escola eb1 nº10 de bragança - a cidade de bragança

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Na sequência do projecto desenvolvido ao longo do ano lectivo anterior na Escola EB1 nº 10 de Bragança (Campo Redondo), através do qual foi abordado o respeito pela diversidade, achámos pertinente, no presente ano lectivo de 2006-2007, reforçar a nossa identidade cultural evitando que se dilua na diversidade cultural que caracteriza as sociedades modernas. Assim sendo, propomo-nos abordar o meio natural e as expressões culturais da região onde decorre a vida quotidiana dos alunos, valorizando a sua cultura e experiência proporcionando-lhes um papel activo na construção do conhecimento. O contacto directo com o meio estimula o levantamento de questões e a realização de pequenas investigações. Projectos como este, relacionados com o meio envolvente, permitem a inter-relação entre a teoria e prática e entre a cultura escolar e outras expressões culturais. Estamos convictos que com este projecto as relações entre a escola e a comunidade educativa sairão reforçadas. Pretendemos também sensibilizar os nossos alunos para o reconhecimento e valorização do património natural, histórico e cultural, assim como para a preservação dos usos, costumes e tradições da nossa terra. Em suma, contribuir para a formação de cidadãos conscientes e interventivos na comunidade.

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Traballo elaborado pola Escola EB1 nº10 de Bragança, para o certame de recolla da tradición oral do curso 2006-2007, organizado por Ponte...nas Ondas!

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Page 1: Escola EB1 nº10 de Bragança - A cidade de bragança

Na sequência do projecto desenvolvido ao longo do ano lectivo

anterior na Escola EB1 nº 10 de Bragança (Campo Redondo), através do

qual foi abordado o respeito pela diversidade, achámos pertinente, no

presente ano lectivo de 2006-2007, reforçar a nossa identidade cultural

evitando que se dilua na diversidade cultural que caracteriza as sociedades

modernas.

Assim sendo, propomo-nos abordar o meio natural e as expressões

culturais da região onde decorre a vida quotidiana dos alunos, valorizando

a sua cultura e experiência proporcionando-lhes um papel activo na

construção do conhecimento.

O contacto directo com o meio estimula o levantamento de questões

e a realização de pequenas investigações.

Projectos como este, relacionados com o meio envolvente, permitem

a inter-relação entre a teoria e prática e entre a cultura escolar e outras

expressões culturais. Estamos convictos que com este projecto as relações

entre a escola e a comunidade educativa sairão reforçadas.

Pretendemos também sensibilizar os nossos alunos para o

reconhecimento e valorização do património natural, histórico e cultural,

assim como para a preservação dos usos, costumes e tradições da nossa

terra. Em suma, contribuir para a formação de cidadãos conscientes e

interventivos na comunidade.

Page 2: Escola EB1 nº10 de Bragança - A cidade de bragança

1. A História de Bragança

1.1. As origens históricas de Bragança

Das descobertas e das pesquisas arqueológicas feitas, o distrito de Bragança já

tinha ocupação humana no Paleolítico final. No Neolítico já haviam comunidades

produtoras de alimentos, de domesticação de animais e com formas de culto e

espiritualidade existindo um aumento das comunidades e dos povoados.

As primeiras referências a um povoado (pagus) aparece nas actas do Concílio de

Lugo no ano de Cristo de 569, soba designação de Vergancia, tendo aparecido na

divisão administrativa de Wamba, datada de Cristo de 666, sob a denominação de

Bregancia.

No distrito de Bragança houveram duas comunidades étnicas: a gente

pertencente ao povo astur, com a capital em Castro de Avelãs e uma “civitas” lusitana

pertencente ao povo Baniense.

Esta cidade teve origem a partir de dois núcleos: um dos núcleos a cidade e o

outro a vila. A antiga cidade localizava-se onde actualmente se encontra a Sé. A vila,

chamada Benquerenças, surgiu antes da construção do castelo, onde se encontra a

Domus Municipalis.

Á volta do castelo e dentro das muralhas cresceu a vila ou cidadela. Esta era

assim, um recinto fortificado pelas muralhas do castelo.

A tradição atribuiu a fundação da cidade ao lendário rei Brigos, em 1906 a.C.,

daí tenha surgido o nome de Brigância. Mais tarde, esta cidade foi denominada e

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mudada pelos romanos, no tempo do imperador Augusto César que lhe deu o nome de

Juliobriga.

Posteriormente, esta cidade foi destruída na guerra com os mouros, tendo sido

reconstruída em 1130 por D. Fernando Mendes, cunhado de D. Afonso Henriques, no

lugar de Benquerença, tendo adoptado este nome.

D. Sancho I foi quem repovoou a cidade e lhe concedeu o primeiro foral, em

1187, o qual só veio a ser confirmado e reformulado, em 20 de Fevereiro de 1464, pelo

rei D. Afonso V.

Em 1199, em lutas com o rei de Castela, o monarca português atribui-lhe o nome

de Bragança.

1.2. Localização geográfica de Bragança

A cidade de Bragança localiza-se no extremo nordeste de Trás-os-Montes a 700

metros de altitude. A actual localização da cidade leva-nos ao séc. XII.

Bragança é uma cidade de Trás-os-Montes, sede de concelho, de comarca1, de

distrito. Encontra-se no meio das montanhas do nordeste transmontano. Bragança situa-

se na Península Ibérica, no Nordeste transmontano e é limitado a norte e a este por

Espanha.

A localização no extremo mais nordeste do país faz com que Bragança tenha

tido ao longo dos anos uma dupla posição geográfica periférica, a nível nacional e a

nível regional. Esta perificidade foi reduzida pelo facto de ser capital de distrito e sede

de concelho, o que conduziu a tornar-se um pólo regional, centro politico,

administrativo e populacional, encontrando-se em Bragança a sede de algumas

entidades e associações regionais e delegações e direcções regionais da administração

central. Só com uma boa acessibilidade e com a melhoria das condições urbanas e

ambientais, que promovem a sua competitividade, é que a localização de Bragança pode

deixar de ser um factor de constrangimento, para se tornar um factor de potencial

desenvolvimento.

Bragança encontra-se rodeada de montanhas e de paisagem agreste, mas sempre

bela independentemente das estações, cheia de locais de interesse paisagístico, cultural,

histórico e com animações várias. É uma cidade de interior com clima temperado

1 Comarca – zona, território, região.

Page 4: Escola EB1 nº10 de Bragança - A cidade de bragança

continental, rodeada a Norte pelo Parque Natural do Montesinho que a separa de

Espanha.

Esta cidade encontra-se dividida em doze concelhos: Alfândega da Fé,

Bragança, Carrazedo de Ansiães, Freixo de Espada à Cinta, Macedo de Cavaleiros,

Miranda do Douro, Mirandela, Mogadouro, Torre de Moncorvo, Vimioso, Vila Flor e

Vinhais.

O distrito de Bragança tem uma extensa fronteira com o território do país

vizinho, Espanha, faz fronteira com as regiões autónomas da Galiza e de Castelo e

Leão.

O Território do distrito é um território de montanha, com altitude que varia entre

os 150m e os 1400m, pelo que tem zonas rochosas de montanha, de baixa capacidade

agrícola e zonas de vales, menos acidentadas, clima mais quente e por isso é favorável à

agricultura. Pela sua localização e características próprias, Bragança está ligada aos

antepassados da nossa identidade nacional. Na generalidade, este distrito é bastante

acidentado contendo várias serras, como por exemplo: a serra de Nogueira, a de

Bornes, Montesinho, Coroa, Mogadouro e Reboredo. A sua morfologia possui, ainda,

vários planaltos como o Mirandês e o de Carrazeda.

Na actual divisão principal do país, o distrito de Bragança encontra-se integrado

na região Norte e dividido em duas sub-regiões, ambas integrando também concelhos de

outros distritos: Alto Trás-os-Montes e Douro.

Na zona de Alto Trás-os-Montes situa-se: Alfândega da Fé; Bragança; Macedo

de Cavaleiro; Miranda do Douro; Mirandela; Mogadouro; Vimioso e Vinhais. E na zona

do Douro situa-se: Carrazedo de Ansiães; Freixo de Espada à Cinta; torre de Moncorvo

e Vila Flor.

O distrito de Bragança é composto por duas regiões distintas, que correspondem

grosso modo à divisão que foi feita no agrupamento dos municípios por NUTS III: a

norte as regiões de maior altitude constituem a Terra Fria Transmontana, ou o Alto

Trás-os-Montes, onde a paisagem é dominada pelas baixas declives do planalto

transmontano; a sul fica a Terra Quente transmontana, de clima mais suave, marcada

pelo vale do rio de Douro e pelos vales dos seus afluentes.

Page 5: Escola EB1 nº10 de Bragança - A cidade de bragança

1.3. Os principais monumentos de Bragança

Castelo

Construído nos inícios do século XV, segundo Pedro Dias, o Castelo de

Bragança ergue-se no alto de uma elevação, a cerca de 700 metros de altitude. A

construção, em granito, apresenta um extenso conjunto de muralhas formando quatro

recintos individualizados entre si. O Castelo, de feição gótica, é de planta oval com

torres cilíndricas nos ângulos. No lado Sul, existem mais três torres, uma delas nomeada

Poço do Rei.

É um singularíssimo núcleo murado e acastelado, no século XII, no lugar de

Benquerença, propriedade dos frades beneditinos do poderoso mosteiro do Castelo de

Avelãs. Fortaleza de raízes Afonsinas, reconstruída e reforçada por D. João I em finais

do século XIV, onde será de admirar a Torre de Menagem, a Torre da Princesa e ainda

dentro das muralhas, a Domus Municipalis, a Igreja de St.ª Maria e o Pelourinho.

Em conclusão é importante referenciar que o Castelo de Bragança é o maior

castelo gótico de Trás-os-Montes e um dos mais importantes e bem conservados de

Portugal. É também um dos melhores e mais perfeitos monumentos lusos da arte

guerreira medieval e a sua Torre de Menagem é, talvez, a mais elegante e bela de todo o

país.

Torre de Menagem

A Torre de Menagem é o melhor exemplar Gótico em Trás-os-Montes com

memórias de certos castelos ingleses do mesmo período. Evidenciam-se, pela sua

elegância, as ameias, janelas em ogiva de lanceta, seteiras, canhoeiras, bombardeiras e,

no apoio, as siglas dos canteiros. Nesta Torre vangloria-se, ainda, o escudo de D. João I,

a meia altura do lado sul e uma janela ogival cintilante. O escudo contém as armas do

Page 6: Escola EB1 nº10 de Bragança - A cidade de bragança

reino, assentando sobre a cruz de Avis e as janelas, principalmente as que olham para

sul e nascente, são de lavor artístico. Paralelo à porta que fica a meio da face norte há

uma balesteira, besteira ou machicoulis. Balesteira é uma espécie de varanda de granito

com seteiras verticais que impediam que o atacante se aproximasse. Actualmente, a

Torre de Menagem Alberga o Museu Militar. Deve o visitante subir ao terraço ameado,

para contemplar belas paisagens, tais como: Serra de Nogueira, Montesinho, Coroa e,

para norte, terras leonesas e altos da Sanábria.

Torre da Princesa

A Torre da Princesa eleva-se no recinto do castelo, marginando as muralhas da

velha fortaleza, e, por não se saber a origem da sua designação, tem dado origem a

muitas lendas. Uma delas diz que o duque de Bragança, D. Jaime, encerou a linda

Leonor, aquela que depois mandará matar com requintes de barbaridade, no castelo de

Vila Viçosa. Outra lenda remota aos tempos dos descendentes de D. Fernão, o bravo,

que deu em casamento ao Conquistador sua irmã, D. Sancha, princesa que viveu e

sofreu nesta torre um amor, João Afonso Pimentel, cunhado da rainha D. Leonor Teles,

de nome D. Brites, alma pura e cândida, de grande beleza, que segundo reza a lenda,

encantava e enfeitiçava quem via e a quem seu marido assassinara injustamente. Esta

morte trágica impressionou a população que mostrava por ela grande amor e carinho, e

daí, o espírito e fantasia da gente do tempo, pintaram ou teceram em redor de um

acontecimento tão cruel, uma poética narrativa. Sabe-se que não tinha fins militares mas

que era unicamente uma dependência da casa dos governadores ou alcaides.

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Domus Municipalis

Exemplar único na Península Ibérica da arquitectura românica civil do século

XV, foi principalmente um espaçoso depósito de água e no século XVI, tornou-se no

lugar de reunião dos homens bons do concelho. Este monumento civil, acha-se

restaurado na sua esboço primitivo desde 23 de Outubro de 932. Todo o rés-do-chão é

ocupado por uma cisterna em que se recolhem as águas fluviais do telhado. Serve-lhes

de cobertura uma cúpula de granito a servir de sobrado à única sala que ocupa todo o

edifício. Em volta de toda a sala existem assentos de granito saídos das paredes. A coroa

assenta sobre cinquenta e três modilhões internos e sessenta e quatro externos

historiados e oito arcaturas fenestradas, dispostas numa só fila contínua pelos cinco

lados do monumento, que fornecem luz para o interior.

Igreja de Santa Maria

Exemplo de misteriosa origem românica, completamente reconstruído no século

XVIII. Tem um portal barroco flanqueado por duas colunas salomónicas enfeitadas com

folhas de vides e cachos. A construção destas curiosas e muito interessantes colunas é

posterior à data da construção deste templo. No corpo do templo há quatro altares e duas

capelas, sendo uma de inovação a Nossa Senhora dos Prazeres, pertencente à Família

Figueiredo. O interior apresenta uma interessante pintura do século XVIII.

Pelourinho

O pelourinho consta de uma escadaria poligonal com quatro degraus de granitos,

na plataforma do qual assenta um quadrúpede vulgarmente chamado de “Porca da Vila”

e ao qual furaram o dorso para nele enxertarem uma coluna cilíndrica de granito com

6,40 metros de altura e 0.30 metros de diâmetro. Os pelourinhos são medievais,

enquanto quanto que os quadrúpedes remontam à pré-história, pelo que será difícil datar

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este exemplar arquitectónico. Na cabeça do referido quadrúpede (que representa um

berrão) existe uma concavidade que, segundo canta a lenda, servia para fazer justiça a

condenados ( a cabeça do condenado na concavidade seria esmagada com um maço de

grande peso). O Capitel é uma pedra discóide achatada, donde saem quatro braços em

forma de cruz grega, que rematam por quatro carrancas, havendo no intervalo destes

braços várias figuras humanas, neste granito grosseiro parecem estar representadas

cenas de castigo. Aparecem, ainda, representadas uma ave, um cão e ornatos florais. No

cimo da cruz aparece um escudo divido em pala, tendo na esquerda um castelo e na

direita as quinas. Este escudo é segurado por uma figura com cara humana que remata o

monumento.

Page 9: Escola EB1 nº10 de Bragança - A cidade de bragança

2. Medicina Popular

Conta-se que um ilustre clínico quando algum aldeão o ia chamar fazia esta

pergunta:

- Já lhe mataram uma galinha?

- Já, sim, senhor.

- Então não vou lá, não é preciso! E não ia. Era sinal de morte certa.

O povo só chamava o médico quando já não havia remédio possível, e só dava

galinha ao doente quando a morte estava à beira da cabeceira.

Conta-se que um dia este médico pediu ao padre que o informasse de quantos

óbitos tinha havido na sua freguesia durante a ausência de um mês fora do concelho. E o

bom velhote escreveu no boletim: «nenhum, por falta de médico.» Como eram amigos,

o caso terminou em franca gargalhada.

Vamos então às «mezinhas» que o povo usa e o barbeiro ensina:

2.1. Mezinha para o reumatismo

Carne de porco, unto, manteiga de vaca, meio litro de azeite, sebo de vitela ou

carneiro, álcool, aguardente de bagaço, pez, minhocas e um gato preto, menos

cabeça e rabo. De tudo uma porção.

Mete-se numa panela e deixa-se cozer bem, coze-se e deixa-se arrefecer e dá-se

as fricções, desde o pescoço até aos pés, acompanhadas de um braseiro aceso,

cujo calor faça suar, tendo cuidado de se limpar e agasalhar.

Tomar os caldos de sebo de cobra e suar ou esfregar o corpo com o unguento

proveniente de víbora fritada, viva, em azeite.

2.2. Chás caseiros

Folha de oliveira - ajuda a baixar a tenção arterial.

Casca de cebola - serve para a rouquidão.

Casca de limão – combate gripes e constipações. Ajuda a controlar as dores de garganta.

Carqueja - controla o colesterol, combate as infecções da bexiga e as pedras nos rins.

Pés de cereja - têm propriedades diuréticas. Indicado para a retenção de líquidos e para

o reumatismo.

Camomila – combate gripes, perturbações gastrointestinais e diarreias.

Cidreira – alivia as dores de barriga. É digestivo.

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3. Provérbios

Do prato à boca, se perde a sopa.

O comer e o coçar vão do começar.

O apetite nasce à mesa.

A hora de comer é a mais pequenina.

O caldo é para os pobres.

Quem come a carne que chupe os ossos.

Quem arrota, bem almoça.

Quem não é para comer também não é para trabalhar.

Bem canta Marta depois de farta.

Quem longe vai à boda no caminho a deixa toda.

Merenda comida, companhia desfeita.

A capa e a merenda nunca pesaram ao pastor.

Quem se deita sem ceia, toda a noite rabeia.

Antes sem candeia do que sem ceia.

Não se fazem omoletas sem ovos.

Não se fazem morcelas sem sangue.

Se não queres engordar, come e bebe devagar.

O que não mata engorda.

Não há fome sem fartura.

A fome é má conselheira.

Quando há fome, não há pão mal feito.

Vale mais um farto do que dois famintos.

Ventre em jejum não ouve nenhum.

Enquanto está por comer, chega para todos.

A ração não é para quem se talha: é para quem a come.

Quem come a correr, do estômago vem a sofrer.

Quem em Maio não merenda à morte se encomenda.

Quem ceia e logo se vai deitar má noite há-de passar.

Ceia pouco: dormirás como um louco.

Se és velho e comilão, prepara o teu caixão.

Come como são e bebe como doente.

Conforme comemos, assim vivemos.

O peixe deve nadar três vezes: na água, no molho e no vinho.

Em Agosto, nem sardinhas nem mosto.

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Por S. Silvestre, bacalhau é peste.

Pão quente: muito na mão e pouco no ventre.

Pão quente e vinho novo: homem morto.

Água fervida prolonga a vida.

Água gelada e pão quente fazem mal ao ventre.

Com caracóis e figos lampos, não bebas água.

Malvas e água fria fazem um boticário num dia.

Um dia frio e outro quente põem o homem doente.

Vinho turvo, figos verdes e pão quente são inimigos da gente.

Vinho com melancia traz azia.

Casa onde não entra o sol entra o médico.

Tabaco e aguardente transformam o são em doente.

Noite perdida nunca é restituída.

Janeiro: geeiro.

Janeiro molhado não é bom para o pão, mas é bom para o gado.

Em Janeiro, sete casacos e um sombreiro.

Se o Janeiro não tiver trinta e uma geadas, tem de as pedir emprestadas.

Luar de Janeiro não tem parceiro, mas o de Agosto dá-lhe no rosto.

Fevereiro, enganou a mãe no ribeiro.

Em Março tanto durmo como faço.

Em Abril águas mil.

Maio jardineiro enche o celeiro.

Maio que não der trovoada não dá coisa estimada.

A boa cepa Maio a deita.

Maio frio e ventoso faz o ano formoso.

Ande o verão por onde andar no S. João há-de chegar.

Quem não debulha em Agosto debulha com mau gosto.

Agosto frio no rosto.

Setembro molhado figo estragado.

No dia de S. Martinho, mata o teu porco e bebe o teu vinho.

Filho de peixe sabe nadar.

Em casa de ferreiro espeto de pau.

Mais vale perder um minuto na vida do que a vida num minuto.

Quem semeia ventos colhe tempestades.

Guarda o que não presta que um dia te fará falta.

Não guardes para amanhã o que podes fazer hoje.

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4. Jogos tradicionais

Em todos os povos e em todas as épocas, o indivíduo procurou nas direcções e nos

exercícios físicos a distracção do espírito e o desenvolvimento do organismo.

Tanto as crianças como os adultos, procuravam no alegre convívio entre amigos e

em ledos brinquedos a réstia de sol que lhes dissipe as agruras da existência.

O nosso povo diverte, é que a honesta diversão dá saúde às almas e aos corpos.

Depois do árduo labor da semana, procura no domingo, após o cumprimento dos

deveres religiosos, a distracção que lhe suavize um pouco as horas turvas da existência,

acompanhando com entusiasmo a alegria e bom humor dos mais novos.

4.1. Os paus

O bom jogador de paus é muito admirado e respeitado pelos assistentes.

Em cima de uma pedra lisa de quase um metro quadrado de superfície, colocam 9

paus de pé, de 1 decímetro de altura. À distância de 6 ou 7 passos estão colocadas as

“mãos” de onde os jogadores atiram com pesadas bolas de madeira. Para lá das mãos, à

distância de 6 ou 7 passos, são marcadas as “raias”. Os paus que passarem a raia valem

10 tentos, e os que não passarem valem 1. O que fizer 40 tentos acaba o jogo. Quando a

bola bate na pedra e volta para traz, dizem que “sancou” e o jogador perde a mão.

O povo acompanha com muito entusiasmo este jogo, fazendo apostas.

4.2. A luta

Dois rapazes abraçados um ao outro jogam a “luta”, empregando o maior esforço,

para não caírem ao chão. O que cair e que ficar por baixo, é considerado o mais fraco, é

o que perde.

4.3. O ferro

É outro jogo muito usado nesta região. O bom jogador de ferro ou calhau é muito

procurado para os desafios nas festas de verão e nas feiras.

De uma raia horizontal, o jogador atira com um ferro de um metro ou metro e meio,

pegando-lhe um pouco acima do meio e segurando-o quase perpendicular ao corpo. Se

“chinar” com a ponta inferior, fez “tiro” e o que o atirar mais longe é o que ganha.

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4.4. Jogo da raposa

Sentam-se os rapazes (feitos pitas) no chão com o guardador à frente. A raposa vem

para as levar. Ele conta-as dizendo: “Já fiando me vou e fiando me venho, minhas

pitinhas no poleiro as tenho”. Volta atrás e torna a conta-las: “ doze redoze, vinte e

quatro são catorze” e aproximando-se pergunta: “ E as minhas pitinhas?” – Levou-as a

raposa que é manhosa! A raposa levou-as todas e o guardador chama-as, e eles vêm a

correr, fazendo que comem aquele, arrepelando-o.

4.5. O Rou-rou

Uma criança com a cabeça apoiada no colo de outra, de olhos vendados, grita

enquanto as outras fogem a esconder-se:” rou-rou! À la una, monta a unha; à las dois,

montam os bois; à lsa três, el marquês; à las quatro, maragato; à las cinco, che dum

brinco; à las seis, põe los peis; à las sete carapuchete; à las oito, biscoito, à las nove seca

a bota; à las dez, outra vece; à las onze, chama o conde; à las doze, responde; à las treze,

os fidalgos!”.

Rou-rou, m… p’ra quem m’aqui deixou, se me tornar a deixar, nas barbas lh’ei-de

c…! “Está o bolo cozido?!” – “ Está! Já passou de rebido!”

E vai à procura deles; logo que vir algum vai “malhar” a mão, dizendo: «malhinha,

malhinha!»

Mas se deixa apanhar a mão deixa de ser rou-rou, cujo oficio é feito até aparecer o

último rapaz.

4.6. Jogo da palma

Sentam-se todas as crianças, tapando uma os olhos.

Outra, qualquer, dá-lhe uma pancada. Abre os olhos e se descobrir o nome da que

lhe tocou, vai ela substituí-la, isto é, tapar os olhos. E assim conforme vão adivinhando

quem lhes tocou, vão-se substituindo umas às outras. E continuam sempre assim até ao

final.

4.7. Jogo da Pomba

Colocam-se as crianças num canto qualquer, que representa um pombal e elas as

pombas. Uma está de fora a representar um corvo.

Quando as pombas saem do pombal, o corvo vai atrás delas, e à primeira que

agarrar dá-lhe três pancadas, ficando o corvo também.

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Depois as pombas recolhem de novo ao pombal.

Assim que tornam a sair, vão os dois corvos atrás delas até agarrarem outra. Logo

que a agarram, dão-lhe três pancadas, ficando corvo.

E assim continuam até as agarrarem todas, ficando as pombas convertidas em

corvos.

4.8. Jogo dos cantinhos

Faz-se no chão um rectângulo e divide-se em quatro partes iguais. Duas crianças

tomam, cada uma, três pedrinhas. A primeira a jogar coloca-as em qualquer das divisões

do rectângulo, e, se conseguir coloca-las de maneira que a segunda não possa pôr as

suas em linha recta, ganha o jogo. Não o conseguindo, isto é, se a segunda a jogar puder

colocar as suas pedrinhas em linha recta, ganha ela. Depois, a que ganha o jogo é,

também, a que principia o seguinte, procedendo sempre da mesma maneira.

4.9. O meirinho

Um rapaz é meirinho e vai atrás dos outros, logo que apanha um, diz: ferreirei! E

deixa-o escapar. À terceira vez prende-o, e assim até apanha-los todos. Os presos são

todos meirinhos.

4.10. O pilha três

Estão divididos em grupos de dois e, num canto, um grupo só de três. O pilhe três

vai a este ultimo grupo, que vai fugindo, e agarra um. Este é o pilha três, e assim por

diante.

4.11. O arco da velha

Dois rapazes fazem o arco com os braços estendidos. E outro fazendo de mãe, à

frente dos filhos, formados em fila, diz: «arco da velha, deixa-me passar! Tenho muitos

filhos, não os posso sustentar!» o arco responde: «passarás, passarás, mas um cá

deixarás!» e passam todos.

Em seguida deitam-se todos no chão. Os do arco, um sol e outro lua, passam por

cima deles a fugir, o sol não os pisa mas a lua vai-os pisando a todos. Depois um é

«Deus» e outro «diabo» que vai levanta-los do chão, o que sai estendido vai para o céu,

e o que deixa encolher-se, para o inferno, que é levar pancada.

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4.12. O jogo do galo

Colocam-se as crianças numa fila de maneira que uma das maiores fique na

retaguarda, a qual representa o galo e as outras representam as galinhas.

Duas das crianças estão fora da fila, sendo uma a dona das galinhas e do galo e a

outra a raposa. Aquela arranja dois paus, representando um a roca e o outro o fuso e

finge que vai fiar, afastando-se um pouco das galinhas.

Logo que ela se afasta a raposa vai roubar-lhes uma galinha, mas como o galo

canta, a dona das galinhas volta para trás e pergunta-lhe o seguinte:

- «Então, que tiveste?»

Responde: - «Roubaram-me uma galinha!»

Diz-lhe ela: - «E que estavas a fazer?» Responde ele: «Estava a olhar para o céu e

a ver se me davam pão e queijo». A dona das galinhas: - «Então, tu, não o tinhas ai na

gaveta?» Ele: - «Eu tinha, mas estava todo ruído dos ratos e portanto coma-o você sua

velha.» Quando ele diz isto, ela castiga-o, e diz-lhe que não torne a fazer outra e volta a

ir fiar. Mal vira as costas a raposa rouba-lhe, imediatamente, outra galinha, acontecendo

como da primeira vez, isto é, a dona das galinhas vai proceder o mesmo interrogatório e

assim sucessivamente até que a raposa roube as galinhas todas e o galo, mas para levar

este tem de ir lá três vezes.

No fim disto a dona das galinhas encontrando-se sem elas e sem o galo, vai ter

com a comadre raposa, pedindo-lhe para a ajudar acender a luz, a fim de as procurarem.

Ela vai, mas assim que acendem a primeira vez, as galinhas e o galo saem do lugar onde

estão e vão-lha apagar.

Tornam a acendê-la segunda vez e, então, já lha não apagam. Logo que a luz está

acesa a dona das galinhas vê-as e diz para a raposa: «Acolá estão elas minha comadre!»

A raposa: «Não, aquelas não são, porque as comprei eu na feira da ladra e portanto

pertencem-me».

A dona das galinhas, então, diz-lhe: «Mas para sabermos a quem pertencem

vamos fazer o seguinte: Eu chamo-as com trigo e você com centeio e aquela para quem

elas forem é a dona delas.»

Fogem para a dona das galinhas e não para a raposa.

Depois disto, a dona das galinhas vai fazer o jantar e convida a raposa para jantar

com ela. Esta diz-lhe: «Eu ia, minha comadre, mas os cães podem morder-me!» (Os

cães são as galinhas).

A dona das galinhas: «Não mordem porque eu prendo-as na adega», e nesse caso a

raposa aceita o convite e vai jantar com ela.

No momento em que estão a principiar o jantar, os cães, que estão ensinados pela

dona das galinhas, deitam-se À raposa e comem-na.

E assim desta maneira a dona das galinhas se vinga da raposa.

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5. Canções Tradicionais

Zé Contrabandista…

I

O Zé quer-me namorar, Eu é que não lhe dou trela.

Ele é um namora a todas, Ora quer esta ou aquela.

II

Ora quer esta ou aquela, É rapaz está bem de ver,

Se tu queres eu também quero, P’rás duas não pode ser.

Refrão:

Ai ó lari-ló-lé, ai ó lari-ló-lé,O maior contrabandista,

Cá da terra é o Zé.

(BIS)

III

Contrabandista de fama,Gosto de cantar cantigas.

Também gosto de fazer Colecção de raparigas.

IV

Sejam loiras ou morenas, A todas vou namorando, Esta é a minha sina, Ai mulheres meu contrabando.

Refrão:

Ai ó lari-ló-lé, ai ó lari-ló-lé, O maior contrabandista, Cá da terra é o Zé.

(BIS)

Canção retirada do reportório do Grupo de Cantares Transmontano “Mar de Pedra” (Reino Maravilhoso de Miguel Torga).

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Ai, ai, ai, minha machadinha!

Ai, ai, aiMinha machadinha!quem te pôs a mão,

sabendo que és minha?(BIS)

Sabendo que és minha,Também eu sou tua.Salta, machadinhaPró meio da rua.

(BIS)

Pró meio da ruanão hei-de eu saltar:eu hei-de ir à roda escolher o meu par.

(BIS)

Escolher o meu par,Eu sei bem quem é:

É um rapazinho chamado José.

(BIS)

Chamado José,chamado João…É um rapazinhoDo meu coração.

(BIS)

(Retirado do cancioneiro popular duriense)

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Água leva o regadinho…

Água leva o regadinhoÁgua leva o regador

Enquanto rega e não regaVou falar ao meu amor!

Água leva o regadinhoÁgua leva o regador

Enquanto rega e não regaVou falar ao meu amor!

Ó balancé, balancéBalancé da neve, puraÓ minha salve-rainhaÓ minha vida doçura!

Vamos dar meia voltaMeia volta vamos dar

Vamos dar a outra meiaAdianta e troca o par!

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(Música: “Apita o comboio”)

I

Escrevo uma carta

Com muito asseio

Tudo direitinho

E vou ao correio!

Refrão:

Lá vai o carteiro

De cartas na mão

Vai dar as notícias

À povoação!

II

Lá no envelope

Vai selo e morada

Ai que linda carta

Pró meu camarada!

III

É bom escrever

Uma carta de lembrança

Para quem está longe

Aqui de Bragança!

IV

Ficamos à espera

De uma resposta

Venham as cartinhas

De quem mais se gosta!

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