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ISSN 2176-1396 EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM TELA- SEGUNDO CICLO DE CINEMA SOCIOAMBIENTAL DE ITAARA: ÁGUA E SOCIEDADE Letícia Ramires Corrêa 1 - UFSM Renata Azevedo Xavier 2 - PUCPR Marina Deon Ferrarese³-UFSM Eixo Educação Ambiental Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo Este projeto tem por finalidade o desenvolvimento de um ciclo de cinema que buscou sensibilizar a comunidade de Itaara (RS) para a importância das ações de proteção e conservação dos mananciais hídricos em diferentes escalas. Desta forma, insere- se como uma ação extensionista de educação ambiental dentro do projeto “Saúde da Água” desenvolvido pela Fundação Mo’ã em parceria com a UFSM no respectivo município. A educação ambiental, aqui entendida, representa a incorporação de critérios socioambientais, ecológicos, éticos e estéticos na avaliação e transformação das condições que controlam a qualidade ambiental e qualidade de vida das comunidades que são integradas ao projeto. Neste sentido, entendemos que a tarefa extensionista da universidade, no campo da Educação Ambiental, vai para muito além do simples repasse de tecnologias e condutas mais “limpas” para a sociedade; é preciso resgatar o que ainda resta de capital humano e ambiental no modo de vida moderno, para colocá-los efetivamente sob o controle da sociedade, no seu coletivo, onde a questão da revitalização da cultura e da história local, o conhecimento do meio ambiente onde se vive, e a participação da comunidade na preservação deste patrimônio, são questões estratégicas para se conquistar cenários mais autônomos e sustentáveis. Para isso, estamos elegendo o uso de filmes e documentários como uma linguagem capaz de sensibilizar e servir como instrumento de mediação para o debate ambiental dentro das escolas, de modo que a partir da observação de outras realidades, a comunidade escolar possa se sensibilizar para refletir, problematizar e transformar a sua própria. Palavras-chave: Água. Conflitos socioambientais. Oficina pedagógica. Educação ambiental. 1 Graduada em Geografia pela UFSM. Aluna do programa de Pós-graduação em Geografia pela UFSM. Email:[email protected] 2 Graduada em Ciências Biológicas-Ênfase Marinha Costeira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Com Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Santa Maria UFSM. E-mail: [email protected]. ³Graduada em Ciências Biológicas Bacharelado pela Universidade Federal de Santa Maria. Com Pós-Graduação em Agrobiologia da Universidade Federal de Santa Maria. Aluna especial de graduação da Universidade Federal de Santa Maria, cursando Paleontologia e Turismo, ações para o desenvolvimento regional. E-mail: [email protected]

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ISSN 2176-1396

EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM TELA- SEGUNDO CICLO DE CINEMA

SOCIOAMBIENTAL DE ITAARA: ÁGUA E SOCIEDADE

Letícia Ramires Corrêa1 - UFSM

Renata Azevedo Xavier2 - PUCPR

Marina Deon Ferrarese³-UFSM

Eixo – Educação Ambiental

Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

Este projeto tem por finalidade o desenvolvimento de um ciclo de cinema que buscou

sensibilizar a comunidade de Itaara (RS) para a importância das ações de proteção e

conservação dos mananciais hídricos em diferentes escalas. Desta forma, insere- se como uma

ação extensionista de educação ambiental dentro do projeto “Saúde da Água” desenvolvido

pela Fundação Mo’ã em parceria com a UFSM no respectivo município. A educação

ambiental, aqui entendida, representa a incorporação de critérios socioambientais, ecológicos,

éticos e estéticos na avaliação e transformação das condições que controlam a qualidade

ambiental e qualidade de vida das comunidades que são integradas ao projeto. Neste sentido,

entendemos que a tarefa extensionista da universidade, no campo da Educação Ambiental, vai

para muito além do simples repasse de tecnologias e condutas mais “limpas” para a

sociedade; é preciso resgatar o que ainda resta de capital humano e ambiental no modo de

vida moderno, para colocá-los efetivamente sob o controle da sociedade, no seu coletivo,

onde a questão da revitalização da cultura e da história local, o conhecimento do meio

ambiente onde se vive, e a participação da comunidade na preservação deste patrimônio, são

questões estratégicas para se conquistar cenários mais autônomos e sustentáveis. Para isso,

estamos elegendo o uso de filmes e documentários como uma linguagem capaz de sensibilizar

e servir como instrumento de mediação para o debate ambiental dentro das escolas, de modo

que a partir da observação de outras realidades, a comunidade escolar possa se sensibilizar

para refletir, problematizar e transformar a sua própria.

Palavras-chave: Água. Conflitos socioambientais. Oficina pedagógica. Educação ambiental.

1 Graduada em Geografia pela UFSM. Aluna do programa de Pós-graduação em Geografia pela UFSM.

Email:[email protected] 2Graduada em Ciências Biológicas-Ênfase Marinha Costeira pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Com Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. E-mail:

[email protected].

³Graduada em Ciências Biológicas Bacharelado pela Universidade Federal de Santa Maria. Com Pós-Graduação

em Agrobiologia da Universidade Federal de Santa Maria. Aluna especial de graduação da Universidade Federal

de Santa Maria, cursando Paleontologia e Turismo, ações para o desenvolvimento regional. E-mail:

[email protected]

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Introdução

A bacia do rio Vacacaí-Mirim é responsável pelo abastecimento da maior parte da

população urbana e rural do município de Itaara que se encontra na Figura 1, através do lago

da sede campestre da SOCEPE (Sociedade Concórdia Caça e Pesca), maior reservatório da

cidade, de onde a CORSAN (Companhia Rio-grandense de Saneamento) retira um volume

médio de 31.800 m³/mês, além de ser fonte de água para os balneários de lazer e açudes nas

áreas rurais (MARION,2007). Os recursos hídricos desta bacia integram a barragem do

DNOS (Departamento Nacional de Obras de Saneamento), que abastece parte significativa da

cidade Santa Maria, além de serem utilizados para a prática de esportes náuticos e atividades

de lazer a milhares de turistas que se deslocam de Santa Maria para Itaara durante o verão.

Figura 1- Mapa de localização do município de Itaara/RS.

Fonte: Malha Digital IBGE,2007. Org: Weber, A.A. 2016.

Todavia, o desmatamento, a captação ilegal de água e a emissão de esgotos e

poluentes têm comprometido a integridade deste patrimônio hídrico, exigindo dos gestores e

da sociedade atividades que envolvam uma maior proteção e melhor conservação destes

recursos. Nesta perspectiva, a educação ambiental formal junto às escolas do município pode

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ser um instrumento eficaz de sensibilização para garantir um maior envolvimento e

monitoramento da sociedade na gestão coletiva do patrimônio hídrico do município.

O principal eixo de atuação da educação ambiental, em todas as dimensões em que se

faz presente, é o de buscar a solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença através de

práticas interativas e dialógicas capazes de refletir e atuar sobre as formas que se tem

reproduzido a relação da sociedade com a natureza. Isto se consubstancia no objetivo de criar

novas atitudes e comportamentos diante das diferentes formas de consumo da nossa sociedade

e de estimular a mudança de valores individuais e coletivos na proteção do patrimônio

natural.

Diante disso o objetivo deste trabalho foi promover oficinas de educação ambiental

junto a escolas públicas do município de Itaara, problematizando questões referentes aos

conflitos socioambientais contemporâneos envolvendo a proteção e conservação do

patrimônio hídrico, de modo a incentivar a construção de uma cultura crítica de reflexão e

ação transformadora sobre os problemas da comunidade, numa perspectiva global-local.

Tendo em vista a educação ambiental, como eixo transversal no ensino nas escolas,

contribui para que a mediação ocorra efetivamente entre conhecimento e aluno, para a

construção de uma educação de qualidade. Para a realização desta mediação os recursos

audiovisuais são ferramentas dinâmicas, proporcionando um diálogo do aluno e a comunidade

escolar a respeito do ambiente em que vive, estabelecendo relações afetivas com o “lugar”, e

construindo uma consciência de preservação do patrimônio natural que há no município de

Itaara, a partir da observação e reflexão do filmes e documentários pensar a comunidade

escolar como fonte de debate e conhecimento que sirva para transformar a cidade em um

lugar melhor e o que já existe de bom ser preservado.

Desenvolvimento

O papel da Educação Ambiental

A perspectiva ambiental consiste num modo de ver o mundo no qual se evidenciam as

inter-relações e a interdependência dos diversos elementos na constituição e manutenção da

vida (Brasil, 1997).

À medida que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na natureza para

satisfação de necessidades e desejos crescentes, surgem tensões e conflitos quanto ao uso do

espaço e dos recursos.

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Nos últimos séculos, um modelo de civilização se impôs, alicerçado na

industrialização, com sua forma de produção e organização do trabalho, a mecanização da

agricultura, o uso intenso de agrotóxicos e a concentração populacional nas cidades.

Para além destes impactos que hoje ocupam as pautas dos principais meios de

comunicação e que mobilizam e impressionam a “sociedade do espetáculo” (SANTOS,

1992), é preciso reconhecer que a crise ambiental que hoje se desenha é apenas uma

consequência inevitável do projeto de modernidade assumido pela sociedade atual (LEFF,

2000).

Vivemos, então, diante de uma crise tripla, já que a crise ambiental e a crise social são

acompanhadas de perto por uma “crise de saber” (RIOJAS, 2003) que fragmenta, aliena,

simplifica e acelera a vida quotidiana, ocultando a complexidade dos processos (naturais,

sociais e econômicos) e eliminando os saberes e práticas tradicionais. O avanço tecnológico e

o saber especializado crescem no mesmo ritmo das incertezas, do risco e do descontrole, na

medida em que se intensificam as tentativas de domínio da natureza (FIGUEIRÓ, 2008).

A educação ambiental tem sido amplamente divulgada como um poderoso instrumento

para o enfrentamento da crise, mas, ao minimizar a dimensão política do ato pedagógico nela

contido e se limitar à sensibilização para a problemática ecológica, a educação ambiental se

transforma em mais um dos mecanismos pelos quais o sistema dominante se refaz e se

reafirma, agora sob uma nova roupagem, mais compatível com a “onda verde” por ele criada.

Ao ignorar o debate ambiental como uma categoria social, e reduzi-lo ao domínio da

ciência ecológica, a práxis educativa é minimizada e interpretada como uma questão de

gestão de recursos e não como uma questão de disputa de projeto de sociedade e de futuro.

Abandonar a dimensão política e o potencial emancipatório contido nas práticas de educação

ambiental constitui, nas palavras de Bauman (2000), uma “apologia à rendição” ao inviável

(porquanto desigual e injusto) projeto de mundo construído pelo capital nos últimos dois

séculos.

A linguagem audiovisual como instrumento de mediação no debate ambiental

O uso do audiovisual como instrumento de desencadeamento de debates e reflexões no

campo da educação, é defendido por diferentes autores. As justificativas são as maneiras

como o vídeo interfere em várias áreas do indivíduo, tais como a comunicação sensorial,

emocional e racional. Marcondes Filho (1998) indica a utilização do vídeo como suporte a

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educação formal e não formal, pois, segundo ele, “desperta a curiosidade, prende a atenção,

parte do concreto, mexe com a mente e o corpo do telespectador, educa mesmo sem fazer tal

afirmação, procura inovar, entre outros fatores”. (MARCONDES FILHO, 1998, p.106).

Levando em conta a importância do papel formativo/educativo que o cinema e o vídeo

podem vir a desempenhar no processo educativo, Moran (1995) propõe a sua inserção

significativa no contexto dos espaços escolares, caracterizando-os como instrumentos que

instigam a curiosidade e possibilitam o aprofundamento sobre os conteúdos trabalhados. O

autor (MORAN, 2001) define a própria educação como um “processo complexo na busca da

informação significativa”; neste contexto, os diferentes conteúdos presentes nas obras

cinematográficas selecionadas, permitem que os sujeitos envolvidos problematizem o

significado dos conhecimentos adquiridos à luz de diferentes contextos e realidades

apresentadas nos filmes e documentários.

Assim, com base na utilização desses recursos audiovisuais, das apresentações dos

comentaristas e da construção coletiva do diálogo entre os participantes, espera-se que os

mesmos tenham a oportunidade de estabelecer relações entre a temática em foco e os aspectos

presentes nos meios de comunicação de massa. A partir destas relações, espera-se que os

indivíduos sejam capazes de reinterpretar o seu fazer quotidiano, problematizando questões

que pareciam sedimentadas da cultura e do modo de vida atual.

Criar mecanismos para que a comunidade possa efetivamente (re) conhecer o lugar em

que vive, significa, portanto, “(...) uma forma de reinventar a comunidade, de construir redes

de solidariedade que através do exercício de outras formas de relacionamento, nos

possibilitem estabelecer novos modos de sociabilidade democrática e novas formas de

criatividade social” (PÉREZ, 2003, p.01).

Metodologia

A realização deste projeto adotou uma metodologia de pesquisa-ação participativa, a

qual articula a produção de conhecimentos, a ação educativa e a participação dos envolvidos,

isto é, produz conhecimentos sobre a realidade a ser estudada e, ao mesmo tempo, realiza um

processo educativo, participativo, para o enfrentamento dessa mesma realidade (TOZONI-

REIS, 2005).

Assim, a pesquisa-ação tem como ponto de partida a articulação entre a produção

de conhecimentos para a conscientização dos sujeitos e a solução de problemas

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socialmente significativos. Diante disso, quatro momentos foram propostos para a

realização deste projeto: (a) Elaboração de cartazes e folders com a seleção de

audiovisuais (filmes e documentários), capazes de estabelecer uma adequada cobertura

dos principais conflitos relacionados ao patrimônio hídrico do planeta em diferentes

escalas como vê-se na Figura 2. Gomes (2009), pesquisando a respeito dos critérios a

serem considerados quando da análise de um vídeo envolvendo o aspecto educativo,

chegou a conclusão de que os seguintes pontos devem ser considerados: conteúdos,

aspectos técnico-estéticos, proposta pedagógica, material de acompanhamento e público

a que se destina. Frente a isso, buscar-se-á selecionar um conjunto de filmes que

apresentem a discussão dentro de uma linguagem adequada ao público que se destina.

(b) Divulgação dos cartazes e folders dos audiovisuais junto às escolas do município e

junto à comunidade, de forma a estabelecer um calendário de projeções dos filmes

selecionados, criando na comunidade um ambiente de discussão e reflexão acerca da

projeção de tais problemáticas no seu contexto local. (c) Apresentação dos audiovisuais

nas escolas e em locais públicos para a comunidade, visando sensibilizar a comunidade

para os diferentes conflitos que envolvem a questão da água.

Figura 2 - Cartaz de divulgação do documentário A lei da água: novo código florestal.

Fonte: A lei da água filme, 2015. Org: Projeto Saúde da água,2015.

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Para além da equipe envolvida no projeto, foram convidados diferentes especialistas

vinculados às temáticas abordadas nos filmes, a fim de servirem como comentadores dos

filmes, problematizaram e construíram um diálogo com o público envolvido. No caso das

escolas, após a projeção de cada filme, foram realizadas atividades que tenham por

finalidade a reprodução ampliada das informações e reflexões surgidas durante a audiência

do filme.

O projeto atingiu as cinco escolas de Educação Básica que existem no município de

Itaara, promovendo as sessões de projeção, mobilizando a comunidade escolar e não escolar

para o debate dos seus problemas locais. E a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)

com ampla participação da comunidade acadêmica.

Exibiu-se 6 filmes e documentários selecionados para a comunidade escolar, ambos

trouxeram como tema as diversas abordagens de uso e conservação do patrimônio hídrico. Os

filmes selecionados encontram-se na Figura 3, criaram nas escolas um ambiente de discussão

e reflexão acerca da projeção de tais problemáticas no contexto local da comunidade. A seguir

a sinopse de cada filme e documentário utilizado para debate.

A lei da água - o novo código florestal: é um documentário brasileiro que explica a

relação entre o novo Código Florestal e a crise hídrica brasileira. Aborda a importância das

florestas para a conservação dos recursos hídricos no Brasil, e problematiza o impacto do

novo Código Florestal, aprovado pelo no Congresso em 2012, nesse ecossistema e na vida dos

brasileiros (A LEI DA ÁGUA,2014). Este documentário foi exibido para a comunidade

acadêmica na UFSM, por possuir uma linguagem mais técnica.

De onde vem? Quando questionada pela sua professora sobre um bilhete do colega

Guto, Kika pergunta: de onde veio o papel? De forma divertida o bilhetinho que vai ajudar a

responder. O bilhete explica que o homem primitivo usava as paredes das cavernas para se

expressar. Os chineses foram os primeiros a fabricar o papel que hoje conhecemos. Mas em

1690, o papel deixou de ser um negócio da China para ser um negócio mundial. Foi quando

os americanos fizeram a primeira fábrica de papel e hoje o mundo não vive sem o papel (TV

ESCOLA, 2002). A partir deste curto vídeo foi possível desenvolver um diálogo sobre o

descarte de resíduos e também sobre a reutilização de materiais. Esta atividade foi realizada

com os alunos da Educação Infantil da rede municipal.

Ilha das Flores - A ideia do filme é mostrar a situação dos seres humanos que, numa

escala de prioridade, se encontram depois dos porcos. Mulheres e crianças que, num tempo

determinado de cinco minutos, garantem na sobra do alimento dos porcos sua alimentação

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diária. O filme é estruturado como um documentário científico, do tipo "Wild Life". A câmera

vai seguir um tomate, desde a sua plantação até o consumo por uma criança da Ilha das

Flores, passando pelo supermercado e pela casa de uma consumidora (FURTADO,1988). Este

documentário foi exibido para o grupo organizado pelo Projeto Saúde da Água chamado

Guardiões das Nascentes, que teve a função de agrupar alunos com maior interesse nas

questões ambientais. Por ser um grupo seletivo de alunos foi possível aprofundar as

discussões a partir deste documentário mais crítico.

Caillou: amigo da natureza - O desenho conta as aventuras de um menino curioso de

quatro anos que tem amigos imaginários, pratica esportes e explora a natureza. É uma série de

desenho animado infantil canadense, lançado em 1997. Neste episódio Caillou aprende sobre

a natureza e sua importância para uma vida saudável (BIGMAE,2017). Exibido nas escolas de

Educação Infantil de Itaara este episódio foi estratégico para sensibilizar as crianças da

importância da relação homem-natureza, e que não importa sua idade sempre é possível

cooperar para construirmos um mundo melhor.

A História das Coisas - Versão brasileira do vídeo "The Story of Stuff", explica o

funcionamento do capitalismo e como as Corporações manipulam governos e pessoas para

consumirem cada vez mais. O documentário aborda o porquê da nossa sociedade produzir

tanto lixo e destruir o meio ambiente (AMORIM, 2013). Foi exibido aos alunos das Escolas

de Ensino Fundamental, com prioridade para o Grupo dos Guardiões das Nascentes, por ter

uma abordagem mais crítica.

Rio - Blu é uma arara azul que nasceu no Rio de Janeiro, mas, capturada na floresta,

foi parar na fria Minnesota, nos Estados Unidos. O filme basicamente aborda a questão do

tráfico de animais e os riscos para a biodiversidade, assim como a importância da amizade e

cooperação para superar dificuldades (SALGADO, 2011).

Os debates foram realizados sempre após a exibição de cada filme ou documentário.

Para conduzir as discussões foram organizadas apresentações em slides, contendo cenas dos

filmes e cenas reais, para as crianças, e frases de efeito para os alunos de mais idade. Ao

decorrer da apresentação as discussões ocorreram de maneira que o tema em questão fosse

abordado e se criasse um espaço de novas ideias e formação do caráter crítico dos alunos.

As obras cinematográficas exibidas nas escolas no município, fez-se um instrumento

importante de sensibilização, pois ao assistir um filme o telespectador se sente parte da

história, vivenciando sentimentos, sensibilizando-se, e a partir daí podendo construir opiniões.

A cada sessão observou-se um interesse expressivo dos alunos, que comentavam experiências

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vividas, relacionando cenas do filme com a vida real. Por parte dos professores e direção das

escolas, mostraram-se comprometidos com o ciclo de cinema, ajudando a organizar os

espaços e os alunos.

Figura 3-Filmes e documentários selecionados para o Ciclo de cinema.

Fonte: Autor,2015

Após cada exibição realizou-se um debate a partir do filme articulando o assunto da

obra cinematográfica com a realidade local, como pode-se observar o público envolvido na

Figura 4. Incentivou-se as comunidades escolares onde as oficinas foram aplicadas a se

envolverem diretamente no processo de identificação, discussão e registro cinematográfico

dos conflitos socioambientais locais envolvendo a água, como forma de mobilização da

comunidade na busca das soluções. Os alunos que participaram das sessões de filmes, ficaram

atentos e participaram durante as discussões propostas, com relatos vivenciados sobre

poluição das águas da cidade, lixo nas ruas onde moram, que mostra a falta de orientação do

uso correto do patrimônio hídrico.

Na comunidade acadêmica as discussões foram construídas com a contribuição de

profissionais de diversas áreas como Geografia, Engenharia ambiental, Química, Agronomia,

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Engenharia Florestal, entre outras, que durante o debate dialogaram sobre os problemas

ambientais atuais e possíveis soluções para tais problemas.

Figura 4- Ciclo de cinema realizado nas escolas em Itaara/RS e na UFSM em 2015.

Fonte: Autor,2015

Diante disso, pretendeu-se com as obras cinematográficas selecionadas, sensibilizar e

estimular a reflexão acerca das diferentes formas de conflito que envolvem os recursos

hídricos nos dias atuais, empoderando a comunidade para identificar os conflitos e propor a

solução para os problemas que ocorrem na escala local.

Tal como se comentou no início, este projeto inseriu-se como uma das etapas de

mobilização dentro um projeto mais amplo de educação ambiental coordenado pela Fundação

Mo’ã em parceria com a UFSM, que teve como meta a realização de uma Conferência

Infanto-Juvenil da Água no município de Itaara em 2015.

Neste sentido, o principal indicador que se tomará como referência para a avaliação de

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cada etapa deste projeto refere-se à efetiva participação dos diferentes sujeitos envolvidos, nos

diferentes momentos propostos, além da capacidade de interlocução que a equipe do projeto

conseguiu com as comunidades escolares e não-escolares que se envolveram. O público total

envolvido, que pode ser observado na Tabela 1, a qualidade do debate que foi construído, bem

como a diversidade de temas e conflitos socioambientais locais que foram registrados, fazem

parte dos indicadores de avaliação do projeto.

Tabela 1- Filmes e documentários exibidos nas respectivas escolas e UFSM com o público envolvido

Fonte: Autor,2015

Durante um ano do projeto o público alcançado foi de 727 pessoas entre alunos,

professores e funcionários. Os debates foram organizados e realizados pela equipe do projeto

e inseriu-se dentro do calendário de cada escola sem interferir na rotina escolar. Houve um

planejamento junto as escolas para a utilização de horários propícios a exibição das obras

cinematográficas.

A produção utilizada foi selecionada a partir da afinidade ao tema do projeto. Esta

relação entre o filme e o tema, água, tiveram elementos destacados antes, durante e depois da

apresentação, durante o debate.

Para que o objetivo fosse atendido, foi necessário que as atividades fossem

organizadas de maneira a possibilitar a participação de todos. Os filmes foram utilizados

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como recurso de chamamento dos alunos à discussão e teve o propósito de despertá-los para o

tema em questão, introduzindo ao assunto, e a partir de então construir um dialogo a respeito.

Considerações Finais

Sensibilização é a palavra-chave para a construção de uma consciência a respeito do

meio ambiente saudável e equilibrado, essa é a principal missão deste projeto, criar e

fomentar debates entre poder público e população sobre a necessidade de tratar a natureza

com grande importância e com o respeito merecido. Ao propor a discussão de uma nova

racionalidade ambiental, superando a racionalidade meramente instrumental e economicista

que deu origem às crises ambiental e social em que vivemos, este projeto assumiu um

compromisso em colaborar, articulando as questões da comunidade com as demais escalas de

controle e organização da sociedade, para a construção de novos cenários futuros,

ambientalmente mais sustentáveis e socialmente mais justos.

Neste sentido, entendemos que a tarefa extensionista da universidade, no campo da

Educação Ambiental, vai para muito além do simples repasse de tecnologias e condutas mais

“limpas” para a sociedade; é preciso resgatar o que ainda resta de capital humano e ambiental

no modo de vida moderno, para colocá-los efetivamente sob o controle da sociedade, no seu

coletivo, onde a questão da revitalização da cultura e da história local, o conhecimento do

meio ambiente onde se vive, e a participação da comunidade na preservação deste patrimônio,

são questões estratégicas para se conquistar cenários mais autônomos e sustentáveis.

REFERÊNCIAS

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em:<https://aleidaaguafilme.wordpress.com/>. Acesso em 19 de fev. de 2017.

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BIGMAE. A História do Ruca – Caillou. Disponível em:< http://www.bigmae.com/a-

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