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Cynthia Roncaglio Nadja Janke Desenvolvimento Sustentável 2009

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Cynthia RoncaglioNadja Janke

DesenvolvimentoSustentável

2009

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© 2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

R769 Roncaglio, Cynthia. Janke, Nadja/ Desenvolvimento Sustentável. / Cynthia Roncaglio. Nadja Janke — Curitiba : IESDE

Brasil S.A. , 2008.92 p.

ISBN: 978-85-7638-840-1

1. Desenvolvimento Sustentável. 2. Desenvolvimento Econô-mico – Aspectos Ambientais. 3. Meio Ambiente – Problemas. 4. Educação Ambiental. I. Título.

CDD 363.7

Capa: IESDE Brasil S.A.

Imagem da capa: Constock Complete

IESDE Brasil S.A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br

Todos os direitos reservados.

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Cynthia RoncanglioMestre em História Social e Pós-Graduada em História do Brasil pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Graduada em História pela UFPR.

Nadja JankeMestra em Educação pela Unesp-Bauru.

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Desenvolvimento sustentável 11

11 | Desenvolvimento e ambiente

14 | Compreendendo conceitos: ecologia, meio ambiente, ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentável

18 | Nosso Futuro Comum e os princípios de sustentabilidade

Gestão participativa e ambiente 25

26 | Sustentabilidade: conciliando participação social e cuidado com o ambiente

29 | Agenda 21: uma proposta de gestão

31 | Gestão de unidades de conservação: o papel dos atores sociais

Educação Ambiental como instrumento de superação da insustentabilidade

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43 | Conceituando Educação Ambiental

48 | Educação Ambiental no âmbito escolar

50 | Educação Ambiental em espaços informais

52 | Educação Ambiental e cidadania

Estado e ambiente no Brasil 57

57 | A emergência da questão ambiental no Brasil

60 | Evolução das políticas públicas ambientais

64 | Posicionamentos do Estado brasileiro em face à questão ambiental

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Sociedade e ambiente no Brasil 73

73 | A força do ambientalismo na sociedade contemporânea

78 | A criação de organizações não-governamentais ambientalistas

81 | Movimentos sociais e ambientalismo no Brasil

Referências 87

Anotações 91

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Introdução Desenvolvim

ento Sustentável

Com este material faremos uma viagem por um tema complexo e fascinante: a perspectiva do desenvolvimento sustentável.Para compreender os problemas sociais e am-bientais contemporâneos, precisamos fazer uma travessia que inclua algumas paradas em lugares e tempos estratégicos, onde e quando transformações históricas importantes anuncia-ram mudanças no modo de compreender e de nos relacionar com a natureza.A partir disso, poderemos compreender melhor por que a questão ambiental se colocou como um dos principais problemas – senão o princi-pal e mais abrangente –, no decorrer do século XX e no início do XXI. A análise de conceitos como desenvolvimento sustentável, ecodesen-volvimento e sustentabilidade, utilizados com freqüência por políticos, cientistas e cidadãos em geral, será apresentada aqui com o intuito de estimular a sua reflexão sobre um tema que desperta muitas polêmicas e ações diversas no âmbito do governo, das empresas privadas e das organizações sociais.As experiências globais e locais na área ambien-tal, que ocorrem no campo ou na cidade, repre-sentam uma ponte entre a teoria e a prática, entre a sociedade e a natureza, entre os interes-ses individuais e os coletivos, entre a destruição e a preservação. O aluno terá oportunidade, em vários momentos de leitura e reflexão, assim como no decorrer das atividades propostas, de fazer essa ligação entre os conteúdos.

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Não poderíamos deixar de salientar também a importância da Educação Ambiental para a formação de cidadãos mais sensíveis e atentos aos problemas ambientais, e o fato de ela poder estar presente em todas as instâncias da vida social, na educação formal e na informal.Certamente, quando chegarmos ao fim da nossa viagem, o aluno perceberá que o assunto trata-do é vasto e profundo, e que o nosso objetivo aqui é tão-somente despertar – por meio dos conteúdos abordados, da indicação de leituras, de filmes e de atividades – o desenvolvimento da consciência crítica e a curiosidade para se continuar os estudos neste campo, explorando e desvendando o mundo social e natural em toda a sua diversidade.

Cynthia Roncaglio

Desenvolvim

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Desenvolvimento sustentável

Desenvolvimento e ambienteA idéia de desenvolvimento e o agravamento – ou a percepção do agra-

vamento – dos problemas ambientais ganhou força e expressão principal-mente após a Segunda Guerra Mundial, quando emergiu no cenário inter-nacional o confronto entre duas superpotências: Estados Unidos da América (EUA) e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Embora a história mundial desse período não fosse homogênea e facilmente compreensível, pode-se dizer, genericamente, que a Guerra Fria entre esses dois blocos he-gemônicos e antagônicos dividiu o globo em duas partes: uma controlada pela URSS, que abrangia os territórios ocupados pelo Exército Vermelho e as forças armadas comunistas ao fim da guerra; e a outra, com os EUA domi-nando o resto do mundo capitalista. Ambas propunham ao Terceiro Mundo o seu modelo de desenvolvimento.

Embora sob ameaça constante de uma guerra nuclear, que se acreditava ser possível resultante do confronto entre as superpotências, as atividades econômicas prosperaram em muitas partes do mundo entre os anos 1950 e 1970, renovando as esperanças de progresso e prosperidade da humani-dade, seja pelo viés da ideologia comunista ou da capitalista. No então de-nominado Terceiro Mundo, a idéia de desenvolvimento parecia embutir a idéia de um futuro liberto dos piores entraves que pesam sobre a condição humana, como a pobreza e o desemprego.

Contudo, já no início da década de 1970, o sistema político e econômico internacional entrou em colapso, e as disparidades entre os países desen-volvidos e subdesenvolvidos demonstraram a esgotabilidade de um futuro grandioso e pleno de alternativas diante dos resultados da revolução socia-lista na URSS, na China, no Vietnã e até mesmo em Cuba (considerada por muitos a revolução que deu certo), e das fases depressivas das economias ocidentais. As crises do desenvolvimento no Terceiro Mundo refletiam-se na estagnação econômica, na fome e nas guerras civis.

Sob a ótica do ambiente, desde que os EUA lançaram bombas atômicas sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, constatou-se que o ser

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humano podia intervir radicalmente no curso da natureza, a ponto de modi-ficar ou colocar em risco a existência do planeta. Algumas iniciativas, como a criação da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), em 1948, apontavam para os problemas ambientais que a crise político-econômica (dissociada de outras instâncias) e um forte antropocentrismo impediam, e ainda impedem, de considerar relevante. O reconhecimento do agravamento se dá progressivamente com o anúncio da morte do oceano pelo biólogo Paul Ehrlich, em 1969, e a divulgação do relatório Limites do Crescimento, encomendado pelo Clube de Roma1, em 1972. Também conhe-cido como Relatório Meadows, por ter sido o estudo coordenado pelo pro-fessor Dennis Meadows, esse documento apontava o problema do aumento do consumo mundial em relação à capacidade do ecossistema global. Utili-zando um modelo de análise sistêmico, o estudo assinalava a preocupação com as principais tendências do ecossistema mundial, baseado em cinco parâmetros: industrialização acelerada, forte crescimento populacional, in-suficiência crescente da produção de alimentos, esgotamento dos recursos naturais não-renováveis e degradação irreversível do meio ambiente.

Em síntese, o relatório, fortemente marcado por uma visão catastrófica e neomalthusiana, previa que, se fosse mantido o ritmo de crescimento, os alimentos e a produção industrial iriam declinar até 2010, sendo inevitáveis o esgotamento dos recursos naturais, a poluição industrial e a diminuição da população. A divulgação de Limites do Crescimento teve repercussão mun-dial, sobretudo pela radicalidade da sua tese, favorável à limitação do cres-cimento da população e da economia, e pela previsão alarmante quanto à mortandade da população por volta de 2050, provocada pelo esgotamento dos recursos naturais.

As análises do Clube de Roma foram bem recebidas entre os ambienta-listas radicais ou reformistas nos países do Norte (países capitalistas avan-çados), mas, por outro lado nos países do Sul (países em desenvolvimen-to), a tese do limite do crescimento suscitou severas críticas e desconfiança quanto ao que realmente se pretendia apontando os problemas ambien-tais do crescimento. Para muitos países do Sul, tratava-se de uma estratégia dos países do Norte para impedir o seu rápido desenvolvimento. Também não faltaram reações contrárias à tese do crescimento zero, como a dos chamados tecnocentristas extremados, que minimizavam as previsões do Relatório Meadows, assegurando que o livre funcionamento do mercado, conjugado à inovação tecnológica, evitaria a escassez dos recursos naturais a longo prazo.

1 O Clube de Roma, funda-do em 1968, consistia em uma associação de cientistas, polí ticos e empresários preo-cupados com a governabili-dade dos problemas globais. Essa agremiação encomen-dou um ambicioso plano de trabalho ao Massachus-sets Institute of Technology (MIT), baseado no método da dinâmica de sistemas de Jay Forrester, que permitiu o processamento de gran-des quantidades de variá-veis por meio da utilização de computadores.

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Entre 1969 e 1972, proliferaram discursos apocalípticos, como o do Clube de Roma, sobre os desastres ecológicos mundiais e a possibilidade de des-truição do planeta caso não se tomassem medidas drásticas para salvar a na-tureza e conter o crescimento populacional. Tais manifestações, embora exa-geradas e fundamentadas apenas nos limites naturais (sem levar em conta que os problemas ecológicos não podiam ser dissociados dos problemas po-líticos e sociais) foram importantes porque incluíram a questão ambiental no debate global sobre o desenvolvimento social e econômico, tornando-se um desafio ao qual teriam que reagir pensadores sociais, políticos e economistas nas décadas seguintes.

Os movimentos ambientalistas radicais e a crescente preocupação das autoridades oficiais e dos cientistas não impediram, entretanto, que se mul-tiplicassem os desastres e degradações ambientais dos oceanos, dos lagos, dos rios, das florestas e campos e dos aglomerados urbanos. Nos anos 1980, novos alertas foram dados por catástrofes locais com conseqüências que às vezes extrapolavam as fronteiras nacionais: Edgar Morin (1995), entre outros autores, lembra Bhopal2, Three Mile Island e Chernobyl3, a secagem do Mar de Aral4, a poluição do Lago Baikal5, altos índices de poluição atmosférica em cidades como Atenas e México.

Esses eventos e suas conseqüências para os diversos ecossistemas, in-clusive para o ser humano, remetem a outros problemas mais gerais que já vinham ocorrendo nos países industrializados e não-industrializados. Nos primeiros, evidencia-se a contaminação das águas superficiais e subterrâne-as, o envenenamento dos solos por pesticidas e fertilizantes, a urbanização maciça das zonas costeiras, a proliferação de dejetos industriais. Nos países não-industrializados, aumenta a desertificação, o desmatamento, a erosão dos solos, as inundações e o aumento da emissão de gases tóxicos com o desenvolvimento das megalópoles. Globalmente, a antropização6 dos meios naturais reflete-se no aumento do efeito estufa, que altera os ciclos vitais, a decomposição gradativa da camada de ozônio estratosférica, o buraco de ozônio na Antártida, o excesso de ozônio na troposfera (camada mais baixa da atmosfera).

A (re)incidência desses eventos, cada vez mais salientes e perceptíveis, faz com que a consciência ecológica torne-se, como diz Morin (1995), “a tomada de consciência do problema global e do perigo global que ameaçam o plane-ta”. Se, a princípio, as reações diante desses problemas eram locais e técnicas, ao longo do tempo, com a intensificação e a universalização dos problemas,

2 Em dezembro de 1984, 40 toneladas de gases letais vazaram da fábrica de agro-tóxicos da Union Carbide Corporation, em Bhopal, Índia. Estima-se que cerca de oito mil pessoas morreram devido à exposição direta aos gases. Hoje, estima-se que cerca de 150 000 sobre-viventes adquiriram doen-ças crônicas e necessitam de cuidados médicos e uma segunda geração de crianças continua a sofrer os efeitos da herança tóxica deixada pela indústria. Foi considera-do o maior desastre químico da história. 3 Acidentes nos reatores nucleares em Three Mile Island, na Pensilvânia, EUA, em 1979, e em Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, parte da União Soviética. Na usina de Chernobyl, a quantidade de radiação foi equivalente a dez vezes a bomba de Hi-roshima e Nagasaki. A poeira radioativa se espalhou pela Europa Oriental e, pela cir-culação atmosférica normal, chegou poucos dias depois à Groenlândia. O número oficial de mortos foi de 31 pessoas, entre funcionários da usina e bombeiro, afe-tados pela explosão ou por doenças derivadas da expo-sição à radiação. Estima-se, porém, extraoficialmente, valores entre cinco mil e dez mil mortes. Entre 1986 e 1994, houve um crescimento de câncer de tireóide, sobre-tudo em crianças, nas três re-giões mais afetadas: Rússia, Bielo-Rússia e Ucrânia. 4 O Mar de Aral situa-se entre o Uzbequistão e o Cazaquis-tão, e constituía o quarto maior mar interior da Terra, com cerca de 66 mil qui-lômetros quadrados. Suas águas eram renovadas e alimentadas pelos Rios Amu Daria e Sir Daria. O desvio da água desses dois rios para os projetos de irrigação das plantações de algodão, reali-zados pelo governo da URSS, consumiram e secaram 90% da água que chegava ao Aral, sendo considerado um dos piores desastres ambientais do século XX.5 Localizado na Sibéria, com 636 quilômetros de compri-mento, é um dos lagos com águas mais profundas, sendo responsável por 20% da água doce do planeta. No proces-so de industrialização da URSS, foi contaminado e teve uma redução massiva de sua extensão. 6 Antropização: processo de transformação por ação humana.

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surgiram associações, partidos ecológicos e instituições governamentais na-cionais e internacionais criadas especificamente para gerenciar os problemas referentes ao ambiente. Ministérios do Meio Ambiente, por exemplo, foram criados em 70 países. Vários programas internacionais foram estabelecidos a fim de realizar pesquisas e definir ações que pudessem conter ou retardar os efeitos da degradação ambiental.

Ao mesmo tempo em que a dinâmica econômica do pós-guerra renova-va as esperanças de se construir um mundo mais justo e menos desigual, a noção de desenvolvimento parecia se tornar, acentuadamente ao longo das décadas de 1960 e 1970, incapaz de dar conta da complexidade do mundo. Outras noções, outros termos e outras propostas de desenvolvimento preci-sariam surgir para ser possível compreender o ponto em que havia chegado a relação entre sociedade e natureza.

Compreendendo conceitos: ecologia, meio ambiente, ecodesenvolvimento e desenvolvimento sustentável

A noção de desenvolvimento é muito valiosa para todos aqueles que estão imbuídos da vontade de melhorar, promover mudanças, aperfeiçoar e crescer. No entanto, usada inadvertidamente por governantes, políticos e intelectuais durante séculos, tornou-se uma expressão desgastada e amiúde controvertida. Como diz Morin (1995, p. 83),

de um lado é um mito global no qual as sociedades industrializadas atingem o bem-estar, reduzem suas desigualdades e dispensam aos indivíduos o máximo de felicidade que uma sociedade pode dispensar. De outro, é uma concepção redutora, em que o crescimento econômico é o motor necessário e suficiente de todos os desenvolvimentos sociais, psíquicos e morais. Essa concepção tecnoeconômica ignora os problemas humanos da identidade, da comunidade, da solidariedade, da cultura. Assim, a noção de desenvolvimento se apresenta gravemente subdesenvolvida. A noção de subdesenvolvimento é um produto pobre e abstrato da noção pobre e abstrata de desenvolvimento.

Assim, buscando ampliar o sentido restrito do termo ao longo das últimas duas décadas do século XX, conceitos antigos como o de ecologia foram re-formulados ou ampliados, e outros passaram a ser adotados para exprimir e dar conta da complexidade que envolve o desenvolvimento das sociedades humanas e a preservação da natureza. Tratar-se-á aqui de algumas defini-ções: tanto as expressões ecologia, meio ambiente e ambiente quanto as ex-pressões desenvolvimento sustentável e sustentabilidade, por exemplo, usadas

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ora como sinônimas, ora com diferentes acepções por políticos, cientistas e filósofos. Cabe ao leitor identificar nos discursos, caso não sejam evidentes as utilizações conceituais, as filiações ideológicas ou políticas dos autores, e os sentidos e significados implícitos.

Conceito de ecologiaO termo ecologia deriva de oikos (“casa”) + logos (“estudo”) e significa

“estudo da casa”. O termo foi cunhado pelo biólogo Ernst Haeckel, em 1870, para criar uma disciplina científica que se tornaria um ramo da Biologia. Essa disciplina serviria para investigar as relações totais dos animais, tanto com seu ambiente inorgânico quanto com o orgânico.

O conceito passou a ser reconhecido e utilizado entre o final do século XIX e o início do século XX. Com algumas variações, o conceito de ecologia foi sinteticamente definido na década de 1960 pelo ecólogo norte-america-no Eugene Odum como “o estudo da estrutura e função dos ecossistemas” (ODUM apud KORMONDY, 2002, p. 29). Os ecossistemas, para Odum (1988), abrangem todos os organismos que funcionam em conjunto em uma de-terminada área, as interações biológicas que eles estabelecem e todos os processos físico-químicos que sobre eles se refletem.

Porém, a importância dessa disciplina das ciências naturais, em decor-rência do estudo de sistemas complexos e da sua necessária relação com a Geologia, a Física, a Química e a Matemática, foi a de transpor fronteiras disciplinares. Com isso, foi ampliando-se a noção de ecologia na medida em que se pode estabelecer, inclusive, interfaces com as sociedades humanas em vários aspectos (Sociologia, Economia, Ética, Política etc.). Dessa forma, a ecologia pode significar desde um estudo de espécies individualizadas quanto a totalidade dos ambientes do planeta Terra (KORMONDY, 2002, p. 28). Daí derivaram especializações e expressões como ecologia humana, eco-logia cultural, ecologia sociológica. Na área das Ciências Sociais, da Filosofia e da História, há uma tendência a usar as expressões ecologia, meio ambiente ou ambiente como sinônimas, e entendidas genericamente como as intera-ções que se estabelecem entre a sociedade e a natureza.

Há controvérsias sobre os limites e a abrangência da ecologia. Para alguns estudiosos, a ecologia é uma ciência aplicada que se dedica ao estudo de uma enorme e difusa variedade de problemas ambientais. Dispõe de princípios e métodos de investigação, que podem servir para a solução de problemas

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práticos ou para ajudar a sociedade a escolher entre ações alternativas. Para outros, como a ecologia se situa na perspectiva do sistema global – porque analisa as interações dos sistemas vivos (nos quais se incluem os seres hu-manos) com o ambiente –, ela constitui uma abordagem ampla, múltipla e restabelece o diálogo e a confrontação entre homens e natureza.

Conceito de meio ambienteComo demonstram Marcel Jollivet e Alain Pavé (1995), a definição do

que é meio ambiente, ou a sua definição enquanto objeto científico, é uma operação complicada. A noção de meio ambiente está relacionada a um objeto central, e esse objeto difere segundo as disciplinas científicas; ou seja, a noção de ambiente ou meio ambiente pressupõe a necessidade de um sujeito ou referencial central que percebe ou interage com o entorno. Esse sujeito pode ser uma população humana, animal ou vegetal, um indiví-duo, um ecossistema. Esse sujeito interage com o meio de maneira mais ou menos intensa, e pode perturbá-lo ou ser influenciado por ele. Ambiente ou meio ambiente, portanto, é aquilo que está em volta, mas necessariamente de algo ou alguém.

Embora a expressão meio ambiente seja complexa, polissêmica, mutável no tempo e no espaço, envolvendo fenômenos de características científicas e técnicas difíceis de precisar, em geral tem sido usada como tudo aquilo que circunscreve os seres vivos, as coisas, a percepção e a intervenção do homem sobre o meio natural. Para Jollivet e Pavé (1995, p. 7), meio ambiente é o “[...] conjunto de meios naturais ou artificializados da ecosfera onde o homem se instalou, que explora e administra, e os conjuntos dos meios não antropiza-dos necessários à sua sobrevivência”.

Em outros termos, o economista francês Ignacy Sachs (1986, p. 12) define ambiente ou meio ambiente como a articulação entre três subconjuntos: o meio natural, as tecnoestruturas criadas pelo homem e o meio social. Am-biente, portanto, abrange o equilíbrio dos recursos naturais e a qualidade do ambiente, e implica o reconhecimento das inter-relações dos processos na-turais com os processos sociais. A partir do reconhecimento dessas inter-re-lações, Sachs defende que o ambiente é uma dimensão do desenvolvimento e que, por meio das técnicas disponíveis, o homem transforma os recursos em produtos apropriados ao consumo e à reprodução social.

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Conceito de ecodesenvolvimentoNo ano seguinte à primeira Conferência sobre o Meio Ambiente em Esto-

colmo, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU), o termo eco-desenvolvimento foi lançado pelo canadense Maurice Strong7, em reunião realizada em Genebra em junho de 1973. Mas o conceito, com princípios re-formulados, foi consolidado e disseminado pelo economista francês Ignacy Sachs.

A origem do conceito se deve a uma polêmica entre duas correntes teóricas com ideais extremos: os partidários do crescimento selvagem, que o defendem como meio para corrigir os seus próprios males, e os zeristas, que defendem o crescimento zero com a finalidade de preservar a natureza. Colocando-se entre essas duas linhas extremas, o ecodesenvolvimento, ao invés de postular o não-crescimento, defende novas modalidades de cresci-mento, baseadas tanto na revisão de suas finalidades como nos seus instru-mentais, procurando aproveitar as contribuições culturais das populações e os recursos do seu meio.

Em síntese, ecodesenvolvimento é

um estilo de desenvolvimento que, em cada ecorregião, insiste nas soluções específicas de seus problemas particulares, levando em conta os dados ecológicos da mesma forma que os culturais, as necessidades imediatas como também aquelas a longo prazo. (SACHS, 1986, p. 15).

Conceito de desenvolvimento sustentávelA expressão tem sua origem nos debates sobre o ecodesenvolvimento.

Sachs (1986) utiliza esse conceito no contexto de uma dura crítica ao modelo de desenvolvimento forjado pelas sociedades industriais, e às condições de desenvolvimento das regiões subdesenvolvidas. Segundo o autor, para as sociedades alcançarem o desenvolvimento de modo ecologicamente satis-fatório, é necessário levar em consideração seis aspectos:

a satisfação das necessidades básicas das pessoas;

a solidariedade com as gerações futuras;

a participação da população envolvida nas decisões;

a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente;

7 Diretor executivo do Pro-grama das Nações Unidas para o Ambiente.

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Desenvolvimento Sustentável

a elaboração de um sistema social que garanta emprego, segurança social e respeito à diversidade cultural;

o estabelecimento de programas de educação.

Ainda nos anos 1970, a Declaração de Cocoyok, das Nações Unidas, intro-duziu a análise da pobreza8 como causa da explosão demográfica e principal indutora da rápida deterioração dos recursos naturais. O modelo de consumo dos países industrializados também foi apontado como fator de agravamento desse quadro, podendo-se, portanto, falar em limites máximos e mínimos de crescimento. Em 1975, outro relatório internacional, o da Fundação Dag-Ham-marskjold, com a participação de políticos e pesquisadores de 48 países, com-plementou as recomendações de mudanças nas estruturas de propriedade rural e o repúdio às posturas governamentais dos países industrializados.

Esse panorama preparou terreno fértil para que, em 1987, com a intensi-ficação da preocupação mundial sobre as questões ambientais, o conceito de desenvolvimento sustentável ganhasse contornos mais definidos, porém ainda genéricos. No relatório Nosso Futuro Comum, conhecido como Rela-tório Brundtland9, a Comissão Mundial da ONU10 sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Unced), ao examinar a ligação entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental, afirma: “desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a pos-sibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”. Essa definição contém dois conceitos-chave:

o conceito de necessidades, sobretudo as essenciais dos pobres do mundo, que devem receber a máxima prioridade;

a noção das limitações que o estágio da tecnologia e da organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender às necessi-dades presentes e futuras (COMISSÃO, 1991, p. 46).

Nosso Futuro Comum e os princípios de sustentabilidade

A partir da definição de desenvolvimento sustentável pelo relatório Nosso Futuro Comum, entendeu-se que, ao se definirem os objetivos do desenvol-vimento econômico e social, faz-se necessário levar em conta a sua susten-tabilidade em todos os países – desenvolvidos ou em desenvolvimento, com

8 A pobreza “é o nível de renda abaixo do qual uma pessoa ou uma família não é capaz de atender regular-mente às necessidades da vida” (COMISSÃO mundial sobre meio ambiente e de-senvolvimento, 1991, p. 54).

9 O Relatório Brundtland recebeu esse nome em re-ferência à primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, que presidiu a Comissão.

10 A Organização das Nações Unidas (ONU) tem como ob-jetivos manter a paz, defen-der os direitos humanos e as liberdades funda mentais, bem como promover o de-senvolvimento dos países em escala mundial.

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Desenvolvimento sustentável

economia de mercado ou de planejamento central (1991):

Dentre os princípios básicos de sustentabilidade apontados pelo relató-rio, estão os que apresentamos abaixo.

Que todos devem ter atendidas as suas necessidades básicas e devem ter oportunidades de concretizar suas aspirações a uma vida melhor. Essas necessidades são determinadas social e culturalmente, e o de-senvolvimento sustentável requer a promoção de valores que man-tenham os padrões de consumo dentro do limite das possibilidades ecológicas a que todos podem aspirar;

Que haja crescimento econômico em regiões em que as necessidades básicas não estão sendo atendidas. Onde estas já são atendidas, o de-senvolvimento sustentável é compatível com o crescimento econômi-co, desde que ele reflita os princípios amplos da sustentabilidade e da não-exploração dos outros. Mas o simples desenvolvimento econômi-co não basta: o desenvolvimento sustentável exige que as sociedades atendam às necessidades humanas, tanto aumentando o potencial de produção quanto assegurando a todos as mesmas oportunidades. Aponta-se que muitos problemas derivam de desigualdades de acesso aos recursos, como por exemplo uma estrutura não eqüitativa de pro-priedade da terra, que pode levar à exploração excessiva dos recursos das propriedades menores, com efeitos danosos para o meio ambien-te e para o desenvolvimento. Destaca-se que “quando um sistema se aproxima de seus limites ecológicos, as desigualdades se acentuam”;

Que, no mínimo, não sejam colocados em risco os sistemas naturais que sustentam a vida na Terra: a atmosfera, as águas, os solos e os se-res vivos. O desenvolvimento sustentável exige que o índice de des-truição dos recursos não-renováveis mantenha o máximo de opções futuras possíveis. É preciso que se minimizem os impactos adversos sobre a qualidade do ar, da água e de outros elementos naturais, a fim de manter a integridade global do ecossistema, ou seja, a Terra não deve ser deteriorada além de um limite razoável de recuperação;

Que o desenvolvimento tecnológico seja orientado para as premissas anteriores.

Em síntese, o relatório Nosso Futuro Comum aponta que o desenvolvi-mento sustentável

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Desenvolvimento Sustentável

[...] é um processo de transformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas (1991, p. 49).

Ou seja, para a Comissão, o desenvolvimento sustentável não é um estado permanente de harmonia, mas um processo de mudança, que depende do empenho político. A Comissão certamente avançou na reflexão e no diagnós-tico sobre a questão econômico-ambiental ao destacar a interdependência global das manifestações físicas e econômicas, tais como a relação entre os efeitos globais da poluição e os preços dos produtos agrícolas em uma eco-nomia internacionalizada. Por isso defende, além do fortalecimento político e comunitário local e regional, a cooperação internacional.

A principal contribuição desse relatório, conforme Leis (1999, p. 150), não são as formulações técnicas sobre o que deve ser o desenvolvimento sus-tentável e as recomendações de ações para os governos – até porque havia diferenças de critérios entre os membros dos países participantes –, mas o seu posicionamento ético. Leis lembra que, em geral, os princípios éticos são lembrados em grandes documentos como a Declaração Universal dos Direi-tos Humanos, após o fim da Segunda Guerra Mundial, mas não em textos técnicos voltados para instrumentalizar ações políticas e econômicas de ins-tituições governamentais.

Ao afirmar os princípios do desenvolvimento sustentável, entendendo que o desenvolvimento deve atender às necessidades presentes sem pre-judicar as possibilidades de atender às das gerações futuras, o relatório vai além do reconhecimento da complexidade e interdependência dos países e dos fenômenos naturais e sociais: os homens têm responsabilidade frente à natureza, e o ser humano não é a medida de todas as coisas.

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Desenvolvimento sustentável

Estratégias de transição para o século XXI(SACHS, 1994. Adaptado)

Do conceito à ação

Na prática, a imaginação ecológica deve guiar a reflexão sobre o de-senvolvimento. O objetivo é o de melhorar o destino de mais de um bilhão de indivíduos que vivem abaixo do limiar da pobreza, começando por assegurar-lhes “meios viáveis de existência” (CHAMBERS), qualquer que seja o contexto ambiental ou cultural em que vivam [...].

Os cinco aspectos do ecodesenvolvimento

Qualquer planificação do desenvolvimento deve tomar em conside-ração simultaneamente os seguintes cinco aspectos de viabilidade.

1. A viabilidade social, considerada como a instauração de um processo de desenvolvimento apoiando-se sobre um “outro” crescimento e inspi-rando-se em uma nova concepção sobre o que deveria ser uma sociedade melhor. O objetivo é o de construir uma civilização caracterizada por uma maior justiça na repartição das riquezas e das rendas, tendo como objetivo a redução da distância no nível de vida entre providos e deserdados.

2. A viabilidade econômica, tornada possível pela repartição e pela gestão mais eficiente dos recursos, e por um fluxo regular de investimen-tos públicos e privados. É essencial superar as configurações externas

Ampliando seus conhecimentos

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negativas criadas pelo peso da dívida e as saídas líquidas dos recursos financeiros do Sul para o Norte, assim como pelos termos de troca desfa-voráveis, as barreiras protecionistas ainda em voga no Norte e as restri-ções de acesso à ciência e à tecnologia. A eficiência econômica deveria ser avaliada de preferência em função de critérios macrossociais e não no micronível do benefício das empresas.

3. A viabilidade ecológica, que poderia ser melhorada com as seguin-tes medidas:

aumentar a capacidade de carga da nave Terra, procurando os meios de intensificar a exploração do potencial dos recursos dos diversos ecossistemas, causando os menores danos possíveis aos sistemas de manutenção da vida;

limitar o consumo de combustíveis fósseis e outros recursos e pro-dutos em via de esgotamento, ou cuja utilização seja nefasta ao meio ambiente, substituindo-os por recursos ou produtos renová-veis e/ou abundantes, utilizados de modo a respeitar o meio am-biente, reduzir o volume dos resíduos e o nível de poluição, econo-mizando e reciclando energia e recursos;

incitar os ricos, em escala nacional e individual, a limitar volunta-riamente o consumo de bens materiais;

intensificar a pesquisa de tecnologias que produzam poucos resí-duos e que assegurem um bom rendimento dos recursos para o desenvolvimento urbano, rural e industrial;

definir as regras para uma adequada proteção do meio ambiente, elaborar os mecanismos institucionais e escolher a combinação de instrumentos econômicos, jurídicos e administrativos necessários à sua aplicação.

4. A viabilidade espacial, que deverá ter como objetivo obter um melhor equilíbrio entre cidade e campo, e uma melhor repartição po-pulacional e da atividade econômica sob o conjunto do território, enfati-zando os seguintes pontos:

reduzir a alta densidade nas zonas metropolitanas;

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cessar a destruição pela colonização incontrolada dos ecossiste-mas frágeis cuja importância é vital;

promover o emprego de métodos modernos de agricultura e de agroflorestamento regenerativos pelos pequenos exploradores, fornecendo particularmente módulos técnicos apropriados e pos-sibilidades de crédito e de acesso aos mercados;

explorar as possibilidades de industrialização descentralizada oferecidas pelas tecnologias de nova geração, em se tratando particularmente de indústrias utilizando a biomassa, que podem contribuir à criação de empregos rurais não-agrícolas – M. S. Swa-minathan estima que uma nova forma de civilização baseada na utilização ecologicamente viável de recursos renováveis é não so-mente possível como indispensável (MCNEELY);

criar uma rede de reservas naturais da biosfera a fim de preservar a biodiversidade.

5. A viabilidade cultural, que implica a pesquisa das raízes endóge-nas dos modelos de modernização e dos sistemas agrícolas integrados, assim como dos processos que buscam mudança na continuidade cul-tural, e tradução dos conceitos normativos de ecodesenvolvimento em uma pluralidade de soluções locais específicas para cada ecossistema, cada cultura e cada situação.

Atividades de aplicação1. Analise os conceitos de ecologia, meio ambiente, ecodesenvolvimen-

to e desenvolvimento sustentável e estabeleça suas semelhanças e diferenças.

Dicas de estudoFOLADORI, Guillermo. Los Límites del Desarollo Sustentable. Montevideo: Edi-ciones de La Banda Oriental, 1999.

RESENDE, Paulo-Edgar Almeida (Org.). Ecologia, Sociedade e Estado. São Paulo: Educ/PUC-SP, 1995.

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