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22/09/2015 Entrevista: Luiz Carlos Chichierchio Arcoweb https://arcoweb.com.br/finestra/entrevista/luizcarloschichierchio01042003 1/7 Entrevista: Luiz Carlos Chichierchio "É POSSÍVEL OBTER ECONOMIA COM A FACHADA VENTILADA" ATUALMENTE À FRENTE DA EMPRESA AMBIENTAL E PROFESSOR NA FACULDADE DE ARQUITETURA ANHEMBI-MORUMBI, CHICHIERCHIO MANTÉM ESTREITA RELAÇÃO COM TUDO QUE OCORRE NO SETOR DE EFICIÊNCIA ENERGÉTICA 1 interação 0 Comentário Tweet 0 1 Like Recommend th NEWSLETTER Nome Email Letras da figura acima C Ao concluir o curso de graduação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, na década de 1960, Luiz Carlos Chichierchio deu início a uma caminhada profissional direcionada para a área acadêmica e para o desenvolvimento de projetos relacionados ao conforto ambiental das edificações. Como professor, começou suas atividades em 1968 junto ao grupo da disciplina de conforto ambiental, na própria faculdade em que se formou e na qual se aposentou em 1998. Como profissional de mercado, tem seu nome ligado a obras relevantes, em vários segmentos da indústria da construção civil, que buscam soluções de projeto e de tecnologia de ponta, para equilibrar o tripé desempenho das fachadas x conforto ambiental x eficiência energética. Nesta entrevista a Cida Paiva, ele fala de fachadas seladas dos grandes edifícios, desempenho de materiais, arquitetura bioclimática e das inovações tecnológicas que já começam a ser utilizadas utilizadas na Europa. “Estamos às vésperas de assistir a grandes mudanças nos conceitos da tecnologia aplicada às fachadas e esses sistemas certamente chegarão ao Brasil, como outros hoje utilizados”, afirma. FACHADAS DE VIDRO As torres comerciais têm se transformado, cada vez mais, em volumes selados por grandes fachadas de vidro. Existem críticos e defensores da aplicação dessa tendência em um país de clima tropical. Como o senhor avalia a questão? Quando eu era aluno, no início dos anos 60, os professores explicavam o que deveria representar um edifício que incorporasse as conquistas daquilo que se denominava, na época, a arquitetura moderna. E uma das características era o vidro nas fachadas, sendo as aberturas, principalmente as janelas, os componentes que permitiriam a comunicação com o exterior. Um deles chegou a fazer uma lista de itens, relatando o que uma janela propicia, como a visibilidade para o exterior, o controle da temperatura e a entrada de luz. É fácil, portanto, observar a grande responsabilidade desse elemento. Naquela época, as aberturas visuais para o exterior eram apenas as janelas. Agora, na maioria dos projetos, toda a fachada é de vidro e lacrada, para proteger o interior do edifício da poluição ambiental. O esforço dos professores, há cerca de 40 anos, era para tentar convencer os alunos de que os projetos deveriam abrir as edificações mais do que na época se fazia. Esses professores foram tão eficientes que Edições Anteriores Índice Notícias Projeto Design Finestra Assine BUSCA Busca avançada

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22/09/2015 Entrevista: Luiz Carlos Chichierchio ­ Arcoweb

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Entrevista: Luiz Carlos Chichierchio"É POSSÍVEL OBTER ECONOMIACOM A FACHADA VENTILADA"ATUALMENTE À FRENTE DA EMPRESA AMBIENTAL E PROFESSOR NA

FACULDADE DE ARQUITETURA ANHEMBI-MORUMBI, CHICHIERCHIO

MANTÉM ESTREITA RELAÇÃO COM TUDO QUE OCORRE NO SETOR DE

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA

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CADASTRAR

Ao concluir o curso de graduação na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, na década de 1960,

Luiz Carlos Chichierchio deu início a uma caminhada profissional direcionada para a área acadêmica e para

o desenvolvimento de projetos relacionados ao conforto ambiental das edificações.

Como professor, começou suas atividades em 1968 junto ao grupo da disciplina de conforto ambiental, na

própria faculdade em que se formou e na qual se aposentou em 1998. Como profissional de mercado, tem

seu nome ligado a obras relevantes, em vários segmentos da indústria da construção civil, que buscam

soluções de projeto e de tecnologia de ponta, para equilibrar o tripé desempenho das fachadas x conforto

ambiental x eficiência energética. 

Nesta entrevista a Cida Paiva, ele fala de fachadas seladas dos grandes edifícios, desempenho de materiais,

arquitetura bioclimática e das inovações tecnológicas que já começam a ser utilizadas utilizadas na Europa.

“Estamos às vésperas de assistir a grandes mudanças nos conceitos da tecnologia aplicada às fachadas e

esses sistemas certamente chegarão ao Brasil, como outros hoje utilizados”, afirma.

FACHADAS DE VIDRO

As torres comerciais têm se transformado, cada vez mais, em volumes selados por grandes

fachadas de vidro. Existem críticos e defensores da aplicação dessa tendência em um país de clima

tropical. Como o senhor avalia a questão?

Quando eu era aluno, no início dos anos 60, os professores explicavam o que deveria representar um

edifício que incorporasse as conquistas daquilo que se denominava, na época, a arquitetura moderna. E

uma das características era o vidro nas fachadas, sendo as aberturas, principalmente as janelas, os

componentes que permitiriam a comunicação com o exterior.

Um deles chegou a fazer uma lista de itens, relatando o que uma janela propicia, como a visibilidade para o

exterior, o controle da temperatura e a entrada de luz. É fácil, portanto, observar a grande responsabilidade

desse elemento.

Naquela época, as aberturas visuais para o exterior eram apenas as janelas. Agora, na maioria dos

projetos, toda a fachada é de vidro e lacrada, para proteger o interior do edifício da poluição

ambiental.

O esforço dos professores, há cerca de 40 anos, era para tentar convencer os alunos de que os projetos

deveriam abrir as edificações mais do que na época se fazia. Esses professores foram tão eficientes que

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USP e Prefeitura deSP lançam residênciaem urbanismo

MAIS LIDAS

deveriam abrir as edificações mais do que na época se fazia. Esses professores foram tão eficientes que

todos os arquitetos de minha geração saíram fazendo aberturas o maior possível.

Além disso, depois da Segunda Guerra Mundial, no período de reconstrução das cidades européias, uma das

mudanças na forma de projetar e construir foi o aumento das áreas envidraçadas. Mas logo se percebeu

que o exagero tornava os edifícios pouco econômicos, do ponto de vista da climatização - no caso da

Europa, por causa do inverno.

E o que se seguiu a essa constatação?

Vários países começaram a desenvolver estudos para limitar o gasto de energia com climatização, pois a

Europa estava saindo da guerra com sérios problemas econômicos. Foram montados laboratórios na

França, Itália, Bélgica, Inglaterra, entre outros países, para estudar essas questões, originando-se uma série

de regulamentações.

Só que tanto a Europa como os Estados Unidos progrediram economicamente e as empresas começaram a

perceber que a arquitetura poderia reforçar sua imagem institucional. E uma das formas de expressar esse

poder econômico foi aumentar ainda mais o uso dos vidros e de materiais transparentes.

Até que, no começo dos anos 1970, a crise de energia levou ao aumento brutal do preço do petróleo. Países

europeus cuja energia dependia dessa fonte começaram a rever o desempenho das fachadas. Surgem

soluções, como o vidro duplo, que, no inverno, tem grandes vantagens em relação ao vidro simples.

A partir dessa época, qual o papel que o vidro passa a desempenhar na arquitetura?

O vidro, assim como outros materiais transparentes, deve ser analisado sob dois aspectos. Quanto à

transmissão de calor por diferença de temperatura do ar, dentro e fora do edifício, a propriedade que

comanda esse desempenho é a isolação, ou seja, a condutância térmica global. Quanto menor ela for,

melhor o desempenho do vidro. A condutância térmica da janela dupla é metade da verificada na janela

simples, o que é ótimo no inverno.

No segundo aspecto, que é o comportamento perante o sol, a janela dupla não representa grande

vantagem.

CONFORTO TARMOACÚSTICO

Transportando essa condição para o clima brasileiro, qual o desempenho do vidro duplo?

Na Europa e nos Estados Unidos, percebeu-se que uma abertura na fachada teria melhor desempenho, em

relação às trocas térmicas de inverno, com o uso do vidro duplo. Sob o sol, uma das conveniências seria ter

um dos vidros colorido, escuro, pigmentado. A partir daí, ocorreu grande divulgação do vidro colorido,

laminado ou monolítico, como parte do sistema de vidro duplo.

E a indústria continuou apresentando novidades. Uma delas foi o vidro refletivo, que melhora um pouco o

desempenho no inverno, pois devolve para o interior o calor gerado dentro pela climatização. No verão, ele

reflete mais, devolvendo para o exterior uma parte maior da radiação solar incidente.

Enquanto essas coisas aconteciam na Europa e nos Estados Unidos, nos países tropicais, entre eles o Brasil,

continuou-se a absorver as novidades produzidas no exterior.

Como se dá essa influência nos projetos brasileiros para edifícios comerciais?

Recebemos informações através de livros, revistas, filmes, visitas e feiras. Começamos a fazer aqui o que se

fazia na Europa e nos Estados Unidos, e isso trouxe alguns choques.

Nossa economia não é suficiente para realizar as correções que lá ocorrem. Somente uma porcentagem

pequena dos edifícios construídos no Brasil - principalmente entre aqueles destinados à habitação - pode

ter sistemas de ar condicionado.

CURSOS

24/09/2015 - 25/09/2015

Curso de Acessibilidade Aplicada- AEA Educação Continuada

25/09/2015 - 26/09/2015

Curso de Gestão de Escritóriosde Arquitetura e Design deInteriores - AEA EducaçãoContinuada

25/09/2015 - 26/09/2015

Curso de Orçamento de Obras -AEA Educação Continuada

28/09/2015 - 29/09/2015

Curso de Arquitetura deHospitais, Clínicas e Laboratórios- AEA Educação Continuada

EXPOSIÇÕES

23/09/2015

Lançamento do livro "GlaucoCampello: Caderno deArquitetura". No Rio de Janeiro

SEMINÁRIOS

22/09/2015

8º Simpósio Brasileiro deConstrução Sustentável. Em SãoPaulo

AGENDASetembro 

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em urbanismo

1645

Cinco novas funçõesna arquitetura criadaspela tecnologia

2841

Escritório Rosenbaum:Restaurante Bossa,São Paulo

80

Alemanha concedebolsas em arquiteturapara brasileiros

12915

Vivemos numa situação em que a casa é pobre e o edifício comercial é rico. Temos, então, de conviver com

culturas e padrões econômicos variados. É comum, às vezes, esquecermos um desses lados e falarmos

somente em tecnologia de ponta.

Comprei um livro sobre fachadas transparentes e fiquei surpreso com o que estão oferecendo no mercado

europeu.

Quais as novidades na Europa?

Já não se fala apenas em fachadas com vidro laminado duplo, e sim com vidros que possuem até oito

camadas de materiais sensíveis às várias energias luminosas e térmicas. Estamos às vésperas de assistir a

uma grande mudança nos conceitos da tecnologia aplicada às fachadas. Daqui a alguns anos esses sistemas

chegarão ao Brasil.

Antes se falava de edifícios inteligentes em função dos sistemas de automação, que detectavam a presença

de pessoas para acender ou apagar luzes, visando a economia de energia, e a questão térmica entrava

como um capítulo. Agora, fala-se de edifícios ambientalmente corretos, com fachadas inteligentes, porque

capazes de detectar as condições exteriores, com o objetivo de obter conforto ambiental e economizar os

gastos com climatização.

A fachada tecnologicamente correta é aquela que participa da eficiência energética do edifício?

Sim, porque na Europa, por exemplo, durante pelo menos quatro meses não é possível ocupar os edifícios

se não houver climatização. Eles são obrigados a climatizar, mas estudam formas de economizar os custos

com energia.

Materiais como vidro, granito e painéis de alumínio, quando utilizados em fachadas, têm bom

desempenho no que se refere ao conforto termoacústico?

As lâminas de granito e os painéis de alumínio só são eficientes quando combinados com materiais

isolantes, como lã mineral. É necessária uma composição em que o granito ou o painel de alumínio seja

uma parte, o revestimento.

Um exemplo é o edifício Pirelli, na Itália. É um dos mais conhecidos do mundo e gastava por ano, em

climatização, um décimo de seu custo. Com esse dinheiro seria possível, a cada dez anos, fazer um prédio

novo. Dados mostram que os gastos com climatização na sede da ONU, em Nova York, permitiriam

construir um edifício igual a cada sete anos.

E as fachadas ventiladas são eficientes?

É possível obter economia com a pele dupla, também chamada de fachada ventilada, porque permite a

circulação do ar. Em geral, nesse sistema a pele externa é de vidro e a interna é metade vidro e metade

alvenaria, ou outra solução semelhante. Esse espaço intermediário permite obter grande vantagem térmica.

O sistema possibilita economia de cerca de 50% no consumo de ar-condicionado, na parcela destinada à

fachada.

Com relação ao isolamento acústico, há um sistema que está sendo divulgado em que os perfis são

preenchidos com lã de vidro.

Parte do desempenho da fachada deve-se às esquadrias, que têm como uma de suas finalidades controlar o

ruído. Atualmente, com os vidros laminados, pode-se chegar às espessuras adequadas para ter o

isolamento acústico desejado.

Nós já fazíamos perfis preenchidos com lã de vidro há 30 anos, só que de forma artesanal. Mandávamos

desmontar os perfis vindos da fábrica e colocar em seus vazios a lã mineral. Mas era uma solução pontual.

Agora, percebemos que os fabricantes estão oferecendo o sistema e muitos projetos começam a utilizá-lo.

Como o caixilho pode colaborar com o desempenho termoacústico da fachada?

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Como o caixilho pode colaborar com o desempenho termoacústico da fachada?

Se for colocado um vidro de espessura adequada, mas com o caixilho oco, o ruído vaza, como se fosse uma

fresta. Se a fachada tem vidro de dez milímetros e caixilho de alumínio com três milímetros, que é muito

mais leve do que o vidro, gasta-se dinheiro e o som passa pela parte oca.

Quando eu era aluno, aprendi a detalhar caixilhos. O arquiteto desenhava e mandava fazer. Agora ele os

seleciona nos catálogos, até porque hoje há fornecedores de qualidade muito melhor do que há 30 anos. A

indústria de caixilhos evoluiu muito.

O surgimento do consultor de vidros e fachadas ocorreu devido à sofisticação dos projetos?

Nos últimos dez ou quinze anos, surgiu em São Paulo e no Rio de Janeiro um profissional - o consultor de

caixilhos. O arquiteto não tem como acompanhar a dinâmica desse mercado, porque os lançamentos

ocorrem velozmente e é difícil manter-se atualizado. Às vezes, as propostas elaboradas pelo próprio

arquiteto criam problemas que, em muitos casos, só o especialista resolverá. Toda essa gama de

consultores vem atender à sofisticação dos projetos.

Existem fachadas que são verdadeiras peças estruturais. Do lado de fora fica exposta apenas a pele de vidro,

enquanto pelo lado interno há uma grande estrutura metálica, com cabos de aço, perfis de aço, viga-vagão.

Também no cálculo estrutural é necessária a participação de um especialista em estrutura metálica para

resolver a fachada.

As fachadas informatizadas, que despontam em alguns projetos na Europa, poderão abrir espaço

para novos tipos de consultores, no futuro?

Sim. Na medida em que o vidro pode escurecer, clarear e aproveitar parte da energia solar para gerar

eletricidade, surgirão especialistas nessas áreas. Quem faz o projeto de iluminação também deverá

entender esse tema, porque a contribuição da luz natural será variável. E cada vez mais torna-se necessário

que todos esses profissionais trabalhem de forma articulada.

Esperamos que o arquiteto não abra mão de ser o coordenador, porque algumas dessas intervenções

poderão interferir na estética e, conseqüentemente, na forma proposta por ele.

A fachada é uma parte do edifício que vem passando por grandes mudanças. Como absorver e

adequar essas novas tecnologias às necessidades do mercado brasileiro, do ponto de vista

tecnológico e também econômico?

Os projetistas, os arquitetos e os clientes perceberão até que ponto essas novas tecnologias devem ser

incorporadas ou não. Isso porque alguém sempre faz as contas, mostra o limite. O mercado tem um jeito de

se controlar, se houver uma inteligência coletiva que dê uma bússola sobre o caminho a ser tomado.

SOLUÇÕES NACIONAIS

Qual a relação da arquitetura bioclimática com a concepção de ocupação do espaço e os estudos

das condições ambientais?

As escolas formam profissionais, arquitetos e urbanistas, aptos a discutir projetos de edifícios e de cidades.

Só que quem decide o afastamento entre um prédio e outro, a largura da rua etc. são as forças econômicas.

Para fazer o bioclimatismo no Brasil, nas regiões em que o clima é úmido - todo o litoral e boa parte da

Amazônia -, um dos caminhos seria o aproveitamento da ventilação natural, permitindo que os ventos e as

brisas circulassem entre os edifícios. Mas o aproveitamento das brisas subentende um tipo de urbanismo

chamado de aberto, que faz os prédios manterem distâncias entre si. Do ponto de vista da exploração

imobiliária, essa solução não é economicamente viável.

Mas o Brasil, por questão econômica, adotou o urbanismo compacto, típico da Europa e dos Estados

Unidos. Brasília é um exemplo de urbanismo aberto. Mas em qual outra cidade do Brasil é possível ter aquele

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arranjo urbano? Em cidades como São Paulo, nem pensar.

Para algumas regiões do país, é viável o desenvolvimento de projetos que utilizem recursos de

ventilação natural?

O Brasil tem uma situação muito especial. Em 30% do território, as condições climáticas são tais que seria

possível projetar edifícios - inclusive comerciais e industriais - sem ar-condicionado, caso fosse bem

aproveitada a ventilação natural e o prédio ficasse protegido do excesso de sol, com boa implantação.

Além de outras soluções, como aberturas reguláveis que fossem maiores no verão e menores no inverno.

Isso se fosse possível ter controle da distância entre as construções e da largura das ruas, ter um plano

diretor para ocupação do solo.

Seja por causa do tipo de arranjo urbano ou da falta de controle da poluição, surgem situações que obrigam

à utilização do ar-condicionado, que filtra, regula a temperatura, a umidade e a velocidade de ventilação.

Selar os edifícios, criando ilhas climatizadas, é então uma tendência irreversível nos grandes

centros urbanos?

Existe a tendência de criar ilhas de tecnologia para manter a qualidade de vida. Em regiões em que o ar

externo é poluído ou o ruído é intenso, a opção é selar o edifício e climatizar o ar interno. Às vezes, quem

tem essa proposta não é o arquiteto, mas o cliente, que solicita algo semelhante ao que viu em um prédio

na Europa ou nos Estados Unidos. Outras vezes é o arquiteto que, igualmente influenciado, tenta fazer algo

que profissionais famosos realizaram no exterior.

A avenida Paulista, por exemplo, é o espigão da cidade de São Paulo e, teoricamente, seria o lugar onde

mais haveria ventilação. Mas, com a construção de uma parede de prédios em ambos os lados, tornou-se

um dos lugares menos ventilados da cidade. Se alguém deseja construir na Paulista, não adianta chamar um

arquiteto supercompetente para projetar um prédio com ventilação natural, porque o ambiente já está

degradado. E, mesmo que fosse possível, que ventilação entraria nesse edifício?

Diante desse quadro, o que estaria reservado para o futuro?

Há cerca de 20 anos eu já fazia uma previsão catastrófica. Se você continuar deixando o ambiente urbano

como terra de ninguém, em que todos podem poluir, fazer barulho, fazer fumaça, e se você atribui ao

edifício os controles, então teremos, de início, o vidro duplo, depois o vidro triplo e tudo filtrado, com

condicionamento.

Existe conhecimento e tecnologia para garantir o ambiente habitado. E quando for necessário andar pela

rua? As pessoas terão que vestir roupa de astronauta e carregar oxigênio em uma bolsa? Por isso é

necessário pensar junto o edifício e a cidade, não apenas como arquiteto, mas como consultor e também

como cidadão.

Senão, estamos caminhando para a criação de edifícios como fortalezas - o que eles já são, em termos de

segurança - que defendam as pessoas do ruído, dos cheiros, da poluição. Se nada for feito, como será daqui

a 20 anos?

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Entrevista: Alessandra Araújo,

diretora da GCP Arquitetos

Entrevista: Davi Akkerman,

presidente da ProAcústica

aflalo/gasperini arquitetos: FL

4300, São Paulo

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Texto de Cida Paiva | Publicada originalmente em Finestra na Edição 37

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