entre a disciplina e o controle análise da instituição escolar por meio da noção de dispositivo

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Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Faculdade de Filosofia e Ciências Raphael Guazzelli Valerio Entre a disciplina e o controle: análise da instituição escolar por meio da noção de dispositivo Pré-projeto de pesquisa apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Educação como requisito do processo de seleção ao doutorado acadêmico para o ano de 2014. Área de Concentração: Políticas Públicas e Administração da Educação Brasileira Linha de Pesquisa: Filosofia e História da Educação no Brasil Marília 2013

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Entre a disciplina e o controle análise da instituição escolar por meio da noção de dispositivo

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Page 1: Entre a Disciplina e o Controle Análise Da Instituição Escolar Por Meio Da Noção de Dispositivo

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Faculdade de Filosofia e Ciências

Raphael Guazzelli Valerio

Entre a disciplina e o controle: análise da instituição escolar por meio da

noção de dispositivo

Pré-projeto de pesquisa apresentado ao

Programa de Pós-Graduação em Educação

como requisito do processo de seleção ao

doutorado acadêmico para o ano de 2014.

Área de Concentração: Políticas

Públicas e Administração da Educação

Brasileira

Linha de Pesquisa: Filosofia e História

da Educação no Brasil

Marília

2013

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Resumo: Pretende-se analisar a instituição escolar por meio do conceito de dispositivo,

noção proveniente da filosofia de Michel Foucault e Giorgio Agamben. Os espaços

escolares surgem no Ocidente no escopo daquilo que Foucault chamou de sociedade

disciplinar, isto é, toda sorte de instituições produtoras de sujeitos por meio, sobretudo, do

controle dos espaços e do tempo que se davam em lugares fechados e esquadrinhados. A

lógica de funcionamento destas instituições era o panoptismo. Num breve texto Deleuze nos

descreve que a contemporaneidade não pode mais ser vista como simplesmente disciplinar.

Forja a noção de sociedade de controle para tentar dar conta de uma realidade em que as

instituições e subjetividades se desfaziam, daqui a crise da escola que não consegue mais

cumprir seu papel. Nossa hipótese de trabalho gostaria de tentar explicar esta passagem da

disciplina ao controle e, portanto, da crise da instituição escolar e das subjetividades por ela

produzidas, por meio do conceito agambeniano de dispositivo. Em um também breve texto

intitulado O que é um dispositivo? Giorgio Agamben irá dividir a realidade em dois campos

distintos: o vivente ou a substância e os dispositivos. O que nós chamamos de sujeito seria o

resultado de um jogo entre vivente e dispositivo. Nesta perspectiva a escola assume papel

de um dos mais importantes dispositivos da modernidade, já que sua tarefa primordial é

produzir subjetividades. Nossa intenção, pois, é demonstrar que a escola é, em sua gênese,

uma instituição disciplinar e que está imersa em uma sociedade de controle e tenta se

adaptar, operando em seu interior ora com dispositivos disciplinares, ora dispositivos de

controle.

1. Introdução

Nas Conversas com Kafka Janoush diz ao escritor checo que vivemos num

mundo destruído, que lhe responde: “Não vivemos num mundo destruído, vivemos num

mundo transtornado. Tudo racha e estala como no equipamento de um veleiro

destroçado” 1. Tais observações podem ser perfeitamente aplicadas à instituição escolar,

não importando se ela é publica ou privada, de qualidade comprovada ou duvidosa, de

cunho religioso ou laico, dessa ou daquela pedagogia. O que observamos é que ela, a

instituição escolar, parece realmente um veleiro destroçado. Uma embarcação que foi

construída para navegar em águas calmas e com o passar dos séculos foi obrigada a se

adaptar ao agitado mar aberto.

Para compreendermos o que a instituição escolar não é mais e problematizar

aquilo que ela é hoje, tomaremos como referencial a perspectiva teórica de Michel

Foucault, Gilles Deleuze e Giorgio Agamben. Tal tarefa coloca-se como um convite

para uma rápida viagem através da história dessa instituição (embarcação), que desde o

1 JANOUSH, Gustav. Conversas com Kafka. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. Apud PELBART,

Peter Pál. Vida Capital. Ensaios de biopolítica. São Paulo. Iluminuras. 2003.

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final do século XVIII foi gerida por um poder disciplinar e que na atualidade tenta se

adaptar a uma sociedade de controle2.

Um dos temores que assombrava a Europa em meados do século XVIII era o

medo dos espaços escuros, ou seja, de tudo aquilo que impedia o poder de ver as coisas,

as pessoas, as verdades. Destruir tudo aquilo que era ligado à escuridão: o arbitrário

político, as superstições religiosas, as ilusões da ignorância e as epidemias era o desejo

dos iluministas. Isso significava na prática, repensar a organização espacial dos

hospitais, dos cemitérios, das prisões, dos conventos, das escolas militares, de todos os

lugares que até então não reinavam a visibilidade. O novo poder que estava se

instaurando, na maior parte da sociedade europeia, não tolerava espaços onde este não

fosse exercido com eficácia. É nesse contexto que o antigo poder de soberania deu lugar

ao poder disciplinar e suas instituições.

A origem das instituições disciplinares - escolas, prisões, manicômios, hospitais

e asilos, etc. – remontam, portanto, os fins do século XVIII e início do século XIX. Foi

durante esse período que as transformações trazidas pelos ideais iluministas da

revolução francesa e o crescimento populacional e econômico, proporcionado pela

revolução industrial, tornou necessário novos controles sociais. As classes sociais

menos favorecidas, que migraram da zona rural para as principais zonas urbanas da

Europa recém-industrializada necessitavam ser disciplinadas, pelo menos, por dois

motivos: 1) para aumentar a força útil dos indivíduos, necessária à produção econômica.

2) para diminuir a força política dos grupos migratórios reunidos nos principais centros

da Europa.3

Contudo, para que o disciplinamento ocorresse, teriam que frequentar uma série

de instituições formativas. Elas se diferenciavam quanto aos seus objetivos sociais,

algumas buscavam ligar o indivíduo ao processo de produção (fábrica), função

produtiva, outras procuravam formá-los ou corrigi-los (escola, orfanato, manicômio,

prisão), função simbólica e de adestramento.4 Se prestarmos atenção nos objetivos

sociais do segundo conjunto, fica claro que as instituições disciplinares serviam como

uma espécie de “ortopedia social”, pois corrigiam e preveniam possíveis deformidades

2 O conceito de sociedade disciplinar foi elaborado por Michel Foucault em Vigiar e Punir no escopo de

seu projeto de analisar as relações e estratégias de poder-saber engendradas pela modernidade, nesta,

Foucault se livra do que ele chama “os universais” e procede a uma análise dos poderes em um nível,

pode se dizer, capilar. Já a expressão sociedades de controle foi articulada por Gilles Deleuze; seguindo

Foucault, este procura dar conta de uma nova realidade em que as instituições e estratégias engendradas

pelo poder disciplinar pareciam não dar mais conta. 3 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. Petrópolis. Vozes. 1983. p. 195. 4 FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 3ª ed. Rio de Janeiro. Graal. 1982. p. 224.

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do corpo social. Para que a ação ortopédica sobre o indivíduo se realizasse de maneira

satisfatória, foi desenvolvido nessa época o Panopticon, uma forma arquitetônica gerida

por uma racionalidade disciplinar que deveria ser usada como modelo por uma série de

instituições. Eis a descrição do Panopticon feita por Foucault:

O Panopticon era um edifício em forma de anel, no meio do qual

havia um pátio com uma torre no centro. O anel de dividia em

pequenas celas que davam tanto para o interior quanto para o exterior.

Em cada uma dessas pequenas celas, havia segundo o objetivo da

instituição, uma criança aprendendo a escrever, um operário

trabalhando, um prisioneiro se corrigindo, um louco atualizando sua

loucura, etc. Na torre central havia um vigilante. Como cada cela dava

ao mesmo tempo para o interior e para o exterior, o olhar do vigilante

podia atravessar toda a cela; não havia nela nenhum ponto de sombra

e, por conseguinte, tudo o que fazia o indivíduo estava exposto ao

olhar de um vigilante que observava através de venezianas, de

postigos semi-cerrados de modo a poder ver tudo sem que ninguém ao

contrário pudesse vê-lo.5

Se comparada às instituições de pouca visibilidade do início do século XVIII -

onde o poder era exercido de forma deficitária e por meio de pesadas correntes, castigos

físicos, ameaças, torturas, prisões em masmorras e cadafalsos – as instituições de

visibilidade do século XIX e XX, permitiam, com um único olhar, vigiar muitas pessoas

de forma eficiente e sem recorrer aos excessos do período anterior. Enquanto as

instituições de soberania deixavam a desejar em relação ao quesito: controlar os efeitos

de contrapoder, as instituições disciplinadoras mantinham os efeitos do contrapoder sob

controle. Isso ocorria porque o indivíduo vigiado acabava se transformando em seu

próprio vigia e, com o tempo, em um vigilante dos outros membros da instituição.

Qualquer alteração na normalidade interna, os responsáveis pela ordem logo ficavam

informados e preparavam uma reação.

Apesar do modelo arquitetônico idealizado pelo inglês Jeremy Bentham não

obter muito sucesso, sua racionalidade panóptica, baseada na vigilância do olhar do

outro, alcançou grande êxito, pois se conseguia extrair saberes sobre cada um dos

indivíduos que habitam o interior das instituições. Tal saber era utilizado para avaliar as

ações do sujeito, para confirmar se ele estava agindo como se devia, conforme a regra, a

norma. Caso agisse como o esperado haveria uma recompensa, caso contrário, seria

corrigido por meio de punições. O duplo recompensa/punição era a chave que fazia

funcionar com maior eficiência todo o mecanismo disciplinar das instituições.

5 FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. 3ª ed. Rio de Janeiro. Graal. 1982. p. 87.

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Da mesma forma que as outras instituições, a instituição escolar passou a

perseguir o objetivo disciplinador, para isso, começou a adotar a racionalidade

disciplinar: o controle do tempo, a ordenação dos corpos, a organização do espaço, os

exames, as punições, as recompensas, as hierarquizações e principalmente a extração de

um saber por meio da vigilância de todos os institucionalizados. Dessa racionalidade

disciplinar nasceu o saber pedagógico que:

[...] se formou a partir das próprias adaptações da criança às tarefas

escolares, adaptações observadas e extraídas do seu comportamento

para tornarem-se em seguida leis de funcionamento das instituições e

forma de poder exercido sobre a criança6.

Para dizer de outra forma, o saber pedagógico que nasceu da observação,

classificação, análise e registro dos estudantes, procurava fabricar um tipo de sujeito e

de sociedade. Quanto mais tempo uma criança passasse na escola, mais ela estaria apta a

obedecer às decisões tomadas em outras instituições (religiosa, política e econômica).

Apesar das instituições disciplinares aperfeiçoarem seus mecanismos de

assujeitamento, as resistências efetivas dos indivíduos frente ao poder disciplinar

sempre foi um problema a ser solucionado. Em vista de alcançar uma forma que

pudesse impedir ou pelo menos enfraquecer as resistências dos indivíduos, o poder

disciplinar, com o passar do tempo, deu um passo a frente redimensionando e

ampliando o seu poder sobre a sociedade. Como lembra-nos Foucault: o

desenvolvimento das sociedades disciplinares nos séculos XVIII e XIX atingiu o seu

apogeu no início do XX; no entanto, já no final dos anos 70, essa sociedade disciplinar é

o que estamos deixando de ser7. Que tipo de sociedade é esta, portanto, que estamos

começando a entrar?

Coube a Deleuze o desenvolvimento desta ideia em um pequeno artigo,

publicado originalmente em 1990, onde cunha a expressão, proveniente da literatura de

Willian Burroughs, “sociedades de controle”. Deleuze afirma seguir as pistas

foucaultianas no que concerne à formulação deste conceito, embora Hardt8 afirme ser

difícil encontrar em toda obra de Foucault qualquer pista que nos leve a esta

6 FOUCAULT. Michel. A verdade e as formas jurídicas. 3° Edição. Rio de Janeiro. NAU Editora.

2003. p. 122. 7 cf. DELEUZE, Gilles. Post-Scriptum sobre as sociedades de controle. In: Conversações. Rio de

Janeiro: Ed. 34, 1992. pp. 219-226. 8 HARDT, Michael. A sociedade mundial de controle. In: ALLIEZ, Eric (org.) Gilles Deleuze: uma vida

filosófica. São Paulo: Ed. 34, 2000. pp. 357-372.

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formulação; temos uma possível resposta para esta questão lançada pelo pensador

estadunidense que anunciaremos adiante.

Nossa hipótese é a seguinte: a instituição escolar no Brasil que, como vimos, é em

sua natureza uma instituição disciplinar está imersa em uma sociedade de controle e

tenta se adaptar. Talvez essa formulação não explique por completo, mas, ajude a pensar

os atuais problemas vividos por essa instituição, sobretudo o fracasso da experiência

docente em nossos dias. Ora, o que temos é um profissional disciplinador, o professor,

que dispõe de ferramentas disciplinadoras, a sala de aula, a caderneta, o exame, etc.,

para realizar sua tarefa, mas que, no entanto, tem que se haver com uma realidade, sua e

de seus alunos, que não é mais puramente disciplinar.

Vejamos, pois, do que se trata esta sociedade de controle. Nas “antigas”

sociedades disciplinares o que importava era o confinamento, isto é, os sujeitos

passavam de um espaço fechado a outro: começo na escola, depois a fábrica,

eventualmente o hospital, alguns a prisão. É no interior das instituições que se vigia,

forma, punem-se os sujeitos. Nas sociedades atuais o controle se dá em espaços abertos,

ou para dizer de outro modo, qualquer lugar. Vejamos a escola. Não se é mais

necessário, ou pelo menos não muito, frequentar esta instituição para se “aprender”,

pois a formação pode se dar em diferentes lugares: educação à distância, educação por

diferentes agentes (bombeiros educam, policiais educam), educação em diferentes

espaços: a praça educa, o ponto de ônibus, o supermercado. Esta é a raiz dos bem

intencionados projetos extrainstitucionais tais como “cidade-educadora”, etc.

Ao adentrar as instituições disciplinares os sujeitos sempre começam do zero, ou

recomeçam, isto pressupunha a ideia de um começo e um fim. Entro de tal modo na

escola que ao final do processo de escolarização aprendi determinadas funções e

conhecimentos que me tornam apto a executar certas tarefas. Nas sociedades de controle

nunca se termina nada, estamos sempre em processo. Ora, isso é lugar comum para

qualquer educador que já teve que elaborar projetos, avaliações, etc. em concordância

com as cartilhas oficiais. Somos instigados, sobretudo por essa entidade chamada de

mercado de trabalho, a estar sempre em formação, acaba-se um curso, começa-se outro.

Deve-se aprender mais e sempre, ou ficamos para trás. Aqui se observa a integração da

escola à fábrica, ou melhor, à empresa.

Nas antigas fábricas cada operário tinha seu lugar, e esta operava pela simples

dicotomia produção/salários, mais alto para o primeiro, mais baixo possível para o

segundo. A fábrica hoje é a empresa, seus operários são vistos como acionistas (aplicam

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seu capital humano), vivem, portanto, em perpétua concorrência uns com os outros. Não

têm mais um lugar fixo dentro da empresa, podendo subir ou cair, vive-se, deste modo,

numa metaestabilidade.

Essa lógica da empresa talvez resuma melhor todo significado das sociedades de

controle. Sylvio Gadelha9chama, exatamente, as sociedades de controle de sociedades

empresa e, os indivíduos desta sociedade são, portanto, indivíduos empresa, Você S/A.

Este modus operandi da empresa parece ter ocupado todo o tecido social e, novamente,

é na escola que podemos observar melhor suas características.

Cada vez mais nossos alunos são instigados a se portarem como empresas de si

mesmos: cultura do empreendedorismo, formação contínua, etc. Mesmo o

funcionamento da escola tem se dado nos moldes empresariais. Os professores agora

são líderes, motivadores, etc.. A direção e administração da escola tem seu lócus no

paradigma da gestão, são equipes de gestão. Alunos e professores recebem prêmios por

metas atingidas, etc.

Resumamos as características das sociedades de controle. Fim dos espaços

rígidos, formação contínua, o mercado como paradigma dos espaços e das relações, o

marketing como elemento de controle social, os serviços são mais importantes que a

produção, numa palavra, “o controle é de curto prazo e de rotação rápida, mas também

contínuo e ilimitado” 10. Não é de nosso interesse, nem tampouco seria útil as

investigações, dizer que tipo de sociedade é a melhor, sobretudo para a área

educacional. O fato é que, como já observamos, do ponto de vista do professor e,

portanto, do fracasso de sua tarefa, este se vale de dispositivos disciplinares em uma

sociedade de controle e em uma instituição que por ser, em sua origem, disciplinar,

encontra-se em crise.

Gostaríamos de arriscar uma hipótese em resposta ao problema mais acima

formulado, a saber, de Michael Hardt e que, de alguma maneira, acreditamos poder

contribuir a esta ideia, qual seja, de que a escola tenta se adaptar a uma nova realidade

totalmente diferente à sua natureza.

Talvez a chave para compreender esta passagem das sociedades disciplinares às

sociedades de controle encontre-se na formulação foucaultiana de dispositivo, nos

9 GADELHA, Sylvio. Bioplítica, governamentalidade e educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

Ver também: GADELHA, Sylvio. Governamentalidade neoliberal, teoria do capital humano e

empreendedorismo. In: Educação & Realidade, 34(2), 2009. pp. 171-186. 10 DELEUZE, Gilles. Post-Scriptum sobre as sociedades de controle. In: Conversações. Rio de Janeiro:

Ed. 34, 1992. p. 224.

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termos que propõe Giorgio Agamben11. O pensador italiano faz uma interpretação

bastante própria deste termo que, segundo ele, deve ser visto como um termo técnico na

obra de Foucault. Para Agamben, Foucault se vale sobremaneira desta formulação,

sobretudo a partir dos anos 70 quando o filósofo francês passa a se ocupar das relações

saber-poder. Em suas primeiras obras ele se utiliza do termo positividade e,

paulatinamente irá substituí-lo por dispositivo.

Positividade, segundo Agamben, é um termo emprestado por Foucault de seu

mestre, Jean Hyppolite. Hyppolite se utiliza do termo em suas interpretações de Hegel,

da fase de Berna e Frankfurt (1795-1796) para apresentar a distinção hegeliana entre

religião natural e religião positiva, e que irá se desdobrar na dialética entre liberdade e

constrangimento, razão e história, isto é, a todo elemento histórico que se inscreve na

alma do vivente por meio da coerção. Positividade seria então, ainda em Hegel, toda

sorte de poder histórico e cultural externo e, adiante, interiorizado pelo indivíduo que

concorre para sua coerção. Ora, positividade, conforme demonstra Agamben, tem sua

raiz terminológica no termo dispositio, que era a tradução latina de oikonomia

(administração da casa) usada pelos padres nos primeiros séculos da era cristã e que,

como sabemos, o oikos, para os antigos, era lugar de dominação.

Numa entrevista datada de 1977, Foucault assim define o que ele compreende por

dispositivo:

um conjunto absolutamente heterogêneo que compreende discursos,

instituições, estruturas arquitetônicas, decisões regulativas, leis,

medidas administrativas, enunciados científicos, proposições

filosóficas, morais e filantrópicas, em resumo: tanto o dito quanto o

não-dito, eis os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se

estabelece entre esses elementos [...] de natureza essencialmente

estratégica, implica uma certa manipulação de relações de força, de

uma intervenção racional e harmônica de força, seja para orientá-la

em uma certa direção, seja para bloqueá-la, ou para estabilizá-la e

utilizá-la. O dispositivo é sempre inscrito em um jogo de poder e, ao

mesmo tempo, sempre ligado aos limites do saber, que dele derivam e,

na mesma medida, o condicionam12.

Agamben irá alargar o conceito para além da estratégia saber-poder; vejamos:

11 AGAMBEN, Giorgio. O que é um dispositivo? In: O que é o contemporâneo e outros ensaios.

Chapecó, Santa Catarina. Argos. 2009. pp. 25-51. 12 FOUCAULT, Michel. Dits et écrits, vol. III, pp. 299-300 apud AGAMBEN, Giorgio. O que é um

dispositivo? In: O que é o contemporâneo e outros ensaios. Chapecó, Santa Catarina. Argos. 2009, p.

28.

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qualquer coisa que tenha de algum modo a capacidade de capturar,

orientar, determinar, interceptar, modelar, controlar e assegurar os

gestos, as condutas, as opiniões e os discursos dos seres viventes. Não

somente, portanto, as prisões, os manicômios, o Panóptico, as escolas,

a confissão, as fábricas, as disciplinas, as medidas jurídicas, etc., [...]

mas também a caneta, a escritura, a literatura, a filosofia, a agricultura,

o cigarro, a navegação, os computadores, os telefones celulares e – por

que não – a própria linguagem, que é talvez o mais antigo dos

dispositivos, em que há milhares e milhares de anos um primata –

provavelmente sem se dar conta das consequências que se seguiriam –

teve a inconsciência de se deixar capturar.13

A ambiciosa proposta agambeniana consiste no seguinte: dividir toda a realidade

em dois grupos distintos, de um lado o vivente, de outro os dispositivos. O que nós

chamamos de sujeito seria o resultado de um jogo, de um corpo-a-corpo entre o vivente

e os dispositivos. Assim o sujeito não seria sempre igual a si mesmo, mas o fruto, um

resto desta relação e sabemos como esta talvez seja a principal função educacional, qual

seja, a instituição de sujeitos, sobremaneira comprometidos com o status quo.

De posse do conceito de dispositivo podemos agora voltar à instituição escolar

que, desta forma, se nos apresenta ela própria como um dispositivo, mas também opera,

em seu interior, outros tantos dispositivos. Observamos, portanto, que a escola em sua

tentativa de se adaptar as sociedades de controle acaba por se constituir como uma

instituição, por assim dizer, mista ora valendo-se de dispositivos disciplinares (o exame,

a sala de aula, etc.), ora de dispositivos de controle (empresariamento de si, gestão da

vida, etc.). Em seu próprio artigo Agamben nos sugere uma proposta, que ele chama de

profanação, para por fim a esta dialética vivente-dispositivo.

2. Objetivos

Temos dois objetivos principais: um, diagnosticar na contemporaneidade o lugar

da instituição escolar na produção de sujeitos por meio da noção agambeniana de

dispositivo, localizamos este lugar na passagem das sociedades disciplinares às

sociedades de controle; outro, oferecer alguns subsídios para pensar uma resistência,

modos de subjetivação e formas de vida que fujam da dialética vivente-dispositivo e

13 AGAMBEN, Giorgio. O que é um dispositivo? In: O que é o contemporâneo e outros ensaios.

Chapecó, Santa Catarina. Argos. 2009, p. 41.

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portanto, da biopolítica da modernidade. Para tanto, recorreremos ao pensamento de

Michel Foucault e Giorgio Agamben.

Destes decorrem alguns objetivos secundários necessários à formulação de

nossos dois problemas principais, enumeremos:

1. Com Foucault pensar a instituição escolar como dispositivo disciplinar e,

portanto, circunscrito às diversas modalidades de arte de governo surgidas na

modernidade, em especial a arte de governo pedagógica;

2. Ainda com Foucault acompanhar sua genealogia da governamentalidade que

se dá a partir do que ele chamou dispositivo pastoral e que deu origem aos

modernos dispositivos disciplinares;

3. Desenvolver a noção de crise das instituições disciplinares, sobretudo a

escola, por meio da noção deleuzeana de sociedade de controle; ao nosso ver

as instituições disciplinares não desaparecem, ou não desaparecerão, mas

integram em si os novos mecanismos de controle das sociedades

contemporâneas;

4. Desenvolver com Agamben a noção de dispositivo que para nós é chave de

compreensão desta passagem, que preserva e integra os mecanismos

disciplinares às novas formas de controle;

4.1 Aqui aparecerão outros conceitos que deverão ser analisados, trata-se da

noção agambeniana de oikonomia (de onde deriva o sintagma dispositivo) e

máquina: governamental ou providencial (que produz o político) e

antropológica (que produz o humano);

5. Desenvolver os conceitos agambenianos de profanação, inoperosidade e

forma-de-vida que aparecem em seu pensamento como antídotos às formas

de dominação biopolíticas da contemporaneidade.

3. Metodologia

Nos pontos um e dois de nossos objetivos nossa argumentação deverá seguir as

formulações foucaultianas de Vigiar e Punir e A Vontade de Saber, bem como os três

cursos de Foucault que seguem estas publicações: Em Defesa da Sociedade, Segurança,

Território, População e O Nascimento da Biopolítica. Aqui Foucault desenvolve seus

conceitos de poder disciplinar, circunscrito as estratégias poder-saber, e arte de governo

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ou governamentalidade, inscritos no que ele chamou de biopolítica. Nossa retenção

deverá se dar na instituição escolar como dispositivo disciplinador e na arte de governo

pedagógica, uma das diversas formas de governo dos homens que dão base à

biopolítica.

Esses mecanismos de poder serão responsáveis pela produção de sujeitos, ou

seja, processos de subjetivação, por assim dizer, fixos, isto é, característicos das

sociedades ocidentais até, grosso modo, a crise do Welfare state e o advento do

neoliberalismo, por volta dos anos 70. A escola assume nesta perspectiva papel

preponderante, nela se formam esses que chamamos sujeitos com identidades fixas: o

operário, o burguês, etc. que deverão atuar nas instituições “fechadas”: o partido, a

fábrica, etc. Nestes dispositivos disciplinares foucaultianos temos, pois, três

movimentos: relações de poder, formas de saber e modos de subjetivação.

Foucault encontra as origens do governo político da população e das diversas

artes de governo a ele ligadas, bem como as instituições e os mecanismos disciplinares

em uma tipologia especial de poder chamada por ele de pastoral14:

devemos procurar a origem, o ponto de formação, de cristalização, o

ponto embrionário dessa governamentalidade cuja entrada política

assinala, em fins do século XVI, séculos XVII-XVIII, o limiar do

Estado Moderno. O Estado Moderno nasce, a meu ver, quando a

governamentalidade se torna efetivamente uma prática política

calculada e refletida. A pastoral cristã parece-me ser o pano de fundo

desse processo15.

Deveremos, portanto, seguir a argumentação de Foucault e acompanhar sua

genealogia das instituições disciplinares, sobretudo a escola, nesta perspectiva; a escola

será a principal responsável, por meio das estratégias poder-saber, em disciplinar os

corpos e produzir modos de subjetivação circunscritos a uma realidade em que as

funções sociais estavam bem definidas, bem como suas instituições.

Passemos ao terceiro e quarto pontos. Conforme demonstrou Deleuze16, as

sociedades contemporâneas são marcadas pela fluidez, daí a crise das instituições

disciplinares habituadas à produção de espaços, tempos e identidades

compartimentadas. As sociedades de controle e seus dispositivos, pelo contrário,

14 Para nós essa formulação tem especial importância, pois, como veremos adiante, Agamben irá alargar a

genealogia foucaultiana do governamento alguns séculos atrás, este alargamento é essencial na

constituição de seu conceito de dispositivo e máquina governamental ou providencial. 15 FOUCAULT, Michel. Segurança, Território, População. São Paulo. Martins Fontes. 2008. p. 219. 16 DELEUZE, Gilles. Post-Scriptum sobre as sociedades de controle. In: Conversações. Rio de Janeiro:

Ed. 34, 1992. pp. 222-223.

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produzem sujeitos, por assim dizer, espectrais. No escopo de nossa hipótese da escola

como uma instituição mista teríamos que nos haver com esta problemática, uma

instituição que em sua origem é responsável pela produção de identidades bem definidas

se vê agora imersa em uma sociedade em que identidades se desfazem; não só isso,

mesmo os novos discursos pedagógicos, sobre novas tecnologias, inclusão, sociedade de

mercado, etc., que a nosso ver são características do controle, se integram cada vez mais

e com mais força nas práticas cotidianas de professores, alunos, funcionários e

administradores. Deveremos, portanto, testar nossa hipótese por meio da noção

agambeniana de dispositivo. Deste modo, acreditamos que os dispositivos de controle se

integram aos mecanismos disciplinares, da gestão governamental e da soberania;

teríamos assim um quarto elemento associado à série descrita por Foucault17.

Se em Foucault a gênese da governamentalidade se encontra no poder pastoral,

para Agamben, no entanto, ela deverá ser buscada na discussão sobre o dogma da

trindade cristã, ainda nos primeiros séculos da Igreja, o que lhe possibilitará, pois,

alargar a noção de dispositivo para “um conjunto de práxis, de saberes, de medidas, de

instituições cujo objetivo é gerir, governar, controlar e orientar, num sentido que se

supõem útil, os gestos e os pensamentos dos homens.”18 Vejamos brevemente como

isso se dá e dos problemas que teremos de enfrentar.

Segundo Agamben nos primeiros séculos da história da Igreja o sintagma

oikonomia teve “uma função teológica decisiva” 19. Sabemos que originalmente o termo

grego significava administração do oikos, da casa. Aristóteles20mostrou que não se

tratava de um paradigma epistêmico, mas, de uma práxis. Por qual motivo então os

padres introduziram o termo na teologia? Tratava-se de um problema delicado, referente

à sobrevivência do cristianismo tal qual conhecemos hoje: o dogma da trindade. Quando

a trindade surgiu no pensamento cristão houve, sem dúvida, opositores que diziam que

17 “Devemos compreender as coisas não em termos de substituição de uma sociedade de soberania por

uma sociedade disciplinar e desta por uma sociedade de governo. Trata-se de um triângulo: soberania-

disciplina-gestão governamental.” FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 3ª ed. Rio de Janeiro.

Edições Graal. 1982. p. 291. 18 O que faz com que Agamben busque essa gênese justamente neste ponto? Trata-se, segundo ele, de

uma questão metodológica. Estamos diante do conceito de assinatura. Conforme Agamben, em Signatura

Rerum e O Reino e a Glória, os conceitos trazem em si assinaturas que os remeteriam de uma área à outra

do conhecimento preservando, porém, seu núcleo original. É o que teria acontecido com a noção de

governo. A teoria das assinaturas foi originalmente um problema formulado pelos renascentistas,

especialmente Paracelso (1493-1541). Parece-nos algo próximo da noção de enunciado formulada por

Foucault em A Arqueologia do Saber e As Palavras e as Coisas. Talvez tenhamos que nos haver com esta

problemática. 19 AGAMBEN, Giorgio. O que é um dispositivo? In: O que é o contemporâneo e outros ensaios.

Chapecó, Santa Catarina. Argos. 2009, p. 35. 20 ARISTÓTELES. Política. Lisboa. Vega. 1998. 1255 b21.

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13

com a introdução deste dogma na doutrina cristã corria-se o risco de se cair no

paganismo e no politeísmo. Os padres defensores de tal doutrina, como Tertuliano,

Irineu e Hipólito, os mais conhecidos, se valeram da concepção grega de oikonomia

para fundamentar, portanto, o dogma da trindade. O argumento era, grosso modo, o

seguinte: não há dúvida que Deus, em seu ser e substância é uno e indivisível, porém, o

modo como administra o mundo dos homens, a criação e a salvação, isto é, sua

oikonomia, é trina. Deus confiaria, assim, a Cristo a economia da salvação e governo da

história dos homens.

O termo será elaborado e reelaborado e passará a significar, também, a

encarnação do filho e a economia da redenção e da salvação e, com Clemente de

Alexandria (150-215), o governo salvífico do mundo e da história dos homens. A

tradução dos padres latinos para oikonomia era dispositio – de onde deriva o termo

moderno dispositivo – e que acaba por integrar esta complexa esfera semântica que vai

do oikos grego até a trindade e o governo providencial do mundo dos homens por Deus.

Contudo, a fratura que os teólogos tentaram remover reaparece ao separar em Deus

ontologia e práxis. A ação (economia e política) de Deus não tem nenhum fundamento

em seu ser. Por esse motivo Agamben sugere que o termo foucaultiano pode ser

reconduzido, de algum modo, a herança teológica, pois, o dispositivo serve para unir e

ao mesmo tempo separar em Deus ser e práxis, sua essência e a forma como ele governa

o mundo dos homens, vejamos:

O termo dispositivo nomeia aquilo em que por meio do qual se realiza

uma pura atividade de governo sem nenhum fundamento no ser. Por

isso os dispositivos devem sempre implicar um processo de

subjetivação, isto é, devem produzir o seu sujeito21.

Todo dispositivo implica, pois, um processo de subjetivação sem o qual ele não

poderia agir como dispositivo de governo, mas, apenas como pura violência. Ora, isso é

o que vemos na genealogia dos mecanismos disciplinares foucaultianos, por meio de

práticas, discursos e saberes criam-se corpos dóceis, mas, também livres, formam-se

sujeitos que assumem sua liberdade no próprio ato de seu assujeitamento. O sujeito que

emerge do dispositivo confissão, bem como o prisional e o escolar são exemplos

esclarecedores no pensamento de Foucault. Deste modo, para Agamben, “o dispositivo

21 AGAMBEN, Giorgio. O que é um dispositivo? In: O que é o contemporâneo e outros ensaios.

Chapecó, Santa Catarina. Argos. 2009, p. 38.

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14

é, antes de tudo, uma máquina que produz subjetivações e somente enquanto tal é

também uma máquina de governo” 22.

Aqui, portanto, teremos de enfrentar a proposta agambeniana de reconduzir a

gênese dos dispositivos de governo ao problema da oikonomia conforme seus termos.

Essa é tarefa de sua obra O Reino e a Glória. Acreditamos que, se num primeiro

momento, deveremos acompanhar Foucault na gênese da sociedade disciplinar a partir

do poder pastoral, acompanhar Agamben na gênese do que ele chama máquina

governamental será esclarecedor para entendermos os dispositivos de controle

contemporâneos. Além da máquina governamental outra máquina agambeniana será

importante nesse processo, trata-se da máquina antropológica, conceito trabalhado por

Agamben na obra O Aberto. Segundo Edgardo Castro23 as máquinas em Agamben são

justamente dispositivos bipolares que servem para articular dois elementos que parecem

excluir-se ou opor-se, mas que na verdade formam um conjunto, como vimos no

problema teológico da fratura divina. Assim, pois, na máquina governamental temos o

par soberania-governo, na máquina antropológica animalidade-humanidade24. Voltemos

à questão da subjetivação para entender melhor nosso problema.

Se nas sociedades disciplinares temos as identidades fixas produzidas por

dispositivos de subjetivação, na atual fase do capitalismo em que, conforme Agamben,

temos uma proliferação em massa de dispositivos, estes não agem mais somente

produzindo um sujeito, mas, pela dessubjetivação. É evidente que todo processo de

subjetivação requer uma dessubjetivação, como por exemplo, no caso do Eu penitencial

que se constitui a partir de sua própria negação, o sujeito penitencial, aquele que

confessa e que, conforme Foucault, é matriz do sujeito moderno, encontra sua verdade

na não-verdade do Eu pecador repudiado, porém, o que ocorre agora é que ambos os

processos não dão lugar a um novo sujeito, mas, a identidades, por assim dizer,

espectrais, larvais.

Ao ilimitado crescimento dos dispositivos no nosso tempo

corresponde uma igualmente disseminada proliferação dos processos

de subjetivação. Isso pode produzir a impressão de que a categoria da

subjetividade no nosso tempo vacila e perde consistência; mas se trata,

22 AGAMBEN, Giorgio. O que é um dispositivo? In: O que é o contemporâneo e outros ensaios.

Chapecó, Santa Catarina. Argos. 2009, p. 46. 23 CASTRO, Edgardo. Introdução a Giorgio Agamben. Belo Horizonte. Autêntica. 2012. p. 105. 24 Outras máquinas aparecem na obra de Agamben: máquina infância, máquina jogo, entre outras. Talvez

tenhamos que analisar algumas destas conforme o andamento da pesquisa e para onde os problemas

venham a nos levar, pois, tanto a infância como o jogo aparecerão na obra agambeniana como certa

modalidade de resistência à biopolítica.

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para ser preciso, não de um cancelamento ou de uma superação, mas

de uma disseminação que leva ao extremo o aspecto de mascaramento

que sempre acompanhou toda identidade pessoal25.

Agamben nos mostra um exemplo interessante de como isso se dá, o usuário do

dispositivo telefone celular, ou, em seus termos, aquele que se deixa capturar pelo

dispositivo telefone celular, não importa a intensidade ou a qualidade do desejo que o

impulsionou para tanto, não ganha uma nova subjetividade nessa captura, mas, tão

somente um número pelo qual pode ser eventualmente controlado. Acreditamos que este

seja o ponto para se entender a passagem da disciplina ao controle e da crise das

instituições da modernidade, da escola à política, pois estas necessitam de identidades

reais, subjetivantes, e isto, os novos dispositivos de controle não podem mais oferecer.

Os dispositivos são, pois, não apenas máquinas de governo, mas, produzem o

humano que cabe a estes governar. A instituição escolar, a nosso ver, aparece aqui como

lugar privilegiado desta perspectiva. Ela não só é responsável por uma das modalidades

de governo dos homens, mas também, por meio dela, podemos ver que este humano que

deve ser governado é ele também um produto da máquina. O humano enquanto tal mais

do que definido tem sido, na tradição ocidental, constantemente produzido, por meio do

que Agamben designa máquina antropológica, que ora articula, ora separa phoné e

lógos, physis e nómos, um elemento humano e um inumano, definindo e redefinindo

constantemente o que é o homem26.

Já observamos que Agamben divide o real em dois polos, de um lado o vivente,

ou a substância e de outro os dispositivos; estes, pois, sempre estiveram presentes

naquilo que o filósofo italiano, na esteira de Heidegger, chama de o aberto, isto é, de

uma maneira simples, o mundo e o ambiente enquanto tais. A humanização deste

animal que chamamos homo sapiens é, portanto, tarefa dos dispositivos. Assim

podemos dizer que o próprio evento produtor do humano é análogo àquela cisão

operada pela oikonomia em Deus, e separa o vivente de si mesmo e de seu ambiente27.

Nesta quebra surge para o vivente o tédio e o aberto, ou seja, a capacidade de constituir

25 AGAMBEN, Giorgio. O que é um dispositivo? In: O que é o contemporâneo e outros ensaios.

Chapecó, Santa Catarina. Argos. 2009, p. 42. 26 Esta constante definição e redefinição daquilo que chamamos humano encontra suas primeiras

formulações numa célebre passagem da Política de Aristóteles sobre a linguagem e a comunidade

humanas. ARISTÓTELES. Política. Lisboa. Vega. 1998. 1253 a. 27 cf. AGAMBEN, Giorgio. O que é um dispositivo? In: O que é o contemporâneo e outros ensaios.

Chapecó, Santa Catarina. Argos. 2009, p. 43.

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16

um mundo, mas também, a possibilidade de se relacionar com os dispositivos que

povoam o aberto, isto é, toda sorte de instrumentos, bugigangas e quinquilharias.

Sempre houve, pois, os dispositivos e sem eles talvez o humano, tal qual

conhecemos, jamais seria produzido. Agamben, no entanto, observa que a fase extrema

do capitalismo que vivemos hoje é uma imensa acumulação de dispositivos, e que em

nossos dias, não há um momento em que a vida não seja controlada, contaminada por

alguma espécie de dispositivo. Por isso há, na raiz dos dispositivos, um desejo humano

de felicidade e daqui podemos ir ao nosso último ponto.

A captura e a separação dos desejos humanos em uma esfera separada

constituem a potência dos dispositivos. Deste modo, uma estratégia de combate aos

dispositivos não é tarefa simples. Não se trata de destruí-los nem, tampouco, como

sugerem alguns, e isso é discurso corrente nas pedagogias de agora, de usá-los

corretamente; como vimos, não existe um uso “correto” dos dispositivos. Trata-se, nos

diz Agamben, de liberar ao uso comum aquilo que foi capturado e separado em outra

esfera por meio dos dispositivos, isto é, trata-se de profanar.

Profanar seria o ato de liberar ao uso comum aquilo que foi capturado e separado

em outra esfera por meio dos dispositivos. No direito romano sagradas ou religiosas

eram coisas que pertenciam aos deuses e estavam, portanto, proibidas ao uso dos

homens. Consagrar era o termo que designava a saída dos objetos, homens ou animais

do direito humano e a passagem para o divino. Profanar era o inverso, devolvia ao uso

comum dos homens aquilo que havia sido separado em outra esfera. Assim, podemos

definir religião como aquilo que subtrai as coisas do uso dos homens. “Não só não há

religião sem separação, mas toda separação contém ou conserva em si um núcleo

genuinamente religioso” 28.

O sacrifício, ou a máquina sacrificial, era o dispositivo mediante o qual se

realizavam estas duas operações: consagrar e profanar. Um rito que consagrava e,

portanto, separava podia ser anulado por outro rito que profanava e devolvia ao uso dos

homens. Aquilo que, no entanto, foi profanado não volta ao seu estado original, daí a

possibilidade de fazer dele um novo uso:

A secularização é uma forma de remoção que mantém intactas as

forças, que se restringe a deslocar de um lugar a outro. Assim, a

secularização política de conceitos teológicos (a transcendência de

Deus como paradigma do poder soberano) limita-se a transmutar a

28 AGAMBEN, Giorgio. O que é um dispositivo? In: O que é o contemporâneo e outros ensaios.

Chapecó, Santa Catarina. Argos. 2009, p. 45.

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monarquia celeste em monarquia terrena, deixando, porém, intacto o

seu poder.

A profanação implica, por sua vez, uma neutralização daquilo que

profana. Depois de ter sido profanado, o que estava indisponível e

separado perde a sua aura e acaba restituído ao uso. Ambas as

operações são políticas, mas a primeira tem a ver com o exercício do

poder, o que é assegurado remetendo-o a um modelo sagrado; a

segunda desativa os dispositivos do poder e devolve ao uso comum os

espaços que ele havia confiscado29.

Agamben irá retomar um texto de Benjamin intitulado O Capitalismo como

Religião. No texto o filósofo alemão defende que o capitalismo não é apenas, como em

Weber, a secularização da fé protestante, mas, é ele próprio um fenômeno religioso,

cujo dispositivo principal consiste em separar os homens das coisas e de si mesmos-

consiste, pois, em uma máquina sacrificial – para convertê-los, em uma esfera separada,

em mercadoria. “Na religião capitalista, o espaço no qual se situa o que foi separado do

uso comum dos homens chama-se consumo. Ele é a esfera, ao mesmo tempo, separada e

exibida onde as coisas convertem-se em mercadorias.”30

Neste ponto Agamben irá retomar o debate entre a ordem dos franciscanos e o

papa João XXII, e definirá o consumo como a impossibilidade do uso. Consumir não é

ato de usar, mas, de destruir, por esse motivo o capitalismo nos coloca diante do

improfanável. Conhecemos várias instituições sagradas e improfanáveis sob o

capitalismo: a propriedade, o mercado; será que a instituição escolar não poderia ser

colocada neste rol? Gostaríamos de analisar esta possibilidade, pois, Agamben sugere

que as instituições capitalistas, o capitalismo enquanto tal e o improfanável sob qual ele

se funda possam ser profanáveis e que podemos, a partir daí, criar novos usos ao

desativar e tornar inoperosos esses dispositivos31.

29 AGAMBEN, Giorgio. Profanações. São Paulo. Boitempo Editorial. 2007, p. 68. 30 CASTRO, Edgardo. Introdução a Giorgio Agamben. Belo Horizonte. Autêntica. 2012. p. 184. 31 O jogo e a brincadeira aparecem, no pensamento de Agamben, como imagens deste novo uso que

advém da profanação dos dispositivos.

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18

4. Justificativa

O pensamento de Foucault tem influenciado mais de uma geração de

pesquisadores em educação no Brasil32. Se os primeiros trabalhos se dedicavam, sob o

impacto da publicação da coletânea de textos Microfísica do Poder e do livro Vigiar e

Punir, a uma análise do assujeitamento e da normalização operadas pelos dispositivos

disciplinares, as recentes publicações dos cursos ministrados pelo filósofo francês no

Collège de France propiciaram, sem menosprezar aquelas, novas perspectivas de

trabalho que integram as análises da biopolítica e da governamentalidade, bem como de

um Foucault ético que procura, a partir de conceitos como cuidado de si, estética da

existência e parresia, dar conta de processos de resistência a este presente biopolítico

que ele próprio havia inventariado. Das pesquisas mais recentes em educação, que se

valem do pensamento de Foucault nesta perspectiva, gostaríamos de citar os trabalhos

de Gadelha, Gallo, Pagni e Veiga-Neto. Nossa pesquisa tem, pois, a modesta intenção

de contribuir com estes recentes trabalhos sobre o filósofo francês.

Situação diversa vive a obra de Giorgio Agamben. De publicação recente no

Brasil, o pensamento do filósofo italiano tem ainda pequena expressão no debate

acadêmico contemporâneo em nosso país. Seu pensamento tem se tornado mais

conhecido a partir da publicação, em 2002, de Homo Sacer I, obra escrita originalmente

em 1995, e tem influenciado pesquisadores nas áreas de filosofia, ciências sociais, entre

outras, que se moviam no âmbito de filosofias como as de Foucault, Arendt e Walter

Benjamin. Contudo, na área educacional a influência de seu pensamento ainda é raro,

salvo os trabalhos de Pagni sobre o conceito de infância, conceito este trabalhado por

Agamben em um livro de 1978 intitulado Infância e História, que ainda não continha

uma perspectiva biopolítica, característica de seus trabalhos a partir de Homo Sacer I.

Bem como de pesquisadores da teoria crítica, como Bueno, que fazem confluir alguns

aspectos dos teóricos de Frankfurt com as pesquisas biopolíticas do filósofo italiano.

Deste modo, a presente pesquisa tem a intenção, agora um pouco mais ambiciosa, de

contribuir para a abertura deste sítio de pesquisas em educação que se valem das obras

de Agamben.

Diversos trabalhos têm apontado para uma crise da instituição escolar,

circunscrita, ao nosso ver, a uma crise mais geral de todas as instituições da

32 cf. FREITAS, A. S. de. Foucault e a Educação: um caso de amor (não) correspondido? In: PAGNI, P.

BUENO, S. F. GELAMO, R. P. (orgs.). Biopolítica, Arte de Viver e Educação. Marília/São Paulo.

Oficina Universitária/Cultura Acadêmica. 2012. p. 52.

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19

modernidade. Esta é a perspectiva dos escritos de Deleuze e Agamben. De fato não é

preciso um conhecimento acadêmico para saber que as coisas não vão bem, basta uns

poucos meses de convivência em alguma instituição escolar brasileira para se constatar

isso. A instituição moderna que, pelo menos a partir do século XVIII, tem sido a

principal responsável pela produção de subjetividades parece não mais conseguir

responder a este papel. A situação é assim descrita por Veiga-Neto:

[...] boa parte da subjetivação operada na e pela escola – uma

subjetivação durante muito tempo realizada preponderantemente pelo

poder e pelas práticas disciplinares – ou se deslocou para o espaço

social mais amplo ou, mesmo ainda ocorrendo no espaço escolar,

deixou de contar com aquele tipo de poder e com aquelas práticas

(como tecnologias) para a fabricação de sujeitos33.

Longe de engrossar o coro daqueles que reivindicam mais autoridade das escolas

e veem nela a salvação de todos os males, gostaríamos de abordar o problema de uma

perspectiva que procure passar ao largo destes discursos que já são lugar comum. Ao

longo do tempo diversas perspectivas têm sido apontadas como solução dos problemas

vividos atualmente pelas escolas. Melhorar a infraestrutura, inclusive com relação aos

salários recebidos pelos servidores, formar e capacitar melhor os professores, seja em

uma perspectiva técnica, seja mais humanizadora, melhorar a desgastada imagem do

professor frente às comunidades, aumentar a participação da comunidade, dos alunos,

professores e funcionários nas decisões e rumos da escola, entre outras. É certo que

tomadas isoladamente estas medidas não surtiriam efeitos, mas perguntamos, será que

tomadas em conjunto elas poderiam resolver o problema? Acreditamos que não. Todas

estas medidas têm como campo de visibilidade, consciente ou inconscientemente, uma

sociedade disciplinar em que papéis e funções sociais estavam bem definidos e que

eram garantidos por estas instituições disciplinares. Como procuramos demonstrar esta

não é mais a nossa realidade. Mais do que isso, não há um questionamento do próprio

estatuto da escola em nossa sociedade; ela é tomada como natural e necessária. Não

gostaríamos de cair num discurso fácil e niilista em que a solução se dá pela destruição

destes aparatos. Não obstante isso, acreditamos que a instituição escolar deve ser, ao

menos, questionada; é o que procuraremos fazer nesta pesquisa.

33 VEIGA-NETO, A. Dominação, violência, poder e educação escolar em tempos de Império. In: RAGO,

M. & VEIGA-NETO, A. (orgs.). Figuras de Foucault. Belo Horizonte. Autêntica. 2006. p. 34.

Page 20: Entre a Disciplina e o Controle Análise Da Instituição Escolar Por Meio Da Noção de Dispositivo

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5. Cronograma de Atividades

Período Etapas da Pesquisa

1º semestre •Início das disciplinas oferecidas pelo Programa de Pós-Graduação

•Realização do estágio-docência

•Participação das reuniões do GEPEF

•Início da revisão bibliográfica

•Aprofundamento teórico-conceitual das obras de Foucault e Agamben

•Apresentação das análises e resultados obtidos na pesquisa em Congressos

Especializados

2º semestre •Andamento das disciplinas oferecidas pelo Programa de Pós-Graduação

• Andamento do estágio-docência se necessário

• Participação das reuniões do GEPEF

• Fim da revisão bibliográfica

•Aprofundamento teórico-conceitual das obras de Foucault e Agamben

•Apresentação das análises e resultados obtidos na pesquisa em Congressos

Especializados

3º semestre •Andamento das disciplinas oferecidas pelo Programa de Pós-Graduação

• Participação das reuniões do GEPEF

•Aprofundamento teórico-conceitual das obras de Foucault e Agamben

•Início da análise da bibliografia escolhida

•Apresentação das análises e resultados obtidos na pesquisa em Congressos

Especializados

4º semestre • Participação das reuniões do GEPEF

•Andamento da análise da bibliografia escolhida

•Início da elaboração do texto para qualificação

•Apresentação das análises e resultados obtidos na pesquisa em Congressos

Especializados

5º semestre • Participação das reuniões do GEPEF

•Andamento da elaboração do texto para qualificação

•Apresentação das análises e resultados obtidos na pesquisa em Congressos

Especializados

•Verificação das hipóteses levantadas pela pesquisa

6º semestre • Participação das reuniões do GEPEF

•Andamento da elaboração do texto para qualificação

•Apresentação das análises e resultados obtidos na pesquisa em Congressos

Especializados

•Exame de qualificação

7º semestre • Participação das reuniões do GEPEF

•Apresentação das análises e resultados obtidos na pesquisa em Congressos

Especializados

•Revisão crítica da tese mediante parecer do exame de qualificação

8º semestre • Participação das reuniões do GEPEF

•Apresentação das análises e resultados obtidos na pesquisa em Congressos

Especializados

•Revisão crítica da tese mediante parecer do exame de qualificação

•Defesa da tese

Page 21: Entre a Disciplina e o Controle Análise Da Instituição Escolar Por Meio Da Noção de Dispositivo

21

6. Bibliografia

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