ENTRE O PBLICO E O PRIVADO: PRTICAS ESPACIAIS E OS DESLOCAMENTOS COTIDIANOS1

Rizia Mendes Mares rizziamendesmares@gmail.com

Universidade Estadual Paulista - Campus de Presidente Prudente Mestranda no Programa de Ps-Graduao em Geografia

Eixo temtico: Espao urbano, mobilidade e lutas pela apropriao da cidade.

NOTAS INTRODUTRIAS

Analisar a cidade enquanto espao de reproduo do capital entend-la como materializao das condies gerais de produo e para isso se estabelece certa configurao no urbano, isto , sua produo espacial se d de modo a favorecer a reproduo do capital. Por outro lado, tambm o espao de reproduo da vida social que, nesse contexto, encontra-se determinada pelo processo produtivo e submetida s necessidades desse sistema. Assim, a cidade capitalista o local propcio para o desenvolvimento de processos sociais que vo dar origem e materializar atividades que em, si, j indicam um modo de produzir a cidade, atribuindo-lhe formas e funes espaciais especficas.

Em verdade, so processos responsveis pela produo desigual da cidade,a qual est no cerne da diviso social e territorial do trabalho e para Carlos (2009) se expressa nas formas espaciais produzidas na cidade capitalista e reflete a contradio duma produo que social, masque em sua apropriao privada, isto , h um embate entre os interesses da reproduo capitalista e os que se voltam ao desenvolvimento da sociedade de modo geral.

V-se, ento, que a produo da cidade e sua apropriao est direcionada para determinados usos e, principalmente, que tais usos so distintos para cada grupo social e 1 Este texto integra o debate que vem sendo desenvolvido em nossa pesquisa de mestrado intitulada A

produo do espao urbano em Vitria da Conquista/BA: lgicas e prticas espaciais do lazer, sob orientao do Prof. Dr. Arthur MagonWhitacker e financiada pelo CNPq.

nessa diferenciao espacial que se apresenta a contradio promovida pela diviso social e territorial do trabalho. De fato, presencia-se uma disputa pelo espao entre esses grupos e um conflito no uso, pois, a est envolvida uma hierarquia, uma diviso social(espacial) que, reafirmamos, produz coletivamente para uma apropriao individual, privada.

no cotidiano que essa produo se realiza, evidenciada nas formas de apropriao se d pelo uso, logo, por uma prtica espacial que, para Lefebvre (2000), representa a espacializao das prticas sociaise, ainda, abarca a produo e reproduo, os lugares e espaos especificados a cada formao social. Momento em que se associa (ao passo que pressupe uma separao) a dimenso do tempo e dos percursos e redes que ligam os elementos que compe a realidade cotidiana como, o trabalho, a vida privada, o lazer.

Assim, a produo da cidade como propriedade e, hierarquizada, expressa na realidade urbana atravs de processos espaciais como a desconcentrao de atividades e servios que resulta, entre outras motivaes, do prprio crescimento demogrfico e espacial da cidade, como tambm, de lgicas de consumo e estratgias de mercado com atuao macia dos promotores imobilirios, gerando uma necessidade de deslocamento tanto dos citadinos como das atividades. Para tanto, o processo de desconcentrao s se viabiliza quando h um desenvolvimento dos meios de transporte, este ltimo torna-se, tambm,um elemento lucrativo para os empresrios que o gerenciam, de modo que uma dinmica espacial lhes interessa produtivamente.

Nesse sentido, a questo da mobilidade torna-se uma ferramenta eficaz na compreenso de como se do os usos e localizaes na cidadeao permitir o acesso a bens, servios, aos espaos produzidos. Porquanto, o pensamento deve abarcar a totalidade, uma produo da cidade que considere, nesse movimento, o sujeito e suas necessidades de reproduo da vida e no apenas a parte tcnica do transporte, do trnsito etc. (LOBODA, 2012).

Nesse bojo, soma-se a acessibilidade que junto mobilidade so elementos complementares nas dinmicas espaciais, pois: Acessibilidade o valor de uso mais importante para a terra urbana, embora toda e qualquer terra o tenha em maior ou menor

grau. Os diferentes pontos do espao urbano tm diferentes acessibilidades a todo o conjunto da cidade. (VILLAA, 2001, p. 74). Assim, possvel analisar as relaes que so mantidas na cidade, pelo uso dos espaos de reproduo da vida e a qualidade desses, ao indicar que tipos de servios esto sendo planejados e produzidos para cada grupo social.

Com base nesses pressupostos que direcionamos nossa discusso para a produo dos espaos de lazer na cidade de Vitria da Conquista, no interior da Bahia, pois, verificamos que nos ltimos dez anos2, a mesma passa por um processo de desconcentrao desses espaos destinados a essa atividade que no ocorrem mais apenas no centro principal da cidade, localizao de praas e parques, eventos e apresentaes artsticas pblicas, bares, restaurantes, galerias, museus e centros culturais.

Verificamos que essa dinmica na localizao dos espaos de lazer tem sido influenciada, entre outros aspectos, por aes do Estado, numa de suas esferas representativas, o poder pblico municipal, d-se sobre a alocao e distribuio dos espaos de lazer ou naqueles onde esse se realiza, fora do centro principal, preferencialmente, nos prprios bairrosem projetos desenvolvidos para cada grupo local e em reas que possam abarcar um fluxo maior de pessoas. Ainda, por promotores imobilirios os quais escolhem as reas mais valorizadas para se fixarem em razo do alto nvel de consumoda populao local, assim como, em reas que apresentam potencial valorativo e, desse modo, acabam por favorecer a concentrao nas mesmas e sua valorizao.

Entendemos que essa dinmica na localizao dos espaos de lazer influenciada pelos novos hbitos de consumo, pois o lazer tornou-se um elemento de trocano capital e, por conseguinte, os espaos em que neles se realiza, ao ser

incorporado ao desenvolvimento da sociedade de consumo. Deixa de ser uma forma de humanizao do homem num tempo em que a prtica do lazer expressa a coisificao das relaes sociais.Alm disso, esse conflito expressa uma hierarquia espacial e social 2 Segundo pesquisa de campo, 2013/2014.

e certa determinao no uso ou mesmo, aredefiniodo uso de espaos pblicos e privados onde o lazer se realiza.

De modo que, para analisaros espaos pblicos3,Gomes (2002) nos indica priorizar sua forma material concreta, assim como, as prticas que nela se desenvolvem, o mesmo autor entende queesses espaos representam um conjunto indissocivel das formas com as prticas sociais.Sua definio s possibilitada quando colocado o par pblico x privado como possibilidade de delinear seus limites (LOBODA, 2008).

Assim, com esse olhar terico buscamos analisar a realidade social por meio das prticas espaciais do lazer, com base, principalmente, na realizao de entrevistas semiestruturadas4que versam,entre outros pontos, sobre a caracterizao, padro socioeconmico, condies para a realizao do lazer de diferentes sujeitos sociais.O texto est estruturado, alm dessas notas introdutrias, num nico bloco onde debateremos as questes aqui propostas, que, em resumo, buscam entender como essa dinmica espacial de desconcentrao e valorizao dos espaos de lazer, influi no uso destes ao expressar uma diferenciao social que se traduz em formas distintas de acessibilidade e qualidade nessa prtica que esto convergindo em mudanas na sociabilidade.

EM TORNO DO TEMA

Os espaos esto mais elitizados, no tem esse lugar democrtico. isso. Faltam locais mais democrticos. Essa foia fala de um citadino ao relatar sobre as ausncias de espaos de lazer em Vitria da Conquista. O lugar democrtico ao qual 3Sobre essa discusso observar, tambm, os apontamentos de Arendt (1983), a qual usa a ideia de lugar pblico como aquele que permite uma identidade e reconhecimento atravs de referenciais comuns, permitindo o dilogo e aes coletivas; j Habermas (1984) e Sennet (1998) abordam a ideia de esfera social, que tratam por esfera pblica burguesa, pois, apesar de se referir ao pblico no sentido lato, compe-se por um grupo de pessoas que se renem em pblico para discutir questes de interesses privados. 4 Total de 16 entrevistas, dentro dos perfis elaborados no mbito de GAsPERR - Grupo Acadmico

Produo do Espao e Redefinies Regionais, pelos vnculos acadmicos com nosso orientador, tomamos contato com o Projeto Temtico, financiado pela Fapesp, denominado Lgicas econmicas e prticas espaciais contemporneas: cidades mdias e consumo, ao qual, porm, no temos vnculo formal por essa investigao estar circunscrita a um conjunto de cidades do sudeste brasileiro.

FontePesquisa de

Elaborao:Rzia Mendes

Base CartogrficaIBGE Malha Municipal,

AirtonSennaEsprito

Boa VistaUniversidad

Candeias

Felcia

Jatob

Campinhos

Patagnia

RecreioJuremaBateiasSo Pedro

Brasil

Zabel

Ibirapuer

Centro Alto Marom

CruzeiroGurani

NossaSenhora

Aparecida Lagoa das

Primavera

Distrito Cidadede Vitria da Conquista/BA

AnelRodovirio0 9,4 18,8

1 - 20 20 - 40 40 - 60 acima de

Figura1: Localizao das reas de lazermaisfrequentadas, Vitria da Conquista/BA, 2014. Fonte: pesquisa de campo.

*Valoresabsolutos. Total de 270 enquetes.

Localizao Bahia no

Localizao do municpio de Vitria da Conquista na

Localizao do municpio deVitria da Conquista

se referiu o mesmo de muitos de nossos outros entrevistados, o espao pblico, aberto, de atividades gratuitas, pois, a maioria das atividades formalizadas no mbito da cidade como lazer, esto ligadas, direta ou indiretamente ao consumo, isto , desenvolvem-se em espaos privados.

Loboda (2008) nos chama a ateno para o fato de que uma anlise que se

pretenda sobre o espao pblico deve revelar o processo de produo deste, destacando as formas especficas de apropriao e diferenciao, articuladas na relao conflituosa entre pblico e privado. Entendemos que as formas de uso e apropriao da cidade ligam-se, cada vez mais, ao consumo e mercadoria, ou antes, que a vida cotidiana se organiza tendo como foco a lgica consumista. A compreenso dos usos do espao possibilitada pela anlise das diferentes prticas, isto , decifrando o espao social pelas aes espaciais, pois, estas prticas so a projeo no espao de todos os momentos, elementos da ao social expressa atravs do seu uso (LEFEBVRE, 2000).

Em nossa pesquisa, destacaram-se como principais espaos de lazer, o shopping center Conquista Sul, no bairro Felcia, as avenidas OlviaFlores, no bairro

Candeias e, Frei Benjamim, no bairro Brasil, e as praas no centro principal no bairro Centro (Figura 1).

Estes so resultado do processo de desconcentrao que, como afirmamos anteriormente, vem ocorrendo nessa cidade, tanto pela atuao dos promotores imobilirios em busca de novos investimentos e garantia da reproduo do capital, como pelo poder pblico municipal que, tambm aliado ao primeiro, age no parcelamento, gesto, dotao de infraestrutura etc. Somam-se, ainda, os empresrios que gerenciam o transporte pblico coletivo os quais dividem a cidade como que num cartel em que a populao no tem plenas possibilidades de escolha do melhor horrio, itinerrio durante toda semana. Submete-se a um esquema de distribuio de frota, horrios e itinerrios que no condiz com suas necessidades de deslocamento cotidiano, sobretudo, para o lazer.

Espaos como as avenidas Olvia Flores e Frei Benjamim indicados por nossos entrevistados, representam eixos especializados por serem, majoritariamente, voltados para atividades vinculadas ao lazer, pois, so setores da cidade que, sobretudo no primeiro caso,aconcentrao de pblico consumidor com alto nvel de renda e, no segundo, grande contingente populacional. Ambas, so expressivas pelopoder de atraoque exercem, so reas dotadas de infraestrutura, oferta considervel de transporte pblico coletivo entre essas e o centro principal (local do terminal urbano) e, so emblemticas da diferenciao entre grupos sociais no que diz respeito prtica do lazer. Apesar de ambas serem espaos, predominantemente, ocupados por estabelecimentos privados tm acessibilidade distinta e, alm da questo financeira pelo custo do consumo nesses locais, podem definir, simbolicamente5, quem as frequenta.

A Avenida Frei Benjamim a oeste, por exemplo, foi identificada por nossos entrevistados como o lado de c, destacou-se por ser mais acessvel do ponto de vista econmico, da sociabilidade. O bairro Brasil, onde se localiza essa via, constitui-se como um subcentropermitindo que haja, relativamente, pouca demanda para o 5 Com base em signos e representaes do perfil de sujeito que frequenta cada espao.

deslocamento a outras reas da cidade por conter equipamentos, bens e servios urbanos no seu interior, como nos relataram moradores desse bairro.

Em contra partida, a Avenida Olvia Flores a leste, o lado de l, em que as possibilidade de uso para nossos entrevistados so reduzidas, dado ao custo do consumo nos estabelecimentos, do deslocamento (por exemplo, apensar de ter frequentes linhas de nibus, os que no tm transporte particular costumam usar txi) da sociabilidade restrita. Porm, como um smbolo do consumismo mercadolgico , tambm, o lugar que escolhem ir quando se quer fazer algo diferente, se destacar6. Esta rea est localizada no bairro mais valorizado da cidade,o Candeias, local de intenso processo de verticalizao, dotao de infraestrutura, localizao de prdios de servios pblicos, escolas pblicas e privadas, faculdades, universidades e onde est sendo construdo o segundo shopping center7.

De fato, h uma diferenciao socioespacial entre o lado leste e oeste, uma divisofisicamente, delimitada pela BR 116 que corta a cidade ao meio, formas espaciais em que se materializam ostatus, hierarquizao social (espacial) um valor atribudo no s ao espao e bens ali produzidos, mas tambm, as relaes que nele se estabelecem. Em cada espao, constri-se um perfil de pblico, personifica-se o espao e quem dele se apropria.

O capitalismo aprofunda e compara as diferenas transformando-as em desigualdade. Assim, a diferenciao erigida enquanto negatividade conduzindo a uma segmentao, tanto no plano espacial como social pela constituio de espaos especficos para grupos sociais distintos. Por isso, essa diferena no aquela mesma da alteridade a qual discutiu Serpa (2011), construda com base em identidades que se realizam quando h interao, relacionamento entre grupos distintos. O que existe, de fato, uma desigualdade oriunda de processo em que os sujeitos sociais so classificados, hierarquizados.

Para o mesmo autor, noutra obra (SERPA, 2003)a ampliao do consumo acontece, simultaneamente, com a ampliao da esfera privada. E a prtica do lazer no 6 Informaes obtidas nas entrevistas. Fonte: Pesquisa de campo, 2014.

7Boulevard Shopping Vitria da Conquista. Disponvel em .

se isenta dessa condio, assim como, relataram nossos entrevistados para os quais o lazer tambm se desenvolve na quadra poliesportiva do condomnio residencial privado do amigo, no SESC8, nos demais clubes da cidade e, principalmente, no shopping center que, alm de um espao para o lazer (assistir a um filme, encontrar amigos etc.) passa a ser o prprio lazer, isto , s o fato de estar presente naquele espao, consumindo outros objetos ou no, j uma forma de lazer.

O uso do espao doshopping como smbolo de status, de lazer, da segurana, mas que tem um conceito, uma identidade construda por seus gestores os quais formalizam comportamentos, relaes, expressa uma imagem de acesso que no para todos, de modo que seu uso para ou como o lazer reproduz as coaes do tempo produtivo e do cotidiano dominado. Atualmente, esse empreendimento apontado por nossos entrevistados como um dos principais espaos de lazer da cidade ou, ainda, como sendo o nico espao para esse fim. Assim como a avenida Olvia Flores,tem uma produo direcionada elite local, apesarde serem frequentados, mesmo que esporadicamente, por diferentes grupos sociais mesmo que seja apenas para nutrir o desejo de consumir, outra estratgia do capital.

A sensao de insegurana, a carncia na infraestrutura dos espaos pblicos, maior diversidade na oferta de atividades vinculadas ao lazer (artstico, cultural, informacional etc.), a falta de renda que possibilite maior uso desses espaos, so elementos que fazem esses citadinos afirmarem no haver lazer em Vitria da Conquista. Por essa condio, observamos certa subordinao da cidade ao valor de troca posto que os espaos, sobretudo do lazer, do encontro, so circunscritos aos espaos privados, normatizados, controlados como novo signo de consumo, status.

Nesse sentido, oShopping Conquista Sul, localizado ao sul de Vitria da Conquista, representativo dessa realidade. Inaugurado em 2006 vem fortalecendo o papel da cidade na rede urbana e promovendo alteraes em sua forma urbana. Sua

8 SESC - Servio Social do Comrcio uma entidade de direito privado, criada e mantida pelo

empresariado do Comrcio de Bens, Servios e Turismo nos termos do Decreto Lei n 9.853, de 13 de Setembro de 1946. Informao disponvel em: .

construo vincula-se, tambm,ao processo de desconcentrao intensificando a valorizao da rea que vem se constituindo como um eixo comercial e de servios. No bairro em que se inseree em suas mediaes, tornou-se um importante elemento no processo de expanso urbana e valorizao do solo, recebendo dotao de infraestrutura, meios de transporte, pois a esto sendo construdos, condomnios fechados, grandes conjuntos habitacionais populares, hipermercados, hotise, ainda, encontra-se relativamente perto do terminal rodovirio e do aeroporto9.

Por outro lado, percebe-se uma diminuio no uso de espaos em que seu uso no se associa, diretamente, relao mercadolgica, para onde se direcionam os citadinos que no esto inseridos circuito principal do consumo capitalista, ou seja, para esses destinada a cidade aberta, pblica. o que verificamos em nossa pesquisa,pelo deslocamento dos entrevistados para o centro principal de Vitria da Conquista, onde se localiza uma das principais praas, local de realizao de eventos, encontros e festas pblicas.

O centro principal se destacoutambm, como um dos pontos de lazer, mesmo que recentes pesquisas10 evidenciem certo enfraquecimento de sua centralidade em virtude da desconcentrao dos espaos voltados para esse fim e de novos hbitos de consumo. Ainda, por apresentar problemas como citamos anteriormente, deacessibilidade, falta de estrutura para abarcar grandes fluxos na realizao de eventos pblicos, ineficincia na oferta de transporte pblico coletivo, sobretudo, para os que residem em reas perifricas.

Esses problemas de infraestrutura, de acessibilidade e de estigmatizao so vinculados aos espaos pblicos, principalmente, praas e parques destinados, via de regra, ao lazer fsico com pistas para caminhadas, ciclovias (que os direcionam muito mais ao trabalho que para outro fim), muitos desses locais se encontram no interior dos bairros e, neste caso, as ms condies so mais evidentes que nas reas centrais, 9Entretanto, haver uma mudana na localizao do aeroporto que est sendo construdo num povoado localizado a 7 km da cidade, conforme anunciou a prefeitura. Disponvel em: http://www.pmvc.ba.gov.br/v2/noticias/comecam-as-obras-do-novo-aeroporto-de-vitoria-da-conquista/> ltimo acesso em junho/2014.

10(SANTOS: 2009, 2012).

ponderando aqueles voltados populao de maior poder aquisitivo, sempre estruturados para quem nem faz tanto uso deles.

Assim, ou acabam sucumbindo dada s precariedades e aos novos espaos de lazer ou, sendo o nico meio possvel de realizar tal prtica,acabam por desqualificar o lazer desses citadinos, especialmente, a populao pobre, com maiores dificuldades em se deslocar, pois, o itinerrio que lhe serve para o ambiente de trabalho, no mesmo que lhe permite acesso ao lazer, evidenciando uma restrio da sua mobilidade e uma acessibilidade dirigida, assim como afirmou Vicente (2011).

Portanto, a frequncia na realizao dessas atividades pode indicar o grau de identidade que as pessoas passam a ter com esses espaos. Se o uso no uma prtica cotidiana a identidade no se constri e a apropriao no acontece. medida que a cidade vai sendo produzida para uma parcela minoritria de poder, resta populao carente encontrar outras formas de uso para que a realizao da vida seja realizada.

QUESTES FINAIS

Vimos que a produo da cidade no se realiza sem conflitos, pois, os interesses que viabilizam a reproduo do capital no se articulam aos que se voltam s necessidades cotidianas do sujeito social, das relaes humanas, fazendo do espao citadino um campo de lutas. Luta pelo uso, pela apropriao da produo coletiva dos bens urbano e nesse conflito pelo uso que se revela o cerne do processo social, o da propriedade contra a apropriao em que o uso, precisa acontecer coletivamente como condio de possibilidade apropriao individual. (LEFEBVRE: 1991, 2000).

Os processos sociais que destacamos e as formas espaciais que deles derivam, influenciam no s na produo espacial da cidade, mas tambm, em mudanas na prtica social. Ao passo que verificamos uma desconcentrao especializada e hierarquizada dos espaos lazer, pelas novas dinmicas de localizao destes, vimos tambm uma mudana no contedo das relaes que ali se estabelecem que tambm se hierarquizaram.

De modo que, com base nessas anlises que vemos aprendendo sobre as prticas espaciais do lazer em Vitria da Conquista e dessa mudana no contedo social,

observamos que concomitante ao processo de desconcentrao dessas atividades, h uma tendncia fragmentaosocioespacial, pela constituio de espaos especficos para grupos sociais distintos, pois, embora haja uma relativa aproximao entre esses no plano espacial, distanciam-se no ato da apropriao, algo que estamos desenvolvendo.

Assim, a fragmentao uma expressodo embate entre o valor de uso e de troca pelos conflitos de interesse entre o pblico e o privado, pois, expressam-sese materializando em espaos submetidos ao valor de troca, hierarquizados, promovendo uma diferenciao que social, espacial, econmica, cultural, constituindo-se como espao de dominao, bem diferente da apropriao em que se socializa o espao.

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