elisa castro - portfólio

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E L I S A C A S T R O

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Portfólio Resumido + Currículo

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Page 1: Elisa Castro - Portfólio

E L I S A C A S T R O

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Eu quero você. (ao meu amor)

Um sentou em frente ao outro. No início, houve silêncio. Depois, ouve e fala. As poltronas são, na passagem, quase idênticas pra um e pro outro. Estive lá para ouvir o que quisesse falar, mas ainda queria o que eu não tinha. Estive interessado, é claro, nas relações no espaço: no jardim do museu e além. Quero saber desse lugar, certamente, cheio de fantasmas. Um sentou de frente pro outro. Inicio: ouve o silêncio. Depois, houve fala. As poltronas são passagens quase idênticas de um pro outro. Estive lá ouvindo o que não queria ouvir, ainda mais do que eu não queria e não tinha. Estive interessada, é claro, nas relações com o espaço, com o jardim, com o museu e além. Quero saber desse alguém, certamente, cheio de fantasmas.

Durante dois meses, estive com passantes dos Jardins do Museu da Republica, no Catete. Sentados, conversamos. Transformei o que recebi em desenhos-costuras e em slide show montados em instalação na Galeria do Lago. Esses, que apresento, são alguns desenhos que fiz como forma de organizar o que me contavam. Ouvi todo tipo de histórias de todo o tipo de gente que passava: amores, infâncias, feitos, melancolias, arrependimentos, glórias, memórias, carências, fantasias. Diferente do que se imagina, não há correlação direta entre cada um dos trabalhos e as pessoas escutadas. As imagens são criações mistas do que eu ouvia e do que sentia: transformados em mim, são frutos híbridos de como cada uma de suas histórias me tocou, tocou as histórias dos outros e as minhas. Os relatos ouvidos foram matéria e instrumento dos desenhos.

Rabiscaria de lápis, se fosse o caso, mas grafite se adéqua demais aos desejos rápidos, e o tempo do grafite no papel é pouco pra um tempo que deve ser largo o suficiente pra evocar a demora da confusão de tantas linhas dos outros desenhando em mim. Decidi costurar, também, pois minha avó (essa pessoa linda de carinho por quem eu tenho tanto amor e cuidado) foi quem me ensinou a costura: e foi ela, também, a minha grande abertura doméstica para fala. Ela é minha certeza do afeto, meu afeto seguro.

Para os desenhos-costuras, usei linha azul: um azul como o que tecia as poltronas em que sentávamos para conversar, mas, sobretudo, também como dos tapetes cujos azuis sobrepostos limitavam e confundiam o meu lugar e o do outro. Usei, também, fio de ouro: além de material simbólico das alianças, é um grande condutor, e, como se pode perceber, eu me interesso muito pela energia trocada e pela condução nas relações. Costurei sobre um linho fininho: fininho em diminutivo, como na criança que nasce frágil e híbrida; fininho transparente para que se veja a trama que remete ao milimetrado em que se projeta o absurdo; fininho transparente para que se veja a linha que, no lado outro, se emaranha e que, desse lado, vira desenho. Por vezes, palavras tiveram de surgir, simultaneamente, como verbo e como risco, e deixei que viessem como chaves ou fechaduras.

Nas conversas, me esforcei pela prática de uma escuta sem moral, sem julgamento, apenas pra saber as coisas que aconteceram ou acontecem. Escutei, por vezes, muitas reclamações sobre a direção do museu, sobre o cuidado com o jardim, com a programação e com a conservação do museu. Mas, em geral, - e era isso que mais me interessava – ouvi histórias que precisavam ser contadas. Muitas pessoas voltavam e mostravam ou me davam fotografias. Essas imagens, em sépia, foram mostradas em um slide show junto com um áudio editado a partir da gravação de algumas falas.

Um dia, após uma longa jornada de escutas, passei pelo mercado, mas cheguei a minha casa sem ter comprado o jantar. Com a mão esquerda segurando a cestinha e a direita em direção à prateleira, me percebi pensando e agindo como se eu fosse uma das pessoas com quem eu havia conversado algumas horas antes. A entrega ao trabalho havia passado do limite. O outro, em mim, havia passado do limite.

É verdade que existo melhor nos montes de indefinição e que nunca lidei bem e quero combater o que aprisiona em moral, regra ou expectativa. Nunca fui bem com as impossibilidades e me abro, com fome de tudo aquilo que tudo, a tudo aquilo que pode. É verdade, também, que ao dar o título “Eu Quero Você”, eu deixava claro que, para ser feliz e não sentir dor, eu quero o que é você, que não sou eu. É desejo de liberdade, de estar fora de mim, de ser o que não sou. Mas eu não sabia que chegaria a me perceber agindo e pensando como outra pessoa. Eu gosto de controle, mas perdê-lo me traz um prazer que é estranho. No outro, eu procuro o que não sei e o que não sou. Sempre digo que quando o desejo é muito grande, o medo urge e surge. E, assustada no mercado, cheguei a minha casa de mãos vazias e peito cheio.

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A fronteira entre eu e o outro sempre existiu, e nunca consegui me distanciar muito dela. Esse trabalho quer o tom de tomar o lugar do outro, invadir fronteiras, trazer o sendo do outro pro lado de cá e, aqui, me unir com ele. Em uma conversa longa com Bernardo Mosqueira sobre esse trabalho, ganhei um saquinho de açúcar escrito “União: Encontre novas fronteiras”.

É.

Pra mim, o outro é como um espelho que mostra o que sou e o que poderia ser mas não sou. Tudo o que me disseram sentados na poltrona, eu dominava, tinha e se tornava meu. A performance (presença do corpo em frente ao corpo sem roteiro ou instruções, mas livre aos desejos dos que se dispõem à aliança afetiva firmada), contraditoriamente, é construída a existir apenas para aquele momento, mas é dada na vontade de se perpetuar pela transformação do outro. Ser vivo na memória e na transformação do outro é nossa luta contra a morte. Assim, performa-se permanentemente.

Às vezes, sinto até violência no que faço, mas é difícil reconhecer - mesmo que eu queira. É difícil entender que o afeto pode ser violento. A gente quer mesmo é não sentir dor e é impossível não se envolver, trocar sem violência, se doar sem filtro, contar sem criar ou mentir.

A vida é como uma luta para deixar de ter uma existência medíocre, pesada e claustrofóbica com limitações sólidas que escondem o que há por trás de tudo. A vida é como a luta para passar a ter uma existência leve, clara, luminosa, invadida por tudo que envolve, com limites não-limites que só servem para que se possa atravessá-los com luz, com um grande fundo infinito, pleno em conforto e acolhimento.

Há pouco tempo, eu tive um sonho: sonhava que estava com meu avô que sofria de Alzheimer e, buscando por memórias antigas, perguntava a ele se lembrava que, antes de me chamarem Elisa, quiseram colocar meu nome de Clara.

E ele respondeu:-Deixou de ser Clara para ser de todas as cores.

Bernardo Mosqueira

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Se você gosta de “arte brasileira” não leia isso!(Fragmento da resenha sobre o “Abre-Alas 5” publicado na revista Concinnitas-Uerj)

Elisa Castro mostra-se competente em localizar o vazio que atravessa as nossas vidas.

Não há nenhum laço com a arte identitária de nação, mas com experiências demasiadamente humanas. Somos brasileiros, talvez pelo fato de termos nascido neste país; a nossa produção em artes visuais alimenta-se de particularidades e de ressonâncias pelos cantos nos quais o artista transita, mas estamos longe de sermos um antropófago. Não regurgitamos mais o que vem de fora, mas lançamos uma diarreia sem fim, como manifestou Hélio Oiticica.

Nessa conversa mundana Elisa Castro captou as ondas. Na tentativa de se comunicar com as diferenças, de paralisar um instante de tempo para que o passante observe seu entorno e se dê conta da sua própria existência, a artista pichou pelos muros da cidade e escreveu no toldo do bar que fica na rua da galeria A Gentil Carioca a frase “ Qual o seu medo?” (mesmo título de seu trabalho realizado em 2008) e o número de um telefone. Ao discar , o transeunte desejoso de dividir a sua angústia , ouvia a fatídica pergunta.

Esse trabalho entrerriscos para a artista (entre o risco de ser presa ou sofrer alguma violência quando estivesse pichando e ao gravar seu medo na caixa postal da secretária) permanece como experiência mediadora de subjetivação. Numa sociedade cercada e mergulhada em imagens, facebooks, MSNs e twiters, trocamos uma quantidade inimaginável de informações; em alguns casos vemos até um rosto de nosso parceiro, mas paradoxalmente o toque (e não o contato visual) está cada vez mais disfarçado, longe, desconfiado. A possibilidade de dividirmos as angústias é colocada visceralmente nas paredes da cidade, mas nossos medos se tornam afligentes, e nesse momento o que mais desperta em nós é o silêncio.

Nessa espera do chamado, surge o segundo momento da obra. Uma imensa trama de fios de cobre desce pelo teto da galeria e permanece ao lado da secretária eletrônica e do aparelho de telefone. O tempo passa a ser materializado enquanto o trabalho espera a possibilidade de ativar um espaço comunicacional como potencial troca de diálogo. A arte como sistema de trocas, não exclusivamente econômicas mas essencialmente sociais, atinge um grau de abertura que fica entre a utopia, o romantismo e a reflexão.

Felipe Scovino

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Elisa Castro: “O Sol e a Dúvida”Fragmento do texto de Marcelo Campos para a Exposição “O Sol e a Dúvida”, realizada na Galeria Progetti em outubro de 2012.

“Lá onde o sol se cala e a luz me nega”

(Dante – Inferno, A divina comédia)

“Mas sucedeu que o seu coração mudou, e uma manhã,tendo-se levantado com a aurora, pôs-se em frente aosol e assim lhe falou: ó grande astro! Que seria da tuafelicidade, se te faltassem aqueles a quem te iluminas?”

(Nietzsche – Assim falou Zaratustra)

Elisa Castro apresenta, em sua exposição individual na galeria Progetti, séries de trabalhos em que inquieta-se com as relações em torno da dúvida, dos medos e da transcendência. Assim, se aproxima do caráter ritualístico como possibilidade de resposta. Ao entramos na galeria, a peça de destaque é A resposta, objeto feito de metal como um condutor de chamas, em que numa ponta apresenta-se um botijão de gás sobre livros de filosofia, mais especificamente da série Pensadores a respeito de Descartes. Na outra extremidade, uma caixa de som ecoa a respiração da artista, posicionando-se em frente ao cone que amplifica, imaginariamente, o fogo e reverbera o som. No tubo de condução, chamas são enfileiradas, expandindo-se e retendo-se tanto pelo movimento do controlador do gás, quanto pelo impossível estado de repouso das mesmas. O fogo freme com o ar. A dúvida vacila a consciência e o corpo dos sujeitos.

A dúvida metodológica cartesiana, dubito, ergo cogito, ergo sum, capacitou-nos a reflexão sobre a existência do “eu”. O homem é o ser que duvida. A existência do “eu”, então, surgiria do próprio ato de duvidar. Alguém, ao duvidar, pensa. Enquanto isso, a fé se torna vacilante, tal qual as chamas, o fogo, mas nem por isso, menos potente. “Uma fé que não vacila não é uma fé.” Estamos diante de estados de flutuação.

Marcelo Campos

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Elisa Castro (Rio de Janeiro-RJ, 1982)Rua -Assunção162 / APT. 303 – Botafogo – Rio de Janeiro – RJ55 21 3549 8893; 55 21 9277 [email protected]

FormaçãoArtes Plásticas-Iartes-Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ (2001-2006)Escola de Artes Visuais do Parque Lage (2002-2006)

Prêmios2012 : Menção Honrosa da Mostra LABE de Videoarte "Interpretações do Urbano: Situações e Poesia" (Seleção: Daniela Labra e Fabiana Gomes)

2010: Programa de Intercâmbio e Difusão Cultural- Ministério da CulturaPassagem aérea Brasil - Bolívia

Exposições Individuais Eu Quero Você (Galeria do Lago, Museu da República, Rio de Janeiro, 2012)O Sol e a Dúvida (Galeria Progetti, Rio de Janeiro, 2011)As Meninas (Galeria Candido Portinari, UERJ, Rio de Janeiro,2006)

Bienais de ArteIV Bienal SIART, (Centro Cultural Brasil-Bolívia, La Paz/Bolívia, 2009)7ª Bienal do Mercosul: Grito e Escuta (Porto Alegre, 2009)

Exposições Coletivas selecionadasNovas Aquisições – Col. Gilberto Chateaubriand (MAM, Rio de Janeiro, 2012)Vênus Terra (Galpão Galeria TAC – Rio de Janeiro, 2012)43º Salão de Arte de Piracicaba (Piracicaba, 2011)(RE)MIX ELISA (Plano B, Rio de Janeiro, 2011)A Gigant by Thine Own Nature (Institut Valencià D`Art Modern, Valencia / Espanha, 2011)Experimentações (Galeria Progetti, Rio de Janeiro, 2010)29º Arte Pará (Belém, 2010)Novíssimos 2010 (Galeria do Ibeu, Rio de Janeiro, 2010)IV Bienal SIART, (Centro Cultural Brasil-Bolívia, La Paz/Bolívia, 2009)7ª Bienal do Mercosul: Grito e Escuta (Porto Alegre, 2009)Linha Líquida (Galeria Martha Traba, Memorial da América Latina, São Paulo, 2009)

Arquivos do Presente-Museu da Maré (Prêmio Pontos de Cultura, FUNARTE, Rio de Janeiro, 2009)Ateliê Vila S. Longuinhos (Museu Murillo La Greca, Recife, 2009)Abre-Alas 5 (Galeria A Gentil Carioca, Rio de Janeiro, 2009)Morro das Artes ( Edital de Arte e Patrimônio, IPHAN, Paço Imperial, Rio de Janeiro, 2008)Toque (Museu Bispo do Rosário, Rio de Janeiro, 2008)NAU ( Instituto de Arquitetos do Brasil, Rio de Janeiro, 2008)Coletivo Filé de Peixe (Museu de Arte Contemporanea de Niterói, Niterói, 20Linhas Entrecruzadas ( Espaço CBF, Rio de Janeiro/Porto Alegre, 2008)O Estado das Coisas (Escola de Artes Visuais do Parque Lage,Rio de Janeiro, 2007)Associados (Espaço Orlândia, Rio de Janeiro, 2007)Desde Rio (Galeria Belleza e Felicidad, Argentina, 2007)Conexões Urbanas (Centro Cultural Calouste Gulbenkian, Rio de Janeiro,2005)Meio Contemporâneo; Variações do mesmo Tempo (Castelinho do Flamengo, Rio de Janeiro, 2005)Posição 2004 (Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Rio de Janeiro, 2004)Mulheres Artistas (Centro Cultural Calouste Gulbenkian, Rio de Janeiro, 2004)Experimentações Pictóricas (Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro,2004)Poéticas do Campo Visual (Centro Cultural de Artes UERJ, Rio de Janeiro,2003)

ColeçõesMuseu de Arte Moderna (MAM), Col. Gilberto Chateaubriand - Rio de Janeiro, BrasilMuseu da República – Rio de Janeiro, BrasilMartha Niklaus – Rio de Janeiro, BrasilPaola Colacurccio – Rio de Janeiro, BrasilPaulo Tavares – Rio de Janeiro, Brasil