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1 ENTREVISTA Data: 12 de Maio de 2008 Tempo: 1h 48mn Local: Sala da escola Intervenientes: Três docentes- grupo de auto-avaliação da Escola O meu nome é SE1, sou professor de Filosofia, 10ºB, estou há sensivelmente 24 anos no ensino e nesta escola encontro-me há aproximadamente 9-10 anos. Eu chamo-me SE2, sou do 9º grupo, portanto inglês - com licenciatura em filologia germânica, mas só dou inglês. Depois estou aqui há já 14 anos e este já é o vigésimo oitavo ano a leccionar. Eu sou SE3. Pertenço ao grupo de filosofia , portanto ao 10ºB; tenho cerca de 33 anos de ensino e aqui na escola estou também há cerca de 15 anos. EU- Então vamos começar por situar a decisão formal de iniciar este processo de auto- avaliação, ou seja, de quem e quando foi a iniciativa, quem é que primeiro pensou que era importante construir um dispositivo de auto-avaliação da escola? SE1- A data precisa não sei, mas lembro-me de ter partido do Presidente do Conselho Executivo que algures num Conselho Pedagógico terá colocado essa hipótese… EU- Desculpa, o Presidente do Executivo que é também o Presidente do Pedagógico… SE1- Exactamente. Essa ideia foi transmitida, suponho, à comissão de avaliação do Pedagógico, que terá constituído um grupo que começou a tratar dessa possibilidade e a tentar a organizar informação e a pensar a forma de a implementar. Esse grupo funciona durante o primeiro ano, tendo mais tarde nos escolhido a nós três inicialmente éramos quatro, portanto falta-nos neste momento um elemento tendo começado o ano passado este processo. EU- Quando tu dizes uma comissão de avaliação do pedagógico… SE1- A comissão de avaliação é um sector específico do pedagógico que suponho que foi quem ficou mais encarregado pelo Presidente de juntar o grupo de trabalhoEU- Essa avaliação já era no sentido de avaliar a escola, ou era mais no sentido de avaliar os alunos? SE1- Não, no sentido de enveredar por um processo de auto-avaliação. Eles acabaram por não o fazer por acharem que havia incompatibilidades entre os cargos que eles na altura tinham e esse processo e daí que eles acabassem por apontar outros elementos para constituir o grupo. EU- E esses elementos porquê? Vocês porquê? SE2- Sim, porquê, boa pergunta. Quando me chamaram ao Conselho Executivo não sabia por que motivo pensa a gente que errou, que fez qualquer coisa errada…Depois disseram-me que ía fazer parte de um grupo para a auto-avaliação interna. Eu fiquei…surpreendida, porque não gosto muito de cargos, gosto muito de ser professora e, então, tirando a direcção de turma, não costumo ter cargos…Delegada, uma vez por outra. De maneira que fiquei surpreendida – por que motivo tinha sido escolhida. Um dos motivos penso e depois até falámos entre nós será porque temos um feitio- acho que é mesmo assim que se deve chamar- em que procuramos dar-nos bem com todos, falamos com toda a gente, não temos assim um grupo…Porque às vezes formam-se grupinhos…Não é muito, mas sempre se nota. Eu penso OI OI IE OI IE IE IE

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ENTREVISTA Data: 12 de Maio de 2008 Tempo: 1h 48mn Local: Sala da escola Intervenientes: Três docentes- grupo de auto-avaliação da Escola O meu nome é SE1, sou professor de Filosofia, 10ºB, estou há sensivelmente 24 anos no ensino e nesta escola encontro-me há aproximadamente 9-10 anos. Eu chamo-me SE2, sou do 9º grupo, portanto inglês - com licenciatura em filologia germânica, mas só dou inglês. Depois estou aqui há já 14 anos e este já é o vigésimo oitavo ano a leccionar. Eu sou SE3. Pertenço ao grupo de filosofia , portanto ao 10ºB; tenho cerca de 33 anos de ensino e aqui na escola estou também há cerca de 15 anos.

EU- Então vamos começar por situar a decisão formal de iniciar este processo de auto-avaliação, ou seja, de quem e quando foi a iniciativa, quem é que primeiro pensou que era importante construir um dispositivo de auto-avaliação da escola? SE1- A data precisa não sei, mas lembro-me de ter partido do Presidente do Conselho Executivo que algures num Conselho Pedagógico terá colocado essa hipótese… EU- Desculpa, o Presidente do Executivo que é também o Presidente do Pedagógico… SE1- Exactamente. Essa ideia foi transmitida, suponho, à comissão de avaliação do Pedagógico, que terá constituído um grupo que começou a tratar dessa possibilidade e a tentar a organizar informação e a pensar a forma de a implementar. Esse grupo funciona durante o primeiro ano, tendo mais tarde nos escolhido a nós três – inicialmente éramos quatro, portanto falta-nos neste momento um elemento – tendo começado o ano passado este processo. EU- Quando tu dizes uma comissão de avaliação do pedagógico… SE1- A comissão de avaliação é um sector específico do pedagógico que suponho que foi quem ficou mais encarregado pelo Presidente de juntar o grupo de trabalho… EU- Essa avaliação já era no sentido de avaliar a escola, ou era mais no sentido de avaliar os alunos? SE1- Não, no sentido de enveredar por um processo de auto-avaliação. Eles acabaram por não o fazer por acharem que havia incompatibilidades entre os cargos que eles na altura tinham e esse processo e daí que eles acabassem por apontar outros elementos para constituir o grupo. EU- E esses elementos porquê? Vocês porquê? SE2- Sim, porquê, boa pergunta. Quando me chamaram ao Conselho Executivo não sabia por que motivo – pensa a gente que errou, que fez qualquer coisa errada…Depois disseram-me que ía fazer parte de um grupo para a auto-avaliação interna. Eu fiquei…surpreendida, porque não gosto muito de cargos, gosto muito de ser professora e, então, tirando a direcção de turma, não costumo ter cargos…Delegada, uma vez por outra. De maneira que fiquei surpreendida – por que motivo tinha sido escolhida. Um dos motivos – penso – e depois até falámos entre nós – será porque temos um feitio- acho que é mesmo assim que se deve chamar- em que procuramos dar-nos bem com todos, falamos com toda a gente, não temos assim um grupo…Porque às vezes formam-se grupinhos…Não é muito, mas sempre se nota. Eu penso

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que um dos motivos foi esse …Não, tenho mesmo a certeza… SE3- Eu não tenho a certeza, mas…há uma expressão que eu já utilizei com a SE2 e o SE1 e que não é conveniente utilizar aqui, mas a expressão mais pomposa para designar isso é que somos todos “lowprofile”. Este conjuntinho pequenino não tem grandes ambições de afirmação pessoal de poder na escola. Em termos de personalidade, não tem qualquer objectivo de fazer parte de órgãos, de propor modelos de funcionamento da escola, ou seja, de facto não incomodamos ninguém e vamo-nos dando com toda a gente, vemos sempre as coisas numa perspectiva positiva e não negativa. E depois, se calhar, outra razão é que cada um com as suas particularidades – o SE1 e a SE2 mais do que eu – são muito disciplinados, muito trabalhadores e, portanto, isso acho que dava alguma garantia a quem escolheu de fazer este tipo de tarefa. Agora, fundamentalmente…nós temos…quando o gravador desligar eu utilizo a expressão mais comum… EU- Mas podes usar a expressão à vontade… SE3- Posso? Então eu cheguei a dizer que nos escolhiam porque nós somos uns “panhonhas”…(Risos) Então, talvez por causa deste temperamento, nós não temos encontrado resistências; não há um único sector que tenha mostrado, pelo menos abertamente e de forma ostensiva, uma atitude negativa. Nunca ninguém mostrou qualquer tipo de recusa, não querer colaborar…nunca… EU- Então deixa-me voltar um bocadinho atrás. O SE1 já explicou que a decisão veio do CP. Sabem se depois a proposta foi à Assembleia de Escola? E os outros órgãos tomaram conhecimento e concordaram? Não sabem… SE3- Bem, a Presidente da Assembleia estava nessa Comissão…E não só, vários elementos da Assembleia… SE1- Eu tenho uma vaga ideia que numa reunião da Assembleia, a título informativo, ter-se-á prestado essa informação…Já foi há muito tempo e então eu fazia parte…Mas assim em termos de tomada de posição penso que não. EU- Então e quando vos entregam esta tarefa explicam-vos as razões? Vocês sabem o porquê deste trabalho, o que esperam de vós? SE2- Na altura, eu lembro-me que quando fui chamada estava lá a L., a Presidente da Assembleia, no Conselho Executivo, e eles disseram que estava na altura de começar a fazer a auto-avaliação, porque as escolas mais cedo ou mais tarde iam ser avaliadas, vinha aí a avaliação externa e então era para começar já a trabalhar sobre isso, embora a escola já fizesse algum trabalho por trás como todas as escolas fazem – as estatísticas sobre os resultados dos alunos…os departamentos, em certa medida, com as actas e o coordenador que tem que fazer balanços em determinadas alturas do ano…Mas não havia assim nada de concreto e eles queriam começar. Aliás na altura já se falava que o Presidente, logo que pudesse, pedia a avaliação externa da escola, o que aconteceu este ano…Eu acho que nunca suei tanto como neste dia. Fiquei ali mais de meia hora. A avaliação para mim, na altura, significava avaliar, sei lá…colegas também, ou funcionários, e isso para mim era impensável, uma coisa que me ultrapassava. Mas eles foram dizendo “não é nada disso, não te preocupes” e eu lembro-me perfeitamente que a Judite logo me proporcionou o livro do Vítor Alaiz para eu ler no fim-de-semana, pelo menos folhear, para eu me acalmar, porque fiquei em pânico… EU- E vocês também reagiram assim? SE1- Na altura fiquei surpreendido! E fundamentalmente porque eu não tinha qualquer

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conhecimento base para que fosse pedida a minha colaboração …Nunca me tinha envolvido especificamente nisto. A razão que me recordo de ter sido dita é porque a escola estava a precisar disto até para manter…para confirmar as expectativas! O (presidente) dizia “nós temos a noção que a escola é boa, que há um grande empenhamento das pessoas, que há aspectos muito positivos que é necessário evidenciar e publicitar”, porque a escola estava já há alguns anos a esta parte com uma baixa significativa de alunos e havia a necessidade, pelo menos em termos de opinião pública, de mostrar que efectivamente a escola tinha mais-valias, que valia a pena mostrá-las. Essa foi a razão que me recordo de ter sido apresentada. Eu realmente senti “não sei até que ponto posso dar uma contribuição tão significativa, mas farei o que for possível e tentarei dentro das minhas possibilidades”. Mas confesso que também me surpreendi de terem batido à minha porta! EU- Vocês já disseram que não são pessoas de grupo, mas já se conheciam bem os três… SE1- Sim, de nos cruzarmos nas várias circunstâncias…no grupo, eu e a Rosaria, e a SE2 conforme as turmas em comum…Também já são muitos anos… EU- Vocês têm tempos nos horários para trabalhar em conjunto? Quantos? SE3- No meu caso particular são 7 tempos, de que conseguimos marcar pelo menos 3 tempos em conjunto, que é à segunda-feira e os outros tempos dois a dois, à excepção de um dos dias em que estamos sozinhos. Não conseguimos compatibilizar a totalidade das horas os nossos horários. SE2- Eu tenho seis tempos. Como sou directora de turma dos CEF’s tenho mais um tempo. Já o ano passado tinha seis tempos e este ano continuo. SE1- O ano passado tive 7 e este ano acho que também. Mas sinceramente, depois de colocados nos horários eu nunca mais me certifico. Não somos rigorosos no cumprimento do horário, mas procuramos sempre compensar e às vezes fazemos muito mais horas. SE2- E também não fazemos intervalo…podemos começar um bocadinho mais tarde à 2ª feira, mas depois não fazemos intervalo. Não dá jeito quebrar o trabalho… SE1- E o ano passado, por exemplo, na parte final foram dias contínuos a tentar conciliar o secretariado de exames com o ultimar destas informações para apresentar… EU- Consideram, portanto, que esta distribuição é justa, é equilibrada… SE1. Sim. No ano passado, digamos, que não eram suficientes. Era o primeiro ano, tivemos que desenvolver informação, participar na acção, tivemos que organizar tudo do início…O que nos valeu foi a colaboração dos outros elementos do grupo porque sempre se mostraram disponíveis para ir ajudando e reuniram connosco várias vezes. Reconhecemos que o ano passado foi muito intenso. Este ano também reduzimos um bocadinho a carga, até porque perdemos um elemento e pensámos para nós próprios que deveríamos pôr mais razoabilidade nas coisas e, portanto, acabámos por reduzir o âmbito da nossa intervenção e estamos a levar as coisas de forma mais equilibrada, pelo menos até agora. EU- Então agora sentem-se um grupo, legitimado e identificado pela auto-avaliação…ou nem por isso? Passam despercebidos? SE2- Despercebidos acho que não, mas as pessoas continuam a tratar-nos como tratavam antes. Elas sabem que temos esse cargo, mas não é por isso que nos tratam de maneira diferente e isso é que é fundamental

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SE1- Alguns brincam connosco..(Risos) SE2- Sim, mas é a brincar. Por exemplo, temos um colega que passa por mim e cumprimenta “senhora inspectora!”, mas é a brincar! Fomos felizes neste aspecto, porque podia às vezes acontecer que sentíssemos que as pessoas mudavam de atitude, se calavam quando chegássemos, com medo do que nós observássemos…Mas nunca notei isso e há abertura total, transparência… SE3- Também, talvez, pelo facto de nós não nos isolarmos em termos de trabalho. Trabalhamos onde haja condições para isso e habitualmente, por exemplo à segunda-feira quando estamos os três trabalhamos numa sala na qual também trabalham muitos outros colegas. Portanto, quando nós discutimos a elaboração de um questionário, uma questão, quando discutimos a interpretação de dados fazemo-lo abertamente…Quem estiver e quem entrar ouve as nossas discussões e de vez em quando até acaba por dar uma dica. Ou então até nós perguntamos. Outras vezes é na sala dos professores. Nós não temos espaço próprio de trabalho. Trabalhamos onde toda a gente trabalha. E também vamos pedindo os materiais e dados. Portanto acho que há um funcionamento muito…muito de colaboração, muito aberto, de colegas, não é? SE1- Da nossa parte há toda a transparência. Não estamos aqui a fazer caixinha com nada, a esconder nada e daí que talvez seja isto que tenha proporcionado ... EU- E há pessoas que fazem perguntas, que se interessam?…Elas querem saber sobre o vosso trabalho, ou isso passa perfeitamente ao lado? SE3- No ano passado, até pelo tipo de divulgação que nós adoptámos, sentimos que havia alguma curiosidade e muita colaboração. De todos os sectores. Uma curiosidade por parte dos directores de turma, que colaborou muito directamente connosco, mas também, no final do ano, havia muita curiosidade, porque como nós tínhamos lançado os questionários aos professores e tínhamos aquelas grelhas de análise dos departamentos…havia muita curiosidade de …queriam saber em termos globais a escola pensava de si – os pontos fracos, os pontos fortes. Este ano, como os sectores que estamos a avaliar, a auscultar, são, uns já habituais, outros são, digamos assim, o lado de fora da escola, o lado dos encarregados de educação, talvez já não haja essa expectativa em termos de conhecer os dados. Portanto, dá-me a sensação que as coisas estão a passar um pouquinho mais despercebidas; tão despercebidas que … Aliás já o ano passado aconteceu isso: as coisas foram de tal maneira feitas, mesmo junto dos alunos - sem espectáculo, sem confusão, sem perturbação - que muitos dos nossos colegas na reunião geral de professores começaram por nos dizer, que para além da apresentação dos dados relativos aos professores, devíamos também auscultar os alunos e quando nós dissemos que tínhamos auscultado 100 alunos de todas as turmas, eles ficaram surpreendidos - não tinham dado conta. Este ano, com os encarregados de educação, quem é director de turma sentiu, porque nós pedimos a colaboração, mas não há aquela divulgação de chamar a atenção. A ideia é mesmo passar despercebido, como se fosse algo normal… EU- Então falta aqui fazer o ponto da situação e descrever o que já fizeram. Quais foram os passos que deram até agora? SE2- Portanto, começando pelo ano lectivo anterior, logo no início do ano, depois de termos frequentado a acção da Graça – depois não, ao longo, porque ela demorou vários meses, não foi?- e que nos ajudou imenso e nos abriu novas perspectivas – foi um livro fechado que se abriu – embora nós também aqui, de todas as vezes que nos reuníamos, íamos à Internet, fazíamos muita pesquisa, depois lemos os livros que de facto foram fantásticos – para mim, a

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“História de Serena”, então foi uma maravilha! Do MacBeth, não é? Também usámos o livro do Vítor Alaiz- muitas vezes fomos aí buscar ideias…E tudo isso fez com que nós a pouco e pouco fôssemos aprendendo alguma coisa, não estivéssemos tanto de olhos fechados, e isso acabou por dar um bocadinho mais de ânimo e até segurança, porque antes era uma insegurança completa – não sabíamos nada, estávamos às escuras e depois começou a aparecer uma luzinha… E então começámos a pensar que seria de começar pelos resultados dos alunos e pelo funcionamento dos departamentos, mas não esquecendo os objectivos da escola de reduzir o insucesso e o abandono e a indisciplina que se vinha manifestando e continua a manifestar em grande escala, especialmente nos cursos de educação formação. E então pensámos que isso seria o ideal. Começámos então a construir as grelhas, que íamos mostrando à Graça quando tínhamos as sessões, não é, e que depois demos aos directores de turma, grelhas que ainda se mantêm, mas que já alterámos, porque se gastava muito papel. Fizemos grelhas para cada período, mas depois verificámos que na mesma grelha podiam ficar os 3 períodos. EU- Então também já melhoraram os instrumentos... SE2 – Sim, e mais uma vez com a colaboração dos nossos colegas directores de turma; às vezes faziam sugestões muito válidas. E eu mesma, este ano, como directora dos CEF, verifiquei – porque à gente às vezes está metida nelas mas não vê nada – verifiquei que afinal a grelha tinha que ser diferente, porque eles têm outro tipo de avaliação, os critérios são diferentes. Então alguns colegas vieram dizer “vocês têm que fazer grelhas diferentes” e eu pensei “oh meu deus, então eu estou metida nelas e não vi isso?”. Lá está um colega de fora tem outra perspectiva e é mais crítico. EU- Portanto, estamos a falar do tratamento de dados sobre os resultados do ano passado... SE2- Sim, dados sobre o abandono, comportamento e aproveitamento. SE3- E este ano estamos a construir um mapa comparativo. Para sabermos se houve ou não consecução das metas, construímos um mapa com os resultados relativos a cada período dos dois anos, para verificarmos se em turmas correspondentes, turmas de continuidade, houve ou não uma melhoria ao nível do comportamento, do abandono e dos casos de insucesso. Estamos a construir esse mapa, para podermos, no final do ano, transmitir à escola esse dado; para internamente ela avaliar as medidas implementadas e verificar se elas foram eficazes ou não. EU- OK, então já que falaste das medidas – com os resultados do ano passado, foram propostas medidas, foram definidas medidas... SE3- Eu penso que foram definidas medidas um pouco implicitamente... EU- Então não houve propriamente a explicitação de medidas... SE3- Não, no CP houve medidas explícitas, sim... SE1- Nós sugerimos, por exemplo, que fossem criados espaços comuns de trabalho, porque era uma das queixas que a nível dos professores surgia com muita frequência. Foi pedido especificamente para que os horários contemplassem dias e horas em que fosse possível aos grupos trabalharem em conjunto. E eu julgo que dentro das possibilidades foi contemplado. Esta recordo-me. SE3- Mas no caso da indisciplina, ao nível do CP, isso também foi definido, que era necessário consolidar as medidas sancionatórias e as medidas correctivas, portanto, que era necessário investir mais na questão da autoridade. Portanto, o CP também definiu isso e estamos a ver

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alguns resultados. Viu-se que as medidas deviam ser mais oportunas e não dilatar no tempo e nós temos verificado que as instaurações de processos disciplinares têm sido realmente em tempo mais curto. Em termos de apoios, o ano passado já havia salas de estudo, mas tem havido este ano uma divulgação maior e um alargamento de horário e até um alargamento a mais alunos; esta informação tem passado insistentemente pelos directores de turma, para os alunos e para os encarregados de educação. Nas tais medidas disciplinares, depois de se fazer aquele trabalho de sensibilização dos alunos, não há contemplação, não há aquela flexibilidade, há mais rigor…e agora haverá que ver se funcionou ou não. Mas eu penso que sim, porque temos estado a ouvir os colegas, nomeadamente ao nível dos CEF, a dizer que os alunos, aos poucos, têm melhorado o comportamento. Chegam-nos profundamente indisciplinados, sem o mínimo de consciência do que são regras, e aos poucos vamos vendo que mudam; alguns miúdos sofreram mesmo uma transformação. Os conselhos de turma, com o seu funcionamento semanal, acabam por ter um papel muito, muito formativo. E eu penso que isso não tem a ver apenas com aquilo que sentem, mas também com as próprias metas da escola. EU- Portanto, na vossa opinião, o facto de ter havido o dispositivo e uma maior atenção no levantamento e tratamento dos dados isso terá ajudado a investir na melhoria. SE2- Eu acho que sim SE3- Eu acho que sim. EU- Ou será que isso não aconteceria mesmo que não tivesse havido a intervenção da auto-avaliação? SE2- Também não sabemos se temos esse papel assim de forma tão clara, mas sabemos que ao nível dos conselhos de turma, as nossas grelhas de auto-avaliação são usadas na própria reunião para os professores tomarem consciência, ou mais consciência, do rendimento do aluno e das questões de indisciplina para fazerem a síntese. Portanto, as nossas grelhas funcionam. EU- Têm um papel regulatório…E o outro lado, o dos departamentos? Foi outra área que trabalharam… SE2. – Aí também se vê, porque quando passámos os inquéritos e foram 47 os preenchidos – passámos mais inquéritos, passámos a todos os professores, mas nem todos entregaram… SE3- Posso? Ao nível dos departamentos nós actuámos de duas formas- fizemos uma recolha individual através de questionários… EU-Anónimos? SE3- Sim, mas identificando o departamento, por departamento. E fizemos a entrega ao coordenador, mensalmente, de uma grelha de auto-avaliação da reunião do departamento, grelha essa que deverá ser preenchida em conjunto no final da reunião e é cruzando esses dados que nos foi possível fazer, por um lado, uma abordagem do sentir dos professores no seu conjunto em relação à escola e, por sua vez, o funcionamento desse professor no contexto do seu departamento. SE2- E depois fizemos a análise de cada departamento …íamos fazendo cruzinhas a lápis…e no final cruzámos aquilo tudo … EU- Não tiveram ninguém a ajudar nessa fase? A nível informático, por exemplo?

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SE2- Não, íamos trabalhando dois a dois – um lia outro apontava…O tratamento informático foi depois… SE1- Os nossos conhecimentos informáticos vão devagarinho… EU- Mas quando estabilizarem o dispositivo podem pensar numa base de dados… SE1- Mas isso eu não sei. Já experimentei um pouco, mas ainda não chego lá. EU- Mas a escola pode pedir apoio técnico… SE1- Já foi sugerido este ano pela R., que é uma das nossas colaboradoras e está no CP e faz um pouco a ponte, que uma base de dados para tratarmos aquelas informações dos departamentos tornava mais rápido e mais eficiente o trabalho…Os nossos colegas de informática também andam assoberbados com mil e uma coisas…desde o funcionamento dos cartões e essas coisas todas e daí que nem tenhamos enveredado por aí… SE3- Sim, mas o SE1 é de facto um perito a nível informático! Eu posso dizer que os nossos colegas… quando no final do ano fizemos a apresentação dos dados todos…acho que o trabalho que o SE1 fez a nível informático e da apresentação surpreendeu pela qualidade, pela clareza de dados - é verdade! - pelo realçar do que era realmente importante…Sempre, claro está, com os dados junto de nós, caso houvesse alguma dúvida. Foi uma belíssima apresentação! Agora, por exemplo, ao nível dos departamentos, aí notei uma mudança muito grande. E não só, ao nível também do Conselho Executivo, sobretudo com o circuito de comunicação. Um dos pontos fracos que detectámos a nível da escola foi concretamente este: com muitos ruídos, muitas interferências, tempos desfasados…E então o que notámos este ano foi uma diferença absoluta. O Conselho Executivo envia-nos, para todos, as informações, desde convites, legislação, mapas, convocatórias…O Conselho Pedagógico, com muita celeridade, faz uma acta síntese e na mesma semana afixa na sala de professores. O Coordenador envia-nos toda a informação que foi transmitida no CP…Ou seja, aquela crítica que no ano passado fazíamos e sentíamos de que nas reuniões de departamento se perdia muito tempo só com a transmissão de informações e esse tempo era desperdiçado, este ano foi resolvido. Há também a preocupação ao nível dos departamentos do coordenador respeitar e procurar que a ordem de trabalhos seja realmente cumprida; no caso de não ser cumprida há a marcação de uma outra reunião. Portanto esta auto-avaliação da escola funcionou muito bem não só na criação de condições para o trabalho de cooperação, mas também ao nível do circuito de comunicação. EU- E isso dá-vos uma grande satisfação, não é? SE3- Eu não sinto… EU- Não sentes? SE3- Eu não… SE1- Naturalmente, ao darmo-nos conta destas coisas quando reunimos e agora aqui neste contexto… Mas não é coisa que façamos uso… EU- Não estou a dizer isso, mas dá satisfação…dá vontade de continuar… Todos- Ah, sim, sim… EU- Porque eu ia perguntar o que é que vos move hoje, onde vão buscar a energia, se estão

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dispostos a continuar com este trabalho…Estão a gostar de o fazer? Acham que vale a pena? SE2- Eu estou a gostar mais do que no início, ai isso de longe! Porque agora também sei o que temos de fazer, já compreendo o que estamos a fazer, sei qual é a finalidade… e no início ainda não sabia. EU- Então espera aí. Dissemos o que fizeram, mas vocês estão a avançar para outras áreas, não é? Falta explicitar isso. SE2- Portanto, este ano resolvemos … Tivemos uma reunião prévia com o presidente do conselho executivo; já o ano passado fizemos e inclusive fizemos acta, porque nós sempre tivemos liberdade para fazer o que quiséssemos, mas também quisemos saber a opinião dele. Portanto pensámos que este ano era importante partir para a comunidade – ouvir os encarregados de educação, saber o que pensam da nossa escola, como podemos melhorar, quais os pontos fortes e fracos…Pensámos então continuar com os dados sobre o abandono, o comportamento e o aproveitamento, mas fizemos também um inquérito para os encarregados de educação e agora estamos a trabalhar no dos senhores funcionários. SE3- Mas continuamos também com a análise das reuniões de departamento. EU- Então os instrumentos criados o ano passado entraram na rotina da escola… SE2- Sim, mas as grelhas foram também alteradas, porque quando fomos a analisar as grelhas do departamento- eu fiz isso com a F.- aquilo era quase tudo por cruzes – havia uma parte para observações, mas poucas foram as pessoas que escreveram alguma coisa. Aquele foi o trabalho que eu acho que foi mais infrutífero. Tínhamos as cruzes, mas não ficámos assim com nada, não tínhamos assim nada de palpável. E então este ano resolvemos fazer as grelhas de modo diferente e eu acho que estão a resultar muito bem. E porquê? Faço eu isso, quase sempre, no meu departamento. Vou preenchendo a lápis e aquilo fica um resumo- já quase não é preciso ler a acta – fica tudo dito em duas linhas muito pequeninas. Consoante o mês em que estamos, a colega SE3 vai ali e tira tudo o que é convocatória e depois vimos quais são os pontos que todos focam. E depois pomos logo os que todos focam, como articulação de actividades, por exemplo; deixamos outros em aberto porque há grupos que focam determinados assuntos específicos, como o Plano da Matemática, por exemplo. Pronto, há uma parte que é de cruz, mas depois aparece o que foi decidido e assim sabemos bem o que cada departamento fez. Acho que está muito melhor. Agora a minha colega vai continuar. SE3- E simultaneamente, há pouco tempo, fizemos uma outra grelha, que ainda está em experiência, e que é para recolha de dados mensal para todos os departamentos… EU- Dados de que tipo? SE3- Os dados que depois recolhemos com as grelhas preenchidas pelos coordenadores de departamento. Em função destas grelhas nós vamos também preenchendo um mapa-síntese SE1- A tentativa é tentar unir toda aquela informação variadíssima e condensá-la numa grelha mais síntese. Inicialmente pensámos que seria difícil juntar todas aquelas informações…mas estamos a tentar, até para facilidade de tratamento… EU- Desculpem, mas o que é que querem ver nessas grelhas? O tipo de assuntos? O tipo de participação? SE3- O ano passado, essa informação, tivemos dificuldade em ver como havíamos de transmitir. Quando fizemos a análise, percebemos que havia departamentos que funcionavam

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muito bem, em que toda a gente trabalhava de forma muito cooperativa, com resultados muito bons e havia departamentos em que se sentia muita fragmentação e, se calhar, muito espartilhar de atitudes, de decisões…E então não demos a conhecer na reunião geral de professores essa informação detalhada dos departamentos. O que é que fizemos? No final da reunião, distribuímos a cada coordenador um relatório relativo ao seu departamento, pedindo para que ele fosse tratado, ou ainda o ano passado ou este ano em Setembro, e que fosse discutido. Nós até tínhamos a visão de conjunto – a SE2 fez um quadro comparativo com as análises dos departamentos aos vários níveis… EU- Mas vocês não quiseram dar essa visão global à escola… SE3- Não quisemos sem que primeiro cada departamento fizesse a reflexão, porque este ano nós queríamos ultimar o relatório e ultimando o relatório, tínhamos necessariamente de incluir essa informação, não a podíamos escamotear, mas ela ia surgir publicada já depois dos departamentos terem feito a sua análise. EU- Mas não pediram aos departamentos essa reflexão por escrito… SE3- Houve um coordenador que no final do ano nos apresentou – foi o único – exactamente um dos departamentos que detectámos não estar a funcionar tão bem – e este apresentou-nos uma reflexão, justificação sobre o seu departamento. De resto não pedimos. Mas essa reflexão ficou registada nas actas e nas tais grelhas onde vemos quem tratou, quando tratou e como tratou. Quando o relatório chegou a Pedagógico, já os departamentos tinham analisado, portanto não criámos ali atrito. EU- Então o vosso relatório foi apresentado e discutido em Pedagógico. É a R. que o leva? SE3- Nós costumamos dizer que é a nossa supervisora e a nossa ponte… SE1- E nesse Pedagógico foi ponderada a publicação do relatório na Internet, em parte ou na totalidade, isto é, incluindo os instrumentos ou sem os instrumentos… EU- Isso já este ano. E o que é que decidiram? SE1- Decidiram publicá-lo… SE3- Mas sem os instrumentos e aí também pediram a nossa opinião. E nós achámos que tínhamos tido tanto trabalho e que nas nossas pesquisas na Internet nenhuma escola apresentava os seus instrumentos…Então refere-se em anexo, mas não se apresentam. SE2- Até porque cada escola deve construir os seus, não é? Baseados noutros, como foi o nosso caso, mas todas as escolas são diferentes umas das outras, portanto tem lógica que cada escola escolha o seu próprio modelo. SE3 – Eu voltaria atrás, à tal questão do mapa-síntese mensal de recolha da auto-avaliação das reuniões de departamento, já nos permite ir vendo o que é que cada departamento consegue ou não consegue fazer da ordem de trabalhos. EU- Então vão fazendo isso ao longo do ano. SE3- Essa é outra diferença. O ano passado estivemos um mês enclausurados a tratar dados e a ultimar a apresentação do trabalho em reunião geral. Nesta reunião também estiveram presentes as chefes dos auxiliares e dos serviços administrativos; os pais não.

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EU- Fizeram uma reunião só para isso... SE1- Sim, para apresentar os processos...Mas não tínhamos incluído os encarregados de educação... SE3- E os alunos também não... SE1- Sim, porque a nossa ideia era fazer a divulgação junto dos alunos de uma outra forma, que acabou por não ser feita. Foi uma falha. SE2- Até alguém sugeriu que naquele período do ano seria bom que os alunos soubessem do que nós tínhamos feito; ao fim e ao cabo dar a conhecer a toda a comunidade; e nós na altura concordámos, mas depois... SE3- É o problema do processo a usar para dar esta informação. Os DT seriam evidentemente o veículo mais directo, mais seguro para transmitir aos alunos. Porque nós pensámos ainda através da associação de estudantes, mas ela não estava constituída, porque é um processo que se estende por todo o 1º período. Mas é verdade que os alunos estiveram dentro do processo, uma vez que eles têm assento no CP. Agora não houve da nossa parte um pedido explícito a esses representantes dos alunos para fazerem reuniões, serem eles a transmitir a informação aos colegas. SE1- Eu também acho que a apresentar-se aos alunos, deve ser pensado previamente, ou melhor, fazer uma selecção da informação que mais lhes interesse e de uma forma adaptada que não os sature. EU- Então em relação à prestação de contas, já explicaram que o fazem ao CP, através da Rosa, e ao CE através da vossa ligação directa... SE3- Prestar contas é só ao Pedagógico, porque ao Conselho Executivo só transmitimos conclusões e solicitamos apoio, porque temos que dizer que nunca houve um mínimo de interferência nem de questionamento do CE relativamente ao trabalho que estávamos a fazer, mas sempre se dispôs a oferecer todas as condições. Inclusivamente o CE soube exactamente no mesmo momento que todos os outros professores o resultado integral da avaliação da escola; portanto, não foram privilegiados. Souberam exactamente da mesma maneira e no mesmo momento que todos os outros professores. EU- Então, relativamente ao dispositivo, vocês claramente privilegiaram os professores...Não? SE1- Na primeira fase sim, professores e alunos. Mas como insistimos nas reuniões de departamento e no inquérito aos professores, digamos que houve uma certa focalização nos professores. Este ano não tanto, porque acabámos por orientar mais a nossa acção no sentido externo. EU- Em relação aos pais, que estão a tentar trabalhar, acham importante? SE2- Achamos muito importante. Até porque ao analisarmos...apesar de ao não ser feita no mesmo ano não serem exactamente os pais dos mesmos alunos, de qualquer maneira foi interessante verificar que há muitos pontos em comum; isso achei interessante verificar. Ao mesmo tempo ficámos satisfeitos porque a nossa escola vista pelos pais é globalmente boa. EU- Aquele objectivo que explicitaram inicialmente de que a escola achava que era boa, mas precisa mostrar que sim, sentem que se está a concretizar...

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SE2- Sim, está a concretizar-se. EU- E a avaliação externa- vocês viveram o processo há pouco tempo. O vosso trabalho foi valorizado pela equipa da Inspecção? SE1- Não sabemos... SE3- Fomos os penúltimos a ser ouvidos. Ficaram surpreendidos por verem entrar apenas três e perguntaram se nós éramos peritos. “Então estão aqui porque são peritos nesta questão da auto-avaliação? Porque estamos habituados a ver nas escolas equipas muito grandes.” Então nós sentimos necessidade de explicar que por detrás de nós havia mais 4 ou 5 pessoas com as quais dialogávamos – isto o ano passado, porque este ano é mais a R. Mas não sei se o trabalho foi valorizado... EU- Eles viram o dossiê com o trabalho produzido? SE2- Não, não quiseram ver nada. Mas eles já tinham conhecimento do relatório da auto-avaliação. Uma das perguntas foi porque tinham sido 47 professores a responder, se tínhamos passado o inquérito a todos. SE1- Fizeram a observação de como é que tinha sido possível mais participação por parte dos EE este ano do que por parte dos professores o ano passado. SE2- Mas nós explicámos que aos pais ele foi distribuído no final do 1º período, na reunião; e ninguém saiu sem o entregar. E aos professores nós distribuímos através do coordenador e depois perderam-se alguns. E então eles perguntaram “Como é que vão resolver o problema para a próxima?”. E nós dissemos que quando houvesse uma reunião geral, também ninguém sai sem entregar! (Risos). EU- E esta avaliação externa foi muito interferente? Mexeu muito com as pessoas? SE1- Quer dizer, criou assim um estado de alguma apreensão momentânea, mas que foi passando à medida que as coisas foram correndo...Não criou assim muita complicação... SE3- E à medida que as pessoas eram ouvidas iam transmitindo às que a seguir iam...(Risos) SE2- Pois, havia assim um bocadinho de ansiedade...é natural! EU- Então e acham que os aspectos para que eles olhavam são os que vocês consideram importantes? SE2- Eles focavam muito as evidências, aliás o que eles transmitiram ao CE foi que iam com a ideia de que faltavam evidências, talvez para determinados assuntos que nós dissemos que até fazíamos, mas se calhar queriam uma evidência maior... EU- Então haverá alguma discrepância entre o que vos preocupa e o que eles acham importante... SE3- Sim, haverá, mas em relação a outros não. Uma das pessoas que estava na equipa, que não era inspectora, era da faculdade de economia, inicialmente tinha uma atitude provocatória. Quando dissemos que não éramos peritos, logo não faríamos o trabalho com algum cuidado e no final, quando ia perguntando como tínhamos feito e nós mostrávamos, nomeadamente como tinha sido feita a distribuição dos questionários aos EE, se tínhamos um registo disso, como é que tinha sido feita a selecção de alunos, a técnica de amostragem – nós

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mostrámos um mapa – e dissemos que essa amostragem tinha sido feita pelas colegas de sociologia e de estatística que nos tinham ajudado também a fazer esse trabalho, o ar de alguma ironia que inicialmente não gostei muito, foi-se desvanecendo e o rosto passou a aparentar uma postura séria e tranquila. Mas foi à medida que fomos mostrando os dados. Portanto havia ali também alguma evidência, não é? Houve questões que nos colocaram que não sei se nós não quisemos se não pudemos, porque eram informações que jogavam com dados que ainda não tínhamos colhido, nomeadamente a pergunta reiterada por um dos inspectores relativamente ao trabalho dos funcionários SE2- E também relativamente ao comportamento dos alunos. Nós tínhamos detectado que havia de facto indisciplina, mas o que eles queriam saber era a tal evidência se o CE tinha comunicado aos senhores funcionários dos blocos que sempre que houvesse um comportamento incorrecto por parte dos alunos que eles tinham que fazer sempre uma participação por escrito. E nós dissemos que não sabíamos...O que eu disse foi que como directora de turma já tinha recebido este ano duas participações escritas por funcionários. Agora do resto não tinha conhecimento...não sabíamos se o CE tinha reunido com eles... SE3- O que eles queriam saber era se havia um manual de procedimentos, claro e explícito em relação a certos aspectos. Ora há o Regulamento Interno, mas o Regulamento Interno também é aplicado um pouco de acordo com a personalidade de cada um, não é? Depois em relação aos professores, também houve outra questão que colocaram sobre o trabalho...foi mesmo na parte final... SE2- Pois, se trabalhávamos mais em conjunto, as tais reuniões parcelares que muitos de nós – falo por mim- não costumávamos ter, mas também porque não tínhamos oportunidade para isso; só se ficássemos cá fora do horário de trabalho, como a SE3 faz com ele (o SE1). Mas este ano, com as tais articulações dos horários, já fazemos. SE3- O que eles queriam saber era se esta mudança e o trabalho cooperativo tinha produzido já efeitos. Nós não podíamos responder... SE1- Eles faziam essas perguntas para colmatar algumas falhas de entrevistas anteriores... EU- E houve assim perguntas sobre aspectos que a vocês vos tivessem escapado e que agora pensem no assunto? SE1- Eles insistiram muito na questão da acção do director de turma. A alguns pediram mesmo grelhas que usassem, por exemplo da auto-avaliação do próprio director de turma. Eles queriam saber se efectivamente havia, se se fazia... EU- E vocês já pensaram se não deviam olhar também para esse aspecto? SE3- Acho uma coisa importante e que nós não temos estado a valorizar. É que para além das reuniões com os professores, é importante fazer reuniões com alunos. E os horários dos DT e dos alunos são em muitos casos incompatíveis; quando queremos encontrar uma hora de trabalho comum, não conseguimos. E isso é se calhar outra sugestão para o próximo ano – que venha contemplada no horário uma hora para reunião com o DT. E neste tempo já se poderia fazer a auto-avaliação sistematicamente. É que se vai fazendo, mas não há recolha de dados, porque não há condições a não ser na própria aula e nós não podemos tirar tempo à aula... SE1- E para o próprio acompanhamento dos alunos era importante... SE2- E eu recordo-me que uma das perguntas que fizeram aos nossos colegas directores de turma, e que os professores ficaram muito incomodados, foi se sabiam e conheciam a

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interdisciplinaridade nas próprias turmas deles. Com a ansiedade muitos nem se lembravam, por exemplo das próprias visitas de estudo que têm sempre interdisciplinaridade… EU- Pois, a perguntinha que fazia há pouco e que a SE3 respondeu mais com a prática, já a dar a solução, era mais no sentido do vosso dispositivo ter uma garra mais virada para o trabalho da gestão curricular e do Projecto Curricular de Turma, entendem? …Os Directores de Turma são aliados e colaboram muito na recolha e análise de dados dos alunos, mas em termos de gestão do processo curricular dá a ideia que vocês estão a deixar qualquer coisa descoberto e foi precisamente aí que os inspectores entraram com mais força… SE2- Pois, nós fomos ouvindo as conversas, e por acaso essa foi uma coisa que me surpreendeu. Como directora de turma, se me fizessem a pergunta naquele momento, embora reúna todas as semanas a equipa pedagógica, eu também era capaz de ficar assim…sem saber o que responder… SE3- Se calhar temos que elaborar outro questionário…ou… EU- Depois podemos ver isso melhor e com mais calma. SE3- Pois, claro, não é agora. Mas demo-nos conta que esta é uma tarefa inglória, gigantesca… SE2- Que nunca está acabada… SE3- Se nós soubéssemos, no início do ano, o que tínhamos que fazer e o trabalho enorme que nos era pedido eu acho que teríamos metido um atestado médico para não o aceitar. No final do ano, quando olhámos para aquela quantidade de trabalho feito, achámos que era quase impossível termos feito aquilo tudo. E outra coisa que dissemos é que sem a ajuda da oficina de formação, que nos disciplinou e organizou – este ano, por exemplo, tínhamos um plano de trabalho, mas não o tínhamos passado a escrito! – então, só o facto de termos feito um planeamento de trabalho permitiu-nos fazer muito e só no final do ano tivemos consciência disso. EU- E vocês sentiram-se crescer em termos profissionais e pessoais? SE2- Eu acho que sim. SE3- Eu nem tanto, peço desculpa, mas a minha área é a filosofia e o meu investimento prioritário é aí, na parte científica da filosofia, na actualização… EU- Mas o contributo da tua formação e da tua visão a partir da filosofia não pode ser um bom contributo? Não gostaste de fazer esse investimento? SE3- Não, gostei, e gostei sobretudo da equipa… EU- Vocês completam-se, é? SE3- Muito. Eu sou muito desorganizada e indisciplinada, mas sou crítica e muito picuinhas…E cresci, cresci pelo trabalho conjunto. Há uma outra visão de escola também, sim senhora… SE2- Estou a rir, porque o ano passado fui fazendo o relatório de cada departamento e depois passava à SE3…Os primeiros vinham sempre corrigidos a lápis, sempre muitas correcções, porque lá está, ela vai sempre ao pormenor, mas no fim eu melhorei, não foi? (Risos) É que depois eu já sabia o que ela queria! (Risos).

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SE1- É, a SE3 completa-nos a esse nível. Aquela última visão é fantástica. No fim ela aplica o crivo. Mas eu também me reconheço naquilo que a SE3 disse. Eu associo esta tarefa ao que se passa ultimamente no ensino. Nós estamos de tal forma assoberbados de trabalho…as reuniões, a papelada…E agora mais esta, que é uma carga de papelada, que ao nível da outra vida, a nível do que eu sinto necessidade de ler, de reflectir…Ter outro tempo falha completamente! De há uns tempos a esta parte tenho a sensação de que vivo noutro mundo (Risos). E esta parte, com toda a franqueza, também me desagrada um pouco. Isto tem os seus aspectos positivos; eu reconheço que está a ter algum contributo a nível das pessoas e da instituição, mas a parte pessoal sofre um bocadinho. EU- Essa pressão dos tempos vocês sentem-na? Acham que está a haver alguma mudança nestas questões da qualidade e do que é uma escola de qualidade? SE3- Nós temos instrumentos externos que nos permitem fazer essa validação do que é uma escola de qualidade. Esses instrumentos são fundamentalmente os resultados da formação, tanto no acesso ao ensino superior como em termos de prática profissional de qualidade. E o que é que nós temos? Temos recebido feedbacks muito bons da formação profissional que a escola está a dar aos alunos dos CEF, de tal forma que já temos muitas empresas a solicitar à escola a formação de determinados técnicos, porque estão disponíveis para os receber… EU- Portanto concordam com a questão dos resultados para medir a qualidade – académicos ou de integração profissional. Mas para vocês não há outras qualidades importantes numa escola? SE3- Há e por exemplo a participação dos alunos na própria vida da escola, que é importante observar, ou o tal crescimento como pessoa que precisamos de saber como é que havemos de detectar…Temos a percepção a partir da opinião dos alunos e dos conselhos de turma, mas precisamos de saber a mais-valia em termos de formação humana, a diferença entre o que nos chega e o que sai… EU- Se quisesses convencer alguém a colocar aqui o seu filho, que argumentos usarias? SE3- Esta é uma escola inteira, com professores e funcionários inteiramente dedicados aos alunos. EU- E em relação aos alunos o que é que a escola considera prioritário? SE2- Eu acho que é o bem-estar dos alunos, é o sentirem-se em casa. Por exemplo, eu tenho 4 alunos que foram entrevistados pela FNAC- só lá podiam ficar 2 e eles ficaram com pena de não ficarem com os 4- ; mas fizeram uma pergunta sobre um miúdo, que vem de Portunhos todos os dias e se levanta sempre às 6 da manhã, e este foi um miúdos que foi aceite e então perguntaram assim “Não é normal um miúdo gostar assim tanto da escola! Ele não tem pais, pois não?”. E a Directora de Curso disse “Tem! E são pais muito preocupados, são daqueles que vão sempre às reuniões”. Ora ele passa mais tempo na escola do que em casa; em casa ele vai só para dormir. E gosta muito da escola, sente-se bem aqui. Lá está, é o bem-estar…Há o desporto, o teatro, o clube de jornalismo, tudo isto acho que os atrai. Muitos têm pena de ir embora! Claro que estou a falar só de dois exemplos, mas acho que são significativos. EU- OK. SE1, mas a verdade é que a imagem da escola lá fora é que não tem qualidade, o que faz descer o número de alunos. Isto será porquê? SE1- Eu acho que há um preconceito que as pessoas têm muito em mente. A escola está deslocada do centro, está ali no meio de barracões e não tem as condições que eles preferem; isto tem tendência a acentuar-se hoje e eles transmitem isso mesmo junto aos pais. Mas o que

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se nota é o seguinte: muitos deles vêm efectivamente contrariados e até conseguem a transferência – este ano tinha uma turma de 30 alunos e quando cheguei tinha menos 11 alunos! Efectivamente tinham pedido a transferência para o centro da cidade. Esses nem sequer tentaram, no entanto há casos que acabam por ficar e ao fim de um certo tempo, de entrarem na dinâmica e no trabalho…acabam por se envolver e mudar completamente de opinião e até acabam por ser eles os publicitadores dos aspectos positivos da escola… EU- São os Adrianos!... SE1- Pois, temos é pena que a voz desses não chegue onde mais desejamos! Nós tentamos até de alguma forma envolver a comunicação social nas iniciativas que a escola faz …mas pelos vistos também não consegue tudo. Bem, mas pelo menos conseguimos estabilizar o número de há dois anos a esta parte. SE3- Eu queria só dizer que a equipa de avaliação externa fez exactamente essa pergunta e o que acabámos por dizer é que esta é uma escola autêntica, ou seja, é a escola que se empenha completamente na função de ser escola e não um espaço onde alguns alunos vêm ouvir aquilo que já ouviram dos explicadores. Portanto esta é uma escola na plena acepção da palavra, é um serviço público plenamente assumido. Eu acho que isto é uma mais-valia, não é? Só que temos que o dizer mais alto, mais longe, a ver se alguém – um Belmiro de Azevedo ou um Grupo Amorim se lembra de fazer aqui um Centro Comercial! (Risos) EU- Bem, a conversa está boa, mas está na hora de terminar; vocês têm mais que fazer…E para terminar, aqui no meu bloquinho eu tenho as expectativas. O que é que vocês esperam disto? SE1- Pelo que eu vejo nos próximos tempos não vamos ter desafogo! Mas claro que vamos fazendo o que nos é possível. O facto de do ano passado para este ano já termos compartimentado mais as coisas também já é uma defesa… EU- Desculpem, mas vocês acham mesmo que isto muda mesmo alguma coisa ou é só outra coisa para consumir o tempo e era perfeitamente dispensável? SE2- Não, eu acho que sim. Nós até comentámos, agora que fomos ouvidos pela avaliação externa e houve um ponto ou outro- até mais do que um ponto ou outro certamente- em que ficámos assim um bocadinho perdidos- que quando ela vier outra vez – e aí espero que a gente já não esteja cá, que já sejam outros, embora que às vezes seja difícil começar quem não sabe nada…, mas de qualquer modo aí já estaremos mais preparados. E por tudo, eu acho que nós crescemos, às vezes até parece que não, mas crescemos. Porque, por exemplo, quando estamos a fazer determinado trabalho a nível do departamento pensamos assim “Isto terá cabimento?” EU- Há mais auto-crítica? SE2- Eu acho que sim. Podemos pensar que não é tanto como esperávamos, mas isto nunca é nada de repente, é tudo lentamente. Eu noto que estamos melhor, estamos mais confiantes. Este ano não estou tão aflita como o ano passado, que andávamos já a olhar para o dia 19 de Julho em que íamos apresentar em reunião geral e tínhamos ainda tanto que fazer; este ano certamente não o vamos fazer, vamos entregá-lo assim a nível do CP e da Assembleia da Escola, mas não vamos estar já ali à frente de toda a gente que é assim um bocadinho incomodativo, diga-se de passagem. Até porque já tínhamos um bocadinho de traquejo, este ano acho que vamos ter tempo para fazer as coisas com mais calma. SE3- Eu também acho que vamos notando melhoras e que este trabalho é muito proveitoso para a escola. Abandoná-lo já não era possível. Mesmo que nós não existíssemos como equipa,

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com os instrumentos que foram sendo construídos e que entraram no circuito normal, as próprias pessoas… SE1- Eu espero que esta experiência dê origem a outras, que arranjem outros grupos…Há outras perspectivas de realizar este trabalho. Isto é que era importante! SE3- Esta nossa atitude positiva relativamente à vida e à escola também nos faz olhar para os resultados de forma positiva, mas sem nunca escamotear, sempre com uma fidelidade muito grande às informações que nos chegam. Mas exactamente essa fidelidade faz com que nós não possamos dizer aquilo que muitos na escola gostariam que nós disséssemos… EU- Não fazem um retrato bonito? SE3- Mas também não fazemos um retrato dramático, absolutamente negro, porque nós confiamos nos dados que nos chegam. É que há pessoas que pegam no pormenor e fazem o retrato como se fosse do conjunto e às vezes eu penso que o trabalho que estamos a fazer é um pouco inglório, ou seja, há quem ache que o retrato que fazemos é muito cor-de-rosa. E aparecem relatórios que desvalorizam o nosso, que foi feito com todo o cuidado, e que se calhar não é tão conhecido e tão publicitado…

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