entrevista – palmÉrio dÓria “sarney é uma piada de...

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“Sarney é uma piada de mau gosto” Jornalista chama FHC de Fernando II. Collor era o Fernando I Escritor diz que tucanos queriam privatizar Petrobras, CEF e BB Ele diz que José Dirceu é inocente e vê show e fantasia do STF Autor lembra que FHC traiu Marconi e Iris derrubou Itamar Franco LEIA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA FHC e Marconi Perillo Por Iris Rezende, em 1998, Fernan- do Henrique Cardoso traiu o jovem tucano Marconi Perillo. Iris mandou uma tropa e choque para desmontar a convenção nacional do PMDB, que poderia homologar a candidatura do [ex-presidente da República e pai do Plano Real] Itamar Franco. Se ele, Ita- mar Franco, fosse candidato, FHC po- deria não ser reeleito. Ele é o verda- deiro pai do Plano Real e podia mu- dar o jogo. O que houve foi um aten- tado com a convenção, a democracia. Brasil pós-FHC Hoje em dia temos a exata noção de que o Brasil saiu pior dos anos Fer- nando Henrique Cardoso [1995-1998 e 1999 -2002]. Se ainda vivêssemos sob a hegemonia tucana, por exem- plo, não existiriam os Brics. Existiriam apenas os Rics... De 2003 a 2013, o Brasil ganhou projeção mundial, su- biu no ranking mundial das economi- as e virou protagonista. Pior das privatizações O que poderia ter sido mais escan- daloso e que não ocorreu, porque eles não conseguiram fazer, seriam as pri- vatizações da Petrobras, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal. Imagino que, com os tucanos no po- der, não teríamos, hoje, nem a Petro- bras... Era apenas uma etapa para a venda até do mastro da bandeira na- cional (risos). Mírian Dutra A mídia nacional, os grandes con- glomerados de comunicação escon- deram o caso extraconjugal de Fer- nando Henrique Cardoso porque ela tinha a clara noção de que ele [FHC] era o Fernando II, a conti- nuação do Fernando I, Fer- nando Collor, que havia re- nunciado após a aprovação do impeachment, em 1992. FHC conse- guiu realizar to- da a agenda que Fer- nando I não havia consegui- do fazer. Esconder um caso extraconjugal, um suposto filho fora do casamento [com a jornalista Míri- an Dutra], que não era, na verdade, nem dele, assim como o Plano Real, cuja paternidade é de Itamar Franco, eram detalhes. Plano Real Não é verdade que o Plano Real ga- rantiu a estabilidade econômica. Com Fernando Henrique Cardoso, o Brasil quebrou três vezes, ficou nas mãos do Fundo Monetário Internaci- onal (FMI) e do Tesouro Americano. O presidente do Brasil, de fato, era Robert Rubin, homem forte do Tesouro dos Estados Unidos. Desestatizações O estupro de Fernan- do II [FHC] ocorreu em seu primeiro mandato [1995-1998]. O segundo mandato ficou por con- ta e risco do Fundo Monetário Internacio- nal. Hoje em dia, eles [FMI] tentam se me- ter, mas soa como piada. José Sarney Fernando Henri- que Cardoso é uma espécie de José Sar- ney barroco. Numa feliz definição de Mil- l ô r Fernandes. Sarney é apenas barroco. É uma piada de mau gosto. Um presi- dente acidental. Uma obra do Hospi- tal de Base de Brasília... Leilões e concessões Leilões e concessões [adotados sob a era Dilma Rousseff] não podem ser comparados com a privataria tucana. Não. Não dá para confundir com a privataria [mistura de privatização com pirataria, termo criado pelo jor- nalista Elio Gaspari], que grassou no governo de Fernando Henrique Car- doso, o príncipe dos sociólogos. FHC “privatizou”o céu, o subsolo e os seus piratas iriam, se estivessem no poder, deitar e rolar com o mar. [referência ao pré-sal]. É diferente de partilha e concessão. AP 470 Não há provas contra o ex-ministro José Dirceu. Ele é inocente. Concordo com o jornalista Raimundo Rodrigues Pereira, que deveria ganhar o Prêmio Esso por sua série de reportagens so- bre o caso [escândalo do suposto mensalão]. A fantasia, o show do Su- premo Tribunal Federal (STF) está sendo desmontado. Mas, as compa- rações são inevitáveis... O jornalista Elio Gaspari diz que o mensalão do PT perto do escândalo do ‘propino- duto’ tucano em São Paulo é boba- gem... Manifestações de rua O que sobrou delas, hoje, é apenas os black blocks. À época [maio, junho e julho], fiquei apa- vorado. Vi a glória do ‘Movimen- to Cansei’. Ele conseguiu massa de manobra. Nunca tinha visto multidões à direita (risos) Projeto de novo livro Escrevo, hoje, um livro sobre a di- tadura civil e militar no Brasil [1964- 1985]. O seu impacto nas áreas de Cultura e Educa- ção e personagens como Paulo Freire, Jo- sué de Castro e Darcy Ribeiro. O que anda lendo Leio, hoje, Stanislaw Ponte Preta, as suas obras reunidas em um só vo- lume. Uma maravilha. Onde trabalhou Ex, Coojornal, Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, Placar, revista Sexy, Caros Amigos... Hoje Faço carreira solo. Idade 64 anos. ENTREVIST ENTREVIST A – P A – P ALMÉRIO DÓRIA ALMÉRIO DÓRIA “Para a mídia, esconder um caso extraconjugal era um detalhe” A os 64 anos de idade, com passagens pelas re- dações de Ex, Coojor- nal, Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil, o jornalista e escritor Palmério Dória define o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso (PSDB), não como so- ciólogo, mas como “príncipe da privataria”. Mais: acusa o tuca- nato de tentar vender, à época de sua hegemonia [1995-1998 e 1999-2002], Petrobras, Banco do Brasil (BB) e Caixa Econômi- ca Federal (CEF). Ele afirma que as operações privatizantes eram blindadas pelos grandes conglomerados de comunica- ção no Brasil. “Esconder um caso extraconjugal ou um su- posto filho fora do casamento com Ruth Cardoso [Com a jor- nalista Mírian Dutra] era ape- nas um detalhe”, diz. Segundo ele, o ex-ministro da Justiça Iris Rezende Machado (PMDB-GO) teria enviado uma tropa de choque violenta a Bra- sília, capital da República, para desmontar a convenção nacio- nal do PMDB que poderia ho- mologar a candidatura de Ita- mar Franco, a quem classifica como o verdadeiro “Pai do Pla- no Real”. Itamar Franco poderia impedir que FHC fosse reeleito, acredita. O príncipe da privata- ria teria traído também, nas elei- ções de 1998, ao governo do Es- tado de Goiás, o jovem tucano Marconi Perillo, que acabaria derrotando o golias evangélico do PMDB, queridinho então do Palácio do Planalto. O autor ob- serva que o Plano Real não ga- rantiu a estabilidade econômica do Brasil. “Tanto é que o País quebrou três vezes com FHC”, dispara. ERA SARNEY Cáustico, ele, que é autor de Honoráveis Bandidos – Um retra- to do Brasil na era Sarney, Gera- ção Editorial, frisa que o atual se- nador José Sarney (PMDB) é uma “piada de mau gosto”. “Um presidente acidental. Uma obra do Hospital de Base de Brasília...”, ironiza. Palmério Dória prepara, hoje, um livro sobre a ditadura civil e militar (1964-1985) e o seu impacto nas áreas de Educação e Cultura e o papel de personagens como Paulo Freire, Josué de Castro e Darcy Ribeiro. Para ele, o jorna- lista Raimundo Rodrigues Perei- ra, ex-Opinião e ex-Movimento, está correto. O ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu de Oli- veira e Silva é inocente, fuzila. Ele se refere à Ação Penal 470 [men- salão]. O show do Supremo Tri- bunal Federal está sendo des- montado, destaca. Renato Dias Da editoria de POLÍTICA PERFIL Nome: Palmério Dória Idade: 64 anos Profissão: Jornalista e escritor Livros: O Príncipe da Privataria, Honoráveis Bandidos, A Guerrilha do Araguaia, A Candidata que virou picolé, Evasão de Privacidade, Mataram o presidente Redações: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, JB, Ex, Coojornal, Caros Amigos 11 Diário da Manhã POLÍTICA & JUSTIÇA GOIÂNIA, DOMINGO, 3 DE NOVEMBRO DE 2013

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Page 1: ENTREVISTA – PALMÉRIO DÓRIA “Sarney é uma piada de …geracaoeditorial.com.br/blog/wp-content/uploads/2013/11/11-Politica.pdf“Sarney é uma piada de mau gosto” lJornalista

“Sarney é uma piada de mau gosto”ll Jornalista chama FHC deFernando II. Collor era o Fernando I

ll Escritor diz que tucanos queriamprivatizar Petrobras, CEF e BB

ll Ele diz que José Dirceu é inocente evê show e fantasia do STF

ll Autor lembra que FHC traiuMarconi e Iris derrubou Itamar Franco

LEIA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA

44FHC e Marconi PerilloPor Iris Rezende, em 1998, Fernan-

do Henrique Cardoso traiu o jovemtucano Marconi Perillo. Iris mandouuma tropa e choque para desmontara convenção nacional do PMDB, quepoderia homologar a candidatura do[ex-presidente da República e pai doPlano Real] Itamar Franco. Se ele, Ita-mar Franco, fosse candidato, FHC po-deria não ser reeleito. Ele é o verda-deiro pai do Plano Real e podia mu-dar o jogo. O que houve foi um aten-tado com a convenção, a democracia.

44Brasil pós-FHCHoje em dia temos a exata noção

de que o Brasil saiu pior dos anos Fer-nando Henrique Cardoso [1995-1998e 1999 -2002]. Se ainda vivêssemossob a hegemonia tucana, por exem-plo, não existiriam os Brics. Existiriamapenas os Rics... De 2003 a 2013, oBrasil ganhou projeção mundial, su-biu no ranking mundial das economi-as e virou protagonista.

44Pior das privatizaçõesO que poderia ter sido mais escan-

daloso e que não ocorreu, porque elesnão conseguiram fazer, seriam as pri-vatizações da Petrobras, Banco doBrasil e Caixa Econômica Federal.Imagino que, com os tucanos no po-der, não teríamos, hoje, nem a Petro-bras... Era apenas uma etapa para avenda até do mastro da bandeira na-cional (risos).

44Mírian DutraA mídia nacional, os grandes con-

glomerados de comunicação escon-deram o caso extraconjugal de Fer-nando Henrique Cardoso porqueela tinha a clara noção de que ele[FHC] era o Fernando II, a conti-nuação do Fernando I, Fer-nando Collor, que havia re-nunciado após a aprovaçãodo impeachment, em1992. FHC conse-guiu realizar to-da a agendaque Fer-nando Inão haviaconsegui-do fazer.Esconderum caso

extraconjugal, um suposto filho forado casamento [com a jornalista Míri-an Dutra], que não era, na verdade,nem dele, assim como o Plano Real,cuja paternidade é de Itamar Franco,eram detalhes.

44Plano RealNão é verdade que o Plano Real ga-

rantiu a estabilidade econômica.Com Fernando Henrique Cardoso, oBrasil quebrou três vezes, ficou nasmãos do Fundo Monetário Internaci-onal (FMI) e do Tesouro Americano.O presidente do Brasil, de fato, eraRobert Rubin, homem forte doTesouro dos Estados Unidos.

44DesestatizaçõesO estupro de Fernan-

do II [FHC] ocorreu emseu primeiro mandato[1995-1998]. O segundomandato ficou por con-ta e risco do FundoMonetário Internacio-nal. Hoje em dia, eles[FMI] tentam se me-ter, mas soa comopiada.

44José SarneyFernando Henri-

que Cardoso é umaespécie de José Sar-ney barroco. Numafeliz definição de Mil-l ô r

Fernandes. Sarney é apenas barroco.É uma piada de mau gosto. Um presi-dente acidental. Uma obra do Hospi-tal de Base de Brasília...

44Leilões e concessõesLeilões e concessões [adotados sob

a era Dilma Rousseff] não podem sercomparados com a privataria tucana.Não. Não dá para confundir com aprivataria [mistura de privatizaçãocom pirataria, termo criado pelo jor-nalista Elio Gaspari], que grassou nogoverno de Fernando Henrique Car-doso, o príncipe dos sociólogos. FHC

“privatizou”o céu, o subsolo e os seuspiratas iriam, se estivessem no poder,deitar e rolar com o mar. [referênciaao pré-sal]. É diferente de partilha econcessão.

44AP 470Não há provas contra o ex-ministro

José Dirceu. Ele é inocente. Concordocom o jornalista Raimundo RodriguesPereira, que deveria ganhar o PrêmioEsso por sua série de reportagens so-bre o caso [escândalo do supostomensalão]. A fantasia, o show do Su-premo Tribunal Federal (STF) estásendo desmontado. Mas, as compa-rações são inevitáveis... O jornalistaElio Gaspari diz que o mensalão do

PT perto do escândalo do ‘propino-duto’ tucano em São Paulo é boba-

gem...

44Manifestações de ruaO que sobrou delas, hoje, é

apenas os black blocks. À época[maio, junho e julho], fiquei apa-vorado. Vi a glória do ‘Movimen-

to Cansei’. Ele conseguiu massade manobra. Nunca tinha vistomultidões à direita (risos)

44Projeto de novo livroEscrevo, hoje, um livro sobre a di-

tadura civil e militar no Brasil [1964-1985]. O seu impacto nas

áreas de Cultura eEduca-

ção e

personagens como Paulo Freire, Jo-sué de Castro e Darcy Ribeiro.

44O que anda lendoLeio, hoje, Stanislaw Ponte Preta,

as suas obras reunidas em um só vo-lume. Uma maravilha.

44Onde trabalhouEx, Coojornal, Estado de S. Paulo,

Folha de S. Paulo, Jornal do Brasil,Placar, revista Sexy, Caros Amigos...

44HojeFaço carreira solo.

44Idade64 anos.

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ENTREVISTENTREVISTA – PA – PALMÉRIO DÓRIAALMÉRIO DÓRIA

“Para a mídia, esconder um caso extraconjugal era um detalhe”

A os 64 anos de idade,com passagens pelas re-dações de Ex, Coojor-

nal, Estado de S. Paulo, Folhade S. Paulo, Jornal do Brasil, ojornalista e escritor PalmérioDória define o ex-presidente daRepública Fernando HenriqueCardoso (PSDB), não como so-ciólogo, mas como “príncipe daprivataria”. Mais: acusa o tuca-nato de tentar vender, à épocade sua hegemonia [1995-1998 e1999-2002], Petrobras, Banco

do Brasil (BB) e Caixa Econômi-ca Federal (CEF). Ele afirmaque as operações privatizanteseram blindadas pelos grandesconglomerados de comunica-ção no Brasil. “Esconder umcaso extraconjugal ou um su-posto filho fora do casamentocom Ruth Cardoso [Com a jor-nalista Mírian Dutra] era ape-nas um detalhe”, diz.

Segundo ele, o ex-ministro daJustiça Iris Rezende Machado(PMDB-GO) teria enviado umatropa de choque violenta a Bra-sília, capital da República, paradesmontar a convenção nacio-nal do PMDB que poderia ho-mologar a candidatura de Ita-mar Franco, a quem classificacomo o verdadeiro “Pai do Pla-

no Real”. Itamar Franco poderiaimpedir que FHC fosse reeleito,acredita. O príncipe da privata-ria teria traído também, nas elei-ções de 1998, ao governo do Es-tado de Goiás, o jovem tucanoMarconi Perillo, que acabariaderrotando o golias evangélicodo PMDB, queridinho então doPalácio do Planalto. O autor ob-serva que o Plano Real não ga-rantiu a estabilidade econômicado Brasil. “Tanto é que o Paísquebrou três vezes com FHC”,dispara.

ERA SARNEYCáustico, ele, que é autor de

Honoráveis Bandidos – Um retra-to do Brasil na era Sarney, Gera-ção Editorial, frisa que o atual se-

nador José Sarney (PMDB) éuma “piada de mau gosto”.“Um presidente acidental.Uma obra do Hospital de Basede Brasília...”, ironiza. PalmérioDória prepara, hoje, um livrosobre a ditadura civil e militar(1964-1985) e o seu impacto nasáreas de Educação e Cultura e opapel de personagens comoPaulo Freire, Josué de Castro eDarcy Ribeiro. Para ele, o jorna-lista Raimundo Rodrigues Perei-ra, ex-Opinião e ex-Movimento,está correto. O ex-ministro-chefeda Casa Civil José Dirceu de Oli-veira e Silva é inocente, fuzila. Elese refere à Ação Penal 470 [men-salão]. O show do Supremo Tri-bunal Federal está sendo des-montado, destaca.

RenatoDiasDa editoria dePOLÍTICA

PERFIL

Nome: Palmério Dória

Idade: 64 anos

Profissão: Jornalista e escritor

Livros: O Príncipe daPrivataria, HonoráveisBandidos, A Guerrilha doAraguaia, A Candidata quevirou picolé, Evasão dePrivacidade, Mataram opresidente

Redações: Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo, JB, Ex, Coojornal,Caros Amigos

11Diário da Manhã POLÍTICA & JUSTIÇA GOIÂNIA, DOMINGO, 3 DE NOVEMBRO DE 2013