ele magazine - ano i - no.2

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n.02/ ano I - maio de 2013 - www.escrevologoexisto.com watchdog.org eLe magazine

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Segunda edição da revista. Uma coletânea dos textos de Abril de 2013

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n.02/ ano I - maio de 2013 - www.escrevologoexisto.com

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www.unitedworldproject.org

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[culturas]#8

“Ótimo texto e ótima análise, Valter! Com certeza a experiência traz uma visão ampla da realidade, que não é somente o sonho de uma vida melhor.Eu acrescento somente um comentário sobre o pro-cesso de “inculturação”. Na minha opinião, este é um requisito necessário para quem sai do país de forma espontânea ou por outra necessidade. Sair do país, para mim já significa deixar algumas raízes para trás. Claro que é impossível deixar toda a carga cul-tural e educação de uma hora para a outra, mas as pessoas que não conseguem se libertar destas raízes obviamente vão passar por um período maior de sofrimento, e inclusive impedir saborear, como você disse, as riquezas desse processo. Isso vai nos di-versos níveis, seja o esforço para aprender a lingua bem (não somente a capacidade de se comunicar de forma básica, mas sim o constante aprendizado de termos, sotaques e nuancias), quanto aos costumes mais diferentes da cultura. Aqueles que se lançam nessa aventura, sem medo de “perder a identidade”, têm mais chances de serem melhor aceitos e contri-buir de forma construtiva com a carga cultural que trouxe. Acho essa aventura fantástica!”

- Guilherme, Recife-PE

editorial

A alegria de perseverar

maio de 2013 - www.escrevologoexisto.com#3

Família, estudos, trabalhos, um blog e agora, uma re-vista virtual. Começar qualquer projeto é fácil, pois no início, toda experiência é movida pelo entusiasmo.Contudo, passada a novidade e percebendo os desafi-

os que cada experimento proporciona, é comum sentir preguiça, desmotivação. Mas nem sempre é assim!A experiência do eLe Magazine é uma novidade praz-

erosa, cansativa, mas que me ajuda a crescer profis-sionalmente em outros aspectos. Faz com que eu re-descubra textos e reflexões recentes, mas que ainda têm muito a dizer.A segunda edição da revista virtual quer continuar

proporcionando ao leitor a possibilidade de degustar os textos do escrevologoexisto.com de outras manei-ras. Assim, a alegria de perseverar nesse novo projeto é muito maior que fadiga de concretizá-lo. Vale muito a pena.Esperamos que também seja proveitoso para você que

(me) lê.

Um grande abraço

Valter Hugo Muniz

Sumário

[Universo Wolton] #10[experiências]#12

[militante das pedaladas] #13

#4 [co-agir com o mundo]

[o bom da tv]#15

[sentimentos em palavras]#16

#14 [filmes memoráveis]

Comentários“Parabéns !! Fico orgulhosa de ter um sobrinho-fil-ho assim!!!!!!Estou esperando ansiosamente que fale sobre a educação no brasil”.

- Elizabete Muniz, São Paulo-SP

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[o bom da internet]#16

“Belo post, Valter. Porque Wolton não distingue os campos social e cultural? Abraço!”.

- Marcello, Rio de Janeiro-RJ

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O Outro

maio de 2013 - www.escrevologoexisto.com#4

Co-agir com o mundo

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Uma imagem que sempre me pareceu curiosa é a da pesagem feita pelos lutado-

res de boxe (e agora, do MMA) an-tes de uma luta.Aqueles dois brutamontes, olhan-

do-se nos olhos, somente alguns centímetros de distância. A tensão e o desejo recíproco de intimidar são, na verdade, já o início do combate.Essa mesma tensão da “encarada”

do boxe tem aumentado, entre a duas Coréias, nas últimas semanas.Com a iniciativa da Coréia do

Norte, que sacramentou o fim das relações com a “irmã” do Sul, esse agravamento de crise, fez nascer em toda a comunidade internacional, o temor de que basta uma demência, para que a tensão se transforme em conflito no oriente.A demência marcou a história da

humanidade moderna… Hitler, Sta-lin e Slobodan Milosevic são nomes de dementes famosos, responsáveis

A matéria da BBC, feita pela jornalista Daniela Fer-nandes, revela a ironia que

existe entre a elaboração, sempre fantástica, das leis no Brasil e a apli-cação prática das mesmas.No país das emendas constituciona-

is está sendo agora exaltada a “PEC das domésticas”, uma medida justa, importante, mas que precisa ser res-peitada e, sobretudo, fiscalizada.O que pouco se diz, porém, é que

a mesma OIT já tinha aprovado, em 2011, em Genebra, na Suíça, a convenção dando aos trabalhadores

pela morte de mil-hares de inocentes e justificadas por ide-ologias que subme-tiam o ser humano as ideias, sobretu-do, racistas.Hoje, o problema

é maior pelas possi-bilidades nucleares. Assim, qualquer guerra entre duas potências colocam em alerta toda a hu-manidade.Alguns especialis-

tas acreditam que a Coréia do norte está blefando, na tentativa de conse-guir um acordo de paz que respeite a sua soberania. Contudo, o que precisa ser sempre analisado, é que esse braço de ferro do poder políti-co coloca seriamente em perigo os seres humanos.De grandes proporções ou não, o

conflito bélico não resolve as dif-erenças, mas elimina vidas, gera ódio e desejo de vingança. A paz é um valor a ser negociado, sem ja-mais excluir a importância de cada homem, mulher, criança…Esperamos que a demência não

sufoque os inúmeros avanços da racionalidade, que nos fez perceber “iguais” em direitos (e deveres). @

O Brasil é exemplo em quê?“O Brasil se tornou uma referência internacional em relação aos direitos dos trabalhadores domésticos,

afirma a OIT (Organização Internacional do Trabalho)”.

domésticos os mesmos direitos dos demais trabalhadores. Dessa forma, o Brasil, sendo signatário da orga-nização, tem o dever de cumprir o que foi estabelecido, em português claro: o país não fez mais que a sua obrigação.Toda vez que vejo o Brasil sendo

considerado exemplo, sinto certo calafrio, pois, a realidade parece pas-sar muito, mas muuuuuuuuuuuito mais longe do que a teoria. Isso não quer dizer que estou sendo pessimis-ta. Muito pelo contrário. Tenho ple-na consciência de que a situação está

melhorando muito, mas o camin-ho a percorrer é mais comparável à “maratona” do que uma “10k”.Enfim, o tempo vai dizer o quanto

esse importante avanço legislativo irá transformar em mais respeito e qualidade de vida para os tra-balhadores domésticos, que na sua maioria, vêm de uma situação so-cial menos privilegiada.Até lá, continuemos no nosso dev-

ido lugar, pretendendo, sim, ser ex-emplo, mas, ao menos por enquan-to, aceitando ser um país “cheio de boa vontade” de desenvolvimento. @

Que a demência fracasse

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A Neymarzice global é uma doença que se manifesta na falta de referên-cias, ídolos, modelos, dentro e fora de campo. Por isso, quer construir, à força, um mito que não existe, ainda não está preparado e que é extrema-mente imaturo, como pessoa e joga-dor de futebol. Para exemplificar essa imaturidade, pode-se pensar no fato de Neymar ter sido pai tão jovem e, no aspecto futebolístico, não conseguir brilhar em partidas internacionais.Neymar não é uma estrela, não é

craque, não é modelo, mesmo que a Globo insista em afirmar ambos. Ele é só um menino, como milhares de outros, apaixonado por futebol, ex-tremamente talentoso, mas que ainda precisa crescer muito e se descobrir pessoal e profissionalmente. @

O Outro

maio de 2013 - www.escrevologoexisto.com#5

O Palmeiras do século XXI deixou de ser um time grande. Essa afirmação,

triste, porque sou palmeirense, se justifica pelos resultados e não pela história do clube. O Paulistinha e a Copa do Brasil vencidos nos anos 2000, não conseguem exprimir a grandeza do maior campeão bra-sileiro de todos os tempos. Para pi-orar, neste século, o clube caiu duas vezes para a segunda divisão.Uma administração medíocre,

amadora, cheia de “mafiosos” que usam o clube como instrumento de poder é talvez o grande mau do clube. Não vou me delongar nesse aspecto, pois essa é uma dimensão do futebol que não deveria ser ev-idenciada, pois deveria somente estar a serviço do esporte e não o contrário.Em 2013 a situação parecia se en-

caminhar para mais um ano triste. Um Palmeiras fraco, com poucos

talentos de peso, cheio de jovens, e incapaz de pretender grandes cois-as. Falava-se já de que seria quase impossível o retorno para elite do futebol brasileiro, ainda mais de-pois que o time perdeu de 6×2 do “pequeno” Mirassol.Mas, como diz o ditado: “nada

como dia após o outro”. Depois daquela derrota, da humilhação vivida, uma revolução interior acon-teceu no time. Decididos a apoiar o técnico, os jogadores se uniram e começaram a mostrar que futebol se joga dentro das quatro linhas e

Co-agir com o mundo

Neymarzice global

Hoje, sem sombra de dúvidas, os dois maiores jogadores de futebol da atualidade

falam uma língua latina. Lionel Mes-si e Cristiano Ronaldo duelam há, no mínimo, dois anos pelo prêmio de maior craque do ano. Mesmo que muitas pessoas tentem colocar os dois no mesmo patamar, números e títulos mostram que o “hermano de Rosário” é, certamente, duas vezes melhor que o lusitano.As duas estrelas do futebol mun-

dial duelam também no quesito “faturamento”. Messi é o segundo e Ronaldo o terceiro, ficando, ambos, atrás do inglês David Beckham.Olhando ambos os jogadores, anal-

isando idade, conquistas (pessoais,

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Dia após o outroque, muitas vezes, a vontade supera a falta de talento. Já dizia Thomas Edison, grande inventor americano nascido no século XIX: o “sucesso é 1% inspiração e 99% transpiração”.Agora o time está transpirando,

lutando, querendo, acreditando. Descobriu que as vitórias vêm com esforço, aplicação e respeito. A tor-cida está sentindo isso do time e voltou a apoiá-lo apaixonadamente. O Palmeiras não voltou a ser um time grande, não ganhou nada ain-da, mas descobriu a fórmula para vencer, voltar a ser grande. @

profissionais e financeiras), é difícil acreditar que a Rede Globo insista em endeusar o jovem Neymar.O menino é bom de bola? Sim. Tem

potencial para ser um grande? Sim. Mas já é? Nem no mais fantástico son-ho. Neymar pode ser, talvez, consid-erado o melhor jogador brasileiro da atualidade, mas, em um contexto em que o futebol do país pentacampeão é cada vez mais coadjuvante, ser bom no Brasil não é lá grande coisa.Contudo, toda vez que o garoto do

Santos assovia, tropeça, boceja, a Glo-bo faz uma matéria ou nota no seu site. E o pior… Fala do seu penteado, da namorada, das festas que frequenta, as fotos que “posta” nas redes sociais, mesmo que isso não tenha relevância social e, muito menos, acene ao que ele mais sabe fazer: jogar futebol.

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O Outro

maio de 2013 - www.escrevologoexisto.com#6

Co-agir com o mundo

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O ser humano tem uma ca-pacidade assustadora de se acomodar. Enquanto tudo

está bem, geralmente, nós não nos movemos, nos preocupamos, prin-cipalmente com os outros. Mas, toda a vez que a nossa liberdade e os outros direitos individuais são afetados, saímos aos berros pedin-do justiça, liberdade, paz!A consequência dessa “ação e

reação” é, contudo, mais drástica: o desvio do cerne da questão.Será que a sociedade (sobretudo

a rica) pensa no como estão sen-do educadas as crianças (sobretu-do a pobre) do país? Quem são as referências? A televisão? Quem são os pais? Ou melhor, elas crescem em uma família?Enquanto é grande a exaltação da

união homossexual, por ela ser man-ifestação da individualidade de cada um (e eu não sou contra ela), nin-guém, contudo, se pergunta quais as consequências de uma criança não crescer em uma família, estável e com as duas referências de gênero.Além disso, a mesma classe A e

B que chora a morte de seu filho e condena, com razão, o assassino, ex-igindo que ele passe em vez de dois, vinte ou trinta anos na cadeia, apoia (ou é motriz de) uma dinâmica lab-orativa de baixíssimos salários, ex-tenso regime de horas, colocando a “instituição” família em xeque.Contudo, a formação dos “fu-

turos(?) adultos” tem um papel muito mais decisivo na sociedade do que se possa imaginar. E, infe-lizmente, o descaso com ela faz com que todos colhamos aquilo que, como sociedade, temos plantado.Enquanto o pobre, preto, nor-

destino (grande maioria entre a população carcerária) continu-ar sendo explorado, social e eco-

Eles já foram punidos

nomicamente. Enquanto não nos responsabilizarmos pelo mal cole-tivo que o nosso comodismo – es-pecialmente em relação aos menos favorecidos – gera, a selvageria só irá crescer.Claro que, isso não exclui o fato de

a violência ser sempre injustificável. Assim, o autor, que mesmo com todos os condicionamentos, é “livre” para decidir não usá-la, deve ser punido.Mas, como diz o Promotor de

Justiça no Estado de São Paulo e mestre em Direito Público, José Heitor dos Santos , “no Brasil, a maioridade penal já foi reduzida: Começa aos 12 anos de idade. O maior de 18 anos de idade que prat-ica crimes e contravenções penais (infrações penais) pode ser pre-so, processado, condenado e, se o caso, cumprir pena em presídios. O menor de 18 anos de idade, de igual modo, também responde pe-los crimes ou contravenções penais (atos infracionais) que pratica” po-dendo ser “internado (preso), pro-cessado, sancionado (condenado) e, se o caso, cumprir a medida (pena) em estabelecimentos educacionais, que são verdadeiros presídios”.

Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente, uma conquista que parece querer ser abolida por alguns setores da sociedade, “ao adotar a teoria da proteção integral, que vê a criança e o adolescente (menores) como pessoas em condição peculiar de desenvolvimento, necessitando, em consequência, de proteção difer-enciada, especializada e integral, não teve por objetivo manter a impuni-dade de jovens, autores de infrações penais, tanto que criou diversas me-didas sócio-educativas que, na real-idade, são verdadeiras penas, iguais àquelas aplicadas aos adultos”.Enfim, no Brasil, como sempre, a

lei que pune já existe. Mas, a tal im-punidade crônica, protagonista em grande parte dos setores da socie-dade, não permite que a lei seja real-mente eficaz, tanto no que diz res-peito ao seu cumprimento, quanto ao desenvolvimento, levando sem-pre em conta o fato de que estamos lidando com seres humanos.Esses jovens assassinos, social-

mente, já nasceram punidos, sem di-reitos, família, vida. Se a punição não tem dado resultados, parece que é a hora de encontrar outras soluções. @

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O Outro

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Co-agir com o mundo

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Sempre ouvi dizer que as dif-erenças enriquecem o casa-mento. Posso garantir, sendo

casado com uma estrangeira, que essa é uma verdade fundamental.A diferença ajuda a gente a ser mais

completo, a ampliar as perspectiv-as, desenvolver nossa sensibilidade e, assim, errar menos. Ontem, tive mais uma prova dessa realidade.No final da tarde, entrei na inter-

net e descobri que tinham sido ex-plodidas duas bombas em Boston. Como jornalista, lendo os fatos que iam sendo apresentados pelos sites e redes de televisão, concluí, pelas evidências, que se tratava de um atentado terrorista.O evento na capital do estado Mas-

sachusetts tinha um simbolismo importante, local e nacionalmente. Duas explosões aconteceram du-rante a Maratona de Boston, a mais antiga do mundo (moderno), dis-putada há 117 anos, e que reunia atletas de todas as partes do mundo.Para relembrar: o ataque às Torres

Lição ao definir um atentado

Gêmeas foi realizado no coração econômico dos Estados Unidos (Nova Iorque), com dois aviões e em dois arranha-céus onde tra-balhavam uma vasta representação internacional.As semelhanças são muitas, mas

aqui emerge o valor da diferença: O jornalista é “treinado” para realizar uma leitura imediata dos fatos, para depois definir o evento. Assim, quando alguém perguntar “o que aconteceu?” ele, rapidamente, pode dar uma resposta clara e objetiva. Já uma especialista em relações inter-nacionais, como minha esposa, age de maneira diferente. Assim que eu defini o atentado em Boston como “ataque terrorista” ela, imediata-mente, disse que eu deveria tomar cuidado com a terminologia da definição. Não entendi o porquê. Os fatos falavam por si só, mas, passadas algumas horas, assistindo ao discurso de Obama, em que ele também tomou esse cuidado termi-nológico, me dei conta do quanto

é importante respeitar o tempo, a apuração mais aprofundada, mes-mo que a notícia “tenha que sair”.O termo “terrorismo” e a sua in-

strumentalização feita, especial-mente pelo governo Bush, produziu um mal histórico e serviu para justi-ficar a morte de inúmeros inocentes no Oriente Médio. A chamada “Guerra ao Terror” acentuou o ódio dos “fanáticos” e pode ser consid-erada uma das causas do discurso demente do ditador norte coreano.Definir como “atentado” sim,

porque foi. Mas incluir “terroris-mo” é afirmar que existe uma or-ganização “criminosa” responsável pelo ato de violência, não somente direcionado às pessoas presentes no momento da explosão, mas ao Es-tado estadunidense e o seu signifi-cado simbólico, como liderança do chamado Ocidente. Essa conclusão ainda precisa de tempo.Mais uma lição que aprendi

com as diferenças. Ainda bem que elas existem. @

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maio de 2013 - www.escrevologoexisto.com#8

Culturas

O drama do imigrante

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Ontem a noite, assistindo o Profissão Repórter, da Rede Globo, sobre a situação dos

bolivianos submetidos ao trabalho escravo no Estado de São Paulo, me lembrei da difícil realidade de viver imigrado.Por duas vezes, na Suíça e na Itália,

passei um período longo no “es-trangeiro” e pude experimentar, na pele, o quanto é difícil viver em uma sociedade que não é a nossa. Essas dificuldades surgem já pelo simples fato linguístico, climático e gastronômico. Três dimensões impossíveis de “escapar” e que, en-quanto não superadas, geram um sentimento de solidão tremendo, fruto, especialmente, da incomuni-cabilidade.Passado tudo isso (e é preciso ter

muita paciência e força de vontade), começa uma nova etapa na vida do estrangeiro: a legalização. Depois que entramos em determinado país, por motivo de estudo, trabalho ou casamento, é necessário prestar contas ao estado “acolhedor” e para isso, enfrentar momentos buro-cráticos, muitas vezes, humilhantes.Difícil esquecer a experiência vivi-

da na “Questura di Firenze”, a polícia federal local, responsável pela legal-ização dos imigrantes. Um lugar frio, com bancos duros, sem água para beber, um único e imundo banheiro, aspectos ainda mais dramáticos porque, para ser atendido, é preciso esperar, no mínimo, 5 horas.Essa falta de respeito do estado

italiano com os imigrantes tem ex-plicações. O número de cidadãos vindos do leste europeu, norte da África e da América Latina au-mentou muito nos últimos anos

e, proporcionalmente, diminuiu a paciência do governo da Itália (ain-da mais o país estando imerso em uma crise econômica e social avas-saladora).Porém, é sabida que a importân-

cia dos imigrantes, em um mundo globalizado, é fundamental para o desenvolvimento econômico. A circulação de pessoas promove dif-erentes ideias, costumes, soluções. Isso sem contar a aceitação de “sub-empregos” por parte dos imigrantes que, geralmente, os cidadãos, nati-vos de países de histórico econômi-co rico, não se submetem.Esse assunto, que parecia dizer res-

peito somente ao Velho Continente, tem crescido exponencialmente no Brasil. O drama de bolivianos, que cruzam a fronteira do país para tra-balhar e são escravizados nas ofic-

inas de costura, é emblemático. As causas são muitas, mas, finalmente, são sempre seres humanos e suas famílias, na maioria, pobres, que acabam sofrendo todo tipo de abu-so, desrespeito, colocando o Brasil na mesma condição de “explora-dor” que reclamávamos dos países europeus.Certamente não se deve ignorar

um grupo, minoritário, de imi-grantes que vem ao país para en-riquecer, aproveitando-se da “im-punidade crônica” brasileira. Esses devem ser investigados e convida-dos a retornar aos seus países. Con-tudo, todos aqueles que chegam ao Brasil a trabalho ou para estudar (e estando legalizados) devem ser val-orizados, respeitados em seus dire-itos (e obrigações) e, jamais, serem escravizados. @

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O Outro

maio de 2013 - www.escrevologoexisto.com#9

Intervenções urbanas de Eduardo Srur

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Todos os dias, durante o meu trajeto de retorno à casa, pedalando (claro!), passo pelo centro histórico de São Paulo.Liberdade, Praça da Sé, Rua Direita, Mosteiro de São Bento e Vale do Anhangabaú são as principais

atrações desse percurso cultural, que a vida de ciclista me permite admirar.Contudo, na última semana, passando por ali, me deparei com uma intervenção artística, muito interessante,

que me apresentou o inusitado artista plástico Eduardo Srur.Um Farol, coberto com 15 mil ratos de borracha, de 8 metros de altura, avisa “os navegantes” paulistanos,

sobre uma realidade, sempre escondida, do submundo da metrópole. Segundo o artista, São Paulo tem uma das maiores populações de ratos do planeta, com uma média de quase 15 por habitante.Eduardo Srur é famoso por suas intervenções a céu aberto na cidade de São Paulo – garrafas pets gigante ou

caiaques nos rios Pinheiros e Tietê -, instalações provocativas que denunciam o caos urbano.Uma das suas intervenções mais interessantes que vi no seu blog eduardosrur.tumblr.com foi a carruagem

em tamanho real, instalada no mastro da ponte estaiada e que compara a velocidade média de deslocamento de um carro no trânsito paulistano no horário de pico, com a velocidade de uma carruagem nos tempos do Império. Um artista interessante de conhecer. Made in Brazil. O que dá um orgulho especial. @

eduardosrur.tumblr.com

Culturas

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Eu

Uma comunicação que não é só informar

maio de 2013 - www.escrevologoexisto.com#10

Universo Wolton

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Uma das maiores descober-tas teóricas que fiz duran-te a “concepção” da minha

tese de mestrado foi a do conceito de comunicação normativa, que remete ao ideal da comunicação: informar, dialogar, compartilhar, compreender-se. O vocábulo «co-municação», em latim communi-catio, é derivado de communicare e significa ação (actio) de comunicar, partilhar, por em comum.Segundo Wolton, “de valor essen-

cialmente humanista, a dimensão normativa enfatiza a produção de consenso e está ancorada na frater-nidade, no respeito pelo outro no ambiente de diversidade cultural das sociedades modernas”.Este tipo específico de comunicação

se choca com a dimensão funcional, que, “como seu nome indica, ilustra o fato de que, nas sociedades modernas, muitas informações são simplesmente necessárias para o funcionamento das relações humanas e sociais”.As duas dimensões, normativa e

funcional, remetem aos dois sen-tidos do vocábulo comunicação, desenvolvidos ao longo do tempo. “O primeiro, mais antigo, significa compartilhar, comungar” e está an-corado na tradição judaico-cristã. “O segundo, usado a partir do sé-culo XVI, está ligado ao progresso técnico e remete à ideia de trans-missão e difusão”.Na verdade, o sentido moderno

de comunicação, essencialmente funcional, está profundamente conectado a outro vocábulo: a in-formação, que, segundo Wolton, “é produzir e distribuir mensagens o mais livremente possível”. Já o sen-tido antigo de comunicação (nor-

mativa) implica “uma relação entre o emissor, à mensagem e o recep-tor”. Assim, como explica o comu-nicólogo francês, “comunicar não é apenas produzir informação e dis-tribuí-la, mas também estar atento às condições em que o receptor a recebe, aceita, recusa, remodela, em função de seu horizonte cultural, político e filosófico, e como respon-de a ela. A comunicação é sempre um processo mais complexo que a informação, pois trata de um en-contro com um retorno e, portanto, com um risco”: a “incomunicação”.Outro aspecto importante da co-

municação se relaciona aos três campos em que ela se desenvolve: técnico; econômico; social e cultur-al, ambos fundamentais para que a mesma possa atingir um número “massivo” de pessoas.A comunicação moderna tem uma

relação forte com o campo técnico. Mas, ele somente cria a ilusão de que, quanto maior a quantidade de informação, mais os seres humanos estarão se comunicando. Para

Wolton “seis bilhões e meio de com-putadores não bastariam de modo algum para assegurar mais comuni-cação entre os homens. Quanto mais fáceis se tornam as trocas do ponto de vista técnico, mais se torna essen-cial e difícil satisfazer as condições culturais e sociais, para que a comu-nicação seja algo diferente de uma transmissão de informações”.Por isso, o aumento massivo da in-

formação em circulação, promovido pelo tecnicismo, cria na verdade dois problemas: “aquele das condições para satisfazer um mínimo de co-municação autêntica e o do respeito, que vai além da técnica e da econo-mia, à diversidade cultural”.Para concluir podemos dizer que a

palavra comunicação remete a três aspectos diferentes:

1) distinção entre as dimensões nor-mativa e funcional,2) os três campos em que ela se realiza

(técnico; econômico; social e cultural)3) a diferença entre o uso das técni-

cas e a comunicação em si mesma. @

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Eu

Superando a “Cacofonia da Babel

maio de 2013 - www.escrevologoexisto.com#11

Universo Wolton

eLemagazine

Nos estudos que fiz duran-te a produção da minha tese de laurea magistrale,

um dos aspectos que mais refleti foi a respeito da “incomunicação” existente no contexto atual. Mes-mo em um mundo que, segundo Wolton, “todo mundo vê tudo, ou quase tudo”, não se compreende melhor aquilo que acontece. “A visibilidade do mundo não basta para torná-lo mais compreensível”, afirma o comunicólogo francês.Wolton explica que o fim das

distâncias físicas proporciona-das pela globalização revela, na verdade, “a incrível extensão das distâncias culturais”. Mesmo que as técnicas sejam homogêneas, o mundo preserva sua essência het-erogênea.A sonhada “Aldeia Global” apre-

sentada pelo pensador canadense Marshall McLuhan é, na verdade, “cacofonia de Babel”. Para Wolton “hoje a facilidade de comunicar dá o falso sentimento de que seja mais fácil compreender-se”. Con-tudo, nas pontas dos canais e re-des de comunicação, encontramos frequentemente a incompreensão, para não dizer a “incomunicação”.Neste contexto emerge também

a questão da identidade. Histori-camente lutada, sofrida e conquis-tada com o sangue de muitos, é difícil a sociedade abrir mão dela. Assim, de maneira natural, quanto mais os homens entram na global-ização, mais eles querem afirmar suas raízes. Para o comunicólogo francês, tudo isso evidencia a ne-cessidade de, “quanto mais comu-nicação e trocas houver, mais será preciso respeitar as identidades”.

Na prática, o desafio da comu-nicação contemporânea é marca-do por constantes insucessos. Um exemplo simbólico é a da manip-ulação da informação feita pela rede de televisão americana CNN. Além de suscitar oposições cres-centes, desde a primeira guerra do Iraque (1991) e no pós 11 de setembro de 2001, a CNN, em vez de aproximar os pontos de vista, aumentou as distâncias culturais, exacerbando os maus entendidos.

O fato é que, como evidencia Wolton, “a globalização da infor-mação cria um processo que foge a todo o mundo”, do qual é difí-cil controlar. Por isso, afirma o comunicólogo francês, “é preciso pensar a comunicação consid-erando a diversidade cultural”, em que os diferentes povos e culturas sejam respeitados. “Não há infor-mação nem comunicação, sem o respeito do outro, do receptor”, afirma Wolton. @

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Eu

Um novo amor

maio de 2013 - www.escrevologoexisto.com#12

O amor é como uma brisa serena de outono, que en-tra e refresca o ambiente

abafado pelo verão. É tão delicado que passa despercebido, funde-se no cotidiano, nos sorrisos, beijos e abraços desinteressados. Esse “tal” sentimento existe! Não é ideologia, sentimentalismo, ilusão, engano.Foi esse amor que descobri em

um (re)encontro, no Aeroporto de Cumbica, dia 7 de fevereiro de 2010. Ali começava uma aventura difícil

Experiências

de comunicar, mais fácil, porém, es-pecialmente hoje, admirar.Os 24 anos da minha amada espo-

sa, Flavia, não são muitos. Sim, ela é muito nova. Nova para ser esposa e viver do outro lado do Atlântico, em outra cultura, distante da família. Nova para ter se arriscado em um amor “além das fronteiras” da segu-rança helvética. Muito Nova.Eu, claro, vejo de outra maneira. A

Flavia tem pressa pra ser feliz, para viver experiências grandes, fortes,

bonitas, desafiadoras e, claro, viver cada coisa JUNTOS.A novidade dessa vida se manifesta

na beleza do cotidiano. No descobrir o que o “outro” gosta, desenvolver a paciência, entender o valor da dif-erença. Tudo no dia a dia, simples, verdadeiro e, por isso, perfeito.O amor, mencionado, sentimento

ontologicamente simples, se mani-festa assim na sua, na nossa vida. Não é euforia, exagero, descontrole. É viv-er com Deus, entre nós e com uma multidão de “outros” maravilhosos, que nos aturam, ajudam e apoiam.Com a minha esposa redescobri o

significado subjetivo do Amor que, contudo, sempre se renova. A ex-plicação objetiva, que exprima o quanto viver dessa maneira VALE A PENA, talvez eu ainda seja muito novo para dar.

Texto em homenagem à minha esposa Fla-via e o início desse novo ano. Desejos de um amor que seja sempre capaz de se reno-var, nas três dimensões fundamentais.

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E aí, tá nervoso? Tudo bem? Nervoso? Como você se sente? Impossível contar

quantas vezes os convidados que encontrei na porta da igreja me fiz-eram perguntas do gênero. Mas não. Eu realmente não estava nervoso.Ninguém sabe, porém, o que tinha

se passado alguns minutos antes de vestir meu “vestido de noivo”.Sentado no quintal da casa onde a

família da Flavia estava hospedada, tive meu momento de intimidade com meu Deus. Olhando a natureza à minha volta, pensava nesse grande acontecimento da minha vida… todo

[1+1=3] Lembranças quatro meses depois…o caminho percorrido, as dificuldades, inúmeras crises, mas sempre acred-itando no Seu amor incondicional.Assim, por ser cristão, decidi rezar

um terço (a terça parte do Santo Rosário), oração que, para mim, é um momento de adoração e agra-decimento por tudo aquilo que Deus me permite viver.Depois daqueles minutos íntimos,

senti que estava “acompanhadíssi-mo” para o meu casamento. Por isso a ausência de nervosismo. Tinha me preparado 28 anos para aquele SIM ao Amor, então era impensável qualquer tipo de temor.

Passados quatro meses, completa-dos hoje, a certeza de que esse é o meu caminho é sempre maior. Fe-licidade grande, fruto de um amor construído e preservado com minha amada esposa. Uma escola de amor à diferença que enriquece.Contudo, a maior descoberta é

perceber que a felicidade do casa-mento se constrói em maneira “tri-pla”: No relacionamento pessoal com Deus, no “amar-se reciproca-mente” com a esposa e no abraçar à humanidade. Sem um desses pilares me parece impossível sentir-se ver-dadeiramente pleno. @

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maio de 2013 - www.escrevologoexisto.com#13

O medo de pedalar na cidadeUma das perguntas que mais me fazem, quando digo que sou ciclista em São Paulo há mais de 5 anos, é: você

não tem medo?Li recentemente uma frase bonita do Escritor e humorista norte-americano, Mark Twain: “Evitar a felicidade

com medo que ela acabe é o melhor meio de ser infeliz. Coragem é resistência ao medo, domínio do medo, e não ausência do medo”.A frase não tem ligação direta com o fato de eu ter optado a bicicleta como meio de locomoção, mas exprime

uma importante lição que todo ciclista urbano deveria aprender: resistir e dominar o medo, mas nunca perdê-lo.O medo nos ajuda a ser prudente. Faz lembrar que, no caos do trânsito, da falta de educação e respeito, nós

somos aqueles que mais arriscamos as nossas vidas, sobretudo pelo fato de estarmos mais desprotegidos. Esse importante sentimento nos ajuda a parar quando necessário, encostar a bicicleta, deixar passar um ônibus ou um táxi apressado.

Militante das pedaladas

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Contudo, tenho que dizer o quan-to é difícil exprimir, sendo ciclista, à felicidade fruto desse exercício de resistir e dominar o medo de peda-lar na cidade. Chegar todo dia ao trabalho depois de uma pedalada é uma sensação que todo paulistano, que vive há poucos quilômetros do trabalho, deveria experimentar. A bicicleta nos faz sentir mais vivos, ajuda a perceber onde estamos e val-orizar o fato de ter pernas, pulmão, coração… saúde (sem contar o au-mento de rendimento no trabalho). Isso me faz cotidianamente superar

o medo de algum incidente…Outra questão é a probabilidade de

que algo de ruim aconteça comigo. As estatísticas mostram que acon-tecem, proporcionalmente, mui-to mais acidentes com motoristas de automóveis e motoqueiros, que com os ciclistas. A questão da ve-locidade tem, penso, muito a ver com esse fato.Na bicicleta o verdadeiro perigo são

os outros. Desrespeito, pressa, de-satenção podem realmente causar problemas sérios a um ciclista. Por outro lado, cabe também a quem

pedala respeitar o trânsito: evitar calçadas, estar atento aos semáforos, dar passagem para ônibus, ambulân-cia, táxi não andar na contramão, não andar nas faixas centrais de ruas e avenidas com muito tráfego de automóveis. Enfim, procurar estar constantemente em harmonia com o ambiente e não querer se “impor” de maneira “agressiva”.Assim, com paciência, começa-

mos a lidar de maneira positiva com o nosso medo de pedalar na cidade, convivendo “pacifica-mente”, com ele. @

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maio de 2013 - www.escrevologoexisto.com#14

Lançado no final de 2012, A Origem dos Guardiões é um daqueles filmes que sabem transformar uma boa ideia em um filme divertido, inteligente.Nos últimos 20 a Pixar (Dis-

2012 – Peter Ramsey

A Origem dos Guardiões

Filmes memoráveis

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ney) ficou consagrada por unir crianças do passado e do presente em torno de um de-senho animado, capaz de con-quistar um vasto número de pessoas. Porém, nos últimos 5

Os filmes de Peter Jackson ren-ovaram a fantasiosa obra de J. R. R. Tolkien. A maravilhosa pro-dução de “Senhor dos Anéis” ar-rebatou bilheterias e criou uma legião de fãs que esperavam an-

2012 – Peter Jackson

O Hobbit: Uma Jornada Inesperada

anos, mais pela queda de qual-idade das animações lançadas, a hegemonia da “filha de Steve Jobs” acabou.A Origem dos Guardiões

demostra claramente esse novo momento do mundo as ani-mações. O filme tem uma ideia genial, como Detona Ralph, mas, diferentemente do filme da Pixar, é fundamentado em um roteiro fantástico, que prende e se desenvolve de ma-neira cativante. No filme, as crianças do

mundo inteiro são protegidas pelo Papai Noel, a Fada do Dente, o Coelho da Páscoa e Sandman. São eles que gar-antem a inocência e as lendas

infantis. Mas um espírito ma-ligno pretende transformar todos os sonhos em pesadelo. Assim, para combater este ad-versário poderoso, a Lua des-igna Jack Frost, um garotinho invisível que controla o in-verno, como novo guardião. Sem conhecer sua própria vocação de guardião, ele em-barca em uma aventura na qual vai descobrir tanto sobre as crianças, quanto sobre seu próprio passado.Sem dúvidas, esse foi o melhor

filme do gênero, do ano passa-do, que eu pude assistir. Vale muito a pena.

Rating (IMDB): 7,3/10

siosamente o prólogo da Trilo-gia: a história de Bilbo Bolseiro.A obra literária “O Hobbit”,

transformada em filme, é única. Mas, infelizmente (e certamente por motivos econômicos) será

contada em uma trilogia cin-ematográfica. Digo “infeliz-mente” pois, além de não gostar do aproveitamento econômico exagerado de um filme, acho que essa “extensão” tira a ca-pacidade de síntese do diretor, a possibilidade de criar outra experiência, similar e ao mesmo tempo diferente daquela que se tem quando se lê um livro.Na história de O Hobbit, o

mago Gandalf e os 13 anões que formam sua companhia contratam Bilbo Bolseiro para uma aventura até a Montanha Solitária, onde tentarão recu-perar os pertences dos anões que foram roubados pelo dragão

Smaug. É graças a ela que Bilbo encontra o anel que desencadeia a trilogia O Senhor dos Anéis.Quando a primeira parte do

filme acabou, me senti um pou-co traído. Respeito a escolha da trilogia (o meu filme favorito, Matrix, faz parte de uma), mas me parece mais honesto que, mesmo que o enredo se conclua no final do terceiro filme, é dev-er do diretor criar uniformidade para cada parte da trilogia.Vamos esperar… talvez no fi-

nal dos três filmes as escolhas de Jackson sejam mais com-preensíveis.

Rating (IMDB): 8,2/10

1999 – Martyn BurkePiratas do Vale do Silício

Steve Jobs era um gênio. Dis-so é difícil duvidar. Diferen-temente de outros grandes nomes da história, ele viveu em uma era saturada de infor-

mação, ideias e, mesmo assim, conseguiu inovar.Jobs não era um criador, mas um

transformador. Ele sabia reunir mentes brilhantes e, com uma in-tensidade assustadora, trabalhar em sinergia para construir um produto plenamente integrado.Contudo, Steve não foi a única

mente fantástica a se tornar per-sonalidade no Vale do Silício (região no oeste dos EUA onde está situado um conjunto de

empresas implantadas a par-tir da década de 1950, com o objetivo de gerar inovações científicas e tecnológicas, destacando-se na produção de Chips, na eletrônica e in-formática). Além dele, outro grande nome do universo da tecnologia surgiu paralela-mente: Bill Gates.Com princípios e filosofias

distintas, o filme mostra a ju-ventude dos dois protagoni-stas e seus coadjuvantes que sonhavam em revolucionar o mundo da informática. Am-

bos conseguem, cada um do seu jeito. No período de lança-mento do filme, Bill Gates era o homem mais rico do mundo, Jobs ainda não lançara o iPod e a Apple beirava a falência.O filme tem uma narrativa

simples e é interessante para quem deseja conhecer um pou-co da biografia desses person-agens curiosos do século XX, que influenciam a nossa vida, muito mais do que possamos perceber.

Rating (IMDB): 7,1/10

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Sakamoto no Provocações

O bom da TV

seus escritos. Tenho que dizer que gostei mais das escolhas editoriais, dos assuntos abordados, que da for-ma com que ele escreve. Talvez, tive azar e acabei não lendo o melhor do blogueiro.Contudo, reconheço e admiro

muito o trabalho realizado pelo Sakamoto, no seu blog e por meio da ONG Repórter Brasil, que de-nuncia a exploração escravagista e ambiental, ainda (infelizmente) muito presentes no Brasil.Abujamra teve pouco trabalho

com o entrevistado, pela sua aber-tura, comunicabilidade (acredito pelo fato de ser comunicador) e, so-

Aproveitando que, no post anterior, acenei sobre a questão da exploração do

imigrante no Brasil, gostaria de recomendar a excelente entrevista de Abujamra com o blogueiro (e jornalista), Leonardo Sakamoto. A surpresa positiva foi ver a simplici-dade e (aparente?) honestidade do blogueiro, enquanto respondia as diferentes perguntas sobre a edu-cação e o trabalho escravo.Confesso que não acompanho os

textos do Sakamoto. Por desinter-esse mesmo. Por isso, assim que acabou a entrevista, dei uma entra-da no seu blog para ler alguns dos

#15 eLemagazine

Antes de ir conferir no wiki-pedia, poderia jurar que a jornalista Eliane Brum é

gaúcha, pelo sotaque e pelos “tiques regionalistas” que eu só encontrei nos meus amigos do extremo sul do Brasil. E eu acertei.Natural de Ijuí, pequeno município

gaúcho de quase 80 mil habitantes, Eliane Brum é hoje colunista da re-vista Época. Formada pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS), em 1988, Eliane

Eliane Brum no Provocaçõesganhou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem.Já havia visto que muitos dos meus

colegas jornalistas “partilhavam” al-guns dos seus textos na rede social, mas nunca tive o desejo de parar para lê-los. Contudo, quando vi que o grande Abujamra tinha entrevis-tado Eliane, fui correndo assistir, almejando descobrir os motivos de tanto prestígio.Diante de Abujamra, Eliane Brum

falou de jornalismo e humildade, escuta, silêncio, lembrando-me do livro que estou len-do atualmente, do “mass-midiologis-ta” italiano Michele Zanzucchi: “Il silen-zio e la parola. La luce”, que apresenta justamente o silên-cio como “princip-io esquecido” na

profissão do jornalista.“Eu não falo daquilo que eu não

vou ver”. “A periferia e a Amazônia são abstrações”. Duas frases, que no discurso de Eliane não estavam dire-tamente ligadas, mas que têm quase uma relação causa-consequência ao inverso. Hoje, grande parte da popu-lação rica do país e também os “po-bres ignorantes” exclui o contexto periférico das cidades, da sua con-cepção de espaço publico. E mes-mo os intelectuais que defendem os direitos dos marginalizados, tiram conclusões por meio de livros, notí-cias de jornais… transformando a ignorância em cultura.Sinceramente, não achei a Eliane

uma boa entrevistada. Mais pelo jeito um pouco irritante, o tom de voz e uma certa antipatia. Provavel-mente ela se dá melhor entrevistan-do. Contudo, é inegável a importân-cia do seu discurso, sendo assim um programa que vale a pena ver. @

bretudo, pela sua despreocupação com as críticas a respeito do que ele realiza (o que, porém, pode ser vis-to como um aspecto negativo da sua postura).Enfim, acho que vale muito a pena

assistir! Mesmo que, exclusiva-mente, para conhecer melhor o jo-vem blogueiro.@

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Site produz notícias “na medida das crianças”

O bom da Internet

Se a linguagem da informação é já um problema para adultos, imagina então para crianças? Hoje elas têm acesso a um “universo despido,” mas pouco entendível. Produzir notícias para meninos e meninas, de ma-neira explicativa, didática, é uma aventura que raramente os meios de comunicação em geral embarcam.Dentro deste cenário, tive uma surpre-

sa boa quando entrei no RECONTAN-DO: Jornalismo na medida para cri-anças (recontando.com). Mesmo não divulgando notícias atualizadas, eles adaptam aquilo que sai no jornal à re-alidade e o entendimento das crianças.Nos últimos dois meses o site tem

Recentemente, o jornal onde tra-balho, recebeu um email de um acadêmico importante corrigindo o artigo de um colaborador, que usou equivocadamente um termo.O pedantismo do crítico foi, porém,

muito positivo, pois nos fez perce-ber a importância do cuidado com o conteúdo que publicamos mas, acima de tudo, nos ajudou a refletir a respeito de um instrumento fun-damental, no trabalho de qualquer publicação: A LINGUAGEM.No mundo da bola de neve da in-

formação… que se dispõe mais a in-formar que a comunicar, algo existe, é real, se saiu na mídia. Contudo, na prática, não é bem assim. Qualquer informação “mal dada”, incapaz de gerar entendimento, é só “lixo co-municacional”, ou melhor, e para citar Wolton, “incomunicação”.

ganhado projeção na mídia bra-sileira. Além das notícias em vídeo, aparentemente recomendada para crianças acima dos 7 anos, o site também dispõe de desenhos para colorir e história em quadrinhos.Simples, mas audacioso. Estou

torcendo muito para que o projeto dê certo e que as notícias (que, contudo, precisam ser feitas com seriedade e qualidade ética) ajudem as crianças a descobrir e entender o mundo. Tudo isso, porém, não substitui o papel dos pais no caminho formativo dos filhos.IMPORTANTE: Informação não

é formação! Nenhum jornal tem compromissos científicos (ainda mais a grande imprensa brasileira), mas sim um projeto editorial. A in-formação jornalística é sempre uma visão parcial da verdade e que, mui-tas vezes, pode estar equivocada.@

#16

Mistério Sentimentos em palavras

Poesia encomendada

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Olhos brilhantes,que o Céu revelam.Cativante sorriso,Expressão do belo. Amar-te:Interminável ciclo.Que se renova em cada abraço.Simplesmente, plenamente,sou Feliz do que faço

E quando ti amo è sempre vero,sentimento sincero.Com a ginga do portuguêso la poesia dell’italiano,Passam dias, horas ao teu ladoe sempre mais:TE AMO.

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