elaboraÇÃo e aplicaÇÃo de recurso didÁtico … · 465 disso, para os alunos, a ciência...

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464 ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO DE RECURSO DIDÁTICO VOLTADO AO ENSINO FUNDAMENTAL: DESMISTIFICANDO A MICROBIOLOGIA Joyce Elaine Cristina BETONI 1 Ary FERNANDES JUNIOR 2 Resumo: O trabalho teve por objetivo o desenvolvimento de um recurso didático composto de meio de cultura e estufa microbiológica; ambos de custo relativamente baixo e com utilização de materiais alternativos de fácil obtenção. Foram realizadas aulas práticas para salas de 5ª e 8ª series, utilizando o material didático preparado. Para avaliar se o aprendizado foi significativo, utilizou-se das análises de imagens gráficas (comparando o conhecimento prévio com o adquirido) e de questões objetivas. A utilização destes materiais alternativos para confecção do recurso didático se mostrou adequada ao uso como grande aliado do ensino e visualização dos microrganismos. Pela análise das imagens gráficas e questões respondidas pelos alunos, verificou-se que o processo de ensino-aprendizagem foi significativo. Palavras-chave: recursos didáticos; microorganismos; aulas práticas; desenho; ensino fundamental. INTRODUÇÃO Moura et al. (2001) consideram que “o desenvolvimento da sociedade fez com que o ser humano entendesse que ciência é cultura e cultura científica é parte do processo cultural dessa sociedade” e a ciência deve ser um instrumento transformador do mundo, como uma das formas mais sofisticadas do pensamento humano, devendo ser fornecida aos alunos através da escola”. Para Maldaner & Zanon (2002), o ensino de ciências na escola pode desenvolver novas consciências e, conseqüentemente, as potencialidades da vida na sociedade e no ambiente. Mas para que ocorra uma construção do conhecimento científico, devem ser rompidas as barreiras da ciência pronta e acabada vigente nas unidades escolares, responsáveis pela redução da dimensão investigativa e cristalização do ensino, fazendo com que o “o estudante perceba-se como sujeito do processo educativo, tornando-se um ser crítico, pensante e atuante na sociedade” (Moura, 2001). No entanto, para os alunos, existe um alto grau de desvinculação entre a atividade científica e a vida cotidiana. Em geral, entre eles não há consciência a respeito da medida em que a atividade científico-tecnológica participa e afeta nossa realidade diária. A imagem do cientista na sociedade corresponde a estereótipos muito marcados. Por causa 1 Licenciada em Ciências Biológicas (IB/UNESP/Botucatu); Bolsista Núcleo de Ensino 2006 2 Docente do Departamento de Microbiologia e Imunologia (IB/UNESP/Botucatu); Orientador

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ELABORAÇÃO E APLICAÇÃO DE RECURSO DIDÁTICO VOLTADO AO ENSINO FUNDAMENTAL: DESMISTIFICANDO A MICROBIOLOGIA

Joyce Elaine Cristina BETONI1 Ary FERNANDES JUNIOR2

Resumo: O trabalho teve por objetivo o desenvolvimento de um recurso didático composto de meio de cultura e estufa microbiológica; ambos de custo relativamente baixo e com utilização de materiais alternativos de fácil obtenção. Foram realizadas aulas práticas para salas de 5ª e 8ª series, utilizando o material didático preparado. Para avaliar se o aprendizado foi significativo, utilizou-se das análises de imagens gráficas (comparando o conhecimento prévio com o adquirido) e de questões objetivas. A utilização destes materiais alternativos para confecção do recurso didático se mostrou adequada ao uso como grande aliado do ensino e visualização dos microrganismos. Pela análise das imagens gráficas e questões respondidas pelos alunos, verificou-se que o processo de ensino-aprendizagem foi significativo.

Palavras-chave: recursos didáticos; microorganismos; aulas práticas; desenho; ensino fundamental.

INTRODUÇÃO

Moura et al. (2001) consideram que “o desenvolvimento da sociedade fez com

que o ser humano entendesse que ciência é cultura e cultura científica é parte do processo

cultural dessa sociedade” e a ciência deve ser um instrumento transformador do mundo, como

uma das formas mais sofisticadas do pensamento humano, devendo ser fornecida aos alunos

através da escola”.

Para Maldaner & Zanon (2002), o ensino de ciências na escola pode

desenvolver novas consciências e, conseqüentemente, as potencialidades da vida na

sociedade e no ambiente.

Mas para que ocorra uma construção do conhecimento científico, devem ser

rompidas as barreiras da ciência pronta e acabada vigente nas unidades escolares,

responsáveis pela redução da dimensão investigativa e cristalização do ensino, fazendo com

que o “o estudante perceba-se como sujeito do processo educativo, tornando-se um ser crítico,

pensante e atuante na sociedade” (Moura, 2001).

No entanto, para os alunos, existe um alto grau de desvinculação entre a

atividade científica e a vida cotidiana. Em geral, entre eles não há consciência a respeito da

medida em que a atividade científico-tecnológica participa e afeta nossa realidade diária. A

imagem do cientista na sociedade corresponde a estereótipos muito marcados. Por causa

1 Licenciada em Ciências Biológicas (IB/UNESP/Botucatu); Bolsista Núcleo de Ensino 2006 2 Docente do Departamento de Microbiologia e Imunologia (IB/UNESP/Botucatu); Orientador

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disso, para os alunos, a ciência escolar é rotineira, é chata, pouco útil e muito difícil e

consequentemente, a aprendizagem em Ciências pode ficar comprometida.

Segundo Borges (1996), a aprendizagem pode ter como ponto de partida,

concepções sobre a natureza que os estudantes trazem para a escola, onde novas situações

serão interpretadas a partir do que conhece ou reconhece. Sendo assim, a utilização de

recursos didáticos pode favorecer a aprendizagem, proporcionando que os conhecimentos

prévios dos alunos se relacionem aos conhecimentos novos apresentados.

No desenvolvimento de materiais didáticos, a interdisciplinaridade pode ser

alcançada na apresentação de problemas reais enfrentados pelos alunos em seu cotidiano e

no desenvolvimento do seu processo de aprendizagem. É exatamente na resolução de

problemas concretos, oriundos da vida real, que as diversas disciplinas interagem entre si e

possibilitam ao aluno o desenvolvimento de novas competências cognitivas.

Neste contexto, as aulas práticas podem satisfazer estes aspectos, pois têm

como função “despertar e manter o interesse dos alunos, envolver os estudantes em

investigações científicas, desenvolver a capacidade de resolver problemas e compreender os

conceitos básicos” (Krasilchic, 2004).

Para Lima et al. (1999), as atividades práticas permitem um diálogo entre teoria

e prática, pautando não somente pelo conhecimento científico, mas pelas hipóteses e saberes

realizados pelos alunos mediante um desafio: “Os experimentos podem proporcionar um

diálogo entre os conhecimentos prévios dos estudantes e as formas particulares de

entendimento consagradas pelo pensamento científico”. Para estes autores, o experimento

deve extrapolar os limites do laboratório para a vivência dos estudantes e no cotidiano da sala

de aula, educando-os para um outro olhar.

O reconhecimento da necessidade e pertinência das atividades práticas

encontra respaldo em teorias sobre o desenvolvimento do pensamento na criança.

A partir das considerações de Piaget (1975), podemos considerar que os alunos

do 3º. Ciclo do ensino fundamental encontram-se no período operacional concreto; período em

que se utilizam de esquemas conceituais para resolver atividades práticas/concretas; fase

onde o raciocínio e o pensamento adquirem maior estabilidade; a capacidade para raciocinar

torna-se gradativamente lógica e menos sujeita às influências das contradições perceptuais

aparentes. Nesta fase, eles podem compor informações em sistemas de representação, a

associá-las, invertê-las, correspondê-las umas às outras, procurando uma forma sempre mais

abstrata e metódica de combiná-las; com raciocínio indutivo, mas podem apresentar

dificuldades de operar com princípios abstratos quando estes estão ligados a objetos

específicos. Neste estágio, o aluno pode ser capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair

dados da realidade. Apesar de não se limitar mais a uma representação imediata pode, ainda,

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depender do mundo concreto para abstrair. Já os alunos do 4º. Ciclo podem encontrar-se no

período operacional formal, que compreende a faixa etária a partir dos 12 anos. Nessa fase, se

desenvolvem os raciocínios hipotético e dedutivo e as proposições lógicas, ocorrendo o

desenvolvimento máximo das estruturas cognitivas. A principal tarefa desse período é aprender

como pensar a respeito de idéias tanto quanto de objetos. Ë possível começar a pensar sobre

coisas imaginárias e ocorrências possíveis; se tornar capaz de buscar a resposta de um

problema de maneira sistemática e metódica, adquirir uma lógica dedutiva; mas nem todas as

pessoas conseguem desenvolver o pensamento formal. Segundo Wadsworth (1996) é neste

momento que as estruturas cognitivas alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento. A

representação agora permite uma abstração total, não se limitando mais à representação

imediata e nem às relações previamente existentes. Agora o aluno é capaz de pensar

logicamente, formular hipóteses e buscar soluções, sem depender mais só da observação da

realidade. Em outras palavras, as estruturas cognitivas do aluno podem alcançar seu nível mais

elevado de desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar o raciocínio lógico a todas as classes

de problemas.

Mesmo com o reconhecimento de características do desenvolvimento cognitivo

em alunos de 5ª a 8ª Série, verifica-se que quando tópicos sobre microorganismos são tratados

no ensino fundamental, a abordagem que os alunos tem sobre o assunto é meramente teórica;

quando muito com a visualização de figura existente no livro didático. Como não há observação

desses seres, as aulas acabam se tornando subjetivas, deixando por conta do aluno a tarefa

de imaginar como seria um microorganismo.

Um dos fatores que dificulta a realização de experimentos sobre microbiologia

nas salas de aula, é o fato dos materiais serem normalmente de custo elevado; inviabilizando a

sua utilização no dia a dia da sala de aula. O desenvolvimento de técnicas e/ou utilização de

materiais alternativos, em especial de baixo custo, acaba sendo um atrativo a mais no

desenvolvimento deste como quaisquer outros recursos didáticos.

Desse modo, o presente projeto teve como objetivos elaborar, produzir, utilizar e

avaliar materiais didáticos de custo relativamente baixo e de fácil obtenção sobre

microrganismos; com ênfase para o crescimento de bactérias em meios de cultura.

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DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA

Elaboração e produção do material didático

Foram elaborados e produzidos três materiais didáticos: meio de cultura, estufa

microbiológica e pranchas ilustrativas da morfologia bacteriana.

1. Meio de Cultura: foi preparado com ingredientes considerados de baixo custo e de fácil

obtenção nos mercados locais da cidade. Para facilitar a elaboração dos meios de cultura, as

quantidades foram transformadas em colheres por volume de meio desejado, visando

dispensar uso de balanças:

- Agar (30g = 4 ½ colheres das de sopa)

- Açúcar Cristal (10,4g = 1 ½ colher das de chá)

- Caldo de Carne em pó - tipo “Sazón” (4g = 4 ½ colheres das de café)

- Levedo de Cerveja (7,2g = 1 ½ colher das de chá)

- Água destilada (1 L)

- Guache escolar (3 frascos de 15g)

Após a quantificação dos componentes do meio de cultura, prodecedeu-se a

mistura dos mesmos em uma panela (ágar, açúcar, caldo de carne e levedo de cerveja);

acrescentando por último a água destilada. Em seguida o recipiente contendo este material foi

levado ao fogo, até ponto de fervura mexendo por período suficiente para que a mistura

adquirisse uma consistência mais espessa, quando foi feita a mistura da quantidade de tinta

guache escolhida para dar tonalidade ao meio de cultura. Em seguida foi feita a distribuição

dos volumes do meio de cultura em potes plásticos descartáveis com tampa (∅ = 6cm, altura =

6cm). A quantidade de meio nos potes variou de 20 a 25ml, necessários para obtenção de uma

coluna de meio de 0,5 cm. A solidificação do meio ocorre em um tempo bastante curto

(aproximadamente 5 minutos), estando pronto para o uso após o resfriamento.

Importante destacar a necessidade dos potes contendo o meio de cultura, serem

mantidos em temperatura de geladeira até o momento do uso; no caso de não serem utilizados

logo após o preparo. Tal cuidado deve ser tomado quanto ao estoque dos potes, pois como o

mesmo não é esterilizado, corre-se o risco de haver crescimento microbiano imediatamente ao

seu preparo. Se conservado em geladeira, o material ainda pode ser usado em até 3 dias após

o preparo.

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Depois de realizadas as práticas, o material deve ser preferencialmente

descartado por meio da incineração; pois apesar de terem sido coletados de locais comuns,

requerem uma atenção especial devido a enorme quantidade de microorganismos que se

multiplicaram. Caso o acesso à incineração seja difícil, colocar desinfetante nos potinhos por

um período de 24 horas e, somente após esse período, o material pode ser descartado com

segurança.

2. Estufa Microbiológica: visa dar temperatura adequada ao cultivo dos microrganismos

semeados no meio de cultura. Foi preparada com a utilização de material fácil obtenção. Foram

utilizados os seguintes materiais para a confecção da estufa microbiológica:

- caixa de papelão

- fita dupla face ou cola branca (para encapar a caixa)

- placas de madeira tipo MDF

- lâmpada incandescente de 40 W

- termostato de aquário comum

- fio elétrico paralelo de 1,5 mm2

- 1 soquete para lâmpada elétrica

- 1 tomada de dois pinos

- parafusos vários tamanhos

- papel laminado para encapar o interior

- papel veludo para acabamento externo da caixa

- cinta elástica para fechamento da estufa

A montagem da estufa microbiológica requereu utilização de ferramentas

comuns; como alicate, chave de fenda e furadeira. A montagem da estufa está detalhada na

Figura 1.

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Em uma das pontas do fio, descascá-lo aproximadamente 3 cm

Torcer o fio e enrolá-lo Encaixar os fios nos parafusos do

soquete; parafusar e prender os fios

Na outra ponta do fio, descascá-lo aproximadamente 2 cm, e torcer

Encaixar os fios na tomada e parafusá-los para fixação

Parte elétrica pronta

PARTE ELÉTRICA

471

Parafusar as laterais na base Fixar a cantoneira nas laterais e na base e fixar o soquete na cantoneira

Rosquear a lâmpada

A caixa foi encapada com papel laminado (internamente) e papel

aveludado (parte externa); Colocar a base montada dentro da caixa

Acrescentar o termostato e a outra placa furadinha (ligar a tomada do

soquete no termostato, e o termostato na tomada)

A estufa está pronta!

472

3. Pranchas Ilustrativas: Foram confeccionadas pranchas (66 x 50 cm); em folhas de cartolina

sobre microrganismos. As figuras foram obtidas de várias fontes, em especial disponível em

páginas da internet específicas sobre microrganismos.

Utilização e avaliação do material didático

O material foi utilizado durante período normal de aulas para uma sala de 5ª e 8ª

séries de uma Escola Estadual de um Distrito do Município de Botucatu, S.P.; compreendendo

um total de 62 alunos, sendo 37 da 5ª e 25 da 8ª série. Ao todo foram utilizadas 3 aulas de 50

minutos cada, sendo necessárias 2 aulas no primeiro dia para execução das práticas, e outra

no segundo dia para a leitura do material e reforço dos conceitos desenvolvidos na primeira

aula.

A sondagem sobre a aquisição de conhecimentos foi realizada através de

imagens gráficas produzidas pelos alunos antes e após a utilização dos materiais e por meio

de questões objetivas.

Considerando a importância do uso das imagens gráficas, Ferreira (1998) indica

que a criança não reproduz uma realidade material através do desenho, mas a realidade

conceituada. É possível acrescentar também que o desenho deve exprimir um conhecimento

conceitual que ela tem de uma realidade construída socialmente e registrada na memória.

Neste caso a imaginação se faz muito presente, estando também vinculada às experiências

acumuladas pelo sujeito (Vigotsky, 1991). Finalizando o autor sugere que a criança não faz um

desenho de observação, mas sim de memória e imaginação. Segundo Luquet (1969), embora

com a intenção de desenhar aquilo que vê, a criança desenha aquilo que sabe do objeto.

Ao todo foram quatro experimentos, elaborados com objetivo de introduzir o

material didático; sendo utilizado para isto um roteiro, para que os alunos acompanhassem os

procedimentos a serem seguidos. O material em questão foi utilizado visando sempre

apresentar aspectos do cotidiano dos alunos, como por exemplo, a ampla distribuição dos

microrganismos nos ambiente; desenvolvimento de hábitos de higiene; existência de

substâncias com ação antimicrobiana.

Inicialmente foi pedido para que os alunos desenhassem a idéia que tinham

sobre um microorganismo, visando avaliar o conhecimento prévio dos alunos sobre o assunto

de microbiologia. Em seguida foi dada uma introdução sobre o assunto, com ênfase para as

bactérias, utilizando-se das pranchas que ilustram a morfologia bacteriana. Após a explicação

introdutória, o material para a aula prática foi distribuído, e os alunos divididos em grupos de 5

pessoas. Para a realização dessa prática, foram necessárias duas aulas de 50 minutos cada.

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Como parte da primeira atividade foi sugerido aos alunos que coletassem

material de diversos lugares, seguindo a curiosidade dos mesmos quanto à escolha do local de

coleta. Assim, no geral, foram escolhidos locais tais como: sola do tênis, chão, lousa, carteira

escolar, entre outros; além de partes do próprio corpo, como por exemplo, umbigo, orelha,

pele, mãos. Para tal coleta de materiais foram fornecidas aos alunos hastes de algodão tipo

“cotonetes” umedecidos com solução fisiológica.

O objetivo da segunda atividade foi demonstrar a importância de se lavar as

mãos. Primeiramente os alunos coletaram material de suas mãos e semearam em um dos

potinhos e posteriormente, testaram a ação dos diferentes agentes (álcool, água sanitária,

merthiolate e sabonete). Para esse teste, um dos alunos do grupo aplicava em sua mão um

dos agentes citados, e em seguida, recolhia uma amostra deste local para que fosse semeado

nos potinhos, e posteriormente verificar a eficácia destes agentes no combate aos

microorganismos.

A atividade 3 visou testar a potencialidade de um antibiótico (Amoxilina 500mg) e

do alho (uma planta considerada também medicinal) frente aos microorganismos; fazendo com

que os alunos visualizassem a demonstração de sua atividade antimicrobiana.

O material semeado pelos alunos foi incubado, na estufa desenvolvida no

presente projeto, a 37ºC/24horas; para verificação do crescimento bacteriano. Após o período

de 24 horas aconteceu a terceira aula, necessária para visualização dos resultados.

Na terceira aula, cada grupo recebeu explicação sobre os resultados possíveis e,

em seguida, confeccionaram lâminas a partir de colônias crescidas nos respectivos potes.

Nessa quarta atividade, para a confecção das lâminas, cada grupo coletou com o cotonete

umedecido, uma amostra do material que havia crescido, e aplicou na superfície da lâmina,

seguido de fixação do esfregaço pela passagem da lâmina na chama. A coloração foi realizada

com violeta genciana. Em seguida as lâminas foram observadas ao microscópio óptico

comum, utilizando maior aumento e óleo de imersão, para que pudessem observar a

morfologia dos microorganismos.

Ao término da terceira e última aula, novamente foram entregues fichas aos

alunos para que expressassem, na forma de desenhos, suas idéias sobre microorganismos.

Este procedimento teve por objetivo comparar os desenhos iniciais, feitos pelos alunos na

primeira aula; com os desenhos finais, preparados na última aula. Esta comparação teve por

objetivo verificar os conhecimentos adquiridos pelos alunos durante a realização das aulas

teórico-práticas sobre microrganismos.

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Ao final de tudo, foi entregue um questionário com duas questões objetivas que

exigiam justificativas. A primeira tinha por objetivo verificar se o aluno sentiu-se motivado pela

aula prática e justificar por que gostou ou não. A segunda questão visou verificar se houve

algum tipo de aprendizado com a execução das práticas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os meios de cultura preparados, bem como as atividades pertinentes ao uso do

recurso didático, mostraram-se eficientes quanto à aplicabilidade. Verificou-se um crescimento

abundante das bactérias dos mais variados locais coletados durante as práticas; com colônias

de aspecto característico. Os meios de cultura de cores vermelha, azul e preto foram os que se

mostraram melhores quanto à visualização das colônias.

As amostras coletadas do chão e da sola do tênis apresentaram um bom

crescimento, permitindo a visualização de uma diversidade de microorganismos. (Figura 2)

Essa prática foi importante, pois possibilitou que os alunos tivessem uma idéia

da quantidade e da diversidade de locais onde os microorganismos poderiam ser encontrados;

inclusive não associando a presença destes somente a doenças. Foi enfatizado que tais

microorganismos podem ser encontrados em todos os locais, inclusive na nossa microbiota

natural, nem sempre sendo prejudiciais.

A prática que objetivava desenvolver a consciência de higiene, também foi muito

produtiva, mostrando visivelmente bons resultados: ausência de crescimento onde os agentes

foram utilizados (álcool, água sanitária, merthiolate). Os potes de alguns grupos apresentaram

crescimento após o uso do sabonete; talvez pelo fato dos alunos não terem lavado bem as

mãos antes da coleta do material.

A terceira prática, possibilitou a visualização da importância do uso de

antibióticos (amoxilina) e plantas medicinais; como o alho no combate aos microorganismos. O

crescimento que ocorreu nos potes ficou muito bom de ser visualizado, exatamente como o

esperado. (Figuras 3 e 4)

Figura 2: Superfície do meio de

cultura com crescimento microbiano

(colônias), isolado a partir de material

coletado no chão da sala de aula

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Era visível de se notar a ausência de crescimento ao redor do papel de filtro,

indicando que a substância presente no papel de filtro se difundiu no meio de cultura e impediu

o crescimento daqueles microorganismos presentes.

Quanto à última prática, os alunos demonstraram muito interesse em observar

pelo microscópio o material que eles mesmos coletaram; gostaram muito de desenhar o que

viram segundo suas observações e principalmente, gostaram muito de manusear o

microscópio. Essa prática possibilitou o encerramento dos temas.

O tema proposto foi abordado sobre diversos aspectos: primeiro eles viram o

macro, que foi o material que cresceu no meio de cultura (morfologia das colônias), o que era

visível a olho nu; depois, observaram ao microscópio óptico, e com o aumento das lentes,

puderam visualizar formas que não podiam ser vistas a olho nu, bactérias individualizadas, não

mais um aglomerado delas; sendo essa imagem uma ampliação da observada nos meios de

cultura. Por fim, observaram as pranchas com fotos, obtidas com auxílio da microscopia

eletrônica de varredura e de fluorescência, podendo observar as bactérias sob um aumento

ainda maior, com um nível superior de detalhamento.

Os desenhos produzidos pelos alunos possibilitaram a expressão de

conhecimentos prévios sobre microorganismos e de conhecimentos elaborados após o

desenvolvimento das aulas práticas sobre microrganismos, favorecendo a análise da

adequação dos materiais e atividades descritos neste estudo.

Em relação aos alunos da 5ª série, apenas 11 dos 31 desenhos iniciais

mostraram alguma coerência com a forma de um microorganismo ou indicaram situações que

de certa forma sugeriam algum tipo de infecção ou doença, como ilustrado abaixo (Figura 5).

Figura 3: Ação do antibiótico (note a

ausência de crescimento, formando um

halo, ao redor do papel de filtro)

Figura 4: Ação do alho (sem

crescimento ao redor do papel de filtro)

476

Alguns exemplos de desenhos que não relacionados com as situações acima, podem ser

observados na Figura 6.

Figura 5: Desenhos realizados antes das práticas: formas próximas a microorganismo/doença (5ª série)

Figura 6: Desenhos realizados depois das práticas: sem relação de forma com microorganismos (5ª série)

Nos desenhos produzidos após as atividades e utilização dos materiais,

verificou-se que, de uma maneira geral, todos os alunos foram capazes de desenhar os

formatos corretos das bactérias, de acordo com o que foi apresentado nas atividades; tanto

pela observação dos cartazes quanto pela observação destes seres no meio de cultura e ao

microscópio (Figura 7).

Figura 7: Desenhos realizados após as práticas (5ª série)

Para finalizar as atividades, foi apresentado um formulário, cuja primeira questão

era: “Você gostou dos experimentos? Por que?”. Verificou-se unanimidade quanto a ter

gostado da execução dos experimentos, justificando tal resposta segundo vários motivos; entre

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eles: o fato de aprender sobre microorganismos; aprender mais e coisas novas; e por ser

divertido, interessante e diferente.

A segunda pergunta: “Você conseguiu aprender alguma coisa nova com as

práticas? O que?”; objetivou verificar se o material produzido trouxe algum conhecimento novo

aos alunos. Novamente verificou-se unanimidade na resposta, pois todos responderam que

aprenderam algo novo; dentre eles: questões de higiene, sobre bactérias, plantas medicinais e

doenças.

Com relação aos desenhos iniciais realizados pela 8ª série, dos 43 desenhos

iniciais, 19 demonstraram contextualização sobre doenças e formas de microorganismos

(Figura 8).

Figura 8: Desenhos iniciais feitos por alunos de oitava serie, demonstrando uma contextualização com o assunto

microorganismos (doenças e morfologia) (8ª série)

Mas 24 alunos produziram desenhos que não expressavam relação direta com

microorganismos, como ilustrado pelo desenho a seguir:

Figura 9: Desenhos iniciais de alunos de oitava serie, não demonstrando correlação com o tema microorganismos

(8ª série)

478

O fato de uma maior noção sobre microorganismos quando comparado com a

quinta serie, pode estar no fato dos alunos da oitava serie já terem tido contato com algum

conhecimento sobre esse assunto no decorrer dos anos e se encontrarem em fases diferentes

de desenvolvimento.

Depois do desenvolvimento das atividades e utilização dos materiais, verificou-

se que em todos os desenhos houve a representação correta de microrganismos. (Figura 10)

Figura 10: Desenhos realizados após a execução das práticas (8ª série)

Finalizando as atividades com os alunos da oitava série; questionamos se

haviam gostado ou não dos experimentos e houve unanimidade quanto ao aspecto positivo das

atividades. A explicação por terem gostado dos experimentos foi pelo fato de terem aprendido

coisas novas e interessantes ou por terem gostado do assunto; ou ainda pelo fato de não terem

aulas práticas com freqüência; respostas essas gerais. Porém, foi possível notar um grupo de

respostas com mais objetividade, que indicava o conteúdo aprendido (formatos; lugares em

que vivem e questões de higiene).

Quando questionados sobre o conteúdo aprendido, a maioria diz ter aprendido

sobre os vários tipos, formas e nomes e locais onde bactérias poderiam ser encontradas. A

importância de lavar as mãos de certa forma ficou bem clara para os alunos, pois ressaltam

aspectos importantes de higiene e limpeza; além da possibilidade de utilizar alguns produtos

como água sanitária, álcool, anti-séptico do tipo merthiolate, antibióticos e plantas medicinais

para eliminar os microorganismos.

Face ao desenvolvimento das práticas e os resultados obtidos com o

crescimento dos microorganismos, pode-se considerar que os meios de cultura, a estufa

microbiológica e as práticas elaboradas se adequaram à dinâmica das aulas e os alunos se

mostraram muito curiosos e interessados pelos novos experimentos.

Pela análise dos desenhos e respostas escritas dos alunos de 5ª. E 8ª. séries

considera-se que estes materiais favoreceram a apropriação de conteúdos pelos alunos.

479

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os materiais didáticos desenvolvidos neste trabalho mostraram-se plenamente

aplicáveis, em especial por utilizar materiais de baixo custo para tal propósito. Assim,

considera-se que em função dos resultados observados durante o desenvolvimento e

execução destas atividades, os objetivos do trabalho foram plenamente atingidos.

Vale destacar também que os alunos mostraram-se muito interessados pelas

práticas; principalmente por descobrirem os locais onde podiam encontrar microorganismos;

além da conscientização da higiene, ressaltando as possibilidades do uso de plantas na

eliminação das bactérias. Porém, não podemos desconsiderar o fato dos alunos se mostrarem

receptívos e estimulados a procedimentos que fogem aos métodos de ensino tradicionais.

Assim, considerando os aspectos observados na elaboração e desenvolvimento

deste estudo, é possível concluir que o material didático é um instrumento decisivo e

estratégico na apropriação de conhecimentos sobre microrganismos; propostos na grade

curricular do Ensino Fundamental. Ele permite que conhecimentos e conceitos adquiridos

previamente sejam revistos e ampliados, em especial aqueles relacionados com o cotidiano

dos alunos.

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REFERÊNCIAS DAS FIGURAS CORRESPONDENTES ÀS PRANCHAS ILUSTRATIVAS

Disponível em: <http://medinfo.ufl.edu/year2/mmid/bms5300/bugs/stapaure.html> Acesso em: 10 out. 2006.

Disponível em: <http://www.cassiopeaonline.it/immagini/staph_bacterium.html> Acesso em: 10 out. 2006.

Disponível em: <http://www.biotox.cz/toxikon/bakterie/bakterie/staphylococcus_aureus.htm> Acesso em: 10 out. 2006.

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Disponível em: <http://www.bact.wisc.edu/Microtextbook/index.php?module=Book&func=displayarticle&art_id=137> Acesso em: 10 out. 2006.

Disponível em: <http://www.magma.ca/~scimat/B_megate.htm> Acesso em: 10 out. 2006.

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Disponível em: <http://www.about-salmonella.com/> Acesso em: 10 out. 2006.

Disponível em: <http://www.canariculturacolor.com/colibacilosis-aves> Acesso em: 10 out. 2006.

Disponível em: <http://fai.unne.edu.ar/biologia/bacterias/micro1.htm> Acesso em: 10 out. 2006.

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