entre o aprisco e o curral, bispo josué adam lazier

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ENTRE O APRISCO E O CURRAL João 10.1-7 Encontramos figuras que são utilizadas metaforicamente para indicar a Igreja. Entre elas, a Igreja tem sido identificada como o aprisco onde as ovelhas se encontram, se aquecem e se protegem. No aprisco, considerando a perspectiva bíblico-teológica, as ovelhas conhecem o seu pastor. A figura do aprisco indica mais do que meramente um local onde as ovelhas se abrigam, indica a relação de confiança entre as ovelhas e o pastor. A palavra grega utilizada apresenta este sentido. “Parece ser um quintal na frente da casa, cercado por um muro de pedras que, provavelmente, tinha abrolhos em cima”.[1] Esta figura que indica algo simples e tão familiar ao povo da época é utilizada pelo evangelista João para ilustrar a relação de pastoreio de Jesus para com os discípulos (João 10.1-7). Assim, o autor bíblico descreve esta relação entre pastor e ovelhas. As ovelhas sabem que o pastor quer o bem delas e sempre que se dirige a elas é para seu bem. As ovelhas não temem o seu pastor, pelo contrário, o respeitam pelo cuidado e pela dedicação que oferece indistintamente a todas elas. As ovelhas ouvem a voz do seu pastor. Um pastor de ovelhas comentando este texto diz o seguinte: “quando o pastor as chama é com propósito específico; tem em mente o interesse das ovelhas. Não é uma coisa que ele faz só para se divertir ou passar o tempo ”. [2] Que palavras instigantes deste pastor quando afirma que o pastoreio no contexto do aprisco não é para divertimento do pastor ou passa tempo, mas pelo contrário, é para o bem das ovelhas. A expressão elas ouvem a sua voz é uma das principais características do relacionamento entre o pastor e suas ovelhas. No versículo 3 é dito que as ovelhas ouvem a voz do pastor. O sentido da palavra é de prestar atenção, entender, aprender, pois a voz é conhecida. No versículo 4 é dito que as ovelhas reconhecem a voz. O sentido do termo utilizado é mais íntimo, expressando relacionamento, reconhecimento e respeito. Assim, as ovelhas seguem o seu pastor. As ovelhas não seguem o condutor cuja voz não seja reconhecida. É importante destacar que a parábola contada por Jesus está cheia de afetividade e relacionamento pautado no respeito, na dignidade, na valorização, na busca pelo bem estar das ovelhas e cuidado extremo para com as que estão doentes. Não se trata de escutar e sim de conhecer a voz pela vivência. Na parábola Jesus diz aos discípulos que Ele é a porta das ovelhas. O pastor sempre chega junto às suas ovelhas por esta porta que se abre e que não é arrombada pela força, pela arrogância, pelo desprezo, pela intimidação e pelo desamor daqueles que se utilizam da função do pastor. É o pastor de ovelhas que diz o seguinte para explicar esta relação entre o pastor e suas ovelhas: “não há nenhuma tensão nem violência neste relacionamento com o pastor de minha alma”.[3]

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Teologia: estudo de parábolas de Jesus Cristo, Entre o Aprisco e o Curral, Bispo Josué Adam Lazier. Busca denotar o rebanho de Cristo de hoje, em ser bem tratado com a nobreza devida como tais ovelhas parabolares bíblicas. Um pensamento crítico do ofício pastoral, sua importância em função da membresia, da Obra e do chamado.

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ENTRE O APRISCO E O CURRALJoo 10.1-7Encontramos figuras que so utilizadas metaforicamente para indicar a Igreja. Entre elas, a Igreja tem sido identificada como o aprisco onde as ovelhas se encontram, se aquecem e se protegem. No aprisco, considerando a perspectiva bblico-teolgica, as ovelhas conhecem o seu pastor. A figura do aprisco indica mais do que meramente um local onde as ovelhas se abrigam, indica a relao de confiana entre as ovelhas e o pastor. A palavra grega utilizada apresenta este sentido. Parece ser um quintal na frente da casa, cercado por um muro de pedras que, provavelmente, tinha abrolhos em cima.[1]

Esta figura que indica algo simples e to familiar ao povo da poca utilizada pelo evangelista Joo para ilustrar a relao de pastoreio de Jesus para com os discpulos (Joo 10.1-7). Assim, o autor bblico descreve esta relao entre pastor e ovelhas.As ovelhas sabem que o pastor quer o bem delas e sempre que se dirige a elas para seu bem. As ovelhas no temem o seu pastor, pelo contrrio, o respeitam pelo cuidado e pela dedicao que oferece indistintamente a todas elas.As ovelhas ouvem a voz do seu pastor. Um pastor de ovelhas comentando este texto diz o seguinte: quando o pastor as chama com propsito especfico; tem em mente o interesse das ovelhas. No uma coisa que ele faz s para se divertir ou passar o tempo.[2]Que palavras instigantes deste pastor quando afirma que o pastoreio no contexto do aprisco no para divertimento do pastor ou passa tempo, mas pelo contrrio, para o bem das ovelhas.

A expressoelas ouvem a sua voz uma das principais caractersticas do relacionamento entre o pastor e suas ovelhas. No versculo 3 dito que as ovelhasouvema voz do pastor. O sentido da palavra de prestar ateno, entender, aprender, pois a voz conhecida. No versculo 4 dito que as ovelhasreconhecema voz. O sentido do termo utilizado mais ntimo, expressando relacionamento, reconhecimento e respeito. Assim, as ovelhas seguem o seu pastor.As ovelhas no seguem o condutor cuja voz no seja reconhecida. importante destacar que a parbola contada por Jesus est cheia de afetividade e relacionamento pautado no respeito, na dignidade, na valorizao, na busca pelo bem estar das ovelhas e cuidado extremo para com as que esto doentes. No se trata de escutar e sim de conhecer a voz pela vivncia.Na parbola Jesus diz aos discpulos que Ele a porta das ovelhas. O pastor sempre chega junto s suas ovelhas por esta porta que se abre e que no arrombada pela fora, pela arrogncia, pelo desprezo, pela intimidao e pelo desamor daqueles que se utilizam da funo do pastor. o pastor de ovelhas que diz o seguinte para explicar esta relao entre o pastor e suas ovelhas: no h nenhuma tenso nem violncia neste relacionamento com o pastor de minha alma.[3]O pastor guia as suas ovelhas, cuida de todas elas, vai atrs da que se perdeu, alimenta, protege e as conduz pelos caminhos seguros da vida. O ser pastor exige renncia, humildade, amor, confiana, perseverana e doao, sem o que no se consegue conduzir as ovelhas.

Se no for segundo a perspectiva do aprisco, a Igreja pode ser identificada pela figura de um curral, lugar onde o gado reunido para receber o sal, a rao e as marcas dos proprietrios. Enquanto a figura do aprisco indica metaforicamente o encontro amoroso do pastor com suas ovelhas, o curral indica o local da rao para o gado, ou seja, onde metaforicamente as pessoas ruminam o sal ou a rao que lhes so oferecidos sem, no entanto, vivenciaram os aspectos que compreendem o aprisco.O que diferencia a metfora do aprisco para a do curral, que nesta o gado recebe a rao e depois se dispersa de cabea baixa para as pastagens, enquanto na primeira as ovelhas seguem o pastor pelos campos pulando altivas, como que brincando e celebrando a vida. Ou seja, no contexto do curral os membros da igreja so como o gado no curral e no como as ovelhas do aprisco. Isto faz uma grande diferena...Bispo Josu Adam Lazier

[1]RIENECKER, F. , ROGERS, C.Chave Lingstica do Novo Testamento Grego. So Paulo, SP: Edies Vida Nova, 1985, p. 178.[2]KELLER, Phillip. Meditaes de um leigo sobre o Bom Pastor e suas ovelhas da perspectiva de um verdadeiro pastor de ovelhas. So Paulo, SP: Editora Vida, 1981, p. 36.[3]KELLER, Phillip. Meditaes de um leigo sobre o Bom Pastor e suas ovelhas da perspectiva de um verdadeiro pastor de ovelhas. So Paulo, SP: Editora Vida, 1981, p. 58.

MINISTRIO NO APRISCO VERSUS MINISTRIO NO CURRALAs parbolas de Lucas e de Ezequiel

IntroduoAs figuras do aprisco e do curral desafiam nossa reflexo e nos convidam a considerarmos o que diferencia o ministrio entre um e o outro.Enquanto a figura do aprisco indica metaforicamente o encontro amoroso do pastor com suas ovelhas, o curral indica o local da rao para o gado, ou seja, onde metaforicamente as pessoas ruminam o sal ou a rao que lhes so oferecidos sem, no entanto, vivenciaram os aspectos que compreendem o aprisco.1

Para isto, faremos uma leitura de dois textos bblicos que nos auxiliaro em nossa reflexo nesta linha de pensamento. O primeiro texto o de Lucas 15.4-7, onde contada a parbola da ovelha perdida. O segundo texto o de Ezequiel 34.1-10, onde so apresentadas caractersticas negativas na vida dos lderes, o que nos leva a pensar no exerccio de um ministrio na perspectiva do curral.

1. A parbola da ovelha perdida Lucas 15.4-7RestauraoA parbola da ovelha perdida tem como seu tema central a restaurao da ovelha que se perdeu e que causa no pastor, nos amigos e vizinhos, alegria quando ela encontrada. Ela assinala que Deus procura os pecadores e sempre Ele quem toma a iniciativa para que recebam a nova vida em Cristo Jesus. Para os religiosos daquela poca, Deus receberia somente as ovelhas arrependidas, mas para Jesus, Deus procura as desgarradas, machucadas, violentadas, atingidas pelas feridas da vida e as restaura ao seu aprisco. Ir ao encontro da que est perdidaEsta a ideia presente na parbola da ovelha perdida. O pastor deixa as noventa e nove ovelhas que esto seguras e vai procurar a que se perdeu. Quando a encontra descobre que est machucada pela queda e carrega-a para casa (15.5). Surpreendentemente, este pastor se regozija com o fardo de restaurao que ainda est diante dele. Este tema importantssimo nesta primeira parbola.2 Alm disto, o pastor revela que a ovelha era importante para ele. Ele percorre um longo caminho, qui fazendo sacrifcios e suportando as dificuldades em encontrar a ovelha perdida.Pensemos nos sacrifcios suportados pelo pastor andando nas pegadas da ovelha perdida e percorrendo montes e vales, sem desistir, at encontr-la (Lc 15,4). Nessa parbola, a preciosidade da ovelha perdida insinuada tambm pelo adjetivo possessivo. O pastor exclama: encontrei a minha ovelha (Lc 15.4).3

Carregar pelos braosA ao no contexto do aprisco deve cuidar das que esto seguras e se alegrar com as que nunca se perderam, mas no pode deixar de focar as que se extraviaram e precisam de cuidado e restaurao. Esta ao de restaurar tem todo um sentido afetivo por parte do pastor: ela toma a ovelha em seus braos e leva-a casa. Trata-se de uma atitude de cuidado, de respeito e de valorizao da ovelha que, mesmo que tenha sido rebelde em se desviar do caminho pelo qual o pastor conduzia o rebanho, tratada com considerao. A restaurao fruto desta soma de atitudes do pastor, especialmente da afetividade.O profeta Isaas afirma o seguinte falando do relacionamento de Deus com seu povo: como pastor, apascentar o seu rebanho; entre os braos, recolher os cordeirinhos e os levar no seu regao; as que amamentam, ele as guiar mansamente (Isaas 40.1). A alegria do pastorAlm da restaurao estar enfatizada nesta parbola, a alegria pelo retorno da ovelha que se perdeu tambm indicada, pois ela contagiante: todos que recebem a notcia se alegram e celebram, pois haver mais alegria no cu por um s pecador que se arrepende, do que por noventa e nove justos que no necessitam de arrependimento, conforme o texto de Lucas 15.7.A gratuidade na ao pastoralA parbola apresenta quatro temas: a alegria do pastor, a alegria da restaurao, o amor gracioso e o arrependimento.4 Estes temas so norteadores de um ministrio na perspectiva do aprisco. O ministrio na perspectiva do aprisco tem o tom da gratuidade e no da troca ou do mercantilismo. Como j expressamos em outros textos, afirmamos que as pessoas que se oferecem para trabalhar nos ministrios da Igreja e que recebem para isto devem faz-lo na perspectiva da doao, do servio e nunca da recompensa, ou do salrio, ou do subsdio.5

2. A parbola dos pseudo-pastores Ezequiel 34.1-10O profeta Ezequiel, cujo ministrio se deu no perodo do exlio e junto aos desterrados, toca no tema do pastoreio das ovelhas. Ele anunciava a mensagem de que Jerusalm chegava ao fim em virtude da corrupo que havia tomado conta da vida dos lderes do povo e da crise que se alojara entre o povo, uma vez que seus lderes estavam desleixados em relao aos seus compromissos. Em outras palavras, os lderes deixaram de pastorear e conduzir o rebanho e se dedicaram aos seus prprios negcios, ou como diz Ezequiel, se apascentavam a si mesmos. O povo vivia sob o impacto do desterro e do distanciamento do Templo, que simbolizava a identidade e a religio que professavam e eram como ovelhas sem pastor. No entanto, Deus revela que Ele mesmo vai pastorear as suas ovelhas.Ezequiel o profeta que desenvolve mais amplamente o tema de Iaweh-pastor. Dedica a ele todo o cap. 34, no qual contrape o comportamento de Deus ao dos falsos pastores que, em vez de apascentarem o povo de Deus, apascentam a si mesmos (vv. 2-10).6Aqui entra nossa metfora do curral. O povo nesta poca vivia sem o cuidado, a direo, a conduo e o pastoreio de seus lderes ou pastores. O profeta denuncia isto quando apresenta o perfil dos falsos pastores.As palavras do profeta so claras e especficas. No h como no compreender a mensagem que Ezequiel apresenta e que caracteriza os pastores que na expresso bblica so falsos pastores. Vejamos: 1. Apascentam-se a si mesmos, ou seja, esto preocupados com o seu bem estar em detrimento do bem estar das ovelhas. O que importa a satisfao dos desejos e das necessidades pessoais e no as do rebanho. 2. Comem a gordura das ovelhas e se vestem com a l. Em outras palavras, isto quer dizer explorao e violncia cometidas contra o rebanho. 3. No do apoio s que esto enfraquecidas com a situao de desterro, pobreza e opresso a que estavam submetidas as ovelhas, ou o povo de Deus. Devemos lembrar que o povo est no exlio como escravo. 4. No curam as doentes e nem restauram as que esto machucadas. No h nenhuma ao por parte dos lderes do povo que produza restaurao, cura e libertao. Os pastores se transformaram em lobos vorazes. 5. No procuram as desgarradas e no vo atrs das que esto perdidas. A ao que mais caracteriza o trabalho pastoral que conduzir as ovelhas por caminhos seguros no era praticada pelos pseudo-pastores da parbola de Ezequiel. 6. Por outro lado, eram dominadores, violentos, arrogantes, cujo manejo das ovelhas era feito com dureza e muito rigor. Uma boa forma de identificar um pastor dominador e dissimulado reparar se ele olha com ternura para suas ovelhas. O olhar do pastor revela se de fato cumpre com sua funo ou vocao na perspectiva da parbola de Lucas ou se na perspectiva da parbola de Ezequiel.Assim, Ezequiel, o profeta do desterro, descreve a vida num curral.

ConclusoNo d para concluir um assunto de tamanha delicadeza e tamanho desafio. D sim para lamentar que em nosso meio se instalem modelos de pastoreio na perspectiva do curral, onde o que vale a vontade do pastor e o seu bem estar.No d para concluir, mas d para lamentar que a Igreja vivencie esta tenso e que acabe por predominar um modelo de dominao, intimidao e dissimulao. Eu conheo pastor que no consegue olhar nos olhos de suas ovelhas e prefere olhar de soslaio, ou de forma esguelha. O pastoreio, desta forma, realizado por vis. O que significa dizer um ministrio meio furtivo, esconso, tortuoso de obter, fazer ou concluir algo.7No d para concluir, mas que Deus tenha misericrdia de ns.Bispo Josu Adam Lazier

1 LAZIER, Josu Adam. Entre o Aprisco e o Curral. Postado no blog: www.josue.lazier.blog.uol.com.br em 13 de julho de 2009.2 BAILEY, Kenneth. As Parbolas de Lucas. So Paulo, SP: Editora Vida Nova, 1985, pg. 199.3 BOSETTI, Elena. Deus-Pastor na Bblia solidariedade de Deus com seu povo. So Paulo, SP: Edies Paulinas, 1986, p. 75.4 BAILEY, Kenneth. As Parbolas de Lucas. So Paulo, SP: Editora Vida Nova, 1985, pg. 203.5LAZIER, Josu Adam. O Ministrio na Perspectiva da Manjedoura. Postado no blog: www.josue.lazier.blog.uol.com.br em 23 de dezembro de 2008.6 BOSETTI, Elena. Deus-Pastor na Bblia solidariedade de Deus com seu povo. So Paulo, SP: Edies Paulinas, 1986, p. 30.7 HOUAISS. Dicionrio eletrnico da Lngua Portuguesa 1.0.

PARA ESTAR NO APRISCO E NO NO CURRALO ministrio de acordo com I Pedro 5.1-4IntroduoEsta a terceira reflexo que fao em torno do tema aprisco e curral. A primeira eu intitulei Entre o aprisco e o curral, onde descrevi brevemente as caractersticas de cada uma. A segunda reflexo eu intitulei de Ministrio no aprisco versus ministrio no curral, em cujo texto indiquei algumas diferenas entre os dois tipos de ministrios, levando-se em conta as parbolas de Lucas 15 e a de Ezequiel 34.Nesta reflexo quero abordar os conselhos apostlicos de Pedro quando se dirigiu aos cristos que se encontravam na disperso noPonto, Galacia, Capadcia, sia e Bitnia. O apstolo chama-os de forasteiros, porque viviam em outras terras, mas assim o faziam como eleitos de Deus e santificados no Esprito Santo (I Pe 1.2).Como os seguidores de Cristo viviam em um ambiente de hostilidade, o exerccio do pastoreio junto ao povo era fundamental para preservao da f e perseverana na vida crist. Desta forma, o apstolo se dirige aos dirigentes dando-lhes vrias recomendaes de como pastorear naquelas condies. Na verdade ele faz uma comparao entre dois modelos de pastoreio, que estou chamando de aprisco e curral. Ao fazer isto, incisivo e desafiador, pois suas palavras exortam e edificam.Dilogo com os lderes da comunidadeEle designa os lderes de presbteros, por serem as pessoas que adquiriram experincias ao longo de suas vidas e foram reconhecidas como lderes da comunidade que se encontrava dispersa por vrios lugares. Os presbteros deveriam ser como referncias de obedincia e dedicao a Deus para os demais que iniciavam a jornada de f. Ao se dirigir a eles assinala o pastoreio na perspectiva do aprisco e se apresenta como co-servo, co-ancio e cooperador, como algum que testemunhou os sofrimentos de Cristo e tornou-se testemunha da ressurreio (5.1).O apstolo Pedro indica trs caractersticas do que estamos chamando de ministrio no aprisco ou ministrio no curral. Inicia sua recomendao com a expresso rogo, em grego parakaleo, que significachamar ao lado, convidar para uma conversa. desta forma que o apstolo se dirige aos lderes, ou seja, pastoralmente convida para uma conversa mais ntima acerca do cuidado pastoral. Nesta conversa ele pede que o pastoreio acontea e passa a indicar as caractersticas.EspontaneamenteEle diferencia o aprisco do curral quando indica que o pastoreio deve ser feito espontaneamente e no por constrangimento. A palavra constrangimento tem o acento de obrigao, coao, sem alegria, sem motivao, sem zelo e sem compromisso com o rebanho. Para Pedro o pastoreio deve ser exercido de forma livre, da forma que Deus o quer, sem imposies e legalismos, mas com respeito, cuidado e dignidade.A ordem de apascentar voluntariamente, segundo Deus, poderia ento significar: no cumprais a vossa obrigao coagidos pela imposio das mos sobre vs. Redescobri as motivaes da f, segundo Deus, que esto na origem do vosso ministrio, e deixai-vos guiar por elas.[1] uma recomendao instigante e relevante para os dias de hoje, pois este o ministrio feito no aprisco. Nele no h coao e nem intimidao, no h ameaas e nem dissimulaes. um pastoreio com o corao aberto e cheio de amor e de esperana para com as pessoas, feito com honestidade e com voluntariedade.

De boa vontadeNa recomendao anterior o curral estava na coao, na presente orientao est na srdida ganncia ou na avidez por ganho. O tema do dinheiro entra na pauta de recomendaes do apstolo, pois a ganncia uma fora destrutiva do ministrio como Deus o quer. Deus quer o ministrio de boa vontade, com generosidade, com magnanimidade, onde a tentao pelo lucro e pela satisfao dos interesses pessoais superada.O termo grego utilizado e traduzido porboa vontade, tem o sentido de zelo, de cuidado. A palavra extremamente forte e expressa entusiasmo e zelo devotado.[2]O ministrio no aprisco tem esta perspectiva desafiadora para os dias de hoje, especialmente levando-se em conta os movimentos de negociao e de busca de recompensas financeiras pelo trabalho pastoral. Pedro, ao se dirigir aos lderes da comunidade, faz um apelo para que a disposio que estava presente no incio do ministrio seja restaurada e renovada. Assim, os presbteros deveriam pastorearno forados, mas de bom grado, obedecendo vontade divina; no por causa do lucro, mas por devotamento ao prximo; no com modos speros, como tiranos, mas dando o exemplo de suavidade e delicadeza.[3]Como modelos do rebanhoPedro no deixa dvidas. O ministrio realizado com violncia, com dominao, com patrulhamento, no o Deus quer. Deus quer um ministrio livre, espontneo e caracterizado pela disposio em servir. O acento da recomendao est no relacionamento de servio em prol das ovelhas. As recomendaes de Cristo aos discpulos e expostas pelos evangelistas esto diretamente ligadas a esta recomendao petrina, especialmente as que falam que os maiores so os que servem e no os que se assentam mesa (Mc 10.43-44).Numa situao de aprisco no h dominao, h sim doao, dedicao e humildade. A humildade proposta por Cristo no tem nada a ver com os meios usados para se fazer carreira e chegar ao poder.[4]Para continuar refletindoConsiderar as palavras do apostolo Pedro sair da perspectiva do curral e entrar na do aprisco, pensar na dimenso pblica do pastoreio e do servio que a Igreja deve prestar sociedade. pensar na incluso dos que so excludos, pensar na libertao dos que so oprimidos, denunciar quando a vida, dom de Deus, aviltada pela violncia contra crianas, contra mulheres, contra os idosos e contra os que so diferentes, pensar na vida integral e no resgate da dignidade humana. pastorear num ambiente de aprisco.Dar ateno as palavras de Pedro sair do curral e entrar no aprisco, pois suas palavras continuam a instigar a liderana da igreja nos dias de hoje.Bispo Josu Adam Lazier[1]BOSETTI, Elena. Deus-Pastor na Bblia solidariedade de Deus com seu povo. So Paulo, SP: Edies Paulinas, 1986, p. 102.[2]RIENECKER, Fritz ROGERS, Cleon.Chave Lingustica do Novo Testamento Grego. So Paulo, SP: Edies Vida Nova, 1985, p. 567.[3]BALLARINI, T. e outros. Introduo Bblia, vol. V/2. Petrpolis, RJ: Editora Vozes Ltda, 1969, p. 345.[4]BOSETTI, Elena. Deus-Pastor na Bblia solidariedade de Deus com seu povo. So Paulo, SP: Edies Paulinas, 1986, p. 112.

DE VOLTA AO APRISCOHebreus 13.20IntroduoEsta a quarta reflexo que fao em torno do tema aprisco e curral. No entanto, Hebreus 13.20 nos traz de volta ao aprisco. O autor se refere a Jesus como ogrande pastor das ovelhas. Ele foi apresentado por Joo como o bom pastor, agora ele retorna no texto de Hebreus como o grande pastor. Ao fazer isto, o autor resgata e restaura a concepo que vem do Antigo Testamento acerca do pastor e que instigante e paradigmtica para o ministrio pastoral hoje. H uma clara referncia a Moiss que, com seu cajado e sua autoridade de guia, conduziu o povo do meio da escravido no Egito at a entrada na Terra Prometida. Em outras palavras, o autor de Hebreus est relacionando o pastoreio de Jesus a um novo xodo, agora numa perspectiva de salvao escatolgica.[i]O grande pastorAlm de indicar na figura do grande pastor o lder Moiss, logicamente que est implcita a imagem de pastor que atribuda a Deus. Deus o primeiro e maior pastor. O Salmo 78 narra a histria do povo no Antigo Testamento e compara a vida do povo como a de uma ovelha que segue e guardada pelo seu pastor. Trata-se de um Salmo Didtico, pois lembra ao povo as aes de Deus, do Deus Pastor.Entre as aes esto as seguintes:1.Guiar no sentido de apascentar, conduzir. Isaas fala sobre isto quando o povo estava voltando do exlio para reconstruir a Cidade e o Templo de Jerusalm:Como um pastor apascenta ele o seu rebanho, com o seu brao rene os cordeiros, carrega-os no seu regao, conduz carinhosamente as ovelhas que amamentam(40.11).2. Prover no sentido de providenciar o necessrio para a vida. Lucas 12.22-31 apresenta este lado pastoril de Deus. Conta 3 pequenas parbolas para evidenciar o cuidado e a providncia de Deus para com seu rebanho: parbola do corvo, da vida e da erva do campo.3. Guardar no sentido de defender, vigiar, libertar, reunir e congregar. O profeta Miquias 2.12 promete que Deus, durante o exlio, reuniria o Seu povo como ovelhas no aprisco:Reunir-te-ei todo inteiro, Jac, congregarei o resto de Israel!Agrup-los-ei como ovelhas no aprisco, como rebanho no meio da vrzea, e haver rudo longe dos homens.4.Permanecer no sentido de fazer aliana. O tema da aliana de Deus com Seu Povo est presente em toda a Bblia.Zacarias 13.9 diz :Ele invocar o meu nome, e eu lhe responderei; direi: o meu povo!Ele dir: Deus o meu Deus.Estas aes do Deus Pastor so paradigmticas para o exerccio do ministrio pastoral hoje, pois o ambiente social e familiar em que as pessoas esto inseridas, alm do ambiente cultural, econmico e poltico, requerem um pastoreio humanizado e humanitrio. Humanizado no sentido de que as pessoas devem ser tratadas com dignidade e respeito pelos pastores e pastoras e no apenas como consumidores de produtos que lhe so vendidos ou ouvintes de seus sermes mal preparados e arroubos de soberba e vaidade. Humanitrio no sentido de estar ao lado para socorrer, fortalecer, ouvir, interceder e agir com solidariedade, justia e amor. Um ministrio pastoral que no tenha esta mstica ser apequenado, muito apequenado.No apequenar o pastorado interessante observar que o autor de Hebreus oferece indicativos para que o ministrio pastoral supere a tendncia do apequenamento das aes pastorais quando orienta o rebanho. Ao orientar as ovelhas ele indica o caminho a ser seguido pelos pastores e pastoras.So vrias as recomendaes (Hb 13.7-17): lembrar dos guias; lembrar dos que pregaram a palavra; no se envolver com doutrinas estranhas; possuir um altar para orao constante; oferecer o louvor a Deus; possuir lbios que confessem o senhorio de Cristo; no negligenciar a prtica do bem; cooperar com os outros; obedecer aos guias que evidenciam estas caractersticas de um ministrio que se modela no exemplo do Grande e do bom Pastor; pastorear com alegria e no gemendo; e por fim lembrar que todos prestaro contas do que fazem com suas responsabilidades e ministrios.ConclusoPara no concluir, termino com as palavras do autor de Hebreus: Que o Grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da eterna aliana, vos aperfeioe em todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vs o que agradvel diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glria para todo o sempre. Amm (Hb 13.20-21).Bispo Josu Adam Lazier