eliana bolorino canteiro martins

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  • Eliana Bolorino Canteiro Martins

    EDUCAO E SERVIO SOCIAL: ELO PARA A

    CONSTRUO DA CIDADANIA

    DOUTORADO EM SERVIO SOCIAL

    PUC/SP

    So Paulo

    2007

  • Eliana Bolorino Canteiro Martins

    EDUCAO E SERVIO SOCIAL: ELO PARA A

    CONSTRUO DA CIDADANIA

    Tese apresentada Banca Examinadora

    da Pontifcia Universidade Catlica de So

    Paulo, como exigncia parcial para

    obteno do ttulo de DOUTORA em

    Servio Social na rea de Servio Social:

    Identidade, Formao e Prtica, sob a

    orientao da Profa. Dra. MARIA LCIA

    MARTINELLI

    PUC/SP

    So Paulo

    2007

  • Banca Examinadora

    ____________________________________

    ____________________________________

    ____________________________________

    ____________________________________

    ____________________________________

  • Autorizo, exclusivamente para fins acadmicos e cientficos, a

    reproduo total ou parcial desta Tese por processos de fotocopiadoras ou

    eletrnicos.

    Assinatura: _______________________________________ Local e Data: ______________

  • DEDICATRIA

    pessoa mais humilde que eu conheci,

    filha companheira,

    irm solidria,

    tia amiga,

    esposa compreensiva e paciente,

    av dedicada,

    profissional batalhadora,

    E, acima de tudo, ME... na expresso mxima que este termo encerra,

    que transmitiu suas qualidades na firmeza de suas atitudes, na sabedoria de suas

    palavras, no reconhecimento de seus limites, no silncio de sua dor, na

    grandiosidade do seu amor, deixando como herana os valores ticos que

    fundamentam minha vida.

    A VOC, MINHA ME E MELHOR AMIGA, dedico esta Tese de

    Doutorado, confortada pela certeza de que...

    As pessoas no morrem, ficam encantadas. (Guimares Rosa)

    (Ins Bolorino Canteiro In memoriam)

  • AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

    Professora Dra. Maria Lcia Martinelli , expoente na trajetria histrica

    do Servio Social, mestre na profisso e na arte de viver. Consegue conciliar sua

    postura intransigente na luta pelo projeto tico-poltico profissional, alicerada no

    profundo conhecimento, com a delicadeza de gestos e palavras que expressam a

    sua grande sensibilidade.

    Registro aqui minha grande admirao e gratido.

    Muito obrigada, por tudo e para sempre.

    Ao meu filho Guilherme , sinnimo de ponderao, pacincia, alegria e

    sensibilidade.

    Que me proporciona a experincia incomparvel de ser Me...

    Que representa para mim a expresso da minha prpria vida.

    A minha gratido por sua compreenso ao longo desta trajetria.

    Ao meu marido Joo ,

    O tempo me ensinou que as pessoas que tm algo incomum so todas

    diferentes.

    Na riqueza da diversidade, da contradio, do contraponto...

    Convivendo na vida diria, crescemos mutuamente.

    Agradeo por seu incentivo e estmulo em todas as etapas da minha

    trajetria profissional, e em especial, nesta.

    O amor se expressa de vrias formas, inclusive em um singelo gesto de

    gratido.

    A minha grande amiga Regina Yara Pereira Rondon ,

    Amiga para mim uma irm por ns escolhida para caminhar ao nosso

    lado.

    Ns encontramos... vivemos momentos alegres e tristes, pessoais e

    profissionais, e voc sempre esteve ao meu lado, me apoiando e incentivando.

    Voc sabe o quanto especial para mim.

    Muito obrigada por tudo, principalmente por sua amizade.

    Conte sempre comigo minha amiga.

  • AGRADECIMENTOS

    Somos seres scio-histricos, nunca estamos prontos, estamos sempre em

    construo.

    As nossas opes na vida, apesar de serem particulares, so tambm

    coletivas, pois envolvem todas as pessoas que convivem conosco.

    Na construo histrica da minha trajetria, em que o pessoal e o

    profissional esto imbricados, fiz a opo de enfrentar o desafio de realizar o

    doutorado em Servio Social na Pontficia Universidade Catlica de So Paulo,

    realizando um sonho.

    A partir deste momento, todas as pessoas que faziam parte da minha vida

    e aqueles que encontrei nesta caminhada, participaram direta ou indiretamente

    dos percalos, das alegrias peculiares a esta estrada.

    Muitas e muitas vezes foram compreensivas, pacientes, amigas,

    companheiras, incentivando-me e dando-me o apoio de que eu tanto necessitava.

    Outras poucas vezes se ressentiram da minha distncia, da minha

    indiferena, reflexo desta busca solitria e, s vezes rdua, que quem faz esta

    opo precisa percorrer. Porm, jamais desistiram de permanecer ao meu lado,

    contribuindo, cada qual sua maneira, para que eu conclusse este projeto.

    Portanto, quero expressar a minha gratido especialmente a VOC, que

    compartilhou comigo desta conquista.

    De forma particular, VOC deixou lembranas que guardarei para sempre

    e s quais jamais poderei retribuir.

    Alguns sero citados, outros tantos... apesar da importncia, dada a

    impossibilidade de descrev-los aqui, estaro guardados para sempre no meu

    corao.

    Minhas irms: Rosa Maria, Mirian e Roseli, meu cunhado Edson e meus

    queridos sobrinhos Nadine, Gabriel, Iago, Murilo e Henrique,

    Meus amigos, carinhosamente chamados de pais postios: Antonio e

    Yara e toda a famlia,

    Minha amiga especial: Sonia Tibet Mesquita.

  • minhas companheiras de luta pelo Servio Social na rea da educao:

    Solange, Regina e Rita entre tanta outras.

    minha querida prima ngela.

    Aos meus novos e adorveis amigos: Dbora, Roseany, Ziza e Dr.Jorge.

    minha querida mestra e amiga Dra. Maria Rachel Tolosa Jorge.

    A todos os professores da ps-graduao da PUC/SP, aos funcionrios e

    em especial Ktia.

    Aos companheiros de jornada que encontrei nas disciplinas, nos ncleos e

    nas atividades que realizei no Programa de Ps-Graduao em Servio Social.

    Ao CNPQ pela liberao da bolsa de estudo,

    Dra. Ana Lia Beal, pela compreenso e apoio.

    Aos assistentes sociais, sujeitos da pesquisa, protagonistas deste

    processo.

    E, acima de tudo, a esta FORA MISTERIOSA que nos ilumina...

    S posso dizer a todos...

    MUITO OBRIGADA.

  • De tudo ficam trs coisas:

    A certeza de que estamos sempre

    comeando...

    A certeza de que precisamos continuar...

    A certeza de que seremos interrompidos

    antes de terminar...

    Portanto, devemos:

    Fazer da interrupo um caminho novo...

    Da queda, um passo de dana...

    Do medo, uma escada...

    Do sonho, uma ponte...

    Da procura, um encontro...

    (Fernando Pessoa)

  • RESUMO

    Esta tese trata da prtica profissional dos assistentes sociais no mbito da polticade educao nos municpios paulistas, evidenciando como os profissionaisutilizam os espaos socioocupacionais que so engendrados no atualordenamento jurdico que fundamenta esta poltica. As polticas sociais, desde assuas origens, expressam as tenses decorrentes dos interesses das distintasforas sociais presentes num determinado contexto scio-histrico. A educaoocupa uma posio estratgica na questo cultural e produtiva, por conseqnciaa poltica de educao expressa, de forma explcita ou implcita, por meio delegislao que a regulamenta, os embates das diferentes perspectivas dediferentes projetos polticos. Neste sentido, na interpretao dos fundamentosjurdicos da poltica de educao brasileira na contemporaneidade e do Estatutoda Criana e do Adolescente, que delineia a poltica de atendimento a estesegmento, constatou-se a existncia de espaos para a interveno do ServioSocial em trs eixos: o processo de democratizao da educao; a prestao deservios socioassistenciais e socioeducativos; e a articulao da poltica deeducao com as demais polticas sociais. A pesquisa mapeou 37 municpios noEstado de So Paulo, que possuem assistentes sociais atuando na educaobsica, especificamente na educao infantil, no ensino fundamental e naeducao especial. Participaram da pesquisa 28 municpios e 55 profissionais queresponderam aos questionrios. Em um segundo momento, em trs destesmunicpios, perfazendo um total de seis profissionais participaram das entrevistasfocais possibilitando o conhecimento dos seguintes contedos: perfil profissional;trajetria histrica da implantao do Servio Social na rea da educao emcada municpio; retratar a prtica profissional efetivada. Observou-se odescompasso entre os espaos de interveno para o Servio Social existentesnas legislaes e a concretizao dos mesmos na realidade objetiva da prticaprofissional. Constatou-se que na atuao dos assistentes sociais h uma nfasena trade escola-famlia-sociedade, apresentando perspectivas de intervenodiferentes. Ressaltando a mobilizao das redes como uma das principaiscompetncias do Servio Social, aponta-se a diversificao de formas dearticulao entre a poltica de educao e as demais polticas como indcio danecessidade de sua politizao. Destacou-se, ainda, a relevncia da dimensosocioeducativa da prtica profissional do assistente social na poltica deeducao, contribuindo para desocultar da realidade, isto , do processo deproduo e reproduo da sociedade capitalista, desvendando a origem dasdesigualdades sociais. A anlise acerca do atual estado da arte da prtica doServio Social na poltica de educao, apresentada nesta tese, visa ampliar equalificar esta prtica, valorizando a educao nas suas mais diferenciadasformas, como essencial para a organizao da cultura a favor do interesse damaioria. Considerando, da perspectiva gramsciana, que as unidades educacionaisso instituies contraditrias de hegemonia e contra-hegemonia, umimportante locus estratgico de atuao profissional do Servio Social, quepossibilita a formao do homem na direo de sua emancipao.

    Palavras-Chave: Servio Social; Poltica de Educao Brasileira; EducaoBsica..

  • ABSTRACT

    This thesis addresses the professional practice of social workers within theeducational policy in cities in the State of So Paulo, demonstrating how they usethe socio-occupational spaces generated by the current juridical orders guidingthis policy. Since their origin, social policies express the conflicts coming from theinterests of different social forces, at a certain socio-historical context. Educationhas a strategic position in both cultural and productive aspects; thus, theeducational policy expresses, in its juridical basis, different political projectsexisting in a certain society. In this sense, interpretation of the juridical basis of thecurrent Brazilian educational policy and the Statute of the Child and Adolescentreveals that there are spaces for social work intervention in three aspects:democratization of the process of education; rendering of assistance and socio-educational services; and the articulation of educational policy with other policies.The research screened 37 cities that have social workers working in all levels ofbasic education, namely infant education, elementary school and specialeducation. Among these cities, 28 cities and 55 social workers participated in thepresent study by responding to the questionnaires. At the second stage, 6 socialworkers from 3 cities conducted focal interviews with a view to identify thefollowing issues: professional profile; history of inclusion of Social Work in the fieldof education in each city; and the professional practice effectively occurring atthese cities. The study revealed differences between the spaces existingaccording to the law and the utilization of such spaces by the social workers intheir professional practice. It was noticed that the social workers act primarily onthe relationship among school, family and society, with different perspectives forintervention. The relevance of the socio-educational influence of social workerswithin the education policy was also demonstrated contributing to uncover thereality, i.e., in the process of production and reproduction of the capitalist society,showing the origin of social inequalities. Analysis of the current Social Workpractice within the educational policy presented in this thesis aims to enlarge andqualify this practice, enriching the education in its different scopes, as beingessential for the organization of culture to favor the interest of the majority ofpeople. Considering that educational institutions are contradictory from aGramscian perspective, i.e. they exert the ideology and counter ideology theyrepresent important strategic spaces for the professional practice of Social Work,allowing the formation of human beings towards their emancipation.

    Key words: Social Work; Brazilian educational; Elementary education.

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Municpios e assistentes sociais que participaram da pesquisa, porRegio Administrativa de Governo........................................................................35

    Quadro 2 - Distribuio das instituies educacionais de ensino de graduao emServio Social e origem de graduao dos assistentes sociais pesquisados. ......49

    Quadro 3 - Distribuio dos temas dos Cursos de Ps-Graduao realizadospelos assistentes sociais.......................................................................................57

    Quadro 4 - Comparativo entre viso restrita e viso ampliada da educao bsica.............................................................................................................................116

    Quadro 5 Demonstrativo da situao das matriculas na educao infantil narede de ensino no Estado de So Paulo referente ao ano 2000.........................139

    Quadro 6 Programas e projetos desenvolvidos na rea da educao emparceria com outras polticas sociais. .................................................................160

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Distribuio dos assistentes sociais por sexo ..................................... 46

    Grfico 2 - Distribuio dos assistentes sociais por estado civil ........................... 47

    Grfico 3 - Distribuio dos assistentes sociais por perodo de formatura............ 50

    Grfico 4 - Distribuio dos assistentes sociais por realizao de cursos de ps-graduao.................................................................................................................. 54

    Grfico 5 - Distribuio dos assistentes sociais por temas dos cursos realizados 56

    Grfico 6 - Distribuio dos assistentes sociais pelo tempo de experincia na reada educao ......................................................................................................... 63

    Grfico 7 - Distribuio dos assistentes sociais por atuao poltica .................... 65

    Grfico 8 - Distribuio dos assistentes sociais nos Conselhos Municipais queparticipam ............................................................................................................. 66

  • LISTA DE APNDICES

    Apndice 1 - Correspondncia enviada - via internet - para todos os municpios doEstado de So Paulo .......................................................................................... 244

    Apndice 2 - Correspondncia de apresentao da pesquisa aos profissionais 246

    Apndice 3 Questionrio enviado aos assistentes sociais............................... 247

    Apndice 4 - Termo de Consentimento livre e esclarecido ................................. 252

    Apndice 5 - Roteiro das questes norteadoras para as entrevistas focais........ 253

  • LISTA DE ANEXOS

    Anexo 1 - Legislaes: ECA - LDB - LOAS: contedo dos artigos e incisosreferidos nos eixos da pesquisa.......................................................................... 254

    Anexo 2 Relao dos endereos eletrnicos e telefones dos municpiospesquisados........................................................................................................ 257

    Anexo 3 - Mapa do Estado de So Paulo dividido por Regies Administrativas deGoverno - Municpios que participaram da pesquisa e os nveis de ensino queatendem. ............................................................................................................. 261

    Anexo 4 - Quadro comparativo: Fundef X Fundeb (MEC/2005) ......................... 262

    Anexo 5 Projetos desenvolvidos na rea da educao em parceria com outraspolticas sociais ................................................................................................... 264

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Distribuio dos municpios por nmero de habitantes........................ 43

    Tabela 2 - Distribuio dos municpios por perodo de implantao do ServioSocial na rea da Educao ............................................................................... 103

    Tabela 3 - Distribuio dos municpios por nvel de ensino ................................ 120

  • LISTA DE SIGLAS

    ABEPSS Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa em Servio SocialAFUSE Sindicato dos Funcionrios e Servidores da EducaoANDES Sindicato Nacional dos Docentes de Ensino SuperiorAPASE Sindicato de Supervisores do Magistrio no Estado de So PauloAPEOESP Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Est. De So PauloAPM Associao de Pais e MestresATP Assistente Tcnico PedaggicoBM Banco MundialCAFISE Coordenao Geral de Articulao e Fortalecimento Institucional

    dos Sistemas de EnsinoCBAS Congresso Brasileiro de Assistentes SociaisCEDEPSS Centro de Documentao e Pesquisa em Servio SocialCEE Conselho Estadual de EducaoCEPAL Centro de Estudos para a Amrica LatinaCETESP Centro de Educao Tecnolgica Paula SouzaCFESS Conselho Federal de Servio SocialCME Conselho Municipal de EducaoCNE Conselho Nacional de EducaoCPP Centro do Professorado PaulistaCRAS Centro de Referncia da Assistncia SocialCRESS Conselho Regional de Servio SocialDASE Departamento de Articulao e Desenvolvimento dos Sistemas de

    EnsinoDCN Diretrizes Curriculares Nacionais de Educao InfantilDRE Delegacia Regional de EnsinoECA Estatuto da Criana e do AdolescenteEJA Educao de Jovens e AdultosENPESS Encontro Nacional de Pesquisadores do Estado de So PauloFMI Fundo Monetrio InternacionalFUNABEM Fundao Nacional do Bem-Estar do MenorFUNDEB Fundo de Manuteno e Desenvolvimento da Educao Bsica e

    de Valorizao dos Profissionais da EducaoFUNDEF Fundo de Manuteno e de Desenvolvimento do Ensino

    Fundamental e de Valorizao do MagistrioIBGE Instituto Brasileiro de Geografia e EstatsticaICMS Imposto sobre Circulao de Mercadorias e ServiosIDHM ndice de Desenvolvimento HumanoINEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Ansio

    TeixeiraIPEA Instituto de Pesquisa Econmica AplicadaIPVS ndice Paulista de Vulnerabilidade SocialLACRE Laboratrio de Estudos da Criana Instituto de Psicologia da USPLBA Legio Brasileira de AssistnciaLOAS Lei Orgnica da Assistncia SocialMARE Ministrio do Estado da Administrao Federal e Reforma do

    Estado

  • MEC Ministrio de Educao, Esporte e CulturaONU Organizao das Naes UnidasPEA Populao Economicamente AtivaPEC Proposta de Emenda ConstitucionalPETI Programa de Erradicao do Trabalho InfantilPIB Produto Interno BrutoPNDU Programa das Naes Unidas para o DesenvolvimentoPNE Plano Nacional de EducaoPNUD Programa das Naes Unidas para o DesenvolvimentoPUC Pontifcia Universidade CatlicaRA Regio Administrativa de GovernoRM Regio Metropolitana Administrativa de GovernoSAEB Sistema Nacional de Avaliao da Educao BsicaSAM Servio de Assistncia ao MenorSEADE Fundao Sistema Estadual de Anlise de DadosSEE Secretaria Estadual de EducaoSME Secretaria Municipal de EducaoSUAS Sistema nico de Assistncia SocialUDEMO Sindicato de Especialistas de Educao do Magistrio Oficial do

    Estado de So PauloUNDIME Unio Nacional dos Dirigentes Municipais de EducaoUNESCO Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a

    CulturaUNESP Universidade do Estado de So PauloUNICAMP Universidade Estadual de CampinasUNICEF Fundo das Naes Unidas para a InfnciaUSP Universidade de So Paulo

  • SUMRIO

    INTRODUO...................................................................................................... 20

    1 O processo de construo da pesquisa ............................................................. 301.1 O contexto e universo da pesquisa ................................................................. 401.2 Perfil dos sujeitos pesquisados....................................................................... 451.2.1 Caractersticas pessoais .............................................................................. 461.2.2 Formao profissional.................................................................................. 481.2.3 Experincia profissional ............................................................................... 63

    2 A poltica de educao brasileira: uma leitura sob a tica do Servio Social ..... 692.1 Percepes sobre as concepes de educao dos sujeitos pesquisados,fundamentadas no pensamento de Gramsci. ....................................................... 702.2 A organizao dos sistemas de ensino federal, estadual e municipal ............ 752.3 A configurao da poltica de educao brasileira .......................................... 792.4 Referncias sobre a poltica de educao no Estado de So Paulo............... 882.5 O processo de municipalizao do ensino no Estado de So Paulo .............. 92

    3 Os espaos socioocupacionais do Servio Social no mbito da poltica deeducao paulista ............................................................................................... 1023.1 A trajetria histrica do Servio Social na poltica de educao paulista...... 1023.2 A educao bsica em debate ...................................................................... 1143.2.1 Educao infantil ........................................................................................ 1213.2.2 O ensino fundamental ................................................................................ 1423.2.3 A educao especial .................................................................................. 1643.3 A prtica profissional dos assistentes sociais no mbito da poltica deeducao municipal paulista: aspectos consensuais. ......................................... 168

    4 Perspectivas do Servio Social no mbito da poltica de educao................. 1844.1 Servio Social: o projeto profissional hegemnico ........................................ 1844.2 Particularidades do Servio Social no mbito da poltica de educao:elementos fundantes........................................................................................... 1904.2.1 O processo de democratizao da educao ............................................ 1954.2.2 Prestao de servios socioassistenciais e socioeducativos .................... 2024.2.3 Articulao da poltica de educao e sociedade ...................................... 209

    Tecendo consideraes: limites e possibilidades do Servio Social no mbito dapoltica de educao. .......................................................................................... 220

    BIBLIOGRAFIA ................................................................................................... 231

    APNDICES ....................................................................................................... 244

    ANEXOS ............................................................................................................. 254

  • 20

    INTRODUO

    O objetivo desta tese investigar a prtica profissional do servio social no

    mbito da poltica de educao pblica nos municpios paulistas e verificar se os

    assistentes sociais utilizam-se dos espaos socioocupacionais, que so

    engendrados no atual ordenamento jurdico, que fundamenta esta poltica social. O

    tratamento deste tema articula o Servio Social educao, partindo da concepo

    de educao, da dinmica e da particularidade do desenvolvimento da poltica de

    educao, e do processo de amadurecimento terico e poltico do servio social,

    tendo como ancoradouro o projeto tico-poltico hegemnico da profisso, expresso

    no Cdigo de tica Profissional de 1993.

    Fundamentado na teoria marxista, Gramsci (1999) argumenta que o

    capitalismo mantm o controle sobre a sociedade no apenas pela coero,

    violncia poltica ou econmica, mas tambm pela coero ideolgica, utilizando

    como instrumento a cultura hegemnica burguesa, tornando-a senso comum.1

    nesse af que a educao, como um processo de aquisio de conhecimentos

    necessrio ao homem no seu intercmbio com a natureza e com os outros

    indivduos, se destaca como um instrumento social que possibilita o

    desenvolvimento de uma cultura de contra-hegemonia, pois o processo de aquisio

    de conhecimentos contribui para que o homem possa exercer uma nova direo

    poltica e cultural: um conjunto de foras sociais que se opor a diferentes formas de

    opresso e alienao.

    1 Hegemonia: [... se a hegemonia tico-poltica, tambm econmica; no pode deixar de se fundamentar na

    funo decisiva que o grupo dirigente exerce no ncleo central da atividade econmica (Gramsci, 1999 p.1591).A passagem dos Quaderni Del Crcere permite identificar que o conceito de hegemonia se constri a partir deuma clara diferenciao dos mecanismos de direo e dominao, conforme as palavras de Gramsci: o critriometodolgico sobre o qual preciso fundar a prpria anlise o seguinte que a supremacia de um grupo socialse manifesta de duas maneiras, como domnio e como direo intelectual e moral. Um grupo social dominantedos grupos adversrios que tende a liquidar ou submeter mesmo que com a fora armada, e dirigente dosgrupos afins, e aliados. Um grupo social pode e deve ser dirigente j antes de conquistar o poder governativo;depois, quando exercitar o poder e na medida em que o mantm fortemente em suas mos, torna-se dominante,mas deve continuar sendo dirigente (Gramsci, 1999, p. 2010). Portanto, explica Gruppi (2000): hegemonia acapacidade de unificar atravs da ideologia e de conservar unido um bloco social que no homogneo, massim marcado por profundas contradies de classe. Uma classe hegemnica, dirigente e dominante at omomento em que atravs de sua ao poltica, ideolgica e cultural consegue manter articulado um grupo deforas heterogneas, consegue impedir que o contraste existente entre tais foras exploda, provocando assimuma crise na ideologia dominante, que leve recusa de tal ideologia, que ir coincidir com a crise poltica dasforas no poder (Gruppi, 2000 p.70).

  • 21

    sob esta perspectiva que, segundo Gramsci (1999), se afirma a importncia

    da educao para elevao cultural das massas, possibilitando-lhes conhecer e

    dominar os mecanismos de reproduo global da formao econmico-social que

    so passveis de transformao. Para Gramsci, a cultura no significa simplesmente

    aquisio de conhecimentos, mas posicionamento crtico diante da histria,

    buscando conquistar a liberdade. A cultura est relacionada com a transformao da

    realidade, uma vez que, atravs da conquista de uma conscincia superior [...] cada

    qual consegue compreender o seu valor histrico, sua prpria funo na vida, seus

    prprios direitos e deveres (Gramsci, 1999, p. 24).

    O processo educativo, de acordo com o pensamento de Gramsci, envolve

    diversos espaos: o prprio sujeito, a famlia, as organizaes de cultura, a poltica,

    e dentre eles a escola. Esses processos envolvem os diferentes meios e

    instrumentos como: convivncia social, o trabalho entendido como atividade

    terico-prtica , a prxis poltica, o estudo, a filosofia, o conhecimento cientfico, o

    conhecimento das lnguas e das artes. No entanto, a escola, na concepo

    gramsciana, ocupa um lugar privilegiado, tendo em vista a tarefa de inserir os

    jovens na atividade social, depois de t-los levado a um certo grau de maturidade e

    capacidade, criao intelectual e prtica e a uma certa autonomia na orientao e

    na iniciativa (Gramsci, 1991 p.121).

    importante destacar, conforme afirmam Paulo Freire (2001) e outros

    educadores que compartilham a mesma perspectiva terica, que

    [...] no podemos aceitar o todo-poderosismo ingnuo da educao que faztudo, nem aceitar a negao da educao como algo que nada faz, masassumir a educao nas suas limitaes e, portanto, fazer o que possvel,historicamente, ser feito com e atravs tambm da educao (p.102).

    Desta forma, a educao um processo social vivenciado no mbito da

    sociedade civil e protagonizado por diversos sujeitos sociais, mas tambm uma

    rea estratgica de atuao do Estado. Neste sentido, a poltica de educao, como

    poltica social, um espao contraditrio de lutas de classes, um embate entre

    poderes diversos que se legitimam historicamente, conforme se estabelece a

    correlao de foras na diversidade dos projetos societrios existentes. Portanto, a

    luta pela educao constitui-se uma das expresses da Questo Social,2 visando o

    2 [...] no seno a expresso do processo de formao e desenvolvimento da classe operria e seu ingresso

    no cenrio poltico da sociedade, exigindo o seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e doEstado. a manifestao, no cotidiano da vida social, da contradio entre o proletariado e a burguesia, a qual

  • 22

    atendimento de uma necessidade social, reconhecendo a mesma como um direito

    social.

    Gramsci (1999) no admite ciso entre as vrias dimenses da experincia

    humana em seu percurso universal e histrico. Sua idia nuclear a organicidade

    entre realidade e teoria, trabalho e educao, cultura e poltica; enfim, o conceito

    do princpio unitrio a permear e integrar todos os aspectos sociais.

    O advento da escola unitria significa o incio de novas relaes entretrabalho intelectual e trabalho industrial no apenas na escola, mas em todaa vida social. O princpio unitrio, por isso, refletir-se- em todos osorganismos de cultura, transformando-os e emprestando-lhes um novocontedo (Gramsci, 1999 p.125).

    Nesta vertente, a poltica de educao e, especificamente, as instituies

    escolares, so espaos contraditrios de embates entre as diferentes concepes de

    mundo existentes na sociedade, pois um campo de disputas de diferentes grupos

    sociais pela direo e difuso da cultura. Estes pressupostos demarcam a posio

    estratgica da educao para a efetivao do projeto tico-poltico do assistente

    social, que reconhece a liberdade como valor central:

    [...] liberdade concebida historicamente como possibilidade de escolherentre alternativas concretas, da um compromisso com a autonomia, aemancipao e a plena expanso dos indivduos sociais.Conseqentemente, o projeto profissional vincula-se a um projeto societrioque prope a construo de uma nova ordem social, sem dominao e/ouexplorao de classe, etnia e gnero (Netto, 1999, p. 105).

    Desta forma, este projeto profissional afirma-se na defesa intransigente dos

    direitos humanos e na recusa do arbtrio e dos preconceitos, tanto na sociedade

    como no exerccio profissional. Neste sentido, pretende-se compreender a relao

    estabelecida entre o Servio Social e a poltica de educao, interpretando o

    ordenamento jurdico que fundamenta esta poltica social sob a tica do Servio

    Social, assim como a sua interlocuo com o exerccio profissional, objetivado na

    realidade vivenciada pelos seus protagonistas.

    Ao longo das ltimas dcadas, o processo de produo capitalista sofreu uma

    profunda reestruturao, visando manter a hegemonia do capital. A incorporao da

    cincia no processo produtivo provocou uma inovao tecnolgica que mudou a

    cultura e os processos de produo, bem como as relaes de trabalho, acopladas

    passa a exigir outros tipos de interveno, mais alm da caridade e da represso. O Estado passa a intervirdiretamente nas relaes entre o empresariado e a classe trabalhadora, estabelecendo no s umaregulamentao jurdica do mercado de trabalho, atravs da legislao social e trabalhista especficas, masgerindo a organizao e prestao de servios sociais, como um novo tipo de enfrentamento da Questo Social(Iamamoto, 1982, p.77).

  • 23

    no mote da flexibilizao, que provocam a necessidade de mudanas na esfera da

    educao, visando preparar o trabalhador de forma adequada ao novo perfil exigido

    pelo mundo do trabalho.

    Determinada por este contexto histrico, a poltica de educao, que sempre

    esteve tensionada pela disputa de diferentes projetos societrios, visando a

    construo da hegemonia poltica e cultural e preparando a fora de trabalho para

    atender s exigncias do capital, assume lugar de destaque no mundo

    contemporneo. A educao ala status prioritrio no cenrio mundial, sendo

    preconizada por vrios organismos internacionais (principalmente o Banco Mundial),

    que realiza acordos com pases perifricos visando a insero destes na nova ordem

    mundial como pases aptos aos novos padres de consumo, bem como produtores

    de fora de trabalho qualificada para atender produo globalizada que, cada vez

    mais, desloca as unidades produtivas em busca de custos menores de produo,

    principalmente as relacionadas fora de trabalho.

    No Brasil, nas ltimas dcadas, ocorreram reformas na poltica de educao

    respondendo s necessidades deste novo perfil de qualificao da fora de trabalho,

    diante das transformaes ocorridas no processo de produo. Incorporaram-se

    mudanas agenda educacional que vo desde expanso quantitativa de ensino

    facilitando o acesso ao sistema escolar at reformas que buscam melhorias na

    qualidade do ensino, na perspectiva de diminuio dos ndices de repetncia e

    evaso escolar no ensino fundamental, visando corresponder aos acordos

    internacionais dos quais o Brasil consignatrio.

    Esta nova poltica da educao constitui o projeto societrio brasileiro que

    expresso na Constituio Federal de 1988, que assegura pela primeira vez na

    histria brasileira os direitos sociais, incluindo o direito educao que

    regulamentado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional LDB de 1996,

    um marco no campo educacional na relao entre Estado e sociedade civil e entre o

    mundo do trabalho e o mundo da cultura. A LDB/96 o resultado do embate poltico

    entre governo e sociedade civil organizada e, apesar dos avanos conquistados,

    impregnada da perspectiva neoliberal tanto na sua dimenso ideolgica quanto na

    organizao gerencial da poltica de educao, correspondendo aos interesses do

    mercado.

  • 24

    Porm, interpretando a referida lei e, alm desta, o Estatuto da Criana e do

    Adolescente ECA,3 que regulamenta a poltica de atendimento a este segmento

    populacional, constata-se que, para a efetivao de alguns artigos e incisos

    especficos, h demandas pertinentes ao Servio Social, considerando os seus

    fundamentos, conhecimentos terico-metodolgicos, tico-polticos, os saberes

    construdos na prtica profissional cotidiana e, acima de tudo, o seu posicionamento

    preponderante hoje vigente na sociedade brasileira. Salientam-se as demandas

    suscitadas nestas referidas leis, que foram corroboradas por meio do contato com

    representantes de todos os segmentos que compem a comunidade escolar, que as

    expressam como dificuldades que permeiam o ambiente educacional.4

    A interpretao das referidas legislaes evidenciou a possibilidade de

    interveno profissional em trs eixos, assim distribudos: (descrio de cada artigo

    e os referentes incisos encontram-se no Anexo 1)

    1 eixo: O processo de democratizao da educao p blica.

    Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional - LDB: artigo 3, inciso

    I e VIII; artigo 12, inciso VI e VII; artigo 14, inciso II.

    Reforados no Estatuto da Criana e do Adolescente ECA: artigo 53,

    inciso III; inciso IV e pargrafo nico; artigo 55.

    Estes artigos reportam-se a um dos princpios do Cdigo de tica Profissional

    do Assistente Social, que prope a defesa e o aprofundamento da democracia,

    como socializao da participao poltica e da riqueza socialmente produzida.

    Portanto,

    [...] para alm da democracia poltica, consentida e tolerada pela ordemliberal burguesa, a democracia que queremos reclama igualdade de acessoe oportunidades para que todos os indivduos tenham direito a um trabalhoe existncia digna, condio de moradia, sade, educao, lazer e cultura.Esse tipo de democracia, todavia, no cabe dentro dos objetivos e doslimites da sociedade burguesa, porque tal contedo social contraria o ncleode relaes fundantes da acumulao capitalista, a qual se estrutura a partirda explorao de uma classe sobre a outra ( Paiva e Sales, 2001 p.188).

    3 Estatuto da Criana e do Adolescente ECA, Lei 8.069, de 13 de julho de 1990: lei que regulamenta os direitos

    da criana e do adolescente, traz um novo paradigma: a Doutrina de Proteo Integral. Reconhece estesegmento como sujeitos de direito e estabelece a educao como direito, visando o pleno desenvolvimento,preparo para a cidadania e qualificao para o trabalho. Refora a centralidade da educao em qualquerproposta de atendimento a esta faixa etria. A interpretao desta lei, especificamente o captulo IV (artigos 53 a59) que trata do direito educao, cultura, ao esporte e ao lazer, explicita demandas pertinentes ao ServioSocial na poltica de educao.4 Cf. Dissertao de mestrado: Servio Social: mediao escola e sociedade, apresentada por Eliana Bolorino

    Canteiro Martins ao Programa de Ps-Graduao em Servio Social, no ano de 2001, na Unesp de Franca/SP.

  • 25

    Porm, no tecido social repleto de contradies, o assistente social, nas

    instituies sociais e no mbito da relao que estabelece com os usurios, poder

    romper com prticas tradicionais de controle, tutela e subalternizao por meio do

    alargamento dos canais de participao, por meio de ampla socializao de

    informaes sobre direitos e servios, numa perspectiva democrtica. Pensar a

    construo da democracia no mbito das unidades educacionais rever a

    organizao do trabalho na escola, a distribuio da autoridade e do poder, inclusive

    dos relacionamentos interpessoais, pautando-se por relaes cooperativas que

    visam, em ltima instncia, a aquisio cultural para a realizao dos sujeitos.

    2 eixo: A prestao de servios socioassistenciais e socioeducativos:

    LDB, artigo 4, inciso VIII.

    ECA, artigo 53, inciso I.

    Lei Orgnica da Assistncia Social - LOAS, artigo I, pargrafo nico.

    De acordo com a LOAS a assistncia social ala status de poltica pblica,

    direito social que deve ser transformado em aes concretas, por meio de uma rede

    de servios sociais. A dimenso socioeducativa subentende um processo de

    reflexo que produz efeitos na maneira de pensar, sentir e agir dos indivduos, ou

    seja, interfere na formao da subjetividade e nas normas de conduta, elementos

    constituintes de um determinado modo de vida ou cultura que se expressa na

    realidade concreta vivida pelos sujeitos. Portanto, a ao socioeducativa

    essencialmente poltica, podendo afirmar a cultura dominante numa perspectiva

    conservadora ou contribuir na construo de uma perspectiva emancipatria das

    classes subalternas, construindo uma nova cultura.

    Criar uma nova cultura no significa realizar individualmente descobertasoriginais, significa, sobretudo, difundir criticamente verdades j descobertas,socializ-las, fazer com que se tornem as bases das aes vitais, elementosde coordenao de ordem intelectual e moral (Gramsci, 1999 p.77).

    Neste contexto, o assistente social facilitar o acesso da populao s

    polticas sociais visando propiciar as condies necessrias para sobrevivncia

    material da populao atendida nas escolas pblicas, bem como de uma ao

    socioeducativa que poder assumir um carter de enquadramento disciplinador

    visando aceitao das situaes impostas pela vida social. Poder, ainda,

    decodificar para a populao os direitos do acesso aos servios sociais prestados

  • 26

    pelas polticas sociais, fortalecendo os projetos e lutas da classe subalterna nesta

    direo.

    Em relao ao recorte assistencial presente na poltica de educao, salienta-

    se que a Carta Magna de 1988 trata, no inciso VII, da seguinte questo: o

    atendimento ao educando, no ensino fundamental, atravs de programas

    suplementares de material didtico escolar, transporte, alimentao e assistncia

    sade. Segundo Oliveira,

    [...] nos textos anteriores, esta prescrio era remetida para a parte daassistncia ao estudante. Incorpora-se ao rol de deveres do Estado,relativos garantia do direito educao, pois, para parcelas significativasdo alunado, tais servios (entre outros) so pr-requisitos para a freqncia escola (2001, p.3).

    3 eixo: Articulao da Poltica de Educao com a sociedade

    LDB, artigos 12, inciso VII e VIII; artigo 13, inciso VI; artigo 59, inciso

    IV.

    ECA, artigo 53 inciso I; artigo 54 inciso III, VII e pargrafo; artigo 56,

    incisos I, II e III.

    O assistente social poder propiciar aes interinstitucionais dirigidas para a

    mobilizao da rede5 de proteo social local.

    A articulao6 da instituio educacional com as organizaes

    governamentais e no-governamentais possibilitar que se torne pblico o interesse

    da maioria, pressionando, deste modo, as negociaes e as decises polticas.

    Incluir as instituies educacionais na rede de proteo social para a criana

    e o adolescente a premissa principal, fundamentada pelo Estatuto da Criana e do

    Adolescente, para que o segmento supracitado possa atingir o seu pleno

    5 A rede interconecta agentes, servios, mercadorias, organizaes governamentais e no- governamentais,

    movimentos sociais, comunidades locais, regionais, nacionais e mundiais (Brant apud Guar, 1998, p.13).Estes agentes e organizaes no se conectam apenas a uma rede, mas a vrias redes que processaminformaes, tecnologias ou servios de interesse comum (Guar, 1998, p.13). Trabalhar na perspectiva de rede uma necessidade exigida pelos novos parmetros legais do Estatuto da Criana e do Adolescente,pretendendo tornar efetiva a idia de proteo integral da criana e do adolescente, aliada ao princpio de umprotagonismo compartilhado entre Estado, sociedade, famlia.6 A articulao consiste na elaborao consciente e conseqente, terica, poltica e tcnica das relaes sociais

    (vnculos) presentes no relacionamento profissional, para a construo de estratgias e tticas de soluo dosproblemas, pela modificao das relaes de fora existentes, tendo em conta os interesses em presena nasquestes complexas apresentadas. Esta articulao , ao mesmo tempo, tcnica, profissional e poltica e noconsiste numa determinada posio ou num determinado posicionamento de boa vontade face aos problemasapresentados, ou de simpatia pela populao e, sim, nas anlises concretas das situaes para pensar-se a

  • 27

    desenvolvimento. Desta maneira, para que a escola cumpra o seu papel como uma

    das instituies que propiciam nova gerao a apropriao da herana cultural,

    conhecimentos, valores, tcnicas, comportamentos, arte, enfim, todo o saber

    historicamente produzido, torna-se imperiosa a necessidade de articulao desta

    com a rede de proteo social criana, ao adolescente e famlia.

    Por outro lado, analisando a Constituio Federal de 1988, fruto do processo

    de democratizao do Brasil ocorrido no final de dcada de 1980, constata-se que

    traz como uma de suas diretrizes a descentralizao poltico-administrativa. Desta

    forma reconhece o municpio como ente federativo, isto , com autonomia plena no

    mbito poltico, administrativo, legislativo e financeiro, sendo o principal beneficirio

    da descentralizao de recursos que se avolumaram com a ampliao das

    transferncias constitucionais. O Sistema de Proteo Social e, especificamente, a

    poltica de educao brasileira, sofre os reflexos da perspectiva neoliberal assumida

    pelo Estado,7 sendo que uma das caractersticas marcantes e que merece destaque

    o processo de descentralizao que altera a dinmica e a direo das polticas

    sociais, principalmente a partir da dcada de 1990.

    Neste contexto, o municpio tornou-se o principal destinatrio da

    descentralizao e das atribuies na rea social, dando nova feio ao Sistema de

    Proteo Social brasileiro, assumindo significados e contedos distintos, conforme o

    desenho especfico de cada poltica social em relao distribuio de

    competncias e do controle sobre os recursos entre as trs instncias.

    No que se refere poltica de educao, o processo de municipalizao do

    ensino acelerado, transferindo para o municpio o nus de garantir a efetivao da

    educao infantil e do ensino fundamental. Porm, grande parte dos municpios

    brasileiros possui uma baixa capacidade fiscal, administrativa, tcnica e poltica para

    gerenciar polticas sociais complexas, com dficits estruturais e institucionais,

    portanto, a falta de uma ao deliberada dos nveis superiores de governo prejudica

    o desempenho das polticas pblicas, especificamente da educao.

    produo de efeitos econmicos, polticos e ideolgicos que permitam maximizar o relacionamento existente emfuno dos interesses da populao nas suas relaes de dominao e explorao (Faleiros, 1985, p.113).7 Reforma do Estado MARE componentes bsicos: a) a delimitao do tamanho do Estado, reduzindo suas

    funes atravs da privatizao, terceirizao e publicizao, que envolve a criao das organizaes sociais; b)a redefinio do papel regulador do Estado atravs da desregulamentao; c) o aumento da governana, ouseja, a recuperao da capacidade financeira e administrativa de implementar decises polticas tomadas pelogoverno atravs do ajuste fiscal; d) o aumento da governabilidade ou capacidade poltica do governo deintermediar interesses, garantir legitimidade e governar (Caderno 1, editado pelo Ministrio da AdministraoFederal e Reforma do Estado em 1997, p. 7).

  • 28

    A Constituio Federal vigente, em seus artigos 211 e 227, estabelece que

    de responsabilidade dos municpios a educao infantil, bem como o ensino

    fundamental, ratificado pela LDB/96 e pela Lei n 9 .424 de dezembro de 1996 e pelo

    Decreto-lei n 2.264 de junho de 1997, que cria o F undo de Manuteno e

    Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorizao do Magistrio Fundef.

    Este processo de municipalizao do ensino, especificamente da educao infantil e

    do ensino fundamental, que garantido constitucionalmente como direito universal,

    gera demandas nas instituies educacionais que esto sob a responsabilidade do

    municpio, muitas delas pertinentes ao servio social.

    Diante deste contexto, acredita-se na seguinte tese: a municipalizao do

    ensino e os novos determinantes jurdicos estabelecem espaos socioocupacionais

    para o servio social na poltica da educao bsica, possibilitando a interveno

    profissional nos trs eixos, anteriormente descritos. Desta forma, questiona-se:

    Em quais etapas de ensino da poltica de educao municipal paulista osassistentes sociais se inserem?

    Quem so esses profissionais? De que forma os assistentes sociais tm ocupado esses espaos?

    Para a compreenso da legitimao da prtica profissional8 na poltica de

    educao, faz-se necessrio conceber esta poltica como um espao que enseja

    contradies e disputas, que se alteram politicamente mediante a ao dos sujeitos

    sociais, e a sua funo estratgica no campo do trabalho e da cultura. Ressalta-se

    que a trajetria histrica da profisso est estreitamente relacionada ao processo de

    estruturao das polticas sociais, sendo este o locus privilegiado do trabalho dos

    assistentes sociais, campo de foras no qual a profisso ganha visibilidade social,

    materialidade institucional e potencialidade histrica (Teixeira, 2005, p.5).

    Neste sentido, o significado poltico da insero do servio social na poltica

    de educao vincula-se trajetria histrica desta profisso e seu acmulo terico e

    poltico em relao ao campo das polticas sociais, podendo contribuir para a

    necessria articulao de foras sociais na luta pela educao pblica, de qualidade

    e como direito social.

    8 Prtica Profissional: representa uma atividade no interior da prtica social, sendo que a atividade profissional

    tem uma dimenso pblica, por apresentar repercusses polticas nas relaes de poder, mas no , em si, umaprtica poltica, por excelncia. A prtica social a prtica da sociedade em movimento que encerra, no seuinterior, diferentes atividades (Kameyama, 1989, p.12).

  • 29

    A presente tese constitui-se desta Introduo, de quatro captulos e conclui

    tecendo algumas consideraes.

    O Captulo I, intitulado O processo de construo da pesquisa, tem como

    objetivo principal descrever os caminhos metodolgicos percorridos na construo

    da pesquisa, articulando dialeticamente as partes de um todo; contextualiza o

    espao geopoltico, ou seja, os municpios do Estado de So Paulo onde localizam-

    se os sujeitos pesquisados e, por fim, apresenta um perfil destes profissionais,

    indivduos sociais que influenciam e so influenciados por diversos determinantes do

    contexto histrico em que se inserem.

    O Captulo II, A poltica de educao brasileira: uma leitura sob a tica do

    Servio Social, retrata um panorama geral na perspectiva crtica do Servio Social,

    respondendo necessidade identificada na pesquisa de aprofundar os

    conhecimentos dos profissionais sob esta poltica social como um dos determinantes

    na qualificao da prtica profissional.

    Estabelecer uma interconexo entre organizao jurdico-operacional da

    poltica de educao bsica, especificamente educao infantil, ensino fundamental

    e a modalidade de educao especial com a insero do Servio Social neste

    espao socioocupacional o objetivo do Captulo III, denominado Os espaos

    socioocupacionais do Servio Social no mbito da poltica de educao paulista.

    O Captulo IV, Perspectivas do Servio Social no mbito da poltica de

    educao, inicia-se por uma incurso em relao ao projeto tico-poltico do Servio

    Social relacionando-o rea da educao para, a seguir, dar visibilidade s

    perspectivas do Servio Social nos trs eixos da prtica profissional que nortearam a

    pesquisa, ou seja: o processo de democratizao da educao; a prestao de

    servios socioassistenciais e socioeducativos alm da articulao da Poltica de

    Educao com as polticas sociais.

    O ltimo item, Tecendo consideraes: limites e possibilidades do Servio

    Social no mbito da poltica de educao, conforme indica a prpria denominao,

    recupera os limites e principalmente as possibilidades contidas na realidade concreta

    vivenciada pelos assistentes sociais destacando algumas propostas no sentido de

    potencializar a democracia, a justia social na luta pelo direito educao numa

    perspectiva emancipatria.

  • 30

    1 O processo de construo da pesquisa

    O processo de construo desta pesquisa ocorreu com base no entendimento

    de que conhecer e interpretar a realidade s possvel a partir do empirismo,

    extrapolando as evidncias, o dado imediato, as expresses dos fatos e dos

    fenmenos, levando em conta as mediaes,9 compreendendo as relaes que as

    engendram. Este modo de conhecer encontra respaldo no modo de ser, de se

    constituir e de se movimentar do ser social. Optou-se pela pesquisa qualitativa,

    considerando-se que, a partir da descrio dos fenmenos, buscam-se [...] as

    causas da existncia dele, procurando explicar sua origem, suas relaes, suas

    mudanas e se esfora por intuir as conseqncias que tero para a vida humana

    (Trivios, 1992 p.129).

    Neste sentido, acredita-se que

    [...] a abordagem qualitativa parte do fundamento de que h uma relaodinmica entre o mundo real e o sujeito, uma interdependncia viva entre osujeito e o objeto, um vnculo indissocivel entre o mundo objetivo e asubjetividade do sujeito (Chizzotti, 1991, p.79).

    Portanto, a investigao sobre o servio social na poltica de educao

    municipal no Estado de So Paulo e as tendncias do seu movimento no contexto

    histrico, permitindo no apenas a compreenso do que , mas, sobretudo, das

    tendncias, do movimento, do vir-a-ser da realidade social (Guerra, 1997 p. 49).

    A pesquisa sedimenta-se na teoria crtica, utilizando como referncia terica

    principal a teoria de Antonio Gramsci, pensador marxista cuja obra perpassada por

    uma viso crtica e histrica dos processos sociais. Gramsci

    [...] no toma o marxismo como doutrina abstrata, mas como mtodo deanlise concreta do real em suas diferentes determinaes. Debrua-sesobre a realidade enquanto totalidade, desvenda suas contradies ereconhece que ela constituda por mediaes, processos e estruturas.Essa realidade analisada pelo pensador a partir de uma multiplicidade designificados, evidenciando que o conjunto das relaes constitutivas do sersocial envolve antagonismos e contradies, apreendidos a partir de umponto de vista crtico que leva em conta a historicidade do social, sendoeste, segundo Gramsci, o nico caminho fecundo na pesquisa cientfica(Simionatto, 2001, p. 7).

    9 Mediaes: [...] so expresses histricas das relaes que o homem edificou com a natureza e

    conseqentemente das relaes sociais da decorrentes, nas vrias formaes scio-histricas que a histriaregistrou. A mediao funciona como condutos por onde fluem as relaes entre as vrias instncias darealidade; so elas que possibilitam conceber-se a realidade como totalidade (Pontes, 1995 p.78).

  • 31

    No teor do pensamento gramsciano, principalmente a sua contribuio em

    relao educao e cultura, encontram-se os elementos que permitem

    problematizar a prtica profissional na esfera da educao/cultura, especificamente

    na poltica de educao pblica, que a proposta primordial deste estudo. Este

    processo foi realizado em diversas etapas, dialeticamente interligadas, que esto

    descritas a seguir.

    No primeiro momento de aproximao com o tema proposto foram

    observados trs requisitos fundamentais: as produes tericas sobre o exerccio

    profissional destacando-se, principalmente, os seguintes autores: Jos Paulo Netto,

    Marilda Vilela Iamamoto, Maria Carmelita Yasbek e Maria Lcia Martinelli; as

    referncias tericas e os fundamentos jurdicos que hoje embasam a Poltica de

    Educao Brasileira; o exame da literatura sobre os conhecimentos produzidos em

    relao ao servio social na rea da Educao.10

    Em relao ao primeiro requisito, deve-se ressaltar que os autores

    supracitados posicionam-se historicamente no processo de constituio e

    desenvolvimento dos fundamentos histricos e terico-metodolgicos do servio

    social numa perspectiva crtica com a qual esta tese compactua:

    As condies que peculiarizam o exerccio profissional so umaconcretizao da dinmica das relaes sociais vigentes na sociedade emdeterminadas conjunturas histricas. Como as classes sociais fundamentaise suas personagens s existem em relao, pela mtua mediao entreelas, a atuao do assistente social necessariamente polarizada pelosinteresses de tais classes, tendendo a ser cooptada por aqueles que tmuma posio dominante.

    O servio social reproduz tambm, pela mesma atividade, interessescontrapostos que convivem em tenso. Responde tanto s demandas docapital como s do trabalho e s pode fortalecer um ou outro plo pelamediao de seu oposto. Participa tanto dos mecanismos de dominao eexplorao como, ao mesmo tempo e pela mesma atividade, da resposta snecessidades de sobrevivncia da classe trabalhadora e da reproduo doantagonismo nesses interesses sociais, reforando as contradies queconstituem o mvel bsico da histria. A partir dessa compreenso que sepode estabelecer uma estratgia profissional e poltica para fortalecer asmetas do capital ou do trabalho, mas no se pode exclu-la do contexto daprtica profissional, visto que as classes s existem inter-relacionadas. isto, inclusive, que viabiliza a possibilidade de o profissional colocar-se nohorizonte dos interesses das classes trabalhadoras. (Iamamoto, 1982, p.75).

    10

    Foram analisados os trabalhos publicados nos diversos Congressos Brasileiros de Assistentes Sociais CBAS; os artigos nas revistas Servio Social e Sociedade; as teses, dissertaes, do perodo entre 1940 at2004, cadastrados nas primeiras escolas de Servio Social -- PUC/SP; PUC/RJ, PUC/PR e UFPE), alm deartigos e livros produzidos neste perodo, compilados na tese de doutorado denominada A trajetria scio-histrica do Servio Social no espao escolar, defendida por Ilda Witiuk Lopes em 2004 na Faculdade deServio Social da PUC/SP.

  • 32

    Com relao ao segundo requisito produo terica -- destaca-se tambm a

    pesquisa bibliogrfica nas revistas Servio Social e Sociedade, publicao que h

    mais de duas dcadas de existncia vem marcando o debate sobre a profisso e

    suas relaes com a sociedade, sendo lder no campo da difuso do conhecimento

    de interesse do Servio Social. Constatou-se que h apenas seis artigos que tratam

    de questes pertinentes temtica: Servio Social e Educao, no perodo entre

    1979 e 2006, ou seja, desde o primeiro nmero da revista at 2006.

    Confirmou-se que, apesar de haver produes com diversidade de

    abordagens referentes ao Servio Social na rea da educao, os textos so

    esparsos e registrados principalmente em anais ou dissertaes de mestrado que,

    infelizmente, no so publicados, socializados para a categoria profissional.Tambm

    no foi identificada nenhuma produo que reflita sobre o Servio Social nos

    municpios paulistas.

    Constatou-se, ainda, por meio deste estudo e do exame dos 45 projetos de lei

    existentes que visam a implantao do Servio Social na poltica de educao

    pblica brasileira, que apesar de existirem treze projetos de lei que se referem

    Rede Oficial de Ensino do Estado de So Paulo, nenhum foi aprovado, portanto, no

    existe o Servio Social institudo na educao pblica do Estado de So Paulo.

    Retratar o panorama geral da presena do Servio Social na poltica de educao

    municipal paulista objetiva, tambm, socializar experincias nesta rea e propiciar

    debates e aes coletivas que fortaleam o posicionamento do Servio Social neste

    espao socioocupacional.

    Ao analisar a poltica de educao brasileira, que corresponde ao terceiro

    requisito indicado, foram constatadas mudanas significativas que vm ocorrendo

    nesta poltica, correspondendo s transformaes societrias das ltimas dcadas,

    consubstanciando-se numa ampliao do espao socioocupacional do Servio

    Social nesta rea.

    Os caminhos para atingir esta meta foram: conhecer as determinaes

    histricas da implantao do Servio Social na rea da educao pblica municipal

    no Estado de So Paulo, dando visibilidade prtica profissional do assistente social

    neste espao socioocupacional (interpretando as tendncias existentes que

    expressam a totalidade social); analisar a poltica de educao brasileira,

    especificamente a educao bsica, e identificar espaos socioocupacionais para o

  • 33

    Servio Social interpretando as possibilidades de interveno profissional, apontado

    consideraes propositivas.

    Ressalta-se que este conhecimento vai alm da aparncia imediata, portanto,

    [...] requer um esprito cientfico que apreenda os fatos, fenmenos,processos e prticas a partir da funo que desempenham na estrutura,conjuntura e contextos histrico-sociais e na inter-relao entreuniversal/particular/singular, ou seja, do ponto de vista da totalidade(Guerra, 1997, p. 59).

    Esta a perspectiva terico-metodolgica adotada pela autora nos caminhos

    percorridos na realizao deste estudo.

    O segundo momento da pesquisa consistiu de um contato com o Conselho

    Regional de Servio Social de So Paulo CRESS/SP na tentativa de obter

    informaes referentes aos profissionais que atuam na rea da educao pblica

    nos municpios paulistas, com vistas na viabilidade da mesma. Porm, constatou-se

    que no h esta informao. A diretoria do CRESS/SP, mobilizada com a

    importncia da insero do Servio Social na rea da educao, lanou no Boletim

    Informativo do CRESS/SP, em setembro de 2003, um levantamento solicitando que

    os profissionais envolvidos nesta rea informassem ao CRESS/SP. Retornaram

    respostas positivas de onze municpios distribudos nas seguintes Regies

    Administrativas de Governo11 (RA), incluindo uma Regio Metropolitana (RM):

    RM Campinas, que abrange os municpios de Cosmpolis, Limeira, Leme,Itatiba. RA Central que abrange Mato. RA Franca que abrange Franca. RA Presidente Prudente que abrange Dracena. RA Ribeiro Preto que abrange Serrana. RA So Paulo que abrange Mau. RA So Jos dos Campos, que abrange So Jos dos Campos. RA Marlia, que abrange Tup.

    Em decorrncia do fato de no haver informaes mais consistentes sobre os

    assistentes sociais que atuam na rea da educao no Estado de So Paulo, foi

    necessrio realizar, no perodo de janeiro a junho de 2005, o levantamento

    11

    Segundo informaes do Instituto Geogrfico e Cartogrfico de So Paulo IGC, as Regies Administrativasdo Estado de So Paulo so 15, ou seja: So Paulo, Registro, Baixada Santista, So Jos dos Campos,Sorocaba, Campinas, Ribeiro Preto, Bauru, So Jos do Rio Preto, Araatuba, Presidente Prudente, Marlia,Central (Araraquara/So Carlos), Barretos e Franca. Essas regies foram regulamentadas pelo Decreto Lei n26.581, de janeiro de 1987, que compatibilizando as 42 Regies de Governo que existiam anteriormente com asRegies Administrativas, visam identificar conjuntos de cidades com caractersticas semelhantes quanto vocao, padres de polarizao, hierarquia funcional etc., traduzida na legislao pertinente. (Biblioteca Virtualdo Estado de So Paulo correspondncia de 15/6/2005). A sigla RM significaRegio Metropolitana.

  • 34

    preliminar nos 645 municpios do Estado, por correspondncia eletrnica via Internet

    (Apndice 1) e contatos telefnicos, com o objetivo de identificar a existncia do

    servio social na poltica de educao pblica municipal.

    Do total de mensagens enviadas (645), 165 municpios responderam a

    pesquisa, ou seja: 25,58%. Destes 165 municpios que responderam a pesquisa, 37

    (22,42%) informaram haver assistentes sociais atuando no municpio na rea da

    educao bsica, especificamente na educao infantil, no ensino fundamental e na

    educao especial. Portanto, constatou-se que apenas em 5,73% dos municpios

    paulistas (645) o Servio Social esta inserido no mbito da Poltica de Educao

    municipal. Segue a relao dos municpios de acordo com a Regio Administrativa

    de Governo (verificar endereos eletrnicos e telefones no Anexo 2):

    RM So Paulo que abrange Embu, Mau, Osasco, Santo Andr, SoBernardo do Campo, Vargem Grande Paulista.

    RM Campinas que abrange Cosmpolis, Hortolndia, Itatiba, Santa Brbarado Oeste.

    RA Campinas que abrange Leme, Limeira, Corumbata. RA Central que abrange Mato, Santa Rita do Passa Quatro, So Carlos. RA Franca que abrange Franca, Batatais. RA Ribeiro Preto que abrange Serrana. RA Sorocaba que abrange Itu, Botucatu, Baro de Antonina, Laranjal

    Paulista, Ribeira, Salto. RA Marlia que abrange Gara, Assis, Tup. RA So Jos dos Campos que abrange So Jos dos Campos, Jacare,

    Paraibuna, Lorena. RA Presidente Prudente que abrange Presidente Prudente, Dracena. RA Bauru que abrange Borebi. RA Barretos que abrange Altair. RA So Jos do Rio Preto que abrange Ipigu.

    Em seguida, no terceiro momento da pesquisa, foi enviado um questionrio,

    por meio de correio eletrnico pela Internet (Apndices 2, 3 e 4), para os 37

    municpios, visando abordar os sujeitos da pesquisa, todos os assistentes sociais

    que atuam na rea da educao nos municpios do Estado de So Paulo. O objetivo

    deste questionrio foi a elaborao de um perfil dos assistentes sociais e da

    configurao do espao socioocupacional da profisso na rea da educao, alm

    de delinear e mapear as atividades realizadas pelo servio social na poltica de

    educao paulista, para a verificao de como se d empiricamente a sua prtica

    profissional.

  • 35

    Dos 37 municpios que contam com a insero do assistente social no mbito

    da poltica de educao, 28 deles (75,67% do total dos municpios consultados)

    responderam ao questionrio apontando a existncia de 101 profissionais atuando

    nesta rea. Destes 101 profissionais existentes, 55, portanto, 54,45%, informaram

    quanto ao perfil profissional, conforme solicitao do referido questionrio.

    Segundo as informaes do CRESS/SP, em relao ao nmero de

    assistentes sociais inscritos no Estado de So Paulo, totalizados em 32.233 at

    janeiro de 2005, os 101 assistentes sociais que atuam na poltica de educao

    paulista representam apenas 0,31% dos profissionais em Servio Social.

    Os 28 municpios e os 55 assistentes sociais que participaram da

    pesquisa esto delineados no quadro a seguir:

    Quadro 1 - Municpios e assistentes sociais que participaram da pesquisa, porRegio Administrativa de Governo

    N Assistentes SociaisRegio Adm.

    GovernoN Municpios Municpios

    Existentes Responderam

    RM So Paulo 39 Embu 1 1

    Mau 2 2

    Santo Andr 12 4

    So Bernardo do

    Campo

    10 3

    Vargem Grande

    Paulista

    2 1

    RM Campinas 19 Cosmpolis 1 1

    Hortolndia 1 1

    Santa Brbara do

    Oeste

    1 1

    RA Campinas 71 Leme 2 2

    Limeira 26 7

    RA Central 26 Santa Rita do Passa

    Quatro

    2 11

    So Carlos 1 1

    RA Franca 23 Franca 10 3

    Batatais 1 1

  • 36

    RA Sorocaba 17 Itu 1 1

    Botucatu 2 1

    Baro de Antonina 1 1

    Laranjal Paulista 3 3

    RA Marlia 27 Gara 2 1

    Assis 2 1

    Tup 3 1

    39 So Jos dos Campos 4 4

    Jacare 4 2

    RA So Jos

    dos Campos

    Lorena 1 1

    53 Presidente Prudente 7 7RA Presidente

    Prudente Dracena 1 1

    RA Bauru 39 Borebi 1 1

    RA So Jos

    do Rio Preto

    81 Ipigu 1 1

    Fonte: Pesquisa realizada com os assistentes sociais que atuam na rea da

    educao nos municpios paulistas, perodo 2005 2006.

    Considerando o nmero de municpios que abrangem cada regio

    administrativa de governo e o nmero de municpios que tm assistentes sociais

    atuando na rea da educao e participaram desta pesquisa, foi possvel observar,

    em termos proporcionais, as regies administrativas que apresentam maior

    incidncia da insero do Servio Social na rea da educao municipal, descritos

    em ordem crescente:

    RM Campinas: 21,05% dos municpios.

    RM So Paulo: 15,38%.

    RA Central: 11,53%.

    RA Marlia: 11,12%.

    RA So Jos do Rio Preto: 10,25%.

    RA Franca: 7,69%.

    RA Sorocaba: 7,59%.

    RA Campinas: 5,63%.

    RA Barretos: 5,25%.

    RA So Jos dos Campos: 4,16%.

  • 37

    RA Ribeiro Preto: 4,00%.

    RA Presidente Prudente: 3,77%.

    RA Bauru: 2,26%.

    RM Baixada Santista: 0.

    RA Araatuba: 0.

    RA Registro: 0.

    Diante da amplitude de municpios e da diversidade de regies

    administrativas de governo onde os mesmos esto distribudos, considerou-se como

    universo da pesquisa o Estado de So Paulo em sua totalidade, guardadas as

    devidas propores regionais e municipais de cada realidade (Anexo 3).

    No quarto momento da pesquisa, foram realizadas entrevistas focais,

    estudando com maior profundidade uma amostra representativa desta totalidade, no

    sentido de elucidar a realidade social concreta, com uma aproximao dos sujeitos

    pesquisados, dos assistentes sociais que atuam na poltica de educao,

    considerando as dificuldades para investigar todos os municpios inseridos na

    pesquisa. Essas entrevistas focais compreenderam o perodo de junho a julho de

    2006, com trs encontros, abrangendo seis sujeitos.

    importante esclarecer que grupo focal, segundo Minayo (2000), consiste de

    uma tcnica de inegvel importncia para se tratar de questes sob o ngulo do

    social, porque se presta ao estudo de representaes e relao dos diferenciados

    grupos de profissionais da rea, dos vrios processos de trabalho e tambm da

    populao.

    Um grupo focal um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas porpesquisadores para discutir e comentar um tema, que objeto de pesquisa,a partir de sua experincia pessoal (Powell e Single, 2005, p. 449).12

    A mesma conceituao se aplica tcnica de entrevista focal.

    A realizao das entrevistas focais com os assistentes sociais foi um

    momento significativo da pesquisa, propiciando a interao entre pesquisados e

    pesquisador, expressando a importncia do debate sobre a temtica, rompendo o

    isolamento dos profissionais que atuam nesta rea. Portanto, pondera-se que

    12

    A escolha da utilizao do grupo focal justifica-se pelo fato de este instrumento permitir ao pesquisador obterboa quantidade de informaes em um perodo curto de tempo, pois, comparado entrevista individual, ganha-se em relao captao de processos e contedos cognitivos, emocionais, ideolgicos, representacionais,mais coletivos, portanto, e menos idiossincrticos e individualizados. [...] o grupo focal ao propiciar a exposioampla de idias e perspectivas, permite trazer tona respostas mais completas e possibilita tambm verificar algica ou as representaes que conduzem resposta (Gatti, 2005 p.10).

  • 38

    [...] a entrevista no simplesmente um trabalho de coleta de dados, massempre uma situao de interao na qual as informaes dadas pelossujeitos podem ser profundamente afetadas pela natureza de suas relaescom o entrevistador. (Minayo, 2000, p.114)

    Na construo dos critrios utilizados para escolher os municpios, foram

    considerados elementos que, combinados entre si, demonstram ser representativos

    da totalidade, e so qualitativamente significativos, possibilitando a expresso da

    prtica profissional desenvolvida nesta poltica, ampliando assim as informaes

    para elucidar a realidade social concreta. Estes critrios esto elencados a seguir:

    a) Tempo de implantao do Servio Social na poltica de educao: adotou-se

    como referncia os municpios em que a implantao do Servio Social mais

    antiga, que possibilita um acmulo maior de experincia nesta rea.

    b) Nmero de profissionais existentes na poltica de educao municipal: foram

    estabelecidos como parmetros os municpios com maior nmero de

    profissionais, que podem conferir legitimidade ao espao socioocupacional do

    Servio Social na poltica de educao municipal.

    c) A abrangncia dos nveis de ensino existentes no municpio: optou-se por abarcar

    os municpios com maior diversidade de nveis de ensino, visando identificar as

    peculiaridades de cada nvel para a atuao do assistente social.

    d) Organizao da prtica profissional do assistente social na instituio

    educacional: este critrio identifica os municpios que apresentaram uma prtica

    profissional planejada (programas, projetos) que podem conferir a ocupao mais

    consistente dos espaos socioocupacionais existentes e maior autonomia e

    credibilidade para desenvolver sua ao.

    Diante do exposto, para a realizao das entrevistas focais, foram

    selecionados trs municpios, pertencentes s trs regies de governo: Franca,

    municpio da Regio Administrativa de Franca; Limeira, municpio pertencente

    Regio de Campinas; e Presidente Prudente, municpio da Regio Administrativa de

    Presidente Prudente. Foram efetivados contatos telefnicos, para agendamento e

    realizao das entrevistas focais com os assistentes sociais.

    Convm ressaltar que houve a preocupao de identificar sujeitos

    assistentes sociais cuja magnitude da expresso naquele determinado contexto

    fosse significativa. Ou seja:

    [...] com a concepo de sujeito coletivo, no sentido de que aquela pessoaque est sendo convidada para participar da pesquisa tem uma refernciagrupal, expressando de forma tpica o conjunto de vivncias de seu grupo.O importante no o nmero de pessoas, mas o significado que esses

  • 39

    sujeitos tm, em funo do que estamos procurando com a pesquisa(Martinelli, 1994 p.14).

    O contedo a ser abordado nestas entrevistas focais foi construdo mediante

    a anlise do material emprico coletado nos questionrios respondidos pelos

    profissionais na etapa anterior. Aps essa anlise, foi elaborado um roteiro de

    questes norteadoras (Apndice 5) a serem discutidas nas entrevistas focais

    destinadas a dois assistentes sociais de cada municpio, perfazendo um total de seis

    profissionais que participaram desta fase da pesquisa.

    As entrevistas focais tiveram como questes norteadoras os seguintes

    aspectos:

    1. Processo jurdico de insero do Servio Social na secretaria de educao do

    municpio.

    Existe lei que cria o cargo de assistente social na secretaria de educao?

    Qual a fonte de recursos financeiros para o pagamento do assistente

    social?

    2. Conhecimento do assistente social em relao ao fundamento jurdico da poltica

    de educao do municpio.

    Conhecimento sobre LDB, ECA, Fundef/Fundeb, poltica de educao bsica:

    educao infantil, ensino fundamental e educao especial.

    3. Comente sobre a prtica profissional do assistente social na poltica de educao

    do municpio.

    Quais demandas so atendidas pelo Servio Social?

    O que vocs consideram prioridade no trabalho desenvolvido pelo assistente

    social na rea da educao?

    Quais so as particularidades do Servio Social na educao?

    O que trabalho socioeducativo?

    Vocs se consideram educadores?

    As entrevistas foram gravadas com o consentimento dos entrevistados,

    possibilitando o registro fidedigno das informaes, inclusive por meio da entonao

    de voz, das pausas, das emoes expressas na exposio do pensamento dos

    entrevistados, o que enriqueceu o contedo a ser analisado. A transcrio desses

    depoimentos constituiu-se uma etapa interessante do processo de pesquisa pois,

    transcrever significa, assim, uma nova experincia da pesquisa, um novopasso em que todo o processamento dela retomado, com seusenvolvimentos e emoes, o que leva a aprofundar o significado de certos

  • 40

    termos utilizados pelo informante, de certas passagens, de certas histriasque em determinado momento foram contadas, de certas mudanas naentonao de voz (Queiroz, 1991, p. 88).

    O quinto momento constituiu-se da anlise do material emprico levantado

    na pesquisa de campo, apoiada em referencial terico e na organizao dos

    resultados obtidos, que resultou no texto elaborado dialeticamente e exposto na

    construo dos captulos deste estudo.

    Salienta-se que tornar os dados inteligveis significa organiz-los de forma a

    propor uma explicao adequada quilo que se quer investigar [...] da ser

    importante o momento da anlise dos dados, quando se tem a viso real dos

    resultados obtidos (Moroz & Gianfaldoni, 2001 p.73).

    A escolha da forma de apresentao das informaes obtidas foi coerente

    com a perspectiva crtica de anlise do real, estabelecendo uma relao dialtica

    entre teoria e prtica, relacionando os dados empricos com a poltica de educao,

    tanto na sua regulao jurdica quanto na sua operacionalizao institucional.

    A seguir ser descrito um breve panorama do Estado de So Paulo, cenrio

    da pesquisa, com destaque para algumas informaes importantes que demarcam a

    particularidade de cada municpio que conta com a presena do assistente social na

    rea da educao.

    1.1 O CONTEXTO E UNIVERSO DA PESQUISA

    O Estado de So Paulo13 desenvolveu-se nos trs setores da economia:

    primrio, secundrio e tercirio, concentrando 40% da economia do pas, sendo

    conhecido como o Estado mais desenvolvido do Brasil, produzindo principalmente

    produtos de alta tecnologia, tendo grande destaque o seu parque industrial alm de

    ser reconhecido como o maior plo de desenvolvimento da Amrica Latina. Segundo

    dados da Secretaria de Governo (2004), o Estado de So Paulo teve um oramento

    de R$ 69,7 bilhes para o ano de 2005, tem o maior parque industrial, a maior

    produo econmica, o maior registro de imigrantes, alm de ser o Estado mais

    cosmopolita da Amrica do Sul, o que justifica e explica sua complexidade.

    De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE, Censo

    Demogrfico de 2000, So Paulo composto por 645 municpios, sendo que no

  • 41

    Brasil existem 5.507 municpios, portanto, 11,7% dos municpios brasileiros esto

    concentrados neste Estado. Sua populao ultrapassa 36 milhes de habitantes,

    sendo 19 milhes s na regio metropolitana. Reportando-se ao interior do estado,

    as cidades respondem por 17% do PIB e 25% de toda produo industrial nacional,

    tendo uma infra-estrutura que contribui para que a qualidade de vida no interior seja

    um atrativo para bons investimentos.

    No Estado de So Paulo h disparidade entre o grau de desenvolvimento dos

    municpios, conforme constatam os dados estatsticos apontados pela Fundao

    Sistema Estadual de Anlise de Dados Seade (2000), que desenvolveu um novo

    ndice com o objetivo de detectar os bolses de pobreza nos 645 municpios do

    estado de So Paulo, estudo denominado ndice Paulista de Vulnerabilidade Social

    IPVS. 14 Este estudo revelou que cerca de 3,6 milhes de pessoas (quase 10% da

    populao total de aproximadamente 37 milhes do Estado de So Paulo) vivem em

    rea de alta concentrao de pobreza. Salienta-se que 2 milhes de pessoas vivem

    na Regio Metropolitana da cidade de So Paulo, sendo 1,3 milho na capital e 1,6

    milho no interior.

    No que se refere rea educacional, o Estado de So Paulo conta com uma

    das maiores redes pblicas de educao do pas, sendo responsvel por 80% das

    matrculas estaduais no ensino fundamental e mdio. Segundo a Secretaria da

    Educao Estadual (2004), so aproximadamente 6,1 mil unidades escolares que

    oferecem ensino fundamental e mdio, educao especial, cursos de suplncia e

    profissionalizantes. A rede de educao possui mais de 265 mil professores e

    aproximadamente seis milhes de alunos, mantendo 5.949 estabelecimentos de

    ensino.

    Destaca-se ainda no ensino superior a existncia de 34 unidades de ensino

    universitrio, sendo trs universidades estaduais: Universidade de So Paulo USP;

    Universidade de Campinas Unicamp e Universidade do Estado de So Paulo

    13

    As informaes descritas a seguir foram obtidas atravs do site oficial do governo do Estado de So Pauloque disponibiliza dados de diversas secretarias de governo e de rgos oficiais de pesquisa: Acesso em 15 de julho de 2005.14

    ndice Paulista de Vulnerabilidade Social IPVS: a Fundao Seade, para elaborar este ndice, utilizou comobase informaes provenientes do Censo Demogrfico de 2000. Os tcnicos formaram uma tipologia derivada dacombinao entre as dimenses socioeconmica e demogrfica destes dados do Censo de 2000 e dividiram emseis grupos de acordo com a vulnerabilidade social, que vo desde a ausncia de pobreza (vulnerabilidadenenhuma) at a completa existncia dela (vulnerabilidade muito alta). Esta pesquisa foi solicitada pelaAssemblia Legislativa do Estado de So Paulo para subsidiar o planejamento das polticas sociais dosmunicpios do Estado de So Paulo.

  • 42

    Unesp. Na rea de ensino tcnico, So Paulo conta com o Centro de Educao

    Tecnolgica Paula Souza Ceteps, vinculado Secretaria da Cincia, Tecnologia e

    Desenvolvimento Econmico, que oferece cursos para o ensino mdio, superior,

    tcnico e tecnolgico, distribudos em noventa municpios paulistas.

    Considerando-se que a instncia federativa onde os assistentes sociais,

    sujeitos da pesquisa atuam no municpio,15 vale a rememorao de quando se deu

    sua legitimao e destaque no mbito social e poltico brasileiro.

    Na dcada de 1980, no processo da Assemblia Nacional Constituinte, houve

    uma luta para a valorizao do municpio como alicerce da democracia. Para tanto,

    por meio de um conjunto de propostas descentralizadoras, na Constituio Federal

    de 1988, o municpio foi transformado em ente federativo,16 ganhou autonomia plena

    nos mbitos poltico, administrativo, legislativo e financeiro.17 O municpio foi o

    principal destinatrio da descentralizao de competncias e atribuies em diversas

    reas, entre elas a social e a educacional.

    Contextualizando os municpios paulistas inseridos na pesquisa, foi possvel

    identificar o porte destes municpios (nmero de habitantes) de acordo com

    informaes obtidas por meio do ltimo Censo Demogrfico publicado pelo IBGE em

    2000.

    Para o estabelecimento de uma referncia das condies socio-econmicas

    dos municpios, foram acopladas informaes relativas classificao destes

    municpios quanto ao ndice de Desenvolvimento Humano Municipal IDHM,18

    averiguadas atravs de dados da Fundao Seade, conforme segue:

    15

    Do ponto de vista sociolgico, o agrupamento de pessoas de um mesmo territrio, com interesses comunse afetividades recprocas, reunidas para satisfao das necessidades e desempenho de atribuies coletivas um grupo celular bsico. Como ente poltico, entidade estatal de terceiro grau na ordem poltica, comatribuies prprias e governo autnomo, ligado ao membro por laos constitucionais indestrutveis. E, sob visojurdica, pessoa jurdica de direito pblico interno, com capacidade civil para exercer direitos e contrairobrigaes. Os aspectos polticos e jurdicos so objeto de regramento constitucional e legal (Jovchelovitch,1998, p. 35).16

    Ente Federativo: entidade estatal, poltico-administrativa, com personalidade jurdica, governo prprio ecompetncia normativa (Meirelles, 1993 p. 116).17

    A autonomia poltica significa no apenas capacidade de autogoverno, mas eleies diretas de prefeitos,vice-prefeitos e vereadores, como auto-organizao, por meio da Lei Orgnica municipal prpria. A autonomiaadministrativa implica na liberdade para organizar as atividades do governo local, criar o quadro de servidoresmunicipais e criar ou suprimir distritos. A autonomia legislativa implica seja em capacidade de legislar sobreassuntos de interesse local, seja de complementar as legislaes estadual e federal. Finalmente, a autonomiafinanceira se materializa na capacidade de criar e arrecadar os tributos prprios; elaborar, aprovar e executar ooramento municipal e aplicar os recursos, levadas em conta algumas limitaes constitucionais (Neves, 2000,p.18-19).18

    ndice de Desenvolvimento Humano Municipal IDHM: indicador que focaliza o municpio como unidade deanlise, a partir das dimenses de longevidade, educao e renda, que participam com pesos iguais na suadeterminao, segundo a frmula: ndice de Longevidade + ndice de Educao + ndice de Renda divido por:

  • 43

    Tabela 1 - Distribuio dos municpios por nmero de habitantes

    Habitantes Municpios Nmero Total PorcentualAt 10 mil IDHM mdio:

    Baro deAntonina;

    Gara; Borebi; Ipigu.

    IDHM alto: Santa Rita do

    Passa Quatro

    5 17,85%

    de 10 mil a 100 mil IDHM mdio: Cosmpolis; Leme; Laranjal Paulista; Tup e Dracena.

    IDHM alto: Vargem Grande

    Paulista; Santa Brbara do

    Oeste; Batatais; Botucatu; Assis; Lorena.

    11 39,28%

    mais de 100 milhabitantes

    IDHM mdio: Embu; Mau; Hortolndia.

    IDHM alto: Santo Andr; So Bernardo do

    Campo; Limeira; So Carlos; Franca; Itu; Jacare;

    12 42,85%

    Longevidade. Sendo: Longevidade: esperana de vida ao nascer (nmero mdio de anos que as pessoasviveriam a partir do nascimento); Educao: nmero mdio de anos de estudo; Renda: renda familiar per capita.Para referncia, segundo classificao PNUD, os valores distribuem-se em trs categorias:1) Baixo desenvolvimento humano: IDHM menor que 0,500.2) Mdio desenvolvimento humano: IDHM entre 0,500 e 0,800.3) Alto desenvolvimento humano: IDHM superior a 0,800. (IBGE, PNUD,IPEA).Dados disponveis em Acessado em 10 de junho de 2006.

  • 44

    PresidentePrudente;

    S.J. CamposFonte: Pesquisa realizada com assistentes sociais que atuam na rea da educao nos municpiospaulistas, perodo 2005 2006.

    Pode-se observar que 57,15% dos municpios pesquisados apresentam

    ndice de alto desenvolvimento humano que corresponde classificao auferida

    pelo Estado de So Paulo, ou seja: 0,814. Os demais, 42,85% enquadram-se na

    categoria de mdio ndice de desenvolvimento humano. Constatou-se, ainda, que a

    contratao de assistentes sociais na rea da educao paulista concentra-se no

    conjunto de municpios com maior nmero de habitantes, seja de mais de 100 mil

    habitantes (42,85% dos municpios) ou de 10 mil a 100 mil habitantes com 39,28%

    do total dos municpios pesquisados. Estas informaes permitem inferir que as

    questes socioeconmicas presentes nesta realidade so mais complexas, e as

    expresses da questo social mais presentes, incidindo na rea da educao.

    Ainda de acordo com as informaes do IBGE Censo 2000, considerou-se

    importante destacar a taxa de analfabetismo da populao de 15 anos e mais19 dos

    municpios envolvidos na pesquisa, tomando como referncia o ndice de

    analfabetismo do Estado de So Paulo, que de 6,64%. Os dados apontaram as

    seguintes informaes:

    57,15% dos municpios pesquisados esto acima deste indicativo, sendo eles:

    Baro de Antonina, Batatais, Borebi, Dracena, Embu, Hortolndia, Ipigu, Itu,

    Laranjal Paulista, Leme, Santa Rita do Passa Quatro, Tup, Vargem Grande

    Paulista, Gara, Cosmpolis, Assis;

    17,85% encontram-se na mesma mdia estadual, conforme descritos: Jacare,

    Limeira, Mau, Presidente Prudente, Santa Brbara do Oeste;

    25% esto abaixo do ndice estadual, sendo eles: Franca, Lorena, Santo Andr,

    So Jos dos Campos, Botucatu, So Carlos, So Bernardo do Campo.

    Apesar de a educao ser considerada direito de todos e prioridade nacional,

    verifica-se nesta amostragem que 57,15% dos municpios do Estado de So Paulo,

    um significativo nmero de municpios participantes desta pesquisa, apresentam

    19

    Taxa de analfabetismo da populao de 15 anos e mais: consideram-se como analfabetas as pessoasmaiores de 15 anos que declararam no serem capazes de ler e escrever um bilhete simples ou que apenasassinam o prprio nome, incluindo as que aprenderam a ler e escrever, mas esqueceram (Fundao Seade eInstituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE, Censo Demogrfico de 2000).

  • 45

    uma taxa de analfabetismo populacional superior ao ndice alcanado pelo Estado.

    Tal situao demonstra que a educao constitui uma das expresses da Questo

    Social exatamente

    [...] por encerrar um processo de politizao em torno do reconhecimento edo atendimento de certas necessidades que deixaram de pertencerexclusivamente esfera da reproduo privada e ingressaram nas agendasda esfera pblica. A poltica de educao pode ser concebida tambm comoexpresso da prpria Questo Social na medida em que representa oresultado das lutas sociais travadas pelo reconhecimento da educaopblica como direito social (Teixeira, 2005, p.10).

    Aps ter explicitado o cenrio onde a pesquisa ocorreu, faz-se necessrio

    identificar os agentes que atuam nesta poltica social, elaborando um perfil

    profissional dos assistentes sociais, considerando que estes so sujeitos histricos

    que participam da construo da identidade profissional do Servio Social nesta

    rea.

    1.2 PERFIL DOS SUJEITOS PESQUISADOS

    [...] O homem, por mais que seja um indivduoparticular, e justamente sua particularidade quefaz dele um indivduo e um ser social individualefetivo , na medida, a totalidade, a totalidadeideal, o modo de existncia subjet