epidemiologia e saúde - resenha

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149 Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 11 (1): 149-157, jan/mar, 1995 RESENHA / REVIEW Epidemiologia & Saúde. M. Zélia Rouquayrol. Rio de Janeiro: Medsi Editora Médica e Científica Ltda., 1994. 527 p. Cada vez mais o conhecimento das condi- ções de saúde da população, seus determinan- tes e tendências, constitui elemento de funda- mental importância para o campo da Saúde Co- letiva. Como a própria autora define, a 4 o edição do livro “Epidemiologia & Saúde”, elaborado por Maria Zélia Rouquayrol, é resultado da colaboração coletiva de renomados pesquisa- dores da área de saúde. Esta é uma obra técnico-científica essenci- al para o estudo da Epidemiologia, tanto para acadêmicos (na graduação e pós-graduação), como àqueles profissionais cujo acesso a um programa de capacitação/formação institucio- nal é limitado. Ela assume, assim, papel rele- vante para o desenvolvimento de ações de saú- de, especialmente aquelas específicas do cam- po da Epidemiologia, mas também servindo como instrumento para outras incursões no campo da Saúde Coletiva. Os temas são expostos de forma clara e exaus- tiva, o que lhe confere alto valor didático. Suas 527 páginas estão distribuídas em vinte e um capítulos, possuindo um grande número de qua- dros, gráficos e figuras que facilitam a compre- ensão do texto, inclusive para os iniciantes no assunto. Destes vinte e um capítulos, alguns são acréscimos à edição anterior, incluindo aqueles sobre Epidemiologia e organização dos serviços, concentrados na sua relação com outras áreas da Saúde Coletiva, além de apresentar as princi- pais limitações desta articulação. Esta quarta edição surge com várias modifi- cações e ampliações em relação à anterior. Uma abordagem histórica da Epidemiologia, seguida da apresentação conceitual da mesma e da His- tória Natural da Doença, servem de suporte para ampla discussão acerca da medida da Saúde Coletiva, ressaltando de forma precisa a impor- tância dos principais índices, coeficientes e in- dicadores utilizados. Com este referencial, dis- cutindo a distribuição das Doenças e dos Agra- vos à Saúde Coletiva (o que em edição anterior estava apresentado como Epidemiologia Descri- tiva), Rouquayrol traz, na primeira parte, uma exaustiva apresentação de como responder aos três clássicos quesitos para descrever um pro- blema de saúde: quem, quando e onde. Na se- gunda parte, são abordados conceitos sobre conglomerados, endemias e epidemias. Os fundamentos metodológicos da Epide- miologia são apresentados de forma abrangen- te pelos autores, discutindo desde a elabora- ção do problema epidemiológico, passando por fontes geradoras do mesmo, raciocínio epi- demiológico, variáveis e hipóteses epidemio- lógicas até a arquitetura da investigação. Nesta seção, são apresentados os diferentes tipos de pesquisa epidemiológica, com esquemas que permitem sua visualização e seleção ade- quada a cada situação a ser investigada. Ain- da dentro do método epidemiológico, Schmidt & Duncan apresentam sua aplicação na pes- quisa clínica. Importante salientar a forma cla- ra com que os autores abordam como ler criti- camente um artigo da literatura médica, práti- ca identificada como análise da evidência epi- demiológica. Na seqüência, surge uma excitan- te apresentação de Naomar de Almeida Filho sobre a Clínica e a Epidemiologia, demonstran- do seus elementos comuns, suas discordânci- as e as suas convergências. Abordando a estrutura epidemiológica e mecanismos de transmissão de doenças, são apresentados dois capítulos que trazem os conceitos fundamentais, exemplificando-os dentro de seu contexto, trazendo à tona infor- mações a respeito de problemas relevantes e demostrando preocupação com o atual qua- dro epidemiológico brasileiro. Ressalte-se a constante preocupação com a contextualiza- ção dos tópicos abordados. A imunização me- receu um capítulo em separado, reunindo con- ceitos já incorporados e apresentando novos avanços do conhecimento, o que assegura sua atualidade. Há alguns assuntos que estão intimamente relacionados com qualidade de vida, como sa- neamento, saúde e nutrição, vigilância sanitária e a saúde do consumidor. Embora alguns destes já constassem de edição anterior, e houvesse outras publicações acerca deles, ressalte-se a importância de serem apresentados em um livro, o que facilita o acesso às informações ali cons- tantes. Foi incorporado a esta edição um capítu- lo sobre saúde materno-infantil, que traz infor- mações a respeito dos principais problemas que atingem estes grupos populacionais. Uma nova

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149Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 11 (1): 149-157, jan/mar, 1995

RESENHA / REVIEW

Epidemiologia & Saúde. M. ZéliaRouquayrol. Rio de Janeiro: Medsi EditoraMédica e Científica Ltda., 1994. 527 p.

Cada vez mais o conhecimento das condi-ções de saúde da população, seus determinan-tes e tendências, constitui elemento de funda-mental importância para o campo da Saúde Co-letiva. Como a própria autora define, a 4o ediçãodo livro “Epidemiologia & Saúde”, elaboradopor Maria Zélia Rouquayrol, é resultado dacolaboração coletiva de renomados pesquisa-dores da área de saúde.

Esta é uma obra técnico-científica essenci-al para o estudo da Epidemiologia, tanto paraacadêmicos (na graduação e pós-graduação),como àqueles profissionais cujo acesso a umprograma de capacitação/formação institucio-nal é limitado. Ela assume, assim, papel rele-vante para o desenvolvimento de ações de saú-de, especialmente aquelas específicas do cam-po da Epidemiologia, mas também servindocomo instrumento para outras incursões nocampo da Saúde Coletiva.

Os temas são expostos de forma clara e exaus-tiva, o que lhe confere alto valor didático. Suas527 páginas estão distribuídas em vinte e umcapítulos, possuindo um grande número de qua-dros, gráficos e figuras que facilitam a compre-ensão do texto, inclusive para os iniciantes noassunto. Destes vinte e um capítulos, alguns sãoacréscimos à edição anterior, incluindo aquelessobre Epidemiologia e organização dos serviços,concentrados na sua relação com outras áreasda Saúde Coletiva, além de apresentar as princi-pais limitações desta articulação.

Esta quarta edição surge com várias modifi-cações e ampliações em relação à anterior. Umaabordagem histórica da Epidemiologia, seguidada apresentação conceitual da mesma e da His-tória Natural da Doença, servem de suporte paraampla discussão acerca da medida da SaúdeColetiva, ressaltando de forma precisa a impor-tância dos principais índices, coeficientes e in-dicadores utilizados. Com este referencial, dis-cutindo a distribuição das Doenças e dos Agra-vos à Saúde Coletiva (o que em edição anteriorestava apresentado como Epidemiologia Descri-tiva), Rouquayrol traz, na primeira parte, umaexaustiva apresentação de como responder aostrês clássicos quesitos para descrever um pro-

blema de saúde: quem, quando e onde. Na se-gunda parte, são abordados conceitos sobreconglomerados, endemias e epidemias.

Os fundamentos metodológicos da Epide-miologia são apresentados de forma abrangen-te pelos autores, discutindo desde a elabora-ção do problema epidemiológico, passandopor fontes geradoras do mesmo, raciocínio epi-demiológico, variáveis e hipóteses epidemio-lógicas até a arquitetura da investigação. Nestaseção, são apresentados os diferentes tiposde pesquisa epidemiológica, com esquemasque permitem sua visualização e seleção ade-quada a cada situação a ser investigada. Ain-da dentro do método epidemiológico, Schmidt& Duncan apresentam sua aplicação na pes-quisa clínica. Importante salientar a forma cla-ra com que os autores abordam como ler criti-camente um artigo da literatura médica, práti-ca identificada como análise da evidência epi-demiológica. Na seqüência, surge uma excitan-te apresentação de Naomar de Almeida Filhosobre a Clínica e a Epidemiologia, demonstran-do seus elementos comuns, suas discordânci-as e as suas convergências.

Abordando a estrutura epidemiológica emecanismos de transmissão de doenças, sãoapresentados dois capítulos que trazem osconceitos fundamentais, exemplificando-osdentro de seu contexto, trazendo à tona infor-mações a respeito de problemas relevantes edemostrando preocupação com o atual qua-dro epidemiológico brasileiro. Ressalte-se aconstante preocupação com a contextualiza-ção dos tópicos abordados. A imunização me-receu um capítulo em separado, reunindo con-ceitos já incorporados e apresentando novosavanços do conhecimento, o que assegura suaatualidade.

Há alguns assuntos que estão intimamenterelacionados com qualidade de vida, como sa-neamento, saúde e nutrição, vigilância sanitáriae a saúde do consumidor. Embora alguns destesjá constassem de edição anterior, e houvesseoutras publicações acerca deles, ressalte-se aimportância de serem apresentados em um livro,o que facilita o acesso às informações ali cons-tantes. Foi incorporado a esta edição um capítu-lo sobre saúde materno-infantil, que traz infor-mações a respeito dos principais problemas queatingem estes grupos populacionais. Uma nova

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Through Amazonian Eyes. The HumanEcology of Amazonian Populations. E. F.Moran. lowa City: University of lowa Press,1993. xix + 230 p., índice, biblio., figurasISBN 0-87745-417-5 (capa dura)ISBN 0-87745-418-3 (brochura)

Embora a comunidade antropológica earqueológica nacional tenha ficado completa-mente à margem do pensamento ecológico sis-têmico que se desenvolveu nas suas respecti-vas áreas maiormente nos Estados Unidos,graças ao esforço de dezenas de cientistasnorte-americanos, a Amazônia se tornou, porcerto, nas décadas de 60, 70 e 80, a principalregião do planeta estudada sob a ótica domaterialismo cultural. Às pesquisas pioneirasde Meggers, Carneiro e Cross, concentradas,

roupagem foi conferida ao abordar a saúde men-tal. Traz uma sucinta descrição sobre as quatrocorrentes da psiquiatria social e sobre a Epide-miologia psiquiátrica. Discute aspectos como onormal e a causalidade e a prevenção em saúdemental. Além disto, relaciona as principais variá-veis a serem estudadas e os indicadores de saú-de mental de grupos. Conclui com uma aborda-gem sobre a determinação social do processosaúde/doença mental.

O capítulo destinado para a vigilância epide-miológica é apresentado de forma clara e objeti-va. Traz todos os passos da vigilância, desdeinformações acerca da coleta, consolidação eanálise de dados (incluindo aí a necessidade darealização de estudos adicionais), elaboração denormas, retroalimentação e avaliação, apresen-tando os indicadores de avaliação do programa.

A reforma sanitária e os modelos assistenci-ais são apresentados diante do reconhecimentoda complexidade da situação de saúde no país.O autor discute intervenções gerais, como areforma sanitária, e intervenções setoriais noâmbito da organização. de serviços e modelosassistenciais. Aborda também a distritalização ea municipalização das ações de saúde, na pers-pectiva da organização do Sistema Único de Saú-de. Como a vigilância à saúde é uma questãorecente, pressupondo uma nova maneira de

acompanhar os serviços assistenciais, incorpo-rando novas tecnologias na busca da integrali-dade das ações, a Epidemiologia tem o seu papela desempenhar. Estas e outras questões sãoabordadas nesta edição.

“Sem uma concepção do coletivo, do social,em suma, do político, é impossível pensar a Epi-demiologia”, como coloca Naomar de AlmeidaFilho, um dos autores desta grande contribui-ção da Professora Maria Zélia Rouquayrol parao desenvolvimento da Epidemiologia no país,que tem tão poucas publicações na área, em por-tuguês. É esta concepção que perpassa o livro,tornando lógica a sua organização, desde o seuprimeiro capítulo até o glossário. Isto é percebi-do em toda a obra, destacando uma passagemde um dos capítulos, onde ressalta que “antesque haja uma prevenção primária, há que haveruma prevenção de caráter estrutural”, começan-do a mesma ao nível das estruturas políticas eeconômicas. Esta é, sem dúvida, uma obra es-sencial tanto para a graduação como para após-graduação e para profissionais comprome-tidos com a saúde da população.

Ana Lúcia EscobarDepartamento de Ciências Biomédicas

Universidade Federal de Rondônia

basicamente, sobre fatores ubiqüitos limitan-tes ao desenvolvimento social na Amazônia,seguiu-se uma nova geração de investigado-res, interessados, agora, não mais numa con-cepção de homogeneidade para a floresta tro-pical, homogeneidade essa cada vez mais con-testada pelos estudos de ecologia de siste-mas. Pode-se dizer que a década de 80 teste-munhou uma grande mudança nas abordagensantropológico-ecológicas na Amazônia. Se, porum lado, os pioneiros concentraram-se sobrefatores limitantes de larga escala, a geração dosanos 80 investiu exatamente naquilo que a Ama-zônia tem de mais importante: na sua extremaheterogeneidade de sistemas naturais e, porconseguinte, na extrema sociodiversidade apre-sentada por suas populações nativas e tradicio-nais, resultado, obviamente, de respostas adap-

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tativas, de cunho social, a essa miríade de possi-bilidades de sustentação material à produção ereprodução das sociedades envolvidas.

O primeiro grande avanço dessas pesquisasvoltadas para respostas adaptativas a fatoreslocais na Amazônia foi brilhantemente esboça-do no obra seminal de Hames & Vickers (1983).Mas se, por um lado, os pioneiros falharam aoassumir uma pretensa homogeneidade, essesúltimos acabaram adotando uma outra extremi-dade na escala analítica: concentraram suas aten-ções a pesquisas exclusivamente puntuais. Emoutras palavras, os primeiros generalizaram apartir de idéias preconcebidas, sem sustentaçãonuma casuística de detalhe, enquanto que osúltimos preferiram concentrar-se em estudos decasos para, somente num segundo momento,empreender tentativas de generalizações em es-cala e profundidade empiricamente justificadas.Creio que o maior mérito da obra de Moran, en-tre tantos outros, é exatamente o de preencher ogap entre esses dois extremos da escala. Se, porum lado, Moran parte de um conhecimento deta-lhado da variabilidade ecológica e social daAmazônia, e isto implica, necessariamente, numconhecimento enciclopédico da literatura ecoló-gica, antropológica e arqueológica, por outrotenta organizar suas correlações não mais emespaços pontuais, mas em amplos espaços, quepoderíamos denominar os grandes ecossiste-mas amazônicos já reconhecidos como tais. Aobra é, portanto, a síntese mais completa e epis-temologicamente mais consistente sobre comoas distintas paisagens amazônicas interferiramna formulação das organizações sociais de suaspopulações humanas, organizações sociais aíentendidas como soluções adaptativas para oenfrentamento de questões de sustentabilida-de material.

No primeiro capitulo, além do autor apresen-tar um breve resumo da história recente das po-pulações nativas da Amazônia, apresenta umquadro extremamente didático sobre a variabili-dade ecológica da região, demonstrando clara-mente que ela é bastante superior às tradicio-nais várzea e terra firme. A partir daí, organizaseu livro em torno daquilo que denomina osquatro grandes ecossistemas já reconhecidosna região: os ecossistemas de rios de águasnegras, os de florestas altas, os de várzeas e osde savanas. Moran não assume, em absoluto,

que sua compartimentação ecológica esgota adiversidade ecossistêmica da região. Na verda-de, em quase todos os capítulos, o autor enfa-tiza que qualquer um desses ecossistemas apre-senta grande variação interna. Ocorre, entre-tanto, que essa variabilidade “intraecossiste-mas conhecidos” ainda está por ser melhor es-tudada e organizada. Falta uma tipologia acei-tável sobre a qual trabalhar. Exatamente por isso,o autor.prefere adotar uma postura conserva-dora, porém prudente, ao restringir suas análi-ses antropo-ecológicas a apenas quatro gran-des ecossistemas.

Certamente dos quatro capítulos onde a adap-tação e a adaptabilidade social são tratadas, omais elegante e com maior coerência intrínseca éo que trata dos ecossistemas de rios de águasnegras, também publicado isoladamente peloautor, sob a forma de artigo, em American An-thropologist. Qualquer antropólogo, por maisideacionista que possa ser, rende-se às evidên-cias incontestes, apresentadas por Morar, decomo as características oligotróficas desses ecos-sistemas influenciaram diretamente na morfolo-gia social das populações nativas que ali se es-tabeleceram ao longo dos séculos. Mas o pró-prio autor admite que o mérito é menos seu doque da própria situação de campo. Afinal, sãoos ecossistemas de águas negras que apre-sentam, na Amazônia, os maiores obstáculos aoassentamento humano, em termos de sustentabi-lidade material. A Antropologia Ecológica prevêclaramente que é sob situações de extrema in-disponibilidade de recursos materiais que aspopulações humanas apresentam menor flexibi-lidade de organização social, gerando, dessa for-ma, morfologias extremamente idiossincráticas.

Mas Moran não adota uma postura naivediante das relações entre meio ambiente e orga-nizações sociais humanas. Tão pouco restrin-ge a variabilidade paisagística somente àquelaque foi captada pelo exercício da ciência. Du-rante todo o livro, Moran tenta demonstrar nãosomente como as sociedades humanas são ca-pazes de agir sobre ecossistemas naturais, for-jando aquilo que William Balée denomina “flo-restas culturais” mas também como determi-nados compartimentos reconhecidos pelaecologia ocidental desdobram-se em nuancesde diversidade, quando lidos à luz do conhe-cimento nativo.

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As Ciências no Brasil. Fernando de Azevedo(organizador). 2a edição, Rio de Janeiro:Editora da Universidade Federal do Rio deJaneiro, 1994. 2v., ilus.ISBN 85-7108-067-4

O Fórum de Ciência e Cultura da Universida-de Federal do Rio de Janeiro fez uma coisa quehá muito já deveria ter sido feita: reeditou AsCiências no Brasil de Fernando de Azevedo.

Faz muito tempo, andei lendo algumas partesdesse livro na biblioteca do Instituto OswaldoCruz e, quando recentemente apareceram diver-sos volumes sobre as ciências no Brasil, fiqueiimpressionado com a diferença de padrão. Comodiz Antônio Cândido no prefácio, o primeiro “foi

O último capítulo, “Human Ecology as a Criti-que of Development”, deveria ser de leitura obri-gatória àqueles que se encarregam de gestõesde políticas públicas para a Amazônia. Se perso-nalidades regionais, como Gilberto Mestrinho (sópara citar o mais polêmico embora o mais trans-parente deles) o lesse e fizesse um esforço ho-nesto de entendê-lo, muitos dos erros cometi-dos no passado no intento de desenvolver aregião mostrar-se-iam desnecessários e, certa-mente, o futuro poderia ser poupado do vexameinternacional de vê-los repetidos e da misériasocial e natural por eles produzidas. Ainda que aCiência e a observação sistemática do etnoco-nhecimento estejam longe de gerar soluções paratodos os problemas que afligem a região, longeestamos da ignorância completa sobre a bio e asociodiversidade amazônicas. Pelo menos sufi-cientemente longes para evitarmos meia dúziade erros banais, cuja ocorrência não merece ou-tra classificação que desídia e cuja re-ocorrêncianão merece outra classificação que crime contraa humanidade.

Em síntese trata de uma grande obra, escritapor um grande especialista em assuntos amazô-nicos. Certamente entrará para o futuro comouma das principais obras realizadas sobre a eco-logia das populações humanas amazônicas. Coma diferença que, neste caso, poderemos nos or-gulhar de ter visto, pela primeira vez na históriada Antropologia Ecológica Brasileira, se é que

existe uma, uma obra gerada pelo pensamentomaterialista publicada primeiramente no país, emportuguês, já que a mesma pode ser encontradanas prateleiras das livrarias e bibliotecas nacio-nais sob o título de “A Ecologia Humana das Po-pulações da Amazônia”, editora Vozes, desde 1990.Ignorá-la, seja na sua versão em português, sejana sua recente versão em inglês, poderá redundarnum grande atraso para a produção antropológi-ca, enquanto ciência, e em graves equívocosdesenvolvimentistas para aqueles responsáveispelos destinos geo-políticos da região.

Walter NevesInstituto de Biociências

Universidade de São Paulo

Referências Bibliográficas

BALÉS, W., 1989. Cultura na vegetação da Ama-zônia brasileira. In: Biologia e Ecologia Hu-mana na Amazônia: Avaliação e Perspectivas(W. A. Neves, org.), Belém: Museu ParaenseEmílio Goeldi.

HAMES. R. & VICKERS, W. (Eds.), 1983. AdaptiveResponses of Native Amazonians. New York:Academic Press.

MORAN, E. F., 1991. Human adaptive strategies inAmazonian blackwater ecosystems. AmericanAnthropologist, 93: 361-382.

a síntese orientada pelo homem certo na horacerta”. Apesar do autor desse prefácio falaremsaber “desinteressado” Fernando de Azevedoabre a introdução, mencionando o papel da Es-cola de Sagres nas descobertas do século XVI.

Muito bem explicadas as razões do atrasocultural do Brasil, no tempo da colônia.

Não sabíamos do papel do Visconde do RioBranco, no desenvolvimento do ensino das ci-ências com a transformação da Escola Centralem Escola Politécnica e a fundação da Escola deMinas em Ouro Preto.

Fernando de Azevedo critica acerbamente, oque chamou de “era dos tributos” que se insta-lou no segundo império, mas essa introdução é,na verdade, tuna bela peça oratória.

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A matemática está apresentada por F. M.Oliveira Castro. No império ela foi ensinadaonde era necessária, nas escolas militares e deengenharia.

Para quem não é versado em astronomia ficadifícil fazer qualquer comentário sobre esse ca-pítulo. Entretanto, salta aos olhos o interesseque existia por essa ciência no tempo das gran-des descobertas. Houve até padres jesuítasastrônomos.

A física foi apresentada por J. Costa Ribeiro esua história é semelhante à das outras ciências.Acompanhou o lento desenvolvimento culturaldo país.

O estudo da meteorologia coube ao seu mai-or entusiasta, Sampaio Ferraz. É uma história delutas, vitórias e derrotas, onde sobressaem ascontribuições individuais.

Já conhecíamos a força do prof. Victor Leinz,de modo que não nos surpreendeu o brilhantis-mo de sua apresentação da geologia. Do mesmonível é a contribuição de Othon Leonardos so-bre a mineralogia e a petrografia.

Na geografia Costa Pereira apresenta, na rea-lidade, uma interessantíssima história do Brasil.

Uma comparação com a História das Ciênciasno Brasil editada por Mario Guimarães Ferri e Sho-zo Motoyama, fica difícil, são coisas heterogêne-as. A partir da criação de CNPq, da Finep e dasfundações estaduais, pode-se dizer. “choveu di-nheiro na horta da pesquisa científica”. Houve umaexplosão de publicações e, como dizem diversosautores, a qualidade não correspondeu aos recur-sos disponíveis. Nisso ainda interfere um outrofator. A associação do ensino com a pesquisa le-vou à necessidade de fazer currículo. Dessa forma,é comum encontrar trabalhos de professores uni-versitários tecnicamente muito bem feitos, mas quenão acrescentam uma linha ao conhecimento huma-no. Publicados, portanto, unicamente para servircomo título. O que, a nosso ver, é lamentável.

Mario E. AragãoDepartamento de Ciências Biológicas

Escola Nacional de Saúde Pública

Aboriginal Health and History: Power andPrejudice in Remote Australia. E. Hunter.New York: Cambridge University Press, 1993.xvi + 318 pp., índice, biblio., figuras e tabelas.ISBN 0.521.41629.9 (capa dura)ISBN 0.521. 44760.7 (brochura)US$59.95

A obra em apreço, de autoria de Ernest Hun-ter, médico psiquiatra australiano, constituiuma das mais importantes contribuições recen-tes à epidemiologia das populações nativasda Oceania.

Trata-se de um estudo de caso que enfoca apopulação aborígena da região de Kimberley, aonoroeste da Austrália. O objetivo da investigaçãoé analisar o impacto sobre as condições de vidae de saúde aborígena, das mudanças sociocul-turais, econômicas e ambientais advindas docontato com os Europeus. Hunter está particu-larmente interessado em epidemiologia e saúdemental, enfocando o alcoolismo, mudanças de

comportamento, assassinatos e suicídio na po-pulação aborígena.

Ernst Hunter realiza cuidadoso inquérito epi-demiológico, complementado pela análise de da-dos secundários (principalmente causas de óbi-to) disponíveis nos serviços locais de saúde.Simultaneamente, o autor conduz investigaçãode orientação antropológica constituída por en-trevistas em profundidade. Chama a atenção ocuidado com o método, sempre apresentado deforma crítica. Questões de ordem ética advindasda investigação de campo são também discuti-das ao longo do texto.

Até a chegada dos europeus no final do sé-culo XIX, a região de Kimberley constituiu terri-tório sagrado dos povos aborígenas por mais de40 mil anos. Após este contato, suas terras fo-ram violentamente invadidas por fazendeiros, ga-rimpeiros e outros intrusos, o que levou a dizi-mação da população nativa e ursupação de seusterritórios. O autor demonstra sem deixar dúvi-das como que a marginalização e alienação dos

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Qualidade de Vida: Compromisso Históricoda Epidemiologia. Maria Fernanda F Lima eCosta & Rômulo Paes de Sousa(organizadores). Belo Horizonte:Coppmed/Rio de Janeiro: Abrasco, 1994.290 p.ISBN 85-85002-11-5

Organizado por Maria Fernanda F. Lima eCosta e Rômulo Paes de Sousa, o livro “Quali-dade de Vida: Compromisso Histórico da Epi-demiologia” constitui-se nos Anais do II Con-gresso de Epidemiologia, realizado em Belo Ho-rizonte, 1992. A variedade de tópicos abor-dados nas conferências, mesas-redondas, pa-inéis e grupos de discussão propicia, a nossover, um apanhado compreensivo da teoria e daprática corrente da Epidemiologia, particular-mente no Brasil e nos países da América Lati-na. É uma produção científica benvinda, quedemonstra o sucesso e vigor deste evento, comos textos agrupados por grandes temas, con-forme explicitam os próprios organizadores.

Por se tratar de uma coletânea que reúneapresentações em um fórum de discussão, por-

povos aborigenas, expulsos de suas terras e for-çados a viver na periferia de uma sociedade quenão os aceitam, leva a um quadro de pobreza eviolência generalizada.

Chama a atenção a semelhança do quadrodescrito por Hunter com aquele observado nasregiões mais pobres do mundo “subdesenvolvi-do”, o que torna ainda mais gritante os resulta-dos deste estudo por expôr as enormes distân-cias que separam o “main stream” da socieda-de australiana de seus aborígenas. Elevadastaxas de mortalidade materna e infantil, altasprevalências de infecções respiratórias, desnu-trição infantil, doenças cardiovasculares, dia-betes mellitus, alcoolismo e acidentes somam-seàs precárias condições de vida, habitação edesemprego, produzindo um quadro marcadopor violência, alcoolismo e elevadas taxas desuicídio entre jovens.

Ao final do livro, no entanto, o autor assumeum tom otimista no que se refere ao futuro dapopulação aborígena da Austrália em geral, e de

Kimberley em particular. Para Hunter, os acenosrecentes por parte do governo federal, atravésda promulgação de legislação específica, visan-do regularizar a situção das terras aborígenas,são um indicativo de que, no futuro próximo,mudanças positivas poderão ocorrer para rever-ter o cenário tão vivido de pobreza e exclusãodescrito pelo autor. Além disso, o amadureci-mento e expansão dos movimentos étnicos naAustrália dão voz às lideranças aborígenas, fatoinusitado na história do país.

A leitura deste livro é altamente recomenda-da não somente pelas discussões metodológi-cas e teóricas mas, principalmente, pela análisemeticulosa de uma realidade que, em sua essên-cia, aplica-se também à realidade com a qual sedeparam as populações indígenas no Brasil.

Carlos E. A. Coimbra Jr.Departamento de Endemias Samuel Pessoa

Escola Nacional de Saúde Pública

tanto com características dinâmicas, trabalhosrigorosamente escritos do ponto de vista edi-torial se entremeiam com versões preliminaresde artigos ainda com bibliografia parcial ou ine-xistente, além de alguns deslizes de citação ede ortografia. Não importa, é justamente naagregação de textos heterogêneos, que se podeapreender a força das idéias, a expressão das“inteligências”, as peculiaridades das contri-buições individuais e de grupos, e, principal-mente, a rede de interações geradas durante oCongresso de Epidemiologia.

A obra dividida em 13 partes, incluindo rela-tórios de grupos de discussão e sumário daspublicações cientificas dos dois primeiros Con-gressos de Epidemiologia, apresenta, no capí-tulo de abertura, os artigos: “Qualidade de vida:compromisso histórico da epidemiologia”; “Re-pensando a associação entre indicadores desaúde e de qualidade de vida”, “Quantitativo equalitativo em indicadores de saúde: revendoconceitos”. Ruffino Netto faz uma retrospecti-va histórica correlacionando a qualidade de vidacom o conhecimento em diferentes períodos, eexemplifica através de indicadores econômicos

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e epidemiológicos as desigualdades sociais noBrasil. C. G. Victora F. C. Barros apresentamcriativas pesquisas recentes sob o perfil epide-miológico da mortalidade infantil, utilizando osclássicos indicadores de saúde adaptados àsnovas condições de urbanização. M. C. S. Mi-nayo discute com vigor a complementarieda-de entre o quantitativo e o qualitativo em saú-de, bem como os equívocos de compreensãoarraigados nesta área.

As doenças infecto-contagiosas e crônicas,tradicionalmente objeto de estudo daEpidemiologia, compõem os dois capítulosseguintes. Doença de Chagas, AIDS/HIV eCólera são abordadas no seu aspecto históri-co, na complexidade da dinâmica da popula-ção e no processo de disseminação infra-urba-no pelos textos: “Doença de Chagas no Brasil– situação atual e perspectivas”, J. C. P. Dias;“Epidemiologia da AIDS/HIV no Brasil”, M.D. C. Guimarães; “Cólera – situação atual etendências”, M. Libel. Sobre o tópico – Epide-miologia das Doenças Crô-nico-Degenerativas– o artigo “Câncer no Brasil: um risco crescen-te”, G. A. S. Mendonça enfatiza a expressãodo câncer no quadro nosológico dos paísesem transição demográfica, demonstrando asdiferenças regionais através das taxas de inci-dência dos seis registros brasileiros. Discor-re; ainda, sobre fatores de risco, incluindo oacidente radioativo ocorrido em Goiânia. Em“Bases epidemiológicas para o controle do di-abetes mellitus”, L. J. Franco traça o perfil epi-demiológico no Brasil e registra o despreparodo sistema de saúde como um todo para aten-dimento da demanda e controle.

Abordando os temas de nutrição emorbimortalidade são incluídos os artigos: “Oestado nutricional das crianças brasileiras: atrajetória de 1975 a 1989”, C. A. Monteiro et al.e o “The impact of vitamin A supplementationon child mortality and morbidity”, D. A. Ross.Trazem os resultados de pesquisas epidemio-lógicas, conduzidas dentro do rigor metodo-lógico e com implicações práticas, ressaltan-do o impacto de deficiências nutricionais napopulação infantil no Brasil e países de tercei-ro mundo.

Isolado no capítulo – Causalidade na Epide-miologia – e polêmico no conteúdo, o artigo“Caos e causa da Epidemiologia”, N. Almeida

Filho, tem o grande mérito de ser provocadorao distinguir a Epidemiologia inferencial daEpidemiologia referencial, fatores de risco ecenários de risco, questionando conceitos jáestabelecidos. Traz ao final da mesa-redondaa transcrição da fala dos participantes, queparecem atraídos pelas possibilidades deincorporação de uma Epidemiologia com po-der de transformação na prática dos serviçosde saúde.

Abrindo a parte intitulada As Concepções doColetivo em Epidemiologia, o cuidadoso e fun-damentado artigo de M. L. Barreto e P. C. Alves– “O coletivo versus o individual na Epidemiolo-gia: contradição ou síntese?” – tem como objeti-vo central analisar a concepção de coletivo utili-zada na epidemiologia e a influência de outrasdisciplinas na construção deste conceito. Em“Dialectiea de lo colectivo en Epidemiologia”,autor estrangeiro, J. Breilh, resgata na poesia dogrande poeta brasileiro Carlos Drummond deAndrade, a metáfora atual de um marxista quecompreende os novos tempos, mas lembra queas desigualdades no terceiro mundo podem nãoser resolvidas com os modelos políticos neoli-berais tão em moda.

Reunidos sob o tema “Epidemiologia no ter-ceiro mundo”, os artigos de três especialistasde países latino-americanos vão do âmbitomais geral dos conceitos e da produção cien-tífica recente, ao particular da Epidemiologiada velhice enquanto desafio adicional nestecontexto. S. Franco, da Colômbia, discute em“para estudiar la slaud del tercer mundo. Ano-taciones preliminares” as categorias tradicio-nalmente utilizadas para dividir os países ecritica a inadequação de tais definições eco-nômicas que camuflam as desigualdades soci-ais internas de cada região do mundo. H. P. P.Zuñiga, em “Epidemiologia no terceiro mun-do”, analisa a produção científica da AméricaLatina, em 1991, comparando-a com a interna-cional e incluindo um perfil do Chile em rela-ção à Epidemiologia nos serviços de saúde eno ensino. R. P. Veras, em “Envelhecimento –desafios e perspectivas: um estudo de preva-lência na cidade do Rio de Janeiro”, congregaresultados de pesquisas de campo, com ex-tenso e atual referencial teórico, inovando por

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apresentar a discussão da mudança do perfildemográfico no contexto terceiro-mundista.Enfatiza que estes novos desafios de ativi-dades e pesquisa em saúde em relação ao ido-so, devem ser incorporados no compromissohistórico da Epidemiologia com a qualidadede vida.

“A Epidemiologia na organização dos servi-ços de saúde” é tema de mesa-redonda. Asdiscussões sobre os marcos teóricos e sobreos efeitos das políticas institucionais naorganização social dos serviços é introduzidopor G. R. Silva que aponta o modelo propostopor Castelhano como uma boa aproximaçãopara este tipo de análise. Segue-se a exposi-ção sobre “A reforma sanitária e os modelosassistenciais: a epidemiologia na organizaçãodos serviços de saúde”, J. S. paim que apre-senta, de forma didática, as mudanças dosmodelos assistenciais vigentes e as propos-tas alternativas, bem como os fundamentos doprocesso de municipalização e distritalizaçãoem saúde na atual conjuntura brasileira. O en-foque da estratificação epidemiológica comoinstrumental metodológico para avaliar o im-pacto das desigualdades de vida sob as con-dições de saúde é abordado por N. Nuñes em“Perfiles de mortalidad según condiciones devida en Venezuela”. P. J. N. Chequer, em “Epi-demiologia e serviços de saúde”, discore so-bre a importância da criação de um CentroNacional de Epidemiologia do Ministério daSaúde como locus de formulação de propos-tas nacionais no campo da epidemiologia.

O tema ecologia e sua relação com os modelosde crescimento econômico é contemplado na con-ferência de P. M. Buss, “Desenvolvimento, ambi-ente e saúde”. Traça um panorama da AméricaLatina nas últimas décadas, incluindo desde as-pectos relativos à organização do espaço, migra-ção rural-urbano, mobilidade continuada e pau-perização a exemplos específicos sobre o uso deagrotóxicos, mercúrio e poluição do ar.

Embora sob ângulos diferentes, os artigosincluídos no item – Ética e Epidemiologia –reforçam a necessidade de definição de regras

de conduta, nas ações do Estado, nas pesqui-sas e nas atividades de .prestação de servi-ços, devido à natureza coletiva da epidemio-logia. A preservação dos direitos humanos semnigligenciar o dado local, a busca do bem-estarsocial e o respeito ao indivíduo são os pontoscomuns aos artigos: “Etica de 1 desarrolo ypapel del sector salud” R. Rodriguez, “Éticasanitária”, S. G. Dallari; “Ética e epidemiolo-gia”, M. B. Debert-Ribeiro.

A análise da produção científica dos doisprimeiros Congressos de Epidemiologia, feitaem “Temas e métodos de Epidemiologia: análi-se da produção científica dos congressosbrasileiros de epidemiologia, 1990 e 1992” evi-dencia o número crescente de participantes ede trabalhos. Vale destacar o que diz M. L. S.Souza et al.: “participar em Congresso repre-senta a oportunidade para exposição de expe-riências que estavam escondidas no dia-a-diado trabalho institucional. Por isso pode signi-ficar, não somente expressão de interesses in-dividuais, mas de reflexos do clima de priori-dades e incentivos que predominam no campoda Epidemiologia”. Como parte final do livro,quatro relatórios: “Fundamentos conceituaisem epidemiologia”, “Repensando a vigilânciaepidemiológica”, “Epidemiologia na pós-gra-duação stricto sensu” e “Utilização de gran-des bancos de dados” representam a opiniãode especialistas de diferentes situações.

Os congressos de Epidemiologia, atravésde seus rituais de confraternização, possibili-tam a discussão de idéias inovadoras e polê-micas e o reconhecimento de conceitos e ban-deiras que irão frutificar e influenciar a produ-ção científica e a prática de saúde nos próxi-mos anos. Este livro, por disseminar tais de-bates, merece ser lido e utilizado como fontede consulta na área acadêmica e nas ativida-des de saúde.

Celina Maria Turchi MartelliDepartamento de Saúde Coletiva

Universidade Federal de Goiás

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Principais Mosquitos de ImportânciaSanitária no Brasil. Rotraut A. G. B. Consoli& Ricardo L. de Oliveira Rio de Janeiro:Editora Fiocruz, 1994. 228 p.ISBN 85-85676-05-5R$ 19,00

Trata-se de livro que objetiva, para os que seinteressam em iniciar-se na especialidade, apre-sentar os elementos fundamentais do estudo dosmosquitos Culicidae. Nesse sentido preocu-pa-se, de início, com a morfologia externa e abiologia e a morfologia interna desses animais.A partir do Capítulo 3 e no total de cinco quecompõem o livro, o texto é dedicado a classifi-cação, identificação e o fornecimento de algunsdados sobre a biologia de espécies de interesse

epidemiológico. Termina dedicando o Capítulo 5à descrição de técnicas de estudo.

Obviamente, não se pode dizer que se tratade texto largamente abrangente, mas simespecializado em populações vetorasepidemiologicamente significantes no Brasil.Dentro do objetivo a que se propôs; constituitexto aproveitável e útil para estagiários de nívelmédio que se destinem à operacionalização decampanhas sanitárias de controle. Nesse senti-do recomenda-se para laboratórios de saúdepública e mesmo para novos cursos de parasito-logia de escolas médicas.

Oswaldo Paulo ForattiniFaculdade de Saúde Pública

Universidade de São Paulo