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Mary Jhones Encanto Tarde Segunda Edição Belo Horizonte 2014

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Mary Jhones

Encanto

Tarde

Segunda Edição

Belo Horizonte

2014

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Encanto

Tarde

Mary Jhones

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Dedico a todos aqueles que sonham em encontrar um

amor verdadeiro.

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AGRADECIMENTO

A Deus, pelo dom da vida.

A Sol, pelo incentivo e paciência.

A Sônia Paradela, primeira leitora desse romance.

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Linda parou o carro à beira da estrada e andou alguns

segundos por uma pequena trilha que levava a cachoeira.

Era ali que gostava de estar consigo mesma quando

precisava pensar e tomar decisões e aquela era, sem

dúvidas, uma grande decisão que precisava tomar em sua

vida. Os acontecimentos dos últimos meses causaram uma

grande reviravolta em sua vida. Aquele era o ponto mais

alto da cidade e de lá era possível ver Recanto do Sol1.

Olhou a cidade de cima e relembrou todo o caminho que

havia percorrido até chegar ali, deixou que as lembranças

lhe transportassem há alguns anos.

Recanto do Sol era uma pequena e pacata cidade de Minas

Gerais que ficava em um vale entre montanhas. Conhecida

pelo seu grande potencial turístico, por fazer parte da rota

da Estrada Real, era famosa por suas cachoeiras, grutas e

seus vales verdejantes que encantavam a todos que por lá

passavam. Era o lugar ideal para descansar, pois a paz

parecia morar ali. As ruas estavam quase sempre cobertas

por turistas que vinham curtir a tão bela natureza. Sua

população era formada, na sua grande maioria, por

fazendeiros e pequenos agricultores que viviam da

subsistência do que plantavam e colhiam. Em uma dessas

pequenas propriedades morava uma família simples e

humilde, mas que tinha em sua base o respeito, o caráter, o

amor ao próximo e a educação. Nessa família, nasceu

Linda. Linda não só no nome, mas também na aparência.

Ela era uma sonhadora e sempre que a situação ficava

difícil e sua mãe ficava triste por não poder proporcionar

1Nota da autora: Nome fictício dado a cidade. A paisagem foi inspirada

tendo como referência a Serra do Cipó localizada em Minas Gerais.

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aos cinco filhos todo o conforto que eles mereciam ela

abraçava a mãe e confortava-a:

– Mamãe, não fique triste. Qualquer dia desses ficarei

muito rica e vou poder dar a vocês tudo o que sempre

quiseram – Linda sorria. A mãe sempre ria e achava que a

filha vivia no mundo da imaginação, normal para a idade e

respondia:

– Ficar rica, como?

– Ainda não sei, mas estou pensando sobre isso.

– Sonha, minha filha, porque afinal de contas sonhar é de

graça e não faz mal a ninguém – Joana olhava para a filha.

Esse era o nome da mãe de Linda, era uma mulher morena,

alta e forte. Trabalhava todos os dias ajudando o marido nas

plantações. Sempre teve uma vida muito sofrida desde a

infância, mas era uma mulher forte e não se deixava abater

por qualquer coisa. Era bondosa e sempre procurava ajudar

a todos. Criou seus filhos dando a eles todo amor que podia,

dentro daquela situação de dificuldades onde às vezes

faltava até o essencial. Deu a eles uma educação refinada,

pautada na obediência, no respeito a todos e a tudo.

Trabalhou incansavelmente durante anos para poder estuda-

los e conseguiu proporcionar a todos um Ensino Médio

Técnico, privilégio dos filhos dos grandes fazendeiros.

Tinha orgulho de todos eles e os considerava como um

grande tesouro. Em troca, recebia deles muito amor e

carinho. Quando Joana falava isso, Linda ria e ficava

imaginando tudo o que daria a sua mãe quando fosse rica.

As dificuldades que passavam, muitas vezes, levavam-na a

fugir da realidade e a sonhar com coisas que talvez nunca

pudesse ter, mas era uma forma que ela tinha de suportar as

dificuldades da vida. Linda era daquelas pessoas amáveis,

era difícil encontrar alguém que não gostasse dela, era

meiga e amiga, sempre conquistava a todos com a sua

simpatia. Linda era de cor clara, estatura média e um corpo

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de dar inveja a qualquer modelo, seus olhos eram

castanhos, cabelos longos e ondulados, seu rosto beirava a

perfeição, tinha uma boca perfeita e um sorriso encantador.

Era uma eterna sonhadora. Sonhava com um curso de

Arquitetura que um dia teria condições de fazer, pois

gostava de construções e desenhos. Na infância, sempre

fazia casinhas de barro para brincar. Ela havia projetado e

desenhado como uma grande profissional, um clube que iria

ser seu primeiro projeto: o Clube Recanto do Sol, esse era o

empreendimento que mudaria suas vidas para sempre, pois

a cidade contava com um grande potencial turístico, por ser

muito tranquila e aconchegante, além de ter uma paisagem

maravilhosa, mas faltava dinheiro para realizar tal

empreendimento.

Os anos passaram e um dia, nunca vamos saber se por

cuidado ou descuido do destino, Linda viu Jorginho

fazendo um jogo de loteria. Jorginho era seu irmão mais

velho. Era claro, alto e magro. Um mulherengo assumido,

pois namorava todas as mulheres da cidade, escondido de

sua namorada oficial a quem namorava há quase uma

década. Gostava de carros e sonhava em ter um, mas por

mais que trabalhasse seu dinheiro nunca dava para comprar.

Não perdia a esperança e sempre trabalhava mais. Tinha um

amigo mecânico e com ele aprendeu a dirigir e a consertar

vários defeitos, por isso ele jogava na loteria sempre na

esperança de ficar muito rico. Naquele dia, Linda pediu a

ele para fazer um jogo:

– Jorginho, me deixa fazer um jogo desses aí?

– Você tem dinheiro, Linda? – Jorginho ria.

– Tenho sim – Linda deu ao irmão uma nota de cinco reais.

– Tudo bem, dá para você fazer dois jogos de seis números

– Jorginho estendeu os cartões a Linda. Aquele jogo

mudaria para sempre os seus destinos. O prêmio era

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milionário e Linda teve a sorte de ganhar sozinha. Agora,

aos dezoito anos, era a mais jovem milionária da região e

tinha nas mãos a oportunidade de realizar não só todos os

seus sonhos, mas também daqueles que amava. Seu

primeiro investimento foi feito na propriedade onde viviam.

Junto com Roberto, seu pai, transformou aquela pequena

propriedade em um sítio onde se produzia de tudo um

pouco. Compraram um rebanho de gado e uma porção de

máquinas que facilitariam os trabalhos mais pesados.

Construíram uma casa confortável e aconchegante.

Roberto era daqueles pais “linha dura”. Nunca deixou faltar

a seus filhos alimentação, mas não cuidou de dar amor e

carinho, por isso todos cresceram vendo em Joana o apoio

afetivo que cada um precisava. Roberto era de feições

rústica, magro e tinha uma pele clara castigada pelo sol,

tinha olhos azuis e cabelos claros. Não havia se preocupado

com a educação escolar dos filhos, pois achava que todos

iam acabar sobrevivendo do que a terra podia lhes oferecer.

Jorginho gostava de carro e havia feito um curso técnico de

mecânica, então Linda investiu junto com ele em uma

concessionária, pois não havia nenhuma na cidade e para

comprar um carro os grandes fazendeiros tinham que ir a

Belo Horizonte.

Victor e Carol haviam se mudado para Belo Horizonte anos

antes. Victor era um rapaz de físico forte e o que mais

marcava a sua personalidade era a seriedade: dificilmente

sorria para alguém. Trabalhava em uma loja de

eletroeletrônicos e com a ajuda de Linda, investiu no ramo

abrindo seu próprio negócio.

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Carol, por sua vez, era simpática e risonha, mas em nada se

parecia com Linda, não era bela, mas tinha um imenso

coração. Carol era muito magra o que destacava muito sua

altura, fazendo-a parecer mais alta do que realmente era.

Gostava de se vestir bem o que às vezes lhe causava muita

angústia, pois nem sempre seus pais tinham dinheiro para

comprar as roupas que ela queria. Na infância, vestia as

bonecas de pano que sua mãe lhe fazia com roupas que ela

mesma costurava com restos de tecidos. Quando se mudou

para Belo Horizonte foi trabalhar em uma boutique e

gastava quase todo o seu salário em roupas que estavam na

moda. Andava impecável. Fez um curso de estilista e com a

ajuda de Linda abriu seu próprio ateliê. Passou a andar

ainda mais impecável do que já era, pois roupa agora não

era mais o problema.

Júlia era muito diferente de Linda e Carol, pois era morena

como a mãe. Os irmãos apelidaram-na de baixinha, pois

não havia crescido muito. Era a mais gorda das três e isso a

incomodava muito. Havia conhecido um rapaz que

trabalhava em uma fazenda vizinha às terras onde moravam

e contra a vontade do pai, que achava que ela estava muito

nova para se casar, havia se casado com Thomaz. Ele não

era bonito, mas Júlia havia se encantado com ele desde a

primeira vez que o tinha visto. Ele era um moreno baixinho

sem muita presença, mas gostava de vestir-se bem, tinha

um defeito: adorava jogar e beber. Na verdade, Júlia sempre

havia sonhado em se casar e ter uma família, então quando

se apaixonou por Thomaz, pensou que ele fosse a pessoa

certa. Sua mãe, várias vezes, disse a ela para não tomar tal

atitude, mas Júlia sempre dizia que o amava e que era com

ele que queria se casar e assim o fez. Júlia não sabia bem o

que queria, havia decidido a ser dona de casa, mas como a

cidade era desprovida de grandes supermercados, Linda

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resolveu investir no ramo e colocou Júlia para administrá-

lo. Sabia que assim daria mais sentindo a vida da irmã.

Mesmo depois de todas as mudanças realizadas no sítio,

Joana não queria mais morar lá. Queria sair daquele lugar

onde havia passado toda a sua juventude trabalhando. Ela

sempre havia sonhado com uma casa linda, grande e com

um jardim exuberante na cidade. Linda já tinha em mente

como seria a casa, mas a grande questão era convencer seu

pai a se mudar. Ele não compartilhava da mesma ideia de

Joana:

– Não vou sair daqui. Se vocês quiserem ir morar na cidade,

tudo bem, não me importo – ele declarava toda vez que

Linda tocava no assunto. Então, depois de muito

discutirem, Joana tomou a decisão de ir para a cidade, no

que foi apoiada pelos filhos. Roberto acabou ficando

sozinho no sítio, porque Linda tratou logo de realizar o

sonho da sua mãe e se mudaram. Joana antes de sair

providenciou uma boa equipe de empregados para que nada

faltasse ao marido.

A casa era linda e enorme, tinha dois pavimentos, na parte

de baixo havia quartos, salas e cozinhas e no piso superior

havia quartos, uma biblioteca e um escritório que Linda

equipou com todos os materiais de desenho. O quarto de

Linda era nesse piso e tinha uma varanda que dava de frente

para o jardim. O jardim era maravilhoso e parecia ter saído

de algum filme hollywoodiano. Quem via tudo aquilo,

pensava que tinha sido feito por um profissional, mas tudo

havia sido desenhado pelas mãos de Linda, desde a casa até

os últimos detalhes. Sua mãe estava feliz, todos estavam

felizes, mas Linda ainda não tinha cuidado do seu sonho: o

Clube Recanto do Sol, já era hora de torná-lo realidade e as

obras começaram.

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Os dias passaram serenes e Linda acompanhava tudo de

perto cuidando de todos os detalhes. Era um

empreendimento arriscado que muitos pensavam que não

daria certo e seu irmão Jorginho sempre dizia:

– Linda, não estou querendo te desanimar, mas você acha

que isso vai dar certo? É muito dinheiro e esse lugar sempre

foi muito parado é muito arriscado confiar só nos turistas –

Jorginho tocou no assunto à mesa do café da manhã. Linda

ficava irritada quando ele falava isso: “Por que eles não

acreditavam no seu sonho?” Quando ela realizou os deles

não questionou se daria certo ou não, simplesmente confiou

e investiu, mas ela não se deixava abalar:

– Jorginho, é o meu sonho e não vou desistir. Eu investi nos

sonhos de todos vocês, dupliquei o dinheiro que ganhei

nesses investimentos. Agora eu vou investir no meu sonho

e exatamente por ser muito arriscado que eu criei todo esse

alicerce e se não der certo sempre podemos sonhar de novo,

mas só vou ter certeza disso se arriscar. Como todo

empreendimento pode dar errado, mas pode dar muito certo

também e eu prefiro acreditar que vai dar muito certo.

– Mas Linda, quantas cachoeiras têm nessa cidade? Você

acha que alguém vai ficar trancado dentro de um clube com

essa natureza toda para ser explorada?

– Querido, as pessoas vão para a cachoeira à noite? E

quando elas não quiserem ir? Vão ficar trancadas no quarto

do hotel? As pessoas gostam de shows, bares badalados,

lugar para se divertirem e é isso, Jorginho, que eu estou

querendo oferecer a eles com o clube. Eu estou criando

alternativas para segurar os turistas aqui nessa cidade.

Desde que fiquei rica não tenho feito outra coisa. Tinha

hotel, concessionária, um grande supermercado? Não. Você

se lembra? Nós tínhamos que deslocar até a cidade vizinha

para fazermos muitas coisas e sabe por quê? Porque todo

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mundo pensava assim como você: é arriscado, então não

vou investir. Eu me arrisquei e o que temos? Sucesso. O

hotel já não está mais comportando os hóspedes. Você, no

último mês, vendeu e alugou uma infinidade de carros.

Papai, Victor, Carol e a Júlia estão ganhando muito

dinheiro. Eu não tive medo de arriscar e não vou ter nunca.

Li em algum lugar que dinheiro é energia e como tal tem

que circular e eu concordo plenamente com isso – Linda

calou-se depois desse sermão.

– Tudo bem, Linda, não está mais aqui quem falou.

– E tem mais, Jorginho, se o clube der certo em mais ou

menos uns dois anos eu serei uma bilionária, mas se por

obra do destino ele der errado eu continuarei sendo uma

milionária e sabe por quê? Porque eu criei alicerce para isso

– Linda finalizou.

– Sabe quem você está parecendo falando desse jeito?

Aquele professor de empreendedorismo que tinha naquele

curso de Tecnólogo em Administração que você nos

obrigou a fazer em Belo Horizonte, você lembra?

– Lembro sim – Linda riu. – Ele era ótimo e tudo o que

aprendi agradeço a ele.

– Lógico, ele só dava aula olhando para você, como se

fosse a única pessoa que estivesse na sala – Jorginho ria e

Linda deu uma gargalhada. Sua mãe era a única que sempre

lhe apoiava:

– Minha filha, se é isso que você quer vai em frente e se

não der certo saiba que você tentou, pois sempre é melhor

tentar do que não tentar – Joana olhava para a filha. Era por

isso que Linda amava muito sua mãe, ela sempre apoiava

seus sonhos por mais loucos que podiam parecer.

Enfim o grande dia chegou, o tão sonhado projeto estava

pronto e tinha ficado maravilhoso. A cidade toda estava

curiosa para saber como era o clube, não se falava em outra

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coisa. Em todos os lugares só havia um comentário: a festa

de inauguração do Clube Recanto do Sol. Naquela manhã,

Linda acordou, levantou, abriu a janela do seu quarto que

dava para o jardim e como fazia todos os dias olhou para o

céu:

– Bom dia, Deus! Bom dia, vida! Como é bom viver! – Ela

estava feliz. Essa era uma das características mais

marcantes de Linda: amava a vida e muito mais a Deus por

tê-la premiado com tantas coisas boas e agradecia a Ele

todos os dias por ter nascido. Tomou um banho e desceu a

escada sorrindo. À mesa, sua mãe e seu irmão tomavam

café:

– Bom dia, minha filha, feliz? – Foi Joana quem a saudou.

– Muito e eu te amo demais. Não vejo a hora de chegar a

noite – Linda abraçou sua mãe. Sempre era muito

carinhosa.

– Também amo muito você, querida e fico feliz por esse

grande dia ter chegado. Sabe o que eu estava falando com o

seu irmão?

– O que? – Linda serviu um pouco de leite.

– A concessionária é um sucesso. O negócio deu certo e vai

bem, logo ele já pode pensar em se casar, porque já faz

muito tempo que ele e a Paula estão namorando e separar

eles não vão mesmo.

– Eu também acho e se você quiser, maninho, podemos

marcar a festa de noivado – Linda riu e virou-se para ele.

– Você também só pensa em festa! Eu vou decidir isso,

depois eu penso se vai ter festa – falando isso, Jorginho se

levantou: – Já estou atrasado. Tchau para vocês.

– Tchau e vê se não atrasa para a festa.

– Ok, beijinhos – Jorginho saiu.

– Não sei mais o que fazer. Antes ele dizia que não tinha

condições de sustentar uma família e agora que tem não

fala em se casar – Joana disse desolada.

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– Calma, mamãe, isso leva tempo, ele tem que pensar onde

vai morar, quando quer se casar... Mesmo porque esses dois

só não moram juntos, mas estão mais que casados.

– Eu nunca vou entender vocês! – Joana balançava a

cabeça.

– Eu se fosse a senhora nem tentava entender – Linda

beijou sua mãe e saiu rindo. Foi para o jardim.

– Filhos! – Joana resmungou. – Nunca sabemos o que fazer

com eles!

Jorginho já namorava Paula há vários anos e sempre

arrumava como desculpa para não se casar o fato de não ter

como sustentar uma família, mas a verdade é que ele não

sabia se realmente queria se casar, pois gostava da vida

mundana e da farra com os amigos, porém, ao mesmo

tempo se via preso a Paula pelo tempo em que estavam

namorando. Certamente ele iria tentar adiar o mais que

pudesse.

Linda passeava pelo jardim quando encontrou Clara que

chegava. Clara era sua prima, filha do irmão de Joana e

eram muito amigas, pois cresceram juntas, uma vez que seu

tio também viva em uma pequena propriedade próxima a de

seu pai. Com o tempo, seu tio construiu uma casa na cidade

e se mudou, mas ainda assim ambas viviam uma na casa da

outra. Clara era uma pessoa muito simpática e tinha uma

expressão suave, os cabelos loiros realçavam muito a cor

clara de sua pele. Era magra e tinha uma estatura média.

Linda gostava muito dela e ao vê-la ficou feliz:

– Olá Clarinha, bom dia! – Linda se aproximou sorrindo.

– Bom dia! Está feliz? – Clara abraçou-a.

– Muito e você está feliz com o seu novo emprego de

recepcionista do clube?

– Nem sei como agradecer! – Clara sorriu.

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– Não precisa, pois você sabe o quanto eu gosto de você! –

Linda beijou a amiga. – Só não entendo porque você não

quis ficar na administração com o seu pai.

– Lógico que não, você acha que eu ia trocar as pessoas

pelos papeis? É na recepção que as coisas acontecem e lá

posso ver o movimento o dia todo.

– Só você mesmo, Clara – Linda riu. As duas ficaram um

tempo caladas passeando pelo jardim e quando chegaram à

beira da piscina, Linda olhou para o céu e suspirou: – Sabe

Clarinha, eu tenho tudo, no entanto sinto dentro de mim um

vazio – sua voz era triste.

– Por quê? – Clara parou de andar.

– Não sei, é como se faltasse alguma coisa – Linda olhava

para a água da piscina que fazia ondas com a brisa leve que

soprava.

– Acho que você está precisando mesmo é de arrumar um

namorado – Clara resolveu brincar, pois Linda não podia

estar falando sério: “Como alguém que tinha tudo, como

Linda tinha, podia sentir falta de alguma coisa?”

– Eu estou falando sério, Clarinha! Só não sei o motivo

desse vazio – Linda ficou pensativa.

– E o Pedro? – Clara resolveu mudar de assunto, pois sentiu

que Linda estava ficando triste e aquele não era um dia para

tristezas.

Na adolescência, Linda havia se apaixonado por um colega

de escola, Pedro, ele era filho de um dos fazendeiros da

região. Ela o amou desde o primeiro dia que o viu no

colégio, mas sabia que jamais ficariam juntos por causa de

suas condições sociais: pertenciam a mundos diferentes.

Era costume da região que as pessoas se casassem com

outras da mesma classe social e ela sufocou esse amor.

Pedro era um rapaz alto, forte e tinha a pele bronzeada

pelos raios de sol, pois vivia a cavalgar pela fazenda do seu