emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

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MÔNICA YONASHIRO MARCELINO EMPREGO DE TERAPIA CELULAR EM MODELO EXPERIMENTAL DE DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação Interunidades em Biotecnologia USP/Instituto Butantan/IPT, para obtenção do Título de Mestre em Biotecnologia. São Paulo 2012

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Page 1: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

MÔNICA YONASHIRO MARCELINO

EMPREGO DE TERAPIA CELULAR EM MODELO EXPERIMENTAL DE

DOENÇA INFLAMATÓRIA INTESTINAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação Interunidades em Biotecnologia

USP/Instituto Butantan/IPT, para obtenção do

Título de Mestre em Biotecnologia.

São Paulo

2012

Page 2: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

MÔNICA YONASHIRO MARCELINO

Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

inflamatória intestinal

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação Interunidades em Biotecnologia

USP/Instituto Butantan/IPT, para obtenção do

Título de Mestre em Biotecnologia.

Área de concentração: Biotecnologia

Orientador: Prof. Dr. João Tadeu Ribeiro Paes

Versão original

São Paulo

2012

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Page 6: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

À meus pais, familiares e amigos pelo apoio e

incentivo constante.

Obrigada!

Page 7: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, Carlos e Luci, pelo apoio, amizade e paciência em todos os momentos da

minha vida, permanecendo ao meu lado nas dificuldades e vitórias.

Aos meus irmãos, Guilherme e Caio, minhas avós, Takeko e Enedina, e todos os meus

familiares pelo companheirismo e incentivo.

Ao Prof. Dr. João Tadeu Ribeiro Paes, meu orientador, por abrir as portas do seu laboratório,

mesmo sem me conhecer, pelos ensinamentos oferecidos e por toda a atenção dispensada.

Ao meu co-orientador, Prof. Dr. Luiz Claudio Di Stasi, do Laboratório de Fitomedicamentos

da Unesp – Botucatu, e a equipe do seu laboratório, particularmente, a Ana Quaglio, pelas

sugestões, ensinamentos e colaboração desde o início da realização deste trabalho.

A Profa. Dra. Elenice Deffune, do Laboratório de Engenharia Celular da Unesp – Botucatu,

pelo auxílio prestado durante o desenvolvimento deste estudo.

Ao Prof. Dr. André Dorini por acreditar no meu potencial e me ajudar ingressar na vida

acadêmica.

A Profa. Dra. Renata Bittencourt pelos conhecimentos transmitidos, disposição, paciência e

boa vontade.

Aos companheiros do Laboratório de Genética e Terapia Celular – GenTe Cel, da Unesp –

Campus de Assis, em especial, Natália Fuoco e Thaís, pela amizade, companheirismo,

parcerias científicas e festivas, e por terem proporcionados momentos tão bons e agradáveis

durante o decorrer do meu mestrado.

Ao José Gilberto Milani (Giba) e ao Allan Chiea de Souza pelo apoio técnico e ajuda

incondicional nos momentos de dificuldades.

A Eliana, Fábia e Marcos, da Secretária de Pós-Graduação Interunidades em Biotecnologia,

pela atenção e por sempre estarem dispostos a colaborar.

A todos que direta ou indiretamente me auxiliaram na realização deste trabalho.

Page 8: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

“É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão

dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem

os desejos de razão. O importante é aproveitar o momento e

aprender sua duração, pois a vida está nos olhos de quem saber

ver.”

(Gabriel García Marques)

Page 9: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

RESUMO

Marcelino MY. Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença inflamatória

intestinal. [dissertação (Mestrado em Biotecnologia)]. São Paulo: Instituto de Ciências

Biomédicas, Universidade de São Paulo; 2012.

A Doença Inflamatória Intestinal (DII) é um estado patológico crônico, recidivante, que

acomete o trato gastrointestinal. Incluem-se no espectro da DII duas entidades nosológicas: a

Colite Ulcerativa e a Doença de Crohn. A colite é uma doença caracterizada pela inflamação

difusa da mucosa do cólon. Afeta o reto (95% dos casos) e as porções proximais do cólon, de

maneira simétrica e contínua, ou seja, não há áreas de mucosas normais entre as partes

afetadas. Apesar da existência de terapias para melhora dos sintomas, não há nenhum

tratamento curativo. O tratamento cirúrgico envolve procedimentos complexos associados a

altas taxas de morbimortalidade. Neste contexto, a terapia celular (TC) com células-tronco

(CT) desponta como uma nova opção de tratamento. Pretendeu-se, no presente estudo,

verificar a segurança e a eficácia do transplante de células-tronco derivadas do tecido adiposo

(ASC) em ratos com colite ulcerativa induzida por ácido trinitrobenzenosulfonico (TNBS). A

população celular foi isolada do tecido adiposo, da região inguinal de ratos, por dissociação

mecânica e cultivada na presença de Alpha-Mem (Minimum Essential Medium Eagle Alpha

Modification), soro bovino fetal e antibiótico/antimicótico. O comportamento celular foi

verificado por meio da morfologia, proliferação, viabilidade, capacidade de aderência à

superfície plástica e parâmetros de diferenciação osteogênica, condrogênica e adipogênica. Os

animais foram avaliados, considerando-se os aspectos clínicos (presença de diarréia, consumo

de alimento e peso corporal), macroscópicos (escore e extensão da lesão, relação

peso/comprimento do cólon, aderência a órgãos adjacentes), microscópicos e bioquímicos

(determinação do conteúdo de glutationa total e da atividade enzimática da mieloperoxidase).

No modelo experimental de colite ulcerativa, a infusão de ASC reduziu significativamente a

presença de aderências entre o cólon e órgãos adjacentes, bem como diminuiu a quantidade de

células inflamatórias na mucosa lesada. Conclui-se que as ASC podem promover e/ou

acelerar o processo de regeneração da mucosa intestinal inflamada e assim, serem empregadas

como uma opção terapêutica com amplo potencial de aplicabilidade no tratamento da DII.

Palavras-chave: Células-tronco derivadas do tecido adiposo. Terapia celular. Doença

inflamatória intestinal. Colite ulcerativa.

Page 10: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

ABSTRACT

Marcelino MY. Employment of cell therapy in experimental model of inflammatory bowel

disease. [Masters thesis (Biotechnology)]. São Paulo: Instituto de Ciências Biomédicas,

Universidade de São Paulo; 2012.

Inflammatory Bowel Disease (IBD) is a chronic pathological condition, relapsing, that afflicts

the gastrointestinal tract. Comprise in the spectrum of IBD two nosological entities: ulcerative

colitis and Crohn's disease. Colitis is a disease characterized by the diffuse inflammation of

the colonic mucosa. Afflicts the rectum (95% of cases) and the proximal portions of the colon,

continuously and symmetrically, in other words, there are no areas of normal mucosa between

the afflict parties. Despite the existence of therapies for symptom improvement, there is no

curative treatment. Surgical treatment involves complex procedures associated with high

morbimortality rates. In this context, cell therapy (CT) with stem cell (CT) has emerged as a

new treatment option, with broad potential applicability. It was intended in this study verify

the safety and efficacy of the transplantation of adipose derived stem cells (ASC) in rats with

ulcerative colitis induced by trinitrobenzenosulfonico acid (TNBS). The cell population was

isolated from the adipose tissue, of the inguinal region of the rats by mechanical dissociation

and cultured in the presence of Alpha-MEM (Minimum Essential Medium Eagle Alpha

Modification), fetal bovine serum and antibiotic / antimycotic. The cell behavior was verified

by the morphology, proliferation, viability, ability to adhere to the plastic surface and

parameters of osteogenic differentiation, adipogenic and chondrogenic. The animals were

evaluated, considering the aspects clinical (presence of diarrhea, food consumption and body

weight), macroscopic (score and lesion length, weight / length of the colon, adherence to

adjacent organs), microscopic and biochemical (determination the content of total glutathione

and enzymatic activity of myeloperoxidase,). In experimental ulcerative colitis, infusion of

ASC significantly reduced the presence of adhesions between the colon and adjacent organs

and decreased the amount of inflammatory cells in the injured mucosa. It is concluded that the

ASC can promote and/or accelerate the healing process of the intestinal mucosa inflamed and

thus be employed as a therapeutic option with wide potential application in the treatment of

IBD.

Keywords: Adipose derived stem cell. Cell therapy. Inflammatory bowel disease. Ulcerative

colitis.

Page 11: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1- Extração de tecido adipose da região inguinal de ratos.........................................33

Figura 2- Isolamento e cultura das células-tronco do tecido adiposo....................................34

Figura 3- Procedimento de indução da colite ulcerativa.......................................................36

Figura 4- Comportamento das células-tronco derivadas do tecido adiposo em diferentes

períodos de cultura....................................................................................................................42

Figura 5- Diferenciação condrogênica das ASC......................................................................43

Figura 6- Diferenciação osteogênica das ASC........................................................................44

Figura 7- Diferenciação adipogênica das ASC ....................................................................45

Figura 8- Média do consumo diário de ração por grupo experimental em modelo de doença

inflamatória intestinal por administração de TNBS/álcool.....................................................46

Figura 9- Avaliação do peso corporal dos animais em modelo experimental de doença

inflamatória intestinal...............................................................................................................47

Figura 10- Avaliação dos níveis de glutationa total na mucosa intestinal de modelo animal de

doença inflamatória intestinal.................................................................................................50

Figura 11- Avaliação da atividade da mieloperoxidase (MPO) na mucosa intestinal de doença

inflamatória intestinal.............................................................................................................51

Figura 12- Fotomicrografias da mucosa de cólon de ratos após indução de colite ulcerativa

por meio da administração de solução alcoólica de TNBS....................................................52

Page 12: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Modelos animais de doença inflamatória intestinal...............................................26

Quadro 2- Aplicações das células-tronco derivadas do tecido adiposo.................................30

Quadro 3- Grupos experimentais.............................................................................................32

Quadro 4- Critério de avaliação da severidade e extensão da lesão colônica..........................37

Page 13: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Efeito do tratamento com células-tronco derivadas do tecido adiposo (ASC) na

incidência de diarreia em modelo animal de doença inflamatória intestinal............................47

Tabela 2- Parâmetros macroscópicos do tratamento com ASC em modelo experimental de

doença inflamatória intestinal por administração de TNBS.....................................................49

Page 14: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

5-ASA- Ácido 5-aminossalicilato

6-MP - 6-mercaptopurina

AINES - Antiinflamatórios não esteroidais

ALPHA-MEM – “Minimum Essential Medium Eagle Alpha Modification”

anti-TNF- α - Bloqueadores do fator de necrose tumoral alfa

ASC – “Adipose-derived stem cell”

ASCA - Anti- Saccharomyces cerevisiae

AZA - Azatioprina

CD - Doença de Crohn

CEUA - Comitê de Ética na Utilização de Animais

CFU-F - Unidades formadoras de colônias fibroblásticas

CO - Contraceptivos orais

CT - Células-tronco

CTA - Células-tronco adultas

CTE - Células-tronco embrionárias

CTH - Células-tronco hematopoéticas

CTM - Células-tronco mesenquimais

DII - Doença Inflamatória Intestinal

DSS - Dextran sulfato de sódio

DTNB - Ácido ditiobisnitrobenzóico

E.P.M – Erro padrão da média

GSH – Glutationa

GSSG – Gluatationa oxidada

HE – Hematoxilina-eosina

HTAB - Brometo de hexadeciltrimetilamônio

HEPES – “N-2-Hydroxyethylpiperazine-N-2-Ethane Sulfonic Acid”

HLA - Antígeno leucocitário humano

MPO - Mieloperoxidase

MSC – “Multipotent mesenchymal stromal cells”

MTX – Metrotexato

NADPH - Nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato

NIH – “National Institutes of Health”

PBS - “Phosphate Balanced Saline”

PCR - Proteína C Reativa

PVP-I - Polivinilpolirridona-iodo

RPMI – 1640 – “Roswell Park Memorial Institute – 1640”

SBF – Soro bovino fetal

TC – Terapia Celular

TCA – Ácido Tricloroacético

TGI - Trato gastrointestinal

TMO - Transplante de medula óssea

TNBS - Ácido trinitrobenzenosulfônico

TNF-α - Fator de necrose tumoral-α

UC - Colite Ulcerativa

VHS - Velocidade de Hemossedimentação

Page 15: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................16

1.1 Doença Inflamatória Intestinal........................................................................................16

1.2 Aspectos Epidemiológicos da Doença Inflamatória Intestinal......................................17

1.3 Etiologia.............................................................................................................................18

1.3.1 Fatores Ambientais.........................................................................................................18

1.3.1.1 Status geográfico, social, econômico e educacional....................................................18

1.3.1.2 Dieta..............................................................................................................................18

1.3.1.3 Tabagismo.....................................................................................................................19

1.3.1.4 Fármacos......................................................................................................................19

1.3.1.5 Estresse.........................................................................................................................19

1.3.2 Fatores Genéticos............................................................................................................20

1.3.3 Defeitos Imunoregulatórios e Exposição Microbiana...................................................21

1.3.3.1 Disfunção nas respostas imunológicas do hospedeiro aos componentes normais do

lúmen.........................................................................................................................................21

1.3.3.2 Infecção mediante a presença de um patógeno específico...........................................21

1.3.3.3 Alterações na barreira intestinal..................................................................................21

1.4 Diagnóstico.........................................................................................................................22

1.5 Tratamento........................................................................................................................22

1.5.1 Tratamento Clínico – Farmacológico............................................................................23

1.5.2 Cirúrgico..........................................................................................................................24

1.6 Modelos Experimentais da Doença Inflamatória Intestinal.........................................25

1.7 Células-tronco....................................................................................................................27

1.7.1 Células-tronco Mesenquimais........................................................................................28

1.7.2 Células-tronco derivadas do tecido adiposo…………………………………………...29

1.8 Terapia Celular em Doença Inflamatória Intestinal.....................................................30

2 MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................................32

2.1 Animais..............................................................................................................................32

2.2 Grupos Experimentais......................................................................................................32

2.3 Extração do tecido adiposo...............................................................................................32

2.4 Desinfecção do tecido adiposo..........................................................................................33

2.5 Isolamento e cultura das células-tronco derivadas do tecido adiposo por dissociação

mecânica...................................................................................................................................33

2.6 Viabilidade Celular...........................................................................................................34

2.7 Diferenciação in vitro das células-tronco derivadas do tecido adiposo........................35

2.7.1 Diferenciação Condrogênica..........................................................................................35

2.7.2 Diferenciação Osteogênica.............................................................................................35

2.7.3 Diferenciação Adipogênica.............................................................................................35

2.8 Modelo experimental de doença inflamatória intestinal...............................................36

2.9 Transplante Celular..........................................................................................................36

2.10 Avaliação da atividade anti-inflamatória intestinal.....................................................37

2.10.1 Avaliação Macroscópica...............................................................................................37

2.10.2 Determinações Bioquímicas.........................................................................................38

2.10.2.1 Determinação do conteúdo de glutationa total...........................................................38

2.10.2.2 Determinação da atividade da mieloperoxidase........................................................39

2.10.3 Análise Histológica.......................................................................................................39

2.11 Análise Estatística...........................................................................................................40

2.12 Aspectos Éticos................................................................................................................40

Page 16: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

3. RESULTADOS....................................................................................................................41

3.1 Cultura e caracterização das células-tronco derivadas do tecido adiposo..................41

3.2 Avaliação da atividade anti-inflamatória intestinal.......................................................45

3.2.1 Avaliações Macroscópicas..............................................................................................48

3.2.1.1 Relação peso/comprimento do cólon (P/C)..................................................................48

3.2.1.2 Aderências.....................................................................................................................48

3.2.1.3 Severidade e extensão do prejuízo intestinal................................................................48

3.3 Determinações Bioquímicas.............................................................................................49

3.4 Análise Histológica ...........................................................................................................51

4 DISCUSSÃO E CONCLUSÃO ..........................................................................................53

REFERÊNCIAS .................................................................................................................58

Page 17: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

16

1 INTRODUÇÃO

1.1 Doença Inflamatória Intestinal

A Doença Inflamatória Intestinal (DII) compreende duas entidades nosológicas de

caráter crônico e recidivante: a Doença de Crohn (CD) e a Colite Ulcerativa (UC). Estas duas

desordens apresentam pontos de similaridade, entretanto, distinguem-se quanto a diferentes

aspectos fisiopatológicos e manifestações clínicas (Latella, Papi, 2012; Lennard-Jones, 1989;

Xavier, Podolsky, 2007).

A Doença de Crohn é uma condição inflamatória transmural da mucosa que pode

acometer qualquer região do trato gastrointestinal (TGI), em especial o iléo terminal e a

região perianal. Tipicamente apresenta-se de forma descontínua, atingindo várias porções do

TGI e associada a complicações, tais como fístulas, estenoses e abcessos (Baumgart,

Sandborn, 2007; Khor et al., 2011).

Diferentemente da CD, a Colite Ulcerativa é uma doença caracterizada pela inflamação

difusa da mucosa do cólon. Afeta o reto (95% dos casos) e as porções proximais do cólon, de

maneira simétrica e contínua, não havendo áreas de mucosa normal entre as partes afetadas

(Kornbluth et al., 2010). A UC pode ser classificada de acordo com a sua localização

anatômica e extensão em proctite (inflamação restrita ao reto), colite distal (inflamação

abrange o cólon sigmóide com ou sem envolvimento do cólon descendente) e pancolite ou

colite total, quando a inflamação envolve todo o colo (Baumgart, Sandborn, 2007; Farraye et

al., 2011).

A CD pode, clinicamente, ser descrita como leve, moderada e severa. A doença leve

caracteriza-se por ausência de dor abdominal intensa, obstrução intestinal, perda de peso e

também não há sinais de toxicidade sistêmica, que inclui febre, taquicardia, anemia e aumento

na taxa de sedimentação eritrocitária. Na forma moderada há sintomas de toxicidade

sistêmica, perda de peso, dor e sensibilidade na região abdominal, náusea e vômito sem

obstrução intestinal ou anemia significante. A forma severa é caracterizada por febre alta,

caquexia, vômito persistente, obstrução intestinal e abscesso (Hanauer et al., 2009; Mowat et

al., 2011; Singh et al., 2011).

Comumente a sintomatologia da UC inclui hematoquesia, urgência retal e tenesmo e

assim como a CD pode ser caracterizada como leve (4 evacuações diárias com ou sem sangue

e ausência de toxicidade sistêmica), moderada (misto de sintomas da doença leve e severa) e

severa (fezes sanguinolentas e mais de 6 evacuações por dia, sensibilidade abdominal e

Page 18: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

17

toxicidade sistêmica). Pacientes com UC fulminante tipicamente evacuam mais de 10 vezes

por dia, apresentam quadros de anemia com necessidade de transfusão, toxicidade sistêmica,

distensão e sensibilidade abdominal (Baumgart, Sandborn, 2007; Hanauer et al., 2009;

Ortigoza, 2005; Singh et al., 2011).

1.2 Aspectos Epidemiológicos da Doença Inflamatória Intestinal

A UC e a CD apresentam uma distribuição etária bimodal, sendo que as maiores taxas

de incidência são observadas em indivíduos com idade entre 15 e 30 anos e um menor pico de

incidência verificado em pacientes com idade entre 50 e 70 anos (Hanauer, 2006; Horn,

Ufberg, 2011; Stange et al., 2008).

Apesar das mudanças temporais nos padrões epidemiológicos da UC e da CD, algumas

características tem sido constantes em diferentes estudos. A UC é ligeiramente mais comum

em homens, enquanto a CD tem predileção por mulheres. Ambas as doenças acometem

grupos que pertencem a um nível socioeconômico mais elevado, sendo as maiores taxas

encontradas nos países industrializados e os menores percentuais na África, Ásia e América

do Sul. Além disso, a DII atinge com maior freqüência indivíduos brancos (Abraham, Cho,

2009; Hanauer, 2006; Horn, Ufberg, 2011; Marshall, 2008; Thukkani et al., 2011).

A DII atinge aproximadamente 2,2 milhões de pessoas na Europa, 1,4 milhões nos

Estados Unidos e 150 mil no Canadá (Peyrin-Biroulet et al., 2011; Souza et al., 2008). No

Japão, segundo registros do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar, o número de

portadores triplicou desde o início da década de 1990 e as estimativas mais recentes apontam

uma prevalência de afetados superior a 100.000 (Asakura et al., 2009; Talley et al., 2011).

Um grande obstáculo a ser enfrentado quando se discute a epidemiologia das DII no

Brasil, deve-se ao fato de que a UC e a CD não são consideradas doenças de notificação

compulsória e que, portanto, a prevalência real estaria sendo subestimada. Apesar disso, pode-

se considerar que há, em nosso país, uma baixa incidência e prevalência de DII (Souza et al.,

2008). Segundo Oliveira et al. (2010), houve, no entanto, um aumento considerável nos casos

de CD e UC no Sudeste do Brasil, conforme o levantamento realizado junto ao Hospital

Universitário da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP – Brasil).

Page 19: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

18

1.3 Etiologia

Apesar de serem conhecidas há mais de cinco décadas, a CD e a UC são consideradas

desordens inflamatórias intestinais idiopáticas, uma vez que os fatores desencadeadores

permanecem elusivos. Provavelmente uma série de elementos contribui para o

desenvolvimento da inflamação na mucosa, entre os quais, valem citar, as causas ambientais,

fatores genéticos, defeitos imunoregulatórios e exposição a micro-organismos (Baumgart,

Carding, 2007; Fiocchi, 1998; Hanauer, 2006; Lapaquette et al., 2012).

1.3.1 Fatores Ambientais

1.3.1.1 Status geográfico, social, econômico e educacional

As maiores taxas de incidência e prevalência da DII têm sido observadas nas regiões

mais desenvolvidas, especialmente nos Estados Unidos e Europa, na zona urbana e,

sobretudo, nas classes sociais mais elevadas. Uma justificava para esses achados tem sido a

“hipótese da higiene”, que foi invocada para explicar o aumento na prevalência de várias

doenças inflamatórias e auto-imunes, que parecem ser resultantes da falta de exposição

precoce para selecionar agentes microbianos, devido às condições rigorosas de saneamento

(Bernstein et al., 2010; Thukkani et al.; 2011).

1.3.1.2 Dieta

Vários estudos tentam relacionar os componentes da dieta com a fisiopatologia da DII,

entretanto, estes são normalmente inconclusivos, visto que há uma dificuldade significativa

para se conseguir definir a real composição de cada dieta. Apesar disso, existem dados na

literatura que sugerem que alguns itens alimentares podem auxiliar ou inibir o surgimento das

inflamações intestinais crônicas. O consumo de açúcar pode ser um fator de risco para a CD,

enquanto a ingestão de gorduras e ácidos graxos está associada à UC. Dietas ricas em fibras,

frutas e vegetais parecem atuar como fatores protetores e reduzir o risco da DII (Carbonnel et

al., 2009; Danese et al., 2004; Fiocchi, 1998; Hanauer et al., 2006; Latella, Papi, 2012).

Page 20: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

19

1.3.1.3 Tabagismo

O tabagismo tem um marcante efeito contrário sobre a UC e a CD, corroborando a

teoria de que mecanismos distintos estão envolvidos na gênese de cada forma de DII. O

cigarro é considerado um importante fator de risco para a CD, visto que em fumantes há uma

maior incidência e os episódios de recorrência são mais frequentes que em não-fumantes.

Verificou-se, ainda, que a cessação do hábito tabágico melhora o curso da doença (Hanauer,

2006; Latella, Papi, 2012; Qin, 2012).

Os resultados e proposições acerca do binômio tabagismo-colite são, no entanto

conflitantes. Há estudos que relatam que o tabaco atua como um agente protetor contra a UC.

Em fumantes o risco de desenvolvimento da doença é menor e quando estes param de fumar

as taxas aumentam. Embora não seja possível afirmar quais substâncias do cigarro estão

envolvidas nessas associações, sabe-se que o emprego de adesivos transdérmicos de nicotina

associado à terapêutica convencional melhora a sintomatologia de pacientes com UC leve ou

moderada (Danese et al., 2004; Fiocchi, 1998; Latella e Papi, 2012; Qin, 2012).

1.3.1.4 Fármacos

Uma meta-análise baseada em 14 estudos realizados entre 1980 e 2007 sugere uma

associação entre o uso de contraceptivos orais (CO) e a DII. Embora o mecanismo dessa

relação não seja totalmente conhecido, é provável que as propriedades trombogênicas dos CO

sobre a musculatura intestinal possam induzir as lesões intestinais da DII. Além disso,

mulheres que utilizam CO por longos períodos podem apresentar sintomas exacerbados da

doença e/ou recidivas (Zapata et al., 2010).

Outra classe de fármacos que tem sido extensivamente estudada, devido a sua relação

com a DII, são os antiinflamatórios não esteroidais (AINES). A administração contínua desse

tipo de medicamento aumenta diretamente o risco de desenvolvimento ou reincidência da UC

e CD (Ananthakrishnan et al., 2012; Danese et al., 2004; Kefalakes et al., 2009).

1.3.1.5 Estresse

Evidências de que o estresse possa modular as manifestações do curso natural da DII

são fundamentadas por observações clínicas, modelos experimentais de UC e estudos de

interações neuroimunes em animais de laboratórios. A exacerbação dos sintomas desta

Page 21: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

20

moléstia parece estar relacionada com o estresse crônico. Apesar de não se conhecer o

mecanismo específico de como isso ocorre, acredita-se que deva ser decorrente de uma

complexa interação entre o sistema nervoso, endócrino e imunológico que resultará em um

desequilíbrio na permeabilidade intestinal e na liberação de citocinas pró-inflamatórias na

mucosa (Danese et al., 2004; Latella, Papi, 2012; Maunder, Levenstein, 2008).

1.3.2 Fatores Genéticos

Há uma vasta literatura que demonstra que os fatores genéticos desempenham um papel

significativo na DII (Baumgart, Carding, 2007; Khor et al., 2011; Kucharzik et al., 2006;

Reynisdottir et al., 2004; Ribeiro, 2009; Russel, Satsangi, 2004; Tsianos et al., 2012). Esta

afirmação pode ser justificada basicamente por 4 evidências:

1 - Estudos de hereditariedade demonstram que a freqüência da DII é maior em gêmeos

monozigóticos que em dizigóticos. Estes trabalhos também evidenciam que a taxa de

concordância é muito menor para a UC do que para a CD. Para a UC, a taxa de

concordância para gêmeos monozigóticos variam de 6 a 17%, enquanto para dizigóticos

é entre 0 e 5%. Em se tratando da DC, esses valores são bem mais elevados, sendo de

37 a 58% para monozigóticos e de 3,9 a 12% para dizigóticos (Khor et al., 2011;

Reynisdottir et al., 2004; Ribeiro, 2009);

2- Parentes de pacientes com DII apresentam risco maior de desenvolver a doença.

Estudos populacionais reportam que de 5 a 10% dos pacientes possuem um parente

portador da doença, enquanto na população geral esta taxa varia de 0,2 a 0,5%

(Baumgart, Carding, 2007; Khor et al., 2011; Reynisdottir et al., 2004);

3- Existem diferenças étnicas e raciais na ocorrência da DII. Estudos apontam que o

risco de aparecimento da doença é superior na população judaica (Kucharzik et al.,

2006; Ng et al., 2012; Russel, Satsangi, 2004; Tsianos et al., 2012);

4 - Mutações gênicas: em especial, no gene NOD2/CARD15, responsável pela produção

de citocinas inflamatórias e antiinflamatórias, manutenção da homeostasia intestinal e

síntese de defensinas. Estima-se que modificações no gene NOD2 sejam responsáveis

por 27% dos casos de CD (Baumgart, Carding, 2007; Khor et al., 2011; Kucharzik et

al., 2006; Ng et al., 2012; Reynisdottir et al., 2004; Ribeiro, 2009).

Page 22: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

21

1.3.3 Defeitos Imunoregulatórios e Exposição Microbiana

Para um epitélio intestinal saudável, é necessário que exista uma interação dinâmica

entre as células epiteliais intestinais, os micro-organismos intestinais e as células

imunológicas locais. Estas associações são essenciais para a manutenção da homeostasia

intestinal, bem como da constituição do sistema imunológico contra patógenos. Entretanto,

verifica-se que em pacientes com DII há um desequilíbrio nessa cadeia de reações, que pode

ser explicado por meio de algumas teorias: disfunção nas respostas imunológicas do

hospedeiro aos componentes normais do lúmen, infecção mediante a presença de um

patógeno específico e/ou alterações na barreira intestinal (Hanauer, 2006; Maloy, Powrie,

2011; Matricon et al., 2010).

1.3.3.1 Disfunção nas respostas imunológicas do hospedeiro aos componentes normais do

lúmen

Normalmente, a exposição a bactérias comensais inibe a resposta imune do intestino

para micróbios e antígenos alimentares a que está constantemente exposto. Entretanto, em

pacientes com DII essa tolerância é perdida e a presença da microbiota luminal desencadeia

uma resposta inflamatória das células que revestem a mucosa, gerando uma reação

imunológica crônica e destrutiva (Hanauer, 2006; Hansen et al., 2010).

1.3.3.2 Infecção mediante a presença de um patógeno específico

Vírus, bactérias e parasitas têm sido considerados possíveis responsáveis pela etiologia

da DII. Na mucosa intestinal de pacientes com CD e UC tem sido verificada a presença

excessiva de agentes potencialmente patogênicos, tais como Escherichia coli, Listeria

monocytogenes, Yersinia enterocolitica, Mycobacterium avium, Paramyxovirus e

Helicobacter hepaticus (Hanauer, 2006; Matricon et al., 2010, Qin, 2012).

1.3.3.3 Alterações na barreira intestinal

A barreira intestinal é constituída por um biofilme bacteriano, que por sua vez é

composto por muco e pelo epitélio intestinal. Sua função é a de proteger o organismo contra

potenciais ameaças bacterianas e antígenos. Entretanto, na DII esse mecanismo de defesa é

Page 23: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

22

prejudicado e ocorre um aumento na permeabilidade do revestimento epitelial do intestino,

resultando numa constante estimulação do sistema imune da mucosa. Além disso, as bactérias

do lúmen parecem intensificar ainda mais o defeito, estabelecendo um circuito auto-

sustentável e retroalimentador na mucosa inflamada que possibilita a absorção e translocação

de bactérias. Dessa forma, produtos bacterianos terão a capacidade de atravessar a barreira da

mucosa e entrar em contato direto com as células do sistema imunológico, o que acarretará

numa clássica resposta imune adaptativa (Hanauer, 2006; Kucharzik et al., 2006; Matricon et

al., 2010).

Em pacientes com CD a permeabilidade intestinal encontra-se aumentada em 36% e a

translocação bacteriana de Escherichia coli, Enterococcus ssp, Clostridium perfigens

verificada nos nódulos mesentéricos varia entre 30-50% contra 5-15% em indivíduos

saudáveis (Matricon et al., 2010).

1.4 Diagnóstico

O diagnóstico da UC e da CD compreende as características clínicas, exames

laboratoriais que incluem hemograma, VHS (Velocidade de Hemossedimentação), análises

bioquímicas, tais como PCR (Proteína C Reativa), ferritina e albumina sérica, pesquisa de

sangue oculto e cultura das amostras de fezes para descartar a possibilidade de patologias

decorrentes de infecções causadas por microorganismos. Além disso, os seguintes testes

também devem ser realizados: Raio X abdominal, endoscopia, colonoscopia e exame

anatomopatológico – biópsia (Bernstein et al., 2010; Kornbluth et al., 2010; Mowat et al.,

2011; Ortigosa, 2005; Solberg et al., 2009; Stange et al., 2008).

Marcadores sorológicos têm sido empregados para auxiliar no estudo de casos mais

complexos, uma vez que aumentam a precisão do diagnóstico e possibilitam distinguir a CD

da UC. Entre estes marcadores, destacam-se o anticorpo Anti- Saccharomyces cerevisiae -

ASCA e o anticorpo Anti-citoplasma de neutrófilos –pANCA (Engel, Neurath, 2010; Mowat

et al., 2011).

1.5 Tratamento

O tratamento dos pacientes com DII depende da localização anatômica da doença, bem

como de sua severidade (Engel; Neurath, 2010; Mowat et al., 2011) e consiste, basicamente,

em tratamento clínico-farmacológico e cirúrgico.

Page 24: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

23

1.5.1 Tratamento Clínico – Farmacológico

As medidas terapêuticas por meio de medicamentos ou fármacos comumente usadas

são:

• Tratamento de suporte: em situações de desequilíbrio eletrolítico e desidratação deve-

se administrar fluidos e eletrólitos por via intravenosa. Transfusões de sangue devem ser

realizadas quando os pacientes apresentam anemia decorrente de graves hemorragias.

Medicamentos para a dor podem ser utilizados em caso de necessidade, com exceção

dos opiáceos. Os antiinflamatórios não esteroidais devem ser evitados, uma vez que

podem exacerbar os sintomas da doença. Antidiarréicos são utilizados para reduzir a

quantidade de fezes e melhorar a o quadro urgência retal, entretanto, não devem ser

empregados em casos graves da doença, pois podem acelerar o surgimento do

megacólon tóxico (Horn, Ufberg, 2011; Kefalakes et al., 2009);

• Aminossalicilatos: agentes antiinflamatórios derivados do ácido 5-aminossalicilato (5-

ASA) e da mesalazina, que podem ser administrados por via oral e retal. São as drogas

de primeira escolha para o tratamento da UC de grau leve a moderado e são empregados

com a finalidade de induzir e manter a remissão da doença. Em pacientes com CD sua

eficácia é menor, embora seja utilizado para terapia de manutenção da remissão

(Bernstein et al., 2010; Horn, Ufberg, 2011);

• Glicocorticóides: são indicados para o tratamento da DII devido ao seu significativo

potencial de suprimir a inflamação e aliviar os sintomas rapidamente. Além disso,

também são usados quando o 5-ASA não consegue controlar adequadamente as crises

agudas. Entretanto, os esteróides não são eficientes e nem recomendados como terapia

de manutenção ou na prevenção de recorrências, uma vez que o seu uso prolongado

pode causar osteoporose, miopatias, catarata e necrose avascular da cabeça do fêmur,

além de aumentar a susceptibilidade a infecções oportunistas (Bernstein et al., 2010;

Ford et al., 2011; Harris et al., 2009);

• Imunomoduladores: incluem os análogos da tiopurina, azatioprina (AZA) e o 6-

mercaptopurina (6-MP), o metrotexato (MTX) e a ciclosporina. A AZA e o 6-MP são

utilizados em pacientes com DII, sendo mais eficazes no tratamento da CD do que na

UC. O MTX é indicado para a indução da remissão em pacientes com CD ativa e na

prevenção de recidivas em indivíduos com CD inativa, mas não deve ser administrado

em casos de UC. Este imunomodulador pode acarretar fibrose hepática e devido a sua

embriotoxicidade é contraindicado na gravidez. A ciclosporina é uma droga

Page 25: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

24

imunosupressora potente que tem sido empregada para tratar pacientes com DII severa.

Os efeitos decorrentes do uso desse medicamento compreendem infecções oportunistas

potencialmente fatais, hepatotoxicidade, insuficiência renal e convulsões (Engel,

Neurath, 2010; Harris et al., 2009; Mowat et al., 2011);

• Bloqueadores do fator de necrose tumoral alfa: o fator de necrose tumoral-α (TNF-α) é

uma citocina pró-inflamatória que desempenha um papel fundamental na patogênese da

DII, uma vez que sua expressão encontra-se elevada nos pacientes portadores dessa

doença. Na última década, a terapia com bloqueadores do fator de necrose tumoral alfa

(anti-TNF-α), que incluem o Infliximabe, Adalimumabe e Certolizumabe Pegol, tem

auxiliado no tratamento dos pacientes com CD e UC. O Infliximabe é utilizado em

pacientes com CD de grau moderado a severo e em indivíduos com UC que não

respondem ao tratamento com um esteróide ou imunossupressor. Recomenda-se,

também, o seu uso para a terapêutica da CD com fístulas. Contudo, o Adalimumabe e o

Certolizumabe Pegol são empregados somente em casos de CD (Corte et al., 2012;

Engel, Neurath, 2010; Grundström et al., 2012; Horn, Ufberg, 2011).

1.5.2 Cirúrgico

Estima-se que entre 70 a 75 % dos pacientes com CD e que, aproximadamente, 30% dos

indivíduos com UC necessitem de tratamento cirúrgico. As técnicas cirúrgicas mais

empregadas para o tratamento da DII são drenagem de abcessos, ressecação intestinal

segmentar, anastomose íleo-retal, ileostomia temporária, colostomia em casos de fístula

perianal severa e proctocolectomia total associada a ileostomia total (Bernstein et al., 2010,

Mowat et al., 2011).

Na doença de Crohn, a cirurgia é indicada quando a terapia medicamentosa não

consegue aliviar de maneira apropriada os sintomas ou quando os pacientes apresentam

complicações, tais como fístulas, abcessos, obstrução e/ou desnutrição. Apesar deste

procedimento aumentar o período de remissão em alguns casos, raramente é curativo e a

intervenção cirúrgica deverá ser repetida com freqüência (Bernstein et al., 2010; Hwang,

Varma, 2008; Roses, Rombeau, 2008).

Ao contrário da CD, a colite ulcerativa pode ser curada mediante cirurgia, no entanto,

esta forma de tratamento está associada a altas taxas de morbimortalidade. Recomenda-se a

intervenção cirúrgica em episódios de hemorragia massiva, colite tóxica, megacólon tóxico,

Page 26: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

25

perfuração intestinal, desnutrição grave, presença de displasia, câncer e/ou incapacidade de

tratamento médico (Bernstein et al., 2010; Hwang, Varma, 2008; Roses, Rombeau, 2008).

Apesar da introdução de novas abordagens terapêuticas clínicas e de sua contribuição

para o prolongamento e melhora na qualidade de vida dos portadores da DII e/ou na

prevenção da reincidência, não há nenhum tratamento clínico curativo. O tratamento

cirúrgico, por sua vez, envolve procedimentos complexos associados a altas taxas de

morbimortalidade e manifestações extra-intestinais pós-cirúrgicas (Orsi, 2008; Teixeira et al.,

2001). Considerando esses aspectos, diversos modelos experimentais têm sido propostos no

intuito de ampliar o conhecimento acerca dos processos fisiopatológicos e viabilizar novas

abordagens terapêuticas da DII (Asquith et al., 2010; Borm, Bouma, 2004; Eckmann, 2006;

Gonzalez-Rey et al., 2009; Khalil et al., 2007; Mizoguchi, Mizoguchi, 2008; Morris et al.,

1989; Sollid, Johansen, 2008; Uhlig, Powrie, 2009; Wirtz, Neurath, 2007).

1.6 Modelos Experimentais da Doença Inflamatória Intestinal

A patogênese da DII não é completamente conhecida, entretanto avanços têm sido

alcançados por meio dos modelos experimentais que mimetizam as manifestações da doença.

Os modelos in vitro são úteis para caracterizar os tipos celulares de indivíduos

susceptíveis a DII e para testar a toxicidade, a eficácia e a farmacocinética de novas drogas.

Apesar de serem relativamente baratos e de simples execução apresentam algumas limitações,

como o fato de não permitir a análise concomitante dos vários tipos de células que constituem

o trato gastrointestinal (Borm, Bouma, 2004).

Por sua vez, os modelos animais, mesmo sendo mais demorados e onerosos, conseguem

incorporar os diversos tipos celulares, a histologia e os processos envolvidos na DII, assim

como no sistema humano. Os diferentes modelos in vivo podem ser divididos em quatro

categorias, conforme apresentado no Quadro 1 (Blumberg et al., 1999; Borm, Bouma, 2004;

Hibi et al., 2002; Jurjus et al., 2004).

Ressalta-se ainda, que os modelos animais são importantes na identificação dos genes

susceptíveis a DII, bem como para a realização de estudos pré-clínicos de novas formas de

tratamento (Borm, Bouma, 2004).

O modelo de colite espontânea compreende animais que desenvolvem a inflamação da

mucosa naturalmente, ou seja, sem a administração de qualquer substância exógena. É a

categoria que melhor permite determinar os fatores genéticos envolvidos na inflamação da

mucosa, uma vez que a doença progride espontaneamente, em algumas espécies animais

Page 27: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

26

(Quadro 1) com origem genética relativamente definida (Blumberg et al., 1999; Born, Bouma,

2004).

Quadro 1- Modelos Animais de Doença Inflamatória Intestinal

Modelo Espontâneo Camundongo C3H/HeJBir

Camundongo SAMP1/Yit

“Cotton-top tamarins”

(primatas encontrados na América do Sul)

Modelo de indução por administração

de agentes exógenos

Enema

Ácido trinitrobenzenosulfônico (TNBS)

Oxazolona

Formalina

Oral

Indometacina

Carrageenan (derivada de algas vermelhas

Eucheuma spinosum)

Dextran sulfato de sódio

Subcutânea

Ciclosporina A

Intracolônica

Polissacarídeo peptidoglicano

Modelo de animais geneticamente

modificados

Knockout

Camundongo knockout IL-2

Camundongo knockout IL-2/Rα

Camundongo knockout IL-10

Camundongo knockout TGF-β

Camundongo knockout STAT3

Camundongo knockout TNF-3’UTR

Camundongo mutante para o receptor de

células T

Camundongos com deficiência do fator

trefoil

Transgênicos

Camundongo transgênico IL-7

Camundongo transgênico STAT-4

Rato transgênico HLA B27

Modelo de transferência adotiva Transferência de células – T CD4+/

CD45RBhigh

Transferência de células – T CD8 hsp60

específica

Transferência de medula óssea em

camundongos Tgε26

Page 28: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

27

A categoria em que a indução da colite é realizada por meio da administração de

agentes exógenos é a mais extensivamente estudada, devido a sua capacidade de demonstrar

diversos tipos de reações imunológicas, particularmente reações histopatológicas, bem como

correlacionar a imunopatogênese com o tratamento. Em geral, nesse tipo de modelo, é

necessário infundir uma substância que promova a destruição, mesmo que temporária, da

mucosa intestinal, para que o agente indutor da colite possa atingir o sistema imunológico e

assim desencadear uma reação inflamatória (Born, Bouma, 2004; Blumberg et al., 1999;

Jurjus et al., 2004; Kawada et al., 2007; Morris et al., 1989; Wirtz, Neurath, 2000).

Animais geneticamente modificados, seja por uma alteração em um gene alvo ou pela

introdução de um transgene, também têm sido empregados como modelos experimentais de

DII. A principal vantagem deste tipo de modelo deve-se à capacidade de identificar os

defeitos imunológicos que conduzem à inflamação da mucosa, bem como verificar os

mecanismos envolvidos. Além disso, permite analisar o papel das células epiteliais intestinais

e/ou alterações na integridade da barreira intestinal no processo inflamatório (Blumberg et al.,

1999; Born, Bouma, 2004; Uhlig, Powrie, 2009; Wirtz, Neurath, 2007).

A transferência adotiva de células, metodologia em que populações celulares específicas

são transferidas para um hospedeiro imunologicamente comprometido, é uma das maneiras de

se mimetizar a doença inflamatória intestinal. Este modelo é uma ferramenta versátil que

possibilita o estudo de uma série de aspectos genéticos e imunológicos que contribuem para o

desenvolvimento e progressão desta patologia intestinal (Blumberg et al., 1999; Hibi et al.,

2002; Lin, Hackam, 2011; Wirtz, Neurath, 2000).

1.7 Células-tronco

Células indiferenciadas que apresentam capacidade de autoduplicação e de dar origem a

células diferenciadas são denominadas células-tronco (NHI, 2001). Melton e Cowan (2004)

definiram as células-tronco (CT) como uma entidade clonal auto-renovável, multipotente e

que pode originar vários tipos de células diferenciadas.

Há 3 propriedades fundamentais que caracterizam as CT: (1) capacidade de auto-

renovação, (2) habilidade de originar células diferenciadas, em geral, de múltiplas linhagens e

(3) potencial de reparar funcionalmente um determinado tecido in vivo (Bajada et al., 2008;

Melton, Cowan, 2004; NHI, 2001; Padín-Iruegas, Lópes, 2012; Roobrouck et al., 2008).

Page 29: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

28

Em função de seu potencial de diferenciação, as CT podem ser classificadas como

totipotentes (capacidade de originar todos os tipos de células embrionárias e extra-

embrionárias), pluripotentes (capacidade de gerar todos os tipos de células do embrião, mas

não tecidos extra-embrionários, como placenta, âmnion e córion), multipotentes (capacidade

de originar diversas linhagens celulares que dão origem aos tecidos), oligopotente (capacidade

de originar um subconjunto mais restrito de linhagens celulares que as células-tronco

multipotentes) e unipotente (capacidade de originar apenas um tipo de célula madura)

(Chandar, Viselli, 2011; Padín-Iruegas, Lópes, 2012; Wagers, Weissman, 2004).

As células-tronco também podem ser divididas de acordo com o seu tecido de origem

em células-tronco embrionárias (CTE) e células-tronco adultas (CTA). São classificadas como

CTE as células isoladas da massa interna do blastocisto embrionário e CTA as derivadas de

tecidos pós-natais, células-tronco oriundas do feto e do cordão umbilical, e incluem as

células-tronco hematopoéticas - CTH e as células-tronco mesenquimais - CTM (Brunt et al.,

2012; Lakshmipathy, Verfaillie, 2005; NIH, 2001; Roobrouck et al., 2008).

1.7.1 Células-tronco Mesenquimais

As CTM foram pioneiramente descritas por Friedenstein et al. (1964), após a realização

de um estudo em que amostras de todo o conteúdo da medula óssea foram colocadas em

frascos de cultura de plástico. Os autores verificaram a presença de uma pequena quantidade

de células aderentes e aparentemente heterogêneas, sendo o tipo celular mais aderente o que

apresentava morfologia fusiforme e grupamentos de 2 a 4 células. Observaram, também, que

as células permaneciam dormentes nos primeiros 2 a 4 dias e após esse período começavam a

se multiplicar rapidamente e adquiriam aspecto em forma de fuso. No entanto, a característica

mais marcante das células era a capacidade de se diferenciar em colônias que se

assemelhavam a pequenos depósitos de osso ou cartilagem.

Em função das diferentes nomenclaturas, tais como células do estroma medular,

unidades formadoras de colônias fibroblásticas (CFU-F), células-tronco esqueléticas, a

Sociedade Internacional de Terapia Celular sugeriu, em 2006, que esse grupo celular passasse

a ser denominado de células estromais mesenquimais multipotentes (multipotent

mesenchymal stromal cells - MSC). Além disso, definiu 3 critérios para caracterizar essa

população de células estromais, multipotentes, não-hematopoéticas e de aspecto

fibroblastóide: capacidade de aderência à superfície plástica, presença (≥ 95%) de marcadores

de superfície CD105, CD73 e CD90, e ausência (≤ 2) dos CD45, CD34, CD14 ou CD11b,

Page 30: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

29

CD79a ou CD19 e HLA classe II, e potencial de diferenciar-se em osso, cartilagem e tecido

adiposo, sob determinadas condições in vitro (Bydlowsk, 2009; Caplan, 1991; Dominici et al.,

2006).

Uma das características responsáveis pelo grande interesse nas CTM em estudos

clínicos e pré-clínicos está vinculada à possibilidade de serem isoladas de fontes distintas,

como a medula óssea, tecido adiposo, cordão umbilical, polpa dentária, músculo esquelético,

tecido sinovial, cartilagem articular, líquido aminiótico, tendão e pele (Bajada et al., 2008;

Bydlowsk, 2009; Rankin, 2012).

1.7.2 Células-tronco derivadas do tecido adiposo

As células-tronco derivadas do tecido adiposo (adipose-derived stem cell – ASC) foram

pioneiramente identificadas por Zuk et al. (2001) e desde então, tem sido extensivamente

estudadas pela comunidade científica, uma vez que são encontradas em quantidade abundante,

são de fácil obtenção (procedimentos pouco invasivos e com mínima mortalidade) e podem se

diferenciar em múltiplas linhagens celulares (osteócito, adipócito e condrócitos) de maneira

reprodutível. Além disso, podem ser empregadas de forma segura em transplantes autólogos

e alogênicos (Bunnel et al., 2008; Locke et al., 2011; Mizuno, 2009; Villageois et al., 2012;

Yarak and Okamoto, 2010).

Em função das características anteriormente relacionadas, há uma série de relatos na

literatura com o emprego das ASC em estudos clínicos e pré-clínicos, conforme sumarizado

no Quadro 2 (Ando et al., 2008; Zuk, 2010). Observa-se que um grande percentual das

pesquisas é realizado em modelos experimentais, in vivo e in vitro, visto que há a necessidade

de ampliar o conhecimento acerca da eficácia das ASC.

Page 31: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

30

Quadro 2- Aplicações das células-tronco derivadas do tecido adiposo.

Emprego das ASC Patologia e/ou injúria

Modelos experimentais

Doença Inflamatória Intestinal

Reparo do disco intervertebral

Lesão medular

Regeneração do nervo periférico

Glioblastoma

Esclerose múltipla

Doença de Huntington

Traumas

Incontinência urinária

Disfunção erétil

Lesões do fígado

Diabetes

Colite

Isquemia

Artrite reumatóide

Lesões e queimaduras de pele

Fenda palatina

Lesões de tendão

Humanos

Defeito na calvária

Doença de Crohn

Incontinência urinária

Doença do enxerto versus hospedeiro

Fonte: Adaptado de Zuk, 2010.

1.8 Terapia Celular em Doença Inflamatória Intestinal

As células-tronco hematopoéticas e mesenquimais (CTH e CTM) têm despertado o

interesse de clínicos e investigadores em DII. Apesar das pesquisas estarem em fase inicial, há

indícios baseados em relatos de casos, estudos pré-clínicos in vitro e em modelos animais de

que a terapia celular com células-tronco desponta como uma promissora alternativa

terapêutica para o tratamento da colite ulcerativa e síndrome de Crohn (Ando et al., 2008;

Dalal et al; 2012; García-Olmo et al., 2005; Gonzalez-Rey et al., 2009; Hayashi et al., 2008;

Lanzoni et al., 2008; Singh et al., 2011; Tanaka et al., 2008).

Sabe-se que pacientes portadores de DII apresentam uma maior tendência a desenvolver

doenças hematológicas severas, tais como linfomas e leucemia. Comumente estas desordens

do sistema sanguíneo são tratadas por meio do transplante de células mononucleares da

medula óssea ou pelo transplante de células-tronco hematopoéticas, entretanto, também, tem

sido observado que o transplante celular atua de forma efetiva no tratamento da doença de

Page 32: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

31

Crohn e da colite ulcerativa (Ashworth, 2012; Bewtra, 2012; Setshedi, 2012; Wei et al.,

2009).

Kashyap e Forman (1998) descreveram o primeiro relato de paciente com linfoma de

Hodgkin associado a CD que apresentou remissão da DII e manteve ausência de

manifestações clínicas por 7 anos, após o transplante de medula óssea (TMO) autólogo. Em

outro estudo, 6 indivíduos com CD foram submetidos a TMO alogênico para leucemia

mieloide e foi verificado que cinco permaneceram livres do sintomas relacionados a CD por

mais de 1 ano (Lopez-Cubero et al., 1998). Em 2003, Ditschkowski et al. demonstrou que 10

dos 11 pacientes com DII (7 com CD e 4 com UC), mantiveram-se livres dos indícios da

doença, após o transplante alogênico de células-tronco para leucemia mielóide e síndromes

mielodisplásicas.

Estudos em modelos experimentais também têm mostrado resultados que comprovam

que o transplante de células-tronco pode alterar o curso ou história natural da DII, inibindo ou

retardando a progressão da doença. Khalil et al (2007) verificou que o transplante de células-

tronco CD 34-, isoladas do sangue periférico e da medula óssea de camundongos, podem atuar

na recuperação da colite induzida por dextran sulfato de sódio (DSS). A administração local

de CT derivadas do tecido adiposo em ratos com colite induzida por TNBS mostrou acelerar o

processo de regeneração das regiões lesadas do cólon (Ando et al., 2008).

Acredita-se que as células mesenquimais possam estar envolvidas na regeneração

tecidual, uma vez que possuem a habilidade de modular as respostas imunológicas das células

pró-inflamatórias para induzir um ambiente com um fenótipo mais tolerante à inflamação.

Além disso, regulam a função do sistema imunológico nos tecidos inflamados, acionando

citocinas pró-inflamatórias e a secreção de quimiocinas (Aggarwal, Pittenger, 2005; Tanaka et

al. 2008). Dessa forma, conclui-se que as CTM podem apresentar uma ação antiinflamatória

em resposta à indução de lesão em modelos experimentais in vivo e portanto, atuar como um

potencial agente terapêutico em doenças inflamatórias como a colite ulcerativa e a síndrome

de Crohn.

Neste contexto, pretende-se no presente estudo verificar a segurança e a eficácia do

transplante de células-tronco mesenquimais derivadas do tecido adiposo em ratos com colite

ulcerativa induzida por ácido trinitrobenzenosulfonico (TNBS). Sendo assim, propõe-se, com

esta abordagem, avançar nos aspectos fisiopatológicos da colite, bem como sugerir e avaliar a

eficácia de novas alternativas terapêuticas no tratamento das doenças inflamatórias intestinais.

Page 33: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

32

2 MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Animais

Foram utilizados 33 ratos albinos machos da linhagem Wistar, espécie Rattus

norvegicus, oriundos do Biotério Central da Universidade Estadual Paulista – Campus de

Botucatu – SP. Deste total, 5 animais (peso médio de 500 g) foram empregados para obtenção

das células tronco derivadas do tecido adiposo e 28 animais (peso médio 300 - 400 g) para

modelo de doença inflamatória intestinal experimental. Os animais foram mantidos em

temperatura controlada (22 ± 2 °C) e expostos a ciclos claro/escuro de 12 horas

respectivamente, e receberam dieta sólida (Nuvilab®; Paraná, Brasil) e água ad libitum.

2.2 Grupos Experimentais

Os animais foram divididos nos seguintes grupos experimentais: Branco, Controle e

Tratado, conforme apresentado no Quadro 3.

Quadro 3- Grupos Experimentais

Grupo Característica

Branco Animais não colíticos

Controle – PBS Animais colíticos e tratados com veículo

(tampão fosfato salino – PBS).

Tratado Animais colíticos e tratados com células-

tronco derivadas do tecido adiposo

2.3 Extração do tecido adiposo

Para a coleta do tecido adiposo, cinco ratos foram sacrificados por meio de

aprofundamento de anestesia com Tiopental sódico (Cristália, SP, Brasil), 400 mg/Kg, por via

intraperitonial. Em seguida, a região inguinal foi tricotomizada e foi submetida a um processo

de antissepsia com polivinilpolirridona-iodo (PVP-I), para posterior extração de

Page 34: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

33

aproximadamente 2 g de tecido adiposo da região inguinal (lados direito e esquerdo) de cada

um dos animais, obtendo-se um total de 10 g de tecido.

Figura 1. Extração do tecido adiposo da região inguinal de ratos

2.4 Desinfecção do tecido adiposo

Após a coleta, o tecido adiposo foi mantido em meio RPMI 1640 com HEPES (Gibco®,

New York, EUA) suplementado com 10% de Soro Bovino Fetal – SBF (Gibco®, New York,

EUA) e 2% de antibiótico/antimicótico 100X (Gibco®, New York, EUA), a 4 °C durante um

período de 24 horas para desinfecção.

2.5 Isolamento e cultura das células-tronco derivadas do tecido adiposo por dissociação

mecânica

Após o processo de desinfecção, o tecido adiposo foi colocado em uma placa de Petri

(vidro), contendo meio RPMI 1640 com HEPES suplementado com 2% de antibiótico –

antimicótico, e dissociado mecanicamente com o auxílio de duas agulhas de seringa (BD™,

New Jersey, USA) em forma de Z, para desprendimento das células do tecido (Figura 2.A). O

meio contendo as células dissociadas foi colocado em seringas que permaneceram em posição

vertical, por cerca de dez minutos. Em seguida, a solução celular foi filtrada em um filtro de

70 µm (Cell Strainer - BD Falcon™, New Jersey EUA) para a separação de restos celulares

(Figura 2.B). O material coletado foi centrifugado durante 10 minutos a 900 g. O precipitado

Page 35: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

34

obtido (Figura 3.C) foi homogeneizado em 1 mL de meio ALPHA-MEM (Gibco®, New

York, EUA) suplementado com 20% SBF e 1% antibiótico/antimicótico. Uma alíquota de 10

µL foi retirada para contagem em câmara de Neubauer e determinação da viabilidade celular.

Após a contagem, as células foram plaqueadas em garrafas de cultura (BD Falcon™, New

Jersey, EUA) a uma concentração de 1x105 células/cm

2, na presença de meio ALPHA-MEM

suplementado com 20% de SBF e 1% de antibiótico/antimicótico, e incubadas em estufa a 37

°C e 5% de CO2. A primeira troca do meio de cultura foi feita após 72 horas e as trocas

seguintes a cada 48 horas. Ao atingirem 60 – 80% de confluência as células foram dissociadas

com a utilização de Tryple™ (Gibco®, New York, EUA).

Figura 2- Isolamento e cultura das células-tronco do tecido adiposo.

A: Processo de dissociação mecânica. B: Separação dos restos de tecidos. C: Precipitado (seta).

2.6 Viabilidade Celular

Para verificação da viabilidade e contagem celular foi empregada câmara de Neubauer

com 10 L de azul de tripan e 10 L de suspensão celular.

Page 36: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

35

2.7 Diferenciação in vitro das células-tronco derivadas do tecido adiposo

2.7.1 Diferenciação Condrogênica

Para induzir a diferenciação condrogênica, as ASC foram plaqueadas a uma

concentração de 1x105 células/cm

2 e cultivadas em meio ALPHA-MEM suplementado com

20% de SBF e 1% de antibiótico – antimicótico, até atingirem uma confluência de 60-80%.

Em seguida, as células foram cultivadas durante 14 dias em presença do kit de diferenciação

condrogênica StemPro® (Gibco®, New York, USA), segundo a metodologia proposta pelo

fabricante. A diferenciação condrogênica foi confirmada pela análise da coloração com

Alcian Blue (Sigma-Aldrich

, St. Louis, MO, EUA).

2.7.2 Diferenciação Osteogênica

Para induzir a diferenciação osteogênica, as ASC foram plaqueadas a uma concentração

de 1x105 células/cm

2 e cultivadas em meio ALPHA-MEM suplementado com 20% de SBF e

1% de antibiótico – antimicótico, até atingirem uma confluência de 60-80%. Em seguida, as

células foram cultivadas durante 21 dias na presença do kit de diferenciação osteogênica

StemPro® (Gibco®, New York, USA), segundo a metodologia proposta pelo fabricante. A

diferenciação osteogênica foi confirmada pela análise da coloração com Alizarin Red S

(Sigma-Aldrich

, St. Louis, MO, EUA).

2.7.3 Diferenciação Adipogênica

Para induzir a diferenciação adipogênica, as ASC foram plaqueadas a uma concentração

de 1x105células/cm

2 e cultivadas em meio ALPHA-MEM suplementado com 20% de SBF e

1% de antibiótico – antimicótico, até atingirem uma confluência de 60-80%. Em seguida, as

células foram cultivadas durante 14 dias na presença do kit de diferenciação osteogênica

StemPro® (Gibco®, New York, USA), segundo a metodologia proposta pelo fabricante. A

diferenciação adipogênica foi confirmada pela análise da coloração com Oil Red O (Sigma-

Aldrich

, St. Louis, MO, EUA).

Page 37: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

36

2.8 Modelo experimental de doença inflamatória intestinal

A indução do processo inflamatório intestinal foi realizada pelo método descrito por

Morris et al., (1989), com pequenas modificações. Os animais foram submetidos a um

período de jejum de 24 horas e, posteriormente, anestesiados com halotano (Hoechst Marion

Roussel®, São Paulo, SP, Brasil). O ácido 2,4,6-trinitrobenzenosulfônico – TNBS (Sigma-

Aldrich

, St. Louis, MO, Estados Unidos) foi preparado a partir de um liofilizado obtido da

solução aquosa comercial de origem a 5% (p/v), onde 0,25 mL de uma solução de 10 mg de

TNBS em etanol a 50% (v/v). O TNBS foi administrado por via retal (intracolônica) com o

auxílio de uma cânula de silicone (diâmetro de 2 mm), introduzido pelo ânus do animal até

uma distância de 8 cm. Os animais foram mantidos em posição vertical (de cabeça para baixo)

desde o momento da instilação do hapteno até a recuperação da anestesia (Figura 3). Os

animais do grupo branco foram submetidos ao mesmo procedimento, mas com administração

de solução salina em substituição ao TNBS. Todos os animais foram sacrificados 7 dias após

a indução da colite.

Figura 3. Procedimento de indução da colite ulcerativa

Page 38: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

37

2.9 Transplante Celular

O transplante celular foi realizado 2 horas após a indução da doença inflamatória

intestinal. Para o transplante celular foram utilizadas células-tronco mesenquimais derivadas

do tecido adiposo de ratos da linhagem Wistar. A infusão das células foi feita por via

intravenosa (veia caudal). No grupo tratado foi infundido 1 mL de solução celular diluída em

PBS (Phosphate balanced saline - Gibco®, New York, USA), na concentração de 1 x 107

células/mL. O grupo controle recebeu tratamento similar, porém, foi infundido apenas o

veículo (PBS).

2.10 Avaliação da atividade anti-inflamatória intestinal

2.10.1 Avaliação macroscópica

Durante o desenvolvimento do estudo, foram avaliados em diferentes parâmetros tais

como: consumo de alimento, peso corporal e aparecimento de fezes diarréicas. Ao final dos

experimentos, os animais foram sacrificados, os cólons extraídos e analisados quanto aos

danos intestinais, considerando-se parâmetros macroscópicos e bioquímicos.

Na análise macroscópica, foram avaliados peso e comprimento do cólon, existência de

aderências entre o intestino e órgãos adjacentes e análise da severidade e extensão do prejuízo

intestinal, de acordo com uma escala descrita previamente por Bell et al., 1995 (Quadro 4).

Quadro 4- Critério de avaliação da severidade e extensão da lesão colônica

Escore Critério

0

1

2

3

4

5

6-10

Sem prejuízo

Hiperemia, sem úlceras

Úlcera linear sem inflamação significante

Úlcera linear com inflamação em um sítio

Dois ou mais sítios de ulceração/inflamação

Dois ou mais sítios de ulceração e inflamação ou um sítio de

inflamação maior que 1 cm ao longo da extensão do cólon

Se o prejuízo cobrir mais que 2 cm ao longo da extensão do cólon

(o escore é aumentado em 1 ponto para cada centímetro adicional)

Page 39: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

38

Após a análise macroscópica, o cólon foi dividido em cinco fragmentos longitudinais.

Dois fragmentos foram congelados a -30 ºC para determinação da avaliação da atividade da

mieloperoxidase e para determinação dos níveis de glutationa total. Este último fragmento foi

pesado e congelado em 1 mL de ácido tricloroacético –TCA (Vetec Química Fina, Duque de

Caxias, RJ, Brasil) 5% (p/v) com o objetivo de inibir sua degradação pela gama-

glutamiltranspeptidase (Anderson, 1985). Os fragmentos restantes foram armazenados a -80

ºC.

2.10.2 Determinações Bioquímicas

Todas as determinações bioquímicas foram realizadas em homogeneizados de mucosa

intestinal colônica, sendo que a homogeneização foi realizada a frio durante aproximadamente

45 segundos, com ajuda de um homogeneizador automático (Janke & Kunkel Ultra Turrax;

Hielscher™, Teltow, Germany).

2.10.2.1 Determinação do conteúdo de glutationa total

A determinação do conteúdo de glutationa total foi realizada de acordo com o método

descrito por Anderson (1985), que está baseado na oxidação total da glutationa (GSH)

reduzida à sua forma oxidada (GSSG), após a incubação da amostra em ácido

ditiobisnitrobenzóico (DTNB). O DTNB reduzido adquire uma coloração amarelada, que

pode ser determinada espectrofotometricamente. O GSSG gerado é reduzido, por ação da

enzima glutationa redutase, na presença de NADPH (nicotinamida adenina dinucleotídeo

fosfato). O GSH formado se oxida novamente, gerando um ciclo contínuo, sendo que a

velocidade de redução do DTNB (com o seu conseqüente incremento de absorbância a 412

nm) é proporcional à quantidade total de glutationa (GSH + GSSG).

Para efetuar a determinação do conteúdo de glutationa total, foram utilizados os

fragmentos de cólon congelados com TCA. As amostras, após descongelamento, foram

homogeneizadas com uma solução de TCA 5% em uma proporção final de 1:20 (p/v). Após a

homogeneização, o material foi centrifugado a 2000 g por 5 minutos a 4 ºC. Do sobrenadante

foi utilizado 20 L, que foi colocado em uma placa de 96 canais, onde se adicionou 140 L

de NADPH (Sigma-Aldrich

, St. Louis, MO, Estados Unidos), 5 L de PBS e 20 L DTNB

(Sigma-Aldrich

, St. Louis, MO, Estados Unidos). A placa foi colocada no leitor de placas do

Page 40: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

39

espectrofotômetro, onde permaneceu incubada por 5 minutos em uma temperatura de 30 ºC.

Após este período adicionou-se 15 L de glutationa redutase (Sigma-Aldrich

, St. Louis,

MO, Estados Unidos) e registrou-se o incremento de absorbância a 412 nm no

espectrofotômetro (Power Wave™ 340 – BioTek, Winooski, VT, EUA). A concentração de

glutationa foi calculada a partir da pendente da curva obtida por interpolação em uma curva

padrão realizada com glutationa (GSH), sendo os resultados foram expressos como nmol/g de

tecido.

2.10.2.2 Determinação da atividade da mieloperoxidase

A determinação da atividade da mieloperoxidase (MPO) em fragmentos de cólon de

rato foi realizada pelo método de Krawisz et al. (1984). A atividade da mieloperoxidase é

utilizada como marcador da infiltração de neutrófilos, mesmo que esta enzima não seja

específica deste tipo celular. A determinação foi realizada em fragmentos de cólon (150 – 300

mg), que, após descongelamento, foram homogeneizados na presença de tampão brometo de

hexadeciltrimetilamônio – HTAB (Sigma-Aldrich

, St. Louis, MO, EUA) a uma proporção

de 1:20 (p/v), durante 45 segundos. O tampão HTAB, ao funcionar como um detergente

facilita a liberação da enzima mieloperoxidase dos grânulos intracelulares dos neutrófilos,

onde está armazenada. O homogeneizado resultante foi dividido em duas alíquotas de 1,0 mL

e armazenadas em eppendorff. O material foi sonicado por 10 segundos e submetido a um

triplo processo de congelamento-descongelamento durante 1-2 dias. Após o último

descongelamento, a alíquota foi centrifugada a 7000 g por 5 minutos a 4 ºC. Em uma placa de

96 canais, foi adicionado 100L do sobrenadante de cada amostra em poços distintos, 150 L

do tampão de reação (cloridrato de orto-dianisidina; Sigma-Aldrich

, St. Louis, MO, EUA).

Em seguida, foi determinado o incremento de absorbância a 450 nm usando um

espectrofotômetro. A atividade da enzima mieloperoxidase foi calculada por interpolação em

uma curva padrão, realizada com MPO procedente de neutrófilos humanos. Uma unidade de

mieloperoxidase (U) foi considerada como aquela que degrada 1 nmol/min de peróxido de

hidrogênio a 25 ºC. Os resultados foram expressos em U/g de tecido.

Page 41: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

40

2.10.3 Análise Histológica

Imediatamente após a avaliação macroscópica do processo inflamatório colônico,

amostras de tecido (0,5 mm) adjacentes à área de lesão foram coletadas para processamento

histológico. Essas amostras foram acondicionadas em cassetes histológicos, fixadas em

formalina 4% e submetidas à coloração com hematoxilina – eosina (HE).

2.11 Análise Estatística

Os resultados foram expressos como média ± desvio padrão da média. Diferenças entre

as médias foram testadas por Análise de Variância (ANOVA) seguida por testes de

significância. Dados não paramétricos (escores) foram expressos como mediana e analisados

pelo teste de Kruscal-Wallis. Dados descontínuos foram analisados pelo teste qui-quadrado

(X2). Significância estatística foi considerada para valores de p < 0,05.

2.12 Aspectos Éticos

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética na Utilização de Animais (CEUA) da

Universidade Estadual Paulista – UNESP, Campus de Assis (Registro n°: 012/2011).

Page 42: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

41

3 RESULTADOS

3.1 Cultura e caracterização das células-tronco derivadas do tecido adiposo

Aspectos morfológicos, capacidade de adesão à superfície plástica, proliferação e

viabilidade das células-tronco isoladas do tecido adiposo foram observados com a finalidade

de verificar o comportamento celular. Para a cultura primária, plaqueou-se as ASC a uma

densidade de 1x105 células/cm

2 e após 48 horas foi verificada a aderência celular na superfície

de cultura. A partir de 72 horas, foi possível notar a presença de colônias celulares e pequenas

células com morfologia fusiforme. Conforme apresentado na Figura 4-A, no 7° dia da cultura

foi observada uma grande população de células alongadas com aspecto de fuso, semelhante ao

de fibroblastos. A confluência de 70 – 80% foi alcançada após, aproximadamente, 11 dias do

início da cultura (Figura 4-B).

Posteriormente à cultura primária, o crescimento celular tornou-se mais rápido, visto

que a confluência de 70 – 80% foi atingida em um intervalo menor de tempo (entre 3 – 4

dias). Observou-se, também, que após a terceira passagem a cultura apresentou-se como uma

monocamada homogênea de células fusiformes (Figura 4-C), indicando que as ASC estavam

purificadas, ou seja, não havia, provavelmente, contaminação com células não aderentes, tais

como adipócitos maduros e hemácias. As células foram cultivadas até a 5a passagem,

mantendo o padrão morfológico (Figura 4-D). A viabilidade celular foi mensurada em cada

uma das passagens, obtendo-se uma média de aproximadamente 99%.

Page 43: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

42

Figura 4- Comportamento das células-tronco derivadas do tecido adiposo em diferentes

períodos da cultura.

A – Cultura primária (7 dias); B – 11 dias (confluência de 70 – 80%); C – Monocamada

homogênea de células com aspecto fibroblastóide (terceira passagem); D – Quinta passagem –

manutenção do padrão morfológico.

Para verificar se as células isoladas do tecido adiposo se adequavam aos requisitos

preconizados pela Sociedade Internacional de Terapia Celular para validação das células-

tronco mesenquimais (Dominici et al., 2006), foram realizados testes de diferenciação in vitro

das ASC para obtenção de condrócitos, osteócitos e adipócitos. A Figura 5 mostra a

diferenciação condrogênica por meio da coloração com o corante Alcian Blue. O azul é

indicativo da síntese de proteoglicanos pelos condrócitos. A osteogênese foi confirmada

mediante coloração da matriz óssea dos osteoblastos e osteócitos com Alizarin Red S (Figura

6). Finalmente, com o auxílio do corante Oil Red O foi comprovada a diferenciação das ASC

em adipócitos. Conforme observado na Figura 7, os vacúolos lipídicos encontram-se corados

em vermelho.

A B

C D

Page 44: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

43

Figura 5- Diferenciação condrogênica das ASC.

A - Cultivo das ASC na ausência de meio indutor (Aumento de 20 X); B - ASC

diferenciadas em condrócitos na ausência de corante (Aumento de 20 X); C e D -

Proteoglicanos sintetizados pelos condrócitos e corados com Alcian Blue (Aumento de

20X e 40X, respectivamente).

A B

C D

Page 45: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

44

Figura 6- Diferenciação osteogênica das ASC.

A – Cultivo das ASC na ausência de meio indutor (Aumento de 20 X); B - ASC

diferenciadas em osteoblastos e osteócitos na ausência de corante (Aumento de 20 X); C e D

– Matriz óssea corada com Alizarin Red S (Aumento de 20X e 40X, respectivamente).

A B

C D

Page 46: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

45

Figura 7- Diferenciação adipogênica das ASC.

A - Cultivo das ASC na ausência de meio indutor (Aumento de 20 X); B - ASC

diferenciadas em adipócitos na ausência de corante (Aumento de 20 X); C e D –

Vacúolos lipídicos corados com Oil Red O (Aumento de 20X e 40X, respectivamente).

3.2 Avaliação da atividade anti-inflamatória intestinal

Com o propósito de verificar a atividade anti-inflamatória intestinal “in vivo” foram

avaliados o peso corpóreo, consumo alimentar e presença de fezes diarréicas.

O consumo de ração, calculado pela média da quantidade diária de alimentos ingerida

pelos animais de cada grupo experimental, mostrou, conforme apresentado na Figura 8, que a

média de consumo dos animais não colíticos (saudáveis) é superior ao dos animais colíticos

(submetidos ao tratamento com TNBS). O consumo do grupo branco diferiu estatisticamente

quando comparado aos grupos controle e tratado, entretanto, não houve diferença estatística

significativa entre o grupo controle e o tratado (p < 0.05; diferença estatística não

apresentada).

A B

C D

Page 47: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

46

Figura 8- Média do consumo diário de ração por grupo experimental em modelo de

doença inflamatória intestinal por administração de TNBS/álcool.

A avaliação do peso corpóreo realizada diariamente, por meio da média do delta (Δ =

peso final – peso inicial) do peso corpóreo dos animais de cada grupo experimental, mostrou

que em decorrência da redução do consumo de alimentos, verifica-se, conforme a Figura 9,

que há uma diminuição no peso corpóreo dos animais submetidos à administração da solução

alcoólica de TNBS. Nota-se que o ganho não foi reestabelecido nos grupos controle - PBS e

tratado. A média do delta peso do corpóreo do grupo branco apresentou diferença

estatisticamente significativa quando comparada aos grupos controle e tratado, no entanto,

não diferiu significativamente entre os grupos controle e o tratado (p < 0.05; diferença

estatística não apresentada).

Page 48: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

47

Figura 9- Avaliação do peso corporal dos animais em modelo experimental de doença

inflamatória intestinal.

A presença de fezes diarreicas foi monitorada diariamente, por meio da presença de

resíduos fecais na região anal, desde o procedimento de indução da colite ulcerativa até a

eutanásia dos animais. Dentre os animais colíticos, foi observado que a totalidade (100 %) dos

animais do grupo controle apresentaram fezes diarreicas contra 90% dos animais do grupo

tratado (Tabela 1). A análise dos resultados apresentados na Tabela 1 mostra que não houve

diferença estatística significativa entre os grupos controle e tratado.

Tabela 1- Efeito do tratamento com células-tronco derivadas do tecido adiposo (ASC) na

incidência de fezes diarreicas em modelo animal de doença inflamatória intestinal.

Grupo *Diarréia (%)

Branco 0a

Controle - PBS 100b

Tratado com ASC 90b

*Diarréia foi analisada pelo teste X

2. Valores sem letras em comum apresentam diferença

estatística significativa em p<0.05.

Page 49: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

48

3.2.1 Avaliações Macroscópicas

3.2.1.1 Relação peso/comprimento do cólon (P/C)

A lesão colônica decorrente do processo inflamatório está relacionada e pode ser

quantitativamente expressa por um aumento na razão peso-comprimento – P/C (mg/cm) do

cólon. Conforme os resultados apresentados na Tabela 2, não houve diferença estatística

significativa em relação ao P/C do cólon entre os grupos controle e tratado.

3.2.1.2 Aderências

A aderência entre o intestino e os órgãos adjacentes, também, é considerada uma

característica do processo inflamatório da mucosa intestinal. A Tabela 2 mostra um percentual

de aderência de 83,33% nos animais do grupo controle e de 20% nos animais colíticos e

tratados com ASC. Observou-se que houve diferença estatisticamente significativa entre o

grupo controle e o tratado.

3.2.1.3 Severidade e extensão do prejuízo intestinal

A administração da solução alcoólica de TNBS nos animais do grupo controle

desencadeou um processo inflamatório, caracterizado por lesões ao longo do cólon que

apresentaram extensão entre 1,20 a 5,50 cm e escore entre 5 e 9 (Tabela 2). A análise dos

resultados apresentados na Tabela 2 mostra que não houve diferença estatisticamente

significativa em relação à extensão e escore da lesão, entre os animais do grupo controle-PBS

em relação ao grupo tratado com ASC.

Page 50: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

49

Tabela 2- Paramêtros macroscópicos do tratamento com células-tronco derivadas do tecido

adiposo (ASC) em modelo experimental de doença inflamatória intestinal por

administração de solução alcoólica de TNBS.

Grupo Escore

(0 – 10)*

Extensão da

lesão (cm)**

Relação

peso/comprimento

(mg/cm)**

Aderência

(%)***

Branco 0a

0a

106,77 ± 3,241a

0a

Controle

– PBS

7 (5-9)b

3,70 ± 0,741b

269,57 ± 43,851b

83,33b

Tratado

com ASC

6,5 (4-9)b 3,51 ± 0,415

b 199,36 ± 27,85

b 20

c

*Os valores de escore estão expressos em mediana (intervalo),

**extensão da lesão e relação peso-

comprimento colônico estão expressos em média ± E.P.M. (Erro Padrão da Média), ***

aderência

foi analisada pelo teste X2. Valores sem letras em comum apresentam diferença estatística

significativa em p<0.05.

3.3 Determinações Bioquímicas

O processo inflamatório da mucosa intestinal determina, entre outras características,

uma alteração de parâmetros bioquímicos, tais como: depleção no conteúdo da glutationa total

(GHS) e aumento da atividade da mieloperoxidase (MPO).

Conforme pode ser verificado pela análise dos resultados apresentados na Figura 10, os

animais submetidos à administração da solução alcoólica de TNBS apresentaram diferença

estatística significativa no que se refere à redução nos níveis de glutationa quando

comparados aos animais o grupo branco. Embora os níveis de glutationa foram maiores nos

animais tratados, não foi verificada diferença significativa quando confrontou-se os resultados

dos animais tratados com PBS com aqueles tratados com células-tronco derivadas do tecido

adiposo.

Page 51: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

50

Figura 10- Avaliação dos níveis de glutationa total na mucosa intestinal de modelo animal de

doença inflamatória intestinal.

Glutationa

Bra

ncoPBS

Trata

do

0

500

1000

1500

2000

2500

**G

SH

(n

mo

l/g

tecid

o)

Dados expressos em média ± E.P.M. Valores sem letras em comum diferem em p<0.05.

Em se tratando da atividade da mieloperoxidase (MPO), averiguou-se que o

tratamento com células-tronco derivadas do tecido adiposo promoveu uma diminuição

estatisticamente significativa na atividade enzimatíca quando comparada ao grupo controle –

PBS, conforme pode ser verificado na Figura 11.

a

b b

Page 52: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

51

Figura 11- Avaliação da atividade da mieloperoxidase (MPO) na mucosa intestinal de

modelo animal de doença inflamatória intestinal.

Bra

ncoPBS

Trata

men

to

0

200

400

600

800

1000

***

*

MP

O (

U/g

tecid

o)

Dados expressos em média ± E.P.M. Valores sem letras em comum diferem em p<0.05.

3.4 Análise Histológica

Com a finalidade de avaliar qualitativamente a mucosa intestinal foi realizada a análise

microscópica. A Figura 12 (A) mostra a citoarquitetura normal do colón de um animal sadio,

onde as células estão intactas e se identifica claramente as camadas mucosa, submucosa e

muscular da mucosa e suas respectivas dimensões, sem nenhum tipo de alteração

morfológica. Na figura 12 (B), observa-se o colón de um animal com o processo inflamatório

induzido por TNBS, caracterizado pelo rompimento da mucosa e pela presença de células

alteradas quanto à forma, ao tamanho e ao número em relação aos animais sadios. Nota-se

ainda, um grande infiltrado celular na submucosa, típico da migração de neutrófilos devido ao

processo inflamatório colônico. Conforme apresentado na Figura 12 (C), verifica-se o cólon

de um animal submetido ao tratamento com ASC, onde se detecta um grande infiltrado celular

devido ao processo inflamatório colônico induzido por TNBS. Entretanto, não há rompimento

da mucosa, como claramente observado nos animais tratados com PBS. As células da mucosa

não estão expressivamente alteradas quanto à forma e existe uma nítida recuperação da

citoarquitetura do cólon.

a

b

c

Page 53: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

52

Figura 12- Fotomicrografias da mucosa do cólon de ratos após indução de colite ulcerativa

por meio da administração de solução alcoólica de TNBS.

Os cortes foram corados com Hematoxilina-Eosina. (A) Grupo não colítico (branco): histologia do

cólon de um rato não colítico (Aumento de 10X); (B) Grupo controle – PBS: ulceração severa e

infiltração de células inflamatórias na submucosa (Aumento de 10X); (C) Grupo tratado com ASC:

infiltração de células inflamatórias na submucosa (Aumento de 5X). Onde, seta preta: ulceração na

submucosa; seta branca: infiltrado de células inflamatórias.

Page 54: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

53

4 DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

As células-tronco derivadas do tecido adiposo (ASC) despontam como uma alternativa

terapêutica promissora para uma série de patologias. A Doença Inflamatória Intestinal (DII)

inclui-se nesse rol de doenças que poderão, eventualmente, se beneficiar da terapia celular

(TC) com células-tronco (CT), considerando-se a capacidade das CT exercerem um papel

imunomodulatório, com supressão ou inibição do processo inflamatório, bem como de

estimulação da angiogênese (Ando et al. 2008; Cheng et al., 2011; Cheng et al. 2012; Dalal et

al., 2012; González et al., 2009; Gonzalez-Rey et al., 2009; Locke et al., 2009; Locke et al.,

2011; Mizuno, 2009; Shigemura et al; 2006; Tanaka et al., 2008).

As ASC utilizadas, no presente estudo, foram identificadas como uma população de

células alongadas com aspecto fusiforme, característico das CTM (Bydlowski et al., 2009;

Dominici et al., 2006; Lennon et al., 2012). Além disso, mostraram capacidade de adesão à

superfície plástica, um dos critérios básicos que caracterizam e definem as CTM, conforme

preconizado pela Sociedade Internacional de Terapia Celular (Dominici et al., 2006).

Além das características citadas, as ASC obtidas e isoladas neste estudo apresentaram,

quando submetidas, em cultura, a condições específicas de indução, a propriedade funcional

de diferenciação “in vitro”, nas linhagens condrogênica, osteogênica e adipogênica,

evidenciada pelas análises histoquímicas apresentadas nas Figuras 5, 6 e 7, coerentemente

com os critérios de validação reportados por vários outros autores (Dominici et al., 2006;

Ando et al., 2008; Bydlowski et al., 2009; Güven et al., 2012; Locke et al., 2011; Ra et al.,

2011).

Vale ressaltar, ainda, que, neste trabalho, empregou-se uma técnica inovadora e inédita

de dissociação mecânica para o isolamento e cultivo das ASC. Comumente, a digestão

enzimática, utilizando colagenase (enzima proteolítica de origem bacteriana), é o

procedimento mais utilizado para obtenção e isolamento das células tronco do tecido adiposo

(Bunnell et al., 2008; Mizuno, 2009; Ren et al., 2012; Zuk et al., 2001, 2002). Deve-se

enfatizar que a dissociação mecânica torna prescindível o uso de colagenase (de origem

bacteriana), tornando o processo menos dispendioso, além de eficiente. Destaca-se ainda, que

a fração estromal do tecido adiposo foi submetida a um procedimento de filtração, por meio

de um filtro de 70 µm, com o propósito de reduzir os adipócitos maduros e restos celulares e

assim, acelerar o processo de adesão e expansão das ASC. Essa variante metodológica,

originalmente proposta por nosso grupo de pesquisa, parece aumentar a eficiência do

processo.

Page 55: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

54

O modelo experimental de doença inflamatória intestinal desenvolvido por Morris et al.

(1989) e reproduzido por outros autores mostra que a instilação intraluminal de solução

alcoólica de TNBS resulta em ulcerações, infiltração de leucócitos e formação de granulomas

decorrentes da inflamação na mucosa intestinal (Anderson et al., 2012; Camuesco et al., 2005;

González, 2009; Neurath et al., 2000; Witaicenis et al., 2010; Woodruff et al., 2003).

Witaicenis et al. (2010) relataram que após a administração de TNBS, em ratos da linhagem

Wistar, foi evidenciado necrose severa no cólon, espessamento da parede intestinal,

hiperemia, aumento na relação peso/comprimento do cólon, redução do consumo alimentar,

diminuição da massa corpórea, aumento da atividade da MPO e depleção dos níveis da GSH,

em relação ao grupo não colítico. No presente trabalho, também foram verificados resultados

semelhantes, visto que quando confrontados os resultados das análises “in vivo” (Figuras 8 e

9, Tabela 1), macroscópicas (Tabela 2), bioquímicas (Figuras 10 e 11), observou-se diferenças

significativas entre os grupos branco e colíticos.

Há relatos na literatura que sugerem que as ASC contribuem para o processo de

regeneração da mucosa intestinal em modelos animais e pacientes humanos (Ando et al.,

2008; Dalal et al., 2012; Garcia-Olmo et al., 2005; Garcia-Olmo et al., 2008; Garcia-Olmo et

al., 2009; Gonzalez-Rey et al., 2009; Melmed and Targan, 2010). Corroborando essas

informações, também foram observados resultados favoráveis da terapia com células-tronco

derivadas do tecido adiposo em colite ulcerativa induzida experimentalmente pela

administração intracolônica de solução alcoólica de TNBS.

Está bem estabelecido, que um dos sintomas dos portadores de DII é a redução no peso

corpóreo, visto que há uma diminuição na ingestão de alimentos e ocorrências de distúrbios

gastrintestinais, tais como diarreias e disenterias, na fase ativa da doença (Campos et al.,

2002; Strober et al., 2007). Uma redução no consumo de ração, com consequente

emagrecimento dos animais, após a indução da colite ulcerativa, foi averiguado nos grupos

colíticos. Entretanto, verificou-se que o consumo de alimentos e a diminuição no peso

corpóreo dos animais tratados com ASC foram semelhantes ao do grupo controle – PBS. De

acordo com Morris et al. (1989), o modelo de indução da DII por meio de TNBS/álcool

produz ulceração e espessamento da parede intestinal, sem afetar de forma significativa, a

longo prazo, o aumento do peso dos animais. Sendo assim, infere-se a necessidade de um

maior período para restabelecimento da ingestão alimentar normal e consequentemente

recuperação do peso corpóreo.

Comumente a diarreia desenvolve-se quando há inflamação no cólon e intestino

delgado, resultante da ação de mediadores inflamatórios no epitélio intestinal (Musch et al.,

Page 56: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

55

1982; Wardle et al., 1993; Wegmann et al., 2000). A ocorrência deste parâmetro de

observação característico da DII foi verificada em 90% dos animais do grupo tratado com

ASC (Tabela 1), mostrando que após 7 dias de tratamento ainda há uma grande quantidade de

mediadores inflamatórios no cólon. Estes dados remetem à possibilidade que o período para

avaliação da eficácia da terapia celular, como uma alternativa de tratamento para a colite,

deva ser ampliado, além do período de 7 dias, adotado neste estudo.

Outros indicadores da severidade e extensão da lesão decorrente da colite ulcerativa e

da doença de Crohn são o aumento no peso e diminuição no comprimento do cólon inflamado

(Ando et al., 2008; Cestari et al., 2011; Luchini et al., 2008; Morris et al., 1989; Scarminio et

al., 2012; Son et al, 1998). Há uma nítida diferença na média da relação P/C, conforme os

resultados apresentados na Tabela 2. No entanto, não houve diferença estatística significativa

entre os animais tratados com células-tronco em comparação com os animais do grupo

controle (Tabela 2). Este efeito, possivelmente, deve-se à severa lesão causada pela

administração da solução alcoólica de TNBS, dificultando, assim, o processo de regeneração

da mucosa injuriada. Ando et al. (2008) relataram que injeção de ASC diretamente sob a

serosa da submucosa do cólon, diminui significativamente o peso do cólon inflamado. Isto é

um indicativo de que o local e a via de administração das células podem influenciar no

resultado final de um tratamento, conforme reportado por outros autores (Castelo-Branco et

al., 2012; Eggert et al., 1999; Hayashi et al., 2008; Kuo et al., 2008; Strauer, Kornowski,

2003). Neste estudo adotou-se a infusão de ASC por via intravenosa, dessa forma a

divergência dos resultados deste estudo e àquele reportado por Ando et al. (2008), poderia

estar vinculada a diferente via de infusão, adotada no trabalho.

A análise da intensidade da gravidade da DII também é verificada pela extensão e

escore da lesão (Camuesco et al., 2005; Di Stasi et al., 2004; Luchini et al., 2009). Como

apresentado na Tabela 2, os danos causados no cólon em decorrência da infusão de

álcool/TNBS são severos e extensos, o que torna improvável a recuperação da mucosa

intestinal após 7 dias da infusão de ASC. Em 2009, Wei et al., compararam a infusão de

células-tronco hematopoéticas (CTH), células-tronco mesenquimais da medula óssea e uma

mistura de ambos os tipos celulares, em ratos com colite induzida pela administração de

solução alcoólica de TNBS, após 7, 14 e 21 dias. Os autores verificaram que houve redução

no escore da lesão somente no 21° dia. Além disso, esse resultado só foi observado no grupo

tratado com a combinação das CTH e CTM. Sendo assim, é lícito inferir que devido à

intensidade e extensão da lesão, seria necessário ampliar o período de tempo para avaliar a

atuação das células tronco no que concerne à capacidade de redução do processo inflamatório

Page 57: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

56

e promover a regeneração do tecido lesado. Outro aspecto a ser considerado, refere-se à

possibilidade de coinfundir CTH e CTM, visto que o efeito sinérgico, dos diferentes tipos

celulares, pode agir de maneira benéfica no tratamento de uma série de patologias (Asari et

al., 2011; Aksu et al., 2008; Koç et al., 2000; Liu et al., 2011; Meuleman et al., 2009).

A presença de aderências entre o cólon e os órgãos e/ou tecidos adjacentes, como

resultado de uma inflamação transmural, é uma característica comum da doença inflamatória

intestinal (Baldassano, Piccoli, 1999; Hoshino et al., 2007; Videla et al., 1994; Vilaseca et al.,

1990). A Tabela 2 mostra que houve uma redução significativa na incidência de aderências

nos animais colíticos e tratados com ASC em relação aos animais do grupo controle – PBS,

sugerindo que as ASC atuaram como um agente protetor e/ou redutor do processo

inflamatório.

A glutationa total, um constituinte do sistema de defesa, tem a capacidade de

desenvolver uma série de funções, entre as quais destacam-se os efeitos antioxidantes,

modulatórios e pró-oxidantes (Perricone et a., 2009). Nota-se que em modelos experimentais

de doença inflamatória intestinal, por meio da instilação de TNBS, há depleção de GSH

decorrente da inflamação colônica (Luchini et al., 2008; Scarminio et al., 2012; Sido et al.,

1998). Conforme observado na Figura 11, não há diferenças estatísticas significativas nos

níveis de GSH, quando confronta-se os dados dos grupos tratados em relação ao controle.

Sendo assim, pode-se verificar que as ASC utilizadas não apresentaram potencial para

promover o aumento nos níveis de GSH. Vale salientar, que não há relatos em humanos e

modelos animais com colite ulcerativa ou doença de Crohn que registrem dosagens dos níveis

de glutationa total após a infusão de células-tronco. Dessa forma, não há elementos

comparativos deste resultado com outros dados da literatura.

Entre as análises bioquímicas, a mieloperoxidase, enzima constituinte dos grânulos

azurófilos de neutrófilos, é uma importante ferramenta para identificar a presença de infiltrado

neutrofílicos, bem como para mostrar a existência de um processo inflamatório em

consequência da doença inflamatória intestinal. Sabe-se que o nível da MPO reflete a

quantidade de neutrófilos e que um decréscimo em sua atividade reflete uma redução da

inflamação em tecido lesado (Krawisz et al., 1984; Saiki, 1998). No presente estudo,

verificou-se que animais colíticos e tratados com ASC apresentaram uma diminuição

estatisticamente significativa da atividade da MPO em relação aos animais tratados com PBS

(Figura 12), mostrando que as ASC podem atuar como um agente antiinflamatório no

tratamento da colite ulcerativa, atenuando o dano causado pela administração de TNBS

(Anderson et al., 2012; Ando et al., 2008; González et al.; 2009).

Page 58: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

57

Os resultados obtidos permitem concluir que a infusão de ASC representa um

procedimento seguro e viável, visto que não se constatou efeitos adversos nos animais do

grupo tratado com células-tronco derivadas do tecido adiposo, bem como não houve registro

de óbitos como decorrência direta dos procedimentos experimentais adotados.

A presença de aderências e a determinação da atividade da mieloperoxidase fornecem

indicativos de que as ASC possuem a capacidade de promover e/ou acelerar o processo de

regeneração da mucosa intestinal inflamada. No entanto, novas alternativas e adequações

metodológicas deverão ser inseridas em projetos futuros. Entre as proposições de readequação

metodológica, deverão ser considerados, entre outros aspectos: avaliar a eficácia da terapia

celular por um maior período de tempo; infundir as células por outras vias de administração,

tais como intraperitoneal ou tópica; viabilizar a terapêutica pela coinfusão das ASC em

associação com as CTH.

Page 59: Emprego de terapia celular em modelo experimental de doença

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