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ér te Polkin e Sociedade 11 Organização Nancy Cardin

NEV Coordenador

Coordem:ulora-adjun ta Pesquisadar Emérito Gere11re de Projeto

Reitor Vice-reitor

Diretor-presfrkn te

Presidente Více-presiden te

Diretora Edí roríal Diretora Comercial

Diretora Admin ístrativa Editora -assíste11te

NÚCLEO DE ESTUDOS DA VIOLÊNCIA - USP Sérgio Adorno Nanci Cardia Paulo Sérgio Pinheiro Sérgia Santos

UNIVERSIDAf>E OE SÃO PAULO

Adolpho José Melfi Hélio Nogueira da Cruz

EDllURA DA UNIVERSIDADE OE SÃO PAULO

Plínio Martins Filho

COMISSÃO EDJTORIAL

José Mindlin Oswaldo Paulo Forattini Brasílio João Sallum Júnior Carlos Alberto Barbosa Dantas Franco Maria Lajolo Guilherme Leite da Silva Dias Laura de Mello e Souza Plínio Martins Filho

Sílvana Biral [vete Silva Angela Maria Conceição Torres Marilena Vizentin

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Robert Reiner Professor de Criminologia

London School ofEconomics

A POLÍTICA

DA POLÍCIA

TRADUÇÃO

Jacy Cardia Ghirotti Maria Cristina Pereira da Cunha Marques

Da Terceira Edição - 2000

fORO FOUNDATION

NEV - Nücleo de Estudos da Violência-USP

ledUSp

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SUMÁRIO

Prefácio à Terceira Edição 13

Introdução: Política, Polícia e Policiamento 19

I. HISTÓRIA

1. O Nascimento dos Homens de Azul: O Estabelecimento do Policiamento

Profissional na Inglaterra, 1829-1856 37

2. Ascensão e Queda da Legitimidade da Polícia, 1856-1991 81

II. SOCIOLOGIA

3. A Cultura Policial 131

4. Desmistificando a Polícia: Pesquisa Social e Prática Policial 161

5. Mistificando a Polícia: O Policiamento Apresentado pela Mídia 20 l

III. LEI E POLÍTICA

6. Os Poderes da Polícia e a Responsabilização 239

7. Conclusão: Azuis do Finde Siêcle: Uma 1 listória do Futuro 281

Apêndice: Cronologia da História da Polícia 309

Referências e Bibliografia 311

Índice Reruissivo 357

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3 A CULTURA POLICIAL

Para uma compreensão de como os policiais vêem o mundo social e seu papel nele - a "cultura policial" -, é fundamental uma análise do que eles fazem e de sua função política geral. Isso não é para sugerir que exista uma correspondência recípro­ ca entre atitudes e comportamentos, como implicam duas críticas provocantes do conceito de cultura policial (P. Waddington, 1999a, cap. 4, 1999b). Waddington enfatiza a lacuna existente entre atitudes e comportamento, já há tempo estabelecida pela psicologia social. E também observa corretamente que muitos estudos de obser­ vação do trabalho da polícia mostraram que os policiais regularmente falham em pôr em prática as atitudes que expressaram na cantina ou em entrevistas, por exemplo, em relação a raça (ver, por exemplo, Black, 1971; Policy Studies Institute, 1983, vol.rv, cap. 4). Inclusive deve ser feita uma distinção importante entre a "cultura policial"> a orientação tida e expressa por policiais no curso de seu trabalho - e a "cultura cantin~ra" - os valores e crenças m~trados na ~ocializaçã,2 fora do "c~l~rimento ao dever" (Hoylc, 1998). Como Waddington aponta, essa última tem a importante ~ - n unção de descarregar as tensões, motivo pelo qual, normalmente, é caracterizada ~mÕhumor-negro sarcástico (M. Young, 1995). Eic ta~bém critica, com razão, mui­ tos usos da cultura policial, pela sua completa identificação com verbalizações coleta­ das tanto nas pesquisas como nas observações da cultura de cantina. Também há uma relação problemática com o trabalho policial na prática. No entanto, a cultura da po­ lícia não significa simplesmente atitudes da polícia.

O Oxford E11glish Dictionary define o significado "antropológico" de cultura como "todo o modo de vida de urna sociedade: suas crencas e idéias, suas instituicões e seu

IJI

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A POLfTIC.A DA POLICIA

isrernas suas leis e seus costumes" Culturas são complexos conjuntos de valores, atí- ' -- -- - - ----:----,;...._ rudes, símbolos, regras ,e práticas, que emergen~o as pessoas reagem às ex:igên-

~ias e situações que enfrentam, interpretãdas através de estiu~Ürãs co~n_ltl~e orientações que tra~m :_0nsigo de experiências an,teriores. A~ _cult!J.t~ das, mas não d.7ter11[1inad<!_s, pelas _eressões estruturais dos ~b1~t$> ~~.!119J~que Chan: 1997, chama de seu "situs"; seguindo o uso de BourdieuJ Ela~ s_e desenvolvem q_uar:_do as pessoas resp_?ndem de várias ma~eiras s~~fi~!JV!§, 9l!-~P2!JU~~z.!:~ as situações dentro das quais outros atuam. Em resumo, parafraseando Marx, pessoas p~dem ~ia;;a"; ~Jturas próp;i;s, ~~ nã~ -;o-b "condiçõ~;;-u~ ~~;-e;n""i>- - --- """--'"" ~ ,,, - - .•. - ~ lharn,

A cultura da polida - como qualquer outra, não é monolítica, embora certas aná­ lises tenham tido a tendência de retratá-las assim (por exemplo, Crank, 1998). Há va­ riantes particulares- "subculturas" - que se podem distinguir no interior da cultura policial mais geral, geradas por experiências distintas associadas a posições estrutu­ rais específicas, ou por orientações especiais que os policias trazem de sua biografia e histórias anteriores. Somado a isso, entre as forças, as culturas variam, modeladas por diferentes padrões e problemas de seus ambientes, e pelos legados de suas histórias. Apesar disso, pode-se argumentar que as forças policiais, nas democracias liberais modernas, vêem-se frente a frente com as mesmas pressões básicas similares que mo­ delam uma cultura distinta e característica em muitas partes do mundo, mesmo ten­ do ênfases diferentes 110 tempo e no espaço, e variações subculturais internas.

Hoje é um chavão, na volumosa ]íteratura sociológica sobre as operações e sobre o poder discricionário da policia, que os policiais da tropa são o principal determinante do polícíamento onde este realmente conta, nas ruas. Como colocou James Q. Wilson, "o departamento de polícia tem a característica especial [ ... ] de fazer crescer o poder discricionário na medida em que se desce na hierarquia» (T. Wilson, 1968, p. 7). Muitas vezes se argumenta que as regras legais e os reguJamentos do departamento são ques­ tões marginais quando se presta contas do funcionamento do trabalho da polícia. Muitos observadores mostraram que uma doutrina central da cultura altamente prá­ tica do policiamento é a de que "você não pode jogar pelas regras" As "leis" fundamen­ tais aplicadas pela polícia parecem ser, em geral, a "lei dos modos e meios" ["ways and means act"] e a "desobediência do tira". O impulso original para muitas das pesquisas ~obre ?_poder discridonár1o~a políci; nos an-~s 1960 e 1970

1 foi uma preocuJ,?~ão

libertária civil relativa ã extensão e às fontes dos desvios da polícia no que to..f_a_aQ pe_yi­ do processo legal, através da sua adoção de um modelo de "controle do crime" (Packer, l 9'68. Para uma amostra desses estudos clássicos, ver Reiner, 1,996a).

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A CULTURA POLICIAL

No final dos anos 1970, essa abordagem foi atacada pela crítica estruturalista, com mais destaque e eficiência por Doreen McBarnet (1976, 1978a, 1978 b, 1979, 1981)1• Ela argumenta que a crítica libertária civil não fez distinção entre a retórica abstrata sobre os valores gerais, que apóia o estado de direito, e as regras legais concretas: exis­ te "um abismo evidente entre a essência e a ideologia da lei" (McBamet, 1981, p. 5). Os direitos dos suspeitos, presumidos na retórica ideológica, não estão claramente inclusos em regras estatutárias ou do direito consuetudinário [ common law], de for­ ma que tenham efeitos práticos. As leis que regem a prática policial são suficiente­ mente permissivas para dar a eles uma ampla área de poder discricionário. Para legi­ timar tais práticas, as cortes parecem estar sempre prontas para adaptar ampliações das regras. Alguns autores, como Skolnick, ao assumirem que a polícia viola rotinei­ ramente a lei, fazem com que os funcionários de baixo-nível, "as 'vítimas fáceis' do sistema legal, levem a culpa por todas as injustiças" (McBarnet, 1981, p. 156). Mas a responsabilidade deveria ser colocada nas "elites iudiciais e políticas", que fazem re- - --------= - --- - - _ ___,_ _.., - - - gras suficient.:_mente elásti<?s 2ara assimilarem distancLaE.1~,!os ~s valores idealiza- dos da legalidade, do devido proce.s§Q legal, que a lei efetivamente estimula, ou rnes­ ~o ~éxige. O exame detalhado de McBarnet acerca do conteúdo e da execução das regras do procedimento criminal é de extremo valor. Mas não invalida a necessidade de análise da subcultura policial e das pressões situacionais [ que influem] no poder discricionário dos policiais. Dizer que as leis que regem o comportamento da polícia são "permissivas" é apenas sugerir que elas nem mesmo têm o sentido geral de deter­ minar o policiamento prático ( contrariamente à ideologia legal). Isso deixa urna li­ berdade muito grande para a cultura policial m~lgar a prática policial segundo as exi- gências-do rríõmei1to. - -

s regras legais não são nem irrelevantes para a prática policial nem a determinam completamente. O estudo do Policy Studies lnstitute ( 1983) distinguiu três tipos de re­ gras. As "regras de trabalho" são aquelas que os policiais têm, de fato, interiorizadas, de forma a se tornarem princípios efetivos que guiam suas ações. As "regras inibidoras" são regras externas, com um efeito inibidor - os policiais devem levá-las em conta, na sua

1. Sua crítica é, em muitos aspectos, semelhante ao debate de Gouldner ( 1968) com Becker ( 1963, 1967) e com o perspectiva de "rotular" geral, da qual Skolnick e outros estudos interacionistas do políciamente pelas tropa fazem parte. Seus argumentos indicando a necessidade de uma análise estruturulista do funcionamento dopo· der discricionário da policia, cm vez de um estudo culturalista, foi desenvolvida por Shearing (198111, 198 lb), por Ericson ( 1982) e M. Brogden e Brogden ( t 983a, 198311). 1\ apresentação mais inteligível e sofisticada dess, linha cstruturnlism é n tentativa rigorosa de desenvolver uma análise marxista da cultura e do funcionamento da policia, feita por Crimshew e Jefferson ( 1987). Pm1 tentativas de síntese entre interacionismo e estruturalis­ mo, ver McConville, Sanders e Leng, 1991; Reincre Leigh, 1992; O. Dixon, l f/97.

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A POLl1'!CA DA POL1CIA

' conduta, porque são específicas, pensadas para serem aplicadas e referem-se ao com­ portamento visível. As "regras de apresentação" são usadas para divulgar uma aparência externa aceitável às ações levadas a efeito por outras razões. A relação entre qualquer um desses conjuntos de regras e a lei é problemática. Regras legais bem podem ser usa­ das como uma forma de apresentação, ao invés de serem regras operacionais de traba­ lho ou inibidoras. E, então, elas funcionam como uma fachada ideológica, pela qual a maioria do público pode fazer vistas grossas à confusa realidade do policiamento.

Isto tudo significa que a resposta legalista padrão para revelações de ilícitos por parte da polícia-a criação de uma nova regra- pode ser irrelevante, ou mesmo con­ traprodutiva. Por outro lado, a lei formal "preto no branco" está longe de ser irrele­ vante para a prática policial As normas legais podem ser inibidoras ou tornarem-se a lei "letra-azul" das regras "de trabalho" da polícia, dependendo de inúmeros fatores. Essas foram esclarecidas acima de tudo pela pesquisa sobre o impacto da Police and Criminal Evidence Act [Lei da Polícia e das Evidências Criminais], de 1984, a ser exa­ minada no capítulo 6 (Reiner e Leigh, 1992; D. Dixon, 1997; D. Brown, 1997; B. Dixon e Smith, 1998).

A cultura da polícia - os valores, as normas, as perspectivas e as regras do ofício que direcionam sua conduta-com certeza não é monolftica nem universal nem imu­ tável. Existem diferenças de ponto de vista dentro das forças policiais, de acordo com variáveis individuais, tais corno personalidade, geração ou trajetória da carreira, eva­ nações estruturadas de acordo com a patente, a tarefa designada e a especialização. Em lugares e em momentos diferentes, os estilos organizacionais e as culturas das for­ ças policiais variam. As regras informais não são claramente definidas nem expressas, mas envoltas em práticas e em nuances específicas, de acordo com situações concretas particulares e com os processos de interé!_Ç~ de cada enfrentamento.

Apesar disso, certas características comuns da perspectiva policial podem ser per­ cebidas nos relatos de muitos estudos feitos em diferente, contextos sociais. Isso acon­ tece porque elas se originam de problemas constantes que os policiais enfrentam ao realizar o papel cujo mandato têm de exercer, a qualquer preço, em sociedades indus­ triais-capitalistas de ethos político liberal-democrático. A cultura policial desenvol­ veu-se corno uma série padronizada de acordos que ajudam os policiais a superar e a ajustar-se às pressões e tensões com que a polícia se confronta. Gerações sucessivas são socializadas nessa ~ultu~;, mas não como aprendizes passivos ou rnanipulados de regras didáticas. O processo de transmissão é mediado por histórias, mitos, piadas, explorando modelos de boa e má conduta que, através de metáforas, permite concep­ ções de natureza prática a serem exploradas a priori (Shearing e Ericson, 199 J ). A cul-

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A CULTURA POLICIAL

tura sobrevive devido à sua "afinidade eletiva", sua adequação psicológica às solicita­ ções impostas por serem policiais da tropa.

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CULTURA POLICIAL: AS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS

O texto clássico para discutir a cultura da polícia continua sendo o relato de Skolnick (1966) sobre a "personalidade de trabalho" do policial'. O que precisa ser adicionado à sua análise são as variações em tomo de seu modelo básico, dentro das forças policiais e entre elas. O retrato que Skolnick faz também não dá conta das di­ mensões politicamente relevantes da cultura policial. Esta cultura tanto reflete como perpetua as diferenças de poder dentro da estrutura social que ela policia. O policial é um mediador microcósmico das relações de poder dentro de uma sociedade - ele é o "político da esquina" (Muir, 1977). Os valores da cultura policial agem como um "pro­ cesso subterrâneo na manutenção do poder" (Shearing, 1981a).

Para construir um esboço da "personalidade de trabalho" do policial, Skolnick faz uma síntese de toda a pesquisa sociológica anterior com suas próprias descobertas (Skolnick, 1966, cap. 3). A "personalidade de trabalho" não é um fenômeno psicológico individual ( como, erroneamente, pode sugerir o termo "personalidade"), mas uma cul­ tura socialmente gerada. É a resposta a uma combinação única de facetas do papel da polícia: "duas variáveis principais, o perigo e a autoridade, que devem ser interpretadas à luz de uma pressão 'constante' de parecer eficiente" (Skolnick, 1966, p. 44) .

.::;.Q "perigo", no meio policial, não é adequadamente representado por estimativas

(quantitativas sobre o risco de danos físicos, embora esses não sejam pequenos. Gente em outras ocupações - por exemplo, construção e manutenção de torres, mineiros, mergulhadores de profundidade, quem trabalha com asbesto - pode ser exposta a

r maiores riscos de doenças relacionadas ao trabalho ou risco de morte. Mas o papel do policial é único, pois a base do seu trabalho requer que ele encare situações onde o

2. O mu~"do da f.Olí~i~ontinua sendo, agre~ivagie_nte, um mundo masculino, apesar da legish1çJo de oportuni- ã'aes iguais nos 'Estados Unidos e na Inglaterra (Fielding, 1994a). Na América, mesmo com a Equal Employ­ ment Opportunity Act [Lei de Igualdade de Oportunidade de Trabalho) de 1972, as mulheres permanecem, de forma inaceitáve], subreprescnradas em muitas forças (Heidensohn, 1989). Apesar de há muitos anos alguma forças já estarem enviando mulheres para patrulhas rotineiras, elas ainda enfrentam barreiras informais fantâs­ iicas para "invadir e entrar" nesta reserva masculina ( Ehrlich, 1980). As pesquisas inglesas também descobriram evidências incontestáveis de discriminação, tanto formal quanto informal, contra as mulheres, em flagrame desobedifocia à lei (Policy Studies Institute, 1983, vol. li, pp. 163-168, vol, IV, pp. 91-97; Bryant et ai., 1985; S. Iones, 1986, 1987; Hanmer, Radford e Sranko, 1989; M. Young, 1991; Heidensohn, 1992; Fielding e Fielding, 1992; Walklate, 1992, 1996; ). Brown, Maidrnent e Buli, 1993; Ç, Martin, 1996). Assim, falar sobre=os" policiais não é apenas uma forma de expressJo, mas, na maioria das vezes, uma descrição literal,

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A. POLfTICA DA POLfCIA

risco está no resultado imprevisível do enfrentamento com outras pessoas (Crank, 1997, cap, 8). O policial enfrenta ameaças de ataque súbito por outras pessoas, e não os riscos mais calculáveis do acaso, físicos ou ambientais. :É claro que a extensão da seriedade é variável. Mas, ao dobrar cada esquina, a cada campainha que toca, o poli- ial enfrenta perigos, que, se não são armas de fogo podem ser, no mínimo, punhos.

O perigo é inerente à autoridade que é parte integrante do meio policial. Isto por­ que ao representar a autoridade, tendo por trás o uso potencial da força legitimada, o policial enfrenta o perigo proveniente daqueles que resistem ao exercício de tal auto­ ri~ táticas e a organização tradicional da policia britânica têm sido direciona­ das para minimizar o uso da força, pela transformação do poder em autoridade, que transforma o policial em símbolo individual e impessoal de urna lei universalmente aceita. Mas cada enfrentamento dessa representação pode ser desafiado quando a au­ toridade tem de ser exercida sobre alguém. Assim, o perigo e a autoridade são elemen­ tos interdependentes no mundo da polícia, para os quais a cultura policial desenvol­ veu uma série de regras de adaptação, receitas, retórica e rituais.

Skolnick propõe um terceiro elemento, ambiental, na produção da cultura poli:._ cíal; "a pressão colocada sobre cada policial individualmente para 'pro_duzir' - para ser mais eficiente do que legal, quando as duas normas estão em conflito" (Skolnick, 1966; pp. 42,231). Sem dúvida nenhuma, os policiais sofrem pressões políticas exter­ nas por "resultados': que podem ser maiores ou menores em períodos diferentes, de acordo com pânicos morais particulares ou com tendências em estatísticas de crimes. Sob pressão para obter "resultados': sob a forma de solução de casos, os policiais sen­ tem-se impelidos a ampliar.seus poderes e a violar os direitos dos suspeitos.

esse aspecto, Skolnick superenfatiza o gr-;_u dne co~pulsão-;xterna. As expectati­ vas do público são, em si, inflacionadas pela propaganda da polícia sobre suas capaci­ dades como combatentes do crime, que ela elegeu como seu mandato principal (Manning, 1977). Os policiais, na sua maioria, estão intrinsecamente dedicados ao objetivo de "manutenção da ordem" e "do combate ao crime".

Missão - Ação- Cinismo - Pessimismo

Uma característica central da cultura policial é um sentido de missão. É o senti­ mento de que o policiamento não é apenas um trabalho mas um meio de vida com um propósito útil, pelo menos a princípio .. ":Ê uma seita - é como uma religião, a for­ ça policial." (Depoimento de um guarda; citado em Reiner, 1978, p. 247.) O propósito é visto não como um empreendimento político, mas como a preservação de um modo de vida válido e a proteção dos fracos contra os predadores. A justificativa principal

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A CULTURA POLICIAL

do policiamento é uma perspectiva centrada na vítima. Como me disse um guarda: "Falando do ponto de vista de um policial, não se dá a mínima se oprimimos quem rompe a lei, porque, ao modo deles, eles são opressores" (Reiner, 1978, p. 79).

A missão de policiamento não é vista como uma coisa irritante. É divertida, desa­ fiadora, excitante, um jogo de sabedoria e habilidades. Muitos analistas têm acentua­ do os aspectos hedonistas, centrados na ação, da cultura policial (especialmente Holdaway, 1977, 1983; Policy Studies Institute, 1983, vol.rv, pp. 51-56; Skolnkk e Pyfe, 1993; Celler e Toch, 1996; Crank, 1998). Tais aspectos são, sem dúvida, muito fortes e de import~ci_'.1 ~en~ principal produto em que a polícia é viciada é a adrenalina (Graef 1989). Mas as emoções da caça, a luta, a captura, a "síndrome de machismo" (Reiner, 1978, p. 161), apesar de serem momentos especiais, raros de acontecer no tra­ balho, não são apenas um esporte. Eles podem ser desfrutados sem inibições e com prazer, porque também são vistos como valendo a pena. Aos seus próprios olhos, o policial é um dos "caras bons': e é isso que lhe dá licença para agir. Ele não é apenas um motorista de corrida ou um lutador de boxe usando um uniforme azul.

Tal moralização do mandato policial é, em muitos aspectos, enganosa, pois omi­ te a realidade mundana dos aspectos do dia-a-dia do policiamento, que é sempre te­ diosa, confusa, mesquinha, trivial e venal. Ela permite a omissão dos elementos uni­ versalmente aprovados da tarefa policial ( como capturar um assassino) e o papel político do policiamento, em manter um estado e uma ordem social específicos. Cer­ tamente o "manto sagrado" (Manning, 1997, p. 21), sempre lançado sobre o trabalho policial, pode ser uma ferramenta da organização, protegendo e melhorando seus in­ teresses em obter maiores recursos, poder e autonomia independentes de exame mi­ nucioso. Apesar disto, para entender o trabalho da polícia, é importante saber que ele é visto como uma missão, um imperativo moral, e não apenas como um outro traba­ lho qualquer. Isto faz com que suas práticas estabelecidas sejam mais resistentes are- formas do que se fossem somente um interesse egoísta. ---'

Na perspectiva da polícia, os elementos dessa missão se refletem no senso que ela tem de si mesma como sendo "a tênue linha azul" exercendo um papel essencial na salvaguarda da ordem social. O mito da indispensabilidade da polícia, de sua missão essencial "de proteger e servir': é de importância fundamental para a visão de mundo da polícia. Até mesmo grande parte dos delitos da polícia tem sido atribuída a discu­ tíveis buscas equivocadas de uma "causa nobre'; o dilema de "Dirty Harry'" de chegar

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' Personagem de Cltnt Eastwood que aparece em urna série de cinco filmes. o primeiro deles tendo, em português, o título Perseguidor lmplacável (N. du T.).

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A POL(TICA DA POLfCI

a fins essenciais usando meios escusos (Klockars, 1980; P. Waddington, 1999, pp. 112- 114; R. Morgan, 2000).

Apesar disso, os policiais tendem a adquirir uma série de pontos de vista descri­ tos, corretamente, corno "cínicos" ou como "pessimismo policial" (Niederhoffer, 1967; Víck, 1981 ). Quase sempre eles desenvolvem uma couraça amarga, vendo todas as ten­ dências sociais em termos apocalípticos, com a policia sendo a minoria sitiada preste a ser aniquilada pelas forças da barbárie (Reiner, 1978, cap, 11). Essa perspectiva pes­ simista só é cínica em um sentido- no desespero por sentir que a moralidade, da qual o policial ainda é parte, está sendo erodida por todos os lados. Não é um cinismo wildeano", que sabe o preço do tudo e o valor do nada. Assemelha-se mais à visão marxista do fetichismo das mercadorias: o preço infelizmente mascarou o valor. A verdadeira força do rígido ponto de vista dos policiais deriva-se da capacidade de re­ cuperação de seu senso de missão. O cinismo é a face de Jano** do compromisso.

Obviamente, entre os policiais, varia a importância de um senso de missão. Era muito mais evidente naquele tipo que classifiquei como "os novos centuriões" (usan­ do o titulo do livro policial pioneiro, de Joseph Wambaugh, 1971), do que naqueles que o jargão chama de "cabides de uníforme"; que fogem ao trabalho o máximo que podem (Reiner, 1978, cap. 12). Mas muitos (se não a maioria) dos "cabides de unifor­ me", com sua visão essencialmente cínica ("É a sobrevivência do mais adaptado [ ... ] Você tem que cuidar bem é de quem ( i.e. ele próprio) é mais importante ( ... ) O policial deve sugar o máximo do seu trabalho.") ficaram desse jeito exatamente pelas conse­ qüências dos desapontamentos da carreira, que destruíram um senso anterior de missão.

Sem dúvida alguma, muitos policiais vêem sua luta com os "vilões" como um jogo ritualístíco, um desafio divertido, sendo que "ganhar" é prender, o que dá mais satisfação pessoal do que qualquer sentido de serviço público. Mas, essa visão cínica pode muito bem funcionar como um escudo de autoproteção para reduzir a ansieda­ de que, de outra forma, poderia surgir quando não conseguem pegar os assaltantes', Um guarda me advertiu:

Refere-se a Óscar Wilde, escritor inglfs do final do século XJX e começo do século XX {N. da T.). •• Deiu romano, com duas faces, uma oposta à outra, sugerindo vigilância constante. Era o guardião das portas

durante o período de paz, quando as portas de seus templos permaneciam fechadas, e o deus do Estado romano durante as guerras.Aqu] significa ser hipócrita, ter "duas caras" (N. da T.).

3. Isto também serve para resolver o problema "Dirty Harry" em que=o policiamento constantemente coloca seus praticanteli em silUaçõel nas quais o bem é obtido através de meios ruins". Este é "um dilema moral genuíno ( ... 1 do qual não se pode sair inocente, independente do que se faça" (Klockars, 1980, p. 33 ). O cinismo é claramente o resultado psicológico possível.

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A CULTURA POLICIAL

Todo trabalho policial é um jogo. Você pega gente que age errado, e as pessoas que ten­ tam fazer errado, e prende. Algumas vezes quem age errado é pego, algumas vezes não. Se eles são pegos e roubaram, se roubaram e foram denunciados, muito bem. Se não, não dá para ficar emocionalmente envolvido.

Dessa forma, o cinismo sobre pegar-ladrão como sendo um jogo é funcionalmen­ te análogo ao papel do humor como forma de relaxar a tensão, expresso neste lema: "Se você não agüenta uma piada, não deveria ter aceito este trabalho" (Reiner, 1978, pp. 216-217; Holdaway, 1983, pp. 138-154; M. Young, 1995; P. Waddington, 1999, pp. 114-116).

A essência da visão da polícia é a mescla sutil e complexa dos temas de missão, amor hedonista por ação e cinismo pessimista. Cada um alimenta e reforça o outro, mesmo que superficialmente possam parecer contraditórios. Eles levam a urna pres­ são por "resultados" que pode prejudicar os princípios legalistas do devido processo legal. Contrariando o relato de Skolnick, essa pressão por "eficiência" não deriva prin­ cipalmente de fatores externos, mas de uma força motivadora básica, interna à cultu­ ra policial. No entanto, ela se relaciona, de fato, com outras facetas da cultura policial

/ ;k:tuspeição, o isolamento/solidariedade, o conservadorismo - da forma como

\_..-- nick sugere.

A Suspeição

Muitos policiais estão cientes de que seu trabalho desenvolveu neles urna atitude de suspeição constante, que não pode ser desligada instantaneamente. A suspeição é produto da necessidade de manter certa atenção para a sinalização de problemas, de perigo potencial e de pistas de crimes. B uma resposta ao perigo, a elementos de auto­ ridade e eficiência no ambiente, e também um efeito do sentido de missão. Os policiais precisam desenvolver mapas cognitivos detalhados do mundo social, de forma a po­ derem prever e lidar rapidamente com os comportamentos de um grande número d pessoas, em diferentes contextos, sem perder a autoridade em nenhum desses en­ frentamentos (Rubinstein, 1973, caps. 4-6; Holdaway, 1983, caps. 6-7; Kernp, Norris e Fielding, 1992; P. Waddington, 1999, pp. 101-102). Tais estereótipos criados pela polí­ cia têm sido objeto de muitas críticas. Essas críticas sugerem que estereótipos de P' "· síveis criminosos se tornam profecias que se auto-realizam, na medida em que pessoas com aquelas características são interrogadas ou presas ele forma desproporcional, le­ vando a um ciclo vicioso de amplificação de desvios comportamentais (J. Young, 1971). No entanto, criar estereótipos é uma ferramenta in

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A POLfTICA DA POLíCIA

endêmica ao trabalho da políeis. O ponto principal não é sua existência, mas seu grau de embasamento na realidade e o quanto ajuda de fato, em oposição a ser explicita­ mente discriminatória, de um modo preconceituoso - e desta forma, não só ser injus­ ta mas também contraprodutiva para os próprios objetivos da polícia (Banton, 1983).

- -A suspeição não se desenvolve apenas das condições inerentes ao trabalho da polícia; ela é deliberadamente encorajada pelo treinamento. Skolnick cita um manual americano que dá orientação detalhada para interrogatórios de campo, que começa assim, "Suspeite. Esta é uma atitude policial sadia". Entre as dicas do tipo Ardil 22*, para sinais do suspeito "incomum': que deve ser interrogado, estão: "7. Despreocupa­ ção exagerada a respeito do contato com o policial. 8. í\gitação' perceptível quando está próximo ao policial" (Skolnick, 1966, pp. 45-46). Um guia similar a respeito do "anormal", que envolve a maior parte da população, é encontrado em um manual de campo inglês, de David Powis, um ex-comissário assistente da Polícia Metropolitana. Powis inclui em sua lista de tipos suspeitos os políticos radicais ou intelectuais que "vociferam expressões extremistas': ou pessoas que portem cartões do tipo "seus di­ reitos" (Powis, 1977, p. 92).

Embora a suspeição e a estereotipagem da policia sejam inevitáveis, as categorias específicas que geralmente as transmitem refletem as estruturas de poder da socieda­ de. Isto serve para reproduzir tais estruturas através de um padrão de discriminação implícita.

Isolamento/Solidariedade

Muitos analistas enfatizaram a acentuada solidariedade interna dos policiais, li­ gada ao isolamento social [Clark, 1965; WestJey, 1970, cap. 3; Caín, 1973; Reiner, 1978, pp. 208-213; Graef, 1989; Skolnick e Fyfe, 1993; Crank, 1998, cap. 15; P. Waddington, 1999, pp, 99-IOI, 117). Eles têm sido chamados de "uma raça à parte" (Banton, 1964), "um homem à parte" (Iudge, 1972), "uma minoria sitiada" (Alex, 1976).

Sem dúvida muitos policiais têm relatado dificuldades em se misturar com ci­ vis na vida social em geral. Tais dificuldades se originam dos turnos de trabalho, da falta de horário, das dificuldades em se desligar das tensões geradas pelo serviço, de aspectos do código de disciplina, e da hostilidade e do medo à polícia que os cida­ dãos podem mostrar. O isolamento social é o preço a ser pago pela política de Peel,

' Rd'tr~ncia a Catdt 22, livro de Joseph Heller, O Ardil 22 é uma situação em que qualquer resposta dada será usada contra quem rt>ipondeu (N. da T.).

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A CULTURA POLICIAL

Rowan e Mayne, de elevar a polícia britânica a símbolo de autoridade impessoal, e foi, até certo ponto, o resultado direto das políticas de recrutamento que tinham como objetivo o distanciamento dos policiais de suas comunidades locais (W. Miller, 1999, pp. 26-28). A solidariedade interna é produto não só do isolamento, mas também da necessidade de ser capaz de confiar nos colegas em uma situação difícil, e uma armadura protegendo a força como um todo, para que o público não conheça suas infrações. Muitos estudos têm enfatizado o poderoso código que pro­ íbe os policiais de denunciarem uns aos outros quando enfrentam investigações ex­ ternas (Stoddard, 1968; Westley, 1970, cap. 4; Shearing, 1981 b; Punch, 1985; Skolnick e Fyfe, 1993; Kleinig, 1996; Newburn, 1999). Os delitos que os colegas pro­ tegem nem sempre são grandes infrações que devam ser protegidas dos olhares ex­ ternos. A solidariedade da tropa quase sempre tem como objetivo esconder, da aten­ ção dos policiais de supervisão, pequenas violações (que Cain, 1973, p. 37, chama de "comportamento relaxado").

Isto aponta para um aspecto enganoso da ênfase na solidariedade e no isola­ mento. Primeiro, negligencia a importância dos conflitos dentro da organização policial. Alguns desses conflitos estão estruturados na hierarquia das patentes e na divisão de trabalho na força, isto é, entre os que usam uniforme e as divisões de detetives. É verdade que, quando se enfrentam ataques externos, tais conflitos inter- .._ •. nos quase sempre podem ser sobrepujados pela necessidade de apresentar uma fren­ te unida. Mas nem sempre é assim. A divisão fundamental entre os "tiras das ruas" e os "tiras administrativos" pode ser reforçada face a uma investigação externa (lanni

1 e Ianni, 1983 ). Os "tiras administrativos" são ridicularizados pelos policiais operacionais, com "vivência nas ruas". A profundidade dessa divisão deve-se às di­ ferentes funções, quase sempre contraditórias, dos dois níveis. A "administração" tem de planejar uma face aceitável, legalista, racional do policiamento para o públi­ co. Isso pode significar, em algumas circunstâncias, a cumplicidade com a conduta inadequada, sendo que, deliberadamente, coisas são escutadas, vistas e nada é fala­ do. Mas, quando as pressões por mudanças se tornam intensas, a "administração" pode ser forçada a confrontos com o nível das ruas. De uma certa forma, entretan­ to, a aparente divisão e o conflito entre a "rua" e as orientações da "administração" funcional para a própria organização (Grimshaw e Jefferson, 1987). Ela permite que estratégias de apresentação sejam adotadas pelos níveis administrativos, sem o co­ nhecimento real do que estas estratégias podem encobrir, ao mesmo tempo que o sacrifício de alguns indivíduos como sendo "desonestos" ratifica a eficiência do pn ,­ cesso disciplinário como um todo.

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A POLíTICA DA POLIClA

A perspectiva do "eles» e "nós'; que é uma característica da cultura policial, cria distinções claras entre os tipos de "eles" (assim como os tipos de "nós). Quando filtra­ da por problemas específicos do trabalho policial> a perspectiva da polícia sobre as divisões sociais na população reflete claramente a estrutura de poder (Reiner, 1978, cap.11; Shearing,] 98la,J98Ic; J. ]. Lee, 1981; Holdaway, 1983, cap. 6; Young, 1991).

A estrutura social, como é percebida pela polícia, é uma em que as rígidas distin. ões de classe do passado se erodiram. Muitos policiais endossam um ideal igualitário resurnido por observações do tipo "nada me daria mais prazer do que ser capaz de ar um flagrante no prefeito"). Ao mesmo tempo, estão agudamente atentos às dis­ inções de status que existem (e de sua necessidade de estarem bem sintonizados com tais diferenças, ao dar e ao esperar o nível apropriado de respeito): "Aqui você lida com todo mundo. Desde a forma básica de vida humana, nas condições selvagens das áreas ruins, até a elite da cidade. Os jantares bacanas que se estendem. Você tem de lidar com todos" (depoimento de guarda uniformizado). A sociedade não dá oportu­ nidades justas e iguais, como um guarda me disse: "É duro para um garoto se sua mãe e prostitui, e seu pai está sempre bêbado".

As divisões cruciais para a polícia não se adaptam rapidamente nas categorias de classe ou status de um sociológo. Elas são categorias relevantes para a polícia, criadas por seu poder de causar problemas e por sua coerência com o sistema de valores da polícia (Norrís, 1989; M. Young, 1991; Kemp, Norris e Fielding, 1992). A divisão fun­ damental está entre os elementos dificeis e os respeitáveis, entre aqueles que desafiam e aqueles que aceitam os valores de decência da classe média, que muitos policiais respeitam. Mas podem ser feitas distinções mais refinadas dessas categorias geradas pela problemática da policia. Podem ser distinguidos sete grupos importantes: "la­ drões com categoria"; "propriedade da polícia"; "lixo"; "provocadores"; "bonzinhos"; "'benfeitores"; e "políticos".

"Ladrões com Categoria"

"Ladrões com categoria" são criminosos profissionais ( ou ao menos com expe­ riência) (Policy Studies lnstitute, 1983, vol. IV, pp. 6 J -64). Ir atrás deles é visto como importante, desafiador e gratificante, de fato a raison d'être [razão de ser] da vida do policial, embora raramente seja o caso para o policial comum. Além disso, esses la­ drões parecem jogar o jogo com as mesmas condições que a polícia. Embora obvia­ mente desejem evitar a prisão, via de regra eles não desafiam a legitimidade básica da polícia. As relações com eles podem até ser amigáveis - de fato, podem ser cultivadas por ambos os lados em troca de favores -, a tênue fronteira da corrupção.

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A CULTURA POLICIAL

"Propriedade da Policia"

"Uma categoria se transforma em propriedade da polícia quando os poderes do­ minantes da sociedade (na economia, na política etc.) deixam os problemas de con­ trole social nas mãos da polícia" (J. Lee, 1981, pp. 53-54). Eles são grupos de baixo status, sem poder, vistos pela maioria dominante como problemáticos e desagradá­ veis. A maioria está preparada para deixar a polícia lidar com sua "propriedade" e fa­ zer vista grossa para a maneira como isso é tratado. Como exemplos temos os vaga­ bundos, os alcoólatras de áreas deterioradas, os desempregados ou com empregos eventuais em tarefas que ninguém quer, jovens que adotam um estilo de vida fora dos padrões, minorias étnicas, gays, prostitutas e organizações políticas radicais. A princi­ pal função da polícia sempre foi a de controlar e segregar grupos assim, e ela está ar­ mada com uma bateria de leis permissivas e discricionárias para tal finalidade (acres­ cida recentemente pela Crime and Disorder Act [Lei do Crime e Desordem] de 1998; ver Ashworth et al., 1998). A preocupação com a "propriedade da polícia" não é tanto a de aplicar a lei, mas a de manter a ordem usando a lei como um dos recursos, entre outros. Nisso, a tática de parar-e-revistar tem sido uma prática tradicional e contro- versa (A. Sanders, 1997, 1058-1060; Fitzgerald, 1999). _

Um grande problema para a polícia é confundir um membro do grupo de status elevado com sendo propriedade da polícia. O perigo é reforçado ao policiar grupos de minorias étnicas, em que o policial não está sintonizado com os sinais de respeitabili­ dade. É também um problema que tem se acentuado para a polícia com o crescimen­ to da classe média respeitável envolvida em atividades "fora dos padrões': Quem pro­ testa em uma passeata ou o hippie que fuma maconha pode ser um professor universitário ou um advogado. __.,j

1.J,

"Lixo"

O "lixo" são pessoas que, ao chamar a polícia, são vistas como bagunçadas, intratãveís, indignas de atenção, ou cujas queixas são resultados de seus próprios er­ ros (Policy Studies lnstitute, 1983 vol. iv, pp. 64-66). As brigas domésticas são o tipo de chamado vistos como "lixo" por muitos policiais: "Em algumas brigas domésticas, o marido e a mulher vivem como gato e cachorro, você tem que conseguir separar e acalmar eles antes de ir embora. E você não tá fazendo um trabalho de policial, voe tá fazendo um trabalho de socialista [sic]" (Reiner, 1978, pp. 214-215, 244-245). "lixo" é composto essencialmente por pessoas que fazem parte do grupo "propried .• - de da polícia" que se apresentam como vítimas ou como clientes dos serviços, como

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A POl.fTICA DA POL1CIA

mpre fazem. Uma das maiores d isomorfismo social das vítimas e dos 1997, 580-586; Home Office, 1999, caps. 2, 3).

berras das pesquisas sobre crimes, de fato, e o (Maguire, 1997, pp. 161-179; Zedner,

'Provocadores"

Os "provocadores" são definidos por Holdaway (1983, pp. 71-77) como aqueles cujo trabalho, rotineiramente, permite que penetrem a intimidade da cultura policial, o que lhes dá poder e informação, e com isso podem desafiar o controle da policia obre os considerados de sua [dela} "propriedade". Médicos, advogados, jornalistas e assistentes sociais estão nessa posição (assim como pesquisadores da polícíal). Têm sido feitos esforços para minimizar sua intromissão e são usadas práticas de apresen­ tação para colorir o que eles vêem. O desenvolvimento de esquemas, inspirados por carm •• n, para apresentar as delegacias aos visitantes, é urna tentativa de resguardar a

entrada regular de "provocadores" organizados nos bastidores do ambiente policial (Kemp e Morgan, 1989). A PACE tentou facilitar o acesso de "provocadores" apropria­ dos, tais como advogados prestando serviços ou "adultos com justificativas". Mas con­ tinua discutível até onde isso teve sucesso em conseguir furar a baixa-visibilidade que camufla as decisões policiais nas ruas e nas delegacias (ver capítulo 6 neste volume; Thomas, 1988; A. Sanders e Bridges, 1990; McConville, Sanders e Leng, 1991; D. Brown, 1997; D. Dixon, 1997; Choongh, 1998).

"Bonzinhos"

"'Bonzinhos' são membros de grupos que podem enfraquecer ou neutralizar o trabalho da polida" (Holdaway, 1983, pp. 77-81). Eles são grupos difíceis de lidar, tan­ to quando são suspeitos como quando são vítimas, testemunhas ou prestam serviços, porque são vistos como socialmente vulneráveis e, por isso, as alegações que fizerem contra a polícia podem receber uma simpatia especial. Holdaway especifica como sen­ do os principais "bonzinhos" as mulheres, as crianças e os mais velhos.

Qualquer um pode vir a se tomar um "bonzinho" inesperado, devido à ingenui­ dade ilimitada do público, assim o policial tem de ficar cauteloso em cada situação. Um guarda me contou sobre um incidente onde desistiu de multar um homem por velocidade acima de 104 quilômetros por hora [65 m.p.h.] na cidade, após esse ter explicado que sua esposa estava em trabalho de parto. "Quinze dias depois ele escreve para o chefe de polícia, explica toda a situação e quer me agradecer. Eu fui envolvido e recebi a maior bronca por ter perdoado a multa por ele estar a 104 quilômetros por hora. Ele me jogou direto nela." (Reiner, 1978, p. 246.)

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A CULTURA POLICIAL

"Benfeitores"

"Benfeitores" são principalmente ativistas antipolícia, que criticam a polícia e or­ ganizam-se para limitar-lhe a autonomia (Reiner, 1978, pp. 221-223). O exemplo principal é o "National Council for the Prevention of Polícemen Doing Their Duty'" ( o NCCL [National Council for Civil Liberties], agora chamado de Liberty). "Estamos passando por uma inundação de benfeitores que não fazem bem nenhum! [ ... J Eles gritam e gritam para criar problemas ou eles perdem a função" (guardas uniformiza­ dos; Reiner, 1978, pp. 221-223). Da perspectiva da polícia, o desenvolvimento nos anos 1980 dos grupos de monitoramento da polícia representam uma proliferação desses "benfeitores" (Jefferson, McLaughlin e Robertson, 1988; Mcl.aughlin, 1994).

I

Políticos

Os políticos são vistos com suspeição (Reiner, 1978, pp. 76-81). Eles são idea­ listas em torres de marfim remotas e irreais, egoístas corruptos, subversivos disfar­ çados, ou simplesmente muito fracos para resistir à infâmia. Infelizmente, entre­ tanto, têm o poder de fazer leis. Os advogados e juízes envolvidos na administração da lei tendem a ser do mesmo estofo e não são vistos como melhores. "O problema é que o Governo pensa que eles estão fazendo leis para gente educada ( ... ] Mas o povo aqui é de animais, eles são estúpidos [ ... ] Os Membros do Parlamento estão todos fora de contexto [ ... ] Eles vivem num mundo diferente. Eu quero dizer, cada refeição que estes políticos comem tem seis pratos!" (depoimento de guarda unifor-

izado: Rciner, 1978, pp. 76-81 ).

Acossada por todos esses elementos ameaçadores, a policia se torna um grupo solitário: "Nós somos uma comunidade unida. Temos que defender uns aos outros porque somos atacados de todos os lados. Somos atacados de fora, pelo público em geral, somos atacados pelos advogados, pelos QCs (Conselheiros da Coroa), recebe­ mos ataques até de nossos próprios chefes" (Reiner, 1978, p. 246).

Penetrando a percepção que a polícia tem da estrutura social, está uma distinção entre os grupos sem poder, da base da hierarquia social, que fornece o "lixo" e a "pro­ priedade da polícia': e as camadas sociais respeitáveis, cada uma com segmentos dis­ tintos que, de diversas formas, ameaçam os interesses da polícia. Através de suas ope­ rações, a cultura da polícia tanto reflete como reproduz a estrutura de poder mai ampla.

' Ironicamente, "Conselho Nacional pum Prevenção de Policiais Cumprindo o Dever" (N. da T.).

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A POLtTICA DA POLICIA

O Conservadorismo da Polícia

evidências que temos das orientações políticas dos policiais sugerem que, tan­ to política quanto moralmente, eles tendem a ser conservadores. Em parte isso se deve à natureza do trabalho, Os "clientes" rotineiros da polícia são originários das camadas mais baixas da ordem social. Mas o controle dos elementos marginais não é, necessa­ riamente, algo contra o que até mesmo membros politicamente conscientes da classe trabalhadora possam ter aversão. Entretanto, em seu papel na ordem pública e, mai ainda, no trabalho de setores especificamente políticos do "alto policiamento', a polí- ia tem sido rotineiramente empurrada contra o trabalhismo organizado e contra a esquerda (Lipset, J 969; Skolnick, 1969; Bunyan, 1977; Brodeur, 1983; J. Morgan, 1987; Weinberger, 199L 1995, cap. 9; Vogler, 1991; P. Gill, 1994, I997a, 1997b; Brewer et al., 19%; Mazover, 1997; Huggins, 1998; Della Porte e Reiter, 1998). Além disso, desde o começo, a força foi construida como uma organização hierárquica altamente discipli­ nada. Assim, o policial com pontos de vista mais conservadores está mais apto a se encaixar. Processos de seleção e de auto-seleção levam os policiais a serem conserva­ dores.

No entanto, existem pressões contraditórias no trabalho. A ponderação fiscal e política desde o começo ditou as políticas de salários e de recrutamento, o que signifi­ ca que a maior parte dos policiais era originária da classe trabalhadora; e esses proces­ sos ainda funcionam hoje em dia. Mesmo os policias chefes têm, predominantemen­ te, origem na classe trabalhadora (Reiner, J 991, cap. 4; Wall, 1998). A polícia é um grupo de empregados cujos protestos a respeito de salários e condições de trabalho geraram militância e organização de sindicatos semelhantes aos de outros trabalha­ dores (Reiner, 1978; Judge, 1994). A "desradicalização" do policial não foi automática, mas teve de ser construída (e continuamente reconstruída), como Robinson argu­ menta convincentemente (1978).

Nos Estados Unidos há inúmeras evidências do apoio político da polícia para a direi ta e para a extrema direita. Skolnick ( l 966, p. 61) resume assim suas entrevistas e observações: "A persuasão política e emocional dominante na polícia foi um conser­ vadorismo do tipo Goldwaters" (ver também Bayley e Mendelsohn,1968, pp. 14-30; Lipset, 1969; Bent, 1974, cap. 5 ). Tais atitudes foram abertamente traduzidas cm cam­ panhas políticas. Em numerosas ocasiões, as associações policiais têm participado ati­ vamente em lobbies para candidatos políticos reacionários e no apoio a certas políti-

· Referência a Barry Goldwater, político americano de extrema direita, da década de 1960 (N. da T.).

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A CULTURA POLICIAL

cas da direita (Skolnick, 1969, cap. 7; Ruchelrnan, l974; Alex, 1976; Reiner, 1980; Bernstein et al., 1982).

Há evidências comparáveis a respeito das opiniões políticas dos policias britâni­ cos. Quando lentei entrevistar a polícia na década de 1970, sobre suas atitudes políti­ cas, isso foi proibido pelo Ministério do Interior, com a alegação de que poderia im­ pugnar a noção tradicional da polícia como estando fora de qualquer forma de política (Reiner, 1978, pp. 11,283; 1979b). Vi uma dissertação, não publicada, de 1977, feita por um policial que entrevistou uma amostra de colegas, da força policial de uma cidade do norte, utilizando as perguntas que fui proibido de fazer. Ele descobriu que 80% deles se descreviam como Conservadores- 18% deles estando à direita do parti­ do. Os restantes estavam divididos igualmente entre Trabalhistas, Liberais e "não sei". Da amostra, 80% haviam votado em todas as últimas eleições. Uma leve tendência à direita estava indicada pelo fato de 9% terem trocado o partido Trabalhista ou o Libe­ ral pelo Conservador no período de 1974-1977, não havendo um movimento na di­ reção oposta. Apesar disso, 64% afirmaram que a polícia deveria permanecer politi­ camente neutra o tempo todo, 21 o/o desejavam ter o direito de entrar para um partido político sem ter participação ativa, enquanto 12% desejavam ser capazes de ter uma participação ativa na política.

Mais recentemente foi feita uma pesquisa envolvendo 286 policiais servindo na Polícia Metropolitana, que incluía questões sobre padrões e intenções de voto (Scripture, 1997). E foi descoberto que, daqueles que haviam votado nas eleições ge­ rais de 1979, 1983, 1987 e 1992, a esmagadora maioria tinha apoiado os Conservado­ res (respectivamente 79%, 86%, 74% e 74%; Scrípture, 1997, p. 172). Entretanto, ape­ nas 44% tinham intenção de votar nos Conservadores na próxima eleição ( o levantamento foi feito antes das eleições de 1997). Isso provavelmente é resultado do desencanto da polícia com o pacote de reformas do governo Conservador, cujo obje­ tivo era submeter os serviços às exigências de mercado, embutidas no Relatório Sheehy, de 1993, e na Police and Magistrates Courts Act (Lei da Polícia e das Cortes de Magistratura], de 1994 (Loveday, 1995a, 1995b; Mcl.aughlin e Murji, 1996, 1997; D. Rose, 1996, cap. 6; Reiner, 1997, pp.1030-1039).

Já foi descrita a tendência de, no debate político dos anos 70, haver um envol­ vimento mais aberto do chefes de polícia e da Federação da Polícia (Iudge, 1994; McLaughlin e Murji, 1998; Loader e Mulcahey, 2000). Ela expressa claramente pont de vista que foram simbioticamente associados a políticas do Partido Conservador, e (num nível menos explícito) igualam-se à campanha política do "poder azul" ameri­ cano nos anos 1960 e 1970.

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t\ POL1TTCA DA POLfCIA

cm levar em consideração políticas partidárias específicas, a polícia tende a man­ ter pontos de vista conservadores sobre questões sociais e morais. "Policiais são pcs- oas convencionais [ ... ] O que um tira pode agitar num ambiente de maconheiro .. , encontros inter-raciais e homossexuais é o cassetete." ( citado por Skolnick, 1966, p. 61.) Uma pesquisa de 1960 sobre as atitudes da polícia de Nova York descobriu que as duas categorias de pessoas que os policiais menos gostavam, depois dos "antipolícia", eram os homossexuais e os viciados em drogas (Niederhoffer, 1967). Em minhas en­ trevistas com a policia britânica encontrei um apoio semelhante para uma moralidade convencional mais estreita (Reiner, 1978, cap. 11; para evidências no Canadá, vertam­ bém J. Lee, 1981 ). A filosofia social do chefe de polícia também tende a ser conserva­ dora, apesar de, para a maior parte deles, isso se expressar de forma menos gritante (Reiner, 1991, cap. 9).

Embora os policiais tenham afinidades eletivas óbvias entre seu papel como man­ tenedores da ordem e a política e moralidade conservadoras, isso não é de nenhum modo constante. No inicio e meados da década de 1990, quando o governo Conser­ vador cada vez mais aplicava à polícia sua abordagem orientada para o mercado nos serviços públicos, a simpatia da policia em todos os níveis parece ter-se inclinado para pontos de vista mais radicais (D. Rose, 1996, cap. 6; Scripture, 1997). Isso não só en­ volveu o compartilhar preocupações com a incipiente privatização e controles mais rigorosos dos gastos públicos com outros serviços, mas estendeu-se a uma crescente simpatia por análises do crime e outros problemas sociais, em termos de justiça social mais do que de responsabilidades individuais (D. Rose, 1996).

Machismo

Apesar desse conservadorismo moral, em muitos aspectos a cultura da polícia diverge do puritanismo. O mundo da polícia é de um machismo fora de moda (Fielding, 1994a; Crank, 1997, cap. 14). O sexismo na cultura policial é reforçado pela discriminação no recrutamento e na promoção (Hanmer, Radford e Stanko,1989; Graeff, 1989, cap. 6; M. Young, 1991, cap 4; Heidensohn, 1992, 1994, 1998; Halford, 1993; WalkJate, 1996; C. Martin, 1996; J. Brown, 1997). O desprezo exibido por prefe­ rências ou desvios sexuais como a homossexualidade e a pedofilia vem acompanha­ do, rotineiramente, pela "jactância sexual e pelas grosserias': quase sempre às custas das colegas {PoJicy Studies Jnstitute, 1983, vol. rv, pp. 91-97). Os policiais não são co­ nhecidos por sua aversão a atividades heterossexuais ilícitas. Com me disse um deles, "os policiais têm uma das maiores taxas de divórcio do país. Sempre têm alguém dis-

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A CULTURA l'OLICfAL

ponívcl na esquina, por causa do fascínio da profissão" (Reiner, 1978, p. 212)4• E mes­ mo com todo o seu desprezo pelos usuários de outras drogas, os policiais não são co­ nhecidos por serem abstêmios. Um dos riscos das pesquisas sobre a polícia é o de fa­ zer anotações mentalmente, enfiado em bares, enquanto o consumo de bebida aumenta. O alcoolismo na polícia tem sido um problema constante desde o início da força policial. A tolerância alcoólica e sexual da polícia são produto tanto do caráter masculino da força como da tensão criada pelo trabalho. A importância desses aspec­ tos é muito bem mostrada nas histórias de Joseph Wambaugh, em especial no livro The Choir-Boys [ Os Meninos do Coro] (1976),com seu tema principal de que o policia­ mento é uma ocupação moralmente perigosa (mais do que fisicamente perigosa). O caráter decididamente não-puritano do comportamento heterossexual, da bebida e do jogo pode expor o policial a solicitações, tensões e a acusações de hipocrisia quan­ do estão policiando tais áreas. Tal fator ajuda a explicar a maior propensão para a corrupção policial nas divisões especializadas no policiamento de prostituição, jogo e drogas.

Para as policiais mulheres, sempre foi difícil serem aceitas. A criação do emprego para policiais femininas veio somente após uma lenta e longa campanha ( Carrier, 1988). Apesar da integração formal, ainda hoje elas sofrem discriminação (Bryant, Dunkerleye Kelland, 1985; S. Ienes, 1986, 1987; Heidensohn, 1989, 1992, 1994, 1998; Dunhill, 1989, Walklate, 1992, 1996; J. Brown.Maidmenr e Buli, I993;J. Brown, 1997). As dificuldades que enfrentam para conquistar cargos superiores foram ilustradas pela recente ação, amplamente divulgada pela mídia, reclamando de discriminação sexual, movida por Alison Halford, ex-assistente de chefe polícia em Merseyside (Halford, 1993 ). Entretanto, desde então, um número maior de mulheres tem sido indicado para o cargo de chefe de policia.

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Preconceito Racial

Um aspecto importante do conservadorismo da polícia é o preconceito racial. Um grande número de estudos americanos demonstram a suspeição, a hostilidade e

4. Lembro-n1e bem da experiência, cm 1971 (logo depois de começar a pesquisar .1 pohcia), de ir a uma conferên­ cia onde, após a apresentação dos seminários, um policial local me levou, junto com dois outros sociólogos e dois polícíaís de outra cidade, para uma boate local. Havia cerca de cinqüenta homens ali e apenas três mulhere - duas dançarinas de strip-tcase e a garçoncre. Para o divertimento dos dois sociólogos, que observav am rn, não participaram, no final da noite os três policiais tinha conseguido sair com JS três mulheres.que eles tinham paquerado o tempo todo, ao mesmo tempo em tJue evitavam urna discussão sincera sobre os padrões normativos da subcultura policial.

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A POLITtCA DA POLICIA

preconceito da polida contra negros e vice-versa (Crank, 1997, cap. 16). Geralmen­ te se argumenta que isso é um reflexo da cultura racista americana geral e, especial­ mente, dos grupos sociais de onde se origina a maioria dos policiais (classe média baixa ou classe operária, com grau de instrução limitado ao secundário). Bayley e 1endelsohn ( 1968) resumem seu estudo e os de vários outros: "Policiais são precon­

ceituosos? A resposta é sim, mas apenas um pouco mais do que a comunidade como um todo. Os policiais refletem as atitudes dominantes da maioria das pessoas com relação às minorias" (p. 144). (Ver também Westley, 1970, pp. 99-104; Skolnick, 1966, pp. 81-83; Skolnick e Fyfe, 1993). A polícia americana também tem se destacado na oposição política ao movimento pelos direitos civis e no apoio a organizações políti­ cas de extrema direita com um caráter racista (Reiner, l 980, pp. 383-388).

Há evidencias semelhantes em vários estudos sobre o preconceito racial na polí­ cia britânica. É digno de nota que os primeiros documentos acerca desse preconceito ejam muito anteriores às alegações oficiais da polícia ou a dados estatísticos decla­ rando haver um envolvimento excessivo de negros em crimes. A partir do início da década de 1970, as estatísticas da policia relativas a prisões indicavam um envolvi­ mento inferior de negros em crimes, se comparada à sua proporção na população (Lambert, 1970). Além disso, os estudos de Cain e Lambert em forças policiais das cidades, no começo e no final dos anos 1960, mostram um padrão claro de preconcei­ to nas fileiras da polícia, que viam os negros como especialmente propensos à violên­ cia ou ao crime e, em geral, como sendo difíceis de entender, desconfiados e difíceis de lidar (Lambert, 1970; Cain, 1973, pp. 117-119). Eu mesmo, ao fazer entrevistas em Bristol em 1973-1974, encontrei uma visão de suspeição e hostilidade com relação aos negros que, quase sempre, era dada espontaneamente, no contexto de entrevistas relacionadas com o trabalho da polícia em geral (Reiner, 1978, pp. 225-226). Da amos­ tra, 25% fizeram voluntariamente comentários negativos, enquanto na divisão cen­ tral (que incluía a de St, Paul, uma área no centro da cidade, com alta tensão entre negros e polícia, e que foi cena do primeiro tumulto no gueto, em 1980), 35% fizeram o mesmo. Um guarda uniformizado resumiu o padrão: "A polícia está tentando pare­ cer não tendenciosa às relações de raça. Mas, se você perguntar, vai descobrir que 90% da força é contra os imigrantes de cor. Eles nunca vão querer que você faça essa pes­ quisa e venha com tal tipo de resultado". Trabalhos posteriores, realizados em um pe­ ríodo em que crimes cometidos por negros, em especial assaltos, tornaram-se um as­ sunto quente na política, confirmam as evidências de preconceito (Holdaway, 1983, PP· 66-71, 1995, 1996; Policy Studies Institute, 1983, vai. iv, cap. 4; Reiner, 1989, 1991, 1993; Lea, 1986; Jefferson, 1988, I 993; D. Rose, 1996, cap. 2; Holdaway e Barron,

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A CULTURA POLICIAL

1997; Bowling, 1999a, 1999b; Macphcrson, 1999). Mas, geralmente, tem diminuído a extensão com que o preconceito é expresso virulenta e abertamente. Desde o Relató­ rio Scarrnan, isso é o principal resultado de mudanças no caráter demográfico das forças, como haver mais policiais de minorias étnicas (mesmo que ainda em número desproporcionalmente pequeno), mais policiais com educação superior, uma ênfase maior nos treinamentos, valorizando o multiculturalismo e os valores fundamentais da força (Bull e Horncastle, 1989; Pearson et al., 1989; D. Rose, 1996, cap. 6).

Mas não se pode assumir que o preconceito da polícia se expresse através de um comportamento que mostre isto. Como colocou o importante estudo pioneiro do Policy Studies Institute:

Nossa primeira impressão, após termos sido vinculados a grupos de policiais, foi de que a linguagem racista e o preconceito racial eram predominantes e difundidos ] ... ] Ao acompa­ nhar estes policiais durante seu trabalho, descobrimos que suas relações com os negros e mu­ latos era sempre descontraída ou amigável (Policy Studies Institute, 1983, vol, rv, p. 109).

Pesquisas americanas sugerem um padrão semelhante de separação entre o pre­ conceito e o comportamento discriminatório (Black, 1970, 1972; Friedrich, 1979; Shermann, 1980, 1983; P. Waddington, 1999a, 1999b).

A outra qualidade que precisa ser atribuída às inúmeras evidências de pre­ conceito racial da polícia é que isso pode ser nada mais do que um reflexo do preconceito geral da sociedade. O consenso da pesquisa social (na Inglaterra e no Estados Unidos) sugeria que, ao contrário da crença popular, os recrutas da policia não tinham personalidades especialmente autoritárias ou preconceituosa (Skolnick, 1969, p. 252; Reiner, 1978, p. 157; Scripture, 1997; P. vVaddington, 1999a, PP· 102-104). Em vez disso, eles compartilhavam os valores dos grupos sociais do quais se originavam - a baixa classe média e as respeitáveis classes operárias, que constituem a massa da sociedade. Fica claro que isso é uma descoberta de duplo sentido> pois, embora recrutas da polícia possam não ser mais autoritários do que a população em geral, o grau "normal" de autoritarismo é perturbador em uma ocu­ pação que exerce poder considerável sobre as minorias. Como Stuart Hall comen­ tou causticamente, os chefes de polícia não deveriam fazer de forma tão arrogante a declaração, igualmente verdadeira, de que a força policial precisa ter seu justo qui­ nhão de criminosos (S. Hall, 1979, p, 13). Deve-se notar, também. que os pontos de vista preconceituosos são comuns inclusive entre os próprios chefes de polícia (Reincr, 1991, pp. 204-210).

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A POLfTICA DA POLfCJA

Um artigo famoso desafiou tal ortodoxia (Colma» e Gorrnan, 1982). Os autores aplicaram vários testes psicológicos, cujo objetivo era de avaliar o dogmatismo, o con­ ervadorismo e o autoritarismo, assim como pontos de vista específicos sobre as rela­ ões raciais, em três amostras: um grupo de 48 recrutas da polícia, no começo e no

final do treino básico; 36 policiais da condicional, com uma média de 20 meses de experiência; e um grupo de controle de 30 civis, supostamente equivalentes aos gru­ pos de policiais com relação ao status socioeconómico. Eles descobriram que a "força policial atrai personalidades conservadoras e autoritárias, que o treinamento básico têm um efeito liberalizante temporário e que o serviço policial continuado resulta no aumento de atitudes não liberais/intolerantes contra a imigração de gente de cor': Seus resultados foram objeto de críticas severas à metodologia e às bases (P. Waddington, 1982b; Butler, 1982a). Os grupos de controle tinham, em média, um nível de educa­ ção superior, o que poderia ser, no mínimo, parte da explicação para as atitudes mais "autoritárias" dos recrutas da policia. Outros estudos, de outras amostras de recrutas, não sugerem que a policia atraia indivíduos com sistemas de valores radicalmente dis­ tintos, se comparados com os grupos de controle civis (Cochrane e Butler, 1980; Brown e Willis, 1985). O que realmente a pesquisa mostra de fato (embora sem gran­ des diferenças em relação à população cívil) é que os recrutas da polícia manifestam atitudes bastante hostis em relação a minorias étnicas. Parece que tais atitudes se acen­ tuam com a experiência no trabalho, após um efeito liberalizante temporário durante o treinamento (Fielding, 1988). Modificações ocorridas na seleção e no treinamento desde o relatório Scarman podem ter tido algum impacto, mas os efeitos parecem não sobreviver, de modo significativo, à pratica policial (Buli e Horncastle, 1989). A não ser que as pressões geradoras das atitudes culturais tradicionais mudem, corno resul­ tado de mudanças mais profundas no contexto estrutural social do trabalho da polí­ cia, pouco se pode obter com as mudanças na seleção e treinamento dos policiais in­ dividualmente (as experiências americanas e australianas confirmam isso; ver Sherman, 1983; Chan, 1997).

Além de tudo, é necessário e suficiente explicar o ponto de vista da polícia acer­ ca de minorias étnicas (e outros assuntos) pela própria função da polícia e pelas circunstâncias do trabalho policial, e não pelas peculiaridades de personalidades individuais. Mesmo que, cm certos lugares e épocas, tipos característicos de perso­ nalidades sejam atraídos para o policiamento, ainda seria necessário analisar a na­ tureza do trabalho policial como o determinante da atração. A principal fonte do preconceito da polícia é o racismo da sociedade, que, de forma desproporcional, coloca as minorias étnicas naquelas camadas sociais e em situações que dão origem

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A CULTURA POLICIAL

à "propriedade" da polícia. Esta característica estrutural das relações polícia-mino­ rias étnicas encoraja qualquer preconceito anterior que os policiais tenham (Jefferson, 1988; Reiner, 1989a, 1993).

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Pragmatismo

O último elemento da cultura policial que é importante para ser considerado é a perspectiva muito pragmática, concreta, pé-na-terra, antiteórica, que é típica da tro­ pa e, de fato, dos chefes de polícia (com um número crescente de exceções). Este é um tipo de conservadorismo conceituai (Crank, 1997, cap. 13).

Os policiais estão preocupados em chegar a salvo de agora até amanhã (ou até a próxima hora), e com o mínimo de confusão e de relatórios para preencher, o que os torna relutantes em encarar inovações, experimentos ou pesquisas. Isso mudou em anos recentes, com o expressivo crescimento de um grupo significativo de pesquisas práticas, através de órgãos do Ministério do Interior como o Police Research Group [Grupo de Pesquisas da Polícia], o Research and Statistics Directorate [Diretório de Pesquisa e Estatística], a Police Foundation [Fundação de Polícia] e as próprias forças policiais (Reiner, 1992a, 2000b; J. Brown e Waters, 1993; J. Brown, 1996). Os limites de muitas das pesquisas internas, entretanto, são destacados em um estudo desses es­ tudos, que questiona a tendência em achar "conclusões antecipadas" favoráveis (Weatheritt, 1986). Isso é menos comum nos trabalhos atuais, em parte devido à sig­ nificativa afluência, nos departamentos de pesquisa da polícia, de gente com curso superior e pesquisadores civis experientes (J. Brown, 1996). Pesquisas internas e ou­ tras formas de pesquisa oficial da polícia vão ser mais estimuladas pela ênfase cada vez maior no policiamento voltado para serviços de inteligência. Uma abordagem ba­ seada em pesquisas tornou-se obrigatória com as exigências embutidas na Crime and Disorder Act [Lei do Crime e Desordem] e o Crime Reduction Programme [Progra­ ma de Redução do Crime], ambos de 1998, para analisar e avaliar padrões de crime e a eficiência das estratégias de redução de crime em nível local (Home Office, 1998; Jordan, 1998; Reiner, 2000b).

Uma análise da literatura psicológica sobre "a personalidade da polícia" mostrou que, embora as evidências sobre temas políticos públicos, tais como o autoritarismo evidente ou o preconceito racial entre os policiais, fossem confusas, o que de fato pa­ recia é que os policiais têm uma estrutura cognitiva acentuadamente "empírica (Adlam, 1981, p. 156). Inovações recentes no treinamento têm-se voltado para técni­ cas menos didáticas para testar e reagir a isso (Adlam, 1987).

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A POLfTr DA POUCIA

VARIAÇÕES NA CUCTURA POLICIAL

A cultura da polícia não é monolítica. A divisão organizacional do trabalho está associada a urna variação de tipos distintos de pontos de vista girando em torno dos principais elementos dai cultura .. Isto foi observado por vários estudos, que desenvol, eram tipologias de diferentes orientações e estilos da polícia.

o estudo de Muir 0977), por exemplo, usa observações sensíveis de vinte e oito policiais numa cidade americana . .t. o único dos estudos sociológicos sobre a polícia que coloca como central a pergunta "o que torna bom um policial?': em vez de análi­ ses mais comuns sobre desvios. Muir aborda essa questão considerando a forma como os policiais tratam com o problema de lidar com poderes coercivos. O bom policial tem de desenvolver duas virtudes: "Intelectualmente, ele tem de compreender a natu­ reza do sofrimento humano. Moralmente, ele deve resolver a contradição de obter fins justos por meios coercivos" (Muir, 1977, pp. 3-4). A visão intelectual pode ser "cínica'; isto é, baseada em uma divisão dualística cínica e individualista das pessoas em "nós" e "eles"; ou "trãgica', vendo a humanidade a partir de um significado e de um valor moral únicos, vendo a ação como sendo complexamente produzida pelo acaso, desejo e circunstância e reconhecendo a natureza importante, mas frágil, da interdependência social A compreensão moral pode ser "integrada': isto é, pela aco­ modação do exercício de coerção dentro de um código moral total; ou "conflitual", que cria a culpa porque tal exercício não está reJacionado a. princípios morais básicos. Essas duas dimensões produzem uma tipologia quádrupla de policial: o "fujão" (com uma perspectiva cínica e de moralidade conflituada) se esquiva das obrigações; o "alternante" (com perspectiva trágica e moralidade conflítuada) hesita em usar o po­ der coercivo, mesmo quando é apropriado; o "sancionador" ( com perspectiva cínica e moralidade integrada) age no calor do conflito e sem compreender a necessidade de controle; o "profissional" (com perspectiva trágica e moralidade integrada) é o "bom" policial EJe é capaz de usar violência onde for necessário, baseando-se em princípios, mas é verbalmente habilitado e tem outras habilidades que, todas as vezes em que houver a oportu11jdade, fornecem soluções sem o uso da força coerciva.

Os quatro tipos de Muir são similares àqueles que meu próprio estudo distin­ guiu: o •• bobby''~ o policiar comum que aplica a lei com bom senso arbitrário, com um pape] de manutenção da pazi o "cabide de uniforme': o oportunista completamente cínico e desiludido que "nunca atenderá ao telefone, se puder evitar - pode haver um trabalho do outro fado da linha!"; o"novo centurião" (verWambaugh, 1971), dedica­ do a uma cruzada contra o crime e a desordem, que vê o trabalho do detetive como a

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A CULTURA POLICIAL

função principal e que enfatiza o tira das ruas como sendo o repositório de toda a verdade, sabedoria e virtude; o policial "profissional", ambicioso e cônscio de sua car­ reira, com uma avaliação apropriadamente equilibrada do valor de todos os aspectos do policiamento, desde combate ao crime até a limpeza do chão das delegacias, o que lhe fornece subsídios para as funções mais amplas de relações públicas, exigidas pelas patentes superiores (Reincr, 1978, cap. 12).

A tipologia de Shearing distinguiu os "policiais espertos': que estavam moralmen­ te comprometidos com a cultura policial, mas que equilibravam os aspectos de con­ trole e de legitimação do trabalho policial; os "policiais de verdade': os tiras obstina­ dos, que viam a tarefa de controle da "ralé" como a mais importante, que se tornaram os heróis da cultura policial; os "bons policiais': que viam o policiamento como urna "profissão" e estavam compromissados com valores liberal-democráticos; os "policiais cautelosos", que tinham "se desligado" e estavam alienados de todos os propósitos, das políticas ou das pessoas envolvidas no policiamento.

Outros estudos identificaram perspectivas similares, é claro que com outros ró­ tulos (Broderick, 1973; Walsh, 1977; Shearing, 1981a; Brown, 1981). Os tipos básicos parecem ser os seguintes (traduzindo as classificações dos outros autores em minha terminologia):

1 O "b bb " ( " . . "d B d . k " . d "d w~1 h " fi . al" . o y = otimista e ro enc = tua as ruas e é1.!S = pro ssion de Muir = "policial esperto" de Shearing = "profissional" de Brown).

2. O "novo centurião" ( = ao "sancionador" de Broderick = ao "caçador de ação" de Walsh = ao "sancionador" de Muir = ao "policial de verdade" de Shearing = ao "combatente do crime" de Brown).

3. O "cabide de uniforme" (=ao "realista" de Broderick = ao cínico "tira das ruas" de Walsh = ao "fujão" de Muir = ao "policial cauteloso" de Shearing = ao "serviço tipo l " de Brown).

4. O "profissional" ( = ao "idealista" de Broderick = ao "emergente da classe média' de Walsh = ao "alternante" de Muir = ao "bom policial" de Shearing),

As diferenças em nomenclaturas refletem os diferentes propósitos de estudos par­ ticulares, assim corno conceitos conflitantes a respeito do "bom" policial- será possí­ vel seguir as regras (Broderick), devemos nos resignar à trágica inevitabilidade do poder coercivo (Muir) ou scrã que o conflito aparente de papéis é ideologicamente funcional para o controle de classes (Shearing)? Isso leva a noções explicitamente opostas sobre o que é "profissional": a incorporação ideal do policiamento legalista (Broderick), as intuições empáticas e espertas, mas sem critério, do trabalho de ronda

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A POLITICA DA POLICl A

tipo "Dixon" (Muir), uma ideologia legitimadora para a mobilidade social individual e coletiva (Reiner) .

fas, os mesmo tipos subjacentes estão propostos: um cínico alienado, um pro­ fissional administrativo, um mantenedor da paz e um aplicador da lei. Esses orrespondem à divisão de trabalho básica organizacional, que existe entre a admi­ nistração e a tropa, e entre a patrulha uniformizada e o CID [Criminal Jnvestigatíon Department]. Mas, as orientações diferentes já são visíveis em amostras de policiais uniformizados, indicando, antecipadamente, o desenvolvimento das carreiras futuras.

A própria cultura dos chefes de polícia varia, com diferentes perspectivas, relacio­ nadas tipicamente com os padrões de carreira anteriores, com o caráter da força e com as experiências específicas de cada geração (Reiner, 1991, cap. 12). Além do mais, os chefes de polícia ingleses não têm estilos culturais fundamentalmente diferentes dos das tropas, tendo se originado de experiências semelhantes e trabalhado para chegar ao topo dentro da hierarquia da força (M. Young, 1993). No entanto, hoje em dia, eles estão mais dispostos a abraçar diferentes filosofias de policiamento, moldadas pela necessidade em se adaptar a pressões das elites governamentais e sociais. Nos anos 1980, a visão convencional dos chefes de polícia era moldada pelo Relatório Scarman (Reíner, 1991). Durante os anos 1990, entretanto, adotam-se cada vez mais tintas "em­ presariais', gerencíalístas (WaJJ, 1998).

As orientações discordantes não parecem estar relacionadas a características demográficas, tais como grupo étnico ou gênero. Na Inglaterra ainda não existem pes­ quisas sobre esses temas. Mas trabalhos americanos sugerem que não há uma tendên­ cia de policiais negros serem diferentes, no estilo de trabalho, dos policiais brancos (Alex, 1969), ou de serem menos punitivos em relação a outros negros (Black, 1971; Geller, 1983; P. Waddington, 1999, pp. 111-112). Pode ser, talvez, que o crescimento da proporção de policiais negros mude inteiramente os valores fundamentais [ ethos] de um departamento, de maneira que não possam ser distinguíveis em comparações individuais (Sherman, 1983). Também não há evidências de diferenças significativas no estilo de policiamento entre policiais homens ou mulheres (Bloch e Anderson, 1974; Sichel, 1978, Heidensohn, 1992). Novamente, porém, é plausível que, aumen­ tando a proporção de mulheres no departamento, possa ser alterado o seu caráter masculino (Walklate, 1996). Por outro lado, toda a argumentação deste capítulo, até agora, baseia-se em a cultura da polícia depender não de atributos pessoais, mas dos próprios elementos da função policial. Pesquisas sobre estilos diferentes de departa­ mentos implicam existir algum espaço para mudança, apesar de isso ser limitado pelo contexto social e político em que o departamento está encaixado.

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A CULTURA POLICIAL

VARIAÇÕES NA CULTURA ORGANIZACIONAL

Para a análise de diferenças em estilos, de todas as organizações policiais, o estudo clássico é o de J. Q. Wilson (1968), Varieties of PoliceBehavior [Variedades de Compor­ tamento Policialj. Wilson sugeriu que podiam distinguir-se três estilos de departamen­ to. O estilo "vigia': enfatizando a manutenção da ordem e a perspectiva do patru1heiro. A burocratização, a padronização e o profissionalismo raramente eram, aí, desenvol­ vidos e a influência política dominava, tendo os patrulheiros muito poder discricio­ nário ao lidar com suas rondas. O estilo "legalista" funcionava usando uma abordagem de aplicação da lei, tentando impor padrões universais, de forma imparcial, a todas as comunidades da cidades. A organização era burocrática e profissionalizada. Já o estilo "serviço" priorizava os serviços de ajuda. Se tivesse de lidar com desvios da lei, trataria disso mais advertências do que com a instauração de processos (mas lidando com eles, e, não, ignorando-os). Com muita ênfase nas relações públicas e no envolvimento co­ munitário. Apesar de serem, parcialmente, um produto das escolhas políticas dos de­ partamentos, os estilos refletiam o equilíbrio social e político. Departamentos "legalistas" substituíram os departamentos "vigia': ou como resultado de um escân­ dalo de corrupção que trouxe uma reforma administrativa, ou como resultado de um processo mais lento de mudanças no equilíbrio de poder entre os elementos das clas­ ses sociais, com a promoção de grupos com interesse na autoridade racional e univer­ sal como urna estrutura para o planejamento no longo prazo. Se esse estilo fosse in­ troduzido em um contexto social adverso, poderia ir de encontro a dificuldades paradoxais. Por exemplo, embora fosse menos discriminador em termos raciais, o es­ tilo "legalista" desfrutava de alto poder de aplicação da lei e podia, assim, adotar mé­ todos agressivos de patrulhamento que, pelos negros, eram vistos como ameaças. O estilo "serviço" somente foi desenvolvido em comunidades de classe média suburba­ nas, com uma opinião consensual geral valorizada.

Não existem muitas evidências, na Inglaterra, a respeito das diferenças de cultura entre as forças policiais. O estudo de Cain (1973) envolvendo uma força urbana e uma força rural, no começo dos anos 1960, apontou que os policiais da zona rural estavam mais intimamente integrados com as comunidades que policiavam. Já os policiais da cidade, ao contrário, eram muito mais interdependentes de seus colegas policiai estavam mais alienados da população que policiavam, com enfrentamentos mais de­ sagradáveis. Isso provavelmente era conseqüência muito mais das condições diferentes de policiamento em áreas urbanas e rurais, do que uma função de estilos organiza­ cionais, prontamente abertos a mudanças políticas. As diferenças de estilo urbano/

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A POLíTICA DA POL1CI A

o, freqüentemente, um Hobbs, 1989).

(Shapland e Vagg, 1988; Shapland e

) coletaram dados sobre a polícia e as atitudes do público em duas forças cujos chefes de polícia estavam em pólos opostos no âmbito do debate da policia. O chefe de polícia de Devon and Cornwall, John Alderson, foi o principal expoente da filosofia de "policiamento comunitário': enfatizando a importância de um relacionamento próximo e positivo entre a polícia e o público, como uma precondição essencial para o policiamento eficaz, e vendo o papel da policia como algo muito amplo, com um forte componente de serviço social. James Anderton, de Ianchester, era o chefe de polícia com mais notoriedade entre todos os chefes de po­

licia e defendia uma abordagem dura da lei e da ordem. Iones e Levi descobriram, por uma variedade de indicadores, que o público de

Devon e Cornualha julgava mais favoravelmente sua polícia do que o povo de 1anchester. Além disso, a policia de Devon and CornwaJJ tinha uma percepção mais

acurada do apoio de seu público do que a polícia de Manchester, sugerindo um rela­ cionarnento mais próximo. Uma crítica comum levantada contra as políticas de poli­ ciamento comunitário de John Alderson era de que, embora pudesse ser apropriada para municípios tranqüilos do interior, seria impraticável numa cidade. Ienes e Levi descobriram, entretanto, que a diferença se mantinha, ao comparar Plymouth (a se­ gunda maior cidade do sudoeste da Inglaterra) com Wigan (uma cidade de interior do norte, relativamente pequena), apesar de Plymouth ter o mais baixo nível de satis­ fação expresso pelo público na área da força policial de Devon and Cornwall. Isto su­ gere que, de fato, embora seja mais difícil cultivar relações polícia-público positivas nas cidades, a cultura organizacional e o estilo também são variáveis importantes.

A evidência mais clara da possibilidade de introduzir mudanças na cuJtura da polícia vem de um significativo estudo etnográfico (Poster, 1989), comparando duas delegadas do centro de Londres. Em uma delas, foram introduzidas, com sucesso, mudanças significativas no estilo e nas práticas de policiamento, que alteraram a cul­ tura na direção desejada pelo Relatório Scarman, com sua adoção de uma filosofia de policiamento comunitário. O ingrediente principal dessa conquista foi o compromis­ so total e o apoio sólido de toda a hierarquia administrativa. Na outra delegacia, onde isso estava faltando, a cultura policial tradicional permaneceu resistente. Uma mensa­ gem semelhante, sobre as possibilidades de reforma mesmo em áreas perigosas das cidades, é fornecida por um estudo de seis chefes de polícia inovadores, nos Estados Unidos, que encaminharam a reorientação de seus departamentos em direção a um policiamento comunitário (Skolnick e Bayley, 1986). Entretanto, de alguma forma não

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A CULTURA POLICIAL

fica claro como isso se transformou, com sucesso, em mudanças proJongadas nas prá­ ticas de campo. A avaliação de Chan (1977), das tentativas de reforma da cultura da polícia na Austrália, sublinha as limitações de tal possibilidade na ausência de uma transformação fundamental do papel da polícia

No conjunto, parece que, entre áreas diferentes, há diferenças significativas na cultura de policiamento. O que está menos claro é quanto destas diferenças é resultado de escolhas políticas que podem efetivamente ser feitas em áreas com estruturas so­ ciais e políticas e tradições culturais diferentes. Será que as sociedades têm o policia­ mento que merecem, ou elas podem, significativamente, fazer o melhor ou o pior? É impossível predeterminar o grau de liberdade que as reformas estratégicas vão en­ frentar, apesar de, sem dúvida, nunca ser muito grande. Mas as variações que foram encontradas no estilo departamental implicam, de fato, em que a ênfase na autono­ mia da cultura das tropas, na tradição das pesquisas interacionistas, possa precisar de alguma qualificação. (A resistência da cuJtura policial, mesmo em situações extremas, é mostrada pelo estudo de Brewer e Magee, 1990, sobre o policiamento rotineiro na Irlanda do Norte.) O desenvolvimento de mais estudos comparativos sistemáticos pode permitir-nos analisar o quanto isso é constante no trabalho policial em vários contextos, e o quanto é variável e por quê (Punch, 1979a, 1985; Bayley, 1985, 1991, 1992, 1994; R. I. Mawby, 1991, 1999; Miyazawa, 1992; M. Brogden e Shearing, 1993; Brodeur, 1995; Marenin, 1996; Manning, 1997; Backman, 2000).

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CONCLUSÃO

Como foi descoberto por vários estudos em lugares e períodos diferentes, parece haver certos pontos comuns na cuJtura policial (P. Waddington, 1999, pp. 111-112). Eles surgem de elementos semelhantes, principalmente a autoridade e o perigo, no papel da polícia em qualquer democracia liberal industrial avançada.

A cultura policial e suas variações são reflexos das estruturas de poder das socie­ dades policiadas. O mapa social da polícia se diferencia de acordo com o poder de grupos específicos em causar problemas para a polícia, transformando-se em "pro­ priedade" da polícia aqueles que têm menos poder na sociedade. A estrutura de poder de uma comunidade e as perspectivas de suas elites são fontes importantes na varia­ ção dos estilos de policiamento (e as sociedades "divididas" constituem um caso ex­ tremo; ver I3rewer, 1991 ). As diferentes orientações dentro da polícia refletem as dua maneiras que as organizações policiais têm para enfrentar uma ordem social dividida

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A POLíTICA DA POLfCIA

em classes sociais hierárquicas: de alto a baixo, pelas tropas, para os grupos controla­ dos, com graus variados de prazer ou. sutileza; e de baixo para cima, pelos chefes de polícia prefissionais, para a maioria do público e da elite, que desejam uma cara acei­ tável para aquilo que é feito em seu nome.

A cultura da polícia não é nem monolítica nem imutável. Mas, nas democracias _.U~is, a crise da polida em manter a ordem e aplicar a lei gera um padrão cultural

· f.:~. Entretanto, conforme fatores estruturais - como seu papel na divisão organí. •. ~~"anal do trabalho, sua própria base demográfica e suas personalidades e interpre- ,,, .

l:tlçôes individuais-e, os policiais variam em suas respostas. Além disso, a natureza do trabalho policial parece gerar uma cultura reconhecível, relacionada em todas as for­ ças em que foi estudada. Uma mudança fundamental nisso requer não só mudanças direcionadas para os policiais enquanto indivíduos (por exemplo, na seleção e treina­ mento), nem grandes declarações políticas, mas uma remodelação do caráter básico do papel da polícia como resultado de uma transformação social mais ampla.

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