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ANA PAULA OLIVEIRA HAHN ENSINO DE GEOGRAFIA E VALORAÇÃO DOS SERVIÇOS AMBIENTAIS APLICADOS A ARROIOS URBANOS CANOAS, 2009.

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Page 1: ENSINO DE GEOGRAFIA E VALORAÇÃO DOS … Gestão das águas e planejamento urbano ... o acúmulo de lixo, ... importância do ensino de Geografia e do conceito de serviços ambientais

ANA PAULA OLIVEIRA HAHN

ENSINO DE GEOGRAFIA E VALORAÇÃO DOS SERVIÇOS AMBIENTAIS APLICADOS A ARROIOS URBANOS

CANOAS, 2009 .

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ANA PAULA OLIVEIRA HAHN

ENSINO DE GEOGRAFIA E VALORAÇÃO DOS SERVIÇOS AMBIENTAIS APLICADOS A ARROIOS URBANOS

Trabalho de conclusão, Centro Universitário La Salle, exigência para a obtenção do grau de Licenciado em Geografia, sob a orientação da Prof a Elaine Regina Oliveira dos Santos.

CANOAS, 2009.

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“A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da busca. Ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria.”

Paulo Freire

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RESUMO

O presente trabalho pretende contribuir para a ampliação do conhecimento sobre a

natureza e a construção da cidadania. Para tanto avalia a importância do ensino de

Geografia e do conceito de serviços ambientais aplicados ao gerenciamento das

águas urbanas do Arroio José Joaquim, Sapucaia do Sul, RS. A utilização do

método de Valoração Contingente, através de entrevistas em comunidades próximas

ao Arroio, possibilitou identificar a percepção dos entrevistados em relação aos

serviços ambientais. Os resultados possibilitaram analisar a fragilidade dos

ambientes urbanos e refletir o modo como o ensino de Geografia pode contribuir

para melhorar esta relação.

Palavras-chave: Águas urbanas. Serviços ambientais. Educação. Valoração.

ABSTRACT

This thesis is intended to contribute to the growth of knowledge on nature and the

construction of citizenship. It analyzes the importance of teaching Geography and the

concept of environmental services in the context of the management of the urban

waters of José Joaquim stream, in Sapucaia do Sul, RS. Using the method of

contingent valuation, through interviews in communities located near the stream, the

interviewees’ perception of environmental services was identified. The results

allowed analysis of the fragility of urban environments and a reflection on how

Geography teaching can contribute to improve this relationship.

Keywords: Urban waters. Environmental services. Education. Valuation.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO........................................................................................................05

2 A NATUREZA E OS SERVIÇOS AMBIENTAIS.............. .......................................07

2.1 O conceito de natureza......................... .............................................................08

2.2 Os serviços ambientais e sua relevância........ .................................................12

2.3 A valoração dos serviços ambientais............ ..................................................15

2.4 Métodos de valoração dos serviços ambientais... ..........................................19

3 O ENSINO DE GEOGRAFIA E A GESTÃO DAS ÁGUAS URBANA S.................21

3.1 Gestão das águas e planejamento urbano......... .............................................21

3.2 As águas urbanas: características e problemas.. ...........................................23

3.3 O ensino de Geografia e sua contribuição....... ...............................................27

4 A VALORAÇÃO DOS ARROIOS URBANOS: ESTUDO DE CASO.. ...................30

4.1 O Arroio José Joaquim: localização e caracteriz ação geral..........................31

4.2 O método de valoração ambiental adotado........ .............................................34

5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS............... .....................................37

5.1 Análise dos resultados......................... .............................................................37

5.2 Discussão dos resultados....................... ..........................................................40

6 CONCLUSÃO........................................ .................................................................42

REFERÊNCIAS..........................................................................................................44

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1 INTRODUÇÃO

Historicamente, as atividades antrópicas ligadas aos processos de produção,

extrativismo e urbanização, respondem por grande parte da modificação da

paisagem, redução e alteração da biodiversidade natural em escala planetária.

Sendo assim, a questão ambiental é cada vez mais um desafio para a sociedade

como um todo, principalmente aos governantes, que enfrentam desde os problemas

físicos estruturais, até as questões sócio-culturais existentes no interior de seus

territórios (GUIMARÃES, 1999).

A expansão urbana se acelerou na segunda metade do século XX. A

concentração da população em espaços reduzidos acarretou uma grande

competição por recursos naturais como solo e água. A chamada “crise da natureza”

é uma crise do modo de viver. A humanidade está diante de problemas que

desafiam e cobram respostas.

No que se refere às águas urbanas, é possível observar que o

desenvolvimento urbano tem produzido um ciclo de contaminação, gerados por

alguns elementos. Estes estão fortemente inter-relacionados devido à forma como

são gerenciados dentro do ambiente urbano. No que se refere particularmente às

águas urbanas. A degradação das águas, o acúmulo de lixo, a ocupação indevida,

as inundações, são algumas das consequências geradas pela desvaloração dos

ecossistemas.

Na busca de alternativas apoiadas na prática de uma educação orientadora

para a resolução dos problemas ambientais, a Geografia, como ciência que estuda o

espaço, vem contribuindo de forma relevante. Conforme destaca Becker (2002), o

espaço geográfico, em sua dimensão urbana, não é simples localização e

fenômeno. O espaço geográfico é um produto social e histórico onde o ser humano

não se relaciona simplesmente com a natureza, mas a partir dela, pelo processo do

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trabalho, apropria-se da natureza transformando-a em produto seu, como condição

do processo de reprodução da sociedade.

Tendo isto em conta, o presente trabalho pretende contribuir para a ampliação

do conhecimento sobre a natureza e a construção da cidadania. Para tanto avaliou a

importância do ensino de Geografia e do conceito de serviços ambientais aplicados

ao gerenciamento das águas urbanas do Arroio José Joaquim, Sapucaia do Sul, RS.

O método utilizado foi o da Valoração Contingente (MOTTA, 1998) aplicado

através de questionários. O método foi adaptado a fim de atender mais

especificamente as demandas deste trabalho. O resultado da pesquisa serviu como

indicativo sócio-ambiental, sendo possível identificar a percepção dos entrevistados

em relação aos serviços ambientais. Através deste levantamento, foi possível

identificar a fragilidade dos ambientes urbanos, e o quanto o ensino de Geografia

pode contribuir para melhorar esta relação.

O trabalho foi estruturado em quatro capítulos. O primeiro analisa o conceito

de natureza e apresenta a relevância e a valoração dos serviços ambientais. O

segundo discorre sobre a importância do ensino de Geografia para a valoração dos

serviços ambientais e identifica os princípios básicos e legais da gestão das águas.

O terceiro apresenta o estudo de caso, caracterizando a sub-bacia do Arroio José

Joaquim, Sapucaia do Sul, RS, também faz uma breve citação de alguns métodos

aplicados à valoração dos serviços ambientais e descreve o método adotado à área

de estudo. Também é definido e apresentado o método de Valoração Contingente, o

qual foi utilizado para a valoração dos serviços ambientais aplicado á área de

estudo. No quarto e último capítulo analisa os dados e discute os resultados obtidos.

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2 A NATUREZA E OS SERVIÇOS AMBIENTAIS

Para a maioria das culturas, inclusive as primitivas, a busca do entendimento

sobre a natureza, sua importância e relação com os seres humanos se confunde

com sua própria história e forma de organização social. Em alguns casos, se

percebe que o estabelecimento de um conhecimento sobre a natureza recebe

destaque, devido a uma relação fundamental entre esta e o ser humano, ou seja, a

de interdependência. (CAMPONOGARA, et al., 2007).

O aprimoramento do saber sobre a dinâmica da natureza tem atestado a

necessidade de se alterar a atual relação sociedade/natureza. Neste sentido, Rosa

et al. (2004) destacam os serviços ambientais gerados pelos ecossistemas naturais

preservados, revelando que estes estão na base de sustentação da vida na Terra.

Os autores colocam que os serviços ambientais são importantes por fornecerem:

alimentos, água, combustíveis, recursos genéticos, entre outros. Além disto, a

regulação da qualidade do ar e do clima, a purificação da água, o controle de

erosão, o controle biológico e a mitigação de riscos são alguns dos processos

fundamentais realizados e mantidos pelos serviços ambientais.

Constanza (2006), discutindo sobre a necessidade de se valorar os serviços

da natureza, destaca que não basta pagar pela preservação de um ecossistema. É

preciso instruir a respeito da dimensão dos sistemas ecológicos como provedores de

um conjunto amplo de serviços de base, sobre os quais se estruturam outros que

são reconhecidos e valorizados pela economia clássica. Charlet (2009) explica que a

relação dos ecossistemas com os serviços ambientais é sensível e complexa.

Este capítulo abordará o conceito de natureza e de serviços ambientais,

destacando a sua relevância para o ser humano. Ele finaliza com uma discussão

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sobre a valoração dos serviços ambientais e com a apresentação de alguns

métodos para este fim.

2.1 O conceito de natureza

Há um consenso entre alguns estudiosos de que a maior influência sobre o

pensamento ocidental teve origem na Grécia. De acordo com Gonçalves (2006), o

surgimento da filosofia da natureza e da filosofia propriamente dita, se funde com a

busca de uma explicação para a origem do cosmo e de todas as coisas. A idéia era

de que não mais se fixasse apenas no pensamento mítico grego.

Entre os povos indígenas, desde seu surgimento até os dias atuais, prevalece

uma concepção de responsabilidade pelo mundo natural, baseada numa relação de

parentesco ou afiliação entre os mundos humano e não-humano. Como exemplo, a

percepção da tribo Maori (Nova Zelândia), para quem todos os seres humanos e não

humanos partilham a mesma linhagem, têm a mesma origem. Os aborígenes vêem-

se como parte da natureza e todas as coisas naturais como parte de si mesmos.

Para eles, o ambiente não é algo que apenas circunda um povo, mas sim que possui

uma relação ontológica de pertença (WHITT, 2003).

Segundo as escrituras hindus, as pessoas são proibidas de dominar outras

criaturas, devendo, ao contrário, procurar paz e harmonia com a natureza,

denotando profundo vínculo entre os seres humanos e todas as outras formas de

vida. Em certo sentido, este pensamento encontra alguma consonância com os

ensinamentos do Alcorão (livro base do islamismo), o qual não admite separação

entre o ambiente natural e o divino, atribuindo responsabilidade aos seres humanos

em relação aos demais seres (HAQ, 2003).

No entanto, com relação à tradição judaica, Katz (2003) manifesta uma visão

crítica que classifica como alienada em relação ao mundo natural, já que este pode

ser usado por Deus ou pela humanidade e não tem valor em si mesmo. Assim, o

judaísmo propõe um antropocentrismo radical em que a natureza é vista meramente

como um recurso para a satisfação dos interesses, carências e necessidades

humanas. Este pensamento judaico, apesar de extremamente destoante dos

anteriores, se parece muito com o modo de pensar ocidental contemporâneo.

De acordo com Gonçalves (2006) e Pelizolli (2004), o dogma judaico-cristão

do criacionismo estabelece não mais uma complementaridade (como na filosofia

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antiga), mas uma contradição e um estranhamento de espírito e natureza.

Representa um retrocesso em relação ao trabalho dos filósofos gregos antigos, pois

consiste no retorno de uma explicação mítica e dogmática da origem ou principio da

natureza, e se tornou num inspirador da dicotomia ser humano/natureza, que está

na base da crise ecológica atual.

Dentre os representantes mais importantes da tradição cristã, destaca-se

Santo Agostinho (354-430), um dos responsáveis por acentuar o duplo sentido do

conceito de natureza: a Natura Naturans (o criador – tudo é criado por Deus) e a

Naturans Naturata (a criação – a natureza é criada em benefício do homem, imagem

e semelhança de Deus). Mas é, sem dúvida, Tomás de Aquino (1225-1274),

diretamente influenciado pela filosofia aristotélica, o responsável por apresentar uma

idéia de natureza o mais racional possível. Os seres da natureza são de novo

expostos em uma escala hierárquica, cujo topo é Deus (GONÇALVES, 2006).

Na Idade Moderna a questão fundamental a ser refletida é a posição

assumida pelo ser humano que se eleva à posição de dono da natureza (objeto de

dominação e manipulação da ciência), com aprofundamento da tradição

experimental na pesquisa científica sobre a natureza. Segundo Becker (2002) com a

invenção da agricultura há cerca de dez mil anos, a humanidade deu um passo

decisivo na diferenciação de seu modo de inserção na natureza em relação àquele

das demais espécies animais. A imensa variedade de espécies de um ecossistema

florestal, por exemplo, é substituída pelo cultivo/criação de umas poucas espécies

selecionadas em função de seu valor de mercado, seja como alimento, seja como

fonte de outros tipos de matérias-primas que os seres humanos consideram

importantes.

No que concerne à natureza, parece ter oscilado sempre entre duas

tendências opostas: uma que pensa a natureza como divina e outra que a concebe

como uma grande máquina, desprovida de alma. Para Pelizzoli (2004), aí está a

origem do antropocentrismo e da base racionalista, que começou a determinar de

forma diferente a consideração da natureza, a partir da tentativa concreta de

superação do saber do mito, dos deuses, numa desmitologização e

desespiritualização da realidade e da natureza.

Para Gonçalves (1998, p.34), o antropocentrismo é o homem visto como o

centro do mundo, o sujeito em oposição ao objeto, à natureza. Nesta concepção, “o

homem, instrumentalizado pelo método científico, pode penetrar os mistérios da

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natureza e, assim, tornar-se senhor e possuidor da natureza”. Assim, à imagem e

semelhança de Deus, ele tudo pode, isto é, o todo poderoso.

Os seres humanos superaram seus limites biológicos de intervenção no meio,

atingindo duramente a capacidade suporte do ambiente. Guimarães (1995) coloca

que isto de deu principalmente a partir da Revolução Industrial, segundo o autor

Paralelamente, o avanço científico e tecnológico desse período histórico permitiu um grande aumento da população humana sobre o Planeta, refletindo a dominação dessa espécie sobre as demais, população que assume como sociedade uma postura destrutiva na relação ser humano/natureza e na relação ser humano/ser humano (GUIMARÃES, 1995, p.33).

A idéia de uma natureza objetiva e exterior ao homem, o que pressupõe

uma idéia de homem não natural e fora da natureza, cristaliza-se com a

civilização industrial inaugurada pelo capitalismo. Gonçalves, (1998, p.24) coloca

que “as ciências da natureza se separam das ciências do homem, cria-se um

abismo colossal entre uma e outra e, tudo isso não é só uma questão de

concepção de mundo”. Conforme o autor, a ecologia enquanto saber e,

sobretudo, o movimento ecológico tentam denunciar as conseqüências dessas

concepções, embora o façam, muitas vezes, permeados pelos princípios e

valores dos seus detratores.

A Revolução Industrial, muito mais que uma profunda Revolução Técnica, foi o coroamento de um processo civilizatório que almejava dominar a natureza e para tanto submeteu e sufocou os que a ele se opunham. O absurdo é que tal projeto teve de colocar o homem como não-natureza, pois se o homem não fosse assim pensado, a questão da dominação da natureza sequer colocaria (GONÇALVES, 1988, p. 25).

Segundo Odum (1988, p.1), “devido aos avanços tecnológicos, parece que o

ser humano passa a depender menos do ambiente natural para suprir as

necessidades diárias; esquece que a dependência da natureza continua”. Assim,

conforme foi visto, com o passar do tempo o ser humano optou por priorizar

aspectos os quais lhe desvinculam da natureza e que o fazem, muitas vezes a

esquecer-se de que faz parte dela.

As questões relacionadas à proteção da natureza começaram a ser discutidas

efetivamente a partir da década de 1970. Em 1972 aconteceu o marco histórico na

capital da Suécia, Estocolmo, a Conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o

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Meio Ambiente. Nela emergiram as contradições ligadas ao desenvolvimento e as

questões ambientais. Neste mesmo ano, um grupo de empresários solicitou junto ao

renomado Massachusetts Institute of Technology (EUA), um estudo sobre as

condições da natureza, o qual foi chamado de “Desenvolvimento Zero” (Brasil

Escola, 2009). Vinte anos após, ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre o

Meio Ambiente, reunindo as maiores autoridades sobre o assunto e que ajudou a

propagar a importância do tema ecológico para a humanidade. O evento foi um

alerta, mas seu resultado deixou mais questões em aberto que respostas definitivas

(Estadão, 2009). Jöhr (1994) ressalta que, naquele momento, havia uma clara

evidência da gravidade do problema ambiental, sobretudo quanto ao crescimento

populacional, a finita quantidade de recursos naturais, seu uso inadequado, a

extinção das espécies, o desflorestamento, a erosão do solo e a poluição. O autor

menciona que o evento representou não apenas o reconhecimento e a valorização

das ciências ambientais como também cristalizaram os princípios sobre os quais

uma nova ética planetária deve se formar.

Para ele é necessário pensar à possibilidade do nascimento de um novo

modo de desenvolvimento ou de organização social com relação à natureza. A

mudança precisa partir inicialmente do ser humano, pois, “nenhuma solução que a

ciência possa apresentar terá validade se o próprio comportamento do homem e sua

inter-relação com a natureza não assumirem uma nova identidade” (JÖHR, 1994,

p.12).

Hutchison (2000) coloca que a maior parte dos governos, das corporações e

dos leitores presume que uma economia saudável é aquela que usa crescentes

quantidades de energia, de materiais e de recursos para a produção de mais bens,

mais empregos e mais rendimentos. O autor explica que este posicionamento, é

remanescente da economia de massa da era industrial, marcada por uma constante

expansão da produção de energia, do esgotamento dos recursos e da degradação

do ambiente. Uma nação que viva além de seus meios enfrenta a mesma escolha

que uma pessoa que vive além de suas possibilidades: ou fica mais pobre, ou pode

melhorar seus recursos, tornando-se mais produtiva. Ele alerta para o agravamento

da crise ambiental afirmando que, nos próximos cinqüenta anos, a população

humana tende a exceder nove bilhões e a produção econômica global pode

quintuplicar. Assim, em grande parte, como resultado destas tendências, a escassez

de recursos renováveis pode aumentar. Segundo ele

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A área total de terras altamente produtivas para a agricultura cairá, assim como a extensão de florestas e o número de espécies que estas sustentam. As gerações futuras também sentirão o crescente desgaste e a degradação das fontes de água, dos rios e de outros mananciais aquáticos, e uma mudança climática significativa (HUTCHISON, 2000, p.67).

É preciso rever o conceito de desenvolvimento. Novas alternativas menos

poluentes devem ser adotadas. Jöhr (1994) defende que o atual caminho de

desenvolvimento social e econômico deve ser modificado. Para ele

Devem-se mudar os paradigmas que tem regido a vida, orientando-os para um desenvolvimento sustentável e criando melhores condições de vida para o futuro. Falar em ecologia, hoje, é pensar em atuações econômicas e empresariais, em novas tecnologias, novos padrões de consumo e em nova ética (JÖHR, 1994, p.16).

Para tanto, é necessário trabalhar com a sociedade o conceito de natureza e

sua importância. Neste particular Leff (2001) se refere à pertinência de uma atitude

reflexiva que não se restrinja a questões genéricas sobre a natureza em si, mas que

remeta a um olhar para o próprio ser humano, para seu interior, para a sua condição

de ser existente neste planeta. O autor afirma que a discussão contemporânea

sobre a insustentabilidade do planeta deve partir, inicialmente, do questionamento

do ser humano no mundo. Ele lembra que, como seres historicamente situados, as

concepções e as ações que norteiam o viver carregam consigo influências do

pensamento filosófico desde a Antiga Grécia até os dias atuais.

2.2 Os serviços ambientais e sua relevância

Os serviços ambientais são aqueles considerados úteis e que são oferecidos

pelos ecossistemas para o ser humano, como a regulação de gases (produção de

oxigênio e seqüestro de carbono), belezas cênicas, conservação da biodiversidade,

proteção de solos e regulação das funções hídricas (Bolsa Floresta, 2009).

De acordo com Groot et. al (2002) serviços ambientais resultam da interação

entre os estoques de capital natural, capital construído e capital humano. Podem ser

identificados de três maneiras predominantes: serviços ambientais, ecossistêmicos e

ecológicos. A variedade de adjetivos indica tentativas de qualificar tais serviços,

expressando a complexidade existente nas relações que vão muito além de um

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pagamento. Para os autores o conceito de serviços ambientais “[...] é inerentemente

antropocêntrico: é a presença de seres humanos como agentes que habilitam a

tradução de estruturas ecológicas e processos em entidades de valor agregado”

(Groot et. al, 2002, p.396). Desta forma, o conceito se expressa pela identificação

das formas de valoração entre as atividades humanas e a natureza, valoração esta

que deixa de ser vista dentro dos moldes da economia clássica, como estoque de

matéria prima a ser transformada em bens de capital.

Em Locaweb (2009) tem-se que serviços ambientais são atividades ou

funções executadas pela natureza e que têm sido vistas recentemente, como

benefícios imprescindíveis à vida e que podem ser submetidas a avaliações

econômicas. É citado como serviços ambientais, a regulação hídrica (o ciclo da

água), o ciclo de nutrientes, a produção de alimentos, os recursos genéticos (e

recursos naturais em geral), a regulação da temperatura atmosférica e das águas, a

absorção e degradação natural de poluentes gerados pela humanidade, entre

outros.

Para Hutchison (2000), a preocupação com a perda da funcionalidade dos

serviços ambientais desafia o ser humano a proteger os recursos naturais e, ao

mesmo tempo, possibilitar um desenvolvimento social justo, permitindo que as

sociedades humanas atinjam uma melhor qualidade de vida em todos os aspectos.

A necessidade de consolidar novos modelos de desenvolvimento sustentável exige

a construção de alternativas de utilização dos recursos, orientada por uma

racionalidade ambiental e uma ética da solidariedade. Deve ocorrer um novo

reconhecimento, em que o bem-estar do ser humano esteja intrinsecamente

relacionado à saúde do planeta. Para o autor, as tradições religiosas precisam

apoiar uma nova “comunhão subjetiva” com os vários elementos da comunidade

biótica e as noções de justiça dentro da legislação precisam começar a abordar as

necessidades de proteção da comunidade como um todo.

Segundo Becker (2002) os trabalhos apontam que em função de todos os

problemas ambientais decorrentes das práticas econômicas predatórias a sociedade

terá implicações a médio e longo prazo. Frente ao desperdício dos recursos naturais

e a degradação generalizada com perda da qualidade dos serviços ambientais,

torna-se urgente o planejamento físico sob as perspectivas econômico-social e

ambiental. Este repensar implica estudos ambientais e econômicos, bem como as

suas inter-relações e a sua interdependência. São eles que poderão dar apoio às

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reflexões, buscando soluções para o momento atual, ou seja, estudos que possam

cooperar cientificamente com um futuro economicamente próspero, porém, mais

justo, mais seguro e mais harmonioso.

Jöhr (1994) coloca que toda agressão à natureza, provém da incapacidade

humana de avaliar os danos como fatores de prejuízo econômico, isto é, como

custos adicionais que poderiam ser evitados. Os danos devem ser cobrados

daqueles que degradam o meio ambiente, ao passo que esses valores devem ser

repassados àqueles que ajudam a preservar os serviços ambientais que protegem a

água.

Há 30 anos, o ambientalista americano Michael Jenkins começou a lutar pela

conservação da natureza. Ele faz parte de um grupo de especialistas que pensa

alternativas para impulsionar o pagamento por serviços ambientais. O que o homem

sempre usou e degradou de graça passa a ter um preço, justamente pela ameaça

de escassez (Estadão, 2009). Neste particular Odum relembra que

[...] os sistemas econômicos de toda e qualquer ideologia política valorizam as coisas feitas por seres humanos que trazem benefícios primariamente para o indivíduo, mas dá pouco valor aos produtos e “serviços” da natureza que trazem benefício a toda sociedade. Enquanto não ocorre uma crise, aproveitamos esses “serviços e produtos” naturais sem pensar; imaginamos que são ilimitados ou, de certa forma, substituíveis por inovações tecnológicas, apesar de evidências que indicam o contrário (ODUM, 1988, p.1).

No Brasil, o conceito de serviços ambientais emergiu recentemente como

uma potencial estratégia para valorização das populações extrativistas da Amazônia.

Existem ainda muitas dúvidas na esfera de instituições governamentais e da

sociedade civil organizada de como estabelecer políticas de serviços ambientais que

possam beneficiar grupos de populações extrativistas. Reconhece-se, contudo, que

populações extrativistas são importantes para a manutenção de serviços ambientais

e por tal precisam ser recompensadas (LOCAWEB, 2009).

O projeto de lei, PL 00792/2007, que está tramitando na Câmara Federal trata

da Compensação financeira por serviços ambientais. Conforme o artigo 1º

considera-se serviços ambientais aqueles que

[...] se apresentam como fluxos de matéria, energia e informação de estoque de capital natural, que combinados com serviços do capital construído e humano produzem benefícios aos seres humanos, tais como,

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os bens produzidos e proporcionados pelos ecossistemas, incluindo alimentos, água, combustíveis, fibras, recursos genéticos, medicinas naturais e também serviços obtidos da regulação dos processos ecossistêmicos, como a qualidade do ar, regulação do clima, regulação da água, purificação da água, controle de erosão, regulação de enfermidades humanas, controle biológico e mitigação de riscos (PL 00792/2007).

A gestão dos recursos naturais, descrita no projeto de lei PL 00792/2007,

somente poderá ser implementada com a participação de todos os cidadãos que

integram a sociedade civil. O relacionamento da humanidade com a natureza tem

sido caracterizado por uma forte pressão sobre os recursos naturais. Enquanto o ser

humano não preserva a natureza, deixa de usufruir dos serviços oferecidos por ela.

Os serviços ambientais estão se tornando a cada dia que passa mais raros. O

mercado destes serviços naturais é movido pela atual crise ambiental. É preciso

pagar para mantê-los.

2.3 A valoração dos serviços ambientais

Com a incorporação da dimensão ambiental na análise econômica iniciam-se

os estudos sobre a valoração monetária dos impactos produzidos pelo ser humano

sobre a natureza. Na realidade, apesar de o problema ambiental não ser uma

novidade, as tentativas de mensurar monetariamente os custos e benefícios dos

impactos ambientais são relativamente recentes. Segundo Charlet (2005), valoração

econômica da natureza constitui-se em um conjunto de métodos e técnicas que

buscam estimar valores para os bens e serviços gerados por ela.

Charlet (2005) cita a possibilidade da irreversibilidade na escassez dos

recursos naturais onde coloca que a constante e necessária relação entre a

natureza e as atividades econômicas gera impactos ambientais que raramente são

levados em consideração quando é feita uma avaliação socioeconômica das

atividades que os geram. Alguns economistas argumentam que os recursos

ambientais conseguirão gerar seus próprios mercados, de modo que sua exploração

e utilização ocorram de forma racional. No entanto, não é possível garantir que isto

aconteça antes que estes recursos sejam extintos ou degradados, de tal forma que

sua recuperação torne-se inviável economicamente. Assim, a valoração monetária

ambiental torna-se essencial, caso se pretenda que a degradação da maioria dos

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recursos ambientais seja interrompida antes que ultrapasse o limite da

irreversibilidade.

Algumas experiências de pagamento por serviços ambientais estão sendo

desenvolvidas no Brasil e no Mundo. Pagiola (2005) cita o exemplo da Costa Rica,

como o exemplo mais antigo de implementação de uma política de governo voltada

para a compensação financeira a proprietários rurais. Estes produtores, através da

conservação de florestas estão contribuindo no incremento da biodiversidade, bem

como na melhoria da qualidade de água para o setor produtivo. O produtor rural,

assim, é um ator chave no mecanismo de pagamento por serviços ambientais.

Na Organização Mundial do Comércio (OMC), o conceito de serviços

ambientais é delimitado sob a ótica das negociações para a liberalização do

comércio de bens e serviços ambientais. Serviços ambientais são definidos pelo seu

uso final, classificados em três atividades principais: “controle de poluição”

(atmosférica, hídrica, do solo e sonora); “gestão de recursos” (destaque para

sistemas de purificação e abastecimento de água potável); e “tecnologia e produtos

limpos ou eficientes no uso de recursos naturais” (ALMEIDA E PRESSER, 2006).

Observa-se na OMC uma tendência de enquadrar os serviços ambientais no

rol dos demais serviços, vinculados a bens de consumo tradicionais. Por sua vez,

países em vias de desenvolvimento, ricos em recursos naturais, atuam, no âmbito

da organização, no sentido de vincular o comércio internacional dos bens e serviços

ambientais a objetivos de sustentabilidade (CHARLET, 2009).

Olam (2008) destaca o exemplo do estado do Espírito Santo que está

implementando como estratégia de governo o pagamento por serviços ambientais,

como política pública. Para tanto, instrumentos legais estão sendo criados no intuito

de viabilizar legal e metodologicamente os mecanismos de PSA – Pagamento por

Serviços Ambientais. Um destes instrumentos é a regulamentação da metodologia

dos cálculos destinados ao pagamento pela melhoria da qualidade da água, através

do combate aos processos erosivos na bacia hidrográfica.

O autor explica que a idéia da compensação tem origem nas Ciências

Econômicas e atende ao disposto na Lei Nº. 5.818/98, na qual se estabelece que a

água é um bem dotado de valor econômico (ESPÍRITO SANTO, 1998). Neste caso,

o impacto imediato esperado é a criação de um mercado de serviços ambientais na

vertente dos recursos hídricos, no qual sejam estabelecidos, entre beneficiados e

beneficiários, mecanismos de compra de serviços de recuperação e manutenção de

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áreas estratégicas do ponto de vista hidrológico. O impacto final esperado é a

melhoria das condições hidrológicas da bacia sem que isto signifique perda de renda

para o setor produtivo. Em outras palavras, a prestação de serviços de manutenção

das boas práticas passa a ser encarada como uma atividade econômica secundária,

do mesmo modo que, em uma propriedade dedicada à floricultura, o produtor

aproveita a grande oferta de matéria prima (flores) para a criação de abelhas.

A valoração das águas está relacionada à proteção das bacias hidrográficas.

Neste sentido a floresta se destaca ao oferecer alguns serviços como a regulação do

ciclo hídrico da água, ou seja, a manutenção de vazão durante a temporada da seca

e o controle para minimizar enchentes; a conservação da qualidade da água por

meio da redução de sedimentos carreados; o controle da erosão e assoreamento; a

manutenção dos habitats aquáticos, dentre outros (OLAM, 2008).

Charlet (2005) ressalta, no entanto, que a valoração monetária de bens e

serviços ambientais é necessária para induzir os agentes responsáveis pelos

impactos ambientais a cumprir a legislação vigente. Não basta falar somente em

ética e moral, há necessidade de se cobrar os valores monetários pelos danos

causados. Assim, é preciso quantificá-los. Para que os impactos ambientais sejam

minimizados, são necessários que os custos incorridos sejam muito superiores aos

benefícios obtidos pelos agentes causadores, caso contrário, estes agentes não

terão nenhum motivo para minimizá-los. Para o mesmo autor, muito se discute sobre

a pretensão de valorar bens e serviços ambientais, já que não se pode fazer isso

com bens intangíveis, como a vida humana, paisagens ou benefícios ecológicos de

longo prazo. Porém, os bens e serviços ambientais são valorados todos os

momentos, ao se estabelecer, por exemplo, padrões para construção de estradas,

pontes, etc. Neste caso se valora a vida humana, já que se gasta dinheiro em

construções que salvarão vidas. A realidade é que a sociedade valora o meio

ambiente todos os dias.

Christofaro (2007) coloca que alguns serviços ambientais, como aqueles

proporcionados pela absorção e/ou tratamento de poluentes, que possuem grande

importância na sustentabilidade de processos produtivos, são ainda pouco

contabilizados. Esta ausência está relacionada ao fato de que as atividades

industriais, de uma forma geral, podem gerar seus produtos mesmo sem uma

disposição ou tratamento adequado de seus resíduos.

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Alguns países estão desenvolvendo esquemas de pagamento por serviços

ambientais como política moderna de conservação do meio ambiente e de

desenvolvimento sustentável. É o reconhecimento de que a proteção dos

ecossistemas, essenciais para a produção dos serviços ambientais básicos, não

será alcançada apenas com a criação de instrumentos legais restritivos aos usos da

terra (BOLSA FLORESTA, 2009).

Charlet (2005) afirma que é clara a existência de uma profunda interação

entre os sistemas econômicos e os sistemas naturais de tal forma que os sistemas

econômicos são dependentes dos fundamentos ecológicos e, em última instância,

do sistema global de suporte à vida. Para ele

[...] a iniciativa de valoração deve ocorrer dentro de um referencial mais amplo e estratégico sob a perspectiva da sustentabilidade. Deve-se considerar também que os mais diversos conceitos de sustentabilidade, necessariamente, incluem como foco de suas preocupações, as questões relativas ao meio ambiente e aos recursos naturais (CHARLET, 2005, p.3).

Por outro lado, Charlet (2005) coloca que as sociedades estabelecem

também normas e regras sociais, ou princípios de comportamento que devem ser

seguidos. Ao longo do tempo estas normas devem estar compatibilizadas ou serem

consistentes com as leis naturais que governam a manutenção dos ecossistemas,

ao mesmo tempo em que estes devem ser conservados se a sustentabilidade for

aceita como um objetivo a ser alcançado.

Pelo exposto acima, percebe-se que uma forma de reverter a indiferença do

ser humano em relação à natureza é o pagamento ou compensação por serviços

ambientais que tem como principal objetivo transferir recursos, monetários ou não

monetários, para aqueles que ajudam a conservar ou produzir tais serviços. No Art

1º do Projeto de Lei 00792/2007, mediante a adoção de práticas, técnicas e

sistemas que beneficiem a todos.

Quando se fala em "pagamento por serviços ambientais" é importante

entender o seu significado para quem recebe e para quem paga. Este pagamento

pode ser pensado como uma maneira de envolver os moradores no controle dos

recursos naturais. Neste caso, os moradores recebem um "pagamento contratual"

para um serviço de sensibilização e fiscalização. Outra forma de pensamento

consiste em compensar a perda da competitividade ou da remuneração devido ao

respeito às regras de manejo (custo adicional) ou de proteção (dentro de Unidades

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de Conservação). Também se pode considerar este pagamento como sendo uma

forma de recompensa aos usuários que adotem voluntariamente regras ou práticas

dedicadas a manter os serviços ambientais (BOLSA FLORESTA, 2009).

Charlet (2005) ressalta que quem deveria receber este pagamento é quem faz

o esforço de manter os serviços ambientais, seja morador, uma empresa usuária ou

o próprio poder público. Os pagadores estão diretamente vinculados a quem recebe

os benefícios dos serviços ambientais. Os serviços ambientais são usufruídos por

todos. Portanto, para o autor, parece lógico que todos contribuam financeiramente

para remunerar os que se esforçam para manter estes serviços.

Qualquer decisão quanto ao uso dos recursos naturais e os serviços

ambientais disponíveis no meio ambiente envolvem estimativas de valor, mesmo

quando valores monetários não são utilizados. Sendo assim, ciente de que nem tudo

pode ser salvo e mantido intacto, é essencial optar por formas de intervenção que

tenham a melhor relação custo/benefício. Neste ponto é que a valoração econômica

de bens e serviços ambientais pode prestar um relevante papel (BOLSA

FLORESTA, 2009).

2.4 Métodos de valoração dos serviços ambientais

Alguns métodos são utilizados para se estimar valor econômico de bens e

serviços ambientais e várias são as propostas de classificá-los. Hufschmidt (1983)

faz suas divisões de acordo com o fato do método utilizar preços provenientes: i) de

mercados reais; ii) de mercados substitutos; ou iii) mercados hipotéticos. Já Pearce

(1993), observando a metodologia em uso corrente na economia ambiental, afirma

que existem quatro grandes grupos de técnicas de valoração econômica

desenvolvidos a um nível sofisticado. Já Hanley e Spash (1993) os agrupam da

seguinte maneira: i) forma direta e ii) forma indireta. Nogueira et al. (1998)

comparam e analisam essas diferentes classificações, buscando compatibilizá-las.

O Método de Valoração Contingente (MVC), utilizado neste trabalho, é

comum a todas essas classificações. A idéia básica do MVC é que as pessoas têm

diferentes graus de preferência ou gostos por diferentes bens ou serviços e isto se

manifesta quando elas vão ao mercado e pagam quantias específicas por eles. Isto

é, ao adquiri-los, elas expressam sua disposição a pagar (DAP) por esses bens ou

serviços. Este método busca exatamente extrair a DAP de uma amostra de

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consumidores por uma mudança no nível do fluxo do serviço ambiental através de

questionamento direto, supondo um mercado hipotético cuidadosamente

estruturado. O MVC foi originalmente proposto em 1963 num artigo escrito por R.

Davis. Durante os anos 1970 e 1980, houve um grande desenvolvimento da técnica

a nível teórico e empírico tornando-a bastante utilizada pelos economistas,

(HANLEY E SPASH, 1993).

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3 O ENSINO DE GEOGRAFIA E A GESTAO DAS AGUAS URBANA S

Compreender o modo como o ser humano se relaciona com a natureza é um

passo decisivo para desvendar e interpretar as transformações geradoras da

degradação dos recursos hídricos decorrentes do processo de urbanização. No que

se refere à gestão das águas, Galindo (2008), destaca a necessidade de articular-se

ao processo de planejamento local, conjugando os instrumentos de gerenciamento

com os de planejamento urbano, de modo a incorporar os aspectos sociais,

políticos, econômicos ambientais do processo de construção e gestão do espaço.

A Geografia como ciência tem como objeto de estudo o espaço geográfico,

compreendido como socialmente elaborado, ou seja, fruto da interação constante

entre o homem, organizado socialmente, e o meio natural. Considerando-se o papel

da escola, de fornecer ao aluno às bases necessárias a real constituição de sua

cidadania, entende-se como dos mais relevantes o compromisso da Geografia neste

novo paradigma, notadamente pelos temas e assuntos intrínsecos a esta ciência.

Neste capítulo serão abordadas as características da gestão das águas

urbanas, bem como a problemática ocasionada pela falta deste instrumento nestes

ambientes. O capítulo finaliza com a contribuição do ensino de Geografia para a

construção de novos pensamentos os quais vinculem o aluno afetivamente ao

ambiente urbano, tema de suma importância no trabalho de construção da cidadania

discente.

3.1 Gestão das águas e planejamento urbano

Segundo Prette (2002), embora o Brasil seja um país privilegiado quanto aos

recursos hídricos, às formas diferenciadas de apropriação e suas conseqüências

tornam o país um laboratório de problemas.

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Quais são esses limites e quais as condições possíveis de se encaminhar

institucionalmente uma gestão dos usos múltiplos dos mananciais constitui um

desafio tanto para a administração pública, quanto para as organizações civis. O

cerne da questão consiste em saber como garantir multiplicidade de usos com

prioridade para o abastecimento público, quando a degradação dos recursos

hídricos tem chegado a um ponto crítico, cuja origem é eminentemente social. O

autor salienta que

[...] o maior desafio para a gestão de recursos hídricos consiste em aproximar questão ambiental e questão social. Não é possível isolar os aspectos naturais das questões ambientais em um debate sério sobre as condições de desenvolvimento social e econômico e de um ordenamento institucional justo (PRETTE, 2002, p.148).

No que se refere ao processo de planejamento e gestão urbana, as cidades

brasileiras estão vivendo um momento crucial, o Estatuto das Cidades, ao

determinar que os municípios elaborem planos diretores, possibilitou não apenas a

regulação dos processos espaciais e do desenvolvimento urbano, mas a busca de

soluções para os principais problemas que afligem a maioria dos municípios,

principalmente no que se refere à degradação ambiental (GALINDO, 2006; POLEZA

E POMPEO, 2007). Afinal, mais do que uma lei municipal, o Plano Diretor é o

principal instrumento de Reforma Urbana, pois nele estão estabelecidos os meios

pelos quais o município fará cumprir as funções sociais da cidade, que,

necessariamente, remetem à proteção dos recursos naturais (MAGLIO, 2007).

A legislação de proteção a mananciais, aprovada na maioria dos estados

brasileiros, protege a bacia hidrográfica utilizada para abastecimento das cidades.

Nestas áreas, é proibido o uso do solo urbano que possa comprometer a qualidade

da água utilizada para o abastecimento. Segundo Tucci (2005), ao se declarar de

utilidade pública a bacia hidrográfica do manancial deveria ser adquirida pelo Poder

Público. O autor sugere também, para a propriedade na qual a bacia está inserida, a

atribuição de um mercado indireto para a área, ou seja, poderiam ser

implementadas, além disto, outros benefícios para os proprietários para compensar

a proibição pelo seu uso e incentivá-los a preservá-la. Conforme o autor, a gestão

das ações dentro do ambiente urbano pode ser definida de acordo com a relação de

dependência da água através da bacia hidrográfica ou da jurisdição administrativa

do município, do Estado ou da nação. A gestão dos recursos hídricos tem sido

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realizada através da bacia hidrográfica, no entanto a gestão do uso do solo é

realizada pelo município ou grupo de municípios numa Região Metropolitana. A

gestão pode ser realizada de acordo com a definição do espaço geográfico externo

e interno à cidade.

Conforme Prette (2002), na última década do século XX, houve uma grande

mudança institucional na gestão de recursos hídricos no Brasil. Iniciada com a

Constituição de 1988 e estimulada por entidades da sociedade civil, a gestão de

recursos hídricos cria um sistema próprio para tratar do grave problema da escassez

da água. O autor coloca que a Constituição de 1988, ao considerar um capítulo

exclusivo sobre meio ambiente, estabeleceu um novo tratamento para a questão

ambiental. Condicionou, portanto, estados e municípios a adotarem procedimentos

semelhantes, cujas constituições e leis orgânicas passaram criar sistemas de gestão

e respectivos conselhos. Nesse processo, dois sistemas passaram a convergir: o

Sistema Nacional de Meio Ambiente, conforme a Política Nacional do Meio Ambiente

(Lei nº 9.433 de 08.01.1997), e o Sistema Nacional de Recursos Hídricos. Segundo

Prette a Política Nacional dos Recursos Hídricos estabelece, entre seus

instrumentos, o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos

preponderantes, a outorga dos direitos de uso, a cobrança pelo uso, a compensação

aos municípios e o sistema de informações sobre recursos hídricos. Além disso, uma

integração participativa, com a constituição de Conselhos Nacional e Estaduais, bem

como de Comitês de Bacias Hidrográficas compostos por entidades públicas,

institutos de ensino superior, de pesquisa e desenvolvimento tecnológico, e

entidades civis, além de usuários das águas representados por entidades

associativas, associações especializadas em recursos hídricos, entidades de classe,

associações comunitárias e outras associações não governamentais.

3.2 As águas urbanas: características e problemas

Ao mesmo tempo em que a as áreas urbanas crescem de maneira

desordenada, a natureza destes locais sofre com a intensa ocupação. Rodrigues

(1989) destaca que a maior parte das favelas estão localizadas em terras públicas,

da União, estado ou município. Em geral as ocupações ocorrem nas chamadas

áreas “verdes”. Pela legislação em vigor os lotadores são obrigados a deixar 15% da

gleba total para serem utilizadas como áreas verdes. Em geral estas áreas é que

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são ocupadas pelos favelados. Na maior parte das vezes são os locais de maior

declividade ou próximas aos mananciais, também os mais insalubres, o que também

explica o porquê das favelas ocuparem as “piores” terras. O autor também enfatiza

que este fator faz com que muitas vezes o morador não tenha uma boa relação com

a natureza, em face da falta de recursos e do baixo nível de instrução, fazendo com

que desconheçam a importância dos serviços ambientais que estes ecossistemas

realizam. Não significa que pessoas que residem em lugares nobres não poluam o

ambiente, mas sim que as possibilidades de ocupação e de saneamento são

diferentes.

A figura 1 ilustra de forma reduzida o ciclo de contaminação das águas

urbanas. Com o aumento da urbanização, a água utilizada nas cidades retorna aos

rios contaminada. A conseqüência da expansão sem uma visão ambiental é a

deterioração dos mananciais e a redução da cobertura de água segura para a

população (TUCCI, 2009).

Figura 1: Ciclo da contaminação Fonte: Tucci, 2009.

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Conforme Maricato (2001), as águas urbanas têm sido tradicionalmente

usadas para atender o abastecimento público. Entendidas como um recurso mineral,

elas são armazenadas, utilizadas e descartadas no curso de água mais próximo a

jusante. Os autores afirmam que a água, sendo avaliada como mercadoria e não

como um ecossistema, induz para um quadro impactante de difícil reabilitação.

De acordo com Tucci (2009), os volumes de esgotos e de lixos retratam

problemas críticos no mundo inteiro, principalmente nos países em desenvolvimento.

No Brasil, todo tipo de substância é jogada nas correntes dos rios e nas redes de

esgoto. Isto altera a composição da água e a qualidade dos mananciais que

abastecem as cidades. O autor coloca que o abastecimento de água de fontes

seguras e a coleta de esgoto, com despejo a jusante (sem tratamento) do manancial

da cidade, tiveram como finalidade evitar doenças e seus efeitos, mas acabaram

transferindo os impactos para mais adiante do ponto de lançamento. Essa fase é

chamada de higienista. O crescimento urbano no século XX se acelerou depois da

Segunda Guerra Mundial. Esse processo foi seguido da urbanização acelerada,

levando uma alta parcela da população para as cidades, resultando em colapso do

ambiente urbano em razão dos efluentes sem tratamento. Para o autor, o Brasil

infelizmente está ainda na fase higienista em razão da falta de tratamento de esgoto,

transferência de inundação na drenagem e falta de controle dos resíduos sólidos.

A situação tem-se agravado em função da crescente impermeabilização do

solo, como também da imprevidente ocupação urbana, muitas vezes relacionada a

canalizações de córregos. Os autores mencionam, que todas as atividades

relacionadas com o uso e ocupação do solo, bem como o uso e controle dos

recursos hídricos de uma bacia, são vinculadas pelo movimento da água, através de

seu território.

Segundo Godin Filho e Medeiros (2004), os efeitos do processo

desenvolvimento urbano refletem sobre toda a infra-estrutura urbana, em particular

sobre aquela relativa a recursos hídricos, gerando impactos de naturezas diversas

(sociais, econômicos e ambientais) em função do inadequado gerenciamento da

água. Dentre os problemas mais comuns em áreas urbanas pode se destacar as

inundações, figura. 2.

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Figura 2 – Enchentes urbanas Fonte: SWITCH, 2009.

Rodrigues (1989) coloca que a “cidade é lugar da modernidade, do progresso

da artificialidade, e os rios, muitas vezes, não são vistos como um elemento

integrado na sua planta”. Exclui-se a idéia cultural da cidade. A “não-existência”

dessa visão ecológica é também uma representação social e acaba justificando,

entre outras coisas, práticas do Poder Público de canalização dos rios, aterramento

de áreas alagadas, retirando as águas das vistas da sociedade, sem encontrar

resistência.

O posicionamento correto do individuo frente à questão ambiental dependerá

da sua sensibilidade e consequente interiorização de conceitos e valores, os quais

devem ser trabalhados de forma gradativa e contínua (Guimarães, 1995). Na busca

de alternativas, apoiadas na prática de uma educação orientadora para a resolução

dos problemas concretos embasados pela natureza, o ensino de geografia possui

um enfoque interdisciplinar e uma participação ativa de cada indivíduo e da

coletividade. A seguir, será abordado o ensino de Geografia e a importância do

espaço de vivência dos alunos para a construção da consciência ambiental.

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3.3 O ensino de Geografia e sua contribuição

De acordo com Noronha (1997, p.37) a urbanização das grandes cidades

parece ser o elemento de maior influência no processo de degradação dos arroios,

“esse fenômeno tomou impulso a partir do século XX, o crescimento dos grandes

centros urbanos gerou subúrbios, que são os bairros que surgem e se desenvolvem

na periferia urbana ao longo das grandes vias de circulação.” A degradação dos

arroios urbanos é uma situação presente no cotidiano dos alunos moradores destas

localidades. Devendo ser trabalhado de forma concreta e elucidativa, partindo da

realidade, a fim de significar algo representativo em suas vidas.

A Geografia é uma ciência humana. Logo o aluno e a sociedade em que vive.

O seu ensino não pode ser algo alheio, distante, desligado da realidade. Não pode

ser um amontoado de assuntos, de temas soltos, sempre defasados ou de difícil

compreensão. Não pode ser feita apenas de descrições de lugares distantes ou de

fragmentos do espaço. A geografia que o aluno estuda deve permitir a ele se

perceber como participante do espaço estudado, onde os fenômenos que ali

ocorrem resultam da vida e do trabalho dos homens inseridos num processo de

desenvolvimento (VESENTINI, 1992).

O ensino de geografia deve possibilitar aos alunos o entendimento dos

contrastes presentes na realidade local, regional e global, compreendendo que os

arranjos espaciais são resultantes das atividades humanas, são construções sociais

que tem como base a natureza. Ao referir-se a capacidade de compreender o que o

espaço geográfico representa para um povo, Guimarães (1995) menciona que essa

compreensão passa necessariamente antes pelo entendimento da lógica que existe

no lugar, no qual vivemos. O autor adverte que não é o lugar em si que importa

compreender, e sim, como as forças ali existentes estabelecem o jogo que vai

permitir o resultado da complexidade da vida social. São forças decorrentes da ação

humana sobre a natureza, das relações humanas entre si, das dimensões

econômicas, sociais, políticas e culturais.

Para Azambuja (1994), a Geografia não deve se reduzir a concepções

tradicionalmente difundidas nas escolas, onde é proporcionado um acúmulo de

informações sobre os lugares, conteúdos memorizados e fragmentados, tanto nos

aspectos da natureza, quanto nos aspectos da sociedade.

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Paiva (2001) coloca que o espaço da escola não se configura apenas como o

local da reprodução das ideologias das classes dominantes, a fim de prosseguirem

com a dualidade dos dominados e dominadores, através do repasse exagerado de

informações alheias ao mundo experimentado pelo aluno. O autor acredita, que ela

possa se reverter numa ferramenta extremamente capaz de despertar neste aluno a

capacidade de agir criticamente sobre seu cotidiano. O ensino de geografia deve

desempenhar um papel estimulador, na busca pela cidadania para proteção das

águas urbanas e para a valoração dos serviços ambientais que os protegem.

A cidadania, sem dúvida, se aprende. É assim que ela se torna um estado de

espírito, enraizado na cultura. É, talvez, neste sentido que se costuma dizer que a

liberdade não é uma dádiva, mas uma conquista, a ser mantida. Ameaçada por um

cotidiano implacável, não basta à cidadania ser um estado de espírito ou uma

declaração de intenções. Ela tem seu corpo e seus limites, como uma situação

social, jurídica e política (SANTOS, 1987).

Entre os trabalhos desenvolvidos pela Geografia, pode-se destacar a Análise

ambiental da bacia hidrográfica do Arroio Kruze – região metropolitana de Porto

Alegre, elaborado pela mestranda Adriana Penteado da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul em 2006. O Arroio Kruze fica localizado entre os municípios de

Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo Hamburgo. O trabalho teve como enfoque o

estudo da bacia hidrográfica, onde foi feito um levantamento geológico e

geomorfológico; análise do processo de urbanização; e a elaboração de mapas

representando as diferentes formas do relevo. Através desta análise, constatou-se

que os problemas mais significativos são as ocupações irregulares, a poluição

hídrica, a erosão, o assoreamento e a destruição dos banhados.

A partir deste trabalho, foram elaboradas algumas propostas, tendo como

enfoque parâmetros ambientais, exemplos: a importância de se considerar o

perímetro rural, em relação a questões como a preservação de mananciais e a

destinação do lixo doméstico; o controle do adensamento urbano, evitando o

aumento da impermeabilização do solo, estipulando taxa máxima de construção de

calçadas.

Em relação ao ensino, recebe destaque o trabalho realizado pela professora

de Geografia da Escola Municipal de Ensino Fundamental Castro Alves em Santa

Maria, RS. A escola insere-se na bacia hidrográfica do Arroio Cadena, a qual

apresenta graves problemas socioambientais. O objetivo foi investigar como o grupo

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de alunos percebe e interpreta a situação ambiental no lugar onde vivem. Buscou-se

com este trabalho, construir práticas pedagógicas que entrelacem conhecimento

geográfico e conhecimento do meio ambiente. Estas práticas pedagógicas foram

desenvolvidas através de problematizações, observação direta, registros

fotográficos, descrição, visando possibilitar aos alunos outra forma de conhecer e

pensar a dimensão social e humana, sobretudo que eles possam intervir na

realidade na qual se inserem.

A preocupação com a problemática das águas urbanas também recebe

destaque nas aulas da Escola Municipal de Ensino Fundamental Madre Felicidade,

localizada em Garibaldi, RS. Nas aulas de Geografia além de se trabalhar a

hidrografia do Rio Grande do Sul, também foi feita uma pesquisa á respeito do

Arroio Marrecão, localizado na cidade. Os alunos puderam vivenciar e constatar a

degradação do arroio. Embora este fique a duas quadras da escola, alguns alunos

nunca haviam ido até o lugar. Esta metodologia buscou analisar os problemas da

vida cotidiana unindo teoria e prática, portanto, valorizando as experiências dos

alunos e permitindo que sejam elaboradas compreensões novas e mais complexas

sobre a sua realidade, bem como, a identificação dos diversos elementos que

caracterizam a relação sociedade/natureza.

O ensino de Geografia contribui de maneira significativa na construção do

conhecimento ambiental, através da leitura do espaço vivido relacionado com outros

espaços, pois uma das mais importantes dimensões da problemática ambiental é

sua manifestação espacial. Através desses exemplos, é possível constatar o quanto

se pode trabalhar de forma dinâmica e lúdica os conteúdos relacionados à natureza,

em especial as águas urbanas.

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4 A VALORAÇÃO DOS ARROIOS URBANOS: ESTUDO DE CASO

Os arroios, além de fonte de água para abastecimento, são responsáveis pela

manutenção de importantes ecossistemas. Com a poluição e a contaminação dos

arroios, além da destruição da biodiversidade local, as pessoas deixam de usufruir

da funcionalidade desses mananciais, o conforto térmico, o lazer, a paisagem, entre

outros. Além da poluição, os riscos à saúde são eminentes. A valorização dos

arroios e dos seus ecossistemas são um bem comum e essencial à cidade

(HABITANTES DO ARROIO, 2009).

Os arroios da bacia hidrográfica do Rio dos Sinos foram contemplados pelo

Projeto Monalisa, assinado entre a Universidade do Vale do Rio dos Sinos e a

Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA), em 2004. A finalidade era avaliar a

saúde dos rios secundários, arroios e córregos da região, além do próprio Rio dos

Sinos. A análise foi feita a partir dos impactos ambientais gerados pelos seres

humanos. Através desse levantamento foi possível identificar os principais agentes

poluidores da bacia. O primeiro apontamento foi o esgoto doméstico e o segundo foi

a retirada da mata ciliar (Comitê Sinos, 2007).

O Arroio José Joaquim, faz parte da Bacia-hidrográfica do Rio dos Sinos e

encontra-se na mesma problemática da situação diagnosticada pelo Projeto

Monalisa (2007). No presente estudo de caso a proposta foi estimar o quanto as

comunidades próximas valoram este arroio e os serviços ambientais prestados por

este ecossistema. Para tanto, foi adotado o método de valoração contingente, o qual

propiciou o levantamento dos dados necessários para que esta pesquisa pudesse

ser realizada.

Neste capítulo é apresentado o estudo de caso, bem como a localização e

caracterização geral. A pesquisa foi complementada com fotos dos locais. Será

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abordado o método utilizado para a pesquisa e o questionário utilizado para a

realização das pesquisas.

4.1 O Arroio José Joaquim: localização e caracteriz ação geral

O Arroio José Joaquim localiza-se na cidade de Sapucaia do Sul, Rio Grande

do Sul, Brasil (figura 3). Conforme FEPAM (1996) este arroio e seus afluentes Arroio

São Jorge e Arroio das Lages formam uma das sub-bacias do Rio dos Sinos.

A maior parte da zona urbana de Sapucaia do Sul encontra-se localizada

nesta sub-bacia. Este fato resulta na alteração significativa da qualidade

dos cursos de água que drenam a área e na degradação da cobertura vegetal. As

atividades industriais são intensas nesta sub-bacia, havendo ainda algumas

atividades voltadas à agropecuária.

Figura 3 – Recorte do mapa da bacia do Rio dos Sinos, em destaque o Arroio José Joaquim. Fonte: Monalisa, 2007.

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Segundo FEPAM (1996), a sub-bacia do Arroio José Joaquim contribui

diretamente ao Rio dos Sinos, compreendendo uma área de 40,28 km²,

apresentando relevo ondulado bastante acidentado a leste e suave ondulado aplano

a oeste. A drenagem é realizada por diversos arroios formadores do Arroio José

Joaquim, que percorre o sentido leste-oeste e deságua diretamente no Rio dos

Sinos. Como colocado anteriormente, a maior parte da zona urbana de Sapucaia do

Sul encontra-se nesta sub-bacia. Este fato resulta na alteração significativa da

qualidade das águas e dos cursos que drenam a área e na degradação da cobertura

vegetal.

O Arroio José Joaquim tem sua nascente na zona rural de Sapucaia do Sul. A

partir das observações feitas in loco, nas saídas de campo de maio a junho de 2009

pode-se se constatar um grau elevado de degradação do Arroio. A ocupação

irregular por comunidades ribeirinhas (figura 4) e a falta de saneamento básico

agrava o problema, aumentando o risco de doenças causadas pela falta de

infraestrutura.

Figura 4 – Ocupação irregular / Bairro Colonial; data 07/06/2009

Os elementos poluidores mais comuns são o lixo e o esgoto doméstico (figura

5), que quando não são levados pelas chuvas são despejados diretamente no arroio.

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Os riscos à saúde são muitos: ratos, baratas, mosquitos e animais domésticos se

alimentam do lixo, ajudando a proliferar a contaminação pelas comunidades

vizinhas. Conforme relatado pelo morador Gilnei (31 anos) em entrevista realizada

na data de 08/05/2009, as inundações freqüentes além do risco de vida eminente,

trazem consigo o lixo existente no arroio para dentro das suas casas.

Figura 5 - Lixo e esgoto doméstico / Bairro Piratini; data 07/06/2009

Conforme Monalisa (2007) existe outros impactos comuns na região que

acabam interferindo na proteção dos serviços ambientais da bacia hidrográfica. Um

exemplo é a mata ciliar, que inibe a erosão e a contaminação das águas do arroio,

além de evitar que vetores naturais migrem para áreas populacionais. O

descumprimento com a legislação é evidente, muitos locais encontram-se com

pouca ou nenhuma mata ciliar (figura 6). O Arroio José Joaquim vem sendo

desvalorizado e por conseqüência disso, a água registra a falta dos serviços

ambientais responsáveis por sua proteção.

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Figura 6 – Degradação da mata ciliar – Bairro Cohab; data 07/06/2009

O leito do arroio estudado, conforme depoimentos foi completamente alterado

nos últimos anos. Tania Evanir Hendler (47 anos), moradora do bairro Colonial relata

que há 40 anos, quando já morava no bairro, o Arroio José Joaquim não era ainda

tão poluído como hoje. Sua filha lembra que brincava nas águas do arroio e que isso

era uma diversão. Perto de onde morava tinha até uma “pinguela” por onde

atravessavam os trabalhadores da Siderúrgica Gerdau. Naquela época pessoas já

tocavam lixo no arroio e também não havia encanamento nas ruas e o esgoto a céu

aberto já era lançado dentro dele. Hoje o arroio passa um pouco mais longe de sua

casa, causando muitos transtornos devido à poluição e aos alagamentos nos dias de

chuvas fortes.

4.2 O Método de valoração ambiental adotado

O município de Sapucaia do Sul, como o resto da região metropolitana de

Porto Alegre vem experimentando a forte expansão urbana, agravando as

demandas de infraestrutura e os problemas ambientais a ela associados. A

urbanização acelerada vem causando distúrbios ambientais de forma acentuada nos

últimos anos. Segundo Monalisa (2009), estudos recentes evidenciaram a

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degradação de vários habitats existentes ao longo do Rio dos Sinos e dos arroios da

região. Neste sentido, o Arroio José Joaquim vem sofrendo, ao longo deste

processo, as conseqüências da poluição causada pelo crescimento desordenado e

acelerado da cidade de Sapucaia do Sul. Juntamente com isso, a falta de

planejamento e de educação faz com que a situação atual esteja muito agravada,

despertando, assim, o interesse em saber o quanto as comunidades envolvidas

valoram o Arroio José Joaquim e os serviços ambientais oferecidos por ele. Esta

pesquisa indicará a necessidade em se melhorar ou implementar, futuramente,

políticas públicas nestas comunidades. Mas, sobretudo, indicará aos educadores e,

em especial, aos de Geografia a necessidade de relacionar os conteúdos as

questões ambientais. A construção do saber relacionado com as questões da

natureza é fundamental para superar as formas tradicionais de ensinar, ainda

bastante enraizadas no processo de ensino-aprendizagem.

O método de Valoração Contingente foi escolhido para a elaboração desta

pesquisa, por ter sido considerado a principal ferramenta analítica para estimar o

valor de “bens e serviços” ambientais que não apresentam um valor no mercado.

Este método, conforme Motta (1998), consiste basicamente no estabelecimento de

um mercado hipotético, em que os indivíduos são questionados sobre as suas

preferências por um determinado "bem ou serviço" ambiental e sua "Disposição a

Pagar" (DaP) ou sua "Disposição a Aceitar" (DaA) uma compensação pelo aumento

ou decréscimo na qualidade ou quantidade do "bem ou serviço" ofertado.

Foi aplicado um questionário com sete perguntas a trinta pessoas residentes

próximas ao Arroio José Joaquim. A finalidade era conferir, o quanto a comunidade

próxima do Arroio José Joaquim valora os serviços ambientais prestados por este

ecossistema. O método foi adaptado. Assim, o entrevistado ao invés de colocar sua

disposição a pagar, teve que atribuir valores em uma escala de 0 a 5 aos elementos

relacionados. Os dados obtidos a partir dos questionários foram analisados e,

posteriormente discutidos. Para ilustrar algumas destas informações, foram

elaborados gráficos, através do programa Excel 2006. Na figura 7, tem-se o modelo

do questionário aplicado.

Conforme recomendado por Motta (1998), as entrevistas serão pessoais e

será mantida fielmente a compreensão da pergunta e da resposta. De acordo com o

recomendado, foram realizadas pesquisas domiciliares (maio de 2009) nos bairros

Cohab, Colonial e Piratini de modo que este morador tenha vinculo direto com o

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Arroio José Joaquim.

PESQUISA

Idade:............... Sexo: M( ) F ( ) Profissão:................................

1. Dos itens abaixo escolha aqueles que voe considere mais importante para a qualidade de vida da sua comunidade: ( ) Praças públicas ( ) Vegetação nativa ( ) Escolas ( ) Arroios ( ) Postos de saúde ( ) Fauna nativa ( ) Outros................................................. Selecione três dos escolhidos e enumere por ordem de importância: 1º ............................................ 2º............................................. 3º............................................. 2. Marque os problemas ambientais que você considere mais preocupante para a sua comunidade: ( ) Poluição do ar ( ) Poluição dos arroios ( ) Destruição das matas ( ) Esgoto não tratado ( ) Proliferação de pragas ( ) Acúmulo de lixo ( )Enchentes ( ) Outros.............................. Selecione três dos escolhidos e enumere por ordem de importância: 1º.......................................... 2º.......................................... 3º.......................................... 3.Para você, os problemas assinalados são de responsabilidade: ( ) Da Prefeitura Municipal ( ) Do Governo Estadual ( ) Do Governo Federal ( ) De todos 4. Os itens abaixo representam elementos que se destacam na paisagem local. Em uma escala de 0 á 5 qual o valor que você atribui a cada um deles? ( ) Árvores ( ) Solo ( ) Praças ( ) Arroio ( ) Ginásio de esportes ( ) Igreja ( ) Pavimentação das ruas 5. Em sua opinião, para melhorar a qualidade das águas dos arroios de seu município o que será preciso fazer? ( ) controlar a erosão ( ) proteção das nascentes ( ) tratar esgoto doméstico ( ) preservar as matas ( ) controlar a deposição de lixo

Figura 7: Questionário para entrevistas

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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Tuan (1980) ressalta que, a base para estudos e pesquisas em percepção

ambiental se fundamenta no entendimento da vivência dos seres humanos com seu

ambiente. Para o autor a percepção é tanto a resposta dos sentimentos aos

estímulos externos, como a atividade voluntária, na qual certos fenômenos são

claramente registrados, enquanto outros retrocedem para a “sombra” ou são

bloqueados.

Baseando-se neste conceito, foram analisadas as respostas obtidas a partir

do questionário aplicado na comunidade local. Estes resultados foram tabulados e

discutidos no presente capítulo. Na discussão dos resultados, se teve de considerar

as limitações da pesquisa realizada. Contudo, esta possibilitou, certo entendimento

sobre o que pensam os entrevistados com relação à temática das águas urbanas e a

valoração dos serviços ambientais.

5.1 Análise dos resultados

A questão número 1 aborda a percepção do morador a respeito do lugar onde

mora, aquilo que considera mais ou menos importante para qualidade de vida da

sua comunidade. Verificou-se que a maioria das pessoas considera os elementos

antrópicos como prioritários para a qualidade de vida da comunidade. Em primeiro

lugar, 27 pessoas escolheram os postos de saúde. Em segundo, 25 pessoas

optaram por colocar as escolas. Em terceiro lugar, 14 pessoas escolheram os

arroios (figura 8).

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Figura 8: Gráfico da importância para a qualidade de vida da comunidade

A questão número 2 menciona alguns problemas ambientais e o entrevistado

teve que considerar aqueles presentes na realidade local. A poluição dos arroios

preocupa a comunidade, escolhida por 28 pessoas ficou em 1º lugar. Em segundo

lugar, 23 pessoas escolheram o esgoto não tratado. Em terceiro lugar, 17 pessoas

escolheram o acúmulo de lixo (figura 9).

Figura 9: Problemas ambientais mais preocupantes para a comunidade

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Na questão número 3 o entrevistado deveria colocar a quem ele deposita a

responsabilidade dos problemas ambientais da localidade. A maioria dos

entrevistados, 12 pessoas responsabilizaram a Prefeitura Municipal, 9 pessoas

colocaram que a responsabilidade é de todos, 7 pessoas relacionaram à

comunidade local e 2 pessoas ao Governo Estadual (figura 10).

Figura 10: Responsabilidade pelos problemas ambientais

A questão número 4 apresenta alguns elementos os quais o entrevistado

deverá atribuir valores em uma escala de 0 a 5 para cada um deles. A partir dessa

questão será possível verificar a visão dos moradores em relação ao Arroio José

Joaquim (figura 11).

Tabela da Valoração dos itens da questão 4

Ítens

Valor Árvores Solo Praças Arroio Ginásio de esportes Pavimentação das ruas

0 0 0 4 0 0

1 0 10 11 7 0

2 0 0 0 5 0 9

3 1 14 5 7 6 8

4 18 6 8 3 9 4

5 11 10 7 0 8 10 Figura 11: Tabela de valoração

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Com relação à tabela, pode-se afirmar que os itens árvores, solo e

pavimentação das ruas tiveram os valores mais altos. No item árvores, 11 pessoas

deram nota 5, 18 deram nota 4 e 1 pessoa deu nota 3, totalizando 131. Para o solo

10 pessoas deram nota 5, 6 pessoas deram nota 4 e 14 deram nota 3, totalizando

116. A pavimentação das ruas 10 pessoas deram nota 5, 4 deram nota 4, 8 deram

nota 3 e 9 deram nota 2, totalizando 108.

O item arroio ficou com a menor nota, 3 pessoas deram nota 4, 7 pessoas

deram nota 3, 5 pessoas deram nota 2, 11 pessoas deram 1 e 4 pessoas deram

nota 0, totalizando 54.

5.2 Discussão dos resultados

A questão número 1 que aborda a percepção do morador a respeito do lugar

onde mora, demonstra em primeiro lugar a fragilidade dos serviços públicos, que é

precário na maioria das cidades. O item postos de saúde ficou em primeiro lugar.

Verificou-se que a maioria dos entrevistados considera os elementos antrópicos

como prioritários para a qualidade de vida da comunidade. Os arroios aparecem em

terceiro lugar na pesquisa. Os entrevistados enxergam o arroio de forma negativa.

Colocam-no em terceiro lugar pelo transtorno que o mesmo causa em suas vidas, o

mau cheiro, as inundações, os insetos, não por entenderem sua funcionalidade no

ambiente local.

A questão número 2 menciona os problemas ambientais presentes nesta

realidade. Em primeiro lugar, a poluição dos arroios incomoda e preocupa os

entrevistados. O Arroio José Joaquim como mostrado neste trabalho está

extremamente degradado. Mas infelizmente, as pessoas não relacionam a atual

situação do Arroio à falta de cuidados com águas urbanas, sofrem com as

conseqüências do mau uso, mas não sabem o que podem fazer para reverter tal

situação. O segundo e o terceiro lugar também têm haver com a poluição do Arroio.

Mesmo os entrevistados que não moram às margens do Arroio reclamaram da atual

situação, acreditam que a solução seria cobri-lo. Desconhecem a funcionalidade dos

arroios e os serviços ambientais que o mesmo oferece.

Na questão em que os moradores atribuíram valores aos elementos foi

possível verificar que o Arroio realmente é um empecilho na vida da comunidade.

Com relação aos itens avaliados o arroio ficou em último lugar.

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A partir destes resultados, verificou-se que a maior parte dos entrevistados

demonstrou ter uma visão restrita do significado dos arroios e dos serviços

ambientais. Isto é revelado na figura 9 onde se constata que a maioria não considera

o arroio como algo importante nas suas vidas. Os resultados revelaram, ainda, que

os entrevistados se preocupam com elementos da natureza, como árvores e o solo.

O tratamento dado ao Arroio José Joaquim pela comunidade evidencia que

não reconhecem a importância da sua preservação. Isto não é da responsabilidade

exclusiva dos moradores. A administração pública, através de instrumentos como o

Plano Diretor e Planos de Bacias, construídos em conjunto com a sociedade deve

investir em ações que revertam este quadro.

O estudo de caso demonstrou que os entrevistados reconhecem a

necessidade de preservar as águas urbanas, e destacam o papel do município neste

processo. Entretanto, pouco se faz menção à forma de preservação dos recursos

hídricos. Os moradores não reconhecem seu papel na proteção das águas, mas

colocam que o problema da degradação do Arroio tem relação direta com a

precariedade dos serviços de saneamento.

Os dados mostraram a vulnerabilidade dos recursos hídricos nos ambientes

urbanos e que os moradores desconhecem a funcionalidade dos arroios e os

serviços ambientais que os protegem. É neste sentido, que o ensino de Geografia é

uma alternativa para a resolução dos problemas relacionados aos ambientes

urbanos, através do enfoque capaz de trabalhar a relação o aluno com o ambiente

que o cerca.

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6 CONCLUSÃO

Godim Filho e Medeiros (2004) destacam que os efeitos do processo de

urbanização estão refletidos sobre toda a infraestrutura urbana, especialmente sobre

os recursos hídricos. Neste contexto, a gestão das águas depende também do

ordenamento territorial urbano. Sendo assim, é de crucial importância que os

diferentes atores sociais, ou seja, usuários da água, administradores públicos e

população se articulem, para conjugar os instrumentos de gerenciamento hídrico

com os de planejamento urbano. A sustentabilidade ambiental urbana depende,

pois, da efetiva participação de todos. Neste particular, o ensino da dinâmica

espacial proporcionado pela Geografia é fundamental.

O presente trabalho iniciou a sua abordagem através da reflexão teórica do

conceito de natureza. Assim, foi possível confrontar as diferentes concepções entre

várias culturas ao longo da história. A ruptura entre sociedade e natureza foi bem

colocada por ODUM (1981, p.1), quando o autor colocou que “com o passar dos

tempos o ser humano passou a priorizar aspectos os quais lhe desvinculam da

natureza, que o fazem muitas vezes, esquecer que faz parte dela”. Esta suposta

supremacia humana em relação ao meio ambiente é fator que se reflete na atual

crise da natureza.

A avaliação do conceito de serviços ambientais foi muito útil para comprovar a

importância dos ecossistemas naturais para a manutenção da qualidade de vida

humana. A escassez destes serviços pode inviabilizar as atividades econômicas,

conforme foi possível comprovar. A valoração econômica, de outra parte, pode ser

um instrumento eficaz para compatibilizar a proteção da natureza com o

desenvolvimento econômico pautado na sustentabilidade. Para tal, o ensino de

Geografia pode contribuir despertando no aluno sua dependência e

responsabilidade para com o meio no qual está inserido.

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O estudo de caso foi imprescindível para ilustrar a problemática das águas

urbanas e diagnosticar o quanto a sociedade desconhece as relações de causa-

efeito no que se refere às condições quali-quantitativas dos recursos hídricos.

Através deste levantamento foi possível entender melhor o comportamento e as

necessidades dos moradores da sub-bacia do Arroio José Joaquim, Sapucaia do

Sul.

O Método de Valoração Contingente, escolhido por ser muito utilizado para

valorar bens e serviços ambientais, foi capaz de revelar o quanto os moradores da

área de estudo desconhecem a funcionalidade dos arroios e dos serviços ambientais

que os protegem.

Uma dificuldade a relatar foi à precariedade de dados existentes sobre a sub-

bacia do Arroio José Joaquim. Outra questão que dificultou um pouco a realização

do trabalho foi à restrita bibliografia específica sobre o conceito de serviços

ambientais.

O ensino de Geografia juntamente com a compensação financeira por

serviços ambientais é uma ferramenta na gestão dos recursos naturais. Somente

poderá ser executada com o desenvolvimento sustentável urbano e a participação

de todos os cidadãos que atuam no processo de utilização dos recursos naturais:

trabalhadores, membros de comunidades, associações, sindicatos, entres outros. O

desenvolvimento sustentável urbano deve integrar a conservação da natureza à

qualidade de vida da população. Esta somente será possível com um ambiente

conservado que atenda às necessidades humanas, garantindo harmonia de ambos

(GALINDO, 2008).

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