entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na amazônia

35
ANO XXXII - Nº 232- MAIO/JUNHO - 2010 A revista da Eletrobras Eletronorte Dardanelos: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia correntecontínua

Upload: doankien

Post on 09-Jan-2017

250 views

Category:

Documents


22 download

TRANSCRIPT

Page 1: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

Ano XXXII - nº 232- MAIo/Junho - 2010 A revista da Eletrobras Eletronorte

Dardanelos: entre o rio e a floresta, um novo conceito de

hidrelétricas na Amazônia

correntecontínua

Page 2: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

SCN - Quadra 6 - Conjunto A Bloco B - Sala 305 - Entrada Norte 2

CEP: 70.716-901Asa Norte - Brasília - DF.

Fones: (61) 3429 6146/ 6164e-mail: [email protected]

site: www.eletronorte.gov.br

Prêmios 1998/2001/2003

Diretoria Executiva: Diretor-Presidente - Jorge Palmeira - Diretor de Planejamento e Enge-nharia - Adhemar Palocci - Diretor de Produção e Comercialização - Wady Charone - Diretor Econômico-Financeiro - Antonio Barra - Diretor de Gestão Corporativa - Tito Cardoso - Coor-denação de Comunicação Empresarial: Isabel Cristina Moraes Ferreira - Gerência de Imprensa: Alexandre Accioly - Equipe de Jornalismo: Alexandre Accioly (DRT 1342-DF) - Bruna Maria Netto (DRT 8997-DF) - Byron de Quevedo (DRT 7566-DF) - César Fechine (DRT 9838-DF) - Érica Neiva (DRT 2347-BA) - Michele Silveira (DRT 11298-RS) - Assessorias de Comuni-cação das unidades regionais - Estagiárias: Camila Marques e Márcia Alvarenga - Fotografia: Alexandre Mourão - Roberto Francisco - Rony Ramos - Assessorias de Comunicação das unidades regionais - Revisão: Dimensão Comunicação e Marketing - Foto da capa: Rony Ra-mos - Arte gráfica: Jorge Ribeiro - Tiragem: cinco mil exemplares - Periodicidade: bimestral

Tucuruí, 25 anosMEIO AMBIENTEOs estudos que decidem sobre a viabilidade de usinas hidrelétricasPágina 48

SETOR ELÉTRICOConcorrentes, não. ComplementaresPágina 60

SUSTENTABILIDADEManejo florestal pode

salvar espécies e melhorar a socioeconomia da

exploração madeireiraPágina 22

GERAÇÃONo Rio Aripuanã, um exemplo de como construir sem destruirPágina 8

CORRENTE ALTERNADAA hora e a vez da energia eólicaPágina 40

CORREIO CONTÍNUOPágina 66

FOTOLEGENDAPágina 67

CIRCUITO INTERNOTucuruí, 25 anosPágina 3

Autoridadesprestigiaram o evento

correntecontínua

2 correntecontínua

ENERGIA ATIVAA energia forte das pequenas e médias centrais hidrelétricasPágina 32

A frase é do presidente da Eletrobras, José Antonio Muniz Lopes e caracteriza muito bem as comemorações dos 25 anos de atividade da Usina Hidrelétrica Tucuruí. Em cerimônia reali-zada no dia 9 de junho de 2010 foram lança-dos, juntamente com a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, o selo e o carimbo alu-sivos à data. Os ex-gerentes de construção e de operação foram homenageados com uma placa de reconhecimento pelos serviços pres-tados. Também foi lançado o livro “Os peixes e a pesca no Baixo Tocantins: vinte anos depois da UHE Tucuruí”. O evento contou com a parti-cipação do ministro de Minas e Energia, Márcio Pereira Zimmermann.

Ladeado pelo presidente da Eletrobras, José Antonio Muniz Lopes, o diretor de Produção e Comercialização da Eletronorte, Wady Charone Junior, e o superintendente de Produção Hi-dráulica, Antonio Augusto Bechara Pardauil, o gerente de Obras de Expansão de Tucuruí, José Biagioni, o Ministro de Minas e Energia, junto com comitiva, conferiu o andamento das obras das eclusas, que deverão ser inaugura-das em setembro próximo. Após vistoriar as obras, Zimmermann visitou as instalações do Centro de Operação da Hidrelétrica, onde re-cebeu informações sobre o funcionamento do sistema que controla e comanda a maior usina genuinamente brasileira.

“O que acontece em Tucuruí é reflexo da paixão de sua força de trabalho com a atividade diária de gerare garantir ao País uma energia limpa e estável”.

Sum

ário

Cir

cuit

o In

tern

o

Foto: Secom/AC

Page 3: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

4 correntecontínua 5correntecontínua

Orquestra sinfônica paraense

(abaixo) tocou para a platéia

presente na casa de força

Antes da cerimônia, a comitiva assistiu a uma apresentação sobre o modelo de gestão que utiliza a metodologia TPM (Manutenção Produtiva Total) e visitou as instalações da se-gunda casa de força, onde foram apresentadas as melhorias implementadas.

Durante a cerimônia, realizada no pátio da oficina da casa de força, José Antonio Muniz Lopes reafirmou que a Usina Hidrelétrica Tucu-ruí é a mais importante instalação do Sistema Eletrobras e é diferenciada porque tem alma: “O que acontece em Tucuruí é reflexo da pai-xão de sua força de trabalho com a atividade diária de gerar e garantir ao País uma energia limpa e estável”.

Wady Charone reiterou que toda essa vibra-ção sentida por quem visita Tucuruí só é pos-sível graças ao comprometimento das pessoas que lá trabalham. Antonio Pardauil exaltou o envolvimento das equipes. Para ele, essa pai-xão é o que dá consistência e retorno para a Empresa e para as pessoas. “O mais importan-te é poder ver o futuro. Porque Tucuruí é muito mais do que máquinas e produção. É sim, um grande contingente de pessoas e empregados que formam uma grande família e conseguem os resultados”, afirmou.

Homenagens - O homenageado Berilo Ma-moré, primeiro gerente de construção, exaltou a equipe que trabalhou na primeira etapa da Hidrelétrica. Para ele, uma equipe técnica de primeira aceitou o grande desafio de construir a

maior usina hidrelétrica da Amazônia. “Nesses 25 anos eu desejo mais sucesso do que nós já tivemos, porque não foi fácil chegar até aqui. A Empresa ainda está com uma equipe muito boa, principalmente na parte de elaboração de projetos, mas é preciso ter cuidado com a qua-lificação da mão de obra”, disse.

Representando os trabalhadores, José Ma-nuel Machado Picanço lembrou a contribuição de todos os que já passaram por Tucuruí e do sonho de muitos em ver a obra concluída. “Vi-mos esse monumento de concreto nascer den-

tre as águas do Rio Tocantins. Tudo parecia um sonho, mas era real, e o que hoje vemos de concreto é um sonho transformado em realida-de”, disse ele.

Também foram homenageados os gerentes pioneiros que trabalharam na construção e operação. Cada um deles recebeu um troféu alusivo à data com palavras de reconhecimento pelos serviços prestados (ver depoimentos).

Exemplo - Tucuruí é o exemplo de como os investimentos na Amazônia podem dar certo.

Essa foi a constatação feita pelo ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. Em seu pronunciamento, o Ministro afirmou que a construção de Tucuruí é um modelo de como os investimentos, ajustados aos anseios das co-munidades e às leis ambientais, podem servir de vetor de desenvolvimento de uma região e dar ambiente propício para o crescimento das pessoas. “É com esse exemplo melhorado que queremos construir Belo Monte para garantir a oferta de energia para o País e propiciar o de-senvolvimento”.

Ministro confere a excelência da metodologia TPM

Page 4: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

6 correntecontínua 7correntecontínua

Depoimentos“Uma orquestra, na ver-

dade, é uma grande empre-sa, em que o maestro pro-cura tirar o talento de cada músico, fazendo com que a música tenha o brilho to-tal, ou seja, o papel de cada músico é importante para que a música seja bem re-gida. É possível comparar a condução de uma orquestra

à de uma grande empresa. Nós, gerentes, os que pas-saram e os que estão aqui, fazem esse papel de condu-tores de uma orquestra, conduzindo cada trabalhador e tirando um pouco do melhor que cada um tem para a gente somar e atingir os objetivos da organização”.

Antonio Augusto Bechara Pardauil

“Quando Geraldo Afonso Prates veio para a Eletro-norte ele me convidou para trabalhar em Tucuruí e jun-to comigo vieram o Erico, o Humberto e também o to-pógrafo Magela. Ocorre que, em 1982, houve um aciden-te grave em que morreram três diretores da Eletronorte. Naquela época, por exem-

plo, havia um projeto de levar, de Tucuruí até Rondônia, uma linha de transmissão já com a produção de energia de Tucuruí. Ali a Eletronorte perdeu um pouco do seu ímpeto, mas deixou uma equipe técnica de primeira. Não se ouve reclamação de concreto, máquinas que-bradas, nada disso. Aqui nós temos um projeto bem feito e uma execução maravilhosa”.

Berilo Mamoré Belo

“Desde 1980 tenho dedi-cado grande parte de meu trabalho na construção de Tucuruí, por alguns períodos com 100% de dedicação, com momentos de grandes alegrias e realização profis-sional. Mas ouvir uma Or-questra Sinfônica tocando Villa Lobos na casa de força com todas as máquinas em

operação, ao lado de alguns dos grandes amigos que também participaram do desafio, não tem preço e nem como segurar o choro”.

Luiz Fernando Rufato

“Todas as vezes que venho a Tucuruí acontece uma nova emoção, porque é uma obra que continua crescendo e caminha-mos para o término das eclusas. A vida é assim mesmo, estamos terminando aqui e vamos come-çar Belo Monte. É uma sensação

de ufanismo até, porque sobre Tucuruí não abrimos mão do jargão ‘Tucuruí é a maior usina genuinamente nacional’. E não é qualquer profissional da engenharia que pode ter essa felicidade desde o começo até o final.”

Humberto Rodrigues Gama

“Ao chegar a Tucuruí, em 1977, nada existia, mas mes-mo assim eu estava muito feliz, pois sabia que a partir daquele momento começaria uma nova vida ao lado de minha esposa e de novos amigos. Passamos por momentos de dificuldades, mas com a união de todos consegui-mos superar todos os obstáculos

e transformar um sonho em realidade. O tempo que passei em companhia de pessoas excelentes contribuiu imensa-mente para meu crescimento pessoal e profissional, gra-ças ao companheirismo e a ajuda de todos”.

Paulo Almeida

“Trabalhar em Tucuruí foi uma experiência maravilhosa. Foi a melhor coisa que já fiz na minha vida. Cheguei em Tucuruí em 1981, com toda minha família. Fiquei até a inauguração e segui para Balbina, no Amazonas. De-pois voltei para concluir a primei-ra etapa. Então fui para o Rio de Janeiro onde estou até hoje. Pro-fissionalmente, em Tucuruí pude

crescer graças a uma sucessão de eventos, como o fecha-mento do rio em 1984 e a inauguração da obra no mesmo ano. Esses eventos marcaram minha vida profissional”.

Angelo Antonio Carrilo

“Vim para Tucuruí em 1990 e nesse período concluímos a construção da primeira etapa, totalizamos a motorização da segunda e agora estamos concluindo as eclusas. Aca-

bamos deixando marcas de de-senvolvimento para essa região em função do empreendimento que trouxemos para a Usina. Foi onde fiz novas amizades, adquiri novos conhecimentos. E uma obra dessa natureza nos

deixa muitas marcas sem dúvidas, até porque não foi qual-quer profissional que teve a oportunidade de participar da construção dessa obra que hoje representa 10% das neces-sidades do País”.

José Biagioni de Menezes

“Cheguei em Tucuruí em 1977 e o tempo que passei ali foi em uma época de pioneirismo. Morá-vamos na Vila Pioneira e o aero-porto era no meio da cidade, onde hoje é uma avenida. Retornar hoje e ter a oportunidade de ver a casa onde você morou e rever os amigos é muito gratificante pelo trabalho realizado e pelos anos que passei aqui. Tucuruí tem uma importância não só pela magnitude do empre-

endimento, mas também pela quantidade de informações e de profissionais que foram formados nessa obra e estão es-palhados em usinas em construção pelo País”.

Erico Bittencourt

“Depois de sete anos, volto a Tu-curuí e me sinto privilegiado por ter participado da complementação da maior Usina brasileira. Quando cheguei, a preocupação era man-ter a qualidade da obra que havia sido realizada na primeira eta-pa. Tivemos um grande desafio e também todo cuidado em manter a parte da operação funcionando 100%. Tive o privilégio também de implantar a primeira norma ISO

9000 de uma usina hidrelétrica no País. Em Tucuruí tive um crescimento pessoal e profissional enorme. Muitos desafios foram vencidos”.

Adailton de Souza Pinto

“Senti-me lisonjeado com a homenagem recebida durante as comemorações dos 25 anos de Tu-curuí. Durante aqueles momentos um misto de emoção e orgulho me dominou, por ter tido o privilégio de participar de empreendimento de tal magnitude. Tucuruí foi, é e continuará sendo, um dos orgulhos da engenharia brasileira. A cada dia que lá chegamos nos depara-

mos com o valor das pessoas que trabalharam na Eletrobras Eletronorte. Concordo plenamente com o Dr. José Antonio Muniz, quando diz, ‘Tucuruí tem alma’, e complemento: tem vida também”.

Ricardo Rios

Zimmermann lembrou que o gerenciamento de Belo Monte e das usinas que comporão o Complexo do Tapajós será baseado na expe-riência de Tucuruí. “O governo continuará a construir usinas hidrelétricas e o potencial para garantir a suficiência energética está na Ama-zônia. Tucuruí mostra que estamos no caminho certo para o desenvolvimento”.

Também participaram da cerimônia dos 25 anos de Tucuruí José Antonio Correia Coimbra, secretário-executivo do MME, Josias Matos de Araújo, secretário Nacional de Energia Elétrica, Tito Cardoso de Oliveira Neto, diretor de Gestão Corporativa, representando o presidente da Ele-tronorte, Jorge Nassar Palmeira, e o diretor Eco-nômico-Financeiro, Antonio Maria Amorim Barra.

Pará Sinfônico - Como parte do projeto “Pará Sinfônico - A Orquestra nos municípios”, a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz de-sembarcou em Tucuruí para duas apresenta-ções especiais. A primeira reuniu centenas de expectadores nas dependências do Ginásio Po-liesportivo Esmaelino Pontes. A segunda apre-sentação marcou a abertura e o encerramento da solenidade comemorativa pelos 25 anos da Hidrelétrica.

Segundo o maestro, Enaldo Oliveira, as apre-sentações são vibrantes e eufóricas. “Para nós, e especialmente para mim, que sou filho de Tucuruí, é uma grande honra poder tocar para todas essas pessoas e participar dessa cerimô-nia. Tucuruí é muito importante para o Pará e para o Brasil”, afirmou.

(Colaboraram Denis Aragão Costa e Marcelo de Jesus Leite, da Superintendência de Produção Hidráulica)

José Antonio Muniz Lopes

carimba o selo comemorativo

Page 5: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

No Rio Aripuanã, um exemplo de como construir sem destruir

Ger

ação

Page 6: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

10 correntecontínua 11correntecontínua

Alexandre Accioly

São 6h30 e chove fino em Cuiabá. O sol ain-da não fustiga o solo matogrossense quando o monomotor decola rumo a Aripuanã, no ex-tremo norte do estado, divisa com Rondônia e Amazonas. A pequena Vitória, de apenas qua-tro meses de idade, viaja com os pais e mais sete passageiros sem imaginar que durante quatro horas o avião fará escalas, aterrisando e decolando de pistas de terra, em Juara, Juína e Juruena, antes de chegar ao destino final.

Chove forte em Aripuanã e o pouso é feito em pelo menos 20 cm de água sobre a terra e o capim. O que se viu lá de cima foram duas be-las cachoeiras e uma pequena cidade cercada pela floresta amazônica. Entre o Rio Aripuanã e a densa vegetação é possível ver as tubulações e o desenho arquitetônico do Aproveitamento Hidrelétrico Dardanelos, empreendimento rea-lizado pela Sociedade de Propóstio Específico (SPE) Energética Águas da Pedra S/A, forma-da pelas empresas Neoenergia (51%), Eletro-bras Eletronorte (24,5%) e Eletrobras Chesf (24,5%).

Segundo o histórico oficial, o município de Aripuanã (acima) foi criado em 31 de dezem-bro de 1943. O primeiro lugar escolhido para a instalação da sede municipal foi Angustura, na margem esquerda do Rio Ji-Paraná. Mas não foi possível assentar a cidade ali, porque

pertencia ao Território de Guaporé (atual Estado de Rondônia). Posteriormente, optou-se pelo entreposto seringueiro de Panelas, na margem direita do Rio Roosevelt, divisa de Mato Grosso com Amazonas

Em 1966, foi escolhido um novo local e provi-denciada a transferência da sede do município

de Panelas para as margens do Rio Aripuanã, junto às belíssimas cachoeiras Dardanelos e Andorinhas. Aripuanã tem, atualmente, uma área de 24,6 mil km², mas no passado chegou a ser um dos maiores municípios do mundo, com uma área de 145 mil km², abrangendo os territórios das atuais cidades de Alta Floresta, Apiacás, Nova Bandeirante, Castanheira, Co-triguaçú, Juína, Juruena, Nova Monte Verde, Paranaíta, Rondolândia e Colniza.

Hoje, Aripuanã é uma cidade acolhedora, bem estruturada, que vem sendo beneficiada com os projetos socioambientais de Dardane-los, observando-se melhorias significativas na infraestrutura básica, principalmente na saúde, educação e apoio às atividades econômicas,

ainda alicerçadas na indústria madeireira, na agropecuária e no turismo. Em tempo: a ori-gem do nome Aripuanã é indígena Apiacá, e significa água de pedra. É ali que está sendo implementado um novo conceito de hidrelé-tricas na Amazônia: a fio d’água, ou seja, sem reservatório, e com mínima interferência sobre a natureza e o homem.

O empreendimento - Quando esta revis-ta estiver circulando já estará em seus testes iniciais de operação a primeira unidade gera-dora do Aproveitamento Hidrelétrico Dardane-los, que, ao final, terá uma potência instalada de 261 MW, com quatro turbinas de 58 MW e uma de 29 MW. O empreendimento foi leiloa-do pela Aneel em 2006, teve as obras iniciadas em 2007 e será conclu-ído em 2010, com um ano de antecedência da data prevista. São R$ 760 milhões de investimentos para a usina e a linha de transmissão, em 230 kV, entre Aripuanã e Juína. Dali, a hidrelétrica e a cidade serão integradas ao Sistema Interligado Nacional – SIN (abaixo, as subestações Juína, à esquerda, e Dardanelos, à direita).

João Cadamuro (à direita) é gerente Técni-co da Energética Águas da Pedra. Ele continua a contar esta história: “O que me atraiu para o empreendimento foi o tipo de obra, tão especial pela qualidade da preservação ambiental que ela garante, seja

Page 7: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

13correntecontínua

no desmatamento absolutamente mínimo e necessário, ou pela recuperação das áreas de-gradadas com espécies nativas. Dardanelos ga-rante, também, a beleza cênica das cachoeiras e a continuidade da revoada dos andorinhões. Ressalto, ainda, a interferência mínima na ci-dade, de onde se vê a obra apenas de alguns pontos”.

Segundo Cadamuro, no pico das obras 1.800 trabalhadores ocupavam o canteiro e hoje já são menos de 800. Por estarem a 12 km do centro da cidade e contarem com alo-jamentos, refeitórios e hospital, não houve in-terferência dessa mão de obra no dia a dia dos cidadãos. Uma curiosidade: Aripuanã já é alia-da das PCHs e não queima combustível para gerar energia elétrica, hoje garantida por duas pequenas centrais que também usam a água do rio para gerar 11 MW, frente a um consu-mo de oito MW, uma da Rede Cemat e outra particular.

Dardanelos é uma usina de porte médio, mas os números de sua construção são mag-níficos: 120 mil m³ de concreto, um milhão e 900 mil m³ de escavação em terra e rocha, 300 mil m³ de aterro e enrocamento, cinco condu-tos forçados de 450 m cada um, por 4,20 m de diâmetro, três mil toneladas de aço e 1.134 virolas, aros que emendam os tubos.

A localização é especial: na margem direita do Rio Aripuanã, alimentada por um canal que garante a quantidade de água necessária para a geração de energia e para a manutenção das cachoeiras e da fauna e flora endêmicas da re-

gião, ou seja, uma vazão máxima de 330 m³/s para a geração plena e mínima de 21 m³/s para as cachoeiras e PCHs. Nesse caso, no período seco e baixa vazão, Dardanelos deixa de operar. O canal, aberto paralelo ao rio, aproveita a topo-grafia da região e um desnível natural de 100 m, e alaga apenas 0,24 km².

“Estamos cumprindo todas as obrigações do licenciamento ambiental e fazendo além do exigido. Por exemplo, toda a rocha esca-vada virou brita, consumida pela própria obra, já que em Aripuanã não existe brita. Da mes-ma forma a madeira desmatada foi usada na

construção. Todo o material de montagem chegou via terrestre, inclusive peças de 120 toneladas”, conta Cadamuro.

Engenharia do proprietário – A Eletrobras Eletronorte participa de Dardanelos não apenas como uma das proprietárias, mas também co-locando à disposição do empreendimento seu conhecimento de 37 anos de atuação na Região Norte do País e a capacidade técnica do seu cor-po profissional, principalmente de engenharia.

Aldair Teixeira Duarte (abaixo) é o repre-sentante da Empresa e engenheiro residente da engenharia do proprietário, serviço prestado pela Eletrobras Eletronorte para garantir a quali-dade da obra. “No modelo atual do Setor Elétri-co surgiram novas atribuições, entre elas essa que chamamos de ‘engenharia do proprietário’, onde podemos oferecer, de maneira bastan-te positiva, o conhecimento que temos como nenhuma outra instituição em se tratando de Amazônia”, afirma.

Na Sede da Empresa, em Brasília, o co-ordenador da Engenharia do Proprietário de Dardanelos, Adailton de Souza Pinto, explica: “O marco regulatório do Setor Elétrico intro-duziu o conceito de modicidade tarifária no suprimento de energia elétrica, o que está exigindo dos empreendedores uma ‘enge-nharia econômica’, para diminuir todos os custos envolvidos e valorizar a qualidade das obras. Fazer a engenharia do proprietário sig-nifica exercer uma auditoria da qualidade dos processos executivos do empreendimento. Em Dardanelos temos indicadores excelen-tes de verificação das obras, tanto pela nossa equipe, com grande acervo de conhecimento, quanto pela Eletrobras Chesf, que também nos apóia com seus técnicos nessas ativida-des. Enfim, estamos cumprindo a contento a nossa atribuição contratual e atendendo a to-das as condicionantes de um empreendimen-to ecologicamente correto”.

Para fiscalizar a obra a Eletrobras Eletronor-te compôs uma equipe de apenas 12 técni-cos. Além de analisar os projetos civil e eletro-mecânico, e inspecionar as peças na origem de fabricação, eles puderam observar e até corrigir alguns pontos críticos da construção. “Detectamos, por exemplo, que a usina es-tava fora da situação ótima para funcionar e fizemos uma intervenção para que a casa de força fosse rebaixada, garantindo um melhor aproveitamento das máquinas. Atuamos tam-bém na prospecção e construção do canal de aproximação e no direcionamento dos condu-tos forçados”, conta Aldair.

O andorinhão continua presente (ver box)

Montagem das turbinas na casa de força

Page 8: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

14 correntecontínua 15correntecontínua

Aprendizado de vida – Profissionais da Ele-trobras Eletronorte também estão aproveitando a experiência de Dardanelos para aprimorar seus conhecimentos acerca de engenharia elé-trica, mecânica e civil, principalmente. Segun-do Adailton, “estamos utilizando esse grande laboratório de engenharia de barragens para promover a capacitação técnico-operacional da nossa mão de obra, com amplo retorno de co-nhecimento sistêmico e especializado em cons-trução de usinas hidrelétricas”.

Os técnicos que estão sendo treinados em Dardanelos aproveitam o estágio na obra para adquirir habilidades como coordenar, super-visionar e verificar a qualidade da execução das obras civis de construção e montagem eletromecânica da Hidrelétrica e seu sistema de transmissão associado. Na prática, estão

vivenciando as etapas de projeto, fabricação e transporte dos equipamentos e sistemas eletro-mecânicos; e da montagem das turbinas, gera-dores, subestação e linhas de transmissão.

Isa Helena Castro Carramaschi (acima), 33 anos, é engenheira eletricista, com mestrado em engenharia elétrica, e uma das ‘estagiá-rias’ da Eletrobras Eletronorte em Dardanelos. “Estou na Empresa desde 2008 e estava traba-lhando com o projeto das eclusas de Tucuruí. Agora estou aqui para ficar um mês e a expe-riência está sendo espetacular. Eu, engenheira, não via a hora de colocar a mão na massa, ter livre acesso às obras e projetos, num empre-endimento onde todos estão sempre à vontade para ensinar, passar informações. É um projeto diferente, a fio d’água, sem impacto ambiental, talvez o melhor da Empresa ecologicamente”, afirma Isa.

No prédio ao lado, outro jovem trabalhador, Waldir Almeida da Paixão (abaixo), 22 anos, rondoniense de Jauru, é mais um exemplo de aprendizado de vida. Morando na cidade vi-zinha de Colniza, ficou sabendo da obra e se apresentou para trabalhar. Foi o sétimo empre-gado a ser contratado pela Construtora Odebre-cht, começando como ajudante de pedreiro. “Passei a mão na ferramenta e comecei a tra-balhar. Fui evoluindo, promovido a carpinteiro, depois oficial pleno até chegar a líder de equi-pe”, conta o sorridente Waldir.

Água do canal é

direcionada para os

tubulões

Page 9: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

Piccolli e Warfield: diretores ressaltam as obras do Centro de Educação, à esquerda, e do hospital, à direita

16 correntecontínua 17correntecontínua

A história dele não para por aí: “Achei muito bom trabalhar aqui, somos valorizados e esta-mos aprendendo o tempo todo. Fui crescendo, peguei a oportunidade nas mãos e não joguei nada fora. Entrei solteiro, casei e tenho uma fi-lha de quatro meses. Também gostei muito de ter ajudado na construção do prédio da Apae que a Energética Águas da Pedra construiu em Aripuanã, uma obra para pessoas carentes, crianças, foi muito mar-cante ajudar a população. Amizade vale mais que o dinheiro”.

Produção agrícola – Em parceria com o Se-

Dois depoimentosJosé Piccolli Neto é diretor Presidente da Energética Águas

da Pedra. Warfield Ramos Tomaz é diretor Técnico. Aqui, os dois dão os seus depoimentos sobre o Aproveitamento Hidre-létrico Dardanelos. Confira.

Piccoli: “Quando chegamos para estruturar a SPE, no final de 2006, começamos tudo do zero, desde as primeiras son-dagens até montar toda a infraestrutura necessária em Cuiabá e em Aripuanã. Vimos essa obra nascer e agora ela está quase pronta para gerar energia, o que, para mim, é uma satisfação excepcional”.

“Desde o começo trabalhamos todos alinhados, Neoener-gia, Eletrobras Eletronorte e Eletrobras Chesf. Sempre em

milhões por ano. Assumimos compromissos como a re-cuperação dos balneários, a construção do mirante das Andorinhas, ponto turístico da cidade. E vamos entre-gar o hospital e o centro educacional, saúde e educa-ção de alto nível. Por exemplo, após as ações de saúde que desenvolvemos, a malária teve queda acentuada em Aripuanã”.

Warfield: “Trabalhei na Eletronorte por 25 anos e re-cebi com satisfação o convite para integrar a equipe da Energética Águas da Pedra. É um projeto muito bom, que está sendo desenvolvido com base em soluções de engenharia e com atenção ao meio ambiente como pou-cas vezes visto no Setor Elétrico brasileiro”.

“Se no conceito anterior hidrelétricas ocupavam gran-des áreas inundadas, Dardanelos está se colocando como piloto na intervenção mínima na natureza. Tra-

balharemos de acordo com o regime de águas do rio, em determinadas épocas operando com cinco máquinas, em outras com até nenhuma máquina funcionando”.

“Agradeço especialmente aos empregados que integra-ram as equipes nas suas diversas posições, o que resultou num bem extraordinário para o sistema elétrico brasileiro, pois estamos entregando uma infraestrutra básica, que é a energia, para o desenvolvimento social e econômico do município, do Estado de Mato Grosso e do Brasil, por meio do Sistema Interligado Nacional”.

“Qualquer empresário que queira investir na região hoje tem a segurança da energia elétrica garantida. Aripuanã está melhorando seu plantel de gado e de grãos, os produ-tores estão se organizando e ainda fizemos o plano diretor do município, contemplando todas as áreas de atuação da prefeitura”.

prol do projeto como fator essencial para o desenvolvi-mento sem agressão ao meio ambiente. Somos desbra-vadores e tivemos um excelente relacionamento com a comunidade de Aripuanã”.

“No insconsciente brasileiro fica sempre aquela ima-gem de uma hidrelétrica que inunda grandes extensões de terras, que constrói vilas e invade propriedades. Aqui não teve nada disso, não é um projeto com cara do passado, fizemos com que ele adequasse as questões sociais e ambientais. Não temos reservatório, não des-matamos além do necessário, deixamos as cachoeiras intactas, não houve a realocação de nenhum ser huma-no, nenhum indígena”.

“Vamos gerar recursos com a compensação pelo uso dos recursos hídricos, os royalties, com quase ¼ da arrecadação atual do município, cerca de R$ 2,5

brae e a Prefeitura Municipal de Aripuanã, a Energética Águas da Pedra desenvolve um programa de apoio à produção agrícola. O suporte técnico tem conseguido bons resul-tados, como o aumento da produção leiteira e da qualidade de grãos, como o café (ao lado). O agricultor Antonio Raimundo é pau-lista e chegou a Aripuanã em 1979. Ele diz

que produz o básico: milho, arroz, feijão, leite e derivados do leite. “For-necemos queijo muçarela, flamingo, frescal. Inclusive, minha esposa está fazendo um curso para apefeiçoar a produção. O consumo fica na cidade mesmo, pois ainda não temos uma boa estrada asfaltada para escoar. A

prefeitura compra 30% do que é produzido para a merenda escolar. Depois da Usina Dardanelos passamos a aprender mais para produzir mais. Até a educação da gente mu-dou, não fazemos mais as coisas de qualquer jeito. Educação em primeiro lugar, não é só dinheiro não”, ensina Raimundo.

Colega dele, Moacir Francis-co da Cruz (ao lado) é conhecido como Francisco do Lontra, pois é morador do assentamento Lontra. Chegou na região em 1982 mas perdeu as terras que tinha devido à demarcação de uma reserva in-dígena. “Desde então venho pele-

jando como pequeno agricultor até a chegada do Sebrae e da Águas da Pedra. Agora está cla-reando um caminho melhor, estamos buscando incentivo na agricultura familiar. Acreditamos

que vai dar certo e já estamos criando uma cooperativa para conseguir melhores preços e qualidade para os nossos produtos. Da Águas da Pedra também ganhei mil mudas de árvores nativas que já plantei e eu mesmo já estou produ-zindo mais 20 mil mudas. Isso aqui era muito atrasado, mas agora nossa renda será mais competitiva”, acredita.

Page 10: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

18 correntecontínua 19correntecontínua

Beleza cênica - A experiência da Eletrobras Eletronorte em Dardanelos teve início com os estudos de viabilidade (ver matéria na página 48) e a realização das primeiras audiências pú-blicas com a comunidade. Esse trabalho prévio foi fundamental e basilar para o desenvolvi-mento das ações previstas no Projeto Básico Ambiental – PBA.

Essas ações envolvem o apoio à educação básica e ambiental, à saúde pública e ao con-trole epidemiológico, às atividades de lazer, cul-tura e turismo, e ao estudo de fauna e flora. O plantio de espécies nativas e o salvamento arqueológico, por exemplo, são um marco no setor (ver box).

Para a população, principalmente, o mais im-portante além da melhoria significativa das con-dições de vida, é a garantia de que as cachoeiras não irão secar e que a beleza cênica da região permanecerá. No período de cheias, os saltos continuarão com uma condição tão exuberante quanto a que se observa atualmente, preservan-do-se, então, a atração do local enquanto espaço de contemplação. Nos demais períodos, estarão asseguradas vazões mínimas para garantir o uso turístico e de lazer nos balneários, bem como fluxo permanente nas cachoeiras.

Na verdade, o uso do Balneário Oásis, por exemplo, inclusive a pedra conhecida como ‘escorregador’, foi favorecido pela implantação do empreendimento, na medida em que se tor-nou perene a possibilidade de banhos no local.

Antes, os balneários só eram acessíveis por cer-ca de quatro ou cinco meses ao ano, já que nos períodos de vazões mais elevadas a força da água não oferecia segurança aos usuários.

Quando a menina Vitória estiver brincando nos balneários do Rio Aripuanã, ou sendo va-cinada no melhor hospital da região, ou ainda estudando no Centro de Educação Continuada da cidade de Aripuanã, verá que sua vida co-meçou junto com um grande empreendimen-to, hoje exemplo para o Brasil e o mundo. Em Dardanelos, os homens optaram pelo equilíbrio entre a exploração de um recurso natural, o rio, para a geração de eletricidade, e a preservação desse mesmo rio e tudo que o rodeia. Admi-rando a beleza das cachoeiras Andorinhas e Dardanelos, Vitória entenderá muito bem o sig-nificado do seu próprio nome.

O Salto Dardanelos (na página ao lado), a Cachoeira das Andorinhas (acima); e o Balneário Oásis: beleza preservada

Page 11: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

20 correntecontínua 21correntecontínua

A natureza agradeceVista de cima, a imagem do Aproveitamento Hidrelétrico

Dardanelos impressiona por vários motivos, mas é impactante a exuberância da floresta amazônica ao redor da obra, como se ela tivesse sido colocada ali, delicadamente, já pronta e acabada, como parte daquele cenário natural, onde, do outro lado, uma densa nuvem se ergue das cachoeiras Andorinhas e Dardanelos.

Além do cenário deslumbrante, as cachoeiras são vitais para uma espécie de ave: o andorinhão-taperuçu-velho ou andorinhão-velho-da-cascata (Cypseloides senex), que não sofreu qualquer influência da obra, desde o início da cons-trução, e continua ocupando as encostas das cachoeiras. Sua população permanece estável em aproximadamente 3,5 milhões de indivíduos. É um espetáculo nos céus de Aripua-nã a revoada desses pássaros migratórios entre os meses de outubro e novembro (fotos acima e na página ao lado). Mas eles não estão sozinhos: das 563 espécies de aves já regis-tradas no município de Aripuanã, 316 foram observadas na área de influência direta de Dardanelos.

Segundo conclusões dos estudos de monitoramento da avifauna da região, o número de espécies de aves registra-das na área do empreendimento representa 56% de todas que ocorrem em Aripuanã. Esse quantitativo continua es-tabilizado e é provável que algumas aves, futuramente, te-nham suas populações aumentadas. Várias espécies estão reproduzindo na área da Hidrelétrica, o que pode indicar uma gradativa recuperação do ambiente impactado pela construção.

O gerente de Meio Am-biente da Energética Águas da Pedra, Paulo Rogério de Novaes (ao lado), explica que, no caso dos andori-nhões, mesmo com de-tonações, movimentação de máquinas e pessoas, o monitoramento feito a cada três meses indica que nada mudou. “É um pássaro mi-gratório que só ocorre aqui em Aripuanã. Ele vem de outras partes do mundo para se reproduzir nas cachoeiras, onde faz seus ninhos nos paredões, no período seco. No período chuvoso, vem em busca de alimentos”.

Segundo Paulo, o mais interessante nos estudos de avi-fauna é que o número de espécies identificadas aumentou sobremaneira entre os estudos de viabilidade e a construção de Dardanelos: “A região conhecida como Cristalino, aqui também no norte de Mato Grosso, teria o maior número de espécies de aves do Brasil, mas, agora, Aripuanã chega pró-

ximo, com mais de 560 variedades, o que faz da cidade a mais rica em avifauna”.

Em se tratando de fauna os estudos em Dardanelos foram abrangentes. Na ictiofauna foram registradas 133 espécies de peixes e não foram observadas interferências negativas da estrutura da obra sobre o habitat natural. Na mastofauna (mamíferos) os dados também apontam para a manutenção das 101 espécies que habitam a região, e na herpetofauna as campanhas totalizam 50 espécies de anfíbios e 57 de répteis.

“Espécies que indicam boa qualidade do ambiente, no caso dos anfibios, continuam a ocorrer normalmente na área direta de influência do empreendimento, assim como determinadas aves, ou o bagre que achava-se endêmico, mas que existe em toda a bacia do rio; ou o tatu-canastra e o macaco-cabeludo, também indicativos de um ambiente equilibrado e harmonioso”, explica Paulo.

Flora e arqueologia – Mais de 88% das áreas degrada-das no entorno de Dardanelos já foram recuperadas com mudas de plantas e árvores nativas da Amazônia. Numa área de 75 hectares todas as árvores com tronco acima de cinco centímetros foram inventariadas. No viveiro da Energética Águas da Pedra já foram produzidas, entre

2007 e 2009, mais de 830 mil mudas de 82 espécies, usadas na recuperação da degradação e doadas para pequenos e médios proprietários rurais. Uma vez conclu-ída a recuperação, as mudas serão direcionadas para o reflorestamento das matas ciliares dos afluentes do Rio Aripuanã, como o Frei Canuto. Outras 15 mil mudas de espécies não nativas serão usadas na arborização urbana de Aripuanã.

Para a instalação do canteiro de obras também foi necessário o trabalho prévio de arqueologia, um resgate do passado do homem que habitou a região. O Instituto do Homem Brasileiro, em Cuiabá, já está guardando um tesouro de 100 mil peças arqueológicas recuperadas na área de influência de Dardanelos. Há material cerâmico,

como panelas e urnas mortuárias, que pode datar de sete a 15 mil anos.

É a história que o Aproveitamento Hidrelétrico Dardanelos deixa para a cidade, o estado, o País. Uma história que ainda registrará a construção de um hospital modelo, com 56 leitos, pronto a atender à demanda regional do norte de Mato Gros-so. E o Centro de Educação Continuada, um amplo e moderno espaço com salas de leitura e informática, biblioteca e auditó-rio para 400 pessoas.

“É uma experiência única trabalhar na implementação de um empreendimento construído conscientemente para o ga-nho ambiental sustentável. É gratificante saber que podemos gerar energia de um recurso natural e que tudo isso permitiu a preservação da natureza”, conclui Paulo Novaes.

Page 12: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

22 correntecontínua 23correntecontínua

Bruna Maria Netto

A cadeira em que você está sentado, lendo esta reportagem, pode ter vindo de uma árvo-re da floresta amazônica. Não? Então a porta da sua casa ou do escritório certamente foi. Se você está na Região Norte, então lembrará que há 30 ou 40 anos, a energia usada para ligar lâmpadas e assistir televisão vinha da queima de madeira também; ou se está em qualquer lugar do Brasil isso se aplica ao piso da sua casa, ao violão dos encontros no final de sema-na, à borracha e ao papel do escritório. Enfim, se forem enumeradas as diversas funções da madeira, seria necessária toda a edição desta Corrente Contínua.

Por isso, é melhor nos atermos às conside-rações do pesquisador em Genética e Conser-vação Florestal da Empresa Brasileira de Pes-

quisa Agropecuária - Embrapa, Milton Kanashiro (ao lado), sobre a impor-tância da floresta amazônica e de sua madeira para o homem e para o meio ambiente: “A madeira da Amazônia é muito utilizada para construções e para a fabricação de barcos. Também há muita demanda para energia, ou celu-lose na fabricação de papel. A floresta tem uma função muito importante na

regulação do clima e sobre a biodiversidade das florestas tropicais. As espécies arbóreas também têm uma relação direta com a fauna, pois, em muitos casos, dependem dela para os processos de polinização”.

O Brasil é hoje o maior fabricante de ma-deira tropical do mundo. Produziu, em 2002, 69% do volume de madeira tropical da Amé-rica do Sul e 22% do conjunto do continente americano, sendo a região amazônica respon-sável por 87,5% da produção brasileira. Para

se ter ideia, só a Amazônia Legal é a segunda maior produtora de madeira tropical do mun-do, perdendo apenas para a Indonésia. Sen-do essa uma das principais atividades eco-nômicas da região, abastece o mercado com 10,4 milhões de metros cúbicos de madeira processada, ou seja, já em forma de tábuas, produtos beneficiados, laminados, compen-sados, entre outros.

De acordo com dados de pesquisa realiza-da pelo Instituto Homem e Meio Ambiente da Amazônia – Imazon, em 2004, o setor madei-reiro extraiu cerca de 6,2 milhões de árvores. Desse total, 64% ficaram aqui mesmo no Bra-sil, enquanto foram exportados os 36% restantes. Segundo Newton Zerbini, engenheiro florestal e gerente de Estudos e Projetos Ambientais de Transmissão da Eletrobras Eletronorte, o recurso madeireiro é muito importante e em vários países é a principal base econômica. “No Chile, o setor ma-deireiro é a segunda economia do país, enquanto no Estado do Pará, a madeira alimenta 15% de todo o PIB brasileiro”.

Zerbini (ao lado) afirma que, atualmente, em qualquer empreendimento que envolva o meio ambiente, haverá um tra-tamento melhor ao uso da madeira do que de décadas atrás. “Hoje, ao se construir uma hidrelétrica, por exemplo, existem outras pre-ocupações que não se limitam ao reservatório, pois o aproveitamento da madeira é pontual. Porém, é interessante preservar a bacia onde está localizado o empreendimento. Se ela não é bem preservada irá acarretar em carreamento de sedimentos, em ciclo hidrológi-co alterado - pois não há uma boa retenção de água na bacia -, o que acaba prejudicando o reservatório e, consequentemente, a geração de energia. Se existe uma área com cobertura florestal, a água da chuva a alimenta com os recursos hídricos de forma contínua e não de uma vez só, como acontece atualmente nas grandes cidades, que sofrem com inundações em decorrência da chuva”.

Qualidade para exportação – Quem entende bem sobre os 36% exportados é o engenheiro florestal e agrônomo Guilherme Carvalho (aci-ma), diretor Técnico da Associação das Indús-

Manejo florestal pode salvar espécies e melhorar a socioeconomia da exploração madeireira

Sust

enta

bilid

ade

Page 13: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

FSC, o selo verde da certificaçãoSegundo a WWF - Brasil, o FSC é hoje o selo verde mais

reconhecido em todo o mundo, com presença em mais de 75 países e todos os continentes. Atualmente, os negócios com produtos certificados movimentam recursos da ordem de US$ 5 bilhões por ano em todo o planeta. FSC é uma sigla em inglês para a Forest Stewardship Council, ou Conselho de Manejo Florestal, em português.

O Conselho foi criado como o resultado de uma iniciativa para a conservação ambiental e o desenvolvi-mento sustentável das florestas do mundo inteiro. Seu objetivo é difundir o uso racional da floresta, garantindo sua existência no longo prazo. Para atingir este objetivo, o FSC criou um conjunto de regras reconhecidas inter-nacionalmente, chamadas Princípios e Critérios, que conciliam as salvaguardas ecológicas com os benefícios sociais e a viabilidade econômica, e são os mesmos para o mundo inteiro.

O FSC desenvolve os princípios e critérios para a cer-tificação; credencia organizações certificadoras especia-lizadas e independentes; e apóia o desenvolvimento de padrões nacionais e regionais de manejo florestal.

O Brasil é hoje o País com maior área de florestas e o maior número de produtos certificados pelo FSC. São mais de três milhões de hectares de florestas certificadas desde o Amazonas até o Rio Grande do Sul e cerca de 170 certifi-cações de cadeia de custódia. A maior parte dos produtos com selo FSC destina-se à exportação para países europeus e da América do Norte. No entanto, já existe um número superior a 60 organizações (indústrias, designers, governos estaduais, entidades de classe e outros) pertencentes ao Grupo de Compradores de Madeira Certificada, entidade que assume publicamente o compromisso de dar sempre preferência ao produto certificado.

O manejo sustentável

da Aimex no Pará

24 correntecontínua 25correntecontínua

trias Exportadoras de Madeiras do Estado do Pará – Aimex. A Associação, entidade do setor florestal mais antiga do Estado do Pará, foi cria-da em 1981 para contribuir na implantação de políticas públicas para o setor florestal.

Guilherme lembra que a exportação de ma-deira antes da formação da Associação não seguia regras de qualidade como hoje. “O di-ferencial estava no controle, por parte do go-verno, dos preços da madeira exportada. Po-rém, era permitida a exportação de madeira na forma bruta de tora, prejudicando as empresas que já serravam toras para exportar. Essas sen-

tiam uma concorrência desleal, já que tinham investido em equipamentos para exportar a ma-deira dessa forma, enquanto os exportadores de madeira em tora não tinham nenhum custo com industrialização, bastando cortar a tora, empilhá-las e esperar o navio carregar”.

Em 1989, o governo brasileiro baniu defini-tivamente a exportação de tora, fato que levou o setor a começar a exportar madeira serrada e compensada. “Foi quando observamos que, primeiro, havia a necessidade de regulamentar o Art. 15 do Código Florestal e a Lei 4.771, de 1965. Somente 30 anos após a pu-blicação dessa lei é que foi publicado o Decreto 1282/94 regulamentando o manejo florestal na bacia Amazônica. Aí teve início um processo voltado para critérios técnicos com base na ciência florestal, que condi-cionou a exploração das florestas primi-tivas da bacia ama-zônica e das demais formas de vegetação arbórea natural so-mente sob a forma de manejo florestal

sustentável de uso múltiplo. Isso, obedecendo aos princípios de conservação dos recursos na-turais, de preservação da estrutura da floresta e de suas funções, de manutenção da diversida-de biológica e do desenvolvimento socioeconô-mico da região”, afirma Guilherme.

O médico veterinário da Embrapa, Paulo Fernandes (acima), ressalta que a fiscalização quanto à retirada da madeira ilegal da floresta está mais intensa, e faz o alerta: “Somente as ações punitivas não são suficientes para a solu-ção definitiva do problema. O mercado de ma-deira no Pará gera empregos e renda há várias décadas e o poder público e o meio científico precisam agir em harmonia em busca de alter-nativas viáveis”. Mesmo com essas ações pu-nitivas, segundo Newton, estima-se que 80% da produção de madeira na Amazônia são de

fonte ilegal ou predatória. Um meio de o consumidor se prote-

ger das madeiras ilegais é a compra de

Fotos: Jaime Souza/Aimex

Page 14: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

27correntecontínua26 correntecontínua

Paralelamente serão realizadas consultas pú-blicas que permitirão àqueles que, direta ou indiretamente, tenham interesse ou sejam afe-tados pelo empreendimento, se manifestem. Depois de todo este processo a empresa rece-be a certificação do empreendimento florestal e passa a ser monitorada anualmente”, explica Guilherme Carvalho.

Manejo florestal – Outra forma de continuar usufruindo da madeira sem levá-la à extinção é por meio do manejo florestal. Milton Kanashiro lembra que um dos grandes problemas atuais é justamente a mal utilização da madeira: “A ma-deira é má utilizada pelo homem quando as ex-trações ocorrem de forma ilegal e não há cuidado algum no processo de abate das árvores. Muitos procedimentos recomendados para a exploração não são aplicados, e a derrubada pode causar danos à floresta, chegando a derrubar outras ár-vores, caso elas estejam ligadas através de cipós que não tenham sido cortados anteriormente. Também é maléfico quando árvores, mesmo que ocas, são derrubadas, enquanto que, se mantidas na floresta, poderiam ter outras funções, como abrigo para animais. A má utilização está em qual-quer atitude de desrespeito e a falta de cuidado para não desperdiçar a madeira”, sentencia.

O pesquisador da Embrapa explica o que é manejo florestal ao afirmar que a madeira é

bem utilizada quando ocorre a preocupação com o planejamento, preparo para a extração, corte respeitando a quantidade de árvores exis-tentes, cuidado na direção em que a árvore será derrubada e os próprios cuidados na derruba. “Um planejamento cuidadoso na extração ma-deireira, incluída a parte de identificação botâ-nica (e não apenas tudo baseado em nomes populares), estará assegurando a manutenção da biodiversidade de espécies, no sentido de que é importante se ter a diversidade genética para garantir a evolução e adaptação das espé-cies de forma contínua”.

Muitas vezes, em função de um inventário florestal mal feito, as consequências podem ir além dos prejuízos econômicos imediatos, como a destruição de espécies antes de se-rem devidamente identificadas. De acordo com Paulo Fernandes, o reflorestamento precisa ser planejado de forma muito especial. “Pode ser realizado em grande escala, com florestas ho-mogêneas. A alternativa pode ser o plantio em baixa densidade de árvores ou em faixas, in-tercaladas com pastagens e culturas agrícolas”, diz. Trata-se da integração lavoura-pecuária-flo-resta (iLPF), difundida pela Embrapa.

Os sistemas de iLPF são alternativas viáveis para suprir a demanda de madeiras nobres na região. “Existe também o potencial da tecnolo-gia para produção de agroenergia na forma de

produtos certificados. Segundo a WWF - Brasil, a certificação é um processo voluntário em que é realizada a avaliação de um empreendimento florestal por uma organização independente, a certificadora, e verificados os cumprimentos de questões ambientais, econômicas e sociais que fazem parte dos Princípios e Critérios do Conse-lho Brasileiro de Manejo Florestal – redação em português para a sigla FSC.

A certificação florestal deve garantir que a madeira utilizada em determinado produto é oriunda de um processo produtivo manejado de forma ecologicamente adequada, socialmente justa e economicamente viável. E no cumpri-mento de todas as leis vigentes. É uma garantia de origem que serve também para orientar o comprador atacadista ou varejista a escolher um produto diferenciado e com valor agregado, capaz de conquistar um público mais exigente e, assim, abrir novos mercados.

No Brasil, esses princípios e critérios são estabelecidos pelo FSC e pelo Cerflor, que é vinculado à ABNT/Inmetro, e avaliados por uma certificadora. Para que uma empresa par-ticipe do processo de certificação ela precisa inicialmente ter um empreendimento florestal aprovado pelo órgão ambiental competente. “A certificadora avaliará o empreendimento e, se for o caso, apresentará um relatório para a empresa adequá-lo aos princípios e critérios. Fo

tos:

Sec

om/A

C

O manejo florestal

garante o planejamento

cuidadoso na extração,

no corte e no transporte

Page 15: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

“A minha experiência com trabalho de madeira de pequenos objetos surgiu da empresa do meu pai no interior de São Paulo, em 1970”, conta o engenheiro mecânico George Doré (foto), nascido em Campinas (SP), e hoje presidente da Iiba Produtos Florestais Sustentáveis, em Rio Branco (AC), especializada no desenvolvimento e fabricação de produtos de madeira. Hoje, a empresa desenvolve seus produtos baseada no melhor uso dos recursos naturais já explorados. Isso envolve o aprovei-tamento dos materiais que sobram no manejo florestal, tanto dos galhos e costaneiras, quanto nas serrarias. “Eu certifiquei a empresa pelo FSC em 2001 e, a partir daí, acabamos tendo contato com a produção de madeira certificada pelo manejo comunitário do Acre, realizada por um grupo de seringueiros que utiliza o manejo floresta”.

George se fixou no Estado do Acre para estar mais próximo da produção e entender melhor as questões diretamente relacionadas ao manejo florestal. Ele relata as diferenças: “Lá em São Paulo nós trabalhávamos com madeira, e aqui a Iiba trabalha com florestas, então é outro enfoque. Em São Paulo, a empresa do meu pai ou qualquer outra, entra em contato com o material a partir do momento em que ele chega à porta da indústria. A empresa consumidora não tem contato com o processo de beneficiamento desde a floresta até aquele ponto, ou conhecimento da quantidade de madeira que se perde pelo caminho. Podemos dizer que a cadeia produtiva da madeira, de um modo geral, é muito ineficiente. Se to-marmos por base o volume de madeira explorada no mato, o volume que é abatido de uma árvore até o produto final, o rendimento é sempre inferior a 30%, levando-se em consi-

deração todas as etapas do processo de produção. O que vamos conseguir fazer é produzir mais produto acabado a partir do mesmo volume original de madeira de áreas exploradas, sem precisar derrubar mais árvores”.

George começou a perceber ou-tras possibilidades, chegan-do a trabalhar com resíduos florestais, que são os galhos das árvores que foram explo-radas no manejo florestal.

“Hoje em dia quando se abate uma árvore só se aproveita o tronco, chamado fuste. Toda galhada – e aqui na Amazônia é muito exuberante –, um volume significativo de madeira fica no mato e lá apodrece. Então fizemos um estudo junto com a Fundação de Tecnologia do Acre – Funtac, e com o Serviço Nacional da Indústria – Senai, para criar produtos a partir da madeira de galhada (foto acima), seguindo essa lógica de melhorar o uso da árvore que está sendo extraída e não está sendo aproveitada”.

Atualmente a Iiba tem 12 trabalhadores diretos e, indi-retamente, uma das principais bases de suprimentos é a

“Em São Paulo trabalhávamos com madeira. Aqui trabalhamos com floresta”Cooperativa dos Produtores Florestais Comunitários – Cooperflo-resta, formada por sete comunidades, totalizando 100 famílias que trabalhavam com látex e castanha. “Justamente nessa onda de criar novas atividades florestais sustentáveis fomos trabalhando com esses seringueiros o desenvolvimento florestal madeireiro, um grande desafio para eles, que são muitos sensíveis às questões ambientais”, lembra George.

E acrescenta que é do consumidor final o papel principal nessa cadeia produtiva: “É ele quem toma a decisão de remunerar a pro-dução sustentável ou não, e muita das vezes, por desconhecer o selo FSC, acaba por remunerar os produtos mais baratos sem selo, e que, provavelmente por ser mais barato, é de origem ilegal, pois a opção da legalidade acaba sendo necessariamente mais cara. Quando a cadeia produtiva se completa e todas as etapas estão respeitando as questões ambientais, tributárias e fiscais, isso acaba incorrendo em um aumento necessário de custos quando comparado com uma cadeia produtiva ilegal”.

(Colaborou Leandro José Alves, da Regional de Comercialização do Acre)

28 correntecontínua 29correntecontínua

carvão ou biodiesel. O carvão pode ser produzi-do com o plantio de eucalipto e o biodiesel com palma. Os vários setores produtivos precisam estar integrados, em cadeias produtivas e mer-cados formais bem desenvolvidos, com geração de empregos e riquezas. Dessa forma, deman-das por geração de renda são supridas e o meio ambiente pode ser preservado”, conclui.

No entanto, Newton Zerbini lembra que o manejo florestal sustentável limita-se a escas-sas iniciativas de empresas privadas ou projetos experimentais e apenas a adoção de políticas públicas integradas pode torná-lo viável. Outra questão associada ao manejo é a valorização integrada de todos os recursos da floresta. O manejo florestal em escala comercial depende do aproveitamento máximo das potencialidades da floresta, visto que envolve custos operacio-nais que devem ser compensados com o maior valor possível dos produtos a serem colhidos.

Devido ao aproveitamento seletivo de reduzido número de espécies madeireiras, que vem oca-sionando sua escassez, são necessários estu-dos que examinem a existência de novas espé-cies capazes de ingressar, ou mesmo substituir, as tradicionalmente utilizadas.

Madeira submersa – Outro tipo de extração de madeira, em caráter experimental e pioneiro, foi a madeira submersa oriunda do lago da Usi-na Hidrelétrica Tucuruí (foto na página ao lado), de onde saíram depois de submersas espécies como castanheira, sumaúma, virola, cedrora-na, angelim, faveira, jatobá e ipê. A exploração florestal submersa poderia ser benéfica para a qualidade da água do reservatório, pois evitaria a reprodução de fitomassa degradável.

Newton Zerbini explica que a madeira submersa tem suas vantagens, pois a água mantém suas características tecnológicas e,

“dependendo de quem a processe, ela é até melhor do que a madeira comum, porque fica mais macia para ser serrada. Numa serraria, por exemplo, os troncos são armazenados em pátios. Já em laboratórios, a madeira é arma-zenada em água”. O trabalho de extração da madeira submersa era realizado com um equi-pamento próprio, porém sem qualquer estrutu-ra ou técnicas de mergulho.

Mais tarde, foi feita uma licitação para essa extração, dividindo-se o lago em glebas. Entre-tanto, o controle deficiente do que era retirado possibilitou que madeiras extraídas em outras regiões passassem a ser apresentadas no co-mércio como sendo madeira do lago de Tucu-ruí, além de outras irregularidades contratuais. Na época, um barco canadense, equipado com um braço mecânico, chegou a ser utilizado por uma das empresas contratadas. Logo após, es-tudos de ictiofauna identificaram que as árvores submersas, conhecidas como paliteiro, tinham se transformado numa espécie de berçário de peixes e, entre a exploração deficiente da ma-deira submersa e o aumento da população pes-queira, optou-se por esta última.

Desmatamento - De acordo com o Ima-zon, em março de 2010 o Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) registrou 76 km² de

Page 16: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

30 correntecontínua

O entrevistado é Basílio Vianez (foto), coordenador do projeto Madeiras da Amazônia, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – Inpa. A pesquisa, inicialmen-te, foi realizada no lago da Usina Hidrelétrica Balbina, estendendo-se, depois, a outras localidades. O estudo foi desenvolvido com 40 espécies madeireiras oriundas da área da Hidrelétrica localizada no Rio Uatumã, localizado ao norte da cidade de Manaus (AM).

O que motivou a pesquisa sobre madeiras da Amazônia?No Inpa essa pesquisa foi iniciada com um projeto

financiado pelo CNPq, Finep e BID, cuja implementação durou um ano e meio (setembro de 1979 a março de 1981). Esse projeto foi intitulado “Manejo Ecológico e Exploração da Floresta Tropical Úmida” e teve a aplicação de cerca de US$ 13 milhões na construção da Coordenação de Pes-quisas em Produtos Florestais, constituída de laboratórios e plantas-piloto para desenvolver pesquisas científicas e tecnológicas em manejo e tecnologia de madeiras tropicais. A principal motivação dessa iniciativa foi a necessidade de se definir um modelo que permitisse o aproveitamento econômico da floresta, mantendo-se um equilíbrio ecológico. No seu escopo, o projeto justificava a necessidade de se obter mais conhecimentos sobre o manejo e a exploração florestal que levassem a um desenvolvimento econômico e social da região.

O número de espécies madeireiras encontradas era o esperado? Houve alguma surpresa?O número de espécies arbóreas na floresta Amazônica

é muito grande e a maioria já é conhecida pelos botânicos há muitas décadas. Entre eles Adolpho Ducke, Jacques Huber e Paul Le Cointe, desde o final do século XIX. Mas faltavam estudos de manejo e caracterização tecnológica dessas espécies. Em nossa região poucas espécies são tradicionalmente exploradas para o uso da madeira e isso faz com que uma grande pressão exploratória recaia sobre poucas espécies, levando-as à extinção. Um dos principais objetivos dos estudos desenvolvidos pelo Inpa é aumentar o conhecimento sobre um número cada vez maior de espé-cies, para que essa pressão exploratória seja reduzida. Dessa forma, um dos principais critérios para escolha das espécies a serem estudadas é a sua densidade volumétrica (m³/ha) e a possibilidade de se fazer agrupamentos de espécies com características tecnológicas semelhantes.

Houve alguma mudança nas espécies catalogadas de lá para cá?É lógico que a lista de espécies estudadas vai aumen-

tando lentamente a cada ano. Mas isso não significa que sejam utilizadas pelo comércio de madeiras. Mudar os

desmatamento na Amazônia Legal. Isso re-presentou um aumento de 35% em relação a março de 2009, quando a devastação somou 57 km². Newton explica que “a avaliação da influência de diversos fatores socioeconômi-cos no processo de desflorestamento da flo-resta amazônica, utilizando-se uma série tem-poral de 1980 a 1999, permitiu concluir que os fatores mais significativos do desmatamen-to são, em ordem de importância: a extração madeireira, o aumento da população regional, a produção madeireira, o aumento da malha viária e o efetivo do rebanho bovino”.

No entanto, Paulo Fernandes alerta que a expansão da pecuária na Amazônia não é um dos principais causadores do desmatamento, e sim consequência disso. “O bovino, geralmen-te taxado como o causador do desmatamento, pode, na realidade, ser o fim de um ciclo que passou por três fases: inicialmente retiram-se as toras de madeira nobre do meio da floresta; em outra fase ocorre a retirada da vegetação para a produção de carvão, que atende às de-mandas locais, especialmente ao mercado da siderurgia no Pará; finalmente, no espaço sem vegetação, restou somente a opção da forma-ção de pastagens. Nesse caso, os bovinos não seriam a causa do desmatamento, mas a con-

hábitos dos consumidores e das empresas madeireiras quanto ao uso e exploração de novas espécies, visando a preservar aquelas ameaçadas pela exploração predatória, não é uma coisa fácil de se alcançar. Nos catálogos de madeiras estudadas existem muitas que tiveram suas propriedades evidenciadas e foram sugeridas para substituir espécies nobres. Entretanto, muitas vezes isso não aconteceu. Algumas espécies novas são introdu-zidas pelas madeireiras e são aceitas pelos consumidores sem haver o conhecimento tecnológico das mesmas. Nesse caso, o caminho é inverso. Em função dessa demanda faz-se necessário o estudo dessas espécies para sua melhor utilização. Já espécies florestais identificadas e que tenham sido extintas não são do nosso conhecimento. Diminuição de volumes tem ocorrido com as espécies mais exploradas, mas, na maioria dos casos, elas são colocadas em listas de espécies ameaçadas de extinção e sua comercialização é proibida, como ocorreu com o mogno, a cerejeira e a castanheira.

Quando as áreas alagadas têm volumes consideráveis de madeira comercialmente valiosas e todo o processo da retirada é economicamente viável?É possível ser feito um aproveitamento dessas madeiras. Nor-

malmente, essas áreas são remotas, de difícil acesso e os projetos são executados em prazos muitos curtos para que uma exploração adequada possa ser feita. Quando essa madeira fica debaixo d’água sem ser explorada, ela fica preservada por muitas décadas. É possível que uma floresta não economicamente explorável ao tempo da sua inundação passe a atrair o interesse de empresas para a sua exploração muitos anos depois, como aconteceu em Tucuruí e está prestes a acontecer em Balbina. A economia é a mola-mestre de toda essa dinâmica.

O que pode ser feito com as espécies de madeiras encontradas?A floresta Amazônica é muito heterogênea. Em um hectare de

floresta é possível encontrar centenas de espécies distintas, para os mais diversos usos. Daí a importância dos estudos de carac-terização tecnológica desenvolvidos pelos centros de pesquisa. Esses estudos é que orientam para o melhor uso de cada espécie de madeira.

Como a sociedade pode ajudar?A conscientização das populações locais para

a manutenção da floresta em pé, com a sua exploração baseada em um manejo sustentável, está se tornando, cada dia mais, uma realidade. Somente dessa ma-neira é que podere-mos sustentar esse patrimônio que é de todos nós.

Inpa estudou as madeiras de Balbina

sequência das ações anteriores, inclusive das políticas públicas de ocupação territorial ocor-rida há décadas”.

Alternativas – Tanto Milton quanto Newton afirmam que há muito mais a se explora na Amazônia: “Em décadas passadas, eram apro-veitadas apenas as árvores de alto valor econô-mico e muitas outras eram deixadas de lado. O baixo aproveitamento dos recursos florestais e a dificuldade de implementação do manejo florestal sustentável no Brasil oneram a extra-ção florestal nacional devido, sobretudo, à falta de informações da cadeia produtiva madeireira, à deficiência de informações tecnológica rela-tivamente à qualidade da madeira e ao apro-veitamento comercial de número reduzido de espécies”, afirma o engenheiro florestal da Ele-trobras Eletronorte.

“Notadamente na Amazônia, muito desta biodiversidade é desconhecida. Muitas espé-cies arbóreas têm grupos bastante complexos e a própria qualidade do produto madeira pode ser afetado pela sua não homogeneidade. A dificuldade na separação de espécies propicia um mercado instável e pode causar impactos ambientais pela perda de espécies mesmo an-tes de serem catalogadas”, completa Milton.

Madeirasubmersa fica

conservada dentro d’água

Page 17: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

32 correntecontínua 33correntecontínua

César Fechine

As pequenas e médias centrais hidrelétri-cas, conhecidas pela sigla PCHs, constituem-se em excelente opção para ajudar a suprir a demanda por energia elétrica no Brasil, prin-cipalmente considerando-se a previsão de diversos setores da economia que estimam o crescimento em 5% para os próximos anos. Essa é a opinião compartilhada por centenas de profissionais que participaram do VII Sim-pósio sobre Pequenas e Médias Centrais Hi-drelétricas, promovido pelo Comitê Brasileiro de Barragens - CBDB, no último mês de maio, em São Paulo, com o apoio das mais impor-tantes instituições públicas e privadas do País (foto abaixo).

O Brasil conta hoje com cerca de 350 PCHs, responsáveis por quase 3% da oferta de ener-gia, com potencial de geração que pode chegar a 8% nas próximas décadas. Isso representa uma capacidade de 25 mil MW, segundo da-dos do CBDB. “Superada a crise econômica de 2008 e 2009, os investimentos em pequenas e médias centrais hidrelétricas voltam a crescer e a atrair os investidores. Há hoje cerca de 70

A energia forte das pequenase médias centrais hidrelétricas

projetos de PCHs em construção no País”, in-forma o engenheiro Fabio De Gennaro Castro, coordenador do Simpósio e vice-presidente do CBDB (abaixo).

Relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel aponta que as PCHs em vias de construção agregariam no curto prazo mais 1,6 mil MW ao potencial de geração do País. Para dis cutir a construção dessas centrais com a segurança e a agilidade necessárias, além de debater questões relativas às inovações téc-nicas, contratos, seguran-ça de barragens e o licen-ciamento ambiental para esse tipo de obra é que foi realizado o Simpósio.

“Muita energia é ne-cessária para que o Brasil possa gerar hoje um PIB de R$ 3,5 trilhões, suficiente para si-tuar o País como a sexta principal economia do mundo. Muito mais energia elétrica terá de estar disponível para que alcancemos o status de quinta economia mundial até 2013, como

admitem alguns dos mais ilustres analistas internacionais”, contextualiza Erton Carvalho, presidente do CBDB.

O Brasil dispõe hoje de um potencial de ge-ração superior a 100 mil MW. E a principal fonte desse sistema é a geração hidrelétrica, que res-

ponde por 70% da capaci-dade instalada. Trata-se de uma energia limpa, reno-vável, segura e com preço competitivo, que fornece o insumo necessário para que a economia brasileira possa deslanchar.

Crivo ambiental e taxa de retorno - Mas, ao evitar a construção de barragens o Setor Elétrico brasileiro

pode terminar optando por fontes de energia poluidoras, menos eficientes e mais danosas ao meio ambiente. “Há claramente um olhar en-viesado para as barragens, seja qual for o seu porte. Projetos de grandes barragens e mesmo de pequenas e médias centrais são submetidos a um duro crivo legal e ambiental que não pa-rece o mesmo aplicado a modalidades como a geração térmica”, diz Erton (foto acima).

Representando o Ministério do Meio Ambiente, a especialista em recursos hídricos e assessora

do diretor-presidente da Agência Nacional de Águas - ANA, Gisela Forattini (foto abaixo), dis-se que a gestão integrada dos recursos hídricos exige a permanente articulação com diversos setores e defendeu os empreendimentos de PCHs. “Água é desenvolvimento. Nosso País vem se desenvolvendo e deve crescer muito mais. Dado a sua vocação hidrelétrica, as ba-ses desse desenvolvimento devem envolver, necessariamente, o binô-mio água e energia. Nes-se sentido, as pequenas e médias centrais hidrelé-tricas representam opção interessante para auxiliar o atendimento da demanda energética”, afirmou.

A geração hidrelétrica é limpa, renovável, não gera CO², nem efeito estufa. As PCHs, além da geração limpa, também trazem benefícios por estarem si-tuadas próximas aos cen-tros de carga, o que faz com que sejam evitados grandes investimentos em transmissão. “Por se tratar de uma geração distribuída, a PCH gera controle de tensão, re-dução de perdas e aumento da confiabilidade do suprimento”, explica Erton Carvalho.

Ener

gia

Ati

va

PCH Zé Fernando, localizada no Rio São Lourenço,em Juscimeira (MT), tem potência instalada de 29,1 MW

Page 18: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

35correntecontínua34 correntecontínua

Geralmente, as PCHs oferecem baixo risco ambiental e têm, portanto, licenciamento mais ágil, podendo ser utilizadas para usos múltiplos, como o controle de cheias, por exemplo. Des-se modo, representam um bom negócio para os investidores, pois recebem o incentivo de redução de 50% na Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (Tusd) e estão isentas de paga-mento pelo uso da água (compensação finan-ceira pelo uso do recurso hídrico, ou royalties).

Apesar de o retorno do investimento em uma PCH depender de uma série de fatores, como a geologia, a topografia, as quedas d’água exis-tentes no local e a forma de financiamento, o que se vê no mercado é que a Taxa Interna de Retorno - TIR desses empreendimentos está acima de 10% ao ano.

Um dos trabalhos apresentados no Simpó-sio mostra que a aplicação de Mecanismos de Desenvolvimento Limpo – MDL, a empreendi-mentos de PCHs pode elevar os ganhos na TIR em até 6%. “Há um projeto que tinha uma TIR de 8,5% e passou para 14,5% apenas com a incorporação da variável MDL”, cita Aluizio Fa-gundes, presidente do Instituto de Engenharia.

Outro atrativo apontado é que as PCHs, na maioria das vezes, acabam levando progresso para a região onde a usina é construída, geran-do oportunidades para a abertura de indústrias de médio porte e para a participação de inves-

tidores no setor de infraestrutura, influenciando positivamente na geração de empregos.

A participação das PCHs na matriz energéti-ca brasileira parece pequena? “Pois o percen-tual é muitas vezes decisivo em momentos crí-ticos da oferta de energia. As PCHs cumprem papel decisivo no desenvolvimento das áreas que estão fora do sistema interligado e contri-buem também para a segurança geral do siste-ma”, responde De Gennaro.

Expansão - O superintendente de Expansão da Geração, engenheiro Humberto Gama (foto na página ao lado), representou a Eletrobras Eletronorte no Simpósio, com uma palestra so-bre a “A Eletronorte e a Expansão da Oferta de Energia Elétrica”. Segundo ele, a capacidade instalada de geração de energia elétrica no País vai evoluir de 99.742 MW para 154.797 MW até 2017, conforme prevê o Plano Decenal de Expansão de Energia, aprovado pelo Ministério de Minas e Energia. “A Eletronorte participa atualmente de 27 projetos e estudos de expan-são da oferta de energia, que somam quase 31 mil MW”, informa.

O Plano prevê a queda da geração por meio de fontes hidrelétricas na matriz energética de 86% para 76%, a manutenção da fonte nucle-ar no patamar de 2% e o aumento da geração proveniente de fontes alternativas de 1% para 4%, bem como de térmicas dos atuais 12% para 18% (ver matéria na página 60).

Gama diz que há oportunidades de negócios no Setor Elétrico brasileiro para todas as áreas da engenharia. “O Plano prevê o crescimento de 4,9% ao ano de capacidade instalada de geração de energia. O consumo de energia cresceu em todas as regiões do País no último ano, com des-taque para a Amazônia, que cresceu 8,5%. Na-quela região existe uma demanda reprimida.”

‘Barrageiro’ convicto, Humbertão, como é conhecido, lembra que justamente onde há a maior demanda, há o maior potencial. “Na Re-gião Norte há rios que ainda não conhecemos. Às vezes, os pesquisadores estão sobrevoando a Amazônia, vêem um rio pequeno lá embaixo, vão procurar no mapa e não acham.”

Inovações - O tema Inovações e Qualidade Técnica dos Empreendimentos de Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas abriu o Simpósio, que reuniu mais de 1.100 profissionais, sendo 600 participantes, 300 expositores e 200 visi-tantes, representantes de empresas públicas e privadas. Uma exposição técnica com 40 estan-des mostrou os trabalhos desenvolvidos por em-presas ligadas às áreas de planejamento, investi-mento, projeto, construção, operação de usinas, fabricantes e montadoras de equipamentos.

Foram apresentados trabalhos de engenha-ria civil, que concentra a maior parte dos riscos e incertezas relacionados a PCHs. Houve uma parcela significativa de trabalhos relacionados à engenharia elétrica e a temas gerais, como arranjos, modelos de barragens e automação.

O relator do tema, José Franco Pinheiro Machado, afirma que os projetos de PCHs ou

De autoria do senador Marco Maciel (DEM-PE) (foto), a Lei de Arbitragem – Lei 9.307/96, é uma alternativa à prestação jurisdicional por parte do Estado. “É essa a grande vitória da arbitragem a meu ver, ou seja, está fazendo com que em dife-rentes campos muitas demandas deixem de ser encaminhadas à prestação jurisdicional por parte do Estado e sejam resolvidas através de comissões de arbitragem. Essas comissões, inclu-sive, compreendem não somente a conciliação, mas também a busca de caminhos alternativos para a solução de litígios”, diz o Senador.

Uma conquista muito importante obtida após a vigência da Lei, na avaliação de Marco Maciel, foi o fato de o Brasil haver subscrito a convenção sobre reconhecimento e execução de sentenças arbitrais estrangeiras. Maciel observa que o Poder Judiciário também passou a praticar o instituto da arbitragem, inclusive no campo trabalhista.

A arbitragem é uma forma de solução de conflitos quando surge um impasse decorrente de um contrato. Para isso, as partes nomeiam árbitros, sempre em número ímpar. O árbitro pode ser qualquer pessoa maior de idade, no domínio de suas faculdades mentais e que tenha a confiança das partes. Tam-bém deverá ser independente e imparcial, isto é, não pode ter interesse no resultado da demanda e não pode estar vinculado a nenhuma das partes.

A arbitragem não é um instituto novo em nosso Direito, pois desde o período colonial é legalmente reconhecida no Brasil e vem sempre sendo incluída em diversas legislações nacionais. Aspectos importantes como a simplicidade, objetividade, sigilo e rapidez do procedimento arbitral, se sobrepõem à complexi-dade, prolixidade, publicidade e, sobretudo, à morosidade do processo judicial.

A arbitragem possui diversos efeitos e a lei cria maior com-promisso e confiança entre as partes envolvidas no conflito. Entre as partes os efeitos jurídicos podem ser definidos pri-meiramente na exclusão do Poder Judiciário para solucionar os conflitos e a submissão das partes à sentença arbitral, que só podem recorrer ao Poder Judiciário no caso de nulidade ou extinção do compromisso e, consequentemente, apenas para rever questões formais.

Lei da Arbitragem completa 14 anos

PCH São Bernardo,

localizada entre os municípios

de Barracão e Pinhal da

Serra-(RS) com capacidade

instalada de 15 MW

(Continua na página 36)

Page 19: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

UHE Cajuru, localizada no Rio Pará, município de Carmo do Cajuru (MG), tem potência instalada de 7,0 MW

36 correntecontínua 37correntecontínua

médias centrais envolvem complexidades seme-lhantes aos projetos de grandes usinas, apesar da menor potência instalada. “É muito impor-tante gerenciar adequadamente cada etapa da implantação do empreendimento, desde a defi-

nição da divisão de quedas, análise da topografia, hidrometria e sonda-gens, definição de arranjos de bar-ragem, vertedouro, desvio, até o comissionamento de cada usina e a forma de conexão ao sistema”, afirma Franco (ao lado).

Entre as apresentações feitas está o trabalho “Diretrizes para o Projeto e Controle de Qualidade da Construção de Aproveitamen-tos Hidrelétricos em Concreto”, que mostra a importância das in-vestigações do projeto, desde o in-

ventário até a operação, com foco nos materiais necessários para o concreto e os ensaios que devem ser feitos durante a construção, para ga-rantir qualidade e segurança.

O “Monitoramento de Temperaturas com Sensores Distribuídos de Fibra Ótica na Barra-gem da UHE Fundão” foi motivado pela gera-ção de calor oriundo da reação da hidratação do cimento, que pode provocar níveis de ten-são e afetar a integridade da estrutura. Foram utilizados no trabalho 1.100m de cabos óticos e feitas medições de temperatura em 370 pon-tos. “Nenhum indício de infiltração foi detecta-do nessas leituras”, relata o engenheiro Paulo Alexandre de Oliveira, do Lactec.

Outro trabalho interessante citado pelo re-lator é a “Reativação de PCHs Históricas pela

Fundação Energia e Sane-amento”. As usinas locali-zadas nas cidades de Rio Claro, Brotas, Santa Rita do Passa-Quatro e Salesó-polis, em São Paulo, foram desativadas na década de 1970, e restauradas, con-forme as características originais do patrimônio histórico industrial. Os imóveis registram a his-tória da energia elétrica, da industrialização e da urbanização e estão loca-

lizados em área de corredor ecológico. “Essa é uma forma de mostrar como é possível juntar a preservação histórica, a geração de energia e a preservação do meio ambiente”, diz Daniella Líbio, representante da Fundação (ao lado).

O uso de modelos reduzidos e matemáticos e de outras ferramentas nos projetos também foi defendido para resolver eventuais problemas de engenharia. “O custo de um eventual reparo, a busca de uma solução para uma ruptura, por exemplo, é muitas vezes maior do que o gasto adicional com um estudo bem elaborado”, opina o engenheiro Iramir Pache-co (ao lado). Os trabalhos relatados tiveram como objetivo contribuir para a melhoria dos projetos de engenharia como um todo, arremata Pinheiro Machado. “Em resumo, é preciso investir mais na implantação do empreen-dimento, para não ter que investir mais durante a construção, sem controle e sem previsão.”

Contratos - Os regimes contratuais e a forma de contratação de obras de pequenas e médias centrais hidrelétricas foi o segundo tema de destaque do Simpósio. Especialistas debateram as particularidades e possíveis falhas dos tipos de contratos utilizados. O assunto é considerado delicado e um ponto de discórdia entre as par-tes envolvidas com este tipo de empreendimento.

Carlos Augusto Blois Pera (ao lado), relator do tema, diz que as formas de contratação que agra-dam um lado desagradam o outro. “O grande proble-ma é que os agentes finan-ciadores e os investidores institucionais gostariam de ter um contrato de execu-ção de empreendimento a preço fechado, com to-dos os riscos embutidos, com todos os valores fechados, de forma que não haja surpresa no decorrer do empreendimento”, explica.

Para que isso fosse possível, os construtores e os fornecedores teriam que assumir riscos muito elevados e as consequências seriam o aumento no valor do serviço ou, como acontece na maioria das vezes, a existência de cláusulas no contrato que limitam os riscos ou deixam a responsabili-dade para ser discutida na ocasião da obra. “Ain-da não foi encontrada a melhor solução quanto à forma de contratação. Eu penso que os contratos

do tipo EPC (engenharia, projeto e construção) estão com os dias contados. Esse tipo de con-trato é factível quando se tem um projeto bem detalhado, o que muitas vezes não acontece no caso de PCHs”, acredita Blois Pera.

Cássio Vioti, presidente Honorário da Comis-são Internacional de Grandes Barragens – Icold (na sigla em inglês), opina que o objetivo do engenheiro deve ser conseguir uma obra que custe o mínimo possível e que atenda a todos os requisitos de segurança. “Segurança envol-ve aspectos amplos, a segurança estrutural, a segurança ambiental e a garantia de que o empreendimento vai funcionar. Muitas vezes, o empreendedor busca uma TIR muito alta, o contratado também quer ganhar e isso pode resultar em conflito.”

Convidado a participar das discussões, o engenheiro e advogado Aldo Mattos, propôs a aplicação da arbitragem em contratos de PCHs, por meio de comitês de resolução de disputas ou juntas de adjudicação. “Os conflitos entre contratantes e contratados e entre contratados e fornecedores são de natureza as mais diversas possíveis, tais como projeto, condições do terre-no, alteração no projeto, problemas de desapro-priação, serviços não previstos no edital, dese-quilíbrio econômico-financeiro, paralisação de obras, quebra de máquinas, atraso de entrega. E a forma tradicional de resolver esses problemas

são os pleitos, que ensejam um embate, um con-frontamento, na Justiça. Muitas vezes, para evi-tar atrasos, esses pleitos são apenas avisados e a prova fática acaba enterrada, fica inacessível ou os registros se perdem no tempo”, relata Mattos.

Vantagens da arbitragem - Uma forma de re-solver controvérsias é a resolução extrajudicial, muito comum na Europa e nos Estados Unidos, que é a arbitragem. Isso é feito com a nomeação de árbitros, que são profissionais idôneos e de confiança das partes, com capacidade para deliberar sobre a apuração de respon-sabilidades. “Com isso, evita-se a morosidade da Justiça e a resolução é relativamente contemporânea ao conflito. Se surgir uma controvérsia, entram em cena os árbitros”, explica Mattos (ao lado).

E como isso é feito? Por meio de uma cláusula arbi-tral, quando o próprio contrato entre construtor e proprietário ou entre construtor e fornecedor estabelece que as controvérsias sejam resol-vidas por meio da arbitragem. Essa cláusula pode ir além e definir os árbitros ou nomear uma câmara arbitral.

Page 20: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

38 correntecontínua 39correntecontínua

A arbitragem tem o poder de fazer com que sua sentença seja tão efetiva quanto a senten-ça judicial, com cumprimento obrigatório. No Brasil, a arbitragem é regida pela Lei 9307/96, chamada Lei Marco Maciel (ver box). Entre as vantagens está a resolução do conflito por um especialista como, por exemplo, um engenheiro

com especialidade em estrutura, fundações ou pavimentação. Se o problema for econômico, pode ser nomeado um economista ou um contador como árbitro.

Além da rapidez, outras van-tagens são a confidencialidade, a economia, a flexibilidade e a cooperação. Ao final, os árbitros lavram uma sentença que é de cumprimento obrigatório. A lei diz que a arbitragem é irrecorrível, não tem segunda instância. Essa

é uma questão de hierarquia de direito, con-forme o preceito da autonomia da vontade. “As partes, ao nomearem a arbitragem, declaram de comum acordo que vão resolver suas con-trovérsias de uma forma extrajudicial”, acres-centa Mattos.

Segurança - Um tema recorrente entre os palestrantes foi a importância da atuação dos órgãos fiscalizadores. Nos últimos anos, diver-sos acidentes com barragens foram constatados no Brasil. Um dos que tiveram mais destaque foi a ruptura da barragem da Usina Hidrelétrica Espora, no sudoeste de Goiás, em 2008, que rompeu-se parcialmente, causando isolamen-to de cidades, alagando fazendas e trazendo prejuízos ambientais e materiais. Também em 2008, a barragem da PCH Apertadinho, em Rondônia, sofreu uma ruptura de 60m, alagan-do fazendas e causando o assoreamento do Rio Comemoração.

No episódio mais recente ocorrido no País, em maio de 2009, o rompimento da barragem de Algodões, no Piauí, deixou 11 mortos e duas mil famílias desabrigadas. As águas chegaram a 20m de altura e arrastaram casas e árvores, inundando 50km da cidade de Cocal da Esta-ção. A energia elétrica da cidade foi cortada porque dezenas de postes de iluminação foram arrastados, causando risco à população. As la-vouras da região foram destruídas e dezenas de animais de criação, como vacas, bodes e porcos, morreram. Toda a água represada pela barragem, 52 milhões de litros, escoou sobre a cidade, varrendo o vale do rio e deixando um rastro de destruição e lama.

“Na maioria dos incidentes e acidentes ocor-ridos no Brasil, é possível constatar a ocorrên-cia de erros de gestão nas diversas etapas de concepção, projeto, construção e operação”, declara Carlos Henrique Medeiros, relator do tema Segurança de Barragens (à esquerda).

Esses episódios demonstram a necessidade da adoção de uma lei de segurança de barra-gens no País. O Projeto de Lei Complementar nº 168 – PLC 168/2009, que estabelece a Polí-tica Nacional de Segurança de Barragens, visa a suprir essa necessidade e tramita em caráter terminativo, dispensando votação em plenário, após ter sido aprovado pela Comissão de Infra-estrutura do Senado Federal.

O senador e relator do projeto, Gilberto Go-ellner (DEM-MT), diz que falta apenas a apro-vação de uma emenda para que seja enviado à Mesa Diretora e posterior sanção presidencial. “O projeto foi amplamente discutido com a par-ticipação de representantes de diversos órgãos e agentes da sociedade, o que garante legitimi-dade ao processo”, declara.

“A lei define segurança de barragem como a condição que visa a manter a sua integridade estrutural e operacional, a preservação da vida, da saúde, da propriedade e do meio ambiente, além de definir os atores e suas responsabilida-des”, diz Medeiros.

O texto original do projeto, de autoria do de-putado Leonardo Monteiro (PT-MG), chegou ao Congresso Nacional em 2003 e passou por

várias versões preliminares até chegar à versão definitiva. O texto garante os padrões de segu-rança, ampliando os poderes dos órgãos de fis-calização e definindo as obrigações e respon-sabilidades dos proprietários com a construção e manutenção, além de criar um sistema de classificação de barragens segundo o risco e o dano potencial a elas associados.

“Barragem é uma das estruturas de maior risco na engenharia, por isso devem ser pla-nejadas, projetadas e construídas tendo como premissa a obtenção de estruturas seguras, sob o ponto de vista da engenharia e do meio am-biente”, acrescenta Medeiros.

Cerca de 40 países adotam programas de segurança de barragens, entre eles Suécia, Suíça, Canadá, EUA, Reino Unido, Holanda e Espanha. Nesses países, o índice de aciden-tes está dentro do considerado tolerável – um acidente em dez mil barragens por ano. Já no Brasil, que ainda não adotou uma política de segurança, ocorre um caso para 250 barragens por ano.

Licenciamento - Marco legal e Licenciamen-to Ambiental foi o tema de encerramento do VII Simpósio sobre Pequenas e Médias Centrais Hidrelétricas, promovido pelo CBDB. O relator do tema foi o engenheiro Vilson Christofari, pre-sidente da Companhia Energética de São Paulo – Cesp, que tratou das questões que abrangem as dificuldades durante e após o licenciamento,

os empreendimentos de baixo impacto ambien-tal, assim como os procedimentos simplificados de licenciamento ambiental. “Vários textos de lei citam as PCHs, mas se procurarmos alguma lei que define o que é PCH, nós não vamos en-contrar. Não existe uma definição legal do que seja uma PCH”, diz Christofari (abaixo).

A Resolução nº 652 da Aneel, de 9 de de-zembro de 2003, define como principais “ca-racterísticas de PCH” a potência menor ou igual a 30 MW e a área do reservatório menor que três km². Se a área do re-servatório for maior, é preciso fazer a especificação do reser-vatório em função de outros objetivos, como a regulariza-ção de rios, evitar enchentes e secas ou propiciar o abaste-cimento de água para núcleos urbanos. Há outras limitações para reservatórios com área de até 13km². Os principais incentivos disponíveis para os investidores de PCHs ou usinas de médio por-te são os recursos financeiros do BNDES, bem como o Proinfa e a Conta de Desenvolvimento Energético – CDE.

PCHs são consideradas uma unanimidade para os ambientalistas, juntamente com outras fontes alternativas como eólicas e biomassa, quando comparadas a outras fontes de produ-ção de energia. “Entretanto, na hora do licen-ciamento, a dificuldade é semelhante às dificul-dades enfrentadas por usinas de grande porte, e bem maiores do que as exigências para ins-talar uma termelétrica, por exemplo, com todos os problemas que causa”, acrescenta o relator.

O Brasil possui uma tecnologia em constru-ção de barragens e hidrelétricas reconhecida mundialmente, mas que não deve permanecer estática. “É preciso ter momentos como este Simpósio para debater esses temas e aprimorar e consolidar posições já conquistadas”, conclui Fabio De Gennaro.

No próximo ano, o CBDB completará 50 anos de atividades na busca de alavancar o desenvolvimento e integrar os profissionais que trabalham com estudos de engenharia, projetos e construção de barragens, além de aprofundar e discutir as experiências técnicas. E o próxi-mo grande evento a ser realizado promete ex-trapolar fronteiras. “Em 2011, vamos organizar um seminário nacional de grandes barragens, juntamente com um simpósio internacional de barragens de enrocamento em parceria com a China”, anuncia Erton Carvalho.

PCH Marmelos, localizada às margens do Rio Paraibuna, em Juiz de Fora (MG), foi a primeira hidrelétrica destinada ao serviço público de energia elétrica no Brasil, em 1889, a Usina tem potência de 4,0 MW

Page 21: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

Byron de Quevedo Se noutras terras os ventos causam furacões,

aqui, tirando telhas arrancadas e outras mole-cagens de rodamoinhos infantis, eles sempre foram sinônimos de iluminação. Há cinco sé-culos impulsionaram as caravelas portuguesas para o nosso descobrimento, tirando-nos da escuridão dos séculos. Depois vieram os ventos da liberdade para os colonizados e, mais tarde, para os escravos. Agora novamente eles varrem a terra livre, só que para gerar outro tipo de luz libertadora das trevas do subdesenvolvimento: a elétrica, num momento em que fontes alter-nativas se juntam ao potencial hidrelétrico bra-sileiro para constituir um dos mais consistentes sistemas elétricos do planeta.

Oportunamente, uma audiência pública com todos os atores envolvidos com a energia eólica no Brasil ocorreu na Comissão de Ener-

A hora e a vez da energia eólica

gia da Câmara dos Deputados, no dia 18 de maio de 2010, tendo como foco a análise dos bem-sucedidos leilões da Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel, em dezembro de 2009, que contrataram 1.805 MW dessa fonte energética. O resultado desses leilões foi um total de 441 projetos divididos em dez esta-dos brasileiros. A Região Nordeste ficou com 72% deles, a maioria a serem instalados no Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia, e também no Rio Grande do Sul. Foram habilitados 339 pro-jetos e 71 foram vencedores, com deságios de até 21,49% em relação ao preço inicial de R$ 189,00/MWh, ficando o preço médio de venda em R$ 148,39/MWh”.

Os parques custarão R$ 16 bilhões. Foi opinião unânime entre os palestrantes que os fatores de sucesso dos leilões foram, entre ou-tros, os contratos de longa duração - 20 anos; os financiamentos públicos; a possibilidade da

Cor

rent

e A

lter

nada

Page 22: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

42 correntecontínua 43correntecontínua

entrada em operação antecipada; e o evidente socorro às economias das regiões Nordeste, Sul e parte da Região Norte, permitindo a insta-lação de uma indústria permanente de equipa-mentos para matrizes eólicas.

O presidente da Associação Nacional dos Consumidores de Energia - Anace, Carlos Faria

(ao lado), observou que, do ponto de vista de segu-rança, a opção pela eólica evitará sobressaltos, e na ampliação do mercado livre a escolha tem mui-tas vantagens. “Por isso queremos ver as eólicas saindo da condição de energia de reserva para ser contribuinte e fun-damental para a matriz energética brasileira. Com ela, evitaremos o despa-

cho de cargas de usinas térmicas, pagas pelo consumidor brasileiro, que em 2009 girou em torno de R$ 250 milhões e em 2010 será mais cara ainda. Que sejam bem-vindos os leilões de eólicas, mas precisamos ter consistência, pois o sucesso deles dependerá de providências do agente brasileiro em dar segurança ao investi-dor para ir ao mercado e apostar que é possível se investir em energia eólica no Brasil”.

Financiamentos e insumos - Cada projeto pode contemplar dois, três ou mais parques eólicos. O BNDES aprovou projetos de energia, de 2003 a 2011, com taxas de risco variando entre 0,5 a 3,0%. Os investimentos em ener-gia dobraram nos últimos quatro anos com desembolsos de R$ 137 bilhões em 2009, e já foram aprovados outros R$ 180 bilhões. Luiz André, presidente da Área de Infraestru-tura do BNDES, enfatiza que os projetos são apresentados numa consulta prévia. Depois, são avaliados por um conselho que verifica se têm as condições básicas: garantias, perfil e capacidade dos empreendedores, enfim, se atendem às políticas operacionais do Banco. “Atendidas essas condições, o projeto será analisado mais profundamente. Os melhores pontos para a instalação de eólicas estão no Nordeste e na Região Sul, com perspectivas de crescimento, pois há a possibilidade de se ter a combinação da energia hidráulica a eólica. Na proposta também deve constar a observação que a matriz eólica terá, pelo menos, 50% de componentes nacionais. O fato de termos seis fabricantes de equipamentos eólicos no Brasil

já ajuda muito nessa questão, reduzindo os custos dos empreendimentos”.

Segundo Luiz André, o BNDES tem financia-do grandes projetos energéticos eólicos e tem capacidade para fazer novos financiamentos de grande porte. “Os bancos privados participam do setor eólico como repassadores de recur-sos do BNDES. Financiamentos eólicos a lon-go prazo de origem de bancos privados ainda são poucos. Para a aprovação final, os projetos deverão ter os problemas ambientais resolvidos junto aos órgãos ambientais estaduais”.

Já o presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica - ABEEólica, Ricardo Simões, reclama pelo fato de o Brasil ter indústrias de laminação de aço, ferro gusa, ser exportador de aço e os preços internos desses insumos ainda serem altos. “A melhor forma de incen-tivar a competitividade e a deflação nos custos

No Brasil, bons ventos a favor da energia eólicaO diretor da Empresa de Pesquisa Energética – EPE,

Maurício Tolmasquim (foto), é fã da expansão das ener-gias alternativas, principalmente as de fonte eólica. Mas faz considerações que devem ser atendidas para que esse tipo de geração se torne viável em curto prazo. A EPE prevê a instalação, até 2019, de mais 14 mil MW de energia alternativa no País, ou seja, “teremos o equivalente a uma Itaipu advindo de fontes alternati-vas”, comenta entusiasmado. Confira a entrevista:

Quais os ganhos de preços obtidos com os últimos leilões de usinas eólicas? O sucesso dos leilões das eólicas foi coletivo e a Câ-

mara dos Deputados deu enorme contribuição ao pôr o tema em debate. Fui apenas um instrumento de media-ção. Teremos um marco em 2010: este será um ano his-tórico para a energia eólica no Brasil pela quebra de pa-radigmas. Dizia-se ser esta uma energia ecologicamente correta, mas muito cara para o consumidor final, e o leilão, ao atrair muitos competidores, provocou imediata queda nos custos. Pagava-se, a preços reajustáveis, em torno de R$ 270,00 o MWh. No leilão contratamos por volta de R$ 148,00 o MWh, um valor já bastante próximo das energias de fontes hídrica, térmica e da biomassa. A hidroenergia ainda é a mais barata, mas reduziu-se mui-to a distância histórica de preços em relação às outras.

Isso sinaliza mais competitividade nos próximos leilões? O Brasil investiu no setor e conseguir fazer a energia

eólica competitiva. Com relação aos quantitativos, já está marcado para o segundo semestre deste ano outro leilão de fon-tes alternativas – eólicas e biomassas, principal-mente a oriunda do baga-ço de cana. A demanda será repartida entre essas fontes. Faz todo sentido dar espaço, por exemplo, à cana-de-açúcar, pela grande produtividade de etanol, com eficiência no

aproveitamento dos subprodutos dessa indústria em ou-tros setores da economia. Pela ordem, teremos a energia hidráulica em primeiro lugar; em segundo lugar, a eólica; em terceiro a biomassa; e depois vêm as demais. Quanto mais produtores de determinada fonte de energia, mais competição e melhores preços para os consumidores.

Quais as perspectivas da indústria eólica no Brasil? Temos hoje seis produtores de equipamentos eólicos

no Brasil. E a coisa vai num círculo virtuoso: quanto mais empresas no campo das eólicas, mais produção, maior va-riedade de equipamentos e menores preços. Em relação ao volume de contratações e a consequente produção de equipamentos para atender a essa demanda, precisamos observar a capacidade de produção das empresas. É im-portante se ter constância. Os fabricantes nos têm dito ser mais importante ter períodos moderados de contratações do que ter momentos de grandes aquisições de equipa-mentos e depois simplesmente a demanda acabar. É me-

lhor ir fazendo as aquisições aos poucos e ter sempre a indús-tria mantendo a sua produção.

A indústria eólica vem ganhando grande complexidade. Como tirar proveito disso num sistema de menor lance como o dos leilões? O modelo de contratação é pelo menor preço. Já pen-

samos em usar outro modelo de compra, mas ainda parece adequada essa forma, pois queremos aproveitar o que cada região tem de abundante e a alta competitividade da indús-tria de equipamentos eólicos. As regiões Nordeste e Sul têm boas quantidades de ventos, então é natural que nelas se trave grande competitividade para a instalação de eólicas. Já São Paulo é farto nas sobras de biomassa, então é natu-ral que a competitividade se trave lá para a exploração do bagaço de cana para fins energéticos. Já a Região Norte é abundante em rios o que a torna competitiva em hidroener-gia. Ou seja, cada região mostra as suas vantagens compe-titivas em relação a outras e isto tem que ser aproveitado em benefício do País.

Qual a importância de se formar estoques de energia de reserva?Energia de reserva é apenas um título. É aquela energia que

sobra, quando a distribuidora já atendeu a toda a sua deman-da, mas o governo, por uma questão de segurança, pretende contratar a mais, aproveitando-a. Não é uma energia que a distribuidora está contratando, mas um encargo pago por to-dos aqueles que dependem daquela energia. Pois, quando o Operador Nacional do Sistema Elétrico - ONS vai operar, não quer saber se a energia foi contratada pela distribuidora ou não, ele faz circular a energia a partir daquelas fontes de energia mais baratas: a hidrelétrica, a eólica e a da biomassa, e só depois ele entra com as térmicas. É importante termos energia de reserva, pois damos tempo para que as águas se acumulem nos reservatórios.

Torres eólicas, nova atração turística do Nordeste

(Continua na página 44)

Page 23: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

Após participar do leilão de energia eólica realizado em dezembro de 2009 pela Aneel, participando do Consórcio Brasil dos Ventos, a Eletrobras Eletronorte (24,5%), e Eletro-bras Furnas (24,5%), em parceria com as empresas privadas Bioenergy e J.Malucelli (51%), vão construir quatro centrais geradoras eólicas no Estado do Rio Grande do Norte: Aratuá I (14,4 MW) e Miassaba III (50,4 MW), na região de Guamaré; e Rei dos Ventos I e Rei dos Ventos III, com 48,6 MW cada, em Galinhos, totalizando 162 MW que serão gerados a partir de julho de 2012. Serão quatro Sociedades de Propósito Es-pecífico - SPEs, com concessão para 20 anos.

No momento, estuda-se a conexão elétrica desses parques à rede básica do Sistema Eletrobras Chesf e ao sistema de dis-tribuição estadual. Também estão sendo analisadas propostas dos fabricantes de turbinas, que gerem mais com menores custos de instalação, operação e manutenção. Definidas as rotas dos sistemas de transmissão e as turbinas, serão feitos os estudos fundiários, ambientais e arqueológicos ao longo das linhas e nas bases das torres.

Segundo o gerente de Análise Estratégica da Expansão da Eletrobras Eletronorte, Jorge Curi Sadi (foto), o sucesso dos leilões de eólicas de 2009 se deveu, também, ao Plano De-cenal de Expansão de Energia 2008-2017, que aumentou de 1% para 4% a participação da geração alternativa na matriz energética nacional, em contrapartida ao acréscimo de participação da gera-ção térmica de 12% para 18% no perío-do avaliado (ver matéria na página 60).

De acordo com Curi, fatores como os requisitos em atendimento aos itens de desempenho dos procedimentos de rede do ONS, no caso de conexão à Rede Básica do Sistema Interligado Nacional - SIN, e aos sistemas de dis-tribuição; o fornecimento de histórico de medições contínuas de velocidade e da direção dos ventos em altura mínima de 50 m por período não inferior a 12

é permitir que o fabricante de torres eólicas no Brasil possa importar as placas metálicas. Até se pode importar, mas o problema é que, para se obter o financiamento do BNDES deve-se man-ter um determinado índice de nacionalização. Sugerimos que esse índice já seja atendido com a fabricação da torre no Brasil, tendo a placa nacional ou a importada. Assim teríamos uma

Eletrobras Eletronorte está em empreendimentos de 162 MW

meses consecutivos no local do parque; a certificação das medições anemométricas da central eólica por um ano; e a comprovação junto à EPE de que a empresa certificadora tinha realizado, nos últimos quatro anos, certificações de dados de medição dos ventos e de geração eólica de pro-jetos em construção ou em operação, eliminou do certame parte dos projetos cadastrados.

Carbono – Curi lembra que as diretrizes também orienta-vam sobre a obtenção de créditos oriundos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). “No caso do Consórcio Brasil dos Ventos, foi avaliada como premissa operacional a receita pela venda de créditos de carbono, do início de operação comercial das usinas até 2022, ao preço de US$ 15,00 por tonelada de CO2. Remuneração fixa pelos me-gawatts gerados ou não. Há sempre certa incerteza sobre a produtividade de cada parque gerador. Os Contratos de Energia de Reserva (CER), para efeitos de contabilização, foram subdivididos em cinco períodos de reconciliação quadrienais (ajuste da quantidade de energia contratada em função da produção de energia eólica verificada), per-mitindo uma faixa de tolerância para desvios na produção anual de energia elétrica. Dentro dessa tolerância, são per-mitidos desvios na produção média anual efetiva de até

10% a menor (margem inferior) e de até 30% a maior (margem superior) em relação ao valor anual de supri-mento contratual. De acordo com a metodologia, o comprometimento de cada agente gerador é obtido pela contratação da energia eólica produ-zida, por quantidade, e sua penaliza-ção caso a produção fique abaixo do valor contratado, considerando-se a margem de tolerância acordada.

Antecipação - As usinas foram leiloadas no Ambiente de Contra-

tação Regulado – ACR, para início de suprimento de energia em 1º de julho de 2012. As usinas criaram a necessidade de construção de três estações coletoras na Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte, para atendimento aos 780 MW de capacidade instalada em energia eólica contratada. As estações coletoras de Igaporã (BA), Aca-raú (CE) e João Câmara (RN) serão leiloadas pela Aneel em outubro de 2010.

A antecipação da entrada em operação de um empre-endimento depende de uma série de fatores que envolvem não só os prazos de entrega dos fabricantes dos equipa-mentos, mas, ainda, a sua capacidade de produção e as encomendas de outros agentes geradores. Além disso, existem as questões fundiárias, ambientais e de adequa-ção e reforços nos pontos de conexão; e os aspectos me-teorológicos que dificultam as obras civis, o levantamento das torres e o içamento dos aerogeradores, que devem ser feitos em época de ventos brandos. “Para antecipar a vantagem, a venda da energia é antecipada temporaria-mente no Ambiente de Comercialização Livre -ACL, como receita adicional ao projeto. Antes da data contratual de suprimento, os empreendimentos necessitam de cone-xões individuais na rede básica ou nas subestações das concessionárias locais. As empresas que se cadastrarem para conexão nas Instalações Compartilhadas de Geração – ICG (subestações coletoras), só deverão iniciar seu supri-mento na data contratual do leilão”, explica Curi.

adequação dos custos e a manutenção da qua-lidade em patamares internacionais. Temos uma indústria competente, aplicada e já fabricamos as peças sobressalentes, geradores, cabeamen-tos, transformadores, chaveamentos, cabos, disjuntores, postes e todos os equipamentos necessários para a fabricação e instalação das torres eólicas. Quando importamos as placas o

custo das torres cai pela metade em relação ao material exclusivamente nacional. Se esse cri-tério for modificado, os deságios apresentados nos leilões seriam ainda maiores, assim como o preço da energia gerada”, enfatiza.

Para o diretor executivo da ABEEólica, Pedro Perreli, a indústria eólica brasileira está num momento de criação de mercado. “O Brasil é

44 correntecontínua 45 correntecontínua

Fotos: Jorge Curi

(Continua na página 46)

Page 24: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

o segundo maior produtor mundial de pás. O País tem história na construção de equipamen-tos pesados, desde a época da indústria naval e da indústria hidroenergética. Grandes turbinas hidráulicas em operação em nossas barragens

foram fabricadas no Brasil. Mas para se fabricar aerogeradores aqui, tem de se criar um mercado para dar sustentação à indústria, com bases econômicas”.

Perreli (ao lado) afirma que as eólicas estão em plena sintonia com o espírito preservacionista, observando que aerogeradores não gastam água para refrigeração e não interferem no meio ambiente. Principalmente porque, num par-que eólico, eles ocupam apenas de

2% a 3% da área total da planta. Acrescenta-se ainda o fato de que, por não utilizarem gases combustíveis, também não provocam poluição e nem efeito estufa. “O Ministério de Minas e Energia deve redirecionar os investimentos por-que a energia eólica é plenamente complemen-tar à energia hidráulica (ver matéria na página 60). Temos hoje um grande potencial na bacia amazônica que pode ser explorado por usinas a fio d’água com poucos impactos ambientais e sem formações de grandes lagos. Portanto, os regimes hidrológicos dos rios são complementa-res aos regimes de ventos, por exemplo, ou seja, quando os rios baixam de volume as correntes de ventos estão em alta, e vice e versa.”

Aves migratórias – O maior temor dos am-bientalistas em relação às usinas eólicas é a pos-sibilidade delas alterarem as rotas das aves mi-gratórias. Quanto a esse fato Pedro Perreli relata que, nos Estados Unidos, dono do maior parque

Em 2007, a Eletrobras Eletronorte fez uma Chamada Pública para seleção de parceiros interessados na implantação de empreen-dimentos de geração eólica. Em seguida, assinou um Termo de Compromisso com a empresa EDRB do Brasil Ltda. para elaborar o estudo de viabilidade de uma usina eólica a ser instalada no Estado do Maranhão.

Depois de obter a licença ambiental para a instalação da torre de medição, emitida pela Secretaria Estadual do Meio Ambien-te, foi instalada, em março de 2010, pela Eletrobras Eletronorte, no município de Tu-tóia, uma torre de 90 m de altura para fazer as medições dos ventos, com investimen-tos de cerca de R$ 100 mil.

A instalação dos equipamentos de me-dição atmosférica (velocidade e direção do vento; temperatura, pressão, umidade relativa), foi feita pela EDRB, em maio de 2010, com investimentos próximos aos da torre e teve início, então, o registro dos dados de ventos.

Assim como ocorre com uma hidrelétrica, que pre-cisa passar pelos estudos de inventário e viabilidade, as usinas eólicas também precisam ter registrados os dados dos ventos – sazonais, dependendo das estações do ano, e variando como um rio que tem seu período de seca e de cheia -, numa determinada região por um período de um ano no mínimo.

Por enquanto, os dados indicam que o local escolhi-do, a cerca de um quilômetro do litoral maranhense, é apropriado à instalação de uma usina eólica, cujo proje-to deve ser apresentado à Aneel em 2011.

Empresa faz estudos no Maranhão

46 correntecontínua 47correntecontínua

eólico do mundo, com 38 mil MW, se pesquisou detalhadamente, de 2006 até 2008,os 40 fato-res pelos quais os pássaros morriam em sua tra-jetória pelos continentes. E, surpreendentemen-te, as matrizes eólicas ocuparam o 25º lugar na lista. O primeiro fator são as vidraças: eles se chocam contra elas e morrem.

“As hélices funcionam abaixo das alturas que sobrevoam a maioria das aves migrató-rias: gansos, cisnes, marrecões, andorinhas, andorinhões. Uma revoada deles quando lon-ge da lagoa de pouso ou de pernoite, acontece sempre acima de 150 m de altura, e as torres mais altas têm 100 m ou um pouco mais. O morcego foi o único animal voador prejudicado pelos parques eólicos, porque existe a interfe-rência entre a vibração sonora do aerogerador e os ‘radares’ desses mamíferos voadores. Na índia e em alguns países da Europa, em regiões de morcegos que se mudam de cavernas para cavernas, as eólicas podem causar problemas. Na cidade São Paulo, por exemplo, o morcego ajuda a reprodução do cupim. Então, lá é inviá-vel se instalar um parque eólico.

Mesmo numa situação de ventos anormal, com as pás girando em grandes velocidades, não se registra o tal efeito vidraça na ponta de hélices, o que poderia confundir os pássaros. É verdade que a velocidade das pontas das pás é elevada, mas elas são equipadas com freios. As hélices giram a 25 rotações por minuto, por-tanto, a baixa rotação. Elas só gerarão efeitos oculares se girarem na faixa de 50 a 70 rota-ções por minuto, o que não é o caso dos aero-geradores porque o raio da pá é muito grande. O problema está na velocidade angular e não na velocidade periférica. Uma curiosidade: um grande exterminador de aves migratórias ou lo-cais são os gatos domésticos, quem diria?

Litoral do Nordeste é ideal para fazendas

eólicas

Page 25: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

Érica Neiva

Antes da instalação de uma usina hidrelétri-ca é realizada uma série de estudos para diag-nosticar se o empreendimento é viável do ponto de vista técnico, econômico e socioambiental. Desde o final de 2009, a Eletrobras Eletronorte realiza os estudos de viabilidade do Aproveita-mento Hidrelétrico Marabá, nos rios Tocantins e Araguaia, na região conhecida como Bico

Mei

o A

mbi

ente

Os estudos que decidem sobre a viabilidade de usinas hidrelétricas

do Papagaio; que envolve os estados do Ma-ranhão, Pará e Tocantins. Aliás, Tocantins é uma palavra indígena que significa bico de pa-pagaio. Esses estudos contemplam a área de engenharia, envolvendo projeto das estruturas do aproveitamento, incluindo a barragem, as unidades geradoras e a delimitação da área do reservatório; e a análise econômico-financeira, com levantamento dos custos de implantação do empreendimento.

Abrangem também o Estudo de Impacto Ambiental – EIA e Relatório de Impacto Am-biental - Rima, constituídos por diagnóstico

socioambiental, no qual são estudados as rochas, os solos, as águas, a vegetação, os animais, as atividades sociais, econômicas e culturais das populações; a avaliação dos im-pactos socioambientais associados ao empre-endimento; o prognóstico ambiental, no qual são apresentados os cenários da região com a implantação do empreendimento; e o pla-nejamento dos programas e ações destinados a eliminar, reduzir ou compensar os impactos negativos e maximizar os benefícios do em-preendimento.

Compreendem ainda, o estudo antropoló-gico das populações indígenas para conhecer as comunidades da região, suas relações com a população não indígena e interações com o meio ambiente; a avaliação dos impactos

da implantação do empreendimento, e me-didas para mitigação e compensação desses impactos.

Depois de concluídos, os estudos são sub-metidos à análise e avaliação dos órgãos com-petentes. Na sequência são realizadas audiên-cias públicas pelo Ibama, nas quais são ouvidas as comunidades envolvidas. De posse do resul-tado de todo esse processo, o Ibama decidirá ou não pela viabilidade ambiental do empreen-dimento. Considerado ambientalmente viável, o órgão emite uma licença prévia que permite a continuidade dos estudos até as licenças para a construção e operação.

48 correntecontínua 49 correntecontínua

Page 26: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

Técnicas modernas – Na área de engenha-ria são feitos estudos de relevo, condições hi-drológicas e geológicas. Analisa-se o leito do rio, onde passa o canal principal do reservató-rio, sempre levando em consideração aspectos econômicos, ambientais e energéticos, tentan-

do diminuir ao máximo os im-pactos. “Já definimos o eixo do reservatório. Os rios pe-quenos que nascem no local poderão ser desviados por um canal direcionado à jusante da barragem. Também esta-mos estudando uma forma de proteção à ferrovia que passa paralela ao rio”, esclarece o engenheiro de Projeto e Cons-trução da Eletrobras Eletro-norte, Habib Salum (foto).

As técnicas e equipamen-tos nos estudos da engenharia estão cada vez mais moder-nos. Na área de cartografia, por exemplo, há muitos anos se fazia um tipo de mapea-

mento chamado fotogrametria - utilização de fotografias aéreas. Hoje, no entanto, há técni-cas de mapeamento a laser, por radar, imagens de satélites, Sistema de Posicionamento Global – GPS e de softwares específicos. “A evolução tecnológica é muito grande. Hoje é bem mais fácil e rápido saber como é a ocupação do solo

e, consequentemente, os custos de futuras de-sapropriações. A modernização gera maior con-fiabilidade, rapidez e precisão nos dados. Anti-gamente, a logística para se chegar ao campo era muito complexa. Hoje, a tecnologia nos per-mite refinar os resultados, dando-lhes precisão, não apenas em cartografia, mas em hidrologia, geologia e demais estudos”, analisa Habib.

Meio ambiente - Normalmente, em estu-dos de inventário e viabilidade a Eletrobras Eletronorte trabalha em parceria com o setor privado, envolvendo o seu corpo técnico e

consultores e profissionais de outras institui-ções para realizar os diagnósticos ambientais e avaliações de impacto ambiental. Em função de cada empreendimento estudado é feito o prognóstico com as medidas mitigadoras ou compensatórias, e a formulação de programas ambientais.

A Empresa acompanha todos os estudos desenvolvidos pelos consultores, faz o acompa-nhamento junto aos órgãos ambientais respon-sáveis pelo processo de licenciamento, partici-pa da elaboração, discussão e propostas dos estudos e das audiências públicas em que as comunidades são ouvidas. No início, a viabilida-de segue um termo de referência emitido pelo órgão ambiental, que contém as orientações e exigências que devem constar no estudo. O termo dá um enfoque maior para determina-da área de acordo com a importância daquele tema na região.

São aspectos relacionados ao clima, vegeta-ção, fauna, ictiofauna, qualidade da água, re-levo, morfologia, socioeconomia, cultura, patri-mônio histórico e cultural. O termo de referência

contempla também os estudos do meio abiótico (geologia, geomorfologia, solos, águas, entre ou-tros), meio biótico (fauna em geral, fauna aquá-tica, terrestre e alada), o meio socioeconômico (os modos de vida e a socioeconomia das co-munidades).

São solicitadas, ainda, quatro campanhas para icitiofauna, limnologia, qualidade da água, ve-getação e fauna, abran-gendo todo um ciclo com duração de um ano: en-chente (novembro e de-zembro), vazante (junho), cheia (março e abril) e seca (setembro).

Segundo Silviani Fro-ehlich, (ao lado) supe-rintendente de Meio Ambiente da Eletrobras Eletronorte, “em 2007 começaram as discussões do termo de refe-rência com o Ibama sobre o Aproveitamento Hidrelétrico Marabá. O órgão solicitou que se fizessem reuniões públicas antes da emissão

50 correntecontínua 51correntecontínua

Em terra, rios e lagoas, a coleta do material a ser estudado

Page 27: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

do termo de referência. As reuniões públicas foram feitas em Marabá, São Pedro da Água Branca e Araguatins. Antes, a população ia para a audiência pública sem conhecer os de-talhes do empreendimento. Hoje, todo o pro-cesso mudou e a sociedade também se mo-biliza de forma diferenciada. A população está muito mais participativa. Estão sendo exigidos mais esclarecimentos e informações, inclusive um detalhamento maior dos planos, programas e projetos. Esse contato com as populações, se-jam elas ribeirinhas, indígenas ou quilombolas, é um aprendizado que vamos acumulando ao longo do tempo. E, realmente, o conhecimento e a sabedoria das pessoas têm surpreendido e trazido valiosas colaborações”.

Ecossistemas aquáticos – A área de ecossis-temas aquáticos envolve os estudos de limnolo-gia, qualidade da água e ictiologia. No Aprovei-tamento Hidrelétrico Marabá são em torno de 40 pontos de coleta na superfície, no meio e no fundo dos rios Araguaia e Tocantins.

A limnologia (foto abaixo) compreende o conhecimento da vegetação (flora) aquática: macrófitas (vegetação geralmente flutuante dos rios e lagoas, tipo aguapé); fitoplancton (organismos do tipo algas do fundo dos rios e lagoas); perifiton, epiliton, epipelon e epifi-ton (organismos microscópicos geralmente fixados no fundo dos rios e lagoas). Deve-se analisar ainda o zooplancton (invertebrados), pequenos animais aquáticos que flutuam nos cursos d’ água, insetos, conchas e vermes que vivem no fundo dos rios e lagoas.

Os estudos de qualidade da água referem-se à parte físico-química (pH, quantidade de oxigênio na água, análise microbiológica, bac-teriológica e quantidade de clorofila). “Temos quatro pontos chamados nictemerais, escolhi-

dos para a coleta durante 24h: um é na calha do Tocantins, onde há confluência do Tocan-tins com o Araguaia; outro é a montante da confluência, antes dos rios se juntarem; o ter-ceiro a montante do Araguaia e outro nas la-goas marginais que se formam principalmente na margem direita do Tocantins na época das cheias. São nove lagoas como ponto de coleta, sete na área do reservatório e duas fora, para analisar se há uma semelhança entre elas. Se houver semelhança é positivo, pois se sabe que não haverá perdas nesse ecossistema”, explica o biólogo da Eletrobras Eletronorte, Ralph Kronemberger Lippi (à direita).

Ao se chegar a Marabá (PA) é comum ouvir as se-guintes denominações para a cidade: Velha Marabá (foto), Nova Marabá e Cidade Nova. É mais compli-cado ainda para quem não é da cidade se deparar com várias pontes entrecortando o perímetro urbano. O biólogo e presidente da Casa da Cultura de Mara-bá, Noé Von Atzingen, explica a origem dos vários termos para um mesmo local: “A Marabá inicial é a Velha Marabá que começou na foz do Rio Itacaiúnas com o Tocantins, numa ponta conhecida como Ca-belo Seco, no final do século XIX. Com as enchentes cíclicas que acontecem começaram a se formar pe-quenos núcleos populacionais, um deles foi a Nova Marabá, e o outro a Cidade Nova. Na década de 1980, houve uma proposta de transferir a Velha Ma-rabá para a Cidade Nova devido às enchentes. Mui-tas famílias mudaram, mas quando o verão chegava todo mundo voltava para a margem do rio. A ideia de transferir a cidade para uma parte mais alta não deu certo por conta deste envolvimento das pessoas com o rio. A cidade é toda entrecortada pelos rios Tocantins e Itacaiúnas, e ligada por várias pontes. Na verdade, é uma mesma cidade dividida pelos rios. Todos os núcleos têm vida própria”.

Marabá é um nome indígena que quer dizer mesti-ço. Para o biólogo Noé (ao lado), que há 34 anos saiu de São Paulo rumo à cidade, o significado de Marabá tem a ver com diversidade étnica e cultural. “Aqui tem gente de todas as cidades, cores, credos e origens, por conta dos grandes fluxos migratórios que sempre ca-racterizaram a região. Desde o início, com o ciclo da borracha, vieram, por exemplo, muitos nordestinos. Depois, com o diamante, cristal, castanha, madeira e criação de gado a população continuou a crescer, fato que só aumentou com grandes projetos como a Tu-curuí, Carajás e Serra Pelada. Apesar dos problemas,

As várias Marabás

acho que Marabá acolhe muito bem as pessoas. É um lugar de possibilidades onde qualquer cidadão de boa vontade que queira construir algo, consegue”.

Presente e futuro - O município de Marabá possui, hoje, mais de 200 mil habitantes. A economia gira em torno do

As coletas na área de limnologia são fei-tas com redes de poros bem pequenos, com espessura de 20 micrometros para coletar a parte vegetal – fitoplancton, e 50 micrometros para coletar a parte animal - zooplancton. Há amostras em que se têm apenas 24h para analisar, caso contrário, altera-se o grau de certeza, de acurácia do resultado. “Em alguns pontos temos que fazer as coletas de barco nos tributários. Ao voltar passamos as caixas com as amostras para uma caminhonete que segue para Marabá. Algumas análises são fei-tas lá e outras vão para São Paulo, onde o la-boratório tem que recebê-las imediatamente.

52 correntecontínua 53correntecontínua

extrativismo mineral com a presença de várias siderúrgicas e projetos de exploração conhecidos nacionalmente como Ca-rajás, localizado nas proximidades. Sobre a possibilidade de uma nova hidrelétrica na região, Noé comenta: “É comum a opinião pública, sem saber da importância de uma hidre-létrica, dizer que é contra. Acho que temos que arrumar um meio termo para essa questão. Todos usam energia elétrica. A energia não é apenas para a nossa casa, é para a indústria e, consequentemente, para os produtos produzidos e ofere-cidos por ela. Alegam que a energia vai alimentar interesses de grandes empresas, o que, até certo ponto, é verdade. Mas vamos usar como exemplo a questão mineral. O ferro que se retira de Carajás é consumido por nós por meio dos produtos derivados do extrativismo mineral. Espero que exista uma se-riedade por parte do governo e das empresas, e uma partici-pação popular e política sem extremismos. É fundamental a existência de um processo informativo, em que todos saibam o que está acontecendo”.

Page 28: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

É uma logística que deve estar bem acertada para não se perder amostras. Quanto às cole-tas de água, foi contratado um laboratório em Marabá e outro em São Paulo. O estudo como um todo trabalha com uma periodicidade de seis em seis horas (limnologia) e, em alguns casos, de hora em hora (qualidade da água)”, esclarece Ralph.

No campo – Vem gente de muito longe para trabalhar nos estudos de viabilidade do Apro-veitamento Hidrelétrico Marabá. O geólogo da

empresa Hidrobrasil, Serlecio Guilherme Pinz, saiu do Rio Grande do Sul para coordenar téc-nica e administrativamente o projeto de ecos-sistemas aquáticos. Ele conta um pouco do dia a dia em campo: “A rotina é intensa. As equipes iniciam suas atividades sempre por volta das 6h da manhã. A agenda do dia sem-pre é consolidada na noite anterior, discutin-do basicamente itens sobre logística. Cada equipe possui as suas lanchas para acesso às lagoas e rios, tendo o apoio em terra de caminhonetes 4x4 com a presença de ou-tros membros da equipe que fazem a análise imediata das amostras após a chegada das lanchas. Como as distâncias entre os pontos são muito extensas, geralmente o pessoal já leva consigo lanches para o trabalho do dia. O período é extenso, por exemplo, o pessoal que coleta os peixes deve vistoriar as redes a cada 6h num período de 24h, ou seja, todos os dias os trabalhos ocorrem de dia e na ma-drugada”.

A equipe de estudos de ecossistemas aquá-ticos é formada por 11 técnicos que sempre têm uma boa história para contar sobre o tra-balho em campo. “O pessoal da ictiologia teve

de enfrentar uma sucuri de três metros em determinado momento. Tinham colocado as redes para captura em São Sebastião do Ara-guaia. Por volta das 2h da madrugada foram fazer a vistoria e observaram que uma das re-des estava sendo intensamente sacudida e, ao recolher, viram que se tratava de uma sucuri enrolada na rede. A cobra estava à procura de alimento, no caso os peixes, e acabou ficando presa. Os rapazes, com a opção de não matá-la, amarraram uma cinta de aço próximo à ca-beça para segurá-la. Um segurava a cinta e ou-tros três se debruçaram sobre ela e a rede para soltá-la. Foi uma tarefa de 2h! A noite de lua cheia ajudou na tarefa. Por fim, conseguiram soltá-la e a cobra seguiu seu curso na noite”, conta o geólogo Guilherme.

As jornadas em campo não são apenas exe-cutadas por pesquisadores. As comunidades

ribeirinhas são importantes parceiras nos estu-dos dos ecossistemas aquáticos. Elas colabo-ram com embarcações e auxiliam os técnicos nos acesso às margens dos rios e lagoas por meio de trilhas. Segundo o geólogo Guilherme “é comum a interação com os moradores do entorno, o que pode significar horas de convi-vência, tanto de dia como de noite”.

História de pescador - O pescador Antô-nio Pereira de Jesus (abaixo), 49 anos, mora-dor de Esperantina, no Estado do Tocantins, explica um pouco do trabalho de apoio que presta aos técnicos: “Desde novembro de 2009, auxiliamos os pesquisadores que es-tão fazendo os estudos. Quando fui para o rio

54 correntecontínua 55correntecontínua

A comunidade ribeirinha

acompanha os trabalhos e

também repassa conhecimentos

Equipamentos modernos e técnicas já conhecidas ajudam os pesquisadores

Page 29: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

Os estudos de viabilidade de uma usina compreen-dem a ictiofuana, ramo da zoologia que estuda os pei-xes. No Aproveitamento Hidrelétrico Marabá estão sen-do analisados os peixes dos rios Araguaia, Tocantins, Itacaiúnas, Jacundá, Ubá, Gameleira e São Martinho. São estudadas também as lagoas marginais, importan-tes fontes de alimentação para os alevinos, larvas e pei-xes depositados na época das cheias. Outro ambiente analisado são as praias na época de estiagem, onde se encontram várias comunidades de peixes. As espécies mais encontradas são piabanha, mandi, candiru, curim-batá, jaú, poraquê, sardinha de água doce e jaraqui.

O biólogo Anastácio Afonso Juras (foto abaixo), que trabalha na área ambiental da Eletrobras Eletronorte, fala um pouco sobre a dinâmica dos peixes durante os quatro ciclos de estudos: “Iniciamos os estudos em dezembro, período da enchente. Nessa época os rios aumentam sua vazão e os peixes começam a subir em busca de tributários (córregos e rios que alimentam o Rio Tocantins, servem de refúgio aos peixes e forne-cem alimentação durante a desova) e de outros corpos d’água acima das cachoeiras. Os peixes machos e fê-meas, em casais ou cardumes, sobem os tributários, onde as águas das nas-centes são límpidas. Deso-vam nessas áreas e depois regressam para o leito do rio na estação da vazante. Os ovos crescem, transfor-mam-se em larvas e de-pois em peixes, renovando o ciclo da vida”.

Os técnicos utilizam ape-trechos de pesca indicados no termo de referência do Ibama como malhadeiras, espinhéis, tarrafas, arrasto de fundo e malhas especiais para a obtenção de uma diversidade que deve ser co-nhecida antes da formação do reservatório. O peixe é retirado das malhas, identificado com vários manuais, entre eles, um livro que a Eletrobras Eletronorte publi-cou em 2004, bastante utilizado na comunidade cien-tífica.

Usa-se uma régua para medir o comprimento do pei-xe, coloca-se cada exemplar numa balança para pesar, depois abre-se a barrigada para ver o estômago, o sexo e o estágio de maturidade gonodal, que indica se o pei-xe está maduro ou imaturo para a desova. Retira-se o estômago de algumas espécies que são guardados em formol, para a identificação em laboratório da alimenta-ção ingerida por eles. Isto permite fazer a relação com

a cadeia trófica do rio para saber se o peixe está comendo larva, inseto, folhas, permitindo o conhecimento da cadeia alimentar da espécie.

Para Juras, “as barragens em todo o mundo afetam os organismos vivos, quer sejam aquáticos, terrestres ou ala-dos. Estudos recentes têm muitas propostas de mitigação e compensação. A principal delas é a educação ambiental com a conscientização das pessoas de que o recurso aquá-tico poderá servir de alimento ou renda com a formação do reservatório, como o uso de estações de piscicultura, preservação de lagoas marginais e construção de casas de peixes. A interferência humana na natureza tem os seus aspectos positivos e as alterações causadas podem ser mi-tigadas, compensadas, corrigidas de forma que o recurso continue sendo usado pelas populações ribeirinhas”.

Juras considera impor-tante relatar o exemplo das colônias de pescadores do lago formado pelo reserva-tório da Usina Tucuruí, que com técnicas simples de higiene e conservação estão aumentando a renda com a produtividade de peixes. “No reservatório de Tucuruí são produzidas em torno de dez

mil toneladas de peixes por ano. Essa produção estava sendo comercializada de forma primária, sem nenhum tratamento e valor agregado. O preço do quilo era em média R$ 3,00. Nós ensinamos os pescadores a ‘filetar’ o peixe, ou seja, a usar uma faca, uma tábua de carne, pôr luvas, uma máscara, um gorro e ter um freezer simples. Assim, o pescador tem um aproveita-mento de 50% da carne, ou seja, com um peixe pesando três quilos ele obteria um filé de um quilo e meio. Se fosse vender o peixe in natura, sem o filetamento, ia conseguir R$ 3,00, ‘filetando’ consegue até R$ 7,00. Também ensinamos a fazer marinado, embutido, defumado, com equipamentos simples e caseiros e obedecendo às normas de higiene. Tudo isso foi fei-to em todas as colônias do lago de Tucuruí e as pessoas viram que podiam aumentar a renda e melhorar de vida”.

Estudos dos ecossistemas aquáticos analisam o ciclo de vida dos peixes

56 correntecontínua 57correntecontínua

com eles, as perguntas eram sobre os lagos, os movimentos de pescaria. Os pesquisado-res deixam o material em nosso depósito. Acompanhei a equipe no processo de coleta de água durante 24h, quando eles coletavam amostras de hora em hora. Ajudo na procura dos pontos de coleta e de apoio, já que co-nhecemos a região”.

Antônio nasceu no Maranhão e se mudou para Marabá com 16 anos. Pescou cerca de seis anos no lago de Tucuruí e há cerca de 12 vive com a família na região do Bico do Pa-pagaio. “Pesco no Rio Tocantins. Vivemos da pesca de curumatá, piabanha, jaraqui e acara-nha. Temos roça de feijão, abóbora, melancia, milho e café para consumo próprio. Saio às 4h da manhã para pescar e retorno por volta do meio-dia. Quando chego, saio para vender os peixes e retiro parte da produção para o consu-mo. Às 15h voltamos novamente e, a depender da situação, retornamos à meia noite. A quanti-dade de pesca depende do período do ano. No verão é mais difícil. Na época de cheia pesca-mos cerca de 20 kg. Há dias, inclusive, que não pescamos nada. O máximo que consegui foram 60 kg. Morar na beira do rio é o meu paraíso”, afirma o pescador.

No povoado de Pedra de Amolar, a 14 km de Esperantina, onde mora Antônio, é comum ver mulheres pescadoras. Exemplo disso é a sua esposa, a pescadora Maria Raquel Men-des da Silva. Neta de pescadores que já mo-ravam na região do Tocantins, a paraense Raquel explica a rotina: “Comecei a pescar em 1983. Para completar arrumei um mari-do pescador, aí deu uma mariscada da boa. Além de pescar, compro peixe para revender e trabalho na roça. Aqui temos que enfrentar tudo na vida, mas somos felizes, pois temos o peixe e tudo o que plantamos dá”.

Ecossistemas terrestres – Nos estudos de viabilidade do Aproveitamento Hidrelétrico Ma-rabá os ecossistemas terrestres são estudados pela empresa CNEC Projetos de Engenharia, com sede em São Paulo. O objetivo desses es-tudos é reconhecer os diferentes tipos de ve-getação terrestre existentes e o uso do solo, a situação atual do desmatamento na região e ve-getação remanescente. Eles se relacionam tam-bém com a fauna terrestre e aquática, como os répteis (jacarés, tartarugas, cobras) e anfíbios (sapos, rãs e pererecas); mamíferos terrestres, botos e morcegos; e ajudam na identificação de unidades de conservação e as áreas legalmen-te protegidas.

(Continua na página 58)

Page 30: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

De acordo com o coordenador de projetos de Meio Ambiente da CNEC, Mário Vital (ao lado), “os técnicos que executam os trabalhos de campo são profissionais especialistas em

suas respectivas áreas de atuação e que desenvolvem seus traba-lhos de forma articulada com as demais disciplinas que comple-mentam os estudos ambientais. Esses estudos são desenvolvidos partindo-se de uma análise de âmbito macrorregional na área de abrangência regional; passando para um nível regional na área de influência indireta e municípios envolvidos, até se chegar à área ao redor do empreendimento, aquela diretamente afetada”, explica.

Socioeconomia - Os estudos que envolvem o meio socioeconômico (abaixo) têm como finalidade conhecer o processo histórico de ocupação da região na qual se insere um em-preendimento, ressaltando os aspectos das principais frentes de ocupação e povoamento, as políticas governamentais de integração da região ao País e um panorama geral das mo-bilizações sociais. “É feita a caracterização do processo de evolução da rede de cidades da região e dos diferentes sistemas que integram

a infraestrutura regional (sistema viário e de transportes, energia elétrica, comunicações). É fundamental conhecer a dinâmica econômi-ca da região e dos municípios que compõem a área de influência do empreendimento, ressal-tando os aspectos referentes à estrutura pro-dutiva; ao uso das terras; à estrutura fundiária; à atividade pesqueira. Deve-se também ter in-formações sobre a dinâmica sociodemográfica da região, levantando aspectos de condições de vida da população, especialmente no que se refere à educação, saúde, saneamento,

emprego e renda, e segurança. E ainda co-nhecer o patrimônio histórico, cultural, paisa-gístico, arqueológico, paleontológico e as principais populações tradicionais”, esclarece a coordenadora dos estu-dos socioeconômicos pela CNEC, Ana Cristina Ablas (ao lado).

“Viabilizamos um estudo para pro-por soluções que sejam implantadas de maneira adequada para as co-munidades. Temos consciência de que as populações podem ser

impactadas. Em alguns casos precisam ser re-alocadas de onde vivem. Isto é um impacto e

uma questão relevante, por isso temos que ter respeito e tratar todas as questões ade-quadamente. O caráter público das ações em todo o processo gera um controle social maior e a participação agrega ao estudo informações que são relevantes

quando a usina estiver sendo cons-truída”, analisa a superintendente de Meio Ambiente da Eletrobras Eletro-norte, Silviani Froehlich.

Comunidade indígena Parkatêgê promove seminário As terras indígenas possuem status jurídico especial,

por isso há artigo específico na Constituição Federal para as comunidades indígenas e as terras tradicionalmente ocupadas por elas. Tudo o que pode afetá-las direta ou indiretamente recebe tratamento específico. O processo de informação e consulta para a implantação de empre-endimentos nessas terras é feito de forma lenta e gradu-al, por meio de canais de interlocução e de critérios de relevância para a seleção de informação.

“Ao mesmo tempo em que é relevante inseri-las em circuito de debates técnicos e políticos, há que se ter cuidado para que a linguagem não seja um fator de ex-clusão. Assim, saber trabalhar os elementos essenciais da informação de forma simples e clara é fundamental. Com isso em mente, iniciamos os passos que antece-dem os estudos elaborando um conjunto de informa-ção acerca dos principais problemas que poderão advir com a implantação do projeto para a comunidade. Esse material tem por objetivo trabalhar as questões que são relevantes, sob a ótica indígena, e que deverão ser estudadas e respondidas ao término dos estudos. Ao mesmo tempo, a participação da Funai dá a tonalidade técnica e política. Outro ponto importante é que os es-tudos devem ser feitos por profissionais que conheçam a realidade indígena e, preferencialmente, que sejam conhecidos e reconhecidos pelos membros da comu-nidade”, afirma a antropóloga da Eletrobras Eletronorte, Niviene Maciel (foto ao lado).

Segundo Niviene, “para o processo de construção do consentimento é imprescindível a conciliação dos inte-resses empresariais e sociais. A capacidade de ampliar a arena de negociações, aplicando-se critérios coletiva-mente definidos e formalmente consensuados é o que

gera ações favoráveis às partes. O consentimento somente acontece em es-paço de inserção e parti-cipação. E a participação ocorre se houver o reco-nhecimento das partes envolvidas acerca da re-levância de se manterem abertas ao diálogo e ao entendimento mútuo”.

Seminário - Três terras indígenas estão sendo estudadas no Aproveita-mento Hidrelétrico Mara-

bá: Sororó, Apinajé e Mãe Maria, esta última a única que poderá ter parcela de seu território inundada. O projeto já foi apresentado nas duas aldeias onde residem os Parka-têjê e os Kiykatêjê. “Foram conversas preliminares. A Fu-nai ainda organizará reuniões para ouvir os grupos locais, colher subsídios para realizar o acompanhamento e fazer a consulta formal acerca da anuência da comunidade para se realizar os estudos na terra. Atualmente, a dúvida está circunscrita à anuência. Em princípio, a comunidade está

interessada em entender os impactos antes de se manifestar sobre a anuência aos estudos”, esclarece Niviene.

Com esse objetivo, os Parkatêjê residentes na Terra Indíge-na Mãe Maria, município de Bom Jesus do Tocantins, no Es-tado do Pará, realizaram no final do mês de abril de 2010, um seminário de esclarecimento e informação sobre o Aproveita-mento Hidrelétrico Marabá. Foram convidados para o evento a Eletrobras Eletronorte, Funai, Ministério Público, Ibama e sociedade civil organizada.

Para o engenheiro florestal e assessor da comunidade Pa-rkatêjê, Escraw Sompré (foto acima), “a Terra Indígena Mãe Maria se encontra num lugar estratégico para o crescimento regional. Aqui passaram os maiores empreendimentos regio-nais de Marabá – estrada de ferro, rodovia, linhões de trans-missão. Temos as cidades chegando ao limite da comunidade de maneira acelerada. Os empreendimentos trouxeram mui-ta coisa boa, mas também trouxeram problemas. O objetivo do seminário é fortalecer os nossos conhecimentos para que tomemos uma decisão acertada sobre a permissão, ou não, do estudo prévio. É importante sabermos do andamento do processo, para que no futuro possamos tomar as decisões de maneira consciente. Sabemos que somos pequenos no con-texto. Moramos num local onde a melhor alternativa é intera-girmos promovendo o diálogo, seja por meio de seminários ou de outros eventos”.

58 correntecontínua 59correntecontínua

Page 31: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

Michele Silveira

Junho de 2010. O mundo inteiro volta os olhos para a África do Sul. Você consegue ima-ginar aquele estádio que tomou conta dos tele-jornais nos últimos meses – o Soccer City – às escuras na abertura da Copa? Talvez até dê pra imaginar, mas que seria uma pena, seria. Vinte dias antes do primeiro jogo, um dos principais jornais de Joanesburgo – The Star - estampou na manchete: “Uma nação. Uma TV. Uma lâm-pada”. Mesmo com investimentos de R$ 711 milhões da Eskom, a companhia de energia do país, o medo de um blecaute levou à recomen-dação aos moradores: no período do Mundial cada casa deve deixar apenas uma televisão ligada e uma lâmpada acesa.

Talvez pensar num blecaute na abertura da Copa não seja tão traumático do que imaginá-lo na estreia da seleção brasileira. E foi por pouco.

Do lado de cá do Atlântico, torcedores a pos-tos no Brasil inteiro. Na praia, nos bares ou em casa, milhões de brasileiros pararam por pouco mais de 90 minutos. Mas para que isso acon-tecesse foi preciso uma jogadora indispensável: a energia. Protagonista, ela prefere os bastidores. Mes-mo para reinventá-la é pre-ciso que esteja ali, a postos, pronta para entrar em campo. Segundo Hermes Chipp (ao lado), diretor-geral do Opera-dor Nacional do Sistema Elé-trico – ONS, durante o jogo da Seleção Brasileira contra a Coréia do Norte a queda de consumo entre as 12h e as 15h30 foi de 12 mil MW. Assim que o jogo acabou, o consumo subiu 10,3 mil MW em apenas 22 minutos. Segundo ele, diante de um aumento repentino num curto espaço de tempo, só não foram registrados problemas de abastecimento graças às medidas sistemáticas que são toma-das antecipadamente.

Eólica - Esta reportagem começou com a ideia de traçar comparativos entre as fontes da energia protagonista do cotidiano. E no lugar de dividir para comparar, foi pre-ciso somar para integrar. Essa é a estratégia dos especialis-tas, pesquisadores e técnicos do setor. O presidente da Ven-tos do Sul, Telmo Magadan (ao lado), lembra que há 15 anos, falar de fontes alterna-tivas de energia era ‘coisa de ambientalista’. Segundo ele, a energia eólica é a que mais cresce no mundo porque é complementar à hidráulica. “O Parque Eólico de Osório tem 150 MW de potência, com 75 torres com 100 m de altura e pás de 70 m de diâmetro. É o que há de mais moderno em geração eólica”, defende. (ver matéria na página 40)

Uma das primeiras perguntas que vem à ca-beça é: por que não se faz só geração eólica? A resposta vem dos números. Apesar de promis-sora, a geração eólica ainda é cara. De acordo com estudos do Ministério de Minas e Energia, se toda a energia de Belo Monte tivesse de ser gerada em centrais eólicas ou solares, o gas-to seria maior e o custo da energia também.

Seto

r Elé

tric

o Concorrentes, não. ComplementaresA complementaridade de fontes torna-se palavra de ordem na evolução energética no Brasil e no mundo. Mais que uma expressão técnica, representa geração de energia com sustentabilidade socioambiental

61correntecontínua

No dia 15 de junho, quando a camisa amarela tomou conta do gramado na África do Sul, uma série de quedas de energia elétrica no Estádio Ellis Park, em Joanesburgo, atrapalhou a entra-da de torcedores que foram ver o primeiro jogo. Horas antes do início da partida contra a Coréia do Norte, blecautes desligaram os aparelhos que fazem a leitura do código de barras dos ingressos. Com o problema, uma longa fila de torcedores foi formada na porta do estádio. Um dos setores das arquibancadas ficou às escuras pouco antes da bola rolar. Durante todo o jogo, os telões do estádio ficaram desligados.

Casos de queda de energia são comuns no país. Há pouco mais de três anos o governo im-plantou um esquema de rodízio: todos os dias cada região da África do Sul fica sem luz por quatro horas. A principal fonte de energia dos sul-africanos vem de termelétricas, abastecidas com carvão.

Foto

: Agê

ncia

Sen

ado

Foto

: Ven

tos

do S

ul

Page 32: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

Apesar da potência instalada de 11,2 mil me-gawatts, os cálculos usaram a energia média que efetivamente será produzida, de 4.571 MW médios. Para obter essa produção com centrais eólicas seria preciso instalar 10.160 turbinas a um custo que varia de R$ 47,8 bilhões a R$ 83,6 bilhões. As estimativas do governo é que Belo Monte demandará investi-mentos de R$ 20 bilhões.

Outro fator importante é o espaço físico ne-cessário para as torres das turbinas eólicas. Para que uma grande central eólica, contínua, gerasse a mesma energia de Belo Monte, se-riam utilizados cerca de três mil km², duas vezes a cidade de São Paulo. A área ocupada seria quase seis vezes maior que a área alagada para Belo Monte, que será de 516 km².

O ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann (ao lado), tem reafirmado que o Brasil ainda possui um grande potencial hidrelétrico a explorar, que é a fonte mais barata. “Temos de fazer das hidrelétricas o carro-chefe da expansão. Outras fon-tes, como eólicas, biomassa e PCHs são excelentes para complementar, mas não têm as características para liderar a expansão”.

Complementar. Essa é a palavra. O consen-so, para o Brasil e o mundo, é que as fontes sejam complementares. “O sistema energético que se desenvolveu no século XX é altamente dependente dos combustíveis fósseis, com cer-ca de 80% de carvão, petróleo ou gás, e essa é a fonte dos grandes problemas que temos hoje”, destaca José Goldemberg, professor da USP e especialista em meio ambiente.

PCHs – Quanto às pequenas centrais hidre-létricas (ver matéria na página 32), os dados do Ministério mostram que, mesmo com as van-tagens e particularidades desses empreendi-mentos, ainda é preciso que eles agreguem sua geração a um sistema mais forte. Para produzir a energia gerada em Belo Monte, por exemplo, seriam necessárias entre 277 e 554 PCHs. Isso significaria uma área alagada de entre 831 km² e 1.662 km², também maior do que aquele aproveitamento.

E a biomassa? Essa é a que tem o custo mais próximo ao exemplo de Belo Monte: cer-ca de R$ 26 bilhões. Aqui a questão é que, para produzir esse combustível, seriam ne-cessários 80 mil km² de área plantada. Ainda segundo o Ministério, com um custo supe-rior a R$ 400 bilhões vem a energia solar.

Para gerar a média de Belo Monte seriam ne-cessários 140 milhões de painéis solares, além da área útil para sua implantação.

Nos últimos anos o crescimento da deman-da e a preocupação ambiental tem contribuído para o aumento dos investimentos em fontes alternativas de energia. O Brasil realizou o pri-meiro leilão de eólicas com sucesso acima do esperado e ocupa um lugar privilegiado quando o assunto é matriz energética renovável. E, de olho na Copa de 2014, o País não pode abrir mão do seu potencial e de planejamento. Con-forme dados da Empresa de Pesquisa Energéti-ca – EPE, a situação de suprimento é bastante tranquila, já que até 2014, com as obras já con-tratadas, o Brasil apresenta um excedente de 5.800 MW médios de energia.

Segundo a EPE, a geração de eletricidade terá de crescer 63 mil MW em dez anos. Os investimentos no setor energético brasileiro de-vem chegar a R$ 951 bilhões, entre projetos nas áreas de energia elétrica, petróleo, gás natural e biocombustíveis. O Setor Elétrico terá aces-so a cerca de R$ 214 bilhões nos segmentos de geração e transmissão de energia elétrica, ou seja, 22,5% do total. A estimativa é de um crescimento da demanda de energia elétrica de 5,1% ao ano no período de 2010-2019, o que torna necessário agregar o equivalente a apro-ximadamente 6.300 MW de nova capacidade (ou 3.333 MW médios de energia firme) ao ano na próxima década.

Complementaridade - Para o diretor de Planejamento e Engenharia da Eletrobras Ele-tronorte, Adhemar Palocci (abaixo), o planeja-mento é o diferencial do Setor Elétrico brasileiro. “O modelo que temos hoje é muito apropriado à questão brasileira, inclu-sive com particularidades que o tornam único no mundo. Outra conquista fundamental resgata o planejamento, que é pa-pel do Estado. Ao resgatá-lo, voltamos a ter visão de longo e curto prazos”. Na opinião do Diretor, o Brasil é um país tão grande e de-manda tanta energia que não podemos achar que uma modalidade é excludente da outra. “Muitas vezes se coloca uma alternativa equivocada: a eólica contra a hidráulica, ou a hidráulica contra

a nuclear, ou a térmica contra a hidráulica. É um erro. Todas elas são complementares”, ex-plica Palocci, destacando a riqueza do potencial hidrelétrico do País: “A nossa vocação é indis-cutivelmente a hidráulica”.

Para o Coordenador do Núcleo Interdiscipli-nar de Planejamento Energético – Nipe, ligado à Unicamp, o Brasil, especialmente em algu-mas fontes, tem toda a capacidade de inovar e conquistar um papel importante no panora-ma internacional, competitivamente. Um dos autores de “Planejamento integrado de recur-sos energéticos: meio ambiente, conservação de energia e fontes renováveis”, entre outras obras, Gilberto De Martino Jannuzzi (acima) é graduado em matemática pela Unicamp e dou-tor em Energy Studies, pela Universidade de Cambridge, Inglaterra.

Segundo ele, a opção do Brasil pelo sistema energético de hidrelétricas é natural e razoável para o potencial que tem. “Países que têm uma reserva grande, como Brasil, Noruega e Cana-dá, possuem uma participação correspondente na sua matriz de produção de eletricidade”. Para o pesquisador, um país precisa avaliar a capacidade que tem de produzir a energia de maneira economicamente atraente. “É uma combinação da distância das reservas de hi-droeletricidade e dos centros de consumo, em comparação com as outras fontes de geração de energia elétrica”.

Com uma demanda cada vez maior e com limitadores mais fortes, a matriz hidráulica começa a perder participação no Brasil. “Os empreendimentos estão ficando mais caros, incorporam novas exigências como a questão ambiental e de deslocamento da população. São limitantes que começam a agravar o pro-cesso da participação da hidroeletricidade na matriz brasileira”, explica Jannuzzi.

Por tudo isso a complementaridade de fontes torna-se, cada vez mais, palavra de ordem nos debates sobre a evolução energética no Brasil e

no mundo. A palavra complementaridade pode ser interpretada como capacidade para servir de complemento. A expressão complementari-dade energética refere-se então à capacidade de uma ou mais fontes apresentarem disponi-bilidades energéticas complementares no tem-po, no espaço ou em ambos.

A complementaridade no espaço pode exis-tir quando as disponibilidades energéticas de uma ou mais fontes se complementam ao lon-go de uma região. A complementaridade no tempo pode existir quando as disponibilidades apresentam períodos que se complementam ao longo do tempo em uma mesma região. A análise é dos pesquisadores Alexandre Beluco, Paulo Kroeff de Souza e Arno Krenzinger, do Instituto de Pesquisas Hidráulicas - IPH e Pro-grama de Pós-Graduação em Engenharia Me-cânica – Promec da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

De acordo com os pesquisadores, há poucas referências discutindo ou identificando a com-plementaridade entre fontes de energia. O livro de McVeigh (1977), por exemplo, identifica a complementaridade entre as energias solar e eólica ao longo do território da Grã-Bretanha. Uma complementaridade presumivelmente es-pacial. O artigo de Kruangpradit & Tayati (1996) cita o uso de energia solar para complementa-ção de um aproveitamento hidrelétrico já exis-tente em Ban Khun Pae, ao norte da Tailândia. Como os aproveitamentos situam-se próximos, consistiria em complementaridade no tempo.

Para eles, a complementaridade também pode existir se forem consideradas as disponi-bilidades energéticas de uma ou mais fontes ao longo de uma extensa região e ao longo do tem-po. Como exemplo, pode ser citado a comple-mentaridade no tempo e no espaço que ocorre para a disponibilidade de energia hidráulica ao longo do território brasileiro e durante um ano, comentada como um dos argumentos em fa-vor da interligação dos sistemas no Brasil, ou mesmo de sistemas energéticos na América do Sul. Em razão das condições climáticas e geográficas, é comum a existência de regimes complementares de energia. É como um time que entra em campo com a energia titular, mas deixa no banco uma seleção de craques pron-tos para fazer o gol da decisão.

A essência da água - A água é o recurso natural mais abundante na Terra: com um volume estimado de 1,36 bilhão de km³ re-cobre 2/3 da superfície do planeta. De acordo com o Atlas de Energia da Agência Nacional

62 correntecontínua 63correntecontínua

Foto

: Agê

ncia

bra

sil

Page 33: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

de Energia Elétrica – Aneel, a água também é uma das poucas fontes para produção de energia que não contribui para o aquecimento global, o principal problema ambiental da atu-alidade. E o mais importante: é renovável.

Mesmo assim, a participação da água na matriz energética mundial é pouco expressiva e, na matriz da energia elétrica, decrescente. O documento da Aneel traz dados do relatório Key World Energy Statistics, da International Energy Agency (IEA), publicado em 2008. Segundo o Atlas, entre 1973 e 2006, a participação da for-ça das águas na produção total de energia pas-sou de 2,2% para 1,8%. No mesmo período, a posição na matriz da energia elétrica sofreu recuo acentuado: de 21% para 16%, inferior à do carvão e à do gás natural, ambos combustí-veis fósseis não renováveis, caracterizados pela liberação de gases na atmosfera e sujeitos a um possível esgotamento das reservas no médio e longo prazos.

Também de acordo com levantamentos da IEA, nos últimos 30 anos a oferta de energia hidrelétrica aumentou em apenas dois locais do mundo: Ásia, em particular na China, e América Latina, em função do Brasil. Segundo a Aneel, nesse mesmo período, os países desenvolvidos já haviam explorado todos os seus potenciais, o que fez com que o volume produzido registras-se evolução inferior ao de outras fontes, como gás natural e as usinas nucleares. No Brasil, a expansão não ocorreu na velocidade prevista, entre outros fatores, em razão das pressões de caráter ambiental contra as usinas hidrelétricas de grande porte.

Entre os que reconhecem a vocação hidráu-lica da matriz energética brasileira é consenso que os impactos existem, mas que são passí-veis de mitigação. Hoje, a legislação ambiental é cada vez mais firme e os projetos estão cada vez mais adaptados à sustentabilidade, como é o caso do projeto das usinas-plataforma no Rio Tapajós, ou a fio d’água como Dardanelos, no Rio Aripuanã (MT). (ver matéria na página 8).

A melhor opção - O professor da Faculda-de de Tecnologia da Universidade de Brasília (UnB), Ivan de Toledo Camargo (ao lado), atu-almente assessor técnico da Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel, lembra que a área total a ser alagada por Belo Monte corresponde a menos do que é desmatado em um dia na Amazônia. “Nos últimos anos, em média, todos os anos são pelo mais de mil km² a menos de florestas. É o dobro do que está previsto em ter-mos de área a ser alagada por essa hidrelétrica,

que garantirá boa parte da energia a ser consu-mida no País”, afirma o professor.

As diferenças mais contundentes surgem quando é hora de defender qual a melhor op-ção de energia complementar. Embora a ge-ração térmica com combustíveis fósseis seja a mais preterida, sua utilização ainda é con-siderada no planejamento e nos cenários mais preocupantes em caso de aumento da deman-da sem incremento de energia de fontes reno-váveis. Na opinião do presidente da Eletrobrás Eletronuclear, Othon Luiz Pinheiro da Silva, para crescer o Brasil não pode deixar de lado energia térmica. A análise de Othon veio no começo do mês de junho, quando foi autoriza-do, pela Comissão de Energia Nuclear – Cnen, o início das obras de concretagem da laje do prédio do reator da Usina Nuclear Angra 3, em Angra dos Reis (RJ).

Segundo ele, “as centrais Angra 1 e Angra 2 foram muito boas para que pudéssemos ad-quirir a tecnologia da geração nuclear. Mas, do ponto de vista da economia e da geração de energia, elas foram um tanto precoces, ou seja, na década de 1970 nós tínhamos muitas hidre-létricas e com reservatórios em volumes ade-quados de água. A necessidade do suprimento de energia a partir das termonucleares só se fez presente a partir da virada do século, com a necessidade de se diversificar a composição do sistema elétrico nacional”.

O Presidente da Eletronuclear admite que as hidrelétricas são a melhor e mais barata fonte geradora de energia. Mas, segundo ele, com a variação do volume de água dos rios ao longo do ano, são necessárias outras fontes de energia para o sistema integrado. Hoje as usi-nas Angra I e Angra II contribuem com cerca de 2 mil MW para o sistema. “Temos grandes reservas de urânio e não podemos descartar a nuclear como fonte primária de energia”,

defende Othon. “É claro que a prioridade tem que ser para as fontes renováveis, principal-mente a hidrelétrica e a eólica, mas é preciso, também, de outras alternativas para um maior equilíbrio do sistema”, avalia.

Na opinião do professor Ivan Camargo, é um equívoco encher o País de painéis de energia solar. “Esse tipo de energia só é indicado para as comunidades isoladas. Apenas discursos va-zios e sem dados defendem essa opção”, argu-menta. Segundo ele, nem a energia solar nem a eólica são a solução para o Brasil. “Primeiro, por serem sazonais, ficando interrompidas em períodos do ano. Precisamos investir pesado nas eólicas, mas tendo em mente a necessi-dade de sistemas complementares, provavel-mente à base de hidrelétricas e biomassa”, defende. Ivan lembra ainda que, na Euro-pa, a energia eólica é complementada por usinas térmicas. “No Brasil temos condições de usar o bagaço da cana nesses sistemas complementares, que atualmente tem apenas 10% de aproveitamento”.

Na complementaridade das fontes ainda há espaço para tecnologias como o fogão ecológico desenvolvido no Acre, que, de forma simples, le-vou energia a comunidades localizadas em meio à floresta. A pesquisa resultou na instalação de uma fábrica dos chamados fogões ecológicos no Acre. Também há espaço para a as chamadas mini-hidrelétricas, em geral compostas de uma turbina ancorada na margem de um rio, e que gera energia para comunidades isoladas.

64 correntecontínua 65correntecontínua

De acordo com a EPE, a principal fonte para atender à expansão da demanda será a hidreletricidade, com 35.245 MW instalados nos próximos dez anos. As fontes alternativas complementarão a energia hidrelétrica totali-zando 14.655 MW no período. Esse volume representará, em termos de capacidade insta-lada, cerca de 23% de tudo que será instalado nos próximos anos (63.480 MW). Com isso, a participação de fontes renováveis na capa-cidade total instalada se manterá, apesar de uma ligeira redução da participação da hidro-eletricidade.

Dono do terceiro maior potencial hidrelétrico do mundo, o Brasil perde apenas para China e Rússia. O País só utilizou um terço desse potencial até hoje, enquanto muitas nações já utilizaram 100%, como a França, e a Alema-nha, com 80%. Com essa matriz hidrelétrica, tecnologia e matéria-prima para liderar o mer-cado mundial de biodiesel; com os atuais nove milhões de hectares dedicados a plantações de cana-de-açúcar, riqueza de biomassa e uma geração eólica crescente, o Brasil desponta como referência mundial na produção de ener-gia renovável.

Ilustração: Alessandro Nogueira

Page 34: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

Cor

reio

Con

tínu

o

Foto

lege

nda“Prezada Érica, lendo a reportagem ‘Tucuruí recupera 97% das áreas degra-

dadas’, achei super interessante o trabalho que vem sendo realizado. Notei com isso o interesse que Eletrobras Eletronorte tem com o nosso planeta. Gostaria de sugerir que fossem feitas propagandas no sentido de divulgar nacionalmente esse excelente trabalho, mostrando que podemos construir a Hidrelétrica Belo Monte e depois reverter as possíveis degradações por ela causadas. Pois sei da necessida-de dessa hidrelétrica, tanto para gerar empregos no Estado do Pará, como também para gerar energia elétrica para o Brasil. Parabéns pela excelente reportagem”.

Eliane Ferreira Jorge - Assessoria De Gestão Corporativa - Brasília - DF

“Caro Alexandre, gosto muito da revista Corrente Contínua, mas só consegui-mos acessá-la na web. Raramente temos acesso à revista impressa, e quando temos é com atraso de seis meses ou mais. Será que existe uma maneira de recebermos o exemplar impresso tão logo seja distribuída?”.

Lázaro Antonio Laurindo - Regional de Transmissão de Rondônia - Porto Velho - RO N.R: Prezado Lázaro, a revista é impressa levando em consideração um

exemplar para cada empregado. Estamos revendo nosso sistema de distribui-ção e já nesta edição você receberá sem atrasos. Obrigado.

“Prezada Erica, parabéns pela reportagem. Foi clara, objetiva e conceitual-mente precisa. Além de tudo, me fez remontar ao passado, onde iniciamos os trabalhos variando desde a parte de concepção técnica e intelectual, até contar tábuas, telhas, abrir covas (conforme flagrado na revista). Gostei. Vou divulgar entre os meus alunos e pessoal interessado”.

Ricardo Valcarcel - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - RJ “Prezado César, em nome do Centro de Tecnologia da Eletronorte agradeço

o excelente trabalho realizado por você e equipe, em especial ao repórter e ao editor, que deram aquele toque especial na matéria sobre nossa unidade, publi-cada na última edição da revista Corrente Continua. Ficou realmente excelente e reflete especialmente o atual momento que estamos vivenciando, de muitas realizações e perspectivas de futuro, não só para o próprio Centro de Tecnologia, como para a Eletrobras Eletronorte. Destaco dois pontos da maior importância: a integração que conseguimos entre os mais jovens e os mais experientes colabo-radores da unidade; e o relacionamento que estamos tendo com a comunidade do Pará, em especial. Muito obrigado e parabéns a vocês pela competência de-monstrada em transcrever em forma brilhante parte de nossas atividades”.

Francisco Roberto Reis França - Gerente do Centro de Tecnologia da Eletronorte - Belém - PA

“De ordem do deputado Paulo Rocha (PT-PA) - coordenador da Bancada do Pará e da Região Norte no Congresso Nacional - agradeço o envio da revista Corrente Contínua”.

Raquel Paz - Assessora Parlamentar - Brasília - DF

“Prezada Érica, agradecemos o envio da Corrente Contínua. Realmente vo-cês estão de parabéns pelas informações apresentadas na revista”.

Alair Maria - Biblioteca da Federação de Agricultura e Pecuária do Pará – Belém - PA “Minha formação é engenharia elétrica e gostaria de receber mensalmente

a revista Corrente Contínua. Solicito seja encaminhada para o meu endereço e agradeço antecipadamente”.

Tarcisio Barros da Graça - Dnit - Brasília - DF

“Agradeço o gentil envio da revista Corrente Contínua, da Eletronorte”.Michel Temer - Deputado Federal - Brasília - DF

“Com satisfação, acusamos o recebimento da revista Corrente Contínua, da Eletronorte, edição 230. Agradecendo a gentileza da remessa, renovamos nossos protestos de especial apreço e estima”.

“Como sempre costumo dizer, receber, ler e divulgar a nossa revista Corrente Contínua é de suma importância. Recebi o exemplar 230, pleno de excelentes artigos: Byron de Quevedo nos oferece o verdadeiro lago dos sonhos; logística para o desenvolvimento, que César Fechini escreve, é mesmo um cabedal de esclarecimentos; Procel Educacional, um banho de conhecimentos que Bruna Netto nos propicia – realmente Meire, Marina e Jussara consolidam a marca Procel. Colaborando, observei uma falha de digitação na página 50. Ah, que belo presente Brasília e Nós! Parabéns também à Camila Marques e Rony Ramos pela Fotolegenda”.

Severino Cassiano Ferreira - Água Preta - PE

Eletricidade com segurança: eu me preocupo! Repórter da Corrente Contínua é premiada

A Associação Brasi-leira de Conscientização para Perigos da Eletrici-dade - Abracopel criou um prêmio para incen-tivar a divulgação pela imprensa das melhores práticas com relação às instalações elétricas e o uso da eletricidade, de forma a contribuir para a conscientiza-ção da população e de profissionais para o tema. Este ano a Associação promoveu o IV Prêmio Abracopel de Jornalismo, com o tema “Eletricidade com segurança: eu me preocupo!”. A cerimônia de premiação foi realizada no dia 21 de maio de 2010, em São Paulo.

A Eletrobras Eletronorte participou do concurso na modalidade Jornalismo Empresarial/Institucional, com a matéria “Segurança do trabalho: a importância da prevenção na redução de acidentes”, publicada na revista Corrente Contínua, número 230, de janeiro/fevereiro de 2010. A matéria escrita pela estagiária Camila Marques conquistou o primeiro lugar na modalidade que foi inscrita.

“É uma honra representar a Empresa e os estagiários. A Eletrobras Eletronorte contribuiu na minha formação como pro-fissional e a maior prova dessa contribui-ção foi esse prêmio que ganhei”, afirma Camila Marques. Os vencedores levaram para casa um troféu criado exclusivamen-te para o prêmio pelo artista plástico Kiko Azevedo. Houve ainda algumas menções-honrosas e medalhas e certificados para todos os finalistas.

Lei EleitoralEm vista das determinações da Lei Eleitoral,

para o período de julho a outubro de 2010, a re-vista Corrente Contínua está circulando exclu-sivamente para atendimento ao público inter-no. Mas os leitores, universidades, bibliotecas e outros públicos que recebem nossa revista não ficarão sem o seu exemplar, que será encami-nhado logo após o término das eleições.

Abriu-se a janela do céu e eu saí a passear, a voarE muito além de voar eu queria mesmo era admirarEm um belo final de tarde de outono O entorno dos belos saltos Dardanelos e AndorinhasGosto de voar por aqui, mesmo sendo outono a umidade sempre é boaE me refresco com o vento e a brisaSem falar dos lençóis de algodão que me cobrem e me movemE o vento que me sopra de tão distanteE meu coração torna-se refeitoUso meus sentidos para cortar o cais com meus braçosE grades e avenidas ficam para trazSó consigo me lembrar do céu que sempre me convidaAntecipo o dia para que a velha longa estrada fique mais curta Tenho a certeza que nada mais pode dissolver a minha vontade de te verPois tudo que vem se vai, e assim continuo a voar indo e vindoAbro e fecho as janelas do céuSabendo que no escuro eu tenho meu coração. Texto: Vinycius Kaizer

Foto: Christopher Borges

66 correntecontínua 67correntecontínua

Page 35: entre o rio e a floresta, um novo conceito de hidrelétricas na Amazônia

EletrobrasEletronorte