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Acolher e Comungar Entregar-se,

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Acolher e ComungarEntregar-se,

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©SECRETARIADO NACIONAL

DO APOSTOLADO DA ORAÇÃORua S. Barnabé, 32 – 4710-309 BRAGA | Tel.: 253 689 443

www.redemundialdeoracaodopapa.pt | [email protected]

Imagem da CapaTeresa Peña, La Última Cena [interpretação], Catedral de Burgos

CapaMiguel A. Rodrigues

IlustraçõesMargarida Alvim

RevisãoInês Pereira Coutinho

Impressão e AcabamentosGráfica Almondina, Progresso e Vida, Lda.

Depósito Legal nº?????

ISBN978-972-39-0889-3

1ª ediçãoOutubro de 2013

4ª edição(1ª edição na Editorial AO)

Março de 2020

Com todas as licenças necessárias

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VASCO PINTO DE MAGALHÃES, S.J.

Acolher e ComungarEntregar-se,

8 dias de Exercícios Espirituais inacianosseguindo o evangelista S. João

ou 40 meditações para fazer Exercícios Espirituais na vida corrente

4ª EDIÇÃO

Ilustrações de Margarida Alvim

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Tudo é Graçae ninguém é alguém sozinho.

A todos aqueles que desde muito cedome deram Exercícios Espirituais.

Agradeçoàqueles e àquelas que, partilhando as suas vidas,

me têm aberto para insondáveis e sempre novos segredosda espiritualidade inaciana.

E um especial abraçoà comunidade de Coimbra que há mais de trinta anos

foi, para mim, verdadeira escola:ao Pe. Alberto de Brito,

ao Pe. António Vaz Pinto,ao Ir. José Ribeiro.

Deus vos dê a sua Alegria.

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Índice

Uma janela aberta para a Ressurreição 15Pedro Miguel Lamet, s.j.

Entregar-se, acolher e comungar 19Vasco Pinto de Magalhães, s.j.

O título 19Agradecimento 20Modo de usar 20Modo de proceder 21Textos de apoio inacianos 22Alguns avisos 22

INTRODUÇÃO: DISPOR-SE E PREPARAR-SE 25

Disposições: A vida numa mão e o Evangelho na outra 25

Exercícios preparatórios 25

Meditação 1. “Aterrar ou levantar voo” 25

Meditação 2. Três ismos enganadores da nossa cultura: partir da realidade 30

1º DIA.PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS 33

Manhã: Renovar a nossa identidade cristã. Estar no mundo, sem ser do mundo, para transformar o mundo 33

Meditação 1. Primeiros discípulos. Ser chamados a formar comunidade (João 1, 35-51) 35

Meditação 2. Bodas de Caná. O melhor vem no fim. Não fazer como toda a gente (João 2, 1-12) 37

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ENTREGAR-SE, ACOLHER E COMUNGAR

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Tarde: “Princípio e Fundamento” 43

Meditação 3. Deus criador: uma visão de conjunto, dinâmica e libertadora 43

Meditação 4. Expulsão dos vendilhões do Templo. Um amor exigente (João 2, 13-22) 47

Noite: Parábola sobre a justiça e a liberdade 51

Meditação 5. Parábola dos Talentos (Mateus 25, 14-30) 51

2º DIA.DEUS QUE RE-CRIA/PER-DOA 55

Manhã: O problema do mal no mundo e Cristo libertador 55

Meditação 1. Cura de um cego de nascença (João 9, 1-41) 55

Meditação 2. Diálogo com a Samaritana (João 4,1-26) 67

Tarde: A realidade do mal em nós. O pecado pessoal 69

Meditação 3. Cura do paralítico da piscina de Betesdá (João 5, 1-18) 69

Meditação 4. Aprofundamento do Exame de Consciência: a cura que salva 76

Noite: Um Deus que cria e re-cria, isto é, per-doa 78

Meditação 5. Parábola do Pai que tinha dois filhos (Lucas 15, 11-32) 78

3º DIA.O CHAMAMENTO PARA CONSTRUIR O REINO E A VIDA PÚBLICA DE JESUS: O ESPANTO DE SER AMADO 81

Manhã: A nossa história de amizade com Jesus 81

Meditação 1. O discurso do pão da vida (João, 6, 22-59) 81

Meditação 2. Multiplicação dos pães e dos peixes (João, 6, 1-13) 85

Tarde: Quem é Jesus? Contemplar o seu Mistério 89

Meditação 3. Jesus ensina no Templo (João 7, 14-24) 91

Meditação 4. Debate sobre a origem e o poder de Jesus (João 7, 25-53) 93

Noite: A resposta ao convite de Jesus para a missão 98

Meditação 5. Parábola do banquete nupcial (Mateus 22, 1-14) 98

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ÍNDICE

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4º DIA.MEDITAÇÕES INACIANAS. OS GRANDES DESAFIOS DA LIBERDADE: O DISCERNIMENTO 103

Manhã: Critérios de Jesus. Servir ou servir-se: “As Duas Bandeiras” 103

Meditação 1. A mulher adúltera (João 8,1-11) 104

Meditação 2. A Luz do mundo (João 8,12-20) 111

Tarde: Uma vontade livre para seguir a Jesus 112

Meditação 3. Parábola do Bom Pastor (João 10, 1 a 19) 112

Meditação 4. As vantagens de um coração humilde e confiante. Os “três graus de amor e de liberdade”. Uma “Consideração” comprometida 117

Noite: “Regras de discernimento dos espíritos”: os altos e baixos da vida 121

Meditação 5. Jesus caminha sobre as águas (Mateus 14, 22-33) 121

5º DIA.CONHECER MELHOR JESUS PARA OPTAR BEM 127

Manhã: Ninguém segue o que não ama e ninguém ama o que não conhece 127

Meditação 1. A reanimação de Lázaro (João 11, 1-44) 128

Meditação 2. Maria de Betânia unge o Senhor (João 12, 1-11) 134

Tarde: O compromisso traz o encantamento. O momento da “Eleição” inaciana 136

Meditação 3. Entrada messiânica de Jesus em Jerusalém (João 12, 12-19) 136

Meditação 4. Jesus anuncia a sua hora e a glória da Cruz (João 12, 20-36) 137

Noite: Perceber o que Jesus faz por nós e corresponder 142

Meditação 5. Parábola do Bom Samaritano (Lucas 10, 29-37) 142

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ENTREGAR-SE, ACOLHER E COMUNGAR

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6º DIA.PAIXÃO E MORTE DE JESUS: MORRER DE AMOR. ENTREGAR-SE – ACOLHER – COMUNGAR 145

Manhã: Viver eucaristicamente 145

Meditação 1. Jesus lava os pés aos discípulos: fazei isto e sereis felizes (João 13, 1-20) 147

Meditação 2. Jesus, caminho para o Pai. Promete o seu Espírito e a oração sacerdotal (João 14 a 17) 152

Tarde: Morrer comungando e comunicando. A morte de Jesus como revelação de um mundo novo 154

Meditação 3. Paixão de Jesus: prisão e condenação (João 18 e 19) 154

Meditação 4. A crucificação e a morte de Jesus (João 19, 16-37) 158

Noite: Um silêncio agradecido em confronto com um mundo onde reina a idolatria do “eu” 164

Meditação 5. Parábola dos vinhateiros homicidas (Mateus 21, 33-42) 164

7º DIA.A RESSURREIÇÃO DE JESUS (E A NOSSA!) 169

Manhã: Ele está vivo, alegra-te! Descodificar a Ressurreição. 169

Meditação 1. A mensagem do túmulo vazio: não procures entre os mortos Aquele que está vivo (João 20,1-10) 172

Meditação 2. Aparição a Madalena: dar voz aos que não a têm (João 20, 11-18) 175

Tarde: O fundamento seguro da fé não é tocar, é ser tocado, transformado 178

Meditação 3. Aparição aos onze. A missão e o sinal da paz e do perdão (João 20, 19-29) 178

Meditação 4. Aparição a Tomé (João 20, 24-29) 181

Noite: “Nascer de novo”: começar de um novo ponto de partida 184

Meditação 5. Diálogo com Nicodemos (João 3, 1-21) 184

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ÍNDICE

13

8º DIA.CONTEMPLATIVOS NA ACÇÃO 189

Manhã: “Contemplação para alcançar Amor”. Avaliar e agradecer, para entrar de novo na vida quotidiana 189

Meditação 1. Aparição de Jesus na margem do lago de Tiberíades. Diálogo com Pedro (João 21, 1-23) 190

Meditação 2. “Entregar-se agradecido por tanto bem recebido” e comungar no amor de Deus 194

Tarde e saída: Fidelidade aos propósitos e às promessas do Espírito Santo 196

Meditação 3. Testemunhas corajosas do dom recebido. Prontos para a Missão (João 16,5-13) 196

ANEXOS 199

1. Horário proposto para os oito dias 1992. Exercícios Espirituais de Santo Inácio – Notas e orientações

práticas para realizar bem a experiência 2013. Passos de oração – um guião 2054. Princípio e Fundamento (EE 23) 2075. Exame Geral de Consciência – Oração de avaliação 2096. Os cinco pontos do Exame de Consciência 2137. Exame particular quotidiano 2158. Sacramento da Penitência 2179. Penitência e Penitências 221

BIBLIOGRAFIA ACONSELHADA 225

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Uma janela aberta para a Ressurreição(Prefácio à 1ª edição)

Pedro Miguel Lamet, s.j.

Num mundo como o nosso, onde a economia e as finanças parecem ter conseguido dominar o funcionamento dos países e até mesmo a vida diária das pessoas, cada sopro de espiritua-lidade é um dom e um descanso. E é isto mesmo o livro que o leitor tem agora nas suas mãos: um caminho para encontrar a liberdade interior no meio de uma floresta confusa de notícias, de mensagens de telemóvel, de e-mails, e, sobretudo, de caos po-lítico. Ninguém sabe ao certo para onde vai o mundo, o que gera uma sensação difusa de instabilidade e de medo. Tudo isto faz com que nos perguntemos: no meio desta tempestade, é possí-vel aguentarmos, sentirmo-nos bem e, especialmente, sabermos para onde ir, sem que os golpes da ondulação nos derrubem e acabem por afogar-nos?

A resposta é sim. Alcançando no silêncio interior o mais pro-fundo de nós próprios, que permanece ligado à verdade, esse lugar de paz, situado além do espaço e do tempo, onde não con-seguem agredir-nos as vicissitudes e as circunstâncias dos tempos que vivemos, por mais duras que sejam.

Esta obra oferece-nos e actualiza-nos numa linguagem dos nossos dias o método reconhecido como mais eficaz no Ocidente para chegar a esta luz interior, a verdadeira liberdade: os Exercí-cios Espirituais de Santo Inácio, o pequeno livro em que o nobre cavaleiro de Loyola, abandonadas as suas vaidades, as suas ar-mas, o seu poder e a sua linhagem, foi escrevendo as revelações recebidas do Espírito Santo, especialmente na gruta de Manresa e no rio Cardoner.

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ENTREGAR-SE, ACOLHER E COMUNGAR

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O livro dos Exercícios Espirituais, na aparência simples, é uma formidável alavanca que transformou consciências e provo-cou heroísmos históricos e uma quotidiana e profunda felicidade em homens e mulheres de todas as esferas da vida e da cultura nos últimos séculos. Assente na Palavra de Deus, sobretudo nos Evangelhos, é um manual lucidamente estruturado para encon-trar a vontade de Deus e vivê-la pessoal e colectivamente, ou seja, para encontrar o nosso lugar no mundo.

Mas antes de entrar na apresentação propriamente dita deste livro, que comenta e aplica os Exercícios de Santo Inácio, gos-taria de responder à questão de como é que um escritor jesuíta espanhol tem a audácia de apresentar a obra de um conhecido jesuíta português como Vasco Pinto de Magalhães.

É uma história simples, mas que mostra que existem no mundo espiritual vibrações indescritíveis que nos unem, mes-mo sem o sabermos. O padre Vasco e eu, apesar de sermos dois irmãos jesuítas, não nos conhecíamos. Os dois pertencemos, é certo, à mesma Companhia, em países ibéricos irmãos – que se encontram ainda demasiado de costas um para o outro – mas em diferentes Províncias e com pouco contacto entre si. Ele era então Mestre de Noviços, uma posição de grande responsabili-dade e confiança, além de ser já um autor e conferencista muito conhecido em Portugal, e eu estava inteiramente dedicado ao jornalismo e à literatura no meu país. Há doze anos, o meu pri-meiro romance histórico, El Caballero de las Dos Banderas, dedi-cado a Santo Inácio, caiu nas suas mãos, e, graças à sua iniciativa, e a João Azevedo Mendes, editor da Tenacitas, foi publicado em português, com o prefácio de Vasco Pinto de Magalhães. Desde então, o padre Vasco tem prefaciado fielmente todos os meus livros que foram aparecendo em português.

O que me leva a escrever o prefácio de Entregar-se, Acolher e Comungar? Além de uma justa gratidão, uma feliz coincidência. Coincidem, editados pela Tenacitas, na data do seu lançamento em Portugal dois livros, um de Vasco Pinto de Magalhães e outro meu, ambos baseados no Evangelho de São João. Enquanto o seu livro visa a prática dos Exercícios, tanto em grupos como pessoal-mente, ou mesmo na vida diária, as minhas As Palavras Vivas é

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(PREFáCIO à 1ª EDIÇÃO)

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uma recriação narrativa e um comentário de São João, a partir daquilo que o discípulo amado sentiu e viu ao reclinar a cabeça no coração de Jesus.

Confesso que sinto uma grande afinidade com o padre Vas-co, talvez porque somos ambos, além de jesuítas, filhos do Va-ticano II e seguimos a linha definida pelo inesquecível Geral da Companhia de Jesus, Pedro Arrupe. O que nos une é a abertura ao mundo, a proximidade de linguagem, o diálogo com a cultura e o humanismo contemporâneos. Sempre me surpreendeu que um mestre espiritual como ele, um autêntico Mestre de Noviços, estivesse a par da literatura e do cinema, além da teologia actual, e, sobretudo, fosse um extraordinário comunicador, capaz de se fazer entender na linguagem de hoje, não só nos seus livros e artigos, mas também em programas de televisão e de rádio. Por exemplo, ao tratar com grande originalidade um tema tão im-portante e actual como a necessidade de descanso, no seu recen-te livro Só Avança Quem Descansa, face ao complexo de culpa da nossa sociedade hiperactiva que não encontra tempo para parar e enfrentar-se consigo mesma.

Esta capacidade de comunicar e de captar o pulso do nosso mundo é visível também em Entregar-se, Acolher e Comungar. Pois apesar de se tratar, neste caso, de um manual para ser, mais do que lido, ruminado e meditado em momentos de contempla-ção e silêncio, parte de um conhecimento muito profundo das preo cupações e necessidades dos homens e das mulheres do nos-so tempo, que padecem, como o padre Vasco diz, de três ismos – consumismo, individualismo e subjectivismo –, e procuram, tantas vezes, a abertura a Deus e ao próximo, que supõe entrega, acolhimento e comunhão.

O padre Vasco consegue entrelaçar meditações de cunho marcadamente inaciano, como o “Rei Temporal”, as “Duas Ban-deiras” ou os “Três Binários”, com passagens do Evangelho de João, sem forçar nada, e fazendo surgir da Palavra o conteúdo motivador das intuições inacianas, bem expressas no “Conhe-cimento interno” ou na “Contemplação para Alcançar Amor”. Toca-me particularmente o seu enfoque sobre a Ressurreição, que concebe, mais do que um facto físico, como o renascer do

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ENTREGAR-SE, ACOLHER E COMUNGAR

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homem novo, aqui e agora, a partir da maravilhosa meditação de Lázaro ou do íntimo diálogo noturno com Nicodemos. É mui-to libertador saber que para ressuscitar não é necessário esperar pela morte física, basta despertar.

Por isso este comentário aos Exercícios Espirituais pode fazer muito bem aos homens e mulheres de hoje, que vivem angustia-dos pelo passado e têm medo do futuro. Só no silêncio aberto à escuta de Deus, sem desprezar os valores do nosso mundo, que também os tem, como a procura da autenticidade, solidarieda-de e compromisso, é possível encontrar uma saída, uma janela cheia de sol, para superar todas as crises e descobrir, a partir de dentro, a libertadora vida nova em Jesus de Nazaré. Vasco Pinto de Magalhães abre-nos essa janela de par em par.

31 de Julho de 2013,

Festa de Santo Inácio de Loyola

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Entregar-se, acolher e comungar

Vasco Pinto de Magalhães, s.j.

O título

Entregar-se por uma grande causa ou a alguém por amor; aco-lher o outro, os dons de Deus e os seus apelos; entrar em comu-nhão com os outros libertando, participar nas alegrias e tristezas da Igreja e comungar na vida de Cristo são os verbos – os exercícios – que fazem o cristão crescer e amadurecer.

São os verbos que definem a pessoa de Jesus Cristo: entregue por amor pelo Reino dos Céus, acolhendo todos e a vontade do Pai, comungando nas alegrias e tristezas de toda a criação: mor-rendo para si mesmo até à íntima união libertadora com o Pai, pelo Espírito Santo.

Sãos verbos que traduzem o amor trinitário: cada Pessoa di-vina se entrega acolhendo a outra, resultando na comunhão a novidade pessoal sintetizadora.

Santo Inácio de Loyola, logo na primeira página do seu livri-nho Exercícios Espirituais, define-os como “todo o modo de prepa-rar e dispor a alma para buscar e encontrar a vontade de Deus, tirando de si os afectos desordenados”.

E explica: assim como há exercícios corporais, tais como pas-sear, correr e saltar, também os há espirituais, como são meditar, contemplar, examinar a consciência, discernir as situações e as opções, etc.!

Podemos, então, resumi-los assim: acolher a palavra de Deus, entregar-se pelo que nos for pedido e crescer na comunhão com Cristo a caminho de Deus-Pai, conduzidos pelo Espírito de amor e de verdade.

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ENTREGAR-SE, ACOLHER E COMUNGAR

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Assim, em ambiente de oração, em intimidade com Deus Criador e Salvador, praticar, treinar e exercitar (discernidamente) a entrega, o acolhimento e a comunhão. Sempre progredindo através da dinâmica espiritual das Quatro Semanas propostas por Santo Inácio.

Agradecimento

O presente livro transcreve as gravações de um “retiro”, uns Exercícios Espirituais de oito dias que orientei no Verão de 2012 seguindo o Evangelho segundo S. João.

Quero antes de mais agradecer às Irmãs Escravas do Sagrado Coração de Jesus, em cuja Casa de Oração em Palmela decorre-ram os Exercícios, especialmente à Ir. Ana Melo e Castro, todo o cuidado, trabalho e simpatia com que levaram a gravação a bom termo, apesar da minha indisciplina!

Agradeço também com muita amizade ao João Azevedo Men-des que passou tudo para o papel e à Inês Pereira Coutinho que, por fim, reviu todo o texto.

Evidentemente, não posso deixar de sublinhar a simpatia bondosa e perspicaz do padre Pedro Miguel Lamet ao escrever o Prefácio que, além de revelar uma grande sintonia, alarga os horizontes e o alcance deste trabalho. Obrigado.

Modo de usar

O livro pode ser usado de duas maneiras:

– uma, em oito dias seguidos de retiro a tempo inteiro, como nos habituais Exercícios Espirituais, sempre ne-cessitando de aplicação e adaptação, e talvez de algum acompanhamento, uma vez que pretendem sempre pro-porcionar uma experiência pessoal de relação com Deus;

– a outra maneira será usá-lo como guia de oração diária na Vida Corrente. Assim tomando como “pontos” de oração

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ENTREGAR-SE, ACOLHER E COMUNGAR

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para cada dia as pistas propostas para cada meditação, mantendo a sua sequência. Se se usar, também, a reflexão introdutória dividindo-a em duas, encontramo-nos com quarenta Meditações para quarenta dias ou quarenta se-manas, por exemplo.

De modo semelhante, esse percurso pode servir de guião para um grupo de CVX, seguindo em comunidade a dinâmica ina-ciana, em quarenta reuniões, ou mais, se ocorrer fazer algumas repetições.

Modo de proceder

O livro apresenta o que aconteceu em oito dias de retiro fe-chado, em silêncio e com acompanhamento personalizado dos exercitantes, na sua maioria leigos adultos. Depois de uma pre-paração prévia, em meditação e criando condições de espaço e tempo para adquirir as disposições interiores e exteriores neces-sárias para entrar numa experiência espiritual deste tipo, é feita a proposta/desafio, para cada dia, de cinco tempos fortes de oração de uma hora cada um. Dois tempos de manhã, dois à tarde e um quinto à noite, de resumo e avaliação.

Seguindo o método de Santo Inácio, no segundo tempo da manhã, bem como no da tarde, propõe-se uma “Repetição” da meditação anterior, cujo sentido inaciano não é o de tornar a fazer, mas o de ir mais fundo e mais além, retomando os pontos mais marcantes de Consolação e Desolação.

No último tempo, da noite, sugere-se uma paragem que aju-de a Resumir, concluindo o dia, através de uma parábola que possa proporcionar um tempo tranquilo, mais visual e imagina-tivo, trazendo à consciência as Luzes e os Propósitos desse dia. Nessas parábolas, naturalmente, recorri a outros evangelistas.

O Esquema genérico, de modo mais concreto, é o seguinte:Três vezes por dia, encontro o grupo (ou pessoa) exercitante

propondo as pistas para a oração:

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ENTREGAR-SE, ACOLHER E COMUNGAR

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– 1. No princípio da manhã: pontos para a 1ª e 2ª medita-ção: Meditação 1 e Meditação 2 (Repetição ou Aprofun-damento);

– 2. No princípio da tarde: pontos para a 3ª e 4ª meditação: Meditação 3 e Meditação 4 (Repetição);

– 3. Depois da Eucaristia: pontos para a noite, a 5ª medita-ção: Meditação 5 (Resumo).

Textos de apoio inacianos

Durante os Exercícios Espirituais distribuo alguns aponta-mentos sobre a sua natureza e o modo como se processam, bem como textos inacianos de apoio.

No final do livro, em “Anexo”, podem encontrar-se estes tex-tos que ajudam a concretizar, a aprofundar e a esclarecer aspec-tos e dimensões da espiritualidade inaciana.

Ao começar os Exercícios, é importante ler com atenção, in-teriorizando, o Anexo 2. Este Anexo reúne algumas indicações concretas com que Santo Inácio, no livro dos Exercícios Espiri-tuais, explica as sua intenções, objectivos e meios, apresentan-do orientações práticas que ele chamou “adições” umas vezes, outras vezes “anotações”, e que, no fundo, são sábias indicações “para melhor realizar a experiência dos Exercícios”. Para além de dar as meditações e a sua sequência, Santo Inácio vai dando no-tas práticas e regras sobre a oração, o discernimento e conselhos vários que permitem à pessoa não se perder e sim aprofundar o “Caminho” espiritual.

Aguns avisos:

– Os Exercícios Espirituais propostos por Santo Inácio de-vem ser personalizados e por isso, também, acompanha-dos por algum guia experiente no caminho inaciano. É importante que quem se lance à experiência possa parti-

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ENTREGAR-SE, ACOLHER E COMUNGAR

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lhá-la e ser confrontado, detectando tentações, decidin-do-se a seguir os apelos de Cristo, pacificando-se, encon-trando o seu lugar na Igreja e, assim, como dizia Santo Inácio, “tirando de tudo um maior proveito”.

– Há toda a vantagem em ter e consultar o livro dos Exer-cícios Espirituais de Santo Inácio, em especial, no que diz respeito às várias Regras de vida espiritual, sobretudo, as do discernimento das moções interiores. Porém é preciso cuidado, pois ele é um guião para a experiência comple-ta que Inácio programou para um mês; e, aqui, embo-ra seguindo o seu percurso, teremos uma “compressão” das “quatro Semanas inacianas” em oito dias. É claro que algo fica de fora, sobretudo o tempo dado a cada momen-to ou etapa espiritual.

– No final, na bibliografia, só indico livros em português e relativamente recentes e, por isso, acessíveis. Ou porque têm a ver com estes Exercícios ou porque são exemplos de vidas espiri tuais bem ordenadas e estimulantes, até na sua variedade.

24 de Maio de 2013,

Festa de Nossa Senhora da Estrada