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ISSN 2176-1396
EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM TELA- SEGUNDO CICLO DE CINEMA
SOCIOAMBIENTAL DE ITAARA: ÁGUA E SOCIEDADE
Letícia Ramires Corrêa1 - UFSM
Renata Azevedo Xavier2 - PUCPR
Marina Deon Ferrarese³-UFSM
Eixo – Educação Ambiental
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Este projeto tem por finalidade o desenvolvimento de um ciclo de cinema que buscou
sensibilizar a comunidade de Itaara (RS) para a importância das ações de proteção e
conservação dos mananciais hídricos em diferentes escalas. Desta forma, insere- se como uma
ação extensionista de educação ambiental dentro do projeto “Saúde da Água” desenvolvido
pela Fundação Mo’ã em parceria com a UFSM no respectivo município. A educação
ambiental, aqui entendida, representa a incorporação de critérios socioambientais, ecológicos,
éticos e estéticos na avaliação e transformação das condições que controlam a qualidade
ambiental e qualidade de vida das comunidades que são integradas ao projeto. Neste sentido,
entendemos que a tarefa extensionista da universidade, no campo da Educação Ambiental, vai
para muito além do simples repasse de tecnologias e condutas mais “limpas” para a
sociedade; é preciso resgatar o que ainda resta de capital humano e ambiental no modo de
vida moderno, para colocá-los efetivamente sob o controle da sociedade, no seu coletivo,
onde a questão da revitalização da cultura e da história local, o conhecimento do meio
ambiente onde se vive, e a participação da comunidade na preservação deste patrimônio, são
questões estratégicas para se conquistar cenários mais autônomos e sustentáveis. Para isso,
estamos elegendo o uso de filmes e documentários como uma linguagem capaz de sensibilizar
e servir como instrumento de mediação para o debate ambiental dentro das escolas, de modo
que a partir da observação de outras realidades, a comunidade escolar possa se sensibilizar
para refletir, problematizar e transformar a sua própria.
Palavras-chave: Água. Conflitos socioambientais. Oficina pedagógica. Educação ambiental.
1 Graduada em Geografia pela UFSM. Aluna do programa de Pós-graduação em Geografia pela UFSM.
Email:[email protected] 2Graduada em Ciências Biológicas-Ênfase Marinha Costeira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Com Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. E-mail:
³Graduada em Ciências Biológicas Bacharelado pela Universidade Federal de Santa Maria. Com Pós-Graduação
em Agrobiologia da Universidade Federal de Santa Maria. Aluna especial de graduação da Universidade Federal
de Santa Maria, cursando Paleontologia e Turismo, ações para o desenvolvimento regional. E-mail:
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Introdução
A bacia do rio Vacacaí-Mirim é responsável pelo abastecimento da maior parte da
população urbana e rural do município de Itaara que se encontra na Figura 1, através do lago
da sede campestre da SOCEPE (Sociedade Concórdia Caça e Pesca), maior reservatório da
cidade, de onde a CORSAN (Companhia Rio-grandense de Saneamento) retira um volume
médio de 31.800 m³/mês, além de ser fonte de água para os balneários de lazer e açudes nas
áreas rurais (MARION,2007). Os recursos hídricos desta bacia integram a barragem do
DNOS (Departamento Nacional de Obras de Saneamento), que abastece parte significativa da
cidade Santa Maria, além de serem utilizados para a prática de esportes náuticos e atividades
de lazer a milhares de turistas que se deslocam de Santa Maria para Itaara durante o verão.
Figura 1- Mapa de localização do município de Itaara/RS.
Fonte: Malha Digital IBGE,2007. Org: Weber, A.A. 2016.
Todavia, o desmatamento, a captação ilegal de água e a emissão de esgotos e
poluentes têm comprometido a integridade deste patrimônio hídrico, exigindo dos gestores e
da sociedade atividades que envolvam uma maior proteção e melhor conservação destes
recursos. Nesta perspectiva, a educação ambiental formal junto às escolas do município pode
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ser um instrumento eficaz de sensibilização para garantir um maior envolvimento e
monitoramento da sociedade na gestão coletiva do patrimônio hídrico do município.
O principal eixo de atuação da educação ambiental, em todas as dimensões em que se
faz presente, é o de buscar a solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença através de
práticas interativas e dialógicas capazes de refletir e atuar sobre as formas que se tem
reproduzido a relação da sociedade com a natureza. Isto se consubstancia no objetivo de criar
novas atitudes e comportamentos diante das diferentes formas de consumo da nossa sociedade
e de estimular a mudança de valores individuais e coletivos na proteção do patrimônio
natural.
Diante disso o objetivo deste trabalho foi promover oficinas de educação ambiental
junto a escolas públicas do município de Itaara, problematizando questões referentes aos
conflitos socioambientais contemporâneos envolvendo a proteção e conservação do
patrimônio hídrico, de modo a incentivar a construção de uma cultura crítica de reflexão e
ação transformadora sobre os problemas da comunidade, numa perspectiva global-local.
Tendo em vista a educação ambiental, como eixo transversal no ensino nas escolas,
contribui para que a mediação ocorra efetivamente entre conhecimento e aluno, para a
construção de uma educação de qualidade. Para a realização desta mediação os recursos
audiovisuais são ferramentas dinâmicas, proporcionando um diálogo do aluno e a comunidade
escolar a respeito do ambiente em que vive, estabelecendo relações afetivas com o “lugar”, e
construindo uma consciência de preservação do patrimônio natural que há no município de
Itaara, a partir da observação e reflexão do filmes e documentários pensar a comunidade
escolar como fonte de debate e conhecimento que sirva para transformar a cidade em um
lugar melhor e o que já existe de bom ser preservado.
Desenvolvimento
O papel da Educação Ambiental
A perspectiva ambiental consiste num modo de ver o mundo no qual se evidenciam as
inter-relações e a interdependência dos diversos elementos na constituição e manutenção da
vida (Brasil, 1997).
À medida que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na natureza para
satisfação de necessidades e desejos crescentes, surgem tensões e conflitos quanto ao uso do
espaço e dos recursos.
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Nos últimos séculos, um modelo de civilização se impôs, alicerçado na
industrialização, com sua forma de produção e organização do trabalho, a mecanização da
agricultura, o uso intenso de agrotóxicos e a concentração populacional nas cidades.
Para além destes impactos que hoje ocupam as pautas dos principais meios de
comunicação e que mobilizam e impressionam a “sociedade do espetáculo” (SANTOS,
1992), é preciso reconhecer que a crise ambiental que hoje se desenha é apenas uma
consequência inevitável do projeto de modernidade assumido pela sociedade atual (LEFF,
2000).
Vivemos, então, diante de uma crise tripla, já que a crise ambiental e a crise social são
acompanhadas de perto por uma “crise de saber” (RIOJAS, 2003) que fragmenta, aliena,
simplifica e acelera a vida quotidiana, ocultando a complexidade dos processos (naturais,
sociais e econômicos) e eliminando os saberes e práticas tradicionais. O avanço tecnológico e
o saber especializado crescem no mesmo ritmo das incertezas, do risco e do descontrole, na
medida em que se intensificam as tentativas de domínio da natureza (FIGUEIRÓ, 2008).
A educação ambiental tem sido amplamente divulgada como um poderoso instrumento
para o enfrentamento da crise, mas, ao minimizar a dimensão política do ato pedagógico nela
contido e se limitar à sensibilização para a problemática ecológica, a educação ambiental se
transforma em mais um dos mecanismos pelos quais o sistema dominante se refaz e se
reafirma, agora sob uma nova roupagem, mais compatível com a “onda verde” por ele criada.
Ao ignorar o debate ambiental como uma categoria social, e reduzi-lo ao domínio da
ciência ecológica, a práxis educativa é minimizada e interpretada como uma questão de
gestão de recursos e não como uma questão de disputa de projeto de sociedade e de futuro.
Abandonar a dimensão política e o potencial emancipatório contido nas práticas de educação
ambiental constitui, nas palavras de Bauman (2000), uma “apologia à rendição” ao inviável
(porquanto desigual e injusto) projeto de mundo construído pelo capital nos últimos dois
séculos.
A linguagem audiovisual como instrumento de mediação no debate ambiental
O uso do audiovisual como instrumento de desencadeamento de debates e reflexões no
campo da educação, é defendido por diferentes autores. As justificativas são as maneiras
como o vídeo interfere em várias áreas do indivíduo, tais como a comunicação sensorial,
emocional e racional. Marcondes Filho (1998) indica a utilização do vídeo como suporte a
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educação formal e não formal, pois, segundo ele, “desperta a curiosidade, prende a atenção,
parte do concreto, mexe com a mente e o corpo do telespectador, educa mesmo sem fazer tal
afirmação, procura inovar, entre outros fatores”. (MARCONDES FILHO, 1998, p.106).
Levando em conta a importância do papel formativo/educativo que o cinema e o vídeo
podem vir a desempenhar no processo educativo, Moran (1995) propõe a sua inserção
significativa no contexto dos espaços escolares, caracterizando-os como instrumentos que
instigam a curiosidade e possibilitam o aprofundamento sobre os conteúdos trabalhados. O
autor (MORAN, 2001) define a própria educação como um “processo complexo na busca da
informação significativa”; neste contexto, os diferentes conteúdos presentes nas obras
cinematográficas selecionadas, permitem que os sujeitos envolvidos problematizem o
significado dos conhecimentos adquiridos à luz de diferentes contextos e realidades
apresentadas nos filmes e documentários.
Assim, com base na utilização desses recursos audiovisuais, das apresentações dos
comentaristas e da construção coletiva do diálogo entre os participantes, espera-se que os
mesmos tenham a oportunidade de estabelecer relações entre a temática em foco e os aspectos
presentes nos meios de comunicação de massa. A partir destas relações, espera-se que os
indivíduos sejam capazes de reinterpretar o seu fazer quotidiano, problematizando questões
que pareciam sedimentadas da cultura e do modo de vida atual.
Criar mecanismos para que a comunidade possa efetivamente (re) conhecer o lugar em
que vive, significa, portanto, “(...) uma forma de reinventar a comunidade, de construir redes
de solidariedade que através do exercício de outras formas de relacionamento, nos
possibilitem estabelecer novos modos de sociabilidade democrática e novas formas de
criatividade social” (PÉREZ, 2003, p.01).
Metodologia
A realização deste projeto adotou uma metodologia de pesquisa-ação participativa, a
qual articula a produção de conhecimentos, a ação educativa e a participação dos envolvidos,
isto é, produz conhecimentos sobre a realidade a ser estudada e, ao mesmo tempo, realiza um
processo educativo, participativo, para o enfrentamento dessa mesma realidade (TOZONI-
REIS, 2005).
Assim, a pesquisa-ação tem como ponto de partida a articulação entre a produção
de conhecimentos para a conscientização dos sujeitos e a solução de problemas
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socialmente significativos. Diante disso, quatro momentos foram propostos para a
realização deste projeto: (a) Elaboração de cartazes e folders com a seleção de
audiovisuais (filmes e documentários), capazes de estabelecer uma adequada cobertura
dos principais conflitos relacionados ao patrimônio hídrico do planeta em diferentes
escalas como vê-se na Figura 2. Gomes (2009), pesquisando a respeito dos critérios a
serem considerados quando da análise de um vídeo envolvendo o aspecto educativo,
chegou a conclusão de que os seguintes pontos devem ser considerados: conteúdos,
aspectos técnico-estéticos, proposta pedagógica, material de acompanhamento e público
a que se destina. Frente a isso, buscar-se-á selecionar um conjunto de filmes que
apresentem a discussão dentro de uma linguagem adequada ao público que se destina.
(b) Divulgação dos cartazes e folders dos audiovisuais junto às escolas do município e
junto à comunidade, de forma a estabelecer um calendário de projeções dos filmes
selecionados, criando na comunidade um ambiente de discussão e reflexão acerca da
projeção de tais problemáticas no seu contexto local. (c) Apresentação dos audiovisuais
nas escolas e em locais públicos para a comunidade, visando sensibilizar a comunidade
para os diferentes conflitos que envolvem a questão da água.
Figura 2 - Cartaz de divulgação do documentário A lei da água: novo código florestal.
Fonte: A lei da água filme, 2015. Org: Projeto Saúde da água,2015.
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Para além da equipe envolvida no projeto, foram convidados diferentes especialistas
vinculados às temáticas abordadas nos filmes, a fim de servirem como comentadores dos
filmes, problematizaram e construíram um diálogo com o público envolvido. No caso das
escolas, após a projeção de cada filme, foram realizadas atividades que tenham por
finalidade a reprodução ampliada das informações e reflexões surgidas durante a audiência
do filme.
O projeto atingiu as cinco escolas de Educação Básica que existem no município de
Itaara, promovendo as sessões de projeção, mobilizando a comunidade escolar e não escolar
para o debate dos seus problemas locais. E a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
com ampla participação da comunidade acadêmica.
Exibiu-se 6 filmes e documentários selecionados para a comunidade escolar, ambos
trouxeram como tema as diversas abordagens de uso e conservação do patrimônio hídrico. Os
filmes selecionados encontram-se na Figura 3, criaram nas escolas um ambiente de discussão
e reflexão acerca da projeção de tais problemáticas no contexto local da comunidade. A seguir
a sinopse de cada filme e documentário utilizado para debate.
A lei da água - o novo código florestal: é um documentário brasileiro que explica a
relação entre o novo Código Florestal e a crise hídrica brasileira. Aborda a importância das
florestas para a conservação dos recursos hídricos no Brasil, e problematiza o impacto do
novo Código Florestal, aprovado pelo no Congresso em 2012, nesse ecossistema e na vida dos
brasileiros (A LEI DA ÁGUA,2014). Este documentário foi exibido para a comunidade
acadêmica na UFSM, por possuir uma linguagem mais técnica.
De onde vem? Quando questionada pela sua professora sobre um bilhete do colega
Guto, Kika pergunta: de onde veio o papel? De forma divertida o bilhetinho que vai ajudar a
responder. O bilhete explica que o homem primitivo usava as paredes das cavernas para se
expressar. Os chineses foram os primeiros a fabricar o papel que hoje conhecemos. Mas em
1690, o papel deixou de ser um negócio da China para ser um negócio mundial. Foi quando
os americanos fizeram a primeira fábrica de papel e hoje o mundo não vive sem o papel (TV
ESCOLA, 2002). A partir deste curto vídeo foi possível desenvolver um diálogo sobre o
descarte de resíduos e também sobre a reutilização de materiais. Esta atividade foi realizada
com os alunos da Educação Infantil da rede municipal.
Ilha das Flores - A ideia do filme é mostrar a situação dos seres humanos que, numa
escala de prioridade, se encontram depois dos porcos. Mulheres e crianças que, num tempo
determinado de cinco minutos, garantem na sobra do alimento dos porcos sua alimentação
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diária. O filme é estruturado como um documentário científico, do tipo "Wild Life". A câmera
vai seguir um tomate, desde a sua plantação até o consumo por uma criança da Ilha das
Flores, passando pelo supermercado e pela casa de uma consumidora (FURTADO,1988). Este
documentário foi exibido para o grupo organizado pelo Projeto Saúde da Água chamado
Guardiões das Nascentes, que teve a função de agrupar alunos com maior interesse nas
questões ambientais. Por ser um grupo seletivo de alunos foi possível aprofundar as
discussões a partir deste documentário mais crítico.
Caillou: amigo da natureza - O desenho conta as aventuras de um menino curioso de
quatro anos que tem amigos imaginários, pratica esportes e explora a natureza. É uma série de
desenho animado infantil canadense, lançado em 1997. Neste episódio Caillou aprende sobre
a natureza e sua importância para uma vida saudável (BIGMAE,2017). Exibido nas escolas de
Educação Infantil de Itaara este episódio foi estratégico para sensibilizar as crianças da
importância da relação homem-natureza, e que não importa sua idade sempre é possível
cooperar para construirmos um mundo melhor.
A História das Coisas - Versão brasileira do vídeo "The Story of Stuff", explica o
funcionamento do capitalismo e como as Corporações manipulam governos e pessoas para
consumirem cada vez mais. O documentário aborda o porquê da nossa sociedade produzir
tanto lixo e destruir o meio ambiente (AMORIM, 2013). Foi exibido aos alunos das Escolas
de Ensino Fundamental, com prioridade para o Grupo dos Guardiões das Nascentes, por ter
uma abordagem mais crítica.
Rio - Blu é uma arara azul que nasceu no Rio de Janeiro, mas, capturada na floresta,
foi parar na fria Minnesota, nos Estados Unidos. O filme basicamente aborda a questão do
tráfico de animais e os riscos para a biodiversidade, assim como a importância da amizade e
cooperação para superar dificuldades (SALGADO, 2011).
Os debates foram realizados sempre após a exibição de cada filme ou documentário.
Para conduzir as discussões foram organizadas apresentações em slides, contendo cenas dos
filmes e cenas reais, para as crianças, e frases de efeito para os alunos de mais idade. Ao
decorrer da apresentação as discussões ocorreram de maneira que o tema em questão fosse
abordado e se criasse um espaço de novas ideias e formação do caráter crítico dos alunos.
As obras cinematográficas exibidas nas escolas no município, fez-se um instrumento
importante de sensibilização, pois ao assistir um filme o telespectador se sente parte da
história, vivenciando sentimentos, sensibilizando-se, e a partir daí podendo construir opiniões.
A cada sessão observou-se um interesse expressivo dos alunos, que comentavam experiências
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vividas, relacionando cenas do filme com a vida real. Por parte dos professores e direção das
escolas, mostraram-se comprometidos com o ciclo de cinema, ajudando a organizar os
espaços e os alunos.
Figura 3-Filmes e documentários selecionados para o Ciclo de cinema.
Fonte: Autor,2015
Após cada exibição realizou-se um debate a partir do filme articulando o assunto da
obra cinematográfica com a realidade local, como pode-se observar o público envolvido na
Figura 4. Incentivou-se as comunidades escolares onde as oficinas foram aplicadas a se
envolverem diretamente no processo de identificação, discussão e registro cinematográfico
dos conflitos socioambientais locais envolvendo a água, como forma de mobilização da
comunidade na busca das soluções. Os alunos que participaram das sessões de filmes, ficaram
atentos e participaram durante as discussões propostas, com relatos vivenciados sobre
poluição das águas da cidade, lixo nas ruas onde moram, que mostra a falta de orientação do
uso correto do patrimônio hídrico.
Na comunidade acadêmica as discussões foram construídas com a contribuição de
profissionais de diversas áreas como Geografia, Engenharia ambiental, Química, Agronomia,
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Engenharia Florestal, entre outras, que durante o debate dialogaram sobre os problemas
ambientais atuais e possíveis soluções para tais problemas.
Figura 4- Ciclo de cinema realizado nas escolas em Itaara/RS e na UFSM em 2015.
Fonte: Autor,2015
Diante disso, pretendeu-se com as obras cinematográficas selecionadas, sensibilizar e
estimular a reflexão acerca das diferentes formas de conflito que envolvem os recursos
hídricos nos dias atuais, empoderando a comunidade para identificar os conflitos e propor a
solução para os problemas que ocorrem na escala local.
Tal como se comentou no início, este projeto inseriu-se como uma das etapas de
mobilização dentro um projeto mais amplo de educação ambiental coordenado pela Fundação
Mo’ã em parceria com a UFSM, que teve como meta a realização de uma Conferência
Infanto-Juvenil da Água no município de Itaara em 2015.
Neste sentido, o principal indicador que se tomará como referência para a avaliação de
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cada etapa deste projeto refere-se à efetiva participação dos diferentes sujeitos envolvidos, nos
diferentes momentos propostos, além da capacidade de interlocução que a equipe do projeto
conseguiu com as comunidades escolares e não-escolares que se envolveram. O público total
envolvido, que pode ser observado na Tabela 1, a qualidade do debate que foi construído, bem
como a diversidade de temas e conflitos socioambientais locais que foram registrados, fazem
parte dos indicadores de avaliação do projeto.
Tabela 1- Filmes e documentários exibidos nas respectivas escolas e UFSM com o público envolvido
Fonte: Autor,2015
Durante um ano do projeto o público alcançado foi de 727 pessoas entre alunos,
professores e funcionários. Os debates foram organizados e realizados pela equipe do projeto
e inseriu-se dentro do calendário de cada escola sem interferir na rotina escolar. Houve um
planejamento junto as escolas para a utilização de horários propícios a exibição das obras
cinematográficas.
A produção utilizada foi selecionada a partir da afinidade ao tema do projeto. Esta
relação entre o filme e o tema, água, tiveram elementos destacados antes, durante e depois da
apresentação, durante o debate.
Para que o objetivo fosse atendido, foi necessário que as atividades fossem
organizadas de maneira a possibilitar a participação de todos. Os filmes foram utilizados
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como recurso de chamamento dos alunos à discussão e teve o propósito de despertá-los para o
tema em questão, introduzindo ao assunto, e a partir de então construir um dialogo a respeito.
Considerações Finais
Sensibilização é a palavra-chave para a construção de uma consciência a respeito do
meio ambiente saudável e equilibrado, essa é a principal missão deste projeto, criar e
fomentar debates entre poder público e população sobre a necessidade de tratar a natureza
com grande importância e com o respeito merecido. Ao propor a discussão de uma nova
racionalidade ambiental, superando a racionalidade meramente instrumental e economicista
que deu origem às crises ambiental e social em que vivemos, este projeto assumiu um
compromisso em colaborar, articulando as questões da comunidade com as demais escalas de
controle e organização da sociedade, para a construção de novos cenários futuros,
ambientalmente mais sustentáveis e socialmente mais justos.
Neste sentido, entendemos que a tarefa extensionista da universidade, no campo da
Educação Ambiental, vai para muito além do simples repasse de tecnologias e condutas mais
“limpas” para a sociedade; é preciso resgatar o que ainda resta de capital humano e ambiental
no modo de vida moderno, para colocá-los efetivamente sob o controle da sociedade, no seu
coletivo, onde a questão da revitalização da cultura e da história local, o conhecimento do
meio ambiente onde se vive, e a participação da comunidade na preservação deste patrimônio,
são questões estratégicas para se conquistar cenários mais autônomos e sustentáveis.
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