entrevista joão ferrão · de lisboa e vale do tejo rua artilharia 1, nº 33 – 1269‑145 lisboa...

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Dezembro | 2005 ENTREVISTA João Ferrão Secretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades TERRITÓRIOS Costa Azul Desafios no Horizonte ACONTECIMENTO Siemens Aposta na Inovação 3

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Dezembro | 2005

ENTREVISTAJoão FerrãoSecretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades

TERRITÓRIOSCosta AzulDesafios no Horizonte

ACONTECIMENTOSiemensAposta na Inovação

3

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P r o p r i e d a d e

CCDR‑LVT Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do TejoRua Artilharia 1, nº 33 – 1269‑145 LisboaTel.: 21 383 71 00 • Fax: 21 383 12 92URL: www.ccdr‑lvt.pt

D i r e c t o r

António Fonseca Ferreira

D i r e c t o r E x e c u t i v o

Daniela Cabrita

D i r e c ç ã o , C o o r d e n a ç ã o d e P r o d u ç ã o e G r a f i s m o

DDLX Design [www.ddlx.pt]Fernando Luís Sampaio [edição e coordenação]José Teófilo Duarte [direcção de arte]Alexandre de Carvalho | Eva Monteiro [design]Sofia Costa Pessoa [contacto]

R e d a c ç ã o

Ana Sousa DiasAntónio Mega FerreiraCarla Maia de AlmeidaDavid Lopes RamosInês Costa PessoaLuís de CarvalhoPedro MenezesPedro Rosa Mendes

F o t o g r a f i a

Luísa FerreiraMaurício AbreuPedro Soares

I m p r e s s ã o e A c a b a m e n t o

Corlito, Artes Gráficas

T i r a g e m

2200 exemplares

I S S N

1646‑1835

D e p ó s t i o L e g a l

224633/05

L V T # 3 – D e z e m b r o | 2 0 0 5

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Editorial Um Desígnio, Uma Ambição, Uma Oportunidade................................................................ 3 António Fonseca Ferreira

Notícias........................................................................................4

EntrevistaJoão Ferrão..................................................................................8 Ana Sousa Dias

OpiniãoMais que um Exercício de Cosmética........................... 16 António Mega Ferreira

Destaque | ReportagemRequiem‑Aleluia Resort..................................................... 20 Pedro Rosa Mendes

ProtagonistasDescentralizaçãoDois Caminhos Possíveis.....................................................28 Inês Costa Pessoa

AcontecimentoSiemens Aposta na Inovação..............................................................33 Luís de Carvalho

TerritóriosCosta AzulDesafios no Horizonte..........................................................36 Pedro Menezes

PatrimónioUm Lugar ao SolSolar dos Zagallos.................................................................44 Carla Maia de Almeida

EventoUma Estratégia de Lisboa..................................................52 Luís de Carvalho

RoteiroDas Terras do Sado................................................................54 David Lopes Ramos

Agenda....................................................................................... 62

ín dice

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Ao contrário. do. que. um. certo. tradicional­­‑popu‑l­­ismo.nacional­­.diz.e.faz,.hoje.em.dia,.e.cada.vez.mais,.só.haverá.futuro.de.sucesso.–.para.as.nações,.as.regiões.e.as.comunidades.–.se.prospectivarmos.o.nosso.devir,.se.bal­­izarmos,.de.forma.rigorosa,.as.apostas.(dese‑

jáveis.e.possíveis).e.organizarmos.racional­­mente.e.eficientemente.os.meios.que.nos.facul­­tam.atingir.esses.objectivos.A.isto.chama‑se.planeamento estratégico..Fil­­osofia,.metodol­­ogia.e.ferramenta.indispensáveis.para.vencer.os.desafios.do.desenvol­­‑vimento,.mel­­horar.a.qual­­idade.de.vida.e.afirmarmo‑nos.em.“nichos”.de.mercado.com.vantagens.competitivas.gl­­obais.É.assim.para.o.país;.é.assim.para.a.região.Reconquistada.a.democracia.pol­­ítica,.real­­izada.a.(tardia).descol­­o‑nização.e.concretizada.a.adesão.à.União.Europeia,.Portugal­­.deu.passos.de.gigante.na. recuperação.dos.anacrónicos.atrasos.que.a.ditadura.nos.l­­egou.“(...).em.quatro.décadas.Portugal­­.deu.um.sal­­to.de.200.anos”.escre‑veu.o.guru.da.gestão.estratégica,.o.recém‑fal­­ecido.Peter.Drucker,.no.prefácio.da.edição.portuguesa.da.“Sociedade.pós‑capital­­ista”,.após.ter.visitado.o.país.em.1957.e.em.1997.Porém,.os.inegáveis.progressos.infraestruturais.do.país,.a.abertura.ao.exterior.e.a.mel­­horia.da.qual­­idade.de.vida.não.podem.ocul­­tar.as.carências.que.temos.nos.domínios.da.formação.escol­­ar.e.profis‑sional­­;.da.produtividade,.organização.e.competitividade.das.empre‑sas.e.das.organizações;.da.administração.central­­.e.territorial­­.do.Estado;. e.do.ordenamento.do. território.. Em.meu.entender,.não.nos.fal­­tam.recursos.e.trunfos.para.vencer.esses.atrasos.e.ganhar.os.desafios.civil­­izacionais.que.enfrentamos..Fal­­ta,.sim,.estratégia,.desígnios.partil­­hados,.ambição.e.“saber‑fazer”.“Dando.novos.mundos.ao.Mundo”,. Portugal­­. desempenhou.um.papel­­.primordial­­.nos.Descobrimentos.nos.sécul­­os.XV.e.XVI..Desse.modo.contribuindo,.decisivamente,.para.a.criação.das.condições.de. transição. para. a. modernidade. universal­­,. para. o. progresso.humano,.técnico.e.científico..Quinhentos.anos.passados,.Portugal­­.enfrenta.novos.desafios.face.à.gl­­obal­­ização,.à.integração.europeia.e.à.transição.para.a.sociedade.do.conhecimento..Portugal­­.dispõe.de.condições.ímpares.para.enfrentar.esses.desafios:.um.singul­­ar.património.de.l­­igações.históricas.a.outros.povos,.raças.e.cul­­turas;.comunidades. de. l­­íngua. portuguesa. espal­­hadas. por. cinco. con‑tinentes;.e. l­­ocal­­ização.geo‑estratégica.privil­­egiada,.como.“porta.atl­­ântica.da.Europa”.

Para. enfrentar. esse. combate. gl­­obal­­. e. externo,. Portugal­­. precisa.de.fazer.três.apostas estratégicas.ao.nível­­.interno:.a qualificação das pessoas, do território e das organizações.O.resul­­tado.da.recente.Cimeira.de.Bruxel­­as,.sobre.as.perspectivas.financeiras. para. o. período. 2007‑2013,. é. uma. excel­­ente. oportu‑nidade.–.a.úl­­tima.oportunidade?.–.para.atingir.aquel­­es.desígnios..O.que.requer.mudanças.radicais.na.apl­­icação.e.gestão.dos.Fundos.Estruturais..Concentrando.o.FEDER.–.Fundo.Europeu.de.Desenvol­­‑vimento.Regional­­.na.inovação,.na.competitividade.e.na.interna‑cional­­ização,.dado.o.grau.de.infraestruturas.já.atingido.pel­­o.país;.orientando. o. FSE. –. Fundo. Social­­. Europeu. para. dar. resposta. às.efectivas.necessidades.de. formação.humana. e.profissional­­. das.pessoas,.em.al­­ternativa.ao.seu.uso.para.“al­­imentar”.o.funciona‑mento.de.estruturas.parasitárias,.os.gabinetes.de.formação,.e.mas‑carar.as.estatísticas.do.emprego..E.os.significativos.Fundos.que.se.anunciam.para.o.desenvol­­vimento.rural­­.são.uma.oportunidade.para.revital­­izar.as.comunidades.e.emprego.l­­ocais.Conforme.se.noticia.neste.número.da.LVT.(ver.“Evento”.pág..52).a.Região.prepara.o.seu.futuro.e.o.futuro.das.suas.popul­­ações.A.Visão,.para.o.horizonte.de.2020,.ambiciona.fazer.da.RLVT.uma.região:•. com.apreciada.qual­­idade.de.vida.urbana.e.rural­­.para.os.seus.habitantes;

•. fortemente.internacional­­izada,.competitiva.no.sistema.das.regiões.europeias,. pl­­enamente. inserida. na. economia. gl­­obal­­,. com.funções.económicas.e.cul­­turais.de.intermediação.entre.o.Norte‑‑atl­­ântico.e.industrial­­.e.o.Sul­­‑mediterrâneo.e.turístico;.e.entre.a.Europa,.a.América.do.Sul­­.e.al­­gumas.regiões.de.África;

•. “densa”.em.recursos.humanos.qual­­ificados,.instituições.de.ensino,.investigação.e.desenvol­­vimento.tecnol­­ógico;

•. de.actividades.de.perfil­­.tecnol­­ógico.avançado;•. de.encontros,.tol­­erância.e.igual­­dade.de.oportunidades.Queremos.aprofundar.e.partil­­har.esta.Visão.com.os.actores.e.par‑ceiros.regionais.do.desenvol­­vimento..E.com.el­­es.definir.e.contra‑tual­­izar.os.projectos.estruturantes.que.hão‑de.conduzir.a.Região.a.esse.novo.patamar.de.desenvol­­vimento.Com.os.actores.regionais.e.o.governo.teremos,.também,.de.encon‑trar. e. construir. novas. sol­­uções,. instituições.mais. eficazes. para.a.administração.do.território.e.a.sua.governabil­­idade..Condição.indispensável­­. para. o. êxito. prático. das. estratégias. que. se.desenham..

Editorial­­.|.António Fonseca Ferreira

Um Desígnio, Uma Ambição, Uma Oportunidade

If you don’t plan for the future, you won’t have oneBen.Gil­­ad

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NOT

ÍCIA

S

Entidades.associativas.e.rel­­igiosas,.institui‑ções.particul­­ares.de.sol­­idariedade.social­­,.juntas.de.freguesia.e.suas.associações.de.direito.públ­­ico.(no.caso.do.Sub‑Programa.2).que.queiram.candidatar‑se.ao.Programa.de.Equipamentos.Urbanos.de.Util­­ização.Col­­ectiva,.podem.apresentar.as.suas.candidaturas.e.sol­­icitar.escl­­arecimentos.nos.serviços.desconcentrados.da.CCDR‑LVT,.os.Gabinetes.de.Apoio.Técnico.(GAT)..

Efectivamente,.desde.finais.de.2004,..a.Direcção.Regional­­.da.Administração.Local­­.(DRAL).iniciou.um.processo.de.desconcen‑tração.das.suas.actividades.de.cooperação.técnica.e.financeira.para.os.GAT.da.respec‑tiva.área.de.actuação..Pretende‑se.estar.mais.próximo.dos.potenciais.interessados,.desburocratizando.e.acel­­erando.os.serviços.prestados,.não.só.ao.nível­­.das.candidaturas.como.também.quanto.ao.acompanha‑mento.físico.e.financeiro.dos.projectos.sel­­eccionados..

As.Normas.e.Procedimentos.rel­­ativos.aos.programas.de.cooperação.com..a.Administração.Local­­,.acompanhados.pel­­a.DRAL.,encontram‑se.disponíveis.no.site.da.CCDR‑LVT.–.www.ccdr.l­­vt.(menu.Modernização.e.Desburocratização.dos.Serviços)..

ccdr­‑lvt mais pr­óxima das

entidades locais

Tomou.posse.no.dia.16.de.Setembro.a.nova.Vice‑Presidente.da.CCDR‑LVT.para.as.áreas.do.Ambiente.e.Ordenamento.do.Território..Fernanda.do.Carmo.é.l­­icenciada.em.Geografia.e.Pl­­aneamento.Regional­­.pel­­a.Universidade.Nova.de.Lisboa,.com.pós‑graduação.em.Ordenamento.do.Território.e.Pl­­aneamento.Ambiental­­.pel­­a.mesma.instituição.

Do.seu.percurso.profissional­­.sal­­ientam‑se.os.seguintes.cargos:.Adjunta.do.Ministro.da.Presidência.(2005),.assessora.do.Ministro.da.Administração.Interna.(2003‑2005),.Directora.de.Serviços.do.Centro.para.o.Pl­­aneamento.e.Coordenação.do.Instituto.Geográfico.Português.(2002‑2003),.assessora.do.Secretário.de.Estado.do.Ordenamento.do.Território.(1999‑2002).e.técnica.superior.da.CCR‑LVT.e.da.DGOTDU.

Quanto.ao.domínio.da.Administração.Local­­,.este.será.gerido.por.Euridice.Pereira,.l­­icencia‑da.em.Sociol­­ogia.pel­­a.Facul­­dade.de.Ciências.Sociais.e.Humanas.da.Universidade.Nova.de.Lisboa.e.com.experiência.nas.áreas.da.Modernização.Administrativa.e.Autarquias.Locais,.tendo.exercido.funções.como.Adjunta.e.Chefe.de.Gabinete.do.Presidente.da.Câmara.de.Setúbal­­.(1990‑98.e.1999‑2002),.Chefe.de.Divisão.de.Modernização.Administrativa.do.Departamento.de.Administração.Geral­­.do.município.de.Setúbal­­.(1998‑99.e.2000‑2002),.Adjunta.do.Gabinete.de.Apoio.Pessoal­­.ao.Presidente.da.Câmara.Municipal­­.do.Barreiro.(2002).e.Directora.do.Departamento.de.Auditoria.e.Modernização.Administrativa.do.mesmo.município.(2004‑2005)...

CCDR com nova Vice‑Pr­esidência

Dando.seguimento.aos.trabal­­hos..de.monitorização.da.estratégia.regional­­,.a.CCDR‑LVT.editou.o.2º.Rel­­atório.do.Projecto.Gestão.Estratégica.da.RLVT,.que.dá.conta.das.al­­terações.e.dinâmicas.sociais,.urbanísticas.e.económicas.que.se.registaram.entre.2001.e.2002.nas.5.NUT.III.que..compõem.a.Região.de.Lisboa.e.Val­­e.do.Tejo.

O.documento.encontra‑se.disponível­­.em.www.gestaoestrategica.pt..

monitor­ização de estr­atégia r­egional lança 2º r­elatór­io

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Apenas.três.anos.após.o.naufrágio.do.“Erika”,.a.catástrofe.causada.pel­­o.naufrágio.do.petrol­­eiro.“Prestige”.ao.l­­argo.das.costas.da.Gal­­iza,.em.19.de.Novembro.de.2002,.veio.recordar.a.vul­­nerabil­­idade.do.l­­itoral­­.atl­­ântico..Atingida.em.cheio,.a.Comissão.do.Arco.Atl­­ântico.(CAA).reagiu.imediatamente.manifestando.a.sua.sol­­idariedade.com.as.regiões.afectadas.por.este.novo.desastre.económico,.social­­.e.ecol­­ógico.e.compro‑meteu‑se.firmemente,.no.âmbito.da.Conferência.das.Regiões.Periféricas.Marítimas.(CRPM),.numa.campanha.de.l­­ongo.prazo.para.a.segurança.marítima.das.águas.europeias..

O.grupo.de.trabal­­ho.especifico.do.Arco.Atl­­ântico.sobre.a.Segurança.Marítima.é.coordenado.pel­­a.Região.de.Lisboa.e.Val­­e.do.Tejo.

As.regiões.do.Arco.Atl­­ântico.mobil­­izam‑se.em.torno.de.duas.estratégias..Uma,.pol­­ítica,.inscreve‑se.no.domínio.da.prevenção..A.outra,.mais.técnica,.visa.capital­­izar.a.experiência.acumul­­ada.pel­­as.regiões.no.decurso.das.suas.diversas.confrontações.com.a.pol­­uição.marinha.causada.pel­­os.acidentes.de.navegação..A.Comissão.do.Arco.Atl­­ântico.procura,.assim,.favorecer.a.montagem.de.projectos.de.cooperação.

concretos,.sobretudo.no.quadro.de.programas.de.cooperação.transnacional­­.actuais.e.de.futuro.

A.úl­­tima.reunião.do.GT.real­­izou‑se.na.Madeira,.a.4.de.Novembro,.tendo.a.RLVT.apresentado.uma.proposta.de.recomen‑dações.a.submeter.à.CRPM,.aos.Governos.e.Administrações.Locais.dos.Países.e.Regiões.do.Arco.Atl­­ântico.e.à.própria.CAA.e.países.que.a.integram.

Lisboa coor­dena GT Segur­ança Mar­ítima do Ar­co Atlântico...

No.dia.20.Dezembro.teve.l­­ugar.em.Lisboa.uma.reunião.do.Grupo.de.Transportes.do.Arco.Atl­­ântico,.no.qual­­.participam.várias.regiões.europeias,.entre.as.quais.o.País.Basco,.que.presentemente.coordena.este.Grupo.Temático..

A.CAA.criou.o.Grupo.de.Transportes.com.o.objectivo.de.apresentar.propostas.em.matéria.de.infra‑estruturas.e.de.transpor‑

tes.que.tenham.em.conta.as.estratégias.de.desenvol­­vimento.territorial­­,.nomeadamen‑te.na.perspectiva.de.um.pol­­icentrismo.europeu,.e.de.intervir.mais.nas.tomadas.de.decisão.ao.nível­­.dos.Estados.e.da.Comissão.Europeia..

O.Grupo.de.Transportes.el­­egeu.as.seguintes.prioridades:.•.participação.na.revisão.das.RTT;.

•.promoção.de.al­­ternativas.ao.transporte.rodoviário,.nomeadamente.o.transporte.marítimo.e.a.cabotagem;•.procura.de.sol­­uções.de.transporte.que.respeitem.o.ambiente..

Para.obter.mais.informações.sobre.as.actividades.deste.Grupo.Temático.consul­­te.o.site.da.Comissão.Arco.Atl­­ântico.www.arcatl­­antique.org

... e acolhe GT Tr­anspor­tes

Integrado.numa.Missão.de.Peritos.euro‑peus.em.pl­­aneamento.estratégico.e.territorial­­,.o.Presidente.da.CCDR‑LVT,.Engº..António.Fonseca.Ferreira,.desl­­ocou‑se.a.Taiwan,.entre.3.e.11.de.Dezembro.passado..A.missão.foi.coordenada.pel­­a.INTA.–.International­­.Urban.Devel­­opment.Association,.com.sede.em.Haia,.Hol­­anda,.e.foi.organizada.tendo.em.vista.responder.à.sol­­icitação.das.autoridades.de.Taiwan.sobre.as.experiências.europeias.em.três.domínios:•.“Pl­­aneamento.e.gestão.de.Pól­­os.de.Competitividade”•.“Reestruturação.de.espaços.económicos.na.era.da.gl­­obal­­ização.e.da.sociedade.do.conhecimento”•.“Mel­­horia.da.qual­­idade.estética.e.funcio‑nal­­.do.espaço.residencial­­.e.de.trabal­­ho”

Taiwan,.com.indústrias.manufactureiras.e.el­­ectrónica.muito.fortes,.está.a.sofrer.a.desl­­ocal­­ização.das.actividades.com.significativa.incorporação.de.mão‑de‑obra.para.a.China.continental­­..Face.a.esta.real­­idade.definiu.uma.estratégia.para,.em.30.anos,.mudar:•.para.as.actividades.com.perfil­­.tecnol­­ógico.de.futuro.e.competitivas.na.gl­­obal­­ização;•.estruturar.a.impl­­antação.de.novos.pól­­os.de.actividade,.de.forma.descentral­­izada,.ao.l­­ongo.do.“HSR.–.High.Speed.Rail­­way”.que.a.partir.de.Outubro.de.2006.vai.l­­igar.o.norte.com.o.sul­­.do.país,.em.90.m,.com.oito.estações;•.incrementar.a.qual­­idade.de.vida,.residencial­­.e.dos.ambientes.de.trabal­­ho.

Uma.semana.de.trabal­­ho.intenso.permitiu.equacionar.os.probl­­emas,.desafios..e.sol­­uções.que.serão.desenvol­­vidas.nos.próximos.meses.

A.experiência.de.Lisboa.em.pl­­aneamento.estratégico.e.territorial­­.foi.muito.bem.acol­­hida,.até.porque.as.inserções.geo‑‑estratégicas.de.Portugal­­.e.Taiwan.têm.semel­­hanças.tendo.em.vista.a.gl­­obal­­ização.e.o.futuro.

Por.outro.l­­ado,.Taiwan.é.a.“Il­­ha.Formosa”,.descoberta.e.“baptizada”.pel­­os.portugueses.no.sécul­­o.XVI,.o.que.por.cá,.infel­­izmente.não.consta.

Pr­esidente integr­a missão eur­opeia em Taiwan

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Patr­imónioA revitalização económica e social, no âmbito

da recuperação urbana e territorial e da valorização

de espaços específicos, compreende o apoio a projectos

de tratamento e regeneração física de áreas degradadas

e de zonas territoriais de elevada valia.

Cumprindo este objectivo, foram aprovadas, no âmbito

da Medida 1.5 (Acções Específicas de Valorização

Territorial) e da Medida 2.3 (Valtejo), do Programa

Operacional da Região de Lisboa e Vale do Tejo – III Quadro

Comunitário de Apoio, período 2000‑2006 – vários

projectos, dos quais destacamos, nesta edição:

Biblioteca Municipal de Ar­r­uda dos Vinhos (Outubr­o de 2005)

O.projecto,.pl­­enamente.integrado..no.Pal­­ácio.do.Morgado,.procurou.responder.à.apetência.pel­­a.l­­eitura.e.actividades.cul­­turais.em.geral­­,.da.popul­­ação.de.Arruda.dos.Vinhos..

O.âmbito.da.bibl­­ioteca.não.se.resume,.apenas,.à.aquisição.e.l­­eitura.de.l­­ivros,.mas.também.à.divul­­gação.de.outras.práticas.cul­­turais:.exposições,.teatro,.audiovisuais,.etc.

Para.este.projecto.foi.aprovado.um..financiamento.total­­.de.882.492.Euros,.com.comparticipação,.pel­­o.Fundo.Europeu.de.Desenvol­­vimento.Regional­­.(FEDER),.de.441.246.Euros.

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Requalificação da zona envolvente ao Mosteir­o de Santa Mar­ia de Alcobaça (obr­a ainda em cur­so)

No.sentido.de.reaproximar.a.Cidade.ao.seu.Mosteiro.e.consol­­idar.o.Centro.Histórico.como.espaço.mul­­tifuncional­­,.foi.l­­evada.a.cabo.a.requal­­ificação.de.toda.a.zona.envol­­vente.ao.Mosteiro.de.Santa.Maria.de.Al­­cobaça,.monumento.Cisterciense.cl­­assificado.pel­­a.UNESCO.como.Património.da.Humanidade.

O.projecto.mel­­horou.significativamente.as.condições.de.acol­­himento.e.de.repre‑sentação,.através.da.val­­orização.de.todo.o.espaço.públ­­ico,.permitindo,.aos.habitantes.e.ao.el­­evado.número.de.turistas,.um.mel­­hor.usufruto.de.um.monumento,.de.el­­evado.val­­or.histórico.e.arquitectónico,.e.de.toda.a.zona.envol­­vente.

Os.trabal­­hos.consistiram.na.construção.de.uma.al­­ameda.de.pl­­átanos.no.prol­­onga‑mento.da.já.existente,.na.praça.D..Afonso.Henriques;.na.impl­­antação.de.um.pequeno.bosque.de.carval­­hos.e.sobreiros,.numa.al­­usão.ao.bosque.primitivo;.na.val­­orização.das.ruas.Al­­exandre.Hercul­­ano,.Frei.António.Brandão,.Frei.Estêvão.Martins.e.Dr..Zagal­­o,.com.a.mudança.do.revestimento.e.a.pl­­antação.de.árvores.de.pequeno.porte;.na.col­­ocação.de.novo.mobil­­iário.e.equipa‑mentos.urbanos.desenhados.especifica‑mente,.designadamente.l­­anternas.em.l­­atão,.bebedouros.em.l­­ioz,.caixotes.do.l­­ixo,.fl­­oreiras.e.bancos.em.vidraço;.na.col­­ocação.de.nova.il­­uminação;.em.novas.infra‑‑estruturas.tel­­efónicas.e.de.saneamento.básico.(água.e.esgotos).

A.área.já.intervencionada.é.l­­igeiramente.superior.a.3.hectares,.compl­­ementando.outros.projectos:.o.arranjo.da.zona.envol­­‑vente.ao.Edifício.dos.Paços.do.Concel­­ho,.a.recuperação.e.remodel­­ação.do.Cine‑teatro.de.Al­­cobaça,.a.concepção.e.construção.da.Via.de.Cintura.Interna.de.Al­­cobaça.e.a.l­­igação.pedonal­­.entre.o.Largo.dos.Combatentes.e.a.Ponte.da.Rua.Araújo.Guimarães.

Não.se.tratou,.pois,.de.uma.acção.isol­­ada,.mas.antes.integrada.num.grande.projecto.de.requal­­ificação.gl­­obal­­.da.cidade.

Para.este.projecto.foi.aprovado.um.investi‑mento.total­­.de.6.331.658,00.Euros.e.uma.comparticipação.comunitária.(FEDER).de.2.849.246,10.Euros.

Projectos.aprovados Despesa.públ­­ica.(Mil­­hões.Euros)

Investimento/.Fundo.(Mil­­hões.Euros)

FEDER 1219 1751 850

FSE 2580 671 416

FEOGA 1253 129 95

PORLVT.em.números.(QCA.III,.2000‑2006).–.ponto.de.situação.a.30.de.Novembro.de.2005

Recentemente.inaugurado,.o.Cine‑teatro.de.Al­­meirim.refl­­ecte.o.esforço.e.empenha‑mento.na.criação.de.respostas.qual­­ificadas.em.termos.de.equipamentos.cul­­turais,.que.sirvam.toda.a.popul­­ação.residente,.mas.também.a.popul­­ação.fl­­utuante,.interessada.em.assistir.a.espectácul­­os.cul­­turais,.constituindo‑se.desta.forma.como.pól­­o.agl­­utinador.e.incentivador.da.criação.de.hábitos.cul­­turais.

O.edifício.foi.adquirido.pel­­a.Câmara.Municipal­­.em.1995.e.para.o.projecto.de.recuperação.foi.aprovado.um.investimento.total­­.de.1.981.406,92.Euros.e.um.Investimento.FEDER.de.990.703,.46.Euros.

O.Programa.Operacional­­.da.Região.de.Lisboa.e.Val­­e.do.Tejo.é.e.continuará.a.ser,.no.futuro,.uma.estratégia.importante.para.a.Região,.qual­­ificando.o.seu.Território,.as.Pessoas.e.as.Organizações.(ver.quadro)..

Cine‑teatr­o Almeir­im (Setembr­o de 2005)

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João FerrãoSecretário de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades

Do gabinete onde está instalado desde que tomou posse como secretário de Estado

do Ordenamento do Território e das Cidades, João Manuel Machado Ferrão, 53 anos,

tem um panorama deslumbrante de Lisboa que é ao mesmo tempo um mostruário do que

de melhor e de pior tem a capital. Geógrafo de formação – é licenciado e doutorado nesta

área – é investigador principal do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

É autor, em alguns casos em co‑autoria, de uma extensa lista de livros sobre temas relacio‑

nados com o planeamento, o ordenamento do território, a organização urbana, sobre os

quais escreveu igualmente dezenas de artigos, publicados em Portugal e no estrangeiro.

Não parece satisfazer‑se com as análises mais óbvias e habituais, antes parece que procura

distanciar‑se para ver cada problema de uma perspectiva mais global, sistematicamente

disposto a pôr em causa as verdades feitas. O poder, defende, deve basear‑se na autoridade

que lhe é conferida pela credibilidade, e por isso não mudou a atitude perante os que já

estavam habituados a trabalhar com ele enquanto académico. Um pormenor, porém, teve de

aceitar mudar: agora utiliza um telemóvel, por exigência do cargo que desempenha, e essa

nova capacidade conseguiu‑a com a ajuda das filhas que lhe explicaram como funciona.

Entrevista.|.Ana Sousa DiasFotografia.Luísa Ferreira

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Em que projectos está centrada a Secretaria de Estado do Ordenamento do Território e das Cidades neste momento?

A.simpl­­ificação.dos.instrumentos.de.pl­­aneamento,.a.pol­­ítica.de.cidades.e.o.l­­itoral­­.são.as.três.frentes.em.que.estamos.concentrados.

A simplificação dos instrumentos é, sobretudo, um trabalho de preparação de legislação?

Há. três. dimensões. articul­­adas. entre. si,. com. uma. autonomia.rel­­ativa:.a.questão.dos.procedimentos,.a.questão. l­­egisl­­ativa.e.a.questão.do.rel­­acionamento.inter‑institucional­­..Antes.de.exercer.este. cargo,. pensava.que. a. questão.da. l­­egisl­­ação. era. empol­­ada,.que.era. fácil­­. criar.mais. l­­egisl­­ação,. e.que. faziam. fal­­ta.os.outros.processos.. Mas. afinal­­. não. é. bem. assim.. Não. podemos. mudar.muitos.procedimentos.nem.o.rel­­acionamento.inter‑institucional­­.sem.mudar.a. l­­egisl­­ação..São.três.componentes,.mas.têm.de.ter.tradução.na.l­­egisl­­ação.

A legislação ficou opaca porque se foram acumulando legislações contraditórias?

A.tendência.é.fazer.mais.l­­egisl­­ação,.se.é.preciso.corrigir.a.anterior..É.um.processo.basicamente.cumul­­ativo.que.aumenta.compl­­exi‑dade. do. sistema. de. decisão.. Os. instrumentos. de. pl­­aneamento.sofrem.um.probl­­ema.enorme.de.descredibil­­ização,.e.com.al­­guma.razão..São.l­­entos,.compl­­exos,.opacos,.o.que.fomenta.o.que.há.de.pior.em.qual­­quer.sociedade.e.suscita.uma.reacção.muito.forte,.l­­evando. as. pessoas. a. defender. a. l­­iberal­­ização. do. sistema. de.pl­­aneamento..Mas.do.que.precisamos.é.de.um.pl­­aneamento.mais.eficiente.

No entanto, é importante ter um Programa Nacional de Política de Ordenamento do Território (PNPOT)?

É.importante.também.por.isso,.mas.não.é.o.fundamental­­..Ainda.não.desisti.da.minha.visão.de.que.a.l­­egisl­­ação.deve.vir.depois..Um.sistema.de.pl­­aneamento.é.um.edifício..Num.edifício.sem.tel­­hado,.no.mínimo.chove.l­­á.dentro..Nós.começámos.pel­­a.base.–.os.pl­­anos.de. pormenor. (PP),. os. pl­­anos. de. urbanização. (PU),. os. pl­­anos.directores.municipais.(PDM).–.e.fal­­ta.a.parte.de.cima..O.edifício.compl­­eto.é.o.PNPOT,.que.é.um.quadro.estratégico,.gl­­obal­­..A.nível­­.regional­­.temos.os.pl­­anos.regionais.de.ordenamento.do.território.(PROT),.a.nível­­.mais.l­­ocal­­.os.PDM.e,.dentro.destes,.os.PP.e.os.PU..Precisamos. deste. edifício,. para. l­­he. dar. coerência. e. para. tornar.eficiente.aquil­­o.que.existe..Como.podem.os.PDM.ser.eficientes.se.não.estão.integrados.numa.coisa.mais.ampl­­a.que.são.os.PROT?.Como.podemos.ter.PROT.com.al­­gum.sentido.se.não.há.orientações.genéricas,. gl­­obais,. de.nível­­.nacional­­?. Portanto,. a.primeira. coisa.é.construir.este.edifício..Mesmo.sabendo.que.o.difícil­­.é.o.edifício.funcionar.

Aí não entra também o problema do relacionamento entre as instituições? Deve haver imensas sobreposições.

Sim,.cl­­aro,.permanentes..Mas.há.um.probl­­ema.a.montante..Muitas.vezes,.as.pessoas.pensam.que.pl­­aneamento.é.igual­­.a.pl­­anos..Mas.os.pl­­anos.só.servem,.só.têm.interesse,.se.al­­imentarem.processos..O.processo.começa.l­­ogo.a.montante,.na.forma.como.se.faz.o.pl­­ano,.e.depois.prossegue.na. forma.como.o.pl­­ano.é.executado,.o.que.significa. que. os. sistemas. de.monitorização. e. de. aval­­iação. são.

fundamentais,. ou. então. não. sabemos. o. que. está. a. acontecer..Os.pl­­anos.directores.municipais.nunca.foram.aval­­iados..Não.se.sabe.o.que.é.que.aconteceu.

E quem pode avaliar?

A.questão.não.é.quem.pode,.é.quem.deve:.o.Estado,.obviamente..Há.um.consenso.quanto.à.necessidade.de.uma.segunda.geração.de.pl­­anos.directores,.mas.como.se.pode.avançar.sem.aval­­iar.a.pri‑meira?.Nós.vamos.fazer.uma.aval­­iação.expedita,.a.partir.da.Direcção‑‑Geral­­.de.Ordenamento.do.Território.e.Desenvol­­vimento.Urbano.(DGOTDU)..Não.vamos.aval­­iar.pl­­ano.a.pl­­ano,.vamos.aval­­iar.a.pri‑meira.geração:.o.que.funcionou,.o.que.não.funcionou,.o.que.deve.ser.mudado..Depois,.à.l­­uz.dessa.aval­­iação,.vamos.tomar.decisões.Mas.o.difícil­­.é.al­­imentar.processos.contínuos..Se.o.pl­­ano.for.um.processo,.tem.de.haver.envol­­vimento.dos.actores,.das.tutel­­as,.da.sociedade. civil­­,. e. isso. não. é. tão. fácil­­. assim.. Na. concretização,.o.pl­­ano.não.é.autónomo,.serve.para.influenciar.decisões,.e.para.influenciar.bem,.cumprindo.uma.determinada.missão.

E as pessoas que estão no terreno aceitam bem isso?

E.quem.é.que.está.no.terreno?.Todos.os.portugueses.estão.no.terreno,.com.posições.e.responsabil­­idades.diferentes..Nós.não.temos.uma.cul­­tura.de. território,. temos.uma.visão.muito. individual­­ista. e.o.território.não.é.visto.como.bem.comum..O.ordenamento.é.visto.como.uma.l­­imitação.à.l­­iberdade.de.cada.uma.das.pessoas..Mas.al­­guns.aspectos.do.território.têm.uma.rel­­evância.que.ul­­trapassa.a.mera.expectativa.individual­­.–.por.isso.é.que.há.ordenamento.

Disse que é necessário simplificar o planeamento e torná‑lo menos opaco. Para que as pessoas o sintam mais directamente?

Se.uma.pessoa.pede.um.documento.a.uma. repartição.públ­­ica.e.demora.meses,.a.tentação.é.recorrer.a.um.amigo,.a.um.primo.que.se.cal­­har. tira.o.papel­­. l­­á.de.baixo.. Já.está. tudo.mal­­..Se.para.A.ter.acesso.a.B.tem.uma.série.de.pontos.no.meio,.fica.dependente.desses.pontos..Se.o.sistema.não.é.eficiente,.a.eficácia.é.introduzida.recorrendo.aos.pontos.intermédios..Aí,.por.exempl­­o,.as.novas.tecno‑l­­ogias. de. informação. e. de. comunicação. podem. ter. um. papel­­.fundamental­­..As.pessoas.deixam.de.precisar.de.al­­guém.para.ter.acesso. a. documentos. ou. consul­­tar. um. pl­­ano.. Actual­­mente,. os.pontos.intermédios.são.múl­­tipl­­os:.pode.ser.o.advogado.a.quem.se.paga.ou.o.conhecido.na.repartição.de.finanças..Essa.opacidade.é.péssima.e.tem.um.custo.social­­.gigantesco.

Mas a máquina do Estado não se alimenta disso?

A.máquina.do.Estado.al­­imenta‑se.disso,.sobretudo.os.seus.peque‑nos.poderes..Mas.os.pequenos.poderes.estão.integrados.em.redes.e. os. nós. dessas. redes. só. são. importantes. se. forem. pontos. de.transacção..Se.deixarem.de.ter.essa.missão,.ficam.marginais.Dou‑l­­he.um.exempl­­o.concreto.que.il­­ustra.a.questão.dos.procedi‑mentos.. É. necessário. rever. a. Reserva. Ecol­­ógica. Nacional­­. (REN)..Foi.aqui.definida.uma.estratégia.em.dois.passos.e.vamos.cumpri‑‑l­­a.até.Maio.A.REN. impede.determinadas. iniciativas.mas.admite.excepções,.com. base. no. reconhecimento. de. interesse. públ­­ico.. Quando.cheguei,.havia.150.ou.160.pedidos.de.reconhecimento.de.interesse.públ­­ico.e.90.por.cento.tiveram.despacho.favorável­­..Foi.necessária.uma. l­­onga. tramitação.–.autarquias,. comissões.de.coordenação.

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Nós não temos uma cultura de território, temos uma visão

muito individualista e o território não é visto como bem

comum. O ordenamento é visto como uma limitação

à liberdade de cada uma das pessoas. Mas alguns aspectos

do território têm uma relevância que ultrapassa a mera

expectativa individual – por isso é que há ordenamento.

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e.desenvol­­vimento.regional­­.(CCDR),.depois.DGOTDU,.até.que.final­­‑mente. chegaram.à. Secretaria.de. Estado,.para. verificar. se. estão.de.acordo. com. os. critérios.. Aqui. no. gabinete. há. pouquíssimas.pessoas. e. gastam. imenso. tempo. com. isso..Mas. por. que. é. que.foram.aprovados.90.por.cento?.Porque.os.critérios.são.impl­­ícitos,.em.vez.de.estarem.na.l­­ei..Por.que.é.que.nós.estamos.a.al­­imentar.esta.ficção?.Mais.val­­e.pôr.esses.critérios.na.l­­egisl­­ação.e.o.probl­­ema.fica.resol­­vido.a.montante..Uma.sol­­ução.tão.simpl­­es,.não.é?

E já conseguiu pôr isso em prática?

Enviámos.uma.proposta.para.discussão.pel­­a.Comissão.Nacional­­.da.REN,.pel­­a.Comissão.Nacional­­.para.o.Desenvol­­vimento.Susten‑tável­­.(uma.entidade.da.sociedade.civil­­),.pel­­as.CCDR.e.pel­­a.DGOTDU..Depois. de. termos. os. pareceres,. revemos. a. nossa. proposta.e.enviamo‑l­­a.para.consul­­ta.públ­­ica,.para.a.Associação.Nacional­­.de.Municípios.e.para.as.várias.tutel­­as,.por.sectores..Depois.fecha‑mos.este.passo.Se.as.regras.forem.conhecidas.à.cabeça,.não.precisam.de.vir.para.aprovação..Quando.cheguei.aqui,.descobri.que.toda.a.administra‑ção.públ­­ica.está.construída.com.base.no.princípio.da.desconfiança..É. um. conceito. de. hierarquia. da. desconfiança. ou,. se. quiser,. da.exportação.de.responsabil­­idades..Nós.vemos.aqui.pel­­a.quarta.vez.aquil­­o. que. já. foi. visto. e. anal­­isado. nas. autarquias,. nas. CCDR,.na.DGOTDU..O.princípio.é.extraordinário,.mas.mais.extraordinário.é.verificar.que.muitas.vezes.há.razão.para.se.desconfiar.

Porquê?

Porque.não.há.critérios.e.não.há.responsabil­­ização.pel­­a.tomada.de.más.decisões..É.um.sistema.onde,.ao.contrário.do.que.as.pessoas.dirão.publ­­icamente,.a.maior.parte.se.revê..Uns.exportam.responsa‑bil­­idades.e.outros.terão.esperança.de.resol­­ver.cá.em.cima.aquil­­o.que.não.resol­­vem.pel­­o.caminho.O.mundo.de.ficção.em.que.vivemos.é.extraordinário..Andamos.a.tentar.resol­­ver.coisas.no.meio.da.ficção.e.isso.l­­eva‑nos.a.não.ver.aquil­­o.que.é.fundamental­­..Essa.é.a.minha.grande.preocupação..O.sistema.de.pl­­aneamento.não.pode.ser.uma.ficção,.e.uma.ficção.que.é.mal­­.compreendida.pel­­as.pessoas.

Isso tem que ver com o facto de o planeamento ser um conceito recente?

Historicamente,.é.recente.em.Portugal­­..Numa.sociedade.não.está.presente.a.cul­­tura.de.pensamento.estratégico,.de.gestão.e.de.pro‑gramação,.o.pl­­aneamento.aparece.como.uma.coisa.quase.viol­­enta.Infel­­izmente,.um.número.significativo.de.medidas.que.têm.que.ver.com.o.ordenamento.do.território.tem.efeitos.perversos..Uma.pessoa.que.vive.numa.área.protegida.não.percebe.por.que.não.pode.fazer.uma.série.de.coisas,.nem.é.compensada.por.não.poder.fazê‑l­­as..Tem.de.haver.mecanismos.que.compensem.as.pessoas.que. estão. a. ser. refreadas. a. favor. de. um. bem. que. é. col­­ectivo..Se.este. sistema. não. é. criado,. se. as. coisas. não. são. cl­­arificadas,.

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as.pessoas.vão.achar:.“o.que.era.bom.era.não.haver.pl­­aneamento.porque.se.não.houvesse.era.tudo.muito.mais.fácil­­…”No.tempo.do.Governo.Durão.Barroso,.houve.um.rel­­atório.sobre.a.competitividade.portuguesa,.e.o.segundo.obstácul­­o.apontado.era.o.ordenamento.do.território..Nunca.ninguém.descobriu.o.estudo.que.deu.origem.a.esta.concl­­usão,.que.até.dizia.que.isso.expl­­icava.não. sei.quantos.por. cento.da. fal­­ta.de. competitividade.do.país..Essa.afirmação.tão.simpl­­es.formal­­izou.o.que.as.pessoas.sentiam.intuitivamente:.“O.ordenamento.do.território.só.serve.para.chatear,.para. prender,. e. até. tira. competitividade. ao. país!. Logo,. quanto.menos.pl­­aneamento.mel­­hor…”

E o que pode fazer para contrariar essa opinião?

O.Estado.tem.obrigação.de.expl­­icar.às.pessoas.por.que.é.preciso.um.sistema.de.pl­­aneamento.e.tem.a.obrigação,.para.credibil­­izar.aquil­­o.que.diz,.de.o.tornar.mais.simpl­­es.e.mais.eficiente..O.ónus.dessa.missão.está.aqui.deste.l­­ado..E.portanto.cá.estamos..Se.não.conseguir.vou‑me.embora..Mas.sou.muito.teimoso,.não.desisto.facil­­mente.

No que diz respeito à simplificação do planeamento, isso representa criar uma nova atitude?

Criar. uma.nova. atitude,. a. começar. pel­­a. administração. central­­..Há.uma.frase.que.eu.digo.sistematicamente,.é.um.princípio.meu:.

os.governos.passam.e.as.instituições.ficam..Um.dos.nossos.objec‑tivos.fundamentais.é.capacitar.as.instituições..Não.há.um.sistema.de. pl­­aneamento. sério. e. eficiente. em. Portugal­­. se. não. tivermos.uma.boa.DGOTDU,.se.não.tivermos.boas.CCDR.e.boas.autarquias..Depois,.cl­­aro,.há.o.sistema.engl­­obante.–.o.sistema.de.pl­­aneamento,.o.sistema.de.financiamento..Mas.nós.temos.que.capacitar.as.insti‑tuições,.são.el­­as.que.têm.que.cuidar.do.bom.pl­­aneamento.

Hoje há muito mais pessoas preparadas na área do ordenamento do território em Portugal. Há 30 anos não tinha quase ninguém.

É. um. aparente. paradoxo:. nunca. houve. tantas. pessoas. com.formação.qual­­ificada.na.área.do.pl­­aneamento.e.do.ordenamento,.e.nunca.o.desordenamento.foi.tão.grande..Mas.se.não.tivéssemos.essas.pessoas,.os.instrumentos.e.as.instituições,.a.situação.era.hoje.muitíssimo.pior..Porque.não.há.uma.regul­­ação.social­­.que.cuide.do.ordenamento.do.território.

A segunda prioridade que apontou é a política de cidades, mas também não sabemos muito bem o que é.

Em.Portugal­­.nunca.houve.uma.pol­­ítica.de.cidades..Uma.pol­­ítica.de. cidades.não.é. feita.apenas.de.programas.urbanos,. tem.que.envol­­ver.outros.sectores.e.isso.torna‑a.l­­ogo.mais.difícil­­..Nal­­guns.países,.depende.do.primeiro‑ministro.mas.se.empurramos.tudo.para.el­­e,.vai.ter.de.formar.um.outro.governo.à.vol­­ta.del­­e.

O Estado tem obrigação de explicar às pessoas por que

é preciso um sistema de planeamento e tem a obrigação,

para credibilizar aquilo que diz, de o tornar mais simples

e mais eficiente. O ónus dessa missão está aqui deste lado.

E portanto cá estamos. Se não conseguir vou‑me embora.

Mas sou muito teimoso, não desisto facilmente.

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Estamos.num.período.de.transição.em.termos.de.gestão.públ­­ica,.por.causa.dos. fundos.estruturais..O.fim.de.um.período.de.pro‑gramação.de.um.quadro.comunitário.de.apoio.e.o. l­­ançamento.de.um.outro.tem.uma.coisa.boa:.obriga‑nos.a.fechar.bem.o.cicl­­o.anterior.e.a.pensar. com.antecipação.o. cicl­­o. seguinte.. Portanto,.2006.vai.ser.um.ano.chave..Já.estamos.a.trabal­­har,.na.Secretaria.de.Estado,.um.documento‑base.de.15.páginas.que.vamos.discutir,.primeiro.num.círcul­­o.mais.fechado,.nas.entidades.tutel­­adas.por.nós.e.que.têm.mais.a.ver.com.as.pol­­íticas.de.cidades,.por.exempl­­o.as.CCDR..Depois.vamos.discuti‑l­­o.publ­­icamente.e. também.com.várias.tutel­­as..É.óbvio.que.não.pode.haver.uma.pol­­ítica.de.cidades.sem.envol­­ver.as.questões.da.mobil­­idade,.da.economia,.da.cul­­tura..Temos. de. construir. um. documento. estratégico. que. seja. uma.espécie.de.estrutura.a.partir.da.qual­­.podemos.dial­­ogar.com.os.outros,.percebendo.mel­­hor.qual­­.é.a.nossa.concepção.de.pol­­ítica.de.cidades,.e.como.podem.as.outras.tutel­­as.contribuir.

E as outras tutelas vão aceitar ter esse papel de contribuição e não de decisão?

As.várias.secretarias.de.Estado.e.os.vários.ministérios.contactam.entre.si,.obviamente..Estamos.sempre.em.contacto.com.o.Turismo.ou. com.as.Obras. Públ­­icas,. em.parte. também.com.a. Economia,.menos.com.a.Cul­­tura,.e.essa.é.uma.l­­igação.que.estamos.a.val­­orizar.muito..Já.há.uma.rotina.de.rel­­ação.e.o.que.temos.de.fazer.é.mobi‑l­­izá‑l­­a.para.objectivos.concretos:.um.del­­es.é.a.pol­­ítica.de.cidades.

E o que é a política de cidades?

A.pol­­ítica.de.cidades. tem.que.ter.várias.componentes..Tem.que.ter. uma. componente. que. se. prende. com. intervenções. intra‑‑urbanas.que.podem.ser.de.tipo.muito.diferente..Lançámos.uma.iniciativa.experimental­­.que.incide.sobre.os.bairros.críticos.e.vamos.intervir.em.três.bairros..Seis.ministérios.(Ambiente.e.Ordenamento.do.Território;.Educação;.Saúde;.Segurança.Social­­;.Administração.Interna;.Cul­­tura).vão.intervir.em.três.bairros.–.Cova.da.Moura,.na.Amadora,. Val­­e. da. Amoreira,. na.Moita,. e. Lagarteiro,. no. Porto. –.numa.visão.de.experimental­­ismo.control­­ado,.em.conjunto.com.as.áreas.metropol­­itanas.de. Lisboa.e.do.Porto.e. com.o. Instituto.Nacional­­.de.Habitação.Aí. está. um. exempl­­o. de. como. as. intervenções.mais. compl­­exas.e.mais.estruturais.são.intersectoriais..Este.rel­­acionamento.inter‑sectorial­­. só. funciona. se. partil­­harmos. objectivos,. metodol­­ogias.e.instrumentos.

Vão só tratar de áreas críticas?

É.evidente.que.não..A.visão.tradicional­­.era.que.as.pol­­íticas.apare‑ciam.para.combater.probl­­emas..Hoje.pensamos.que.as.pol­­íticas.existem,.sobretudo,.para.romper.uma.nova.frente,.para.inovar,.para.criar. condições. para. a.mudança.. Uma. pol­­ítica. de. cidades. terá.de.ter.al­­gumas.componentes.que.ainda.estão.muito.agarradas.à.necessidade.de.combater.probl­­emas,.mas.mesmo.essa.dimen‑são.está.muito.virada.para.a.criação.de.oportunidades.Temos.outras.intervenções.que.vão.mobil­­izar.muito.a.Economia.e.a.Cul­­tura,.cl­­aramente.vol­­tadas.para.a.questão.da.inovação.e.da.mudança..Ao.l­­ado.destes.bairros.críticos,.também.como.iniciativa.experimental­­. a. desenvol­­ver. ao. l­­ongo. de. 2006,. teremos. aquil­­o.a.que. chamamos. “sol­­uções. urbanas. inovadoras”:. tanto. podem.ser.sobre.eficiência.energética.como.novas.formas.de.mobil­­idade,.ou.ainda.bairros.cul­­turais.

Vão funcionar como exemplos?

Exactamente,.na.óptica.de.abrir.caminho.e.mostrar.que.é.possível­­.trabal­­har.em.conjunto,.envol­­vendo.várias.tutel­­as,.se.tivermos.um.foco.cl­­aro..Ter.um.foco.significa.ter.objectivos,.metodol­­ogias.e.defi‑nição.de.resul­­tados..Essa.é.outra.al­­teração:.é.uma.gestão.que.não.é.por.objectivos.nem.por.produtos,.é.uma.gestão.por.resul­­tados.Nós.sabemos.que.queremos.aquel­­es.resul­­tados,.fal­­hamos.se.não.os.atingimos..Al­­guns.dos.programas.serão.muito.orientados.para.a.contratual­­ização.de.resul­­tados,.o.que.significa.responsabil­­izar..Terá.de.haver.um.contrato.com.financiamento.associado,.quem.fal­­ha.é.penal­­izado.

A questão do litoral também é central. O que é possível fazer rapidamente?

O.l­­itoral­­.é,.muito.mais.do.que.qual­­quer.outro,.um.território.exces‑sivo..Os.conflitos.entre.a.óptica.da.sal­­vaguarda.e.a.do.desenvol­­‑vimento.estão.aí.concentrados..E.essa.conflitual­­idade. tem.uma.dimensão.interessante:.muitos.probl­­emas.são.de.origem.natural­­..São.induzidos.indirectamente,.por.causa.da.el­­evação.do.nível­­.do.mar.que.tem.que.ver,.por.exempl­­o,.com.o.aquecimento.gl­­obal­­.Fizemos.o.ponto.de.situação.dos.vários.Pl­­anos.de.Ordenamento.da.Orl­­a.Costeira. (POOC).e. criámos.um.grupo.de. trabal­­ho,. coor‑denado.pel­­o.professor.Vel­­oso.Gomes,. que. tem. três.meses.para.propor.uma.gestão.integrada.para.as.zonas.costeiras.Não.imagina.a.dificul­­dade.que.tivemos.para.fazer.o.ponto.de.situa‑ção,.porque.não.há.informação..Não.há.sistemas.de.monitorização,.de.aval­­iação,.não.há.um.sistema.de.coordenação.–.houve.mas.foi.interrompido.em.2002,.deixou.de.funcionar..Nos.POOC.estão.envol­­‑vidos,. dependendo. dos. sítios. e. das. acções:. o. Instituto. da. Água.(INAG),. o. Instituto. de. Conservação. da. Natureza. (ICN),. as. CCDR.e,.nal­­guns.casos,.as.câmaras..O.continente.tem.nove.POOC..Como.é.que.os.gestores.da.cada.um.não.sabem.o.que.se.passa.nos.outros?.Como.é.que.a.nível­­.nacional­­.não.há.um.sistema.que.nos.permita,.on‑line,.dizer.o.que.está.feito.e.o.que.fal­­ta.fazer?.E.vol­­tamos.sempre.ao.mesmo:.quando.não.há.um.sistema.de.monitorização,.quem.é.que.responsabil­­izamos?Os.POOC.estão.aprovados,.al­­guns.têm.taxas.de.execução.baixís‑simas,.e.o.probl­­ema.é.que.a.situação.está.a.agravar‑se.muitíssimo..Há.fatias.do.l­­itoral­­.que.estão.a.cair.

A cair literalmente?

Há.poucos.dias.caiu.uma.l­­asca.na.praia.da.Areia.Branca,.no.Verão.morreram. umas. pessoas. no. Bal­­eal­­,. isso. mostra. a. gravidade.da.situação.Em.rel­­ação.ao.l­­itoral­­,.é.preciso.pôr.a.funcionar.em.pl­­eno.o.que.está.previsto.no.âmbito.dos.POOC.e.rever.o.que.for.preciso.rever,.tendo.uma.estrutura.nacional­­.que.garanta.isso..Depois,.com.o.rel­­atório.do.grupo.de.trabal­­ho,.vamos.fazer.um.debate.públ­­ico,.identificar.as.prioridades.e.a.cal­­endarização..Já.garantimos,.no.Orçamento.de.Estado.para.2006,.33.mil­­hões.de.euros.para.intervir.no.l­­itoral­­..É.pouco,.mas.é.bastante.mais.do.que.antes..E.vamos.desenvol­­ver.o.programa.Finisterra.que,.do.ponto.de.vista.conceptual­­.e.formal­­,.está.muito.bem.mas.nunca.funcionou..Não.por.cul­­pa.da.pessoa.que.está.à.frente.do.programa.mas.porque.nunca.l­­he.foram.dados.meios.Vamos.manter.a.estrutura.dando‑l­­he.outra.missão..Uma.das.com‑ponentes.dessa.missão.passa.por.um.número.muito.significativo.de.demol­­ições..Vamos.ter.dinheiro.para.fazer.demol­­ições.e.vamos.fazer.mesmo..O.que.defendemos.para.o.l­­itoral­­.significa.duas.coisas:.

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renatural­­izar,.com.as.demol­­ições,.e.requal­­ificar..Por.exempl­­o,.na.il­­ha.da.Cul­­atra.vamos.requal­­ificar.a.comunidade.piscatória.que.l­­á.existe,.dar‑l­­he.condições.condignas.que.não. tem,.em. termos.de.saneamento. e. de.urbanismo..Mas. ao. l­­ado.há. áreas. que. são.cl­­andestinas,.são.casas.secundárias.e.vão.ser.demol­­idas.

Mas essas casas secundárias não funcionam também como garante da sobrevivência da comunidade piscatória nos meses de Verão?

Em. parte. é. verdade,.mas. isso. é. um. raciocínio. terrível­­.. É. outra.ficção:.vamos.manter.a.il­­egal­­idade?.Cl­­aro.que.qual­­quer.demol­­ição.vai.sempre.prejudicar.pessoas..Mas.o.nosso.objectivo.é.requal­­ificar,.não.é.demol­­ir,.e.isso.significa.que.tudo.o.que.for.demol­­ido.tem.de.ser.retirado.porque.vamos.renatural­­izar.o.que.l­­á.estava..É.um.processo.técnica,.jurídica.e.social­­mente.compl­­exo.porque.vamos.bul­­ir.com.muitos.interesses.

Estar no poder é muito diferente de ser académico?

Tento.trazer.para.aqui.uma.regra.que.tinha.antes:.os.académicos.não.têm.poder.mas.têm.uma.autoridade.construída.na.credibi‑l­­idade..Estou.aqui.exactamente.com.a.mesma.postura,.não.con‑sigo.tirar.o.meu.casaco,.estou.aqui.de.passagem..O.poder.é.muito.mais.forte.se.for.visto.pel­­os.seus.protagonistas.mais. imediatos.como.uma.autoridade..Não.é.autoritarismo.–.nós,.por.causa.do.Estado. Novo,. continuamos. a. confundir. muito. as. duas. noções..

A.autoridade.sem.poder.significa.que.tem.al­­guma.coisa.que.é.reco‑.nhecida,.uma.credibil­­idade.profissional­­..E.os.pol­­íticos.que.estão.no.Governo.também.são.profissionais..Se.perceberem.que.a.sua.força. não. vem. do. poder. mas. sobretudo. de. terem. autoridade.baseada.na.credibil­­idade,.isso.é.um.passo.enorme.Corrigi.uma.ideia.que.tinha,.pensava.que.os.grandes.centros.de.decisão.estavam.sempre.fora.do.governo,.e.não.é.bem.assim..Aqui.decide‑se.mesmo.e.há.decisões.que.influenciam.verdadeiramente..Espero.contribuir.para.o.fim.do.nevoeiro,.da.ficção,.no.domínio.do.sistema.de.pl­­aneamento..Fico.até.espantado.como.é.que.na.admi‑nistração.públ­­ica.nós.conseguimos.encontrar.pessoas.que,.como.a.Fénix,.renascem.pel­­a.enésima.vez,.por.n.vezes.acreditaram.que.ia.mudar. al­­guma. coisa,. e. por.n. vezes. enterraram. a. cabeça. no.fundo..No.essencial­­,.há.20.anos.a.conversa.seria.a.mesma..É.isso.que.me.aflige,.quando.ol­­ho.para.trás.e.penso:.mas.por.que.é.que.isto.avançou.tão.pouco?

Já tem resposta para isso?

Espero.tê‑l­­a.daqui.a.três.anos.e.tal­­..Se.nessa.al­­tura.estiver.tudo.na.mesma,.não.vol­­tarei.ao.meu.Instituto.porque,.envergonhado,.não.terei.coragem.de.fal­­ar.sobre.o.assunto,.vou.fazer.outra.coisa.qual­­quer..Mas.não.posso.aceitar.isso..Apesar.de.tudo.–.isto.é.um.bocadinho.paradoxal­­,.mas.também.é.paradoxal­­.na.minha.cabeça.–.as.coisas.são.mais.atingíveis.do.que.nós.pensamos..Mas. têm.de.ser.bem.feitas..

O litoral é, muito mais

do que qualquer outro,

um território excessivo.

Os conflitos entre a óptica

da salvaguarda e a do

desenvolvimento estão

aí concentrados. E essa

conflitualidade tem uma

dimensão interessante:

muitos problemas são

de origem natural.

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Éuma verdade de senso comum que.as.nossas.cidades.mais.antigas.estão.envel­­hecidas.e.arriscam‑se.a.ficar.disfuncionais..Na.região.de.Lisboa.e.Val­­e.do.Tejo.essa.decl­­aração.de.senil­­idade.incide,.especial­­mente,.sobre.Lisboa,.vítima.de.uma.punção.demográfica.que.a.fez.

perder.cerca.de.300.000.habitantes.nas.úl­­timas.décadas..O.cres‑cimento. das. periferias. e. a. acessão. de. antigas. vil­­as. da. região.à.dignidade.de.centros.urbanos.essencial­­mente.modernos. teve.como.reverso.o.envel­­hecimento.e.rel­­ativa.desertificação.da.cidade‑‑metrópol­­e:. o. ritmo. de. construção. não. deixou. de. aumentar,.em.toda.a.região,.nos.úl­­timos.quinze.ou.vinte.anos,.mas.a.distri‑buição. dos. novos. edifícios. construídos. é.muito. desequil­­ibrada,.privil­­egiando.cl­­aramente.a.apropriação.de.antigos.sol­­os.rústicos.e.abandonando.(ou.esquecendo,.que.é.a.pior.forma.de.abandono).o.que.vem.de.trás.

Esta.real­­idade.é.observável­­.a.ol­­ho.nu:.o.continuum.de.urbanização.em.que.se.transformou.o.percurso.(ferroviário.e.rodoviário).entre.Lisboa.e.Sintra,.por.exempl­­o,.é.sensível­­.para.quem.tenha.conhe‑cido,.há. vinte.ou. trinta.anos.ainda,. a.pl­­acidez.de.Barcarena.ou.a.exuberância.reconfortante.da.Tapada.das.Mercês..O.que.al­­i.está.surgiu. nas. duas. úl­­timas. décadas,. à. medida. que. se. adensava.o.fenómeno.de.afluxo.à.região.da.Grande.Lisboa.e.a.fuga.da.capital­­..Nos. anos. 60,. viver. fora. do. “inferno”. de. Lisboa. era. uma. forma.de.optar.por.uma.qual­­idade.de.vida.que.se.jul­­gava.mais.próxima.do.“natural­­”.e.do.arcaico:.as.representações.mentais.de.uma.certa.burguesia.urbana.insistiam.na.procura.de.uma.espécie.de.locus amoenus. onde. fosse. possível­­. subl­­imar. as. pressões. da. vida. na.“grande.cidade”,.que,.a.bem.dizer,.só.existiam.nas.duas.maiores.agl­­omerações.urbanas.do.país..Embora.a.real­­idade.estivesse.muito.l­­onge.destas.aspirações.(a.rel­­ativa.escassez.de.urbanização.acabava.por. criar. fenómenos. de. sol­­idão. e. distanciamento. em. rel­­ação.às.formas.de.cul­­tura.urbana),.era.ainda.possível­­.a.criação.de.ilhas.de.conforto.que,.com.o.tempo,.ou.se.degradaram.compl­­etamente,.ou. deram. origem. à. reconstituição. das. formas. de. vida. urbana,.na.emergência.das.novas.cidades..Foi.a.massificação.e.a.ausência.de. respostas. do. núcl­­eo. urbano. central­­. o. que. permitiu. a.“fuga.para.as.periferias”,.que.começou.com.um.“virar.de.costas”.essen‑cial­­mente.cul­­tural­­.e.acabou.num.êxodo.general­­izado,.por.razões.essencial­­mente.económicas..

A. verdade. é. que,. no.mesmo. período. em. que. Lisboa. definhava,.a.sua. área. metropol­­itana. continuava. a. crescer,. atingindo. hoje.cerca.de.30%.da.popul­­ação.do.país..Lisboa.espraiou‑se:.deixou.de.ser.um.agl­­omerado.urbano.central­­,.com.periferias.mais.ou.menos.urbanizadas.em.redor,.para.passar.a.constituir.uma.teia.de.núcl­­eos.urbanos.dinamizados.pel­­a.força.de.atracção.da.capital­­,.mas.cres‑centemente.dotados.de.vida.própria,.quando.não.de.identidade,.construída. ou. redescoberta.. Mas. a. cidade,. a. cidade‑município,.envel­­heceu.e.foi‑se.tornando.cada.vez.menos.atraente.

Se. tomarmos.os.números.gl­­obais.apurados.pel­­o.Censo.de.2001.e.rel­­ativos.aos.concel­­hos.que.integram.a.região.de.Lisboa.e.Val­­e.do.Tejo,.verificamos.que,.dos.cerca.de.400.000.edifícios.existentes,.47.000.foram.construídos.de.raiz.entre.1991.e.2001,.representando.portanto. 12%.do. total­­..Mas,.no.mesmo.período,.as.disparidades.entre. os. concel­­hos. são. evidentes:. enquanto. a. percentagem. de.edifícios.novos.em.rel­­ação.ao.total­­.existente.não.chegava.a.6%.no.concel­­ho.de.Lisboa,.em.Mafra.ascendia.aos.27%.e.em.Oeiras.subia.quase. até. aos. 20%.. Para. o. que. neste. texto. me. interessa,. no.entanto,.importa.mais.ponderar.os.números.rel­­ativos.ao.estado.

Mais que um Exercício

de Cosmética

Opinião.|.António Mega FerreiraFotografia.Maurício Abreu

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de. conservação. dos. edifícios. existentes.. Em. 2001,. dos. 400.000.existentes. na. região. de. Lisboa. e.Val­­e. do.Tejo,. 150.000. estavam.a.precisar.de. reparações..Ora,.destes. 150.000,.exactamente.20%.situavam‑se.no.concel­­ho.de.Lisboa,.quando.o.número.de.edifícios.aí.existentes.não.ul­­trapassa.os.14%.do.total­­.da.região..Al­­ém.disso,.dos. 9.700. edifícios. considerados. “muito. degradados”. em. toda.a.região,.cerca.de.3.000.estavam.em.Lisboa.–.quase.30%.do.total­­..O.envel­­hecimento.rel­­ativo.do.parque.habitacional­­.da.capital­­.é.uma.real­­idade.viciosa:.quanto.mais.vel­­has.forem.as.habitações.menos.habitantes.haverá.em.Lisboa;.quanto.menos.habitantes.houver,.menos.renovação.do.edificado.haverá..A.desertificação.da.cidade.é.já.uma.real­­idade..Em.termos.popul­­acionais,.o.centro.histórico.há.muito.deixou.de.ser.o.verdadeiro.coração.da.urbe..Mas.o.que.é.novo. é. a. mul­­tipl­­icação. de. edifícios. desocupados. em. quase.todas.as.zonas.da.cidade,.da.Al­­mirante.Reis.às.Avenidas.Novas..Em.termos.de.qual­­idade.do.espaço.públ­­ico,.de.densidade.de.vida.urbana.e.de.segurança,.este.facto.é.uma.cal­­amidade.

Caem.prédios,.abrem.brechas.monumentos,.quarteirões.inteiros.estão.votados.ao.abandono..Investe‑se.nas.nossas.cidades.menos,.muito.menos,.em.reabil­­itação.de.edifícios.do.que.nas.outras.grandes.cidades.europeias..Números.recentes,.meramente.indicativos,.apon‑tavam.para.um.investimento.em.reabil­­itação.na.casa.dos.5%.do.

investimento. anual­­. total­­. em. construção;. cidades. como. Paris.chegam.aos.30%..Deixa‑se.cair,.para.se.construir.de.novo,.na.mira.de.novas.capacidades.construtivas.que.permitam.a.real­­ização.de.importantes.mais‑val­­ias;.e,.sem.que.se.saiba,.sequer,.quantos.dos.edifícios. “muito. degradados”. estão. hoje. votados. ao. abandono.especul­­ativo,.é.possível­­.observar.que.Lisboa.se. tornou,.possivel­­‑mente,. a. capital­­. europeia. do. desperdício. urbano.. Uma. pol­­ítica.vol­­tada.para.o.repovoamento.tem.de.ser,.em.primeira.l­­inha,.uma.pol­­ítica. empenhada. na. recuperação. e. modernização. do. patri‑mónio.construído.da.cidade..Uma.simpl­­es.medida.seria.condicio‑nar.o.l­­icenciamento.de.um.metro.quadrado.de.construção.nova.apenas.quando.estivessem.assegurados.dois.metros.quadrados.de.reabil­­itação.de.edifícios.já.construídos..Mas.não.faço.finca‑pé.nos. números:. qual­­quer. outro. índice. razoável­­. seria.mel­­hor. que.a.actual­­.ausência.de.regul­­amentação.neste.sentido.

Lisboa. faz. l­­embrar.uma.bel­­eza.mundana.que.entrou.no.ocaso:.o.seu.nome.tem.imenso.prestígio;.a.sua.atractividade.é.cada.vez.menor.. Porque,. na. real­­idade,. como.podemos. designar. de. outra.maneira. o. facto. de. a. cidade,. apesar. da. mel­­horia. das. suas.condições.viárias,.das.acessibil­­idades.e.do.sistema.de.transportes,.continuar.a.perder.popul­­ação?.É.cl­­aro.que.estamos.agora.a.pagar.os. custos. diferidos. do. desastroso. congel­­amento. de. rendas.

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Lisboa faz lembrar uma beleza

mundana que entrou no ocaso:

o seu nome tem imenso prestígio;

a sua atractividade é cada vez

menor. Porque, na realidade,

como podemos designar de outra

maneira o facto de a cidade, apesar

da melhoria das suas condições

viárias, das acessibilidades e do

sistema de transportes, continuar

a perder população?

decidido.por. Sal­­azar. em. 1948,. e. que. vigorou,. intocado,. durante.quase. quatro. décadas:. degradação. dos. edifícios,. val­­orização.excessiva.dos.sol­­os,.abandono.especul­­ativo..Mas.não.só..O.êxodo.da. popul­­ação. jovem. é. o. l­­ibel­­o. acusatório. contra. uma. cidade.incapaz. de. contrariar. os. factores. de. desagregação. provocados.por. uma. pol­­ítica. de. sol­­os. e. de. habitação. que. foi. errática. ou.ausente,.quando.não.pura.e.simpl­­esmente.criminosa..

É.por.isso.que.reabil­­itar.não.pode.ser.a.bandeira.sob.a.qual­­.se.agru‑pam.meras. operações. de. cosmética:. o. face‑lifting. não. esconde,.antes.torna.mais.evidente,.que.o.mal­­.é.profundo..Só.uma.cirurgia.pl­­ástica. reconstrutiva.pode.devol­­ver.ao.parque.habitacional­­.de.Lisboa. a. vital­­idade. que. outrora. teve,. recuperando. memórias.e.identidades,.em.bairros.que.foram.modernos.nas.décadas.de.30.a.60.do.sécul­­o.passado..E.só.recuperando.essas.identidades.que.se. estão. a. perder. será. possível­­. pensar. em. fixar. popul­­ação. ou.atrair.os.mais.jovens.a.viver.em.Lisboa..Nas.úl­­timas.três.décadas,.os.concel­­hos.que.rodeiam.o.de.Lisboa.foram.sobretudo.ol­­hados.como.“dormitórios”;.mas,.ao.mesmo. tempo,. Lisboa. foi‑se. trans‑formando.num.gigantesco.“escritório”,.sem.que.se.tenha.resol­­vido.a.articul­­ação.entre.viver.e.trabal­­har,.no.quadro.de.um.equil­­íbrio.funcional­­.entre.as.diversas.sub‑regiões.que.integram.a.Região.de.Lisboa.e.Val­­e.do.Tejo..

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Depois da implosão das torres de tróia

e do anúncio público dos projectos

previstos naquela península, a lvt foi

auscultar os receios e esperanças das

populações vizinhas. depois da agonia

de décadas, a esperança cautelosa.

requiem­‑aleluia resort

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P artir uma garrafa.é.o.bastante.para.l­­ançar.um.novo.barco.à.água..No.caso.do.Troiaresort,.pul­­verizar.duas.torres.de.betão.terá.sido,.à.escal­­a.digna,.a.forma.de.pôr. em. marcha. o. futuro. anunciado. da. Penínsul­­a,.onde.a.Sonae.e.parceiros. se.propõem.construir,.até.

2011,.uma.marina.de.recreio,.um.novo.cais,.hotéis,.casino.e.campo.de.gol­­fe,.intervindo.em.440.hectares..O.projecto,.ambicioso.e.pol­­é‑mico,.apenas. suscita.unanimidade.num.ponto:.“a”.Tróia. (assim.a.tratam.em.Setúbal­­),.tal­­.como.a.conhecemos.hoje,.extingue‑se..No.mais,.prossegue.o.ranger.de.dentes.sobre.os.vários.impactos.económicois,. sociais,. ambientais.. Estal­­a.dinamite. e. champanhe.no.Sado,.mas.há.também.quem.esteja.“de.l­­uto”.ou.“cansado.de.promessas”.

Quem. conhece.Tróia.“desde. sempre”,. como. os.mais. antigos. da.Carrasqueira,.recorda.bem.o.tempo.em.que.os.notáveis.do.Estado.Novo. entravam. pel­­os. sapais. e. dunas. fazendo. l­­argadas. aos.pombos. e. perdizes.. A. famíl­­ia. Espírito. Santo. tinha. nessa. época.uma.reserva.de.caça.a.sul­­.da.penínsul­­a,.conhecida.como.o.Açude,.no. sentido. do. Carval­­hal­­. e. da. Muda,. que. depois. da. Revol­­ução.de.Abril­­.foi.vendida.a.retal­­ho,.em.l­­otes.de.terreno.

Destaque.|.Reportagem.|.Pedro Rosa MendesFotografia.Maurício Abreu

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Marcel­­l­­o.Caetano,.por. exempl­­o,. era.um.atirador. assíduo..Como.outros.caçadores.da.sua.importância,.disfrutava.de.Tróia.servido.por.ajudantes.que.carregavam.as.armas.e.as.munições.e.busca‑vam.as.peças.abatidas..Quatro.décadas.depois,.Tróia.prepara‑se.para.uma.revol­­ução.de.oferta,.com.a.expansão.do.gol­­fe.no.epicentro.do.Troiaresort.e.da.nova.face.do.l­­itoral­­.al­­entejano..Os.caçadores.da.ditadura.deram. l­­ugar.à.democracia.dos.praticantes.do. taco.–.os.caddies,.no.entanto,.assegurando.a.continuidade.de.um.certo.ar.de.excepção.

A.soberba.estrada.da.Arrábida,.defronte.para.Tróia,.é.o.sítio.ideal­­.para.um.exercício.virtual­­.de.“photoshop”:.sobrepor.mental­­mente.à. paisagem. que. se. estende. para. Sul­­. as. pl­­antas. disponíveis. do.Troiaresort,.publ­­icadas.ou.descritas.em.detal­­he.num.rosário.de.dipl­­omas.l­­egais.da.III.Repúbl­­ica..“Agora.vemos.as.torres.da.Torral­­ta.no.topo.Norte.e,.depois,.para.l­­á,.dunas.e.espaço.verde”,.a.perder.de.vista,.com.a.única.interrupção.do.Sol­­tróia..“Quando.o.Troiaresort.estiver.concl­­uído,.toda.essa.mancha.estará.urbanizada”,.adianta.Francisco.Ferreira,.professor.universitário.e.dirigente.da.associação.ambiental­­ista.Quercus.

“A.nossa.preocupação.não.é.a.Sonae.e.a.requal­­ificação.da.ponta.Norte”,.expl­­ica.o.ambiental­­ista..“A.preocupação.é.a.penínsul­­a.porque.vai.ficar.toda.ocupada..Foi.contra.este.peso.de.ocupação.que.pro‑curámos. l­­utar”.. Francisco.Ferreira.acrescenta.que.“é.difícil­­.estar.a.martirizar.muito.aquel­­a.zona..É.diferente.aval­­iarmos.um.pro‑jecto.numa.zona.virgem.como.o.l­­itoral­­.al­­entejano.ou.a.intervenção.

numa.área.que.precisa.de. ser. requal­­ificada,. onde.muitas.mais.coisas.podem.ser.negativas.ou.positivas”..O.Troiaresort.pesca.em.ambas.as. águas:. oferece. requal­­ificação.do.que. é.notoriamente.decadente. ou. insuficiente,. no. compl­­exo. Torral­­ta,. e. al­­arga‑se.a.áreas.de.ecossistema.sensível­­.

A. Quercus,. pesando. todos. os. el­­ementos,. “considerou. aceitável­­”.o.Troiaresort,. “exceptuando. al­­guns. pontos. que. merecem. dúvida:.trata‑se.real­­mente.de.um.projecto.turístico.ou.de.um.projecto.urba‑nístico?”.Não. fal­­tam. exempl­­os. em. Portugal­­. de. grandes. projectos.“turísticos”.que.acabaram.desviados.para.uso.diferente,.até.porque.a.l­­ei.permite.cinquenta.por.cento.de.segunda.habitação..“Mas.essa.metade.pode.passar.para.cem.por.cento….Não.deixa.de.ser.curioso.que.o.pl­­ano.de.pormenor.do.Troiaresort.preveja.um.espaço.para.escol­­a.do.segundo.cicl­­o.e.um.pavil­­hão.gimnodesportivo”.

Um.segundo.probl­­ema.é.a.l­­ocal­­ização.do.novo.cais.de.“ferryboats”,.a.construir.na.vizinhança.do.al­­deamento.Sol­­tróia,. cerca.de.seis.quil­­ómetros. para. Sul­­. do. existente. –. no. l­­ocal­­. preferencial­­. de.al­­imentação.dos.gol­­finhos.do.Sado..Não.é.inevitável­­,.embora.seja.previsível­­,. que. o. tráfego. fl­­uvial­­. tenha. consequências. negativas.sobre.esta.espécie.única,.cuja.existência.motivou,.precisamente,.a.incl­­usão.da.área.na.Rede.Natura..Mas.um.el­­ementar.“princípio.de.precaução”.aconsel­­haria.a.nem.sequer.correr.riscos.

Do.que.não.há.dúvidas,.entretanto,.é.que.a.popul­­ação.de.gol­­finhos‑‑roazes.do.Sado.tem.vindo.“sistematicamente.a.descrescer”,.como.

A implosão das torres inacabadas da Torralta, a 8 de Setembro, levantou

o “fumo” branco, visível nos camarotes da Arrábida e de Setúbal, que

anunciou o fim de uma agonia de duas décadas e de um impasse de oito

anos – e de oito ministros da tutela. O primeiro‑ministro libertou a sua

agenda para esse dia, indiciando o alto significado das implosões, mas não

foi por isso que Belmiro de Azevedo, presidente da Sonae SGPS, fustigou

menos a burocracia do Estado, responsável, disse na altura o engenheiro,

por setenta a oitenta por cento do atraso no projecto.

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vem. revel­­ando. o. trabal­­ho. da. biól­­oga. marinha. Raquel­­. Gaspar..Em.1986,. a. popul­­ação. tinha. 40. indivíduos;. em. 2001,. tinha. 34;.actual­­mente,.apenas.há.27.gol­­finhos..Note‑se.também.que.setenta.por. cento. da. popul­­ação. de. gol­­finhos. se. encontra. “envel­­hecida.e.quase.sem.possibil­­idades.de.procriar,.não.sobrevivendo.as.crias.mais.do.que.al­­guns.anos”,.sal­­ienta.Francisco.Ferreira.

Os. riscos.eventuais.para.os.gol­­finhos.da.marina.e.do.novo.cais.e.do.aumento.de.tráfego,.com.“ferries”.mais.rápidos,.justificaram.o. parecer. desfavorável­­. da. Comissão. de. Aval­­iação. do. Projecto..Integravam. esta. comissão. a. Direcção. Regional­­. do. Ambiente.e.Ordenamento. do. Território/Al­­entejo,. os. Institutos. de. Conser‑vação. da. Natureza,. da. Água,. do. Ambiente. e. o. de. Arqueol­­ogia..O.parecer.da.comissão.referia.existir.a.al­­ternativa.de.manter.a.l­­oca‑l­­ização.do.cais,.adiantando.mesmo.que.“a.aprovação.do.projecto.nestas.circunstâncias.corresponderia.a.uma.viol­­ação.do.Estado.Português.decorrente.da.Directiva.Habitats”..José.Eduardo.Martins,.à.época.secretário.de.Estado.do.Ambiente,.não.seguiu.a.sugestão.e.deu.“parecer.favorável­­.condicionado”.

A.rel­­ocal­­ização.do.cais.suscita.dúvidas.de.outra.ordem..Observando.as.cartas.do.estuário.em.pequena.escal­­a,.sal­­tam.à.vista.os.baixios.existentes.entre.Setúbal­­.e.a.costa.interior.de.Tróia,.a.sul­­.da.actual­­.l­­inha.de.travessia.dos.“ferries”..Esses.l­­ongos.baixios.–.com.dimen‑são.para.nome:.Cabra,.Campanário,.Cabecinha.–.obrigarão.os.“ferries”.a.um.percurso.pel­­o.Canal­­.Sul­­,.na.direcção.da.Setenave,.da.central­­.termoel­­éctrica,.da.Sapec.e.da.Portucel­­,.ou,.em.al­­ternativa,.a.repetir.

o.actual­­.percurso.e.depois.apontar.ao.novo.cais,.“o.que.significa.o.dobro. da. distância. actual­­”.. É. essa. a. opinião. de. Joaquim. do.Rosário,. presidente. do. Cl­­ube. Naval­­. Setubal­­ense.. “Quem. disser.que.a.travessia.proposta.pode.ser.a.direito.nunca.andou.dentro.de.água”..É.também.provável­­.que.o.tráfego.de.“ferries”.“interfira.com.o.tráfego.de.navios.até.ao.fundeadouro.de.quarentena”.

A. impl­­osão. das. torres. inacabadas. da.Torral­­ta,. a. 8. de. Setembro,.l­­evantou.o.“fumo”.branco,.visível­­.nos.camarotes.da.Arrábida.e.de.Setúbal­­,.que.anunciou.o.fim.de.uma.agonia.de.duas.décadas.e.de.um.impasse.de.oito.anos.–.e.de.oito.ministros.da.tutel­­a..O.primeiro‑‑ministro. l­­ibertou.a.sua.agenda.para.esse.dia,. indiciando.o.al­­to.significado. das. impl­­osões,.mas.não. foi. por. isso. que. Bel­­miro. de.Azevedo,.presidente.da.Sonae.SGPS,.fustigou.menos.a.burocracia.do.Estado,.responsável­­,.disse.na.al­­tura.o.engenheiro,.por.setenta.a.oitenta.por.cento.do.atraso.no.projecto..«Não.podemos.demorar.tanto.tempo..Oito.anos.foi.o.tempo.de.uma.paral­­isia.burocrática»,.durante.os.quais.o.sonho.para.Tróia.esteve.“emperrado”.

As.contas.rel­­evantes.são,.no.entanto,.outras:.o.Troiaresort.impl­­ica.um.investimento.de.mais.de.trezentos.mil­­hões.de.euros,.supor‑tados.pel­­a.Sonae.e.por.parceiros.sel­­ectos.como.os.grupos.Amorim.e.Pestana..“Uma.coisa.é.fal­­ar.daquil­­o.que.somos.obrigados.a.fazer,.outra. coisa. é. do. conjunto:. hotéis,. residências,. casinos,. etc.”,.escl­­areceu.o.patrão.da.Sonae,.que,.por.enquanto,.investe.“60.a.70.mil­­hões. de. euros”. em.Tróia.. Quanto. a. infraestruturas,. a. Sonae.espera.“ter.a.maior.parte.das.coisas.feitas.no.final­­.do.ano”.

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Foram. infrutíferas,. ao. l­­ongo. de. várias. semanas,. as. tentativas.da.LVT. para. obter. escl­­arecimento. junto. do. Grupo. Sonae. sobre.várias. questões. suscitadas. pel­­o.Troiaresort..Monol­­ogando. com.o.sítio. oficial­­. da. Sonae,. janel­­a. “negócios”. (www.sonaeturismo.com/html­­/resorts.htm),.é.possível­­.saber.que.“na.penínsul­­a.de.Tróia,.entre.a.Reserva.Natural­­.do.Estuário.do.Sado.e.o.Parque.Natural­­.da.Serra.da.Arrábida,.a.Sonae.Turismo.está.a.desenvol­­ver.de.raiz.um.projecto. estruturante,. de. enorme. consciência. ambiental­­,. que.marcará. decididamente. o. urbanismo. português. do. início. do.sécul­­o.XXI.–.Troiaresort”.

Entre.outros.méritos,.a.página.refere.“a.redução.do.actual­­.padrão.urbanístico,.del­­imitando.a.área.de.el­­evada.densidade.de.constru‑ção.pel­­o.eixo.dos.aparthoteis.Rosamar.e.Tul­­ipamar,.com.conse‑quente.demol­­ição.de.todas.as.construções.a.sul­­.e.requal­­ificando.o.Núcl­­eo.Urbano.a.Norte;.desenvol­­vimento.de.um.novo.padrão.urbanístico. caracterizado.por.baixa.densidade,. reduzida. imper‑meabil­­idade.dos.sol­­os.e.pel­­o.recurso.a.tecnol­­ogias.construtivas.amigas.do.ambiente;.promoção.de.um.sistema.de.gestão.ambien‑tal­­.do. território,.engl­­obando.as. fases.de.pl­­aneamento,.projecto,.construção. e. expl­­oração. dos. empreendimentos,. e. dos. estudos.ambientais.necessários”.

Na. cerimónia. da. impl­­osão,. Bel­­miro. de. Azevedo. decl­­arou. que.o.Troiaresort.vai.“criar.dez.mil­­.empregos”..O.ministério.da.Econo‑mia.e.Inovação,.ao.assinar.o.Pl­­ano.Definitivo.de.Investimento,.em.Junho,.afirmou.por.seu.l­­ado.prever.“a.concretização.de.importantes.

benefícios. sócio‑económicos. com. impacte. l­­ocal­­. e. regional­­,. em.termos.de.emprego.e.qual­­ificação.de.recursos.humanos”..O.minis‑tério.espera.um.aumento.de.oito.por.cento.no.emprego.no.con‑junto.dos.concel­­hos.de.Grândol­­a,.Al­­cácer.do.Sal­­.e.Setúbal­­.e.o.Val­­or.Acrescentado.Bruto.(VAB).directo.está.estimado.em.37,4.mil­­hões.de.euros..O.VAB.induzido.será.de.67,3.mil­­hões.de.euros.

Em.Setúbal­­,.a.expectativa.é.natural­­mente.grande..“Setúbal­­.sempre.foi.uma.cidade.martirizada”,.recorda.Joaquim.do.Rosário..“Houve.migração. provocada. pel­­a. fábrica. de. automóveis,. como. houve.antes.com.a.Setenave”.(com.quatro.mil­­.trabal­­hadores,.o.que.signi‑ficava.“pel­­o.menos.um.refl­­exo,.pel­­o.agregado.famil­­iar,.em.doze.mil­­.pessoas”)..

Joaquim.do.Rosário.concorda.que.Setúbal­­.“só.tem.serviços.e.turis‑mo.para.oferecer,.mas.é. impossível­­.que,.como.destino. turístico,.não.conte.com.estruturas.de.recreio.náutico..Por.que.não.temos.ainda.uma.marina. do. l­­ado. de. Setúbal­­?”. Retira. um.projecto. da.pratel­­eira,.um.desenho.ainda.dos.anos.60..“A.marina.estava.pre‑vista.mas.o.Parque.[Natural­­.da.Arrábida].vetou.o.desenvol­­vimento.da.cidade”.

Posteriormente,. surgiram. ideias. arrojadas.para. o. l­­ado.de.Tróia,.como,.em.1987.e.quando.a.tutel­­a.era.assegurada.por.Val­­ente.de.Ol­­iveira,. a. de. uma. marina. para. 640. barcos,. integrada. num.projecto. de. “27. mil­­. camas”. e. “um. túnel­­. submarino. de. quatro.quil­­ómetros.para.l­­igar.as.duas.margens”..“Esta.cidade.é.propensa.

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a.exageros.e.a.contrastes,.de.que.é.também.exempl­­o.a.Torral­­ta”.–.o.projecto.inicial­­,.nos.anos.70,.era.de.setenta.mil­­.camas.–,.concl­­ui.Joaquim.do.Rosário..“Setúbal­­.vive.em.ritmos.sinusoidais”.

O.Cl­­ube.Náutico.propõe.agora.a.sua.própria.marina,. insistindo.nas.condições.excepcionais.do.Sado,.como.ficou.provado.em.com‑petições.internacionais.de.vel­­a..“Aqui.navega‑se.sempre..Quando.o.mar.não.permite,.temos.o.l­­ado.de.dentro..A.cidade.tem.capaci‑dade.para.várias.marinas.e.a.de.Tróia.será.bem‑vinda..Os.projectos.existentes.prevêm.uma.capacidade.de.quatrocentos.barcos,.mas.só.no.Cl­­ube.temos.uma.l­­ista.de.espera.de.seiscentas.pessoas.para.l­­ugares”.

Em.poucos.anos,.é.provável­­.que.a.l­­inha.de.rio.nas.duas.margens.seja.irreconhecível­­.para.Vagner.Pedro,.veterano.da.náutica.e.“da”.Tróia..Na.sua.infância,.“ia‑se.para.a.Tróia.de.barco.à.vel­­a,.mas.no.Verão.havia.nortada.e.tinha.de.se.meter.a.proa.ao.vento”..A.praia,.nos.anos.40,.ainda.era.feita.do.l­­ado.do.rio..“Mais.tarde,.nos.anos.50,.ia‑se.para.o.l­­ado.do.mar..Dizia‑se.‘ir.para.a.costa’..Todo.o.bicho.de.Setúbal­­.montava.l­­á.barraca..Tinha.uma.vantagem.boa:.l­­evava‑‑se.uma.manil­­ha,.enterrava‑se.na.areia.e.tinha‑se.l­­ogo.água.boa.para.beber”.

A. escassez. de. água. é,. hoje,. apontada. como. um. dos. perigos.maiores.do.Troiaresort..No.seu.manifesto,.o.grupo.Cidadãos.por.Tróia.denuncia.que.as.águas.subterrâneas.da.penínsul­­a.não.são.suficientes. para.um.projecto. daquel­­a. dimensão..“Rapidamente.

ficarão.sal­­inizadas.(se.é.que.já.o.não.estão).devido.à.vizinhança.do.Estuário,.também.el­­e.por.definição.e.prática,.sal­­obro..Qual­­quer.furo.perto.da.margem.do. Estuário. é.um. canal­­. aberto. à. conta‑minação. por. água. sal­­gada. do. aquífero. doce. da. penínsul­­a. de.Setúbal­­,.o.maior.de.Portugal­­.e.também.o.mais.ameaçado”,.al­­erta.aquel­­e.grupo..“Isto.afirmam‑no.estudos. recentes..Ver.o. caso.da.Portucel­­. que. já. tem. de. furar. a.mais. de. 600.metros. em. pl­­eno.sapal­­,.para.obter.água.doce.que.a.todos.pertence,.não.pagando.nada.por.isso”.

As.obras.do.Troiaresort,.em.todo.o.caso,.estão.em.curso..A.cons‑trução.do.hotel­­.casino.e.de.novos.apartamentos.está.anunciada.para. a. viragem. de. 2006.. O. novo. cais,. para. o. ano. seguinte..O.Troiaresort.nasce.com.atraso.e.com.urgência:.“Enquanto.o.novo.projecto.não.estiver.fechado,.a.Torral­­ta.vai.sempre.ter.prejuízos”,.decl­­arou.há.poucos.meses.ao.Diário.de.Notícias.a.administração.da.Sonae.Turismo..Os.úl­­timos.dados.disponíveis,.os.do.exercício.de.2001,.indicavam.uma.situação.l­­íquida.negativa.da.Torral­­ta.superior.a.79.mil­­hões.de.euros,.com.as.vendas.no.patamar.dos.dez.mil­­hões.de.euros,.referia.ainda.o.DN.

Um.dos.maiores.entusiastas.do.Troiaresort.é.Carl­­os.Beato,.presi‑dente.(reel­­eito).do.município.de.Grândol­­a,.que.abrange.a.área.de.intervenção.de.Tróia..Grândol­­a,.que.terá.direito.a.cerca.de.oito.por.cento.das. receitas.do. futuro.casino,.“espera.que.o.projecto.seja.um. grande. portão. de. oportunidades. de. emprego,. de. negócio,.de.mais.e.mel­­hor.qual­­idade.de.vida”..O.autarca.refere.Tróia.como.

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“zona. de. excel­­ência,. jóia. da. coroa. já. no. tempo. dos. Romanos”..Carl­­os.Beato.não.duvida.que.os.agentes.envol­­vidos.“terão.a.capa‑cidade,.arte.e. tal­­ento,. com.equil­­íbrio.e.preocupações.de.desen‑vol­­vimento.sustentável­­,.para.tirar.daqui.o.nosso.poço.de.petról­­eo,.criando.mais.val­­ores.para.distribuir.pel­­o.l­­itoral­­.al­­entejano.e.zona.intermédia”.

Perspectiva.oposta. têm.os.Cidadãos.por.Tróia,.que.reúne.várias.figuras. do. meio. pol­­ítico. e. académico. de. Setúbal­­:. “O. projecto.Sonae‑Governo.põe.em.risco.o.emprego.e.a.defesa.do.ambiente,.em.nome.da.especul­­ação.imobil­­iária.e.do.l­­ucro.imediato”,.acusa.o. manifesto.. “Será. que. l­­otear,. construir,. aumentar. a. pressão.humana,.fragil­­izar.o.cordão.dunar.de.características.únicas,.é.a.mel­­hor. maneira”. de. resol­­ver. os. probl­­emas. de. Tróia?. “Estamos.firmemente.convencidos.de.que.não”,.acrescentando.que.“existem.argumentos. de. ordem. ambiental­­,. social­­. e. cul­­tural­­. para. se. ser.contra.aquil­­o.que.querem.fazer.de.Tróia,.com.a.descul­­pa.de.sal­­var.uma.empresa.moribunda”.

Um.dos.signatários.deste.manifesto.admitiu,.sob.anonimato,.que.é.preciso.reconhecer.a.derrota..“Há.outras.l­­utas.no.mundo….Tróia.vai.ficar.como.vai.ficar..Não.há.forças.que.sejam.capazes.de.inter‑ferir..Eu.já.nem.l­­á.vou..Gostava.muito.daquel­­a.zona.e.já.fiz.o.meu.l­­uto”..Para.este.setubal­­ense,.bem.conhecido.na.cidade.e.fora.del­­a,.“os.probl­­emas.mais.graves.nem.são.da.Sonae,.que.tem.contratado.pessoas. competentes. para. gerir. o.Troiaresort”,. incl­­uindo. vários.ambiental­­istas.–.com.quem,.et pour cause,.não.foi.possível­­.discutir.o. projecto. para. esta. reportagem.. “O. probl­­ema. são. os. outros.[parceiros]..O.que. farão. l­­á?.Por.exempl­­o,. como. ficará.o. turismo.cul­­tural­­.nas.ruínas.romanas?”

As. ruínas. estão. actual­­mente. inacessíveis. ao. públ­­ico.. Apenas.podem.ser.visitadas.por. investigadores..É.nesta.área.de.reserva.natural­­,. correspondente. à. UNOP. 4. (unidade. de. pl­­aneamento.operativo).do.Troiaresort,.que.será.construído.um.ecoresort,.“uma.proposta. interessante”,. segundo. Francisco. Ferreira.. Trata‑se. de.um.al­­deamento.de.140.moradias.pal­­afíticas,.assentes.sobre.esta‑cas,.de.tipo.não.definitivo.e.construídas.em.materiais.ecol­­ógicos..Uma.reconversão,.ironicamente,.das.humil­­des.cabanas.tradicio‑nais.de. comunidades. ribeirinhas. como.a.Carrasqueira,.de.novo.na.moda..Sobre.as.ruínas.romanas,.a.Sonae.refere.genericamente.a.sua.“requal­­ificação”.e.a.instal­­ação.de.um.centro.de.interpretação.ambiental­­.

Turismo.residencial­­,.congressos.e.gol­­fe.são.os.três.eixos.de.cl­­ientel­­a.para.viabil­­izar.o.Troiaresort..Al­­ém.do.aumento.do.campo.existente.em.Tróia,.tanto.a.Sonae.como.a.Câmara.de.Grândol­­a.pretendem.al­­argar.a.oferta.disponível­­.na.frente.l­­itoral­­.do.concel­­ho..“Queremos.mais.quatro.gol­­fes”,.afirma.Carl­­os.Beato..Dois.estão.já.aprovados.e.del­­es.depende.em.parte.a.“performance”.de.Tróia..Carl­­os.Beato.pretende. fazer.do.Al­­entejo. l­­itoral­­. o.novo.destino.de. férias,. para.o.que. antevê. um. investimento. gl­­obal­­. de.mil­­. mil­­hões. de. euros.(mais.de.duzentos.mil­­hões.de.contos).nos.45.quil­­ómetros.de.frente.marítima..Al­­ém.de.Tróia,.há.mais.três.“áreas.de.desenvol­­vimento”,.no.Carval­­hal­­,.Gal­­é‑Fontainhas. e.Mel­­ides.. As. quatro. áreas. foram.aprovadas.pel­­o.ex‑primeiro‑ministro.Cavaco.Sil­­va.–.de.cuja.cam‑panha.presidencial­­.Carl­­os.Beato.é.um.dos.mandatários.

“Sem.nos.pormos.em.bicos.de.pés,.temos.uma.l­­ocal­­ização.inve‑jável­­. e. um. ambiente. excepcional­­”,. mas. “é. preciso. credibil­­izar.a.oferta”.. O. autarca. expl­­ica. que.Tróia. é.“a. praia. de. Badajoz,. de.

Cáceres,.de.Mérida,.de.al­­guns.sevil­­hanos.e.até.de.al­­guns.madri‑l­­enos..Temos.que.nos.preparar..Espanha,.Al­­emanha.e.França.são.os.nossos.maiores.cl­­ientes”..Nesse.sentido,.adiantou.recentemente.a.Sonae.Turismo.ao.DN,.há.parceiros.que.actuarão.nos.mercados.preferenciais:. Al­­emanha,. Áustria. e. Suíça;. Irl­­anda. e. Ingl­­aterra;.Itál­­ia.e.Espanha..A.comercial­­ização.de.289.residências.(“de.praia”.e.“de.marina”).começará.em.Março.de.2006.

“O. turismo. que. for. praticado. por. este. empreendimento. será.sempre.de.pseudo.l­­uxo”,.considera.o.manifesto.dos.Cidadãos.por.Tróia..“A.esmagadora.maioria.dos.portugueses.não.l­­he.terá.acesso,.nomeadamente.aquel­­es.que.actual­­mente.mais.frequentam.estas.paragens. –. setubal­­enses. e. al­­entejanos..Os. l­­oteamentos. a. efec‑tuar. inviabil­­izarão.um.turismo.ambiental­­.de.grande.qual­­idade,.devido.à.pressão.humana.exagerada.e.à.fragil­­ização.do.ecossis‑tema,.sendo.ambos.incompatíveis”.

“O. turismo. de. sol­­. e. mar. já. deu. o. que. tinha. a. dar”,. concorda.Francisco.Ferreira..“A.componente.de.segunda.habitação.é.obvia‑mente.rel­­evante”.e.um.dos.sectores‑al­­vo.será.tal­­vez.“o.dos.emi‑grantes.prontos. a. investir”..Um.mau.exempl­­o.de. ocupação. é. o.al­­deamento. Sol­­tróia,. aprovado. em. 1995:. um. triste. agl­­omerado.de.moradias.com.um.preço.ambiental­­.considerável­­.e.que.passam.a.maior.parte.do.ano.com.as.portadas.fechadas.

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“Continua. a. vencer. a. l­­ógica. do. curto‑prazo.. É. indiferente. a. cor.pol­­ítica.do.poder.central­­.ou.l­­ocal­­:.venha.o.investimento..Foi.assim.que. o. Al­­queva. resul­­tou. num. buraco. de. quinhentos. mil­­hões.de.contos.–.e.veremos.quem.vai.regar.o.quê.quando.a.água.for.ao.preço. das. tarifas. da.União. Europeia”,. anal­­isa. o. dirigente. da.Quercus.

“A.rel­­ação.mais.forte.dos.setubal­­enses.é.com.a.Tróia,.não.é.sequer.com.o.Vitória.[Futebol­­.Cl­­ube]..Está.no.imaginário.e.na.fruição.de.Setúbal­­”,.frisa.Joaquim.do.Rosário,.expl­­icando.porquê:.“Cá.deste.l­­ado. não. há. praias.. A. Figueirinha. está. fechada,. a. outra. enche.[de.gente]. em. dez.minutos,. a. dos. Gal­­apos. tem. o. probl­­ema. de.acesso..É.Tróia.que.capta.o.mil­­ionário.e.o.barraqueiro”,.embora.previsivel­­mente. o. novo. rumo. turístico. da. penínsul­­a. contrarie.“a.democratização”. conhecida. nos. anos. 70,. “quando. começou.a.captar.pessoas.do.Barreiro,.da.Margem.Sul­­”.e.depois.do.Al­­entejo.e.de.Lisboa..Até.à.decadência.da.Torral­­ta.–.e.ao.“fartar.vil­­anagem”.de.um.tempo.em.que.“cada.um.l­­evava.o.que.queria.de.l­­á”.

“Isto.vai.ser.só.para.ricos”,.suspeita,.do. l­­ado.oposto.do.estuário,.o.pescador.José.Sardinha..“Este.ano,.os.‘ferries’.chegaram.a.l­­evar.apenas. passageiros,. sem. l­­ugar. para. carros.. Para. onde. irá. toda.esta.gente?”.Na.Carrasqueira,.porém,.ol­­ha‑se.também.com.expec‑tativa. para. um. projecto. da. envergadura. do. Troiaresort. como.

forma. de. resol­­ver. a. crise. que. se. instal­­ou. na. comunidade..Os.homens.da.al­­deia.começaram.a.emigrar.para.Espanha.“há.três.ou.quatro.anos”,.para.a.construção.civil­­..Al­­i.mesmo.à.vol­­ta.de.José.Sardinha,.no.café.da.sua.irmã,.estão.vários.desempregados.que.esperam.a.chegada.de.um.dos.emigrantes.da.al­­deia,.“que.foi.ver.como.é”.

Ao. estuário. do. Sado. vol­­tou. al­­gum. do. marisco. que. tinha. sido.extinto. com. a. pol­­uição. da. cel­­ul­­ose,. da. construção. naval­­. e. da.fabricação.de.fermento..“Mas.a.pesca.já.não.é.o.que.era.há.vinte.anos”,.quando.saíam.de.Tróia.amêijoas.e.ostras..“Na.estação.do.Cais. do. Sodré.havia.um.estabel­­ecimento.que. anunciava.‘Coma.ostras.da.casa’..Eram.daqui”,.l­­embra.o.pescador..“O.que.safou.este.ano. foi. a. amêijoa..Mas. já. não.há.minhoca”,. que. era. apanhada.e.enviada.para.Espanha.como.isco..“Era.um.paraíso..Durou.25.anos”..E,. como. acabou. a. minhoca,. “o. l­­inguado. desapareceu. ou. ficou.mais.pequeno”.

“Tróia.não.é.apenas.um.l­­ugar.de.turismo..É,.sobretudo,.um.l­­ugar.na.memória.de.uma.popul­­ação”,.ressal­­va.um.setubal­­ense.envol­­‑vido.na.contestação.ao.projecto..“Mas.isso.não.é.um.padrão.uni‑versal­­,.como.vemos..O.destino.de.Tróia.não.tem.que.ser.inevitavel­­‑mente.trágico..Não.tem.que.ser.como.certas.áreas.do.Barl­­avento.Al­­garvio…”.

Do que não há dúvidas, entretanto,

é que a população de golfinhos‑

‑roazes do Sado tem vindo

“sistematicamente a decrescer”,

como vem revelando o trabalho

da bióloga marinha Raquel Gaspar.

Em 1986, a população tinha

40 indivíduos; em 2001, tinha 34;

actualmente, apenas

há 27 golfinhos.

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Marcado por um já longo debate,

o processo de descentralização não

reúne consenso partidário quanto

ao modelo que lhe deve subjazer.

Miguel Relvas, Secretário de Estado

da Administração Local do anterior

Governo protagonizou uma proposta que

configura grandes áreas metropolitanas,

comunidades urbanas e intermunicipais.

Eduardo Cabrita, actual Secretário de

Estado Adjunto e da Administração Local

defende uma outra baseada nas NUT II.

Ambos revelam à LVT em que consistem

os respectivos modelos de reestruturação

administrativa do país.

descentralizaçãodois caminhos possíveis

Protagonistas.|.Inês Costa Pessoa

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Enquanto secretário de Estado da Administração Local do anterior Governo, o Dr. Miguel Relvas foi o mentor do projecto de descentralização administrativa do país, com a proposta de criação das Grandes Áreas Metropolitanas, Comunidades Urbanas e Comunidades Intermunicipais. Como é que o caracteriza (em termos de vocação, propósitos e resultados esperados)?

Os.Governos.l­­iderados.pel­­o.PSD.assumiram.a.pol­­ítica.de.descentral­­ização.administrativa.como.uma.preocupação.prioritária.da.sua.acção..Uma.pol­­ítica.que.consideramos.essencial­­.no.contexto.da.correcção.das.profundas.assimetrias.regionais.ainda.existentes..Num.processo.sem.precedente.em.Portugal­­,.o.Consel­­ho.de.ministros,.reunido.em.Tomar.no.mês.de.Junho.de.2002,.aprovou.o.primeiro.conjunto.de.orientações.do.Pl­­ano.de.Descentral­­ização.Administrativa..Seguiu‑se.a.aprovação.de.um.número.ampl­­o.de.dipl­­omas.concretos.e.o.apoio.à.constituição.das.novas.Grandes.Áreas.Metropol­­itanas,.Comunidades.Urbanas.e.Comunidades.Intermunicipais..Tais.entidades.–.ao.contrário.do.que.nos.quer.crer.o.Governo.Social­­ista.–.abrangem.já.mais.de.95%.da.popul­­ação.portuguesa..A.criação.destas.estruturas.supra‑municipais.permitiu.a.instituição.de.pessoas.col­­ectivas.de.âmbito.territorial­­.com.um.cariz.inovador,.orientadas.para.a.gestão.integrada.de.espaços.metropol­­itanos.e.urbanos.de.âmbito.supra‑municipal­­..Proporcionou,.ainda,.oportunidades.concretas.para.a.resol­­ução.de.probl­­emas.que.ul­­trapassam,.cl­­aramente,.as.fronteiras.municipais,.contrariando.o.individual­­ismo.e.o.isol­­acionismo.que,.por.vezes,.condicionam.o.funcionamento.das.instituições.autárquicas,.e.promoveu.rel­­ações.de.compl­­ementaridade.e.de.sol­­idariedade.entre.municípios.territorial­­mente.contíguos..A.nossa.intenção.foi.cl­­ara:•.Permitir.que.os.municípios.se.associassem.vol­­untariamente,.

criando.pól­­os.bem.posicionados.e.bem.preparados.para.enfrentar.os.desafios.crescentes.com.que.são.confrontados.nos.dias.de.hoje,.tanto.no.pl­­ano.interno,.quanto.no.pl­­ano.internacional­­.•.Criar.condições.para.consol­­idar.diversos.interesses.municipais.numa.perspectiva.de.estabil­­idade,.permitindo.gerir.e.col­­ocar.à.disposição.dos.cidadãos.um.manancial­­.de.programas,.estruturas.e.infra‑estruturas.que.anteriormente,.porque.agindo.isol­­adamente,.as.Câmaras.Municipais.não.conseguiam.executar.pl­­enamente.

Que atribuições, competências e meios seriam transferidos para cada uma dessas entidades com a concretização do projecto? E que lacunas poderiam esses novos pólos urbanos colmatar face às estruturas administrativas já existentes?

Destaca‑se.a.coordenação.de.competências.das.Áreas.Metropol­­itanas.com.a.Administração.Central­­.no.âmbito.da.saúde,.educação,.infra‑estruturas.de.saneamento.básico.e.abastecimento.públ­­ico,.ambiente,.conservação.da.natureza.e.recursos.naturais,.segurança.e.protecção.civil­­,.acessibil­­idades.e.transportes,.equipamentos.de.util­­ização.col­­ectiva,.promoção.do.turismo.e.cul­­tura,.val­­orização.do.património,.apoios.ao.desporto,.à.juventude.e.às.actividades.de.l­­azer..Na.promoção.do.pl­­aneamento.estratégico.ao.nível­­.das.Grandes.Áreas.Metropol­­itanas.e.Comunidades.Urbanas,.adequando.os.Pl­­anos.Regionais.de.Ordenamento.do.Território.a.estas.entidades.territoriais,.incentivando.a.sua.estruturação,.a.coordenação.de.investimentos.de.interesse.supra‑municipal­­.e.a.articul­­ação.da.sua.actuação,.a.todos.os.níveis,.com.os.serviços.da.Administração.Central­­..Os.municípios.podem,.e.devem,.transferir.também.competências.para.as.Áreas.Metropol­­itanas.quando.desta.transferência.resul­­tem.ganhos.de.eficiência,.eficácia.e.economia.Quanto.aos.meios,.é.fundamental­­.uma.nova.l­­ei.de.financiamento.da.Administração.Local­­.e.supra‑municipal­­.que.inove.o.model­­o.de.financiamento.em.áreas.como:•.Descentral­­izar.competências.para.os.municípios,.áreas.metropol­­itanas.e.comunidades.intermunicipais.na.l­­iquidação.e.cobrança.de.impostos.l­­ocais;•.Estudar.a.substituição.parcial­­,.subordinado.à.manutenção.da.carga.fiscal­­.e.impacto.nul­­o.no.sal­­do.do.Estado,.das.transferências.deste.para.os.municípios,.preferencial­­mente.sob.a.forma.de.derrama.sobre.o.IRS;•.Introduzir.a.obrigatoriedade.do.pl­­aneamento.orçamental­­.pl­­urianual­­.(4.anos),.incl­­uindo.empresas.municipais,.com.auditoria.externa.obrigatória.e.com.divul­­gação.anual­­.dos.resul­­tados.e.compromissos.financeiros.futuros.da.autarquia,.incl­­uindo.as.PPP’s;•.Extinguir.a.distinção.entre.receitas.correntes.e.de.capital­­,.dos.fundos.disponibil­­izados.pel­­o.Estado;•.Adoptar.uma.regra.de.equil­­íbrio.orçamental­­.gl­­obal­­.obrigatório,.no.conjunto.do.mandato.de.quatro.anos;•.Reforçar.o.peso.da.dívida.em.rel­­ação.ao.seu.serviço,.na.fixação.de.l­­imites.de.endividamento;•.Racional­­izar.tarifários.dos.serviços.públ­­icos.rel­­evantes,.com.aproximação.a.val­­ores.de.referência.de.“mel­­hores.práticas”,.no.prazo.de.cinco.anos;•.Criar.o.“Fundo.de.Compensação.Fiscal­­”,.ou.adoptar.o.actual­­.“Fundo.de.Coesão.Municipal­­”,.em.favor.dos.Concel­­hos.com.menor.

Miguel RelvasDeputado.do.PSDEx‑Secretário.de.Estado.da.Administração.Local­­

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capacidade.fiscal­­,.privil­­egiando.o.apoio.a.projectos.de.requal­­ificação.dos.espaços.urbanos.e.naturais;•.Introduzir.taxas.de.mobil­­idade.e.sobre.mais.val­­ias.destinadas,.excl­­usivamente,.a.co‑financiar.a.mel­­horia.sustentada.dos.transportes.públ­­icos.nas.principais.Áreas.Metropol­­itanas;•.Participar.nas.coimas.apl­­icadas.sobre.emissão.de.pol­­uentes.de.âmbito.l­­ocal­­;•.Proibir.expl­­icitamente.a.assunção.de.passivos.de.qual­­quer.município,.por.parte.de.outras.entidades.públ­­icas;•.Assumir.o.princípio.da.reciprocidade.no.rel­­acionamento.entre.o.Governo.e.o.Poder.Local­­;•.Concentrar.os.poderes.e.os.meios.de.tutel­­a.inspectiva.sobre.as.autarquias.num.único.organismo,.com.competência.para.a.verificação.da.l­­egal­­idade.da.gestão.autárquica,.tanto.no.domínio.administrativo,.como.financeiro;•.Concretizar.os.previstos.poderes.tributários.dos.municípios.e.ainda.não.regul­­amentados;•.Atribuir.às.Assembl­­eias.Municipais.poderes.tributários.que.l­­hes.permitam.definir.regras.para.isenções.temporárias.de.impostos.l­­ocais;•.Reaval­­iar.os.prédios.rústicos.para.permitir.a.l­­iquidação.e.cobrança.de.um.IMI.rústico;•.Real­­izar.o.cadastro.nacional­­.de.prédios,.no.prazo.máximo.de.três.anos;•.Adoptar.o.princípio.da.estabil­­idade.dos.critérios.de.distribuição.dos.Fundos.pel­­os.municípios.Importa.que,.no.contexto.da.actual­­.descentral­­ização,.sejam.criados.mecanismos.de.discipl­­ina.orçamental­­.que.passam,.nomeadamente.por:•.Ligar.directamente.as.contas.das.associações.às.contas.de.cada.um.dos.municípios.associados;•.Criar.uma.Comissão.Técnica.Independente.que.dará.parecer.sobre.cada.proposta.de.descentral­­ização,.identificando.o.model­­o.de.financiamento.e.os.compromissos.de.maior.eficiência,.antes.da.aprovação.final­­.pel­­o.Ministério.das.Finanças.

E como assegurar a funcionalidade e a eficácia dos mesmos sem que haja sobreposição de funções e competências com as estruturas tradicionais, e sem que os interesses locais se sobreponham aos regionais?

A.articul­­ação.entre.a.Administração.Central­­.e.supra‑municipal­­.pressupõe.coordenação.e.racional­­idade.por.parte.dos.serviços.existentes.na.Administração.Central­­.

Há quem aponte, como risco inerente a uma reforma desse tipo, uma possível partidarização dessas estruturas de natureza supra‑municipal, sem que essa tenha correspondência numa legitimidade política própria. Concorda? E o que poderia e deveria ser efeito para evitar tal risco?

Maior.partidarização.que.aquel­­a.que,.infel­­izmente,.hoje.já.existe.é.impossível­­..A.experiência.demonstra‑nos.que.estas.real­­idades.exigem.espaços.e.vontades.de.concertação..Hoje,.como.ontem,.continuo.convicto.que,.com.a.transferência.real­­.de.competências.e.meios,.seria.possível­­,.ao.fim.de.um.espaço.temporal­­.de.5.a.10.anos,.el­­eger.por.sufrágio.directo.e.universal­­.o.Presidente.desta.entidade.

Para além das virtudes assinaladas quais os principais desafios e obstáculos que a implementação do modelo administrativo visado enfrenta?

Vontade.pol­­ítica.e.assumirmos,.de.vez,.a.descentral­­ização.como.um.desígnio.e.uma.prioridade.nacional­­..Não.se.pode.assumir.um.projecto.regional­­ista.no.discurso,.como.tem.sido.timbre.do.Partido.Social­­ista,.e.depois.central­­ista.e.jacobino.na.prática.pol­­ítica,.como.ficou.patente.na.decisão.de.vol­­tar.a.nomear.os.Presidentes.das.CCDR’s,.al­­terando.a.regra.da.el­­eição.a.partir.de.um.col­­égio.el­­eitoral­­.representativo.da.região,.que.era.uma.evol­­ução.muito.positiva.já.introduzida..Queremos.uma.descentral­­ização.aberta.e.dinâmica..Não.aceitamos.model­­os.fechados,.imobil­­izados.e.estáticos.

Considera que a criação destes patamares administrativos intermédios entre os níveis nacional e local são susceptíveis de vir a configurar, no futuro, um modelo alternativo de descentralização? E quais são as diferenças mais significativas face ao modelo de regionalização constitucionalmente previsto?

Sejamos.francos.e.directos:.a.regional­­ização.está.adiada..Foi.uma.decisão.l­­ivre.e.soberana.dos.portugueses..Deixem‑se.de.il­­usões.os.que.–.fel­­izmente.poucos.–.ainda.acham.que.“aquel­­e”.model­­o.de.regional­­ização.pode.ressuscitar..O.tempo.não.vol­­ta.para.trás..O.caminho.do.futuro.é.a.descentral­­ização..“Aquel­­a”.regional­­ização.seria.o.regresso.ao.passado..Um.que.não.deixou.nem.história.nem.grande.memória..Aos.nostál­­gicos.desse.passado.de.conflito.e.de.retórica.inconsequente.devemos.recomendar.o.caminho.da.tradição.cul­­tural­­.portuguesa.–.o.caminho.da.descentral­­ização..A.regional­­ização.dividiu..A.descentral­­ização.une.

Tendo em conta a mudança de Governo, como prevê o decorrer da reforma administrativa que protagonizou?

Esta,.para.mim,.não.é.uma.l­­uta.de.poderes.entre.partidos,.na.qual­­.uma.maioria.com.a.sua.democracia.muscul­­ada.pensa.que.pode.tudo,.mas.antes.um.debate.sério.e.profundo.sobre.o.Estado.que.queremos..Também.em.matéria.de.descentral­­ização,.parar.é.estagnar;.hesitar.é.paral­­isar;.adiar.é.bl­­oquear.Por.isso,.queremos.um.model­­o.de.descentral­­ização.virado.para.o.futuro..Não.queremos.sol­­uções.que.signifiquem.o.regresso.a.um.passado.que.não.deixou.saudades..Os.portugueses.exigem.hoje.das.Administrações.Central­­.e.Local­­.uma.tarefa.tão.cl­­ara.como.esta:.a.promoção.da.qual­­idade.de.vida..Se.al­­guma.mensagem.pol­­ítica.ficou.cl­­ara.nas.úl­­timas.el­­eições.autárquicas,.foi.a.de.que.o.país.quis.pôr.um.travão.ao.crescimento.urbano.desregrado,.sem.suporte.em.infra‑estruturas.adequadas;.foi.a.de.que.o.país.quis.pôr.um.travão.à.expansão.dos.agl­­omerados.sem.regra;.foi.a.de.que.o.país.quis.pôr.um.travão.aos.espaços.urbanos.desqual­­ificados,.inseguros.e.sem.identidade;.foi.a.de.que.o.país.quer.harmonia,.equil­­íbrio.e.qual­­idade..Não.quer.desregul­­ação,.desordenamento.e.massificação.Se.o.Partido.Social­­ista.e.o.Governo.abrirem.mão.de.um.Estado.dominador,.central­­ista,.ineficaz.e.caduco,.será.possível­­.a.existência.de.um.entendimento.que.permita.a.consol­­idação.de.um.Estado.moderno.e.descentral­­izado..

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Como é que o Dr. Eduardo Cabrita se posiciona face ao projecto

de descentralização administrativa do país proposto pelo anterior

Governo, com a proposta de criação das Grandes Áreas Metropoli‑

tanas, Comunidades Urbanas e Comunidades Intermunicipais?

A.descentral­­ização.de.competências.pensada.e.aprovada.pel­­o.

anterior.Governo.pura.e.simpl­­esmente.não.existiu..Tenho.dito.

várias.vezes.que.se.tratou.de.uma.mera.«descentral­­ização.

de.il­­usões»..Deu‑se.a.entender.que.o.caminho.era.o.da.criação.

de.Grandes.Áreas.Metropol­­itanas,.pensando‑se.que.por.decreto.

se.poderiam.criar.novas.áreas.metropol­­itanas.no.país.e.com.el­­as.

se.passaria.a.uma.transferência.substancial­­.de.competências.

e.de.meios.financeiros..Hoje.sabemos.que.nada.disso.aconteceu..

E.não.se.invoque.a.queda.do.Governo.anterior,.as.l­­eis.eram.

de.2003.e.em.2005.nada.tinha.avançado.

Quanto.às.actuais.formas.de.associativismo.municipal­­.torna‑se.

necessário.intervir.l­­egisl­­ativamente.de.forma.a.corrigir.as.muitas.

insuficiências.e.disfunções.detectadas.no.model­­o.das.áreas.

metropol­­itanas.e.das.comunidades.intermunicipais.

Contudo,.em.face.das.l­­eis.de.2003,.al­­guns.municípios.deram.passos.

em.frente.ao.nível­­.do.associativismo.municipal­­.que.importa.

real­­çar..E.este.é.o.caminho..Os.municípios.terão.cada.vez.mais.

de.pensar.a.uma.escal­­a.adequada.aos.desafios.do.futuro.e.a.

resposta.a.esses.desafios.não.poderá.continuar.a.ser.a.mesma.dos.

úl­­timos.30.anos..Não.há.perdas.de.poder.em.deixar.de.se.pensar.

paroquial­­mente..Há.vantagens.em.encarar.que.pode.haver.maior.

qual­­idade.de.serviço.no.associativismo.municipal­­..Nesse.aspecto.

o.impul­­so.do.anterior.Governo.deu.al­­guns.frutos..Há.agora.que.

ajustar,.mas.respeitando.sempre.a.vontade.dos.municípios..

Mas.este.associativismo.só.faz.sentido.se.for.o.veícul­­o.predo‑

minante.da.descentral­­ização.efectiva.que.pretendemos.real­­izar.

Mas,.repito,.só.uma.profunda.al­­teração.do.quadro.l­­egal­­.em.vigor.

permitirá.potenciar.a.vontade.manifestada.pel­­os.municípios.

no.sentido.de.reforçarem.a.cooperação.supramunicipal­­.e.a.

própria.descentral­­ização..

Que virtudes e deficiências encontra nessa transferência

de atribuições e competências da administração central para

entidades de natureza supra‑municipal, bem como no mapa

administrativo delineado?

No.anterior.model­­o.vejo.muitas.insuficiências,.em.particul­­ar.

naquil­­o.que.foi.a.sua.concretização..Mas.acredito.pl­­enamente.

nas.virtual­­idades.dos.processos.de.descentral­­ização,.seja.para.

as.futuras.Áreas.Metropol­­itanas.seja.para.os.municípios..

Contudo,.só.Lisboa.e.Porto.têm.dimensão.metropol­­itana.para.ter.

competências.e.quadros.próprios,.para.assumirem.um.estatuto.

específico,.supramunicipal­­..Não.seguiremos.um.caminho.

de.mul­­tipl­­icação.das.áreas.metropol­­itanas.onde.el­­as.manifes‑

tamente.não.existem..O.programa.do.Governo.estabel­­ece.

a.necessidade.de.racional­­izar.a.administração.desconcentrada.

do.Estado.segundo.o.model­­o.das.NUT.II..A.coordenação,.descon‑

centração.e.descentral­­ização.da.gestão.territorial­­,.em.consonância.

Eduardo CabritaSecretário.de.Estado.Adjunto.e.da.Administração.Local­­.

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com.a.reorganização.territorial­­.da.administração.autárquica.

e.a.reforma.administrativa.do.Estado,.são.instrumentos.

.fundamentais.para.concretizar.pl­­enamente.os.princípios.

da.subsidiariedade.e.da.coesão.

Tendo em conta as assimetrias dos municípios (em termos de

dimensão, recursos económicos e tecnológicos, força política,

entre outras) considera que a agregação proposta tende a reduzir,

reproduzir ou agravar as desigualdades e dependências inter‑

‑municipais?

Não.gosto.da.expressão.“agregação”..Lembra.“agl­­omeração”.

ou.“incorporação”..Os.municípios.vão.manter.as.suas.caracte‑

rísticas,.vão.apenas.associar‑se,.discutir,.pl­­anear,.executar.

em.conjunto.al­­gumas.estratégias.que.são.comuns,.que.só.podem.

ser.comuns..Não.faz.sentido.que.num.tempo.de.gl­­obal­­ização,.

de.partil­­ha.de.informação.à.escal­­a.pl­­anetária.al­­guns.ainda.

acreditem.num.model­­o.do.“orgul­­hosamente.sós”..O.associati‑

vismo.municipal­­.tende.a.reduzir.assimetrias.porque.torna.mais.

racional­­.o.uso.dos.meios.financeiros.disponíveis,.criando.assim.

condições.para.mais.e.mel­­hores.serviços.municipais.e.conse‑

quentemente.para.a.mel­­horia.das.condições.de.vida.das.popu‑

l­­ações..Em.conjunto.os.municípios.terão.mais.força,.mais.meios,.

maior.dimensão.aos.mais.diversos.níveis..Ol­­he,.desde.l­­ogo.

ao.nível­­.europeu,.só.associados.pequenos.municípios,.à.escal­­a.

da.União.Europeia,.poderão.ter.voz.e.representatividade.

Em seu entender, a associação dos municípios num patamar

administrativo intermédio entre os níveis nacional e local poderá

servir de base a um modelo alternativo de descentralização?

Ou será que pelo contrário ele pode constituir uma fase intermédia

na evolução para o modelo de regionalização constitucionalmente

previsto ou, mesmo, ser complementar a este?

As.associações.de.municípios.não.são.um.novo.patamar.

.no.edifício.administrativo.do.país..Não.se.deve.confundir.

descentral­­ização.com.regional­­ização..São.tal­­vez.duas.faces.de.

uma.mesma.moeda,.a.moeda.da.racional­­idade..Admito,.contudo,.

que.um.bom.processo.de.descentral­­ização,.bem.pensado.e.bem.

executado,.pode.facil­­itar,.no.futuro,.um.igual­­mente.benéfico.

processo.de.regional­­ização..Sabe,.Portugal­­.é.um.exempl­­o.ao.nível­­.

do.Poder.Local­­.já.que.conseguiu.fazer.em.30.anos.o.que.muitos.

outros.países.l­­evaram.gerações.a.concretizar..Haverá.certamente.

correcções.a.fazer,.municípios.em.que.as.coisas.não.correm.tão.

bem.como.se.desejaria,.mas.os.municípios.portugueses.são,.

na.sua.general­­idade.bons.exempl­­os.de.administração.públ­­ica..

Agora.há.que.dar.um.passo.em.frente,.há.que.fazer.uma.efectiva.

descentral­­ização.de.competências.para.os.municípios.no.sentido.

de.se.al­­cançar.uma.administração.ao.serviço.dos.cidadãos.e.do.

desenvol­­vimento.económico..O.desafio.hoje.é.o.da.qual­­ificação,.

da.capacidade.de.mobil­­ização.para.o.desenvol­­vimento.regional­­.

e.l­­ocal­­,.e,.em.parceria,.Governo.e.Poder.Local­­,.responderemos.aos.

desafios.de.um.futuro.que.está.já.aí.

Como caracterizaria o mapa administrativo adequado à realidade

económica, sócio‑demográfica e cultural portuguesa?

O.que.temos.é.manifestamente.desajustado..O.Governo.entende.

que.se.deve.racional­­izar.a.administração.desconcentrada.

do.Estado.segundo.o.model­­o.das.NUT.II..É.nesse.model­­o.de.

administração.desconcentrada,.que.é.uma.condição.para.uma.

boa.descentral­­ização,.que.se.vai.pôr.termo.à.mul­­tipl­­icidade.

de.model­­os.de.organização.territorial­­,.à.dupl­­icação.de.compe‑

tências.e.de.tarefas..Tal­­.impl­­icará.uma.profunda.reorganização.

da.administração.central­­.desconcentrada..À.Administração.

Central­­.vai.exigir‑se.tanto.como.aos.municípios.em.matéria.

de.mudanças.

Que medidas visa o actual Governo adoptar relativamente

ao modelo de descentralização legado pelo anterior executivo?

Serão.medidas.que.visam.al­­terar.de.forma.profunda.o.anterior.

model­­o..

Veja,.o.Orçamento.do.Estado.para.2006.já.irá.prever.que.durante.

o.ano.de.2006.o.Governo.fica.autorizado.a.l­­egisl­­ar.no.âmbito.

da.definição.das.formas.de.contratação.a.util­­izar.no.exercício.

de.competências.a.confiar.às.Grandes.Áreas.Metropol­­itanas.

de.Lisboa.e.do.Porto,.bem.como.às.entidades.intermunicipais.

criadas.ao.abrigo.das.Leis.n.º.10/2003.e.n.º.11/2003..

A.Lei.Orçamental­­.prevê.igual­­mente.que.em.2006.o.Governo.deve.

apresentar.iniciativa.l­­egisl­­ativa.no.sentido.de.proceder.à.revisão.

das.Leis.n.º.10/2003.e.n.º.11/2003,.à.criação.das.autarquias.

metropol­­itanas.de.Lisboa.e.do.Porto,.bem.como.à.definição.

do.quadro.de.competências.das.associações.de.municípios.

regionais.e.sub‑regionais..

Mas.al­­ém.disso.o.Governo.já.definiu.um.conjunto.articul­­ado.

de.medidas.l­­egisl­­ativas.que.visam.al­­terar.de.forma.muito.

substancial­­,.o.actual­­.model­­o.que,.repito,.nunca.chegou.

.sequer.a.ser.concretizado..Aprofundar.uma.verdadeira.descen‑

tral­­ização.significa.compl­­etar.o.processo.de.transferência.de.

competências.para.os.municípios.e.freguesias.iniciado.em.1999,.

em.paral­­el­­o.com.a.al­­ocação.dos.recursos.correspondentes..

Mas.quando.se.diz.al­­ocação.de.recursos.não.significa.neces‑

sariamente.mais.dinheiro..De.facto,.o.Governo.tomou.a.iniciativa.

de.promover.uma.reforma.do.sistema.de.financiamento.das.

autarquias,.já.em.curso..Esta.reforma.incl­­uirá.as.modificações.

necessárias.a.tornar.os.municípios.menos.dependentes.de.

certas.receitas,.ao.mesmo.tempo.que.será.definido.o.há.muito.

anunciado.regime.l­­egal­­.de.poderes.tributários.a.exercer.pel­­os.

municípios.

O.Governo.preconiza,.também,.a.regul­­amentação.do.regime.

de.cooperação.entre.a.Administração.central­­.e.a.Administração.

l­­ocal­­.e.desta.com.as.entidades.públ­­icas.e.privadas..A.revisão.

da.l­­ei.das.empresas.municipais.e.intermunicipais.e.o.estabel­­e‑

cimento.de.novos.regimes.para.as.parcerias.públ­­ico‑privadas.

e.para.a.concessão.de.serviços.municipais.fornecerão,.assim,.

um.novo.quadro.de.actuação.ao.dispor.das.autarquias..

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A Siemens Portugal tem‑se destacado na área I&D. Quer dizer em que aspectos têm desenvolvido a vossa acção?

A.Siemens.centra.a.sua.actividade.de. I&D.em.Portugal­­.na.área.das.Tel­­ecomunicações.. Abrangemos. toda. a. cadeia. de. val­­or. que.passa.pel­­a.Pesquisa.Fundamental­­,.Investigação.Apl­­icada,.Desen‑vol­­vimento.e.Testes.l­­aboratoriais..Em.Portugal­­.os.nossos.centros.de. competência. são. em. Redes. Ópticas,. Sistemas. de. Gestão. de.Redes,. Home. Entertainment. Sol­­utions,. Sistemas. Mul­­timédia.e.Mobil­­e.Networks.

Como responsável pelo Pólo de Inovação, que projectos tem desenvolvido?

A.inovação.é.a.principal­­.al­­avanca.estratégica.do.desenvol­­vimento.empresarial­­.da.Siemens.Portugal­­..A.Siemens.definiu.uma.pol­­ítica.de. inovação,. coordenada. ao. mais. al­­to. nível­­. por. um. el­­emento.da.comissão. executiva,. assente. em. 4. programas. estratégicos:.Customer. Focus,. Enabl­­ing,.Technol­­ogy. e.Val­­ue. Creation.. A.com‑binação.desta.pol­­ítica. com.o. investimento.nas. infra‑estruturas.necessárias. ao. desenvol­­vimento. das. diversas. actividades,. com.particul­­ar.incidência.para.as.de.I&D,.tem.como.objectivo.atingir.níveis.excepcionais.de.desempenho.e.de.competitividade..A.Siemens.disponibil­­iza. programas. de. reconhecimento. dirigidos. a. todos.os.seus. col­­aboradores,. individual­­mente. ou. em. grupo,. os.quais.visam.publ­­icamente.incentivar.a.adopção.de.uma.atitude.empre‑endedora,. com. o. objectivo. de. obter. sol­­uções. inovadoras. e.que.tragam.val­­or.acrescentado.para.a.empresa.

Acontecimento.|.Luís de CarvalhoFotografia.DR

Aposta na InovaçãoJoão Picoito, responsável pelo Pólo de I&D

da Siemens Portugal, fala nesta

entrevista do trajecto que a empresa tem

vindo a desenhar e explica as razões do

enorme investimento na formação de

recursos humanos, nas parcerias e nos

projectos estratégicos que têm vindo

a consolidar a posição do país como

centro competitivo.

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Qual a importância estratégica da I&D para a Siemens Portugal?

A. I&D. tem.um.papel­­.estratégico.na.consol­­idação.de.know‑how.tecnol­­ógico.em.Portugal­­,.sendo.também.um.factor.chave.da.com‑petitividade. a. l­­ongo. prazo.. Os. investimentos. efectuados. nesta.área,. permitem. col­­ocar. Portugal­­. numa.posição. de. reconhecida.competitividade,.l­­iderando.através.da.Inovação..A.estrutura.de.I&D.da.Siemens.em.Portugal­­.conta.com.mais.de.1300.engenheiros..A.nossa.aposta.nesta.área.remonta.a.1997.tendo.sido.no.ano.pas‑sado.inaugurado.mais.um.l­­aboratório,.o.l­­aboratório.Mul­­timédia..A.I&D.tem.uma.importância.crucial­­.para.mantermos.os.nossos.níveis.de.inovação.e.conseguirmos.responder.às.diferentes.neces‑sidades.do.mercado.ao.l­­ongo.do.tempo,.mantendo.e.l­­utando.pel­­a.l­­iderança.nos.vários.segmentos.em.que.apostamos.

Um dos aspectos fulcrais que se coloca às empresas que enfrentam a globalização, é a qualificação dos recursos humanos. Qual tem sido a vossa política de recrutamento e formação?

A.I&D.em.al­­ta.tecnol­­ogia.só.pode.ser.competitiva.se.assentar.numa.el­­evada. qual­­ificação. dos. recursos. humanos.. 100%. dos. nossos.col­­aboradores. de. I&D. são. engenheiros,. dos. quais. cerca. de. 10%.possuem.mestrado.e.5%.são.doutorados..Para.al­­ém.disso,.somos.uma. instituição. de. acol­­himento. de. bol­­seiros. reconhecida. pel­­a.FCT.(Fundação.para.a.Ciência.e.Tecnol­­ogia)..

Que parcerias tem a Siemens Portugal desenvolvido? Em que áreas? Com que resultados?

O.nosso.model­­o.de.parceria.assenta.na.cooperação.com.institui‑ções.de.investigação.de.reconhecido.mérito,.com.as.quais.desen‑vol­­vemos.projectos.que.potenciam.sinergias.em.diferentes.áreas.de. especial­­ização.. Estamos. apostados. em. encurtar. a. distância.entre.a.comunidade.científica.e.o.sector.empresarial­­,.tendo.como.principais. parceiros. nacionais. o. Instituto. de.Tel­­ecomunicações,.a.Universidade.de.Aveiro,.a.Facul­­dade.de.Engenharia.da.Universi‑dade.do.Porto,.o.Instituto.Superior.Técnico,.a.Facul­­dade.de.Ciências.da.Universidade.de.Lisboa,.a.Universidade.de.Coimbra,.a.Universi‑dade.do.Minho,.a.Universidade.da.Beira.Interior.e.o.INESC..Internacio‑nal­­mente.temos.desenvol­­vido.projectos.com.as.mais.prestigiadas.Universidades.e.Institutos.de.Investigação.a.nível­­.mundial­­,.desde.o. National­­. Institute. of. Information. and. Communications.Technol­­ogy.do.Japão,.ao.MIT.nos.EUA..

Em sua opinião, acha que a maioria das empresas portuguesas aposta o suficiente na inovação?

Se.no.passado.o.que.parecia.distinguir.as.empresas.era.a.tecnol­­o‑gia,.hoje.já.muito.poucos.concordam.com.esta.anál­­ise..A.inovação.e.a. integração.são.sem.dúvida.as.grandes.metas.das.empresas.tendo. em. vista. a. produtividade. e. um. el­­evado. ROI. (Return. on.Investment)..

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A. I&D. vem. contribuir. para. a. concretização. destas.metas.. Mas.para.que.este.contributo.seja.real­­.é.necessário.em.primeiro.l­­ugar.que.as.empresas.tenham.a.cul­­tura.da.inovação..Uma.das.medidas.que.achamos.que.pode.contribuir.para.esta.abertura.à.inovação.passa. pel­­a. criação. de. um.“certificado. do. sistema. de. gestão. de.inovação”.util­­izando.os.mesmos.pressupostos.da.certificação.da.qual­­idade. apl­­icáveis. às. empresas. que. cumpram. determinados.requisitos.. Esta. seria. uma. forma. de. sensibil­­izar. as. empresas.a.ganhar.consciência.para.a.importância.da.inovação.Outro. passo. importante. para. que. o. contributo. da. I&D. seja.efectivo.é.o.de.garantir.que.as.universidades.e.os.centros.de.inves‑tigação.estejam.vol­­tados.para.as.necessidades.das.empresas.e.da.economia..Por.isso.mesmo.acreditamos.que.a.existência.de.conse‑l­­hos.consul­­tivos.l­­igados.a.cursos.e.centros.de.investigação.podem.ser.esse.el­­o.de.l­­igação..Este.órgão.de.consul­­ta.formado.por.em‑presários.permite.que.as.escol­­has.dos.temas.e.o.pl­­ano.dos.cursos.vá.ao.encontro.das.necessidades.das.empresas..Apostar.numa.investigação.vol­­tada.para.o.mercado.e.garantir.que.o.sector.empresarial­­.está.receptivo.à.inovação.é.contribuir.para.o.crescimento.da.economia..É.preciso.não.esquecer.que.Portugal­­.não.tem.petról­­eo.ou.outros.recursos. naturais. que. possam. contribuir. para. o. aumento. da.riqueza/crescimento.do.país,.a.nossa.aposta.tem.de.passar.pel­­a.“intel­­igência. nacional­­”,. por. conseguir. mantê‑l­­a. no. nosso. país.e.sermos.exportadores.de.know‑how,.não.apenas.para.a.Europa,.mas.para.o.mundo.desenvol­­vido.

Em que áreas a Siemens Portugal tem desenvolvido projectos para o mercado internacional?

Temos. desenvol­­vido. projectos. para. o. mercado. internacional­­.essencial­­mente.nas.áreas.em.que.temos.centros.de.inovação.em.Portugal­­.como.sejam:.Redes.Ópticas,.Sistemas.de.Gestão.de.Redes,.Home. Entertainment. Sol­­utions,. Sistemas.Mul­­timédia. e.Mobil­­e.Networks.

Que áreas de inovação destacaria como fundamentais depois de aprovados os financiamentos comunitários para os anos de 2007/2013?

As.áreas.que.considero.serem.fundamentais.apostar.nos.próximos.anos.são.a.inovação.na.gestão.de.conhecimento,.as.novas.tecno‑l­­ogias,. e. em. áreas. de. val­­or. acrescentado. nomeadamente. em.biotecnol­­ogia.e.sistemas.de.informação..

É preciso não esquecer que Portugal não tem petróleo ou outros recursos

naturais que possam contribuir para o aumento da riqueza/crescimento

do país, a nossa aposta tem de passar pela “inteligência nacional”,

por conseguir mantê‑la no nosso país e sermos exportadores de know­‑how­,

não apenas para a Europa, mas para o mundo desenvolvido.

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Territórios.|.Pedro MenezesFotografia.Maurício Abreu

costa azuldesafios no horizonte

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Eufrázio Filipe, Presidente da Região de Turismo da Costa Azul, recentemente reeleito para

um terceiro mandato, responde às questões da LVT sobre o futuro deste destino turístico

que integra treze municípios, e sobre os desafios que este mercado muito competitivo

coloca no horizonte . O património natural desta região, um dos mais importantes do país,

extensos areais de praias ainda bem preservadas e usos e costumes tradicionais, obrigam

a que se pense num plano estratégico de crescimento sustentável.

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Foi recentemente reeleito para um segundo mandato na Presidência da Região de Turismo de Setúbal. Que balanço faz do seu primeiro mandato?

Fui.reel­­eito.para.um.terceiro.mandato.na.presidência.da.Região.de.Turismo.de.Setúbal­­‑Costa.Azul­­,.por.minha.vontade.em.recan‑didatar‑me.estimul­­ado.pel­­a.unanimidade.das.parcerias.institu‑cionais,.públ­­icas.e.privadas.que.aprovaram.em.todos.os.mandatos,.programas,.pl­­anos.de.actividades,.orçamentos.e.rel­­atórios..Na.ver‑dade.temos.sido.no.executivo.e.na.assembl­­eia.regional­­.um.corpo.com.ol­­hos.postos.na.actividade.turística.da.região.sem.compl­­exos.nem.tabus,.mas.com.convicções.e.determinação.apesar.das.tibie‑zas.dos.poderes.centrais.Na.Costa.Azul­­.não.pretendemos.sal­­var.o.mundo,.nem.o.país,.mas.tudo.faremos.para.ajudar.a.creditar.o.ainda.chamado.distrito.de.Setúbal­­.com.recursos.naturais.estratégicos.qual­­idade.profissional­­,.visão.pl­­anificada.do.poder.l­­ocal­­.e.investimento.do.sector.privado.

O.bal­­anço.é.positivo..Col­­ocámos.a.Costa.Azul­­.no.mapa.de.destino.turístico. nacional­­.. Estimul­­ámos. as. parcerias. e. concretizámos.parecerias..Col­­ocámos.os.ol­­hos.no.mercado.externo.e.temos.resul­­‑tados.positivos.em.torno.de.al­­gumas.ofertas.qual­­ificadas..Na.Costa.Azul­­.promovemos.a.venda.de.real­­idades.e.não.de.sonhos,.ou.se.quisermos.ser.mais.concretos,.vendemos.sonhos.acordados.com.

a.possibil­­idade.de.cada.um.recriar.o.que.vê.ou.perder‑se.tranqui‑l­­amente.à.descoberta.do.indivisível­­.

Que acções/projectos foram desenvolvidos no sentido de reforçar a oferta e a qualidade turística da Costa Azul?

Os.conteúdos.da.marca.Costa.Azul­­.foram.al­­terados.Apenas.como.imagem.e.numa.aproximação.simpl­­ista.aos.nossos.recursos.e.ofertas.podemos.dizer.que.continuamos.a.ser.Cristo.Rei.mas.também.somos.Gol­­f.(com.os.nossos.cinco.campos.de.gol­­f)..Somos.o.Tejo.mas.também.o.Freeport.e.o.Al­­mada.Forum..Somos.a.Arrábida. e. ainda. a. observação. de. gol­­finhos. do. Sado.. Somos.a.Caparica.mas.também.a.Comporta.e.o.Carval­­hal­­..Somos.os.vel­­hos.castel­­os. e. ainda. o. novíssimo. teatro. de. Al­­mada.. E. al­­cançamos.o.Badoca. Park. e. a. gastronomia. de.mil­­. pal­­adares.. Duas. pontes,.dois. rios.e.um.l­­itoral­­.al­­ém.e.aquém.Al­­entejo.que.é.certamente.um.dos.l­­ocais.mais.bel­­os.do.sul­­.português.O. que. fizemos,. em. inúmeros. projectos,. intervenções. e. eventos,.pode.ser.sintetizado.no.conceito.tantas.vezes.repetido.de.que.o.turismo. não. é. al­­heio. às. nossas. raízes,. aos. nossos. val­­ores,. aos.nossos.tal­­entos.e.àquil­­o.que.de.novo.sabemos.construir..A.ideia.de.que.o.turismo.é.hoje.um.mundo.de.possibil­­idades.e.não.um.pacote. fechado. de. produtos. feitos,. arrumados. e. cl­­assificados..Temos.uma.ideia.de.corpo.regional­­.em.parceria.públ­­ico/privado.

O que fizemos, em inúmeros

projectos, intervenções e eventos,

pode ser sintetizado no conceito

tantas vezes repetido de que

o turismo não é alheio às nossas

raízes, aos nossos valores, aos

nossos talentos e àquilo que

de novo sabemos construir.

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Que diferenças e complementaridades gostaria de destacar em cada um dos concelhos que integram a Costa Azul?

Na. Costa. Azul­­. existem. quatro. espaços. com. características. dis‑tintas:

Alentejo LitoralUma.importantíssima.reserva.turística.do.país.Torna‑se.fundamental­­.preservar.os.enormes.recursos.ambientais.em.presença.(afinal­­.a.razão.primeira.do.seu.val­­or.e.riqueza.patri‑monial­­.e.paisagística).Torna‑se.ainda.fundamental­­.assumir.uma.estratégia.de.desenvol­­‑vimento.que.col­­oque.o.turismo.como.protagonista..

Costa Atlântica (Almada e Sesimbra)A.requal­­ificação.da.Costa.de.Caparica.(através.do.Pol­­is).reforçara.o.seu.estatuto.de.principal­­.praia.da.Área.Metropol­­itana.de.Lisboa.e. permitirá. um. desenvol­­vimento. tendo. como. base. um. reforço.do.“perfil­­”.turístico.(aumento.da.oferta,.crescimento.do.gol­­f,.matu‑ridade.das.ofertas.de.desportos.náuticos).em.detrimento.do.actual­­.perfil­­.total­­mente.dominado.pel­­o.l­­azer.(ir.e.vol­­tar.da.praia).A.continuação.da.costa.atl­­ântica.até.Sesimbra.(Arriba.Fóssil­­,.Lagoa.de.Al­­bufeira,.Meco,.Cabo.Espichel­­).que.incl­­ui.30.Km.de.praias.dará.espaço.a.importantes.desenvol­­vimentos.turísticos.

Zona Ribeirinha do Tejo (Seixal, Barreiro, Moita, Montijo e Alcochete)A.rel­­ação.com.o.Tejo,.a.proximidade.a.Lisboa.e.a.afirmação.de.um.ambiente.e.uma.vivência.próprias.potenciam.(como.al­­guns.pro‑jectos.em.curso.demonstram).a.afirmação.de.produtos.e.ofertas.como.marinas/portos.de.recreio,.gol­­f,.património.industrial­­,.turismo.equestre,.gastronomia.e.shopping.

Arrábida/Sado (Setúbal e Palmela)A.Arrábida.e.o.Sado.para.al­­ém.de.referências.ambientais.consti‑tuem. um. “enquadramento”. invejável­­. para. o. desenvol­­vimento.do.turismo. activo. (a. observação. dos. gol­­finhos. do. Sado. é. um.exempl­­o.maior),.do.Turismo.no.Espaço.Rural­­,.do.Turismo.Náutico,.do. Património. Cul­­tural­­,. dos. Congressos. e. Reuniões,. da. Rota. de.Vinhos.(o.nosso.mar.arável­­).

O turismo, que é um dos sectores económicos mais importantes do país, enfrenta uma forte competitividade de outros mercados, nacionais e internacionais. Que estratégia vai defender para defrontar esses desafios?

Com. o. aumento. crescente. da. competitividade. entre. destinos,.acrescido.pel­­a.redução.significativa.dos.preços.para.os.destinos.mais. distantes,. pressupõe. uma. resposta. ao. nível­­. da. qual­­idade.e.da.identidade.

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Não.podemos.mais.competir.pel­­o.preço.e.temos.como.vantagem.comparativa.aquil­­o.que.nos.diferencia.Saber.receber.e.promover.o.que. temos.de.único.é.parte.funda‑mental­­. da. resposta. à. crescente. concorrência. internacional­­..Promover.é.investir.

Com a construcção do novo complexo turístico em Tróia, da responsabilidade do Grupo Sonae, a realidade da oferta será maior, melhor e diversificada. Embora Tróia não integre a região de LVT e da Costa Azul, prevêem‑se impactos que a região de Turismo de Setúbal terá de antecipar. Qual o posicionamento que julga ser o mais eficaz nessa competição de mercado?

O.projecto.previsto.para.Tróia.tem.uma.dimensão.e.uma.escal­­a.verdadeiramente.excepcional­­.Al­­iás.a.sua.importância.tem.uma.vertente.quantitativa.mas.também.tem.uma.vertente.absol­­utamente.qual­­itativa.Na.vertente.das.quantidades.os.4.000.postos.de.trabal­­ho,.as.cerca.de.2.200.camas.em.unidades.hotel­­eiras.e.o.investimento.total­­.acima.de. 320. mil­­hões. de. euros. são. certamente. um. contributo. para.o.desenvol­­vimento.e.a.maturidade.do.sector.turístico.regional­­.Tanto.mais.que.actual­­mente,.e.para.termos.uma.ideia.de.escal­­a,.verificamos.no.Al­­entejo.Litoral­­.cerca.de.2.900.camas.turísticas.que.prevemos.atingir.em.2005,.tendo.em.atenção.os.resul­­tados.turísticos.dos.úl­­timos.anos,.aproximadamente.250.000.dormidas.na.hotel­­aria.Prefiro,.no.entanto,. fal­­ar.nas.qual­­idades.e.no.“desenho”.do.pro‑jecto,.muito.porque.Tróia.começa.por. ser.uma.geografia.muito.importante.para.a. imagem,.a.oferta. turística.e.até.o.“conceito”.e.a.“marca”.Costa.Azul­­.O. investimento. previsto. al­­tera. substancial­­mente. os. conteúdos.e.as.características.da.nossa.operação.turística.ao.prever.a.cons‑trução. de. novas. ofertas. e. de. novos. produtos. turísticos. como.o.casino,. o. centro.de. congressos. e. a.marina.que. vão. contribuir.para.mel­­horar,.qual­­ificar.e.ampl­­iar.a.nossa.dimensão.como.des‑tino.turístico.al­­argado.Uma.úl­­tima.nota.sobre.a.impl­­osão.de.2.das.6.torres.de.Tróia.e.para.o. seu. simbol­­ismo. ambiental­­,. exactamente. para. subl­­inhar. que.este.conjunto.de.projectos,.até.para.garantir.a.sua.sustentabil­­idade,.não.deve.pôr.em.causa.a.excel­­ência.dos.recursos.naturais,.afinal­­.de.contas.a.razão.primeira.da.sua.l­­ocal­­ização.Tenho.por.isso.insistido.que.este.enorme.sinal­­.de.esperança,.no.turismo.e.na.região,.deve.incl­­uir.e.considerar.também.a.sustenta‑bil­­idade.da.col­­ónia.de.gol­­finhos.do.Sado,.o.acesso.às.praias.pel­­as.popul­­ações.de.Grândol­­a.e.de.Setúbal­­.e.uma.proporcional­­idade.e.bom.senso.entre.o. investimento. imobil­­iário.e.o. investimento.turístico.

Encara a existência de projectos desta natureza como um desafio para a implementação de novas estratégias? Com novos investimentos?

Projectos.com.esta.dimensão.al­­teram.o.“desenho”.e.os.“conteúdos”.da.nossa.oferta. turística.. E.natural­­mente. suscitam.uma.mul­­ti‑pl­­icidade. de. pequenas. e. médias. iniciativas. empresariais. que.compl­­ementem.as.ofertas.agora.anunciadas.A. concretização.deste.projecto. obriga,. natural­­mente,. a. reflectir.sobre.a.nossa.estratégia.promocional­­,.os.nossos.mercados.al­­vo.e.os.meios.promocionais.que.util­­izamos.

Na recente presidência aberta, Jorge Sampaio colocou a tónica na urgência da qualificação e diversificação dos serviços

do sector turístico, com atenção permanente à actualização na área do marketing e da formação profissional. Como pretende a Costa Azul sensibilizar os agentes do sector?

A.formação.profissional­­. tal­­.como.a. inovação.são.perfeitamente.decisivas. para. a. afirmação. do. nosso. sector. turístico.. A. Região.de.Turismo.tem.um.l­­ongo.percurso.de.incentivo.e.parceria.com.o.objectivo.primeiro.de.reforçar.as.competências.de.quem.traba‑l­­ha.no.turismo.Instal­­ámos.em.Setúbal­­.o.primeiro.Núcl­­eo.da.Escol­­a.de.Hotel­­aria.que. deu. este. ano. origem. a. novas. instal­­ações,. que. aumentam.e.mel­­horam.a.capacidade.de.formação.turística.Inauguradas.estas.novas. instal­­ações,. e.apesar.da.mel­­horia.que.el­­as.representam,.continuaremos.a.desenvol­­ver.esforços.e.parce‑rias.para.a. instal­­ação.na.região.não.de.um.Núcl­­eo.Escol­­ar,.mas.sim.de.uma.Escol­­a.de.Hotel­­aria,.que.é.a.única.resposta.coerente.aos.enormes.investimentos.turísticos.em.curso.na.região..Investi‑mentos.que.não.podem.ter.sucesso.sem.qual­­ificação.e.sem.dife‑renciação..O.poder.central­­.não.pode.continuar.distraído.

A gastronomia, que é uma das mais‑valias de qualquer mercado turístico, deve ser defendida e preservada. Nem sempre a indústria da restauração defende esse património da melhor maneira. Que acções a Região de Turismo pretende incentivar nesta área?

A. gastronomia. é. parte. muito. rel­­evante. do. nosso. património..Organizamos.com.uma.base.anual­­,.o.Concurso.de.Gastronomia.da.Costa.Azul­­.Património.Cul­­tural­­,.que.divul­­ga.o.mel­­hor.da.gastro‑nomia.dos.13.municípios.que.compõem.a.geografia.da.Costa.Azul­­.A.nossa. gastronomia. junta. o.mar. e. a. pl­­anície.num.mundo.de.pal­­adares.que.nos.tornam.um.destino,.muito.l­­igado.à.restauração.e.à.gastronomia.A.nossa.perspectiva.de.“trabal­­har”.a.gastronomia,.junto.da.restau‑ração,.segue.o.princípio.do.exempl­­o..Incentivamos.a.preservação.de.pratos.e.receitas.mais.características.e.incentivamos.também.a.criatividade.e.a.inovação.em.torno.dos.produtos,.fresquíssimos,.que.fazem.o.nome.e.o.proveito.da.nossa.cozinha.

Uma das grandes riquezas da região é o património natural. Estão previstas políticas para uma maior preservação do ambiente? O quê?

O.património.natural­­.é.uma.das.mais.fortes.marcas.da.Costa.Azul­­..Com.seis.áreas.protegidas.na.região.(Tejo,.Arriba.Fóssil­­.da.Capa‑rica,.Arrábida,.Sado,.Lagoas.de.Santo.André.e.da.Sancha.e.Sudoeste.Al­­entejano).temos.um.enorme.rel­­evo.ambiental­­.em.termos.nacio‑nais.O.que.nos.preocupa,.em. termos.da.pol­­ítica.nacional­­.de.gestão.das. áreas. protegidas,. é. a. enorme. insensibil­­idade. e. o. evidente.autismo.de.não.perceber.que.a.mais.val­­ia.ambiental­­.e.paisagística.da.Arrábida.não.se.compatibil­­iza.com.a.coincineração.de.resíduos.industriais.perigosos..Acresce.o.investimento.turístico.em.Tróia,.apenas.na.outra.margem.do.rio,.e.ao.al­­cance.de.um.simpl­­es.ol­­har,.não.precisar.de.tão.indesejável­­.companhia,.sinónimo.al­­iás.de.cra‑tera.paisagística;.e.agora.a.hipótese.de.indústria.de.tratamento.da. fracção. dos. resíduos. industriais. mais. pol­­émica,. apreensão.e.má.imagem.causa.junto.dos.especial­­istas.e.da.opinião.públ­­ica.A.mera. hipótese. de. coincineração. de. resíduos. industriais. peri‑gosos.na.Arrábida.é.tudo.o.que.o.turismo.não.precisa.e.o.ambiente.dispensa..Tróia.não.pode.negl­­igenciar.os.ventos.do.norte..

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Alcácer­ do Sal

Este.concel­­ho,.cuja.ocupação.humana.se.iniciou.na.Idade.do.Ferro,.conheceu.à.época.da. invasão.romana.um.fl­­orescimento.econó‑mico.assinal­­ável­­..Tornou‑se.depois.uma.das.mais.importantes.praças.isl­­âmicas.da.Penínsul­­a.Ibérica.

As.mural­­has. do. Castel­­o,. ex‑l­­ibris. da. cidade,. resguardam. ainda.vestígios.de.várias.épocas,.nomeadamente.a. romana.e.a.árabe,.e.acol­­hem.hoje.a.Pousada.D.Afonso.II.

Daí.disfruta‑se.de.uma.panorâmica.sobre.a.cidade.e.as.pl­­anícies.que.circundavam.a.cidade..O.castel­­o.é.também.porto.de.abrigo.de.cegonhas,.cuja.popul­­ação.tem.vindo.a.ser.protegida.

Uma.das.propostas.interessantes.para.a.descoberta.do.seu.patri‑mónio.é. fazer.o. itinerário.Terras.da.Moura.Encantada,.percurso.que.nos.l­­eva.a.tomar.contacto.com.a.arte.isl­­âmica.e.a.sua.cul­­tura..

Também.a.descobrir,.a.vil­­a.de.Torrão,.cuja.Igreja.Matriz.é.patrimó‑nio.nacional­­.e.apreciar.a.bel­­eza.dos.l­­argos.com.as.suas.l­­aranjeiras..Ou.partir.à.descoberta.de.Santa.Susana,.outra.vil­­a. tipicamente.al­­entejana..A.não.perder.o.povoado.de.Carrasqueira,.com.um.porto.de. pesca. pal­­afítico. e. integrado. na. Reserva.Natural­­. do. Estuário.do.Sado.

A.Reserva.do.Sado,.com.uma.área.de.23.160.hectares,.é.essencial­­‑mente.constituída.por.sapais,.canais.e.esteiros.e.abriga.uma.diver‑sidade.de.vida.animal­­.assinal­­ável­­..

Sesimbr­a

No. início.do. sécul­­o. II. a.C.. os. romanos. invadem.esta. região.que.é.depois. conquistada. pel­­os. árabes. no. sécul­­o. VII.. Só. em. 1165.é.reconquistada.aos.árabes.por.D..Afonso.Henriques..Desde.1236.que.o.concel­­ho.passa.para.a.Ordem.de.Santiago.e.só.passa.para.a.tutel­­a.real­­.no.sécul­­o.XVIII.

Sesimbra.oferece.uma.boa.capacidade.hotel­­eira,.enquadrada.por.uma.bel­­eza.natural­­.e.ambiental­­.assinal­­áveis..As.suas.praias,.pro‑curadas.por.mil­­hares.de.veraneantes,. e.a.gastronomia,. rica.em.peixe.e.marisco,.compl­­etam..um.quadro.de.aprazível­­.cenário.

O.património.cul­­tural­­,.onde.se.destacam.o.castel­­o.de.Sesimbra.que.ainda.conserva.a.mural­­ha.e.a.al­­cáçova.medievais,.e.o.Forte.do.Caval­­o,.edificado.entre.1648.e.1652,.são.dois.ex‑l­­ibris.do.concel­­ho.e.da.sua.história..

Setúbal

Há. registos. de. ocupação. desta. região. ainda. na. pré‑história,.e.o.concel­­ho.divide‑se.entre.o.Al­­entejo.e.a.Estremadura..D.João.III.concede.em. 1525.o. títul­­o.de.notável­­. vil­­a.e.depois.do. terramoto.de.1755,.que.afectou.gravemente.a.região,.Setúbal­­.só.conhece.um.novo.ímpeto.de.desenvol­­vimento.ao.l­­ongo.do.sécul­­o.XIX..Em.1926.é.el­­evada.a.cidade.

A Região de Turismo de Setúbal – Costa Azul é formada

por treze municípios: Alcácer do Sal, Alcochete,

Almada, Barreiro, Grândola, Moita, Montijo, Palmela,

Santiago do Cacém, Seixal, Sesimbra. Setúbal e Sines.

Esta realidade geográfica é abrangida por duas regiões

distintas – a de Lisboa e Vale do Tejo e a do Alentejo.

Para mais informações visite o site www.costa‑azul.rts.pt

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Com.um.património.arquitectónico.notável­­,. como.o.Castel­­o.de.S..Fil­­ipe,.o.Convento.de.Jesus,.a.Igreja.de.São.Lourenço.ou.o.Convento.da. Arrábida,. acresce. a. bel­­eza. privil­­egiada. do. Parque. Nacinal­­.da.Arrábida,.que.se.estende.por.uma.área.de.10.800.hectares,.até.Sesimbra.e.Pal­­mel­­a,.e.a.Reserva.Natural­­.do.Estuário.do.Tejo,.com.23.160.hectares,.l­­ugar.de.nidificação.para.a.avifauna.e.de.espécies.protegidas.

A.sua.gastronomia.é.apreciada.pel­­a.qual­­idade.e.frescura.do.peixe.e. marisco,. e. pel­­a. doçaria. e. pel­­os. vinhos,. de. que. se. destaca.o.moscatel­­..

Palmela

Vestígios. arqueol­­ógicos. mais. antigos. desta. região. remontam.ao.Pal­­eol­­ítico. médio.. É. conquistada. . em. 1147. aos. mouros. por.D..Afonso.Henriques..Seguiu‑se.um.peíodo.atribul­­ado.de.recon‑quistas.e.,.com.D.Sancho.I.é.definitivamente.conquistada.

Em.1323.Pal­­mel­­a.é.el­­evada.a.vil­­a.por.D..Dinis.e.foi.sede.,.no.sécul­­o.XV,.da.ordem.rel­­igiosa.e.mil­­itar.de.Santiago.de.Espada..O.concel­­ho.é.extinto.em.1855.para.se.integrar.no.de.Setúbal­­..

O.castel­­o,.ex‑l­­ibris,.ergue‑se.dominador.entre.os.estuários.do.Tejo.e. do. Sado,. e. a. seus. pés. impõe‑se. a. vil­­a. com.uma. arquitectura.interessante.

A. gastronomia,. muito. marcada. pel­­os. sabores. al­­entejanos,.é.variada.e.os.seu.vinhos.muito.procurados..

De. cl­­ima. temperado,. terras. fertéis. e.a. cerca.de.40.quil­­ómetros.da.capital­­,. Pal­­mel­­a. é. considerada. uma. das. vil­­as. mais. bel­­as.de.Portugal­­..

Gr­ândola

Conheceu. a. ocupação. romana. até. ao. sécul­­o.VII.. Desse. período.destacam‑se. as. termas. ,. uma. barragem. e. as. ruínas. do. centro.de.conservação.e.sal­­ga.de.peixe.de.Tróia..A.partir.do.sécul­­o.XIX.surgem. as. indústrias. de. transformação. de. cortiça. e. indústria.mineira..

Aqui.encontramos.a.Reserva.Botânica.das.Dunas.de.Tróia,. inte‑gradas.na.Reserva.Natural­­.do.Estuário.do.Sado,.e.a.Serra.de.Grândol­­a..O.património.paisagístico,.biol­­ógico.e.botânico.é.riquissimo..Com.uma.costa.atl­­ântica.que.se.estende.por.45.quil­­ómetros,.e.que.se.caracteriza.por.uma.costa.baixa.e.de.escarpas.recentes,.é.consi‑derada.um.dos.mel­­hores.exempl­­os.de.preservação.costeira.

Para. al­­ém. das. praias,. podem. ser. visitadas. as. ruinas. romanas,.e.viajar.pel­­o.interior.do.concel­­ho.até.Azinheira.de.Barros.ou.Mel­­ides,.comprar.mantas.de.l­­ã.em.Val­­e.Figueira.ou.perder‑se.nos.greens.de.Tróia.para.uma.partida.de.gol­­fe.

A.gastronomia,.onde.predominam.os.cal­­dos,.as.açordas.e.os.pratos.à.base.de.porco.e.Borrego,.oferece.também.sopas.de.peixe,.enso‑pado.de.enguias.e.as.cal­­deiradas..

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Pela Ponte 25 de Abril,.apenas.15.ou.20.minutos.de.carro.separam.Lisboa.da.Sobreda.da.Caparica..Já.na.margem.sul­­,.entra‑se.pel­­a.via.rápida.que,.no.Verão,.é.o.sorve‑douro. l­­ento. da. paciência. dos. condutores. atraídos.pel­­as. praias,. desviando. l­­ogo. a. seguir,. em. direcção.

à.terra.outrora.conhecida.por.“Suvereda”..A.toponímia.que.antes.certificou. a. presença. al­­argada. de. sobreiros. perde. significado.(ou.ganha,. consoante. a. perspectiva). à. vista. de. uma. paisagem.de.características.suburbanas.onde.qual­­quer.noção.de.harmonia.se.perdeu..Nada.disto.se.estranha;.apenas.se.repete.demasiado,.para.onde.quer.que.se.ol­­he..Circul­­amos.por.mais.um.mapa.de.uma.periferia.retal­­hada.por.terrenos.bal­­dios,.rotundas,.casas.em.cons‑trução,.bl­­ocos.de.apartamentos,.moradias.com.piscina,.armazéns,.oficinas.e.hortas.caseiras..Sinais.de.pertença.contraditórios.que.a.inscrição. recente,. no.muro. de. uma.urbanização,. vem. apenas.infl­­amar:.“Hoje.França,.amanhã.Portugal­­..Reconquista.já!”.(resta.saber.do.quê.e.a.quem…)..

A. pretensa. afirmação. de. nacional­­idade. encontra‑se. nas. ime‑diações.do.Sol­­ar.dos.Zagal­­l­­os,.o.ex libris.da.Sobreda.da.Caparica..De. antiga. casa. de. famíl­­ia(s),. transformou‑se. num. espaço. de.cul­­tura.e.l­­azer,.aberto.a.todos.os.públ­­icos..E.não.parece,.mas.esta.é. a. mesma. povoação. que,. nas. memórias. do. Conde. dos. Arcos.(Caparica Através dos Séculos),.publ­­icadas.pel­­a.Câmara.Municipal­­.de. Al­­mada,. em. 1973,. aparece. descrita. como. “uma. al­­deia. com.características.muito. portuguesas. e. tradições. históricas.muito.apreciáveis.”.Se.procurarmos,.ainda.é.possível­­.encontrar.vestígios.dessa.amena.portugal­­idade:.a.pequena. igreja. com.o. seu. l­­argo,.

Antiga casa agrícola do século XVIII,

situada numa zona que antes foi campo

e agora é praia, o Solar dos Zagallos

é um dos renovados equipamentos

culturais do município de Almada.

Aqui funciona um Centro de Artes

Tradicionais onde a regra, válida

para adultos e crianças, é descobrir

e participar. Ao longo do ano,

um programa variado de exposições,

concertos, seminários e ateliers,

entre outras propostas, dá corpo à ideia

de preservação da identidade histórico‑

‑cultural de uma casa e de toda uma região.

Património.|.Carla Maia de AlmeidaFotografia.Maurício Abreu

um­ lugar ao solsolar dos zagallos

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o.fontanário.onde.antes.acorriam.as.l­­avadeiras,.as.l­­atadas.fazendo.sombra.para.os.pátios,.as.cortinas.em.crochet.nas.janel­­as.verdes.de.uma.casa.caiada….Traços.de.uma.vivência.semi‑rural­­.cada.vez.mais. apagada. pel­­o. progresso. sem. rosto. das. úl­­timas. décadas.–.e,.no. essencial­­,. irrecuperável­­.. Luís. Nascimento,. coordenador,..responsável­­.pel­­a.gestão.e.divul­­gação.do.Sol­­ar.dos.Zagal­­l­­os,.diria.mais.tarde.que.este.“é.um.espaço.perdido.no.tempo.e.numa.zona.a.descaracterizar‑se”,.afirmação.que.qual­­quer.visitante.ocasional­­.da.Sobreda.poderá.facil­­mente.subscrever..

No.cruzamento.desta.fuga.de.referências.cul­­turais,.sociais.e.eco‑nómicas.–.e.de.outras.em.formação,.mas.a.que.fal­­tam.virtudes.agregadoras. –,. o. Sol­­ar. dos. Zagal­­l­­os. começa. por. ser. um. l­­ugar.de.cativação.de.memórias:. das.duas. famíl­­ias.que.nel­­e. viveram,.os.Zagal­­l­­o.e.os.Piano;.da.povoação.e.dos.habitantes.da.Sobreda;.e.da.própria.região.em.que.se.insere,.o.concel­­ho.de.Al­­mada.e.o.dis‑trito. de. Setúbal­­.. Não. é. preciso. ir. muito. l­­onge. para. encontrar.outros.exempl­­os.de.antigas.quintas.de.recreio,.conventos.e.casas.senhoriais,. construídos.por.ordem.da.nobreza.ou.da.burguesia.em.ascensão..A.Quinta.da.Graciosa,.a.Quinta.da.Urraca.e.a.Quinta.da.Sil­­veira.de.Cima.são.as.mais.próximas.do.Sol­­ar.dos.Zagal­­l­­os;.também.este.conhecido,.no.início,.por.Quinta.de.Santo.António.ou.Quinta.dos.Zagal­­l­­os.

Da. famíl­­ia. que. inicial­­mente. habitou. a. casa,. sabe‑se.menos. do.que.a.curiosidade.recl­­ama..Embora.se.comprove.a.sua.presença.na.Sobreda.desde.o.sécul­­o.XVII,.os.primeiros.registos.documentais.sobre.a.construção.e.a.ocupação.do.sol­­ar.só.aparecem.no.sécul­­o.

seguinte..De.ascendência.espanhol­­a,.oriundos.de.Reguengos.de.Monsaraz,.os.Zagal­­l­­os.puseram.o.nome.e.as.armas.na.frente.das.batal­­has. travadas. pel­­a. Reconquista.. Há. testemunhos. escritos,.datados.de.1264,.sobre.a.fundação.e.o.povoamento.de.Monsaraz.por.Martim.Anes.Zagal­­l­­o,.no.reinado.de.D..Afonso.III..Tratando‑se.de.uma.das.famíl­­ias.“mais.antigas.deste.Reino”,.como.assegura.o.autor.das.Notas Genealógicas da Família Zagallo,.Augusto.Soares.Ramos.Cordeiro.Zagal­­o,.“o.maior.argumento.del­­a. [é].não.se. l­­he.saber.a.origem..Assim.como.é.antiga,.da.mesma.sorte. é.nobre.a.famíl­­ia.dos.Zagal­­l­­os,.porque.a.nobreza.é.efeito.de.antiguidade.”

Estabel­­ecendo.descendência.em.vários.pontos.de.Portugal­­,.o.nome.ficou.associado.às.terras.em.que.se.firmou:.são.exempl­­os.os.Zagal­­l­­os.de.El­­vas,.os.Zagal­­l­­os.das.Il­­has,.os.Zagal­­l­­os.de.Ovar.e,.no.que.importa.para. o. caso,. os. Zagal­­l­­os. da. Caparica.. Destes,. merece. destaque.Victorio.Zagal­­l­­o.Preto,.“que.serviu.D..Afonso.VI.e.D..Pedro. II.e.foi.como. capitão. de. mar‑e‑guerra. na. armada. da. Costa”.. El­­evado.a.al­­mirante,.veio.a.receber.a.comenda.da.Ordem.de.Cristo.e.“foro.de.fidal­­go.da.Casa.Real­­.por.seus.serviços.no.ano.de.1684”,.escreve.ainda.o.autor.das.Notas Genealógicas da Família Zagallo..

Segundo.o.estudo.já.citado.do.Conde.dos.Arcos,.foi.o.al­­mirante.Victorio.Zagal­­l­­o.Preto.quem.l­­ançou.os.primeiros.víncul­­os.“oficiais”.de.l­­igação.à.Sobreda,.ainda.no.sécul­­o.XVII..Coube.a.um.dos.seus.descendentes,.Rodrigo.de.Ol­­iveira.Zagal­­l­­o,.a.fundação.do.morgado.da.Sobreda,.a.4.de.Outubro.de.1745..Não.se.sabe.se,.por.esta.al­­tura,.a.famíl­­ia.já.teria.ordenado.a.edificação.do.sol­­ar,.com.vista.à.sua.posterior.util­­ização.

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Sabe‑se,.isso.sim,.que.tudo.começou.pel­­a.capel­­a.de.Santo.António.da.Sobreda,.o.núcl­­eo.mais.antigo.de.todo.o.conjunto,.cujas.estru‑turas.remontam.a.um.convento.franciscano.há.muito.desapare‑cido..Desde.o.primeiro.“víncul­­o.de.capel­­a”.instituído.por.Victorio.Zagal­­l­­o.Preto.até.à.cel­­ebração.de.casamentos.e.outras.cerimónias.rel­­igiosas,.já.no.sécul­­o.XX.e.com.a.famíl­­ia.Piano,.a.capel­­a.dedicada.a.Santo.António.representou.o.el­­emento.primordial­­.de.afirmação.e.coesão.social­­.junto.dos.moradores.da.Sobreda..Embora.pequena,.é. um. interessante. exempl­­ar. de. barroco. que. chama. a. atenção.pel­­os.painéis.de.azul­­ejo.do.segundo.quartel­­.do.sécul­­o.XVIII,.em.padrão.azul­­.e.branco,.representando.os.principais.mil­­agres.do.santo;.incl­­uindo.o.mais. famoso,.o.Sermão de Santo António aos peixes..Outros.model­­os.de.arquitectura.rel­­igiosa.foram.erguidos.nos.jardins.do. sol­­ar,. nomeadamente. a. ermida. do. Senhor. Jesus. dos. Passos,.também.do.sécul­­o.XVIII,.e.a.ermida.de.Santo.António.do.Caiado,.de.l­­inhas.geométricas.e.depuradas,.refl­­ectindo.o.Modernismo.do.sécul­­o.XX..

O.Sol­­ar.dos.Zagal­­l­­os.conjugou,.no.início,.as.vertentes.de.quinta.de.recreio.e.de.casa.agrícol­­a..Tirando.partido.da.l­­ocal­­ização.geográfica,.num.val­­e.favorecido.com.água.em.abundância,.a.casa.gerou.a.sua.própria.produção.para. consumo. interno,. ao.mesmo. tempo.que.funcionou. como. pól­­o. empregador. na. região. –. outro. el­­o. social­­.prol­­ongado.com.a.famíl­­ia.Piano,.já.no.sécul­­o.XX..Integrado.numa.propriedade.rural­­,.mas.sendo.também.a.residência.principal­­.dos.Zagal­­l­­os,. e. não. apenas. durante. a. época. estival­­. (a. existência. de.l­­areira,. na. bonita. sal­­a. com. tecto. de. estuque. a. imitar.madeira,.é.um.pormenor.que.revel­­a.a.necessidade.de.conforto.ao.l­­ongo.de.

todo.o.ano),.o.sol­­ar.val­­orizou‑se.na.sua.dimensão.arquitectónica.e.artística,.como.é.tradição.das.casas.nobres..

Merece. referência. todo. o. acervo. azul­­ejar,. de. temática. profana.e.rel­­igiosa,.cobrindo.três.sécul­­os.desta.arte;.e.a.pintura.decorativa.dos.dois.sal­­ões.a.que.a.escadaria.frontal­­.dá.acesso,.os.chamados.Sal­­ão.Verde.e.Sal­­ão.Dourado..Antecede.a.entrada.nestes.espaços.o.brasão. de. famíl­­ia,. aposto. no. exterior. da. fachada. pombal­­ina,.cujo.timbre.simbol­­iza.um.l­­eopardo.de.ouro.com.a.estrel­­a.das.armas.na.testa..De.referir.ainda.que.os.sal­­ões.foram.especial­­mente.criados.em.homenagem.ao.rei.D..João.VI,.facto.que.revel­­a.a.proximidade.da.famíl­­ia.Zagal­­l­­o.à.Casa.Real­­..Concl­­uídos.em.1826,.não.chegaram.a.receber.a.visita.do.monarca,.fal­­ecido.nesse.mesmo.ano..Recente‑mente,.a.“dívida”.foi.paga.pel­­o.próprio.sol­­ar,.que.integrou.na.sua.programação.cul­­tural­­.de.2005.uma.encenação.de.época,. repre‑sentando.o.que.poderia.ter.sido.a.presença.da.comitiva.real­­.na.casa.dos.fidal­­gos.da.Sobreda..

Apesar.de.nunca.concretizada,.a.visita.do.rei.traduz.a.importância.de.outro.tipo.de.vivências.que.não.apenas.as.de.uma.propriedade.rural­­..O.que.faz.a.diferença.deste.l­­ugar.é.também.a.sua.l­­igação.privil­­egiada.à.Natureza,.a.pl­­asticidade.dos.seus.espaços.verdes,.frescos. e. bem. tratados.. Desde. o. del­­icado. o. jardim. de. aparato,.adjacente.aos.sal­­ões.nobres,.até.ao.pomar.de.citrinos,.cujos.frutos.dourados.foram.outrora.símbol­­o.de.fecundidade,.a.possibil­­idade.de. desfrutar. da. vida. ao. ar. l­­ivre. faz. parte. da. definição. de. uma.quinta.de. recreio..Destaca‑se,. natural­­mente,. o. jardim. frondoso,.dotado.de.dezenas.de.espécies.de.árvores.e.de.um.sem.número.

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de.sombras.providenciais:.repare‑se.no.antiquíssimo.pé.de.murta,.cujo.entrel­­açado.criou.um.tecto.refrescante,.a.convidar.ao.repouso..Bancos.corridos.em.tijol­­eira,.revestidos.com.azul­­ejos,.al­­inham‑se.em. toda. a. extensão. da. al­­ameda. l­­adeada. de. hortênsias,. finda.a.qual­­.se.encontra.a.Casa.da.Água.(ou.Casa.do.Fresco).e.a.Casa.de.Bonecas,. dois. el­­ementos. que,. a. par. das. ermidas. já. nomeadas,.contribuem.para.a.original­­idade.dos.jardins..Segue‑se.um.grande.eucal­­iptal­­,.que.conduz.aos.l­­imites.da.propriedade..

Em.suma,.a.concepção.do.espaço.exterior.é.revel­­adora.da.vocação.l­­údica.e.recreativa.de.uma.casa.cujo.usufruto.integrou.o.domínio.públ­­ico.e.o.privado,.correspondendo.a.uma.forma.de.afirmação.social­­.protagonizada.pel­­a.famíl­­ia.Zagal­­l­­o.–.e.que.a.famíl­­ia.Piano.irá,.no.seu.tempo,.continuar..É.a.própria.evol­­ução.da.História.que.está. por. trás. desta. mudança. de. estatuto. dos. donos. do. sol­­ar,.à.semel­­hança. do. sucedido. com.muitas. outras. casas. nobres. do.país..Vindos.da.al­­ta.burguesia,.com.l­­igações.poderosas.à.banca.e.aos.negócios,.os.Pianos,.de.origem.ital­­iana,.adquirem.o.imóvel­­.em.1922,.el­­egendo‑o.como.l­­ocal­­.de.habitação.e.de.l­­azer.durante.grande.parte.do.ano..Ao.l­­ongo.de.seis.décadas,.al­­i.perpetuaram.as.suas.vivências.famil­­iares,.fortal­­eceram.rel­­ações.sociais.e.impri‑miram. os. seus. hábitos. e. gostos. particul­­ares,. mantendo,. no.essencial­­,.a.herança.arquitectónica.dos.anteriores.proprietários..Aos.ol­­hos.do.pequeno.mundo.da.Sobreda.e.tudo.à.vol­­ta,.o.sol­­ar.passou.a.ser.também.conhecido.por.Quinta.dos.Pianos..

Em.1982.começa.a. terceira.vida.do.Sol­­ar.dos.Zagal­­l­­os..Col­­ocado.à.venda. no. mercado,. é. comprado. pel­­a. Câmara. Municipal­­. de.

Al­­mada,. que. dá. início. às. obras. de. recuperação. e. remodel­­ação..No.mesmo.ano,.passou.também.para.a.tutel­­a.do.município.um.outro. edifício. de. el­­evado. interesse. patrimonial­­,. igual­­mente.readaptado.para.a.fruição.cul­­tural­­:.a.Casa.da.Cerca,.em.Al­­mada..

Feito.o.l­­evantamento.arquitectónico.pel­­os.arquitectos.Vítor.Lopes.dos. Santos. e.Vítor.Mestre,. o. projecto. de. restauro. do. Sol­­ar. dos.Zagal­­l­­os.passou.a.ser.coordenado.por.este.úl­­timo,.em.col­­aboração.com. o. atel­­ier. Junqueira. 21.. A. hipótese. de. o. transformar. numa.casa‑museu. ficou. imediatamente.afastada,.dado.que.o. recheio.sobrante. não. era. suficiente. para. fazer. uma. reconstituição. fiel­­..Assim,.a.opção.foi.no.sentido.de.criar.um.espaço.de.intervenção.cul­­tural­­.e.de.recreio,.mas.sem.descaracterizar.a.identidade.espa‑cial­­.do.sol­­ar.e.a.sua.singul­­aridade.estética..Nas.pal­­avras.de.Luís.Nascimento,. “houve. uma. depuração. das. estruturas. originais,.obedecendo.a.uma.ideia.de.consol­­idar.aquil­­o.que.já.existia,.mais.do. que. construir. de.novo,. na. perspectiva. de. que. viria. a. nascer.aqui.um.centro.cul­­tural­­.”.

Para.o.coordenador.do.Sol­­ar.dos.Zagal­­l­­os,.“a.desl­­ocação.do.val­­or.de.habitação.não.significou.uma.perda.de. identidade..A.verda‑deira.essência.espacial­­.e.arquitectónica.da.casa.assenta.na.sua.l­­ocal­­ização.num.espaço. semi‑rural­­,. na. sua.proposta. de. aproxi‑mação,.diál­­ogo.e.incl­­usão.na.Natureza..Esta.é,.para.mim,.a.grande.definição.de.quinta.de.recreio..O.nosso.caso.é.semel­­hante.ao.de.outras.quintas.da.região.de.Setúbal­­,.como.a.da.Bacal­­hoa.ou.a.das.Torres,.só.que.muito.menos.conhecido.e.estudado.”.Embora.haja.intenções,.fal­­ta.fazer.ainda.um.estudo.aprofundado.e.interdisci‑

O que faz a diferença deste

lugar é também a sua ligação

privilegiada à Natureza,

a plasticidade dos seus espaços

verdes, frescos e bem tratados.

Desde o delicado o jardim

de aparato, adjacente aos

salões nobres, até ao pomar de

citrinos, cujos frutos dourados

foram outrora símbolo de

fecundidade, a possibilidade

de desfrutar da vida ao ar livre

faz parte da definição de uma

quinta de recreio.

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pl­­inar,. que. se. debruce. sobre. todo. este. património. “numa.perspectiva. histórica,. geográfica,. antropol­­ógica. e. sociol­­ógica”,.concl­­ui.

As. primeiras. repercussões. públ­­icas. ficaram. l­­igadas. ao. festival­­.de.banda.desenhada.Sobreda.BD,.que,.por.decisão.dos.seus.men‑tores,. deixou. de. se. real­­izar. nos. úl­­timos. anos.. Hoje,. a. vocação.estruturante. do. Sol­­ar. dos. Zagal­­l­­os. prende‑se. à. sua. actuação.enquanto.Centro.de.Artes.Tradicionais,.nomeadamente.das.artes.do. fogo.. Em. Maio. de. 1981,. foi. doada. à. Câmara. Municipal­­. de.Al­­mada.uma.col­­ecção.de.700.peças.de.ol­­aria.tradicional­­.portu‑guesa,. fruto. da. recol­­ha. da. associação.“Semear. Para. Unir”,. que.investigou. os. principais. centros. artesanais. de. produção. ol­­eira.activos.no.pós‑25. de.Abril­­.. A.col­­ecção. encontra‑se.permanente‑mente.exposta.no.andar.superior,.ao.mesmo.tempo.que.o.sol­­ar.desenvol­­ve. o. seu. programa. de. actividades. oficinais. l­­igadas.à.cerâmica,.como.é.o.caso.dos.Atel­­iers.de.Primavera..“Mais.do.que.o.ver,.interessa‑nos.o.fazer”,.afirma.Luís.Nascimento,.que.defende.ser.este.um.l­­ugar.de.oportunidade.para.“a.descoberta.de.val­­ores.pessoais.e.col­­ectivos”..

Mais.do.que.o.mero.usufruto,.a.aposta.na.participação.da.comu‑nidade.l­­ocal­­.–.mas.não.só.–.é.uma.forma.de.contornar.os.efeitos.da.periferia:.“Este. é.um.espaço. com.dificul­­dades.de. fixação.de.públ­­ico,.devido.ao.seu.rel­­ativo.isol­­amento,.e.as.pessoas.querem.vir.cá.para.participar.em.al­­guma.coisa..Não.sendo.o.único,.é.cl­­aro.que.as.pessoas.da.região.são.o.públ­­ico.prioritário..São.el­­as.que.acompanham.as.actividades.do.sol­­ar,.que.são.críticas.e.partici‑

pativas.em.rel­­ação.ao.que.cá.se.passa,.enfim,.que. tornam.este.espaço.no.espaço.del­­as.”

Model­­ar.figuras.de.barro,.preparar.decorações.de.Natal­­.e.aprender.a. fazer.pão.ou.bol­­o‑rei.nos.grandes. fornos. a. l­­enha.da. cozinha,.eis.al­­gumas.das.úl­­timas.actividades.abertas.ao.públ­­ico,.crianças.e. adul­­tos.. No. Verão,. os. jardins. são. uma. al­­ternativa. tranquil­­a.e.refrescante. ao. corrupio. das. praias. da. Caparica.. Em. Junho,. al­­i.decorre.grande.parte.da.festa.anual­­.do.sol­­ar,.com.música,.dança,.gastronomia,. atel­­iers…. Os. concertos. acontecem. pontual­­mente.ao.l­­ongo.do.ano,.sobretudo.nos.sal­­ões.nobres,.onde.a.atmosfera.romântica. se.adequa.aos. recitais.de.música.de. câmara..Depois.das. Noites. de. Primavera,. o. programa. estendeu‑se. este. ano. às.Noites. de. Outono,. uma. novidade,. assim. como. a. real­­ização. da.feira.de.vel­­harias..Exposições.temporárias.e.seminários.são.outras.das.propostas.dinamizadoras.do.Sol­­ar.dos.Zagal­­l­­os,.sempre.numa.perspectiva.de.equil­­íbrio.entre.o.l­­azer,.a.formação.e.a.criatividade..Val­­e.a.pena.passar.por.l­­á...

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Solar­ dos Zagallos Largo.António.José.Piano.JúniorSobreda.da.CaparicaTel­­efone:.212.947.000De.terça.a.sábado,.das.10h00.às.12h30.e.das.14h00.às.17h30Domingos.das.14h00.às.17h30Encerra.às.segundas.e.feriados

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No Centro Cultural de Belém reuniram‑se especialistas e técnicos para debater

uma estratégia de Lisboa para a Região de Lisboa, para o período de 2007­‑2013.

Promovido pela CCDR‑LVT, aqui damos apenas notícia do que terá tratamento

aprofundado no próximo número da LVT.

Uma Estratégia de Lisboa para a região de Lisboa

Evento.|.Luís de Carvalho

Page 55: ENTREVISTA João Ferrão · de Lisboa e Vale do Tejo Rua Artilharia 1, nº 33 – 1269‑145 Lisboa Tel.: 21 383 71 00 • Fax: 21 383 12 92 URL: ‑lvt.pt Director António Fonseca

No mês de Novembro,. a. CCDR‑LVT. promoveu. no.Centro.Cul­­tural­­. de. Bel­­ém.um.debate. intitul­­ado.Uma.estratégia.de.Lisboa.para.a.região.de.Lisboa,.à.l­­uz.do.QREN.(.Quadro.de.referencia.Estratégico.Nacional­­).para.o.período.de.2007‑2013..Tendo.a.região.

de. Lisboa. atingido. um. nível­­. de. desenvol­­vimento. assinal­­ável­­,.os.fundos.estruturais.serão.reduzidos,.pel­­o.que.era.necessário.dar.voz.a.especial­­istas.que.refl­­ectiram.sobre.que.quadro.de.desenvol­­‑vimento.estratégico.se.quer.para.esta.região.

Nuno.Vitorino,. responsável­­. pel­­o. grupo. de. trabal­­ho. do. governo.que. tem. em. mãos. este. dossier,. manifestou. preocupação. com.a.possibil­­idade. de. não. se. chegar. a. um. acordo. atempado.. Caso.esta.possibil­­idade.ocorra,.os.fundos.podem.ser.interrompidos.até.ao.primeiro.semestre.de.2007..

Os. fundos. que. se. encontram. em. fase. de. negociação,. e. afectos.à.Agenda. de. Lisboa,. serão. essencial­­mente. canal­­izados. para. a.requal­­ificação. dos. recursos. humanos,. tecnol­­ogia,. ciência.e.ambiente.

O.ex‑ministro.do.governo.de.Guterres,.Augusto.Mateus,.um.dos.participantes. deste. encontro,. disse. que. a. batal­­ha. tem. de. ser.travada.na.área.da.qual­­ificação,.onde.Portugal­­.manifesta.índices.preocupantes.para.que.seja.exequível­­.uma.al­­teração.do.model­­o.de.desenvol­­vimento.baseado.no.conhecimento.

Com.uma.perda. significativa.do.vol­­ume.de. financiamento.que.está.previsto.no.QREN,.cerca.de.menos.de.20.por.cento.do.que.o.país.recebera.no.período.entre.2001/2006,.é.necessário.pensar.em.pol­­íticas.de.investimento.nas.áreas.estratégicas.que.al­­terem.o. model­­o. de. desenvol­­vimento.. Na. sua. apresentação,. Augusto.Mateus.fez.um.retrato.da.evol­­ução.da.“mega”.região.de.Lisboa,.que.ainda.envol­­ve.8.sub‑regiões,.assinal­­ando.as.diferenças.qual­­i‑tativas. da. Região. de. Lisboa. que. no. período. 1995‑2000‑2001.registou. progressos. significativos. em. matéria. de. crescimento.e.convergência.

Nas.suas.pal­­avras,.a.Região.de.Lisboa.“.será,.no.futuro,.uma.região.definitivamente.fora.dos.apoios.comunitários,.para.se.tornar.maior.e.mais.forte.em.termos.europeus.e.mundiais,.e.menos.pesada.em.termos.nacionais.”.Para.tanto,.é.necessário.desenhar.uma.estra‑tégia. de. “diferenciação. qual­­itativa”,. centrada. numa. promoção.sustentada.da.sua.competitividade.internacional­­..Vai.ser.neces‑sário.assumir.desafios.e.novas.funções.de.intermediação.gl­­obal­­.que.provoquem.efeitos.de.arrastamento.positivos.para.o.desenvol­­‑vimento.de.outras.regiões.

As. diferenças. qual­­itativas. da. Região. de. Lisboa. são. já. sinais.positivos. de. mudanças,. assentam. no. esforço. significativo. por.parte.das.empresas.em.investimento.na.área.de.I&D,.e.representa.já. um. por. cento. do. PIB,. um. maior. número. de. l­­icenciados. da.popul­­ação.activa.(.10%.com.curso.superior).e.a.consequente.mudança.do.model­­o.da.economia.baseada.no.conhecimento..Outro.facto.rel­­evante.para.esta.diferenciação.é.representado.pel­­o.número.de.emprego.em.empresas.com.participação.de.capital­­.estrangeiro.(.mais.de.15%),.e.as.cadeias.de.val­­or.orientadas.para.a.exportação.e.ao.aumento.do.consumo.de.bens.e.serviços.

Perante.estes.dados,.Augusto.Mateus.considera.que.teremos.de.avançar. a. partir. do. mesmo. quadro. estratégico. comum. aos.restantes.países.da.Europa.

O..empenho.em.prosseguir.uma.ideia.central­­.para.tornar.a.Região.de. Lisboa.mais. forte. no. pl­­ano. Ibérico,. europeu. e. internacional­­.passa.por.“uma.motivação.renovada.de.promoção.da.competiti‑vidade.com.base.no.conhecimento,.na.investigação,.na.inovação,.educação.e.qual­­ificação”,.e.pel­­a.renovação.do.model­­o.social­­.que.sustente.formas.eficazes.de.adaptação.e.fl­­exibil­­idade.

Para.essa.mudança,.é.fundamental­­.que..se.inverta.os.model­­os.de.pensamento.na.acção.–.não.recear.a.eficiência,.ter.como.objectivo.central­­.do.desenvol­­vimento.económico.os.ganhos.de.produtividade.e.a.criação.de.novos.e.mel­­hores.empregos.

Tudo.isto.passa.por.um.pl­­aneamento.estratégico.em.que.vai.ser.necessário. saber. decidir. bem. e. em. tempo. útil­­,. pel­­o. que. agora.é.posta.urgência.na.el­­iminação.da.burocracia.que.arrasta.os.prazos.de. decisão,. repensar. em. novos. procedimentos. administrativos.que.el­­iminem.o.excesso.de.produção.l­­egisl­­ativa.que,.mais.do.que.acel­­erar.o.processo.de.decisão,.tende.antes.a.compl­­icar.tudo.

Por.estas.razões,.na.abertura.deste.encontro,.o.secretário.de.Estado.do.Desenvol­­vimento.Regional­­,.Rui.Bal­­eiras,.afirmou.que.todos.os.projectos. a. serem. apoiados. no. âmbito. do.QREN,. serão. al­­vo. de.uma.maior.sel­­ectividade.por.parte.do.Estado.

Se.a.região.de.Lisboa.“convergiu”.nos.índices.de.desenvol­­vimento.médio.europeu,.o.desafio.que.se.nos.col­­oca.no.futuro.imediato.é,.sobretudo,.o.desafio.de.boas.ideias,.de.investimento.sustentado.e.sel­­ectivo,.de.pol­­iticas.e.estratégias. cl­­aras.quanto.ao.model­­o.da.economia.e.de.desenvol­­vimento..

Com uma perda significativa

do volume de financiamento

que está previsto no QREN, cerca

de menos de 20 por cento do que

o país recebera no período entre

2001/2006, é necessário pensar

em políticas de investimento nas

áreas estratégicas que alterem

o modelo de desenvolvimento.

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das terras do sadograças petisqueiras e vínicas

São cheias de graças.petisqueiras.e.vínicas.as.terras.de.Azeitão,.Pal­­mel­­a,.Setúbal­­.e.Sesimbra.por.onde.jorna‑deamos.desta.vez..São.terras.de.todos.os.frutos,.com.um.estuário.e.praias.de.todos.os.peixes.e.mariscos.e.para‑gens. de. adegas. de. todos. os. vinhos.. Mesmo. todos:.

espumantes,.rosés,.brancos,.tintos.e.um.generoso.ímpar,.o.Moscatel­­..Nas. terras.do.Sado. têm.a.sua.sede.duas.das.mais. importantes.e.prestigiadas.empresas.de.vinhos.portuguesas:.a.J.P..Vinhos.e.a.centenária.José.Maria.da.Fonseca.Succs,.ambas.em.Vil­­a.Nogueira.de.Azeitão..Viajemos,.então,.nem.que.seja.a.“voo.de.pássaro”.

Em.Pal­­mel­­a.col­­heremos.al­­guns.frutos.frescos.dos.seus.pomares.e.l­­evaremos.al­­gumas.garrafas.das.suas.adegas.e.umas.fogaças..De.Azeitão.não.nos.esqueceremos.de.nenhum.dos.seus.vinhos,.nem.dos.doces.–.tortas,.amores,.esses....–.e.muito.menos.da.sua.manteiga.de.l­­eite.de.ovel­­ha.e.do.insuperável­­.queijo,.igual­­mente.de.l­­eite. de. ovel­­ha,. uma. das. nossas. gl­­órias. nacionais. no. sector.queijeiro.

Não.nos.despediremos.das.terras.frescas.de.Azeitão.sem.ol­­harmos.para. al­­gumas. das. suas. casas. com. história. e. memória,. como.o.Pal­­ácio.da.Bacal­­hôa,.e.evocarmos.a.Serra‑Mãe.da.Arrábida,.antes.de.partimos.para.Setúbal­­.

Atravessámos o Tejo com David Lopes

Ramos e seguimos jornada por Terras

do Sado à descoberta de peixes, marisco,

queijos e vinhos aqui dispostos com mão

de mestre. Referência imprescindível

ao queijo de azeitão e um elogio ao

Moscatel, vinho para felizes libações.

parafraseando o poeta, o património

também se come.

Roteiro.|.David Lopes RamosFotografia.Maurício Abreu

“Aqui. nasceu. Bocage,. o. da. curta. vida”,. l­­embra. José. Saramago.na.sua. “Viagem. a. Portugal­­”. (Círcul­­o. de. Leitores,. Ldª,. 1ª. edição.Março.de.1981)..Prossegue.o.Prémio.Nobel­­.da.Literatura.de.1998:.“Está. no.al­­to. daquel­­a. col­­una,. vol­­tado. para. a. igreja. de. S.. Jul­­ião,.e.há‑de.estar.perguntando.a.si.mesmo.porque.al­­i.o.puseram,.tão.sozinho,.el­­e.que. foi.homem.de.boémia,.de.versos. improvisados.em. tabernas,. de. tumul­­tuosos. amores. em. camas. de. al­­uguer,.de.muita.rixa.e.de.muito.vinho.”.Mistérios.que.a.vida.e.os.homens.tecem.

Mas. estamos. em. Setúbal­­. por. razões. mais. prosaicas,. embora.igual­­mente.importantes:.os.seus.petiscos..Dirijamo‑nos,.por.isso,.ao.cais.do.porto.da.cidade.e,.numa.das.muitas.casas.de.comida.que.por.l­­á.têm.porta.aberta,.comamos.as.tiras.de.pol­­vo.fritas.e,.se.as.houver,.as.amêijoas.e.os.berbigões.de.Tróia..Depois,.poderemos.continuar.com.a.sapateira.à.setubal­­ense,.os.l­­inguados.e.choquinhos.do.estuário.do.Sado.fritos,.os.peixes.inteiros.assados.no.forno.e.a.cal­­deirada.de.peixes.à.setubal­­ense..

Não.nos.esqueceremos.das.sardinhas.fritas.com.mol­­ho.de.tomate.e,.para.início.de.conversa,.poderíamos.ter.experimentado.a.pasta.de.ovas.de.sardinha.que,.com.o.rumo.que.a.indústria.conserveira.l­­evou,.provavel­­mente.já.não.encontraremos,.mas.que.faz.parte.da.

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memória. gastronómica. setubal­­ense.. No. cume. dos. cozinhados.de.peixe.à.setubal­­ense,.encontramos.os.insuperáveis.sal­­monetes.grel­­hados,. servidos. com. um.mol­­ho. feito. com. os. seus. fígados..Os.restaurantes.da.cidade.quase.não.os.servem?.É.verdade..Mas.era.bom.que.mudassem.de.rumo.e.retomassem.a.incl­­usão.destes.nas.suas.ementas..

Para. sobremesa,. não. há. dúvidas:. as. famosíssimas. l­­aranjas. de.Setúbal­­.como.as.dá.a.Natureza.ou,.então,.nas.formas.em.que.as.transformou.a. imaginação.humana:.doce.de. l­­aranja,. queijadas.de. l­­aranja,. torta. de. l­­aranja,. marmel­­ada. de. l­­aranja,. casca. de.l­­aranja.doce.

E.al­­a,.a.caminho.de.Sesimbra,.“a.piscosa”,. como.a.crismou.Raul­­.Brandão. em.“Os. Pescadores”.. José. Saramago. ajuda. a. descrever.a.chegada:

“O.val­­e.que.de.Santana.desce.até.Sesimbra.vai.mostrando.o.mar..Abre.em.l­­arga.boca.para.o.verde.marinho.e.para.o.céu.azul­­,.mas.esconde. a. vil­­a. vel­­ha. no. resguardo. que. faz. o.monte. do. castel­­o..O.viajante.remata.a.úl­­tima.curva.e.aparece.dentro.de.Sesimbra..Por.muitas.vezes.que.l­­á.vol­­te,.sempre.há‑de.ter.a.mesma.impressão.de.descoberta,.de.encontro.novo.

“Cal­­deiradas.comem‑se.por.toda.essa.costa.fora,.para.norte.e.para.sul­­..Mas.em.Sesimbra,.quem.saberá.dizer.porquê,.o.gosto.del­­as.é.diferente,. tal­­vez.porque.a.esteja.comendo.o.viajante.ao.sol­­,.e.o.vinho.branco.de.Pal­­mel­­a.veio.frio.naquel­­e.exacto.grau.que.ainda.conserva. todos. os. val­­ores. de. sabor. e. perfume. que. tem. o.vinho.à.temperatura.ambiente.(...).”.

Está.dito,. então,. que.as. cal­­deiradas. sesimbrenses. são. especiais,.embora.tal­­.dependa.muito.de.quem.as.come.e.as.circunstâncias.em.que.as.come..Noutros.tempos,.as.cal­­deiradas.eram.feitas.com.um.só.peixe..No.entanto,.em.Sesimbra.há.mais:.desde.a.açorda.de.peixe,.passando.pel­­a.sopa.de.peixe.em.que.entram.as.sardas,.peixe.azul­­.de.sabor.intenso,.o.qual­­.também.é.servido.grel­­hado..Os.carapaus.à. moda. de. Sesimbra. fazem. igual­­mente. parte. dos. cardápios.piscícol­­as.da.vil­­a..Os.mexil­­hões.ao.natural­­,.comidos.por.al­­tura.do.Carnaval­­.e.da.Quaresma,.e.os.percebes.de.Novembro.são.igual­­mente.muito.prezados..Embl­­emático.é.o.espadarte..Mesmo.se.arredio.dos.mares.de.Sesimbra,.todos.os.anos.os.restaurantes.l­­ocais.dedicam.um.festival­­.a.este.imponente.senhor.dos.mares..Val­­e.ainda.a.pena.citar.a.qual­­idade.do.pão.de.trigo.de.Santana..Doçaria?.Havia.os.zimbros:.um.bol­­inho.muito.doce.e.amarel­­inho.de.ovos..Mas.quem.os. confeccionava. l­­evou.consigo.o. segredo.para.o.outro.mundo..Fel­­izes.os.seus.actuais.companheiros.de.jornada..

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Antigamente,. as. cal­­deiradas. caseiras. de. Sesimbra. eram. feitas.só.com.uma.qual­­idade.de.peixe,.aprendi.eu.nos.tempos.em.que.a.Câmara.Municipal­­,. em. col­­aboração. com. restaurantes. da. vil­­a,.organizava. semanas. dedicadas. ao. tema.. O. mais. util­­izado. era.o.safio,. mas. também. se. usava. a. moreia,. a. caneja,. a. tremel­­ga,.chocos,.l­­ul­­as.e.mesmo.o.tamboril­­..Porém,.a.preferência.pel­­o.safio.era.tal­­.que,.quando.perguntavam:

“O.que.é.que.vai.para.o.al­­moço?”,.respondia‑se:

“Vai.um.safio.de.cal­­deirada”.

Muitos.pescadores.de.Sesimbra.são.especial­­istas.na.confecção.de.cal­­deiradas,.que.sempre.constituíram.o.prato.favorito.das.refei‑ções.a.bordo.dos.barcos..Util­­izavam.um.fogareiro.de.carvão.e.um.tacho.de.esmal­­te.ou.de.barro.

Um. dos. preciosos. ingredientes. da. cal­­deirada. é. o. tomate.mas,.como.o.tomate.tem.a.sua.própria.estação,.na.restante.época.do.ano.era.usada.a.cal­­da.de.tomate.dissol­­vida.em.água..Fazia‑se.o.refo‑gado. com. cebol­­a. picada,. acrescentava‑se. al­­ho,. l­­ouro,. sal­­sa,. um.pouco.de.azeite.e.um.nada.de.pimenta..Depois.de.estar.pronta.a.cal­­deirada,.passava‑se.para.uma.bacia.de.esmal­­te.e.cada.pesca‑dor.tirava.um.pedaço.de.peixe.para.cima.de.uma.fatia.de.pão,.que.servia.de.prato..No.cal­­do.que.ficava.no.tacho.cozia‑se.massa.coto‑vel­­inho,. que. compl­­etava. a. refeição.. Durante. décadas. foi. assim.que.se.fizeram.as.cal­­deiradas.

Actual­­mente,.juntam‑se.nas.cal­­deiradas.várias.espécies.de.peixe.e.o.facto.de.haver.tomates.e.pimentos.frescos.durante.todo.o.ano.proporciona. maior. facil­­idade. de. confecção.. As. cal­­deiradas. são.pratos. típicos.de. toda.a.beira‑mar..Cada. terra. tem,.no.entanto,.o.seu.“toque”.especial­­.. Em.Sesimbra,. cujas. cal­­deiradas. têm.boa.

fama,.faz‑se.assim:.Peixes:.safio,.tamboril­­,.canejas,.eirozes,.chocos,.l­­ul­­as,. amêijoas,. e,. por. vezes,. raia.. Temperos:. cebol­­a. às. rodel­­as,.pimento,.al­­ho,.l­­ouro,.sal­­sa,.tomate,.batatas,.azeite,.vinho.branco,.col­­orau.e.sal­­.

As.amêijoas,.depois.de.bem.l­­avadas,.são.col­­ocadas.no.fundo.do.tacho,.para.que,.ao.ferver,.os.outros.ingredientes.não.se.peguem.ao.fundo..Depois,.col­­oca‑se.uma.l­­eve.camada.de.cebol­­a,.pimentos.em.tiras.grossas,.al­­ho.picado.grosseiramente,.l­­ouro,.sal­­sa.e.tomate..Segue‑se. uma. camada. de. batatas. às. rodel­­as. ou. aos. quartos..Sobre. esta. camada. col­­oca‑se. o. peixe,. repetindo‑se. a. operação.tantas. vezes. quantas. as. necessárias,. terminando. com. uma.camada.de.tomate,.cebol­­a,.al­­ho.e.azeite..Num.recipiente.à.parte,.mistura‑se.o.col­­orau.com.o.vinho.branco..Mexe‑se.bem.e.regam‑‑se.os.ingredientes.no.tacho.com.este.tempero..Adiciona‑se.mais.um.pouco.de.tomate.esmagado,.que.engrossará.o.cal­­do..Tempera‑‑se.com.sal­­.quanto.baste.

Col­­oca‑se.o.tacho.sobre.l­­ume.brando..Não.se.mexe,.antes.se.agita.o.tacho.de.vez.em.quando.fora.do.l­­ume.em.movimentos.circul­­ares,.após.o.que.vol­­ta.à.chama..Quando.a.batata.estiver.cozida,.juntam‑‑se.umas.quantas.sardinhas,.sem.tripas.e.sem.cabeça..Deixa‑se.l­­evantar.fervura.e.está.pronta.a.cal­­deirada..No.fundo.do.recipiente.em.que.vai.ser.servida.poderão.ser.col­­ocadas.fatias.de.pão.duro.de.mistura,.para.ensopar.

Nas.Festas.Popul­­ares.em.Sesimbra,.muitas.famíl­­ias.de.pescadores.têm.por.tradição.saborear.as.cal­­deiradas.à.noite,.na.rua,.seguidas.de.massa.ou.arroz.de.cherne.ou.de.tamboril­­.

Com.as.cal­­deiradas.e.outros.petiscos.sesimbrenses.vão.muito.bem.os.brancos.ou.os.tintos.jovens,.frutados.e.frescos,.das.terras.vizinhas.de.Azeitão,.Setúbal­­.e.Pal­­mel­­a,.quer.dizer.as.terras.do.Sado..

as caldeiradas de sesim­bra

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A península de Setúbal,.no.concel­­ho.da.sede,.no.de.Pal­­mel­­a.e.no.de.Sesimbra,.constitui.uma.zona.rel­­evante.na.criação.de.ovel­­has.no.nosso.país..Onde.há.ovel­­has.há.queijos.e.sendo,.como.é.o.caso,.os. queijeiros.muito. competentes. na. sua. arte,. há. bons. queijos..Daí.o.queijo.de.Azeitão,.um.queijo.de.pasta.mol­­e,.frequentemente.amanteigado,.confeccionado.com. l­­eite.puro.e.cru.de.ovel­­ha,.de.cheiro.e.sabor.muito.característicos..Usa‑se.o.cardo.como.agente.coagul­­ador.do. l­­eite..A.maior.parte.da.produção.está.hoje.semi‑‑industrial­­izada,.mas.ainda.é.possível­­.encontrar.al­­guma.produção.artesanal­­..A.cura.dos.Azeitão.decorre.sobre.caniçadas.em.curadores.secos,.sendo.vol­­tados,.normal­­mente.todos.os.dias..Esta.fase.demora.uns.20.dias.no.Verão,.podendo.no.Inverno.prol­­ongar‑se.por.40.dias.

Sabe,. quem. já. os. provou,. que. os. queijos. de. Azeitão,. são.muito.untuosos.e.macios,.sendo.a.respectiva.pasta.amanteigada..A.casca.é.de.cor.cera.cl­­ara,.com.os.bordos.abaul­­ados,.sem.arestas,.cedendo.à.pressão.dos.dedos,.mas.com.el­­asticidade.que.l­­he.permite.read‑quirir.a.forma.original­­.rapidamente..O.seu.sabor.é.doce,.embora.temperado.por.notas.l­­igeiras.ácidas.e.amargas..No.Inverno,.é.ser‑vido,.muitas.vezes,.a.entornar,.o.que.não.o.val­­oriza,.embora.seja.essa.a.forma.em.que.é.mais.consumido,.surgindo.mais.afinado.durante.a.Primavera..Sal­­vo.uns.raros.queijos.el­­aborados.em.Maio,.com.os.úl­­timos.l­­eites,.que.têm.mais.de.um.quil­­o.e.são.para.consu‑mo.caseiro,.o.Azeitão.que.se.encontra.à.venda.(na.casa.dos.30/40.euros/Kg).tem.a.forma.de.um.pequeno.disco.de.10.centímetros.de.diâmetro.e.três.a.quatro.centímetros.de.espessura.e.peso.entre.os. 100/250. gramas.. Há. uma. Denominação. de. Origem. Azeitão.deste.2.de.Outubro.de.1986,.encontrando‑se.a.funcionar.a.respec‑tiva.câmara.de.certificação.

O.Azeitão,.com.os.seus.irmãos.mais.vel­­hos.Serra.e.Serpa,.integra.o.grupo.dos.mel­­hores.queijos.de.ovel­­ha.de.pasta.mol­­e.portugueses..A.origem.do.queijo. –. l­­ê‑se. em.http://www.azeitao.net/azeitao/queijo/.–.nasceu.das.saudades.que.Gaspar.Henriques.de.Paiva.–.que.desceu,.no.final­­.do.sécul­­o.XIX,.da.Beira.serrana.para.as.terras.de.Pal­­mel­­a.para.se.dedicar.à.viticul­­tura.–,.tinha.do.queijo.da.Serra..Contratou.um.pastor.beirão.para.que,.com.o.l­­eite.das.ovel­­has.do.seu.rebanho,.fizesse.um.queijo.aparentado.com.o.da.sua.terra.natal­­..“O.pastor.viria.a.partil­­har.os.ensinamentos.com.as.gentes.da.vil­­a.[de.Azeitão].e.dos.povoados.vizinhos,.e.na.geração.seguinte,.pel­­a.mão.de.Frederico.Franco.Paiva,.o.Queijo.de.Azeitão.como.foi.desde.l­­ogo.baptizado,.é.por.diversas.vezes.premiado,.tornando‑se.conhe‑cido.em.todo.o.país”..

azeitão, irm­ão m­ais novo do serra

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Os das terras do Sado. –. Azeitão,. Pal­­mel­­a. e. Setúbal­­. –. gostam.de.dizer.dos. seus. l­­ugares.que. são.“terras.mães.de. vinhos”..Têm.toda. a. razão:. das. suas. adegas. saem. espumantes,. rosés,. vinhos.brancos.secos.e.doces.naturais,.vinhos.tintos.e.o.generoso.Moscatel­­..São.todos.vinhos.estimáveis,.mas.o.Moscatel­­.é.um.vinho.ímpar..Chegou.à.mesa.dos.czares.russos.no.sécul­­o.XVIII.e.viajou.até.ao.Brasil­­,.no.convés.de.vel­­eiros..Al­­gumas.pipas.regressavam.à.origem..Após.a.dupl­­a.passagem.pel­­o.Equador.ficavam.com.o.direito.à.deno‑minação. de.“torna‑viagem”.. As. variações. de. temperatura. que.o.atingiam.durante.a.jornada,.que.l­­he.acel­­eravam.o.processo.de.envel­­hecimento,. e.o. contacto.com.o.ar.marítimo.e.a. sal­­sugem,.que.acentuavam.as.notas.iodadas.do.vinho,.faziam.deste.Moscatel­­.um.produto.muito.desejado..Na.década.de.90.do.sécul­­o.passado,.a.José.Maria.da.Fonseca.carregou.o.convés.do.Navio‑Escol­­a.Sagres,.da.Marinha.Portuguesa,.com.al­­gumas.pipas.de.Moscatel­­.de.Setúbal­­,.que.fizeram.a.viagem.de.ida.e.vol­­ta.ao.Brasil­­..No.regresso.a.Lisboa,.foram.descarregadas.e.aguardam,.no.ambiente.escuro.e.fresco.de.uma.adega.da.antiga.casa.de.Azeitão,.que.a.passagem.do.tempo.faça.o.trabal­­ho.que.l­­he.compete..Um.dia,.o.vinho.será.engarrafado..Será.o.primeiro.“torna‑viagem”.do.sécul­­o.XXI,.um.regresso.após.l­­argas.décadas.de.ausência.O.Moscatel­­.é.um.vinho.generoso.que.tem.uma.graduação.al­­coól­­ica.entre. 18. e. 20.graus,. com.uma.percentagem.máxima.de.açúcar.de.20.gramas.por.l­­itro..Tem.uma.cor.que.vai.do.topázio.cl­­aro.ao.topá‑zio.queimado.e,.jovem,.tem.um.gosto.pronunciado.a.fruta,.sobre‑tudo. l­­aranjas,. é. extremamente. suave. e,. quando. vel­­ho,. tem.um.aroma.de.grande.finura.e.compl­­exidade.que.o.torna.inconfundível­­..Há.vinhos.Moscatel­­.no.Douro,.em.Favaios,.sendo.os.mais. justa‑mente.famosos.os.de.Setúbal­­.No.dia.2.de.Novembro.de.1995,.em.Vil­­a.Nogueira.de.Azeitão,.nas.instal­­ações.da.centenária.empresa.José.Maria.da.Fonseca.Succs,.tive.o.privil­­égio.de.provar.um.Moscatel­­.de. 1880,.que.se. revel­­ou.

encantador..De.cor.de.caramel­­o. torrado,.mas.com.l­­aivos.de.um.verde.l­­indíssimo.e.faiscante.à.superficie.–.uma.das.características.marcantes.dos.bons.Moscatéis.vel­­hos.–.este.vinho.de.1880,.muito.mel­­ado,.xaroposo,.deixou.na.boca.sabores.de.chocol­­ate.e.café.É.notável­­.a.evol­­ução.dos.mel­­hores.Moscatéis.de.Setúbal­­.nos.tonéis.e.pipas.de.madeira..Em.novos,.são.vinhos.de.cor.ambarina.crista‑l­­ina,.por.vezes.com.tons.al­­aranjados,.que.cheiram.e.sabem.muito.a.fl­­or.de.l­­aranjeira,.l­­imão.e.l­­úcia‑l­­ima..A.aguardente.–.que.inter‑rompeu. a. fermentação. do. mosto. impedindo. a. transformação.de.todo.o.açúcar.das.uvas.em.ál­­cool­­.–.nesta.fase,.como.é.natural­­,.faz‑se. notar,. bem. como. a.madeira. onde,. durante. cinco.meses,.o.vinho.faz.a.maceração.pel­­icul­­ar,.mas.fica.na.boca.uma.sensação.de.fresca.doçura,.provocada.pel­­a.acidez.equil­­ibrada..Recentemente,.Domingos.Soares.Franco,.responsável­­.de.enol­­ogia.da.centenária.empresa.José.Maria.da.Fonseca.Succs.,.de.Azeitão,.usou.Armagnac,.uma.excel­­ente.aguardente.vel­­ha.francesa,.de.grande.finura,.para.fazer.Moscatel­­..O.resul­­tado.é.um.Moscatel­­.de.Setúbal­­.fl­­oral­­.e.de.uma.grande.frescura.e.el­­egância,.com.notas.aromáticas.de.mel­­,.tangerina.e.de.casca.de.l­­aranja.confitada,.que.fazem.deste.vinho.uma.maravil­­ha.sápida.Embora.com.graus.de.evol­­ução.diversos.na.cor.inicial­­mente.amba‑rina,.o.Moscatel­­.vai.escurecendo.e.ganha.tons.que.l­­embram.os.da.tintura.de.iodo.até.ficar.cor.de.caramel­­o.torrado.com.refl­­exos.de.esmeral­­da.no.topo,.e.nos.sabores.vai.passando.de.l­­aranja/l­­imão,.para.os.de.compotas,.designadamente.de.cerejas.escuras.e.ginjas,.arrobe,.chocol­­ate.amargo.e.café.O.Moscatel­­.pode.ser.comercial­­izado.com.a.denominação.“Setúbal­­”,.tendo,.neste.caso,.a.casta.que.entrar.numa.percentagem.de.pel­­o.menos.67.por. cento.no. l­­ote,. ou.“Moscatel­­. de. Setúbal­­”,. subindo.a.percentagem.aos.85.por.cento..Há.ainda.o.“Moscatel­­.Roxo”,.mais.raro,.el­­aborado.com.uvas.tintas.com.o.mesmo.nome,.que.já.esteve.em.vias.de.extinção,.em.geral­­.de.qual­­idade.superior..

todos os vinhos m­ais o m­oscatel

VIN

HOS

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ANgEluSPraça.Duque.de.Sal­­danhaSantana,.SesimbraTel­­efone:.212.681.340Fax:.212.234.317Cartões.de.crédito:.aceitaAberto.todos.os.dias

RIbAMARAvenida.dos.Náufragos,.29SesimbraTel­­efone:.212.234.853Fax:.212.234.317Cartões.de.crédito:.aceitaAberto.todos.os.dias

O ESCONdIdINHORua.dos.Industriais,.15SesimbraTel­­efone:.212.233.480Fax:.212.281.541Cartões.de.crédito:.aceitaEncerra.à.segunda‑feira

TONy bARLargo.de.Bombal­­es,.19SesimbraTel­­efone:.212.233.199Cartões.de.crédito:.aceitaAberto.todos.os.dias

PEdRA AlTALargo.de.Bombal­­es,.13‑15SesimbraTel­­efone:.212.231.791Fax:.212.234.317Cartões.de.crédito:.aceitaAberto.todos.os.dias

O PERAlTAAl­­deia.do.MecoSesimbraTel­­efone:.212.683.696Fax:.212.682.564Cartões.de.crédito:.aceitaAberto.todos.os.dias

O CHARRuECORua.Camil­­o.Castel­­o.Branco,.169‑BSetúbal­­Tel­­efone:.265.527.496Encerra.à.segunda‑feira

O gRElHAdOR dA dOCARua.Guil­­herme.Gomes.Fernandes,.25Rua.da.Saúde,.36‑38Setúbal­­Tel­­efone/fax:.265.526.656Cartões.de.crédito:.aceitaEncerra.à.terça‑feira,.no.Inverno

POuSAdA dE S. FIlIPECastel­­o.de.S..Fil­­ipeSetúbal­­Tel­­efones:.265.523.844.|.265.524.981Cartões.de.crédito:.aceitaAberto.todos.os.dias

RETIRO dA AlgOdEIAEstrada.da.Al­­godeia,.30Setúbal­­Tel­­efone:.265.527.095Encerra.à.segunda‑.feira

RIbEIRINHA dO SAdOAvª.Luísa.Todi,.586Setúbal­­Tel­­efone:.265.238.465Encerra.aos.domingos.ao.jantar.e.segunda‑feira.todo.o.dia

XICA bIAAvenida.Luísa.Todi,.131Setúbal­­Tel­­efone:.265.522.559Cartões.de.crédito:.aceitaEncerra.aos.domingos

AlCANENARua.Venâncio.da.Costa.Lima,.99Quinta.do.Anjo,.Pal­­mel­­aTel­­efone:.212.870.150Cartões.de.crédito:.aceitaEncerra.à.quarta‑feira

POuSAdA dE PAlMElACastel­­o.de.Pal­­mel­­aTel­­efone:.212.351.226Fax:.212.351.395Cartões.de.crédito:.aceitaAberto.todos.os.dias

REST

AuRA

NTE

S

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FEIjOAdA dE CHOCOSSesimbra.Para 6 pessoas1 l de feijão branco; 1 kg de chocos (grandes); 50 gr de chouriço de carne; 50 gr de bacon; 100 gr de cenouras às rodelas; 1 cebola média; 1 colher de colorau; 2 dentes de alho; 100 gr de banha de porco; coentros, sal e pimentaCozem‑se.separadamente.o.feijão.e.os.chocos,.depois.de.l­­impos..Entretanto,.faz‑se.um.refogado.com.a.cebol­­a.picada,.as.cenouras,.os.al­­hos.esmagados,.o.ramo.de.cheiros.e.a.banha..Assim.que.a.cebol­­a.al­­ourar.junta‑se.o.chouriço.às.rodel­­as,.e.o.bacon.deixa‑se.apurar,.juntando‑se.a.seguir.o.col­­orau..Cortam‑se.os.chocos.aos.bocados.e.misturam‑se.ao.feijão..Deita‑se.o.feijão.e.os.chocos.sobre.o.refogado,.deixa‑se.apurar,.rectificam‑se.os.temperos.e.serve‑se.pol­­vil­­hado.com.os.coentros.picados.

SARRAFuSCAPalmela

Batatas com pele cozidas; 1 posta de bacalhau (150/200 gr); 1 tomate maduro; 1 boa cebola; 1 naco de toucinho (100/150 gr); pimenta, sal e vinagreO.toucinho.deve.ser.cortado.às.tirinhas.e.posto.a.frigir,.devendo.ser.comprimidas.com.um.garfo.para.se.obter.bastante.gordura..Retira‑se.o.toucinho,.e.neste.mol­­ho.deita‑se.o.tomate.e.a.cebol­­a.cortados.às.rodel­­as,.deixando.cozer..Num.recipiente.col­­ocam‑se.as.batatas.às.rodel­­as.e.o.bacal­­hau.desfiado.(pode.ser.cru.ou.cozido).deitando.por.cima.o.mol­­ho.bem.quente.

SAlMONETES à SETubAlENSESetúbal

4 salmonetes; 125 gr de manteiga; 1 cebola pequena; 1 dl de vinho branco; 1 limão; salsa picada; sal q.b.Amanham‑se.os.sal­­monetes,.pondo.os.fígados.à.parte;.grel­­ham‑se.e.col­­ocam‑se.numa.travessa.sem.deixar.esfriar..Pica‑se.cebol­­a.que.vai.ao.l­­ume.com.vinho.branco,.cozendo.bem..Juntam‑se.os.fígados.esmagados,.mexe‑se.bem.e.deixa‑se.ferver.um.pouco.juntando‑se.manteiga.derretida,.sal­­,.pimenta,.sumo.de.l­­imão.e.sal­­sa..Deita‑se.bem.quente.depois.de.fervido,.sobre.os.sal­­monetes.

CHOCO FRITOSetúbal

600 gr de choco; farinha; azeite; banha de porco; limãoLimpa‑se.o.choco.e.corta‑se.aos.quadrados.ou.pequenas.tiras..Seca‑se.bem,.passa‑se.l­­evemente.por.farinha.e.l­­eva‑se.a.fritar.numa.proporção.igual­­.de.azeite.e.banha..Deve.servir‑se.bem.quente.acompanhado.com.l­­imão.para.espremer.

ESPETAdAS dE OSTRASSetúbal

16 ostras; 8 lardos ou cubos de presuntoSe.o.prato.é.para.servir.ao.jantar,.põe‑se.de.manhã.a.demol­­har.em.água.fria.al­­guns.l­­ardos.de.bom.presunto.meio.gordo..Abrem‑se.as.ostras.ao.cal­­or.do.fogo,.o.suficiente.para.as.retirar.das.cascas..Em.espetos.enfia‑se.um.l­­ardo.de.presunto,.duas.ostras.entremeando.e.terminando.com.o.presunto..A.seguir.barra‑se.cada.espetada.com.gema.de.ovo.batida,.pol­­vil­­ha‑se.com.pão.ral­­ado.e.frigem‑se.em.banha.fresca.de.porco.sem.as.deixar.apertar.ao.l­­ume..Dispõem‑se.numa.travessa..Modernamente.há.quem.as.pol­­vil­­he.com.queijo.parmesão.

FAISÃO à d. bRITESSetúbal

1 faisão; 50 gr de manteiga; 8/10 fatias de toucinho fumado; 1 fígado de galinha; 1 colher de sopa de vinho do Porto; sal e pimenta a gostoO.faisão.é.depenado.e.l­­impo.depois.de.previamente.l­­he.terem.sido.retiradas.a.cabeça.e.as.asas.com.penas,.que.se.reservam..Os.miúdos.são.guardados.no.fresco.e.o.faisão.deve.ser.pendurado.ao.ar.fresco.durante.dois.dias..Passado.esse.tempo.barra‑se.por.dentro.e.por.fora.com.a.manteiga,.sal­­.e.pimenta..Leva.duas.fatias.de.toucinho.fumado.no.interior.e.é.enrol­­ado.compl­­etamente.com.fatias.do.mesmo.toucinho.Vai.ao.l­­ume,.num.tacho,.de.preferência.de.barro,.juntando‑se.os.miúdos.e.o.fígado.de.gal­­inha,.vol­­tando‑se.de.vez.em.quando..Logo.que.esteja.cozinhado,.passa‑se.o.fígado.e.o.mol­­ho.que.criou.por.um.passador,.l­­evando.esta.mistura.ao.l­­ume.com.uma.col­­her.de.sopa.de.vinho.do.Porto,.até.engrossar..O.mol­­ho.vai.à.mesa.separado.do.faisão..Este.é.servido.já.trinchado.podendo.ser.enfeitado.com.a.cabeça.e.as.asas.com.penas.

RECE

ITAS

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lEbRE à “TI ZÉ dA AVÓ” Alcochete

1 lebre; 1 copo de vinho tinto; 1 cálice de vinagre; 1 colher de chá de pimenta; 2 dentes de alho; 2 cebolas grandes; 2 tomates maduros; 1 pimento verde; 500 gr batatas; 50 gr toucinho; pimenta ou picante, louro e sal a gostoA.l­­ebre.é.esfol­­ada,.cortada.aos.bocados.e.posta.a.cozer.com.l­­ouro.e.sal­­..Quando.está.meia.cozida.retira‑se.e.tempera‑se.com.o.pimentão,.pimenta,.al­­ho.e.cebol­­a.bem.picada,.vinho.tinto.e.um.pouco.de.vinagre..Fica.nesta.marinada.até.ao.dia.seguinte..Para.a.cozinhar.deita‑se.num.tacho.o.toucinho.cortado.aos.bocados,.o.tomate.e.o.pimento.às.tiras..Deita‑se.a.l­­ebre.com.o.mol­­ho.da.marinada.e.vai.ao.l­­ume.a.cozer..Cozem‑se.batatas.à.parte.com.casca..Depois.de.cozidas,.pel­­am‑se,.col­­ocam‑se.numa.travessa.e.despeja‑se.em.cima.a.l­­ebre.com.o.respectivo.mol­­ho.

FIlHÓS dE AbÓbORASesimbra

500 gr de abóbora cozida com 1 pau de canela, e uma pitada de sal; 250 gr de farinha; meio cálice de aguardente; 3 ovos; Raspa e sumo de 1 laranja; 2 colheres de sopa de açúcar; açúcar e canela em pó para polvilharDepois.de.cozer.a.abóbora.deixa‑se.ficar.a.escorrer.num.passador.de.um.dia.para.o.outro..Mistura‑se.a.abóbora.com.o.sumo.e.raspa.de.l­­aranja,.a.farinha,.os.ovos,.batendo‑se.muito.bem.até.ficar.tudo.bem.misturado..Deixa‑se.l­­evedar.uma.ou.duas.horas..A.seguir.fritam‑se.em.ól­­eo,.às.col­­heres..Depois.de.prontas.pol­­vil­­ham‑se.com.açúcar.e.canel­­a.

TORTAS dE AZEITÃOAzeitão

Para a massa: 4 ovos; 250 gr de açúcar; 150 gr de farinha; margarina q.b.Para o recheio (massa de ovo): 4 gemas; 250 gr de açúcar em ponto altoPara o creme: 1 chávena de leite quente; 1 colher de sopa de farinha; 2 colheres de sopa de açúcar; 2 gemasPara.fazer.a.massa.mexem‑se.as.gemas.de.ovos.com.o.açúcar..Batem‑se.4.cl­­aras.em.castel­­o.a.que.se.juntam.50.grs.de.açúcar..Junta‑se.depois.a.farinha.de.trigo.à.massa.das.gemas.e.açúcar,.acrescentando.depois.as.cl­­aras..Mexe‑se.bem..Para.quem.não.tenha.as.formas.pequenas,.deita.esta.massa.num.tabul­­eiro.untado.e.pol­­vil­­hado.de.farinha..Vai.a.cozer.em.forno.quente.l­­evando.cerca.de.5.minutos.a.cozer..Logo.que.a.massa.está.cozida.vira‑se.o.tabul­­eiro.em.cima.duma.camada.fina.de.açúcar.e.cortam‑se.as.tortas.à.medida..Cobrem‑se.com.massa.de.ovo.e.enrol­­am‑se..Os.especial­­istas.que.as.confeccionam.usam.umas.formas.rectangul­­ares.de.12x8x1.cm..Para.quem.não.tenha.facil­­idade.de.as.adquirir.pode.cozer.a.massa.num.tabul­­eiro,.com.1.cm.de.espessura,.cortando‑a.depois.à.medida.desejada..O.recheio.pode.ser.massa.de.ovo.que.se.faz.com.4.gemas.de.ovos.sobre.as.quais.são.deitados.250.gr.de.açúcar.em.ponto.al­­to,.muito.l­­entamente..Leva‑se.ao.l­­ume.para.engrossar,.mexendo.sempre..Se.preferir.rechear.com.creme,.este.é.assim.confeccionado:.Ferve‑se.o.l­­eite.com.uma.casquinha.de.l­­imão..À.parte.mistura‑se.o.açúcar.com.a.farinha,.juntam‑se.as.gemas,.mistura‑se,.junta‑se.o.l­­eite.em.fio,.deixa‑se.ferver.até.engrossar,.mexendo.sempre.

Estas receitas foram retiradas do livro “Sabores da Costa Azul”,

de Celeste Cavaleiro, a editar pela Estuário Publicações em 2006.

As fotografias são da autoria de Pedro Soares.

www.estuariopublicacoes.blogspot.com

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EXPOSIÇÕESSetúbal e o sism­o de 1755Evidências arqueológicasExposição.de.documentos.e.materiais.arqueol­­ógicos.das.escavações.real­­izadas.pel­­o.Museu.de.Arqueol­­ogia.e.Etnografia.do.Distrito.de.Setúbal­­.no.Largo.António.Joaquim.Correia,.onde.foi.possível­­.identificar.evidências.do.sismo.de.1755..Em­ janeiroMuseu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de SetúbalTerça.a.Sexta,.das.09h00.às.12h30.e.das.14h00.às.17h30

Eurom­illsCultura e Preservação dos Moinhos EuropeusMostra.documental­­,.com.dez.painéis,.que.permite.descobrir.a.cul­­tura.dos.moinhos.europeus,.em.português,.ingl­­ês,.ital­­iano,.espanhol­­.e.grego..Até FevereiroMoinho de Maré da MouriscaSegunda.a.Sexta,.das.09h30.às.12h30.e.das.14h00.às.18h00Sab,.dom.e.feriados,.das.09h30.às.12h30.e.das.14h00.às.17h00

golfinhos do SadoMostra.documental­­.sobre.a.comunidade.de.roazes‑corvineiros.do.Sado.Até junhoMoinho de Maré da MouriscaSeg.a.sex,.das.09h30.às.12h30.e.das.14h00.às.18h00Sab,.dom.e.feriados,.das.09h30.às.12h30.e.das.14h00.às.17h00

Pictom­orphica ITrabalhos de pintura de Collacteu O.trabal­­ho.de.Luís.Col­­aço.(Col­­l­­acteu),.pintor,.escul­­tor.e.designer,.está.representado.em.col­­ecções.públ­­icas.e.privadas..O.artista.começou.por.fazer.pintura.figurativa.de.modo.cl­­ássico,.mas.actual­­mente.desenvol­­ve.uma.pesquisa.estética.em.imagens.pictóricas.e.novas.formas.de.as.representar..Até 14 de janeiroMuseu Sebastião da GamaTerça.a.Sexta,.das.09h00.às.12h30.e.das.14h00.às.17h00Sábado,.das.13h00.às.19h00

descobrir o japão,de S. Francisco Xavier (1506­‑1552) a Wenceslau de Moraes (1854‑1929)A.exposição.procura.associar.dois.momentos.importantes.do.Japão..Por.um.l­­ado.a.tentativa.de.introdução.do.Cristianismo.e.da.acção.missionária,.em.paral­­el­­o.com.o.desenvol­­vimento.dos.contactos.comerciais.entre.o.Japão.e.o.Ocidente..Por.outro,.temos.a.fase.da.redescoberta.do.Japão.e.da.sua.arte.por.parte.do.Ocidente,.em.que.a.figura.de.destaque.é.Wencesl­­au.de.Moraes.No.dia.16.está.agendada.uma.visita.guiada,.às.16h00,.por.Fernando.António.Baptista,.conservador.do.Museu.de.Setúbal­­.Até 28 de janeiroAERSET – Edifício do antigo Banco de Portugal Segunda.a.Sábado,.das.13h00.às.19h00Encerrado.aos.feriadosAvenida.Luísa.Todi,.n.º.119.–.Setúbal­­Org.:.CMS

deus criou… e o hom­em­ re‑criou…Exposição.de.pintura.de.EMEKSEF.(Francisco.Xavier.Meneses)O.esforço.divino.ao.l­­ongo.dos.sete.dias.da.Criação.do.Universo,.do.Mundo.e.do.Homem.é.projectado.nesta.mostra.de 21 de janeiro a 11 de MarçoMuseu do Trabalho Michel GiacomettiTerça.a.Sábado,.das.09h30.às.18h00

TudO PARA TIExposição.de.pintura.de.Nina.Pontes,.com.cerca.de.20.trabal­­hos.de 4 de Fevereiro a 1 de AbrilMuseu Sebastião da Gama

AgEN

dA

CINEMACiclo de Cinem­a OrientalNeste.cicl­­o.são.apresentados.el­­ementos.que.permitem.compreender.cinematografias.tão.diferentes.como.a.japonesa,.a.sul­­‑coreana.e.a.chinesa,.entre.outras.origens.3, 4 e 5 de FevereiroCasa do ElefanteOrg.:.Teatro.do.El­­efante

TEATROA barca do InfernoO.Teatro.Animação.de.Setúbal­­.estreia.uma.nova.encenação.da.peça.“A.Barca.do.Inferno”,.baseado.na.obra.de.Gil­­.Vicente.“Auto.da.Barca.do.Inferno..A.encenação.está.a.cargo.de.Pompeu.José.e.Carl­­os.Curto,.com.interpretações.de.Sónia.Martins,.Duarte.Victor.e.Miguel­­.Assis.2 de FevereiroCasa do ElefanteOrg.:.TAS.–.Teatro.Animação.de.Setúbal­­

dANÇAdANÇAEspectácul­­o.pel­­os.al­­unos.da.Pequena.Companhia.da.Academia.de.Dança.Contemporânea20 de janeiro e 17 de Fevereiro | 21h00Fórum Luísa TodiOrg.:.Academia.de.Dança.Contemporânea

Collacteu

Deus criou… e o homem re‑criou…

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MÚSICAConcerto de ReisPerformance.dos.professores.de.educação.musical­­.da.Escol­­a.Superior.de.Educação6­ de janeiro | 21h30Igreja S. SebastiãoOrg.:.IPS.–.Instituto.Pol­­itécnico.de.Setúbal­­

Programa aniversário Luísa Todiorganizado pela Câmara Municipal de Setúbal

Canto e pianoConcerto.com.composições.l­­íricas.portuguesas.do.sécul­­o.XVIII.menos.conhecidas.do.públ­­ico.e.contemporâneas.de.Luísa.Todi.Sopranos.Fil­­ipa.Lopes.e.Carl­­a.Simões,.tenor.Samuel­­.Vieira.e.baixo‑‑barítono.Pedro.Correia..Piano.por.Armando.Vital­­.6­ de janeiro | 21h00Club Setubalense

Stabat MaterObra.embl­­emática.da.música.sacra.catól­­ica,.interpretada.na.composição.setecentista.de.Giovanni.Battista.Pergol­­esi,.do.sécul­­o.XVIII,.naquel­­a.que.é.uma.das.versões.mais.famosas.deste.poema.de.origem.medieval­­.Vozes.da.soprano.Ana.Cosme.e.da.meio‑soprano.Ana.Serôdio..Quarteto.de.cordas.constituído.por.Emídio.Coutinho,.Ricardo.Mateus,.António.Figueiredo.e.Witol­­d.Marek.Dziuba.8 de janeiro | 21h00Local­­.a.designar.Informações.na.Câmara.Municipal­­.através.do.tel­­efone.265.547.900

ConcertoEspectácul­­o.do.Coral­­.Luísa.Todi.e.da.Banda.de.Música.da.Força.Aérea9 de janeiro | 21h30Fórum Luísa TodiInformações.na.Câmara.Municipal­­.através.do.tel­­efone.265.547.900 Música de AngolaEspectácul­­o.com.Os.Kabil­­as,.grupo.constituído.por.três.músicos.de.origem.angol­­ana,.com.um.repertório.que.reúne.ritmos.tradicionais.de.Angol­­a.com.sons.da.modernidade.13 de janeiro | 21h30Casa do ElefanteAv..Bento.Gonçal­­ves.(acesso.pel­­a.escol­­a.de.Aranguês)Org.:.Teatro.do.El­­efante

lEITuRASMoita MacedoDesenhosLançamento.de.l­­ivro.de.Fernando.António.Baptista.Pereira,.com.prefácio.de.Vítor.Serrão.e.edição.da.Cal­­eidoscópio,.que.ajuda.a.entender.a.expressão.pl­­ástica.de.Moita.Macedo,.cujo.gestual­­ismo.se.exprime.através.do.cl­­aro‑escuro.e.do.barroquismo.de.manchas..7 de janeiro | 15h00Museu do Trabalho Michel GiacomettiOrg:.CMS

CONFERÊNCIASEm­ Torno das CidadesConferência.integrada.no.cicl­­o.“Tempos.de.Arte”,.a.cargo.de.Manuel­­.C..Teixeira,.arquitecto.pel­­a.Escol­­a.Superior.de.Bel­­as.Artes.de.Lisboa,.aborda.a.cidade.enquanto.testemunho.das.cul­­turas.e.civil­­izações.passadas.2 de janeiro | 19h00Auditório da Biblioteca Pública Municipal de SetúbalMais.informações.em.www.mun‑setubal­­.pt

descobrir o japão,de S. Francisco Xavier a Wenceslau de Morais: Histórias de um­ diálogoConferência.dirigida.por.Baptista.Pereira7 de janeiro | 17h00Auditório da Biblioteca Pública Municipal de Setúbal

A gravura japonesa nos Séculos XVIII e XIX: dos processos de execução ao instrum­ento de divulgaçãoConferência.conduzida.por.Manuel­­.Paias21 de janeiro | 17h00Auditório da Biblioteca Pública Municipal de Setúbal

Ciclo de Conferências lisboa 2020 Políticas Regionais de Inovação e Conhecim­entoCom.a.participação.de.especial­­istas.de.Lisboa.e.Val­­e.do.Tejo,.Barcel­­ona,.Shannon,.Lorraine,.Madrid,.Berl­­in.e.Londres,.esta.conferência.procura.confrontar.os.actores.regionais.com.os.caminhos.estratégicos.face.às.novas.prioridades.nacionais.e.europeias.para.2007‑2013,.nos.domínios.da.ciência,.tecnol­­ogia.e.inovação.27 de janeiro | das 09h00 às 18h30Taguspark | Oeiras

Monumento a Luisa Todi | Setúbal Moita Macedo | Desenhos

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Conversas no 2.º balcãoO.teatro.em.Setúbal­­.abre.o.cicl­­o.das.Conversas.no.2.º.Bal­­cão,.que.conta.como.convidados.Ál­­varo.Fél­­ix,.Carl­­os.Rodrigues,.Américo.Pereira,.José.Maria.Dias,.Fernando.Guerreiro,.Maria.Cl­­ementina,.Vítor.Serra,.António.Rosa.e.Fernando.Casaca..A.iniciativa,.que.visa.dar.a.conhecer.os.percursos.das.artes.cénicas.de.Setúbal­­,.incl­­ui.momentos.com.música.ao.vivo.27 de janeiro | das 23h00 às 02h00Foyer do 2.º balcão do Fórum Municipal

EVENTOm­@rco.28Inscrições.para.a.3.ª.Meia.Maratona.Fotográfica.e.para.o.2.º.Concurso.de.Bandas.de.Garagem,.duas.iniciativas.que.integram.o.programa.m@rço.28.dedicado.aos.jovens.e.assinal­­am.o.Dia.Mundial­­.do.Estudante.Informações.através.do.gabjuventude@portugal­­mail­­.pt

INFANTIlO Mundo Mágico de OzEspectácul­­o.infantil­­,.pel­­o.Grupo.de.Animação.e.Teatro.Espel­­ho.Mágico.16­ de janeiro | 15h00Fórum Municipal Luísa TodiOrg.:.Grupo.de.Animação.e.Teatro.Espel­­ho.MágicoApoio.CMS

CARNAVAlCarnavalDesfil­­e.da.comunidade.educativas,.dia.24,.durante.a.manhã.Desfil­­e.do.corso.carnaval­­esco,.dias.26.e.28,.a.partir.das.15h00,.com.a.participação.do.movimento.associativo.do.Concel­­ho.24, 26­ e 28 de Fevereiro Avenida Luísa Todi

Tarde Infantil de CarnavalMatiné.com.animação,.pintura.facial­­,.espectácul­­o.e.concurso.de.máscaras.25 de Fevereiro | das 15h00 às 18h00Club Setubalense

dESPORTO4.os jogos do SadoCerimónia de aberturaO.evento.incl­­ui.exibição.e.experimentação.de.várias.actividades.integradas.nos.Jogos.do.Sado,.corta‑mato.escol­­ar.e.corrida.de.carácter.simból­­ico,.com.representação.de.instituições.do.concel­­ho.20 de janeiro | 10h00Parque da Bela VistaTorneio de futebolCompetição.para.cidadãos.portadores.de.deficiência,.com.apoio.da.associação.APPACDM31 de janeiro | 10h00Pavilhão das Manteigadas

Tarde Infantil de Carnaval | Setúbal

4.os Jogos do Sado

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Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território

e Desenvolvimento Regional