enem – exame nacional do ensino...

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CPV ENEM2D2015 1 REDAÇÃO PROPOSTA A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. Texto I Nos 30 anos decorridos entre 1980 e 2010 foram assassinadas no país acima de 92 mil mulheres, 43,7 mil só na última década. O número de mortes nesse período passou de 1.353 para 4.465, que representa um aumento de 230%, mais que triplicando o quantitativo de mulheres vítimas de assassinato no país. J. J. Walselfisz, Mapa da Violência 2012. Atualização: Homicídio de mulheres no Brasil. Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br. Acesso em: 8 jun. 2015. Texto II Texto III Texto IV O IMPACTO EM NÚMEROS Com base na Lei Maria da Penha, mais de 330 mil processos foram instaurados apenas nos juizados e varas especializados 332.216 processos que envolvem a Lei Maria da Penha chegaram, entre setembro de 2006 e março de 2011, aos 52 juizados e varas especializados em Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher existentes no País. O que resultou em: ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio PROVA AMARELA 2 o DIA – 25/OUTUBRO/2015

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CPV ENEM2D20151

Redação

PRoPoSTa

A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Texto I

Nos 30 anos decorridos entre 1980 e 2010 foram assassinadas no país acima de 92 mil mulheres, 43,7 mil só na última década. O número de mortes nesse período passou de 1.353 para 4.465, que representa um aumento de 230%, mais que triplicando o quantitativo de mulheres vítimas de assassinato no país.

J. J. Walselfisz, Mapa da Violência 2012. Atualização: Homicídio de mulheres no Brasil.

Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br. Acesso em: 8 jun. 2015.

Texto II

Texto III

Texto IV

O IMPACTO EM NÚMEROS

Com base na Lei Maria da Penha, mais de 330 milprocessos foram instaurados apenas nos juizados e

varas especializados

332.216 processos que envolvem a Lei Maria da Penha chegaram, entre setembro de 2006 e março de 2011, aos 52 juizados e varas especializados em Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher existentes no País. O que resultou em:

EnEm – Exame nacional do Ensino médioProva amarela – 2o Dia – 25/OutubrO/2015

EnEm – Exame nacional do Ensino médio2

CPV ENEM2D2015

25/10/2015

58 mulheres e 2 777 homens enquadrados na Lei Maria da Penha estavam presos no País em dezembro de 2010. Ceará, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul não constam desse levantamento feito pelo Departamento Penitenciário Nacional.

relatos de violência foram feitos ao Ligue 180, serviço telefônico da Secretaria de Políticas para as Mulheres.

Sete de cada dez vítimas que telefonaram para o Ligue 180 afirmaram ter sido agredidas pelos companheirosConselho Nacional de Justiça, Departamento Penitenciário Nacional e Secretaria de Políticas para as Mulheres

Disponível em: www.istoe.com br. Acesso em: 24/06/2015 (Adaptado).ComenTáRio do CPV

O tema de redação do Enem deste ano foi a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira. A coletânea baseou-se em dados estatísticos que mostravam tanto como a violência contra a mulher brasileira tem aumentado com o passar dos anos quanto como a Lei Maria da Penha tem contribuído com o combate a esse crime. Ademais, a coletânea apresentou um texto de uma campanha veiculada pelo site “compromisso e atitude”, cuja abordagem é o basta ao feminicídio.

A partir dessas informações da coletânea, os alunos poderiam abordar o assunto sob as seguintes perspectivas:

* Tipos de violência cometidos contra a mulher: embora quando se fala em violência, pensa-se, normalmente, na violência física, poder-se-ia abordar também outros tipos de violência cometidos contra a mulher: psicológica, moral, patrimonial, cárcere privado, tráfico de pessoas. A exemplo disso, poderiam ser citados os casos de muitas mulheres que passaram por estupro e acreditam que foram responsáveis pelo crime por estarem sozinhas em um determinado local ou por estarem usando roupas consideradas inapropriadas por uma sociedade machista. Quando a sociedade reforça esse pensamento, ela violenta psicologicmaente a mulher que foi vítima de um crime. Especificamente em São Paulo, houve alguns depoimentos de alunas da Universidade de São Paulo (USP) sobre não estarem mais vestindo roupas curtas, mesmo em dias extremamente quentes, pois estavam com medo de sofrerem estupro na Universidade, já que houve vários casos neste ano. Além disso, é importante lembrar que muitas mulheres não se reconhecem como vítimas desse tipo de violência e tomam para si o discurso do seu algoz, passando, assim, por outro tipo de violência: a simbólica.

* Cultura patriarcal no Brasil: a violência contra a mulher foi naturalizada desde a formação do Brasil. Ao mesmo tempo em que o ser do sexo feminino era relegado ao espaço privado, para realizar as tarefas domésticas e assumir a responsabilidade pela educação dos filhos, o indivíduo do sexo masculino firmava-se, cada vez mais, no espaço público, tendo seu poder sobre a família ampliado, por ser ele o responsável pela manutenção econômica familiar. Nesse sentido, por séculos a mulher fez parte desse imaginário, que a colocava em um papel pouco significante na vida pública. Não ter os mesmos direitos que o homem era uma forma de violência naturalizada pela cultura patriarcal.

* Progressos e desafios: apesar de, na atualidade, a mulher brasileira ser reconhecida pela Constituição de 1988 com os mesmos direitos que os homens, ter vários direitos garantidos pela Carta de Direitos Humanos — como receber o mesmo salário pela realização da mesma atividade realizada por homens —, ter leis específicas de proteção — Lei Maria da Penha, Lei do Feminícidio —, o que se percebe é que ainda há muitas pessoas (homens e mulheres) que não aceitam os direitos femininos conquistados. Nesse sentido, considerando que o homem é superior à mulher em força física, muitos a utilizam como forma de controlar suas companheiras de modo a mantê-las em posição de inferioridade. Ainda há casos de mulheres que dependem do marido ou do pai para sobreviver, o que as faz aceitar a violência doméstica. Ademais, há muitos casos de mulheres que trabalham e recebem 30% a menos que homens, mesmo desempenhando a mesma função. As leis são um grande progresso, mas o que se percebe, na prática, é que não são capazes de, sozinhas, mudarem uma cultura secular de violência contra a mulher. A lei Maria da Penha, por exemplo, reduziu somente em 10% os casos de homicídios. Sendo assim, foi criada outra lei neste ano, a Lei do Feminicício, que torna o feminicídio por razões de gênero um crime hediondo no país.

* Proposta de intervenção: há várias formas de combate à violência feminina. Por parte da população nas ruas — a exemplo da “Marcha das Vadias” — e nas redes sociais — a exemplo da campanha “Não mereço ser estuprada” —, é possível mostrar a indignação da população contra esse problema histórico brasileiro. Por parte do Estado, a criação de leis já foi feita, mas se pode pensar na efetiva aplicação dessas leis para que os resultados sejam ainda maiores. Com relação à Escola, pode-se abordar a ideia de um currículo que abranja as diferenças de gênero como construções culturais que não implicam, necessariamente, a superioridade de um indivíduo em relação a outros, sobretudo em virtude de questões de gênero. No que diz respeito à mídia, a divulgação das leis e dos progressos alcançados pelas brasileiras, ressaltando a importância delas na sociedade, bem como debates sobre o tema são formas de combater a desinformação sobre o assunto. No que concerne à família, uma educação que não reafirme padrões culturais que diferenciam as atividades de meninos e de meninas, mas que os trate de maneira igualitária pode ser uma forma de combate à cultura patriarcal ainda existente.

Este tema foi abordado nas aulas do Semi, do Extensivo e do Colégio CPV.