emmanuel lévinas - entre nós, ensaios sobre a alteridade

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Ensaio sobre a filosofia da alteridade como condição de reconhecimento da auto existência.

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  • ml054Nota Se eu fosse filsofo, ia zangar-me muito que o melhor dicionrio da lngua portuguesa no registasse os termos hiltico e hil. No Dicionrio da Lngua Portuguesa da Porto Editora, o adjectivo hiltico o referente hil, e esta , em filosofia, e na obra husserliana, concretamente, a matria da sensao como dado puro, antes da interveno da actividade intencional do esprito, que lhe confere um sentido. Sim, prosaicamente, matria. Contudo, a matriz semntica do timo da nossa matria o grego , madeira, a matria de que algo feito. Concreto, material como um tronco. (Espero que o meu amigo Marcos Cias e Silva, consultor filosfico, no me desminta.) Esperem: o Dicionrio Houaiss regista, entre outras, hlico: pertencente matria; corpreo, material. Ah, sim, e regista husserliano.

    ml054NotaA sensibilidade, como conscincia prpria do vivente, no um pensamento confuso: ela no pensamento em absoluto.

  • ml054Notao pensamento comea, precisamente, quando a conscincia se torna conscincia da sua particularidade, ou seja, quando concebe a exterioridade para alm da sua natureza de vivente, que o contm; quando ela se torna conscincia da exterioridade que ultrapassa sua natureza, quando ela se torna metafsica.

    Como pensante, o homem aquele para quem o mundo exterior existe. Em consequncia, sua vida dita biolgica, sua vida estritamente interior, se ilumina de pensamento.

    Frmula de Henri Bergson "instinto iluminado pela inteligncia", a razo.

    ml054NotaA posio do homem, animal racional, no ser, realiza-se como vontade e trabalho.

    Animal racional no pode significar animal domesticado por uma razo: a interpretao dos termos delineia uma estrutura original.

    Eu: Animal para a razo. Para a existncia racional, para a qual o reconhecimento exterior um dos elementos essenciais.

  • ml054NotaA individualidade do eu se distingue de toda individualidade dada, pelo fato de sua identidade no ser feita do que a distingue dos outros, mas de sua referncia a si. A totalidade em que se situa um ser pensante no uma adio pura e simples de seres, mas a adio de seres que no fazem nmero uns aos outros. toda a originalidade da sociedade. A simultaniedade da participao e da no-participao precisamente uma existncia que evolui entre culpabilidade e inocncia, entre domnio sobre os outros, a traio a si e o retorno a si. Esta relao do indivduo com a totalidade, que o pensamento, em que o eu considera o que no ele e, contudo, nisto no se dissolve, supe que a totalidade se manifesta, no como ambincia que roa de algum modo a epiderme do vivente, como elemento no qual ele mergulha, mas como um rosto no qual o ser est em face de mim. Esta relao, de participao ao mesmo tempo que separao, que marca o advento e o a priori de um pensamento - em que os laos entre as partes no se constituem seno pela liberdade das partes - uma sociedade, seres que falam, que se defrontam. O pensamento comea com a possibilidade de conceber uma liberdade exterior minha. Pensar uma liberdade exterior minha o primeiro pensamento. Ele marca a minha prpria presena no mundo.

    ml054NotaAs coisas, como coisas, tm sua independncia primeira do fato de no me pertencerem - e elas no me pertencem, porque estou em relao com os homens dos quais elas vm. Por isso a relao do eu com a totalidade uma relao com os seres humanos dos quais reconheo o rosto. Em relao a eles eu sou culpado ou inocente. A condio do pensamento uma condio moral.

    ml054NotaO problema da relao entre eu e a totalidade resume-se portanto, em descrever as condies morais do pensamento. Elas se realizam - esta nossa tese - na obra da justia econmica. Quero mostrar que a obra da justia econmica no um empreendimento determinado pelas contingncias de uma histria que acabou mal, mas articula relaes que tornam possvel uma totalidade de seres exteriores totalidade, sua aptido inocncia e sua presena uns para os outros. Assim, a obra da justia econmica no preludia a existncia espiritual, mas j a realiza.

  • ml054Notaconceitos de culpabilidade no direito penal.

  • ml054NotaAmar existir, como se o amante e o amado estivessem a ss no mundo.

    O amor o eu satisfeito pelo tu, captando em outrem a justificao de seu ser.

    A moral do respeito supe a moral do amor. O amor torna cego o respeito que, impossvel sem cegueira em relao ao terceiro, no seno uma piedosa inteno esquecida do mal real.

  • ml054Notatodo amor a menos que se torne justia, egosmo.

    ml054NotaUauuuuuu!!!!!!

    ml054NotaUma exterioridade sem violncia uma exterioridade do discurso. O absoluto que sustenta a justia o absoluto do interlocutor. Seu modo de ser e de se manifestar consistem em voltar sua face para mim, em ser rosto. Eis porque o absoluto pessoa. Isolar um ser entre outros, isolar-se com ele no equvoco secreto do entre-ns, no assegura a exterioridade radical do Absoluto. Somente o testemunho irrecusvel e severo que se insere "entre-ns" tornado pblico por sua palavra, nossa clandestinidade privada, mediador exigente entre o homem e o homem, est de frente, tu. Tese que no tem nada de teolgico, mas Deus no poderia ser Deus sem ter sido por primeiro interlocutor.

  • ml054NotaA moral terrestre convida ao caminho difcil que conduz em direo aos terceiros que ficaram de fora do amor. S a justia d satisfao sua necessidade de pureza. Que o dilogo seja chamado a exercer um papel privilegiado n obra da justia social, acabei em certo sentido de afirm-lo e no a emoo do amor que o constitui. A lei prepondera sobre a caridade. O homem tambm neste sentido um animal poltico.

    ml054NotaA conscincia de si....pargrafo todo!

  • ml054Nota na palavra entre seres singulares que s vem se constituir a significao interindividual dos seres e das coisas, ou seja, a universalidade.

    ml054Notaa singularidade insubstituvel do eu decorre de sua vida.