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29/10/2014 Educação Pública - Raízes de uma escola de inclusão social e sociocultural cidadã para apresados recuperáveis: uma sugestão http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/historia/0073.html 1/14 Sobre o autor Envie esta página HISTÓRIA Raízes de uma escola de inclusão social e sociocultural cidadã para apresados recuperáveis: uma sugestão Prof. Dr. Eduardo Marques da Silva Refiro-me ao erro de darem ouvidos aos aduladores que povoam todas as cortes. É que os homens são de tal modo acessíveis à lisonja e tão facilmente se deixam enganar por ela que só com dificuldade se defendem dessa praga; e quando procuram fazê-lo correm o risco de cair no desprezo. O melhor escudo contra a lisonja consiste em levar os homens a compreender que não nos ofendem quando nos dizem a verdade. Maquiavel, em O príncipe O frango queria atravessar a rua As razões que nos moveram a pensar em uma escola de inclusão social e sociocultural cidadã para apresados recuperáveis foram de caráter puramente sentimental, preservacionista e dinamizador. A primeira razão ressalta o respeito à memória de toda a população hoje. A segunda refere-se à nossa vontade de recuperar uma referência identitária do mais comum jovem desamparado, que vagueia por aí , componente do conjunto patrimonial e histórico do Brasil recente da pós-escravidão. Nossa terceira razão é a recuperação desse jovem: possibilitar a criação de um espaço multifuncional para atividades variadas do lúdico, tanto no campo cultural quanto no educacional. Assim, recuperá-lo constitui a reversão de um bem em benefício do brasileiro como um todo. Uma vez reconstruída a trajetória do jovem diante da lei, essa escola permitirá que façamos funcionar e reviver um museu aberto a toda a comunidade, principalmente a estudantil. Parte do seu interior pode ser usada como área do pensar cultural, abrigando e refletindo, como tem feito, eventos de música, teatro, cinema etc. A parte externa, espaço privilegiado porque visível, pode ser usada para o lazer e a preocupação do adulto com a instalação apropriada para atividades de educação; no futuro, poderá abrigar também eventos referentes a datas históricas de redenção, entre outros. O conjunto constitui um excelente ponto de encontro de grupos, de corpos socioculturais autônomos, com o propósito de festejar a civilização da complexidade sociocultural, em geral sempre com a presença forte da miséria, combinada com a exclusão social e sociocultural. Na verdade, trata-se de um magnífico complexo arquitetônico que habita o espaço do sensível, do abandono, da história do esquecimento. Somente pode ser tocado pela teoria da meta-história, todo ele de beleza intimista. Antes de tudo, entregá-lo recuperado à comunidade em geral será um grande presente ao bom gosto e à sensibilidade dos que apreciam o belo, principalmente no que tange ao que apresenta de história em seu conjunto. Faz-se mister aqui alertar para o fato de que, não recuperando o referido antes que se arruíne por completo, estarão configuradas respostas desalentadoras às insistentes reclamações populares. Repercutirá negativamente entre a imensa população que hoje sonha com o fascínio de viver sua recuperação. Circula na vastidão da Internet um texto que apresenta a análise e as justificativas de famosas personalidades (e outras nem tanto) para o fato de um frango que resolve atravessar uma estrada.

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Raízes de uma escola de inclusão social e sociocultural cidadã para apresados recuperáveis: uma sugestão da Prof. Dr. Eduardo Marques da Silva

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Sobre o autor

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HISTÓRIA

Raízes de uma escola de inclusão social e sociocultural cidadã paraapresados recuperáveis: uma sugestão

Prof. Dr. Eduardo Marques da Silva

Refiro-me ao erro de darem ouvidos aos aduladores que povoam todas as cortes. Éque os homens são de tal modo acessíveis à lisonja e tão facilmente se deixamenganar por ela que só com dificuldade se defendem dessa praga; e quando procuramfazê-lo correm o risco de cair no desprezo. O melhor escudo contra a lisonja consisteem levar os homens a compreender que não nos ofendem quando nos dizem averdade.Maquiavel, em O príncipe

O frango queria atravessar a rua

As razões que nos moveram a pensar em uma escola de inclusão social e socioculturalcidadã para apresados recuperáveis foram de caráter puramente sentimental,preservacionista e dinamizador. A primeira razão ressalta o respeito à memória de todaa população hoje. A segunda refere-se à nossa vontade de recuperar uma referênciaidentitária do mais comum jovem desamparado, que vagueia por aí, componente doconjunto patrimonial e histórico do Brasil recente da pós-escravidão. Nossa terceirarazão é a recuperação desse jovem: possibilitar a criação de um espaço multifuncionalpara atividades variadas do lúdico, tanto no campo cultural quanto no educacional.Assim, recuperá-lo constitui a reversão de um bem em benefício do brasileiro como umtodo.

Uma vez reconstruída a trajetória do jovem diante da lei, essa escola permitirá quefaçamos funcionar e reviver um museu aberto a toda a comunidade, principalmente aestudantil. Parte do seu interior pode ser usada como área do pensar cultural,abrigando e refletindo, como tem feito, eventos de música, teatro, cinema etc.

A parte externa, espaço privilegiado porque visível, pode ser usada para o lazer e apreocupação do adulto com a instalação apropriada para atividades de educação; nofuturo, poderá abrigar também eventos referentes a datas históricas de redenção, entreoutros. O conjunto constitui um excelente ponto de encontro de grupos, de corpossocioculturais autônomos, com o propósito de festejar a civilização da complexidadesociocultural, em geral sempre com a presença forte da miséria, combinada com aexclusão social e sociocultural.

Na verdade, trata-se de um magnífico complexo arquitetônico que habita o espaço dosensível, do abandono, da história do esquecimento. Somente pode ser tocado pelateoria da meta-história, todo ele de beleza intimista. Antes de tudo, entregá-lorecuperado à comunidade em geral será um grande presente ao bom gosto e àsensibilidade dos que apreciam o belo, principalmente no que tange ao que apresentade história em seu conjunto. Faz-se mister aqui alertar para o fato de que, nãorecuperando o referido antes que se arruíne por completo, estarão configuradasrespostas desalentadoras às insistentes reclamações populares. Repercutiránegativamente entre a imensa população que hoje sonha com o fascínio de viver suarecuperação.

Circula na vastidão da Internet um texto que apresenta a análise e as justificativas defamosas personalidades (e outras nem tanto) para o fato de um frango que resolveatravessar uma estrada.

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Tomando parte dessa farsa, apresentamos nossa avaliação: se o frango queratravessar a estrada, é porque naturalmente teve vontade! É preciso respeitar asandanças do frango. Além do mais, não é todo frango que, por conta própria, desejaatravessar a estrada todo o tempo. Que valor teria o volitivo de cada vivente noplaneta? Coitado do frango, só porque não pensa como nós, humanos, não temvontade, desejos próprios?

A questão de Marx, Aristóteles, Freud, Platão, King e os outros pensadores de pensartal coisa acaba sendo de caráter especulativo e igualmente irrelevante. Talvez osconceitos usados já estejam ultrapassados pela velocidade dos tempos presentes! Jáse está até confundindo volitivo com algo bastante mais complicado! Cada um dospensadores citados na história escreveu em seu tempo histórico, cada um teve seutempo como prisão.

Assim, o que sobra de tudo é que o frango atravessou e/ou queria atravessar. Todosficamos dando voltas em torno de uma grande torre-de-babel chamada vontade dofrango, que se torna difícil de ser entendida.

Podemos ficar estarrecidos com tudo que ocorreu recentemente com o pobre frango.Que fazer, então? Estamos sem ferramentas adequadas para ler a verossimilhança doproblema posto à nossa frente, aterrador, que se nos apresenta como fato dado! Massão comuns coisas assim hoje em dia? Talvez seja um problema da lente queutilizamos ou fazem parte da necessária propaganda pessoal dos que querem garantirum lugar de respeito e destaque na coletividade acadêmica, transformando as pessoasassistentes em uma espécie de turma do gargarejo e/ou meros papagaios-de-pirata, ouainda, como querem muitos, em aparelhos de repetição, o que esse meu caro leitordefinitivamente não é. Que fazer, então? Apresentar um envelhecido discurso queapenas arranha o problema, sem efetiva e detalhadamente tocá-lo?

Não seria o fruto do medo da já conhecida e antiga razão concreta da qual acredita-seque tudo exale?! Mas será mesmo tão concreta assim?! Isso lembra o platônico Mito daCaverna. Não seria a verdadeira sombra da assustadora e ainda indecifrável razãosensível? Fica muito difícil concebê-la, mas que ela existe existe!

Certamente as andanças do frango têm de ser respeitadas. Mas frango é respeitado?Estou em dúvida, mas também ele não é filhos de Deus? E se atropelar alguém?!Também continuará sendo ou não? E se ele, como qualquer criminoso, infrator,traficante moderno ou mesmo fora-da-lei vier a causar qualquer estrago na ordem dascoisas dos homens, como hoje estão fazendo no meio urbano?

Certamente a questão presente pertence a algo muito maior, possivelmente à meta-história. Os frangos que atravessam a rua estão causando problemas aosrelacionamentos dos assistentes! Uns acham que são donos do pedaço! Outros seapresentam com um ar de quem é invencível! O que fazer? Miseráveis frangos, agoracom poder de barganhar poder e se impor. Temos que olhar isso tudo bem direitinho!Não se pode dizer que um miserável frango, apenas um frango, tenha tanto poder.

Mas algo mudou e não vimos? Ou entendemos tudo às avessas? Afinal, tudo mudou enão percebemos ou nosso lento modo de ver as coisas que terá que serresponsabilizado por tudo? Será que o caro leitor vê agora que possivelmente um doserros que se cometem em uma análise dos corpos socioculturais autônomos derrapajustamente aí: comparar um frango às gentes, geralmente de origens humildes efaveladas, aos excluídos socioculturais que hoje se agigantaram como corpossocioculturais autônomos pela cidade, como um todo como afirmou Helena Katz, EvgenBavcar e outros tantos, que se tornaram um coletivo de difícil decodificação?

Nunca poderemos esquecer que o pensamento de J. S. Schade é claro quanto à sombrade uma razão sensível que nos acompanha, interfere em nós, enfim, nos altera ossentidos. Diz o pensador: "Somos levados por forças invisíveis às quais os criminososobedecem sem o saber".

Uma escola de inclusão

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Quanto à formação da escola proposta neste artigo, partimos do pressuposto de que,em sua esmagadora maioria, os frangos são oriundos do grave quadro de exclusãosocial (Perrot, 1991) do galinheiro (sociedade) e até de eliminação social (Forrester,1996). Inferimos que desse quadro resulta todo um ambiente propício à prática depequenos crimes, infrações, alguns deslizes. Não é novidade que a crescentedesigualdade social e a má distribuição da riqueza em nosso país resulta hoje emsérias desgraças sociais, sistematicamente assustando o conjunto de nossa populaçãoda ordem, apresentando-se como um braço criminoso organizado de uma nova relaçãoentre a economia informal e/ou extralegalidade (De Soto, 2000) e a cultura do crime,infrações, ou mesmo deslizes, gerando o que denominamos sociedade paralela (Silva,1996), que vive da prática do chamado crime-negócio.

Responsável por todo processo de dominação e subordinação que permeia nossocotidiano da exclusão social, sempre em contraposição ao que consideramos sociedadeoficial, essa sociedade se apresenta hoje como resposta moderna à velha condição deexplorado quando de sua inserção no modelo colonial, sendo relegado à condição devulgarizado.

Pois bem: no século XX, tal contingente social apresentou organicidade, identidade ecultura identitária - que é uma prática de vida que há muito tempo não é corretamentelida pela academia.

A novidade está em sua forma e prática de vida, aliada ao braço do megacrime,principalmente o das drogas. A cooptação de jovens para esse universo é conhecida.Apesar dos esforços até aqui, as forças de repressão da sociedade organizada parecemnão ter se apresentado com sucesso, vide a consolidação das tais milícias. A maioriados jovens apresados por praticas criminosas, delinquentes já teve longas experiênciasna cultura desse universo. A atuação das instituições que lidam com o problema temsido absolutamente improdutiva. Parece que elas perderam definitivamente o rumo, acapacidade de administrar e não têm demonstrado mais o controle e a eficiênciadesejados na recuperação daqueles de espírito atormentado pelo mal.

Sabemos que não podemos subestimá-los, mas também acreditamos que, com trabalhopedagógico, acompanhamento psicológico e social feito com critério, pode-se devolverpessoas melhores para a sociedade. Com seletividade e trabalho, muitos sãoplenamente recuperáveis para a sociedade cidadã. Não podemos incorrer mais no riscode cometer erros de avaliação como temos cometido.

Os apresados veem o futuro se distanciar pelo simples fato de estarem naquelacondição. Sua brutalização comportamental é crescente pelo convívio e está na exatamedida da constatação cada vez mais agigantada de tal realidade. Como escreve PauloVaz:

À medida que o diagnóstico se funde à prevenção (...) a administração dos riscosinverte a causalidade ortodoxa: o porvir possível modifica o agir atual, a consequênciaantecipada torna-se condição da ação (Vaz apud Menezes, 2002, p. 199).

O futuro sempre gerou mudanças na natureza humana, e elas foram significativas aqui.Para o apresado menor infrator, esse futuro é ainda mais sombrio, emudecedor e semperspectiva no curto prazo. Não se pode permitir que um frango atravesse a ruamovido somente pelo volitivo, sem que haja nada para protegê-lo dos acidentes.

Estamos convictos de que é necessário encontrar saídas para a reintegração doexcluído social apresado (no caso do Estado do Rio, no Degase) que seja recuperávelem uma vida cidadã plenamente civilizada. Porém estamos cientes de que essa saídanão será possível sem o apoio de toda uma pedagogia especial, pensadaobjetivamente para atender e suprir carências daquele que será devolvido à sociedadeao final da pena.

Ultimamente, o Estado não tem conseguido muito sucesso na recuperação dessesjovens. Uma das razões está no tratamento a que são submetidos na híbrida realidadede confinamento, sem critérios de classificação comportamental para tudo a que são

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submetidos. Espaços onde o relacionamento implica a composição de ambiênciassempre perigosas, em que o equilíbrio é excessivamente instável e de grande riscopara todos os envolvidos.

Seria profilático tratá-los separadamente, com seletividade? Com a assistência de umaescola especial inclusiva e cidadã, com especial pedagogia, capaz de promoverrigorosa seleção, fundada em leitura criteriosa e cientificamente organizada? Daí, todaação pedagógica passaria a ser dirigida para a inserção social de indivíduostransformados para uma vida plenamente civilizada. É o que pensaríamos, numprimeiro momento. Sem dúvida, o benefício seria fantástico para a coletividade. Mas...E o volitivo deles seria consultado? Caso agíssemos assim, não estaríamos sendoegoístas em demasia? É mesmo um problema ter frangos assim!

Há certamente desequilíbrio e/ou controle oscilante no sistema administrativo quetraduz novas e urgentes necessidades do tempo presente. É primário - mas não é semtempo - lembrar que a educação para o bem, transformadora, sempre foi uminstrumento capaz de mudar o homem. Inserir esses jovens produtivamente nasociedade pode ser uma velha novidade, apenas por atrelar seu processo derecuperação a uma ocupação produtiva e permanente, repetitiva e mecânica,efetivamente adestradora.

Assim liberaremos sua produção intelectual! Ou seja, sua cabeça ficará desocupada. Écomo diz o ditado: cabeça vazia é oficina do diabo! É preciso ocupar corpo, alma eespírito! O ser humano não vive sem humanidade e ela constitui esse todo. Pareceingênuo propor isso, mas cremos que somente será profícuo se selecionarmos os quemerecem receber tal tratamento.

Para tanto se fará mister perseguir a superação do óbvio isolacionismo social ecivilizacional em que vivem. Note que eles quase sempre apresentam comportamentosmiméticos (Maffesoli, 1990) de exemplos sempre muito ruins, identificando-se comexemplos comportamentais sempre piores. Os mimetismos que expressam traduzemsempre o sentido corporal da existência coletiva em que os vemos mergulhados.

A existência de uma escola do crime e da infração na qual encontramos transitandotanto os apresados quanto aqueles que deviam cuidar deles é patente. Semprerenovada e repleta de novidades táticas, representa a exata devolução do olhar dequem a observa. Só os narcisistas não conseguem enxergá-la, pois do lado de fora, aoolharem, enxergam quase sempre a devolução do que desejam, imaginam ou do que osamedronta.

Sua exposição e divulgação, da forma como a mídia a veicula hoje, não só fortalecesua existência como também faz com que os apresados considerados recuperáveisvenham participar de seu discurso metafórico orgíaco como de seus pedagógicosensinamentos. Nesse quadro, é muito difícil um combate mais eficaz e objetivo àcultura do crime. Os representantes das instituições que deveriam cuidar deles já setornaram reféns do medo e, fragilizados, clamam por uma nova estratégia de ação.

Obviamente os saberes estratégicos (Schimth, 1990), profissionalizadores, continuadossão formas expressas de ameaças latentes a todas as ferramentas, instrumentalizadaspor elas. Nossas táticas e estratégias para combatê-los necessitam de avanço ecarecem de maior eficiência. Como promover sua recuperação? Cremos que somentemuita e criteriosa seletividade, trabalho integrador e sistematizantista e uma grandepraticidade e velocidade nas ações tragam a capacidade do exato e eficiente combateque seja ao menos preventivo. Temos que andar na frente!

Uma educação recuperatória deve respeitar objetivos maiores que resultem na inserçãogradativa do apresado recuperável em um primeiro momento, após também oconhecido menor infrator na sociedade civilizada efetivamente (Koogan/Hogan, 1993,p. 199). A busca da capacitação para o trabalho é uma das fortes exigências que,juntamente com a mudança sociocultural, são ótimas instrumentações para suarecuperação. A mudança de meio, ambiência, é decisiva para o que pretendemos, uma

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efetiva inserção sociocultural.

O maior problema está em como prepará-lo para um mundo que claramente vemaposentando mão-de-obra, substituída pelo cérebro-de-obra. Ora, sabemos que asmaiorias dos jovens apresados são analfabetas, semianalfabetas, ou ainda analfabetasfuncionais. Aí está o maior desafio, pois o grande diferencial que alimenta a atual crisesocioeconômica e cultural é o desencontro entre distribuição e desigualdade social.Não só se configura como responsável pela velha exploração que se multiplica comotambém que continua na verdadeira base da dinâmica do sistema capitalista. Masprincipalmente hoje constitui o motor gerador da exclusão social, da eliminação sociale da banalização da vida nas cidades. O remédio certamente será a promoção urgentee fundamental do desencaixamento do apresado daquilo que denominamos 'cultura docrime' que hoje já faz Escola.

Sendo esta sua maior identificadora, constitui também sua maior prisão. Constitui umaforça determinante de seus comportamentos e movimentos. Paradoxalmente, ouniverso de sua origem tem no cultural/identitário um escudo que justifica e ajuda suaassimilação em seu próprio meio. inclusão social é a saída a ser perseguida pelomundo cidadão, representado pela figura do Estado. O convívio heterogêneo noambiente que os envolve, por força da qualidade de sua introjeção, é capaz de cooptá-los com mais ímpeto, força, potência e pressão.

Por um lado, certamente a tradução em atos de coerção cotidiana da sua sombriapresença, conjugada e configurada num misto de medo/perigo, jogo/risco/sucesso ederrota/vitória constitui um componente de ambiência propícia a atos violentos.

Por outro, pode-se perceber que muitas dificuldades inescrutáveis de seu meio tornamsuas imagens opacas, transformando-os em um coletivo complexo no que tange acomposição, organização e movimento. A territorialidade, sua marca maior enquantobandos e/ou corpos autônomos, traz sempre uma necessidade nova de tradução dasnegociações dos espaços internos, no setor de aprisionamento. Poderes e geografia demandos certamente são vitais! A esmagadora maioria deles tem origem nas favelas(Guimarães, Preteceille, Valladares, 2000), o que nos remete ao outro quadro decomplexidade social em que o excluído social é recrutado para o crime e, geralmentepor falta de opção, acaba usando o conjunto da sociedade paralela como escudo, numcomportamento de benfeitor, como a única e imediata solução para seus problemasmais emergentes e urgentes.

Contudo, atividades integradoras, transdisciplinares, cuja pedagogia de inclusão cidadãeficaz já é conhecida, poderão ser um valoroso instrumento motivador e promotor dastransformações de comportamentos. Mesmo assim, insistimos aqui que se tenhasempre clara uma máxima da Filosofia do Direito: "Educo que Educo" (Reale, 1998). Éfundamental que se mude a ambiência entre eles com um trabalho de Educação! Com amudança radical do quadro de relacionamentos existente por lá teremos maior sucesso.

A qualificação dos quadros funcionais da polícia faz-se também vital. Não se podemanter os locais dos menores apresados como senzalas. É um dantesco exemplo! Poroutro lado, também não podemos fazer de lá a velha casa de expostos, como se tinhano Brasil imperial escravista.

Seguramente temos que evoluir dessas ideias se quisermos construir cidadania emquem já nasceu fora dela, como excluído social. Temos que rever muitos princípios,temos que educar e aprisionar com mais eficácia, prevenindo problemas futuros.Garantir ambiências mais saudáveis. Não esqueçamos que teremos que devolvercidadãos à sociedade no final das penas.

Primeiramente, temos claros conjuntos organizados, os tais corpos, repletos dosfamosos frangos. Opostos aos nossos princípios morais, que viveram até aqui de formaavessa ao ethos da nossa sociedade! A esmagadora maioria vive uma vida demimetismo exacerbado; portanto, passível de transformação pela poiese deadministradores competentes responsáveis e, acima de tudo, educadores.

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É fundamental verificar e selecionar a formação profissional dos que irão tratar de tãoespecial indivíduo-problema. Pessoas com capacidade de criteriosamente selecioná-los,organizá-los e dirigi-los. Cremos ser importante buscar exaustivamente a construção deuma pedagogia especial, que seja diferencial. Capaz de uma ação transdisciplinar,mais que interdisciplinar apenas, capaz de uma operação que abra novos horizontes deoportunidades para eles. Será necessário construir um processo de ensino-aprendizagem igualmente diferenciado, em que tais problemas sejam levantados,avaliados, classificados e tratados com a devida acuidade.

Pelo fato de serem especiais, requerem atenção refinada de profissionais com a marcada expertise do educador/agente penitenciário, não sabemos se o nome mais adequadoseria esse, um profissional moldado exatamente para esse fim: transformar apresadosrecuperáveis para uma vida civilizada, efetivamente cidadã.

Para iniciar o mapeamento desse desafio, vamos levantar o quadro de razões epropósitos que levaram à definição da política da LDB.

É importante identificar tipologicamente os crimes mais comuns e os criminosos.Certamente os apenados reclusos precisam ser vistos com seletividade e critério.Listamos a seguir os objetivos que norteariam uma ação desse tipo.

Quanto aos objetivos gerais e fundamentais, a construção de uma escola de inclusãocidadã para apresados recuperáveis, longe dos presídios e presidiários profissionais,com multifaces de segurança moderna, capaz de formar/informar e principalmenteeducar para a vida os excluídos sociais envolvidos, os menores infratores. Umacombinação educativa de caráter puramente inclusivo. Uma justiça que municie aomáximo aspectos de seleção e classificação prévia dos infratores internos, guardando-se o devido sigilo e uma polícia especial, capacitada técnica e taticamente paragarantir a segurança de todos os envolvidos no trabalho, com o fito de juntos,construir-lhes os reais sentidos de cidadania, incluindo-os na sociedade.

Quanto aos objetivos operacionais: confecção e administração de uma trajetória queatenda os objetivos gerais, os resultados pretendidos na referida escola. Para issoseria necessário:

contratar ou convocar especialistas na área de pedagogia, psicologia, psiquiatria,serviço social, serviço religioso, reengenharia e principalmente a áreainformacional (software e hardware), para juntos fazer um trabalho dereconstrução interna que faça com que se sintam parte de um corpo (Katz,2003);levantar o quadro comportamental mais comum entre os internos;classificar comportamentos e práticas lesivas à ordem social externas ouinternas, considerando a idade do praticante, grupo ou facção ou corposociocultural autônomo a que pertenciam ou pertencem no momento, tipificandoe armazenando em um banco de dados informatizado suas formas mais comuns,para que possam serem disponibilizadas e para que possam municiar ações desegurança objetivas, profissionais e imediatas, com organização que facilite opensar tático e estratégico do corpo de agentes. Principalmente para que estejamplenamente disponibilizadas às autoridades do alto escalão. Tudo visando o maisabsoluto e detalhado controle, sem que vazem informações e estratégias deações para fora do setor administrativo;classificar o modus operandi dos grupos ou corpos socioculturais autônomos dosinternos, os comportamentos e as práticas lesivas à ordem social, principalmenteos mais comuns que caracterizam a conduta dos internos (menores infratores),disponibilizando-os também em um banco de dados capaz de municiar açõeseducativas e de segurança imediatas;organizar os bancos de dados periódica e regularmente, municiando e facilitandoos pensares táticos e estratégicos principais, com o propósito de garantir suapermanência com plena acessibilidade das autoridades de alto escalão;quantificar sempre em pequenos intervalos (quinze dias) os atos lesivos à ordem

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interna, quer sejam corriqueiros ou importantes capazes de pôr em risco otrabalho desenvolvido pelo coletivo que estará à frente de tudo, assim como osda retaguarda, em relatórios (on-line);verificar a praticidade do modus operandi aplicado com o propósito de buscaruma retroalimentação do sistema como um todo, inclusive da escola enquantounidade educacional, em todas as práticas internas, mensurando e avaliandoseus resultados no cotidiano de ambiências criadas, organizando-as ereorganizando-as também em banco de dados disponibilizado e preparado aomuniciamento de ações que estejam no campo da previsibilidade possível, comprioridade à segurança tanto externa como interna do coletivo envolvido;facilitar o pensar tático e estratégico principalmente em colegiados reunidos, cujapermanência inicialmente se fará urgente e necessária, principalmente pelo fatode constituir sempre momentos para ações de desmoralização de todo umtrabalho que se deseja que tenha sucesso. Assim, poder-se-á proceder àseletividade, classificação e quantificação do ethos que fundamentaria aspráticas de vida e negociações internas, movimentos, fluxos e fronteiras culturaisexistentes entre os vários grupos (facções) ou corpos socioculturais autônomos,inclusive mapeando seu verdadeiro front, ou seja, campos de batalhas, o quepossibilitará a interceptação de pontos de tensão numa ação preventiva,fundamentalmente antecipatória;classificar o quadro comportamental, ou seja, seu ethos, o mais comum entre osinternos (menores infratores) em seu cotidiano devidamente lido e mapeado,considerando sua rotina de movimentos, tarefas, descansos e maneiras deentretenimento;levantar os principais sinais do quadro comportamental deles, desejos deprofissionalizações futuras mais comuns acalentados individualmente,considerando suas habilidades para um futuro de liberdade através de entrevistaspreviamente elaboradas e exaustivamente discutidas pela equipe técnica;identificar elementos que municiem a construção de uma pedagogia de inclusãocidadã dos internos (menores infratores) selecionados;reunir uma equipe de agentes em um perfil que conjugue o caráter profissionaltransdisciplinar e qualidades mínimas de pedagogia, psicologia, psiquiatria,profissionais de justiça e de assistentes sociais, com o fito de práxis maisapropriadas e capazes de promover profilaxia onde emergencialmente forpreciso, tanto quanto aplicação da disciplina, sempre com o objetivo de criar etransformar hábitos não aceitos pela sociedade oficial e gerar comportamentosmais construtivos, no que se devolverá a uma sociedade cidadã como futurosincluídos sociais.levantar o quadro de recursos técnicos disponíveis e utilizáveis para a execuçãomínima do projeto;quantificar as deficiências materiais, operacionais e de inteligência do atualsistema como um todo;elencar e organizar as carências que qualifiquem mais inteligência do atual eespecífico sistema prisional e profissional dos agentes como um todo;relacionar com a maior clareza e a maior precisão possíveis o verdadeiro quadrodos recursos e carências do setor e as várias formas de profissionalização que sepode oferecer aos apresados no interior da unidade sem abalar a segurançainterna e alterar a ambiência ordeira que se pretende;diagnosticar o verdadeiro quadro dos recursos e carências do setor;integrar interesses internos (direção das unidades) e iniciativa privada comvistas a gerar a inserção social e sociocultural dos apresados quando emliberdade, mesmo que vigiada, no mercado de trabalho. Tudo sobresponsabilidade e ciência da secretaria responsável e da direção local daunidade escolar, a qual deverá ser devidamente fiscalizada por comitêsindependentes, cuja seleção e homologação seja da inteira responsabilidade econfiança do secretário.promover e acompanhar o desenvolvimento paulatino da ativação de cozinhas,teatros, escolas, oficinas em geral, que estejam internamente inoperantes comomeio de profissionalizar os apresados, os quais serão devolvidos com maior

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habilidade para o enfrentamento de uma vida de liberdade;otimizar procedimentos que direcionem melhorias mais urgentes e necessárias nosetor prisional de menores, através de um processo ensino-aprendizagem que osconscientize de seus direitos e deveres;aplicar um teste de sondagem que seja capaz de promover acompanhamentoadequado de seus procedimentos. Redirecionar rumos pedagógicos para cumpriro objetivo maior de possibilitar melhor aproveitamento, pois o sistema deve servivo, flexível, dinâmico e retroalimentado. Deve ser capaz de criar no menorapresado infrator, uma iluminação de seu próprio caminho. Não se trata de umapopulação qualquer. As pessoas escolhidas para desempenhar as tarefas devemser criteriosamente selecionadas por formações específicas, organizadas,educadas, polidas, de nível superior, mas preparadas para resolver os constantesproblemas comuns das truculências inerentes do convívio prisional;classificar o quadro comportamental (eros) mais comum entre os apresados emseu cotidiano, considerando sua rotina de movimentos, tarefas, descansos eentretenimento. Utilizar mais pedagogicamente o infotreinment como um auxiliarda transformação que se pretende no quadro comportamental dos apresados.Ressaltar seus valores civilizacionais, lembrando as razões que os mantiveramali nas condições em que se encontram, privados da liberdade e da necessidadede se habilitar para o futuro de liberdade. Identificar práticas e valoresedificantes como paz, convivência pacífica, respeitabilidade, trabalho formal,tanto individual quanto coletivo, família, companheirismo...

Uma vez aptos ao mercado de trabalho e a uma 'vida cidadã' ao final da pena, espera-se que o apresado supostamente recuperável estaria convertido em uma conquista parao todo social da ordem e, devidamente fiscalizado e monitorado pela própriainstituição, com utilização de tecnologia de ponta para o acompanhamento de suaefetiva devolução ao meio social diferente.

Depois de diagnosticados e devidamente prognosticados problemas, recursos ecarências, poderiam promover a seleção e distribuição, sempre com base nashabilidades e formações dos agentes penitenciários. A tecnologia para tal etapa sairiada extração do que produzem os vários grupos de interesses científicos acadêmicos denosso Estado, nunca esquecendo do cuidado com o monitoramento constante desseainda recuperável, pois, como podemos constatar, sabemos que ele será assediadoininterruptamente pelo velho corpo sociocultural autônomo ao qual pertenceu nopassado.

Assim poderemos ter certeza de estarmos construindo um grupo altamente qualificadode profissionais de presídio, penitenciárias, casas de custódia etc., dotado de formaçãotransdisciplinar, com múltiplos olhares e dotado de expertise. Com ele comporemos umeixo centralizador de conduta profissional capaz de alavancar ações conjuntas quedetenham o avanço de tão latente sociedade paralela cooptada pela cultura do crimenas cidades e no Estado do Rio de Janeiro.

Acreditamos que, ao aparelhar eficientemente o quadro de agentes, qualificando-os,certamente suas principais dificuldades diminuirão bastante. O que se desejará comopasso seguinte é a capacitação constante do efetivo operacional selecionado, sob penade não pertencer mais ao quadro - ou seja, a aposentadoria precoce e/ou oafastamento por deficiência técnica podem ser recursos utilizáveis.

Não se trata de buscar no profissional mais qualificado para o setor a vulgar eultrapassada mão-de-obra, mas uma verdadeira equipe operacional de cérebros-de-obra, em que a qualificação universitária ou equivalente esteja absolutamente clara.Aquele que não se qualificar terá prazo exíguo para fazê-lo ou correrá o risco de serremanejado para outro setor de trabalho.

Enquanto não estiver devidamente qualificado, ficará afastado de suas funções semprejuízo para seus vencimentos, pois não se quer aqui multiplicar insatisfações massim incentivar a competição. Tal procedimento deve evitar reclamações

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desestabilizadoras. Para tanto se teria que convocar todo um corpo de profissionaisespecializados e, ao mesmo tempo, tal ação deve ser acompanhada da necessáriapercepção da conjugação de expertise e comportamento marcado pelatransdisciplinaridade. No saber operacional será exigida a ação do profissional comrefino técnico e habilidade. Afinal a segurança pública, maior problema hoje no Rio deJaneiro, merece investimento dessa monta. Ela hoje afeta a governabilidade.

Deve-se buscar ocupar o tempo dos recuperáveis selecionados através de leituras ereleituras do cotidiano prisional, considerando previamente comportamentometodológico padrão definido a partir de um estudo de rigor científico que vise atingirum padrão de melhoria desejada do ambiente prisional; assegurar eficiência eprevisibilidade no que tange aos resultados esperados.

A descrição e o levantamento do perfil profissional desejado pode ser feita através dasondagem vocacional dos presos recuperáveis, e o estabelecimento de toda umacartografia das dificuldades a se enfrentar será de vital importância para a segurançado que pretendemos aqui. Não podemos prescindir do cuidado também com osdetalhes, uma vez que quem trabalha diretamente com apresados recuperáveis deveter como primordial a capacidade de perceber-se claro e seguro no meio funcional.Para tanto, faz-se necessária a qualificação profissional. Os agentes que não semostrarem qualificados para a tarefa deverão se qualificar, sob pena de comprometertoda a estratégia do projeto. Será prudente afastar aqueles que se encontram emprocesso de fragilização na convivência com os apresados.

É válido montar uma equipe de cérebros-de-obra capazes de comparar as experiênciastranscorridas, cruzando suas informações com o fito de municiar, fortalecer ou alterarrotas de tratamento. Através de cruzamentos das informações poderão ser feitaseficientes análises que resultarão em sínteses indicadoras de novos caminhos quepermitam apresentar dificuldades e soluções que iluminem novos caminhos. Oredirecionamento dos trabalhos deverá ser sistematicamente mensurado e avaliado emseus resultados e servirá de retroalimentação constante para a melhoria técnica etática das atividades.

Uma vez detectado avanço far-se-á necessário desencadear um trabalho com maiseficiência e eficácia. Será preciso que se tenha claro que não se tratará de construiruma escola qualquer. Sabemos que não se lida com apresados ex-criminadorescontumazes como se nada de novo houvesse. Não são normais; contudo, precisam emerecem passar por um processo de transformação civilizador que tenha forte cunhohumanista. Quem vive ou viveu na barbárie por muito tempo ou a vida toda nos corpossocioculturais autônomos que tratamos aqui não muda apenas quando muda deambiente. Entretanto, também acreditamos que não poderíamos desprezar o fato deessa mudança ajudá-lo muito para desarmar-lhe os espíritos.

Em 1990 foi aprovada a Lei 8.069/90 - o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).Até então, o país dividia juridicamente a população de 0 a 17 anos em dois grupos: ascrianças ou adolescentes e os menores. Em tese, a separação entre ambos se dava pormandado do juiz, em função das ações dos definidos como menores ou de certasrelações no interior da família. No entanto, a distinção desses dois grupos sempre foióbvia! Bastava olhar para a criança ou o jovem para logo saber se tratava de ummenor ou não. Até a promulgação do ECA, os que não detinham condições de vidaenquadradas nos modelos hegemônicos eram definidos juridicamente no Código deMenores em situação irregular e declarados menores. Portanto, o olhar disciplinadornão requeria sequer do juiz para condenar uma jovem pessoa; a sentença do juiz era aoficialização da sentença geral, que culminava com o encaminhamento dos irregularesàs escolas de confinamento para torná-los regulares.

Nosso ponto de partida seria a opção política apresentada pela LDB no trato com oportador de necessidades especiais e nela incluiríamos certos tipos de menoresdelinquentes em suposta situação de recuperação. Nossa preocupação alicerça-se nofato de, nos últimos trinta anos, ter sido seu trato demasiadamente complexo nas

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condições em que ocorre. Uma vez em uma escola especial, entre iguais, por razõesóbvias, o isolamento social ao qual são submetidos talvez seja avaliado com maiorassertividade tanto por eles quanto por parte de quem tem a tarefa de cuidar deles.Pode ser efetivamente benéfico.

Não se trata de trazê-los à convivência com a sociedade de forma imediata; o quepropomos aqui é paulatinamente permitir que percebam como faz falta a vida socialnormal, ordeira. Nossa tarefa seria "animar o sujeito cidadão" (Garapon, 2000) ou,quem sabe, reanimar. Não se trata de uma inclusão cidadã marcada pela ingenuidadena ação, mas educá-lo para uma vida comum e de liberdade futura em mãos severasque, entretanto, não brutalizem suas ações simplesmente pelo prazer de brutalizar, jáseria uma forte mudança em todo o sistema.

É exatamente aqui que entra o agente preparado, o cérebro-de-obra sensível àsmutabilidades e transformações que possam apresentar, mas sobretudo consciente doseu dever profissional, servindo como um informante retroalimentador valioso, capazde produzir acertos de rumos no modelo de escola que pretendemos, de modo que oconvívio possa se tornar menos difícil, menos traumático, menos perigoso, maiseducativo e transformador como um todo.

Selecionar as principais dificuldades escolares entre os agentes do processo é umdiferencial qualitativo importante, além de elemento que dificultaria a comunicação quedesvirtuasse os rumos e fins propostos pelo projeto. Para tanto, deveremos ter emmãos uma descrição do perfil profissional e das dificuldades escolares de quemtrabalha diretamente com o portador dessas necessidades especiais.

Após entrevistas feitas com os docentes e discentes, poderemos ter a tabulação dedados reveladores de rumos e alterações a tomar em todos os planos, principalmenteno psicopedagógico da referida escola. É fundamental ter um sistema de pré e pós-testagem para permitir uma avaliação permanente com o objetivo de atingir maiorflexibilidade das ações educativas.

Acreditamos que seria necessário um olhar mais detido no modelo do todo a seconstruir e se constituir como escola. Seria necessário, considerando a combinação dapós-escravidão e as conturbadas avalanches político-econômicas sofridas pelo quechamamos de Século do Não, aparelhar eficientemente o quadro de agentes,qualificando-os constantemente com o que há de mais moderno no ramo de segurançade presídios e tratamento de presos em países de economia emergente e capacitarconstantemente o efetivo operacional selecionado, sob pena de não permitir suapermanência no quadro. Buscar premiá-los no aspecto profissional mais qualificadopara o setor, o qual estiver desperto para o sentido verdadeiro de equipe operacionalde cérebros-de-obra, onde a qualificação universitária ou equivalente com apropedêutica para o trato de especial problema esteja absolutamente claro.

A trajetória do menor infrator apresado ou apenas infrator até as mãos doagente/professor penitenciário deveria inexoravelmente passar por etapas como as queapresentamos a seguir.

A Justiça tem como propósito apenar o infrator depois de julgado, designando-o para osetor de recuperação, que sabemos como se encontra. O processo de reintegração vê-se desafiado a decidir entre punir ou educar para reintegrar. Notemos então que anobreza dos propósitos não se configura nem é louvável, como era de se esperar.Porém, notamos, após as reuniões que fizemos, que não é assim que acontece. Aincerteza paira sobre a reintegração social do apresado. Reside aí toda a nossapreocupação. É aí que desejamos atuar: o funcionamento com relação à criança e omenor infrator, para nós o frango.

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A complexidade de qualquer processo de infração é plenamente reconhecível. Não hácomo negar e não discutiremos aqui por fugir nossa competência específica. Contudo,sabemos que hoje entre infrator, o frango, e vítima, sociedade, várias razões seescondem e se autossustentam. Porém, uma vez apenado, a forma de reclusão para omenor e o adolescente deve ser diferenciada.

Sem perder de vista o fato da devolução do apresado à sociedade ao final da pena, aresponsabilidade se multiplica pelo fato de não haver, até agora, um trabalho capaz dediminuir a violência quando da devolução a sociedade. A verdadeira vítima estaapresada nas almas dos acuados agentes que os controlam. Seguramente estãoestressados pelo convívio em ambiência do medo e do equilíbrio instável.

A convivência entre eles acaba impondo essa ambiência que pode levá-los ao pânico,pondo a perder o objetivo maior que é animar o sujeito cidadão nos apresados,construir-lhes a cidadania. Seguramente não acontece o proposto na Declaração DosDireitos Humanos no seu Art. 1º: "todos os seres humanos nascem livres e iguais emdignidades e direitos, são dotados de razão e consciência e devem agir, em relaçãouns aos outros, com espírito de fraternidade". Temos um quadro muito complexo, emque dois personagens interagem: o infrator-vítima, o nosso suposto frango, no sentidofigurado, e o agente-vitimado que se defende com truculência mais do que compedagogia corretiva e educativa da construção cidadã.

Assim como se encontra o setor onde são aprisionados, é humanamente impossível oresgate. Mas muito mais difícil é construir neles algum sentido de cidadania. Lá estãototalmente banidos. Como diz a professora Viviane Forrester, acabam os dois como"eliminados sociais" (Forrester, 1996). Nossos presídios, nesse particular, são locais dedesumanidades. Mas quando se trata do tipo de apresado que tratamos aqui, o vulto émais aterrador. São locais de brutalização do homem que lá se encontra.

Cabe uma criteriosa seleção e qualificação de mão-de-obra para o trato essas pessoas.Se forem espíritos atormentados, separemos, dando-lhes o tratamento adequado.Aqueles que podem ser classificados como recuperáveis devem ter outro tipo demonitoramento. A exemplaridade deve ser valorizada, para que as conquistas demelhorias dos selecionados sejam valorizadas. Mas fundamental será a qualificação dotrabalhador-agente. Não se deve permitir truculência. Antes de educar punindo,devemos saber a hora certa e a medida da punição.

Dizer não ao erro é fundamental, mas sem subestimar a inteligência de quem estárecebendo a negativa, ou seja, devem ser dadas explicações claras, motivando oambiente com atividades intensas que melhorem sua capacidade lúdica.

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Mentes ocupadas com o progresso da liberdade não terão tempo para serem reféns daviolência. Velhas novidades, como o trabalho inteligente ligado ao mercado moderno eoferecido a quem mereça, deve ser incentivado. Evitar a interseção de oportunistasque apenas querem se aproveitar de uma mão-de-obra barata e protoescravizada pelascondições em que se encontram.

Há necessidade de separar primeiro os recuperáveis dos que ainda não se encontramnesse estágio. Não se deve deixar levar por critérios velhos como aqueles que sebaseiam em opiniões apenas de psiquiatras e assistentes sociais; devemos ouvirpedagogos, psicólogos e sociólogos.

Para o tipo de apresado de que tratamos aqui, a multiplicidade de faces de seucomportamento deve ser valorizada. A Justiça tem que ser um misto de punibilidademensuravel e quantificavel, mas deve ser dosada pela sensibilidade dos que estãoexecutando a missão. Não estamos recusando a docilidade no trato, mas deve-setratar seletivamente caso a caso. O processo de construção da cidadania naqueles quenasceram fora dela, como o nosso frango, o infrator, deve ser marcada por umapedagogia fundada em critérios seguros de avaliação. Contudo, a razão cartesianadeve ser mesclada à razão sensível e humanista. Como esboçamos a seguir.

Segundo Pierre Bourdieu,

Em última análise, muitos analistas superestimaram a função da educação comomecanismo de reprodução de classe, na pior das hipóteses, subestimaram tambémsua função como eficiente instrumento pelo qual as classes dominantes selecionamcuidadosamente seus membros na própria classe e também nas camadas inferiores(Bourdieu, 1977, p. 487).

Será que devemos aproveitar isso? São realmente excluídos e, assim, devem continuaros apresados adolescentes? Devemos aproveitar e mimeticamente reproduzir ou manteressa trágica situação, ou, como afirmava Bourdieu, tomar a educação para a mudançasem subestimá-la? Caso tomemos como verdadeira essa afirmação, educar passaria aser nossa tarefa daqui por diante. Mas como educar o que pratica tamanhos males,sempre horríveis à sociedade? Como evitar e mudar seus espíritos atormentados?

Seguramente não se trata de uma questão do jogo quase sempre falacioso deriqueza/pobreza. Velha dicotomia, cujo antagonismo embora se encontre na base dotodo, não traduz sua totalidade quase sempre complexa de sua existência. "Saco vazionão fica de pé!", já diziam os antigos, ou "roubei para comer!", quando é verdadeiro einexorável, alguém poderia contrapor? São coisas que não traduzem a verdade nem atotalidade dos fatos motivacionais do crime.

Mas nem todo espelho que se olha devolve-nos o mesmo olhar. Nem todo reflexo(resposta) é o lado narciso do que se deseja ver. Mesmo assim, todo narciso acha feioo que não é espelho. Queremos, com isso, convidar você a se debruçar sobre as várias

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razões que motivam o crime. Certamente estará presente lá a cultura tribal urbanamoderna marcada pelo emocional exacerbado, marcada pela exagerada mimesis que otipo de grupo de jovens apresenta e traduz. Seria ingênuo crer que tal fato não serepetisse no interior da geografia de reclusão.

Faz-se mister cortar os cordões umbilicais que a alimentam. Caso não façamos,estaremos condenando toda a ação educativa perdida. É crucial cortar as conexõesmiméticas que sustentam os poderes entre eles. Ora, não se faz isso com uma simplesvigilância. Cada olhar pode ser um texto a ser lido por várias pessoas. Deve-se criarmetas, objetivos a atingir que motivem todos os detentos ao comportamento desejado.Só assim se transformará um sistema que é mecânico e sistematizado emsistematizante, possuindo retroalimentação, que se sirva de uma imanência tal quepromova direcionamentos de condutas para atingir as metas desejadas tanto pelospresos quanto pelos agentes.

Um ímã capaz de atrair benefícios concretos aos espíritos, melhorando-os, civilizando-os. Trazendo-lhes premiações concretas e benefícios reais que os qualifiquem sempremais para a vida civilizada, separando-os daqueles que não se encontram ainda nopatamar inicial.

Roemer diz que:

a razão pela qual consideramos os trabalhadores como explorados é que eles não têmacesso à sua parte dos meios de produção; eis por que chamamos seu trabalho deexpropriado. O parâmetro para medir a exploração é uma distribuição igualitária dosmeios de produção. (...) Ou seja, na base do fenômeno da exploração encontra-se oda exclusão do acesso aos recursos produtivos segundo os diferentes modos deprodução; no sistema capitalista, por exemplo, o direito de excluir os trabalhadores doacesso aos meios de produção constitui o poder dos capitalistas, e este poder estárespaldado, em última instância, no poder coercitivo do Estado que garante o direitode propriedade dos capitalistas (1982, p. 11).

A exclusão remete também a outras formas de dominação que extrapolam o limitadoconceito economicista de exploração. A exclusão dual, quando um grupo de excluídosreage à exclusão do acesso formal aos meios de produção formal, mobilizando o poderpara baixo, a fim de excluir grupos, ou corpos dos ainda menos aquinhoados. Aquestão da exclusão dos que não tem especialização e são impedidos de acesso acertas posições privilegiadas porque não passaram por um período de aprendizagem.

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Publicado em 7 de outubro de 2008

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