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ENSINO DE HISTÓRIA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS:

“VIVENDO, FAZENDO E APRENDENDO A HISTÓRIA”

Maria Aparecida de Araujo* Solange Ramos de Andrade**

RESUMO: O artigo tem a finalidade de introduzir o método da história oral, como recurso de aprendizagem para aluno da Educação de Jovens e Adultos (EJA), objetivando desenvolver o sentimento de pertencimento à história e, consequentemente, à sociedade na qual vive. Partindo dos Princípios Norteadores da Educação de Jovens e Adultos, considera o educando um sujeito, sócio cultural com diversas experiências de vida, que muitas vezes se afasta da escola, devido ao seu ingresso, muitas vezes, prematuro no mundo do trabalho. Diante dos problemas de evasão e repetência escolar, este aluno se vê deslocado do espaço educacional, não se sentindo partícipe do processo histórico. Inserindo um processo educacional interativo, com a utilização da autobiografia, biografia, memória, história de vida, a história oral permite ao aluno do EJA a valorização de papel como agente histórico. PALAVRAS-CHAVE: História Oral, História de Vida, Memória, Biografia, Autobiografia.

Apresentação

O presente artigo é resultado da pesquisa desenvolvida junto ao Programa de

Desenvolvimento Educacional PDE no qual os professores da rede pública de nosso

estado têm a oportunidade de retomar seus estudos. Nele, partimos dos

pressupostos teóricos e metodológicos da historia oral junto ao alunos do ensino

fundamental II Seguimento e Médio do CEEBJA DE SARANDI, visando a construção

de suas autobiografias (ALBERTI, 1991).

Nossa finalidade entre outras, é estabelecer a partir da construção da

autobiografia dos alunos, a importância da relação existente entre a história do Brasil

e a história do aluno no sentido de contribuir que se perceba enquanto agente

histórico. Partidários com a ideia, da abordagem com a micro história, em que o

relato do educando parte da comunidade e de tudo que o rodeia, no aspecto social,

cultural e econômico, desta forma interagindo sua historia local com a história oral,

enquanto metodologia de pesquisa representa um instrumento eficiente aos

trabalhos historiográficos ligado a história do tempo presente e a memória.

* Professora Formada pela Universidade Estadual de Maringá, Pós Graduada em Direção Orientação e Supervisão, pela Unopar-PR. e-mail: [email protected] ** Orientadora do PDE. Doutora em História. Professora do Curso de História e do Programa de Pós-

Graduação em História da Universidade Estadual de Maringá-UEM

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[...] recomendar a prática da escrita autobiográfica de memórias a adultos e idosos, enquanto memórias de vida/memórias sociais, como estratégia para procurar no passado as explicações para o presente, evocando pessoas e acontecimentos que sejam representativos para um momento posterior, a viver (MEDEIROS; GICO, 2006, p. 170).

A história oral possibilita o estudo da vida das pessoas, no campo social,

político e econômico de sua vivencia, explora as relações entre memória e história,

coloca em pratica a liberdade dos homens, oportunizando a todos a construção de

sua própria identidade a partir da memória e da história oral, ao reconhecer o

passado segundo a necessidade do presente. Para Thompson:

A história oral é uma história construída, em torno de pessoas. Ela lança a vida para dentro da própria história, e isso alega seu campo de ação. Admite heróis vindos não só dentre os lideres, mas dentre a maioria desconhecida do povo. Estimula professores e alunos, a se tornarem companheiros de trabalho. Traz a história para dentro da comunidade e extrai a história de dentro da comunidade. Ajuda os menos privilegiados e especialmente os idosos, a conquistar dignidade e autoconfiança. (...) Em suma contribui para formar seres mais completos. Paralelamente a historia oral propõe um desafio aos mitos consagrados da história, ao juízo autoritário e inerente a sua tradição. “E oferece os meios para transformação radical no sentido social da história” (THOMPSON, 1992, p. 44).

A aceleração do tempo e a preocupação com a perda do sentido do passado

e com a tendência ao esquecimento tem levado a sociedade contemporânea a

demonstrar grande interesse em recuperar a memória e também a historia. Nesse

processo de recuperação da historia, os depoimentos orais podem servir não

apenas a objetivos acadêmicos, como também constituir-se em instrumento de

construção de identidade e transformação social.

Nossa abordagem toma a historia oral não como uma disciplina, mas como

um método de pesquisa que produz uma fonte, tornando-se um instrumento muito

importante, no sentido de possibilitar uma melhor compreensão da construção das

estratégias de ação e das representações dos grupos ou indivíduos nas diferentes

sociedades. Ao ser aplicada na sala de aula propicia a aprendizagem do contexto

histórico, ao mesmo tempo em que propicia aos alunos a possibilidade de se

perceberem enquanto sujeitos de sua experiência de vida.

Destacamos, também, que o aluno poderá valorizar suas experiências, a

partir do entendimento das questões ligadas a historia local, regional, brasileira e

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mundial, o que conseqüentemente pode gerar laços de identidade entre os alunos

do EJA.

No processo do desenvolvimento do uso história oral em sala de aula,

mostrou-se pertinente a aplicação de história de vida e biografias dos alunos, porque

entre outras questões pode permitir ao educando o contato com a história de grupos

que muitas vezes tem sua história esquecida, assim como é uma oportunidade de

estudar a história local.

Para tanto foi realizado um cronograma com 40 horas aulas, e a formação de

um grupo 21 alunos do CEEBJA- SARANDI para desenvolver a metodologia da

história oral e outras abordagens para a compreensão da disciplina de História.

Desta forma o educando envolvido nessa pesquisa da historia oral, será inserido em

um processo constante do fazer, viver e aprender a historia.

Desenvolvendo a História Oral

Inicialmente pautados no calendário com horários das aulas a serem

ministradas, em nosso primeiro encontro reunimos os participantes, registramos

nossa apresentação, na qual cada um dos alunos se apresentou identificando o

nome e as disciplinas que cursavam. Após esse primeiro contato, sugeri que um

deles se voluntariasse para contar um pouco de sua vida.

Logo a aluna C.C.S1, prontificou-se a relatar um pouco da história de sua

vida, feito isso, solicitei para que a mesma indicasse outro participante para que nos

apresentasse a sua história. Neste processo todos os 21 participantes interagiram e

contaram suas histórias de vida. A partir desse momento conseguimos estabelecer

laços de confiança entre os sujeitos envolvidos, o que para o nosso trabalho foi

fundamental.

Posteriormente convidei os alunos a participarem de uma aula na sala de

informática, o que os animou bastante. No entanto ao se depararem com os

computadores, alguns deles não sabiam como manusear a maquina. Diante da

situação, expliquei a eles a grande contribuição da internet para a educação, e que

encontramos ferramentas capazes de nos auxiliar em pesquisas, e a possibilidade

de conhecermos o mundo além do local no qual vivemos.

1 Quando nos referirmos aos alunos utilizaremos apenas as suas iniciais para preservarmos sua

identidade.

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Neste contexto utilizamos a internet para pesquisar os documentos pessoais

como Registro de Nascimento, Carteira de Identidade, CPF, Carteira de Trabalho,

Titulo de Eleitor, Passaporte dentre outros, buscamos junto a essa metodologia

enfatizar a importância desses documentos para o exercício da cidadania.

Com atividade proposta sobre o tema, o grupo interagiu, desenvolvendo

questões e respostas, pedindo orientação, participando intensamente sanando

assim suas duvidas, verificamos a necessidade da continuidade desta metodologia

com os alunos do EJA.

Paralelamente motivei os alunos a realizarem uma pesquisa sobre “O que é a

História Oral” oferecendo, assim, a oportunidade de cada um deles pesquisar sobre

a biografia de um ícone. Neste sentido surgiram as mais variadas biografias como,

por exemplo, a da criadora da Lei Maria da Penha, da Presidente Dilma Rousseff, de

Alberto Santos Dumont, alguns jogadores de futebol, dentre outras personalidades.

Destaca-se que a aluna G.E.F. sugeriu uma pesquisa sobre sua cidade natal

que se localiza na região nordeste do Brasil, já que tinha muita curiosidade em saber

sobre sua história pois veio residir no Estado do Paraná, há algum tempo Outrossim,

o aluno C.G, teve a curiosidade de pesquisar sobre a origem do seu nome. Ficou

evidente que os alunos se motivaram, e interagiram com o uso das tecnologias, o

que propiciou uma permanente reconstrução do nosso conceito de metodologia de

ensino e aprendizagem.

A incorporação de meios tecnológicos na educação é de grande valia, o que

demonstra a necessidade que a escola tem de se atualizar diante das mudanças

tecnológicas e culturais, para então inovar a educação.

Na pesquisa de fontes orais com pessoas comuns, valoriza-se a vida coletiva

das gerações que estão vivendo na sociedade atual. É inequívoco que a história é

realizada pelos homens, por meio do seu trabalho, na produção do conhecimento,

dos avanços tecnológico, cientifico e social. No decorrer deste processo histórico,

podemos afirmar que existe a capacidade do homem fazer a história com sua

própria história.

Cabe destacar que o intuito era criar propostas metodológicas capazes de

fazer com que os alunos, durante o processo de ensino-aprendizagem,

“dinamizassem seu mundo criando e recriando, integrando-se nas condições de seu

contexto, respondendo aos desafios, auto objetivando-se, discernindo e se lançando

no domínio que lhe é exclusivo, o da história e da cultura” (FREIRE, 1981, p.63).

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Neste sentido é inquestionável a indicação da metodologia da historia oral,

aplicando-a na sala de aula e propiciando aprendizados do contexto histórico que

valorizem os alunos como sujeitos de sua experiência de vida. “A indicação sobre o

uso da fonte oral é de que a mesma seja realizada numa relação dialética com a

fonte escrita e que as duas possam dialogar e se enriquecer mutuamente”.

(PARANÁ, 2009, p. 64)

História oral

Atualmente a educação é muito criticada, há questionamentos sobre o que

realmente seria necessário para formação de cidadãos conscientes e participativos,

alcançando assim uma sociedade mais justa. Uma das criticas sobre o processo

educacional atual, refere-se ao método de educação que trata os alunos como

recipientes vazios, onde o professor apenas deposita conhecimentos não

estimulando o educando, não despertando criatividade, curiosidade, participação no

desenvolvimento da aprendizagem (PARANÁ, 2008).

A importância do debate acerca da educação de jovens e adultos oriundos

das camadas populares, e trabalhadoras, nos leva a apontar possibilidades para

atingir uma Escola Pública de qualidade e com uma metodologia aplicável de

resultado.

Na abordagem de obras relevantes, sem duvida alguma, as idéias de Paulo

Freire (1996) servem de alimento para os educadores, no contexto dos dias atuais, é

essencial uma didática que visa à formação inovadora, onde a pratica pedagógica

traz uma ação de qualidade na educação atual.

Pautando-nos em objetivos baseados nas diretrizes curriculares da Educação

Básica do Estado do Paraná, com enfoque na disciplina de história, visamos

contemplar as relações Culturais, de trabalho e de poder, para ampliar a

possibilidade dos professores da disciplina, orientar metodologicamente a prática

docente, estimulando assim a reflexão sobre os conteúdos, os conceitos da história

presente (PARANÁ, 2005).

Atualmente grandes transformações marcaram o debate historiográfico e são

poucos os historiadores que preservam a crença da história de produzir um

conhecimento inteiramente com objetivo de recuperar a totalidade do passado. A

objetividade das fontes escritas com que o historiador trabalha foi posta

definitivamente em questão.

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Segundo Marieta de Moraes Ferreira:

A fundação na França da Revista Annales, em 1929, e da École Pratique des Hautes Études, em 1948, iria dar impulsionou a um profundo movimento de transformação no campo da história. Em nome de uma da historia, total, uma nova geração de historiadores, conhecida como École dês Annales, passou a questionar a hegemonia da historia política, imputando-lhe um número infindável de defeitos –era uma historia Política, imputando-lhe um numero infindável de defeitos- era uma história etilista, anedótica, individualista, factual, subjetiva, psicologizante. Em contrapartida, esse grupo defendia uma nova concepção, em que o econômico e o social ocupavam lugar privilegiado. (FERREIRA. 2002, p.318)

A partir do século XX na França, uma imensa transformação se operou no

campo da historia e se difundiu em outros países, a valorização do estudo da

estruturas, dos processos de longa duração a nova historia atribuiu as fontes seriais,

as técnicas de quantificação e importância fundamental. Entretanto alegava-se

também a desqualificação do uso dos relatos pessoais das historias de vidas e das

autobiografias, alegavam-se também que os testemunhos não poderiam ser

considerados representativos de uma época ou de um grupo, pois a experiência

individual expressava uma visão particular que não permitia generalizações

(FERREIRA, 2002).

A partir da década de 1980, registraram transformações importantes nos

diferentes campos das pesquisas, ganhou-se um novo impulso a historia cultural,

ocorreu um renascimento de estudos do político e incorporou-se a historia o estudo

do contemporâneo. No século XX os aprofundamentos das discussões sobre as

relações entre passado e presente abriram novos caminhos entre passado e

presente.

O interesse dos historiadores pela memória foi grande pela historiografia

francesa na década de 1960, com a história das mentalidades coletivas. Que

focalizavam principalmente nos estudos da cultura popular, da vida familiar, dos

hábitos locais, das religiosidades, a questão mesmo que não fosse abordada a

memória já estava presente.

O sociólogo Maurice Halbwachs em 2004 e ganha destaque com a sua

formulação teórica passando a integrar no universo teórico dos historiadores

menciona em sua obra que a memória envolve uma relação entre repetição das

memórias, e observa que isto ocorre juntamente com sua revisão. Também afirma

de que a memória coletiva depende do poder social do grupo que a detém. Isso

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porque, na rememoração, nós não nos lembramos do passado como elas

aconteceram, e sim de acordo com as forças sociais do presente que estão agindo

sobre nós (FROCHETENGARTEN, 2005).

Com o uso da memória permitiu aos historiadores repensar as relações entre

passado e presente, de defluir para a história do tempo presente, o estudo de usos

do passado. Neste contexto, existem correntes historiográficas que apresentadas

nas diretrizes curriculares que estão estruturadas por meio da matriz disciplinar da

historia proposta por Rusen, que preceitua:

a consciência histórica é o conjunto das operações mentais com as quais os homens interpretam sua experiência”, da mudança temporal” de seu mundo e de si mesmo, de forma tal que possam orientar, intencionalmente, sua vida prática no tempo’.é portanto a constituição do sentido da experiência do tempo” expressa pela narrativa histórica, ou seja, [...] Constitui-se mediante a operação, genérica e elementar da vida prática, do narrar, com o qual os homens orientam seu agir e sofrer no tempo. Mediante a narrativa histórica, são formuladas representações da continuidade da evolução temporal dos homens e de seu mundo, instituidoras de identidade, por meio da memória, e inseridas como determinação da vida pratica humana. [...] A narrativa histórica torna presente o passado, sempre em uma consciência de tempo no qual o passado, presente e futuro formam, uma unidade integrada, mediante a qual, justamente, constitui-se a consciência histórico.( (RUSEN apud PARANÁ, 2008, p.57)

Portanto a inclusão e análise das múltiplas temporalidades produzidas por

todos os sujeitos, e perspectivas na formação do pensamento histórico só eram

possíveis com a introdução de novas fontes e novas formas de explicar a realidade.

Isso trouxe a tona às novas correntes historiográficas do século XX.

As correntes historiográficas são nova historia, nova historia cultural e nova

esquerda inglesa que desenvolveram especialmente na segunda metade do século

XX, onde marcam contribuições para a formação do pensamento histórico.

A emergência da historia do século XX com o novo estatuto, definido por

alguns como a historia do tempo presente, portanto a convivência com testemunhos

vivos que sobre certo aspecto condicionam o trabalho do historiador coloca

obrigatoriamente em foco os depoimentos orais. Por outro lado, o retorno do político

e a revalorização do papel do sujeito estimulam o estudo do papel do sujeito.

Esse novo objeto de analise também da maior oportunidade do uso dos

depoimentos orais, muitas decisões são tomadas através da comunicação oral, das

articulações pessoais, o número de problemas resolvidos por telefone

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(telecomunicações), ou pessoalmente não param de crescer. Para suprir essas

lacunas documentais os depoimentos orais, revelam-se de grande valia.

Neste contexto, a história oral é uma metodologia de pesquisa de

constituição de fonte para o estudo da história contemporânea que têm condições de

pesquisa e abordagem para análise dos problemas que envolvem o homem no seu

cotidiano (ALBERTI, 1991).

Na virada das décadas de 1970 a 1980, apresentou-se um novo quadro de

pesquisas históricas que passaram a serem vistas em temas contemporâneos, como

as experiências individuais para compreensão do passado. Após a invenção do

gravador, as entrevistas começaram a ter diferentes metodologias, para o

desenvolvimento de uma abordagem maior com autores e testemunhos do passado

(THOMPSON, 1992).

No Brasil e no mundo os praticantes da história oral se encontram em

congressos periódicos, publicam artigos em revistas especializadas e reúnem-se em

torno de associações. Associação Brasileira de História Oral, fundada em 1994, e

Associação de História Oral, fundada em 1996.

A consolidação da história oral como metodologia de pesquisa se deve ao

fato de a subjetividade e a experiência individual passarem a ser valorizadas como

componentes importantes para a compreensão do passado. Atualmente faz muito

sucesso o uso da bibliografia e dos métodos biográficos no estudo da história, haja

vista o boom editorial das biografias no Brasil e em todo o mundo.

O trabalho de produção do historiador tem como característica as fontes orais

como testemunhos e trajetórias de vida. A importância da metodologia da história

oral é um instrumento eficaz para o estudo dos processos históricos no tempo

presente.

Em se tratando de fontes orais as narrativas são produção do historiador após

a transcrição das entrevistas, organiza-as em função ao seu interesse de pesquisa.

Certamente da produção de fontes orais passa pelo recolhimento de informações

junto às testemunhas e, para isso, fazemos o uso de técnicas pertencentes ao

universo metodológico da história oral.

A narrativa constitui a matéria-prima para a Historia Oral. O narrador que conta sua historia ou da seu relato de vida não se constitui, ele próprio, no objeto de estudo, mas sim seus relatos de vida, sua realidade vivida. Os eventos vistos sob seu prisma e o crivo perceptivo apresentam-se subjetivamente, possibilitando

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conhecermos as relações sociais e as dinâmicas que se inserem no âmbito de estudo (CASSAB & RUSCHEINSKY, 2004, p. 14)

Entrevistar tecnicamente é estabelecer uma relação comunicativa entre o

entrevistador e o entrevistado, neste contexto é preciso haver uma relação de

confiança entre os dois e a comunicação ser clara e estruturada em uma

metodologia eficaz para o desenvolvimento da mesma.

A diferença entre as técnicas da história oral e a história de vida é o

depoimento e a forma que o pesquisador utiliza durante o diálogo com o informante.

A entrevista pode ser feita em um só encontro, os depoimentos podem ser curtos, no

entanto toda história de vida encerra em um conjunto de depoimentos. Portanto,

construir uma trajetória de vida não significa uma mera biografia do sujeito, pois

transitando por suas lembranças têm-se o contato com as práticas, as relações do

entrevistado, permitindo-nos estabelecer suas mobilidades sociais e espaciais

(CASSAB & RUSCHEINSKY, 2004).

A biografia deve apresentar, e explicar a vida individual de um personagem,

relacionada com o seu meio e com o seu tempo, a trajetória individual é construída

na medida em que é feita a entrevista, o entrevistador deverá ter conhecimento,

habilidade, e selecionar os assuntos com muito critério (MOTTA, 2000; SANTOS,

1997).

O que é relevante para esse projeto é que o educando da EJA, tenha a

possibilidade apreender história a partir da sua própria trajetória.

A história de vida é quando o individuo escreve ou narra sua própria historia,

é basicamente uma autobiografia, em que o mesmo é convidado a rememorar,

narrar sua vida, tecendo trajetórias que deve revelar o seu mundo. Portanto a

técnica que difere a historia oral e a historia de vida é o depoimento e a forma que o

pesquisador utiliza durante o diálogo com o informante.

A história de vida se forma através de um conjunto de depoimentos, numa

relação dialética com a fonte escrita que possa dialogar e enriquecer mutuamente,

alcançando o objetivo desta pesquisa.

Cabe mencionar que grande parte das pessoas, que possuem o costume de

refletir sobre sua vida, geralmente já tem algum acontecimento e percurso que

preferem relatar, como por exemplo, sua historia de vida desde o nascimento, esta

relatada por intermédio da mãe, da família, amigos, professores, médicos, que são

de grande valia para o desenvolvimento da investigação.

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Derivando desta metodologia, foi estabelecido na sala de aula um ambiente

de descontração, onde os alunos expressaram oralmente sua historia de vida,

partindo do nascimento até os dias atuais, enfatizaram o lugar em que vivem, sua

vida social, econômica e política.

Em alguns casos os relatos do entrevistado deixam clara a ansiedade de ser

valorizado e reconhecido pela a sociedade, logo sua representação de mundo é

conforme a sociedade que se encontra inserido.

Com o desenvolvimento do nosso trabalho os envolvidos assumiram novas

posturas em relação aos colegas, desta forma exprimiram opiniões, ouviram uns aos

outros, criando assim laços de interação em todo o grupo.

Observa-se que até mesmo os alunos mais tímidos e retraídos, foram

despertados e motivados a participar da aula com grande entusiasmo, o qual nos

rendeu gratificação de alcançar os objetivos propostos.

Trouxemos a baila a História de Vida Ilza Augusta Gatto, o que ilustrou para

os alunos que a mesma teve grandes dificuldades financeiras, social dentre outras, e

superando concluiu os estudos na EJA. Nos dias atuais Ilza Gatto é professora do

CEEBJA, e tem contribuído a milhares de alunos a viver e fazer história de vida de

superação.

Interessante ressaltar que a história de vida da professora, despertou

motivação a vencer os grandes desafios da vida e acreditar em um futuro prospero,

salienta-se que os alunos passaram se dedicar abundantemente aos estudos, uma

das alunas inclusive passou participar dos três períodos de aula em nossa escola

com a certeza de um dia se tornar professora.

Diante deste contexto, oportunizei ao grupo no ultimo encontro deste projeto,

conhecer a professora Ilza, momento em que os alunos entrevistaram a mesma,

com questões formuladas por eles próprios, demonstraram entusiasmo em conhecer

de perto a professora e reciprocamente foram recebidos por ela, que também

entrevistou os alunos questionando sobre a história de vida desses.

A diretora do CEEBJA, também participou da aula, além de ser entrevistada

pelos alunos, os entrevistou perguntando sobre a vida acadêmica de cada um, os

educando se sentiram honrados com tal participação.

Além disso, os alunos estavam entusiasmados, pois cada um deles

receberam uma camiseta estampada com a frase “Vivendo Fazendo e Aprendendo

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a História”, alguns afirmaram que com esse método realmente viveram, fizeram, e

aprenderam a História.

É mister que trabalhar abordando histórias, utilizando a história oral,

depoimentos, entrevista, biografias dentre outras, traz para a educação um

despertar no interesse do aluno, que á partir da sua história se instiga a conhecer a

História do Brasil e do mundo.

Como preceitua Cassab S. Ruscheinsky:

Construir uma trajetória de vida não significa uma mera biografia do sujeito, pois transitando por suas lembranças tem o contato com as praticas, as relações dos entrevistados permitindo- nos estabelecer suas mobilidades sócias e espaciais. (CASSAB & RUSCHEINKY 2004.p.16)

Atualmente na abordagem de historias de vida, é muito utilizada a publicação

de livros, artigos, inclusive postagem na internet dentre outros. Portanto cabe o

pesquisador a elaboração das questões relevante ao interesse dos objetivos da

pesquisa, as perguntas podem ser abertas ou fechadas, a fim de averiguar

investigar a vida do indivíduo ao ser entrevistado em momentos sucessivos de sua

vida.

O desenvolvimento de nosso trabalho junto aos alunos jovens e adultos em

pares, para o uso da história oral com depoimentos dos mesmos neste amanhecer

do terceiro milênio deixam os envolvidos com a proposta usando a memória, falando

do presente, em construção contínua no viver, fazer e aprender a história.

Enfim, a utilização da historia oral com pesquisas autobiográficas,

bibliográficas, testemunhos e história de vida, é de suma importância para o

educando da EJA, pois tem o intuito de atingir o centro de interesse do próprio

individuo na história, para compreensão, resgate de experiência, autonomia,

problemas e soluções, entre outros.

Nesta abordagem, existe a perspectiva, que conhecendo a história do sujeito,

esses possam entender os significados que os mesmo atribuem na sociedade na

qual estão inseridos, em questões pertinentes; como a família, trabalho, educação,

assim como outras questões sociais do cotidiano, tal como afirma Thompson (1992).

Trabalhando com biografias e autobiografias

Usando a metodologia da história oral abordamos a biografia, que é uma

história de vida contada ou escrita por uma terceira pessoa. Em geral as biografias

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descrevem a história de vida de grandes políticos, lideres cientistas, e também

pessoas comuns.

Atualmente a relação entre história e biografia tem chamado a atenção dos

historiadores desde o final do século XX, e que não pretende privilegiar história de

homens importantes que marca a história da sociedade com seus grandes feitos

para servirem de exemplo aos cidadãos em geral. Busca-se tomar a trajetórias de

indivíduos comuns ou não, que tenham logrado êxito em sua vida, para que sirva de

exemplo em nossa sociedade.

Quanto a esse aspecto preceitua Thompson:

Hoje vivemos num mundo no qual a capacidade de experimentar se desligou da atividade de encontrar. O sequestro das experiências de locais espaço-temporais da vida cotidiana vai de mãos dadas com a profusão de experiências mediadas e com a rotineira mistura de experiências que muitos indivíduos dificilmente encontrariam face a face. (THOMPSON, 2011, p. 182)

A narrativa biográfica apresenta-se como uma importante fonte histórica na

medida em que ela retrata o contexto histórico da personagem quando expõe como

se deu a infância, o crescimento e os fatos que levaram o indivíduo a praticar suas

ações (SILVA, 2007, p. 11).

Como notou Miguel Chaia:

[...] a biografia refere-se não aos comuns, mas sim a um sujeito privilegiado e distinguido, cujo destaque é dado por grupos específicos da sociedade que controlam ou delimitam o fluxo dos acontecimentos – seja ele o biografado ou o biógrafo (CHAIA, 1996, p. 76).

Ao observarmos o contexto social em que o biografado atua, é possível

identificar os valores e os costumes dos vários grupos sociais e ainda a (SILVA,

2007, p. 14) organização deles na sociedade, e assim considerando as ações

coletivas. Na constante busca por novas fontes, o atual ressurgimento do gênero

biográfico justifica-se na medida em que retrata o pano de fundo de sua

personagem, apresentando a história de indivíduos muitas vezes esquecidos ou

suprimidos pela história oficial. A proposta de análise documental do gênero

biográfico demanda a releitura das biografias sob a perspectiva das ações coletivas,

com o propósito de ampliar e de enriquecer as interpretações dos acontecimentos

históricos (SILVA, 2007, p. 15).

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A biografia pode ser abordada a partir da micro história entendida, segundo,

Giovanni Levi como

...um procedimento que toma o particular como seu ponto de partida (um particular que é altamente específico e individual, e seria impossível descrever como um caso típico) e prossegue, identificando seu significado à luz de seu próprio contexto específico (LEVI, 1969, p. 154)

Utilizando-me do método biográfico, torna-se necessário levantar discussões

que se tem realizado sobre o mesmo. Sabina Loriga, em artigo intitulado “A biografia

como problema” (1998), analisa o uso da biografia em diferentes épocas,

constatando que a sua utilização tem sido motivo de debates na historiografia e nas

ciências sociais desde os tempos mais remotos da História e que tal debate, ainda

na atualidade, se encontra em plena efervescência.

No decorrer dos tempos, os questionamentos acerca da biografia

desencadearam ambigüidades de opiniões a respeito do valor do método biográfico.

Com relação à critica desenvolvida a respeito da biografia heróica, a autora tece

considerações relevantes:

A morte do herói não eliminou contudo a exigência de se estudar os indivíduos. Hoje a aposta não é mais no grande homem (conceito banido e às vezes desprezado), e sim no homem comum. Este último é o objetivo principal dos estudos sobre a cultura popular dos trabalhos de história oral ou história das mulheres (LORIGA, 1998, p. 244).

A ênfase na biografia, na trajetória do indivíduo, na experiência concreta, faz

sentido porque a biografia mostra o que é potencialmente possível em dada

sociedade ou grupo. Acredita-se que as biografias ilustram formas típicas de

comportamento e concentram todas as características do grupo; mesmo as

desviantes mostram o que é estrutural e estatisticamente próprio ao grupo - elas

permitem identificar as possibilidades latentes da cultura e deduzir “em negativo” o

que seria mais frequente (LEVI, 1996).

No que diz respeito à autobiografia, avaliamos que a escrita autobiográfica é

um instrumento de pesquisa que nos permite analisar os modos de pensar e viver

dos homens, dos grupos e das sociedades em múltiplos contextos históricos, sociais

e culturais (MEDEIROS; GICO, 2006, p. 170).

Para Lejeune, a autobiografia ou o que denomina de escrita de si é “narrativa

retrospectiva em prosa que uma pessoa real faz de sua própria existência,

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enfocando sua vida individual, em particular a história de sua personalidade” (2008,

14).

Perceber a trajetória de cada um dos alunos para, a partir daí, relacioná-las

com o momento histórico e suas principais características, também nos obriga a

perceber como a história é construída diariamente a partir das práticas dos agentes

históricos e dos grupos que, mesmo sem terem o poder político, econômico e/ou

social, influenciam no modo como essa história é construída e narrada.

Partindo desses pressupostos abordamos junto aos alunos a biografia de

Dom Pedro II. Agregando a história do Imperador, apresentamos o filme “Lula o

Filho do Brasil”, para que os educando refletisse sobre a biografia desses dois

líderes políticos, destacando as diferenças do tempo, monarquia e republica, e vida

comum, desta forma os alunos compreenderam o processo da História do Brasil.

Em suma o resultado obtido através da aplicação dessa metodologia, foi

satisfatório, pois ultrapassou outros métodos aplicados anteriormente, pois o

interesse e participação dos alunos foram satisfatórios.

Vivendo e apreendendo com a história de vida dos alunos: a autobiografia.

O mundo complexo que rodeia a sala de aula não pode ser separado do

mundo que nos cerca; mesmo sendo um espaço tem pequeno, é inequívoco que os

problemas e ansiedades de cada um dos alunos que ali estão se instalam também

naquele ambiente, influindo diretamente no processo de ensino aprendizagem tanto

negativamente quanto positivamente.

Diante dessa observação, sentimos a necessidade de nos aproximarmos do

mundo que os cerca, observarmos suas histórias pessoais, enfatizarmos suas

histórias de vida, e concluímos que, quanto mais o professor se aproximar do mundo

do aluno, melhor para aprendizagem e entendimento desses.

Neste cenário observava Freire:

“A fim de vivenciar a prática pedagógica e criar propostas metodológicas capazes de fazer com que os alunos, durante o processo de ensino-aprendizagem, “dinamizassem seu mundo criando e recriando, integrando-se nas condições de seu contexto, respondendo aos desafios, auto objetivando-se, discernindo e se lançando no domínio que lhe é exclusivo, o da história e da cultura” (FREIRE, 1981, p.63).

Aplicando o nosso projeto e utilizando a autobiografia constatamos que a

grande dificuldade de todos é principalmente a questão econômica, derivada do

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subemprego ou mesmo do desemprego. A violência, e a precariedade das

necessidades básicas como alimentos, roupas, calçados, educação e saúde

também apareceram nas nossas conversas em sala de aula.

Outros assuntos que vieram a tona foram: a falta de estrutura familiar, em

função do casamento precoce dos pais, ou até mesmo dos próprios alunos, a

adesão religiosa e os diversos preconceitos existentes na nossa sociedade foram

fatores apresentados pela maioria.

Os alunos enfrentam grandes desafios para concluir seus estudos, que para

eles é um sonho a ser realizado já que através do estudo terão a chance de mudar o

quadro da sua vida.

Coletando seus depoimentos, pode-se verificar que a religião e a fé

pertencem à vida da maioria deles, com admiração constatou-se a luta, a maneira

contagiante de confiar e ter certeza de vitoria.

No que tange a parte feminina, a maioria ajuda com seu trabalho no sustento

familiar. Heroínas, mães e muitas vezes ainda adolescente que sobrevive

conciliando seu trabalho domestico com seu emprego, e, além disto, tentar arrumar

tempo para o estudo.

O sexo masculino em sua maioria queixa-se da falta da figura paterna, sendo

que muitos, quando crianças, não estudavam e sim trabalhavam para o sustento da

casa, desta forma muitos deixaram o vinculo familiar para irem trabalhar em outras

cidades, Estados e até mesmo Países.

Neste sentido, entrevistamos a aluna M.S.S, que saiu do Brasil para morar

Espanha, no período em que residiu no estrangeiro, incorporou diferenças de

costumes, como língua, educação, alimentação dentre outras, e teve grande

dificuldade em seu regresso para o Brasil em se adaptar novamente a cultura

Brasileira. Os indivíduos que imigram e emigram de regiões, estados e países

trazem consigo diferenças típicas do local, incorporando a sua cultura de origem.

Colhendo o depoimento de M.M natural do Japão, que veio residir no Brasil

desde os cinco anos de idade, observamos as raízes da sua nacionalidade, na

forma oral de se expressar e de escrever, relatou que incorporou hábito e costumes

da nossa terra, também nos contou sobre a primeira guerra mundial e o governo de

Getulio Vargas, a história dela foi algo maravilhoso, pois hoje aos 76 anos de idade

constatamos que sua memória é fantástica, já que indagada lembrou-se de cada

detalhe.

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Podemos afirmar que a autobiografia do aluno nos possibilita relacionar os

conteúdos da disciplina de historia, proposta pelas Diretrizes Curriculares da

Educação Básica com a história do aluno, permite que os alunos através de suas

experiências compreendam a micro historia X macro historia, a historia do Brasil e

seus aspectos sociais políticos e econômicos.

No transcorrer da implementação do nosso projeto observamos união,

confiança, participação, reflexão, estimulo para estudar, ouvir e escrever, em todos

os participantes. Por meio dos estudos desenvolvidos destacamos que podemos

ajudar a transformar o ensino da história fazendo com que o aluno amplie sua visão

da história ajudando-o a entender e também a modificar suas vidas, a partir da sua

própria história.

Em suma essa metodologia nos fez notar que ouvir as historia dos alunos é

um exercício que faz possível relacionar acontecimentos cotidianos com temas

abordados pela historiografia, ou seja, a história, que se aprende na escola, não está

desvinculada da historia da vida.

Grupo de Trabalho em Rede

No percurso do nosso projeto, utilizamos o material didático, para discussões

no GTR, grupo no qual participaram 14 professores integrantes da Secretaria Da

Educação do Paraná.

Junto ao grupo foi desenvolvido a pratica da metodologia da história oral, com

apoio do nosso material pedagógico, algumas metodologias foram utilizadas por

alguns dos membros do grupo que aplicaram com seus alunos, nos relatos da

experiência ambos tiveram ótimos resultados.

No decorrer do curso houve troca de experiências, além de informações

significativas para o nosso trabalho. Entre os cursistas das mais variadas regiões do

Estado do Paraná, observamos os diferentes problemas e acertos presente em toda

a nossa rede de ensino.

Diagnosticamos algumas dificuldades encontradas por alguns educadores

que, no uso das novas tecnologias, precisam ainda de aperfeiçoamento. Contudo a

aplicação deste projeto ao GTR foi de extrema importância, pois contribuiu para

aperfeiçoar nosso trabalho como docente, as discussões e praticas, relatadas pelos

cursistas, foram de grande valia para o nosso trabalho, unimos as discussões a

troca de experiências e informações do método da historia oral.

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Considerações Finais

Com a intenção de transmitir a e riqueza e importância da autobiografia,

implantamos o nosso projeto junto aos alunos do CEEBJA.

Envolvidos com a realização, percebemos que esta opção metodológica é

realmente gratificante, desde a escolha do tema até o desenvolvimento na sala de

aula, acreditamos ter propiciado aprendizagem, conhecimento, reflexão, interação,

interesse e o despertar para a educação.

Todas as pessoas possuem sua historia e na condição de profissional que

valoriza o ser humano, em todo o processo com a metodologia aplicada buscamos

soluções para interagir com os alunos, com intuito de criar a percepção de uma vida

social, na qual tivessem a oportunidade de se sentirem parte do contexto histórico.

Na aplicação do projeto foi desenvolvidas pesquisas de biografias,

autobiografias, de homens atuais e também de antigos nomes da história, utilizamos

meios tecnológicos o que despertou grande interesse nos educando.

O aluno, ao produzir sua autobiografia, além de apresentar oralmente,

escreveu a sua história de vida, pautada por dificuldades, desafios e metas a serem

alcançadas. Este processo proporcionou-nos um maior conhecimento do aluno, o

que também nos permitiu observar quais são seus conhecimentos e necessidade de

adequação com o currículo básico.

Todos os inseridos no processo escreveram sua autobiografia, estabelecendo

vínculos com a comunidade em que vivem gerando um sentimento de pertença e

compreensão do mundo. Nosso projeto contribuiu para o processo de construção

de sua identidade como cidadão com direitos e deveres perante a sociedade.

houve uma grande valorização pessoal, e estimulo na aplicação do nosso

projeto, e a metodologia da historia oral com uso da memória, historia de vida,

biografia e autobiografia, propiciou com uma linguagem clara e simples um visão de

mundo mais ampla revelando sua identidade e valorizando seu papel como agente

histórico.

Os envolvidos no projeto produziram sua autobiografia na qual o resultado

correspondeu a nossa expectativa e confirmou os objetivos propostos no nosso

trabalho, além disso, o PDE acrescentou conhecimento continuo e inovador em

nosso processo de aprender e ensinar.

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A utilização da história oral mostrou-se eficiente, quando abordada e na

disciplina de história, ficando a sugestão de aplicação dessa metodologia nas

demais áreas do conhecimento. De suma importância é que os educadores deixem

de serem reprodutores de conhecimento e passem a ser pesquisadores do

conhecimento histórico junto aos educando.

Partidário da opinião de Freire “(...) quando um homem compreende sua

realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar

soluções.” (FREIRE, 1981, p. 30).

Abordar temas do cotidiano torna o aprendizado mais interessante, aproxima

o educando do mundo, descola a história do passado e mesmo os temas mais

clássicos e complexos passam a fazer parte de um todo.

A história oral é uma grande aliada na instigação do saber do educando,

tornando necessária a mediação e a colaboração do professor junto ao aluno, já

que nos dias de hoje existe uma grande preocupação quanto a maneira que deve

ser aplicado o ensino de história.

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