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Marcasdágua filigranas III
Tipologia e classificação sistemática
Leopold Rotk
No tradicional processo artesanalpelo qual cada uma das folhas
de papel é produzida manualmente eformada separadamente das outras asfolhas resultantes apresentam umavariabilidade muita elevada tanto no
aspecto físico externo coma na composição química interna que fica muitolonge do elevado nível de isotropiaconseguido nos processos industriaispapeicíros de hoje
Na realidade esta falta de unifor
midade transforma cada folha de papel manual numa amostra única umatestemunha que nos conta ou permitededuzir o processamento diferenciadopelo qual ungis fibras vegetais foramtransformadas naquela folha de papelpronta para receber a tinta registrandoa palavra escrita As pistas que permitem deduzir os detalhes da trans
formação artesanal que gerou a folhasão as marcasdágua deixadas no papel pelos pontusais e corondéis doavergoado alou pelas filigranas da forma papeleira usada na manufatura datolha Esta são os aspectos que fundamentam o uso da sistemática no
estudo das filigranas permitindo estabelecer semelhanças ou acentuardiferenças entre duas folhas de papelfeitas ã mão
A sistemática é uma área de conhe
cimentos que visa estabelecer mediante classificações sucessivas umaimagem abrangente e completa de umgrande número de elementos diversosentre si mostrando simultaneamente
os laças que os interrelacionaniNo estudo das filigranas a siste
mática inclui as relações formais eespaciais que existem entre os seuselementos característicos Para iniciar
um estudo sistemático das filigranaspapeleiras é preciso contar com um
0 Classe
A Figuras humanas éstico vestimentas
B Partes do corpo D nstrurnentos de música
C Mamíferos e partes de P ecipientes
mamíferos Q Utensílios diversos
Q Pássaros e partes de R Distintivos ornamentos e
pássaros jóias
E Peixes répteis outros 5 imbolos e signas religiososanimais 3 mágicos
F Animais fabulosos T mblemas heráldicos marcas
G Plantas omerciais
H Partes de plantas tJ ormas geométricas1 Céu terra água V Números e algarismos
K Edifício e partes de edifício W letras majusculas isoladas
L Meias de transporte X Monogramas
M Armas Y Nomes e palavras
N Ferramenta utensilio do Z Inclassificáveis
grande número de informações entreas quais podem ser destacadas as relativas aos desenhos que inspiraramseus traços iniciais as que dizem respeito às deformações ocorridas ao longo de um uso prolongado e que seapresentam com diferente distribuiçãoda respectiva freqüência de ocorrênciae índice de variação As causas são asmais variadas e nelas encontramos as
conhecidas abrasão impactes mecânicos normalmente decorrentes da
operação manual e as desconhecidasou provenientes de causas imprevistas
A classificação sistemática das filigranas demanda preliminarmente estabelecer critérios e regras muito claras e hem definidas sobre coma proceder no julgamento de igualdadeidentidades ou semelhanças para púder assim quantificar objetivamente arelevância das constatações observadas visando orientar a comparaçãoanalítica e facilitar o trabalho de sín
tese subseqüente
A parte da fïligranografia dedicadaâ morfologia das filigranas providencia descrições completas de cada umdos grupos que configuram eventuaisunidades sistemáticas de modo a permitìr o reconhecimento de um grupodeterminado e sua diferenciação deoutros mesmo que eles se apresentemmuito semelhantes â primeira vistaNesta tarefa a tiligranografia devecontar com a ajuda de uma terminologia bem fundamentada etimologicamente aceita e consagrada pelouso A determinação de diferenças esemelhanças morfológicas entre grupos de marcasdágua afins é denominada taxinc mir i dw filigranas
Classificação dos filigranas ecritérios usados
Os critérios nados para classificaras marcasdágua das filigranas foramos mais variados e tinham por baseentre outros o tema do desenho a
denominação da filigrana o período56 0 Papel Dezembro 1995
histórico durante o qual foram elaboradas e utilizadas ou ainda a loca
lização geográfica do moinho papeleiro que as viu nascer
Nos primeiros levantamentos asfiligranas eram classificadas pelo temado desenho utensílios armas animais
entes mitológicos corpo humanovestimentas letras formas geométricas símbolos ou pela denominaçãodada a grupos arbitrários de filigranaspartes do homem utensílios detrabalho elementos botânicos partesde plantas representação de animaisdomésticos ou mitológicos escudosdannas emblemas heráldicos numa
exagerada proliferação de critérios queresultava numa grande confusão
Mais recentemente 1986 PiemTschudiri apresentou uma proposta detipologia para as filigranas que tendosido adotada pelo Instituto de Historiadores do Papel IPH está sendocrescentemente aceita pelos filigranôlogis com base a lista de classesda página eguinte
Outro critério de classificação tomapor base o período histórico durante oqual a filigrana deixou sua marca nafolha de papel formada ou seja adata da sua produção manual EJ Labarre estabeleceu arbitrariamente períodos sucessivos de 150 anos cada
um como segue um primeiro período antes de 1450 um segundo período de 1450 até 1600 Gutenberg inventou a imprensa em 1480 um terceiro de 1600 ate 1750 e um quartoperíodo a partir de 1750
Finalmente o critério de classificar
pela localização geográfica do moinhopapeleiro onde as folhas de papel foram formadas ou pela localidade ondefoi achado o documento com as mar
cas da filigrana nas suas folhas
Expansão geográfica do uso defiligranas
Desde a inidora coloca4ào dasprimeiras filigranas nos papéis de Fabríano os moinhos papeleiros localizados na Península Itálica foram ado
tando o uso de filigranas nas suasmanufaturas papeleiras A influênciados moinhos de Fabriano chegou também iié diversos moinhos franceses e
catalã onde foi introduzido o uso
de filigranas copias das italianas Nosegundo período é comum encontrarmarcasdágua representando o escudoda cidade onde se localiza o moinho
papeleiro onde a folha foi formadaNeste período já aparecem as primeiras filigranas em livros impressos
No terceiro período de 1600 atéapós 1750 ocorre a renovação demuitas fôrmas papeleiras e vai se generalizando o uso da contramarca Ca
talunha Itália França e Alemanhaatingem autosuficiência exportandoseus excedentes Neste período partedo papel consumido na Espanha eraimportado da Itália onde Gênova continua sendo o maior centro produtorde papel com filigranas especiais paraas exportações destinadas à Espanhae Portugal
Os moinhos papeleiros da Península Ibérica se destacaram entre as primeiras manufaturas papeleiras daEuropa Após 1450 porém não acompanharam o grande desenvolvimentodos moinhos italianos e franceses So
mente no século XVIII os papeleirosda Península Ibérica conseguiram recuperar parte dos espaços perdidossem poder impedir que grande partede suas necessidades fosse coberta com
papéis vindos da Itália e do Sul daFrança 0 maior progresso ocorreu riaCatalunha onde se conseguiram excelentes qualidades de papéis portadoresde filigranas de moinhos situados emCapellades ou seus arredores
Em Portugal e ao longo do séculoXV ao XVII a produção papeleira deuns poucos moinhos localizados pertode Lisboa ficou limitada ao atendi
mento das necessidades locais So
mente no século XV111 a atividades
papeleiras portuguesas foram revigoradas pela contribuição dos moinhosde Louça na proximidade de Coimbra Mesmo assim uma grande partedo papel de qualidade era importadoda Itália para uso da Real Corte
Na França das primitivas filigranasiniciais que ainda eram usadas no começo do século XVII poucas permaneceram em uso no século XVIII Na
Auvergne aparecem papéis resisientes encorpados e de grande formatadestinados a elaboração de mapas eatlas com a filigrana do moinho de
Richard de Bas É nesta grande regiãopapeleira que aparecem filigranas registrando o nome de grandes estadistascomo Coibert e de Bouillon
No começo do século XVII nãohavia muita diferença entre os papéisholandeses e os germânicos No i i naldesse século porém os papéis holandeses e suas filigranas passam a seraltamente considerados
Até o fim do século XVII Ingiaterra precisou importar principalmenteda Itália e da França e em menorquantidade da Alemanha grande partedos papéis usados no país Somenteem 1700 é possível demostrar pelassuas filigranas o uso de papel manufaturado na Inglaterra Com o famosopapelIWhatman o papel inglês ficousolidamente estabelecido
A manufatura de papel somentechegou na Escandinávia em 1630
A atividade papeleira instalou emCulhuacan 1580 o primeiro moinhopapeleiro do continente americano seantecipando em mais de uni século aomoinho instalado na Perinsylvania em1690 em cujo papel aparecem asmarcas das primeiras filigranas usadasno Novo Continente
Posicionamento no folha de papelposição das filigranas nas folhas
de papel era muito variada com tendência a ficar no centro de uma das
metades da folha e posicionada demxJo a seu eixo vertical ficar acom
panhando os corondéis A filigranaprincipal era freqüentemente acompanhada por uma outra chamadacontramarca localizada no centro
da outra metade da folha Algumasvezes tanto as filigranas como suascontramarcas podem também ser encontradas nos cantos das folhas aparentemente com o propósito de liberara área central da página e não interferircorri a impressão de temas gráficosimporiantes a serem impressos de forma coincidente com a filigrana
As marcas dágua e as filigranasnão tornam melhor a qualidade dopapel Porém tendo sido usadas nasmelhores qualidades de papel a suapresença esta fortemente associada auma boa qualidade do papel onde elasse encontram
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