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UniSALESIANO Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium Curso de Psicologia Allan dos Santos Gonçalves Daniele Sirqueira Barbosa Ivair Inácio Junior ENCARANDO O ENVELHECER: ASPECTOS PSICOLÓGICOS EM IDOSOS INSTITUCIONALIZADOS Clínica Geriátrica Villa Vida Lins - SP LINS SP 2017

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Page 1: ENCARANDO O ENVELHECER: ASPECTOS PSICOLÓGICOS … · para obtenção do título de Bacharel em Psicologia. ... 1 O CICLO VITAL ... 1.1 Fases do desenvolvimento humano

UniSALESIANO

Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium

Curso de Psicologia

Allan dos Santos Gonçalves

Daniele Sirqueira Barbosa

Ivair Inácio Junior

ENCARANDO O ENVELHECER: ASPECTOS

PSICOLÓGICOS EM IDOSOS

INSTITUCIONALIZADOS

Clínica Geriátrica Villa Vida

Lins - SP

LINS – SP

2017

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ALLAN DOS SANTOS GONÇALVES

DANIELE SIRQUEIRA BARBOSA

IVAIR INÁCIO JUNIOR

ENCARANDO O ENVELHECER: ASPECTOS PSICOLÓGICOS EM IDOSOS

INSTITUCIONALIZADOS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Banca Examinadora do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium, curso de Psicologia sob a orientação da Prof.ª Ma. Gislaine Lima da Silva e orientação técnica da Prof.ª Ma. Jovira Maria Sarraceni.

LINS – SP

2017

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Gonçalves, Allan dos Santos; Barbosa, Daniele Sirqueira; Inácio Júnior, Ivair

Encarando o envelhecer: aspectos psicológicos em idosos institucionalizados / Allan dos Santos Gonçalves; Daniele Sirqueira Barbosa; Ivair Inácio Junior – – Lins, 2017.

73p. il. 31cm.

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium – UniSALESIANO, Lins-SP, para graduação em Psicologia, 2017.

Orientadores: Gislaine Lima da Silva; Jovira Maria Sarraceni

1. Envelhecimento. 2.Relações Interpessoais. 3. Institucionalização. I Título.

CDU 159.9

G624e

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ALLAN DOS SANTOS GONÇALVES

DANIELE SIRQUEIRA BARBOSA

IVAIR INÁCIO JUNIOR

ENCARANDO O ENVELHECER: ASPECTOS PSICOLÓGICOS EM IDOSOS

INSTITUCIONALIZADOS

Monografia apresentada ao Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium,

para obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Aprovada em:_____/_____/_____

Banca Examinadora:

Prof(a) Orientador(a): Gislaine Lima da Silva

Titulação: Mestre em Psicologia do Desenvolvimento de Aprendizagem –

UNESP. Bauru/SP.

Assinatura:____________________________

1º Prof(a): Oscar Xavier Aguiar

Titulação: Mestre em Psicologia Clínica – PUC. Campinas/SP.

Assinatura:____________________________

2º Prof(a): Luciana Marise de Araujo Silva

Titulação: Pós-graduada em Psicanálise – UniSALESIANO- Inec. Lins/SP.

Assinatura:____________________________

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Gostaria de dedicar este trabalho à minha família que foi e tem sido meu alicerce ao longo desta jornada na graduação de Psicologia, sempre me apoiando e compreendendo minhas demandas. Sinto-me afortunado por tê-los em minha vida.

Allan dos Santos Gonçalves

Dedico esse trabalho exclusivamente in memória a minha mãe, Angélica Alves Sirqueira Barbosa, embora não esteja presente fisicamente, acredito que torceu muito para que este sonho se tornasse real, gostaria de agradecer por ser minha eterna inspiração e por enviar energias positivas ai do céu, eu te amo mamãe!

Daniele Sirqueira Barbosa

Dedico este trabalho aos meus pais, Ivair Inácio e Nilva Santi Pereira Inácio, que me apoiaram e estiveram do meu lado o tempo todo, eu amo muito vocês, as pessoas mais especiais da minha vida! Nós conseguimos juntos.

Ivair Inácio Junior

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AGRADECIMENTOS

A princípio, gostaria de agradecer a Deus e à minha família pela

compreensão e apoio durante esses anos de estudo. Em especial ao meu pai

Ademilton Aparecido Gonçalves e mãe Rosenir dos Santos Martins Gonçalves

por tornar este sonho possível. Gostaria de enfatizar que reconheço todo

esforço, investimento e, sobretudo, a confiança que ambos destinaram em

mim.

Ao meu pai, minha eterna gratidão pela flexibilidade e compreensão, por

viabilizar minhas demandas sem hesitação; exponho aqui minha admiração por

você, um homem digno, competente em sua área de atuação, e responsável

por transmitir não só a mim, mas a todos seus filhos, valores preciosos: a ética

e a moral. Por meio da prática nos ensinou a importância de tais valores, e

hoje, graças a você, os aplico em todas as circunstâncias da vida.

À minha querida mãe, que por sua vez, se fez presente em minha

jornada acadêmica, auxiliando, apontando as melhores direções, aconselhando

nos momentos difíceis, e pelos incontáveis diálogos no campo da Psicologia e

seus imensuráveis caminhos e possibilidades, bem como estabelecendo

conexões enriquecedoras entre o âmbito escolar e a Psicologia. Saiba que

minha admiração por ti é gigantesca, a melhor mãe que poderia ter. Uma

mulher guerreira que em minha singela opinião é símbolo de amor,

competência e resiliência.

Agradeço por todo afeto, paciência e consideração por mim. Sou grato e

reconheço o esforço de vocês.

Sem perder de vista, porém, os amigos e parceiros de trabalho,

professores envolvidos no processo de confecção deste trabalho e a todos os

demais funcionários implicados direta ou indiretamente em minha formação.

Sou grato por todo respaldo teórico que foi me dado, estrutura e prática clínica,

bem como fundamentações em diversas diretrizes da Psicologia.

Allan dos Santos Gonçalves

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Em primeiro lugar sempre agradeço a Deus, pelo dom da vida e por

enviar força e sabedoria para a conclusão deste trabalho.

Agradeço imensamente aos meus pais, Angélica (in memória) e Paulo

Cezar que sempre apoiaram em minhas escolhas, dispostos a ajudar,

suportando minhas fraquezas e oferecendo todo o amor que preciso.

Ao meu namorado Renan Carlos, que esteve ao meu lado, enfrentando

todos os momentos difíceis que passei, motivando e alegrando o meu dia, com

muito amor e compreensão.

A minha família, embora seja enorme, gostaria de pontuar algumas

pessoas que dividiram comigo cada passo até chegar aqui. Minha querida tia

Vilma, que hoje me adotou como filha e sou eternamente grata, minha avó

Maria que é minha estrutura, exemplo de força e fé e minhas amadas primas

Maria Carolina e Kamila que nunca desistiram da minha capacidade, e mesmo

longe conseguiram passar ótimas energias, choraram e sorriram comigo,

mostrando o verdadeiro significado de família.

Aos meus queridos parceiros e amigos de trabalho, Allan e Ivair, sempre

acreditei que seríamos um ótimo grupo, vocês são os principais autores para

esta conquista.

Agradeço também a professora Ma. Gislaine Lima da Silva pelo auxilio

na conclusão deste trabalho e também a professora Ma. Jovira Maria Sarraceni

pela paciência nas correções, e por ensinar de maneira simples como fazer

uma referência. Gratidão a todos os professores que contribuíram para minha

formação, em especial a Coordenadora do curso Ana Elisa, Professor Oscar e

as meninas da clínica Carol e Jasmin.

E finalmente agradeço ao carinho dos profissionais da clínica geriátrica

Villa vida e aos idosos institucionalizados por tornar possível a nossa pesquisa,

em especial a Enfermeira Elizangela pelo acolhimento e carinho oferecido.

Daniele Sirqueira Barbosa

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Em primeiro lugar quero agradecer a Deus, que é minha fortaleza e

abrigo. Quero agradecer também aos meus pais, Ivair Inácio e Nilva Santi

Pereira Inácio, que estiveram comigo do começo ao fim, eu amo muito vocês,

muito obrigado seus gostosos!

Agradeço também os meus parceiros de tcc, Allan (Batman) e Danielle

(Mulher Maravilha), os melhores parceiros do mundo.

Agradeço aos queridos professores, Ma. Gislaine Lima da Silva, Ma.

Jovira Maria Sarraceni e Ms. Oscar Xavier pelo sustentáculo e carinho, vocês

são maravilhosos. Quero agradecer também a Clínica Geriátrica, pelo

acolhimento e carinho, uma esquipe maravilhosa, sem palavras para descrever

a satisfação de ter realizado esse trabalho nesse local.

Não poderia deixar de agradecer ao meu amigo especial, Raphael Aruth

por me apoiar, e ouvir meus desabafos e também minhas amigas Gislaine e

Carina, pela força e carinho, mostrando o verdadeiro sentido de uma

verdadeira amizade.

Ivair Inácio Junior

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RESUMO

O presente trabalho tem a pretensão de compreender a concepção de idosos institucionalizados em relação ao processo de envelhecimento, bem como a importância que os mesmos atribuem às relações interpessoais. A hipótese deste trabalho circunda questões de caráter psicológico, dando ênfase às implicações da ausência de relações interpessoais no âmbito institucional. Tal pesquisa favoreceu a descoberta de questões psicológicas relevantes para o público idoso. Além das concepções a respeito do envelhecimento, foi possível notar as implicações da ausência ou escassez de visitas dos familiares, bem como as reações dos idosos diante disto. Observou-se também, questões relativas à autonomia e encadeamentos acerca da institucionalização. Esta pesquisa foi embasada na literatura que trata de questões acerca do envelhecimento, seus declínios de caráter orgânico, considerando fatores cronológicos, biológicos, sociais, não perdendo de vista as implicações psicológicas deste processo. Os temas abordados são sustentados por autores cujo campo de pesquisa é destinado ao publico idoso, não perdendo de vista, porém, outros trabalhos que atingem tal público. Foi feita uma revisão bibliográfica em questões que circundam o desenvolvimento do ser humano até a idade avançada, concepções de diferentes culturas em épocas distintas a respeito da relevância dos longevos, as imagens negativas referentes ao processo institucionalização, considerações a respeito do envelhecimento saudável, além dos desdobramentos da institucionalização para o idoso. Estudou-se também, questões concernentes ao papel da instituição que oferece respaldo no sentido de acolhimento, estrutura, e cuidados especializados aos idosos. A metodologia adotada é de cunho qualitativo, haja vista o objetivo de investigar questões que permeiam a subjetividade dos idosos. Para tanto, por meio de uma entrevista estruturada, aplicou-se um questionário com o intuito de investigar temas relevantes para este trabalho.

Palavras-chave: Envelhecimento. Relações interpessoais. Institucionalização.

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ABSTRACT

The present work intends to understand the conception of institutionalized elderly in relation to the aging process, as well as the importance they attribute to interpersonal relationships. The hypothesis of this work surrounds questions of a psychological nature, emphasizing the implications of the absence of interpersonal relations in the institutional scope. Such research favored the discovery of psychological issues relevant to the elderly public. In addition to conceptions about aging, it was possible to note the implications of the absence or shortage of family visits, as well as the reactions of the elderly to this. It was also observed issues related to autonomy and links about institutionalization. This research was based on the literature that deals with questions about aging, its declines of organic character, considering chronological, biological, and social factors, not losing sight of the psychological implications of this process. The topics covered are supported by authors whose field of research is aimed at the elderly public, not losing sight of, however, other works that reaches such a public. A bibliographical review was made on questions that surround the development of the human being until old age, conceptions of different cultures at different times regarding the relevance of the longevity, the negative images regarding the institutionalization process, considerations about healthy aging, besides the unfolding of the institutionalization for the elderly. It was also studied questions concerning the role of the institution that offers support in the sense of reception, structure, and specialized care for the elderly. The methodology adopted is of a qualitative nature, in view of the objective of investigating issues that permeate the subjectivity of the elderly. To do so, through a structured interview, a questionnaire was applied in order to investigate relevant themes for this work.

Keywords: Aging. Interpersonal relationships. Institutionalization.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Coleta de dados de identificação dos idosos.................................... 48

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................13

CAPÍTULO I – ENCARANDO O ENVELHECER..............................................15

1 O CICLO VITAL......................................................................................15

1.1 Fases do desenvolvimento humano.......................................................16

2 COMPREENDENDO O ENVELHECIMENTO........................................23

2.1 O processo histórico da concepção do envelhecimento........................23

2.2 O processo de envelhecimento, fatores cronológicos, biológicos, sociais

e psicológicos atuantes neste período...............................................................25

2.3 O envelhecimento salutar.......................................................................28

CAPÍTULO Il – SUPORTE INSTITUCIONAL: PRERROGATIVAS ADVINDAS

DO PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO................................................35

1 ILP- INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA..................................35

1.1 A história das instituições de longa permanência no Brasil....................35

1.2 Imagens negativas associadas às ilpis...................................................39

2 IMPLICAÇÕES DO PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DO

IDOSO...............................................................................................................40

CAPÍTULO III – A IMPORTÂNCIA DA MANUTENÇÃO DAS RELAÇÕES

INTERPESSOAIS..............................................................................................44

1 METODOLOGIA.....................................................................................44

1.1 Introdução...............................................................................................44

1.2 Local e participantes da pesquisa...........................................................46

1.3 Instrumento de coleta de dados e ida a campo......................................46

1.4 Tratamento dos dados............................................................................47

1.5 Procedimentos de seleção......................................................................48

1.6 Análise de dados.....................................................................................48

1.6.1 Análise das respostas relacionadas ao processo de

institucionalização..............................................................................................49

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1.6.2 Análise das respostas onde se faz importante as relações

interpessoais......................................................................................................51

1.6.3 Análise das respostas acerca do enfrentamento do

envelhecimento..................................................................................................52

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO......................................................................55

CONCLUSÃO....................................................................................................56

REFERÊNCIAS ................................................................................................58

ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP............................66

ANEXO B – CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DA

PESQUISA........................................................................................................69

ANEXO C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO (T.C.L.E)

...........................................................................................................................71

ANEXO D – Entrevista.....................................................................................72

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INTRODUÇÃO

O projeto em questão tem como temática principal o processo de

envelhecimento de idosos institucionalizados em ILPIs (Instituições de Longa

Permanência para Idosos). Buscando compreender como essas pessoas

encaram e vivenciam o fato de estarem em uma instituição dessa categoria.

Outro aspecto que foi investigado diz respeito às relações interpessoais, e

como tais relações podem ser facilitadoras no processo de envelhecimento dos

indivíduos, através da perspectiva cognitiva comportamental.

Tal assunto chamou a atenção devido ao fato dos avanços tecnológicos

e suas influências na população mundial, favorecendo a longevidade dos

indivíduos, e com isso, emerge a necessidade de compreender e viabilizar um

envelhecimento mais saudável, principalmente dentro das ILPIs.

De acordo com Papalia e Feldman (2013) após os 65 anos as pessoas

passam a ser classificadas como idosos, tal fase também denominada de

adulta tardia. Nesse momento a maioria das pessoas mantém-se realizando

suas atividades normalmente, entretanto acentua-se o declínio da saúde física

e mental. Nessa idade as pessoas refletem a respeito de suas vidas, podendo

vivenciar sentimentos de satisfação ou fracasso, de acordo com seu processo

vivencial.

Araújo; Coutinho e Santos (2006) diz que as ILPIs são instituições que

oferecem ambiente protegido e acolhedor aos idosos que não têm mais

autonomia, ou não dispõem de familiares para auxiliá-los. As ILPIs devem ser o

último recurso a ser adotado, após serem descartadas todas as possibilidades

do idoso conviver no meio familiar.

As relações interpessoais são de extrema importância para as pessoas

em todas as fases da vida, entretanto na velhice essas relações acabam tendo

uma conotação ainda mais crucial, pois as auxilia num sentido de significar

suas experiências vividas, gerando sentimentos de autoconhecimento,

manutenção e promoção da autoestima, além de promover metas de evolução

(TEIXEIRA, NERI, 2008).

Segundo Rodrigues e Diogo (1996) o lazer é algo importante em todas

as etapas do desenvolvimento humano, inclusive na velhice, priorizando

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atividades que promovam sociabilidade e com o objetivo de diminuir o

sofrimento e o isolamento. Esse é o maior desafio das instituições que lidam

com os idosos, estimular suas funções cognitivas de maneira adequada, não

perdendo de vista a importância das relações familiares.

De acordo com o que foi exposto nos parágrafos anteriores, percebe-se

a importância de oferecer aos idosos institucionalizados um ambiente favorável

em termos de relações interpessoais, o que é notado como necessário para o

desenvolvimento de diversos aspectos psicológicos. A ausência das relações

interpessoais no contexto institucional pode resultar em idosos solitários?

Percebe-se que a falta das relações interpessoais dentro das instituições

de caráter público ou privado pode afetar esses idosos, podendo desencadear

a depressão e sentimentos de menos valia.

O trabalho está organizado em três capítulos, visto que no Capítulo I

aborda-se temas sobre o processo de envelhecimento, a começar pelo ciclo

vital, envolvendo diversos fatores que cercam tal processo. O Capítulo II refere-

se ao processo de institucionalização, as imagens negativas que carregam, e

as implicações enfrentadas pelos idosos. Por fim, o Capítulo III descreve e

analisa a pesquisa realizada com 5 idosos com idade de 62 a 96 anos

residentes da Clínica Geriátrica Villa Vida na cidade de Lins/SP.

Em termos de proposição, pode-se dizer que tal pesquisa é de grande

relevância, pois visa oferecer um olhar diferenciado aos idosos

institucionalizados, principalmente no que diz respeito ao acolhimento e às

relações interpessoais estabelecidas neste ambiente.

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CAPÍTULO I

ENCARANDO O ENVELHECER

1 O CICLO VITAL

O ciclo da vida é constituído por períodos baseados em uma construção

social, que está diretamente ligado no ponto de vista geral da sociedade.

Porém, ao longo do tempo tornou-se vulnerável a modificações devido às

influências culturais do pensamento contemporâneo.

Durante o ciclo da vida não é possível afirmar o momento exato em que

crianças, jovens e adultos atravessam a ponte que liga respectivamente tais

fases do desenvolvimento humano. Pessoas de diferentes idades pensam,

agem e sentem de acordo com sua subjetividade, porém, compartilham do

mesmo ciclo de forma distinta (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2006).

O mesmo autor declara que existem quatro princípios fundamentais para

o ciclo vital, sendo eles: O vitalício, que se destina a durar a vida toda,

produzindo influências nos episódios subsequentes, iniciais e futuros da vida;

histórico, visto que cada indivíduo desenvolve-se historicamente e socialmente,

buscando ou tornando-se um ponto de referência na sociedade, e de acordo

com esse aspecto “o desenvolvimento psicológico do homem é parte do

desenvolvimento histórico geral de nossa espécie e assim deve ser entendido”

(VIGOTSKI, 2010, p. 62); multidimensional, pois, está sujeito a avanços e

declínios e, ao longo do tempo determinadas capacidades se tornam

expansivas enquanto outras são limitadas e, por fim, plástico, que possibilita a

transformação de cada indivíduo para o desenvolvimento de suas capacidades

cognitivas, funcionais e psíquicas.

Em determinado intervalo do ciclo vital, pode-se dizer que existe uma

distinção entre os idosos, sendo idoso jovem e idoso velho. O idoso jovem

encontra-se na faixa etária entre 55 e 75 anos e o idoso velho encontra-se na

idade superior a 75 anos. (NEUGARTEN, 1974 apud BEE, 1997).

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Atualmente os adultos com idade entre 50 e início dos 60 anos são

considerados como de meia idade, e o idoso jovem passa a ser considerado a

partir dos 65 e 75 anos.

O envelhecimento é um processo de extrema individualidade, visto que

pode haver idosos aos 65 anos totalmente dependentes e outros com idade

superior com total autonomia. A diferenciação entre idoso jovem e idoso velho

nos leva a pensar que o envelhecer não é algo que acontece bruscamente aos

65 anos e que as capacidades funcionais e sociais desses idosos podem ser

de grande variedade. (BEE, 1997).

A autora ainda afirma que aos 75 ou 80 anos é possível que ocorra uma

aceleração no processo de declínio, podendo resultar em mudanças

significativas ou perda das funções durante o período da meia idade, como

dificuldades visuais e na massa óssea, no caso de mulheres. Existem quatro

mudanças principais no cérebro durante os anos da vida adulta que se implica

com a redução do peso do cérebro, perda da matéria cinzenta, perda da

densidade dos dendritos e desaceleração na velocidade das sinapses.

Também são provocadas mudanças nos órgãos dos sentidos, sendo

estes, audição, paladar e olfato, reduzindo assim prazeres da vida a esse

público.

O sono também sofre modificação, idosos com mais de 65 anos tendem

a acordar com maior frequência no período noturno, evidenciando assim, a

redução do sono REM (Rapid eye moviment).

A maioria dos gerontologistas define o envelhecimento como a redução da capacidade de sobreviver. De fato, o envelhecimento pode ser conceituado como um processo dinâmico e progressivo onde há modificações tanto morfológicas como funcionais, bioquímicas e psicológicas que determinam progressiva perda da capacidade de adaptação do individuo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos que terminam por leva-lo a morte. (CARVALHO FILHO; ALENCAR, 2004, p. 01)

1.1 Fases do desenvolvimento humano

Segundo Papalia; Feldman (2013) desde a fecundação até o final da

vida, o ser humano sofre um processo de transformações, onde uma célula se

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distende até formar um ser humano. Essas fases do desenvolvimento podem

ser influenciadas por vários aspectos. Cada pessoa possui diferenças

individuais, seja em gênero, personalidade, caráter, corpo social, contexto

familiar e até mesmo na escola em que se estuda.

De acordo com Myers (2006) a psicologia do desenvolvimento se

interessa pelas mudanças físicas, mentais e sociais do ser humano ao longo do

ciclo vital, através de uma perspectiva de desenvolvimento contínuo que ocorre

da infância à velhice.

O desenvolvimento humano é uma evolução constante, que percorre a

vida toda, cientistas percebem os principais âmbitos: físico, cognitivo e

psicossocial. Ou seja, o crescimento de todo o corpo, força, disposição corporal

e a vitalidade fazem parte do desenvolvimento físico. Já no desenvolvimento

cognitivo, se encontram o conhecimento, a concentração, memória, o dialeto, o

raciocínio, entre outros. Tratando-se do desenvolvimento psicossocial, estão

presentes a comoção, sentimentos, emoções, relações sociais e interpessoais,

seu ego e sua personalidade. Importante ressaltar que cada particularidade do

desenvolvimento influencia os outros (PAPALIA; FELDMAN, 2013).

Pode-se afirmar que existem diversas teorias relacionadas ao

desenvolvimento humano, que foram sendo modificadas e aperfeiçoadas com

o passar dos anos e o aprofundamento dos estudos. Destacam-se a seguir,

algumas destas teorias. Pode-se dessa forma fazer um paralelo daquilo que é

dito por diferentes autores quanto ao desenvolvimento humano.

De acordo com a teoria do desenvolvimento cognitivo proposto por

Piaget existem as seguintes fases do desenvolvimento: Sensório-motor (do

nascimento até aproximadamente os 2 anos de vida); Pré-operatório (entre 2 e

6 anos); Operacional concreto (7 aos 11 anos) e Operacional formal (12 anos

até a idade adulta) (MYERS, 2006).

Myers (2006) afirma ainda que apesar da teoria do desenvolvimento

cognitivo proposta por Piaget ser importante para a compreensão da evolução

das crianças, outros autores afirmam que o processo de desenvolvimento é

algo mais contínuo, que acompanha o ser humano por toda a vida.

De acordo com Bee (1977), o desenvolvimento humano se dá a partir do

momento em que ocorre a concepção, onde um espermatozoide perpassa a

parede do óvulo da mulher.

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Para Myers (2006), desde o momento em que ocorre o encontro do

espermatozoide com o óvulo até o nascimento da criança, a evolução floresce

em um seguimento formado, esse bebê ao vir ao mundo já é munido com

capacidades e habilidades de percepção e conduta que contribuem para sua

sobrevivência.

Bee (1977) afirma que, durante os nove meses de gestação percebem-

se múltiplas modificações, o desenvolvimento das pálpebras, músculos e

órgãos sexuais. No desenrolar das 12, 16 e 20 semanas, a criança começa a

se movimentar, nota-se que seus lábios já estão formados, podendo abrir e

fechar a boca, crescimento de cabelo e até mesmo já se presencia a sucção do

polegar mesmo na barriga da mãe.

Segundo Papalia e Feldman (2013), no período pré-natal, o feto obtém

primazia pela voz da mãe, também se desenvolve uma predisposição de

perceber e lembrar, respondendo assim a seus estímulos sensoriais.

Já no fim das 24 e 28 semanas, a criança possui papilas gustativas e

glândulas importantes para regular a temperatura do corpo e eliminar

substâncias tóxicas, nota-se a respiração, e que algumas crianças nessa época

podem nascer prematuras, podendo ou não sobreviver (BEE, 1977).

De acordo com Papalia e Feldman (2013), logo nas primeiras semanas

de vida a criança já é capaz de lembrar e aprender. Nota-se que com o passar

dos anos, a percepção, a utilização de símbolos e capacidade de solucionar

problemas vão se expandindo cada vez mais. “O momento de maior significado

no curso do desenvolvimento intelectual, que da origem às formas puramente

humanas de inteligência prática e abstrata, acontece quando a fala e a

atividade prática, então duas linhas completamente diferentes do

desenvolvimento, convergem.” (VIGOTSKI, 2010, p.11-12).

Na fase sensório-motora, proposta por Piaget a criança vivencia o

mundo através dos seus sentidos (ouvindo, olhando, tocando, agarrando e

levando objetos à boca), e bebês com menos de 6 meses de idade não

conseguem perceber a permanência do objeto, ou seja, não têm consciência

de que o objeto existe mesmo quando não é visto (MYERS, 2006).

De acordo com Bee (1977), em relação à linguagem, salienta que com

menos de 1 ano, as primeiras palavras ou sons que saem da boca de uma

criança não consistem de fato uma linguagem, porém estudiosos denominam

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tal fase de pré-linguística, posteriormente existe um progresso na fala e na

formação das palavras.

Entretanto, Vigotski (2010), sugere que a fala e a inteligência prática

estão estreitamente relacionadas; a fala desempenha papel fundamental para

as crianças em termos de resolução de problemas. De acordo com o autor, a

fala é um instrumento característico dos humanos, que possibilita a

diferenciação em relação aos animais superiores.

Segundo Vigotski (2010), a fala possibilita a criança a controlar o

ambiente antes mesmo do próprio comportamento, e com isso evidencia-se

nova relação com o ambiente, bem como a organização do próprio

comportamento. De acordo com o autor, essa característica dos seres

humanos promove o estabelecimento da formação do intelecto e a utilização de

instrumentos de modo produtivo.

O mesmo autor acredita num entrelaçamento de duas vertentes de

desenvolvimento, sendo a primeira os processos elementares tendo influencias

de elementos biológicos e orgânicos, e a segunda, por sua vez, as funções

psicológicas superiores, sustentando a concepção de que “A história do

comportamento da criança nasce do entrelaçamento dessas duas linhas. p.

42”; destaca que para compreender o processo de desenvolvimento é

necessário considerar a pré-história do desenvolvimento, onde as questões

biológicas e orgânicas predominam. Ressalta também, a influência da cultura

no estabelecimento de padrões de comportamentos, bem como a importância

dos instrumentos e da fala.

De acordo com Papalia e Feldman (2013), na primeira infância (até

aproximadamente os 3 anos) formam-se vínculos com os pais e outras

pessoas, a consciência se desenvolve ainda mais, e surge uma certa

autossuficiência e a curiosidade por outras crianças.

De acordo com Bee (1977), entre os 2 e 5 anos de idade, ocorrem

diversas mudanças em várias áreas, a linguagem se desenvolve e a criança

percebe que as palavras podem dar nomes às coisas, a mesma sente-se

independente, percebe que pode dominar seu próprio corpo, possuindo

agilidade e sendo capaz de ir sozinha ao banheiro.

Durante a segunda infância (3 a 6 anos) as percepções dos sentimentos

ficam ainda mais complexas, a liberdade é aflorada e o autocontrole é cada vez

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mais presente, nesta idade a criança desenvolve a identidade de gênero; o

brincar dessa criança se torna mais sublimado e mais coletivo. Nota-se que a

família constitui a base da vida da criança e outras crianças tornam-se mais

significativas para a mesma (PAPALIA; FELDMAN, 2013).

No estágio pré-operatório existe uma explosão linguística (marcada pela

ecolalia), ausência de raciocínio lógico e um grande egocentrismo (tudo gira

em torno da criança) (MYERS, 2006). Em experimentos desenvolvidos por

Kohler e Levina em crianças de 4 e 5 anos, observou-se a atuação da fala

como componente auxiliar na resolução de tarefas, a fala egocêntrica é

utilizada com instrumento para resolver situações problemas, e sua intensidade

aumenta de acordo com a dificuldade da tarefa proposta (VIGOTSKI, 2010).

Na terceira infância (6 a 11 anos), ocorre a diminuição do egocentrismo,

onde o individuo começa a pensar mais no próximo (coletivo), tendo um senso

mais objetivo, suas habilidades de memória e linguagem se aperfeiçoam ainda

mais. Nessa fase o indivíduo tende a ter sua autoestima afetada, por surgirem

muitas dúvidas e julgamentos, tornando-se tudo mais complexo e aos amigos

atribui-se importância total (PAPALIA; FELDMAN, 2013).

Segundo Vigotski (2010), a memória constitui papel central na fase

inicial da infância, diferindo da memória constada em crianças mais

desenvolvidas. Segundo o autor, o ato de pensar em crianças pequenas é

fundamentado em elementos mnêmicos, nesta fase, para pensar é necessário

lembrar. Destaca, porém, que tal relação é evidenciada apenas nos estágios

iniciais do desenvolvimento.

A fase operacional concreta é marcada por pensamentos lógicos sobre

situações concretas. Ocorre uma diminuição do egocentrismo (maior facilidade

no contato com outras crianças) e uma facilidade em compreender analogias e

realizar transformações matemáticas. Essa fase coincide com a entrada da

criança na escola (MYERS, 2006).

Ao chegar à adolescência, dos 11 aos 20 anos aproximadamente, o

indivíduo aprimora a capacidade de cogitar termos subjetivos tendo um

raciocínio mais técnico. Algumas atitudes são influenciadas pela imaturidade,

obtendo alguns comportamentos impulsivos e inadequados. São influenciados

de modo bom ou ruim; inicia-se a busca pela identidade sexual (PAPALIA;

FELDMAN 2013). “Para as crianças pensar significa lembrar; no entanto, para

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o adolescente, lembrar significa pensar. Sua memória está tão “carregada de

lógica” que o processo de lembrar está reduzido a estabelecer e encontrar

relações lógicas;” (VIGOTSKI, 2010, p. 49).

Bee (1977) nos diz que a partir dos 12 anos, o individuo irá passar por

muitas mudanças e entrará em confronto com tais modificações. Notam-se

mudanças nas suas relações interpessoais e até em sua cognição, onde o

mesmo consegue ter raciocínio sobre coisas que ele não vê e até mesmo

refletir sobre seus pensamentos; há a diminuição do egocentrismo e o aumento

de hormônios, e consequentemente o corpo sofrerá alterações.

Por fim, pode-se falar sobre a fase operacional formal, em que ocorre o

desenvolvimento do raciocínio abstrato, certo grau de amadurecimento e

potencial para o raciocínio moral (MYERS, 2006).

Antes de se chegar à maturidade da vida adulta, o ser humano passa

pelo estágio da adolescência, período aproximado compreendido entre os 13 e

os 19 anos de idade, e neste período atinge-se a puberdade (desenvolvimento

corpóreo e sexual). Essa fase é marcada por comportamentos de grupalidade e

pensamentos oposicionistas, buscando estabelecer sua identidade social, bem

como a sexual (MYERS, 2006).

De acordo com Papalia e Feldman (2013), no início da vida adulta, 20 a

40 anos, as complexidades e julgamentos citados acima se tornam ainda mais

presentes, decisões sobre relacionamentos e escolhas profissionais começam

a ser feitas. O meio em que se vive e acontecimentos vivenciados podem

influenciar alguns comportamentos e até mesmo mudanças em sua vida.

Segundo Myers (2006), quando a pessoa atinge a vida adulta

intermediária, 40 a 65 anos, ela encontra certo sentido em contribuir para o

mundo, geralmente por meio da família e do trabalho, ou pode ocorrer também

uma falta de sentido e objetivos na vida.

Segundo Papalia e Feldman (2013), na vida adulta tardia, 65 anos, é

possível afirmar que em sua maioria, as pessoas mantêm-se operantes,

entretanto acentua-se o declínio da saúde física e mental. Nessa idade as

pessoas refletem a respeito de suas vidas, podendo vivenciar sentimentos de

satisfação ou fracasso, de acordo com seu processo vivencial (MYERS, 2006).

Segundo Papalia e Feldman (2013), a inteligência e memória iniciam um

processo de deterioração, momento em que a busca por meios de

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compensação se faz presente em tal situação. Com a aposentadoria, essas

pessoas podem encontrar novas ressignificações para suas vivências, e as

relações com a família e a sociedade podem auxiliar positivamente nesses

processos do envelhecimento.

De acordo com Birren e Schroots (1996 apud FECHINE; TROMPIERI,

2012), o envelhecimento pode ser dividido em três partes: envelhecimento

primário, envelhecimento secundário; e envelhecimento terciário.

O envelhecimento primário é conhecido como o envelhecimento normal,

onde se encontra dentro da normalidade da espécie, ou seja, acontece

naturalmente, obtendo influências dos aspectos relacionados à vida (BIRREN;

SCHROOTS, 1996 apud FECHINE; TROMPIERI, 2012).

Já no envelhecimento secundário ou patológico, evidencia-se algum tipo

de enfermidade, seja cerebral, cardiovasculares, entre outras, o indivíduo deixa

de ter um envelhecimento natural, onde é conduzido pelos sintomas e

implicações da doença (BIRREN; SCHROOTS, 1996 apud FECHINE;

TROMPIERI, 2012).

Por fim, o envelhecimento terciário ou terminal, é quando o individuo

perde suas funções cognitivas e físicas, através do envelhecimento

considerado normal ou anormal. (BIRREN; SCHROOTS, 1996 apud FECHINE;

TROMPIERI, 2012).

Conforme Netto (2004), na velhice existem pessoas saudáveis e

pessoas doentes. Com isso, algumas enfermidades que foram evidenciadas na

velhice poderiam estar presentes no organismo do indivíduo antes mesmo

deste período, vindo à tona apenas nesta etapa marcada por declínios.

Todavia, não exclui o fato da existência de uma velhice salutar.

O autor comenta algumas das vicissitudes de ordem anatômica do

processo de envelhecimento, destacando as que são mais visíveis como o

tecido cutâneo, ocasionando fios quebradiços, queda de cabelo; mudanças na

postura que acarretam curvaturas na coluna torácica e lombar; rigidez nas

articulações limitando os movimentos, além da dilatação aórtica cardiovascular

e a hipertrofia e dilatação do ventrículo esquerdo do coração, ligados a um

aumento da pressão arterial. Segundo ele, tais mudanças são típicas da

velhice.

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Negreiros (2007) salienta a importância de grupos de socialização para o

público idoso, pois com atividades que favoreça a interação os efeitos

motivacionais na pessoa idosa são significativos, haja vista a possibilidade de

compartilhar experiências e discutir temas de seu interesse, resultando na

manutenção de sua atividade mental. O autor adverte que quaisquer sinais de

declínio cognitivo, por mais que seja baixo, não deve ser encarado como

característico do processo de envelhecimento, “Ao contrário, alta é a

probabilidade de comprometimento leve evoluir para demência, especialmente

do tipo Alzheimer p. 119”.

2 COMPREENDENDO O ENVELHECIMENTO

2.1 O processo histórico da concepção do envelhecimento

O significado e a valia da velhice são observados em diversas épocas e

modificam-se ao longo da História humana, variando concepções oriundas das

mais diversas sociedades, cujos sentimentos estão ligeiramente associados.

Em termos orgânicos, a velhice representa declínios os quais, desencadeia

certo temor nos homens (BEAUVOIR, 1970)

De acordo com Neri (1995), o ser humano transcorre a maior parte do

tempo de sua vida na fase adulta. Durante sua história, o homem sempre

buscou respostas e significados para os mais variados fenômenos, incluindo a

velhice que, ao longo do tempo, teve sua concepção alterada, passando por

definições ingênuas e sem embasamento até alcançar as de cunho científico, a

qual tem evoluído considerando os fatores sociais e culturais envolvidos neste

processo.

Segundo Beauvoir (1970), a concepção da velhice é modificada de

acordo com a época e as circunstâncias, podendo haver oscilações nos

aspectos positivos e negativos de tal fenômeno. Retrata também, cada

indivíduo encara esta etapa da vida de modo particular. Para os gregos, a

concepção de honra conectou-se com a dos longevos, atribuindo algumas

prerrogativas como ancianidade e deputação. Dentre as personalidades

gregas, Homero, a propósito da velhice, relaciona o fenômeno com a

sabedoria, representada por Nestor, cujo tempo proporcionou-lhe a

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experiência, a arte das palavras e autoridade. Enquanto a Grécia viveu num

regime feudal, pode-se compreender que os longevos eram considerados

como merecedores de honras e dignos de respeito (BEAUVOIR, 1970).

A autora expõe a singularidade da velhice para o povo chinês,

destacando que nenhuma outra cultura tratou tal fenômeno de modo tão

particular em relação a questões hierárquicas e autoritárias. Salienta a força

que a idade representava para este povo, tal como sua autoridade em todos os

sentidos. O homem tinha elevado destaque social quando comparado a

mulher, no entanto, com a idade avançada esta última tinha papel importante

na educação dos netos.

Embora muitos jovens não fossem coniventes com as condutas da

pessoa idosa, suas prerrogativas não eram contestadas, uma vez que o valor

era medido por experiências em detrimento da força física. Além disso, quando

o homem atingia os 70 anos de idade, se submetia a um afastamento de suas

funções oficiais com o intuito de se preparar para a morte. Com isso, apesar da

autoridade continuar sob o domínio do idoso, os jovens (filhos) passavam a dar

continuidade nos negócios e no comando da casa (BEAUVOIR, 1970).

De acordo com Beauvoir (1970), o povo judeu interpreta a velhice com

base em preceitos bíblicos, cuja longevidade é um elemento preponderante. A

autora salienta a dificuldade em distinguir os relatos de caráter mitológico

daqueles que retratam a realidade do povo. De modo geral, com base nos

relatos bíblicos, os idosos são vistos como detentores da sabedoria que devem

ser obedecidos e respeitados pelos mais jovens.

Segundo Neri (1995), a ampliação das ciências sociais ficou marcada

pela tentativa de estruturar e estabelecer leis gerais sobre as causas e

peculiaridades de eventos naturais, desaprovando concepções ingênuas, não

constatadas empiricamente. Com isso, o desenvolvimento, envelhecimento e a

heterogeneidade adquiriram relevância científica, levando em conta as

regularidades e causas naturais desse período. No entanto, mesmo com as

contribuições com respaldo científico, as noções ingênuas sobre o

envelhecimento ainda estão presentes na sociedade, contribuindo de forma

significativa, impondo atitudes sociais, bem como ideologias de velhice

vigentes na sociedade.

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A autora ressalta que, no princípio, por falta de respaldo de cunho

científico, a Psicologia remeteu-se a concepções oriundas do século XIX, onde

a compreensão sobre a velhice estavam vinculadas às questões sobre a

estagnação do desenvolvimento e o caráter involutivo da mesma. Os estudos

aprofundados e sistematizados acerca desta temática começaram a ser

desenvolvidos no final da década de 1950.

A psicologia do envelhecimento está em ascensão no cenário mundial,

tal perspectiva, busca investigar as mudanças comportamentais em

decorrência da redução da funcionalidade, bem como os aspectos psicológicos

presentes nesta fase avançada da vida adulta. Vale ressaltar a relação

existente entre a psicologia do envelhecimento com a psicologia do

desenvolvimento e a gerontologia, um campo complexo, em função de sua

relação com diversas áreas do saber como, biologia, sociologia, antropologia

entre outros.

Neri (1995) salienta que um dos desafios enfrentados pela psicologia do

envelhecimento é a tentativa de conciliação dos conceitos conhecidos como

desenvolvimento e envelhecimento, considerados incompatíveis tanto para a

classe de cientistas comportamentais quanto para os leigos.

De acordo com a questão das relações entre as áreas do saber, Cerrato

e Trocóniz destacam as influências e contribuições de subdisciplinas

psicológicas que possibilitaram a confecção de uma estrutura coerente acerca

das especificidades do processo de envelhecimento, por meio de microteorias

e micromodelos, os quais contribuem na intervenção em realidades singulares,

objetivando a resolução de problemas. Os modelos e teorias provenientes

destas conexões geraram quatro contribuições que são consideradas clássicas

nessa esfera, como adaptação, autonomia e dependência, regulação

emocional e qualidade de vida. Na prática psicológica, tais contribuições têm

tido grande impacto (1998 apud BATISTONI, 2009).

2.2 O processo de envelhecimento, fatores cronológicos, biológicos, sociais

e psicológicos atuantes neste período.

De acordo com Gonçalves (2007), a Gerontologia sendo “gero” oriundo

do grego, significando (velho); estuda o processo de envelhecimento humano e

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suas implicações, atingindo questões genéticas, psicológicas e, finalmente,

sociais. Tal campo científico está em ascensão, visto ao crescente número de

idosos em todo o mundo. Destaca também, o expressivo crescimento desta

população quando comparado a outros grupos etários. Segundo Beauvoir

(1970), dentre as várias vicissitudes que a velhice acarreta há mudanças no

semblante, na cor do cabelo, queda dos dentes, declínio da força muscular, o

aumento da pressão e os órgãos dos sentidos são afetados.

Conforme defendido por Coni, Davison e Webster (1996), o

envelhecimento pode ser analisado sob um ponto de vista favorável. Os

autores ressaltam, com base em dados históricos, a taxa de longevidade, que

em países desenvolvidos e os que estão em desenvolvimento, é muito superior

aos tempos passados, onde catástrofes como Peste Negra e a segunda Guerra

Mundial, elevaram, precocemente, a taxa de mortalidade, isto é, devido tais

circunstâncias, as pessoas morriam cedo demais, antes mesmo de atingir a

velhice.

Nas palavras de Beauvoir (1970) existem características biológicas e

psicológicas na velhice, evidenciando que há singularidades neste período,

ocasionando, portanto, comportamentos típicos da velhice. Entretanto, Barbosa

(2007) expõe que a demarcação cronológica entre criança, adolescente, adulto

e idoso não vem sendo utilizada por profissionais da saúde. A autora relata

haver consonância em considerar as limitações de modo singular, pois

questões como hereditariedade, alimentação, ambiente, clima, atividades,

culturas, classe social e nível econômico têm grande importância no processo

da vida.

Segundo Paiva, Carvalho e Luna (2007), o envelhecimento é uma

condição do ser humano, todavia, o contexto em que este processo ocorre

pode ser determinante no que se refere à vida na velhice. Os autores ressaltam

que a idade é apenas um fator quantitativo referente aos anos de vida de cada

ser humano, contudo, fatores biopsicossociais e culturais atravessam todas as

fases da vida, até a velhice, sendo, portanto, de grande importância ao

considerar o processo da vida e seus desdobramentos.

Segundo Fontaine (2000) o envelhecimento é um processo de

deterioração progressivo e diferenciado, afetando todos os seres vivos.

Considera também, impossível datar o início deste processo, pois julga que

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alguns elementos são importantes e determinantes neste curso. A idade

cronológica é levada em conta, no entanto, há outros aspectos a serem

considerados, denominados como: idade biológica, psicológica e sociológica.

Em termos de gravidade e velocidade, cada indivíduo vivencia este período de

maneira singular, uma vez que os aspectos citados anteriormente podem ser

determinantes nesta fase da vida.

A idade biológica está relacionada ao processo de degradação dos

órgãos, atenuando a funcionalidade e a capacidade de auto-regulação,

tornando-se menos eficaz. A sociológica considera o contexto em que o

indivíduo está inserido, seu papel e costumes, bem como a relação com outros

membros da sociedade. A psicológica, por sua vez, relaciona as habilidades

comportamentais do sujeito à mudanças ambientais; abrange inteligência,

memória e motivação (apud CANCELA, 2007).

De encontro com o fator psicológico, Beauvoir (1970) pontua que a

questão da adaptação se torna um obstáculo para o idoso. Embora haja

facilidade em manejar conteúdos já adquiridos, evidencia-se certa dificuldade

em termos adaptativos; segundo a autora, as mudanças exigem grande esforço

por parte do idoso, facilitando uma tendência na manutenção de hábitos já

adquiridos, haja vista a falta de flexibilidade dos mesmos.

Para Coni, Davison e Webster (1996), aos 25 anos, o homem

experimenta o auge de suas funcionalidades em termos de força física e

potência sexual reprodutora e, a partir daí a declinação se dá de modo gradual.

Não importa o que se faça para amenizar os efeitos da velhice, não é possível

escapar dos declínios de ordem biológica e as influências do ambiente. Em

relação à velocidade do envelhecimento, os autores pontuam que tal fenômeno

ocorre de modo singular em cada indivíduo, onde questões de caráter genético

e ambiental são determinantes neste processo. Beauvoir (1970) expõe que nos

primeiros 20 anos de vida de um organismo, sua capacidade física está no

auge e que neste período a mudança do organismo é considerada benéfica.

Em estudo realizado, Schneider e Irigaray (2008), revelam as variáveis

do processo de envelhecimento, considerando aspectos cronológicos,

biológicos, psicológicos e sociais. Para os autores, “O envelhecimento é um

processo complexo e multifatorial”, devido a questões de caráter genético e

ambientais, fatores que impossibilita o estabelecimento de um modelo padrão

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de tal processo. Ressaltam que em termos cronológicos, biológicos,

psicológicos e sociais, cada indivíduo percorre o processo de envelhecimento

de forma única, podendo não haver consonância entre tais aspectos, haja vista

a atuação singular de cada um desses elementos. Entretanto, salientam a

preponderância dos mesmos na constituição do envelhecimento.

2.3 O envelhecimento salutar

De acordo com Neri (2000), as pesquisas acerca das vicissitudes e

qualidade de vida na velhice têm grande importância científica e social.

Segundo a autora, há uma contradição entre velhice e bem-estar, e pesquisas

sobre estas questões podem trazer luz na compreensão do envelhecimento e

desenvolvimento humano, bem como na elaboração de medidas interventivas

que promovam bem-estar para os longevos.

Pontuar as características da idade avançada trouxe um desafio para os

pensadores deste tema, tendo em conta que cada pessoa vivencia esta etapa

de modo particular e sob diversas influências, tornando-se, portanto, um

fenômeno multifatorial. Para olharmos a velhice como bem-sucedida em termos

de qualidade de vida, é necessário nos atermos a alguns aspectos, sendo eles

de caráter biológico, psicológico e socioestrutural; vários fatores são

considerados indicativos de bem-estar na velhice como a longevidade, saúde

mental; satisfação; controle cognitivo; status social, entre outros. Sabe-se que

tais fatores fazem parte do processo de envelhecimento, porém não é possível

precisar a atuação de cada elemento; entretanto, tais variáveis estão

relacionadas e podem influir no desenvolvimento de uma velhice saudável

(NERI, 2000).

De acordo com Deps (2000), as atividades ofertadas para o público

idoso têm grande relevância na promoção de bem-estar psicológico,

ocasionando interação social, significado existencial, motivação

autodeterminada, desenvolvimento positivo, entre outros.

Em estudo realizado pela autora em 1989 em duas instituições de longa

permanência (asilos), evidenciou-se o papel primordial que as atividades

exercem neste contexto. Para tanto, investigou-se as seguintes atividades:

atividades produtivas, de manutenção ou de ajuda; atividade de lazer e

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atividades religiosas. A pesquisa revelou que as atividades produtivas e de

manutenção são mais praticadas pelas mulheres, e as de lazer pelos homens;

de acordo com a autora, isso ocorre devido à dinâmica institucional, e não por

questões de gênero. O aspecto religioso teve mais ênfase na instituição que

cultivava princípios religiosos.

A autora sugere que a atividade pode oferecer significado existencial, e

com isso evidencia-se a “autorresponsabilidade, compromisso, de expressão

de valores e de sistematicidade que podem também ser entendida como

regularidade de ação p. 199”. Mediante tal conjuntura, observa-se o

estabelecimento de relações interpessoais significativas pautadas em bem-

estar.

A definição de atividade consiste na emissão de comportamentos diante

de um estímulo, desencadeando uma resposta. O mais importante não é a

quantidade de atividades desenvolvidas, mas quais, como e quanto tais

ocorrências influem na vida dos longevos. As atividades que demandam menor

tempo de execução têm maior contribuição para o bem-estar do idoso, tendo

em vista os declínios característicos desta fase da vida (REICH et al. 1987

apud NERI, 2000).

Beauvoir (1970) destaca que tanto para etnologia quanto para a biologia,

as contribuições favoráveis da pessoa idosa se dão por meio de sua memória e

experiência, uma vez que no âmbito da repetição colabora na eficiência prática

e de julgamentos. Contudo, a força física e a habilidade de adaptação ao novo

são prejudicadas. Destaca também que em sociedade cuja repetição e

organização se dá de modo evidente, há uma tendência dos adultos se

apoiarem nos idosos, no entanto, a mesma lógica não está presente em

sociedade que vive momentos de desordem e revolução, uma vez que nestas

circunstâncias os jovens estão à frente.

Segundo Neri (2004) para o bem-estar de adultos e idosos é necessário

que redes de relações sociais e apoio social estejam presentes neste meio.

Para que idosos tenham boa qualidade de vida social é fundamental que as

habilidades sociais possibilitem ao indivíduo a própria sobrevivência, sendo

possível uma significação para a possível construção de uma identidade,

possibilitando o aprendizado de outras formas de comunicação e normas de

convívio. Embora muitas habilidades já tenham sido adquiridas desde o

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nascimento até a velhice, ainda assim se faz necessário o relacionamento

interpessoal em qualquer ciclo da vida (RESENDE, et. al, 2006).

O apoio social é de extrema importância aos idosos, pois, possibilita que

os mesmos mantenham entre si um relacionamento que beneficia ambas as

partes. Propiciando o suporte emocional, bem como funções e conhecimento,

incentivando na busca de novos convívios sociais, para assim manter sua

própria subjetividade e promover qualidade de vida no envelhecer.

(CAPITANINI, 2000 apud RESENDE et al., 2006).

Em revisão da literatura, Phelan e Larson (2002) analisaram trabalhos que buscaram definir o envelhecimento bem-sucedido e identificar os prováveis indicadores do sucesso. Apesar de haver diferentes definições operacionais enfatizando a capacidade funcional, as seguintes características foram também consideradas: satisfação com a vida, longevidade, ausência de incapacidade, domínio/crescimento, participação social ativa, alta capacidade funcional/independência e adaptação positiva. Os fatores preditores variaram conforme os autores, destacando-se: nível educacional elevado; prática de atividade física regular; senso de auto-eficácia; participação social e ausência de doenças crônicas. (PHELAN; LARSON, 2002 apud TEIXEIRA; NERI, 2008, p. 01).

Resende et al. (2006), destaca que a satisfação com a vida esta

presente em indivíduos que apresentam relações sociais superiores, e

consequentemente também recebem maior suporte social, que aprimoram para

uma melhor qualidade de vida em grupos sociais.

De acordo com Rodrigues (apud RODRIGUES, SILVA, 2013) é

necessário que se diferencie apoio social de interação social. Afirma que nem

todas as interações sociais oferecem apoio, sendo, inclusive, negativas e

estressantes em alguns casos, como quando os filhos superprotegem os pais

idosos.

Martins e Souza (apud RODRIGUES, SILVA, 2013) definem apoio social

como um processo dinâmico e complexo, relacionando o indivíduo com sua

rede social e as trocas estabelecidas destas relações, com o intuito de

satisfazer as necessidades sociais do idoso.

Como forma de diminuir sentimentos de solidão, isolamento e anonimato

nos idosos, as redes de apoio social, buscando compreender as necessidades

de cada contexto específico, tem a função de contribuir para que eles se sintam

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valorizados e tenham sentimento de pertença a um grupo. (MARTINS apud

RODRIGUES, SILVA, 2013).

Outro fator importante, decisivo para que o idoso receba apoio social é

quanto à qualidade de vida, que é afetada pelas perdas e carências

(dependendo do significado particular para cada indivíduo). É importante que

ele se perceba estimado pelas pessoas que o cercam. (GRIEP apud

RODRIGUES, SILVA, 2013).

A questão do gênero também influencia a maneira como ocorre o apoio

social. Estudos demonstram que as mulheres têm uma capacidade maior de

estabelecer relações sociais. Afirmam também que os idosos solteiros, viúvos,

separados e sem filhos acabam recebendo menor apoio social o que

compromete sua qualidade de vida. (RAMOS apud RODRIGUES, SILVA,

2013).

Deve-se compreender que o meio social pode lançar vários aspectos,

positivos e negativos na ordenação do papel do idoso. Nota-se que o idoso se

encontra em situação de isolamento, quando vive em uma sociedade que

extremamente zela pelo padrão voltado a venustidade. (MORAGAS, 1997).

De acordo com Veras (1995) a falta do contato social pode se tornar um

problema, obtendo resultados desfavoráveis, comprometendo a saúde física e

mental.

Segundo Nogueira et al (2009), pesquisas realizadas sobre a relação

social, evidenciam procedimentos e técnicas que influenciam o individuo de

forma positiva. Sendo assim, ao longo da vida existem pessoas que contribuem

de forma favorável para sua saúde e bem-estar.

Moragas (1997) também afirma que o trabalho provoca status, e quando

aposentado, o idoso sofre uma cessação com os meios econômicos e sociais.

Seria importante rever muitos conceitos impostos pela sociedade, inclusive a

visão que se tem sobre status, pois se continuar da mesma forma, talvez,

grande parte dos idosos fique vulnerável ao isolamento vivenciado.

Segundo Nogueira, et al (2009), as perdas, inclusive de pessoas que

faziam parte das relações sociais do idoso podem refletir de uma maneira

negativa e, portanto, fazer com que o mesmo se isole. Com o intuito de que

isso não aconteça envolver-se em atividades o deixará cada vez menos

propenso ao isolamento.

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Os centros de convivência podem também identificar atividades adequadas para idosos, tornando-se também um local de encontro para atividades de lazer. Cinemas, teatros e espetáculos podem adotar um esquema de preços reduzidos para idosos, em cooperação e integração com um centro de convivência. Em vários países o uso destas opções de lazer pelos idosos, especialmente nas vesperais, é considerado bom investimento comercial; provavelmente os empresários brasileiros, se forem incentivados a fazer o mesmo, obterão o mesmo resultado (VERAS, 1995, p.17).

Toda pessoa possui aptidões importantes, seja ela jovem ou idosa. O

idoso carrega experiências, conhecimentos que uma pessoa mais jovem pode

não ter, porém o jovem possui robustez e vigor que o idoso necessita. Sendo

assim, um conjunto de valores extremamente importantes para o corpo de uma

sociedade (MORAGAS, 1997).

De acordo com Nogueira, et al (2009), embora tenham um convívio

limitado com as outras pessoas, com o avanço da idade, as pessoas costumam

se manter mais próximas de familiares e amizades mais antigas, o que pode

refletir de uma maneira qualitativa para a sua vida.

Moragas (1997) traz a importância, de a sociedade reconhecer o

desenvolvimento fisiológico e a qualidade psíquica e social, obtendo as

relações interpessoais, independente de sua faixa etária.

A experiência mais importante do idoso não se relaciona a seus conhecimentos técnicos, que os jovens possuem em maior quantidade, mas ao conhecimento dos problemas psíquicos e sociais que ele possui, pelo simples fato de ter vivido. Em razão da experiência, ele terá possíveis respostas para os temas contemporâneos de crise individual, dialogo entre gerações, conflitos entre grupo, e tantos outros problemas psiquicossociais contemporâneos. (MORAGAS, 1997, p.31).

Segundo Moragas (1997), teríamos que reavaliar protocolos negativos

da população que vem a envelhecer com limites, problemas, insuficiências,

deficiências e fraquezas. Infelizmente o ser humano associa a velhice com a

morte, tornando-se este ponto de vista, responsável pela perspectiva negativa

do envelhecer.

Em estudo realizado por Araújo et al. (2011), evidenciou-se que a

adesão de programas de promoção de saúde destinado ao público idoso têm

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tido efeitos significativos em termos de qualidade de vida; a participação do

idoso em questões que tange a saúde integral e com orientações voltadas à

saúde primária, culmina em agregação de conhecimento, favorecendo o

desenvolvimento de uma perspectiva holística. Com isso, o idoso tem a

possibilidade de desenvolver certo empoderamento e tornar-se o personagem

principal de sua história, no sentido de ser o único responsável por escolhas

acerca de sua saúde integral e questões sociais.

Carvalho e Dias (2011) realizaram um estudo em idosos provenientes de

camadas humildes da sociedade; 120 idosos participaram da pesquisa. As

autoras salientam que a questão da autonomia é um fator importante no

processo adaptativo desses idosos, embora outros fatores como apoio familiar

possa contribuir em tal desenvolvimento. A mudança de contexto implica em

modificações profundas em termos de concepção de vida do sujeito idoso, haja

vista a mudança de papéis sociais, onde o papel de patriarca ou matriarca do

grupo familiar é abandonado, ocasionando a perda de autonomia e liberdade.

Segundo as autoras, o estudo evidenciou respostas distintas no que

tange as relações interpessoais com os residentes e a equipe na dinâmica

institucional. Notou-se que parte dos idosos julga as relações como muito boas

ao passo que outros cultivavam o ponto de vista oposto. Embora as relações

interpessoais colaborem na qualidade de vida dos idosos, no presente trabalho

não foi possível detectar as relações do idoso com a questão de adaptação.

Em pesquisa realizada por Silva et al. (2013) destacou-se os pontos de

vista positivo dos idosos em relação ao envelhecimento e ao bem-estar

psicológico, sugerindo que são permeados por mecanismos de enfrentamento

perante as perdas deste período, objetivando-se estabelecer certo ajustamento

psicológico. Dito isso, as autoras pontuam que o enfrentamento de

adversidades afetivas/sociais é encarado com mais facilidade por sujeitos bem

ajustados, uma vez que têm mais habilidades de adaptação. Outro ponto

importante é o reconhecimento que os idosos têm do declínio biológico, porém

ficam apreensivos diante das possíveis implicações dessa etapa.

No geral, destacou-se que os idosos, por meio de comparações com

outros da mesma idade, concebem uma autopercepção positiva de sua saúde.

A religiosidade, por sua vez, tem grande relevância para esses idosos, o que

pode ser encarado como um meio de encarar a velhice; outras atividades,

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porém, desempenham papel importante na manutenção do bem-estar

psicológico dos idosos como atividades físicas, sociais e de lazer.

No que se refere à qualidade de vida, Rabelo e Neri (2005), salientam

que o amparo psicológico e social é de grande relevância, bem como as

crenças e situação emocional positiva, regulação afetiva, senso de

competência, entre outros. Segundo as autoras, para estabelecer programas

de cuidados é necessário ter uma concepção sólida em relação às implicações

da velhice nos aspectos psicológicos e sociais. Diante de tal conjuntura, o

papel dos profissionais que amparam esse público circunda a promoção de

saúde da melhor maneira possível, haja vista os desdobramentos de ordem

orgânica que resultam em declínio em todos os aspectos.

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CAPÍTULO Il

SUPORTE INSTITUCIONAL: PRERROGATIVAS ADVINDAS DO PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO

1. ILP- INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA

1.1 A história das instituições de longa permanência no Brasil

De acordo com Araújo et al. (2010) a humanidade está passando por um

processo de transformação na estrutura e perfil de sua população, onde até

2050 haverá um contingente de 2 bilhões de pessoas acima dos 60 anos,

população esta que se concentrará principalmente nos países mais

desenvolvidos. Tal modificação se dá devido aos avanços científicos que

proporcionam melhor qualidade de vida à humanidade.

Entretanto, as cobranças da vida moderna, principalmente relacionadas

ao mercado de trabalho acabam exigindo muito dos familiares das pessoas

idosas, dificultando que seja dada a devida atenção e cuidados específicos à

esse contingente. Sendo assim, surge cada vez mais a necessidade das

internações nas ILPs (Instituições de Longa Permanência). (MEDEIROS e

OLIVEIRA, 2010 apud ARAÚJO et al., 2011).

Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (2003), as

instituições para idosos não são recentes, tendo surgido por incentivo do

cristianismo. O asilo é reconhecido como casa de assistência social que

oferece proteção e cuidados para com pessoas pobres e sem condições de se

manterem com o mínimo de dignidade. Relacionando-se assim a ideia de

abrigo e guarita. Com o passar do tempo outros termos surgiram para

denominar locais de assistência a idosos como, por exemplo, abrigo, lar, casa

de repouso, clínica geriátrica e ancionato.

No Brasil, em 1890, foi criada a primeira instituição asilar do Rio de

Janeiro, o Asilo São Luiz para a Velhice Desemparada, onde seus moradores

eram colocados à margem do contexto familiar e social (GROISMAN, 1999

apud ARAÚJO, 2010).

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Como afirmam Goffman e Moreno, 2003 apud Araújo et al (2010), o

modelo asilar brasileiro está obsoleto quanto à assistência prestada aos idosos,

no que é denominado de instituição total, ou seja, um local de residência e

trabalho, onde um grande número de indivíduos com situação semelhante,

levam uma vida fechada e formalmente administrada.

Camarano, 2005 (apud ARAÚJO et al., 2010) diz que existem grandes

desigualdades quanto aos serviços prestados pelos asilos em diferentes

regiões do Brasil, sendo as do Sul e Sudeste do país àquelas que oferecem os

melhores serviços aos seus idosos com maior poder aquisitivo.

Diante disso, foi criada a Portaria nº 810/1989 que define as normas e

padrões de funcionamento de casas de repouso, clínicas geriátricas e outras

instituições para idosos. Ela define como deve ser a organização da instituição,

a área física, as instalações e os recursos humanos.

Araújo et al (2010) conclui dizendo que o número de asilos no Brasil vem

crescendo de maneira assombrosa, e por isso é importante a sociedade buscar

conhecimento a respeito desse segmento de institucionalização. Sendo

adotada apenas em última instância, quando todas as demais possibilidades do

idoso continuar no seio familiar sejam descartadas. Passando o asilamento a

ser uma opção que proporcione dignidade e qualidade de vida, a instituição

tem que romper com sua imagem histórica de segregação e se tornar uma

saída na vida dos idosos.

De acordo com o Estatuto do Idoso artigo 2° “O idoso goza de todos os

direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção

integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios,

todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e

mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em

condições de liberdade e dignidade.’’

Nas palavras de Camarano; Kanso (2010), o envelhecimento está

decorrendo em tempos de mudanças significativas em termos culturais, sociais,

econômicos e institucionais. Em um futuro próximo, espera-se um crescimento

acentuado da população idosa, haja vista alta taxa de natalidade verificada no

passado e o decréscimo de mortalidade verificado hoje nas idades mais

avançadas. Segundo as autoras, existem leis que responsabilizam a família

pelo cuidado de seus componentes, no entanto, tal postura torna-se cada vez

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menos frequente. Com isso, as instituições filantrópicas e/ou privadas têm

como objetivo a divisão das responsabilidades diante desse público. As

instituições de longa permanência para idosos (ILPIs) de caráter filantrópico ou

privado oferecem a possibilidade de cuidados para essa parcela da população.

Conforme o Estatuto do Idoso prevê, no artigo 3° “É obrigação da

família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso,

com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação,

à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à

liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.”

A respeito das ILPIs, Camarano e Kanso (2010) destacam que, no Brasil

propriamente dito, as acepções são variadas e longe de um consenso. Sua

gênese está, originalmente, ligada aos asilos que favorecia abrigo a população

carente. Tal instituição era fruto da caridade cristã devido à falta de políticas

públicas para essa população específica. De acordo com as autoras, conforme

o envelhecimento e taxa de longevidade ocorre, nota-se que os idosos estão

vivendo mais, no entanto as afecções provocam decréscimos de aptidões

físicas e cognitivas, implicando em mudanças de paradigmas dentro das

instituições, tendo em vista o acréscimo de necessidades, especialmente de

assistência à saúde.

Em suma, entende-se por IPLIs instituições que oferece abrigo aos

idosos independentes que possuem dificuldades financeiras ou familiares, bem

como àqueles que passam por adversidades físicas comprometedoras que

demande cuidados frequentes (CAMARANO; KANSO, 2010).

Bleger (1984) destaca as instituições como portadoras de objetivos

específicos, de regras explícitas e implícitas; conforme suas palavras o

elemento explícito é aquele que se mostra de modo concreto, e o implícito por

sua vez, são as implicações de tal concretitude.

Segundo Araújo, Countinho e Santos (2006) as instituições de longa

permanência desempenham um papel social importante, uma vez que oferece

assistência para idosos que não dispõem de familiares. Com isso, é possível

favorecer o estabelecimento de novas relações interpessoais, bem como troca

de afetos. Todavia, evoca uma reflexão: quais fatores contribuíram para a

existência de instituições que ofereçam assistências para a população idosa,

tendo em vista que o Estatuto do Idoso determina que a família, o estado e a

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sociedade ofereçam condições justas para os mesmos, realidade que, segundo

o autor, não é normalmente encontrada.

De acordo com Bleger (1984), existe um funcionamento psicológico

dinâmico nas instituições, implicando alterações na personalidade dos

indivíduos uma vez ingressados na mesma; as instituições oferecem respaldo

aos homens, no sentido de apoio, segurança e pertencimento. O autor afirma

em uma perspectiva psicológica, que os efeitos da institucionalização causam

mudanças na personalidade ocasionando agregações de valores no sujeito.

Portanto, as instituições oferecem suporte de cunho social como organização,

controle e regulação, bem como seus acrescimentos subjetivos.

Um estudo realizado por Araújo, Coutinho e Santos (2006), buscou

analisar as representações sociais acerca da velhice na perspectiva do público

idoso, sendo estes de grupos de convivência (GC’s) e de instituições de longa

permanência (ILPI’s). A amostra foi dividida igualmente, contendo, portanto, 25

participantes, de ambos os sexos, em cada âmbito. A pesquisa foi efetuada por

meio de Entrevistas Semi-Estruturadas e aplicada individualmente.

Por meio de um Dendograma estipulou-se quatro classes de

representações sociais da velhice, colhidas nos dois grupos estudados. As

classes 1 e 4 correspondem às Vivências Divergentes na Velhice: suas Perdas

e Ganhos e, por sua vez, as classes 2 e 3 dizem respeito às Vivências

Relacionadas às Conquistas Sócio-Afetivas e Comportamentais advindas dos

GC’s.

Concluindo a pesquisa, Araújo, Coutinho e Santos (2006), destacam

duas vertentes contraditórias entre os grupos estudados, bem como a

conotação negativa acerca da velhice de modo geral. Percebeu-se que, se por

um lado, os idosos participantes de grupos de convivência vivenciam seu

processo de envelhecimento praticando atividades que promovem o bem-estar

e as interações grupais, por outro, os idosos oriundos de instituições de longa

permanência transcorrem este processo de forma limitada, devido as

regulamentações das instituições.

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1.2 Imagens negativas associadas às ilpis

Ao se falar em idosos institucionalizados é comum encontrar definições

como, asilo, abrigo, casa de repouso e ILPI - instituição de longa permanência

para idosos, que está relacionada não apenas na substituição da palavra asilo,

mas também em um novo sistema organizacional para a qualidade de vida na

moradia dos idosos. (COSTA; MERCADANTE, 2013).

É frequente a associação de imagens negativas relacionadas às

instituições popularmente denominadas como ‘‘asilo’’, sendo considerado lugar

de abandono e pobreza. Poucos anos atrás estudos científicos relacionados a

esta área, eram desfavorecidos, pois, não eram de grande interesse social.

(BORN; BOECHAT, 2002).

De acordo com Vieira (2004), o asilo é geralmente criticado

centralizando-se na ausência de projetos terapêuticos, que consequentemente

deram origem a exclusão social nos asilos e em outras instituições, como por

exemplo, os manicômios. É necessário compreender quais são as funções das

instituições geriátricas de longa permanência e o que promove para seus

moradores, para que não seja feito um raciocínio errôneo da mesma. “Nas ILPs

com qualidade, o idoso pode recuperar a saúde e a vontade de viver, criar

novas relações sociais, desenvolver-se.” (BORN; BOECHAT, 2002, p. 771).

Nas instituições particulares mesmo apresentando boa assistência,

profissionais preparados para lidar com o público idoso, gerando melhor

qualidade de vida aos mesmos, a visão de abandono ainda assim é frequente.

Segundo Costa e Mercadante (2013) tais instituições, sejam elas de

caráter público ou privado necessitam de uma situação financeira adequada

para o bem-estar dos moradores. Umas vivem de doações oferecidas pela

população e outras de forma particular, o fator financeiro novamente remete à

ideia de pobreza e abandono, onde os familiares deixam um idoso em uma

instituição e pagam para que o mesmo permaneça naquele local.

As autoras afirmam que é possível que em um futuro próximos mais

idosos estejam residindo nas ILPIs, visto que a cada ano aumenta o número de

moradores necessitados de cuidados especiais.

O estigma social destinado aos idosos acaba sendo aceito pelos

mesmos, visto que, por estarem naquele ambiente, ou nem ter tido a chance de

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escolher onde gostariam de envelhecer, sentem-se por vezes sozinhos. É

necessário avaliar a maneira em que as atividades diárias são oferecidas aos

idosos. Eles apresentam determinados tipos de limitações, sendo elas de

ordem físicas e intelectuais, o que os faz sentirem-se desanimados ao deparar-

se com uma atividade que não conseguem desenvolver, podendo causar uma

sensação de impotência e incapacidade, gerando um período ocioso que

consequentemente os fazem sentir abandonados. (COSTA; MERCADANTE,

2013).

As mesmas autoras complementam que a sociedade continua em

constantes mudanças quando o assunto é a estrutura familiar. A grande

maioria da população concorda que deixar um idoso ao lado de sua família é a

melhor escolha, porém, as pessoas acabam optando pelo processo de

institucionalização, pois, com as rotinas diárias, não possuem tempo suficiente

para cuidar de um idoso. Pensando assim, é necessária a construção de novos

pensamentos para que a inclusão de um idoso em uma instituição seja vista de

forma distinta do estigma construído.

2 IMPLICAÇÕES DO PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO DO IDOSO

Primeiramente deve-se lembrar que a institucionalização em ambiente

asilar deve ocorrer como última possibilidade para abrigar uma pessoa idosa,

devendo sempre priorizar sua permanência no meio familiar. Pode-se afirmar

que a família tem o dever de cuidar e amparar seus parentes idosos.

Infelizmente, isso não ocorre com frequência (DALVI; RAMOS, 2012).

Dalvi e Ramos (2012) dizem que mesmo idosos que moram com

familiares acabam sentindo-se sozinhos e abandonados, pois passam longos

períodos desacompanhados em casa, enquanto os demais membros da família

estão trabalhando, ocasionando assim sentimentos de desvalia.

Mudança de moradia pode ser bastante estressante para o velho. Uma vez que as pessoas desenvolvem laços estreitos com suas casas, tanto por razões boas como más, o velho pode resistir a mudar-se de casa mesmo em circunstâncias extremas (...) O desejo de evitar relocação se vê na tendência de gente idosa de exprimir satisfação com suas condições de moradia e vizinhança, mesmo que observadores

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independentes as julguem inadequadas (NAHEMOW; POUSADA, 1987, p.57).

Nahemow e Pousada (1987) afirmam que mesmo diante de diversas

dificuldades encontradas por idosos que moram sozinhos em casas ou

apartamentos, dificuldades inclusive quanto à estrutura da casa que prejudicam

sua locomoção, eles em sua grande maioria, optam por não se mudarem.

Existem evidências que mostram que a convivência familiar é encarada como

apoio à capacidade de orientação em declínio dessa pessoa, sendo assim, o

ambiente mais adequado para a saúde mental do indivíduo. Porém quando tal

ambiente não dá o suporte necessário para o idoso, por vezes, opta-se por sua

institucionalização.

Diante de todas essas dificuldades encontradas pelos idosos, com

relação à suas dificuldades financeiras, falta de espaço, privacidade,

impaciência dos familiares, falta de cuidados por parte desses familiares, além

da falta de afetividade, eles acabam sendo direcionados à instituições asilares.

É importante lembrar que mesmo que se busque a solução por vias da

institucionalização, a família deve manter os vínculos com este idoso (DALVI;

RAMOS, 2012).

Porém, é importante lembrar que uma realocação súbita desta pessoa

idosa, pode levar, não somente à desorientação, angústia e medo, mas

também pode ocasionar a morte. Isso tudo está estritamente relacionado ao

grau de doença desse idoso realocado e do domínio que o mesmo tem sobre o

ambiente e sua capacidade adaptativa. Essa transição deve ocorrer de forma

adequada, para que esta situação não venha a se tornar traumática

(NAHEMOW; POUSADA, 1987).

Segundo Dalvi e Ramos (2012) após o asilamento, os idosos acabam

desenvolvendo certa apatia, além de um grau de passividade e falta de

motivação para realizar qualquer tipo de atividade.

Duarte (2014) afirma que os idosos sentem uma perda em sua

autonomia, ou seja, do controle de suas atividades diárias, e de seu poder de

decisão. A realidade institucional é muitas vezes, vista como ambiente

imutável, gerando assim sentimentos de solidão e abandono. Além disso, este

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espaço tende a ser compreendido como desconfortável quanto à convivência

com outros idosos e as atividades não favoreçam o convívio social.

Na realidade cotidiana asilar, a sensação que se tem é de um lugar onde o tempo estagnou. As horas preguiçosas estendem-se, resistem e, no seu marasmo, contaminam todo o ambiente, num quase nada acontecer em suas diferentes horas: idosos sentados estáticos, muitas vezes, um ao lado do outro, sem conversas ou, quando se ouve alguma voz, na maioria das vezes é solitária. Idosos conversam, mas não se ouvem. Uns gritam, sem motivo aparente, outros vagam. A sensação é de desistência da vida. Permanece um tempo vazio de “espera” da morte (DALVI; RAMOS, 2012, p. 57).

Na rotina das instituições asilares existe poucas atividades para serem

realizadas pelos idosos residentes. É uma rotina maçante, e mesmo quando é

oferecida alguma atividade, os idosos não têm interesse por ela, afirmando que

tais atividades não atendem a nenhum de seus interesses, reforçando assim

uma condição de dependência e inutilidade. O espaço asilar é compreendido

como lugar de inércia e sem movimento (DALVI; RAMOS, 2012).

‘’O envelhecimento dos seres humanos caracteriza-se por uma

progressiva deterioração da capacidade do organismo de adaptar-se às

mudanças ambientais, resultando em uma maior vulnerabilidade a doenças e à

morte’’. (JUNQUEIRA; RAMOS, 2005, p. 315).

De acordo com Nahemow e Pousada (1987), o ambiente asilar deve

cumprir metas de tratamento contínuo, visando integrar os residentes e seus

familiares a utilizarem os recursos pessoais, institucionais e comunitários para

obter um bom funcionamento do serviço. A instituição deve oferecer educação

de saúde, apoio social e aconselhamento, ajuda na tomada de decisões e

psicoterapia breve, além de atividades que atendam as demandas dos

moradores e ajudem no processo de apropriação deste ambiente, que se

tornou seu lar, além de facilitar as relações interpessoais com os demais idosos

residentes.

As autoras afirmam que é dever da família envolver-se nas questões de

adaptação de seu ente neste ambiente asilar, pois as famílias mostram-se

facilitadoras deste processo, as visitas auxiliam na manutenção desses

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vínculos, que são cruciais para o desenvolvimento de recursos de

enfrentamento diante das vivências do envelhecimento.

Dalvi e Ramos (2012), concluem que é necessário que se evite o

asilamento, devendo ocorrer apenas quando forem esgotadas todas as

possibilidades destes idosos permanecerem na família, e quando optar-se por

tal solução, lembrar que a família deve manter as relações afetivas com seu

familiar.

Afirmam que a sociedade precisa pensar no asilamento, quando

indispensável, como alternativa que proporcione aos seus idosos residentes

um ambiente estimulador, digno e que ofereça qualidade de vida. Tais

instituições devem transpor essa imagem tão arraigada de segregação e

afastamento da sociedade para ser vista como ambiente acolhedor, e

estimulador das capacidades cognitivas e sociais do idoso.

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CAPÍTULO III

A IMPORTÂNCIA DA MANUTENÇÃO DAS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

1 METODOLOGIA

1.1 Introdução

A pesquisa intitulada “Encarando o envelhecer: aspectos psicológicos

em idosos institucionalizados” foi submetida à Plataforma Brasil conforme

resolução 466 de 12/12/12 e aprovada pelo Comitê de ética do Unisalesiano –

Araçatuba. Parecer número: 2.279.022 em 15 de Setembro de 2017.

O estudo teve como pergunta problema o seguinte questionamento: “A

ausência de relações interpessoais no contexto institucional pode resultar em

idosos solitários?”. Tal questionamento surgiu através da observação in loco

em estágio voluntário realizado no Asilo da cidade de Lins-SP, notou-se a falta

de visitas na instituição asilar e o quanto os idosos eram carentes nas relações

interpessoais, sendo assim, surgiu o interesse em compreender os sentimentos

acerca desta temática, realizando-se a pesquisa em uma clínica geriátrica

particular.

Diante do contexto citado, o objetivo foi compreender o processo de

envelhecimento em idosos institucionalizados, bem como aspectos

psicológicos implicados nessa vivência, a fim de verificar a hipótese de que a

falta das relações sociais pode afetar esses idosos, podendo desencadear a

depressão e sentimentos de solidão.

Segundo Karuza (2002) existe uma linha tênue entre o apoio social e a

saúde global do sujeito. Uma vez que o suporte social é baixo, é possível gerar

alguns efeitos danosos à saúde do idoso como taxa de mortalidade acentuada,

depressão, doenças de ordem física, lentidão na recuperação de

procedimentos cirúrgicos. É interessante ressaltar que o apoio social deve

estar vinculado com a preservação do sentimento da autonomia do idoso. Uma

vez que este processo ocorra de forma adequada o envelhecimento não se

tornará um fardo para o idoso.

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Tendo em vista o aumento da expectativa de vida do idoso, sua

condição e saúde ganhou uma maior preocupação no contexto social. A busca

por instituições que prestem serviços para esse público acompanhou esse

crescimento, de forma a desenvolver um atendimento que contribua para o

envelhecimento saudável. É de suma importância que se atentem e cuidem

para que nesses ambientes se ofereçam serviços qualificados, pois com esse

aumento diversas vezes se encontram falhas, contribuindo para um vazio de

significados no cotidiano, empobrecendo a existência do idoso. (PORTELLA;

ORMEZZANO, 2010)

Tomando tal realidade, este estudo se fundamenta nos direitos

assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos

previstas no Estatuto do Idoso, criado pela Lei Nº 10.741, de 1º de Outubro de

2003. (BRASIL, 2003)

Foi importante compreender de forma mais abrangente como os idosos

institucionalizados lidam com essa realidade e suas relações interpessoais,

portanto, utilizou-se do método de pesquisa descritiva e qualitativa, tendo em

vista que, de acordo com Gil (2008) a pesquisa descritiva visa descrever e

estudar características de determinado grupo ou fenômeno, objetivando coletar

dados a fim de levantar opiniões acerca de determinado tema.

A pesquisa qualitativa é de particular relevância ao estudo das relações sociais devido à pluralização das esferas de vida. Os aspectos essenciais da pesquisa qualitativa consistem na escolha adequada de métodos e teorias convenientes, no reconhecimento e na análise de diferentes perspectivas, nas reflexões dos pesquisadores a respeito de suas pesquisas como parte do processo de produção de conhecimento e na variedade de abordagens e métodos. (FLICK, 2009, p. 20-23)

Nota-se, portanto, que olhar esses sujeitos como indivíduos que

possuem sentimentos, considerando sua individualidade e suas relações é

necessário. Seu contexto social e político no qual está inserido também são

imprescindíveis, uma vez que irá de encontro com seus valores, cultura,

religião, o que constitui e contribui para sua subjetividade e, além disso,

partindo-se da premissa que possuem direitos enquanto indivíduos, devendo,

portanto, ser respeitados. Desse modo, é pertinente citar a lei citada

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anteriormente, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, onde se garante e amplia

os direitos do brasileiro com idade superior ou igual a 60 anos. A partir de

disposições do Estatuto, o idoso goza de todos os direitos fundamentais

referentes a essa qualidade, sendo que estes que lhe garantem “proteção

integral”.

1.2. Local e participantes da pesquisa

A pesquisa foi realizada na Clínica Geriátrica Villa Vida no município de

Lins-SP. A instituição é um imóvel grande, arejado, sendo que na entrada

possui um jardim, garagem, uma sala de coordenação e outra de arquivo, ao

entrar pela porta localizada a direita, encontra-se uma sala de televisão com

poltronas reguláveis para deitar, sofás, uma estante de madeira com fotos dos

idosos e familiares, televisão e uma maquina de café. A instituição possui

quinze quartos, cada um com duas a três camas, uma televisão e um banheiro.

Em construção para mais seis quartos. Conta também com um refeitório amplo,

com duas mesas grandes e cadeiras, cozinha, lavanderia, quintal e piscina.

Participaram da pesquisa cinco idosos com idades entre sessenta e noventa e

seis anos. Foi realizada a leitura da carta de informação ao participante da

pesquisa (ANEXO B) objetivando situá-los diante do trabalho proposto; em

seguida, foi apresentado o termo de consentimento livre e esclarecido (ANEXO

C) com intuito de formalizar a participação dos mesmos. Ressaltou-se também,

a questão da preservação da imagem do pesquisando, dando ênfase ao sigilo

dos dados.

Os critérios utilizados para selecionar os idosos foram: lucidez e funções

cognitivas preservadas, sendo que o viés qualitativo foi pertinente, haja vista a

estrutura proposta pelos pesquisadores, onde questões subjetivas permeavam

as indagações.

1.3. Instrumento de coleta de dados e ida a campo

Empregou-se como instrumento de coleta de dados uma entrevista

estruturada (ANEXO D) com os residentes da Clínica Geriátrica Villa Vida no

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município de Lins-SP. Tal questionário foi elaborado com a finalidade de coletar

dados elementares e específicos da pesquisa em questão e, além da

entrevista, foi realizada observação e escuta qualificada.

Realizou-se a entrevista no dia dezoito de setembro de dois mil e

dezessete, iniciando-se às quatorze horas e finalizando-se às dezessete horas

do mesmo dia.

O ambiente escolhido para efetuar o questionário foi o refeitório da

instituição, por ser um local amplo e arejado, com mesas e cadeiras,

facilitando, portanto, a fluidez da pesquisa. Ofereceu-se, portanto aos

participantes da pesquisa um ambiente acolhedor e escuta qualificada

individual, propiciando a interação entre pesquisadores e pesquisando.

Conforme esclarecido aos participantes, as informações foram

transcritas por um dos pesquisadores, enquanto os outros efetuavam as

perguntas de maneira clara e objetiva, evitando deficiência para a transcrição e

análise. Em vista disso, após a coleta dos dados, as falas dos participantes

foram analisadas sob a perspectiva da abordagem cognitivo-comportamental.

Seus nomes foram mantidos em sigilo, denominando-os de “idoso I, II, III, IV,

V’’ como alternativa para preservar seu anonimato.

O roteiro de questões utilizado, contendo dez perguntas, teve

inicialmente a coleta de informações referentes aos dados de identificação do

participante como data de nascimento, estado civil, cidade de origem, abrindo

em seguida para o número de filhos, tempo de instituição e uso

medicamentoso e, posteriormente, questões relacionadas ao processo de

institucionalização, a importância das visitas e das relações interpessoais, e por

fim, questões acerca do enfrentamento do envelhecimento.

As perguntas foram feitas por intermédio dos pesquisadores, visando

apresentar de forma clara o conteúdo das questões. Todos os participantes

responderam de modo coerente as indagações.

1.4. Tratamento dos dados

Retomando-se alguns passos descritos anteriormente, utilizou-se de

transcrição em conformidade com o esclarecimento ao participante, tendo seus

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nomes resguardados. Após a coleta dos dados, as falas dos participantes

foram analisadas sob o viés da abordagem cognitivo-comportamental, tendo

em vista que tal abordagem propicia de maneira específica focar no problema

atual do participante, possibilitando reconhecer que os problemas que os

afetam não são os acontecimentos, mas a forma como é interpretado.

‘’A Terapia cognitivo-comportamental em grupo para idosos apresenta

eficácia significativa na diminuição de sintomas de ansiedade, depressão,

crenças disfuncionais e aumento de bem-estar subjetivo’’. (TRISTÁN;

RANGEL, apud LOBO et al., 2012, p. 01).

1.5. Procedimentos de seleção

A seleção dos participantes ocorreu de maneira a priorizar os idosos

com suas funções cognitivas preservadas, de ambos os sexos, com idade

entre sessenta e noventa e seis anos, residentes da Clínica Geriátrica Villa

Vida localizada na cidade de Lins-SP. Para isso, obteve-se a ajuda de uma

Enfermeira responsável pelos cuidados dos idosos, para que fossem

selecionados idosos com tais características.

Abaixo tabela com dados de identificação dos participantes:

Tabela 1: Coleta de dados de identificação dos idosos.

Fonte: Clínica geriátrica villa vida, 2017. Elaborada por: BARBOSA; INÁCIO JUNIOR; GONÇALVES, 2017.

1.6. Análise de dados

Os idosos que aceitaram participar da pesquisa têm idade de 62 a 96

anos. 3 são do gênero feminino e 2 do gênero masculino, em relação ao estado

civil 4 são viúvos e apenas uma é separada, três idosos possuem 3 filhos, um

Idoso Idade Gênero Estado civil Nº de

filhos

Tempo na

instituição

Cidade de

origem

Medicamento

contínuo

1 62 Feminino Viúva 3 1 a. 2 m. Cafelândia Sim

2 69 Masculino Viúvo 3 6 m. Lins Sim

3 92 Masculino Viúvo 0 1 a. Guarantã Sim

4 96 Feminino Viúva 3 1 a. 8 m. Cafelândia Sim

5 79 Feminino Separada 2 1 a. 5 m. Bilac Sim

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possui 2 filhos e outro nenhum. Sobre o tempo na instituição, os idosos estão

institucionalizados entre 6 meses e 1 ano e 8 meses. Dois idosos têm como

cidade de origem Cafelândia, os outros três são naturais de Lins, Guarantã e

Bilac. Todos os idosos fazem uso de medicamento contínuo.

1.6.1. Análise das respostas relacionadas ao processo de institucionalização

De acordo com a entrevista observou-se que a maioria dos idosos não

participou da escolha da instituição.

Segundo Fragoso (2008) É importante que o ser humano realize suas

escolhas e tenha controle das experiências que intervém em sua própria vida, o

idoso é bem menos realizado, sabe-se que se torna dependente, porém é

importante, em algumas situações, que se desenvolva o senso de competência

e deixá-lo realizar suas próprias escolhas.

Afirma Papaléo (2000 apud RISSARDO et al., 2011), que quando os

familiares do idoso vão em busca de uma clínica para que ele possa morar, os

mesmos buscam um lugar que proporcione cuidados, carinho e que transmita

confiança, porém em muitos casos os idosos não participam dessa escolha e

vão contra sua vontade, onde sofre adaptações para adentrar nas Instituições e

conviver com os demais moradores da casa.

[...] Fui dormir na casa de uma amiga e quando vi já estava aqui.

(IDOSO I).

[...] Eu participei da escolha, eu gosto daqui, eles são como os pais da

gente. (IDOSO IV).

Durante as entrevistas, quando apresentada a 6° pergunta, um idoso

ressaltou a questão da ‘falta de autonomia’’ e as respostas dos demais

participantes foram relacionadas à ‘’falta da família’’.

Sabe-se que a autonomia é um aspecto essencial no envelhecimento

saudável, e as pessoas idosas, quando autônomas, mantém sua integridade e

sua liberdade de escolha, promovendo melhorias ao processo de envelhecer.

Percebe-se que quando se trata de envelhecimento salutar, refere-se na

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questão de resguardar sua autonomia, ocasionando o bem-estar mental, físico

e social. (BRASIL, 2003 apud CUNHA et al., 2012)

[...] Liberdade e dinheiro na mão (IDOSO V).

É importante ressaltar que a institucionalização em ambiente asilar deve

ocorrer como última possibilidade para abrigar uma pessoa idosa, devendo

sempre priorizar sua permanência no meio familiar. (DALVI; RAMOS, 2012).

Segundo Zimerman apud Mendes et al (2005), percebe-se que além da

família, o contato com o meio social, onde permite-se troca de experiências,

sentimentos, pode influenciar positivamente na segurança emocional do idoso.

De acordo com Nogueira, et al (2009), embora tenham um convívio

limitado com as outras pessoas, com o avanço de idade, as pessoas costumam

se manter mais próximas de familiares e amizades mais antigas, o que pode

refletir de uma maneira qualitativa para a sua vida.

Nota-se que em todas as fases da vida do ser humano, a família tem um

papel importantíssimo no robustecimento das relações, porém em alguns casos

a família não consegue entender o envelhecer do outro e com isso o

relacionamento entre eles se torna ainda mais complicado (LEITE, 1995 apud

MENDES et al., 2005).

[...] Família é tudo! (IDOSO II)

[...] O que mais me faz falta são meus filhos e a minha casa. (IDOSO I.)

No decorrer do questionário, percebeu-se o quão complexa é a questão

da adaptação. Em alguns casos o idoso é obrigado a permitir separar-se de

seu lar e particularidades, para adaptar-se a um novo contexto.

De encontro com o fator psicológico, Beauvoir (1970) pontua que a

questão da adaptação se torna um obstáculo para o idoso. Embora haja

facilidade em manejar conteúdos já adquiridos, evidencia-se certa dificuldade

em termos adaptativos; segundo a autora, as mudanças exigem grande esforço

por parte do idoso, facilitando uma tendência na manutenção de hábitos já

adquiridos, haja vista a falta de flexibilidade dos mesmos.

[...] Não foi fácil, muito difícil ficar distante da família. (IDOSO II)

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Nahemow; Pousada (1987) afirmam que mesmo diante de diversas

dificuldades encontradas por idosos que moram sozinhos em casas ou

apartamentos, dificuldades inclusive quanto à estrutura da casa prejudicam sua

locomoção, fazendo com que esses idosos, em sua grande maioria, optem por

não se mudarem.

[...] Ter que dividir o quarto não é fácil (IDOSO IV).

Mudança de moradia pode ser bastante estressora para o idoso. Nota-se

que quando laços são desenvolvidos, aconchego, privacidade e intimidade, o

idoso, independente da razão, pode negar a mudar-se de casa. Essa restrição

ao recolocar-se se vê em vários aspectos pessoais, sociais, inclusive por ter

que adaptar-se novamente, com a casa, vizinhança, entre outros. (NAHEMOW;

POUSADA, 1987.

1.6.2. Análise das respostas onde se faz importante as relações interpessoais

Nas palavras de Minicucci (2013), a interação corresponde a uma

mudança de comportamento, e é estabelecida por meio do contato entre dois

ou mais indivíduos. A interação é efetuada por intermédio da linguagem,

símbolos; gestos e postura. Além disso, entende-se por interação um conjunto

de ações e reações nas relações interpessoais, objetivando o desenvolvimento;

manutenção; crescimento e coesão do grupo. Ressalta, entretanto, as formas

que tais interações podem ocorrer: positiva, negativa ou neutra.

De acordo com o autor “Algumas pessoas reunidas transformam-se em

grupo quando se verifica que cada indivíduo está afetado pelos outros

indivíduos que compõem o mesmo grupo. Dessa forma, os indivíduos reagem

com relação aos outros, por meio da interação. p 196.”

Podemos verificar as implicações das relações interpessoais na fala

abaixo:

[...] Muito importante receber visita, é bom bater papo. (Idoso III)

O idoso II, por sua vez, expôs a importância das relações interpessoais:

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[...] É importante a visita para animar e levantar o astral.

As relações interpessoais se fazem presentes em diversos âmbitos,

como na escola, empresa e nos lares. Alguns fatores podem prejudicar tais

relações interpessoais. É Mediante a percepção social que estabelecemos

impressões em relação às pessoas, não perdendo de vista nossas vivências

com as mesmas. O comportamento das mesmas nos fornece repertório para

percebê-las e julgá-las enquanto sujeitos.

No entanto, é preciso atenção. Torna-se necessário verificar se tais

percepções/julgamentos são corretos e caso estiverem, é possível estabelecer

uma relação interpessoal saudável. No caso de julgamentos equivocados, tais

relações são prejudicadas e tornam-se inconsistentes. Ressalta-se que “todos

nós temos “pontos cegos” na percepção e “atalhos no modo de pensar”, o que

dá uma imagem distorcida da realidade. p 41” (MINICUCCI, 2013).

1.6.3. Análise das respostas acerca do enfrentamento do envelhecimento

Notou-se que para as mulheres os aspectos que marcaram o

envelhecimento têm relação às mudanças corporais, físicas e a perda do

cônjuge.

Segundo Lima (2009) enfrentar o envelhecimento afeta as mulheres de

maneira distinta dos homens, visto que se refere à feminilidade, estando as

mulheres mais frágeis não somente aos problemas de saúde, mas também à

indisposições, alterações fisiológicas, a viuvez, entre outros problemas acerca

do envelhecimento

Isso foi percebido nos relatos abaixo:

[...] Ficar sem marido né? É ruim, ele puxava meu saco, ficava a favor de

tudo, mesmo que a gente esteja errada. (Idosa I)

[...] O corpo fica feio, o rosto fica feio, não vem mais menstruação,

significa que não sou mais jovem. (Idosa V)

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As falas dos idosos no que se referem ao pensamento da sociedade

sobre o envelhecimento revelam que os mesmos acreditam que perante a

sociedade são vistos como sem importância, provocando sentimentos de

inferioridade e inutilidade, gerando o pensamento de que para solucionar o

problema a melhor escolha é a institucionalização. ‘’A representação que os

outros têm da velhice, como perda da autonomia, leva a um estigma de que o

idoso é um problema social. O olhar do outro em relação à velhice é um olhar

estigmatizado e negativizado’’. (JARDIM; MEDEIROS e BRITO, 2006, p.28)

Isso se constatou na fala de três idosos que ressaltaram sobre o que a

sociedade pensa acerca do envelhecimento:

[...] envelhecimento é experiência que as pessoas carregam, hoje em dia

as pessoas só pensam naquela dança que meche o quadril, não se

importam com os mais velhos. (Idosa I)

As pessoas pensam que o idoso tem problema de convivência, é por

isso que existem as instituições, as pessoas têm obrigações no trabalho,

não sobra tempo para cuidar de um idoso. (Idoso II)

[...] Pensam que somos velhos que não serve para nada. (Idosa V)

Foi possível perceber que cada idoso possui uma representação do

processo de envelhecimento.

[...] a vivência dessa fase e a forma como as pessoas idosas representam o seu próprio processo de envelhecimento são influenciadas pela interação de aspectos psicossociais, históricos, políticos, econômicos, geográficos e culturais e, mais especificamente, por diferenças relacionadas ao contexto de vida cotidiana, às crenças e às características pessoais, tornando-o particular a cada idoso. (FALLER; TESTON e MARCON, 2014, p 129)

Notou- se a preocupação sobre as mudanças estéticas enfrentadas pelo

envelhecimento, bem como a perda da autonomia. Assim, observamos

insatisfação e autoestima baixa, como cita as participantes abaixo:

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É chato envelhecer, a gente fica feia, e deixa de fazer as coisas que

gostamos’’. (Idosa IV)

[...] Velho fica muito feio e as pessoas dão risada. (Idosa V)

Notou-se que embora os idosos estejam em processo de

envelhecimento, alguns não aceitaram tal processo. De acordo com Debert

(1999) os idosos reconhecem a existência da velhice, no entanto não

conseguem aceitar a própria velhice, transferindo sempre para o outro.

Conforme expressam os idosos:

[...] não me sinto velho, se não fosse a vista não teria problema, não

posso ir para a cidade, porque não enxergo direito e caio, quando a

gente fica velho sabe o que a gente pensa? Pensa em morte, mas eu

nunca pensei. (Idoso III)

Eu não vou envelhecer não, vou ficar bonita sempre [...] (Idosa V)

É perceptível que o envelhecimento além de ser mal visto pela

sociedade, também promove descontentamento pessoal para quem vivencia

esta fase, gerando pensamentos negativos sobre o envelhecer; as

modificações encontradas no processo de envelhecimento dificultam a

realização de atividades que anteriormente eram realizadas sem esforços,

portanto, a aceitação é primordial para promover qualidade de vida.

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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Diante da pesquisa realizada e do que emergiu durante as entrevistas

executadas, compreende-se que o idoso sofre com a falta de visitas de seus

familiares, e essa ausência pode desencadear problemas psicológicos e até

mesmo físicos. Entretanto, seria interessante o estabelecimento de algumas

medidas visando suprir esta falta, com o intuito de evitar possíveis sentimentos

negativos como o de abandono e solidão.

Notou-se a necessidade que os idosos têm de conversar e expressar

suas experiências. Apesar do contato com os residentes e funcionários, seria

significativo por parte da clínica a implementação de projetos em parceria com

as universidades da cidade, para que seja possível a realização de atividades

exercidas por estagiários tendo em vista a oferta de recursos provenientes de

uma relação de um trabalho multidisciplinar. Com isso, pode-se sugerir que

haja melhorias nas relações interpessoais, bem como tornar a estadia na

instituição mais agradável.

De acordo com alguns relatos, percebeu-se que o processo de

institucionalização se tornou aversivo para alguns idosos; no entanto, tal

dificuldade pode ser elucidada desde que haja um entendimento pleno das

demandas de cada residente cuja queixa esteja relacionada com essas

questões de ordem adaptativa.

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CONCLUSÃO

Diante desta pesquisa foi possível perceber a necessidade das relações

interpessoais para os idosos institucionalizados, visto que tais relações

possibilitam melhor qualidade de vida e desenvolvimento pessoal para este

público.

A ausência das relações interpessoais gera sentimentos de tristeza e

solidão, principalmente tratando-se do âmbito familiar, visto que embora os

idosos estejam recebendo todo o cuidado na instituição, ainda assim se faz

necessário o afeto familiar. Eles esperam por visitas, querem saber sobre os

netos, sobre as conquistas dos filhos, e tudo isso gera gratidão e

consequentemente qualidade de vida, facilitando o processo de

envelhecimento, que carrega consigo muitas frustrações e declínios de caráter

físico e mental.

Percebeu-se que os cuidadores acabam suprindo algumas

necessidades afetivas. Muitos idosos relataram seu apreço pelos profissionais,

alguns até consideram como pais; tal relação é favorável no quesito da

institucionalização, pois, atenua de modo significativo o sentimento de

abandono.

Percebeu-se também, que as implicações do envelhecimento

desencadeiam uma série de alterações na vida desses idosos. Nos relatos

observados, poucos são os que têm uma concepção favorável em relação ao

envelhecimento, a ênfase maior é dada aos declínios e faltas que se fazem

presentes neste período da vida. Vale ressaltar a importância que tais idosos

atribuíram à família, visitas, bem como as relações interpessoais de modo

geral.

Diante dos relatos, foi possível observar que apesar de todo acolhimento

oferecido pela instituição, em termos de estrutura e cuidados especializados,

encarar a velhice longe do ambiente constituinte, ou seja, longe de casa, é

desafiador para os idosos, haja vista a dificuldade em lidar com a ausência de

entes queridos no dia a dia.

Percebemos, portanto, que a família possui um papel insubstituível para

os idosos pesquisados. Com isso, a escassez de visitas e consequentes

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déficits nas relações interpessoais, podem influir negativamente neste período

da vida, uma etapa que todos os seres humanos estão sujeitos.

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ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

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ANEXO B – CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DA PESQUISA

Título do projeto de pesquisa – Encarando o envelhecer: Aspectos

psicológicos em idosos institucionalizados

Objetivos da pesquisa:

O objetivo principal da nossa pesquisa é buscar compreender como ocorre o

processo de envelhecimento e os aspectos psicológicos de idosos que residem

na instituição (Clínica geriátrica Villa Vida, na cidade de Lins-SP). Levando-se

em consideração o seu ponto de vista sobre a importância das relações

estabelecidas com as pessoas com as quais convivem, percebendo a maneira

em que tais relações interferem neste processo.

Informações detalhadas dos procedimentos que serão realizados com os

participantes:

Para a pesquisa será necessário a coleta de seus dados através de um

questionário estruturado (perguntas fechadas), este questionário foi elaborado

pelos pesquisadores, para alcançar os objetivos descritos anteriormente. Além

do questionário ocorrerá uma observação em sua rotina na instituição e

estaremos conversando sobre suas vivências e dúvidas e seus relatos serão

mantidos em sigilo respeitando a sua identidade. Após as entrevistas iremos

analisar suas respostas para contribuírem em nosso projeto.

Riscos, desconfortos e benefícios da pesquisa:

Podemos compreender que toda a pesquisa envolve certos riscos ou

desconfortos para quem aceita ser um participante.

Um dos riscos é que durante as perguntas do questionário existe a

possibilidade de dúvidas nas questões, porém, estaremos à disposição para

explicar caso isso ocorra. Outro risco esta relacionado à exposição da sua

identidade, é importante que saiba que no momento de apresentar essas

informações o seu nome não será citado, para manter a sua privacidade.

Os benefícios desta pesquisa estão relacionados a compreender o seu

ponto de vista sobre a importância das relações com outras pessoas (equipe

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de cuidadores, família, outros moradores) e como percebe o processo de

envelhecimento.

Faça a leitura atenciosa desta carta e das instruções oferecidas pela

Equipe e/ou pesquisador e, caso concorde com os termos e condições

apresentados, uma vez que os dados obtidos serão utilizados para pesquisa e

ensino (respeitando sempre sua identidade), você ou seu representante legal

deve assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e esta Carta de

Informação ao Participante da Pesquisa, ressaltando que você tem total

liberdade para solicitar sua exclusão da pesquisa a qualquer momento, sem

ônus ou prejuízo algum.

Por estarem entendidos, assinam o presente termo.

Lins, ____ de _____________ de 2017.

........................................................... ....................................... Assinatura do Participante da Pesquisa Pesquisador Responsável

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ANEXO C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO (T.C.L.E)

Eu ..............................................................................................................,

portador do RG n°. ......................................................, atualmente com .............

anos, residindo na ................................................................................................,

após leitura da CARTA DE INFORMAÇÃO AO PARTICIPANTE DA

PESQUISA, devidamente explicada pela equipe de pesquisadores

.............................................., apresento meu CONSENTIMENTO LIVRE E

ESCLARECIDO em participar da pesquisa proposta, e concordo com os

procedimentos a serem realizados para alcançar os objetivos da pesquisa.

Concordo também com o uso científico e didático dos dados,

preservando a minha identidade.

Fui informado sobre e tenho acesso a Resolução 466/2012 e, estou

ciente de que todo trabalho realizado se torna informação confidencial

guardada por força do sigilo profissional e que a qualquer momento, posso

solicitar a minha exclusão da pesquisa.

Ciente do conteúdo, assino o presente termo.

Local, ............... de ............... de 20......

............................................................. Assinatura do Participante da Pesquisa

.............................................................

Pesquisador Responsável

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ANEXO D – Entrevista

I. Identificação do (a) entrevistado (a)

1. Data de nascimento

2. Gênero

3. Estado Civil

4. Número de filhos?

5. Tempo na instituição

6. Cidade de origem?

7. Faz uso continuo de medicamentos? Para que?

II. Questões

1. Como ocorreu a escolha da instituição? O (a) senhor (a) participou desta

escolha ou foi alguém quem decidiu em seu nome? Quem decidiu?

2. Como foi o período de adaptação na instituição?

3. Quais mudanças ocorridas no envelhecimento que mais marcaram para

o (a) senhor (a)?

4. O que a família significa para o (a) senhor (a)?

5. O senhor (a) costuma receber visitas? Como se sente?

6. A partir do momento em que o (a) senhor (a) chegou à instituição, algo

lhe fez falta?

7. Em sua opinião, o que a sociedade pensa a respeito do envelhecimento?

O (a) senhor (a) concorda com esta visão?

8. Como o senhor (a) se sentiria se não tivesse visitas? Qual a importância

das visitas?

9. Em momentos de reflexões, quais pensamentos se fazem presentes?

10. Quando se trata de envelhecer, qual pensamento lhe surge à cabeça?