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ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO DE RECURSO DIDÁTICO VOLTADO AO ENSINO FUNDAMENTAL: DESMISTIFICANDO A MICROBIOLOGIA
Joyce Elaine Cristina BETONI1 Ary FERNANDES JUNIOR2
Resumo: O trabalho teve por objetivo o desenvolvimento de um recurso didático composto de meio de cultura e estufa microbiológica; ambos de custo relativamente baixo e com utilização de materiais alternativos de fácil obtenção. Foram realizadas aulas práticas para salas de 5ª e 8ª series, utilizando o material didático preparado. Para avaliar se o aprendizado foi significativo, utilizou-se das análises de imagens gráficas (comparando o conhecimento prévio com o adquirido) e de questões objetivas. A utilização destes materiais alternativos para confecção do recurso didático se mostrou adequada ao uso como grande aliado do ensino e visualização dos microrganismos. Pela análise das imagens gráficas e questões respondidas pelos alunos, verificou-se que o processo de ensino-aprendizagem foi significativo.
Palavras-chave: recursos didáticos; microorganismos; aulas práticas; desenho; ensino fundamental.
INTRODUÇÃO
Moura et al. (2001) consideram que “o desenvolvimento da sociedade fez com
que o ser humano entendesse que ciência é cultura e cultura científica é parte do processo
cultural dessa sociedade” e a ciência deve ser um instrumento transformador do mundo, como
uma das formas mais sofisticadas do pensamento humano, devendo ser fornecida aos alunos
através da escola”.
Para Maldaner & Zanon (2002), o ensino de ciências na escola pode
desenvolver novas consciências e, conseqüentemente, as potencialidades da vida na
sociedade e no ambiente.
Mas para que ocorra uma construção do conhecimento científico, devem ser
rompidas as barreiras da ciência pronta e acabada vigente nas unidades escolares,
responsáveis pela redução da dimensão investigativa e cristalização do ensino, fazendo com
que o “o estudante perceba-se como sujeito do processo educativo, tornando-se um ser crítico,
pensante e atuante na sociedade” (Moura, 2001).
No entanto, para os alunos, existe um alto grau de desvinculação entre a
atividade científica e a vida cotidiana. Em geral, entre eles não há consciência a respeito da
medida em que a atividade científico-tecnológica participa e afeta nossa realidade diária. A
imagem do cientista na sociedade corresponde a estereótipos muito marcados. Por causa
1 Licenciada em Ciências Biológicas (IB/UNESP/Botucatu); Bolsista Núcleo de Ensino 2006 2 Docente do Departamento de Microbiologia e Imunologia (IB/UNESP/Botucatu); Orientador
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disso, para os alunos, a ciência escolar é rotineira, é chata, pouco útil e muito difícil e
consequentemente, a aprendizagem em Ciências pode ficar comprometida.
Segundo Borges (1996), a aprendizagem pode ter como ponto de partida,
concepções sobre a natureza que os estudantes trazem para a escola, onde novas situações
serão interpretadas a partir do que conhece ou reconhece. Sendo assim, a utilização de
recursos didáticos pode favorecer a aprendizagem, proporcionando que os conhecimentos
prévios dos alunos se relacionem aos conhecimentos novos apresentados.
No desenvolvimento de materiais didáticos, a interdisciplinaridade pode ser
alcançada na apresentação de problemas reais enfrentados pelos alunos em seu cotidiano e
no desenvolvimento do seu processo de aprendizagem. É exatamente na resolução de
problemas concretos, oriundos da vida real, que as diversas disciplinas interagem entre si e
possibilitam ao aluno o desenvolvimento de novas competências cognitivas.
Neste contexto, as aulas práticas podem satisfazer estes aspectos, pois têm
como função “despertar e manter o interesse dos alunos, envolver os estudantes em
investigações científicas, desenvolver a capacidade de resolver problemas e compreender os
conceitos básicos” (Krasilchic, 2004).
Para Lima et al. (1999), as atividades práticas permitem um diálogo entre teoria
e prática, pautando não somente pelo conhecimento científico, mas pelas hipóteses e saberes
realizados pelos alunos mediante um desafio: “Os experimentos podem proporcionar um
diálogo entre os conhecimentos prévios dos estudantes e as formas particulares de
entendimento consagradas pelo pensamento científico”. Para estes autores, o experimento
deve extrapolar os limites do laboratório para a vivência dos estudantes e no cotidiano da sala
de aula, educando-os para um outro olhar.
O reconhecimento da necessidade e pertinência das atividades práticas
encontra respaldo em teorias sobre o desenvolvimento do pensamento na criança.
A partir das considerações de Piaget (1975), podemos considerar que os alunos
do 3º. Ciclo do ensino fundamental encontram-se no período operacional concreto; período em
que se utilizam de esquemas conceituais para resolver atividades práticas/concretas; fase
onde o raciocínio e o pensamento adquirem maior estabilidade; a capacidade para raciocinar
torna-se gradativamente lógica e menos sujeita às influências das contradições perceptuais
aparentes. Nesta fase, eles podem compor informações em sistemas de representação, a
associá-las, invertê-las, correspondê-las umas às outras, procurando uma forma sempre mais
abstrata e metódica de combiná-las; com raciocínio indutivo, mas podem apresentar
dificuldades de operar com princípios abstratos quando estes estão ligados a objetos
específicos. Neste estágio, o aluno pode ser capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair
dados da realidade. Apesar de não se limitar mais a uma representação imediata pode, ainda,
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depender do mundo concreto para abstrair. Já os alunos do 4º. Ciclo podem encontrar-se no
período operacional formal, que compreende a faixa etária a partir dos 12 anos. Nessa fase, se
desenvolvem os raciocínios hipotético e dedutivo e as proposições lógicas, ocorrendo o
desenvolvimento máximo das estruturas cognitivas. A principal tarefa desse período é aprender
como pensar a respeito de idéias tanto quanto de objetos. Ë possível começar a pensar sobre
coisas imaginárias e ocorrências possíveis; se tornar capaz de buscar a resposta de um
problema de maneira sistemática e metódica, adquirir uma lógica dedutiva; mas nem todas as
pessoas conseguem desenvolver o pensamento formal. Segundo Wadsworth (1996) é neste
momento que as estruturas cognitivas alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento. A
representação agora permite uma abstração total, não se limitando mais à representação
imediata e nem às relações previamente existentes. Agora o aluno é capaz de pensar
logicamente, formular hipóteses e buscar soluções, sem depender mais só da observação da
realidade. Em outras palavras, as estruturas cognitivas do aluno podem alcançar seu nível mais
elevado de desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar o raciocínio lógico a todas as classes
de problemas.
Mesmo com o reconhecimento de características do desenvolvimento cognitivo
em alunos de 5ª a 8ª Série, verifica-se que quando tópicos sobre microorganismos são tratados
no ensino fundamental, a abordagem que os alunos tem sobre o assunto é meramente teórica;
quando muito com a visualização de figura existente no livro didático. Como não há observação
desses seres, as aulas acabam se tornando subjetivas, deixando por conta do aluno a tarefa
de imaginar como seria um microorganismo.
Um dos fatores que dificulta a realização de experimentos sobre microbiologia
nas salas de aula, é o fato dos materiais serem normalmente de custo elevado; inviabilizando a
sua utilização no dia a dia da sala de aula. O desenvolvimento de técnicas e/ou utilização de
materiais alternativos, em especial de baixo custo, acaba sendo um atrativo a mais no
desenvolvimento deste como quaisquer outros recursos didáticos.
Desse modo, o presente projeto teve como objetivos elaborar, produzir, utilizar e
avaliar materiais didáticos de custo relativamente baixo e de fácil obtenção sobre
microrganismos; com ênfase para o crescimento de bactérias em meios de cultura.
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DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA
Elaboração e produção do material didático
Foram elaborados e produzidos três materiais didáticos: meio de cultura, estufa
microbiológica e pranchas ilustrativas da morfologia bacteriana.
1. Meio de Cultura: foi preparado com ingredientes considerados de baixo custo e de fácil
obtenção nos mercados locais da cidade. Para facilitar a elaboração dos meios de cultura, as
quantidades foram transformadas em colheres por volume de meio desejado, visando
dispensar uso de balanças:
- Agar (30g = 4 ½ colheres das de sopa)
- Açúcar Cristal (10,4g = 1 ½ colher das de chá)
- Caldo de Carne em pó - tipo “Sazón” (4g = 4 ½ colheres das de café)
- Levedo de Cerveja (7,2g = 1 ½ colher das de chá)
- Água destilada (1 L)
- Guache escolar (3 frascos de 15g)
Após a quantificação dos componentes do meio de cultura, prodecedeu-se a
mistura dos mesmos em uma panela (ágar, açúcar, caldo de carne e levedo de cerveja);
acrescentando por último a água destilada. Em seguida o recipiente contendo este material foi
levado ao fogo, até ponto de fervura mexendo por período suficiente para que a mistura
adquirisse uma consistência mais espessa, quando foi feita a mistura da quantidade de tinta
guache escolhida para dar tonalidade ao meio de cultura. Em seguida foi feita a distribuição
dos volumes do meio de cultura em potes plásticos descartáveis com tampa (∅ = 6cm, altura =
6cm). A quantidade de meio nos potes variou de 20 a 25ml, necessários para obtenção de uma
coluna de meio de 0,5 cm. A solidificação do meio ocorre em um tempo bastante curto
(aproximadamente 5 minutos), estando pronto para o uso após o resfriamento.
Importante destacar a necessidade dos potes contendo o meio de cultura, serem
mantidos em temperatura de geladeira até o momento do uso; no caso de não serem utilizados
logo após o preparo. Tal cuidado deve ser tomado quanto ao estoque dos potes, pois como o
mesmo não é esterilizado, corre-se o risco de haver crescimento microbiano imediatamente ao
seu preparo. Se conservado em geladeira, o material ainda pode ser usado em até 3 dias após
o preparo.
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Depois de realizadas as práticas, o material deve ser preferencialmente
descartado por meio da incineração; pois apesar de terem sido coletados de locais comuns,
requerem uma atenção especial devido a enorme quantidade de microorganismos que se
multiplicaram. Caso o acesso à incineração seja difícil, colocar desinfetante nos potinhos por
um período de 24 horas e, somente após esse período, o material pode ser descartado com
segurança.
2. Estufa Microbiológica: visa dar temperatura adequada ao cultivo dos microrganismos
semeados no meio de cultura. Foi preparada com a utilização de material fácil obtenção. Foram
utilizados os seguintes materiais para a confecção da estufa microbiológica:
- caixa de papelão
- fita dupla face ou cola branca (para encapar a caixa)
- placas de madeira tipo MDF
- lâmpada incandescente de 40 W
- termostato de aquário comum
- fio elétrico paralelo de 1,5 mm2
- 1 soquete para lâmpada elétrica
- 1 tomada de dois pinos
- parafusos vários tamanhos
- papel laminado para encapar o interior
- papel veludo para acabamento externo da caixa
- cinta elástica para fechamento da estufa
A montagem da estufa microbiológica requereu utilização de ferramentas
comuns; como alicate, chave de fenda e furadeira. A montagem da estufa está detalhada na
Figura 1.
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Em uma das pontas do fio, descascá-lo aproximadamente 3 cm
Torcer o fio e enrolá-lo Encaixar os fios nos parafusos do
soquete; parafusar e prender os fios
Na outra ponta do fio, descascá-lo aproximadamente 2 cm, e torcer
Encaixar os fios na tomada e parafusá-los para fixação
Parte elétrica pronta
PARTE ELÉTRICA
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Parafusar as laterais na base Fixar a cantoneira nas laterais e na base e fixar o soquete na cantoneira
Rosquear a lâmpada
A caixa foi encapada com papel laminado (internamente) e papel
aveludado (parte externa); Colocar a base montada dentro da caixa
Acrescentar o termostato e a outra placa furadinha (ligar a tomada do
soquete no termostato, e o termostato na tomada)
A estufa está pronta!
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3. Pranchas Ilustrativas: Foram confeccionadas pranchas (66 x 50 cm); em folhas de cartolina
sobre microrganismos. As figuras foram obtidas de várias fontes, em especial disponível em
páginas da internet específicas sobre microrganismos.
Utilização e avaliação do material didático
O material foi utilizado durante período normal de aulas para uma sala de 5ª e 8ª
séries de uma Escola Estadual de um Distrito do Município de Botucatu, S.P.; compreendendo
um total de 62 alunos, sendo 37 da 5ª e 25 da 8ª série. Ao todo foram utilizadas 3 aulas de 50
minutos cada, sendo necessárias 2 aulas no primeiro dia para execução das práticas, e outra
no segundo dia para a leitura do material e reforço dos conceitos desenvolvidos na primeira
aula.
A sondagem sobre a aquisição de conhecimentos foi realizada através de
imagens gráficas produzidas pelos alunos antes e após a utilização dos materiais e por meio
de questões objetivas.
Considerando a importância do uso das imagens gráficas, Ferreira (1998) indica
que a criança não reproduz uma realidade material através do desenho, mas a realidade
conceituada. É possível acrescentar também que o desenho deve exprimir um conhecimento
conceitual que ela tem de uma realidade construída socialmente e registrada na memória.
Neste caso a imaginação se faz muito presente, estando também vinculada às experiências
acumuladas pelo sujeito (Vigotsky, 1991). Finalizando o autor sugere que a criança não faz um
desenho de observação, mas sim de memória e imaginação. Segundo Luquet (1969), embora
com a intenção de desenhar aquilo que vê, a criança desenha aquilo que sabe do objeto.
Ao todo foram quatro experimentos, elaborados com objetivo de introduzir o
material didático; sendo utilizado para isto um roteiro, para que os alunos acompanhassem os
procedimentos a serem seguidos. O material em questão foi utilizado visando sempre
apresentar aspectos do cotidiano dos alunos, como por exemplo, a ampla distribuição dos
microrganismos nos ambiente; desenvolvimento de hábitos de higiene; existência de
substâncias com ação antimicrobiana.
Inicialmente foi pedido para que os alunos desenhassem a idéia que tinham
sobre um microorganismo, visando avaliar o conhecimento prévio dos alunos sobre o assunto
de microbiologia. Em seguida foi dada uma introdução sobre o assunto, com ênfase para as
bactérias, utilizando-se das pranchas que ilustram a morfologia bacteriana. Após a explicação
introdutória, o material para a aula prática foi distribuído, e os alunos divididos em grupos de 5
pessoas. Para a realização dessa prática, foram necessárias duas aulas de 50 minutos cada.
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Como parte da primeira atividade foi sugerido aos alunos que coletassem
material de diversos lugares, seguindo a curiosidade dos mesmos quanto à escolha do local de
coleta. Assim, no geral, foram escolhidos locais tais como: sola do tênis, chão, lousa, carteira
escolar, entre outros; além de partes do próprio corpo, como por exemplo, umbigo, orelha,
pele, mãos. Para tal coleta de materiais foram fornecidas aos alunos hastes de algodão tipo
“cotonetes” umedecidos com solução fisiológica.
O objetivo da segunda atividade foi demonstrar a importância de se lavar as
mãos. Primeiramente os alunos coletaram material de suas mãos e semearam em um dos
potinhos e posteriormente, testaram a ação dos diferentes agentes (álcool, água sanitária,
merthiolate e sabonete). Para esse teste, um dos alunos do grupo aplicava em sua mão um
dos agentes citados, e em seguida, recolhia uma amostra deste local para que fosse semeado
nos potinhos, e posteriormente verificar a eficácia destes agentes no combate aos
microorganismos.
A atividade 3 visou testar a potencialidade de um antibiótico (Amoxilina 500mg) e
do alho (uma planta considerada também medicinal) frente aos microorganismos; fazendo com
que os alunos visualizassem a demonstração de sua atividade antimicrobiana.
O material semeado pelos alunos foi incubado, na estufa desenvolvida no
presente projeto, a 37ºC/24horas; para verificação do crescimento bacteriano. Após o período
de 24 horas aconteceu a terceira aula, necessária para visualização dos resultados.
Na terceira aula, cada grupo recebeu explicação sobre os resultados possíveis e,
em seguida, confeccionaram lâminas a partir de colônias crescidas nos respectivos potes.
Nessa quarta atividade, para a confecção das lâminas, cada grupo coletou com o cotonete
umedecido, uma amostra do material que havia crescido, e aplicou na superfície da lâmina,
seguido de fixação do esfregaço pela passagem da lâmina na chama. A coloração foi realizada
com violeta genciana. Em seguida as lâminas foram observadas ao microscópio óptico
comum, utilizando maior aumento e óleo de imersão, para que pudessem observar a
morfologia dos microorganismos.
Ao término da terceira e última aula, novamente foram entregues fichas aos
alunos para que expressassem, na forma de desenhos, suas idéias sobre microorganismos.
Este procedimento teve por objetivo comparar os desenhos iniciais, feitos pelos alunos na
primeira aula; com os desenhos finais, preparados na última aula. Esta comparação teve por
objetivo verificar os conhecimentos adquiridos pelos alunos durante a realização das aulas
teórico-práticas sobre microrganismos.
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Ao final de tudo, foi entregue um questionário com duas questões objetivas que
exigiam justificativas. A primeira tinha por objetivo verificar se o aluno sentiu-se motivado pela
aula prática e justificar por que gostou ou não. A segunda questão visou verificar se houve
algum tipo de aprendizado com a execução das práticas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os meios de cultura preparados, bem como as atividades pertinentes ao uso do
recurso didático, mostraram-se eficientes quanto à aplicabilidade. Verificou-se um crescimento
abundante das bactérias dos mais variados locais coletados durante as práticas; com colônias
de aspecto característico. Os meios de cultura de cores vermelha, azul e preto foram os que se
mostraram melhores quanto à visualização das colônias.
As amostras coletadas do chão e da sola do tênis apresentaram um bom
crescimento, permitindo a visualização de uma diversidade de microorganismos. (Figura 2)
Essa prática foi importante, pois possibilitou que os alunos tivessem uma idéia
da quantidade e da diversidade de locais onde os microorganismos poderiam ser encontrados;
inclusive não associando a presença destes somente a doenças. Foi enfatizado que tais
microorganismos podem ser encontrados em todos os locais, inclusive na nossa microbiota
natural, nem sempre sendo prejudiciais.
A prática que objetivava desenvolver a consciência de higiene, também foi muito
produtiva, mostrando visivelmente bons resultados: ausência de crescimento onde os agentes
foram utilizados (álcool, água sanitária, merthiolate). Os potes de alguns grupos apresentaram
crescimento após o uso do sabonete; talvez pelo fato dos alunos não terem lavado bem as
mãos antes da coleta do material.
A terceira prática, possibilitou a visualização da importância do uso de
antibióticos (amoxilina) e plantas medicinais; como o alho no combate aos microorganismos. O
crescimento que ocorreu nos potes ficou muito bom de ser visualizado, exatamente como o
esperado. (Figuras 3 e 4)
Figura 2: Superfície do meio de
cultura com crescimento microbiano
(colônias), isolado a partir de material
coletado no chão da sala de aula
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Era visível de se notar a ausência de crescimento ao redor do papel de filtro,
indicando que a substância presente no papel de filtro se difundiu no meio de cultura e impediu
o crescimento daqueles microorganismos presentes.
Quanto à última prática, os alunos demonstraram muito interesse em observar
pelo microscópio o material que eles mesmos coletaram; gostaram muito de desenhar o que
viram segundo suas observações e principalmente, gostaram muito de manusear o
microscópio. Essa prática possibilitou o encerramento dos temas.
O tema proposto foi abordado sobre diversos aspectos: primeiro eles viram o
macro, que foi o material que cresceu no meio de cultura (morfologia das colônias), o que era
visível a olho nu; depois, observaram ao microscópio óptico, e com o aumento das lentes,
puderam visualizar formas que não podiam ser vistas a olho nu, bactérias individualizadas, não
mais um aglomerado delas; sendo essa imagem uma ampliação da observada nos meios de
cultura. Por fim, observaram as pranchas com fotos, obtidas com auxílio da microscopia
eletrônica de varredura e de fluorescência, podendo observar as bactérias sob um aumento
ainda maior, com um nível superior de detalhamento.
Os desenhos produzidos pelos alunos possibilitaram a expressão de
conhecimentos prévios sobre microorganismos e de conhecimentos elaborados após o
desenvolvimento das aulas práticas sobre microrganismos, favorecendo a análise da
adequação dos materiais e atividades descritos neste estudo.
Em relação aos alunos da 5ª série, apenas 11 dos 31 desenhos iniciais
mostraram alguma coerência com a forma de um microorganismo ou indicaram situações que
de certa forma sugeriam algum tipo de infecção ou doença, como ilustrado abaixo (Figura 5).
Figura 3: Ação do antibiótico (note a
ausência de crescimento, formando um
halo, ao redor do papel de filtro)
Figura 4: Ação do alho (sem
crescimento ao redor do papel de filtro)
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Alguns exemplos de desenhos que não relacionados com as situações acima, podem ser
observados na Figura 6.
Figura 5: Desenhos realizados antes das práticas: formas próximas a microorganismo/doença (5ª série)
Figura 6: Desenhos realizados depois das práticas: sem relação de forma com microorganismos (5ª série)
Nos desenhos produzidos após as atividades e utilização dos materiais,
verificou-se que, de uma maneira geral, todos os alunos foram capazes de desenhar os
formatos corretos das bactérias, de acordo com o que foi apresentado nas atividades; tanto
pela observação dos cartazes quanto pela observação destes seres no meio de cultura e ao
microscópio (Figura 7).
Figura 7: Desenhos realizados após as práticas (5ª série)
Para finalizar as atividades, foi apresentado um formulário, cuja primeira questão
era: “Você gostou dos experimentos? Por que?”. Verificou-se unanimidade quanto a ter
gostado da execução dos experimentos, justificando tal resposta segundo vários motivos; entre
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eles: o fato de aprender sobre microorganismos; aprender mais e coisas novas; e por ser
divertido, interessante e diferente.
A segunda pergunta: “Você conseguiu aprender alguma coisa nova com as
práticas? O que?”; objetivou verificar se o material produzido trouxe algum conhecimento novo
aos alunos. Novamente verificou-se unanimidade na resposta, pois todos responderam que
aprenderam algo novo; dentre eles: questões de higiene, sobre bactérias, plantas medicinais e
doenças.
Com relação aos desenhos iniciais realizados pela 8ª série, dos 43 desenhos
iniciais, 19 demonstraram contextualização sobre doenças e formas de microorganismos
(Figura 8).
Figura 8: Desenhos iniciais feitos por alunos de oitava serie, demonstrando uma contextualização com o assunto
microorganismos (doenças e morfologia) (8ª série)
Mas 24 alunos produziram desenhos que não expressavam relação direta com
microorganismos, como ilustrado pelo desenho a seguir:
Figura 9: Desenhos iniciais de alunos de oitava serie, não demonstrando correlação com o tema microorganismos
(8ª série)
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O fato de uma maior noção sobre microorganismos quando comparado com a
quinta serie, pode estar no fato dos alunos da oitava serie já terem tido contato com algum
conhecimento sobre esse assunto no decorrer dos anos e se encontrarem em fases diferentes
de desenvolvimento.
Depois do desenvolvimento das atividades e utilização dos materiais, verificou-
se que em todos os desenhos houve a representação correta de microrganismos. (Figura 10)
Figura 10: Desenhos realizados após a execução das práticas (8ª série)
Finalizando as atividades com os alunos da oitava série; questionamos se
haviam gostado ou não dos experimentos e houve unanimidade quanto ao aspecto positivo das
atividades. A explicação por terem gostado dos experimentos foi pelo fato de terem aprendido
coisas novas e interessantes ou por terem gostado do assunto; ou ainda pelo fato de não terem
aulas práticas com freqüência; respostas essas gerais. Porém, foi possível notar um grupo de
respostas com mais objetividade, que indicava o conteúdo aprendido (formatos; lugares em
que vivem e questões de higiene).
Quando questionados sobre o conteúdo aprendido, a maioria diz ter aprendido
sobre os vários tipos, formas e nomes e locais onde bactérias poderiam ser encontradas. A
importância de lavar as mãos de certa forma ficou bem clara para os alunos, pois ressaltam
aspectos importantes de higiene e limpeza; além da possibilidade de utilizar alguns produtos
como água sanitária, álcool, anti-séptico do tipo merthiolate, antibióticos e plantas medicinais
para eliminar os microorganismos.
Face ao desenvolvimento das práticas e os resultados obtidos com o
crescimento dos microorganismos, pode-se considerar que os meios de cultura, a estufa
microbiológica e as práticas elaboradas se adequaram à dinâmica das aulas e os alunos se
mostraram muito curiosos e interessados pelos novos experimentos.
Pela análise dos desenhos e respostas escritas dos alunos de 5ª. E 8ª. séries
considera-se que estes materiais favoreceram a apropriação de conteúdos pelos alunos.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os materiais didáticos desenvolvidos neste trabalho mostraram-se plenamente
aplicáveis, em especial por utilizar materiais de baixo custo para tal propósito. Assim,
considera-se que em função dos resultados observados durante o desenvolvimento e
execução destas atividades, os objetivos do trabalho foram plenamente atingidos.
Vale destacar também que os alunos mostraram-se muito interessados pelas
práticas; principalmente por descobrirem os locais onde podiam encontrar microorganismos;
além da conscientização da higiene, ressaltando as possibilidades do uso de plantas na
eliminação das bactérias. Porém, não podemos desconsiderar o fato dos alunos se mostrarem
receptívos e estimulados a procedimentos que fogem aos métodos de ensino tradicionais.
Assim, considerando os aspectos observados na elaboração e desenvolvimento
deste estudo, é possível concluir que o material didático é um instrumento decisivo e
estratégico na apropriação de conhecimentos sobre microrganismos; propostos na grade
curricular do Ensino Fundamental. Ele permite que conhecimentos e conceitos adquiridos
previamente sejam revistos e ampliados, em especial aqueles relacionados com o cotidiano
dos alunos.
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