escola e famÍlia - operação de migração para o novo ... · filhos e fazer um breve panorama...
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ESCOLA E FAMÍLIA: uma possível relação de ensino e aprendizagem
Autor: Maria de Lourdes de Oliveira1
Orientador: Terezinha Oliveira 2
Resumo
Este artigo tem por objetivo refletir a família contemporânea, em meio aos avanços científicos e tecnológicos, as transformações histórico-sociais, analisar sua função social, seja como educadora, seja como suporte na aprendizagem escolar de seus filhos e fazer um breve panorama entre família e escola na história da educação brasileira Para isso, buscou-se compreender as relações entre educação e família sob o olhar de autores clássicos da educação como Aristóteles, Comenius, Kant e Engels.
Palavras-chave: Ensino; Família; Instituição Escolar; Clássicos.
Abstract
The aims of this paper are to reflect the contemporary family among the scientific/technologic advances, and the social/historic changes; to analyze its social role either as educator or as holder of the school education of its children; and to do a brief perspective of the relation between the family and the school in the history of the Brazilian education. To achieve the objectives, we sought to understand the relations between the education and the family under the view of classic education authors as Aristotle, Comenius, Kant, and Engels.
Keywords: Education, Family, School Institution, classics.
1 Professora PDE. Pós-graduada em Pedagogia Escolar (Sociedade Nacional de Educação, Ciência e
Tecnologia - SOET), Graduada em Pedagogia (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Umuarama), Pedagoga do Colégio Estadual Pedro II de Umuarama – Paraná. 2 Orientadora. Doutora em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho,
Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos, Graduada em História pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, atua como professora no Departamento de Fundamentos da Educação e no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Maringá.
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1. Introdução
Neste artigo analisaremos as relações existentes entre a família e a escola a qual,
será considerada por meio de questões teóricas que envolvem a educação. O tema
selecionado para nortear os estudos foi: Escola e Família: uma possibilidade de
avanços mediante uma reflexão sobre a qualidade do ensino e a participação dos
pais. Este trabalho tem como objetivo refletir a família contemporânea em meio aos
avanços científicos e tecnológicos, as transformações histórico-sociais e analisar
sua função como educadora e como suporte na aprendizagem escolar de seus
filhos. Em face desta preocupação com a educação e a estreita relação com a
família, verificaremos em que medida a escola pode propiciar momentos de reflexão
sobre como os pais podem ajudar seus filhos na aprendizagem dos conteúdos
científicos. Sob este aspecto, a proposta é refletir com as famílias, o compromisso
com a aprendizagem, com o desenvolvimento escolar dos filhos e sua contribuição
na ação do profissional da escola, edificando um vínculo positivo entre aqueles que
cuidam da educação informal da criança e aqueles que trabalham os conteúdos
científicos acumulados na história.
À medida que os estudos foram sendo realizados, surgiram algumas indagações,
como: O que a escola deve fazer diante da inércia de algumas famílias frente às
atividades escolares de seus filhos? Será que a nova constituição de família tem
contribuído para essa ausência? O mundo tecnológico moderno, no setor do
trabalho, tem exigido mais das famílias e essas não têm tempo para seus filhos?
Será que as famílias não participam da vida escolar dos filhos porque são
displicentes, ou porque não têm espaço no cotidiano escolar? Como a escola poderá
viabilizar uma parceria efetiva com as famílias?
Para entender estas indagações que envolvem o ensino e a aprendizagem, tornou-
se necessário estudar o processo de construção do conhecimento empírico. Ainda
que tenha utilizado outros referenciais teóricos, os estudos de alguns autores
clássicos da educação como Aristóteles (2001); Comenius (1997), Kant (2004) e
Engels (1995) foram fundamentais para elaboração deste artigo.
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2. Autores Clássicos e a Educação
O estudo aprofundado dos autores clássicos contribuiu para o entendimento dos
aspectos históricos fundamentais de vivência e convivência do homem nesse
período e de modo geral compreender passivamente sobre: virtudes, educação e
família, buscando na história pensamentos que muito enriqueceram esse estudo e
tornaram o trabalho firmado no conhecimento científico.
2.1 Aristóteles (384 – 322 a.C), filósofo grego discípulo de Platão e professor da
sua academia, pensou a filosofia pautada em uma observação detalhada da
natureza, da sociedade e dos indivíduos. A sua idéia fundamental era de classificar
todas as coisas segundo a sua semelhança ou diferença. Aristóteles (2001) em seu
livro Ética a Nicômaco relata que existem duas espécies de virtudes: a intelectual e a
moral. A virtude intelectual necessita de disciplina para se atingir o conhecimento e a
virtude moral será adquirida em virtude do hábito, que é o exercício das exigências
diárias. Assim, acredita-se que a escola tal como a família é um espaço de formação
e deverá suscitar no indivíduo as virtudes. “Quanto à virtude, não basta conhecê-la,
devemos tentar possuí-la e colocá-la em prática”. (ARISTÓTELES, 2001, p.40).
Para tanto, se faz necessário uma ação conjunta entre família e escola na
construção dos conceitos que edificam a pessoa humana. Entendemos que o
conceito de virtude é uma disposição estável para praticar o bem. A virtude revela
mais do que uma simples potencialidade ou uma aptidão para determinada ação
boa: trata-se de uma verdadeira inclinação. E ela firma-se por meio de todos os
hábitos constantes que levam o homem para o bem, e o homem quer como
indivíduo, quer como espécie, eleva-se em nível pessoal ou coletivo. Destacamos
também os preceitos virtuosos que são: a prudência, o amor, a justiça, a
simplicidade e a humildade. Esses valores devem primeiramente ser transmitidos
aos filhos pelos seus pais
Mas como ser uma pessoa virtuosa? A virtude segundo Aristóteles é incompleta,
pois uma pessoa que leva a vida toda sem muitas ações, com sofrimentos e
infortúnios, como poderá se tornar virtuosa? Os homens virtuosos dedicam o seu dia
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a dia com ações de grande nobreza. Não é na passividade e sim na atividade que se
eleva a alma, que se desenvolve o caráter. É na excelência das ações que as
pessoas são felizes.
O que constitui a felicidade são as atividades virtuosas, sendo a virtude humana não
a do corpo, mas a da alma e essas virtudes se realizam pelo uso da razão
intelectiva.
Não é, portanto, nem por natureza nem contrariamente à natureza que as virtudes se geram em nós; antes devemos dizer que a natureza nos dá a capacidade de recebê-las, e tal capacidade se aperfeiçoa com o hábito (ARISTÓTELES, 2001, p. 40).
As coisas que os homens precisam aprender a fazer devem aprendê-las fazendo, e
atentar para a qualidade dos atos que pratica e que se habituou desde a infância.
Para Aristóteles o homem é aquilo que faz repetidamente. Excelência, então, não é
um modo de agir, mas um hábito. Ele caracteriza as virtudes como intelectual e
moral. A intelectual é a sabedoria filosófica, a sabedoria moral responde aos atos
humanos que se realizam no cotidiano.
Segundo Aristóteles hábito é a disposição permanente do ânimo para o bem. As
virtudes não são hábito do intelecto, mas da vontade. Para ele não existem virtudes
inatas, mas todos se adquirem pela repetição dos atos, que gera o costume.
Aristóteles descreve ainda que a virtude e o vício relacionam-se e que existem três
objetos de escolha e três de rejeição: O nobre, o vantajoso e o agradável, e o
contrário disso: o vil, o prejudicial e o doloroso, e que o homem ao deparar-se com
esses objetos tende a agir certo ou errado, principalmente em relação ao prazer.
Diante disso é preciso ter o meio-termo em nossas ações, pois tendo atitudes
equilibradas existe maior possibilidade de chegar ao que é certo.
Embora não se conheça estudos do filósofo sobre a relação entre virtude e escola,
acreditamos que o hábito da virtude deve ser adquirido primeiramente na família e
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posteriormente na escola. Porque a educação para Aristóteles é um caminho para a
vida pública. E cabe à educação familiar e escolar a formação do caráter do aluno.
O Pai da Didática Magna, Comenius vem colaborar com essas idéias de Aristóteles,
e afirmar a responsabilidade da família e da escola na educação das crianças.
2.2 Comenius, (1592-1670) foi o primeiro educador a conceber a educação como
uma ciência sistemática. Criador da Didática Moderna elaborou a teoria humanista e
espiritualista da formação do homem. Hoje, ela ainda é concebida como proposta
pedagógica consagrada e avançada. Entre suas idéias, proclamava o respeito ao
estágio do desenvolvimento da criança no processo de aprendizagem, a aquisição
do conhecimento através da experiência, da observação e da ação. Pregava ainda
uma educação sem punição, em ambiente adequado e sempre aberta ao diálogo.
Entre as ações propostas pelo teórico, estão a coerência de propósitos
educacionais, entre família e escola, o desenvolvimento do raciocínio lógico, do
espírito científico e a formação do homem religioso, social, político, racional, afetivo
e moral. Relata em seu livro Didática Magna, que a responsabilidade educacional,
em primeira instância, deve ser dos pais “[...] Ela cabe, naturalmente aos pais, que,
tendo sido autores da vida, devem ser autores também da vida intelectual, moral e
religiosa.” (COMENIUS, 1997, p. 83). Assim como cuidamos das plantas, com os
filhos deve-se ter o mesmo cuidado, eles não podem crescer desregradamente, mas
precisam de muita atenção e cuidados. O teórico afirma ainda em seu livro
supracitado que, “O homem é um animal bastante manso e divino se amansado por
uma verdadeira disciplina; se não receber disciplina alguma ou se receber uma
disciplina falsa, será o mais feroz dos animais que a terra pode produzir.”
(COMENIUS, 1997, p. 75).
Para Comenius (1997), a educação é, na essência, o processo de socialização que
envolve a percepção de nossas dificuldades, de nossos prazeres, de nossos vícios.
Daí a importância de perceber estas mesmas necessidades no outro.
Se para edificar cidades, fortalezas, monumentos, arsenais se gasta uma
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moeda de ouro, será preciso gastar cem para instruir bem um só jovem, para que, feito homem, possa guiar os outros no caminho da honestidade. Na verdade, o homem bom e sábio é a relíquia preciosa do Estado, pois nele há mais do que nos esplêndidos palácios, do que nas montanhas de ouro e prata, do que nas portas de bronze e nas fechaduras de ferro (COMENIUS, 1997, p. 09).
Com relação à virtude, tratada acima na concepção de Aristóteles, Comenius
descreve valores primordiais: A Prudência: A palavra deriva de prudencia
(expressão francesa do final do século 13) do latim prudentia (que significa previsão)
frequentemente é associada à sabedoria, introspecção e conhecimento. Ter
prudência é saber pensar e repensar sobre as coisas importantes da vida. A pessoa
prudente faz o que pode, e nunca busca fazer o que não consegue. Só é prudente
quem conhece a si mesmo, sabe do que é capaz, conhece seus limites.
Amor: Amor tem o significado de afeição, compaixão, misericórdia, entre tantos
outros. O conceito mais popular envolve de um modo geral, a formação de um
vínculo emocional com alguém, ou com algum objeto que seja capaz de receber
este comportamento amoroso e enviar os estímulos sensoriais e psicológicos
necessários para a sua manutenção e motivação. É tido por muitos como a maior de
todas as conquistas do ser.
Justiça: Termo que se usa para fazer valer a igualdade entre todos, sem
discriminação. Justo é aquilo que é adequado, correto. A idéia de justiça pode ser
definida como um conjunto de valores, éticos e morais, que atribui de forma
igualitária, aquilo que pertence a cada um. Se atuarmos de forma justa, facilmente
chegaremos ao bem comum.
Simplicidade: Forma simples e natural de ser, despretensioso, modesto. A pessoa
que é simples resolve as coisas com mais facilidade, sem complicá-las. A pessoa
que é simples e sem rodeios no seu comportamento revela aquilo que sente e pensa
de forma natural. O seu caráter e suas ações não deixam dúvidas quanto à suas
intenções.
Humildade: Deve ser definida como um hábito de mente e coração. O homem deve
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viver sob a influência de um espírito humilde, prevenir-se de comportamentos
arrogantes e insolentes. A humildade dispõe uma pessoa a um comportamento
condescendente de mansidão, tendo um caráter de cortesia e afabilidade. É preciso
se comportar como instrumentos de unidade, procurar respeitar o direito de cada
pessoa, saber conviver com as diferenças, se desculpar diante das fraquezas.
Quando o filósofo ressalta a importância da educação escolar para as crianças e
enfatiza a função da família na educação moral, intelectual e religiosa dos filhos
remete-nos a teoria Kantiana, que vem complementar as idéias de Comenius,
quando aponta a importância das regras na educação.
2.3 Kant (1724-1804) se diferencia da condição intelectual e social dos
professores do século XVII. Demonstra interesse na educação da criança em uma
época que a idéia da educação infantil não tinha fundamentação sólida. A criança
não era respeitada em sua individualidade, era apenas uma projeção do adulto em
um quadro reduzido. O filósofo é influenciado pelas idéias de Rousseau que
concebia a criança como um ser que tem maneiras próprias de pensar e agir. Pauta
sua teoria na questão moral do indivíduo e sobre a importância dessa moralidade
ser desenvolvida desde os primeiros anos de vida. Afirma que “[...] duas invenções
dos homens podem ser consideradas as mais difíceis: a arte de governar e a arte de
ensinar” (KANT, 1995a, p. 703, apud RAMOS, 2007, p. 199), sendo que a educação
“é o mais importante e o mais difícil problema que o homem tem como tarefa... Por
isso, ela só pode progredir na medida em que uma geração transmite à seguinte as
suas experiências e os seus conhecimentos, e esta, por seu turno, dá sua
contribuição e lega para as seguintes...”(KANT, 1995a, p. 703, apud RAMOS, 2007,
p. 199)
Na educação, segundo Kant, tudo depende de um elemento: que bons princípios
sejam estabelecidos, compreendidos e aceitos pelas crianças.
É necessário acostumar o jovem a se estimar absolutamente e não relativamente aos outros. A estima dos outros, em tudo aquilo que não constitui de fato o valor do ser humano, é vaidade. É preciso, além disso, ensinar ao adolescente a fazer tudo conscienciosamente, e a ter todo cuidado, não tanto em aparecer, mas em ser. Convém também orientar o
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jovem para a alegria e o bom humor. A alegria do coração deriva da consciência tranquila, da igualdade de humor (KANT, 2004 p. 106).
2.3.1 Kant e a moral
Kant (2004) afirma que o homem não pode se tornar verdadeiro homem senão pela
educação. Para o Filósofo, o homem é o que a educação o faz, e que a educação
requer cuidados e formação. Para ele, é necessário formar o homem o mais ágil e
complexo de todos os animais. A educação cumpre este papel quando forma o
indivíduo para o exercício da cidadania e quando dá a ele condições para
apropriação da cultura. Esse processo vai se materializando na medida em que o
indivíduo usufrui das coisas terrenas e contribui para que outros também usufruam.
Faz-se necessário então, que a educação seja dada logo cedo e a criança se
habitue aos princípios da razão. Kant afirma que o homem é a única criatura que
precisa ser educada.
Para o autor, se quisermos consolidar o caráter moral da criança, teremos que
seguir alguns passos importantes. É preciso ensinar-lhes, da melhor maneira, por
meio de exemplos e com regras, os deveres a cumprir. Deveres para consigo
mesmas: conservar certa dignidade interior, a qual faz do homem a criatura mais
nobre de todas. É seu dever não renegar, na sua própria pessoa essa dignidade da
natureza humana. Deveres para com os demais: deve-se inculcar desde cedo nas
crianças o respeito e atenção aos direitos humanos e procurar, assiduamente, que
os ponha em prática.
2.3.2 Kant e a disciplina
A educação além de trabalhar com o caráter moral, também tem o papel de
disciplinar, ou seja, impedir que os impulsos naturais do homem, prejudiquem o
caráter humano, tanto no indivíduo como na sociedade, e por meio da disciplina
domar esses impulsos. Consiste também em fazer com que o indivíduo torne-se
culto, pois a cultura abrange a instrução e vários conhecimentos. A educação deve
também cuidar para tornar o indivíduo prudente e zeloso pela moralidade. O homem
deve ser capaz de ter bons fins. “Bons são aqueles fins aprovados necessariamente
por todos e que podem ser, ao mesmo tempo, os fins de cada um.” (KANT, 2004, p.
26).
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Segundo Kant, a disciplina transforma a os impulsos naturais do homem em
humanidade. Um animal é por seu próprio instinto tudo aquilo que pode ser. Mas o
homem tem necessidade de sua própria razão. Não tem instinto, e precisa formar
por si mesmo o projeto de sua conduta. Entretanto, por ele não ter a capacidade
imediata de realizá-lo, mas vir ao mundo em estado bruto, outros devem fazê-lo por
ele. (KANT, 2004, p. 12).
Para Kant é por meio da disciplina que a criança torna-se capaz de extrair de si
todas as qualidades naturais, abandonando assim a selvageria, “A disciplina é o que
impede ao homem de desviar-se de seu destino, de desviar-se da humanidade
através de suas inclinações animais.” (KANT, 2004, p. 12). E afirma que “a falta de
disciplina é um mal pior que falta de cultura, pois esta pode ser remediada mais
tarde, ao passo de que não se pode abolir o estado selvagem e corrigir um defeito
de disciplina.” (KANT, 2004, p. 16).
Nesse propósito, a família exerce a primeira influência no desenvolvimento da
moralidade humana. Mas como pensar em uma humanidade que se conquista de
geração após geração, sem pensar nas pessoas responsáveis pelo aprimoramento
desses valores? Para isso, nos propomos neste trabalho, refletir o conceito de
família proposto por Engels.
2.4 Engels (1820-1895) foi um teórico alemão que, juntamente com Marx, elaborou
os fundamentos do socialismo científico. Escreveu algumas das obras mais
importantes do marxismo, como A Origem da Família, da Propriedade Privada e do
Estado.
Engels (1884) retrata que desde o início dos tempos há uma análise materialista do
desenvolvimento da civilização e classifica os modelos de família: Família
Consanguínea - Caracterizada pelo casamento entre irmãos e irmãs. A reprodução
era por meio de relações carnais e colaterais, no seio de um grupo. Foi considerada
pelo antropólogo norte-americano Lewis H. Morgan como a primeira e mais antiga
forma de instituição familiar, onde os grupos conjugais classificam-se por gerações.
Para ele os avôs e avós, nos limites da família, são maridos e mulheres entre si; o
mesmo sucede com os filhos; Família Punaluana - são excluídas as relações carnais
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entre irmãos e irmãs, criando então a categoria dos sobrinhos e sobrinhas, primos e
primas, a partir dai dá-se um tipo de matrimônio por grupos em comunidades
comunistas. A partir deste modelo de família, instituem-se as gens, ou seja, um
“círculo fechado de parentes consanguíneos por linha feminina, que não se pode
casar uns com os outros”; Família Sindiásmica - observa-se o matrimônio por pares,
a poligamia e a infidelidade é um direito dos homens. Exigi-se rigorosamente a
fidelidade das mulheres, sendo o adultério cruelmente castigado. No entanto, ainda
considera-se a linhagem feminina, garantindo o direito materno, em caso de
dissolução do vínculo conjugal. Para Engels (1884), a família Sindiásmica é o
estágio evolutivo que permitirá o desenvolvimento da Família Monogâmica; Família
Monogâmica - é a união de um só casal, com coabitação dos cônjuges. Baseia-se
no predomínio do homem. A finalidade expressa é procriar filhos cuja paternidade
seja indiscutível. Existe uma solidez maior dos laços conjugais, porém é dado ao
homem o direito de romper os laços e este da mesma forma, tem o direito à
infidelidade conjugal. A mulher para o homem não passa de mãe de seus filhos
legítimos, aquela que cuida da casa e vigia as escravas.
Engels (1884), afirma que a monogamia foi a primeira forma de família que não
surge por condições naturais, mas sim econômicas, permanecendo a superioridade
da propriedade privada sobre a primitiva. A família, para o autor, progride conforme o
desenvolvimento da sociedade; modifica-se conforme as mudanças que vão
ocorrendo na sociedade.
3 O conceito de família na atualidade
A idéia ou conceito de família proposto por Engels (1995) permanece na história e a
encontramos em Osório (1996), quando destaca o conceito operativo de família:
Família é uma unidade grupal onde se desenvolvem três tipos de relações pessoais – aliança (casal) filiação (pais e filhos) e consanguinidade (irmãos) – e que a partir dos objetivos genéricos de preservar a espécie, nutrir e proteger a descendência e fornecer-lhe condições para a aquisição de suas identidades pessoais desenvolveu através dos tempos funções
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diversificadas de transmissão de valores éticos, estéticos, religiosos e culturais (OSÓRIO, 1996, p.34).
Para o autor os formatos básicos da família são: Família Nuclear (conjugal) - é
constituída pelo tripé pai-mãe-filhos; Família Extensa (consanguínea) - é composta
por outros membros que tenham quaisquer laços de parentesco, avós, tios, etc.;
Família Abrangente - Inclui outras pessoas que não são parentes, mas coabitam na
mesma casa.
Partindo dessa premissa, apontamos o pensamento de Kaloustian (1988), que
afirma que a família é o lugar indispensável para a garantia da sobrevivência e da
proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente, do arranjo
familiar ou da forma como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes
afetivos e, sobretudo, materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos
seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e
informal. É em seu espaço, que são absorvidos os valores éticos e humanitários, os
quais aprofundam os laços de solidariedade. É também em seu interior que se
constroem as marcas entre as gerações e são observados valores culturais.
Hoje, além de termos aquele modelo antigo de família, onde viviam pai, mãe e filhos
sob o mesmo teto, temos outros, como pais vivendo em lares diferentes em que os
filhos vivem com um dos genitores ou ficam sob os cuidados dos avós ou outras
pessoas, sejam da família ou não. O importante é que a função da família seja
exercida. Diante desses desafios da sociedade contemporânea, dos modos de viver,
de se relacionar, de estar inserido, mesmo diante desta diversidade de cultura, o
papel da família é e sempre será importante. Precisa ser conceituada como um
sistema de vínculos afetivos, lugar em que, deverá ocorrer o processo de
humanização de seus componentes. Por maior que sejam as transformações na
configuração familiar, ela “[...] permanece como unidade básica de crescimento e
experiência, desempenho ou falha” (ACKERMAN, 1980, p. 29, apud. ORSI, 2003 p.
68), que tem responsabilidade tanto para um desenvolvimento saudável quanto
patológico de seus componentes.
Kehl (2001 apud Orsi 2003) enfatiza o saudosismo que permanece no inconsciente
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coletivo da família ideal, nuclear e estruturada que suscita uma espécie de ônus
tanto da família quanto da mulher atual, promovida pela indústria cultural e pelos
meios midiáticos. Nesse quadro, a culpa maior, recai sobre a mulher que, por meio
das conquistas no mundo do trabalho, abandonou suas posições na família
tradicional. Nesse sentido, houve uma reorganização de papéis, necessitando os
homens ocuparem lugares que antes eram exclusivamente femininos.
O novo modelo de família contemporânea tem sido muitas vezes, considerada como
desestruturada, o que aumenta o grande número de abandono escolar, ou seja, de
pais que não têm tempo de cuidar da vida escolar de seus filhos. Acrescentando-se
a isso, uma cultura marcada pelo [...] “narcisismo e pelo individualismo onde os
filhos são a esperança de imortalidade e de perfeição para os pais” (ORSI, 2003, P.
69). Assim, os filhos tornam-se esperança de imortalidade e de perfeição dos pais.
Resultando em pais inseguros com medo de se responsabilizarem sozinhos pela
educação dos filhos, bem como de assumirem o risco de errar e carregarem a culpa
pelos possíveis problemas decorrentes da educação ministrada.
Segundo Orsi (2003), a educação e a formação do indivíduo estão hoje sobre
determinados pelo sistema capitalista e pela ciência que com seus saberes, define o
tipo ideal de pai, de mãe, de filhos, de alunos e de escola que a sociedade de
consumo necessita. “Na medida em que o trabalho invade as casas, perde-se a
autonomia e a privacidade, submetendo a família a fazer constantes adaptações
para se enquadrar num modelo pré-determinado e marcado pela transitoriedade.
(ORSI, 2003, p.69). A autora afirma que o tempo é hoje um dos maiores norteadores
que define a possibilidade de dedicação dos pais aos filhos.
Observa-se que na medida em que diminui a disponibilidade de tempo para os filhos, os pais necessitam contar cada vez mais com outras fontes de recursos – como a escola – que os auxiliem no exercício da função educadora e dividam com eles tal responsabilidade. (ORSI, 2003, p.69)
Com esse panorama, a instituição escolar enfrenta um grande problema, alguns pais
encaminham seus filhos para a escola e se eximem de toda e qualquer
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responsabilidade com a educação formal. Nesse sentido, como estabelecer uma
relação de parceria entre escola e família?
4. Relações entre família e escola, breve histórico
A educação tem papel fundamental na produção e reprodução cultural e começa na
família. Nas sociedades primitivas, a educação das crianças era uma tarefa
comunitária e informal. Antes do surgimento da escola como um lugar separado e
especializado para educação formal, as crianças eram educadas na família e na
comunidade, inclusive pela participação nas práticas produtivas e rituais coletivos.
No entanto, nessa época em que a família desempenhava o papel de instruir e
educar, os indivíduos não estavam inseridos em uma sociedade complexa e
evoluída. De acordo com Cunha (2000), esse conjunto de valores e ensinamentos
técnicos que eram transmitidos aos mais novos era suficiente para a sobrevivência
na sociedade. Com a evolução do trabalho e das máquinas, esse modelo
educacional passou a ser insuficiente. Os conhecimentos precisavam ser
aprimorados e organizados para atender ao desenvolvimento da época.
No Brasil, a preocupação com o espaço escolar acontece logo após a
Independência, no século XIX. Como afirma Filho (2006), um dos meios de se
construir uma Nação Brasileira em um ideal liberal e iluminista, colocando em foco a
ordem e a civilidade. Pois aquele modelo de educação individual que acontecia no
seio familiar, já não era suficiente para os ideais daquele período. Segundo o autor,
O método mútuo entrou nesse cenário como um dos mais adequados, pois
propiciava a instrução coletiva, demandando menos tempo e gastos.
Segundo Castro e Regattieri (2009), no Brasil, com o início da República em 1889,
surge a escola como conhecemos hoje, considerada fundamental para a construção
da sociedade. Nasce com o ideário da civilização e do progresso para todos. Há
nesse momento a preocupação de renovar a educação, uma pedagogia nova, que
levasse conhecimento as classes populares. No entanto, surge fundamentada nos
valores da cultura européia, com caráter excludente, atendendo primordialmente às
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elites. E, quando esta, era voltada às classes populares voltava-se apenas a
preparação para o trabalho com objetivo de moralizar, controlar e conformar os
indivíduos às regras sociais.
Com a Nova República, a educação escolar se associa à crença na civilização e no
progresso. No novo regime, começa-se a questionar a capacidade da família para
educar os filhos.
É neste quadro de contraposição da educação moderna à educação doméstica que se consolidam as primeiras idéias – que resistem ao tempo, mesmo fora de contexto –, de que as famílias não estavam mais qualificadas para as tarefas do ensino. Além de terem de mandar os filhos à escola, os familiares precisavam também ser educados sobre os novos modos de ensinar. O Estado passa a ter um maior poder diante da família, regulando hábitos e comportamentos ligados à higiene, saúde e educação. (CASTRO E REGATTIERI, 2010, p. 21)
No início do governo Vargas, consolida-se o caráter reformista da escola e dá-se o
início de um trabalho onde o lema era garantir a moral e os bons costumes,
enfatizando na educação a higiene e alimentação. Nesse contexto, a mulher é
identificada como a principal responsável para garantir a ordem no lar, para isso
precisaria conhecer as necessidades das crianças. Uma das estratégias foi utilizar o
próprio aluno como ponte entre a escola e a família, influenciando assim, a
educação dos adultos. Com isso, a família perde sua função de educadora para a
escola e para o estado. Os pais passam a ocupar o papel de auxiliar, separando
assim as famílias e os profissionais da educação. “A escola afirmava-se como
instituição especializada na socialização das crianças, sobrepondo-se à família, às
igrejas ou a quaisquer outras iniciativas de organização social”. (CASTRO E
REGATTIERI, 2010, p. 23).
Mais tarde, com as idéias de uma escola e uma pedagogia renovada, a família é
chamada para colaborar na educação de seus filhos.
Para que realmente o lema de “instruir e civilizar” por meio da educação se efetivasse, a família não poderia ficar isolada do processo educativo. Foi por
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intermédio do movimento escolanovista e higienista que a aproximação da escola com a família se destacou. (CAMPUS, 2011, p.4)
Em 1932, o documento Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova - escrito por
Fernando de Azevedo e assinado por 26 intelectuais que comungavam das ideias
escolanovistas - quando se refere à interação da família e da escola, o documento
relata que a escola deve trazer para „em torno de si as famílias dos alunos‟, trabalhar
e incentivar as ações dos pais quanto ao sucesso educacional e estabelecer
relações cooperativas entre família e professores. Ou seja, a escola não poderia
ficar isolada dos pais. E assim, como afirma Campus (2011), ao longo de algumas
décadas, houve a propagação e penetração de idéias de renovação educacional e
ideais de famílias estruturadas, unidas, cristãs e sadias. Essas ações de
aproximação entre família e escola, eram difundidas por alguns intelectuais como
Júlia Lopes de Almeida, Cecília Meireles, Armanda Álvaro Alberto e Pe. Leonel
Franca.
Com a ditadura militar, há a expansão da rede privada de ensino, o empobrecimento
da educação pública e a desvalorização do professor do ensino primário.
A Constituição de 1967 classificou a educação como dever do Estado e ampliou a obrigatoriedade do ensino de quatro para oito anos, porém suprimiu o preceito que obrigava a destinação de um percentual de recursos públicos para a educação. Sem financiamento contínuo e garantido, as instalações e condições físicas das escolas públicas pioram e a qualidade do ensino também cai. [...] As longas jornadas, os baixos salários e uma mudança no perfil da clientela contribuíram para que a carreira de professor primário (séries iniciais do ensino fundamental) perdesse o encanto e parte do reconhecimento social. Observou-se o progressivo declínio da dignidade e do valor da profissão docente, particularmente na educação básica. (CASTRO; REGATTIERI, 2009, p. 23,24)
Nesse período, muitos pais levaram seus filhos para o ensino privado e o estado
fecha a possibilidade de diálogo com as famílias e a comunidade.
Com o rompimento da ditadura militar em 1980 e a redemocratização do país, os
direitos sociais da população são evidenciados. A Constituição Nacional de 1988
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proclama a educação como um direito de todos. Em 1987, a Carta Internacional dos
Direitos da Criança, eleva a criança à condição de sujeito de direitos e à dignidade
da pessoa. Essa concepção passa a considerar a criança como ator principal do
processo educacional. Na concretização dos direitos das crianças, são alterados os
encargos dos pais e dos educadores, bem como a relação família-escola, que passa
a ser conduzida por novas normas.
No Brasil, em termos legais, os direitos das crianças e adolescentes, bem como das
famílias em acompanhar o desenvolvimento escolar de seus filhos, estão amparados
pela Constituição Federal no Art. 205.
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, 1988, p. 66).
Esta questão também é tratada no Estatuto da Criança e do Adolescente, C.IV, a.53,
parágrafo único: “É direito dos pais ou responsável ter ciência do processo
pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.”
(ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 1990, p, 18).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada em 1996,
afirma que os profissionais da educação devem ser os responsáveis pelos
processos de aprendizagem, mas não estão sozinhos nesta tarefa. A lei prevê a
ação integrada das escolas com as famílias:
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: (...) VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; (...) Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: (...) VI – colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade. Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: (...) II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares
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ou equivalentes. (LDB, 1996, p. 17)
Tanto a Constituição como o ECA e a LDB, afirmam a efetividade do direito à
educação das crianças e adolescentes com a participação da escola e das famílias.
Essas novas Leis demarcam um novo período de consolidação de direitos sociais e
individuais dos alunos, de suas famílias e da escola, na história da educação.
No percurso histórico apresentado até o momento, podemos confirmar que houve
primeiramente parte das atribuições educativas da família para o estado. Nesse
movimento, ao mesmo tempo em que o saber familiar, principalmente das famílias
desfavorecidas financeiramente, foi desconsiderado, aconteceu a profissionalização
do ensino acadêmico. Importante lembrar que, há pouco tempo essa família é
chamada a participar como colaboradora no processo educativo de seus filhos. E
que ainda família e professores ocupam papéis diferenciados. A instituição de
ensino, em nome do Estado, se encarrega de trabalhar a educação formal, repassar
o conteúdo científico elaborado na história dos homens em forma de currículo para
os alunos, bem como certificá-los. E a família se limita em acompanhar o
desempenho do seu filho em casa.
A educação é um dever conjunto de pais e escola, pois tem o mesmo objetivo, a
formação do sujeito. Em alguns momentos podem ocupar lugares antagônicos. Se o
aluno tem sucesso com os conteúdos acadêmicos, esses atores se sentem
corresponsáveis pelo sucesso. Mas quando não atingem o rendimento escolar
esperado, apresentando problemas de aprendizagem e/ou de indisciplina, iniciam se
as contestações sobre as responsabilidades pelo fracasso do aluno. De um lado a
escola se posiciona atribuindo o problema à família, por outro lado a família
responsabiliza a escola pelo baixo rendimento do filho.
5. Família e escola uma relação possível
Durante o trabalho de implementação pedagógica no Colégio Estadual Pedro II,
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foram observados alguns discursos dos professores como: “É sempre assim! Os
pais dos que mais precisam não aparecem na escola para saber dos filhos!”; “Eu
quero falar com os pais desse menino! Todas as vezes que chamamos não aparece
ninguém. É melhor chamar logo o Conselho Tutelar!”; “Eu não sei mais o que fazer
com esse aluno! Vem sempre pra aula sem o material da disciplina!”. Em grande
parte dos discursos, os educadores demonstraram o interesse de que as famílias
participassem no auxílio das tarefas e trabalhos de casa de seus filhos. No
compromisso de enviá-los para escola com o material e livros referentes às
disciplinas daquele dia. Demonstraram também, o desejo que os pais enviassem
seu filho uniformizado para escola, bem como, de que fossem mais rigorosos na
educação dos mesmos. Não sendo tão permissivos e agissem com mais rigor, que
tomassem atitude quando seus filhos desrespeitassem os professores e também se
posicionassem, quando não fizessem as atividades de sala e/ou de casa.
No trabalho com os pais, confirmou-se que demonstram interesse em se envolver
nas atividades escolares de seus filhos, têm também a preocupação com as notas
ruins e a não aprendizagem, mas nem sempre conseguem. Justificam-se dizendo
que, diante das ocupações diárias de trabalho tanto do pai quanto da mãe - em
alguns casos dos avós - somando as atividades da casa, quase não sobra tempo
para acompanhar as tarefas escolares, bem como comparecer às reuniões e/ou
convocações realizadas pela escola.
Importante pontuar que os pais ainda se sentem temerosos em invadir áreas, que
segundo eles, são exercidas pela gestão escolar, principalmente no que se refere a
avaliação de professores, definição de calendário, currículos escolares, tempo e
espaço da escola. Isso ficou evidente durante a implementação do projeto de
intervenção pedagógica realizado na instituição escolar. Os poucos pais que
participaram, sabem que podem adentrar ao espaço da escola e que poderiam
contribuir de forma significativa, mas ficam sem saber ao certo como proceder e vão
deixando por conta dos gestores as decisões que são tomadas, mesmo não
concordando com elas.
Com o trabalho de implementação da proposta do PDE, verificou-se que muitas
vezes a escola oferece aos pais participações restritivas, ou exigem um
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conhecimento que os pais não possuem dentro do sistema educacional, com isso,
afasta as famílias do processo. E essas, são nomeadas como negligentes e
irresponsáveis na educação dos filhos.
A análise feita do Regimento Escolar do Colégio Estadual Pedro II, pode confirmar
as reflexões apresentadas anteriormente.
DOS DIREITOS DOS PAIS OU RESPONSÁVEIS, CAPÍTULO IV, SEÇÃO I DO REGIMENTO ESCOLAR Art. 187 - Aos pais ou responsáveis, além dos direitos outorgados por toda a legislação aplicável, têm ainda as seguintes prerrogativas: I. serem respeitados na condição de pais ou responsáveis, interessados no processo educacional desenvolvido no estabelecimento de ensino; II. participar das discussões da elaboração e implementação do Projeto Político-Pedagógico do estabelecimento de ensino; III. sugerir, aos diversos setores do estabelecimento de ensino,ações que viabilizem melhor funcionamento das atividades; IV. ter conhecimento efetivo do Projeto Político-Pedagógico da escola e das disposições contidas neste Regimento; V. ser informado sobre o Sistema de Avaliação do estabelecimento de ensino; VI. ser informado, no decorrer do ano letivo, sobre a freqüência e rendimento escolar obtido pelo aluno; VII. ter acesso ao Calendário Escolar do estabelecimento de ensino; VIII. solicitar, no prazo de 72 horas, a partir da divulgação dos resultados, pedido de revisão de notas do aluno; IX. assegurar autonomia na definição dos seus representantes no Conselho Escolar; X. contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores: Conselho Escolar e Núcleo Regional de Educação; XI. ter garantido o princípio constitucional de igualdade de condições para o acesso e a permanência do aluno no estabelecimento de ensino; XII. ter assegurado o direito de votar e/ou ser votado representante no Conselho Escolar e associações afins; XIII. participar de associações e/ou agremiações afins; XIV. representar e/ou ser representado, na condição de segmento, no Conselho Escolar.
Nos incisos, II e III do regimento é explícita a participação dos pais não só como
platéia do segmento escolar, mas como ator do processo de ensino e aprendizagem,
como agente pensante na construção de uma educação transformadora. No entanto,
não é isso que acontece. Pode ser que as escolas e profissionais que ali trabalham
ainda não estejam preparados para essa tão valiosa contribuição.
Paro (2000), em análise ao discurso de pais e professores, afirma que os
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professores desejam que a família continue trabalhando em casa com a educação
oferecida na escola, auxiliando seus filhos nas tarefas acadêmicas, o que ele
denomina como „uma continuidade de mão única‟, enquanto os pais, apesar de ter a
escola como uma „segunda família‟, vivenciam “a timidez diante dos professores, o
medo da reprovação dos filhos e a distância que sentem da cultura da escola...”
(PARO, 2000, p.33).
O autor, afirma que é preciso reconhecer não só direito de participação dos
responsáveis pelos educandos, mas a necessidade que a boa escola tem dessa
participação, e examinar as diversas formas da questão apontando as perspectivas
de uma adesão ativa de pais ou responsáveis aos propósitos educativos, da
instituição escolar, no intuito de melhorar a aprendizagem. Essa parceria deverá ser
de forma viável.
Nessa relação fundamental para o processo de aprendizagem, juntamente família e
escola, favorecem a socialização, a afetividade e o bem estar físico dos alunos. Faz-
se necessário então, a aproximação desses dois contextos, pois, tanto a família
como a escola apresentam aspectos positivos e negativos.
Educação é o conjunto de ações, processos, influências, estruturas que intervêm no desenvolvimento humano de indivíduos e grupo na relação ativa com o ambiente natural e social, num determinado contexto de relações entre grupos e classes sociais. (LIBANEO, 2000, p. 22)
É importante que a instituição escolar faça uma análise do contexto familiar, saber o
que pensam os pais sobre o seu papel no processo de escolarização dos seus
filhos. A participação efetiva dos pais facilita a prática pedagógica dos professores.
A participação democrática na escola pública sofre os efeitos dos condicionantes ideológicos, que são todas as concepções e crenças sedimentadas historicamente na personalidade de cada pessoa e que movem suas práticas e comportamentos no relacionamento com os outros. Assim, para que haja a participação eficaz da comunidade na escola é preciso levar em conta o modo de pensar e agir das pessoas que aí atuam. (PARO, 1997, p.47)
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O modelo de participação de famílias na escola que temos internalizado, se limita a
participação em reuniões de pais, em que se restringem a meros receptores de
informação. Em reuniões de entrega de boletins, algumas vezes se sentem mal
diante dos problemas apresentados pelo filho na escola; Em festas, quando são
chamados a colaborar na organização ou contribuir financeiramente; E
recentemente na participação, que muitas vezes não passa de um ritual burocrático
com máscara de democracia, nos órgãos colegiados da escola.
Para pensar em uma participação efetiva das famílias na escola é importante
repaginar reuniões teóricas infindáveis, reuniões para tratar de problemas
pedagógicos dos filhos como notas ruins e indisciplina, reuniões para falar de
problemas financeiros da escola, reuniões onde só a equipe pedagógica e
professores falam, reuniões muito longas .e exaustivas. Esses tipos de reuniões já
são corriqueiras na escola e os educadores já sabem o resultado, poucos pais, e os
que comparecem conversam o tempo todo, saem da sala; outros querem ir embora
porque tem compromissos, parece que não têm interesse pela vida escolar dos
filhos. Ou seja, são reuniões improdutivas e frustrantes. Assim, não basta legitimar
esse cenário com queixas e lamentações. Na verdade as famílias ainda não estão
preparadas para solucionar problemas que são muitas vezes inerentes ao ambiente
estritamente escolar.
Para que a participação das famílias, no ambiente escolar, cumpra com os objetivos
de igualdade de oportunidades entre famílias e escola, é preciso pensar em que
medida a participação do conjunto de famílias é representativa na demanda
educacional dos alunos.
6. Conclusão
Partindo dos estudos realizados, podemos concluir que em muitos momentos, as
famílias são culpabilizadas pelo não rendimento escolar de seus filhos, ou por serem
consideradas como desestruturadas, disfuncionais ou por terem um modelo que se
diferencia do tradicional. Muitos acreditam que os alunos que são provenientes
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desses núcleos familiares, estão fadados ao insucesso. No entanto, verificamos que
por um longo período na história da educação brasileira, as famílias foram afastadas
do convívio educacional. A relação entre escola e família não propiciava a integração
das mesmas de modo que trabalhassem em conjunto na educação das crianças. O
principal objetivo era civilizar, instruir e normatizar os padrões familiares para o
progresso do país.
Verificou-se também que algumas famílias em função da sobrecarga de trabalho
deixam de ensinar os princípios básicos da educação para seus filhos. Assim, foi
fundamental o estudo e abordagem juntos aos pais, dos pensadores citados no
início deste artigo. Porque se considerarmos os aspectos essenciais das virtudes
humanas observamos ser fundamental o estabelecimento de Regras e Disciplina.
Observa-se que a escola e a família são as duas instituições responsáveis pelo
ensino e prática de atitudes virtuosas. Os profissionais da educação e os pais,
precisam repensar a prática cotidiana, no sentido de questionar, analisar e refletir
sobre a mesma, para que retomem e direcionem novos caminhos, facilitando as
relações interpessoais, bem como comprometendo-se com o percurso educacional
das crianças e dos adolescentes. Pais e professores precisam ser vigilantes, quer
seja nos atos ou para com os atos dos filhos (as) e alunos (as). Atentar para a
construção permanente de ações que elevem as relações humanas, que dêem
espaço para o diálogo, para o pleno exercício da cidadania.
Para a compreensão do tema tornou-se necessário lembrar aos pais a importância
de sua participação e os direitos e deveres que os mesmo têm perante a instituição
escolar, visando um melhor entendimento do seu comprometimento quanto ao
acompanhamento da vida escolar de seu filho (a). Relevante também foi poder
destacar os preceitos virtuosos, os quais nos remetem ao conhecimento e a
valorização que se deve ter do outro e de nós mesmos, fortalecendo nossas
decisões e estabelecendo prioridades diante dos caminhos que queremos para
nossos filhos (a), para nós mesmos e para a comunidade escolar.
Abordamos esse assunto no intuito de poder colaborar com os pais, fazendo-os
entender que a escola necessita de sua participação como sujeito responsável pelo
aluno. A escola tem sua história e suas limitações, bem como, a família também tem
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sua história de exclusão do sistema educacional, ficando muitas vezes à margem do
processo. No entanto, é necessário resgatar essa parceria para que ambas
trabalhem em prol de uma educação de qualidade.
É importante que a criança e o adolescente percebam que estão sendo
acompanhados, que sintam apoiados em suas ações e que inseridos nesta
sociedade, saibam da necessidade que se tem em respeitar os outros e serem
respeitados, pois é por meio dos exemplos que crescemos no dia a dia, como
descreve SHAPIRO (2011) em seu artigo Um modo único de ensinar, “Eu jamais
consegui ensinar as lições que achei importante aos meus filhos, mas eu os vi
fazendo tudo o que eles me viram fazer”
Diante disso Kant, afirma que uma geração educa a outra e é o adulto que exerce
essa função diante das crianças e dos jovens, por isso deve-se ficar atento aos
exemplos. O exemplo tem enorme eficácia, ele fortifica ou destrói os bons preceitos.
Assim, se os alunos tiverem um modelo de pais participativos no sistema
educacional, com certeza estes pais também acompanharão a vida escolar de seus
filhos.
Assim, torna-se primordial que a escola se conscientize de que possui um papel
fundamental no estabelecimento dessa parceria. A escola deve trabalhar em
conjunto com a família, para que esta se sinta valorizada e que construa sua auto-
estima. Para que a família se sinta primeiramente compreendida e não acusada,
recepcionada e não rejeitada, que ambas se sintam reconhecidas e fortalecidas
como parceiras nessa relação
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