escrevendo as horas: usos e convenções de uma abreviatura

20
101 Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010 Escrevendo as horas: usos e convenções de uma abreviatura Ana Elisa Ribeiro Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais Resumo: Este artigo apresenta uma discussão de base sociolinguística sobre convenções da língua portuguesa escrita. O trabalho está ancorado em debates sobre o novo Acordo Ortográfico e em autores brasileiros importantes dos estudos linguísticos contemporâneos. Faz-se uma reflexão sobre as “colunas” sobre língua e linguagem publicadas nos meios de comunicação de massa. Com base em pesquisa bibliográfica em gramáticas, dicionários e manuais conhecidos, apresenta-se uma série de prescrições sobre abreviaturas e, em seguida, passa-se a demonstrar os usos da abreviatura de “horas” em pesquisa empírica, em sala de aula, com alunos de engenharia de instituição pública federal de ensino técnico e superior. Conclui-se que, a despeito das prescrições, os usos variam enormemente, sendo pouco influenciados pelas prescrições. Palavras-chave: convenções da escrita; abreviaturas; prescrições gramaticais. TEMPOS DE CRISE E REFLEXÃO Em tempos de discussão e implementação de um novo acordo ortográfico, as convenções da língua escrita padrão ficam ainda mais evidentes e podem ser mais bem compreendidas pelos usuários e aprendizes dessa modalidade. Uma série de manuais vem sendo publicada com a intenção de esclarecer falantes e escreventes da língua portuguesa 1 , afora o espaço que os debates (muita vez infundados e espetacularizados) sobre o novo acordo vêm tendo nas mídias de massas. Não são poucos os programas de rádio, televisão e as colunas de jornal (impresso e digital) que traz como tema as alterações de "regras"como as do hífen ou do trema 2 . 1 Só para citar alguns, O novo acordo ortográfico da língua portuguesa. O que muda, o que não muda, do prof. Maurício Silva (editora Contexto, 2008) e, do Instituto Antônio Houaiss, publicado pela PubliFolha, Escrevendo pela nova ortografia. Como usar as regras do novo acordo ortográfico da língua portuguesa (2008). 2 Só para citar alguns, o site Digestivo Cultural (www.digestivocultural.com) fez um especial sobre o acordo ortográfico que vige a partir de 2009, embora a maior parte dos articulistas não seja formada por especialistas em língua. Além desse site, foram publicadas colunas como a de Gabriel Perissé e as de uma gama de professores conhecidos por abordarem questões de língua portuguesa. Na televisão, vários programas abordaram o novo acordo, inclusive o Jornal Nacional, da rede Globo, que ofereceu ao público uma série

Upload: rafael-miranda

Post on 08-Nov-2015

5 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Escrevendo as horas:usos e convenções de uma abreviatura

TRANSCRIPT

  • 101

    Ana Elisa Ribeiro

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    Escrevendo as horas:usos e convenes de uma abreviatura

    Ana Elisa RibeiroCentro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais

    Resumo: Este artigo apresenta uma discusso de base sociolingustica sobre convenesda lngua portuguesa escrita. O trabalho est ancorado em debates sobre o novo AcordoOrtogrfico e em autores brasileiros importantes dos estudos lingusticos contemporneos.Faz-se uma reflexo sobre as colunas sobre lngua e linguagem publicadas nos meios decomunicao de massa. Com base em pesquisa bibliogrfica em gramticas, dicionrios emanuais conhecidos, apresenta-se uma srie de prescries sobre abreviaturas e, emseguida, passa-se a demonstrar os usos da abreviatura de horas em pesquisa emprica,em sala de aula, com alunos de engenharia de instituio pblica federal de ensino tcnicoe superior. Conclui-se que, a despeito das prescries, os usos variam enormemente, sendopouco influenciados pelas prescries.Palavras-chave: convenes da escrita; abreviaturas; prescries gramaticais.

    TEMPOS DE CRISE E REFLEXO

    Em tempos de discusso e implementao de um novoacordo ortogrfico, as convenes da lngua escrita padro ficamainda mais evidentes e podem ser mais bem compreendidas pelosusurios e aprendizes dessa modalidade. Uma srie de manuaisvem sendo publicada com a inteno de esclarecer falantes eescreventes da lngua portuguesa1, afora o espao que os debates(muita vez infundados e espetacularizados) sobre o novo acordovm tendo nas mdias de massas. No so poucos os programas derdio, televiso e as colunas de jornal (impresso e digital) que trazcomo tema as alteraes de "regras"como as do hfen ou do trema2.1 S para citar alguns, O novo acordo ortogrfico da lngua portuguesa. O que muda,

    o que no muda, do prof. Maurcio Silva (editora Contexto, 2008) e, do InstitutoAntnio Houaiss, publicado pela PubliFolha, Escrevendo pela nova ortografia.Como usar as regras do novo acordo ortogrfico da lngua portuguesa (2008).

    2 S para citar alguns, o site Digestivo Cultural (www.digestivocultural.com)fez um especial sobre o acordo ortogrfico que vige a partir de 2009, emboraa maior parte dos articulistas no seja formada por especialistas em lngua.Alm desse site, foram publicadas colunas como a de Gabriel Periss e as deuma gama de professores conhecidos por abordarem questes de lnguaportuguesa. Na televiso, vrios programas abordaram o novo acordo,inclusive o Jornal Nacional, da rede Globo, que ofereceu ao pblico uma srie

  • 102

    Escrevendo as horas: usos e convenes de uma abreviatura

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    Nesse momento, importante utilizar esses espaos como frumde um debate que pode ser mais educativo e esclarecedor do quepropriamente doutrinador. Muito embora o tom de muitas reflexesseja o de "aula de portugus", de vrias formas a abordagem doassunto como uma conveno, ou seja, um acordo3 entre pases.fazemergir o sentido de escolha que essas regras tm e, porextenso, seus manuais.

    A lngua padro, para Rodrigues (2004, p. 14), , semdvida, um caso de padro ideal. Uma lngua falada porningum,tida, pelos membros de uma sociedade, como aceitvelem razem como tema as alteraes de regras como as do hfen oudo trema2. Neste momento, importante utilizar esses espaoscomo frum de um debate que pode ser mais educativo eesclarecedor do que propriamente doutrinador. Muito embora otom de muitas reflexes seja o de aula de portugus, de vriasformas adeterminadas situaes, em que outras variantes nopodem ter a mesma aceitao. Faraco (2004, p. 39) faz questo dediferenciar norma padro de norma culta. Segundo essespesquisadores, essas normas, afinal, no so a mesma coisa. O quese chama, para Faraco (2004, p. 40), de norma ou lngua padro o (...) processo fortemente unificador (que vai alcanar basicamenteas atividades verbais escritas), que visou e visa uma relativaestabilizao lingustica, buscando neutralizar a variao e controlara mudana. Para ambos os linguistas, o ideal de norma (padro),e mesmo a norma culta (menos rgida, a princpio), atinge mais ombito do escrito, que tende a parecer menos varivel e, por queno, mais mistificado pelas sociedades grafocntricas.

    Na escrita, Faraco (2004, p. 42) lembra que (...) a eliteletrada conservadora se empenhou em fixar como nosso padroum certo modelo lusitano de escrita, praticado por alguns escritoresportugueses do Romantismo (cf. Pagotto, 1998; Faraco, 2002). Dauma escrita no apenas mais estvel e preciosa, como tambm umaescrita moldada por ideais que j no eram nossos antes mesmo de

    especial de matrias sobre o assunto, infelizmente convocando comoespecialistas professores como Pasquale Cipro Neto, que ditam mais do queexplicam.

    3 O dicionrio Aurlio sculo XXI traz a acepo de pacto como uma daquelasreferentes palavra acordo. As acepes de conveno so ainda maisajustadas ao caso, valendo a pena consult-las.

  • 103

    Ana Elisa Ribeiro

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    serem fixados. Para alinhavar a discusso, sem, no entanto,intentar conclu-la, Bagno (2004, p. 179) realinha os conceitos denorma culta e norma padro, fazendo com o leitor o combinado depreterir a primeira em favor de expresso melhor: variedadescultas, o que d s lnguas cultas possveis a flexibilidade que elasde fato tm. norma padro resta a frieza de estar cristalizada efora de circulao (se que se pode dizer que tenha circulado).

    IMPRENSA E NORMA

    A imprensa brasileira (e ela certamente no caso isolado)tem sistematicamente dado espao a especialistas em lnguaportuguesa, muita vez em colunas fixas e muito lidas. H quemcolecione as dicas de muitos personagens experts em regras danorma padro, prescritas com fora de lei e desprovidas de qualquersombra de discusso. O que est ali no norma culta, enfatize-se,mas a norma que parece precisar ser sempre repetida, repisada,porque ningum sabe e quase ningum, tambm, usa. Com o novoacordo ortogrfico, esse tipo de coluna ou colunista ganhou flego,o que logo se percebe com uma breve navegada em sites e jornais.

    Segundo Faraco (2004, p. 52), esse tipo de coluna teve inciono sculo XIX, com o gramtico Cndido de Figueiredo, dono deespaos em jornais de Lisboa e do Rio de Janeiro, cuja funo eracaar erros de lngua em toda parte e condenar furiosamente osfalantes por sua suposta ignorncia lingustica e pelo descuido edescaso das questes vernculas. Faraco (2004, p. 37) aponta aproeminncia que os meios de comunicao do, no Brasil, acusao de que os brasileiros supostamente no sabem falar eescrever corretamente. A despeito da existncia dessa polciasobre a lngua, na expresso de Faraco (p. 49), h nisso algumponto positivo. A existncia de espaos nos meios de comunicaosocial para se discutir os fenmenos da lngua em geral e do padroem especial, o que, para o pesquisador, pode ser uma fonte deenriquecimento da cultura lingustica da populao (e, por essavia, vetor politicamente relevante do combate aos preconceitos e discriminao social de base lingustica (...) ou espao dedivulgao cientfica (por exemplo, dos estudos do portugus quese ampliam no Brasil). No entanto, fazendo-se um voo rasantepelos textos publicados na imprensa ultimamente, v-se logo queo tom educativo e cientfico no foi o que prevaleceu.

  • 104

    Escrevendo as horas: usos e convenes de uma abreviatura

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    Scherre (2004, p. 218) bem menos complacente do queFaraco. Para ela, a identificao entre norma e lngua um desservioprestado pelas mdias de massas populao. No raro, algumtenta explicar que o manual normatiza, mas a lngua falada temmuito mais formas de escapar aos ditames gramatiqueiros do quesupem os donos de colunas de portugus. Os poetas, h muitotempo, transcendendo todos os acordos ortogrficos, j sabiam queo portugus so dois4 e que h algum mistrio em saber por querazo se ensina um portugus que no h na fala, to parecido comuma lngua estrangeira.

    LNGUA ESCRITA E CONVENO

    A lngua escrita faz parte da vida cotidiana de todos oscidados, seja na quase obrigatoriedade de l-la em placas e outdoors,rtulos e jornais dirios, seja na necessidade de escrever bilhetesdomsticos, e-mails profissionais, poemas ou laudos tcnicos. Tantoem ambiente domstico quanto em situaes profissionais, hconvenes que nos escapam a todo momento e podem fazer muitaou nenhuma diferena na compreenso de informaes.

    Embora no sejam objeto de algum novo acordo, asabreviaturas institucionalizadas (Rocha, 1999, p. 180) so umdos campos em que mais se tem dvidas. Para vrias reasprofissionais, abreviaturas so de suma importncia, tal como naengenharia ou na biologia, na qumica ou na geologia, nas quaispesos, medidas, volumes e informaes precisas no prescindemde smbolos e abreviaturas que trazem ao texto economia elegibilidade.

    As discusses fomentadas pelo novo acordo ortogrficosobre convenes da escrita (e ento surge a angstia de percebero quanto sabamos da escrita padro e o quanto teremos dereaprender), embora no atinjam as abreviaturas, tornam o debatesobre convenes muito mais aceso, motivo que nos leva ademonstrar a diferena entre prescrio e uso com base em umaatividade em sala de aula de redao tcnica para cursos deengenharia, em instituio pblica federal de Minas Gerais.

    4 Carlos Drummond de Andrade, no poema Aula de Portugus, na obraPoesia completa (editora Nova Aguilar, 2002).

  • 105

    Ana Elisa Ribeiro

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    Segundo Rocha (1999, p. 180), a distino entre derivaosiglada e abreviatura de suma importncia em lngua portuguesa.Enquanto as siglas tm comportamento peculiar nas oraes, aabreviatura no se configura como uma formao derivacional. Aabreviatura, segundo o autor, no tem existncia na linguagemoral, sendo este um dos motivos pelos quais ela no consideradauma palavra da lngua. Rocha diferencia abreviaturasinstitucionalizadas ou espordicas, sendo estas um recursoparticular de que as pessoas lanam mo para abreviar ou facilitaro processo da escrita, de forma irregular e instvel. J asabreviaturas institucionalizadas seriam aquelas convencionadaspor manuais e gramticas, mas que nem sempre dominamos, comose ver a seguir.

    USOS E NORMAS: ESTUDO DE CASO

    Para exemplificar a diferena entre usos e normas,focalizamos o emprego da abreviatura de hora ou horas. Umaatividade de retextualizao em sala de aula, no Centro Federal deEducao Tecnolgica de Minas Gerais, com trs turmas deengenharia (Eltrica, Computao e Materiais), ofereceu insumopara a discusso sobre o uso de convenes, alm de pesquisabibliogrfica sobre prescries em vigor.

    Em nossas atividades como professores de Redao Tcnica, evidente a demanda, por parte da instituio e dos alunos, poraulas prticas que abordem textos informativos e instrucionais,dispensando o tratamento de gneros menos ligados engenharia.Muito embora o aluno, em geral, reconhea a importncia da teoriae da reflexo lingustica, ele comumente solicita a regra, omacete e a prescrio que deve empregar em textos comorelatrios, laudos, pareceres e artigos acadmicos em cinciasexatas.

    A despeito de nosso foco, naquelas aulas, no ser esse, umaatividade de retextualizao nos trouxe dados interessantes arespeito do uso de abreviaturas institucionalizadas. O caso dehoras foi o mais evidente, tornando-se nosso tema neste trabalho.Antes de descrever a aula e mostrar os dados obtidos, recorreremoss gramticas e aos manuais de redao para verificar a prescriosobre a abreviatura de horas, problema com o qual nossos alunos

  • 106

    Escrevendo as horas: usos e convenes de uma abreviatura

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    depararam no segundo semestre de 2008, durante as aulas deRedao Tcnica, e devem se deparar frequentemente, ao longodos anos passados e futuros.

    HORAS COM H

    Em pesquisa bibliogrfica no exaustiva sobre convenespara abreviaturas, comum encontrar quadros e boxes queexplicitam o que se deve usar, o que se tem de usar, semqualquer explicao sobre essas escolhas. Medidas (metros,quilmetros, etc.), volumes (litros, mililitros, etc.), pesos (quilos,arrobas, etc.) so vastamente abordados tanto em gramticasnormativas quanto em manuais de redao. So curiosos os nomesdas sees em que se encontra esse tipo de informao, em geraldiagramada de forma objetiva e legvel, para consulta rpida efrequente, por leitores que, provavelmente, veem-se s voltas comdvidas localizadas.

    Foram consultados os manuais da Folha de S.Paulo e o doGrupo Associados, do qual faz parte o jornal Estado de Minas, queapresenta tambm um manual especfico. Alm desses, foramconsultados os manuais A arte de escrever bem e Escrever melhor, deautoria de Dad Squarisi e Arlete Salvador, jornalistas e autoras decolunas sobre lngua portuguesa. As gramticas normativasconsultadas foram Gramtica mnima, de Antnio Surez Abreu; oDicionrio de dificuldades da lngua portuguesa, de Domingos PaschoalCegalla; a Nova gramtica do portugus contemporneo, de CelsoCunha e Lindley Cintra; a Gramtica normativa da lngua portuguesa,de Rocha Lima. O dicionrio Aurlio sculo XXI foi fonte, com overbete hora. Como uma espcie de contraponto, consultamostambm o Guia de uso do portugus, da linguista Maria Helena deMoura Neves.

    MANUAL DA REDAO

    Nos manuais de redao e estilo de jornais, espcie delivro de consulta para muitos profissionais, muitas vezes preferidos gramticas, por serem, supostamente, de consulta mais fcil, asabreviaturas so uma seo importante e diagramada com cuidado.

  • 107

    Ana Elisa Ribeiro

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    No Manual do Grupo Associados, de que fazem parte oEstado de Minas e o Correio Braziliense, s para citar dois importantesdirios brasileiros, a abreviatura para horas est localizada emuma seo intitulada SOS (Pronto-socorro gramatical) (Squarisi,2005, p. 63). O curioso nome da seo permite entrever a sentidoemergencial da consulta, assim como certa acepo das convenesda escrita como um remdio para todo mal de sade da lnguaescrita. Embora a autora do Manual parea ter tido a inteno dogracejo, essa brincadeira no deixa de ser sinal da forma comoso concebidas a escrita e seu usurio. A regra da abreviatura dehora est assim descrita:

    A abreviatura de hora h; de minuto, min; e segundo, s(sem ponto). No se observam espaos entre o nmero e aabreviatura: 5h, 5h25, 5h25min30 (s se escreve min se foremespecificadas as horas at segundo. Em cronometragem esportiva,usam-se as abreviaturas min e s, mas milsimos de segundodispensam indicao) (Squarisi, 2005a, p. 63).

    essa a explicao que se repetir, com mnimas alteraesde estilo, por todos os manuais consultados (e, provavelmente,pelos no-consultados tambm). Em outra seo do Manual dosAssociados, intitulada Embalar o peixe (padronizao), a autorarepete as regras, fazendo acrscimos e dando exemplos:

    Horas1. Sempre se usam com artigo: Trabalha entre as 2h e as 16h.2. A abreviatura de hora h; de minuto min; de segundo, s

    (sem ponto).3. No h plural das abreviaturas.4. As horas que indicam durao no se abreviam: A reunio

    durou 11 horas (no 11h).5. No se observam espaos entre os nmeros e a abreviatura:

    3h15, 0h30.6. S se escreve min se forem especificadas as horas at segundo:

    3h15min16. (Squarisi, 2005, p. 49).

    O Manual de redao e estilo da Folha de S.Paulo maiseconmico. Na pgina 50, seo Padronizao e estilo, itemAbreviaturas e smbolos, prescreve que Seu uso [de abreviaturas]deve ser evitado em textos. No invente abreviaturas. A seguir,

  • 108

    Escrevendo as horas: usos e convenes de uma abreviatura

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    menciona apenas as mais usadas da Folha, entre as quais estHora = h.

    Na pgina 73 do mesmo manual, na mesma seo, o verbetehorrio apresenta exemplos do que se deve e no se deve usar naFolha, mas que muitos usurios tomam como regra geral. Oexpediente visual utilizado pelo projeto do Manual da Folha merecedestaque. Os casos positivos, quando a conveno empregadacorretamente, so impressos em letras verdes. Os casos negativos,quando a norma no observada, so impressos em vermelho. Nopor acaso, as cores do permitido e do proibido em vrioscontextos de nossa cultura.

    1. O dia comea 0h e termina s 24h, ou meia-noite. Amadrugada vai da 0h s 6h; a manh, das 6h s 12h (ou meiodia); a tarde, das 12h s 18h; a noite, das 18h s 24h;

    2. no use m para abreviar minutos (m abreviatura de metro).No abrevie o termo minutos no registro de horrio: 12h45.Em cronometragem esportiva, use as abreviaturas min e s(milsimos de segundo dispensam abreviatura): O corredorcompletou a prova em 2h10min36s356, quase dois minutos frente do segundo colocado;

    3. no use algarismos para registrar durao: A conferncia seprolongou por duas horas e 40 minutos, e no 2h40 (Folha deS.Paulo, 2001, p. 73).

    O Manual da redao do jornal Estado de Minas, escrito porvrios autores, prescreve sobre a abreviatura de horas em duassees (p. 22 e p. 47). O item Hora e tempo (Estilo, p. 47)apresenta a mesma regra dos outros manuais, com acrscimo deinformaes sobre quando usar 0h ou 24h.

    Nos manuais escritos para o pblico geral, sem a chancelados jornais, as jornalistas Dad Squarisi e Arlete Salvador utilizamo mesmo tom de gracejo do manual dos Associados para apresentaras convenes de lngua e padronizaes. Em A arte de escrever bem,as regras no so apresentadas. Somente na pgina 95, as autorasaplicam a abreviatura de Hora. No manual Escrever melhor,pgina 158, na seo Ora, a hora, em captulo intitulado Ciladasda lngua, Squarisi e Salvador comeam a tratar da abreviatura dehoras em um texto um tanto infanto-juvenil:

  • 109

    Ana Elisa Ribeiro

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    Que escravido! O relgio no d sossego. hora depular da cama, hora do banho, hora do caf, hora donibus, hora do ponto, hora da reunio, hora do almoo,hora do banco, hora da consulta, hora do lanche, hora dacarona, hora da faculdade. Ufa!

    Concluso: hora pra l de poderosa. Contra ela, noadianta lutar. O bom senso, no caso, aconselha entender-se com a controladora. o que diz o povo sabido: Se vocno pode com ela, junte-se a ela.

    O que fazer? S h uma sada aprender a indicar ashoras. Em outras palavras: usar o grampinho necessrio.Mand-lo pras cucuias se for preciso (Squarisi; Salvador,2008, p. 158)

    A meno ao grampinho refere-se marcao de crase,para situaes em que se quer escrever, por exemplo, das 14h s18h. Mais adiante (seo Hora, a sem-sem), as autoras frisam:

    bom lembrar. Nesta alegre Pindorama, fala-seportugus. Por isso, a abreviatura de horas no suportadois pontos (2:15 coisa de ingls). Aqui a reduo segueregras prprias. Nada de plural. Nem de espao. Nem deponto depois da abreviatura: 2h, 2h15, 2h15min40(Squarisi; Salvador, 2008, p. 182).

    Mais uma vez, sem qualquer explicao sobre lngua escrita,convenes e escolhas, o manual normatiza sobre uma abreviatura,inclusive mencionando outros usos, em outros pases, de formapejorativa.

    DICIONRIO E GRAMTICAS

    No dicionrio Aurlio sculo XXI, o verbete hora apontado como palavra de origem grega e depois latina, substantivofeminino, cujo smbolo o h. Alm da acepo 1 (A 24a parte dodia natural, ou do tempo que a Terra leva para fazer uma rotaocompleta sobre si mesma), mais objetiva, h ainda sete outrasacepes e 42 exemplos de usos da palavra.

  • 110

    Escrevendo as horas: usos e convenes de uma abreviatura

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    Nas gramticas consultadas, a conveno para abreviaturade hora no traz novidades. Abreu (2003) oferece ao leitor umalista de abreviaturas principais (p. 40), na qual est o h, valendopara a palavra no singular e no plural. Na pgina 41, o gramticoobserva que os smbolos tcnicos como h, km, min, seg etc. soescritos com letra minscula, no tm plural e no so seguidos deponto, e d exemplos da maneira correta de escrever as horas:Sete horas = 7h; Sete horas e trinta minutos = 7h30min; Dez horas= 10h; Vinte e duas horas e quarenta minutos = 22h40min.

    Cegalla (2007), assim como Abreu (2003), menciona ossmbolos cientficos e medidas, que se abreviam sem ponto e sems plural. aqui que as horas aparecem como exemplos. Tambmafirma ele ser melhor evitar as abreviaturas e escrever 9 horas,por exemplo. Mais uma vez, as informaes se repetem e o gramticomenciona o fato de no se poder usar dois pontos em horas.

    Cunha e Cintra (2001, p. 116), na Nova gramtica do portuguscontemporneo, conhecida por sua relativa flexibilidade, abordam aabreviao vocabular no captulo que trata de derivao ecomposio. Os autores do a seguinte explicao para o uso dasabreviaturas:

    O ritmo acelerado da vida intensa de nossos dias obriga-nos, necessariamente, a uma elocuo mais rpida.Economizar tempo e palavras uma tendncia geral domundo de hoje.Observamos, a todo momento, a reduo de frases epalavras at limites que no prejudiquem a compreenso. o que sucede, por exemplo, com os vocbulos longos, eem particular com os compostos greco-latinos de criaorecente: auto (por automvel), foto (por fotografia), moto(por motocicleta), nibus (por auto-nibus), pneu (porpneumtico), quilo (por quilograma), etc. Em todos eles,a forma abreviada assumiu o sentido da forma plena(Cunha; Cintra, 2001, p. 116).

    A formao de siglas e a abreviao de palavras somencionadas de passagem, sem grandes explicaes e nemexemplificaes extensas. O gramtico Rocha Lima (1997), napgina 227 de seu compndio, aborda, na seo Outros tipos de

  • 111

    Ana Elisa Ribeiro

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    formao de palavras, os mesmos casos citados por Cunha eCintra, inclusive com os mesmos exemplos.

    A linguista Maria Helena Moura Neves (2003), em seu Guiade uso do portugus, que, como o nome diz, trata mais dos usos doque das convenes, aborda o verbete hora sem muitasexplicaes. Rejeita a prescrio cega, mas tambm no corroborao que chama de vale-tudo, como se o padro fosse alcanvelapenas pelas classes dominantes. Muito embora o compndio tratedos usos, surpreende-nos o tom prescritivista de muitos verbetes,tal como em outros manuais: O smbolo h (sem ponto e invarivel),que se usa em seguida ao numeral, na indicao de horrio.Reunies de orao todas as manhs das 6 H s 8 H e nas teras e sextass 20 H (CB).

    Embora tratem o fenmeno como moderno e ligado aoritmo acelerado da vida intensa de nossos dias (Cunha; Cintra,2001), nenhum dos estudiosos aqui citados menciona a emergnciavivssima das abreviaturas espordicas (conforme Rocha, 1999)com o advento dos chats (bate-papos na internet).

    OS USOS

    No segundo semestre de 2008, a disciplina Redao Tcnica5foi ministrada a todas as turmas do ensino superior do CentroFederal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais, dandocontinuidade s disposies das matrizes curriculares de todas asengenharias, que se preocupam em formar sujeitos letrados e bonsredatores de textos tcnicos, a despeito dos esteretipos que cercamos engenheiros quanto produo de textos.

    Esse trabalho vem sendo desenvolvido com seriedade eclareza de propsitos, por professores qualificados do departamentode Linguagem e Tecnologia da instituio, principalmente aquelesda coordenao de Lngua Portuguesa.

    Em uma das primeiras atividades do curso em foco, foisolicitado s turmas (no total, 119 estudantes) que lessem um textooriginalmente falado (ver Anexo). Tratava-se de uma locuo derdio evanglica na qual um locutor dava notcias sobre eventos e

    5 Muito embora o nome da disciplina possa variar, de um curso para outro:Tcnicas de Redao Cientfica e Portugus Instrumental so alguns dosnomes adotados pela instituio.

  • 112

    Escrevendo as horas: usos e convenes de uma abreviatura

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    expedientes da rdio aos espectadores. O texto fora transcrito, deforma bastante fiel fala, a partir de uma transmisso comum, emdia de semana, no final da dcada de 1990, como parte de atividadesacadmicas no curso de Letras da Universidade Federal de MinasGerais.

    A leitura do texto no foi precedida de qualquer explicaomais detalhada ou alguma teoria sobre aspectos da oralidade e daescrita. Era nossa inteno que os estudantes manifestassem suasimpresses sobre aquele material, inclusive descrevendo o impactoda leitura de um texto truncado, repetitivo e hesitante como aquele.No queremos aqui nos alinhar a uma teoria de texto que trata aoralidade como o lugar da desordem e do caos sinttico. Nossaconscincia do continuum fala/escrita (principalmente apoiada emMarcuschi, 2001) nos permite, no entanto, descrever o texto emfoco naquela atividade como uma produo falada bastantedistanciada do texto escrito mais padronizado, muito embora olocutor certamente estivesse apoiado em um lembrete escritoquando fez os anncios.

    Os estudantes de engenharia demonstraram incmodo naleitura do texto, empreendendo a leitura mais de uma vez eresmungando sobre dificuldades de ler, incompreenso econfuso no material. Depois de vrios minutos de leitura quetomavam conscincia de que se tratava da transcrio de um textofalado. Manifestaram, da, suas primeiras impresses sobre o textooral errado, incorreto e passaram a culpar o indivduo locutorpelo problema. S aps essa entrada no texto que iniciamosuma discusso, mais seriamente, sobre as transformaes pelasquais aquele texto poderia passar para que se tornasse maislegvel, j que ainda ali era um texto audvel.

    Era interessante observar as reaes dos estudantes,tambm, diante da leitura encenada do texto transcrito. Aoouvirem uma leitura mais parecida com a locuo (at porqueforam utilizados os sinais de transcrio empregados pelo projetoNorma Urbana Culta (NURC), os quais permitem algumaaproximao com a entonao e as nfases dadas pelo locutor), osalunos eram surpreendidos pela compreenso mais fcil e passavama comentar as facilidades da entonao e do ritmo dado pela fala.

    Aps a leitura do texto, foi solicitado que os estudantesfizessem uma retextualizao do oral para o escrito (Marcuschi,2001; DellIsola, 2007), segundo o comando:

  • 113

    Ana Elisa Ribeiro

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    REESCREVA o texto de maneira a ajust-lo a umamodalidade de escrita com as seguintes caractersticas: a.evidencie que se trata de uma notcia; b. esclarea que uma interao entre jornalista e leitor; c. tenha como metauma linguagem clara e objetiva, no entanto mais formale mais prxima da norma padro do que a utilizada pelolocutor; d. imagine que o novo texto ser publicado emum jornal impresso de bairro, j que as notcias parecembastante locais (Ribeiro, 2008).

    As produes dos alunos foram ajustadas por eles mesmos,com o auxlio de colegas que fizeram a reviso em pares. A entregados textos finais professora foi feita uma semana aps a aula deretextualizao. Mesmo tendo tido condies de melhorar seustextos, muitos alunos ainda apresentaram notcias muito prximasdaquela transcrita com base na locuo de rdio. A dificuldadealegada para se alcanar a meta do trabalho era de que faltavacoragem para mexer no texto alheio, assim como alguma incertezaparalisante sobre critrios de edio, o que pode e o que no podefazer. Eram algumas questes: mudana vocabular; alterao denomes e inveno de nomes para personagens; aspectos dautilizao de diticos, assim como referncias como hoje eamanh no texto escrito. Tambm surgiram dvidas sobreintervenes mais pesadas nas formulaes sintticas do texto,assim como na eliminao de repeties e na reorganizao defrases truncadas ou hesitaes.

    O tipo de operao de edio (Fiad, 1991) mais comum narefaco dos textos foi a subtrao (corte), seguido das substituiese dos deslocamentos de partes do texto, em geral coincidindo como ajuste na ordem de informaes. Quase no ocorreram adies(inseres).

    Em relao conveno sobre os usos de horas, houvegrande variao nos modos de apresentao da abreviatura, muitoem desacordo com o que estabelecem manuais e gramticas. Otexto motivador da tarefa trazia algumas referncias ao horrio deum evento e aos horrios de visitao sede da rdio evanglica.Eram informaes intransponveis, que, de uma forma ou de outra,ressurgiram nas retextualizaes.

  • 114

    Escrevendo as horas: usos e convenes de uma abreviatura

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    Na transcrio, o problema j surgia quando a transcritoraoptou por grafar todas as palavras por extenso. No entanto, asretextualizaes, que visavam publicao em jornal impresso, emsua maioria, optaram por expressar horas de forma abreviada.

    Dos 119 alunos de engenharia, 110 entregaram os textosque consideraram finais. A anlise da grafia de hora nesses 110ocorreu conforme o grfico mostra:

    Figura 1: Grfico da distribuio das ocorrnciasde abreviatura de hora

    bastante evidente que os estudantes que deixaram demencionar (13,6% dos 110 alunos) o horrio autorizado para visita rdio evanglica ou o horrio em que aconteceria o eventonoticiado infringiram uma expectativa importante para o leitor/ouvinte ou mesmo deixaram de atender a uma necessidadepragmtica desse gnero de texto, assim como o tornaram menosinformativo. Esse tipo de problema tambm poderia ocorrercaso algum redigisse um convite de casamento ou de aniversriosem a data ou sem o horrio de incio da festa, embora se possa, emgeral, culturalmente, presumir algum.

    Em torno de 20% dos alunos empregaram os dois pontospara abreviar hora. Foi bastante comum encontrar, nos textos,9:00 ou 9:30, ocorrncia considerada coisa de ingls por Squarisie Salvador (2008). O uso, bastante comum no dia a dia de milhesde escreventes de e-mails e bilhetes, condenado pelos manuais deredao e estilo.

    Outros 17,2% dos estudantes de engenharia fizeram usomais prximo do que indicam os manuais, optando por abreviar

  • 115

    Ana Elisa Ribeiro

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    horas como 9h ou 9h30. Entre essas ocorrncias, tambm surgiramas imprprias (segundo a prescrio) 9h30min ou 9h00min, quepreferimos perdoar, j que a abreviatura de hora estava presentenos textos. No caso dos dois pontos, tambm ocorreram hbridos,tais como 9:00hs ou 12:00 horas, que consideramos pelo critrio dapresena dos dois pontos.

    A maior parte dos alunos de engenharia, porm, optou porescrever de nove horas ao meio-dia por extenso. Deveu-se isso,provavelmente, a uma contaminao do texto transcrito, que,grande parte das vezes, foi editado no computador, a partir dacpia digital do arquivo6. Muito provavelmente, o nmero deabreviaturas teria sido muito maior, caso o texto fosse apenasnarrado, para transcrio dos prprios alunos. Houve tambm oscasos daqueles que questionaram o uso de abreviaturas,manifestando seu desconforto em empreg-las, assim como suapreferncia por escrever por extenso para contornar o problema.De qualquer forma, mesmo sem saber, esto eles agindo conformeaconselha, por exemplo, Cegalla (2007).

    CONSIDERAES FINAIS DESPRETENSIOSAS

    Do que se mostrou neste artigo, parece ficar evidente que osusos so bastante diversos da prescrio e mesmo entre si, sofrendoinfluncia de muitos outros usos. Certamente, a forma como aabreviatura de hora (entre outras) aparece em textos de amplacirculao social encontra seus ecos na produo textual de todos.Cartazes, outdoors e jornais populares certamente tm maisinfluncia sobre a grafia de smbolos e abreviaturas do que osmanuais, que, mesmo diante da dvida, nossos alunos noconsultam.

    A fora da conveno precisa ser maior do que a correnteda lngua e de seus usos. A tenso entre essas duas coisas to forteque h a necessidade (comprovada pelo investimento editorial naesses ensinamentos, de forma ininterrupta. Os usos, mesmo maisna rea) de se publicar, continuamente, manuais e guias com todosesses ensinamentos, de forma ininterrupta. Os usos, mesmo na

    6 No incio do semestre letivo, todos os alunos recebem a apostila de RedaoTcnica por e-mail, em formato PDF, mas conseguem copiar o texto para umeditor tipo Word.

  • 116

    Escrevendo as horas: usos e convenes de uma abreviatura

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    escrita, parecem fortes e vivos, tal como ocorre na fala, no entantomais cercados pelas convenes e tambm mais aceitos pelapreocupao difusa das pessoas em seguir alguma regra paraescrever.

    No se quer dizer aqui que seja o caso do vale-tudo, quetambm condena Moura Neves, mas importante refletir sobre osignificado das convenes para a produo textual, especialmentediante da angstia de aprendizes que dizem precisar saber comose faz em situaes profissionais, perodos probatrios e sob oolhar de chefes exigentes, no-linguistas que encontram no errode portugus um meio de chantagear e rebaixar seus estudantese funcionrios.

    Tambm importante a reflexo sobre os usos, os porqusdos usos e a consulta aos manuais, no que eles tm de consenso e,principalmente, no que tm de dissenso. A dvida e oquestionamento so, certamente, muito mais frteis do que odirimir impensado de dvidas que pululam pelos quatro cantos dasala de aula.

    REFERNCIAS

    ABREU, Antnio Surez. Gramtica mnima. Para o domnio da lnguapadro. Cotia, SP: Ateli Editorial, 2003.

    BAGNO, Marcos. Lngua, histria & sociedade: breve retrospecto da norma-padro brasileira. In: BAGNO, Marcos (Org.). Lingustica da norma. 2 ed. SoPaulo, Loyola, 2004. p. 179-199.

    CEGALLA, Domingos Paschoal. Dicionrio de dificuldades da lngua portuguesa.Rio de Janeiro: Lexicon, 2007.

    CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramtica do portugus contemporneo.3 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

    DELLISOLA, Regina Lcia Pret. Retextualizao de gneros escritos. Rio deJaneiro: Lucerna, 2007. 96p.

    FARACO, Carlos Alberto. Norma-padro brasileira: desembaraando algunsns. In: BAGNO, Marcos (Org.). Lingustica da norma. 2 ed. So Paulo:Loyola, 2004. p. 37-61.

    FERREIRA, Aurlio Buarque de H. Aurlio sculo XXI. 3 ed. So Paulo:Positivo, 2004.

  • 117

    Ana Elisa Ribeiro

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    FIAD, Raquel Salek. Operaes lingusticas presentes nas reescritas detextos. Revista Internacional de Lngua Portuguesa, n. 4, p. 91-97, jan. 1991.

    FOLHA DE S.PAULO. Manual de redao e estilo. 4 ed. So Paulo: Publifolha,2001.

    LIMA, Carlos H. da Rocha. Gramtica normativa da lngua portuguesa. 34 ed.Rio de Janeiro: Jos Olympio, 1997.

    MARCUSCHI, Luiz Antnio. Da fala para a escrita: atividades deretextualizao. 2 ed. So Paulo: Cortez, 2001.

    NEVES, Maria Helena de Moura. Guia de uso do portugus: confrontandoregras e usos. So Paulo: Editora Unesp, 2003.

    RIBEIRO, Ana Elisa. Prtica de texto para engenharias: Gneros dos domniosacadmico e profissional. Belo Horizonte: CEFET-MG, 2008. (Apostila)

    ROCHA, Luiz Carlos de Assis. Estruturas morfolgicas do portugus. BeloHorizonte: Editora da UFMG, 1999.

    RODRIGUES, Aryon DallIgna. Problemas relativos descrio do portuguscontemporneo como lngua padro no Brasil. In: BAGNO, Marcos (Org.).Lingustica da norma. 2 ed. So Paulo, Loyola, 2004. p. 11-25.

    SCALIONI, Slvio et al. Manual da redao. Estado de Minas. Belo Horizonte:Estado de Minas, s/d.

    SCHERRE, Maria Marta Pereira. A norma do imperativo e o imperativo danorma: uma reflexo sociolingustica sobre o conceito de erro. In: BAGNO,Marcos (Org.). Lingustica da norma. 2 ed. So Paulo, Loyola, 2004. p. 217-251.

    SQUARISI, Dad. Manual de redao e estilo. Braslia: Fundao AssisChateaubriand, 2005.

    SQUARISI, Dad; SALVADOR, Arlete. A arte de escrever bem: um guia parajornalistas e profissionais do texto. 3 ed. So Paulo: Contexto, 2005.

    SQUARISI, Dad; SALVADOR, Arlete. Escrever melhor. Guia para passar ostextos a limpo. So Paulo: Contexto, 2008.

  • 118

    Escrevendo as horas: usos e convenes de uma abreviatura

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    ANEXOTexto transcrito de transmisso radiofnica, em Belo Horizonte.

    B . { amm (sim)... olha gente aqui tambm quero sugeri pra vocso seguinte... tem muitas pessoas que no tm dinheiro... pra...compr um carto s vezes a... no tem telefone em Casa... t?...entocs faz o seguinte... vocs faz/ o/ tem a caixa postal pra vocscoloc o/ a caixa postal gera dinheiro ento t bom/ (digo) vemaqui na rdio... agora ns aceitamos aqui a visita de vocs de novea meio dia TODOS OS DIAS da semana ento gente vale a pena avocs conferi o nosso endereo mais uma vez... olha... rua Eugra/::: rua (Eutlen) Gracia... de Almeida E/ Eutlia Engrcia deAlmeida... t bom? dois sete dois a ... aqui no mirante do Tupi uma casa amarela... MUIto bem localizada em qualqu parte quevoc cheg do Tupi do Guarani do Floram do Jardim Guanabarado p/ Conjunto Felicidade pra esse lado aqui voc v a casaamarela ento... vale a pena a pra gente... realmente... muitasligaes a gente fica feliz demais da conta mais... gente... lig acobr ... igual eu falei a emissora um/ ela num tem fins lucrativoela est aqui pra anunci e pra divulg a palavra do Senh ento sevoc liga voc gera custo gerano custo ns num temos aonde tir...se a gente num tem aonde tir... a fechado a/ a/ a emissora e aa/ as coisa pega... m/ mais n? ento gente... vamo l... torcendoa ligando no quatro quatro CInco::: quatro quatro CInco::: TREZEoitenta e um ns vamos a particip aqui comigo no ar a ltimaparticipao t valendo (pra) voc a pode lig (a gente) vaiparticip quatro quatro cinco... treze oitenta e um... vai ligando eparticipando porque a Comunidade FM... sua... minha... NOssa ( )CORTE NA GRAVAO(...) ato evangelstico no Floram no dia vinte nove que ser amanhn Rodrigo? vai t l toda equipe da Comunidade a dezoito e trintaque vai s na pracinha do vinte dois quatorze... no final... na ruaJoaquim Clemente... t? no final do nibus vinte dois quatorzeento voc pode peg o vinte dois quatorze a e b... desc no final...ou ento... peg... porque o final do a e b o mesmo final t gente? ento vocs podem peg o a e o b... o cinquenta e cinco zero setea b e c que passa em frente... a pracinha... do vinte e dois quatorzeque o final t bom? a ( ) Produes vai estar L tambm

  • 119

    Ana Elisa Ribeiro

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010

    apresentando a Banda Azul e Expresso Paz com (Ronaldo) Luiz...Luciano Rgis... o Anderson Clayton pra vocs a t e toda equipeda Comunidade FM... realizao... realizao t seno da primeiraigreja batista em Floram... t bom? maiores informaes vocpode adquiri no endereo... rua Cirandinha duzentos e quinze... nobairro Floram OU... pelo telefone... quatro trs quatro... cinconove dezesseis... t bom? t apoiano tambm... Cruzarte que aarte em serigrafia camisetas promocionais... cartaz silk screen emgeral... a rua pode s/ a rua vai s gente... gripado fogo nRodrigo? a rua... Jos Drummond ... setenta e oito no bairroFloram o TELEfone... quatro trs quatro meia sete dez t? aIrmos Cruz vai est l atendeno voc e olha... a camiseta daComunidade feito por eles t?... coisa de primeira... e oSupermercado Vem-Que-Tem... onde voc encontra os melhorespreos... e o mais baixo... MAIS BAIXO t bom? fica na rua ProfessorGabriela Varela... nmero s/ seiscentos e setenta e cinco no bairroFloram... aqui... em Belorizonte v ligano e participando a peloquatro quatro cinco... TREze oitenta e um...

    Recebido em janeiro de 2009e aceito em setembro de 2009

    Title: Writing the time: uses and conventions for an abbreviationAbstract: This article presents a sociolinguistic-based discussion about writing Portugueseconventions related to current discussions about the new Acordo Ortogrfico da LnguaPortuguesa (new Portuguese spelling conventions). Important Brazilian authors ofcontemporary language studies are cited. It is a reflection on the language columnspublished in the mass media. Based on important grammars, dictionaries and manuals, thepaper presents a series of requirements on abbreviations and then demonstrates the usesof the abbreviation of the word hours in empirical research in the classroom, withengineering students from a federal public institution of technical and higher education.The analysis shows that, despite the requirements, the usage varies enormously, beinglittle affected by prescriptions.Keywords: writing conventions; abbreviations; grammatical prescriptions.

  • 120

    Escrevendo as horas: usos e convenes de uma abreviatura

    Linguagem & Ensino, Pelotas, v.13, n.1, p.101-119, jan./jun. 2010