ergonomia hospitalar

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Ergonomia Hospitalar: a questão do serviço da enfermagem Introdução Por se tratar de um sistema sociotécnico no qual interagem múltiplos profissionais, a prestação de serviços de saúde é uma área de grande complexidade e em constante transição. Os hospitais devem responder a vários desafios, tais como a introdução de novas tecnologias, o aumento da expectativa de vida dos doentes, o envelhecimento da população e dos seus profissionais, a expansão e alteração dos serviços, contenção de custos (independente do aumento da procura destes serviços), trabalho em turnos, dentre outros. Devido esses desafios e ao impacto social e econômico há um grande leque de oportunidades para a Ergonomia contribuir através de melhorias a níveis da concepção, implantação, organização, seleção da tecnologia e, em particular, dos aspectos relativos à Saúde e Segurança dos profissionais de saúde. O aumento da procura de serviços de saúde gera uma pressão organizacional sobre os gestores, administradores e demais profissionais do ramo da saúde. A contribuição da Ergonomia é fundamental para a adequação de exigências a nível da qualidade da prestação de cuidados de saúde, redução do número de acidentes ou erros e melhor aproveitamento dos recursos, como também de respostas que se esperam em relação à variabilidade individual e de contextos. Segundo Fernandes Filho e Moura (1999), inúmeros produtos são inseridos no ambiente hospitalar e devido à inadequação dos mesmos

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Page 1: Ergonomia Hospitalar

Ergonomia Hospitalar: a questão do serviço da enfermagem

Introdução

Por se tratar de um sistema sociotécnico no qual interagem múltiplos profissionais, a

prestação de serviços de saúde é uma área de grande complexidade e em constante transição.

Os hospitais devem responder a vários desafios, tais como a introdução de novas

tecnologias, o aumento da expectativa de vida dos doentes, o envelhecimento da população e dos

seus profissionais, a expansão e alteração dos serviços, contenção de custos (independente do

aumento da procura destes serviços), trabalho em turnos, dentre outros. Devido esses desafios e ao

impacto social e econômico há um grande leque de oportunidades para a Ergonomia contribuir

através de melhorias a níveis da concepção, implantação, organização, seleção da tecnologia e, em

particular, dos aspectos relativos à Saúde e Segurança dos profissionais de saúde.

O aumento da procura de serviços de saúde gera uma pressão organizacional sobre os

gestores, administradores e demais profissionais do ramo da saúde. A contribuição da Ergonomia é

fundamental para a adequação de exigências a nível da qualidade da prestação de cuidados de

saúde, redução do número de acidentes ou erros e melhor aproveitamento dos recursos, como

também de respostas que se esperam em relação à variabilidade individual e de contextos.

Segundo Fernandes Filho e Moura (1999), inúmeros produtos são inseridos no ambiente

hospitalar e devido à inadequação dos mesmos aos setores e atividades a que se destinam, vieram as

situações de riscos à saúde de pacientes, equipes e visitantes. É nesse quadro que se insere a

Ergonomia Hospitalar. Conforme Galdino e Soares (2001), promover o conforto, a segurança e a

satisfação do usuário do produto hospitalar, minimizando seus constrangimentos físicos e psíquicos,

são os objetivos da ergonomia aplicada à organização hospitalar.

Sendo assim este estudo tem por objetivo o levantamento da atuação da ergonomia em

ambientes hospitalares, bem como a problemática envolvida nos serviços dos enfermeiros.

Metodologia

Este estudo consiste em uma pesquisa bibliográfica realizada a partir da leitura de textos de

livros, artigos, monografias, revistas, trabalhos técnicos e de conclusão de curso, manuais, normas e

documentos relacionados à ergonomia em hospitais e na atividade dos enfermeiros. Foram

utilizadas as bases de dados o Google acadêmico, Scielo e Capes. As palavras chaves utilizadas

foram ergonomia, enfermagem, hospitais, serviços de saúde, trabalho, análise ergonômica.

Inicialmente obteve-se informações básicas de forma à permitir a caracterização do setor de

saúde e os principais riscos ergonômicos presentes na atividades de seus profissionais.

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Posteriormente foram analisados os artigos que discutiam a aplicação da ergonomia no setor

formas de aplicação, resultados e desafios.

Hospitais e serviços hospitalares

Nas unidades de serviços de saúde como um todo, em especial o meio hospitalar, possuem

diversas peculiaridades, destaca-se:

Meio com elevada complexidade física, tecnológica, instrumental;

Com constante pressão temporal e substancial tensão relacionada com a prestação dos

melhores cuidados possíveis;

Diversidade humana;

A prevalência do sexo feminino;

Progressivo envelhecimento dos profissionais;

Elevadas exigências físicas;

Trabalho noturno e por turnos;

Aspectos organizacionais do trabalho, em particular os aspectos hierárquicos e relacionais

entre profissionais de saúde.

(Florentino Serranheira, Antônio de Sousa Uvab e Paulo Sousa. Ergonomia hospitalar e segurança

do doente: mais convergências que divergências. Revista Portuguesa de Saúde Pública. 2010; vol

temat(10: 58-73)).

Conforme Estryn-behar & poinsignon citado por MARZIALE, M.H.P.; ROBAZZI,

M.L.C.C. O (dezembro 2000), o desenvolvimento rápido e contínuo da tecnologia médica, a grande

variedade de procedimentos e exames realizados, o aumento constante do conhecimento teórico e

prático exigido na área da saúde, a especialidade do trabalho, a hierarquização e a dificuldade de

circulação de informação, o ritmo e o ambiente físico, o estresse e o contato com o paciente, a dor e

a morte são elementos que potencializam a carga de trabalho, ocasionando riscos à saúde física e

mental dos trabalhadores do hospital.

Para alcançar os objetivos do trabalho prescrito, os profissionais de saúde colocam sua

própria saúde e segurança em risco. Eles se expõem a fatores de riscos físico, psíquicos e

biológicos.

As nossas organizações acreditam, muitas vezes, em verdades universais no trabalho e,

contrariamente à Ergonomia, desvalorizam a variabilidade, quer individual, quer do sistema,

designadamente os imprevistos, os acontecimentos fortuitos e os erros, menosprezando, dessa

forma, a riqueza que tal compreensão permite em matéria de melhoria de resultados (Florentino

Serranheira, Antônio de Sousa Uvab e Paulo Sousa).

Assim, a “Ergonomia Hospitalar” aborda a compreensão do trabalho num sistema de saúde

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onde interagem esses múltiplos “actores” (profissionais, doentes e familiares), podendo contribuir

para uma melhor concepção ou reconcepção, e participar, por exemplo, na:

Distribuição dos respectivos serviços no espaço, de acordo com parâmetros de

funcionalidade, de comunicação e de transferência e/ou deslocação de doentes no hospital;

Seleção e implantação dos equipamentos e organização funcional dos serviços e locais de

trabalho;

Organização de fluxos e sistemas de informação hospitalar que melhorem a comunicação

entre serviços onde existe elevada transferência de doentes (ex.: entre os serviços, o Bloco

Operatório e as UCI — Unidades de Cuidados Intensivos) ou frequente comunicação (ex.:

serviços clínicos e farmácia hospitalar);

Utilização de equipamentos, utensílios e dispositivos da prática clínica;

Organização e distribuição do tempo de trabalho dos profissionais de saúde, baseado nas

exigências organizacionais, nas reais cargas de trabalho (física e mental) e na fiabilidade e

resiliência humanas desses profissionais;

Segurança do Doente, designadamente nos processos de identificação, registo e análise do

erro clínico, erro médico e na prevenção de acontecimentos (ou eventos) adversos,

decorrentes da prestação de cuidados de saúde. (Florentino Serranheira, Antônio de Sousa

Uvab e Paulo Sousa).

O trabalho de enfermagem

'A abordagem ergonômica para análise da situação de trabalho de enfermagem tem sido

utilizada por estudiosos no mundo todo. No Brasil, MAURO et al. (1976) foram as pioneiras em

utilizar os princípios ergonômicos para analisar o trabalho de enfermagem e na última década houve

uma maior utilização da referida abordagem e um número crescente de estudos tem sido realizados.

MARZIALE (1990), estudou através da abordagem ergonômica a fadiga mental entre

enfermeiras que atuavam em hospital em esquema de turnos alternantes, constatando que o referido

esquema de horários era responsável pela inadaptação das enfermeiras as condições de trabalho.

BENEDITO (1994), estudou as exigências cognitivas das atividades executadas pelo pessoal

de Enfermagem em um hospital escola de Santa Catarina.

FARIA (1996), investigou as fontes geradoras de sofrimento psíquico para técnicos e

auxiliares de Enfermagem de um hospital público com vistas a conhecer o processo e forma de

organização do trabalho através da utilização da metodologia ergonômica.

BENEDITO & CONTIJO (1996) apresentam diversas conceitualizações para analisar os

processos mentais nos desenvolvimentos de tarefas e sua adequacidade para a análise dos processos

cognitivos na arte do cuidar da enfermagem.

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Estudos ergonômicos tem sido realizados para analisar as posturas físicas adquiridas na

execução das atividades de trabalho de Enfermagem buscando a adequação dessas atividades

respeitando os princípios da Biomecânica.

ALEXANDRE e seus colaboradores tem direcionado a atenção para estudos abordando

aspectos ergonômicos e posturais no transporte de paciente e em relação à ocorrência de

cervicodorsolombalgias entre a equipe de Enfermagem (ALEXENDRE et al.1991; ALEXANDRE

& ANGERAMI,1993; ALEXANDRE, 1998). Através dos referidos estudos foi constatado que

grande parte das agressões à coluna vertebral estão relacionadas a inadequação de mobiliários e

equipamentos utilizados nas atividades cotidianas de Enfermagem e com a adoção de má postura

corporal adotadas pelos trabalhadores.

ZEIROUNE (1996) estudou o desconforto lombar e as variáveis cinemáticas da postura do

profissional de Enfermagem. ROCHA(1997) também voltou sua atenção ao estudo dos problemas

posturais. Em sua dissertação de mestrado analisou os fatores ergonômicos e traumáticos

envolvidos na ocorrência de dor nas costas em trabalhadores de Enfermagem, constatando que 89%

dos trabalhadores apresentavam algum tipo de algia vertical, sendo a região lombar a mais

acometida.

Diante da constatação dos problemas causados pela inadequada postura em nossa prática

profissional voltamos também nossa atenção para os estudos das posturas adotadas durante a

execução de determinados procedimentos técnicos executados pelo pessoal de Enfermagem

MARZIALE et al. (1991); BERNARDINA et al. (1995) e MARZIALE (1999).

Outros autores abordaram aspectos gerais e metodológicos da Ergonomia. BULHÕES

(1998) dedica um capítulo de seu livro sobre riscos do trabalho de Enfermagem sobre como a

Ergonomia pode ajudar no trabalho. ERDMANN & BENEDITO (1995) publicaram um artigo

visando contribuir para a reflexão sobre o uso da Ergonomia como instrumento metodológico de

análise no processo de trabalho de Enfermagem e SILVEIRA (1997) se utilizou das contribuições

advindas da Ergonomia para formular uma proposta de metodologia de ação em Enfermagem

comprometida com a relação saúde vida laboral.' (MARZIALE, M.H.P.; ROBAZZI, M.L.C.C. O

trabalho de enfermagem e a ergonomia. Rev.latino-am.enfermagem, Ribeirão Preto, v. 8, n. 6, p.

124-127, dezembro 2000).

Após a constatação dos inúmeros fatores que podem ser relacionados à ergonomia no

trabalho de enfermagem, nesse estudo o foco será no estresse apresentado pelos enfermeiros.

O estresse no trabalho de enfermeiros

Conforme o estudo realizado por Silvana Lemke, intitulado 'Ergonomia e Enfermagem:

Análise em uma equipe de trabalho' (2009), o sintoma 'físico' mais apontado por uma equipe de

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enfermagem, relativos à fase de resistência do processo de estresse, foi a sensação de cansaço

constante.

ZEITOUNE (1996) citado em Lemke, Silvana (2009), em seu estudo sobre desconforto

lombar e as variáveis cinemáticas da postura profissional de enfermagem, ressalta que o tempo de

trabalho no mesmo setor, sem alternância, pode representar também situação de estresse. Questões

ergonômicas devem ser consideradas, discutidas e tratadas pela enfermagem e demais membros da

equipe de trabalho. É necessário que o profissional de enfermagem tenha uma postura mais crítica e

questionadora em relação ao seu ambiente de trabalho e a sua rotina, evitando a realização de tarefa

de forma ritualista.

Quando estas questões não são atendidas, o trabalhador convive com situações de violência

laboral. O trabalhador é violentado quando não lhe é propiciado boas condições de trabalho, a

população é violentada quando não recebe uma assistência de qualidade. Assim, se forma uma rede

de violência direta e indireta com o trabalhador que, sem condições adequadas, gera nele o

sofrimento de não conseguir desempenhar satisfatoriamente suas funções. Mesmo assim, ele faz

aquilo que é possível dentro das condições de trabalho que lhe são oferecidas, mas ao atuar o faz de

forma deficiente, violentando de forma indireta a população. Esta, por sua vez, reage agredindo o

trabalhador, física ou moralmente, direta ou indiretamente, dependendo da situação e da

personalidade das pessoas envolvidas (Costa, 2005) citado em ABRANCHES (2005) citado em

Lemke, Silvana (2009). As condições de trabalho e a sobrecarga provavelmente limitam a

competência profissional. Remetem à violência ocupacional, uma vez que o trabalhador insatisfeito

exerce mal suas responsabilidades, refletindo um cotidiano mecanizado, desumano e improdutivo.

Por intermédio da abordagem ergonômica, percebe-se que as ações de enfermagem são

essencialmente técnicas e estão fragmentadas em relação à integralidade proposta para agir em

saúde coletiva, o que repercute na resolutividade da atenção prestada e no direito da população,

ABRANCHES (2005).

Sendo assim, a problemática envolvida nos serviços de enfermagem envolvem posturas

estáticas/prolongadas, manipulação e transporte de pacientes, que – conforme alguns estudos –

resulta em lombalgias, cervicobraquialgias, tendinite, bursites, entre outras enfermidades. Percebe-

se, também, que há demandas cognitivas excessivas, baixo teor de autonomia, trabalhos em turnos,

além da violência explícita disfarçada ou ameaças, além de que devido à baixa remuneração esses

trabalhadores possuem outros empregos para contribuir em sua renda familiar. Muitos enfermeiros

apresentam fadiga física e mental, hipertensão arterial sistêmica (HAS), Síndrome de Burnout

(exaustão prolongada e desinteresse pelo trabalho), distúrbios do sono e digestivos, irritabilidade,

dentre outros.

Ergonomia na enfermagem

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A Ergonomia ocupa-se com a saúde do homem no trabalho em diversos aspectos, e a

utilização desta em variadas áreas possibilita a transformação da realidade. Seguindo essa

perspectiva, algumas considerações são feitas sobre a aplicabilidade da Ergonomia à Enfermagem,

dividindo-a em Ergonomia Física, Cognitiva e Organizacional.

A aplicabilidade da Ergonomia Física em Enfermagem relaciona a atividade física do

trabalhador e a abordagem de sua utilização no trabalho. Refere-se à aspectos relacionados à

anatomia humana, antropometria, fisiologia e biomecânica em sua atividade física. Estuda-se:

fadiga relacionada ao esforço muscular e sobrecarga de trabalho; desconforto e dor e queixas do

trabalhador; dimensões de alcances; capacidades antropométricas e biomecânicas dos trabalhadores

nos postos de trabalho; adequação ergonômica do posto de trabalho dos diferentes membros da

equipe bem como conforto e segurança; movimento, levantamento e transporte de materiais; força

física para posicionamento, transferência manual e transporte de paciente; instrumentos de trabalho

inadequados ou insuficientes; acidentes de trabalho e ou doenças ocupacionais; exposição a riscos

por elementos químicos, biológicos e radioativos; distâncias a serem percorridas assim como no

deslocamento; concepção de dispositivos técnicos científicos (materiais e equipamentos.) adaptados

às características e necessidades do trabalhador. (VILLAR., Rose Marie Siqueira, Produção do

Conhecimento em Ergonomia na Enfermagem (2002)).

A Ergonomia cognitiva em Enfermagem envolve análise de processos mentais e psíquicos e

modificações de situações de trabalho respeitando-se suas necessidades psicossociais. Estuda-se:

relações interpessoais, conflitos, sofrimento, prazer, satisfação, motivação, frustração e fadiga

mental (carga de trabalho/ esforço/ processos mentais); convívio com situações e pessoas em crise;

falta de identidade profissional e reconhecimento do trabalho; tensão emocional e ritmo intenso

associado ao estresse; grau de autonomia individual e profissional; vivência de situações limite

(vida e morte); prazer e estima pelo trabalho em Enfermagem; padrões de comportamento (gestos

posturas, verbalizações e comunicação); análise de exigências cognitivas, e de processos

psicológicos (mentais e comportamentais);dificuldades para a execução do trabalho em

Enfermagem relacionados ao distanciamento entre a teoria e a prática. (VILLAR., Rose Marie

Siqueira (2002)).

Enquanto a Ergonomia Organizacional refere-se ao contexto político econômico e social e

suas influências no trabalho da saúde e Enfermagem quer seja relacionado a política nacional de

saúde ou institucional. Estuda-se: desenvolvimento e interação inter e intra equipes e o local onde

atuam problemas de adaptação, inter-relacionamento; política de desenvolvimento de pessoal e

programas instrucionais; hierarquia; trabalho em turnos noturno, dupla ou tripla jornadas e suas

influências no trabalho; sistemas de avaliação; lideranças; implicações ético legais; conforto

ambiental (iluminação, temperatura, ruído e adequação do espaço físico); dimensões e

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características de mobiliários e equipamentos, de acordo com a atividade a estrutura física do setor;

erros humanos, acidentes de trabalho, absenteísmo e custos operacionais; produtividade e

rentabilidade, qualidade de vida no trabalho; sistemas de informação; condições de trabalho.

(VILLAR., Rose Marie Siqueira (2002)).

Através de estudos ergonômicos, diversas medidas podem ser aplicadas no ambiente hospitalar, visando “melhorar” as condições e o ambiente de trabalho dos enfermeiros. Segundo Iida (1998) algumas delas são:

o desenvolvimento profissional; ascenção profissional; treinamentos; redesenho do posto de trabalho; horário flexível de trabalho; horário de descanso durante a jornada de trabalho; alargamento ou enriquecimento de tarefas;

Outros estudos tais como (Villar, 2002) levantam outras propostas para adequar ergonomicamente os espaços físicos, com o propósito de diminuir as distâncias a serem percorridas pelos trabalhadores de Enfermagem; adequar equipamentos e mobiliários, de acordo com os padrões antropométricos dos trabalhadores; orientar os trabalhadores quanto à necessidade da utilização de posturas adequadas no trabalho; adequar à temperatura, o nível de ruído e a iluminação dos postos de trabalho, vislumbrando o oferecimento de conforto aos trabalhadores e não prejuízos à sua saúde.

Um grande problema encontrado são as queixas dos profissionais de saúde em relação à remuneração. Segundo Lee et al. (1990) citado em Ribeiro et al. (2005), discutem diversas formas de remuneração do trabalho na área de saúde, segundo a perspectiva de controle dos custos, dividindo-as por: ato médico ou procedimento; cada caso ou diagnóstico; captação de pacientes; tempo. Em termos puramente econômicos, os profissionais pagos por procedimento têm um incentivo para aumentar o número de consultas, mas limitar o tempo gasto com cada uma delas; aqueles que são pagos por caso têm um incentivo para diagnosticar e tratar mais casos, mas reduzir o número de consultas por caso; e os médicos reembolsados por captação podem ser motivados a aumentar o número de inscrição para poderem acumular muitos casos de pessoas doentes. A remuneração por tempo não tem um real incentivo financeiro para trabalhar em determinado nível, exceto o tempo.

Portanto segundo Ribeiro et al (2005) o papel da ergonomia hospitalar, é adaptar o homem a novas tecnologias de trabalho, buscando diminuir assim a carga física e mental gerada sobre o profissional.

As Normas Regulamentadoras na Legislação

No Brasil, o Ministério do Trabalho e Previdência Social institui a Portaria GM n°. 3.751, de

23 de novembro de 1990 que publicou a Norma Regulamentadora – NR17, a qual trata

especificamente da ergonomia. Segundo o Ministério do Trabalho e Previdência Social, essa norma

visa a estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características

psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e

desempenho eficiente (BRASIL, 1990).

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Há também a NR 32 – Segurança e saúde no trabalho em serviços de saúde instituída a

Portaria GM n°. 485, de 11 de novembro de 2005. Esta tem por finalidade estabelecer as diretrizes

básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos

serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde

em geral. (BRASIL, 1990).

A NR-32 abrange ainda a questão da obrigatoriedade da vacinação do profissional de

enfermagem (tétano, difteria, hepatite B e o que mais estiver contido no PCMSO), com reforços e

sorologia de controles pertinentes, conforme recomendação do Ministério da Saúde, devidamente

registrada em prontuário funcional com comprovante ao trabalhador. O profissional de enfermagem

deve atender a convocação para receber as vacinas, elas são importantes para a prevenção de

moléstias infecciosas que poderão estar presentes no ambiente de trabalho. Determina ainda

algumas situações na questão de vestuário e vestiários, refeitórios, resíduos, capacitação contínua e

permanente na área específica de atuação, entre outras não menos importantes (COREN-SP, 2009).

Considerações Finais

 

Ao final desta dissertação, podemos confirmar a existência de inúmeras fontes geradoras de estresses, interagindo no trabalho do enfermeiro de Unidade de Terapia Intensiva. Destacamos o conteúdo de trabalho, as condições do trabalho e os fatores organizacionais, como sendo os mais importantes.

Em relação ao conteúdo de trabalho, consideramos como maior agente estressor as inúmeras interferências, quanto à manutenção de sua produção, em virtude da impossibilidade de se manter o controle do que vai ocorrer nesta unidade, tanto no início, no decorrer ou mesmo no término de seu plantão. Este fato aumenta a responsabilidade do enfermeiro, pois este deve organizar e planejar toda a assistência prestada nesta unidade, gerando maior preocupação quanto à qualidade da mesma.

No que concerne às condições de trabalho, destacamos um ambiente tumultuado, com equipamentos especializados de alta tecnologia, com alguns riscos em relação a acidentes, no que tange à contaminação por materiais orgânicos, turnos de trabalho de 24 horas, envolvendo trabalho noturno e elevada carga de trabalho. Destacamos nesta categoria, a elevada carga de trabalho, onde as enfermeiras da unidade de terapia intensiva realizaram entre 100 a 164 atividades diferentes em seus plantões, envolvendo um alto componente cognitivo.

Dentre os fatores organizacionais, destacamos que, atualmente, é empregado um modelo de organização do trabalho concebido no início do século, com valores, informações e tecnologias daquela época. Isto implica na necessidade de se modificar o processo de trabalho, já que carrega algumas concepções tayloristas, que acreditava na divisão absoluta da tarefa, para aumentar a produtividade, pois minimizaria os erros.

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Para conseguir uma melhor satisfação no trabalho, devemos interferir na organização do mesmo, tornando-se imprescindível um tratamento humanizado, quer seja, levar em consideração o homem, tornando-o parte integrante do trabalho, minimizando as psicopatologias causadas na sua maioria pelo medo e ansiedade, decorrentes das próprias estratégias defensivas do ser humano.

Segundo Dejours (1992), a exploração das estratégias defensivas do trabalhador pela empresa, de início aumenta a produtividade, mas com o decorrer do tempo torna-se deletéria, causando muitas psicopatologias, as quais interferem no rendimento do trabalhador. Contudo, o mais importante é a deterioração que esta carreta ao ser humano, impossibilitando-o para o trabalho.

As situações de medo, insatisfação e ansiedade estão presentes na maioria das empresas hospitalares, as quais são proporcionadas principalmente pelas hierarquias rígidas, o domínio "necessário" para conseguir melhor produtividade, no entanto, para nós, fica muito claro que estas estratégias não funcionam a longo prazo. Para tanto, devemos tentar humanizar o trabalho, com o intuito de melhorar a satisfação, diminuir os medos e sanar a insatisfação resultante.

A organização do trabalho, respaldada na gestão participativa, tem um papel indiscutível, por exigir do trabalhador maior capacidade e possibilidade de decisão, mais criatividade e, sobretudo, maior satisfação no trabalho, refletindo na melhoria da competitividade.

Estas conquistas podem ser conseguidas através da abordagem ergonômica, demonstrando para a empresa hospitalar, como uma adequação do trabalho ao homem melhora a satisfação e minimiza as fontes geradoras de estresse.

Ressaltamos, contudo, que na área hospitalar, o produto final é a melhora da saúde do paciente, o qual também sofre agressões, muito semelhantes aos do profissional. Desta forma, sua melhora também está relacionada com a diminuição dos agentes estressores envolvidos em uma Unidade de Terapia Intensiva.

Portanto, na utilização de uma abordagem ergonômica, não devemos deixar de considerar o paciente, contudo, destacamos neste estudo, somente a análise ergonômica do profissional enfermeiro.

Na tentativa de moldar tais necessidades, sugerimos outros estudos, com a finalidade de integrar de maneira funcional os dois seres humanos envolvidos no processo. Cabe ressaltar que a pesquisadora pretende, a posteriori, realizar tal estudo, com a finalidade de criar novas propostas para o ambiente de uma Unidade de Terapia Intensiva.   

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