escola de comando e estado-maior do …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais,...

59
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO Maj Inf JOÃO CARLOS DUQUE Rio de Janeiro 2019 AS CONTRIBUIÇÕES DO EXÉRCITO RELACIONADAS À DEFESA, PRESERVAÇÃO E PROTEÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS DA AMAZÔNIA ORIENTAL, A PARTIR DOS GOVERNOS MILITARES -1964

Upload: others

Post on 10-Aug-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO

ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO

Maj Inf JOÃO CARLOS DUQUE

Rio de Janeiro 2019

AS CONTRIBUIÇÕES DO EXÉRCITO RELACIONADAS À DEFESA, PRESERVAÇÃO E PROTEÇÃO DOS RECURSOS NATURAIS DA AMAZÔNIA ORIENTAL, A PARTIR DOS

GOVERNOS MILITARES -1964

Page 2: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

Maj Inf JOÃO CARLOS DUQUE

AS CONTRIBUIÇÕES DO EXÉRCITO RELACIONADAS À DEFESA, PRESERVAÇÃO E PROTEÇÃO DOS RECUROS NATURAIS DA AMAZÔNIA ORIENTAL, A PARTIR DOS

GOVERNOS MILITARES -1964

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.

Orientador: Cel Art MARCOS JOSÉ MARTINS COELHO

Rio de Janeiro 2019

Page 3: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

D946c Duque, João Carlos

As contribuições do Exército relacionadas à defesa, preservação e

proteção dos recursos naturais da Amazônia Oriental, a partir dos governos militares – 1964. / João Carlos Duque. 一 2019. 58 f. : il ; 30 cm

Orientação: Marcos José Martins Coelho. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ciências

Militares) 一 Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, Rio de Janeiro, 2019.

Bibliografia: fl 56-58. 1. Amazônia Oriental; 2.Ilícitos transnacionais; 3. Recursos

minerais; 4. Exército na Amazônia; 5. Garantia da Lei e da Ordem; 6. Geopolítica da Amazônia I. Título.

CDD 355.309811

Page 4: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

Maj Inf JOÃO CARLOS DUQUE As contribuições do Exército relacionadas à defesa, preservação e proteção dos recursos naturais da Amazônia Oriental, a partir dos governos militares – 1964

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Ciências Militares, com ênfase em Defesa Nacional.

Aprovado em _____ de_______________ de________.

COMISSÃO AVALIADORA

_________________________________________________ Cel Art Marcos José Martins Coelho - Presidente Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

_________________________________________________ TC Inf José Roberto de Vasconcellos Cruz- 1º Membro

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

_________________________________________________ Maj Cav Eduardo Schlup- 2º Membro

Escola de Comando e Estado-Maior do Exército

Page 5: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

À Deus por ter me dado saúde e

determinação para executar esta tarefa e a

minha amada esposa Ana Paula e meu filho

João Lucas, pelo apoio e compreensão

durante a execução deste trabalho.

Page 6: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Cel Coelho, meus sinceros agradecimentos pela dedicação e

paciência inferidas a minha pessoa durante a elaboração deste trabalho. Agradeço

pela orientação firme e objetiva, bem como pelas sugestões que facilitaram a

conclusão deste trabalho.

Page 7: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

RESUMO

A Amazônia Oriental carrega consigo traços que a distingue das demais regiões brasileiras e da própria Amazônia Ocidental. Seu desenvolvimento não acompanhou a média nacional uma vez que, com inexpressivo parque industrial, grandes restrições de logística, produção energética e de serviços, manteve-se dependente de atividades primárias, situando-se à margem das prioridades e ações governamentais até meados do século passado. A partir de 1964, vivenciou significativa mudança de atitude governamental. Influenciada por pensamentos geopolíticos nacionalistas, os governos militares incluíram a Amazônia como uma área de interesse estratégico. Assim, a região passou a receber investimentos, voltados a sua integração e ocupação, e em um segundo momento, passou-se a incentivar e implementar grandes obras de infraestrutura voltadas para o aproveitamento de suas potencialidades mineral, energética e votadas para o agronegócio. Com o progresso, as questões sociais também foram potencializadas ao mesmo tempo em que ilícitos nacionais e transnacionais passaram a constituir o amplo e complexo espectro da fronteira amazônica. Dessa forma, atividades como garimpo, mineração e agricultura passaram a duelar interesses com questões indígenas e de preservação do meio ambiente; Somam-se ainda, o mapeamento das reservas minerais raras, o potencial de emprego da sua biodiversidade em contraponto com a sua dimensão e consequentemente dificuldade do Estado estabelecer meios eficazes de controle, proteção, coesão, segurança e coerção. Essa lacuna, tem sido comumente utilizada na construção de argumentos tendenciosos de autoridades e representantes de nações estrangeiras interessadas na universalização dessas riquezas em prol do “futuro da humanidade”. Neste contexto, o Exército Brasileiro é, historicamente, a única instituição nacional com capilaridade, capacidade operacional e aptidão necessárias a contribuir com a preservação das riquezas minerais e reforçar as agências de controle, preservação e monitoramento. Por meio de suas organizações militares exerce a presença do Estado, corrobora com a segurança de estruturas e reservas minerais estratégicas e auxilia, quando solicitado, em atividades subsidiárias de Garantia da Lei e da Ordem. Palavras-chave: Amazônia Oriental; Ilícitos transnacionais; recursos minerais; Exército na Amazônia; Garantia da Lei e da Ordem; Geopolítica da Amazônia.

Page 8: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

ABSTRACT

The Eastern Amazon carries traits that distinguish it from other Brazilian regions and from the Western Amazon itself. Its development did not keep up with the national average since, with its inexpressive industrial park, major logistical, energy production and service constraints, it remained dependent on primary activities, and remained outside government priorities and actions until the middle of the last century. From 1964 onwards, he experienced a significant change in government attitude. Influenced by nationalist geopolitical thoughts, military governments included the Amazon as an area of strategic interest. Thus, the region began to receive investments, focused on its integration and occupation, and in a second moment, began to encourage and implement large infrastructure works aimed at harnessing its mineral, energy and agribusiness potential. With progress, social issues have also been potentiated as national and transnational illicit have become the broad and complex spectrum of the Amazonian frontier. Thus, activities such as mining, mining and agriculture began to duel interests with indigenous and environmental preservation issues; In addition, the mapping of rare mineral reserves, the potential employment of their biodiversity in contrast to their size and consequently the difficulty of the State to establish effective means of control, protection, cohesion, security and coercion. This gap has been commonly used in constructing biased arguments by foreign officials and representatives interested in universalizing these riches for the "future of humanity." In this context, the Brazilian Army is historically the only national institution with the necessary capillarity, operational capacity and aptitude to contribute to the preservation of mineral wealth and to strengthen control, preservation and monitoring agencies. Through its military organizations, it exercises the presence of the State, corroborates the security of strategic mineral structures and reserves and assists, upon request, in subsidiary Law and Order Guarantee activities.

Keywords: Eastern Amazon; Transnational illicit acts; mineral resources; Army in the Amazon; Guarantee of Law and Order; Geopolitics of the Amazon.

Page 9: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

LISTA DE FIGURAS E QUADROS

Figura 1 - Caracterização da Amazônia Oriental............................................. 12

Figura 2 – Levantamento de recursos minerais da Amazônia Oriental............ 25

Figura 3 –Demonstrativo dos modais de transporte na Amazônia Oriental...... 28

Figura 4 – Quadro Potencial Hidrelétrico das Bacias Amazônicas................... 30

Figura 5 – Distribuição das Terras Indígenas na Amazônia Oriental................ 32

Figura 6 – Focos de Tensão na Amazônia Oriental.......................................... 33

Figura 7 - Garimpos de ouro na Amazônia na década de 90............................ 34

Figura 8 - Estrutura do Comando Militar do Norte............................................. 40

Figura 9 - Estruturas Estratégicas terrestres..................................................... 43

Figura 10 - Subsistemas do SISFRON.............................................................. 44

Page 10: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................... 11

1.1 PROBLEMA........................................................................................... 13

1.2 OBJETIVO............................................................................................. 14

1.2.1 OBJETIVO GERAL................................................................................ 14

1.2.2 OBJETIVO ESPECÍFICO.................................................................... 14

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO.............................................................. 15

1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO................................................................ 15

2 REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................. 18

2.1 TEORIAS CLÁSSICAS........................................................................... 19

2.2 O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO................................... 21

3 METODOLOGIA..................................................................................... 23

3.1 DINÂMICA DE PESQUISA..................................................................... 23

4 OS PRINCIPAIS RECURSOS MINERAIS E NATURAIS DA AMAZÔNIA ORIENTAL E SUAS APLICAÇÕES ECONÔMICAS............................ 24

4.1 A ATIVIDADE MINERADORA................................................................. 24

4.2 QUESTÃO LOGÍSTICA........................................................................... 26

4.3 QUESTÃO ENERGÉTICA...................................................................... 29

5 PRINCIPAIS ATORES E QUESTÕES PRESENTES NA AMAZÔNIA ORIENTAL............................................................................................ 31

5.1 QUESTÃO INDÍGENA ........................................................................... 31

5.2 QUESTÃO DO GARIMPO NA AMAZÔNIA ORIENTAL.......................... 34

5.3 MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMAZÔNIA ORIENTAL............................ 35

5.4 QUESTÃO AMBIENTAL ......................................................................... 37

6 ESTRUTURA, PROJETOS E AÇÕES DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA ORIENTAL ................................................................................................................39

6.1 O HISTÓRICO DA FORÇA MILITAR TERRESTRE NA AMAZÔNIA

ORIENTAL ................................................................................................................ 39

6.2 A ATUAL ESTRUTURA DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA ORIENTAL.... 40

6.3 PROJETOS e AÇÕES DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA ORIENTAL..... 42

6.3.1 O Projeto Estratégico PROTEGER.......................................................43

6.3.2 O Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras – SISFRON.. 44

6.3.3 O Programa Calha Norte...................................................................... 45

Page 11: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

6.3.4 Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM)............................................................................................................. 46

6.3.5 Sistema de Gestão Ambiental do Exército Brasileiro (SiGAEB)..... 47

7 CONCLUSÃO.........................................................................................49

8 REFERÊNCIAS................................................................................... 56

Page 12: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

11

1 INTRODUÇÃO

O tema da Amazônia tem sido estudado por pesquisadores, estadistas,

organizações e personalidades de todo o mundo. Ano pós ano, questões sobre sua

preservação ou exploração, ganham maior vulto potencializadas por cenários

prospectivos, em que se estima uma demanda cada vez maior por recursos naturais,

em detrimento da sua previsível escassez.

A Amazônia é caracterizada por ser um bioma que se estende por 8 (oito)

Estados Nação e mais a Guiana Francesa. No Brasil, a Região Amazônica

compreende seis estados da federação (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e

Roraima). No entanto, com o intuito de garantir a captação de incentivos fiscais e com

o propósito de promover o desenvolvimento regional, além dos estados supracitados,

foram incluídas parte dos estados do Mato Grosso, de Tocantins e do Maranhão,

totalizando cerca de 61% do território brasileiro e configurando o conceito de

Amazônia Legal.

A região como um todo reúne números expressivos: 5.029.322 km2 de área

(cerca de 58% do território nacional); faz fronteira com 7 países; considerada a maior

floresta tropical e o maior banco genético do mundo; possui riquíssima biodiversidade

(30% de todas as espécies vivas do planeta), uma das maiores bacias de água doce

do planeta (Bacia Amazônica, Aquíferos Alter do Chão e Guarani, reunindo 20% de

toda água doce do planeta) e com grande potencial energético (2/3 do planeta).

Destacam-se ainda, suas riquezas minerais (maior província mineral do mundo), as

quais muitas delas, ainda permanecem intactas.

Tamanha grandeza associada a constante e crescente demanda da sociedade

humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de

energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em um cenário dicotômico.

Segundo Bento (2017), aqueles que a detém, incumbe a preocupação com a

preservação da soberania sobre suas riquezas, exploração em benefício do

desenvolvimento social e econômico de suas populações; aos demais, verifica-se a

inquietação contínua e progressiva de atores governamentais e não governamentais,

em sua maioria estrangeiros, traduzida na forma de bandeiras voltadas para a

universalização e proteção dos recursos lá existentes.

O General de Exército Osvaldo de Jesus Ferreira (2013), primeiro comandante

do Comando Militar do Norte, responsável pela área que engloba a Amazônia Oriental,

Page 13: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

12

objeto desta pesquisa, resumiu: “A Amazônia Brasileira é uma área de dados

superlativos em todos os sentidos”.

Verifica-se, nesse ínterim, o valor estratégico do acesso aos recursos naturais

e o seu vínculo com o conceito de defesa, bem como da necessidade de proteção. A

Política Nacional de Defesa (2016) abordou o tema ratificando que os recursos

naturais são parte integrante do patrimônio nacional, cuja defesa constitui-se em ato

de preservação dos próprios interesses nacionais e da soberania.

Em se tratando de valor estratégico, é mister destacar que a região foi e tem

sido objeto de estudo de grandes pensadores geopolíticos nacionais e teóricos

internacionais. Destaco no âmbito nacional os generais Golbery Silva e Mário

Travassos, precursores da geopolítica brasileira, os quais observaram e esmiuçaram

a importância e o valor geopolítico da região. Seus estudos formaram a base das

políticas nacionais contemporâneas implementadas a partir dos governos militares e

que fomentaram o desenvolvimento e integração da Região Amazônica, segundo

Becker (1993), até então praticamente ilhada do cenário nacional. Figura 1 – Caracterização da Amazônia Oriental1

Fonte: http://www.cmn.eb.mil.br/institucional.html, adaptado pelo autor, acessado em

09 de maio de 2019

A Figura 1, reitera as denominações e divisões da Amazônia Legal. Sua

denominação é um conceito moderno e de amplitude nacional, utilizado para definição

de políticas voltadas ao desenvolvimento da região. Esse conceito pode ser

desmembrado em outros dois mais antigos, porém ainda usados, através dos quais

as políticas aplicadas ao desenvolvimento regional amazônico foram concebidas:

Page 14: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

13

Amazônia Ocidental e Oriental1 (foco deste trabalho). Essa subdivisão também foi

utilizada pelo Exército Brasileiro para delimitar atribuições dos grandes comandos

militares do Exército Brasileiro para defesa e proteção da soberania nacional, bem

como sua participação e contribuição para o desenvolvimento e progresso das regiões

em que estão sediados.

Do ponto de vista militar, cabe especial atenção ao seu enorme arco fronteiriço

e a proteção de áreas estratégicas, o que impôs ao Exército a instalação de dois

Comandos Militares de Área. Com responsabilidades distintas, o Comando Militar da

Amazônia (CMA) na porção ocidental, com missão precípua de fronteira; e o

Comando Militar do Norte (CMN) na porção oriental, foco deste trabalho, com a missão

de proteção da fronteira Norte e de recobrir militarmente as grandes vias de acesso e

estruturas estratégicas no interior da imensa área da Amazônica Oriental.

Nesse ínterim, verifica-se que, no âmbito da Amazônia Oriental, os desafios

possuem uma dinâmica que requer especial atenção da Força Terrestre: problemas

fundiários e ambientais na área de influência das BR 230 – Transamazônica e 163 –

Cuiabá/Santarém; questões relativas à colossal Província Mineral de Carajás e a

cobiça internacional por recursos naturais estratégicos; questão energética (presença

de grandes hidrelétricas) e sua importância para o desenvolvimento nacional;

questões das demarcações de terras indígenas; a presença de movimentos sociais

que se voltam contra decisões soberanas exigindo o emprego da Força, dentre outros.

Desta forma, constata-se que o estudo do tema é amplo, contemporâneo e

geoestratégico. Infere ao Estado a formulação de políticas voltadas para o

desenvolvimento e integração regional e impõe às Forças Armadas um estado de

prontidão, para que, em função das oportunidades e ameaças internas e externas

elencadas, promovam ações voltadas para a manutenção da soberania e o

desenvolvimento de tão expressiva faixa territorial.

1.1 PROBLEMA

Diante do cenário anteriormente elencado, é necessário destacar que, durante

1 A Amazônia Ocidental, de acordo com o decreto-lei 291, de 18 de fevereiro de 1967, abrange os seguintes estados: Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. Já a Amazônia Oriental é definida por exclusão, restando ser constituída pelo Tocantins, Pará e Amapá e as áreas amazônicas do Maranhão.

Page 15: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

14

o período dos Governos Militares, houve um alinhamento das estratégias política e

militar, traduzidas no direcionamento das expressões do poder para fomentar a

integração da Amazônia ao contexto nacional.

Essa “nova onda” voltada para a interiorização, ocupação e desenvolvimento,

teve como válvula motriz o Exército, Instituição Nacional presente e com atuação

efetiva em toda a Amazônia. Sua capilaridade tem permitido exercer, ao longo da

história do Brasil, sua missão de proteção de nossas fronteiras e riquezas e,

conjuntamente com as demais Instituições públicas e privadas, contribuir com o

desenvolvimento regional. Diante de tamanha responsabilidade, essa pesquisa se

depara com a seguinte questão problema:

Qual a atual contribuição do Exército Brasileiro, a partir de 1964, para as questões de proteção e defesa dos recursos naturais na Amazônia Oriental?

1.2 OBJETIVOS

Como forma de ajudar a elucidar o problema proposto, foi definido o objetivo

geral e três objetivos específicos.

1.2.1 Objetivo geral

Face ao aumento da cobiça internacional e a necessidade de fomentar o

desenvolvimento nacional, utilizando-se do banco de riquezas e potencialidades

existentes na Amazônia Oriental, quais foram as ações do Exército, a partir de 1964,

para garantia e manutenção da soberania sobre esse patrimônio? Ao responder essa

pergunta, esse trabalho encontrou o seguinte objetivo, conforme descrito a seguir:

Identificar as ações desenvolvidas pelo Exército relacionadas com a defesa e

proteção dos recursos naturais estratégicos da Amazônia Oriental, tendo como marco

temporal o período dos governos militares (1964).

1.2.2 Objetivos específicos

A fim de viabilizar a consecução do objetivo geral deste trabalho foram

formulados alguns objetivos específicos a serem atingidos que permitiram o

encadeamento lógico do raciocínio descritivo apresentado neste estudo:

Page 16: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

15

a. Identificar os pressupostos de Teorias Geopolíticas Clássicas e

Contemporâneas que possam influenciar os cenários que envolvem a região da

Amazônica Oriental.

b. Caracterizar a Amazônia Oriental, destacando suas possibilidades,

enfatizando as suas riquezas minerais estratégicas e seu potencial de exploração

econômica.

c. Apresentar as estruturas do Exército na Amazônia Oriental e suas ações

voltadas para a integração, defesa e proteção de nossas riquezas minerais, a partir

dos governos militares.

1.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

A delimitação no tempo (a partir dos governos militares) e espaço (Amazônia

Oriental) possui um caráter restritivo à amplitude do tema. Contudo, a intenção é

estabelecer um paralelo entre a Política Nacional e as Estratégias Militares definidas

à partir de 1964, e os seus reflexos para o desenvolvimento regional2.

Segundo Franchi (2013), a política de ocupação e adensamento militar tinha

múltiplos propósitos: aumentar a presença militar nas fronteiras (dissuasão);

estabelecer a presença do Estado no entorno de grandes jazidas minerais e estruturas

energéticas implementadas; fomentar o desenvolvimento regional através da

engenharia militar, com destaque para a construção de grandes obras de

infraestrutura voltadas para realização das ligações terrestres, fluviais e aéreas; conter

ideologias patrocinadas por países comunistas e focos de guerrilha que se instalaram

na região; e finalmente, integrar a Região Amazônica ao restante do território nacional.

1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

A relevância desta proposta de pesquisa está evidenciada na constante

discussão do tema Amazônia no âmbito internacional. Dessa forma, a abordagem

nacional deve identificar-se com a preservação dos objetivos nacionais (soberania),

2 Como forma de ilustrar a mudança de atitude do Exército para com a região ressalta-se que, no primeiro ano do regime militar, 22 municípios amazônicos receberam algum tipo de Organização Militar permanente, sem contar os que já possuíam até então.

Page 17: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

16

fazendo uso de suas Instituições Nacionais. Tal assertiva pode ser encontrada no

primeiro escalão de políticas públicas, através da Política Nacional de Defesa, 2016:

(...) A Amazônia brasileira, com seu grande potencial de riquezas minerais e de biodiversidade, é foco da atenção internacional. A garantia da presença do Estado e a vivificação da faixa de fronteira são dificultadas, entre outros fatores, pela baixa densidade demográfica e pelas longas distâncias. A vivificação das fronteiras, a proteção do meio ambiente e o uso sustentável dos recursos naturais são aspectos essenciais para o desenvolvimento e a integração da região O adensamento da presença do Estado, e em particular das Forças Armadas, ao longo das nossas fronteiras é condição relevante para o desenvolvimento sustentável da Amazônia (PND, 2016, p 23, grifo nosso).

Da análise do texto, depreende-se a relevância nacional do desenvolvimento

da Amazônia e a concepção estratégica da atuação das Forças Armadas (FA) para a

consecução desse objetivo.

A despeito do texto destacar as FA como atores do processo, neste trabalho o

enfoque foi atribuído em torno das ações do Exército Brasileiro. Não desmerecendo a

importância das demais forças, a presença do Exército na Amazônia é mais

representativa, e principalmente a partir do Séc XIX, se tornou mais efetiva, atuando

nas diversas expressões do poder, como destaca Franchi: Chama a atenção o papel de apoio às atividades de colonização e desenvolvimento da região levado a cabo pelo Exército, embora sejam atividades subsidiárias e não a atividade-fim da instituição, que é a defesa. A continuidade, atesta a importância histórica de tais atividades, em paralelo com as atividades de defesa. Estas duas lógicas, a de defesa e a de suporte ao desenvolvimento da região, eram cooperativas e não concorrentes, e parecem ter orientado conjuntamente a dinâmica de implantação de organizações militares. (FRANCHI, 2013, grifo nosso)

Nos últimos seis anos, o Exército aumentou sua presença militar na região da

Amazônia Oriental (criação do Comando Militar do Norte em 2013). Uma outra

demonstração de prioridade pode ser abstraída do Plano Estratégico de

Reestruturação do Exército (2016-2019) com a efetivação da Brigada da Foz em

Macapá e a inclusão da Brigada da Transamazônica (sediada em Marabá), como

Força de Emprego Estratégico do Exército, aumentando ainda mais a expressão do

poder militar na região. (BRASIL, P.,2017)

Como contribuição de ordem prática, além do já descrito acima, observa-se um

grande número de estudos voltados para a Amazônia Ocidental e um pequeno

número de trabalhos que descrevam as peculiaridades da Amazônia Oriental,

exemplificadas por: abrigar as duas maiores hidrelétricas nacionais (Tucuruí e Belo

Page 18: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

17

Monte) e outras tantas com potencial energético vital para a matriz energética

brasileira; possuir a maior jazida de minério de ferro do país (Carajás) e uma das

maiores reservas de minerais nobres e terras raras do mundo; compor o tronco

logístico por onde escoa boa parte da produção de grãos com destino a exportação

(por meio da BR 163 - porto de Santarém – Hidrovia do Amazonas), havendo a

possibilidade de aumento da capacidade de transporte por meio da hidrovia do

Tocantins; guardar potencial para o agronegócio e a exploração sustentável das

florestas existentes.

Por outro lado, a região também reúne uma lista de desafios que direta ou

indiretamente impactam no cumprimento da missão constitucional do Exército, quais

sejam: 1) a presença de muitas etnias silvícolas, as quais exercem pressão pela

demarcação de terras indígenas e seus reflexos para sua inclusão social bem como

para a soberania do país (possibilidade de reivindicações separatistas); 2) a

exploração do garimpo ilegal, a degradação social por ele provocada e a associação

com outros ilícitos transfronteiriços que implicam no uso da Força em missões

subsidiárias; 3) a existência de movimentos sociais com viés ideológico os quais se

utilizam de ações coordenadas voltadas para invasões de propriedade, depredação

de estruturas públicas e outras práticas subversivas para o alcance de seus objetivos,

evocando a necessidade de acompanhamento de inteligência e desencadeamento de

Operações de Garantia da Lei e da Ordem; 4) por fim, a questão ambiental, imposta

pela adesão do Brasil aos termos dos Tratados Internacionais, levam a Força ao

desencadeamento de inúmeras missões interagências voltadas para a preservação

ambiental e uma necessidade de adaptação organizacional voltada para a regulação

de seus campos de instrução e atividades de adestramento.

Assim, dentro deste escopo, verifica-se a importância da região no cenário

nacional e evidencia-se a participação efetiva do Exército em todos os campos do

poder, principalmente, no pós década de 60.

De tudo o que foi exposto, o trabalho enseja mostrar a sinergia existente nas

ações da componente militar na Amazônia Oriental, suas capacidades, possibilidades

e limitações para que, em conjunto com as outras expressões do poder nacional e

demais instituições público-privadas, possa fazer valer a vontade nacional de

desenvolver e integrar a região, além de explorar os recursos necessários para

posicionar o Brasil dentre os países mais importantes do globo.

Page 19: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

18

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Para fins de fundamentação do trabalho no tocante ao assunto, foi realizada

uma pesquisa bibliográfica acerca das principais teorias geopolíticas que, de alguma

forma, influenciaram a estratégia de ocupação e integração da Amazônia ao território

brasileiro.

A construção do pensamento geopolítico no Brasil remonta o período imperial,

quando José Bonifácio de Andrada e Silva, ainda no século XIX, foi capaz de sugerir

a ideia de mudança da capital para o coração do Brasil, além de participar do processo

de compra do Acre da Bolívia, o que praticamente definiu os limites do Brasil atual.

Segundo Castro (1984),na vertente militar, organizou a ação contra os focos de

resistência à separação de Portugal, permitindo a manutenção do vasto território

conquistado em três séculos de colonização. Na origem da pátria, uma forte cisão com

nossas origens nacionais, muito provavelmente – como se deu na América espanhola

– teria dividido profundamente os brasileiros no nascedouro da nação, causando efeito

centrípeto sobre o território.

Criado o espírito Nacional, delimitadas as fronteiras e atenuados os

regionalismos no curso da história brasileira, o Brasil passou por vários ciclos de

desenvolvimento econômico calcados na produção agrícola e extração mineral. Com

os reflexos da crise econômica mundial (1929) e das duas grandes Guerras Mundiais,

o mundo foi reconfigurado e o Brasil passou a ser considerado também um ator

regional no contexto da América do Sul. (CASTRO, 1984). É oportuno destacar que o

pensamento geopolítico no Brasil, em meio a tantos conflitos e crises, passou a ser

discutido e organizado com mais frequência e profundidade no âmbito militar, com

destaque para o General Golbery do Couto e Silva e o coronel Mário Travassos.

Feita essa breve contextualização e aproximando do contexto histórico deste

trabalho, na década de 1950, estando os militares próximos do centro político

brasileiro, parte da produção de conhecimento dos geopolíticos brasileiros

supracitados começou a ser colocada em prática: interiorização da capital federal,

estabelecimento de ligações terrestres entre as regiões (política interna), e a

aproximação com países da América do Sul (Política Externa). (FRANCHI, 2013)

Assim, a partir de 1964, durante os governos militares, o Brasil iniciou um

esforço para integrar as regiões através de grandes obras de infraestrutura e

programas nacionais voltados para a ocupação de vazios populacionais e

Page 20: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

19

desenvolvimento dessas áreas ainda não produtivas (Centro-oeste e Região

Amazônica).

Paralelo a isso, nos grandes centros, o desenvolvimentismo dado pela onda

de industrialização e transformação mostrou a necessidade de ampliar a capacidade

energética e de infraestrutura do país. Novos projetos de hidrelétricas, ferrovias e

rodovias foram implementados, fomentando a economia, a criação de empregos e

atraindo investimentos estrangeiros, fazendo com que o Brasil passasse de destaque

regional a um ator de relevância no plano internacional. (FRANCHI, 2013).

Com a Nova Ordem Mundial, o Estado Nação passa a dividir espaço com novos

atores supranacionais, não governamentais e questões de interesse internacional.

Neste contexto, novos geopolíticos passam a protagonizar os pensamentos que

conduzirão a nação para as próximas décadas, dentre os quais destacam-se: o

General Carlos de Meira Mattos e Therezinha de Castro. (FRANCHI, 2013).

Do acima exposto e identificadas algumas teorias que deram suporte a toda

essa transformação nacional, será feita uma abordagem das principais teorias e

pensamentos geopolíticos que influenciaram as políticas nacionais à partir de 1964,

bem como a influência delas em assuntos que remetem à região alvo, a soberania

brasileira sobre a Amazônia e seus recursos e as possibilidades de conflitos

envolvendo o tema.

2.1 TEORIAS CLÁSSICAS

A influência da Teoria Organicista de Ratzel foi generalizada sobre pensadores

brasileiros tais como Mário Travassos e Golbery do Couto e Silva. Para Ratzel, os

Estados eram organismos vivos que deviam ser pensados e geridos em íntima

conexão com o espaço onde estavam inseridos. Segundo ele, o que caracteriza um

Estado é a área “ocupada” por ele, ou seja, a não ocupação pode resultar na contração

do Estado. Em sua teoria, ele estabelece leis que favorecem o crescimento dos

estados, dentre as quais uma em especial faz um paralelo interessante com a situação

da Região Amazônica: (FRANCHI, 2013) "Em seu crescimento os Estados tendem a absorver valiosos setores políticos: litorais, leitos de rios, planícies, regiões ricas em recursos."RATZEL, apud in: FRANCHI, p. 22"

Page 21: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

20

A Teoria do Poder Terrestre de Halford J. Mackinder, também influenciou o

pensador brasileiro Mário Travassos. No escopo da Teoria, Mackinder postula que

quem dominar a Eurásia (Heartland), seria capaz de acumular poder a ponto de

contrapor o poder marítimo. Mário Travassos adaptou essa teoria ao identificar um

possível Heartland sul americano, próximo ao que chamou de triângulo boliviano. Ao

estudar as bacias Platina e Amazônica e verificados os pontos de passagem da

Cordilheira dos Andes, Travassos percebeu a possibilidade de integração das duas

bacias com uma possível rota com saída para o Pacífico, atestando o valor geopolítico

desta região. É interessante ressaltar que as regiões da Amazônica Ocidental e

Oriental dividem a Bacia Amazônica, principal via de acesso ao triângulo boliviano.

Neste contexto, a instalação do poder militar nas margens dessa via de acesso que

corta o Brasil de Leste a Oeste pode ser justificada a luz dessa teoria.

Com a análise de Travassos sobre a importância das bacias e a possível

integração leste oeste sul-americana, é possível fazer um paralelo com a Teoria do

Poder Marítimo, de Alfred T. Mahan o qual define que "uma nação capaz de controlar

a planície marítima, por meio do poder naval, e que ao mesmo tempo consiga manter

uma grande marinha mercante, pode explorar as riquezas do mundo.” Desse ponto

de vista, a capilaridade da Bacia Amazônica com outros estados da América do Sul,

passa a ser um caso a ser aprofundado. Ainda dentro desse enfoque, a teoria reforça

a potencialidade da Bacia do Tocantins Araguaia no tocante ao seu aproveitamento

econômico.

Na visão de Mafra (2006), a Teoria do Poder Perceptível de Ray S. Cline

postula sobre a capacidade de um Estado fazer guerra, tendo como fatores

preponderantes a massa crítica (população e território), a capacidade econômica

(economia e riquezas) e a capacidade militar. Assim, a Região Amazônica tem grande

importância devido ao seu potencial econômico ainda não explorado. O General Meira

Mattos aprofundou sua análise e acabou contribuindo com a inclusão de mais um fator

a ser observado: o poder de persuasão, utilizado até os dias atuais pelo Exército na

forma da sua Estratégia da Dissuasão.

A Teoria da Incerteza ou Turbulência de Pierre Lellouche (1992) formulou um

cenário em que, com o término da Guerra Fria, os EUA não seriam capazes, como

potência hegemônica, de conduzir a nova Ordem Mundial, criando um espectro

generalizado de turbulência. Contudo, Mafra (2006) destaca que Lellouche excluiu o

Brasil dessa zona de turbulência e apontou essa exclusão como uma oportunidade

Page 22: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

21

para o desenvolvimento, muito ligado a exploração de suas riquezas ainda não

exploradas na Amazônia.

Por fim, a teoria da Tríade é a que, atualmente, mais impacta a Região

Amazônica. Após o encontro de grandes empresários, representantes estatais e não

estatais (Clube do Roma), resultou na confecção de um relatório cujo o título escolhido

fora: “Os limites do crescimento”. o trabalho relatou o esgotamento dos recursos

naturais face ao crescimento desordenado do mundo. Mafra (2006) postulou a

necessidade de reorganização do mundo, no formato de três grandes empresas

multinacionais (bloco americano, europeu e asiático). Desde então, bandeiras de

preservação dos ecossistemas têm sido levantadas, narrativas de universalização de

áreas preservadas tem sido difundidas e proclamadas por personalidades em todo o

mundo. Estas ações vão de encontro a intenção brasileira de integrar e promover o

desenvolvimento da Amazônia.

2.2 O PENSAMENTO GEOPOLÍTICO BRASILEIRO

O coronel Mário Travassos, autor das Obras: Aspectos Geográficos Sul-

americanos – 1931 e Projeção Continental do Brasil – 1938, postulou fruto da sua

análise do triângulo boliviano já citado nesse trabalho, algumas contribuições para a

Região Amazônica que já se materializaram (interiorização da capital federal, ligações

com o interior e seu povoamento) ou estão em vias de consecução (política de

articulação interna com a América Latina (transportes e corredores bi-oceânicos, e

ainda na Política Externa o conceito de que o Brasil assumiria o papel de articulador

da América do Sul por sua conformação territorial, extensão e número de fronteiras

terrestres projeção continental.

O General Golbery do Couto e Silva foi um dos formuladores da Doutrina de

Segurança Nacional (DSN) e ainda comandou o Serviço Nacional de Informações

(SNI). Como principais pressupostos de seus pensamentos geopolíticos destacam-se:

o povoamento da Amazônia (face ao vazio demográfico) e a ocupação das fronteiras, fruto da sua permeabilidade e devido ao vazio demográfico regional

também nos demais países fronteiriços. Destacava a necessidade de se realizar uma

manobra de integração geopolítica interna a partir da Calha do Rio Amazonas

com apoio no Centro-Oeste que deveria ser realizada em etapas. A última etapa

Page 23: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

22

culminaria com a integração e o desenvolvimento da Amazônia. (SILVA, 1981)

(grifos nossos)

O General Carlos de Meira Mattos (1913-2007) iniciou seus escritos na década

de 1960. Em sua obra “Geopolítica e modernidade”, no ano de 2003, formulou as

diretrizes estratégicas da geopolítica brasileira: “interiorização, integração

territorial, fortalecimento da presença estratégica no Atlântico Sul, desenvolvimento econômico e social (da mais alta prioridade porque é o suporte indispensável das

três anteriores), segurança externa e interna. (grifos nossos)

Já Therezinha de Castro, geógrafa, única das pesquisadoras não militares,

abordou o tema amazônico de forma direta, sinalizando a necessidade de sua

ocupação geográfica e humana. Segundo a autora, com a Nova Ordem Mundial – se

é que existe ordem – decorrente do fim da ‘guerra fria’ e da bipolaridade nos apresenta

um quadro paradoxal. No campo político e militar há uma concentração de poder numa

única potência, ao passo que no campo econômico identificamos uma multipolaridade

onde mega potências econômicas de magnitude semelhante, por sua ação

catalisadora, atraem outros países para sua esfera de influência. (CASTRO, 1984)

Assim, segundo sua teoria, a Amazônia seria alvo de investidas de interesse

por parte das megapotências. Em sua obra, ela utiliza o paradoxo sobre a Região

Amazônica: “integrar para não entregar”. Essa teoria tem sido inserida nas políticas

de integração amazônica, em que o Exército protagonizou, a partir da década de 60

do século passado, diversos projetos estratégicos.

Page 24: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

23

3. METODOLOGIA

A metodologia desenvolvida para solução do problema de pesquisa, foi

organizada com o objetivo de conduzir os procedimentos necessários para alcançar

os objetivos (geral e específicos) apresentados. Desta forma, pautando-se numa

sequência lógica, o mesmo foi estruturado da seguinte maneira: 1) Delimitação da

Pesquisa; 2) Concepção Metodológica; 3) Limitações do Método.

Essa pesquisa teve caráter qualitativo, uma vez que privilegiou a história e a

análise de documentos para a compreensão do papel do Exército na Amazônia

Oriental. Assim, seguindo a Taxionomia de Vergara (2009), adotou-se o enfoque

descritivo e explicativo, uma vez que foram evidenciadas as características da região

e população Amazônica que, por sua especificidade, demandou estudo para tornar

inteligível as peculiaridades, diferenças e potencialidades voltadas para o

desenvolvimento nacional.

Por fim, o trabalho se baseou na pesquisa documental e bibliográfica, uma vez

que foram estudadas publicações em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas de

acesso ao público em geral.

3.1 DINÂMICA DA PESQUISA

A dinâmica da pesquisa foi conduzida por meio de uma pesquisa bibliográfica,

pois baseou-se na fundamentação teórico-metodológica de investigação sobre os

assuntos relacionados a presença do Exército Brasileiro na Amazônia Oriental e as

questões que o envolvem, através de publicações existentes.

A metodologia em questão possui limitações, particularmente, quanto à

profundidade do estudo a ser realizado, pois não contemplou, dentre outros aspectos,

o estudo de campo e a entrevista com pessoas diretamente ligadas aos processos em

estudo. Porém, devido ao fato de se tratar de um trabalho de término de curso, a ser

realizado em aproximadamente seis meses, o método escolhido foi adequado e

possibilitou o alcance dos objetivos propostos no presente Projeto de Pesquisa.

Page 25: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

24

4 OS PRINCIPAIS RECURSOS MINERAIS E NATURAIS DA AMAZÔNIA ORIENTAL E SUAS APLICAÇÕES ECONÔMICAS

O acesso aos recursos naturais é um fator importante, dentro do conceito de

segurança, por permitir, exatamente como dispõe a Política Nacional de Defesa

(PND), que “a sociedade ou os indivíduos se [sintam,] livres de riscos, pressões ou

ameaças, inclusive de necessidades externas”, por permitir que gozem de direitos

fundamentais ligados à vida, ao trabalho e à saúde, dentre outros. Ademais, recursos

naturais são parte integrante do patrimônio nacional, cuja defesa constitui-se em ato

de preservação dos próprios interesses nacionais e da soberania (PADECEME,

2016).

A presença de unidades militares próximas aos locais de mineração, dos

principais modais de escoamento e das grandes estruturas de energia existentes na

Amazônia Oriental são estratégicas. Constituem a componente dissuasória voltadas

às ameaças internas e externas, favorecem atividades de inteligência, defesa e

proteção aproximada e permitem, através da utilização dos modais existentes, o fluxo

logístico operacional da Força. Grandes Projetos Estratégicos foram criados para dar

suporte às Organizações Militares fruto da destinação subsidiária de proteger estas

estruturas, bem como garantir o seu funcionamento. Estes projetos serão abordados

nos capítulos subsequentes.

4.1 A ATIVIDADE MINERADORA

As pesquisas da geologia no Brasil remontam o período imperial, quando os

portugueses e espanhóis faziam a corrida do ouro para acumulação de divisas e

fomento do mercantilismo. O mapa abaixo, com base nos dados do Serviço Geológico

do Brasil, adaptado pelo autor, mostra as potencialidades de extração de riquezas

minerais na região geográfica que compõe a Amazônia Oriental. Reúne o

conhecimento de um século de levantamentos geológicos no país e de cinco décadas

de pesquisas acadêmicas:

Page 26: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

25

Figura 2 - Levantamento de recursos minerais da Amazônia Oriental

Fonte: http://www.cprm.gov.br/publique/Recursos-Minerais/Projetos-Especiais-e-Minerais-Estrategicos-203, acesso em 16 de março de 2019, modificado pelo autor

No Brasil, o estado do Pará é o segundo que mais recebe investimentos do

ramo, representando 21,93% do total. Em números, gera 287.882 de empregos

diretos e indiretos na cadeia produtiva local e responde por 20% do PIB paraense3.

Da análise dos dados do Geobank, em contraponto com os emitidos pelo

sindicato da mineração, verifica-se que o setor da mineração tem sido um dos

principais vetores de crescimento da Região Norte, especialmente no Pará, onde se

encontram as duas maiores jazidas da região: a de Oriximiná, que lavra bauxita, com

maior parte da produção destinada à exportação; e a de Serra dos Carajás, uma das

maiores do planeta e produz o minério de ferro mais puro do mundo.

Localizada, no sudeste do estado, Carajás concentra, ainda, uma diversidade

de outros minerais, quais sejam: manganês, cobre, bauxita, ouro, níquel, estanho e

3 Disponível em < http://simineral.org.br/mineracao/mineracao-para> acessado em 15/03/2019.

Page 27: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

26

outros. Em 2015, 84,3% das exportações do Pará correspondiam às indústrias de

mineração e transformação mineral.

Tratando-se da questão mineral âmbito nacional, cabe destacar que, segundo

a Agência Nacional de Mineração (ANM) o minério de ferro é o “carro-chefe” da

indústria mineral brasileira, gerando 63% do valor total da produção nacional. Mas,

além do ferro, o Brasil é o maior exportador de nióbio (maior reserva), exporta

manganês, tantalita e bauxita (segundo maior exportador), grafite (terceiro maior

exportador) e rochas ornamentais (quarto maior exportador)4.

Nesse contexto, o Exército posicionou Organizações Militares (OM),

estrategicamente instaladas próximas aos locais de extração, e no curso dos modais

de transporte (ferroviário, rodoviário e hidroviário). No caso da Amazônia Oriental,

verifica-se as OM da 23a Brigada de Infantaria de Selva nas Localidades de Itaituba

(extração de ouro), Marabá (próximo a Carajás) e Santarém (bauxita), principais

regiões de extração.

Cabe destacar a atribuição subsidiária do Exército definida pela Lei 136, de 25

de agosto de 2010, conferindo poder de polícia (voltados para coerção de ilícitos

transfronteiriços) na faixa de fronteira. Assim, o monitoramento das fronteiras e de

possíveis violações da soberania de nossos recursos naturais (contrabando e

descaminho) e da biodiversidade da floresta Amazônica (biopirataria) passam a

compor o escopo de missões da Força.

Infere-se ainda que, devido a larga aplicação na indústria de defesa, a

segurança da inviolabilidade, da exploração e da importação de terras-raras e outros

metais, tem importância ainda maior, por se tratar de insumo destinados à atividade

bélica, tornando o seu controle, uma questão não só de soberania e mercado, mas

também de defesa nacional.

4.2 QUESTÃO LOGÍSTICA

A questão logística é fundamental para a integração nacional e base para o

desencadeamento de Operações Militares. No caso específico da Força Terrestre, os

modais de transporte fazem a ligação entre as Organizações Militares, constituem

eixos de suprimento e vias de acesso para o cumprimento de suas missões

4 Disponível em <http://www.anm.gov.br/acesso-a-informacao/estatisticas > acessado em 15/03/2019.

Page 28: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

27

constitucionais, provendo mobilidade e permitindo flexibilidade para o deslocamento

de meios.

Na década de 60 do século passado, durante os governos militares, muitos

projetos foram desencadeados visando criar alternativas e possibilidades de

integração da região com o restante do país (BR-230, Ferrovia Carajás, BR-163). No

entanto, o esforço de duas décadas passou por uma verdadeira solução de

continuidade devido a difusão de interesses que levaram a não conclusão ou ao

sucateamento dos empreendimentos.

Atualmente, a Amazônia Oriental possui um déficit no setor que impacta não só

as demandas do Exército, como também a demanda de escoamento da produção

regional e nacional. A falta de conexão multimodal, a pequena e limitada malha

ferroviária e a precariedade da pavimentação das estradas contribuem para a

ineficiência logística e para o aumento do custo de produção.

Assim, uma maior exploração e integração das bacias amazônicas como meio

modal de transporte voltados para a logística regional poderiam ampliar as

capacidades e ligações necessárias ao desenvolvimento regional. O leito dos rios,

historicamente aproveitado pela população regional como meio de transporte,

passaria a ter um valor estratégico, devido ao potencial hidroviário das bacias do

Amazonas e Tocantins.

Segundo José Fernando Coura, Diretor-Presidente do Instituto Brasileiro de

Mineração (IBRAM), a questão da logística pode ser considerada um dos principais

gargalos do processo. O Brasil investe um baixo percentual de seu PIB em

infraestrutura: 2,1%, ante 7,3% da China, 6,2% do Chile e 5,6% da Índia.

O baixo investimento faz com que o País enfrente, atualmente, uma crise no

setor de transportes de cargas. Os principais problemas identificados foram: a) o baixo

volume de investimentos no setor; b) a elevada deterioração da rede viária; c) a

dificuldade de acesso aos portos, seja por via terrestre ou marítima; d) um modelo de

gestão já ultrapassado do setor de transportes e; e) a subutilização do sistema aquaviário nacional. A baixa qualidade da infraestrutura, lembrou ele, não só

encarece produtos, como afeta a capacidade da indústria nacional de se integrar às

cadeias globais de produção. 5 (grifo nosso).

5 Disponível em http://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento/download/0373b58c-34b8-419c-92c0-f40d46907ad0, Forum de “Investimento e Gestão: desatando o nó logístico do País” 3o Ciclo – MINERAÇÃO – Governança e Logística: Gargalos e soluções. Acessado em 15/03/2019.

Page 29: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

28

No caso específico da mineração, o transporte dos produtos da exploração

depende, sobretudo, do investimento em ferrovias (já que 75% da carga transportada

por trens é de minério de ferro) e nos modais marítimos (que fazem o escoamento de

quase 95% dos produtos que o Brasil exporta). Mas são justamente os portos e as

ferrovias apontados como a primeira e a terceira maiores dificuldades de infraestrutura

na opinião de industriais, conforme pesquisa do Fórum Nacional da Indústria realizada

em 2012. O autor aponta ainda que os projetos como a Hidrovia Tapajós-Teles Pires,

a rodovia BR-163, a duplicação da estrada Carajás e as ferrovias norte-sul e leste-

oeste são apostas na melhoria do sistema de transporte que impactarão no custo final

dos minérios brasileiros, todos com impacto direto na Amazônia Oriental.

Figura 3- Quadro demonstrativo dos modais de transporte na Região da

Amazônia Oriental

Disponível em http://web.antaq.gov.br/ Portal/pdf/palestras/Mar0728 SeminariointenBrasilFlanders.pdf modificado pelo autor. Acessado em 15/03/2019

A figura acima, representa um extrato dos modais existentes na região dos

Estados do Maranhão, Pará e Amapá. Dele, pode-se extrair a existência de uma

malha rodoviária precária e pouco integrada. Uma malha ferroviária vocacionada para

o transporte do minério para os portos de Santarém (PA), Itaqui e São Luiz (MA), não

havendo interligação com outras ferrovias direcionadas às outras regiões ou a outras

atividades econômicas. Já o modal hidroviário, muito utilizado para o transporte local,

Page 30: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

29

em função da amplitude das bacias existentes, ainda é pouco utilizado para o

atendimento de grandes demandas, como por exemplo, no transporte de minérios,

uma vez que possui maior capacidade de carga e o fator custo mais compensatório.

Por outro lado, as hidrovias configuram o principal eixo modal da região. A

Hidrovia do Amazonas na porção Norte e a Hidrovia do Tocantins, no sentido Sul Norte

são ainda pouco exploradas no contexto estratégico por não haver uma interligação

multimodal a altura de suas capacidades. A hidrovia do Tocantins, fruto da

proximidade das áreas de extração de minério de ferro e bauxita possui grande valor

capital e com grande potencial para a execução de logística militar.

Segundo Alex Oliva, superintendente de navegação interior da Agência

Nacional de Transportes Aquaviários - ANTAQ, a Hidrovia do Tocantins terá uma

extensão de 3770 quilômetros. Atualmente, o principal óbice para sua otimização e

operação encontra-se próximo a cidade de Marabá-PA, na existência de um Pedral

(Lourenço), o qual impede a navegação no período de secas. (ANTAQ, 2007) 6. Na

expressão militar, a existência do Pedral inviabiliza a ligação fluvial entre Marabá

(sede da 23a Bda inf Sl) e Tucuruí (sede 23o Esquadrão de Cavalaria de Selva). A

possibilidade do estabelecimento desta hidrovia, permitirá o desenvolvimento da

logística do sudeste paraense, permitindo integração, desenvolvimento e ligações

comerciais entre os estados da federação.

4.3 A QUESTÃO ENERGÉTICA

A questão energética é um tema estratégico para qualquer nação. A energia

garante o desenvolvimento e a operação dos parques industriais do país, bem como

tem sido foco de questionamentos quanto a sustentabilidade da sua fonte. O Brasil

possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, contando em sua maioria

com a energia proveniente das hidrelétricas sejam elas nacionais ou binacionais.

Assim, são considerados, do ponto de vista militar, acidentes capitais de

defesa. Nesse ínterim, a Amazônia Oriental é protagonista no cenário nacional. Nela

estão instaladas hidrelétricas com grande capacidade de geração que distribuem de

forma integrada, energia para boa parte do país.

6 Disponível em <http://web.antaq.gov.br/Portal/pdf/palestras/Mar0728SeminarioIntenBrasilFlanders. pdf> acessado em 15/03/2019

Page 31: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

30

A Região Amazônica, como um todo, está entre os cinco maiores potenciais

hidrelétricos do mundo. O País tem 12% da água doce superficial do planeta e

condições adequadas para exploração. O potencial hidrelétrico é estimado em cerca

de 260 GW, dos quais 40 % estão localizados nas bacias hidrográficas da Região

Amazônica.

Figura 4 – Quadro Potencial Hidrelétrico das Bacias Amazônicas.

Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_usinas_hidrelétricas_do_Brasil> Acessado em 01/06/2019 – adaptado pelo autor

O Exército, de forma estratégica, possui Organizações Militares debruçadas

sob as principais estruturas hidrelétricas da região da Amazônia Oriental. Em Tucuruí-

PA está desdobrado o 23º Esquadrão de Cavalaria de Selva; Em Imperatriz, próximo

a Estreito- MA, está o 50º Batalhão de Infantaria de Selva; Em Altamira-PA, encontra-

se o 51º Batalhão de Infantaria de Selva, sob o qual cabe a responsabilidade pela

Usina de Belo Monte (a maior em capacidade de geração Nacional). Cumpre assim,

a estratégia da presença e, em conjunto com as agências do ramo energético,

garantem seu funcionamento e o desenvolvimento regional.

10.905,40; 9% 1696,98; 2%

104.780,62; 89%

Potencial Hidrelétrico integrado ao SIN em MW

Planejada Em construção Potencial instalado

60%11%

29%

Potencial Hidrelétrico das Bacias Amazônicas

Outras bacias

Bacia dos rios Araguaia-Tocantins

Bacia do rio Amazonas

Page 32: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

31

5. PRINCIPAIS ATORES E QUESTÕES PRESENTES NA AMAZÔNIA ORIENTAL

A título de ambientação, e do que podemos observa até aqui, a Amazônia

Oriental, apresenta grande complexidade, tanto na dimensão física, quanto na

psicossocial, destacando-se ainda, pela presença de diversas estruturas estratégicas

(usinas hidrelétricas, províncias minerais, ferrovias e hidrovias de grande extensão,

portos de águas profundas), além de atores governamentais, não governamentais,

questões indígenas, ambientais, políticas dentre outras tantas que tornam a região um

cenário de constante mutação geopolítica.

5.1 QUESTÃO INDÍGENA

As questões indígenas no Brasil são reguladas pelo Conselho Nacional de

Política Indigenista – CNPI, criado em 2016, a quem cabe a responsabilidade pela

elaboração, acompanhamento e implementação de políticas públicas voltadas aos

povos indígenas, definindo prioridades e critérios para sua formulação. (FUNAI, 2019).

A população indígena em todo o Brasil definida pelo Censo Demográfico 2010

com base nas pessoas que se declararam indígenas no quesito cor ou raça e para os

residentes em Terras Indígenas que não se declararam, mas se consideraram

indígenas revelou que, das 896 mil pessoas que se declaravam ou se consideravam

indígenas, apenas 517 mil, ou 57,5 %, moravam em Terras Indígenas oficialmente

reconhecidas.

No que tange ao conceito de reserva indígena, segundo a Lei 6001/73 –

Estatuto do Índio e Decreto nº 1775/96: A União poderá estabelecer, em qualquer parte do território nacional, áreas destinadas a posse e ocupação pelos povos indígenas, onde possam viver e obter meios de subsistência, com direito ao usufruto e utilização das riquezas naturais, garantindo-se as condições de sua reprodução física e cultural.

A foto a seguir retrata a situação das terras indígenas na Amazônia Oriental.

As áreas amarelas representam as terras indígenas regularizadas; as em vermelho,

as homologadas; as em verde, as delimitadas; e as riscadas, são aquelas na condição

de declaradas. Em conjunto, representam cerca de 25% de toda área, para uma

população indígena de cerca de pouco mais de 200 mil índios declarados. (FUNAI,

2019)

Page 33: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

32

Figura 5- Distribuição das Terras Indígenas na Amazônia Oriental

Disponível em <http://www.funai.gov.br/index.php/servicos/geoprocessamento. Recorte realizado pelo autor. Acesso em 20/03/2019

Do acima exposto, a questão indígena surge como um ator desestabilizador.

As áreas ocupadas, ou a eles atribuídas são disputadas por outros atores:

fazendeiros, garimpeiros, madeireiros. Os silvícolas argumentam lentidão no processo

de demarcação e a ineficiência da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) para defender

seu direito de exploração de suas terras, o que aumenta a tensão e o número de

conflitos. Os demais atores questionam as grandes áreas propostas (verdadeiros

latifúndios dedicados a uma população pequena), próximo ou sobre grandes reservas

minerais já levantadas.

Os governos nas últimas décadas, pressionados por pressões internacionais

de preservação da cultura indígena, iniciaram uma série de levantamentos e

homologações de terras indígenas por todo o Brasil, com destaque para a Região

Amazônica, têm gerado focos de tensão entre os vários seguimentos da sociedade

envolvidos e as instituições reguladoras do Estado.

A figura abaixo, concatena a interposição destes interesses e infere a

complexidade das relações existentes entre: a questão da mineração, a questão

indígena e a preservação das Unidades de Conservação.

Page 34: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

33

Figura 6 - Focos de Tensão na Amazônia Oriental

Disponível em <http://www.funai.gov.br/index.php/servicos/geoprocessamento. Recorte realizado pelo autor. Acesso em 20/04/2019

Nesta conjuntura, o Exército tem sido reivindicado pelo Estado para cumprir

ações subsidiárias e ou compor forças tarefas interagências para administração dos

mesmos, o que implica no contínuo acompanhamento de inteligência e adequação

das operações militares para atuar neste cenário.

O desafio está relacionado à conscientização do índio para com o seu papel na

proteção dos recursos naturais existentes no interior de suas reservas, tornando-os

vetores do sistema de informação, voltados para dar o alerta quanto as atividades

ilegais que possam vir a ocorrer. Um outro ponto, de igual relevância, está em torna-

los imunes a ofertas capciosas de pessoas, organizações nacionais ou internacionais,

que em troca de favorecimentos, passam a explorar riquezas com o consentimento

dos nativos.

Assim, o Exército como Instituição Nacional, estimula a integração do índio em

suas fileiras, incorporando indígenas em seus quadros militares, os quais são

respeitados e aproveitados pelas suas habilidades e conhecimentos culturais. Um

outro ponto é a possibilidade do aproveitamento de serviços básicos, muitas das

vezes só ofertados pelas OM próximas às reservas, como saúde, educação, etc. Essa

aproximação estabelece vínculos de confiança mútua e contribui para o

desenvolvimento do sentimento de nacionalidade e pertencimento a sociedade

Page 35: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

34

brasileira necessários para impedir a ação dolosa de terceiros que visam apenas o

acesso as suas riquezas naturais.

5.2 QUESTÃO DO GARIMPO NA AMAZÔNIA ORIENTAL

A questão do garimpo na Amazônia iniciou no final dos anos 70 do século

passado, patrocinado pelos governos militares (criação das Reservas Garimpeiras na

Amazônia), promovendo, assim, a migração de trabalhadores para o local, de forma

a “pagar a dívida externa”, aumentar reservas monetárias até então consumidas pelo

aumento do preço do petróleo, bem como interiorizar e ocupar a Região Amazônica.

Um dos garimpos mais famosos foi o de Serra Pelada, sendo a região do Pará e

Amapá as de melhores prospecções. (SILVA A, 1994)

Após anos de garimpagem e o término do ouro de aluvião, bem como a

proibição de extração utilizando-se de maquinário no Governo COLLOR (fruto do

alinhamento de percepções ambientais - ECO 92), muitos dos garimpos foram

abandonados, gerando um entorno de problemas sociais e impactos ambientais.

O impacto social tem potencial ainda mais destrutivo, uma vez que após

iniciado o garimpo (descoberta, ondas de imigração e relativa prosperidade

econômica), segue-se a exaustão do recurso mineral (material secundário),

emigração e decadência econômica regional. (SILVA A, 1994)

Figura 7- Garimpos de ouro na Amazônia na década de 90

Disponível em <http://mineralis.cetem.gov.br:8080/bitstream/cetem/1233/1/extracao-

ouro%20cap.11.pdf> Acessado em 20/03/2019

Page 36: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

35

Fruto deste ciclo envolvendo as questões sociais e ilegais da atividades, o

garimpo se tornou uma questão de relevância para o Exército por potencializar outras

questões que implicam na sua missão constitucional e subsidiária já abordadas nesse

trabalho (LC 97 e 136)7, principalmente na região do Amapá (incluída na faixa de

fronteira). Um outro ponto a se destacar, é a coincidência ou proximidade com terras

indígenas, o que potencializa conflitos de interesses diversos e os ilícitos diretos e

indiretos provenientes da atividade garimpeira (contrabando, descaminho, crimes

ambientais).

5.3 MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMAZÔNIA ORIENTAL

Os movimentos sociais na Amazônia possuem raízes históricas ligadas à terra

e a religião. Do ponto de vista histórico, remete a política de interiorização adotada

pelos governos militares (obras de infraestrutura e projetos de colonização),

exemplificados pelo o anúncio da Operação Amazônia (1965), criação da

Superintendência para o Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM, 1966) e no período

de 1969-1974, quando foi lançado o Plano de Integração Nacional (PIN), tendo a

Rodovia Transamazônica uma de suas pautas.

Nesse contexto, milhares de trabalhadores foram atraídos para a região em

função da expectativa de progresso e oportunidades, correlacionando a terra ao seu

sustento e tendo como intermediador estatal o Instituto Nacional de Colonização e

Reforma Agrária (INCRA). (LACERDA, 2013)

Com a perda da impulsão das ações do INCRA nas décadas de 70 e 80, e o

aumento das tensões entre grandes proprietários de terra, governo e desassistidos

pelos programas de governo referentes à terra, mineração e outras atividades sócio

econômicas, foi estimulado um processo de sindicalização e reuniões de lideranças

apoiadas por movimentos religiosos ligados `a Igreja Católica. O reconhecimento

desses movimentos como sendo de cunho social passou a ser legitimado na

Constituição de 1988. (LACERDA, 2013).

7 LC 97, de 9/06/1999, atribuiu por intermédio do seu Art. 15, dentre outras missões, o emprego das Forças Armadas na garantia da lei e da ordem, por iniciativa dos poderes constitucionais e por ato do Presidente da República, após esgotada as capacidades dos meios de segurança pública. Em 25/08/2010, a LC 136, por intermédio do seu Art 16-A, foi estabelecida atribuição subsidiária de poder de polícia para atuar na Faixa de Fronteira face a delitos transfronteiriços e ambientais.

Page 37: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

36

A partir de 1990, algumas organizações (especialmente as da Amazônia) se

fortaleceram com relativa profusão de recursos e financiamentos internacionais, fruto

de acordos bilaterais obtidos no contexto da ECO-928, os quais recebiam recursos e

oriundos de diálogos internacionais. A partir de 2003, o fluxo de financiamentos se

reverteria, passando o governo brasileiro a funcionar como maior fonte de proventos

dos movimentos sociais. O Estado abandonou a condição de repressor das

mobilizações, para assumir papel de financiador de movimentos como Movimentos

dos Sem Terra (MST), Movimentos dos Atingidos por Barragens (MAB), dentre outros.

(LACERDA, 2013)

Neste contexto, os movimentos sociais passaram a ter conotação política e

figurar como currais eleitorais de políticos e partidos e elementos de manobra para

atingir objetivos políticos. Alguns mais organizados (MST) passaram a se armar para

seguidos enfrentamentos com a segurança de fazendeiros (como ocorrido em

Eldorado do Carajás, 1996), participação em bloqueios de estrada, depredação de

patrimônio público e outros crimes.

Um outro movimento de destaque na região da Amazônia Oriental é o

Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB), atuante a mais de três décadas na

região de Tucuruí-PA e Altamira-PA (Belo Monte). Com narrativas embasadas em

indenizações devidas e não recebidas, promovem invasões nas Hidrelétricas,

articulam-se para manobras políticas e possuem histórico de enfrentamento com as

Forças de Segurança Pública.

Apesar destes eventos estarem direcionados a ações de segurança pública, o

histórico de emprego do Exército em operações de Garantia da Lei e da Ordem

constrói um ambiente de expectativa. Assim, cresce de importância o

acompanhamento por meio de atividades de inteligência para emprego em atividades

de Garantia da Lei e da Ordem, a presença militar e o adestramento de tropas voltadas

para a preservação de estruturas estratégicas (Invasão do Centro de Operações da

Usina Hidrelétrica de Tucuruí pelo MAB em 2010) e outras ações voltadas para

interoperabilidade dos órgãos de segurança pública.

8 A Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92, foi uma conferência de chefes de estado organizada pelas Nações Unidas e realizada de 3 a 14 de junho de 1992 na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. Seu objetivo foi debater os problemas ambientais mundiais.

Page 38: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

37

5.4 QUESTÃO AMBIENTAL

A questão ambiental a partir das décadas de 1960 e 1970 ganhou retórica

mundial, voltada para conscientização da necessidade de preservação através da

elaboração de políticas específicas. O marco temporal no Brasil é a criação da

Secretaria Especial do Meio Ambiente (SEMA), em 1973, em função da Conferência

das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, em

1972. Ambos eventos deram reconhecimento político à questão ambiental.

(FRANCHI, 2013)

O relatório “Os Limites do Crescimento”, elaborado pelo Massachussetts

Instutute of Technology (MIT), por encomenda do Clube de Roma9, e sucessivas

declarações de chefes de estado, como presidente Francês François Mitterrand, em

que “ O Brasil deve aceitar uma soberania relativa sobre a Amazônia” e Nixon,

presidente dos EUA, o qual defendia a criação de um sistema que garantisse os

recursos naturais não renováveis para a humanidade, demonstram com clareza a

importância e relevância da questão ambiental, principalmente em função das

riquezas ambientais ainda não exploradas.

Em resposta a essas declarações, o tema ganhou novo enfoque na PND. Em

seu texto, não só reconhece a ambição internacional sobre a Amazônia, como projeta

sua intenção de usufruir dos recursos para sua integração e desenvolvimento,

utilizando-se de suas Forças Armadas como principal agente do Estado

correlacionado para esse fim: 3.4. A questão ambiental permanece como uma das preocupações da humanidade. Países detentores de grande biodiversidade, enormes reservas de recursos naturais e imensas áreas para serem incorporadas ao sistema produtivo podem tornar-se objeto de interesse internacional. (…) 5.4.A Amazônia brasileira, com seu grande potencial de riquezas minerais e de biodiversidade, é foco da atenção internacional. A garantia da presença do Estado e a vivificação da faixa de fronteira são dificultadas, entre outros fatores, pela baixa densidade demográfica e pelas longas distâncias. A vivificação das fronteiras, a proteção do meio ambiente e o uso sustentável dos recursos naturais são aspectos essenciais para o desenvolvimento e a integração da região. O adensamento da presença do Estado, e em

9 O Clube de Roma foi um grupo de pessoas ilustres que se reuniram para debater assuntos relacionados a política, economia internacional e , sobretudo, ao meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Tornou-se muito conhecido a partir de 1972, ano da publicação do relatório intitulado Os Limites do Crescimento, o qual relatava a necessidade preservação do meio ambiente para não comprometer as gerações futuras.

Page 39: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

38

particular das Forças Armadas, ao longo das nossas fronteiras é condição relevante para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. (PND, 2016)

Desde então, houve uma intensificação da preocupação ambiental aplicada às

Organizações Militares, nos campos de instrução e em decorrência dos exercícios de

adestramento. No plano externo, as operações interagências com o IBAMA e Instituto

Chico Mendes (ICMBIO) passaram a ser rotineiras na Amazônia Oriental face ao

avanço de madeireiros em áreas de proteção ambiental (Pará) e de biopirataria na

região do Amapá.

Assim, em 2017, o Ministério da Defesa lançou o Livro Verde de Defesa, com

o tema: "Defesa & Meio Ambiente – Preparo com Sustentabilidade". A publicação tem

o objetivo de divulgar e difundir as boas práticas de gestão ambiental adotadas pelas

Forças Armadas no interior das Organizações Militares e durante suas operações. As

orientações baseiam-se no cumprimento das atuais Leis Ambientais, dentre as quais

destacam-se: a promoção da educação ambiental para manutenção do equilíbrio

ecológico; preservação dos biomas inseridos em suas áreas patrimoniais;

implementação de energias sustentáveis; tratamento e destinação correta para

resíduos não degradáveis;

Page 40: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

39

6. ESTRUTURA, PROJETOS E AÇÕES DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA ORIENTAL

Segundo Gonçalves (2016), apesar das teorias geopolíticas favorecerem a

atenção para a Região Amazônica, as políticas brasileiras a colocaram na pauta

somente a partir da segunda metade do século XX (período coincidente com os

governos militares).

O Exército acompanhou essa letargia e só a partir de então, definiu estratégias

de ocupação e defesa da área, com a instalação do Comando Militar da Amazônia,

sediado em Belém (1956) e posteriormente transferido para Manaus (1969),

mostrando com a instalação de um grande comando, a mudança do pensamento

militar e da estratégia de projeção de poder.

6.1 O HISTÓRICO DA FORÇA MILITAR TERRESTRE NA AMAZÔNIA ORIENTAL

O Exército na Região Amazônica possui raízes históricas antigas. O Comando

Militar da Amazônia, criado na década de 50 do século passado e oriundo da 8a Região

Militar (1821) foi por muito tempo o Grande Comando enquadrante da Força Terrestre

na região.

Em 1984, o Exército criou o Sistema de Planejamento do Exército – SIPLEX, o

qual previa sua reestruturação por meio de Forças Tarefas (FT). A primeira delas foi

a FT 90, pela qual ocorreu um aumento significativo de efetivos e de unidades

militares, priorizando a região da Amazônia, a qual passou de 2 brigadas na década

de 80, para 5 brigadas na década de 90. Neste mesmo período, foi implantado no

Governo Sarney, o Programa Calha Norte, o qual tinha como premissa fortalecer a

presença nacional ao longo da fronteira amazônica, tida como ponto vulnerável do

território nacional, sendo instalados diversos Pelotões de Fronteira.

Os anos 2000, foram marcados pela implementação do Sistema de

monitoramento de Fronteiras - SISFRON, concebido por iniciativa do Comando do

Exército, em decorrência da aprovação da Estratégia Nacional de Defesa.

Já nessa última década, observadas as peculiaridades e diferenças

geopolíticas da Amazônia Oriental em contraponto com a Amazônia Ocidental houve

a divisão do CMA em dois comandos. Com a publicação do Decreto no 6.703, de

2008, que trata da Estratégia Nacional de Defesa (END), e seguindo seus

pressupostos de adensamento das forças no interior da Amazônia Oriental, o EB

Page 41: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

40

criou, em 2013, o Comando Militar do Norte (CMN), com sede na foz do Amazonas,

na estratégica cidade de Belém, o que representou o reconhecimento da importância

de uma área cuja defesa e desenvolvimento são vitais para o fortalecimento nacional.

(GONÇALVES, 2016).

6.2 A ATUAL ESTRUTURA DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA ORIENTAL

A estrutura militar na Amazônia Oriental, a partir de 2013, adquiriu uma cadeia

de comando própria, desvinculando-se do Comando Militar da Amazônia. Ao

Comando Militar do Norte foi atribuída a responsabilidade operacional, utilizando-se

da calda logística já existente e administrada pela 8ª Região Militar.

Figura 8 - Estrutura do Comando Militar do Norte

Disponível em <https://en.wikipedia.org/wiki/Northern_Military_Command_(Brazil), adaptado pelo autor. Acesso em 01/06/2019.

Sob a orientação do PEEx10 (2016-19), e seguindo a estratégia de Ampliação

da Capacidade Operacional da Força Terrestre, foi inaugurada em 2017, a 22ª Brigada

10 PEEx: Plano Estratégico do Exército 2016-2019. Possui como missão: Contribuir para a garantia da soberania nacional, dos poderes constitucionais, da lei e da ordem, salvaguardando os interesses nacionais e cooperando com o desenvolvimento nacional e o bem-estar social. Para isto, preparar a Força Terrestre, mantendo-a em permanente estado de prontidão.

71

FRIEDMAN, George. The Geopolitics of Brazil: an emergent power struggles with geography. STRATFOR. Austin, 2012. Disponível em http://www.stratfor.com/sample/analysis/geopolitics-brazil-emergent-powers-struggle-geography. GÓES. Sinésio Sampaio. Navegantes, Bandeirantes e Diplomatas: aspectos da descoberta do continente, da penetração do território brasileiro extra-Tordesilhas e do estabelecimento das fronteiras da Amazônia. Brasília: IPRI. 1991. 200pHOLANDA, Sérgio Buarque. Visões do Paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. São Paulo: Folha de São Paulo. Série Grandes Nomes do Pensamento Brasileiro. 1999. 452p;JONES, Steven L. What is a fifth generation fighter aircraft. In The Conversation. Disponível em http://phys.org/pdf318069212.pdf. Último acesso em 21/02/15.MAGNOLI. Demétrio. O Corpo da Pátria: imaginação geográfica e política externa do Brasil (1808-1912). São Paulo: EditoraModerna/UNESP. 1997. 318p;MURRAY, Williamson; SINNREICH, Richard Hart; LACEY, James (Ed.). The shaping of grand strategy: policy, diplomacy, and war. Cambridge: Cambridge University Press, 2011. 294p;PAIVA, Luis Eduardo Rocha Paiva. O jogo de poder na faixa atlântica do Entorno Estratégico Nacional e seus reflexos para a Defesa e a Projeção do Brasil. 2013. 61p;TOSTA. Teorias Geopolíticas. Rio de Janeiro: BIBLIEX.1984. 103p

NOTAS[1] Para mais detalhes sugere-se MAGNOLI, Demétrio. O CORPO DA PÁTRIA: Imaginação Geográfica e Política Externa no Brasil (1808-1912) e HOLANDA, Sérgio Buarque de. VISÃO DO PARAÍSO: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil.[2] Termo geográfico usado por Halford Mackinder que se refere à área interior, ou central, de determinado território.[3] À exceção de Barcelos, que é sede de Batalhão de infantaria, todas as cidades citadas sediam brigadas (conjuntos de unidades de armas combinadas comandadas por oficial-genera l).[4] Os caças de 5ª geração são os que devem conter todas as seguintes tecnologias: empuxo vetorial, tecnologia furtiva (stealth), uso de materiais compósitos, supercruzeiro (obtenção de velocidades supersônicas sem uso de pós-combustores, radares e sensores avançados, aviônica integrada para melhorar a consciência situacional do piloto (JONES, 2014, p.2). [5] De acordo com o Decreto nº 8.635, de 12 de janeiro de 2016, o CMN tem jurisdição sobre os Estados do Pará, do Amapá e do Maranhão e a área do Bico do Papagaio, que compreende os municípios de Wanderlândia, Babaçulândia e Xambioá, todos pertencentes ao Estado do Tocantins.

[5]

Page 42: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

41

de Infantaria de Selva, em Macapá, tendo como responsabilidades guarnecer as

fronteiras com a Guiana, a Guiana Francesa e o Suriname, e reforçar a presença

militar e capacidade operacional nos estados do Amapá, Norte do Pará e Maranhão.

Cabe ressaltar a existência do Pelotão Especial de Fronteira em Tiriós na

fronteira norte do estado do Pará e da Companhia de Elementos de Fronteira situada

em Clevelândia do Norte (Amapá). Estas Unidades destacadas, reforçam a estratégia

da presença nas fronteiras, promovem o desenvolvimento local, e funcionam como

vetores de dissuasão repelindo delitos transfronteiriços.

Neste contexto, é mister destacar que parte da área de responsabilidade da 22ª

Bda Inf Sl está vocacionada para a proteção da Faixa de Fronteira (150 km do limite

transfronteiriço), o que lhe enquadra no artigo 16-A da Lei Complementar 13611,

competindo-lhe poder de polícia contra crimes transfronteiriços e ambientais: “Art. 16-A. Cabe às Forças Armadas, além de outras ações pertinentes, também como atribuições subsidiárias, preservadas as competências exclusivas das polícias judiciárias, atuar, por meio de ações preventivas e repressivas, na faixa de fronteira terrestre, no mar e nas águas interiores, independentemente da posse, da propriedade, da finalidade ou de qualquer gravame que sobre ela recaia, contra delitos transfronteiriços e ambientais, isoladamente ou em coordenação com outros órgãos do Poder Executivo, executando, dentre outras, as ações de: I - patrulhamento; II - revista de pessoas, de veículos terrestres, de embarcações e de aeronaves; e III - prisões em flagrante delito.

Já a 23ª Brigada de Infantaria de Selva, com sede em Marabá, está alinhada

com a estratégia de aumento da capacidade de pronta resposta da Força Terrestre,

sendo transformada em Força de Emprego Estratégico, devendo reunir capacidades

para atuar em todo o território nacional, com prioridade para a Região Amazônica. Tal

condição reforça a concepção da estratégia militar voltada para a Amazônia Oriental

uma vez que essa situação lhe garante prioridade de recompletamento e

investimentos na modernização de seus materiais de emprego militar.

Possui uma estrutura quaternária, composta por quatro Batalhões de Infantaria,

sendo o 52º BIS unidade Força de Ação Rápida do Comando Militar do Norte. Possui

ainda, um Esquadrão de Cavalaria de Selva, além de toda a estrutura de comando,

controle e logística de uma brigada. O posicionamento estratégico das suas OM

particulariza a responsabilidade da 23ª Bda Inf Sl com as grandes estruturas

11 LC 136, de 25 de agosto de 2010. Altera a Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999, que “dispõe sobre as normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas”

Page 43: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

42

estratégicas regionais: Usinas Hidrelétricas de Tucuruí, Estreito e Belo Monte;

Complexo Mineral de Carajás e Oriximiná; Rodovias 163 e 230 (Transamazônica);

Estrada de Ferro Carajás, etc.

Assim, se em um primeiro momento da história, a 23ª Bda Inf Sl tinha uma

concepção de presença e desenvolvimento regional voltado para interiorização do

Brasil junto a rodovia Transamazônica, verifica-se atualmente, uma vocação

prioritariamente dissuasória, com tropas capazes de atuar no ambiente operacional

de selva e, principalmente, concentrar, em curto espaço de tempo, um contingente

apto a atuar em qualquer área do território brasileiro.

Por fim, é mister destacar ainda, o papel do 8º Batalhão de Engenharia de

Construção, sediado em Santarém-PA, que a despeito de não estar vinculado ao

CMN, desenvolve ações na região, destacando-se atualmente pelas obras de

asfaltamento da BR-163 nas proximidades de Novo Progresso e Moraes de Almeida,

dentre outros serviços prestados como restauração de pontes e obras de mobilidade

na área da Amazônia Oriental.

6.3 OS PROJETOS e AÇÕES DO EXÉRCITO NA AMAZÔNIA ORIENTAL

A Política Nacional de Defesa (PND/2016), em seu texto introdutório, atribui a

necessidade da nação conhecer, integrar e explorar suas riquezas, em especial as

existentes na Região Amazônica. Como já descrito no corpo deste estudo, a enorme

extensão territorial, a baixa densidade demográfica, as dificuldades relacionadas com

a logística, as questões sociais e indígenas acabam configurando-se óbices à

promoção da integração da região amazônica brasileira, bem como dificultando a

defesa do uso sustentável dos recursos ambientais, respeitando assim, a soberania

do país.

Dessa forma, as Forças Armadas procuram alinhamento com a PND e END,

na forma de manterem adequado preparo, doutrina e meios bem como desenvolver

as capacidades de proteção, dissuasão, pronta-resposta, coordenação e controle e

mobilidade estratégica. De uma forma bem pontual acerca da Região Amazônica, a

END orienta as FA a buscar a compatibilização com a Estratégia da Presença.

Partindo dessas premissas, o Exército tem procurado implementar ações e

projetos voltados para cumprir sua missão constitucional, bem como apoiar o

desenvolvimento local por meio de atividades subsidiárias.

Page 44: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

43

6.3.1 O Projeto PROTEGER O Projeto PROTEGER foi concebido para desenvolver no Exército a

capacidade de proteção das estruturas estratégicas do território nacional, em

cooperação com outras agências, visando garantir a continuidade de serviços

especiais. Está integrado ao Sistema de Coordenação de Operações Terrestres

(Projeto SISCOT12) e pelo Projeto de Proteção Integrada13.

Figura 9 - Estruturas Estratégicas terrestres

Fonte: Revista Verde Oliva, Ago 2013.

No âmbito do Comando Militar do Norte, a guarnição de Belém estruturou um

Centro de Coordenação de Operações e recebeu um Centro de Coordenação de

Operações móvel, o qual fica destacado na Guarnição de Marabá (sede da 23ª Bda

Inf Sl, aos cuidados da 23ª Cia Com Sl), permitindo ligações de comando e obtenção,

em tempo real, da consciência situacional necessárias a tomada de decisão para

melhor emprego dos meios necessários a proteção das estruturas estratégicas.

Neste contexto, é mister destacar o papel da 23ª Bda Inf Sl na proteção de

estruturas estratégicas por meio de suas peças de manobra: Hidrelétrica de Tucuruí

(23º Esq C Sl); Hidrelétrica de Belo Monte (51º BIS); Hidrelétrica de Estreito – (50º

12 SISCOT: contemplam Centros de Coordenação de Operações (CCOp), fixos e móveis e o desenvolvimento de um software, denominado INTEGRADOR, que permitirá a integração dos diversos sistemas empregados no planejamento e coordenação de operações, destinados a ampliar a capacidade de planejamento, comando, controle e coordenação da Força Terrestre. 13 Disponível em: http://www.epex.eb.mil.br/index.php/proteger, acesso em 04/06/2019

Page 45: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

44

BIS); BR-163 e Porto de Santarém (53º BIS); Complexo mineral de Carajás e Estrada

de Ferro Carajás (52º BIS). Cumpre ressaltar o emprego em missões subsidiárias

voltadas para calamidades sazonais como enchentes (apoio as populações atingidas),

combate a incêndios (em conjunto com as agências envolvidas), dentre outros.

6.3.2 O Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras – SISFRON Trata-se de sistema de sensoriamento e de apoio à decisão em apoio ao

emprego operacional, atuando de forma integrada, cujo propósito é fortalecer a

presença e a capacidade de monitoramento e de ação do Estado na faixa de fronteira

terrestre14. Por meio de controle e atuação nas fronteiras terrestres, contribui para a

inviolabilidade do território nacional, redução dos problemas advindos da região

fronteiriça e fortalecimento da interoperabilidade, das operações interagências e da

cooperação regional.

O SISFRON permite integrar um coletivo de outros sistemas, formando uma

rede de subsistemas voltados a retroalimentação, segurança de dados e atuação,

quais sejam: sensoriamento (radares, sensores óticos e sinais eletromagnéticos);

apoio a decisão (CCOp); tecnologia da informação e comunicações (TIC); segurança

de informações e comunicações e defesa cibernética; simulação e capacitação;

logística; atuadores; monitoramento de fronteiras; centros regionais de integração.

Figura 10 - Subsistemas do SISFRON

Fonte: Revista Verde Oliva, Ago 2013

14 Disponível em: http://www.epex.eb.mil.br/index.php/sisfron, acesso em 04/06/2019

Page 46: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

45

Como já relatado neste trabalho, a 22ª Bda Inf Sl, por meio do CFAP/34º BIS e

do PEF de TIRIÓS, a este subordinado, integra os diversos subsistemas supracitados,

com ênfase no monitoramento, produção de informações e atuação em ações de

defesa ou contra delitos transfronteiriços e ambientais na faixa de fronteira com

Guiana Francesa, Suriname e Guiana.

Assim, verifica-se que o SISFRON, além dos benefícios voltados para o

fomento da Base Industrial de Defesa e capacitação de recursos humanos, visa

proporcionar um aumento da segurança (tanto informacional, cibernética e de

inteligência), contribuir com a preservação ambiental (por meio do sensoriamento),

proteger a biodiversidade (evitando a biopirataria e a caça indiscriminada e predatória)

e colaborar com as populações indígenas (promovendo acesso a benefícios básicos

como saúde e educação), bem como de forma indireta garante uma maior integração

e melhoria da qualidade de vida da população local.

6.3.3 Programa Calha Norte

O Programa Calha Norte (PCN) foi criado em 1985, durante os governos

militares, fruto de uma análise geopolítica voltada para reagir à cobiça internacional

sobre as reservas minerais da Amazônia. Desde 1999 sob a coordenação do

Ministério da Defesa, o PCN promovido a ocupação e o desenvolvimento ordenado e

sustentável da região amazônica, abrangendo aproximadamente 390 municípios

distribuídos em oito estados.15.

Possui duas vertentes: uma civil e outra militar. A vertente civil do programa

atua na promoção do desenvolvimento regional, com a construção de estradas,

escolas, hospitais, portos, a implantação de rede elétrica urbana e rural, entre outros.

A vertente militar desempenha ações em prol do desenvolvimento sustentável

regional, ajustamento das unidades militares e da infraestrutura dos pelotões

especiais de fronteira, e manutenção da soberania e a integridade territorial nacional.

Sua concepção está alinhada com a END, voltada para o aumento da presença

do Exército na Amazônia. Assim, o Pelotão Especial de Fronteira de TIRIÓS foi

construído e mobiliado com recursos do PCN. Uma outra OM beneficiária do programa

é o CFAP/34º BIS por meio da Companhia de Elementos de Fronteira de Clevelândia

15 Disponível em: <https://www.defesa.gov.br/programas-sociais/programa-calha-norte>, acesso em 01/06/2019

Page 47: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

46

(AP). Estes recursos têm grande relevância uma vez que viabilizam a aquisição de

materiais de emprego militar como embarcações, motores, combustíveis e outros

equipamentos utilizados no adestramento e Operações de Emprego: patrulhamento

de rios, reconhecimentos de fronteira e outras atividades militares voltadas a cumprir

as tarefas delimitadas pela LC 136.

6.3.4 Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM)

O CENSIPAM, foi criado em 2002 com objetivo de promover a proteção,

inclusão social e o desenvolvimento sustentável da Amazônia Legal, cujas ações

estão alinhadas, prioritariamente, na produção de inteligência tecnológica

(sensoriamento remoto), comunicações e técnicas avançadas de análise de dados. O

centro contempla, além das FA, de forma sinérgica e articulada, outros órgãos da

Administração Pública, como Polícia Federal, FUNAI, IBAMA, ABIN, ICMBio, entre

outros.

Alinhado com a END, em 2008, foi incluído o Sistema de Cartografia da

Amazônia, responsável por desencadear uma coleta sistemática de dados voltados

para o mapeamento econômico (recursos minerais, possibilidades de agronegócio),

ecológico (impactos ambientais; fauna e flora) e questões envolvendo a segurança de

fronteiras. Esta ferramenta dá suporte ao planejamento e amplifica a consciência

situacional necessária para a execução de operações militares voltadas para a

proteção dos recursos naturais.

Na região da Amazônia Oriental, está instalado o Centro Regional de Belém,

com responsabilidades de monitoramento dos Estados do Amapá, Pará, Tocantins e

a parcela do Maranhão. A coincidência no local da sede e na área de responsabilidade

favorece ao Comando Militar do Norte, a interoperabilidade, integração e sincronismo

das ações desencadeadas pelas FA, polícias e agências ambientais, dentre outros

usuários do sistema.

Esta integração pode ser ilustrada pelo desencadeamento das Operações

Ágata, na fronteira terrestre brasileira. Essas operações envolvem a participação de

12 ministérios e 20 agências governamentais16. Como parâmetro, entre 2011 e 2016,

16 https://www.defesa.gov.br/exercicios-e-operacoes/operacoes-conjuntas-1/operacao-agata, acessado em 05/05/2019

Page 48: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

47

durante as operações de proteção ambiental em conjunto com o IBAMA e o ICMBio

ocorreram aproximadamente 287 inspeções17 .

As Operações Ágata integram o Plano Estratégico de Fronteiras (PEF) do

Governo Federal, criado para prevenir e reprimir a ação de criminosos na divisa do

Brasil com dez países sul-americanos. Assim, estão eixadas com a área de

responsabilidade da 22ª Brigada de Infantaria de Selva na faixa de fronteira, com a

realização de atividades tipo polícia no combate a delitos transfronteiriços e

ambientais.

6.3.5 Sistema de Gestão Ambiental do Exército Brasileiro (SiGAEB) O tema de Gestão Ambiental é atual e tem sido explorado nacionalmente e

internacionalmente. O “Selo Verde” tem sido uma certificação almejada por muitas

organizações, agregando valor aos produtos e promovendo o prestígio de Instituições

e empresas que desenvolveram capacidades de produção dentro do conceito de

sustentabilidade. A ratificação de tratados internacionais pelo Brasil, no contexto da

Política Externa, relacionados a proteção ambiental, reforça a necessidade das

Organizações promoverem ações voltadas para essa nova conjuntura.

Alinhado com a Estratégia Nacional de Defesa, o Exército por meio do seu

Plano Estratégico, no escopo do OEE número três que prevê a contribuição da Força

com o Desenvolvimento Sustentável e a Paz Social, definiu como ação estratégica,

promover o aperfeiçoamento do controle ambiental nas atividades militares. O

SiGAEB, criado por meio da Portaria nº55, de 31 de agosto de 2018, é a ferramenta

desenvolvida pela Diretoria de Patrimônio Imobiliário e Meio Ambiente (DPIMA), que

tem por missão promover a padronização das ações a serem desencadeadas pelas

Organizações Militares.

Inicialmente, as OM foram avaliadas segundo um “check list” constante de

quesitos ambientais, voltados a dimensionar e qualificar as demandas, dando suporte

a montagem de estratégias e quantificação de recursos necessários a pô-las em

prática (esta avaliação é anual e deve ser validada). Em uma segunda fase, estão

ocorrendo estágios de capacitação de profissionais no âmbito das OM (na modalidade

a distância) para atuarem como conformadores ambientais e assessores técnicos de

17 Dados de 2015

Page 49: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

48

gestão ambiental. Desta forma, boas práticas têm sido observadas, consolidadas e

divulgadas pelo canal técnico e de comando18.

Como parte do Sistema, as Organizações Militares estão se adequando as

legislações vigentes, formulando seus Planos de Gestão Ambiental anualmente

atualizado após o diagnóstico ambiental realizado por meio de inspeções do escalão

superior. Dentro deste escopo, diversos programas têm sido implementados com a

finalidades de preservação ambiental, dos quais destacam-se: destinação correta de

resíduos, preservação de campos de instrução, recuperação de áreas degradadas,

implementação de fontes de energia limpa em substituição aos geradores movidos a

combustíveis fósseis, remoção de tanques subterrâneos, dentre outros.

Assim, o esforço do Exército está eixado com a modernização da Força,

substituição de procedimentos obsoletos, criação de uma mentalidade institucional de

proteção ambiental e de execução das atividades militares dentro do conceito de

sustentabilidade. Estas ações não só promovem uma melhoria na qualidade do

trabalho dentro das Organizações Militares, como contribuem na preservação dos

solos, dos afluentes e dos biomas que circundam as áreas sob administração militar.

18 Disponível em https://pt.calameo.com/read/00123820656f37b599c10, acessado em 05/05/2019

Page 50: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

49

7. CONCLUSÃO

Em torno de todo o escopo deste trabalho, pode-se constatar a dimensão da

região oriental da Amazônia, seus fatores de força e fraqueza, e principalmente, o seu

imensurável potencial de contribuição para o desenvolvimento sustentável regional,

bem como de sua capacidade para maximizar o desenvolvimento nacional por meio

da exploração de suas riquezas, potencial mineral e energético. Pretende-se

concatenar argumentos que sustentem a solução do questionamento deste trabalho:

qual a atual contribuição do Exército Brasileiro, a partir de 1964, para as questões de

proteção e defesa dos recursos naturais na Amazônia Oriental?

Em função de sua importância estratégica e geopolítica da região, o Brasil

reconheceu a necessidade de integrar a região Norte ao restante do país, delegando

as Forças Armadas essa incumbência. Assim, a partir de meados da década de 50

do século passado, o Exército atribuiu grande prioridade à região, estabelecendo a

sede do CMA na cidade de Belém e meia década depois, a ativação do CMN. A

elevação da 23ª Bda Inf Sl como Força Estratégica do Exército (2011) e a implantação

da 22ª Bda Inf Sl (2016) na cidade de Macapá, corroboram ainda mais com a

percepção de relevância e importância da região no contexto de defesa e

desenvolvimento nacional.

Em síntese, verifica-se que o Exército Brasileiro tem contribuído de forma

transversal, no processo de desenvolvimento e integração da região, sem

comprometer sua missão precípua de defesa da pátria, garantia dos poderes

constitucionais, da lei e da ordem. Sua capacidade, capilaridade e amplitude de

atuação como instituição de Estado, estabelecem ligações que perpassam todos os

campos do poder.

No campo político é notório que a Amazônia Oriental engloba uma porção

territorial que perpassa limites de estados federativos do Brasil e até mesmo de outros

Estados Nação. Assim, o conflito de interesses políticos divergentes entre Estados,

partidos políticos e famílias tradicionais acabam dividindo os esforços necessários a

maior integração da região N aos demais centros de desenvolvimento e consumo do

país. Nesse sentido, o desdobramento do Grande Comando (Comando Militar do

Norte) e das Grandes Unidades (22ª Bda Inf Sl e 23ª Bda Inf Sl) militares distribuídas

Page 51: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

50

próximas aos centros políticos, têm contribuído para atenuar distorções, acompanhar

seus desdobramentos, reforçar a integração e realizar a troca de percepções voltadas

para os assuntos de defesa junto ao alto escalão político estatal.

A insuficiência da malha viária associada a precariedade das existentes e a

falta de integração dos modais ferroviário e hidroviário, potencializam o isolamento

político e econômico da região e impactam diretamente no custo de produção e por

consequência no seu desenvolvimento. Nesse contexto, a despeito de não estar

subordinado ao CMN, a atuação do 8º Batalhão de Engenharia do Exército tem

contribuído para minimizar esses efeitos e facilitar essa integração.

O asfaltamento da BR-163 e sua ligação ao nó modal a ser estabelecido com

a hidrovia do Tocantins na cidade de Marabá-PA, materializam o uso das capacidades

do Exército na operacionalização da estratégia nacional de integração da região Norte

as demais regiões. É mister destacar que, em um país de dimensões continentais, a

melhoria e integração das estruturas estratégicas refletem diretamente na

manutenção da capacidade logística militar, permitindo adequada mobilização

estratégica para o emprego do poder militar.

No que tange à Política Externa, a Amazônia tem sido foco de interesses de

diversas outras nações, organizações, instituições internacionais e não

governamentais, as quais por vezes, ensejam interferir nas Políticas Nacionais para a

região. Estes atores questionam decisões soberanas voltadas para o aproveitamento

de suas riquezas, em função dos impactos ambientais, psicossociais e climáticos,

supostamente desencadeados pelo desenvolvimento regional. Estes apontamentos

formulados por teóricos geopolíticos e por autoridades das principais potências do

mundo, procuram justificar conceitos como: soberania relativa do Brasil para com a

região Amazônica e o da universalização por meio da narrativa de patrimônio da

humanidade.

Em contraponto a essa pressão internacional, geopolíticos brasileiros (em sua

maioria militares) difundiram pensamentos que serviram de base para a condução de

Políticas Públicas de integração da Amazônia ao restante do país, as quais ganharam

vulto, a partir dos governos militares e passaram a fundamentar as atuais Política

Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de Defesa. O lema “integrar para não

Page 52: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

51

entregar” de Therezinha de Castro e as concepções de Mário de Travassos e Meira

Mattos foram imprescindíveis para operacionalizar o planejamento e execução de

obras de infraestruturas de grande porte como as BR-236 (Transamazônica

integrando de L a W) e BR-153 e BR-163 (respectivamente, Belém-Brasília e Cuiabá-

Santarém), ferrovia N-S e a Hidrelétrica de Tucuruí-PA.

Embasados nesses pensadores, a Estratégia Nacional de Defesa coloca o

Exército como protagonista nas ações integração. A ocupação das fronteiras e regiões

estratégicas por meio de suas OM (presentes nos mais longínquos pontos da

Amazônia Oriental, nas terras indígenas e próximo às comunidades menos assistidas

pelo Estado), projetam poder militar, capacidades de atuação, emprego, logística e

ainda favorecem as operações de inteligência. Por meio de manobras militares,

exercícios, ações cívico sociais e operações de emprego subsidiário, mapeiam a

atuação de ONG e outras lideranças, estabelecem ligações com as instituições

públicas, privadas e com a sociedade.

Dessa forma, reforçam-se valores como o sentimento de nacionalidade e

patriotismo. O bom relacionamento das comunidades circunvizinhas às guarnições

militares, permite aumentar a coesão e a manutenção do espírito pátrio, bem como

contribuem para rechaçar propagandas e ideologias adversas aos interesses

nacionais, muitas das quais colocam em risco a soberania sobre nosso território e

nossas riquezas.

Quanto aos aspectos psicossociais, por se tratar de uma região de difícil acesso

e de recente ocupação, a Amazônia traz consigo um relativo atraso de

desenvolvimento, criando um ambiente propício ao surgimento questões conflituosas,

as quais são explorados tanto para embasar interesses políticos internos, como para

sustentar narrativas supranacionais.

Assim, problemáticas como a questão indígena, o garimpo ilegal, as invasões

de terras públicas e privadas fomentadas por estes movimentos sociais, partidários e

por vezes ideológicos, os ilícitos transnacionais e ambientais, dentre outros, passam

a se confrontar direta, indireta e até mesmo transversalmente com a missão do

Exército, uma vez que acabam promovendo instabilidade social, sensação de

insegurança e o surgimento de focos de tensão que impactam a administração do

Estado e desgastam a imagem do Brasil no contexto internacional.

Page 53: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

52

Em função da complexidade dos atores, o EB tem procurado desencadear

ações diretas, indiretas e transversais voltadas a minimizar os efeitos negativos

explorados por cada questão supracitada. Por meio de ações diretas, o Exército

planeja e executa operações militares destinadas ao monitoramento de ilícitos

fronteiriços na fronteira Norte, desativação de garimpos ilegais, GLO e etc. As

indiretas, também exercidas pelas estratégias da presença e dissuasão, estão

relacionadas a presença efetiva das Organizações Militares na região, as quais

reforçam os órgãos de segurança pública, muitas das vezes insipientes, melhorando

a sensação de segurança e minimizando narrativas e ataques ideológicos adversos.

Por fim, a transversalidade é materializada pela formação de centros urbanos,

comerciais e industriais potencializados pelo processo de formação dos núcleos e

vilas militares nas guarnições, além da assistência médico hospitalar e Operações de

ACISO promovidas no curso das ações diretas.

No campo econômico, o impacto sócio-econômico provocado pelas OM nas

guarnições em que foram instaladas (em especial as mais longínquas e de difícil

acesso), contribui com a ocupação territorial, a fundação de vilarejos, o

desenvolvimento de cidades e a integração regional necessárias a manutenção da

cadeia logística militar. Assim, com naturalidade, inicia-se um fluxo de demandas que

por sua vez atraem empresas, fomentam o comércio e o setor de serviços

interessados em participar da logística militar e prover facilidades para a família militar.

O equilíbrio nos campos do poder atingidos, corrobora com o estabelecimento de um

ambiente favorável ao desenvolvimento, menos vulnerável e capaz de gerar renda e

atrativos psicossociais.

No que tange a questão energética, foi verificado a grande participação da

Amazônia Oriental na produção de energia limpa oriundo das Hidrelétricas de Belo

Monte e Tucuruí, respectivamente segunda e terceira maiores produtoras de energia

do país, as quais somadas as outras hidrelétricas de menor porte, constituem parcela

considerável de toda energia produzida no Brasil. Há de se destacar a existência da

maior reserva de minério de ferro do país, situado em Carajás no estado do Pará,

garantindo autossuficiência e autonomia tanto para a indústria de transformação

nacional como para a captação de divisas por meio de sua exportação. Soma-se

ainda, a existência de reservas de outros minérios como ouro, bauxita, nióbio (maior

Page 54: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

53

reserva do mundo) e terras raras, os quais constituem uma das maiores reservas

minerais do mundo ainda pouco explorados.

O Exército contribui na defesa e proteção destas fontes de energia e recursos

estratégicos por intermédio do Projeto Proteger, destinado a desenvolver capacidades

para garantir a segurança e proteção de estruturas estratégicas existentes na região,

como hidrelétricas, reservas minerais estratégicas, portos, aeroportos, etc. Nesse

contexto, a 23ª Bda Inf Sl, além de possuir unidades próximas a estas estruturas

(hidrelétrica e eclusa de Tucuruí, Belo Monte, Complexo mineral de Carajás e etc),

coordena exercícios de adestramento voltados para refinar os planejamentos

operacionais de ocupação e garantia do funcionamento dessas estruturas.

Na campo científico-tecnológico, o Exército tem investido esforços para finalizar

a implantação do SISFRON. Utiliza-se ainda dos insumos do CENSIPAN para agregar

capacidades e melhorar o controle das fronteiras brasileiras através do uso de novas

tecnologias para detecção e análise de eventos ilícitos, dando maior abrangência e

velocidade na execução das operações militares na região.

O desenvolvimento e implantação de radares nacionais, SENTIR M20

(vigilância terrestre), e de defesa antiaérea de baixa e média altura (respectivamente

SABER M60 e M200), por intermédio do Centro Tecnológico do Exército, reforçam a

intenção do Exército em potencializar suas capacidades de vigilância através do

domínio científico-tecnológico em áreas sensíveis da defesa, permitindo por exemplo,

maior controle sobre crimes transfronteiriços e detecção de possíveis violações de

nossa fronteiras com oportunidade para o desencadeamento de ações operativas.

Feita essa correlação inicial da transversalidade do Exército nos quatro

primeiros campos do poder, e levando-se em consideração que o EB é um dos

principais protagonistas do Estado em atuação na região Amazônica, fruto de sua

missão precípua de defesa da pátria, na condução de ações subsidiárias e por meio

de sua presença e capilaridade nacional, verifica-se que, no campo militar, o

direcionamento das ações de proteção e defesa das riquezas amazônicas da

Amazônia Oriental se dá de forma direta.

A começar pela distribuição de suas Organizações Militares espalhadas ao

longo dos eixos dos rios Tapajós (53º BIS), Xingú (51º BIS), Tocantins (52º BIS e 23º

Esqd C Sl), Araguaia (50º BIS) e Amazonas (2º e 34º BIS), o que materializa o braço

Page 55: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

54

forte do EB na preparação e condução de operações militares voltadas para a defesa,

bem como estendem a mão amiga, ao conduzirem operações de papel social face as

populações dos municípios assolados por enchentes, epidemias e outras campanhas

assistenciais.

Quanto a proteção e defesa dos recursos naturais são expressivas as

contribuições da Instituição, potencializadas a partir de 2010, com a promulgação da

LC 136 a qual atribuiu respaldo jurídico para operações tipo polícia para as Forças

Armadas para coerção de delitos transfronteiriços e ambientais na faixa de fronteira.

Assim, em quase todo o território do Amapá, o 2º BIS e o Cmdo Fron 34º BIS

participam das Operações Ágata, as quais ocorrem periodicamente sob coordenação

do Ministério da Defesa, destinadas a coibir rotas de contrabando de animais,

biopirataria, garimpo e outros ilícitos.

A despeito de Operações temporárias, o Cmdo Fron 34º BIS ainda possui

encargos de fronteira, com elementos destacados em Clevelândia e Tiriós, e ainda,

integrando o SISFRON e coordenado pelo CENSIPAN, realizam o monitoramento

diário da fronteira com a Guiana Francesa e Suriname.

É necessário destacar que a ocorrência de ilícitos é facilitada não só pela

porosidade das fronteiras, mas pela falta de opção de trabalho face aos baixos

investimentos do Estado na região. Nesse ínterim, o Projeto Calha Norte, tem

destinado recursos para o fomento do desenvolvimento e defesa. O Exército não só

tem rocado contingentes de outros comandos para a Amazônia como também, por

intermédio dos Batalhões de Engenharia, assumido obras financiadas por este

programa.

Nas regiões interioranas da Amazônia Oriental, fora da cobertura legal da lei

supracitada, operações conjuntas do Exército em apoio as agências reguladoras

como IBAMA e ICMBIO, demonstram a integração das instituições seja na aplicação

de efetivos, cessão de materiais de uso exclusivo das FA, apoio logístico as atividades

operacionais e, principalmente, cooperações na área de inteligência voltadas para

identificação de lideranças, rotas de ilícitos e ações futuras dos envolvidos nos ilícitos

de natureza ambiental.

E ainda, valendo-se da sua cultura institucional de promover ações calcadas

em valores e no fiel cumprimento das normas legais, o Exército tem promovido uma

auditagem interna e sistêmica (SIGAEB) acerca do tratamento ambiental assegurado

as suas áreas patrimoniais e o descarte de resíduos, visando corrigir eventuais

Page 56: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

55

desajustes. Essa preocupação ganha proporções na Região Amazônica, uma vez que

as OM possuem significativas áreas patrimoniais e áreas sob administração militar.

Portanto, de tudo o que foi apresentado, verifica-se uma sinergia existente entre

o Exército e o ambiente operacional amazônico, materializada pela simbiose da

instituição com os anseios e expectativas da população. Acima de tudo, um

sentimento de pertencimento exaltado pelo soldado através de exteriorizações

evocadas em cada Corpo da Guarda, canções de TFM e formaturas de nossas OM:

“A selva nos une, Tudo pela Amazônia”, e/ou “Amazônia nos pertence!”.

Reverberação da motivação de cada integrante da instituição EB em proteger e

defender seu patrimônio de qualquer ameaça: seja interna ou externa. O compromisso

é ainda reforçado com a rotatividade de seus quadros e o interesse da Força de que

todos conheçam o ambiente operacional amazônico, propiciando a propagação dessa

narrativa patriota para todos os cantos desse país continente.

Por fim, é fator de motivação relembrar a mensagem do general Rodrigo Otávio:

“Árdua é a missão de desenvolver e integrar a Amazônia, muito mais difícil porém, foi

a de nossos antepassados de conquistá-la e mantê-la”. Essa assertiva mostra o

desafio para o qual o Exército, em conjunto com a nação brasileira, deverá carrear

suas energias. De fato, o autor descreve as principais servidões (desenvolver, integrar

e manter), as quais devem nortear nossas políticas nacionais, nossas estratégias e,

principalmente, nossas percepções de nação brasileira para com a importância da

região para as gerações futuras.

Page 57: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

56

REFERÊNCIAS

ATIVIDADES SOCIAIS DO EXÉRCITO BRASILEIRO: Contribuição do Exército

Brasileiro no desenvolvimento social e cultural das comunidades brasileiras na

Amazônia Ocidental. Revista Verde Oliva, Brasília, v. 230, n. XLII, p. 14-19, dez.

2015.

AS AÇÕES PREVENTIVAS E REPRESSIVAS NA AMAZÔNIA. Revista Verde Oliva,

Brasília, v. 242, n. XLIV, p. 08-15, set. 2018.

BENTO, Cláudio Moreira. Amazônia Brasileira, Conquista, Consolidação e Manutenção: História Militar Terrestre (1616-2017). 2. ed. Barra Mansa: Drumond,

2017. 306 p.

BECKER, Bertha K.; EGLER, Claudio A.G. Brasil: uma nova potência regional na

economia-mundo. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993.

CASTRO, Therezinha de. José Bonifácio e a Unidade Nacional. Rio de Janeiro:

Exército, 1984.

BRASIL. Comandante do Exército (2015-2019: Gen Ex Eduardo Dias da Costa Villas

Bôas ). Diretriz do Comandante do Exército, 2017-2018 - Brasília : Gabinete do Comandante do Exército, 2017. – (Documentos do Exército Brasileiro)

______. Boletim Especial n. 6, de 04 de maio de 2018. Plano Estratégico do Exército 2016-2019 (atualização anexo C). Secretaria Geral do Exército. 3. ed. Brasília, p. 4-

76, set. 2017.

______. Livro Branco da Defesa Nacional. Brasília: MD, 2016

______. Livro Verde de Defesa. Brasília: MD, 2017.

______. Política Nacional de Defesa. Brasília: 2016

______. Lei Complementar n. 97, de 09 de junho de 1999c. Dispões sobre as normas

gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas. Disponível

em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/LCP/Lcp97.htm>. Acesso em:

10/04/2019

Page 58: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

57

______. Lei Complementar n. 136, de 25 de agosto de 2010 Altera a Lei

Complementar no 97, de 9 de junho de 1999, que “dispõe sobre as normas gerais para

a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas”. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/LCP/Lcp136.htm>. Acesso em: 10/04/2019

COSTA, Wanderley Messias da, Geografia politica e Geopolítica: Discursos sobre território e o poder, 2ª Edição, São Paulo, Editora Universidade de São Paulo, 2013,

ISBN 978-85-314-1074-1.

CRESWELL, John W. Projeto de Pesquisa: Métodos qualitativo, quantitativo e misto; Tradução Magda Lopes. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 296 p, 2010

PROJETOS ESTRATÉGICOS: Indutores da Transformação do Exército. Revista

Verde Oliva, Brasília, v.217, Especial, p. 12-28, Ago. 2013.

O EXÉRCITO BRASILEIRO E O MEIO AMBIENTE III: O Exército Brasileiro e a

sustentabilidade. Revista Verde Oliva, Brasília, v. 243, n. XLV, p. 08-15, out. 2018.

FRANCHI, Tássio. Da conquista do inferno verde à proteção do paraíso tropical - o discurso militar brasileiro sobre a Amazônia no século XX. Orientador: José

Augusto Leitão Drummond. 2013. 334 p. Dissertação (Doutorado) - Universidade

Nacional de Brasília, Brasília, 2013.

GONÇALVES, Hermes Leôneo Menna Barreto Laranja. A Criação do Comando Militar

do Norte na Amazônia Oriental: Uma questão geoestratégica. Doutrina Militar Terrestre em revista, Brasília, p. 62-71, Jan/Jun 2016.

LACERDA, Paula Mendes. Movimentos sociais na Amazônia: articulações possíveis

entre gênero, religião e Estado. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi., Universidade Federal

do Rio de Janeiro/Museu Nacional., Jan/Abr 2013.

MAFRA, Roberto Machado de Oliveira, Geopolítica: Introdução ao Estudo, São

Paulo, SP, Editora Sicurezza, 2006, ISBN 8587297155.

MATTOS, Carlos de Meira. Geopolítica e modernidade. Rio de Janeiro: Biblioteca

do Exército/José Olympio Editora, 2003.

Page 59: ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO …...humana por matérias primas, recursos minerais, naturais, terras raras e fontes de energia, reúne fatores que, naturalmente implicarão em

58

PADECEME, Rio de Janeiro, v.8, n. 16, p. 6-17, 01/2016

SILVA, A. R.B., 2000. Carajás como Fator de Desenvolvimento Regional. Associação Comercial do Pará. Belém-PA.

SILVA,A.R.B.,1994. Evolução e Tendência da Atividade Garimpeira de Ouro.

Palestra apresentada no Seminário Garimpos de Ouro: Evolução e Tendências.

Cuiabá-MT, 1994.

SILVA, Golbery do Couto. Conjuntura Política Nacional; O poder executivo[1967] & Geopolítica do Brasil [1980]. Rio de Janeiro: José Olympio Editor, 1981