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GEOGRAFIA HUMANA E ECONÔMICA Autor Rafael Lacerda Martins 1.ª edição Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

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GEOGRAFIA HUMANA E ECONÔMICA

Autor

Rafael Lacerda Martins

1.ª edição

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© 2007 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

Todos os direitos reservadosIESDE Brasil S.A.

Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel 80730-200 • Curitiba • PR

www.iesde.com.br

M386 Martins, Rafael Lacerda

Geografia Humana e Econômica./Rafael Lacerda Martins. — Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2007.

124 p.

ISBN: 978-85-7638-765-7

1. Geografia humana - Brasil 2. População - Estatística 3. Globalização 4. Geografia econômica I. Título

CDD 304.20981

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Sumário

Introdução à Geografia | 7Geografia | 7Geografia Humana e Econômica | 9Espaço geográfico | 11Escala geográfica | 12

Conceitos fundamentais | 15Níveis de análise em Geografia | 15Região | 16Lugar | 18Território | 20

Geografia Cultural | 25Introdução à Geografia Cultural | 25Temas da Geografia Cultural | 26A noção de gênero de vida | 28Geografia Cultural: reflexos da globalização | 28

Geografia Política | 33Introdução à Geografia Política | 33Geopolítica | 35Geopolítica e nova ordem mundial | 37

Globalização | 41Processo de globalização | 41Blocos econômicos: o caso do Mercosul | 42Economias mundiais | 44Implicações espaciais das atividades econômicas sob a visão do capitalismo | 45

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Abordagens do espaço agrário | 49Organização do espaço agrário | 49Caracterização geográfica como propósito de indicações de procedência | 50Geografia Agrícola: o caso da produção do arroz | 52

Abordagens sobre o meio técnico | 59O meio técnico-científico-informacional | 59Constituição dos espaços econômicos | 61Integração territorial | 62

O espaço regional | 67Dinâmica regional brasileira | 67Organização econômica: o espaço regional em transformação | 69Urbanização brasileira | 71

Temas em Geografia da População | 75Demografia na análise geográfica | 75Estudos populacionais e fontes de dados | 76Distribuição e estrutura da população | 78Crescimento populacional | 80

Abordagens no estudo da população | 85Políticas de população | 85Ferramentas do demógrafo | 86Teorias de população: O pensamento Neomalthusiano | 88Teoria de Marx acerca da população | 89Concepções sobre populações: as migrações | 89

Elementos da dinâmica populacional | 93Dinâmica populacional brasileira | 93Desenvolvimento populacional | 96Algumas considerações sobre o Índice de Desenvolvimento Humano | 97

Abordagem socioambiental em Geografia Humana | 103Questão ambiental | 103Conceito de gestão ambiental e planejamento ambiental | 104Sustentabilidade ambiental no contexto da Geografia Humana | 106Reflexões socioambientais: recursos hídricos | 107

Gabarito

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ApresentaçãoPrezados alunos,

Sou o Professor Rafael Lacerda Martins. Ao iniciarmos a disciplina de Geografia Humana e Econômica, quero dese-

jar as boas-vindas e convidá-los para iniciar os estudos dessa disciplina imbuídos de curiosidade, disponibilidade e

responsabilidade crítica em torno das temáticas apresentadas.

A disciplina tem como objetivo central o desenvolvimento de uma análise a respeito das diferentes abordagens em

Geografia Humana e Econômica. A estrutura e construção dos textos expressam conceitos, pensamentos e interpre-

tações do espaço geográfico e suas categorias. Procurei enfocar a evolução das dinâmicas ambientais, culturais e

socioterritoriais, em conjunto com as características e os estágios do processo histórico-geográfico. Dessa maneira,

a realização e o desenvolvimento dessa disciplina pretendem ser um processo desencadeante de alterações objeti-

vas e subjetivas em nossa forma de inserção e futura intervenção na realidade social e ambiental.

Este livro está estruturando em 12 aulas, no qual irei abordar uma breve introdução da Geografia como ciência e

seus conceitos fundamentais na análise das relações entre a sociedade e natureza. Apresento a Geografia Cultural,

procurando enfocar os estudos das relações humanas. Abordo a Geografia Política, como um conhecimento impor-

tante para interdisciplinaridades das ciências humanas. Apresento considerações sobre o processo de globalização

e suas implicações culturais e geoeconômicas no mundo e no Brasil. Trato também da organização do espaço agrá-

rio, como o espaço de interesse nas relações do território e nas funções de integração territorial. Por fim, relaciono

um quadro-síntese e o objetivo dos estudos populacionais, concentrado na geografia da população, identificando

os conceitos e as definições importantes para os cientistas sociais, numa análise e uma interpretação nas diferentes

abordagens de estudo. O conteúdo do livro busca acrescentar uma leitura informativa, crítica e interpretativa sobre

os diferentes estudos nas distintas áreas da Geografia Humana e Econômica. Apresenta uma abordagem socio-

ambiental capaz de produzir uma visão critica e fundamental nos dias de hoje.

Bem, convido todos à leitura, e que esse livro auxilie na construção do conhecimento. Boas leituras!

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Globalização

Processo de globalizaçãoA globalização vem se estabelecendo na economia mundial a partir dos anos 1980, voltando-se

principalmente para a integração dos mercados financeiros. O que levou ao aparecimento das empre-sas transnacionais, à desregulamentação do sistema bancário e à desestatização de empresas nacionais estratégicas. Tais processos manifestam-se de formas distintas, tornando os mercados mais eficientes e mais complexos do ponto de vista econômico-financeiro. As mudanças no cenário econômico decor-rentes evidenciam a permanente necessidade da obtenção de informações de caráter quantitativo a respeito desse fenômeno econômico-social, permitindo uma melhor percepção do processo de inte-gração dos mercados e de sua influência sobre a economia dos países.

A globalização e a integração regional constituem-se em aspectos centrais do funcionamento da economia mundial. A globalização aprofunda o caráter internacional dos processos econômicos e a integração regional, cuja definição caracteriza-se pela regionalização da economia, o que remete ao surgimento de espaços de relações de trocas comerciais e financeiras privilegiadas entre países. A formação dos blocos econômicos tem revelado-se como um forte elemento para a globalização, no sentido de que a soma de esforços entre os países em blocos aumentam sua potência e o seu poder econômico e político. Portanto, a globalização pode ser compreendida como um processo de integração mundial, que se intensifica de forma muito rápida e feroz, principalmente nas últimas décadas. A globalização1 aparece fortalecida por bases conceituais da liberalização econômica, associado a países que abandonam, por exemplo, as barreiras tarifárias que resguardam sua produção de concorrência estrangeira e abrem-se para entrada estrangeira de capitais, serviços e bens.

1 Designa a tendência atual das grandes empresas a delegar parte de seu poder a filiais espalhadas pelos quatro cantos do mundo. Com efeito, para melhorar sua competitividade, as multinacionais confiam suas filiais a administradores autóctones, mais aptos a perceber as especificidades locais nos métodos de gestão e de produção (globalização + localização). (BENKO, 1996).

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42 | Geografia Humana e Econômica

Blocos econômicos: o caso do MercosulO Mercado Comum do Sul (Mercosul) aparece num cenário internacional aparentemente regido por

duas tendências de relações: regionais e globais. Esses fenômenos são mais convergentes que divergentes, na medida em que o processo de regionalização se mostra como uma etapa para a globalização. Os países não deixam de comercializar individualmente com países de outros blocos. O fato de um país participar de mais de um bloco econômico permite trocas e intercâmbio de forma bilateral com distintos parceiros.

A necessidade de uma crescente ampliação de mercado para o funcionamento da ideologia capi-talista faz com que os grandes grupos econômicos ultrapassem as fronteiras de seus países e concentrem a renda internacional. Esse movimento político-econômico cada vez mais complexo é respaldado pelos governos de países centralizadores, como os Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo. Os grandes gru-pos financeiros e produtivos se utilizam então do escudo de seus países para garantir sua manutenção ao mesmo tempo em que se lançam no mercado internacional exigindo abertura comercial por parte dos países menos estruturados industrialmente, o que caracteriza uma relação global assimétrica.

A hierarquia internacional de poder hoje, mais do que nunca, é balizada pela economia e pela alta tecnologia2. Após a Guerra Fria, com a quase hegemonia do sistema capitalista, a Europa e o Japão puderam desenvolver seus setores produtivos como um todo e fortalecer suas autonomias frente às relações internacionais. Em outras palavras, houve uma pluralização do poder internacional, no qual o padrão mundial passou a ser ditado por uma disputa mais horizontal, resultando num enfraqueci-mento relativo das partes e na possibilidade de emergência de acordos de abertura comercial regionais. O Mercosul surge nesse contexto representado inicialmente por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, conforme representação da figura a seguir, com o intuito de construir um mercado comum frente às crises da década de 1980. A formalização do Mercosul aconteceu a partir da assinatura do Tratado de Assunção em 1991.

Configuração do Mercosul em 1991

2 A partir dos anos 1970 o conceito de alta tecnologia tornou-se primordial na literatura de Geografia Industrial, mas permanece relativamente vago. A tecnologia pode definir-se como a sistematização dos conhecimentos e das técnicas que permitem à indústria realizar concretamente uma produção. A alta tecnologia simboliza o grau de aperfeiçoamento do produto realizado. (BENKO, 1996).

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43|Globalização

A configuração espacial atual do Mercosul visa a incorporação de novos países, que são divididos em três categorias: os observadores, que pretendem estabelecer participação e estreitar relações com o bloco; os países-membros, que efetivamente participam e são signatários do bloco e os países associa-dos ao bloco econômico, que apresentam objetivos relativamente comuns com os países-membros e se caracterizam por movimentos econômicos próximos ao bloco. Tal mudança espacial pode ser obser-vada pela entrada da Venezuela em 2005, que protocolou seu pedido de adesão ao Mercosul em 4 de julho de 2006. Os países associados, que são a Bolívia e o Chile com entrada em 1996, além do Peru em 2003 e a Colômbia e o Equador em 2004. Como o único país observador temos representado o México. Na composição dos países-membros do Mercosul, podemos citar: o Uruguai, o Brasil, a Argentina e o Paraguai. A seguir a figura apresenta a configuração do Mercosul do ano de 2007.

Configuração do Mercosul em 2007

O interesse em avançar nas negociações, entretanto, emerge neste momento como uma ten-tativa de contraponto à Área de Livre Comércio das Américas, a Alca. Sobre a situação do Mercosul, podemos incidir que um de seus acordos importantes refere-se à questão aduaneira, na medida em que serve para a manutenção da identidade do bloco, como uma tentativa de assumir uma economia forte e capaz de atingir mercados externos na competição comercial. A Alca, por exemplo, não prevê a união aduaneira, meta esta atualmente imperfeita para muitos países. Além da questão aduaneira, o Tratado de Assunção prevê a constituição de um mercado comum, com livre circulação de todos os fatores produtivos, inclusive a mão-de-obra. Os avanços da produção industrial e áreas comerciais, porém, encontram-se extremamente limitados. A etapa preliminar de harmonização das legislações nacionais encontra-se ainda em estágio incipiente. Enfim, pouco se avançou nos acordos intra-regionais e segundo avaliações recentes. O Mercosul vem privilegiando as negociações de acesso ao mercado de bens em determinados setores de produção: calçados e eletrodomésticos.

Optou-se por uma via facilitada de integração, essencialmente comercialista, evitando a cessão de soberania que decorria da questão de políticas comuns, bem como da implementação de instituições de natureza supranacional. A análise leva a conclusão, então, de que a Alca efetivamente pode diluir o Mercosul no âmbito hemisférico, pois a identidade mais visível dessa relação regional é o comércio.

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44 | Geografia Humana e Econômica

Logo, para sua preservação, faz-se necessário aprofundar a integração sub-regional em campos não exclusivamente comerciais. Em 1997, o governo argentino apresentou uma proposta no sentido de que a integração deve avançar em campos como o da adoção de uma política de defesa e segurança comum, e até mesmo uma moeda única, com vistas a fortalecer o Mercosul, enquanto espaço econômico e político comum. Esses assuntos presentes hoje nos debates políticos poderiam indicar um interesse pela preservação e fortalecimento do bloco por parte dos países-membros.

Segundo Mônica Arroyo, um elemento importante para análise do processo de integração econômica é o Mercosul, pois representa o caso de um dilema ainda não resolvido3. A posição política de intervenção assumida pelos governos dos países-membros do bloco seguem dois caminhos pos-síveis e necessários: o primeiro implica em uma elevada desregularização das atividades econômicas, simultaneamente a uma reestruturação orientada pelos mecanismos do mercado. Essa opção pode resultar em graves custos sociais e em um aprofundamento do esquema da especialização interseto-rial, que consiste fundamentalmente no processo dos países estabelecerem acordos e associações em segmentos industriais, marcados por setores especializados e efetivos na economia nacional. A outra via, que está cada vez mais no centro da experiência internacional, exige uma regularização estatal com políticas industriais e tecnológicas ativas em cada país e um esforço deliberado da harmonização das políticas econômicas além do plano cambial. O Estado parece ser o único com o poder de facilitar a par-ticipação de todos os agentes econômicos no processo de integração, fundamentalmente das peque-nas e médias empresas, pois é ele que legisla ações e proposições e estabelece uma agenda política junto aos parceiros do bloco.

Economias mundiaisO novo contexto econômico mundial, segundo Sedi Hirano, pode ser entendido a partir do fim

da bipolarização do poder entre o leste e o oeste do mundo (capitalismo x socialismo) no período iniciado nos anos 1990. A nova ordem econômica mundial é marcada pela formação de megablocos geoeconômicos e configuram assim três regiões de atuação do capitalismo. O autor descreve a pax americana, a pax européia e a pax do Pacífico4. A interpretação para o termo Pax, pode ser entendida através da representação do período da paz do mundo, após a II Guerra Mundial, configurando grandes áreas e/ou agrupamentos espaciais reconhecidos no mundo. Para facilitar a espacialização dessas áreas, podemos observar a seguir, o esboço da organização geopolítica da “nova ordem” mundial desenhado por Zbigniew Brzezinski, conselheiro especial para assuntos de segurança nacional do presidente norte-americano Jimmy Carter (1976-1980). Publicado originalmente no documento Word Media – A nova Desordem Mundial.

3 Arroyo, Monica. Mercosul: novo território ou ampliação de velhas tendências. In: SANTOS, M. et al (org). O Novo Mapa do Mundo. Globalização e Espaço Latino Americano. 3. ed. São Paulo: Hucitec-anpur, 1997. (p. 122-131).4 Hirano, Sedi. A América Latina no novo contexto mundial. In: SANTOS, M. et al (Org). O Novo Mapa do Mundo. Globalização e Espaço Latino Americano. 3. ed. São Paulo: Hucitec-anpur, 1997. (p. 28-44).

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45|Globalização

A Nova Ordem Multipolar

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Enquanto no passado havia dois pólos político-ideológicos em permanente conflito, hoje o foco é a globalização e a regionalização econômica e social. Nessa nova ordem sobressaem-se dois conceitos: o de mercado e o de democracia, tendo ambos os conceitos fundamentos na liberdade. Na democracia, a liberdade traz implícita a necessidade de igualdade e de justiça nas relações sociais, políticas e econômicas, o que, em tese, deve levar à construção das sociedades justas.

Atualmente, a globalização e a regionalização fundamentam-se sobretudo na idéia de interde-pendência de mercados, com preponderância do sentido econômico sobre o cultural. O mercado e a de-mocracia necessitam de regras estáveis e o capitalismo moderno precisa de trabalhadores livres e assa-lariados, assim como de empresas estáveis e livres para interagir entre si, o que só se consegue por meios “pacíficos”, tais como as relações de trocas e cooperações científicas e tecnológicas, por exemplo.

Implicações espaciais das atividades econômicas sob a visão do capitalismo

O capitalismo da pax européia teve início com a internacionalização da economia promovida pela Inglaterra, a qual, enquanto detinha a supremacia de investimentos de capitais, considerava países como Argentina e Brasil celeiros do mundo. Toda a produção dos países do terceiro mundo era destinada à indústria manufatureira britânica. Essa forma de capitalismo favoreceu a criação de gru-pos oligárquicos no interior dos países do terceiro mundo, gerando grandes desigualdades sociais e econômicas, afinal os trabalhadores estavam sujeitos a condições de trabalho subumanas nas fazendas de café e pecuária, engenhos e outras formas de produção. Outra conseqüência nos países periféricos foi a imigração maciça de europeus, de forma que o desenvolvimento nos países da América Latina foi baseado na importação de mão-de-obra e na conseqüente marginalização das populações locais.

O capitalismo da pax americana desenvolveu-se após a Primeira Guerra Mundial e tornou-se hegemônico após a Segunda Guerra Mundial, tendo início com o fordismo5. Os impérios coloniais

5 Da lógica tayloriana nasceu o fordismo (com o nome de seu conceptor, Henry Ford), que constitui uma forma organizacional distinta. Ele cria o principio da cadeia contínua, que implica submissão à cadeia do conjunto de máquinas. (BENKO, 1996, p. 236).

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46 | Geografia Humana e Econômica

capitalistas perderam a sua importância estratégica diante do novo padrão de acumulação6, porque sua acumulação de capital não dependia do mercado externo. Precisava somente do auxílio da forte articulação interna para a produção de manufaturados, caracterizado por um capitalismo autônomo. Essa autonomia é assegurada pela expressiva demanda interna, que lhe dá independência para a formação dos preços. Houve um aumento do comércio e dos investimentos de capitais dos países do Hemisfério Norte no próprio Hemisfério Norte, excluindo o Sul. Os países do Hemisfério Sul se integraram à economia do Norte, deixando de desenvolver o intercâmbio entre países Sul-Sul.

Podemos citar ainda que o capitalismo da pax americana, centrado na lógica da acumulação inten-siva do capital e na divisão interindustrial do trabalho, provocou enorme concentração dos investimen-tos estrangeiros nos países da América Latina, através do processo de transnacionalização da economia, acentuando assim as desigualdades econômicas, sociais e políticas. A fase de expansão territorial das em-presas norte-americanas desenvolveu na América Latina uma política de incentivo e facilidade ao capital estrangeiro, tornando o mercado interno latino-americano dependente do mercado externo.

A industrialização observada no Brasil e na Argentina, baseada nas exportações de matérias-primas e não-manufaturadas, demonstra que a industrialização nesses países é uma simples adaptação à nova forma de dependência controlada pelos países desenvolvidos. Um dos resultados desse capitalismo foi o endividamento dos países da América Latina. Essa nova reorganização espacial da produção indus-trial das multinacionais em regiões periféricas ocasionou falência das pequenas empresas nacionais. Nessa nova ordem econômica mundial há proeminência da economia dos Estados Unidos e o aprofun-damento da internacionalização do capital. O processo de transnacionalização dos grupos econômicos gerou, na década de 1980, um retrocesso econômico na América Latina, não havendo modernização do modelo de desenvolvimento7 econômico.

O capitalismo da pax do Pacífico, também está associado ao fenômeno de globalização da econo-mia entre o fim dos anos 1980 e início dos anos 1990, ocasionando uma grande discussão em volta da globalização e da regionalização, em amplitude e escala, com os seguintes elementos: a posição central do comércio exterior no mercado internacional e os investimentos estrangeiros diretos; a articulação en-tre os países, visando a integração através da regionalização da economia como movimento de defesa contra a competitividade global; a formação de megablocos econômicos, a partir da década de 1990; a “regionalização aberta” da Ásia, em torno da Associação de Cooperação Econômica (APEC); a importân-cia decisiva da terceira revolução comercial (avanço tecnológico – semicondutores); a mudança do eixo geoeconômico do centro dinâmico do Atlântico para o Pacífico; o marco da nova divisão do trabalho (robotização). Para completar os elementos envoltos na idéia de regionalização da economia, podemos citar a mudança da mobilidade e acumulação ampliada da transnacionalização para a globalização.

6 As sociedades capitalistas se caracterizam, segundo as épocas, por diferentes formas de acumulação. Um regime de acumulação designa urna forma de alocação das riquezas sociais criadas, que asseguram correspondência mais ou menos bem estabelecida entre as transformações das condições da produção e a evolução da demanda social: esse equilíbrio não é um equilíbrio natural. (BENKO, 1996, p. 225).7 Apresenta-se como a conjunção de três aspectos compatíveis: uma forma de organização do trabalho (um paradigma industrial), uma estrutura macroeconômica (um regime de acumulação) e um conjunto de normas implícitas e regras institucionais (um modo de regulação). (BENKO, 1996, p. 243).

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47|Globalização

Texto complementarO mundo tal como nos fazem crer: a globalização como fábula

(SANTOS, 2000. p. 18-20)

Este mundo globalizado, visto como fábula, erige como verdade um certo número de fantasias, cuja repetição, entretanto, acaba por se tornar uma base aparentemente sólida de sua interpretação (Maria da Conceição Tavares, Destruição não-criadora, 1999).

A máquina ideológica que sustenta as ações preponderantes da atualidade é feita de peças que se alimentam mutuamente e põem em movimento os elementos essenciais à continuidade do sistema. Damos aqui alguns exemplos. Fala-se, por exemplo, em aldeia global para fazer crer que a difusão instantânea de notícias realmente informa as pessoas. A partir desse mito e do encurtamen-to das distâncias – para aqueles que realmente podem viajar – também se difunde a noção de tempo e espaço contraídos. É como se o mundo se houvesse tornado, para todos, ao alcance da mão. Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas. Há uma busca de uniformidade no serviço dos atores hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto isso, o culto ao consumo é estimulado.

Fala-se, igualmente com insistência, na morte do Estado, mas o que estamos vendo é seu for-talecimento para atender aos reclamos da finança e de outros grandes interesses internacionais, em detrimento dos cuidados com as populações, cuja vida se torna mais difícil.

Esses poucos exemplos, recolhidos numa lista interminável, permitem indagar se, no lugar do fim da ideologia proclamada pelos que sustentam a bondade dos presentes processos de globali-zação, não estaríamos, de fato, diante da presença de uma ideologização maciça, segundo a qual a realização do mundo atual exige como condição essencial o exercício de fabulações.

O mundo como é: a globalização como perversidadeDe fato, para a grande maior parte [sic] da humanidade a globalização está se impondo como

uma fábrica de perversidades. O desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes. Novas enfermidades como a AIDS se instalam e velhas do-enças, supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal. A mortalidade infantil permanece a des-peito dos progressos médicos e da informação. A educação de qualidade é cada vez mais inacessível. Alastram-se e aprofundam-se males espirituais e morais, como o egoísmo, o cinismo e a corrupção.

A perversidade sistêmica que está na raiz dessa evolução negativa da humanidade tem rela-ção com a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas. Todas essas mazelas são direta ou indiretamente imputáveis ao presente processo de globalização.

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48 | Geografia Humana e Econômica

Atividades1. Qual é a idéia que se tem quando se fala em formação de blocos econômicos?

2. Quais são os principais aspectos que formam a hierarquia internacional do poder nos dias de hoje?

3. Como podemos descrever as configurações atuais do Mercosul?

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Gabarito

Globalização

1. A idéia de um forte elemento para a globalização, na direção em que soma esforços de países em blocos que aumentam sua potência e o seu poder econômico e político.

2. As capacidades econômicas e tecnológicas dos países, o desenvolvimento dos setores produtivos, a alta competitividade e a padronização industrial.

3. O Mercosul apresenta uma configuração dividida em categorias, como a categoria de países obser-vadores, a categoria de países-membros e a categoria de países associados ao bloco econômico.

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