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Ensaios Hístoricos Leopold Rodés Influência da cultura árabe sobre a refinação das polpas celulósicas Os moinhos papeleiros na expansão árabe de Samarkanda até Fez L á pela metade do século VIII quando o domínio muçulmano se estendia desde o Atlântico até o Afeganistão de hoje o Califa de Bag numa das suas incursões na fron teira do Celeste Império chegou até Samarkanda onde cativou dois chi neses que conheciam a arte de fazer papel Estes artesãos lhe revelaram os segredos do ofício e sob a prote ção do Califado iniciaram unia ma nufatura de papel numa localidade perto de Samarkanda área muito pro pícia para esta atividade porque a região contava com água em abun dância e canais para irrigar os culti vos de linho e de cânhamo cujas fi bras passaram a ser incorporadas às pastas destinadas a fazer folhas de papel A primazia papeleira de Samar kanda porém foi de pouca duração pois logo mais a manufatura de papel foi iniciada em Bagdá Segundo Briquet no século IX esta cidade era um centro comercial papeleiro importante onde eram negociadas as compras e remessas de trapos velhos de fibras virgens e de papéis estes últimos destinados a atender a de manda crescente dos centros de cul tura e de administração pública onde chegavam carregados no lombo de jumentos ou de camelos que em lon gas caravanas trafegavam por uma extensa rede de caminhos pelos quais o papel era transportado junto com outras mercadorias tais como es peciarias vidros vinhos azeite por celanas da China marfim perfumes tecidos de seda e metais preciosos A rede de rotas comerciais terrestres era complementada com outras rotas marítimas que desde o Golfo Pérsico se lançavam em direção ao Oceano Índico ou desde os portos orientais do Mediterrâneo comerciavam com os portos situados nas costas ociden tais deste mar Nem todo o comércio porém era dominado pelos árabes grande parte do comércio mediter râneo era dominado por navios de mercadores de Amalfi Gênova Bar celona e principalmente Veneza es trategicainente situada no extremo norte do alongado mar Adriático e portanto melhor protegida contra in cursões de piratas que outros portos mediterrâneos mais abertos Cabe co mentar que as rotas marítimas do OCCa110 Indico somente sofreram a interferência das naus portuguesas no fim do século XVI quando os lusi tanos abriram o caminho do Oriente pela rota do Cabo de Boa Esperança Pelas grandes rotas comerciais Bagdá irradiou sua influência cultu ral e propiciou Lima difusão da tecnologia papeleira no mundo mu çulmano que levou os moinhos papeleiros até Damasco cidade que passou a canalizar unia grande cor rente exportadora de papel árabe para os países europeus Entretanto pare ce que há motivos para considerar Damasco como um ponto de reexpe dição de papéis mais do que um centro de produção papeleira Desde Da masco o papel era exportado à Grécia para ser de reexportado para Ve neza cujos mercadores controlavarn sua distribuição e venda nos merca dos medievais da época sob a deno minação de pergaminho grego ou de carta damascena De Damasco a manufatura de pa pel difundiu se na direção de Tíberíades chegando ao Cairo numa região onde se cultivava o linho por mais de um milênio e onde o papel passou a substituir grada tivamente tanto o papiro como o per gaminho chegando em relativamente pouco tempo a ser utilizado corrente mente e com exclusividade Do Cai ri e Alexandria as tecnologias pa peleiras se deslocaram ao longo da costa africana do Mediterrâneo até KaÍruan Tlemr en e Fez Para dimen sionar a importância deste deslo camento cabe mencionar que na ci dade de Fez estavam estabelecidos cerca de 400 papeleiros no fim do século XII 0 papel árabe reforça o nexo cultural entre cidades distantes Corri a segurança oferecida pelos 2 3 1 Mós de pedra para moinho de grãos Capellades 2 Mo para moagem e maceração Fabriano 3 Holandesa máquina rerinadora de fibras 0 Papel Novembro 1994 13

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Ensaios HístoricosLeopold Rodés

Influência da cultura árabe sobre a

refinação das polpas celulósicas

Os moinhos papeleiros naexpansão árabe deSamarkanda até Fez

Lá pela metade do século VIIIquando o domínio muçulmano se

estendia desde o Atlântico até o

Afeganistão de hoje o Califa de Bagdá numa das suas incursões na fron

teira do Celeste Império chegou atéSamarkanda onde cativou dois chi

neses que conheciam a arte de fazerpapel Estes artesãos lhe revelaramos segredos do ofício e sob a proteção do Califado iniciaram unia manufatura de papel numa localidadeperto de Samarkanda área muito propícia para esta atividade porque aregião contava com água em abundância e canais para irrigar os cultivos de linho e de cânhamo cujas fibras passaram a ser incorporadas àspastas destinadas a fazer folhas depapel

A primazia papeleira de Samarkanda porém foi de pouca duraçãopois logo mais a manufatura de papelfoi iniciada em Bagdá SegundoBriquet no século IX esta cidade jáera um centro comercial papeleiroimportante onde eram negociadas ascompras e remessas de trapos velhosde fibras virgens e de papéis estesúltimos destinados a atender a de

manda crescente dos centros de cul

tura e de administração pública ondechegavam carregados no lombo dejumentos ou de camelos que em longas caravanas trafegavam por umaextensa rede de caminhos pelos quaiso papel era transportado junto comoutras mercadorias tais como es

peciarias vidros vinhos azeite porcelanas da China marfim perfumestecidos de seda e metais preciososA rede de rotas comerciais terrestres

era complementada com outras rotasmarítimas que desde o Golfo Pérsicose lançavam em direção ao Oceano

Índico ou desde os portos orientaisdo Mediterrâneo comerciavam com

os portos situados nas costas ocidentais deste mar Nem todo o comércio

porém era dominado pelos árabesgrande parte do comércio mediterrâneo era dominado por navios demercadores de Amalfi Gênova Bar

celona e principalmente Veneza estrategicainente situada no extremonorte do alongado mar Adriático eportanto melhor protegida contra incursões de piratas que outros portosmediterrâneos mais abertos Cabe co

mentar que as rotas marítimas do

OCCa110 Indico somente sofreram a

interferência das naus portuguesas nofim do século XVI quando os lusitanos abriram o caminho do Oriente

pela rota do Cabo de Boa EsperançaPelas grandes rotas comerciais

Bagdá irradiou sua influência cultural e propiciou Lima difusão datecnologia papeleira no mundo muçulmano que levou os moinhospapeleiros até Damasco cidade que

passou a canalizar unia grande corrente exportadora de papel árabe paraos países europeus Entretanto parece que há motivos para considerarDamasco como um ponto de reexpedição de papéis mais do que um centrode produção papeleira Desde Damasco o papel era exportado à Gréciapara ser de lá reexportado para Veneza cujos mercadores controlavarnsua distribuição e venda nos mercados medievais da época sob a denominação de pergaminho grego oude carta damascena

De Damasco a manufatura de papel difundiuse na direção deTíberíades chegando ao Cairo numaregião onde já se cultivava o linhopor mais de um milênio e onde opapel passou a substituir gradativamente tanto o papiro como o pergaminho chegando em relativamentepouco tempo a ser utilizado correntemente e com exclusividade Do Cai

ri e Alexandria as tecnologias papeleiras se deslocaram ao longo dacosta africana do Mediterrâneo até

KaÍruan Tlemrene Fez Para dimen

sionar a importância deste deslocamento cabe mencionar que na cidade de Fez estavam estabelecidos

cerca de 400 papeleiros no fim doséculo XII

0 papel árabe reforça o nexocultural entre cidades distantes

Corri a segurança oferecida pelos

2

3

1 Mós de pedra para moinho de grãos Capellades2 Mo para moagem e maceração Fabriano3 Holandesa máquina rerinadora de fibras

0 PapelNovembro 1994 13

caravançarais ao logo das grandes rotas comerciais foi surgindo crescendo e se consolidando uma longa cadeia de variadas feiras e centros de

comércio que nuelearam grandes cidades e propiciaram novos espaçosprodutivos para as indústrias manufatureiras de escala e organização artesanal orientadas para mercadospróximos ou numa escala semi industrial produzir bens de maior valor agregado destinados a mercadosmais amplos e longínquos

A expansão islâmica desde Sakanda até Fez significou um usocrescente de papel numa vasta regiãoonde o árabe foi a língua doniffiante

que pelo seu uso verbal e pelos seusregistros escritos em caracteres arábicosmanteve unidas cidades localizadas em

regiões distantes mesmo tendo idiomase culturas bem diferentes

As cidades eram pontos de encontro entre mercadores para comprar e vender assim como de estudantes e curiosos desejosos de adquirir novos conhecimentos na proximidade de mestres ilustres Nas cida

des também moravam os escribas da

burocracia imperial que cuidavam deescrever cartas redigir crônicas emanter em ordem os arquivos e bibliotecas estatais os juristas res

ponsáveis pela elaboração de leis epela sua interpretação ao ditar sentenças para resolver conflitos tanto internos como externos As cidades

também acolhiam os administradores

das riquezas acumuladas pelos grandes comerciantes ou pelos proprietários de remotos latifúndios ou aindapelos coletores de irripostos e outrosburocratas que cuidavam da administração dos entrepostos oficiais eseus estoques de grãos e de outrosbens considerados estratégicos

Todas estas atividades administra

tivas demandavam registros detalhados das transações financeiras e dasubseqüente movimentação de mercadorias Os diversos documentos

demandados pela expansão da cultura muçulmana foram progressivamente escritos sobre papel material quedemonstrou ser de uso muito mais

conveniente que os suportes iniciaisde papiro nem de pergaminho 0 desempenho satisfatório do papel comosuporte adequado para estes registros

escritos propiciou o seu uso em novos patamares de consumo sem precedentes e em níveis que aparentemente nem o papiro nem o pergaminho tiveram condições de satisfazerAssim e numa freqüência crescenteaparece o papel como suporte daescrita em documentos oficiais dos

mais diversos tais como os relativos a novas situações jurídicas nasrepresentações e negociações diplomáticas com os países periféricos nastransações comerciais por vias terrestres ou marítimas e no planejamento urbano de novas cidades projetos de canalização armazenamentoe distribuição de recursos hídricosvisando irrigação de cultivos diversos Os papéis escritos documentama grande contribuição que a civilização islâmica representou para o planejamento urbano e o uso cuidadosodos recursos hídricos destinados a

programas de irrigação medianterepresamentos canais aquedutoscomportas e cisternas

Os moinhos papeleiros sebeneficiaram do progressotecnológico árabe

A criatividade árabe soube aproveitar as artes e ofícios herdados de

civilizações anteriores permitindoaos arquitetos árabes aproveitar osconhecimentos de construção civil doantigo Irã do Império Romano e dosCartagineses A pedra talhada os tijolos de barro queimados a cal eareja as madeiras antigos e tradicionais elementos construtivos dos povos mediterrãneos serviram paraelesedificarem suas mesquitas eseus palácios de formas originais com seusminaretes de perfis esbeltos e equilibrados e onde a decoração interna eexterna se utilizou dos diversos ele

mentos construtivos para conseguirefeitos inovadores e surpreendentescriando estilos de grande equilíbrio eriqueza ornamental ainda hoje admirados

Desde a conquista de Samarkandapelos árabes em 751 até serem iniciadas as manufaturas de papel em áreas de influência do Califado de

Córdova na Península Ibérica se passaram aproximadamente três séculosEste foi o tempo demandado pela expansão das atividades papeleiras ao

longo dos cerca de 9000 km de rotas comerciais que conectavam naépoca as grandes cidades do IslãoSamarkanda Sacra Bagdá Damasco Cairo Kairuan Fez Córdova

Nos papéis manufaturados durante a expansão islâmica podem serobservadas melhorias sucessivas queconfiguram uma evolução tenta dastecnologias usadas no tratamento primário das fibras ou seja na maneirade bater nas fibras e no seu amoleci

mento mediante uma maceração porimersão em água precedendo ousimultancando o batimento em con

dições adequadasEstas melhorias introduzidas nas

operações que configurara o beneficiamento primário das fibras vegetais consistiram principalmente emmelhorar os resultados da desagregação dos feixes fibrosos medianteum esmagamento das paredes celulares cuidando de evitar uma ação decorte das fibras para não comprometer a resistência dos papéis formadosÉ bom lembrar que os papeleiros daquelas épocas não tinham qualquernoção do conceito de estruturamolecular fibrosa nem do significado destas estruturas lineares sobre a

resistência das folhas de papel Podemos deduzir portanto que a faltade conceitos abstratos para orientar oprogresso das tecnologias papeleirasfoi compensada por um espírito deobservação muito agudo e por umagrande capacidade para detectar e interpretar os diferentes resultados de repetidas tentativas As experiências bemou malsucedidas e a tradição e a intuição por elas alimentadas foramtranstídas principalmente por viaoral visto serem raros os textos quedocumentam estes conhecimentos práticos de uma forma escrita sobre folhas

de papelNaquelas épocas as fibras de li

nho e de algodão eram amplamenteempregadas na fiação e nos tecidosdestinados a vestimentas o que propiciou a sua oportuna e convenientereciclagem mediante o aproveitamento de panos velhos e de trapos osquais passaram a ser uma complementação das fibras virgens utilizadas nas manufaturas de papel

Outro aspecto importante foi comoos papeleiros souberam aproveitar

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para o desenvolvimento dos seus moinhos diversos aprimoramentos mecânicos com características inova

doras na época De maneira especialdevem ser mencionadas aquelas inovações ligadas à captação de energiahidráulica mediante a rodadágua eda energia cólica nos moinhos de vento para acionar os maços ou as mósdos moinhos papeleiros A maioriados moinhos papeleiros árabes e oseuropeus inspirados nos modelos íhêrico ou itálico era movimentados

mediante força hidráulica ou cólicao que os diferenciavam dos moinhosdo oriente próximo e do extremo oriente onde o batimento das fibra era

feito manualmente ou com a força datração animal

o pilão martelador a rodo demó e a refinadora holandesa

No batimento os pilões coliti

nuaram sendo de grandes dimensõese peso foi se melhorando o formatointerno dos morteiros visando umamaior e mais eficiente movimenta

ção das pastas neles socadas corri ospilões Aumentou a freqüência dosimpactos sobre as partes fibrosas dosvegetais e a força específica dos impactos também aumentou pela colocação de pregos de aço no cabeçotedo pilão que martelava sobre as libras Estes pregos eram de diversosformatos para poder atender às diversas finalidades e objetivos funcionais cortar amassar esmagar cisalhar

Situados na proximidade dos moinhos papeleiros por compartilharcom eles a utilização de energia hidráulica os moinhos de grãos inspiraram provavelmente o uso das rodas de mó para esmagar algumas fibras vegetais destinadas a fazer pa

pel Estas rodas de mó viravam aoredor de um eixo vertical movimen

tado por um longo braço radial queera puxado circularmente mediantetração animal

A semente de uma conceituaçãohíbrida entre o pilão martelador e asrodas de mó esmagadoras ficou numadormência de aproximadamente600 anos que terminou numa germinação esplêndida com o deenvolvimento na Holanda de uni refi

nador de pila no qual um cilindroprovido de lâminas metálicas na suasuperfície externa força a circu1aãode uma suspensão aquosa de fibrasnum recipiente circular exercendouma ação de esmagamento e fragmentação sobre as fibras em suspensão nelas formando superfíciesnovas e portanto estabelecendo asbases dos modernos refinadores

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0 PapelNovembro 1994 is