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22 DE JANEIRO DE 2016 p.10 EMPRESAS E MERCADOS “A empresa está em Torres Vedras mesmo por paixão uma vez que nasci aqui...” ENTREVISTA COM JOSÉ PAULO DUARTE, PRESIDENTE DO GRUPO PAULO DUARTE A empresa está sediada na re- gião oeste. É uma localização estratégica? Para nós não representa nenhu- ma vantagem, porque quer queira- mos, quer não, os transportes estão nos grandes centros de consumo, por isso, temos centrais em Lisboa, no Porto, na região dos vinhos do Porto, em Lamego e no Algarve. A empresa está aqui em Torres Vedras mesmo por paixão, uma vez que nasci aqui. Curiosamente, nem sequer temos clientes nesta região. Esta região tem, claramente, al- guma indústria, tem muitas empre- sas de comércio e serviços e muita agricultura que é a base da região - 85% dos frescos nacionais saem da- qui. É uma região muito trabalhado- ra, muito empreendedora e, por isso, temos aqui várias empresas líderes de setores. Esta zona foi considera- da por muitos bancos como um case study, devido precisamente ao em- preendedorismo que há aqui. Como surge o Grupo Paulo Duarte? Os transportes começaram em 1946 com o nome do meu pai, José Paulo Duarte. Em 1967, viu-se obri- gado a criar a empresa e, assim, nas- cem os Transportes Paulo Duarte. O Grupo nasceu nos anos 90 com as cerca de 14 empresas que temos em vários ramos e vários setores. Que tipo de veículos dispõem? Nós somos a maior empresa de cisternas nacional, porque temos quase todo o tipo de cisternas. Temos cisternas para químicos, combustí- veis, gás, asfalto, fuel e alimentares. Temos também muitos camiões fri- goríficos que fazem a distribuição de várias grandes superfícies nacionais e a distribuição de carburantes para a Cepsa, Repsol, Galp e Prio. Isto dá- -nos uma diversidade de clientes que nos conforta de alguma maneira, por- que além de transportarmos muitos bens de primeira necessidade, prin- cipalmente alimentação e combus- tíveis, temos também vários clien- tes. O nosso maior cliente representa no máximo 12% daquilo que faze- mos. Não estamos assentes num só cliente. Conseguimos ser competitivos em relação às empresas transpor- tadoras de outros países da União europeia? Nós somos competitivos em ter- mos europeus. Temos uma dificulda- de muito grande que são, cada vez mais, as barreiras que nos colocam para fazermos transportes. Por exem- plo, o caso atual da Alemanha, onde foram criadas barreiras muito difí- ceis de transpor. Os nossos motoris- tas têm que ganhar o mesmo que na Alemanha e os nossos camiões não podem ficar ao fim-de-semana em França. Isto, na minha opinião, com- promete a livre circulação de pes- soas, bens e serviços. Isto aconte- ce nos países pequenos, porque os grandes países continuam a contro- lar tudo. Estamos no fim da Europa, acabamos por estar longe da Euro- pa. Basta fazer um pequeno exercí- cio: há 10/12 anos viam-se centenas de camiões com matrícula estrangei- ra a circular em Portugal, franceses, holandeses, alemães, espanhóis. Eu pergunto hoje quando é que se vê um camião estrangeiro aqui em Portugal. É muito raro. Isto quer dizer que nem eles querem vir para cá, porque com a crise portuguesa os preços desceram de tal maneira que não compensa. Temos combustíveis dos mais caros da Europa, das autoestradas mais ca- ras da Europa, uma carga fiscal muito elevada e tudo isto constitui constran- gimentos para a nossa atividade. A contratação coletiva de trabalho nes- ta área também não ajuda. (...) Os transportes começa- ram em 1946 com o nome do meu pai, José Paulo Duar- te. Em 1967, viu-se obriga- do a criar a empresa e, assim, nascem os Transportes Paulo Duarte. O grupo nasceu nos anos 90 com as cerca de 14 empresas que temos em vários ramos e vários setores (...) E os planos da União Europeia para o desenvolvimento da ferrovia não vão dificultar ainda mais este cenário? Há quase 30 anos que fui vice- -presidente da ANTRAM e, já desde essa altura, a União Europeia que- ria limitar os transportes rodoviários. Felizmente para nós, as ferrovias em Portugal e em Espanha funcionam muito mal. Para as empresas com- pradoras ou vendedoras o just in time foi muito mais levado em conta. Hoje temos a mercadoria em tempo real num camião que é o seu próprio ar- mazém, desde o fabricante até ao seu destinatário e este tipo de serviço fez com que a rodovia tenha crescido. Não há nenhum meio de transporte que consiga pôr no norte da Europa a mercadoria porta-a-porta em dois dias. Esta é uma vantagem real. Nin- guém vai pôr uma mercadoria num navio ou num comboio para chegar duas semanas depois quando pode ter a mercadoria entregue em dois dias. Isto sem adicionar aqui o fa- tor risco. Se me disser que cada vez mais vai haver dificuldade no transporte in- ternacional, vai. Vão aparecer mais alternativas, tem que haver mais na- vios ro-ro, mais multimodal em fer- rovia, mas é preciso que isso tudo venha a funcionar e que seja real- mente uma alternativa. Sendo alter- nativa, nós podemos colocar um ca- mião num navio e descarregamos o camião na Alemanha. Gastamos me- nos gasóleo, tudo muito bom. É pre- ciso é que isto funcione bem. Tem havido imenso investimento da Co- munidade Europeia nesta área, mas ainda não se vê, na prática, e esta é a realidade. Não tem havido grandes alterações passados muitos milhões de euros de investimento. E as limitações recentes que al- guns países da União Europeia têm imposto não constituem um entrave à vossa atuação? Também tem havido constran- gimentos por parte de alguns países membros comunitários que criam medidas avulso para fazerem preva- lecer os seus transportadores, porque não querem concorrência dentro dos seus países. Em França, os nossos motoris- tas não podem fazer o descanso de 48 horas. Temos que sair de França para o fazer. A cabotagem, transporte dentro dos países, também foi limita- da em França e na Alemanha. A Bél- gica vai no mesmo caminho. A Ale- manha introduziu portagens nas suas autoestradas e inclusivamente, hoje, todos os quilómetros feitos na Alema- nha são pagos, o que é injusto, por- que não é igual em todos os países dentro da comunidade. Eu sou muito crítico neste aspeto, porque acho que não há uma Europa solidária. Basta ver que nunca se fez o caminho para uma harmonização fiscal, por isso é que temos grandes empresas a pagar impostos na Holan- da. Isto, além de pouco ético, devia ser proibido. Aumenta a disparidade entre países pobres e ricos e não pro- move a competitividade. (...) Temos grandes empresas a pagar impostos na Holanda. Isto, além de pouco ético, de- via ser proibido. Aumenta a disparidade entre países po- bres e ricos e não promove a competitividade (...) Há alguns anos decidiu investir na produção de fruta. Como é que surge esta atividade? Eu estudei agronomia. É uma paixão. O meu pai estranhou que eu viesse estudar esta área para Lisboa, uma vez que não tínhamos terras. En- tretanto, tive a oportunidade de ad- quirir umas terras e produzir frutas. Temos a Abrunhoeste, uma cen- tral fruteira, que exporta fruta e a so- ciedade agrícola Quinta do Malpique, que explora as terras. Hoje somos um grande produtor nacional de frutas. Estamos com cerca de 200 hecta- res em produção de pera-rocha, ma- çãs, nectarinas, ameixas, pêssegos e alperces. O mercado nacional representa 10% da nossa faturação. É um ne- gócio de paixão. José Paulo Duarte, Presidente do Grupo Paulo Duarte José Paulo Duarte tem 60 anos. Natural de Torres Vedras, já nasceu no seio da atividade transportadora pela mão do seu pai, José Paulo Duarte, que começou a empresa em 1946. Hoje a transportadora é uma referência a nível europeu nos transportes de líquidos alimentares e mercadorias perigosas a granel, primando pelos mais altos padrões de qua- lidade e segurança. Atualmente, o Grupo Paulo Duarte possui 550 viaturas e mais de 550 reboques e conta com cer- ca de 800 colaboradores.

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Page 1: ENTREVISTA COM JOSÉ PAULO DUARTE, PRESIDENTE DO … · O meu pai estranhou que eu viesse estudar esta área para Lisboa, uma vez que não tínhamos terras. En - ... a cooperativa

22 DE JANEIRO DE 2016p.10 EMPRESAS E MERCADOS

“A empresa está em Torres Vedras mesmo por paixão uma vez que nasci aqui...”

ENTREVISTA COM JOSÉ PAULO DUARTE, PRESIDENTE DO GRUPO PAULO DUARTE

A empresa está sediada na re-gião oeste. É uma localização estratégica?

Para nós não representa nenhu-ma vantagem, porque quer queira-mos, quer não, os transportes estão nos grandes centros de consumo, por isso, temos centrais em Lisboa, no Porto, na região dos vinhos do Porto, em Lamego e no Algarve.

A empresa está aqui em Torres Vedras mesmo por paixão, uma vez que nasci aqui. Curiosamente, nem sequer temos clientes nesta região.

Esta região tem, claramente, al-guma indústria, tem muitas empre-sas de comércio e serviços e muita agricultura que é a base da região - 85% dos frescos nacionais saem da-qui. É uma região muito trabalhado-ra, muito empreendedora e, por isso, temos aqui várias empresas líderes de setores. Esta zona foi considera-da por muitos bancos como um case study, devido precisamente ao em-preendedorismo que há aqui.

Como surge o Grupo Paulo Duarte?

Os transportes começaram em 1946 com o nome do meu pai, José Paulo Duarte. Em 1967, viu-se obri-gado a criar a empresa e, assim, nas-cem os Transportes Paulo Duarte. O Grupo nasceu nos anos 90 com as cerca de 14 empresas que temos em vários ramos e vários setores.

Que tipo de veículos dispõem?Nós somos a maior empresa de

cisternas nacional, porque temos quase todo o tipo de cisternas. Temos cisternas para químicos, combustí-veis, gás, asfalto, fuel e alimentares. Temos também muitos camiões fri-goríficos que fazem a distribuição de várias grandes superfícies nacionais e a distribuição de carburantes para a Cepsa, Repsol, Galp e Prio. Isto dá--nos uma diversidade de clientes que nos conforta de alguma maneira, por-que além de transportarmos muitos bens de primeira necessidade, prin-cipalmente alimentação e combus-tíveis, temos também vários clien-tes. O nosso maior cliente representa no máximo 12% daquilo que faze-mos. Não estamos assentes num só cliente.

Conseguimos ser competitivos em relação às empresas transpor-tadoras de outros países da União europeia?

Nós somos competitivos em ter-mos europeus. Temos uma dificulda-de muito grande que são, cada vez mais, as barreiras que nos colocam para fazermos transportes. Por exem-plo, o caso atual da Alemanha, onde foram criadas barreiras muito difí-ceis de transpor. Os nossos motoris-tas têm que ganhar o mesmo que na Alemanha e os nossos camiões não podem ficar ao fim-de-semana em França. Isto, na minha opinião, com-promete a livre circulação de pes-soas, bens e serviços. Isto aconte-ce nos países pequenos, porque os grandes países continuam a contro-lar tudo. Estamos no fim da Europa, acabamos por estar longe da Euro-pa. Basta fazer um pequeno exercí-cio: há 10/12 anos viam-se centenas de camiões com matrícula estrangei-ra a circular em Portugal, franceses, holandeses, alemães, espanhóis. Eu pergunto hoje quando é que se vê um camião estrangeiro aqui em Portugal. É muito raro. Isto quer dizer que nem eles querem vir para cá, porque com a crise portuguesa os preços desceram de tal maneira que não compensa. Temos combustíveis dos mais caros da Europa, das autoestradas mais ca-ras da Europa, uma carga fiscal muito elevada e tudo isto constitui constran-gimentos para a nossa atividade. A contratação coletiva de trabalho nes-ta área também não ajuda.

(...) Os transportes começa-ram em 1946 com o nome do meu pai, José Paulo Duar-te. Em 1967, viu-se obriga-do a criar a empresa e, assim, nascem os Transportes Paulo Duarte. O grupo nasceu nos anos 90 com as cerca de 14 empresas que temos em vários ramos e vários setores (...)

E os planos da União Europeia para o desenvolvimento da ferrovia não vão dificultar ainda mais este cenário?

Há quase 30 anos que fui vice--presidente da ANTRAM e, já desde essa altura, a União Europeia que-

ria limitar os transportes rodoviários. Felizmente para nós, as ferrovias em Portugal e em Espanha funcionam muito mal. Para as empresas com-pradoras ou vendedoras o just in time foi muito mais levado em conta. Hoje temos a mercadoria em tempo real num camião que é o seu próprio ar-mazém, desde o fabricante até ao seu destinatário e este tipo de serviço fez com que a rodovia tenha crescido. Não há nenhum meio de transporte que consiga pôr no norte da Europa a mercadoria porta-a-porta em dois dias. Esta é uma vantagem real. Nin-guém vai pôr uma mercadoria num navio ou num comboio para chegar duas semanas depois quando pode ter a mercadoria entregue em dois dias. Isto sem adicionar aqui o fa-tor risco.

Se me disser que cada vez mais vai haver dificuldade no transporte in-ternacional, vai. Vão aparecer mais alternativas, tem que haver mais na-vios ro-ro, mais multimodal em fer-rovia, mas é preciso que isso tudo venha a funcionar e que seja real-mente uma alternativa. Sendo alter-nativa, nós podemos colocar um ca-mião num navio e descarregamos o camião na Alemanha. Gastamos me-nos gasóleo, tudo muito bom. É pre-ciso é que isto funcione bem. Tem havido imenso investimento da Co-

munidade Europeia nesta área, mas ainda não se vê, na prática, e esta é a realidade. Não tem havido grandes alterações passados muitos milhões de euros de investimento.

E as limitações recentes que al-guns países da União Europeia têm imposto não constituem um entrave à vossa atuação?

Também tem havido constran-gimentos por parte de alguns países membros comunitários que criam medidas avulso para fazerem preva-lecer os seus transportadores, porque não querem concorrência dentro dos seus países.

Em França, os nossos motoris-tas não podem fazer o descanso de 48 horas. Temos que sair de França para o fazer. A cabotagem, transporte dentro dos países, também foi limita-da em França e na Alemanha. A Bél-gica vai no mesmo caminho. A Ale-manha introduziu portagens nas suas autoestradas e inclusivamente, hoje, todos os quilómetros feitos na Alema-nha são pagos, o que é injusto, por-que não é igual em todos os países dentro da comunidade.

Eu sou muito crítico neste aspeto, porque acho que não há uma Europa solidária. Basta ver que nunca se fez o caminho para uma harmonização fiscal, por isso é que temos grandes

empresas a pagar impostos na Holan-da. Isto, além de pouco ético, devia ser proibido. Aumenta a disparidade entre países pobres e ricos e não pro-move a competitividade.

(...) Temos grandes empresas a pagar impostos na Holanda. Isto, além de pouco ético, de-via ser proibido. Aumenta a disparidade entre países po-bres e ricos e não promove a competitividade (...)

Há alguns anos decidiu investir na produção de fruta. Como é que surge esta atividade?

Eu estudei agronomia. É uma paixão. O meu pai estranhou que eu viesse estudar esta área para Lisboa, uma vez que não tínhamos terras. En-tretanto, tive a oportunidade de ad-quirir umas terras e produzir frutas.

Temos a Abrunhoeste, uma cen-tral fruteira, que exporta fruta e a so-ciedade agrícola Quinta do Malpique, que explora as terras. Hoje somos um grande produtor nacional de frutas. Estamos com cerca de 200 hecta-res em produção de pera-rocha, ma-çãs, nectarinas, ameixas, pêssegos e alperces.

O mercado nacional representa 10% da nossa faturação. É um ne-gócio de paixão.

José Paulo Duarte, Presidente do Grupo Paulo Duarte

José Paulo Duarte tem 60 anos. Natural de Torres Vedras, já nasceu no seio da atividade transportadora pela mão do seu pai, José Paulo Duarte, que começou a empresa em 1946. Hoje a transportadora é uma referência a nível europeu nos transportes de líquidos alimentares e mercadorias perigosas a granel, primando pelos mais altos padrões de qua-lidade e segurança. Atualmente, o Grupo Paulo Duarte possui 550 viaturas e mais de 550 reboques e conta com cer-ca de 800 colaboradores.

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22 DE JANEIRO DE 2016p.22 EMPRESAS & MERCADOS

ALBERTINO NUNES |PRESIDENTE DA ADEGA COOPERATIVA DO FUNDÃO

Uma aposta forte na internacionalização dos vinhos da Adega Cooperativa do Fundão em que a exportação já representa 30% do volume das vendas!

A iniciativa de 30 viticultores da região da Cova da Beira em se constituir em cooperativa data de 1949, já lá vão 65 anos. Presentemente, a cooperativa conta com mil associados que se distribuem pelos concelhos de Penamacor, Fundão, Castelo Branco, Idanha a Nova, Proença a Nova e Proença a Velha, ou seja, todos os concelhos do distrito de Castelo Branco, exceto Covilhã e Belmonte. Com as suas uvas distribuídas por mais de 1500 hectares, em média, produzem 4 milhões de kg de uvas que, depois da vinificação, dão excelentes e premiados vinhos.

Albertino Nunes é o presidente desta ade-ga, com vários mandatos, estando neste últi-mo desde 2005 e conta já com mais anos de residência na cidade do Fundão que do seu concelho de Tomar onde nasceu. Na Adega, como refere em lugares de direção, “já cá ando desde 1992”. Viticultor e tendo cursado até ao 3º ano de engenharia técnica e civil, em Lisboa, trabalhando de dia como carpin-teiro e estudando de noite, com largos anos de experiência na Adega, fala da mesma e regista a sua evolução que se mistura com a própria história do Fundão.

Quando aqui chegou há 53 anos e ten-do hoje 76 anos de idade, o Fundão não era a cidade que hoje conhecemos, sendo que a única coisa que não mudou e não muda é este microclima de uma região abençoada por Deus e que no campo vitícola proporcio-na que se produzam uvas que não são tão atacadas pelas pragas do míldio e oídio e que bastam dois tratamentos fitossanitários, em média, por ano para se ter uvas que se até se poderiam vir a considerar biológicas.

O “fator altitude” faz com que aqui sur-jam “dos melhores brancos do país”. O ou-tro segredo encontra-se no bem fazer e na experiência dos sócios, regista-nos o dinâ-mico presidente da adega. “De ano para ano nunca tivemos problemas de qualidade, re-gista Albertino Nunes, e as quantidades por vezes é que baixam, consoante as colheitas por épocas, mas a qualidade das uvas recebi-

das dos nossos associados permite-nos fazer excelentes vinhos que todos os anos ganham prémios e que gozam de grande popularida-de, não apenas em solo nacional, já que os mesmos se encontram de Norte a Sul,mas também nos mercados internacionais”. Na verdade, os vinhos da Adega do Fundão vão para o mundo, onde o mercado da saudade em muito contribuiu, mas há muito que os consumidores dos mercados de exportação são os naturais dos próprios países.

A presença em feiras internacionais e no SISAB PORTUGAL, através da Comissão Viti-vinícola da Beira Interior, tem em muito con-tribuído para a divulgação e promoção dos vi-nhos da Adega Cooperativa do Fundão.

A capacidade instalada da adega para transformação de uvas é muito maior que as uvas que presentemente recebem e defen-de e bem o alargamento da área social da adega para poderem vir a receber mais só-cios e mais uvas desta região, já que os pré-mios conquistados atestam bem que aqui se produzem excelentes vinhos. Com as uvas em dia pagas aos associados, os vinhos da Adega Cooperativa do Fundão já chegaram à China e com volumes de encomendas interessantes.

30% DOS VINHOS PRODUZIDOS DA ADEGA DO FUNDÃO SÃO EXPORTADOS

A direção da Adega do Fundão tem feito da internacionalização dos seus vinhos uma

Terra onde a imponência das Serras da Estrela e da Gardunha se esbate por entre al-deias de sonho e cerejeiras em flor, numa das planuras mais ricas e formosas de Portugal..

A imponência natural da Serra da Gardu-nha não é apenas uma notável visão do gra-nito. São belos cenários de socalcos cruza-dos por calçadas romanas. São recantos de arvoredos seculares de onde brotam fontes e águas que todos apreciam. São os tesou-ros medievais da Aldeia Histórica de Castelo Novo e são as feições artísticas e monumen-

tais da vila de Alpedrinha.GASTRONOMIA

O concelho do Fundão possui uma gas-tronomia muito rica, cheia de tradições e his-tória. Dos enchidos à doçaria, é fácil apreciar os bons pratos da terra. Para os amantes de uma boa mesa apresentam-se, em seguida, sugestões de alguns dos pratos típicos. Como pratos principais temos: migas de grão, mi-gas de vinha de alho, ensopado de borrego, peixinhos da horta (feijão verde albardado), feijoada de lebre, beringelas com ovos, ar-

roz de tordos, arroz à moda do Fundão (ar-roz de espigos), bacalhão à lagareiro, cabri-to assado e borrego assado; no que respeita a enchidos: chouriças, farinheiras, morcelas, mouros e buchos e, por fim, como não po-dia deixar de ser os doces tradicionais: arroz doce, pão-de-ló, pão leve, bolo finto, bolos de soda, bolo de sementinhas, esquecidos, biscoitos, borrachões, broas de leite, cava-cas, tigelada e leite creme e, claro, sempre acompanhados pelos excelentes vinhos da Adega do Fundão, recomenda-se!

A cidade do Fundão é reconhecida como núcleo urbano desde há mais de oito séculos.

Entre os séculos XVI e XVIII, o Fundão vi-veu um dos períodos mais prósperos da sua história, aquando da expansão mercantil dos panos e da indústria dos lanifícios, a que não foi alheia a chegada no final do século XV de numerosas famílias judaicas de Espanha e, mais tarde, as iniciativas do Conde da Eri-ceira e do Marquês de Pombal que aqui fun-dou uma Fábrica Real, no edifício que é hoje a Câmara Municipal. António Freitas

das suas grandes prioridades e, refere Alber-tino Nunes, “neste momento, estamos a ex-portar quantidades muito razoáveis para pa-íses como a França, Polónia, Suíça, China, Guiné-Bissau, Angola, Brasil e São Tomé e Príncipe. Os mercados internacionais são muito importantes para nós, pois garantem--nos pagamentos na entrega da mercadoria, o que por vezes não se verifica com um ou outro agente económico em Portugal”.

Outros mercados internacionais estão em vista e as propostas a parecerias internacio-nais estão abertas, já que no catálogo da Adega do Fundão encontramos grande leque de vinhos premiados e isso reforça e bem a excelência dos vinhos aqui produzidos.

Apesar das dificuldades do mercado na-cional em absorver os vinhos que em Por-tugal se produzem e de alguma invasão de vinhos estrangeiros a preços concorrenciais arrasadores e de um mercado paralelo que todos sabemos que existe, mas cuja fiscaliza-ção e controle compete às autoridades pela qualidade, os vinhos aqui vinificados têm-se afirmado e com sucesso e ao longo de seis décadas e meia.

A direção da Adega do Fundão aposta num crescimento sustentado e vai entretan-to fazer obras, dotando as mesmas instala-ções - mesmo no centro do Fundão - como um património a visitar inserido na Rota dos Vinhos e no enoturismo desta região. Nos vinhos tintos, no mercado podemos encon-

Fundão: recanto fértil e capital secular da Cova da Beira

Albertino Nunes, presidente da Adega Cooperativa do Fundão

trar as marcas com a chancela da Adega Co-operativa do Fundão: Oito Bicas, Alcambar, Covas da beira, Pedra D´Hera, Alpedrinha, Praça Nova Reserva, Praça Nova Garrafeira e Fundanus Prestige. Nos brancos, o Oito Bi-cas, Alcambar, Cova da Beira e Pedra d´Hera e Alpedrinha. Produz ainda um jeropiga – Al-pedrada e Rosé Coca da Beira Rosé. Uma aguardente envelhecida Praça Velha reforça a oferta.

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22 DE JANEIRO DE 2016 p.23

Uma aposta forte na internacionalização dos vinhos da Adega Cooperativa do Fundão em que a exportação já representa 30% do volume das vendas!

EMPRESAS & MERCADOS

RICARDO CLODE BOTELHEIRO, ENÓLOGO NA ADEGA DO FUNDÃO

Ricardo Clode Botelheiro, é o enólogo na Adega do Fundão desde Março de 2014 que nos fala dos vinhos e de si:

“O Instituto Superior de Agronomia foi determinante na mi-nha forma de estar neste mundo do vinho, a teoria, as tecnolo-gias apreendidas e a prática através dos estágios de vindima e profissionais fizeram-me conhecer o mundo do vinho e a vontade de querer saber mais.

Tive a sorte de trabalhar em várias regiões do país como a Bairrada, Colares, Alentejo e Beira Interior onde trabalhei com mestres com que tive e ainda tenho a sorte de conviver e apren-der. Como experiência internacional fiz estágios de vindima nos EUA e no Chile, fundamentais para saber o que se faz lá fora, e importantes no crescimento pessoal.

Nos dias de hoje faço questão de todos os anos visitar no-vas regiões vitivinícolas espalhadas por esse mundo e a Adega do Fundão reconhece essa necessidade e incentiva o conhecimen-to e aprendizagem, pois num mundo tão competitivo temos que procurar estar na vanguarda do conhecimento.

VINHOS ÚNICOS, ELEGANTES E SEMPRE GASTRONÓMICOS. Os vinhos da Adega do Fundão são genuínos, com massas

muito heterogéneas. Quentes e muito frutados quando originários do sul da Gardunha e elegantes e discretos na Cova da Beira.

A maior aposta da Adega do Fundão continua a ser nas cas-tas regionais. No caso dos brancos com a Fonte Cal, Síria e Fer-não Pires normalmente muito bem acompanhadas com o Arinto. São vinhos frescos e aromáticos com uma notável capacidade de envelhecimento.

Nas castas tintas mais uma vez as castas regionais continu-am a ser aposta forte como a Trincadeira, Rufete, Bastardo, Ma-rufo, Jaen seguidas pela Tinta Roriz e Touriga Nacional.

Vinhos únicos, elegantes e sempre gastronómicos. Os vinhos da Adega do Fundão têm como bandeira a baixíssi-

ma aplicação de fitofármacos nas vinhas já que se contam pelos dedos das mãos os anos com mais que duas aplicações.”

“Os vinhos da Adega do Fundão são genuínos, com massas muito heterogéneas”

Albertino Nunes, presidente da Adega Cooperativa do Fundão PUB

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22 DE JANEIRO DE 2016p.24 EMPRESAS & MERCADOSBEIRA VICENTE SA

É nesta natureza virgem da Serra da Gardunha que nascem as Águas Fonte da Fraga

A Serra da Gardunha é um braço da Serra da Estrela com cerca de 20 Km de com-primento e 1224 metros de altura, dominado pelo granito. Situa-se na Beira Baixa, no maciço de Entre Douro e Tejo e entre os rios Pônsul e Zêzere. Nela nasce o rio Ocresa, um dos afluentes do Tejo. A Gardunha continua a ser um refúgio de beleza ímpar, onde a natureza intocada abraça o amanhecer e o crepúsculo.

“Àguas da Fonte da Fraga da nascente para a mesa do consumidor”

As sombras e a água abundante são elementos que não faltam nes-ta magnífica serra.

Esta zona é a capital da pro-dução de cereja em Portugal, com destaque para as freguesias de Al-congosta e Souto da Casa. Na encosta sul, na Freguesia de São Vicente da Beira existe uma explo-ração de água de nascente natu-ral - as Águas Fonte da Fraga que fomos conhecer. Brotando de nas-centes naturais e de furos e capta-da a 800 metros de altitude, sem tratamento algum, ou contacto com

quem a engarrafa, as águas Fonte da Fraga, são conduzidas por gravi-dade, desde a captação, à moderna unidade de engarrafamento que se situam no Casal da Fraga, mesmo à “beirinha” da outrora vila e hoje pitoresca freguesia de S. Vicente da Beira. Aqui nasceu há 86 anos José Francisco Matias que aqui criou os seus oito filhos, os educou e ensi-nou a amar as coisas da terra e o que ela oferecia. De negociante de fruta que levava para o mercado da Covilhã a produtor que transporta-va para Lisboa e a industrial da

panificação. A água que nascia nos 100 hectares que possuí na Serra da Gardunha aos quais juntou mais 100 adquiridos já pela empresa prefaz os 200 hectares, foram este motivo e o conselho dos amigos que o levaram a apostar na comerciali-zação e na criação de uma marca que não podia ter outro nome FON-TE DA FRAGA, a fonte a nascente – e a Fraga a aldeia. Assiste apesar de muitas dificuldades, com suces-so ao crescimento da empresa, que hoje continua a ser uma empresa com alguma componente familiar onde seus filhos são responsáveis pela parte financeira e direcção co-mercial, e o seu neto por toda a àrea de engarrafamento, neste momento sociedade anónima, em que o ac-cionista Fernando Rodrigues, com a maioria do capital presentemen-te, colocam na mesa do consumi-dor uma água de nascente, natural, bacteriologicamente pura, sem tra-tamento algum e que se bebe com prazer.

Luís José Matias, director co-mercial fala-nos da Beira Vicente SA e das Águas Fonte da Fraga.

MP- Tudo isto começou com seu pai. Conte-nos um pouco a históriaLuís José Matias – Começou com meu pai em 1999 em que come-çamos a construção desta unida-de de engarrafmento que em 2006 foi alvo de grandes investimentos de modernização. A história, tudo começou na fruta em que o meu pai comprava pomares de fruta e a ia vender ao mercado da Covilhã, montou depois uma padaria e com a evolução do tempo, plantou po-mares seus, e para regar as árvo-res comprou 100 hectares na Serra da Gardunha. Aos fins de semana, os amigos que vinham aqui con-viver, entre eles o antigo provedor da Santa Casa da Misericórdia da

Covilhã e que bebiam a água, não se cansado de elogiar as suas pro-priedades e qualidade. Devido às nascentes que tinha e a abundân-cia da mesma, começaram a ali-ciá-lo para começar a comercializar a mesma. Começaram as análises, todo o processo, de licenciamento que é complexo e nasceu a FONTE DA FRAGA. Nasce a empresa Bei-ra Vicente que nasceu sempre com a família como maior acionista e em 2001 a mesma marca e a água aparece junto do consumidor. Rapi-damente a mesma, foi aceite pelo consumidor e o Lidl na altura come-çou a comercializar a nossa água. Hoje a empresa tem um maior ac-cionista no seu seio, Sr. Fernando Rodrigues que é uma referência a nível de águas de mesa e termais em Portugal e temos produto nes-te caso água em abundância, com alta qualidade, pura, que vende-mos e que podemos aumentar em muito mais a nossa capacidade de produção, costuma-se dizer que o principal bem das empresas são as pessoas mas aqui o principal bem vem da natureza.

MP- Embalam mono produto?Luís José Matias- Sim e chegamos ao consumidor em garrafas a 0,33, meio litro, 1, litro, 5 litros e 6 li-tros. Estamos numa zona privilegia-da e temos água de alta qualidade. A aceitação do público consumi-dor que através dos nossos parcei-ros distribuidores tem alavancado a empresa que emprega 40 pesso-as e estamos assim muito bem im-

plantados no mercado nacional. A implantação da marca sustentou o crescimento desta empresa e hoje já os consideramos parceiros do negócio. Como sabe estamos num mercado concorrencial muito forte devido à industria cervejeira e que embala águas mas o nosso futuro

(...) Procuramos parceiros de negócio que apostem na qualidade das águas(...)

(...) o nosso futuro passa por passar a mensagem da origem da nossa agua e pela valorização deste património na serra da Gardunha onde a água nasce (...)

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Sempre na linha da frente com o que temos de melhor...

Desde 12 de janeiro de 1970

Diretor: Maria da Conceição Granado de Almeida www.mundoportugues.org [email protected]

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p. 1

5PORTUGAL DE BRANCOCaíu o primeiro nevão e fechou estradas e escolas...

LUSO DESCENDENTE DAVID NUNESÉ o novo presidente da sub- comissão para o Comércio no Congresso norte-americano

p. 8

REP. CHECA atrai estudantes e jovens trabalhadores portuguesesCANADÁ portugueses estão integrados e têm “papel político”...MOÇAMBIQUE Portugal trabalha com autoridades locais para resolver problemas de vistos

PELO MUNDO

Vinhos premiados querem exportar mais para mercados internacionais

EMPRESAS & MERCADOSp. 16 e 20 p. 11 e 15

NÚMERO DE FUTEBOLISTAS PORTUGUESES QUE EMIGRARAM AUMENTOU p. 2, 3 e 4

O herói do 25 de Novembro de 1975 em Portugal

MORREU JAIME NEVESp. 9

ACIDENTE FERROVIÁRIOp. 10

Um autêntico milagre não ter havido vítimas mortais

edição 1688 1,20 Euro

1 de Fevereiro 2013 a 7 de Fevereiro de 2013

Portugal continua a exportar craques para todo o mundo

p. 7DESPISTE DE AUTOCARRO NA SERTÃ

11 mortos e 33 feridos seis dos quais com gravidade

A região do “Dão” tem de voltar a estar na moda

ADEGA DE PALMELA

UDACA- Maria Mendes apresenta novo trabalho no Brasil- Marco Rodrigues leva fado à Índia

MÚSICA PORTUGUESA p. 32

Page 5: ENTREVISTA COM JOSÉ PAULO DUARTE, PRESIDENTE DO … · O meu pai estranhou que eu viesse estudar esta área para Lisboa, uma vez que não tínhamos terras. En - ... a cooperativa

22 DE JANEIRO DE 2016 p.25EMPRESAS & MERCADOS

É nesta natureza virgem da Serra da Gardunha que nascem as Águas Fonte da Fraga

PU

B

passa por passar a mensagem da origem da nossa agua e pela valorização deste patrimó-nio na serra da gardunha onde a água nasce.

MP- Para além do mercado nacional a àgua Fonte da Fraga é exportada? Para que mercados?

(...) o nosso futuro passa por passar a mensagem da origem da nossa agua e pela valorização deste património na serra da Gardunha onde a água nasce (...)

Luís José Matias – Exportamos para Fran-ça, Bélgica, Londres, Alemanha, Cabo Ver-de, estamos em Macau há muitos anos, An-gola, China e Espanha com garrafões de 18 litros para o ramo dos escritórios. O cresci-mento da empresa passa pela exportação e estamos a trabalhar em todas as vertentes e a tentar aproveitar as oportunidades que nos surgem, a trabalhar a 30% da capacidade de captação e engarrafamento. Procuramos parceiros de negócio que apostem na quali-dade das águas.

A nossa responsabilidade social, passa pelas 40 pessoas, aqui da aldeia que empre-gamos, é aqui que a água nasce, que é em-balada sem contacto com os operadores, em sistema automizado e precisamos dos funcio-nários para alimentarem as máquinas que desde a feitura da embalagem, por extrusão ao seu enchimento de água pura e expedição. Andamos na casa dos 60 milhões de litros de água que embalamos e reafirmo que uma coisa é captar água na Serra da Gardunha, outra é captar noutros pontos que não tem uma natureza virgem, como aqui se encon-tra. Temos qualidade e temos preço e convi-damos o consumidor a apreciar a qualidade destas águas da Fonte da Fraga.

MP- O FuturoLuís José Matias – Embora a Empresa já seja certificada vamos iniciar agora para ou-tra fase de certificação mais avançada e con-tinuar a trabalhar para criar condições para um crescimento sustentado nunca fechando oportunidades de negócio que possam con-tribuir para o desenvolvimento da Empresa!

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