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Ser jovem Ser jovem é não perder o encanto de qualquer espera. É sobretudo, não ficar fixado nos padrões da própria formação. Ser jovem é ter abertura para o novo na mesma medida do respeito ao imutável. É acreditar um pouco na imortalidade em vida, é querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua o impossível, distante. Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali. É só pensar na morte de vez em quando. É não saber de nada e poder tudo. Ser jovem é ainda acordar, pelo menos de vez em quando, assobiando uma canção antes mesmo de escovar os dentes. Ser jovem é não dar bola para o síndico mas reconhecer que ele está na sua. É achar graça do riso, ter pena dos tristes e ficar ao lado das crianças. Ser jovem é estar sempre aprendendo inglês, é gostar de cor, xarope, gengibirra, e pastel de padaria. Ser jovem é não ter azia, é gostar de dormir e crer na mudança; é meter o dedo no bolo e lamber o glacê. É cantar fora do tom, mastigar depressa e engolir devagar a fala do avô. É gostar de barca da Cantareira, carro velho e roupa sem amargura. É bater o papo com a baiana, curtir o ônibus e detestar meia marrom. Ser jovem é beber muitas chuvas, ter estranhas, súbitas e inexplicáveis atrações. É temer o testemunho, detestar os solenes, duvidar das palavras. Ser jovem é não acreditar no que está pensando exceto se o pensamento permanecer depois. É saber sorrir e alimentar secretas simpatias pelos crentes que cantam nas praças em semicírculo, Bíblia na mão, sonho no coração. É gostar de ler e tentar silêncios quase impossíveis. É acreditar no dia novo como a obra de Deus. É ser metafísica sem ter metafísica. É curtir trem, alface fresquinha, cheiro de hortelã. É gostar até de talco. Ser jovem é ter ódio de cachimbo, de bala jujuba. De manipulação de ser usado. Ser jovem é ser capaz de compreender a tia, de entender o reclamo da empregada e apoiar o seu atraso. Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama. É gostar de beijo, de pele, de olho. Ser jovem não é perder o hábito de se encabular. É ir para ser apresentado (“-Já conhece o fulano?’’) morrendo de medo. Ser jovem é permanecer descobrindo. É querer ir à lua ou conhecer Finlândias, Escócias, e praias adivinhadas. É sentir cheiro de férias, cheiro de mãe, chegando em casa em dia de chuva, cheiro de festa, aipim, camisa nova, marcenaria ou a toalha lá d o clube. Ser jovem é andar confiante com quem salta, se possível de mãos dadas com o ar. É ter coragem de nascer a cada dia e embrulhar as fossas no celofane do não faz mal. É acreditar em frases, pessoas mitos, forças, sons, é crer no que não vale a pena mas ai da vida se não fosse isso. É descobrir um belo que não conta. É recear as revelações e ir para casa com o gesto de seu silêncio amargo ou agridoce. ESCOLA ESTADUAL “DR. JOSÉ MARQUES DE OLIVEIRA - ANO 2018 Trabalho de Estudos Independentes Nome Turma Ano Data Nota Disciplina Lingua Portuguesa Prof. Alessandra A. Silva Valor 30

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Ser jovem

Ser jovem é não perder o encanto de qualquer espera. É sobretudo, não ficar fixado

nos padrões da própria formação. Ser jovem é ter abertura para o novo na mesma medida do

respeito ao imutável.

É acreditar um pouco na imortalidade em vida, é querer a festa, o jogo, a brincadeira,

a lua o impossível, distante. Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali. É só

pensar na morte de vez em quando. É não saber de nada e poder tudo.

Ser jovem é ainda acordar, pelo menos de vez em quando, assobiando uma canção

antes mesmo de escovar os dentes. Ser jovem é não dar bola para o síndico mas reconhecer

que ele está na sua. É achar graça do riso, ter pena dos tristes e ficar ao lado das crianças.

Ser jovem é estar sempre aprendendo inglês, é gostar de cor, xarope, gengibirra, e

pastel de padaria. Ser jovem é não ter azia, é gostar de dormir e crer na mudança; é meter o

dedo no bolo e lamber o glacê.

É cantar fora do tom, mastigar depressa e engolir devagar a fala do avô. É gostar de

barca da Cantareira, carro velho e roupa sem amargura. É bater o papo com a baiana, curtir o

ônibus e detestar meia marrom.

Ser jovem é beber muitas chuvas, ter estranhas, súbitas e inexplicáveis atrações. É

temer o testemunho, detestar os solenes, duvidar das palavras. Ser jovem é não acreditar no

que está pensando exceto se o pensamento permanecer depois. É saber sorrir e alimentar

secretas simpatias pelos crentes que cantam nas praças em semicírculo, Bíblia na mão, sonho

no coração.

É gostar de ler e tentar silêncios quase impossíveis. É acreditar no dia novo como a

obra de Deus. É ser metafísica sem ter metafísica. É curtir trem, alface fresquinha, cheiro de

hortelã. É gostar até de talco. Ser jovem é ter ódio de cachimbo, de bala jujuba. De

manipulação de ser usado.

Ser jovem é ser capaz de compreender a tia, de entender o reclamo da empregada e

apoiar o seu atraso. Ser jovem é continuar gostando de deitar na grama. É gostar de beijo, de

pele, de olho. Ser jovem não é perder o hábito de se encabular. É ir para ser apresentado (“-Já

conhece o fulano?’’) morrendo de medo.

Ser jovem é permanecer descobrindo. É querer ir à lua ou conhecer Finlândias,

Escócias, e praias adivinhadas. É sentir cheiro de férias, cheiro de mãe, chegando em casa em

dia de chuva, cheiro de festa, aipim, camisa nova, marcenaria ou a toalha lá d o clube.

Ser jovem é andar confiante com quem salta, se possível de mãos dadas com o ar. É ter

coragem de nascer a cada dia e embrulhar as fossas no celofane do não faz mal. É acreditar em

frases, pessoas mitos, forças, sons, é crer no que não vale a pena mas ai da vida se não fosse

isso.

É descobrir um belo que não conta. É recear as revelações e ir para casa com o gesto

de seu silêncio amargo ou agridoce.

ESCOLA ESTADUAL “DR. JOSÉ MARQUES DE OLIVEIRA - ANO 2018 Trabalho de Estudos Independentes

Nome

Nº Turma

Ano Data Nota

Disciplina Lingua Portuguesa Prof. Alessandra A. Silva Valor 30

Ser jovem é ter a capacidade do perdão e andar com os olhos cheios de capim

cheiroso. É ter tédio passageiros, é amar a vida, é ter uma palavra de compreensão. Ser jovem

é lembrar pouco da infância por não precisar fazê-lo para suportar a vida. Ser jovem é ser

capaz de anestesias salvadoras.

Ser jovem é misturar tudo isso com a idade que tenha trinta, quarenta, cinquenta,

sessenta, setenta ou dezenove. É sempre abrir a porta com emoção. É esperar dos outros o

que ainda não desistiu de querer. Ser jovem é viver em estado de fundo musical de

superprodução da Metro é abraçar as esquinas, mundos, espaços, luzes, flores, livros, discos,

cachorros, e a menininha com um profundo, aberto e incomensurável abraço feito de festa,

cocada preta, dentes brancos e dedos tímidos, todos prontos para os desencontros da vida.

Com uma profunda e permanente vontade de SER.

O texto se propõe a discutir o que é ser jovem.

1) O jovem de que o texto trata é particularizado, ou seja, é um único jovem, ou

representa toda a juventude?

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2) O tema é tratado de modo científico e objetivo ou poético e literário?

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3)As características do texto associam-no a que tipo de gênero: texto de opinião,

argumentativo ou texto científico?

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4)Logo, a finalidade central do texto diz respeito a qual ou quais destes elementos:

informar, transmitir conhecimentos científicos promover reflexões acerca do tema,

emocionar, propiciar uma experiência estética?

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5) Com base em uma visão pessoal e abordando múltiplos aspectos da juventude, o

autor do texto tenta definir o que é ser jovem. Considerando a natureza do objeto

(o jovem), você acha que seria possível definir de modo único e objetivo o que é ser

jovem? Por quê?

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Dê uma interpretação a estes trechos do texto:

6) “Ser jovem é ser bêbado de infinitos que terminam logo ali.’’ (2* Parágrafo)

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7)“É não saber de nada e poder tudo.’’ (2* Parágrafo)

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8)“É ser metafísica sem ter metafísica.’’ (7* Parágrafo)

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O texto aborda diferentes características do jovem.

9 )Em alguma situação, o jovem é descrito fisicamente? Que aspectos do jovem são

enfocados?

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10)Identifique a característica do jovem destacada em cada um destes trechos:

. “Ser jovem é ter abertura para o novo’’ (1* Parágrafo)

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11) . “E querer a festa, o jogo, a brincadeira, a lua, o impossível, o distante’’

(2* Parágrafo)

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12) . “É [...] detestar os solenes, [...] é ter ódio [...] de manipulação de ser usado’’

(6* e 7* Parágrafos)

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13) . “É querer ir à lua ou conhecer as Finlândias, Escócias e praias adivinhadas’’

(9* Parágrafo)

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14) .” É ter coragem de nascer a cada dia e embrulhar as fossas no celofane do

não faz mal’’ (10* Parágrafo)

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De acordo com o último parágrafo:

15) Ser jovem depende da idade? Por quê?

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16) Interprete: “Ser jovem é viver em estado de fundo musical de

superprodução da Metro’’

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17) Ser jovem é “abraçar esquinas, mundos, espaços[...] com um profundo,

aberto e incomensurável abraço feito de festa’’. Na sua opinião, como seria

esse tipo de abraço?

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18) Nessa trajetória do jovem, tudo fica fácil e maravilhoso? Justifique sua

resposta com um trecho do texto.

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Na última frase do texto lemos: “Com uma profunda e permanente vontade de SER.’’

19) Essa frase pode sintetizar a posição do autor sobre o que é ser jovem?

Justifique sua resposta.

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20) Por que a palavra SER está escrita com letras maiúsculas.

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21) E para você, o que é ser jovem? Escreva dez linhas, apresentando seu ponto

de vista sobre o tema.

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22) Leia cuidadosamente o Pop Card abaixo:

Assinale a alternativa que apresenta uma leitura ADEQUADA sobre o texto acima. a) A expressão facial do senhor não representa o estado de espírito de quem padece de diabetes. b) O semblante do homem não pode significar que ele possui o plano de saúde em

questão. c) O fato de o ator escolhido ser um idoso pode não prestar à associação entre a idade

dele e a doença como sendo típica dessa faixa etária.

d) Fotografado numa piscina, o personagem se afasta de um modelo de homem

ativo e saudável, fim do plano de saúde divulgado.

e) O uso do advérbio “sempre” e do adjetivo “cheio” pode se relacionar ao fato de

o homem ter uma idade avançada.

23)

LAERTE. Disponível em:

<http://blog.educacional.com.br>. Acesso: 8 nov. 2015.

Que estratégia argumentativa leva o personagem do terceiro quadrinho a

persuadir sua interlocutora? a) prova concreta, ao expor o produto ao consumidor. b) consenso, ao sugerir que todo vendedor tem técnica. c) raciocínio lógico, ao relacionar uma fruta com um produto eletrônico. d) comparação, ao enfatizar que os produtos apresentados anteriormente são

inferiores. e) indução, ao elaborar o discurso de acordo com os anseios do consumidor.

24) Na modernidade, o corpo foi descoberto, despido e modelado pelos exercícios

físicos da moda. Novos espaços e práticas esportivas e de ginástica passaram a

convocar as pessoas a modelarem seus corpos. Multiplicaram-se as academias de

ginástica, as salas de musculação e o número de pessoas correndo pelas ruas.

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO. Caderno do

professor: educação física. São Paulo, 2008.

Diante do exposto, é possível perceber que houve um aumento da procura por

a) exercícios físicos aquáticos (natação/hidroginástica), que são exercícios de baixo

impacto, evitando o atrito (não prejudicando as articulações), e que previnem o

envelhecimento precoce e melhoram a qualidade de vida.

b) mecanismos que permitem combinar alimentação e exercício físico, que permitem

a aquisição e manutenção de níveis adequados de saúde, sem a preocupação com

padrões de beleza instituídos socialmente.

c) programas saudáveis de emagrecimento, que evitam os prejuízos causados na

regulação metabólica, função imunológica, integridade óssea e manutenção da

capacidade funcional ao longo do envelhecimento.

d) exercícios de relaxamento, reeducação postural e alongamentos, que permitem

um melhor funcionamento do organismo como um todo, bem como uma dieta

alimentar e hábitos saudáveis com base em produtos naturais.

e)dietas que preconizam a ingestão excessiva ou restrita de um ou mais

macronutrientes (carboidratos, gorduras ou proteínas), bem como exercícios que

permitem um aumento de massa muscular e/ou modelar o corpo.

25) O “Portal Domínio Público”, lançado em novembro de 2004, propõe o

compartilhamento de conhecimento de forma equânime e gratuita, colocando à

disposição de todos os usuários da Internet, uma biblioteca virtual que deverá

constituir referência para professores, alunos, pesquisadores e para a população em

geral. Esse portal constitui um ambiente virtual que permite a coleta, a integração, a

preservação e o compartilhamento de conhecimentos, sendo seu principal objetivo o

de promover o amplo acesso às obras literárias, artísticas e científicas (na forma de

textos, sons, imagens e vídeos), já em domínio público ou que tenham a sua

divulgação devidamente autorizada.

BRASIL. Ministério da Educação. Disponível em: <http://www.

dominiopublico.gov.br>. Acesso em: 29 jul. 2009 (adaptado).

Considerando a função social das informações geradas nos sistemas de

comunicação e informação, o ambiente virtual descrito no texto exemplifica a) a dependência das escolas públicas quanto ao uso de sistemas de informação. b) a ampliação do grau de interação entre as pessoas, a partir de tecnologia

convencional.

c) a democratização da informação, por meio da disponibilização de conteúdo

cultural e científico à sociedade.

d) a comercialização do acesso a diversas produções culturais nacionais e

estrangeiras via tecnologia da informação e da comunicação.

e) a produção de repertório cultural direcionado a acadêmicos e educadores.

26)

A campanha institucional em destaque, em sua frase de impacto “Não fique

em silêncio”, traz a desconstrução de um discurso formal e tradicional, próprio do

ambiente hospitalar, gerando um novo contexto temático, que se propõe a

a) refletir sobre a importância do silêncio para a restituição da saúde dos indivíduos

que estão em recuperação nos hospitais das redes públicas.

b) revisitar a antiga ideologia de que os ambientes médicos precisam de silêncio

absoluto, distanciando os pacientes de uma dinâmica mais social.

c) convidar os interlocutores a discutir, de forma aberta, os atos de racismo que

ainda acontecem em relação a muitos profissionais da área de saúde.

d) revelar à população como as segregações sociais ou as discriminações raciais

comprometem a saúde de muitas pessoas.

e) incentivar a população a denunciar qualquer situação que envolva discriminação

racial nas unidades da rede de saúde.

Texto para a questão 27

Na tira, o efeito de humor é provocado pela

a) linguagem utilizada pela mãe, de difícil compreensão para uma criança pequena.

b) fala da mãe, que, apesar de adulta, ainda se emociona com histórias infantis e

demonstra claramente suas preferências por determinados tipos de

personagens.

c) presença de um rato, animal repugnante e perigoso, no quarto de uma criança

que ainda necessita da atenção da mãe para adormecer.

d) reação do rato, que se sente preterido pelo fato de a mãe ter induzido a criança

a rejeitar a história que tem um ratinho como personagem principal.

e) reação da criança, que demonstra preferir a história do “Chapeuzinho

Vermelho” à história do rato, embora conviva com um rato em seu quarto.

Leia a tirinha abaixo e responda à questão 28 e 29.

QUESTÃO 28

Na tirinha, o uso da linguagem informal deve-se ao fato de que a personagem queria

a) dar a impressão de ser amiga dos leitores.

b) demonstrar que não tinha preconceito linguístico.

c) indicar o modo de falar do rei dos Molungos.

d) descrever as características de seu planeta.

e) mandar um recado carinhoso para seu público.

QUESTÃO 29

Ao relacionar o texto e o cenário do último quadrinho, o leitor descobre que

a) os habitantes do lugar não dependiam de amor e afeto como alimentos de carinho.

b) os habitantes do planeta fugiram com receio de os dois vulcões entrarem em

erupção.

c) os súditos do rei e ele próprio estão à beira da extinção pelo fato de não se

alimentarem adequadamente.

d) o rei dos Molungos é o único habitante que restou no lugar.

e) as pessoas esgotaram o ecossistema do planeta.

Leia o texto abaixo e responda a questão 30

O GATO E O ESCURO

Vejam, meus filhos, o gatinho preto, sentado no cimo desta história. Pois ele

nem sempre foi dessa cor. Conta a mãe dele que, antes, tinha sido amarelo, às

malhas e às pintas. Todos lhe chamavam o Pintalgato. Diz-se que ficou desta

aparência, em totalidade negra, por motivo de um susto. Vou aqui contar como

aconteceu essa trespassagem de claro para escuro. O caso, vos digo, não é nada

claro.

Aconteceu assim: o gatinho gostava de passear-se nessa linha onde o dia faz

fronteira com a noite. Faz de conta o pôr do Sol fosse um muro. Faz mais de conta

ainda os pés felpudos pisassem o poente. A mãe se afligia e pedia: – Nunca

atravesse a luz para o lado de lá.

Essa era a aflição dela, que o seu menino passasse além do pôr de algum Sol. O

filho dizia que sim, acenava consentindo. Mas fingia obediência. Porque o

Pintalgato chegava ao poente e espreitava o lado de lá. Namoriscando o proibido,

seus olhos pirilampiscavam. Certa vez, inspirou coragem e passou uma perna para

o lado de lá, onde a noite se enrosca a dormir.

Foi ganhando mais confiança e, de cada vez, se adentrou um bocadinho. Até que

a metade completa dele já passara a fronteira, para além do limite. Quando

regressava de sua desobediência, olhou as patas dianteiras e se assustou. Estavam

pretas, mais que breu. Escondeu-se num canto, mais enrolado que o pangolim. Não

queria ser visto em flagrante escuridão.

(Mia Couto. “O gato e o escuro”. Lisboa:

Caminho, 2000. Adaptado.)

QUESTÃO 31

Analise as afirmativas abaixo:

I. O vocábulo “breu” reforça a ideia da cor negra na comparação estabelecida.

II. O verbo “pirilampiscar” pode ser substituído pelo verbo “zunir” sem

qualquer alteração de significado no texto.

III. Ao invés de usar a célebre expressão “Era um vez” para reportar ao passado, o

narrador faz uso da expressão “Aconteceu assim”, seguida de dois-pontos,

obtendo um efeito similar.

IV. “Nunca atravesse a luz para o lado de lá” representa uma fala do narrador da

história.

É correto o que se afirma em

a) I e II apenas.

b) I e III apenas.

c) II e III apenas.

d) II e IV apenas.

e) II, III e IV apenas.

Texto para a questão a 32

O símbolo do ouro

Contaram-me que, no fundo do sertão de Goiás, numa localidade de cujo nome

não estou certo, mas acho que é Porangatu, que fica perto do rio de Ouro e da serra

de Santa Luzia, ao sul da Serra Azul – mas também pode ser Uruaçu, junto do rio

das Almas e da serra do Passa-Três (minha memória é traiçoeira e fraca; eu esqueço

os nomes das vilas e a fisionomia dos irmãos, esqueço os mandamentos e as cartas

e até a amada que amei com paixão) –, mas me contaram que em Goiás, nessa

povoação de poucas almas, as casas são pobres e os homens pobres, e muitos são

parados e doentes indolentes, e mesmo a igreja é pequena, me contaram que ali tem

– coisa bela e espantosa – um grande sino de ouro.

Lembrança de antigo esplendor, gesto de gratidão, dádiva ao Senhor de um grão-

senhor – nem Chartres, nem Colônia, nem S. Pedro ou Ruão, nenhuma catedral

imensa com seus enormes carrilhões tem nada capaz de um som tão lindo e puro

como esse sino de ouro, de ouro catado e fundido na própria terra goiana nos

tempos de antigamente.

É apenas um sino, mas é de ouro. De tarde seu som vai voando em ondas mansas

sobre as matas e os cerrados, e as veredas de buritis, e a melancolia do chapadão,

e chega ao distante e deserto carrascal, e avança em ondas mansas sobre os campos

imensos, o som do sino de ouro. E a cada um daqueles homens pobres ele dá cada

dia sua ração de alegria. Eles sabem que de todos os ruídos e sons que fogem do

mundo em procura de Deus – gemidos, gritos, blasfêmias, batuques, sinos, orações,

e o murmúrio temeroso e agônico das grandes cidades que esperam a explosão

atômica e no seu próprio ventre negro parecem conter o germe de todas as

explosões – eles sabem que Deus, com especial delícia e alegria, ouve o som alegre

do sino de ouro perdido no fundo do sertão. E então é como se cada homem, o mais

pobre, o mais doente e humilde, o mais mesquinho e triste, tivesse dentro da alma

um pequeno sino de ouro.

Quando vem o forasteiro de olhar aceso de ambição, e propõe negócios, fala em

estradas, bancos, dinheiro, obras, progresso, corrupção – dizem que esses goianos

olham o forasteiro com um olhar lento e indefinível sorriso e guardam um modesto

silêncio. O forasteiro de voz alta e fácil não compreende; fica, diante daquele

silêncio, sem saber que o goiano está quieto, ouvindo bater dentro de si, com um

som de extrema pureza e alegria, seu particular sino de ouro. E o forasteiro parte,

e a povoação continua pequena, humilde e mansa, mas louvando a Deus com sino

de ouro. Ouro que não serve para perverter, nem o homem nem a mulher, mas para

louvar a Deus.

E se Deus não existe não faz mal. O ouro do sino de ouro é neste mundo o único

ouro de alma pura, o ouro no ar, o ouro da alegria. Não sei se isso acontece em

Porangatu, Uruaçu ou outra cidade do sertão. Mas quem me contou foi um homem

velho que esteve lá; contou dizendo: “eles têm um sino de ouro e acham que vivem

disso, não se importam com mais nada, nem querem mais trabalhar; fazem apenas

o essencial para comer e continuar a viver, pois acham maravilhoso ter um sino de

ouro”.

O homem velho me contou isso com espanto e desprezo. Mas eu contei a uma

criança e nos seus olhos se lia seu pensamento: que a coisa mais bonita do mundo

deve ser ouvir um sino de ouro. Com certeza é esta mesma a opinião de Deus, pois

ainda que Deus não exista ele só pode ter a mesma opinião de uma criança. Pois

cada um de nós quando criança tem dentro da alma seu sino de ouro que depois, por

nossa culpa e miséria e pecado e corrupção, vai virando ferro e chumbo, vai virando

pedra e terra, e lama e podridão.

(Rubem Braga. Os melhores contos de Rubem Braga. 10. ed. São Paulo:

Global, 1999, p. 1

No trecho “E a cada um daqueles homens pobres ele dá cada dia sua ração de

alegria”, o autor sugere que o sino é considerado pelos homens do povoado

como

a) o símbolo de ouro existente na região.

b) um alimento espiritual.

c) um perfeito instrumento musical.

d) uma obra de arte, como uma pintura.

e) uma grande riqueza material

Leia o texto a seguir. E responda às questões 33 e 34

A publicidade na TV

O pesquisador Jesus Martín Barbero diz que, através da publicidade,

nossa sociedade constrói dia a dia a imagem que cada um tem de si. Para

ele, a publicidade é u espelho, apesar de bem deformado, pois a imagem

do lado de lá é muito mais bela que a imagem do lado real.

A publicidade, no passado, teve a função de vender produtos. Era

sua razão de ser. Hoje, ela tem outra função muito especial: a de

demonstração de modelos a serem seguidos, isto é, apresentação de

padrões físicos, estéticos, sensuais, comportamentais, aos quais as

pessoas devem se amoldar. A publicidade dita regras de reconhecimento

e valorização social. (...)

Se no passado ela funcionava como a TV, as revistas A, o cinema,

apresentando indiretamente esses modelos estéticos, hoje, a venda de

mercadorias – sua aparente razão de ser – tornou-se secundária.

Em primeiro lugar, ela vende, define, idealiza os modelos

estéticos¹, sexuais e comportamentais.

Além disso, a publicidade na sociedade industrial capitalista

funciona como um reforço diário das ideologias², do princípio da

valorização das aparências, da promoção de símbolos de status (carros,

roupas, ambientes, bebidas, joias, objetos luxuosos de uso pessoal). De

certa maneira, como no humor B, a publicidade reforça também

tendências negativas, encobertas ou disfarçadas, da cultura. Ela confirma

diferenças, segregações³, distinções, trabalhando em concordância com

os preconceitos sociais e com as discriminações de toda espécie (...). Em

suma, ela é produzida para estar de acordo e, portanto, para reforçar as

desigualdades e os problemas sociais, culturais, étnicos ou políticos. Essa

função reforçadora é seu suporte para a venda de mercadorias, pois, ao

mesmo tempo que incita4 ao consumo, é o próprio veículo, o transporte

dos valores e dos desejos que estão ancorados na cultura que as consome.

As mercadorias trazem em si, incorporado, tudo aquilo que a sociedade

(...)

A publicidade, especialmente a de TV, veicula valores: a raça

branca (dominante) é transmitida, por exemplo, como a única bela,

modelar5, válida. No Peru, na África, no Nordeste

brasileiro, a criança branca de olhos azuis, docemente cuidada por sua

mãe loira, de cabelos sedosos e aveludados, é o tipo ideal de publicidade.

A pesquisadora alemã Karin Buselmeler realizou uma interessante

pesquisa sobre a imagem da mulher na televisão. Ela constatou, em

primeiro lugar, que a mistificação6 do trabalho doméstico ocorre de

forma mais clara na publicidade, colocando os afazeres7 de casa como

um "trabalho nobre" de mulher. A mulher aparece nesses quadros como a

responsável pela

felicidade da família, felicidade só atingível pela aquisição de produtos

oferecidos pela publicidade. O filho teria poucas chances de brincar, no

parque infantil, se não cuidasse atentamente de seus cabelos; o marido,

se não possuir a camisa branca, brilhante, será olhado de modo

atravessado pelos colegas. De tudo isso a mulher tem de cuidar. (...)

Em resumo, concluímos então que a publicidade trabalha através

da promoção de puras aparências: não se compram mercadorias por suas

qualidades inerentes8, nem pelo seu valor de uso9, mas pela imagem

que o produto veicula no ambiente da vida do consumidor. Nenhuma dessas

mercadorias realiza de fato o que promete, isto é, nenhum cigarro propicia

aventuras, nenhum carro traz vida luxuosa, nenhum uísque conquista

mulheres. Em todos esses casos, o produto é inteiramente secundário: as

pessoas são seduzidas por alguma coisa que está fora e muito além dele.

FILHO, Ciro Marcondes. Televisão — A vida pelo vídeo. São Paulo: Moderna, 1988. p. 77-

80.

Vocabulário:

1. estético: relativo à beleza.

2. ideologia: o conjunto das ideias próprias de um grupo ou de uma classe social; reflete-se nos seus valores, comportamentos e modo de ver o mundo. 3. segregação: discriminação. 4. incitar: estimular, instigar. 5. modelar: que serve de modelo.

6. mistificação: ato ou efeito de mistificar; elevar a uma condição de destaque, envolver em mistério. 7. afazeres: trabalhos, ocupações. 8. inerente: próprio; que está naturalmente ligado a alguma coisa. 9. valor de uso: valor ou importância que tem a mercadoria para a pessoa que a consome.

No 1º parágrafo do texto, a "publicidade" é comparada a um

espelho. Com base na leitura de todo o texto, responda:

33)Por que é feita essa comparação? Explique.

34)Por que a imagem, oferecida pelo espelho, é distorcida? Explique.

35)O que, na "publicidade" atual, ganha mais importância do que o próprio produto oferecido?(0,5)

Questão 36:

a) A "publicidade" tem cumprido um papel conservador ou transformador, em relação aos valores ideológicos da sociedade? Explique.(0,5)

b) De acordo com o penúltimo parágrafo do texto, a publicidade demonstra a imagem de que os afazeres domésticos da mulher são “nobres”. Por quê?

37)Indique o tema e o tipo de argumento utilizados no texto.

I) Tema

II) Argumento:

Analise a charge a seguir e responda:

Fonte: http://www.conteudojuridico.com.br/questao,analista-de-transito-gestao-2010-detranpe-funcab-portugues

– 16/02/2016 – adaptado.

38) Questão:

A ironia destacada na charge, quando o personagem do carro diz

‘legal’ ao assaltante que propõe assaltá-lo, tem o objetivo de

a) alertar sobre o cuidado no trânsito. b) exibir o golpe de um ladrão. c) indicar harmonia nos diálogos. d) mostrar o perigo dos furtos. e) interagir de forma amigável com o interlocutor

Leia o texto abaixo para responder às questões 39 e 40

PONTOS DE VISTA

Como aproveitar oportunidades, ser criativo e transformar

situações difíceis

Por Sérgio Savian*

Quanto esforço! Quanta energia jogamos fora ao defendermos com

unhas e dentes nosso próprio ponto de vista!

[...]

Se você quer viver bem, aceite outros pontos de vista, diferentes

do seu. Relaxe diante da realidade. Não tente persuadir as outras pessoas

para que elas assumam a sua forma de pensar e agir. Quando você

permanece aberto a todos os pontos de vista, sem prender-se a nenhum

deles, você vive muito melhor. Amplia sua visão de mundo. A existência é

muito criativa e lhe proporciona um constante aprendizado. Quando se

abre ao desconhecido, às novas informações, você se recicla, tudo fica

mais fresco e a vida adquire um colorido fantástico.

A gente planeja algo, mas nem sempre as coisas acontecem da

forma que imaginamos. Você pode ficar tenso e bravo com isso, mas pode

também ter senso de humor e aceitar os fatos como eles se apresentam.

Nada de ficar culpando os outros pelo que aconteceu. Se você assumir a

responsabilidade a cada momento, sentir-se-á mais potente e senhor de

seu próprio destino.

Todo problema traz em si uma oportunidade, portanto não o veja

como algo que está contra você. Por isso, pare de lutar tanto, não há

motivo. As coisas são como são. Tudo está certo e nada está errado.

*Sergio Savian é terapeuta e escritor especializado em relacionamentos, autor de dez

livros.

Fonte: http://www.maisde50.com.br/editoria_conteudo2.asp?conteudo_id=7835 – 19/2/2016 –

adaptado.

39ª Questão: .

Segundo o autor do texto, a sugestão para vivermos

tranquilamente nas relações sociais é atuar de forma que o nosso ponto

de vista seja a) rejeitado. b) inexistente. c) interagido. d) autoritário. e) único.

40 Questão:

‘Quando se abre ao desconhecido, às novas informações, você se

recicla, tudo fica mais fresco e a vida adquire um colorido fantástico’.

O vocábulo destacado, inserido no contexto presente no discurso do

escritor Sérgio Savian, nos apresenta uma maneira adequada de a) rejeitar o ponto de vista do outro. b) restaurar nossa ação anterior. c) reforçar ao outro o nosso argumento. d) recordar o nosso ponto de vista. e) relançar o nosso ponto de vista.