bairro de são geraldo, uma história em duas conjugações: passado e presente

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BAIRRO DE SÃO GERALDO UMA HISTÓRIA EM DUAS CONJUGAÇÕES: PASSADO E PRESENTE

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Era assim um bairro imperfeito, meio sem jeito... Lembro-me bem de seus moradores e suas conversas de calçadas, em frente das casas, com flores nas janelas e portas abertas... escan-caradas...“Ciranda, ó ciranda”... foram todos cirandar? “Roda, roda, roda” criança mas, “quem te ensinou a nadar?...” No igarapé de águas rasas, que passava lá embaixo, acompanhando a cantiga do peixe miúdo, que nadava muito seguro, nas mãos em forma de concha do moleque festeiro, eheeê... caboclinho maroto... perdeu-se por este mundo?! (Virgínia Allan)

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BAIRRO DE SÃO GERALDOUMA HISTÓRIA EM DUAS CONJUGAÇÕES:

PASSADO E PRESENTE

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PREFEITO MUNICIPAL DE MANAUS

Amazonino Mendes

VICE-PREFEITO MUNICIPAL DE MANAUS

Carlos Souza

DIRETORA-PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE CULTURA E ARTES

Lívia Mendes

VICE-DIRETOR-PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE CULTURA E ARTES

Renato Seyssel

DIRETOR DE LOGÍSTICA E FINANÇAS DA FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE CULTURA E ARTES

Carlos Augusto Pereira da Silva

PRESIDENTE DO CONSELHO MUNICIPAL DE POLÍTICA CULTURAL

Thiago de Mello

SECRETÁRIO-EXECUTIVO

Jaime Pereira

Av. André Araújo, n.º 2767AleixoCEP: 69060-000 – Manaus-AMTel.: 92-3631-8560E-mail: [email protected]

Avenida André Araújo, 2767 – Aleixo CEP: 69060-000 – Manaus-AMTelefone: 92-3215-3474/3470Site: www.manaus.am.gov.brE-mail: [email protected]

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Virgínia Allan

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PASSADO E PRESENTE

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Copyright © 2010 Virgínia Allan

COORDENAÇÃO EDITORIAL

Carlos Augusto Pereira da Silva

PROJETO GRÁFICO

Marcos Sena([email protected])

CAPA

Marcicley Reggo(Kintaw Design)

REVISÃO

Márcio Pinheiro dos Santos

FICHA CATALOGRÁFICA

Ycaro Verçosa dos Santos – CRB-11 287

A418b Allan, Virgínia.

Bairro de São Geraldo – uma história em duas conjugações: passado e presente. / Virgínia Allan. Manaus:Edições Muiraquitã, 2010.

52 p.Série: Coleção Prêmios dos Bairros.

ISBN 978-85-99209-27-1

1. Bairros de Manaus 2. Comunidades urbanas I. TítuloII. Série

CDD 307.3811322. ed.

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Era assim um bairro imperfeito, meio sem jeito...Lembro-me bem de seus moradores e suasconversas de calçadas, em frente das casas, comflores nas janelas e portas abertas... escan-caradas...“Ciranda, ó ciranda”... foram todoscirandar? “Roda, roda, roda” criança mas, “quemte ensinou a nadar?...” No igarapé de águas rasas,que passava lá embaixo, acompanhando a cantigado peixe miúdo, que nadava muito seguro, nasmãos em forma de concha do moleque festeiro,eheeê... caboclinho maroto... perdeu-se por estemundo?

Virginia Allan

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SUMÁRIO

Apresentação 9

BAIRRO DE SÃO GERALDO – UMA HISTÓRIAEM DUAS CONJUGAÇÕES: PASSADO E PRESENTE

Introdução 11Localização 12Origem do nome do bairro 14Festas religiosas e populares em geral 16O Carnaval 19Curiosidades Relativas ao bairro, episódios marcantes, folclore e tipos populares 21O acendedor de lampiões 24Ciganos 25Kamélia 26Boi-Bumbá Mina de Ouro 28Dança do Papagaio 29Marcílio e Marçal 29Um point de atração e diversão 30Rezas e muita bênção meu senhor para agüentar otranco, curar quebranto, espinhela caída e mau deolho... 31Os canos de água da rua Pico das Águas 32Constantino Nery – uma avenida cheia de vida 34Famílias S e M 35Um Orfeu negro amazonense 36

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Um prefeito imperfeito 37Bartolomeu e Bertola 40Carmem Doida 40A fazedora de anjos 43Paulo Preto 44Lendas do folclore comuns à vida cotidiana do bairro 44Quibungo, Kibungo, Chibungo ou O Homem do Saco 46A mulher que virava porca 47Conclusão 48Bibliografia 50

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Apresentação

MINHAS PRIMEIRAS PALAVRAS manifestam a alegriaque nos invade por apoiar cada vez mais as iniciativas deprodução literária, por meio dos Prêmios Mário Ypiran-ga Monteiro, criados com a finalidade de estimular osartesãos da pesquisa e da palavra, assim como estreitar orelacionamento dos habitantes com seus marcos refe-renciais - os bairros.

Com efeito, estaremos movimentando a curiosidadeem torno de uma coleção histórica de nossa cidade, pro-porcionando o aparecimento de novos autores na árealiterária e, em consequência, seguindo com o programade formação de novos leitores.

Acredito ser essa política a principal ferramenta dequalquer gestor público, de combate ao analfabetismo, àexclusão social e de incentivo à melhoria da qualidade daformação em todos os níveis, sem perder de vista a pos-sibilidade de geração de emprego e renda no mercadoeditorial e gráfico de Manaus, assim como na rede delivrarias da cidade e na comunidade de escritores de lite-ratura geral e de livros didáticos para todas as idades epara todas as áreas.

Amazonino MendesPrefeito de Manaus

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Introdução

SOB O MANTO PROTETOR, E REVELADOR, da memó-ria iniciei a história do bairro de São Geraldo, umahistoria que enfim é também a minha historia.

Delírios à parte; procurei ressaltar aquilo que deuvida e motivou o bairro, levando-o a crescer e projetar-se como um lugar de tradições ocultas e esquecidasquando no florescer da comunidade, aqui reinavam ossantos e orixás que desciam a se manifestar aochamado dos tambores que aconteciam durante asfestas do batuque.

Num tempo de mata fechada, sob o assobio dovento, em que abundavam as árvores e palmeirasgigantes e nascentes de rio, o brinquedo “predileto” dacuruminzada, (embora não faltassem cantigas de roda,roda-pião, peteca, bolinhas de gude, manja-esconde,pelada e outros folguedos populares) era fugir mundoafora, mundo este sabido e conhecido como a palma damão, cruzar não só o bairro, mas quase Manaus inteira,num desbravar cotidiano que, talvez, só fosse comumaos primeiros bandeirantes.

Não saí à cata de aventura, a condição femininaassim não o permitia, mas, meus amigos, vizinhos eirmãos, pularam a cerca, entraram e saíram de becos,subiram e desceram ladeiras, tomaram banho e pescaramnos rios e igarapés e roubaram frutos dos quintaisalheios... Apossei-me de suas memórias e misturei-as asminhas, e numa espécie de alquimia espiritual, tenteitrazer a luz este tempo de “perigo” feliz, soprando para

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longe a inútil poeira que se deita preguiçosamente sobreas lembranças adormecidas, chamada esquecimento.

Localização

ENTRE AS AVENIDAS CONSTANTINO NERY (JoãoCoelho) e a Djalma Batista (Cláudio Mesquita) ZonaCentro-Sul, encontra-se o bairro de São Geraldo, outro-ra conhecido como bairro dos Bilhares graças a umestabelecimento, pertencente ao barão Floresta Barros,que tinha no jogo de bilhar a sua maior atração.Principalmente aos domingos e feriados era grande aconcentração dos aficionados deste jogo. Porém, nem sóde jogo de bilhar vivia a casa, lá também se explorava avenda de vinhos e diversas outras bebidas alcoólicas. Istose deu na primeira metade do século XX, idos de 1914,quando a cidade de Manaus ainda seguia morosamenteno compasso do bonde e calejava os pés nas poeirentasestradas de piçarra. Mas, pelos estudos do respeitávelprofessor Mário Ypiranga Monteiro, as famílias dosnotáveis possuíam tilburis,1 berlindas,2 landoletes,3 charretes,4seges5 de uma parelha e os automóveis Ford.

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1 Tilburi: s.m. carro de duas rodas e dois assentos, com capota, puxado por um só

animal.

2 Berlinda: s.f. carruagem pequena com vidraças laterais.

3 Landoletess: s.m. (do francês lando) variante de um carro de luxo – carruagem

de quatro rodas com dupla capota que se erguia e abaixava.

4 Charretes: s.f. veículos de duas rodas, para duas ou três pessoas puxada por um

cavalo.

5 Seges: s.f. (do francês siège, ‘assento’) coche com duas rodas e um só assento,

fechado com cortinas na parte dianteira. 2. Qualquer carruagem.

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O acesso ao bairro dos Bilhares, portanto, quedistava em demasia do centro urbano, nem parecia sertão difícil para muitos de seus freqüentadores já que nãoera tão incomum assim quanto pensávamos o trânsitofeito através de veículos motorizados.

Muito antes disso, lá pelos idos de 1893, aCompanhia de Transporte Villa Brandão fazia com seusbondes o percurso do Mercado Público até a antigafonte de abastecimento de água da cidade, a CachoeiraGrande; construída em 1888; que ficava bem no iníciodo que é hoje o bairro de São Jorge.

O longo trecho percorrido pelos bondes pelaestrada da Cachoeira Grande corresponde atualmente àavenida Constantino Nery e uma boa parte da atualavenida Djalma Batista.

O bairro, que teve seu nome mudado para SãoGeraldo na segunda metade do século XX, por influên-cia dos padres Redentoristas que por aqui estavam emmissão, possui uma área de 104 hectares e faz divisa comos bairros Presidente Vargas (Matinha), Chapada, NossaSenhora das Graças (Beco do Macedo) e Centro. Éseparado do bairro de São Raimundo e São Jorge peloigarapé do Mindu (que ao longo do seu curso recebemuitos outros nomes, inclusive igarapé do Pico, quefazia a alegria da garotada, originando-se daí o nome darua Pico das Águas) tendo como principais vias deacesso as avenidas Constantino Nery, Djalma Batista,parte da rua Pará assim como parte da rua João Valério,no conjunto Vieiralves (Nossa Senhora das Graças).

No local onde hoje se ergue o moderno ShoppingMillenium Center, no agradável recém-construído Parquedos Bilhares, havia outrora uma pedreira e um balneário

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(que esteve ativo até meados dos anos 70) conhecido porVerônica. Aliás, tanto o balneário quanto a ponte queliga o bairro de São Geraldo ao bairro da Chapada, deveseu nome a um prostíbulo, o famigerado Cabaret daVerônica (atual Bom Futuro).

Na memória dos moradores há o MoinhoAmazonas, (a lembrança do cheiro do café torrado emoído é inesquecível) e uma velha olaria, no fim da ruaPico das Águas.

Origem do nome do bairro

EMBORA O BAIRRO DEVA SUA EXISTÊNCIA mais aospecadores que aos santos, estes não se deixaramintimidar. Ainda era um tempo antigo; de mata fechada,cheio de bichos e palmeiras de açaizeiros, tucumãzeirose árvores gigantescas como as castanheiras, comcasinhas de taipa e pontes de madeiras quando os padresda Congregação do Santíssimo Redentor (CongregatioSanctissimi Redemptoris) aqui fizeram sua aparição. A matapelas principais cercanias era mesmo abundante e acarência do povo relevante.

Ordem religiosa de origem católica, fundada em Scala,na Itália, no ano de 1732 por Santo Afonso de Ligório,tinha por função o atendimento aos mais pobres e aproliferação de missões populares ou paroquiais. Taismissões foram às respostas encontradas pela Igreja católicaao movimento da Reforma, iniciado pela Igreja protestante.

A congregação, atualmente espalhada pelo mundointeiro, não podia deixar a Amazônia, com sua imensafloresta e povos a catequizar, passar desapercebida.

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O nome do bairro, São Geraldo, deve-se a um santomilagroso nascido no dia 6 de abril do ano de 1726 –segundo alguns seu nascimento deu-se realmente a 23 deabril de 1725 – em Muro Lucano; cidade localizada aosul da Itália.

Filho de Domingos Magella e Benedita Galeta, obebê de constituição frágil, foi logo batizado portemerem seus pais que o pequeno viesse a morrer semter recebido a sagrada bênção do batismo, tomando poresta ocasião o nome de Geraldo Magella.

Porém o magro e pálido rapaz, apesar de todas asmás previsões, vingou, e, desde a infância, quando aindafreqüentava a escola, embora franzino, Geraldodestacava-se pela bondade e inteligência. Meninoperspicaz; gostava de ensinar, inclusive aos colegas maisvelhos. Com o passar do tempo ficou conhecido porsuas visões e poderes sobrenaturais e por ter grandepenetração junto ao meio religioso de sua época. Mas,voltando alguns anos, nos dias de infância deste meninoincomum, aos 12 anos de idade perde o pai e ele comoúnico homem da casa vê-se na obrigação de ajudar amãe em seu sustento. Aprende então com mestrePannuto, o oficio de alfaiate. Há quem diga (não se sabeao certo) que o pai de Geraldo é que exercia a profissãode alfaiate, vindo o jovem portanto, naturalmente, aherdar o oficio.

Além de ajudar no sustento da casa com a profissãode alfaiate, Geraldo ajudava também aos outrosdeixando de cobrar dos mais necessitados. Mas, aos 21anos, levando uma vida pacata viu-se insatisfeito.Desejava algo maior. Assim começa uma buscaincansável; infindável, visando para si elevação espiritual,

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e, neste sentido religioso, foi fortemente influenciadopela mãe.

Na tentativa de alcançar seus objetivos, Geraldopassava boa parte de seu tempo na Catedral, entregue aorações e jejuns. Resolveu dessa forma, consagrar-se aDeus, mas sua patente fraqueza física não o ajudava narealização de seu sonho, posto que, por este fato, foirecusado pela Ordem dos Capuchinhos, obtendo comodesculpa as dificuldades encontradas na carreira religiosa.

Por fim, após várias tentativas, e, sob algumascondições, foi recebido pela Ordem Redentoristaonde se dedicou à pastoral e ao trabalho com os maisnecessitados.

Geraldo Magella, após uma longa batalha travadacontra a tuberculose, morreu na Itália aos 29 anos, nodia 16 de outubro de 1755, e, desde então, como nãopodia deixar de ser, seu túmulo é lugar de peregrinação.Seu último desejo foi que afixassem uma nota à porta desua cela, no convento, em que se lia o seguinte: “Aqui odesejo de Deus é feito como Deus quer, quando eenquanto quiser”.

Foi canonizado pelo papa Pio X em 1904. Épadroeiro das mulheres grávidas, assim como damaternidade, dos injustiçados e das confissões benditas.

Festas religiosas e populares em geral

DIA DE SÃO COSME E DAMIÃO

EM MANAUS, OUTRORA, TINHA BATUQUE, tinha festa,no dia de São Cosme e Damião! A criançada corria

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alvoroçada pelas ruas e calçadas atrás dos doces e dasbalas distribuídas pelos devotos dos santos.

Os tambores ressoavam nos terreiros, a festa nãotardava a começar! E a criançada; na disputa incansávelpor doces e balas, davam vivas e risadas, em agrade-cimento à dupla de santos, os moleques responsáveispela gostosa brincadeira.

Afora a presença dos padres Redentoristas, aquivieram dar o ar de sua graça plena as Irmãs Adora-doras do Sangue de Cristo, cuja congregação, fundadapela madre italiana Maria de Mattias, ainda hoje é derelevada importância na vida de todos os moradores,não só pela educação oferecida, mas também pelasmarcantes festas juninas realizadas na quadra e novasto terreno do colégio Preciosíssimo Sangue – nosdias de antanho, em lugar do colégio, havia uma fábri-ca de castanha, nos dias de hoje, parte deste “vastoterreno” foi loteado, vendido ou arrendado, dandolugar a “Vila do Preciosíssimo” – em que aconteciamos inesquecíveis “arraiais” com direito a bumbás,cirandas, tipitis, cacetinhos e quadrilhas, cujasapresentações eram acompanhadas de fogueiras,música e comidas típicas para o regalo e encantamentode todos que participavam da ocasião, o mesmosucedendo às ruas do bairro e nas casas com quintais,neste mês tão festivo, em que brincadeiras e cantigasembalavam um tempo, pelo menos aparentemente,mais pueril. Pelo que me consta, a título decuriosidade, tanto a igreja do Colégio PreciosíssimoSangue, quanto à antiga e extinta igreja de São Geraldoforam projetos do consagrado artista plásticoamazonense, Moacir Andrade.

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Tradicional também era o arraial da paróquia de SãoGeraldo – e que hoje não acontece mais – que duravauma semana e começava com a procissão em louvor aosanto padroeiro no dia 16 de outubro. A últimamanifestação desse tipo aconteceu em 2004 quando doscem anos de canonização do santo.

A religião católica; que outrora já dividia seu espaçono bairro com o candomblé (vide batuque da rua JoãoAlfredo) e o espiritismo Kadercista (Centro EspíritaTomás de Aquino, na rua Pico das Águas) convive hojetambém com a religião evangélica, cuja igreja principal, aAssembléia de Deus Tradicional, foi construída no lugaronde antes se erguia o Supermercado Royale.

Ao lado do antigo Moinho Amazonas, às margens daavenida Constantino Nery, eleva-se um templo suntuoso daIgreja Universal do Reino de Deus. Não se pode esquecerde mencionar a Igreja dos Santos dos Últimos Dias, osMórmons, situada na rua Pará, e uma Loja Maçônica,Amazônia Brasileira, na avenida Djalma Batista. Portanto,nem é preciso dizer que com tanta religiosidade, literalmentepara dar e vender; as festas religiosas foram constantes nacomunidade, destacando-se as comemorações da SemanaSanta, iniciadas com o Domingo de Ramos, prosseguindocom a Via-Sacra, que algumas vezes era feita nas ruas, eculminando com a procissão e adoração de Nosso SenhorMorto. Era um longo tempo de festas e recolhimentos.Tanto a Igreja de São Geraldo quanto a Igreja doPreciosíssimo Sangue, encerravam suas atividades somenteno Domingo de Páscoa. Depois, é claro, vinham outrasfestas, santas e profanas, que eram comemoradas do mesmojeito, sem remorso, apenas com alegria e satisfação,incluindo o Carnaval e Corpus Christi.

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Temos ainda em nosso bairro a doce lembrança doSeringal Mirim e a presença marcante do Batuque, Ilê deSanta Bárbara, como um coração vivo; pulsante,localizado à rua João Alfredo, seguindo duas linhasreligiosas, primeiro o Candomblé e depois a Umbanda,dando, dessa maneira, maior ênfase ao sincretismoreligioso que une a todos e que perdura até aos dias dehoje. Toda a cultura afro-brasileira, com seus cultos efolguedos, lá foram representados e reverenciados.

Há poucos anos atrás, os tradicionais festejos emhonra aos orixás, identificados para proteção de suareligião com alguns santos do panteão Católico Apos-tólico Romano, como Santo Antônio, São Benedito, SãoJoão, São Cosme e São Damião, São Jorge, Santa Bárbara,Santa Luzia, eram comemorados com tamanha efusãoque era quase impossível, não deixar de passar no ter-reiro, que, antes, estava sob os cuidados de Maria Estrela,mas, que depois passou as mãos de Joana Papagaio emseguida à mãe Margarida, e, por último, a Ribamar.

O Boi-Bumbá Mina de Ouro tinha o seu curral emfrente à esquecida praça da Liberdade, em um terrenovizinho ao Seringal e a dança do Papagaio (muito tempodepois do bumbá) foram destaques nos festejos queaconteciam em plena rua.

O Carnaval

O CARNAVAL, A MAIOR DAS FESTAS populares, é umcapítulo a parte. Dos salões dos clubes refinados para asruas de Manaus... Porém, eis que durante muito tempo achegada da Kamélia e, conseqüentemente, a da amiga e

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rival Jardineira, para o salão de baile do Olímpico Clubeera, e ainda é, de longe, o evento mais esperado (osegundo é o baile do Hawaii, que com mais de 25 anosde alegria, confete e serpentina é realizado no Olímpicoe nos principais clubes da cidade) não só no bairro comotambém em toda a sociedade, já que a banda da Kamélia,depois de receber as chaves da cidade abre oficialmenteo Carnaval amazonense.

A população em peso é convocada a dar as boas-vindas a foliona mais querida, que num rompante dealegria, responde ao convite dos organizadores eacompanha a carreata que sai do Porto Privatizado e vaiaté as dependências do salão do Olímpico clube.

Sobre a Kamélia, reza a história o seguinte: O senhorCândido Geremias Cumaru, o seu Candu, lá pelo fim dadécada dos anos 30, comprou uma boneca de 75 cm dealtura, mas logo a boneca ganhou dimensões gigantescase no Carnaval de 1938, a boneca negra vestida de baiana(a idéia era fazer o povo acreditar que a foliona, vinha deoutras terras, por isso a tradicional caravana de chegada edespedida da boneca se sustenta até os nossos dias) presaa um galho de ingazeira, descia a avenida Eduardo Ribeiropara abrilhantar as folias de Momo.

Em 1939, em decorrência da fundação do OlímpicoClube (antigo Deutsche Klub) a boneca Kamélia, emcompanhia da falange Olímpica, desceu outra vez aavenida, com os enormes braços abertos como que que-rendo abraçar a multidão.

Nesse tempo mais distante vale ressaltar a partici-pação dos cordões, entre eles o “Cordão das Lavadeiras”do velho Seringal Mirim, forma de expressão dosexcluídos que fortemente influenciados pela cultura em

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geral, oriunda da mãe África, eram movidos ao ritmodos instrumentos de percussão.

Com a renovação do Carnaval de rua, nos anos 60 e70, segundo alguns depoimentos, ainda na avenidaEduardo Ribeiro, incrementaram-se o aparecimento dosblocos de sujos, das batucadas e dos desfiles de algumasescolas de samba. Todavia, na década de 80, tais desfilesmudaram-se para a então recente avenida Djalma Batista(Cláudio Mesquita), onde então os blocos populares, quena maior parte das vezes ficavam por entre as ruasprincipais do bairro, puderam enfim, se projetar, sendo osmais conhecidos pela sua batucada contagiante o Blocodas Virgens do São Geraldo; o Bloco Encontro das Águase o Bloco do Vinho, da travessa Santa Luzia, mais tardeEscola de Samba do 2.º Grupo Guerreiros do Vinho, queestreou no Carnaval em 1986. Infelizmente, a escola nãoperdurou e em 1992 encerrou de vez suas atividades.

Curiosidades Relativas ao bairro,episódios marcantes, folclore etipos populares

SERINGAL MIRIM

BASEANDO-ME NA PESQUISA DE Robério Bragasobre o Seringal Mirim, posto que a memória traiçoeirade alguns moradores daquele tempo, ainda vivos, não mepermitiu levar tudo em consideração, fiz um resumo dosacontecimentos relevantes que culminaram, enfim, como desaparecimento do lugar em questão.

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De acordo com minhas próprias lembranças, oSeringal Mirim de minha infância já estava em francadecadência, sem o colorido festivo do boi-bumbá Minade Ouro, pouco restando das seringueiras que por umlongo período foi à semente mágica enriquecedora queengrandeceu e enobreceu a cidade, elevando-a acategoria de Paris dos Trópicos no auge da Belle Epoque.

Assim como um segredo que não se sabe se deveser espalhado, aberto a todos, o bairro de São Geraldoguarda em seu seio, como um conto de amor, a bonitahistória do Seringal Mirim, que juntamente com a Praça14 e o Boulevard Amazonas, é considerado um dosprimeiros redutos de escravos fujões, escravos estes quederam início de modo um tanto conturbado, devido aopercalço da vida de perseguidos a comunidade afro-brasileira na região, que trazia consigo, como bagagem,além da coragem, apenas seus santos, suas festas, suasbrincadeiras e todas as suas mais diversas formas demanifestações. Oxossi, Senhor das matas, orixá da caça eda abundância, certamente sabia o que estava fazendoquando os encaminhara para cá com a promessa desegurança e bem-estar. No Amazonas, a compra e vendade escravos era um processo assaz esporádico. Em 24 demaio de 1884 foi feita uma declaração pública deLibertação dos Escravos em Manaus e no mesmo ano,em 10 de julho, são declarados livres os escravos noEstado do Amazonas.

Sabe-se que por um longo período de tempo, a basede nossa economia foi à extração e comercialização daborracha, assim todos os esforços possíveis eramempregados no sentido de promover e fortalecer cadavez mais nossa única fonte econômica. Com este

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propósito, após um apurado estudo para o plantio daseringueira, promovido pela Associação Comercial doAmazonas (fundada em 1871), sob o incentivo do entãocomendador José Cláudio Mesquita, foi criado o CampoExperimental do Seringal Mirim, em que foramplantados mais de cem pés de seringas. Ficou estipuladoo dia 24 de junho como o dia da seringueira e todo ano,nessa mesma data, se faria o plantio de uma muda. Poressa época ainda não se cogitava a quebra total domercado e nem o esvaziamento da cidade, fatos estesque se sucederam algum tempo depois. Mas, antes disso,o seringal floresceu e permaneceu ativo por muitos anos,mesmo depois do falecimento do comendador CláudioMesquita (embora este fosse oriundo de terras lusitanas,foi um grande incentivador dos estudos e do plantio dahevea brasiliensis), ocorrido em 6 de novembro de 1923.

Em 1937, o Seringal Mirim esbanjava beleza eexuberância e dois anos depois, em 1939, tentando obtera bênção do Ministério da Cultura, o Governo do Estadopensou em dele tomar posse. Mas, saltemos alguns anosadiante e cheguemos logo em 1943, já na jurisdição deÁlvaro Maia. Neste mesmo ano, em 19 de abril, foi criadaa Escola de Seringueiros José Cláudio Mesquita,passando esta, desde então, a integrar o Serviço deFomento Agrícola do Estado, sob a direção do agrô-nomo Lourenço Faria de Mello, passando o seringal afuncionar como uma Escola de experiência de látex.

As dificuldades, como sempre, acossavam os maispobres e as lavadeiras e viúvas da região eram amparadaspela família do conhecido político Ruy Araújo, a saber,sua esposa, Helena Cidade de Araújo e seu irmão AndréVidal de Araújo, assim não tardou que o governo

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acabasse por criar a Vila Assistencial da Praça Liberdadeque não ficava exatamente no seringal, mas sim em umaárea vizinha.

Em 18 de junho de 1979, via decreto 4.590, graçasa motivos apresentados pelo historiador Robério Bragaa Comissão do Patrimônio Histórico, a área do seringalfoi transformada em reserva fundiária estadual e des-tinada à instalação do Museu do Seringueiro, infeliz-mente, tal projeto, que chegou a ser desenvolvido, sequersaiu do papel.

No ano seguinte, em 1980, o asfalto chegou àregião, expulsando, de vez, através da exploraçãoimobiliária o espírito do Seringal Mirim.

A avenida Djalma Batista, antiga Cláudio Mesquita,iniciada na administração do prefeito Jorge Teixeira,dividiu o seringal, intensificando-se as invasões de terra.

Hoje, em lugar das árvores, há prédios, casas, pra-ças, escolas, bancos e a Central de Energia Elétrica queainda segundo Robério Braga, na época em que eravereador de Manaus (1989-1982) juntamente com ou-tros parlamentares, tentou interditar a construção paraque houvesse uma preservação da memória, porém,nada foi possível fazer devido à falta de documentação.

O acendedor de lampiões

“O ACENDEDOR DE LAMPIÕES COM sua escadavarinha e mecha, à boca da noite”,6 vai de mansinhofazer seu trabalho. Como quem faz um poema ou umaoração, ele acende o lampião que, com sua luz miúda,

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6 Fundação da cidade de Manaus; Mário Ypiranga Monteiro.

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ilumina o coração daquele homem. É um tempo antigoe a paz invade as ruas com a chegada da noite.

Nas casas, tudo é silêncio. As crianças dormem,enquanto os adultos conversam sobre os mais“recentes” acontecimentos. Realmente, são tempos deoutrora, quase esquecidos, em que as lembranças sãoguardadas dentro de pesados baús.

Lá fora, a voz dolente de um cantor enche oambiente com a triste história da perda de um amor. Asvozes da noite sussurram outras histórias que jamaisserão contadas, pois, somente “o acendedor delampiões, com sua escada e sua mecha”, escuta-as,guardando-as para si. Sabe que dele também seesquecerão, mas, não se importa. Terá na lembrança ashistórias contadas pela noite e a pequena luz do lampiãoa aquecer-lhe o coração. E é só o que restará! O silênciocobrirá seus passos e ele desaparecerá suavemente naescuridão da noite.

Todavia não foi apenas o acendedor de lampiões,com sua escada, varinha e mecha que desapareceu. Ovendedor de leite, o vendedor de doces, o velho sapa-teiro, o padeiro, este, que bem que cedo vinha bater asnossas portas, o contador de histórias.... todos eles seforam desaparecendo suavemente na escuridão da noitede nossa memória.

Ciganos

HOUVE UM TEMPO EM QUE OS CIGANOS, em suasandanças, sempre que chegavam à Manaus, acampavamno decadente seringal, debaixo das árvores que ainda se

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mantinham de pé. O povo, cheio de preconceito, tinhaum enorme receio dessa gente que andava pra lá e pra cá,feito folha ao vento, e, devido à péssima fama de“ladrões de crianças”, eram, quase sempre deixados empaz, e, assim, por ali eles ficavam por muitos dias e atémeses, com seus panos coloridos e um olhar de pena emrelação ao futuro.

Um dia se foram e não mais retornaram e tal comoo Seringal Mirim, a lembrança do acampamento deciganos apagou-se, perdida no tempo.

Kamélia

Ó Jardineira por que estás tão triste?Mas, o que foi que te aconteceu?Foi a Kamélia que caiu do galho,deu dois suspiros e depois morreu....

(marcha carnavalesca, 1939 – B. Lacerda e Humber-to Porto)

O QUÊ, TALVEZ, MUITA GENTE NÃO SAIBA é que afamosa boneca Kamélia, em tempos idos, quandoacabava a festa, voltava a ser guardada, muitas vezes atédisplicentemente, atrás da porta de entrada da casa de G.C. morador da rua Pico das Águas e, que, por meracoincidência, vinha a ser cunhado de Cândido GeremiasCumaru, o seu Candu, o feliz proprietário da boneca quemuitos acreditavam ser de carne e osso, tão vívida enatural a sua presença.

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Quanto ao seu anfitrião, G. C. cabem aqui algumaspalavras: Sujeito calado; alto, magro de cabelos curtos egrisalhos, duro de alma e coração, amante de rinhas degalo, G. C. era um contraventor a moda antiga, mas sema aura romântica que empresta certa simpatia a essesdesvios de conduta.

Dono da Rua, sempre de pijama (raramente vestiaoutra roupa, fosse para onde fosse) e chinelos decouro, tinha por péssimo costume transitar com seuscarros em alta velocidade pelas ruas da cidade; digo“seus carros” por ele ter tido vários, indo de um Fuscaazul conhecido por Azulão, a um Opala dourado queacabou por completo num acidente em que quasemorreu. Dizia toda gente que por motivo desteacidente teve que pôr na cabeça uma placa de titânioe que depois disso, ele, que já era “atarantado”, ficouum pouco pior. Assim que seu carro despontava noinício da rua o povo saía às presas, fugindo do perigoque era ficar em seu caminho. Diziam: “Cuidado... lávem o seu G...”. Um dia perdeu o controle do carro epassou direto, indo parar ladeira abaixo. Dentro decasa, autoritário; sua palavra, acatada mais por medoque por respeito, sempre se fazia valer.

No bairro não havia quem não o conhecesse, jáque depois de uns tragos à mesa de baralho ficavageneroso e punha-se a distribuir dinheiro. Eracontrabandista de uísque, bastante conhecido dosfederais, que, vez por outra, vinham até sua casa efetuaruma batida a fim de pegá-lo com a boca na botija. Masseu G. era esperto e sabendo com antecedência davisita dos ditos cujos (certamente tinha algum “amigo”no meio), com a ajuda do filho mais velho, guardava

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toda a mercadoria num monte de areia de uma casa“eternamente” em construção que ficava em frente asua e depois disto feito, aguardava tranqüilamente avisita “inesperada”.

Os federais chegavam reviravam a sua casa de cimaabaixo e nunca encontravam nada. Nem desconfiavamdo esconderijo inusitado que havia bem debaixo de seusnarizes. Um dia, esse mesmo filho, G. F. que aos olhosde todos parecia lhe ser o mais querido, devido a umarebeldia à toa, levou uma baita surra e foi posto para forade casa só com a roupa do corpo. Voltou alguns anosdepois, porém nunca mais a relação com o velho G. foia mesma.

G. C. foi protagonista de um episódio desa-gradável do qual me recordo perfeitamente querelatarei mais abaixo.

Boi-Bumbá Mina de Ouro

O BUMBÁ DO SERINGAL MIRIM tinha por“inimigos” no tempo em que decorriam os festejosjuninos, o Corre-Campo (Cachoeirinha) e o Tira Prosa(Santa Luzia).

Uma peculiaridade desses bois é que cada umpossuía um modo particular de se fazer notar. Porexemplo: o Caprichoso levantava o rabo; o Luz deGuerra comia capim, o Corre-Campo colocava a línguapara fora... e o Coringa, do bairro de Aparecida, há... oCoringa...?! Este... pasmem! Fazia xixi. A particularidadedo nosso boi, o Mina de Ouro, era levantargraciosamente as suas orelhas.

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Dança do Papagaio

NA ÉPOCA JUNINA ERA IMPRESCINDÍVEL a presençado grupo de dança Papagaio. Os Pássaros é adenominação folclórica para tais grupos que praticamsuas danças há mais de 50 anos. Os temas, que tratam damorte e ressurreição do pássaro escolhido para se fazer àapresentação, relembram velhas histórias do imagináriopopular, mas de um jeito bem brasileiro, em que fadas efeiticeiros, misturam-se a pajés e índios guerreiros.

O grupo de dança do São Geraldo costumava sereunir em frente ao batuque de Joana Papagaio (que, talcomo lhe diz a alcunha e se não falha a memória dealguns moradores, está bastante ligada a sua origem etradição, sendo mesmo, provavelmente, a maiorresponsável pelos anos em que a dança durou) e, dali saíapara exibir-se direto no Festival Folclórico.

Marcílio e Marçal

DO BUMBÁ MINA DE OURO ao Grupo de Dança doPapagaio, restou a lembrança e a arte de saber confec-cionar uma roupa com perfeição, bordada e enfeitadacom tantos detalhes, que quase pode ser consideradauma obra de arte.

Hoje, um pouco dessa arte, tão necessária ao serhumano, alimento do espírito, encontra-se escondida emuma casinha de madeira, que de tão velha, está rota, masque guarda dentro de si um mundo de mistério, magia ebeleza. Marcílio e Marçal dois desses artistas remanes-centes daquele tempo, excelentes costureiros, continuam

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dedicados aos festejos populares, deles participandosempre, seja como meros brincantes, ou seja, costurandoas fantasias.

Marcílio foi viver em Manacapuru justamente pormotivo dos festejos em que é insistentemente solicitado.Marçal ficou para confeccionar roupas de sonhos paraos festivais de vários pontos da cidade, incluindo oprincipal Festival Folclórico que acontece no CentroCultural dos Povos da Amazônia (CCPA) na bola daSuframa e cuja tradição já dura há 51 anos, seja para nosdeleitar com o visual do guarda-roupa sofisticadoapresentado no Festival de Ópera que acontece noTeatro Amazonas.

Um point de atração e diversão

AS FESTAS SE FORAM, NÃO DE TODO, mas o bairrode São Geraldo ainda é bastante procurado devido agrande quantidade de pequenos bares e praças dealimentação que se acotovelam em cima das calçadas ounas áreas cobertas de um shopping; chamariz de jovense adultos e de toda espécie de artistas, principalmentecantores, tanto conhecidos como emergentes. Bem, emtempos mais recuados, fazia-se notar a presença depadre Nonato Pinheiro em rodas de conversa na velhaserraria do seu Raimundo, na travessa Santa Luzia.Hoje, o cantor parintinense Chico da Silva vem a ser umótimo exemplo dessa facilidade de atrair e manter cativoum público de gostos variados. Autor de váriossucessos musicais, entre eles, Pandeiro é meu nome, emparceria com Venâncio, gravada pela cantora

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maranhense Alcione e a toada em louvor ao boiGarantido, Vermelho; gravada por Zezinho Corrêa; dabanda Carrapicho e pela cantora Fafá de Belém.

Rezas e muita bênção meu senhorpara agüentar o tranco, curarquebranto, espinhela caída e maude olho...

O QUE NUNCA FALTOU NO BAIRRO foram as benditasbenzedeiras. Reza braba, reza forte para curar desdequebranto, mau-olhado espinhela caída e diversos outrosmales. Para nossa sorte em cada rua havia um desses“anjos curadores” com a fórmula certa a quem semprepodíamos recorrer. Seu João, D. Raimunda e D.Pocidônia eram apenas alguns dos mais conhecidos.

Seu João, da rua Pico das Águas – devoto de SãoCosme e Damião no dia 27 de Setembro, data dosfestejos dos santos, nunca deixava de distribuir bombonspara as crianças, promessa antiga, sempre cumprida, e deSanta Luzia, virgem mártir protetora dos olhos, a quemdedicava em casa sob um enorme quadro um altar cheiode garrafas com raízes, cristais e águas de cheiro,terminantemente proibido a qualquer aproximação deestranhos – usava a caneta, escrevendo na pele e dissol-vendo a tinta na água para levar o mal embora.

Dona Raimunda – também da rua Pico das Águas –por sua vez, utilizava o papel e dona Pocidônia (CláudioMesquita) resolvia qualquer problema de luxação,articulação fora do lugar, e nisso, no bairro não havia

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ninguém melhor que ela. Gente de vários pontos dacidade, com dores de toda ordem; vinha ter ao bairroapenas com o intuito de obter uma consulta.

É interessante ressaltar que todos os rezadores, semexceção tinham e tem, ainda hoje, desde os maisremotos tempos, uma plena consciência de sua missão.Não podem se omitir de atender, nem rezar sobreninguém, ao agirem assim estão apenas devolvendo, emparte, aquilo que receberam como dom.

Hoje, nosso maior curandeiro é o médico pedia-tra Afrânio Soares, com consultório montado à ruaJoão Alfredo.

Os canos de água da rua Pico dasÁguas

EM UMA BOA PARTE DA RUA PICO das Águas,cortada, de um lado, pela avenida Constantino Nery e deoutro pela avenida Djalma Batista, é a única rua dobairro em que o progresso não chegou definitivamente,posto que, embora a rua ligue as duas avenidasprincipais, tal ligação é feita por uma longa escadaria;produto da política dos anos 80 do então candidato avereador Renato Queiroz.

Os grossos canos que em pleno século XXI aindaresistem na citada rua fazem parte de um passadoonde a necessidade de abastecer a cidade com olíquido precioso foi uma verdadeira fonte de dificul-dades e preocupações, já que tudo, desde os banhos,lavagens de roupa e limpeza de animais, aconteciamem volta do igarapé de Manaus. O igarapé da Cachoei-

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ra Grande foi o primeiro a servir a este propósito porse encontrar em melhores condições, pois a água eralimpa e saborosa.

No dia de 8 de outubro de 1883, porém, oReservatório da Castelhana, o Tanque dos Remédios, ascasas de máquinas e de guarda mais a rede de distri-buição, além de bicas e fontes, junto com a firma AntonyMoreton & Cia. assinaram um contrato no PalaceteProvincial da Praça 28 de Setembro.

Atualmente os tubos que serviram no passadopara abastecer com água uma grande área da cidadetornam agora, inviável (pelo menos é o que se diz) asbenfeitorias à rua que todos os anos lhe sãoprometidas. Fato é que entra ano e sai ano, e a rua,constantemente medida e avaliada de alto a baixo,continua “quase” a mesma.

Num passado não tão distante assim – antes daconstrução da escadaria, devido a enorme dificuldadeem por ela se transitar, posto que rua de ladeira“barrenta e escorregadia”; com um igarapé poluídoque corria lá embaixo e um lixão inimaginável,incluindo o lixo hospitalar do então Hospital São José,hoje Unimed – os canos serviram como “ponte” paraseus moradores em que se tinha que passar com muitocuidado tal a altura, a grossura e a lisura dos tubos. Emdias de chuva era quase impossível se chegar aoMercado Municipal Dorval Porto, na Djalma Batista,pois o perigo existia tanto por cima quanto por baixo,já que uma queda eventual de cima dos canos e ummergulho inesperado no igarapé, nunca era planejado,mas mesmo assim, apesar de todo cuidado, quasesempre acontecia.

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Constantino Nery – uma avenidacheia de vida

DE UM LADO DA AVENIDA Constantino Nery, há oOlímpico Clube e um pouco mais abaixo, duas ou trêscasas depois, há uma casa simples de alvenaria queabrigou por um bom período de tempo a família doadvogado Carlos Genésio Braga, filho do escritorparaense, membro da AAL – Academia Amazonense deLetras, Genesino Braga.

Do outro lado da mesma avenida, em uma casa deesquina, vivia o jurista Mithridates Corrêa. Infelizmente,sua casa, hoje, não existe mais.

Indo um pouco mais além, o pintor Roland Ste-venson ainda pinta suas telas, em seu ateliê, em umacasa de dois pisos onde também sua esposa, mantêmum salão de beleza. Ambos, como podemos ver aman-tes da estética.

No Colégio Preciosíssimo Sangue, uma freira daCongregação das Adoradoras do Sangue de Cristo,irmã Helena Augusta Wyllcott lutou com toda a garrapelos mais necessitados. Não temia a nada, nem aninguém, chegando inclusive a comandar pessoalmenteinvasões de terra. Sua presença foi marcante no bairroNovo Israel.

Deixar de citar padre Henrique, antigo pároco daigreja de São Geraldo, é quase um pecado. Simpático,carismático, atencioso, um belo homem, com profundosolhos azuis, ele foi um dos maiores amigos que teve acomunidade. Embora linha dura no que se tratava dosdogmas seguidos pela Santa Madre Igreja, padre

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Henrique sempre procurou ajudar e iluminar o espíritodaquele que o procurasse, fosse este quem fosse.

Era americano, padre da congregação dos Reden-toristas, mas aqui viveu, trabalhou e morreu. Perdeu avida, em certa manhã, num acidente de carro. O Fuscaazul, que costumava dirigir com o maior cuidado; ficoucompletamente destruído. A casa onde viveu e a velhaigreja onde pregara o seu sermão, não existem mais.Com o desaparecimento de padre Henrique foi-setambém os meus tempos de meninice.

Em 1980 a avenida Constantino Nery serviu depassarela a visita do “papa peregrino” João PauloII, Karol Wojtyla, quando de sua primeira visita aoBrasil.

O povo do bairro de São Geraldo não podia deixarpassar este momento histórico, festivo sem participar edeste modo compareceu a avenida, com lenços brancos,estendendo ao Santo Padre, santinhos e rosários paraque os abençoassem. O hino “A Bênção, João de Deus”foi cantado com força e fé, a pleno pulmões.

Famílias S e M

COMO JÁ FOI DITO ANTES, E, chega a ser umaredundância, nada diferente dos dias de hoje, “naqueletempo, as dificuldades acossavam os mais necessitados”e a comunidade negra que cresceu no Seringal Mirimviu-se envolvida em questões, que devido à necessidade,envolviam sua honra e caráter. Antes, as famílias quehaviam se sobressaído através da religião e da cultura, derepente viram seu bom nome lançado na lama, uma vez

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que seus descendentes fizeram por onde fazer fama,porém, má fama.

O bairro de São Geraldo, principalmente o lugarpitoresco do Seringal Mirim, virou sinônimo de perdi-ção, antro de marginais, e conhecidas “bocas de fumo”liderados pelas famílias M e S. Houve um tempo em quesó de se ouvir o nome de C. S. um calafrio percorria aespinha; bandido famoso e procurado na cidade deManaus. Seus filhos, assim como o próprio M maisconhecido e família, ainda vivem no bairro, agora maistranqüilo desde que resolveram deixar de lado asatribulações de uma “vida bandida”.

Um Orfeu negro amazonense

UMA HISTÓRIA REAL E CURIOSA: No final dos anos 80um dos jovens M, negro bonito e infeliz de 18 anos, morreude uma forma trágica e até hoje, considerada por muitos,misteriosa, dizem que num incêndio causado por elemesmo enquanto dormia por conta de um cigarro aceso. Ofogo que queimou a casa inteira, uma casa de madeira dedois andares, na rua Pico das Águas, alastrou-se com umarapidez descabida; incomum, fazendo como única vítima opobre P. que não era músico como o Orfeu do mito gregoe sim filho de santo, freqüentador do batuque e dançarinodo bumba-meu-boi, mas que nem por isso deixou de serdotado pelas musas com menor beleza e poesia.

Vejamos... foi depois dos festejos do Carnaval, nofinal da década de 80, logo após a sua chegada do bailedo Hawaii do Olímpico Clube... A tragédia aconteceu deforma inexplicável e abalável. Há quem diga que P. foi

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morto por traficantes, seus desafetos conhecidos, já quevinha conquistando terreno e angariando simpatias,além da beleza física, o que provocou ciúmes e invejasnos mais velhos. Outros dizem que foi crime passional,assassinado pela mulher com quem vivia e tinha umfilho, ela, do clã dos S muito mais velha e, portanto, bemmais experiente que ele.

Dizia-se que P. queria afastar-se da vida desregradae sair pelo mundo e o baile de Carnaval, seria a sua des-pedida. Outra coisa que falam é que estava apaixonadopor uma garota branca, de sua idade, por quem eraplenamente correspondido (paixão esta, desde o prin-cípio execrada, debochada, ironizada, mal-falada, proi-bida, mas acima de tudo, invejada) burburinho corrido“a boca pequena” pelo bairro, e que para uma mulherciumenta e despeitada, não é nada agradável de se ouvir.

Entretanto, tudo, qualquer dúvida, não passou deespeculação e nunca, nada foi provado, ficando no arapenas a suspeita que quase provocou uma rixa entre asduas famílias.

Por ironia, o dinheiro que P. possuía guardado nobanco e que seria seu passe a busca de liberdade emudança de vida, serviu, apenas para lhe pagar o caixãoe as despesas do funeral. O assunto afinal acabou mortoe enterrado junto com P. junto com os seus sonhos queele ousou um dia, querer viver.

Um prefeito imperfeito

PARECE QUE TEIMO EM POR EM destaque a rua Picodas Águas, que vai de um lado e outro das avenidas

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Constantino Nery e Djalma Batista, mas fato é que elafoi palco dos mais conhecidos dramas do bairro.

No fim da década de 60 (entre 68-69), a famíliaPereira de Mello chegou por estas bandas. Ele, filho deum casal de posses, quase “donos” do município deSanta Izabel, no Alto Rio Negro. Ela; Lucila seu nomepor pouco não foi Lucíola título de romance de José deAlencar, mulher bonita e submissa, das terras do Pará,precisamente de Forlândia, isso mesmo, o pedaço deterra de um projeto experimental adquirido pela empre-sa Motor Ford Company para a cultura da borracha quedevido a sérias dificuldades, tais como terreno aciden-tado, mão-de-obra insuficiente, transporte precário eprincipalmente graças a um fungo Microcyclos ulei queveio a se transformar no maior problema da heveiculturana região, fracassou.

A casa simples, pequena, de madeira, comprada pelaintervenção do advogado e deputado estadual JoãoValério, nome hoje de uma das ruas do bairro, em queforam morar, ficava situada num terreno acidentado e,de qualquer jeito, depois de tantos lugares ruins poronde já haviam passado, tinham agora, em definitivo oseu próprio lar.

Por volta dos anos 70, Ayton Pereira de Mello, entãoprefeito do município de Santa Izabel do Rio Negro,antiga Tapuruquara, (palavra em nheengatu, o tupiamazônico, que quer dizer casa de tapuru) foi acusadolevianamente de corrupção e essa leviandade foi manchetede jornais, principalmente por parte do jornal A Notícia,que sem provas, gratuitamente e de forma desrespeitosa,repita-se, o achincalhava de tudo quanto era modo e, quemmuito se ocupava disso era o jornalista Fábio Lucena.

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Bem, um dia o prefeito encheu-se daquela situaçãoe resolveu ir até a redação do jornal A Notícia, falar como redator-chefe Bianor Garcia, porém, conta-se que aochegar lá o prefeito foi muito mal recebido, e, juntando-se todos eles, funcionários do jornal em geral, seprepararam para dar uma surra no atrevido.

Acontece que Ayton Mello era atrevido mesmoe naquele tempo era comum o porte de arma comoproteção, uso corrente principalmente entre ospolíticos. Sendo assim, Ayton Mello, vendo-seameaçado, não contou conversa e puxando a armada cintura atirou para cima. Pronto... foi o bastante.No outro dia as manchetes falavam apenas doacesso de loucura do prefeito alcoolizado, que tevea ousadia de invadir a redação do jornal a fim dematar Bianor Garcia. Agora além de corrupto veiolhe juntar mais dois adjetivos: o de louco ehomicida.

Ayton Pereira de Mello, homem sério, correto ebom pai de família, foi preso e condenado a cumprirpena de sete meses na Cadeia Pública DesembargadorRaimundo Vidal Pessoa, não pelos crimes decorrupção do qual foi acusado injustamente, mas, simpela invasão inesperada e pelo tiro “não intencional”efetuado nas dependências de um dos maisimportantes jornais da cidade.

Teve como advogado de acusação o já men-cionado João Valério, que de amigo passou a acu-sador, e como advogados de defesa, João Mendonça,Vivaldo Frota (que depois veio a ser governador doEstado), e por fim, professor Félix Valois CoelhoJúnior.

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Bartolomeu e Bertola

NA TRAVESSA SANTA LUZIA NÃO havia quem nãoconhecesse o casal Bartolomeu e Bertola. Ele, umbarbadiano muito alto, sempre com um tabuleiro àcabeça. Ela, uma mulher gordinha e bem baixinha,doceira de mão cheia, ranzinza como só ela soube umdia ser. Era uma espécie de guardiã dos quintaisabandonados. Ai dos garotos quando invadiam estesmatos atrás de frutas, principalmente quando se tratavade um lindo pé de abricó que dava com os galhos para oquintal de sua casa. Bertola virava uma fúria quandoouvia a gurizada se divertindo as suas custas.

Hoje dona Bertola vive sozinha, posto que seuBartolomeu partiu cedo desta vida e ela nunca maiscasou. Tem agora apenas por companhia uma dúziade gatos, já que toda a sua família mora em Belém.Quase não enxerga mais, cabelo carapinha; curto, estátodo branco, porém, mesmo assim anda pelas ruas dobairro pra cima e pra baixo, numa total comunhãocom suas ruas, pedras e calçadas, com seu vestidobarato e pés descalços, guiada mais pelo instinto quepela visão.

Carmem Doida

Carmem-doida! Gritavaa criançada da antigapraça da prefeitura,

a Carmem-doida endoidavamandava banana pra todos,

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cuspia a dentaduraxingava a mãe e a família

da garotada e berravaos piores palavrões...

Carmem-doida! E a tua mãe,está no hospício também?“No céu! Seus mizerentos

rebentos do Satanás,na paz do Senhô, ela está!”

E ia ao “Juizadode Menores” se queixar!“Seu juiz, não é prussive,tanta, tanta bandalheira,eu sou muié de respeito

e não ardimito brincadeira!A gente tem de acaba

com esses moleque de rua,já é a quinta dentaduraque eles me faz quebrá,entonces esta, foi cara,ganhei ela de natar

e tinha um dente de ourobem na frente, seu dotoeles tem de me pagá!”

E lá se iam dois guardasa garotada autuar...

Um dia, foi no Nataluma “vaquinha” correuna praça da prefeitura

e Carmem-doida ganhouum presente dos meninoscom cinco dentes de ouro

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uma nova dentadura!E desde então Carmem-doida,

muito mais doida, ficou...

(Mady Benzecry7 In: Sarandalhas, 1967)

O que foi feito de Carmem Doida...?! A famosalouca que andava solta, nua ou enfeitada, pelas ruas dacidade, a vagar solitária por tão incompreensíveis eestreitos caminhos de sua mente em torvelinho?

Guardo comigo uma única lembrança de CarmemDoida, uma lembrança dolorosamente nítida, queencheu-me de terror nos meus tempos de criança.Descobri como alguns seres humanos podem ser apenascarcaças sem compaixão; desprovidos da centelha de luzdivina que ilumina e aquece o espírito, um poço de purae total escuridão.

Carmem Doida costumava vir muito ao nossobairro; especialmente a nossa rua, pois, muitas vezes iaà casa de G. C. onde sua esposa, sempre a sua revelia,lhe preparava um prato de comida. Carmem Doida,após saborear a comida e beber um copo de água, lá seia, contente da vida, ladeira cima. Nós, crianças, ficá-vamos quietinhas, olhando aquela pobre moça, aindajovem, tão perdida.

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7 Mady Benoliel Benzecry, poetisa, nasceu em Manaus em 19 de fevereiro de

1933, no seio de uma família tradicional do Estado do Amazonas. Viveu por

muitos anos no Rio de Janeiro; onde se dedicava, junto com seu marido, o

entalhador pernambucano Eugênio Carlos Batista, as artes plásticas. Deixou

duas obras publicadas: De Todos os Crepúsculos (1964) e Sarandalhas (1967),

sendo, ambos os livros ilustrados pelo pintor Moacir Andrade. Mady Benoliel

Benzecry veio a falecer no dia 11 de julho de 2003.

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Um dia, para desprazer de todos o velho G. feito o“ogro” dos contos infantis, chegou quando ninguém oesperava, surpreendendo a esposa no generoso ato de“repartir o pão”, como reza o ensinamento cristão.

O homem sem dó nem piedade, bateu em CarmemDoida com as próprias mãos, aplicando-lhe socos epontapés. Era tamanha a sua fúria, que ninguém ousoudefender a pobre louca e impressionou-me tanto, que eununca mais a esqueci. Até hoje me recordo da cena deviolência explícita e gratuita. Carmem Doida, já tãosurrada pela vida, não suportou mais este desacato edesapareceu, sumiu para sempre do bairro assim comotambém de nossas vidas e eu, nunca mais soube o quelhe aconteceu.

A fazedora de anjos

À RUA SANTO AFONSO, CERTA CASA, do outro ladoda avenida Constantino Nery, durante um longo períodofoi bastante procurada por mulheres desesperadas.

Uma senhora, diz-se que ex-enfermeira, cujo nomenão me foi possível descobrir, já que os moradorespreferem mantê-la, assim como toda a sua escusaatividade, no esquecimento, era conhecida como “afazedora de anjos” e foi justamente ali, no bairro de SãoGeraldo, santo protetor da maternidade e das mulheresgrávidas, por ironia, viera se estabelecer e prosperar, acusta do desconsolo, das aflições e das mortes dos anjos.

Não me cabe aqui fazer qualquer julgamento... obom e o ruim? Maldade, crime ou um favor que ninguémmais estaria disposto a fazer na hora do desassossego?

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Diz o povo que ela, a tal mulher “fazedora de anjos”,enriqueceu através da prática ilegal do aborto. Mais tardeseu “negócio” foi desmantelado pela polícia e não sesoube mais nada dela, nem se continuou a exercer o seu“trabalho” que lhe rendeu má fama e muito dinheiro.

Paulo Preto

E O ÚLTIMO PERSONAGEM POPULAR que transitoua vida inteira pelo bairro de São Geraldo, primei-ramente como um jovem alto ao estilo anos 70, funk-soul, cabelo a la black-power, sapatos plataformas eroupas extravagantes e coloridas, muito parecido como ator e cantor negro Tony Tornado; depois como um“exemplo” do sujeito que estudou até enlouquecer,mas na verdade, ninguém sabe o quê, afinal, lhe acon-teceu para se perder assim. Fala aos gritos, pronun-ciando discursos ininteligíveis, subindo e descendo asruas, num ritmo alucinante.

Lendas do folclore comuns à vidacotidiana do bairro

QUANDO CRIANÇA OUVE-SE E INVENTA-SE todo tipode histórias. O imaginário da região amazônica éextremamente rico graças ao casamento entre as raçasque se efetuou ao longo do tempo. Histórias e supers-tições vindas da Europa e África, aqui se misturaram aosmitos indígenas, dando corpo e vida às esperanças ereceios que iam dentro de cada um; uma forma de

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buscar e encontrar alívio, sossego e explicação para aárdua tarefa de viver ou sobreviver a cada dia.

Contamos histórias por diversos motivos: seja paraaquietar os filhos que estão começando a se descontrolarem sua danação ou então para acalmar-lhes os medos,preparando-os para lidar no futuro, com qualquer situa-ção de risco ou insegurança. Contamos histórias paranós mesmos; contamos para nós mesmos a nossa pró-pria história, voltando atrás sobre nossos passos a fim delembrarmos o que está nos faltando ou ver, com clareza,aonde erramos.

As histórias, desde muito tempo, contêm ensina-mentos que agem de forma sutil na mente humana edevem ser escritas ou contadas por alguém que saibaatuar dentro desse contexto. Esta é a função das histórias,serem usadas na ampliação do pensamento humano.

Hoje, elas são usadas e analisadas por psicólogos epsiquiatras, objetos de estudos de várias áreas da educa-ção, entretanto, sabemos também que a ignorância nun-ca será totalmente extirpada do seio, e por tal motivo,nem sempre acolhedor de nossa sociedade, posto queignorância não quer dizer apenas que a pessoa nãoestudou, quer dizer realmente que ela não compreendeu;compreender algo em sua essência requer um trabalhosincero e ativo sobre si mesmo, sob a direção de quem jáfoi e voltou pelo mesmo caminho. Compreender requerconsciência e ter consciência é ter luz. Pode-se estudar avida inteira e continuar ignorante.

No Oriente os contos sempre foram de vitalimportância, tanto é assim que a tradição dos contadoresde histórias era seguida com orgulho, cercada de respeitoe admirada até mesmo pelos reis e sultões. Nas cortes

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era comum encontrar estes honoráveis senhores que nosmomentos mais difíceis sempre tinham um conselho ouuma solução que vinham através da recitação doscontos. Mas, no Ocidente em geral, embora não fosseregra, aonde os estudos da mente começavam a abordarnovas questões a busca de iluminação graças a influênciados filósofos, ainda soia usar-se de terrores ocultos paradominar-se uma situação.

No coração da floresta amazônica, cercada demistérios, em que homens e bichos se transformam porconta de maldições e encantamentos, os pais ou babáscostumavam aquietar os pequenos com histórias quemexiam em seus medos mais recônditos. Era só ouvirqualquer briga ou tolice infantil, que lá se vinham elescom a história do homem do saco, uma variante doquibungo africano: “Olha, se continuarem a brigar, ou senão pararem de chorar, já, já, homem do saco há deaparecer e levar todo mundo embora”.

É.... as crianças até que se acalmavam, mas o traumacausado era enorme.

Quibungo, KKibungo, CChibungo ou OHomem do Saco

MITO DE ORIGEM AFRICANA, PRECISAMENTE da tribobantu,8 quase restrito ao Estado da Bahia, poucoconhecido em Estados ou regiões do Brasil. Kibungo,em Congo e Angola, quer dizer “lobo”. Os velhosescravos costumavam descrevê-lo como um ser voraz,

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8 Bantu ou Banto: Uma das raças negras que adentraram o Brasil quando do

tempo da escravidão. Originários do centro e sul da África.

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medroso, covarde, não muito inteligente, de feio aspecto,meio-bicho, meio-homem com a cabeça grande com umenorme buraco no centro das costas que se abria efechava quando ele abaixava ou levantava a cabeça.Sendo covarde, suas vítimas prediletas eram mulheres ecrianças. Suas histórias, contos romanceados, com tre-chos cantados é típico da literatura oral africana, assimcomo a nossa literatura de cordel.

Câmara Cascudo acreditava que este personagemtão comum dos contos africanos, aqui sofreu algumasalterações, o que é natural de acontecer quando umacultura migra para outra. Portanto, o nosso “homemdo saco” não deixa de ser uma de suas inúmeras inter-pretações contando como ressalva que o Kibungo, aocontrário do “homem do saco” que punha lá dentro“os seus escolhidos” levando-as embora, o quibungo osjogava dentro do buraco que possuía nas costas.Apesar de tudo, o quibungo morre facilmente, qual-quer coisa que mate um ser humano é capaz tambémde matá-lo e na hora da morte faz tal estardalhaço quechega a dar pena.

A mulher que virava porca

A LENDA MAIS COMUM QUE CORRIA pelas vizinhan-ças, dizia respeito a uma senhora conhecida por S de cujacasa ninguém ousava se aproximar. Diziam eles que avelha senhora virava bicho, uma porca, grande e feia, quese punha a fuçar e a rolar na areia, a perseguir a quempusesse os pés em seu quintal, aparecendo e desapare-cendo com extrema rapidez.

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A criançada é que inventava essa história para fazermedo às outras menores a fim de evitar que elas osacompanhassem em suas fugas rotineiras de casa.

Dona S, creio, digo isso, mas pelo óbvio da situação,já que, das pessoas com quem falei nenhuma quis entrarem maiores detalhes, era uma mulher solitária, semmuitos atrativos e nenhum amigo.

A mulher que vira porca é mito de origem portu-guesa e nas palavras de Câmara Cascudo, em seu Dicio-nário do Folclore Brasileiro: “A porca, símbolo clássico dosbaixos apetites carnais, sexualidade, gula, imundície,surge inopinadamente diante dos freqüentadores dosbailes noturnos e locais de prazer”.

Conclusão

PENSEI QUE CONTAR A HISTÓRIA de meu bairro, oSão Geraldo, seria um processo assaz demorado e quasedesanimei ao constatar a curta memória de seus morado-res, assim como a falta de registros (fotos, documentos),a fatos relevantes à vida da comunidade, e, sendo assim,claro é, que nem todas as histórias puderam, aqui, serdocumentadas.

Felizmente, fui testemunha, e, algumas vezes, deforma direta e indireta, participante de vários aconteci-mentos e que aliados a uma minuciosa pesquisa, ajuda-ram-me a construir, pelo menos, em parte, um retratofiel do lugar que me abriga e protege e onde convivo emfamília por mais de trinta anos.

Infância, juventude e o começo de minha vida adultaencontram-se espalhadas pelas ruas que vão desde o

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Seringal Mirim ao começo do bairro da Chapada,misturadas ao cheiro do café torrado que subia doMoinho Amazonas, ao calor do sol pelas manhãs nas idase vindas da escola, ao perigo de se atravessar às avenidasConstantino Nery e Djalma Batista, a curiosidade quenos despertava o batuque e ao medo que nos inspirava aboneca Kamélia, tudo isso aliado ao lento despertar da féprovocado pela doce presença feminina das IrmãsAdoradoras do Sangue de Cristo e pelo inesquecívelpároco da igreja de São Geraldo, padre Henrique, ambos,pai e mãe de uma via espiritual que continua a guiar atantos nesta vida afora. Mas, entretanto, apesar de muitoagradável, não me alonguei em recordações pessoais jáque a proposta deste trabalho visava o bairro por inteiro,como um corpo único, com lembranças que fossemcomuns a todos, cujo passado, embora adormecido, estápresente no coração de cada um.

Nos dias de hoje, o bairro tornou-se um grandecentro de atrações onde jovens e adultos buscam pordistrações já que parques, sorveterias, restaurantes,lanchonetes e etc. proliferam pelo bairro, em constantemutação, oferecendo, além da diversão, todos os tipos deserviço que se possa vir a precisar.

A proximidade com os shoppings e o centro dacidade tem contribuído para o grande afluxo de genteque todo dia se desloca para ali, num constante vai-e-vem, seja por motivo de trabalho, estudos ou diversão.

O bairro de São Geraldo é um local aprazível, defácil acesso, embora a precariedade da rua Pico dasÁguas ainda salte aos olhos e acelere os batimentos docoração, pois, subir e descer a bendita escadaria, é comopagar promessa, uma obrigação.

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O crescimento da cidade trouxe consigo toda sortede preocupações ao bairro, sendo a maior delas a ques-tão da violência, presente em todos os seus aspectos.Mas é preciso ter fé e trabalhar para que um futuropromissor possa se desenhar para a nova geração, queela possa viver sem tantos medos e com uma melhorvisão do ser humano, e que venha a usufruir desse marde floresta que circunda nossa cidade, verde mar repletode vida, esperança de renovação para o mundo.

Finalizo com as palavras de dona Rosa Barbosa deMoura, a Rosa Sorriso, moradora da rua Pará, segundo oseu depoimento feito ao Jornal do Comércio na ediçãocomemorativa em homenagem 337.º aniversario dacidade em que diz: “Conheço este bairro como ninguém.Gosto muito daqui, do presente. As pessoas têm quesaber viver cada momento da vida”.

Bibliografia

ALLAN, Virgínia. Moronetá – crônicas manauaras. Manaus:Editora Valer, 2002.BENCHIMOL, Samuel. Amazônia – Formação Social eCultural. Manaus: Editora Valer, 1999.LOUREIRO, Antonio José Souto. O Amazonas na épocaimperial Manaus, edição comemorativa 45.º aniversariode T. Loureiro Ltda., 1989.JORNAL DO COMÉRCIO: Edição comemorativa emhomenagem ao 337.º aniversário da idade de Manaus.(23/ 24 de outubro de 2006).HOUAISS, Antonio; Mauro de Salles Villar, FranciscoManoel de Mello Franco. Mini Houaiss: Dicionário da

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Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, 2004, 2.ª edição –revista e ampliada, editora Objetiva.NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO da Língua Portu-guesa; da Academia Brasileira de Letras e da AcademiaBrasileira de Filologia; 2.ª edição, revista e aumentada;editora Nova Fronteira, 1986.

Webgrafiahttp://www.bv.am.gov.br/portal/conteudo/serie_memoriaBiblioteca Virtual do AmazonasSeringal Mirim Robério Bragahttp://www.taquiprati.com.brhttp://www.jcam.com.brEvolução do Carnaval desde meados do século XIX atéhoje é destaque na edição Anderson de Vasconceloshttp://www.sumauma.netPoesias e poetas do Amazonas, 2006, editora Valer.Jornal Amazonas em Tempo (03/06/04).http://www.amazonia.bo/bibli/historia1.docHistória, economia Y politica del caucho em AmazoniaRicard Scoles. Julio, 2003.http://www.jangadabrasil.com.brhttp://www.cademeusanto.com.br/sao_geraldohttp://www.geocities.com/saogeraldomajellahttp://www.thelisbongirafe,typepad.com.

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Esta obra integra as Edições Muiraquitã do Conselho Municipal

de Cultura e foi vencedora do Prêmio Literário Mário Ypiranga

Monteiro, em Garamond 11/16 e impressa em agosto de 2010,

pela Grafisa.

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