , a i você t e v e uma quebra da norma.
E é i s s o que chama a atenção. E , n o caso d e s s a s
empresas, e x i s t i a uma normal idade nesse s e n t i d o , d e
m u i t o s anos .
O S R . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - Na verdade,
n a quebra d o s i g i l o b a n c á r i o d o S r . Marcos V a l é r i o e
das empresas d e l e , na ve rdade , não se v e r i f i c o u , a n t e s
d e 2002, saques na boca do c a i x a em v a l o r e l e vado . É - apenas após 2003. Por I S S O que eu d lgo que - é uma
inovação . Não v inha com uma c e r t a normal idade, saques
d e 200, saques d e 300, saques d e 400. Não e r a a r e g r a .
Mui to p e l o c o n t r á r i o . E l a s e l n l c l o u , t a l v e z não s e j a
também d o seu conhecimento . . .
A SRA. KÁTIA RABELLO - É... -
O S R . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - . . . mas e l a
se i n i c i o u e f e t i vamen te a p a r t i r de 2003.
A SRA. KÁTIA RABELLO - A informação que eu
tenho é que os saques aconteciam em va lores menores,
e , de cer ta forma, vamos d i z e r , es tariam expl icados
I n q 2 .245 / MG
p e l o p r ó p r i o aumen to da mov imen tação . Ou s e j a , e r a uma
empresa que t i n h a menos or igem n o passado, o s saques
eram c o m p a t í v e i s com aque la o r igem menor, com aque la
movimentação menor. A medida que a movimentação v a i
aumentando, o volume dos saques vão aumentando. É isso
que eu me lembro d e ter visto.
( . . . )
V e j a - s e , a i n d a , o d e p o i m e n t o p r e s t a d o p e l o a c u s a d o
JACINTO SOUZA LAMAS ( f l s . 612 , vo lume 3 ) :
Que a l g u m a s v e z e s SIMONE de i xava ano tações
na agênc ia B r a s í l i a d o Banco R u r a l , com a u t o r i z a ç õ e s
para que o DECLAR?NTE e f e t u a s s e o saque dos v a l o r e s ;
Que t o d o o dinheiro r e c e b i d o na Agência B r a s i l i a d o
Banco Rural também f o i repassado d i r e tamen te para o
Deputado VALDEMAi? COSTA NETO; Que também e f e t u o u
a lguns r eceb imen to s n a agênc ia B r a s i l i a d o Banco
Rura l , com b a s e em a u t o r i z a ç õ e s que eram encaminhadas
p e l a Agência d o Banco Rural d e B e l o Horizonte/MG; Q u e ,
mesmo nesses c a s o s , a inda r e c e b i a t e l e f onema d e SIMONE
informando a d i s p o n i b i l i d a d e dos r e c u r s o s na Agência
B r a s í l i a d o Banco Rura l ; Q u e , d e s s a forma, comparecia
na Agência do Banco Rura l , r e c e b i a o d i n h e i r o e
a s s i n a v a um r e c i b o i n f o r m a l ; Que apenas f a z i a uma
r u b r i c a , s e n d o q u e a lgumas v e z e s q u e l h e fo l e x l g l d a
a p r e s e n t a ç ã o d e documento d e i d e n t i d a d e ; Que esse
r e c i b o i n f o r m a l e r a uma t i r a d e p a p e l com a l g u n s
m a n u s c r i t o s e c a r i m b o s ; Q u e , após c e r t o tempo, f i c o u
conhecido d o s empregados da Agênc ia , que não m a i s lhe
ex ig iam apre sen tação d e documento d e i d e n t i d a d e ; ( . . . )
Que o i r m ã o d o DECLARANTE, d e nome ANTÔNIO DE PÁDUA DE
I n q 2 .245 / MG
SOUZA LAMAS, também recebeu v a l o r e s da Agência
B r a s i l i a d o Banco R u r a l , a ped ido do Deputado Federal
VALDEMAR COSTA m T O ; Que t a i s pagamentos ocorreram
seguindo o mesmo procedimento já re la tado; ( . . . )
Os i n d i c i o s de part ic ipação d e s t e s denunciados são
c laros nos au tos , sendo re l evan te notar que a l g o em t o r n o d e R$
3 m i lhões de r e a i s foram r e t i r a d o s nas agências do Banco Rural,
sem i d e n t i f i c a ç ã o do sacador . A l i á s , a Presidente do Banco
Rural, a acusada K Á T I A RABELLO, f o i questionada também a e s t e
r e s p e i t o durante seu depoimento ao Conselho de É t i c a , do qual
destaco o seguin te t r echo (Apenso 81, f l s . 173/208 dos autos
d i g i t a l i z a d o s ) :
O SR. DEPUTADO JÚLIO DELGADO - A CPMI dos
Correios tem f e i t o uma apuração, e nós j á temos .o
conhecimento de que os saques f e i t o s no esquema
chamado, denominado "va ler lodu to" , vár los d e l e s foram
identificados. Nós temos conhecimento de que a l g o em
t o r n o d e 3 m i l h õ e s foram f e i t o s sem i d e n t i f i c a ç ã o do
sacador n a s agênc ia s d o Banco Rura l . A senhora pode
d a r alguma e x p l i c a ç ã o a r e s p e i t o d e s s e s saques sem
i d e n t i f i c a ç ã o ?
A SRA. KÁTIA RABELLO - ( . . . ) Dentro dessa
questão dos saques, de como se processavam os saques,
e x i s t i a m bas i camen te duas maneiras d e esses saques
serem processados . Em algumas sl t u a ções era envlada
uma ordem de pagamento da SMP&B para a SMP&B. Alguém
da SMP&B assinava. I s s o é per fe i tamente dentro da
legal idade . ( . . . ) Porque, na verdade, o saque era
&&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
011912
feito em Belo Horizonte, ele era registrado em Belo
Horizonte, mas, em alguns casos, desse saque era feito
um envio em dinheiro, que é um processo entre
agências, em nome de determinada pessoa. Esse
procedimento coube exclusivamente ao cl iente . Ou se ja ,
em alguns casos, o c l i en te optou por enviar esse
dinheiro em nome do recebedor, na imensa maioria das
vezes, em Brasi l ia . Então, nesses casos, esse nome
dessa pessoa vem registrado em todos os momentos,
vamos dizer, de todos os controles de contabilidade,
de sistema. E, quando era SMP&B para SMP&B, então não
tinha o nome da pessoa que i a lá receber, porque era
uma pessoa da própria agência. Então, dentro da norma
bancária, não s e r i a necessário isso. É essa a
informação que eu tenho.
O que a acusada não explicou foi a razão pela qual o
Banco Rural aceitou registrar, como saque da SMP&B na agência de
Belo Horizonte, valores elevados de dinheiro em espécie que, na
verdade, seriam sacados da conta da SMP6B por te rce i ras pessoas,
na agência do Banco Rural em Bras i l ia .
Não haveria maiores suspeitas contra o Banco Rural se
essas mesmas operações tivessem sido efetuadas através de
transferências bancárias ou DOC's para as contas das pessoas que
efetivamente receberam os valores, como é usualmente feito pelos
consumidores bancários. Mas o Banco Rural, ao contrário, não
registrou quem foram as pessoas que s e beneficiaram do dinheiro
repassado pela SMP6B através das agências de Brasi l ia , São Paulo
@$ke.%?o fl&&& I n q 2.245 / MG 011913
e Be lo Hor i zon te , razão pela qual o supos to " va l e r iodu to"
contou, em tese, com a p a r t i c i p a ç ã o a t i v a dos dirigentes
denunciados.
Aliás, KÁTIA RABELLO afirmou, várias vezes, que os
valores envolvidos nas operações irregulares sequer seriam tão
elevados para a realidade do Banco. Leio, nesse sentido, outro
trecho de seu depoimento ao Conselho de Ética (Apenso 81):
O S R . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - A P e t r o s ,
que é o fundo d e pensão da PETROBRÁS, a o que sei, no
Governo passado não a p l i c a v a n o Banco Rura l . No i n í c i o
d e s t e Governo, passou a a p l i c a r n o Banco Rura l , - e a
g u a n t i a i n i c i a l foi d e 5 m i l h õ e s d e r e a i s ,
aproximadamente. Já n o segundo s emes t r e d e 2003, a
P e t r o s , que nunca h a v i a a p l i c a d o nada e que n o i n i c i o
d o Governo passou a a p l i c a r 5,2 m i l h õ e s d e r e a i s n o
Banco R u r a l , subiu esse i n v e s t i m e n t o , e s s a ap l i cação ,
para 24 m i l h õ e s , o que i m p l i c o u aumento d e 371% das
a p l i c a ç õ e s dos fundos ...
A SRA . KÁTIA RABELLO - Quando que seria
isso?
O S R . DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - Foi n o
i n i c i o d e 2003 a p r ime i ra a p l i c a ç ã o . . .
A SRA. KÁTIA RABELLO - A h . . . E o aumento?
c?qkem &&&& Inq 2 .245 / MG
O SR. DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - Antes não
havia. E depo i s , digamos ass im, desse ep i sód io dos
empréstimos, no segundo semestre , e s s a apl icação
s a l t o u para 24 ,5 milhões de r e a i s , num aumento de
371%. ( . . . ) A senhora chegou a ter conhecimento dessas
apl icações?
A SRA. KÁTIA RABELLO - É, espec i f icamente
dessas ap l i cações não, porque, mais uma v e z , é
sempre.. . A gen te sempre tem que c o n t e x t u a l i z a r .
Exis tem va lores que, para o nosso uso pessoal , no d ia -
a-dia, são r e p r e s e n t a t i v o s , mas qüe, den t ro do volume
da i n s t i t u i ç ã o f inance i ra não o são. Então, por
exemplo, todos o s d o i s va lores aqui mencionados não
representam nada d e s i g n i f i c a t i v o dentro do pass ivo do
Banco naquela época. Então, eu não t e r i a nem porque
saber, espec i f icamente - e não acompanho
espec i f icamente e s s a s apl icações . O que eu acompanho e
acompanhei, e f u i tomando pé, principalmente depois da
morte do Zé , são os grandes apl icadores . Então,
ass im. . . O que eu posso a f i rmar , porque es se estudo
f o i f e i t o e é alguma coisa que a gen te . . . A gente tem
algum problema com a questão do s i g i l o , de mandar
i s s o , mas me parece que a gente poderia fa zer um
somatório considerando o somatório dos fundos l i g a d o s
ao Governo Federal durante o Governo passado e durante
esse Governo. Essa proporção, e l a se manteve assim.. . Houve, parece, que uma mínima queda. Ou s e j a , e l a se
manteve i g u a l . Então, observando de uma maneira geral
a aplicação dos fundos do Banco Rural de um Governo
&e &-&a Inq 2.245 / MG 011915
para o outro, existe uma manutenção da relação. Fui
clara ?
O SR. DEPUTADO CARLOS SAMPAIO - A
informação que me chegou era a de que a Petros não
aplicava no Banco Rural. Passou a aplicar em 2003 e
aumentou muito no segundo semestre de 2003. É uma
informação que seria importante se tivéssemos aqui.
A SRA. KÁTIA RABELLO - Eu não tenho essa
informação não ( . . . )
No que tange a verdadeira representatividade dos
valores envolvidos nos ilicitos supostamente praticados -
através dos empréstimos, dos saques em espécie, dos
investimentos dos Fundos de Pensão - a acusada KÁTIA RABELLO
afirmou, diversas vezes, como vimos antes, que tais valores, por
não serem elevados, dentro da realidade do Banco Rural, não
chegavam ao seu conhecimento, no exercício da Presidência.
Entretanto, ao final de seu depoimento perante o Conselho de
Ética, parece-me ter havido uma certa contradição de sua parte,
verbi s :
O SR. DEPUTADO JÚLIO DELGADO - A CPI - isso
é uma tese, e eu não estou lhe perguntando sobre tese
&+ BU&& 011916 Inq 2.245 / MG
- chega ou anal isa a poss ib i l idade d e esses
empréstimos não terem s ido f e i t o s d e forma regular e
não serem -rés t imos. A CPI estuda essa
poss ib i l idade , e é uma tese que a cada d ia se
fo r ta l ece naqueles estudos. Esses empréstimos teriam
s i d o uma forma de repassar recursos para o S r . Marcos
Va lér io para que, eventualmente, pudesse passar para o
par t ido . Essa é uma t e s e das CPIs que a gente u t i l i z a ,
porque é a base da representação do Part ido
Trabalhista Bras i l e i ro [PTB] que a gente e s t á
analisando.
O Sr . Marcos Va lér io , a senhora disse, teve
uma grande relação - e tem - com o banco. É um dos
c l i e n t e s p r e f e r e n c i a i s ; era intermediador dos contatos
en t r e o banco e o PT , o Part ido dos Trabalhadores ... o
par t ido ou os encontros. E o S r . Marcos Valér io vinha
d e um Governo passado, com contas pub l i c i t á r ia s , que
passou para este Governo, com contas pub l i c i t á r ia s ,
com um aumento considerável desses contratos. I s so não
tem nada a ver, porque alguns desses contratos foram
o ferec idos , i n c l u s i v e , como garantia dos empréstimos.
A SRA. K Á T I A RABELLO - É verdade.
O S R . DEPUTADO J Ú L I O DELGADO - A últ ima
pergunta que eu l h e coloco, em função d i s s o tudo: a
senhora admite a h ipótese de o Banco Rural ter
es tabelec ido, ao não executar o suposto empréstimo
( . . . ) de essa relação, por ser a pioneira, do seu
conhecimento, na sua gestão, ter s ido uma p o l í t i c a
es tabelec ida. . . E a p o l i t i c a de relação ser
Inq 2 .245 / MG
estabelecida pelo banco - com o Governo e com o
Partido dos Trabalhadores - que es tava entrando em um
pro je to e , por isso, celebrado o s empréstimos e , a t é
.então, não ter executado?
A SRA. KÁTIA RABELLO - De forma alguma.
O SR. DEPUTADO JÚLIO DELGADO - Não f o i uma
p o l í t i c a es tabelec ida pelo banco para ter uma relação
com o par t ido no poder?
A SRA. &TIA RABELLO - Acho que os valores
são totalmente inadmiss íve is numa relação como essa .
São valores a l t i s s imos , o que não cabe imaginar.
Do exposto, Senhora Presidente, entendo que a denúncia
reúne condições para ser recebida, no ponto em anál i se , estando
devidamente instruidos os autos com elementos que consubstanciam
a ex i s t ênc ia d e justa causa para a regular instauração de ação
penal contra os denunciados: MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH,
CRISTIANO PAZ, ROGÉRIO LANZA TOLENTINO, SIMONE VASCONCELOS,
GEISA DIAS, JOSÉ ROBERTO SALGADO, AYANNA TENÓRIO, VINÍCIUS
SAMARANE e KÁTIA RABELLO, na forma do art. 29 do Código Penal,
pela suposta prática, por 65 (sessenta e c inco) ve ze s , do crime
definido no a r t . 1°, V , V I e V I I , da Lei no 9.613/98, nos termos
do i t e m IV da denúncia.
&- fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
DA IMPUTAÇÃO DE GESTAO FRAUDULENTA DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - ARTIGO 4 O DA LEI No 7 . 4 9 2 / 8 6 - Capítulo V da denúncia
No presente capitulo, o Parquet acusa os dirigentes do
Banco Rural JOSÉ ROBERTO SALGADO (Vice-presidente Operacional),
AYANNA TENÓRIO (Vice-presidente); VINÍCIUS SAMARANE (Diretor
Estatutário) e KÁTIA RABELLO (Presidente) de terem operado um
mecanismo fraudulento na gestão da instituição financeira,
conforme descrito no tipo previsto no art. 4O da Lei no
7.492/86, que reza:
Art . d o . Gerir fraudulentamente instituição
financeira :
Pena - Reclusão, de 3 (três) a 12 (doze)
anos, e multa.
Parágrafo único. Se a gestão é temerária:
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito)
anos, e multa.
Os fatos consistiriam no seguinte (v. denúncia, fls.
5697 e seguintes, vol. 27):
"Nos termos consignados pelos auditores do
Banco Central, os dirigentes do Banco Rural efetuaram
dezenove operações de c réd i t o com as empresas de
Marcos Valér io , C r i s t iano Paz, Ramon Eollerbach e
Rogério Tolentino, e com o Partido dos Trabalhadores,
total izando R$ 292,6 milhões de r e a i s na data-base de
31/05/2005, correspondente a 10% da car te i ra de
c réd i t o da i n s t i t u i ç ã o .
I n q 2.245 / MG
Das dezenove operações de crédito acima
mencionadas, que não apresentavam a c o r r e t a
c l a s s i f i c a ç ã o do nivel d e r i s c o de crédito, oito foram
reclassificadas pelo próprio Banco Central, h a j a v i s t a
a v e r i f i c a ç ã o d e d i s c r e p â n c i a entre a s c l a s s i f i c a ç õ e s
o r i g i n a r i a m e n t e a t r i b u í d a s p e l o s d i r i g e n t e s d o Banco
Rura l e o r e a l nivel d e r i s c o das operações ,
representando dívidas no montante d e R$
183.871.188,08.
As operações d e c r e d i t o em que ocor reu
ma ior d i s c r e p â n c i a entre o s níveis c l a s s i f i c a d o s p e l o s
d i r i g e n t e s d o Banco Rural e a q u e l e s determinados p e l o s
a u d i t o r e s do Banco C e n t r a l , em face da situação de
total inadimplência, foram jus tamente aque la s
e f e t u a d a s com a s empresas e n v o l v i d a s n o esquema ora
denunciado.
- SMP&B Comunicação Ltda., reclassificada
dos níveis "B" e "C" para "H", apresentando saldo
devedor de R$ 36.874.855,67;
- GRAFFITI Participações Ltda.,
reclassificada do nivel "B" para "H", apresentando
saldo devedor de R$ 16.139.139,82; e
- Partido dos Trabalhadores - PT,
reclassif icada do nivel "A" para "H", apresentando
saldo devedor de R$ 5.913.532,38.
A expressiva discrepância dos níveis de
classificação do risco de crédito resultou, segundo
consta taça0 dos próprios auditores do Banco Central
(fl. 19 do PT 0501301503) , d e de l i be rada ação dos
g e s t o r e s d o Banco Rura l , com o p r o p ó s i t o d e o m i t i r o
&;.--NU&& Inq 2 .245 / MG 011320
e f e t i v o nivel de r i s c o das operações e , por
conseguinte, d e i x a r de e f e t u a r a s devidas prov isões
que, no caso dos erês empréstimos acima, t e r iam que
ser rea l i zadas no t o t a l do montante emprestado.
Tal s i tuação r e v e l a que o s d i r i g e n t e s do
Banco Rural , empregando exped ien te s f raudulentos ,
deixaram de a t r i b u i r a verdadeira c l a s s i f i c a ç ã o aos
r i s c o s de c r é d i t o s das empresas W & B e G r a f f i t i , e do
Par t ido dos Trabalhadores, simulando uma s i tuação
c o n t á b i l que, de f a t o , não e x i s t i a .
A manobra em tela, acarretando a não
provisão dos valores acima, i n p l i c a a l t e ração do
balanço da i n s t i t u i ç ã o bancária e reflete diretamente
na sua s i tuação f inance ira em re lação a t a i s a t i v o s ,
aumentando f i c t i c i a m e n t e sua capacidade operacional .
( . . . )
A própria concessão dos empréstimos, caso
a s operações sejam e fe t i vamen te como t a l consideradas,
r e s u l t a de exped ien te s a r d i l o s o s dos d i r i g e n t e s do
Banco Rural para j u s t i f i c a r a l i beração de recursos à s
empresas SMP&B e G r a f f i t i e ao Par t ido dos
Trabalhadores, pois, tecnicamente, as concessões não
eram recomendáveis.
Assim, a imputação pode ser resumida ao fato de terem
sido deliberadamente realizadas operações de nível de risco
elevado, nos termos da Resolução do BACEN no 2.682, de 21 de
novembro de 1999, com emprego de artifícios, pelos dirigentes do
Banco Rural, para camuflar tal risco e, inclusive, para
ludibriar as autoridades, de modo a que não se percebesse a
&g?kmo NU&& Inq 2 .245 / MG
alegada prática de atividades ilícitas (lavagem de dinheiro)
pela instituição.
A par de preliminares já vistas no item anterior
(prova obtida diretamente pelo MPF, prova emprestada de outra
investigação, prova obtida pela CPMI dos Correios), a defesa
alega (apenso no 118) que a denúncia faz acusações "em bloco",
presumindo a culpa dos acusados, sem apontar as fraudes
existentes na concessão dos empréstimos nem quais seriam os
responsáveis por tais fraudes. Afirma que "os quatro dirigentes
do Banco Rural são indiscriminadamente acusados", "sem levar em
conta as suas d iversas responsabi l idades funcionais". Diz que,
"ainda que possa ter havido falhas nos procedimentos bancários",
os empréstimos foram devidamente registrados no BACEN. Assim,
' e s s a s operações contabi l i zadas não fariam sen t ido , fos se - o
o b j e t i v o do Banco canal i zar dinheiro para pagamento de
propinas" .
Por fim, afirma a defesa que "as renegociações foram
sempre amparadas em pareceres técnicos favoráveis. Verificando-
se, finalmente, após a eclosão da crise, o inadimplemento
insuperável em faço do vencimento da última renovação, o Banco
ajuizou as competentes medidas judiciais para recuperação de
seus créditos".
Não obstante isto, Senhora Presidente, as alegações do
Parquet encontram indícios nos autos.
&e fl&&& Inq 2 . 2 4 5 / MG 0 1 1 9 2 2
É i n t e r e s s a n t e a l e i t u r a de t r echo do depoimento da
acusada KÁTIA RABELLO ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar
d a Câmara dos Deputados, em 2 2 de setembro de 2 0 0 5 , que
t ranscrevo (Apenso 8 1 ) :
O S R . DEPUTADO JÚLIO DELGADO - E o Banco
Rural tem como p r á t i c a , ao conceder um empréstimo
d e s s e , l e v a n t a r recursos e a c e i t a r a v a l i s t a s com b a s e ,
exclusivamente , no seu p r e s t í g i o , ou ele a c e i t a
a v a l i s t a s com base numa aprovação de cadastro prév io?
A SRA. K Á T I A RABELLO - Deixa eu v o l t a r
então um pouco. Nessa época, quem tra tava dos
empréstimos era o José Augusto. Então, é d i f í c i l pra
m i m d i s c u t i r , a t é porque, dentro da p o l i t i c a de
c r é d i t o do Banco, e x i s t e toda uma normativa de
a lçadas , de garant ias ver sus c l i e n t e . Então, são como
2 pra tos de uma balança: quando você tem uma garant ia
mu i to f o r t e , você pode ter um c l i e n t e mais f r á g i l ;
quando você tem um cliente, onde você tem uma c e r t e z a
maior de receber, você pode ter uma garant ia mais
f r á g i l . ( . . . ) O S R . DEPUTADO JOSÉ DELGADO - Em 1998, o
Banco Rural f e z um empréstimo na mesma l i n h a , no mesmo
s e n t i d o , em Minas Gerais , f o i também o banco que f o i
u t l l l z a d o para empréstimo por par t e de uma campanha do
PSDB, foram dadas como garant ia contas p u b l i c i t á r i a s . E esse empréstimo [ terminou] também não sendo pago, na
ordem de 9 milhões ( . . . ) e que, guase 5 anos depois
( . . . ) f o i gu i tado esse d é b i t o p e l o S r . Marcos V a l é r i o
na ordem de 2 mi lhões . No momento em que se r e p e t e uma
operação, quase que 7 anos depois , 6 anos depo i s , nas -
Inq 2 .245 / MG
mesmas c a r a c t e r í s t i c a s , com as mesmas garantias ,
sabendo-se da probabilidade do não-pagamento, conforme
ocorreu a t é quanto surgiram a s denúncias, não houve
uma surpresa - e a í V . As. j á es tava na direção do
Banco - que essa transação r e p e t i d a , f a l í v e l , que
t rouxe p r e j u í z o ao Banco Rural , pudesse s e r repe t ida
nas mesmas c a r a c t e r í s t i c a s , e o Banco aprovar, com
t o t a l isenção, um f a t o que t inha a in terveniência de
empresa de publicidade com par t ido p o l í t i c o , com
campanha e l e i t o r a l ? Não houve indignação e surpresa de
i s s o t e r s i d o repe t ido com par t idos d i f e r e n t e s ?
A SRA. K Á T I A RABELLO - ( . . . ) Só para
c o n t e x t u a l i z a r , na época o Banco Rural t inha alguma
coisa em torno de 5 b i l h õ e s de a t i v o - 4 para 5
b i l h õ e s de a t i v o - e a operação era uma operação.. . E r a m 2 operações que to ta l i zavam cerca de 30 milhões
de r e a i s . ( . . . ) Então, a maneira que eu percebo pode
t e r s i t o o r a c i o c í n i o do José Augusto é: "Bom, eu
perdi a t r á s , m a s tenho uma empresa que agora e s t á com
condição, e s t á com uma capacidade f inance i ra , tem
contra tos de va lores maiores e que v a i poder honrar e ,
de alguma forma, eu vou conseguir recuperar aqu i lo que
eu perd i l á a t r á s . " Eu acompanhei e s s e rac ioc ín io d e l e
em alguns ou t ros casos. E , em alguns casos, e x i s t i a
essa expressão " sa lgar a carne podre", porque, à s
v e z e s , você coloca m a i s d inhe i ro num devedor e , chega
l á na f r e n t e , e l e não consegue honrar. Parece que,
i n f e l i z m e n t e , f o i o caso.
O SR . DEPUTADO JÚLIO DELGADO - ( . . . ) A
constatação que a gente faz é que o Banco, em valores
e que o Banco pode considerar i n s i g n i f i c a n t e s , mas para
Inq 2.245 / MG
a sociedade não são, na ordem de um empréstimo de 9
milhões fei tos junto ao PSDB, ao Marcos Valério, em
1998, tenha sido repetido em 2003, sabendo que isso
trouxe prejuizo da ordem de 7 milhões para o banco, e
t e r sido fe i ta , também, novamente correndo o risco de
prejuízo ao Banco, como está acontecendo agora com
esse empréstimo que fo i f e i to ao Partido dos
Trabalhadores. É uma consta tação. Não falo com relação
ao processo, mas a instituição financeira que repete
uma operação fal ível em termos dos propósitos a que
ela se dispõe como instituição, de arrecadação de
fundos e de capitalização de recursos. ( . . . I
A SRA. K Á T I A RABELLO - Só gostaria de
de ixar c laro que e u . . . É muito d i f i c i l a s i tuação,
porque, ao mesmo tempo, f i c a muito f e i o jogar a culpa
em alguém que j á morreu, e x i s t e um f a t o rea l que pode
s e r comprovado em documentos, pessoas de dentro do
Banco, c l i e n t e s que se relacionavam com o Banco,
a s s i m , fartamente, de que de f a t o José Augusto era o
senhor, e l e era o número um, era a pessoa que tocava o
Banco e que tocava e s s e s c r é d i t o s e qye negociou e s s e s
c r é d i t o s e s p e c í f i c o s pessoalmente. ( . . . )
A acusada KÁTIA RABELLO prestou, ainda, outras
declarações ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar d a Câmara
dos Deputados, na mesma sessão antes c i tada ( 2 2 / 0 9 / 2 0 0 5 , v .
Apenso 8 1 ) :
O S R . DEPUTADO JAIR0 CARNEIRO - (. . . ) S r a .
K á t i a Rabel lo , eu i n i c i o tomando por base o t e x t o da
representação movida pe lo PTB contra o Deputado José
Inq 2 .245 / MG
D i r c e u , q u a n d o d i z q u e o S r . M a r c o s V a l é r i o e a S r a .
R e n i l d a , s u a e s p o s a , em d e p o i m e n t o a o P r o c u r a d o r - G e r a l
d a R e p ú b l i c a , d e c l a r a r a m q u e o S r . D e p u t a d o J o s é
D i r c e u , em c o n l u i o com D e l ú b i o S o a r e s , l e v a n t a r a m
f u n d o s j u n t o a o B a n c o R u r a l e com o b j e t i v o s e s p ú r i o s .
É o q u e vem no t e x t o S u b s e q u e n t e . EU q u e r o q u e V . S a .
d e c l a r e se o B a n c o R u r a l p a r t i c i p o u d e s s e t i p o d e
o p e r a ç ã o q u e a r e p r e s e n t a ç ã o a t r i b u i a d e c l a r a ç õ e s d o
c a s a l ?
A SRA. K Á T I A RABELLO - Não
O SR . DEPUTADO J A I R 0 CARNEIRO - M a i s
a d i a n t e , d i z a representação, comprometendo a
honorabilidade do seu banco, dizendo que esses
contratos não foram ob je to de cobrança por sua
i n s t i t u i ç ã o . O que a senhora declara sobre i s s o ?
A SRA. KÁTIA RABELLO - Acho muito
importante sempre con tex tua l i zar . Quando um b a n c o t e m
um devedor que e s t á em di f i cu ldades de qu i tar o seu
déb i to , e x i s t e um processo de negociação que é sempre
pre fer ido ao processo j ud i c ia l , por r a z õ e s q u e e u
i m a g i n o q u e t o d o s a q u i i m a g i n e m . O s p r o c e s s o s
l i t i g i o s o s s ã o e x t r e m a m e n t e l e n t o s e , m u i t a s v e z e s ,
o n e r o s o s e i n e f i c a z e s , n o c a s o , p a r a o c r e d o r . Então,
a nossa decisão, na verdade, a minha decisão e dos
meus pares, naquele momento em que o José Augusto, que
era primeiro execut ivo do banco, pessoa que t inha
negociado aqui lo tudo, não es tava mais presente, f o i
t en ta r negociar com o devedor, receber. E h a v i a uma
Inq 2.245 / MG
promessa r e i t e r a d a d e l e d e q u e i r i a p a g a r , e n f i m , t o d o
um p r o c e s s o d e n e g o c i a ç ã o q u e é b a s t a n t e comum, a t é , e
q u e , em a lgumas s i t u a ç õ e s , em m u i t a s s i t u a ç õ e s , o
b a n c o c o n s e g u e , d e f a t o , n e g o c i a r com o d e v e d o r , a s
v e z e s , se i l á , a l o n g a r a d i v i d a , f a z alguma a l t e r a ç ã o
n o c o n t r a t o , mas c o n s e g u e receber, f a z um d e s c o n t o ,
mas c o n s e g u e receber sem ter q u e , d e f a t o , e x e c u t a r .
E n t ã o , esse argumen to d e q u e o b a n c o n ã o e x e c u t o u
p o r q u e s a b i a d i s s o ou d a q u i l o , d e f a t o , não v a l e para
a a t i v i d a d e b a n c á r i a . Uma p r á t i c a na a t i v i d a d e
b a n c á r i a é n e g o c i a r a t é a ú l t i m a t e n t a t i v a , p o r q u e o
l i t i g i o é o que n inguém q u e r .
O SR. DEPUTADO JAIR0 CARNEIRO - A senhora
d e v e compreender que e s s a a r g u i ç ã o f e i t a p e l a
r e p r e s e n t a ç ã o o b j e t i v a e n v o l v e r e comprometer o b a n c o
com esses n e g ó c i o s , com e s s a s o p e r a ç õ e s . E r e s t a r á uma
r e s p o n s a b i l i d a d e e v e n t u a 1 r e m a n e s c e n t e do b a n c o
p e r a n t e a s autoridades c o n s t l t u i d a s . Mas a s e n h o r a . . . Porque, pe lo exposto aqui , em função da arguição f e i t a
pe lo nobre Relator , somente 6 anos após é que o banco
recebeu o empréstimo, e com uma redução
extraordinária, de 9 milhões para 2 milhões. E , pe lo
h i s t ó r i c o de informações que temos, a s empresas do Sr .
Marcos Va lér io t iveram faturamento razoável e
crescente , já no Governo passado, do D r . Fernando
Henrique Cardoso, que pode c r i a r uma cer ta contradição
com essa bonif icação, que é realmente em valor
altamente express ivo . E n t ã o , se eram 9 , cobrou apenas
2. E a empresa não estava em si tuação de insolvência
ou de d i f i cu ldade f inanceira. E l e s e s t a v a m operando
dghwmz&&&& Inq 2.245 / MG
011927
com faturamento bom. E multiplicou muito mais no atual
Governo do Presidente Lula. Quando cobrou, já era o
Governo Lula, com muitos contratos com empresas
governamentais, com faturamento muito expressivo das
empresas do grupo do Sr. Marcos Valério. Por I S S O ,
numa breve insistência com a senhora. Como explicar
essa negociação com essa redução drástica, se a
empresa não estava em dificuldade, o devedor.
A SRA. K Á T I A RABELLO - M a i s uma v e z , v o l t o
a i n s i s t i r que eu não t ra tava desses assuntos nem na
época em que o empréstimo f o i contra ído nem quando e l e
f o i negociado. Então, vou e x p l i c a r alguma coisa que eu
não f i z . É d i f í c i l . Mas, de alguma forma, ex is tem
algumas v a r i á v i s que eu acho que são importantes de
considerar . Uma de las são os juros . Eu s e i que parece
que houve uma a l t e ração de juros nesse empréstimo. E
que houve uma execução j u d i c i a l , a t é . Então, são
e s s a s , vamos d i z e r , a s v a r i á v e i s que eu conheço.
É i n t e r e s s a n t e notar que, logo após "perdoar" R$ 7
milhões de divida de Marcos Valério junto ao Banco Rural ( e l e
pagou apenas R$ 2 mi lhões , de R$ 9 milhões que foram
empres tados) , perdão que se deu, de acordo com a Presidente do
Banco, KÁTIA RABELLO, em razão das "dificuldades financeiras do
cliente", o Banco Rural concedeu novo empréstimo a MARCOS
V A L É R I O , empréstimo que t e r i a se dado de modo semelhante com
Inq 2.245 / MG
aque le tomado em 1998 , du ran te a campanha do PSDB em Minas
Gera i s . A con t r ad i ção e n t r e a p o s t u r a do Banco Rural em r e l a ç ã o
a SMP&B e a s dec l a rações p r e s t a d a s por sua P re s iden te é, a meu
v e r , mui to c l a r a .
Veja-se, a inda , que não apenas foram concedidos
empréstimos sem g a r a n t i a s u f i c i e n t e , como a inda e s t e s
empréstimos foram renovados mesmo sem que houvesse qualquer
amortização, e sem a devida e levação do n í v e l de r i s c o da
operação, inclusive durante a Presidência da acusada KÁTIA
RABELLO. É o que cons t a da Ver i f i cação Espec i a l r e a l i z a d a pe lo
BACEN sobre a s Operações de C r é d i t o do Banco Rural (v . Apenso
7 7 ) , no qua l s e c o n s t a t a o s e g u i n t e :
A SMP&B Comunicação, empresa c o n s t i t u í d a e m
ju1/96, com sede em Belo Horizonte , a t u a na p r e s t a ç ã o
d e s e r v i ç o s de p u b l i c i d a d e e propaganda. Per tence ao
grupo d a s empresas G r a f f i t i P a r t i c i p a ç õ e s Ltda e DNA
Propaganda Ltda.
A empresa p o s s u i duas operações d e c a p i t a l
d e g i r o j u n t o ao Banco Rural , sendo uma no v a l o r de R$
36 milhões , com g a r a n t i a s de d i r e i t o s c r e d i t ó r i o s e
a v a l , e o u t r a no v a l o r d e R$ 837 m i l , somente com
g a r a n t i a d e a v a l .
Até maio/2003, a empresa possuía uma conta
garantida no valor de R$ 10 milhões, que foi liquidada
em 22/05/2003 (Análise 7/7), com recursos advindos da
empresa ligada DNA Propaganda (c/c junto ao Banco do
Brasil) . (Anál ise 7 / 8 ) .
C2q- fl&&& Inq 2.245 / MG
01P9Z3 Em 26/05/2003, f o i concedido c a p i t a l d e
g i r o no v a l o r de R$ 19 mi lhões , o qual vem sendo
renovado com incorporação de juros , perfazendo,
atualmente , o s a l d o devedor de R$ 36 mi lhões .
E s t e empréstimo f o i concedido com garant ia
de ava l dos s ó c i o s , t e n d o s l d o p o s t e r i o r m e n t e agregada
garant ia de d i r e i t o s c r e d i t ó r i o s ( con ta to de prestação
de s e r v i ç o s entre DNA Propaganda e Banco do B r a s i l ,
celebrado em 23/09/2003). O v a l o r do empréstimo (R$ 19
m i l h õ e s ) , no en tan to , e ra incompatível com a
capacidade f inance ira da empresa, considerando seu
volume anual de r e c e i t a (R$ 10,6 mi lhões ) e geração de
ca ixa (R$ 2 m i l h õ e s ) .
V a l e r e s s a l t a r , a l n d a , q u e o Banco Rural
concedeu t a i s empréstimos à SMP&B, apesar de haver
h i s t ó r i c o recente de perda em operações de c r é d i t o de
empresa do grupo. A DNA Propaganda possuía d í v i d a de
R$ 13 mi lhões , baixada a p r e j u í z o desde out/2000, a
q u a l f o l l i qu idada p e l o v a l o r d e R$ 2 mi lhões , em
f ev /03 .
Em 25/11/2004~, f o i concedido c a p i t a l de
g i r o no v a l o r de R$ 707 mil, para v e n c e r em 2 8 / 0 3 / 0 5 ,
tendo s i d o renovado em 17/08/05, com incorporação de
ju ros . O s a l d o d e v e d o r a t u a l da o p e r a ç ã o é d e R$ 837
m i l .
A ú l t i m a a n á l i s e d e c r é d i t o da i n s t i t u i ç ã o ,
r e a l i z a d a em 1 1 / 0 1 / 2 0 0 5 , c o n c l u i u q u e , "mesmo
c o n s i d e r a n d o a c a p a c i d a d e d e g e r a ç ã o d e r e c e i t a da
Como visto no item IV deste voto, o Sr. JOSÉ AUGUSTO DUMONT, a quem os gestores do Banco Rural denunciados atribuíram toda a responsabilidade pelos empréstimos supostamente fraudulentos, faleceu em 04 de abril de 2004, como consta de certidão de óbito juntada ao Apenso 81 - anexo da denúncia.
&-NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
011?3n
proponente, entendemos que o r i s c o t o t a l é elevado
para seu porte" (Anál i se 7 / 5 ) .
O r i s c o da empresa junto ao Banco Rural
aumentou consideravelmente nos ú l t i m o s d o i s anos,
passando de R$ 6,8 milhões em fev/03 para R$ 25,3
( fev/O4) e R$ 36 mi lhões (mar/05).
O contra to de prestação de serv iços de
publ ic idade e n t r e a empresa DNA Propaganda e o Banco
do B r a s i l , que garante a s operações da SMP&B e
G r a f f i t i , f o i firmado em 23/09/2003, pe lo prazo de 12
meses, tendo s i d o prorrogado, em 22/09/2004, por igual
período (Anál i se 7 /2) .
( . . . )
O c o n t r a t o prevê que o s c r é d i t o s
decorrentes do mesmo somente poderão ser cedidos ou
dados em garant ia se houver autor i zação prév ia e por
e s c r i t o da Dire tor ia de Marketing e Comunicação do
Banco do B r a s i l (c láusula 5 O Banco Rural não
possu i t a l au tor i zação, o que torna a garant ia sem
v a l o r j u r í d i c o .
O s d i r e i t o s c r e d i t ó r i o s referentes a este
con t ra to e s t ã o sendo deposi tados na conta corrente da
DNA Propaganda junto ao Banco do B r a s i l e o Banco
Rural não comprovou se vem recebendo t o t a l ou
parcialmente t a i s recursos . Pelos ex tra t os das
empresas SMP&B Comunicação e G r a f f i t i Participações
junto ao Banco Rural, r e f e r e n t e ao periodo de
maio/2003 a abri1/2005, não i d e n t i f i c a m o s nenhuma
t r a n s f e r ê n c i a de t a i s c r é d i t o s .
Sol ic i tamos a i n s t i t u i ç ã o os e x t r a t o s da
conta-corrente da empresa DNA Propaganda junto ao
Inq 2 .245 / MG 01192f
Banco do Bras i l , na qual e s tão sendo depositados o s
d i r e i t o s c red i t ó r io s dados em garantia, para
v e r i f i c a r m o s a quan t i a e f e t i v a m e n t e receb ida pe la
empresa desde o i n í c i o do c o n t r a t o ( s e t / 2 0 0 3 ) .
A i n s t i t u i ç ã o apresen tou somente o s
e x t r a t o s r e f e r e n t e s ao l 0 t r i m e s t r e / 2 0 0 5 , em que foram
depos i t ados o s s e g u i n t e s v a l o r e s : R$ 6.459.106,57 em
jan /05 , R$ 7.253.897,22 em f e v / 0 5 e R$ 1.901.443,60 em
mar/05 ( A n á l i s e 0 7 / 0 6 ) .
Esses e x t r a t o s , no entanto, foram
i n s u f i c i e n t e s para comprovar se a quantia e fe t ivamente
recebida pela DNA Propaganda é compatível com o volume
de c réd i t o garantido (R$ 52,5 milhões) . Ressaltamos,
ainda, que o s recursos recebidos naqueles meses não
foram t rans fer idos à s contas da SMP&B e G r a f f i t i no
Banco Rural, conforme ve r i f i cado pelos ex t ra to s de
conta-corrente/conta-garaxitida ( A n á l i s e 7 / 1 0 ) .
( . . . I Em r eun ião r e a l i z a d a com a i n s t i t u i ç ã o em
17 /06 /05 , o v i c e - p r e s i d e n t e operac iona l ( S r . José
Roberto Salgado) reconheceu a f r a g i l i d a d e do c r é d i t o
após o s r e c e n t e s acon tec imentos envolvendo a s empresas
do grupo e s ó c i o s .
Pelos f a t o s e x p o s t o s , determinamos a
r e c l a s s i f i c a ç ã o das operaçoes para o n í v e l de r i s c o
" H " .
Em o u t r a V e r i f i c a ç ã o Espec ia l r e a l i z a d a pelo BACEN
sobre a s Operações de C r é d i t o do Banco Rural , documento c i t a d o
na denúnc ia , r e v e l a , ao menos como i n d í c i o , que o Conglomerado
Inq 2.245 / MG
procurou ocultar, deliberadamente, os empréstimos concedidos ao
PT e suas sucessivas renovações. Consta o seguinte daquele
documento, verbis:
Pelas análises realizadas, verificamos que
a expressiva discrepância nas classificações das
operações deve-se a procedimentos deliberados do
Conglomerado, visando a omitir o real nível de risco
das operações e, assim, não efetuar as devidas
provisões, mesmo havendo claros indícios de
inadimplência .
Tais "procedimentos deliberados" que camuflam o risco
das operações se deram de três formas, ainda de acordo com a
Verificação Especial do BACEN: renovações sucessivas das
operações, aumento do limite de conta garantida ou liquidação de
uma operação com outra, em modalidade diferente. Com isto, o
Rural impedia que as operações de crédito realizadas com o
núcleo Marcos Valério e o Partido dos Trabalhadores
apresentassem atrasos. As conseqüências são as seguintes, nos
termos da Verificação Especial realizada pelo BACEN:
O Banco Rural, ao impedir que as operações
atrasem, conforme descrito no item anterior, dá às
operações de crédito em evidente situação de
renegociação/inadimplência tratamento de operação em
curso nozmal, reconhecendo nos resultados as rendas
destas.
Os atos normativos relativos ao assunto
vedam o reconhecimento, no resultado, de receitas de
Inq 2 .245 / MG
operações de crédito com atraso igual ou superior a 60
dias (art. 9", Resolução 2682/99) e, no caso de
operações renegociadas, o ganho deve ser apropriado ao
resultado somente quando do seu efetivo recebimento
(Parágrafo 2O, art. 8 O , Resolução 2682/99) . Com e s t e procedimento, a in s t i tu i ção gera
um resul tado f i c t í c i o , elevando patrimônio (PR), com
conseqüente aumento dos l i m i t e s operacionais
(Bas i l é ia , Imobilização, e t c ) .
Consta, ainda, deste mesmo relatório do BACEN, que "A
a1 ta administração do Conglomerado aprovou operações de crédito,
ora reclassificadas com pleno conhecimento de que se tratava de
empréstimos de alto risco, com grande probabilidade de não serem
pagos, v i s t o que eram incompatíveis com a capacidade financeira
dos devedores e não possuíam garantias que lhes conferissem
l iqu idez" . Dentre tais empréstimos, estão os concedidos as
empresas SMP&B Comunicação (R$ 19 milhões) e Graffiti
Participações (R$ 10 milhões), realizados em maio de setembro de
2003, respectivamente, e cuja caracterização como "empréstimo" o
Ministério Público Federal põe em dúvida.
Esta inspeção concluiu no sentido da existência de
indícios de irregularidades na gestão do banco, que classificou
como 'temerária", razão pela qual, dentre as providências
recomendadas, estava a proposta de comunicação ao Ministério
Público das irregularidades descritas. No Relatório de Análise
I n q 2 .245 / MG
353/05 (apenso 8 4 ) , assim e s t ã o resumidas as conclusões do
BACEN :
O BACEN propôs abertura de comunicação ao
Min i s t é r io Público, f l . 9 , por i n d í c i o s de Gestão
Temerária, em face das prá t i cas adotadas pela
i n s t i t u i ç ã o , tendo em v i s t a a s d i versas operações de
c r é d i t o aprovadas, caracterizadas pela inobservância
às normas bás icas de concessão e gestão de c r é d i t o e à
boa técnica bancária, bem como aos p r i n c í p i o s de
prudência e segurança.
Ressal ta a e x i s t ê n c i a de sucess ivas
renovações de operações, visando ocu l tar a
inadimplência e o rea l r i s c o dos c r é d i t o s concedidos;
o aumento indiscriminado do l i m i t e de contas
garantidas; l iqu idação de operações de c r é d i t o
inadimplentes com a concessão de novos c r é d i t o s em
modalidades d i f e r e n t e s das in i c ia lmen te e f e tuadas ;
concessões de c r é d i t o temerárias; geração de l u c r o s
f i c t í c i o s ; conivência do Comitê de Crédi to por aprovar
c r é d i t o apesar da e x i s t ê n c i a de parecer t écn ico
contrár io à sua concessão; i n d í c i o s d e d e s v i o d e
r e c u r s o s d o Banco para empresas p e r t e n c e n t e s ou
l i g a d a s ao Contro lador d o Conglomerado F inance i ro
Rura l ; t r a n s f e r ê n c i a d e a t i v o s para fundo d e d i r e i t o s
c r e d i t ó r i o s admin i s t rado p e l o Banco Rura l ; e x i g ê n c i a
d e r e c i p r o c i d a d e para a s concessões d e c r é d i t o ;
emprés t imos a empresas n a c i o n a i s c u j o c o n t r o l e
a c i o n á r i o é d e empresas l o c a l i z a d a s em p a r a í s o s
f i s c a i s , com p o s s i b i l i d a d e d e possu í rem re lac ionamento
entre s i e com o Controlador d o Banco Rura l ; e
@e fl&&& Inq 2.245 / MG
0 1 1 9 3 5 indícios de utilização de Cédulas de Produtor Rural - CPRs para desviar recursos para empresas não
financeiras.
O P a r q u e t , reunindo outras informações, com indícios
da prática de crimes de formação de quadrilha e lavagem de
dinheiro, considerou não apenas temerária, mas fraudulenta, a
gestão do conglomerado do Banco Rural. Vale dizer, nos termos da
denúncia, os dirigentes do Banco Rural, praticaram,
voluntariamente, atos de gestão, administração e gerência,
mediante o emprego de ardis.
A meu ver, a classificação típica da conduta está
adequada a narrativa contida na denúncia ofertada pelo
Ministério Público Federal, pois, ao menos neste primeiro
momento, não é possível afastar o dolo de fraude por parte dos
gestores do Banco Rural
Outras respostas dadas pela acusada &TIA RABELLO
durante a Sessão do Conselho de Ética em 22/09/2005 corroboram a
acusação, no sentido de conferir justa causa a imputação de
prática do crime de gestão fraudulenta de instituição financeira
aos acusados no tópico em análise. Volto a transcrever trecho
daquele depoimento (Apenso 81):
O S R . DEPUTADO J A I R 0 CARNEIRO - O banco,
por acaso, ficou sob regime de fiscalização de alguma
autoridade governamental em razão de operações que, em
Inq 2 .245 / MG
tese, poderiam ser potencialmente t i das como
irregulares?
A SRA. KÁTIA RABELLO - Nâo. -
O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - D u r a n t e
t o d o esse p e r í o d o , não houve qualquer t i p o d e
f i sca l i zação , por s indicância de Banco Central ou de
outra autoridade governamental?
A SRA. K Á T I A RABELLO - Na v e r d a d e , a
a u t o r i d a d e f i s c a l i z a d o r a , q u e é o B a n c o C e n t r a l , e l a
t e m p r o c e d i m e n t o s q u e s ã o n o r m a i s à a t i v i d a d e d e l a
como ó r g ã o f i s c a l i z a d o r . E n t ã o , s ã o v á r i o s
p r o c e d i m e n t o s , s ã o v á r i a s f i s c a l i z a ç õ e s , d e v á r i o s
d e p a r t a m e n t o s , sobre v á r i a s á r e a s d o b a n c o . I s so é
c o n s t a n t e dentro d e t o d o s os b a n c o s . Não houve nenhuma
f i sca l i zação e não se levantou, por parte dessas
autoridades, apesar dessa f i sca l i zação constante e
normal, nenhuma questão sobre esses empréstimos ou a t é
sobre o s saques.
O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Nenhuma
a u t u a ç ã o ?
A SRA. KÁTIA RABELLO - Nem a u t u a ç ã o , nem
q u e s t i o n a m e n t o . Na v e r d a d e , o q u e h o u v e f o i um
q u e s t i o n a m e n t o , como e u j á e x p l i q u e i , q u a n d o os a t i v o s
d o b a n c o b a i x a r a m e essas operações se tornaram, em
termos r e l a t i v o s , i q o r t a n t e s dentro do a t i v o do
banco. A í , s i m , a a u t o r i d a d e . . . I n c l u s i v e e u f a ç o uma
cg&=a?w d%z&&& Inq 2.245 / MG
011937
m e n ç ã o a i s s o no m e u t e x t o . Nesse momento, a
autoridade questionou, vamos dizer, a capacidade de
quitação desse devedor. 10
O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Os
contratos celebrados com o P T , 1 ou 2 contratos, os
s i g n a t á r i o s d o s c o n t r a t o s pe lo PT, quem s u b s c r e v e u os
c o n t r a t o s ?
A SRA. KÁTIA RABELLO - V o u v o l t a r a
i n s i s t i r . É um contrato que eu tenho conhecimento. Eu
não participei. Acho que eu nunca v i esses contratos,
para f a l a r a verdade. Eu tenho conhecimento de que
parece que o S r . Delúbio avaliza e o Deputado Genoino
também.
O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora
não era Presidente?
A SRA. KÁTIA RABELLO - Não , eu era. Mas é
como eu expliquei, o valor do empréstimo, ele é muito
pequeno para que viesse ao meu conhecimento.
O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - S i m . A
s e n h o r a n ã o é s i q n a t á r i a d o c o n t r a t o ?
' O Como já visto, essa fiscalização pelo BACEN foi dificultada em razão da classificação incorreta do risco das operações e da ausência de comunicação, pelo Banco Rural, de que as movimentações realizadas pelo grupo de MARCOS VALÉRIO eram incompatíveis com a renda declarada, o que seria indício de lavagem de dinheiro.
@ $ &&&& Inq 2.245 / MG
011938 A SRA. K Á T I A RABELLO - Não , n ã o s o u . Não
S O U
O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A senhora
sabe das exigências que a s i n s t i t u i ç õ e s f inanceiras
impõem nas avenças, nas operações, s e ja quando à
exigência d e garantias, s e ja quanto à t i t u la r idade ou
legi t imidade de quem assina um contrato, uma operação.
E n t ã o , o j u r í d i c o d e s u a e m p r e s a d e v e ter t o d o c u i d a d o
e , creio e u , p e l a s a n á l i s e s q u e f i z , q u e o P a r t i d o d o s
T r a b a l h a d o r e s , p a r a c e l e b r a r uma o p e r a ç ã o d e c r é d i t o ,
p a r a c o n t r a i r um e m p r é s t i m o , t e m d e t e r a l e g i t i m i d a d e
d a r e p r e s e n t a ç ã o l e g a l p a r a a s s i n a r . O s e u
d e p a r t a m e n t o j u r í d i c o d e v e ter e x a m i n a d o i s s o . E ,
i n c l u s i v e , c r e io eu que, pelo e s t a t u t o do PT - aqui
temos membros do PT, que seguramente conhecem muito
mais do que eu - se r ia necessária uma autorização da
ins tânc ia competente do part ido. Houve essa
autorização?
A SRA. KÁTIA RABELLO - Não sei responder,
peço d e s c u l p a s . A g e n t e p o d e . . .
O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - A s e n h o r a
p o d e r i a o f e r e c e r e s s a i n f o r m a ç ã o p a r a e s t e C o n s e l h o ?
A SRA. K Á T I A RABELLO - S i m , com t o d a a
c e r t e z a .
O SR . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - E p o d e r i a
f o r n e c e r c ó p i a d e s s e c o n t r a t o , t ambém?
R $ flzGa/&& I n q 2 .245 / MG
A SRA. KÁTIA RABELLO - P e r f e i t a m e n t e .
O S R . DEPUTADO J A I R O CARNEIRO - E n t ã o , esse
é um d o c u m e n t o i m p o r t a n t e p a r a es te C o n s e l h o .
A S R A . KÁTIA RABELLO - E u m e coloco
t o t a l m e n t e à d i s p o s i ç ã o p a r a c o l a b o r a r e f o r n e c e r o
d o c u m e n t o . A g e n t e s ó t e m que tomar um pouco d e
cuidado com a ques tão d o s i g i l o , não sei como é que
f i c a .
O S R . DEPUTADO J A I R O CARNEIRO - S i m , a
senhora pode f a z e r r e s t r i ç ã o d o s i g i l o , f i c a r somente
no u s o r e s t r i t o d o Conselho. Pode r e g i s t r a r i s s o . na
correspondênc ia que encaminhar.
A S R A . KÁTIA RABELLO - Aí vou p e d i r a o D r .
Jo se C a r l o s que me a j u d e a . . .
O S R . DEPUTADO J A I R O CARNEIRO - E n t ã o , v o u
repet ir a p e n a s p e l a i m p o r t â n c i a : quem é que e s t a v a
l e g i t i m a d o , como r e p r e s e n t a n t e l e g a l , a a s s i n a r o
con t ra t o ? @ a i s foram a s g a r a n t i a s c o n t r a t u a i s ? E ,
quando eu f a l o em l e g i t i m i d a d e , t em que ver segundo o
e s t a t u t o da organização c o n t r a t a n t e , mutuar ia , se
houve a u t o r i z a ç ã o , a s s i m como numa empresa ... ( . . . ) à s
vezes, é o Conselho d e Admin i s t ração que a u t o r i z a
alguém a a s s i n a r o c o n t r a t o . No p a r t i d o p o l i t i c o e n o
e s t a t u t o d o p a r t i d o também existe i s s o .
&-NU&& Inq 2 .245 / MG 011940
Nos encon t ros e j a n t a r e s com o Deputado
J o s é Dirceu, em nenhum momento fo i tratado qualquer
assunto relacionado com empréstimos para o PT nem com
empréstimos para sua ex-mulher, ou houve?
A SRA. KÁTIA RABELLO - Não. Na verdade,
durante o jantar e le falou um pouco sobre a ex-mulher,
mas no sentido pessoal, contando lá da loja que eles
tinham, parece, em sociedade. Jamais tocou n e s s e
a s sun to .
Tendo em v . i s ta todo o con tex to f á t i c o - p r o b a t ó r i o
envolvendo os denunciados, t r a n s b o r d a r i a o s l i m i t e s do judicium
a c c u s a t i o n i s , momento que é r eg ido p e l o p r i n c í p i o do i n dubio
p r o s o c i e t a t i s , a c o l h e r desde logo o argumento da de fe sa de que
a s operações de renovação de empréstimos p e l a adminis t ração do
Banco Rural "devem ser i n t e r p r e t a d a s como um e s f o r ç o pragmát ico
de g e s t ã o de r i s c o p e r a n t e um a n t i g o c l i e n t e que apresentava
d i f i c u l d a d e s econômicas". Como bem des t aca RODOLFO T I G R E MAIA",
a o b j e t i v i d a d e j u r i d i c a do t i p o d e f i n i d o no a r t . 4' da Lei n o
7 . 4 9 2 / 8 6 é a "transparência, a l isura, a honradez e a l icitude
na gestão das instituições financeiras, requisitos
indispensáveis à credibilidade e à existência destas e do
sistema que conformam".
R- N&&& Inq 2 .245 / MG 011941
Ainda, o depoimento de G U I L H E R M E RABELLO, Diretor
Operacional do BANCO RURAL S .A . , demonstra a plausibilidade d a
acusação por gestão f raudulenta , e não meramente temerár ia ,
quando af irmou o seguin te ( f l s . 3 6 0 5 / 3 6 0 6 ) :
Que, alguns d i a s após o falecimento de JOSÉ
AUGUSTO DUMONT, passou a t e r conhecimento dos
empréstimos tomados pe las empresas vinculadas a MARCOS
VALÉRIO, bem como pe lo Partido dos Trabalhadores-PT;
Que se assus tou com os va lores dos empréstimos
concedidos, tendo estranhado o f a t o de não ter havido
o trâmite normal de aprovação de c r é d i t o s ; ( . . . ) Que,
após o fa lec imento d e AUGüSTO DUMONT a s operações d e
empréstimos a MARCOS VALÉRIO e ao PT ficaram e v i d e n t e s
aos demais d i r e t o r e s do Banco Rural , que v e r i f i c a r a m
que a s operações estavam vencidas; Que, ao v e r i f i c a r o
vencimento d a s operações, a Diretoria do banco começou
a t r a t a r a poss í ve l l iqu idação das operações, e para
t a n t o necessitavam de tempo; Que a s empresas de MARCOS
VALÉRIO foram chamadas para negociar o pagamento dos
empréstimos; Que a convocação para a renegociação dos
empréstimos ocorreu l o g o após o falecimento de JOSÉ
AUGUSTO DUMONT e a n t e s da ec losão do denominado "CASO
MENSd0"; Que não conversou com nenhum representante
das empresas SMP&B e GRAFITTE sobre a negociação dos
empréstimos; Que não sabe d i z e r qua i s forani o s
represen tan tes do banco nessas negociações, mas - provavelmente JOSÉ ROBERTO SALCPDO par t i c ipou das
conversas; Que JOSÉ ROBERTO SALGADO é o a tual V ice -
l? Dos Crimes con t r a o Sistema F inance i ro Nacional . 1' ed . Z a t i r agem. São Paulo: Malheiros E d i t o r e s , 1 9 9 9 . p . 56 .
&+ 8a&u Inq 2.245 / MG 0 1 1 9 4 2
Presidente Executivo do GRUPO RURAL; Que não sabe
dizer se o PT foi chamado para negociar o pagamento do
empréstimo; Que, após o falecimento de AUGUSTO DUMONT,
a diretoria passou a renovar os empréstimos1z na busca
de uma solução amigável para o empréstimo; ( . . . ) Que
somente o Departamento Jurídico do Banco Rural pode
explicar as negociações que levaram ao acordo judicial
que permitiu que empresas de MARCOS VALÉRIO sacassem
dinheiro de suas contas bancárias que mantinham no
Banco Rural; ( . . . )
Por fim, a alegação de que não houve uma correta
individualização das condutas de cada um dos denunciados não me
parece suficiente para impedir o recebimento da denúncia neste
ponto.
É verdade que a jurisprudência da Corte vem ganhando
novos contornos no tema da "denúncia genérica" em crimes
societários. Mas a nova orientação não se estende ao caso em
análise.
O delito de gestão fraudulenta de instituição
financeira é classificado como crime próprio, para o qual se
exige uma especial qualidade do sujeito ativo, que, no caso, é
dada pelo art. 25 da Lei no 7 . 4 9 2 / 8 6 , verbis:
Art. 25. São penalmente responsáveis, nos
termos desta Lei, o controlador e os administradores
l2 O que demonstra que as renovações continuaram mesmo após o falecimento de JOSÉ AUGUSTO DUMONT.
Inq 2.245 / MG
de instituição financeira, assim considerados os
diretores, gerentes (vetado) .
0s denunciados são, exatamente, as pessoas
responsáveis pela gestão do Banco Rural, como, aliás, se lê nos
depoimentos de Carlos Sanches Godinho, ex Superintendente de
Compliance do Banco, e do denunciado José Roberto Salgado. Veja-
se o seguinte e relevante trecho do depoimento de GODINHO'~
(Apenso 84 ) :
Que, indagado sobre os empréstimos do PT e
das empresas de Marcos Valério, esclareceu que esses
empréstimos foram formalizados, contabilizados,
informados à Central de Risco de Crédito do Bacen, mas - não foram pagos; Que a Resolução do BACEN 2682, que
dispõe sobre "RATING" de clientes e operações de
crédito, estabelece que [as Instituições Financeiras]
devem seguir um critério de provisionamento em função
de qualidade das garantias e pontualidade do
pagamento, e, no caso especifico do PT e SMPB, - os
empréstimos foram classificados como "rating" AA, o
gue evitou a contabilização do provisionamento das
renovações ocorridas a cada 90 dias, independentemente
de pagamento ou amortização; Que o único
provisionamento apontado é aquele ocorrldo em função
de determinação do BACEN por ocasião do balanço
semestral; Que, pela Resolução do BA(3EN, a situação
dos empréstimos do PT e SMPB exigia uma
l 3 Carlos Godinho, como visto no capitulo 4, foi forçado a entrar no PDV, em razao de ter se recusado a assinar um relatório em que o Conselho de Administração excluiu, de suas conclusões, os indícios de lavagem de dinheiro por parte da SMPLB e do PT.
@$2&%?w NU&& Inq 2.245 / MG
011944 reclassificação do "rating" em função da falta de
pagamento/amortização; Que a c l a s s i f i c a ç ã o do "ra t ing"
incumbia ao Serv iço de Assessoria de Crédi to ,
subordinada ao Dire tor E s t a t u t á r i o Welerson Antônio da
Rocha, o q u a l , por sua v e z , se reportava ao Vice-
Presidente Operacional José Roberto Salgado; Que todo
emprés t~mo t inha uma proposta e l e t r ô n i c a , com
autorização por a lçadas , de acordo com o va lor e o
s e t o r de a t l v l d a d e econômica do c l i e n t e , e , no caso
específico, tanto a Dra. Kátia Rabello, Presidente do
Rural, como o Vice-presidente Gperacional, José
Roberto Salgado, aprovaram as renovações/operaçÔes
novas; Que, no caso dos empréstimos para o PT e SMPB,
a alçada era do Comitê de Crédito Central, com - aprovação da Presidente ou do Vice-presidente
Operacional ; Que a Vice-presidente Ayanna não
Integrava o Comitê Central de Crédl to , mas, como
responsável pela prevenção à lavagem de dinheiro, - não
podia alegar que desconhecia a atipicidade das
movimentações acima do padrão; ( . . . ) esc larece que, em
razão do excesso de recursos que ingressaram nas
contas da SMPB, ultrapassando muito o faturamento
mensal cadastrado no Banco Rural e a falta de
amortizaçÕes/pagamentos dos empréstimos, a situação
pode ser considerada atipica em relação ao mercado
financeiro;
A l i á s , a própria acusada KÁTIA RABELLO admitiu essa
sua posição de quem é informada sobre tudo o que se passa no
banco. Ainda que de modo i n d i r e t o , e l a as s ina lou , em depoimento
&+ B&@& Inq 2 . 2 4 5 / MG
0 1 1 9 4 5
ao Conselho de É t i c a , que t i n h a conhecimento do que se passava
nesses contra tos de empréstimo celebrados pelo Banco Rural com o
PT e com Marcos V a l é r i o . Leio, apenas para demonstrar que e s t a
afirmação tem base nos au tos , mais um t r e c h o do depo imen todes ta
acusada perante o Conselho de Ét ica e Decoro Parlamentar da
Câmara (Apenso 81) :
O S R . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - ( . . . ) Diz a
acusação contra o Deputado José Dirceu, a t r ibu indo
também ao c a s a l , o S r . Marcos V a l é r i o e a sua esposa,
S r a . Renilda: "Dirceu sabia dos empréstimos ao PT".
"Mulher de V a l é r i o l i g a Dirceu a empréstimos".
"Renilda envolve Dirceu e apressa sua convocação". Sem
qualquer r i s c o de lapso de memória de V . S a . , c r e i o
que já haja respondido anteriormente , mas é importante
de ixar muito pa ten te . Então, r e p i t o , sem qualquer
r i s c o de lapso de memória, a senhora declara o que,
quanto a e s s a s af irmações publicadas em manchetes de
jornais? O Deputado José Dirceu t inha conhecimento das
operações contraidas pe lo PT junto ao seu banco?
A SRA. K Á T I A RABELLO - Não POSSO fazer essa
afirmação.
O S R . DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - M a s do seu
conhecimento. . .
A SRA. K Á T I A RABELLO - Não.
&-&&H& Inq 2.245 / MG O 1 1 9 4 6
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Do seu
conhecimento não.
A SRA. KÁTIA RABELLO - Não. DOS meus
contatos com ele . . .
O SR. DEPUTADO JAIRO CARNEIRO - Sobre
recebedores de saques, listagens de recebedores de
saques, nas anotações que foram oferecidas e
fornecidas por sua empresa, nos depoimentos prestados
e no conjunto de informações fornecidos as BMi's, em
algum momento, figura o nome do Deputado José Dirceu
como destinatário de qualquer valor?
A SRA. KÁTIA RABELLO - Não que seja do meu
conhecimento. Acho que, se tivesse, eu saberia.
Considerando que as fraudes narradas pelo Parquet
foram supostamente praticadas em concurso com outros crimes
(lavagem de dinheiro, evasão de divisas), com a participação de
inúmeros outros agentes, não seria possível que a denúncia
individualizasse, minudenciasse, a conduta de cada acusado, dada
a impossibilidade material de fazé-10.
Diferentemente dos casos em que começou a se esboçar a
nova orientação da Corte, não se imputou aos gestores do Banco
Rural a prática de crime que poderia ter sido praticado por um
qualquer diretor do Banco, isoladamente. Os dirigentes
denunciados não comunicaram ao Banco Central a ocorrência de
& q B&@& Inq 2.245 / MG 0 1 1 9 4 7
movimentações financeiras suspeitíssimas, comparadas ao
rendimento do cliente. No caso em análise, os quatro denunciados
eram responsáveis pelo Comitê de Prevenção a Lavagem de
Dinheiro, pelas áreas de compliance, contabilidade, jurídica e
tecnológica, justamente as áreas em que as supostas fraudes na
gestão da instituição financeira teriam sido praticadas. Assim,
seria impossível excluir um ou alguns deles dos fatos narrados
na denúncia, ao menos por ora. Neste momento, a única conclusão
possível é de que, ao menos .em tese, seria necessária a
participação de todos os denunciados para que as supostas
fraudes pudessem ser praticadas.
Do exposto, Senhora Presidente, considero
perfeitamente atendidos os termos do art. 41 do Código de
Processo Penal, não havendo qualquer dificuldade para que os
denunciados se defendam dos fatos a eles atribuídos na denúncia,
não sendo exigível, por ora, que o P a r q u e t enuncie exatamente os
atos praticados por cada um para caracterizar as fraudes na
gestão do Banco Rural, mesmo porque não é de se supor que tenham
deixado registros próprios dos crimes eventualmente praticados.
Recebo a denúncia contra JOSÉ ROBERTO SALGADO, AYANNA
TEN~RIO, VINÍCIUS SAMARANE e KÁTIA RABELLO, pela suposta prática
do crime definido no art. 4 O da Lei no 7 . 4 9 2 / 8 6 , nos termos do
art. 29 do Código Penal, conforme descrito no item V da inicial
acusatória.
&+NU&& Inq 2 . 2 4 5 / MG
DAS IMPUTAÇÕES DE CORRUP~ÃO ATIVA, CORRUPÇÃO PASSIVA,
QUADRILHA E LAVAGEM DE DINHEIRO (PARTIDOS DA BASE ALIADA DO
GOVERNO) - Capitulo VI da denúncia
Este c a p i t u l o d a denúncia é d i v i d i d o em s u b i t e n s ,
sendo r e l e v a n t e , para sua adequada compreensão, a l e i t u r a d a
introdução f e i t a pelo Procurador-Geral d a República, nos
seguin tes termos ( f l s . 5 7 0 5 / 5 7 0 7 ) :
Toda a e s t r u t u r a montada por José Dirceu,
Delúbio Soares, José Genoíno e S í l v i o Pereira t i n h a ,
e n t r e seus o b j e t i v o s , angariar i l i c i tamente o apoio de
outros par t idos p o l í t i c o s , para formar a base de
sustentação ao Governo Federal.
Nesse s e n t i d o , e1 e s ofereceram e ,
poster iormente , pagaram v u l t o s a s quant ias a diversos
parlamentares federa i s , principalmente os d i r i g e n t e s
p a r t i d á r i o s , para receber apoio p o l í t i c o do Partido
Progressis ta - PP, Part ido Trabalhis ta B r a s i l e i r o -
PTB e par te do Part ido do Movimento Democrático
B r a s i l e i r o - PMDB.
P a r a a execução dos pagamentos de propina,
José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoíno e S i l v i o
Pereira valeram-se dos s e r v i ç o s prestados por Marcos
V a l é r i o , Ramon Hollerbach, C r i s t i a n o P a z , Rogério
To len t ino , Simone Vasconcelos e Geiza Dias.
Portanto, na forma do a r t i g o 29 do Código
Pena 1 , o s denunciados ind icados deverão responder, em
concurso m a t e r i a l , por todos os crimes de corrupção
a t i v a que praticaram, os quais serão devidamente
&+ &-&- Inq 2 . 2 4 5 / MG
narrados em tópicos individualizados para cada partido
poli tico.
De plano, importante destacar que algumas
das agremiações políticas corrompidas, como s e verá
ad ian te , chegaram a estruturar quadrilhas autônomas
para viabilizar o cometimento dos crimes de corrupção
passiva e lavagem de capitais, c o n s i s t e n t e s no
recebimento direto ou disfarçado dos pagamentos de
propina em troca de integrarem a base de apoio ao
Governo Federal.
Quando eram rea l i zadas retiradas em
espécie, obje t ivando não de ixar qualquer s inal da sua
par t ic ipação, os beneficiários reais apresentavam um
terceiro, indicando o seu nome e qua l i f i cação para o
recebimento de v a l o r e s .
Além dos pagamentos, que foram comprovados
pelos documentos obtidos em razão do cumprimento de
medida de busca e apreensão no Banco Rural, é prec iso
reg i s t rar que vários repasses foram efetuados
diretamente por Marcos V a l é r i o e Simone Vasconcelos,
sem qualquer registro formal, ainda que rudimentar.
Com e f e i t o , era muito comum Simone
Vasconcelos sacar o s va lores em espéc ie e entregar
pessoalmente aos b e n e f i c i á r i o s f i n a i s , assim como era
habi tual que a s quant ias sacadas em dinheiro fossem
entregues diretamente a Marcos Va lér io para que
entregasse ao d e s t i n a t á r i o f i n a l
Como já podemos notar a p a r t i r des ta introdução, o
Minis tér io Público F e d e r a l acusa:
&$kmZz4 &&&& Inq 2.245 / MG
0 1 1 9 5 0 1) JOSÉ DIRCEU, DELÚBIO SOARES, JOSÉ GENOÍNO, SÍLVIO
PEREIRA, MARCOS VALÉRIO, RAMON HOLLERBACH, CRISTIANO PAZ,
ROGÉRIO TOLENTINO, SIMONE VASCONCELOS e GEIZA DIAS de oferecerem
e, posteriormente, pagarem vultosas quantias a diversos
parlamentares federais, principalmente os dirigentes
partidários, para receber apoio politico do Partido Progressista
- PP, Partido Liberal - PL, Partido Trabalhista Brasileiro - PTB
e parte do Partido do Movimento Democrático Brasileiro - PMDB.
Tal conduta configura, em tese, crime de corrupção
ativa, por conter os elementos típicos descritos no art. 333 do
Código Penal, verbis:
Corrupção ativa
Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem
indevida a funcionário público, para determiná-lo a
praticar, omitir ou retardar ato de oficio:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze)
anos, e multa.
( . . . I
2 ) Acusa, ainda, Parlamentares federais e,
principalmente, dirigentes partidários do PP, PL, PTB e PMDB, de
receberem pagamento de propina em troca de "apoio político" ao
Governo Federal nas votações realizadas no Congresso.
Imputa, assim, a tais denunciados, a prática do crime
de corrupção passiva, cujos elementos típicos estão, ainda em
tese, configurados. Senão, vejamos:
Seçáo de Processos Diversos do Plenário
TERMO DE ENCERRAMENTO DE VOLUME
Em 0&I de de &003 , fica encerrado o 35' volume dos presentes autos do (a) % à folha no 5 , Seção de Processos Diversos do Plenário. Eu,
P/ , Analista/Técnico Judiciário, lavrei o p/esente ~errho.