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EDUCAÇÃO E TRABALHO JUVENIL EM UM CONTEXTO DE CRESCIMENTO ECONÔMICO: A REALIDADE DO CEARÁ

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EDUCAÇÃO E TRABALHO JUVENIL EM UM CONTEXTO DE CRESCIMENTO

ECONÔMICO: A REALIDADE DO CEARÁ

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MARDÔNIO DE OLIVEIRA COSTA

EDUCAÇÃO E TRABALHO JUVENIL EM UM CONTEXTO DE CRESCIMENTO ECONÔMICO: A REALIDADE DO CEARÁ

FORTALEZA 2010

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Estudo realizado pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) - Organização Social Decreto Estadual nº 25.019, de 03/07/98. Análise e Redação Mardônio de Oliveira Costa Apoio Técnico Arlete da Cunha de Oliveira Diorgia Maria Dias de Carvalho Geovane Sousa Pereira Editoração eletrônica e layout Antônio Ricardo Amâncio Lima Revisão Regina Helena Moreira Campelo Normalização Bibliográfica Paula Pinheiro da Nóbrega Correspondência para: Instituto de Desenvolvimento do Trabalho - IDT Av. da Universidade, 2596 - Benfica CEP 60.020-180 Fortaleza-CE Fone: (085) 3101-5500 Endereço eletrônico: [email protected]

C837e Costa, Mardônio de Oliveira. Educação e trabalho juvenil em um contexto de

crescimento econômico: a realidade do Ceará / Mardônio de Oliveira Costa. – Fortaleza : Instituto de Desenvolvimento do Trabalho, 2010.

40 p. ; il. 1. Trabalho Juvenil 2. Educação. 3. Crescimento

Econômico. I. Título. CDD: 331.31

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Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT)

Francisco de Assis Diniz Presidente

Antônio Gilvan Mendes de Oliveira Diretor de Promoção do Trabalho

Sônia Maria de Melo Viana Diretora Administrativo-Financeiro

Leôncio José Bastos Macambira Júnior Diretor de Estudos e Pesquisas

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................7 1 ALGUNS INDICADORES DA EDUCAÇÃO NO CEARÁ – 2003 – 2008.........................13

2 A PIRÂMIDE ETÁRIA CEARENSE.............................................................................23

3 PARTICIPAÇÃO JUVENIL NO MERCADO DE TRABALHO..........................................27

4 O PERFIL DO JOVEM DA RMF................................................................................33

5 ALOCAÇÃO DO TEMPO JUVENIL: ESCOLA, TRABALHO E INATIVIDADE...................42

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..........................................................................................46 REFERÊNCIAS ...........................................................................................................50

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INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, o Brasil tem logrado patamares de crescimento econômico mais

elevados, de forma mais sustentável, com geração de emprego, ampliação da renda e

diminuição dos níveis de desigualdade e pobreza. Tal desempenho foi brevemente

interrompido com o advento da crise financeira internacional, que atingiu o Brasil em

meados de setembro de 2008, cuja trajetória de recuperação e de expansão da

economia brasileira fora rapidamente retomada alguns meses depois.

Segundo o Sensor Econômico, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica

Aplicada (IPEA), expressando as perspectivas dos principais indicadores

macroeconômicos para o ano, as expectativas do crescimento da economia brasileira

evoluíram de 5,2%, em jan-fev/2010, para 6,5%, em maio-jun/2010. Diversas

instituições já estimam um crescimento da economia nacional pouco acima de 7%, em

2010. Em junho, atualizando suas estimativas de crescimento do Produto Interno

Bruto (PIB), o Banco Central elevou a previsão para 7,3%, os bancos brasileiros de 6,3%

para 7,1%, segundo a Federação Brasileira de Bancos, e a Federação das Indústrias do

Estado de São Paulo, para 7,5%. Reforçando tal previsão, os resultados da Sondagem

de Investimentos da Indústria, pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas,

divulgada na primeira semana de julho, demonstram que a ampliação da capacidade

produtiva é o principal motivador de investimentos neste ano, apontado por 40% das

empresas consultadas. E, em julho, a previsão do Fundo Monetário Internacional foi

revisada para cima, passando de 5,5% para 7,1%, segundo a versão mais recente do

relatório World Economic Outlook.

Quanto aos próximos anos, previsões do IPEA também relatam as boas perspectivas

para o crescimento sustentado do PIB brasileiro de 4,5%, nos anos de 2011 a 2015.

Além do mais, no documento “Economia Brasileira em Perspectiva”, de abril-

maio/2010, do Ministério da Fazenda, é destacado o crescimento do PIB do país de até

6,5%, em 2010, estimativa atualizada para algo entre 6,5% e 7,1%, em julho, e um

crescimento médio anual da ordem de 5,5%, nos anos seguintes. Nas palavras do

ministro Guido Mantega, “a economia voltou a crescer com vigor redobrado depois da

crise, crescendo com mais força e, portanto, fica claro que já se iniciou um novo ciclo

de crescimento.” (RODRIGUES, 2010). Em face de tais diagnósticos, o cenário

consensuado é de que a economia brasileira crescerá bem, em 2010, e manterá o PIB

crescente nos próximos anos, com a devida geração de novas oportunidades de

trabalho, tal qual nos últimos anos, em que o Brasil tem apresentado recordes de

geração de empregos formais, propiciando uma trajetória decrescente ao

desemprego.

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Para o bom desempenho da economia nacional nos anos mais recentes, contribuíram

diversos fatores, tais como: a desvalorização cambial de 1999; taxas de crescimento

econômico mais robustas, relativamente a anos anteriores; conjuntura internacional

favorável, com expansão das exportações; desempenho francamente positivo da

construção civil e do comércio; investimentos em infraestrutura; expansão do crédito;

redução das taxas de juros, até mar/2010; aumentos nos rendimentos do trabalho e

no consumo das famílias e, mais recentemente, a retomada dos investimentos

industriais. Dessa forma, números divulgados pelo IBGE sobre o PIB do primeiro

trimestre de 2010 revelam que a indústria (14,6%) e os investimentos (26%) foram os

grandes destaques do crescimento de 9% do PIB brasileiro, paralelamente ao mesmo

período de 2009, em que o nível de investimento recuperou o patamar observado

antes da crise. Em jan-mar/2010, a taxa de investimento da economia brasileira

chegou a 18% do PIB.

Atendo-se à economia cearense, esta acumulou um crescimento de 35,2%, nos anos

de 2002 a 2009, o equivalente a uma taxa média anual de 3,8%, diante de um

crescimento anual de 3,1% da economia nacional, segundo o Instituto de Pesquisa e

Estratégia Econômica do Ceará (IPECE). No primeiro trimestre de 2010, o PIB cearense,

a preços de mercado, cresceu 8,9%, mesmo já tendo crescido 3,7% no primeiro

trimestre de 2009, o que torna o resultado estadual ainda mais expressivo, fruto do

maior dinamismo da economia local. Assim, o IPECE estima um crescimento da ordem

de 6,5% do PIB cearense, em 2010, como reflexo do desempenho das atividades

agropecuárias e dos serviços e da retomada/intensificação da atividade econômica em

setores diversos, precipuamente na indústria de transformação, construção civil e

comércio1, e, para os próximos anos, a economia cearense também apresenta boas

perspectivas de crescimento, em decorrência de diversos investimentos no estado

(siderúrgica, refinaria, Zona de Processamento de Exportações, atração de novas

indústrias2, a exemplo do Pólo Industrial do Eusébio, empreendimentos turísticos, etc.)

e de eventos como a Copa de 2014. Quantificando os investimentos, em 2009, o

governo estadual investiu R$ 1,9 bilhão e, para 2010, os investimentos governamentais

estarão entre R$ 3,5 e R$ 4,0 bilhões, um adicional de 110%, o que propiciará

condições para que o estado continue nessa trajetória de crescimento robusto nos

anos vindouros.

1 Estudo do BNDES demonstra que, no Brasil, a proporção do crédito total diante do PIB praticamente dobrou entre março de 2004 e dezembro de 2009, passando de 23,1% para 45%, o mais longo e intenso período de crescimento do crédito em duas décadas, em que o segmento das pessoas físicas teve um desempenho diferenciado, saltando de 5,6% (mar/2004) para 14,9% do PIB (dez/2009). Projetando o volume de crédito para 2014, o estudo prevê que o Brasil pode superar o patamar de 70% do crédito diante do PIB, com o segmento pessoa física liderando a expansão, chegando a 23,7% do PIB. 2 O Governo do Estado do Ceará, por meio do Conselho Estadual de Desenvolvimento, conseguiu captar dezenove projetos empresariais e produtivos no primeiro semestre de 2010, diante dos vinte projetos em todo o ano de 2009.

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Outra constatação do desempenho positivo atual da economia cearense é detectada

pela avaliação de vinte e dois indicadores econômicos3 no primeiro quadrimestre de

2010, realizada pelo Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste/Banco do

Nordeste do Brasil (ETENE/BNB), divulgado em julho de 2010, em que é relatado que o

Ceará esteve acima da média nordestina em doze deles. (SOUSA, 2010). Dessa forma,

os resultados cearenses ficam entre os principais responsáveis pelo crescimento de

6,9% do PIB da região, em 2010.

Adicionalmente, segundo o Banco Central do Brasil,

A trajetória da economia cearense deverá seguir consistente em 2010, perspectiva

associada, fundamentalmente, à manutenção do dinamismo da demanda interna,

em cenário de expansão das operações de crédito, manutenção dos investimentos

públicos, federal e estadual, e dos programas de transferência de renda do governo

federal. Nesse contexto, a elevação da massa salarial seguirá sustentando as

vendas varejistas e exercendo desdobramentos favoráveis sobre as encomendas à

indústria local, cuja estrutura produtiva se beneficia, de modo geral, da

intensificação da demanda por bens de menor valor agregado. (BOLETIM

REGIONAL, 2010, p. 32).

Quanto ao mercado de trabalho, esta evolução mais favorável da conjuntura

econômica tem sido acompanhada de uma melhora substancial na geração de postos

de trabalho, tanto qualitativa quanto quantitativamente. As oportunidades de trabalho

têm sido ampliadas e atenua-se um pouco a precarização das relações de trabalho,

dada a elevação do contingente de trabalhadores assalariados, especialmente com

carteira de trabalho assinada, ressaltando-se inclusive o declínio nas taxas de

desemprego, os aumentos reais do salário mínimo e crescimento da massa de

rendimentos/salários. Por exemplo, segundo a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego

e Salário publicada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a

expansão do emprego industrial no Ceará alcançou 8,1%, em maio, perante igual mês

do ano passado, resultado que coloca o estado no segundo lugar da região Nordeste e

do País, que cresceu 4,2%. No acumulado janeiro-maio, o porcentual de crescimento é

de 8,2%, levando para a liderança nacional o índice de pessoal ocupado assalariado na

indústria cearense.

No Ceará, expressiva parcela dos empregos gerados foi absorvida por jovens, com

remuneração em torno de um salário mínimo, demonstrando que a força de trabalho

juvenil do estado tem, pelo menos em parte, beneficiado-se dessa conjuntura

favorável à inserção ocupacional, o que é ratificado por estatísticas diversas, apesar

3 Dentre eles, citam-se: estimativa da produção de grãos, produção física industrial, volume de vendas do comércio, exportações e importações, saldo das operações de crédito, arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS), etc.

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dos baixos salários4. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

(CAGED), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), dos 89,4 mil empregos gerados

no estado, entre julho/2009 e junho/2010, 53 mil foram ocupados por jovens de 15 a

24 anos (59%), proporção que chegou a 57% na Região Metropolitana de Fortaleza

(RMF). Ademais, números da Superintendência Regional do MTE comprovam que a

contratação de jovens aprendizes está em alta no Ceará, posto que o número de

jovens entre 14 e 24 anos, absorvidos pelas empresas cearenses em sistema de

aprendizagem, evoluiu de 2.788, em 2008, para 6.284 jovens, em 2009, um

incremento de 255,3%.

Mais especificamente na RMF, em 2009, de acordo com a Pesquisa de Emprego e

Desemprego (PED)5, que investiga mensalmente o mercado de trabalho como um

todo, abrangendo relações formais e informais de trabalho, além da busca por

trabalho, a população ocupada total cresceu de 1.536 (dez/2008) para 1.578 mil

(dez/2009), o equivalente à geração de 42 mil novas ocupações. Dentre aqueles de 15

a 24 anos, a evolução foi de 319 para 333 mil jovens trabalhando, respectivamente,

significando que este segmento é responsável por algo em torno de 21% da ocupação

total na RMF, tendo sido contemplado com 1/3 das oportunidades de trabalho criadas

no mercado de trabalho local, em 2009, ou seja, 14 mil jovens obtiveram trabalho no

ano passado.

Em termos de escolaridade, o mercado de trabalho está a exigir instrução de nível

médio como pré-requisito para que o trabalhador possa se inserir nesse mercado.

Números do saldo de emprego formal de 2009, de acordo com o MTE, demonstram

que, dentre os 53 mil jovens que obtiveram emprego formal no estado, entre

julho/2009 e junho/2010, 32,5 mil detinham instrução de nível médio completo, ou

seja, nada menos do que 61%, participação que chegou a quase 63% na RMF. Os de

instrução superior chegaram a 4 mil no estado e a 3,4 mil na RMF.

Quanto à remuneração do emprego formal juvenil, nos doze meses já citados, a

representação de jovens na faixa de 0,5 a 1,5 salário mínimo teve uma representação

na casa dos 90%, tanto no estado quanto na RMF, segundo a mesma fonte,

4 Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), considerando os seis primeiros meses de 2010, o Ceará é detentor do terceiro menor salário médio de admissão do país. Os trabalhadores cearenses admitidos nesse período tinham como remuneração do trabalho assalariado a quantia de R$ 656,59, em média, diante da média nacional de R$ 821,13. Nesses termos, o salário médio cearense supera apenas o do Rio Grande do Norte (R$ 640,57) e o da Paraíba (R$ 628,07). 5 Pesquisa realizada na área metropolitana de Fortaleza, por meio do Convênio Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT)/Sistema Nacional de Emprego (Sine-Ce), Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS), Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade)/Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e Ministério do Trabalho e Emprego (MTE)/Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), e em outras cinco regiões metropolitanas do país e no Distrito Federal.

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comprovando que o incremento na escolaridade exigida não foi convertido em melhor

remuneração para estes jovens6. Em absolutos, dentre os 53 mil jovens que

conseguiram emprego formal no estado, 47,9 mil percebiam salários nesta faixa (90%).

Como o crescimento da ocupação tem sido superior ao da população economicamente

ativa, isto resulta em diminuição do desemprego, inclusive entre os jovens, conforme

estatísticas da PED/RMF. De fato, ao longo de 2009, o desemprego na faixa de 18 a 24

anos saiu de um patamar superior a 23%, nos primeiros oito meses, para quase 19%,

em dez/2009, na RMF. De outra forma, o desemprego, embora elevado, mostra-se em

queda.

Tomando-se essa conjuntura promissora como ponto de partida, considerando-se

também outros aspectos, tais como: as novas exigências do mundo laboral, a

emergência da sociedade do conhecimento e a heterogeneidade que caracteriza a

população jovem do Ceará, propiciando uma inserção desigual no mundo laboral, o

objetivo deste breve estudo é, além de fazer algumas incursões sobre as alterações

mais recentes no perfil etário da população estadual, fomentar algumas reflexões

sobre a escolarização da juventude e mercado de trabalho juvenil cearense em um

contexto de crescimento econômico robusto, em face das mudanças no perfil etário da

população do estado e às contratações, notadamente dos jovens mais escolarizados,

assim como investigar como estes jovens têm ocupado o seu tempo, focando o

binômio estudo/trabalho.

Quanto ao intervalo etário inerente à conceituação de população jovem, nas palavras

de Pochmann (2004, p. 390)

No passado recente, quando a expectativa de vida ao nascer estava um pouco

abaixo dos 40 anos, a faixa etária de 15 a 24 anos poderia indicar precisamente um

período de tempo compatível com a idéia de transitoriedade que marca a condição

juvenil. Atualmente, quando a expectativa média de vida se encontra ao redor dos

70 anos no Brasil, aproximando-se rapidamente dos 100 anos de idade para as

décadas vindouras, torna-se fundamental identificar que está em curso um maior

alargamento da faixa etária circunscrita à juventude para algo entre 16 e 34 anos

de idade.

Dando a importância merecida a tais considerações, o presente estudo considera

como jovem a população com idade na faixa etária de 15 a 24 anos, tendo sempre

como perspectiva futura a ampliação desse interstício, significando que as políticas

públicas voltadas para a juventude terão que lidar com um contingente populacional

6 Segundo o Dieese, nos últimos oito anos, o salário mínimo no Brasil apresentou um reajuste nominal de 155% e uma valorização real de 53,67%, passando de R$ 200,00 (abr/2002) para R$ 510,00 (jan/2010), paralelamente à variação da inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que acumulou incremento de 65,93% no mesmo período.

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de jovens cada vez maior nos anos que se aproximam. Em face dessa perspectiva,

Pochmann (2004, p. 390) argumenta que

Trata-se, fundamentalmente, do reconhecimento necessário de que a transição da

adolescência para a idade adulta está mais complexa do que era no passado,

estando a exigir uma agenda pública mais específica voltada para uma faixa etária

maior.

Dessa forma, além de algumas considerações sobre o perfil etário e educacional da

população do Estado do Ceará, assim como sobre a participação dos jovens de 15 a 24

anos no mercado de trabalho estadual, o estudo tem como abrangência geográfica

mais relevante a Região Metropolitana de Fortaleza, utilizando a Pesquisa de Emprego

e Desemprego (PED/RMF), como principal fonte primária de informação, com dados

anualizados para 2009, em que o foco temático é retratar como os jovens utilizam o

tempo, no que concerne ao binômio escola/trabalho, segundo os quintos de renda

familiar per capita.

Além dessa introdução, apresentam-se os módulos a seguir. O primeiro traz algumas

considerações sobre a evolução de vários indicadores da educação no Ceará,

quantificados a partir dos números da Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios de

2003 e 2008, e disponibilizados pelo IPECE, em sua publicação Ceará em Números

2009, em que se destacam a redução do analfabetismo estadual, embora este ainda

seja elevado, quando comparado à média nacional, e a elevação na escolaridade da

população, medida pelo número de anos de estudo. Constam também algumas

análises dos números de Índice de Desenvolvimento da Educação Básica do Ceará, em

2005/2009. No segundo módulo, analisa-se a pirâmide etária do Ceará, sinalizando

algumas alterações na estrutura etária da população do estado, em 2003/2008, em

que se busca mostrar que ela está dando os primeiros passos em direção a uma

população de mais idade, em que os indivíduos de 15 a 24 anos, objeto de interesse do

presente trabalho, vêm crescendo numericamente e mostrando-se mais relevantes,

com a redução da população de 0 a 9 anos de idade, o que fez encolher a base da

pirâmide em questão. A seguir, aborda-se a presença juvenil no mercado de trabalho

cearense, via análises da taxa de participação, por sexo e faixas de idade, com a

constatação principal de que os jovens de 15 a 19 anos estão exercendo menos

pressão sobre o mercado de trabalho local, enfatizando-se a correlação existente entre

juventude, pobreza e inserção precoce no mundo laboral. Em seguida, traça-se o perfil

da população de 15 a 24 anos, segundo o sexo, escolaridade e frequência à escola, por

quintos da renda familiar per capita, além de breves considerações sobre a magnitude

do desemprego juvenil na RMF. Na sequência, trabalham-se as formas de alocação do

tempo juvenil, investigando-se o binômio estudo/trabalho e as suas estratégias de

busca de trabalho. Por último, apresentam-se algumas considerações finais, com uma

síntese das principais conclusões do presente estudo.

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ALGUNS INDICADORES DA EDUCAÇÃO NO CEARÁ – 2003 – 2008

Nos anos de 2003 a 2008, o Estado do Ceará registrou um desempenho favorável nas

suas estatísticas de educação, de acordo com números da Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios. Reduziu a taxa de analfabetismo e elevou o nível médio de

escolaridade, por exemplo, o que se reveste de suma importância dada a estabilidade

do analfabetismo estadual, nos anos de 2002 a 2005, na casa dos 22%.

Apesar das melhoras observadas, a taxa de analfabetismo no Ceará, em 2008, era

ainda muito elevada, na medida em que 19,1% da sua população de 15 anos ou mais

de idade afirmava não saber ler ou escrever um bilhete por mais simples que fosse,

diante de uma taxa de 22,8%, em 2003. No paralelo com o Brasil e o Nordeste,

enquanto o analfabetismo no estado é duas vezes mais elevado que a média nacional,

ele se assemelha bastante à realidade nordestina. Em 2003, o analfabetismo no Brasil

e no Nordeste atingiu 11,6% e 23,2% de suas respectivas populações de 15 anos ou

mais. Em 2008, chegou a 10,1% e 19,9%, respectivamente. (Tabela 1).

Tabela 1 – Taxa de Analfabetismo das Pessoas de Quinze Anos e Mais,

por Regiões Selecionadas – Brasil, Nordeste e Ceará – 2003/2008 (Em %)

Regiões 2003 2008

Brasil 11,6 10,1

Região Nordeste 23,2 19,9

Estado do Ceará 22,8 19,1

Fonte: Elaboração do Autor com Base nas PNADs de 2003 e 2008.

Na faixa de 7 a 14 anos, a taxa de analfabetismo declinou de 18,1% para 12,5% e, na

população de 15 anos ou mais, de 22,8% para 19,1%, quedas que ocorreram

independente da situação de domicílio e sexo, conforme Tabela 2. Atendo-se à

população jovem, nas faixas de 15 a 19 e 20 a 24 anos, as reduções na citada taxa

foram de 5,1% para 3,9% e de 9,1% para 4,9%, respectivamente. Assim, de um total de

1.680 mil pessoas de 15 a 24 anos, 1.607 mil eram alfabetizadas, em 2008, e a taxa de

alfabetização nesse segmento evoluiu de 93,0% (2003) para 95,6% (2008), ou seja, a

quase totalidade dos jovens cearenses de 15 a 24 anos é alfabetizada.

O maior nível de escolaridade traduz-se, obviamente, em menores taxas de

analfabetismo. Por outro lado, a incidência do analfabetismo apresenta-se tanto mais

robusta quanto mais elevada é a faixa etária da população, possivelmente devido ao

desconhecimento da relevância dos estudos para o trabalho, cidadania e ascensão

social, da falta de oportunidades e de condições financeiras para estudar, dentre

outras, por parte de segmentos mais velhos da população estadual. Taxas estaduais de

2008 demonstram que o analfabetismo, apesar de decrescente entre 2003 e 2008,

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eleva-se de 3,9%, na faixa de 15 a 19 anos, para 4,9%, no segmento de 20 a 24 anos,

alcançando 7,6% entre as pessoas com idade entre 25 e 29 anos, ou seja, entre os

jovens cearenses, o analfabetismo é menos incidente do que nos segmentos com mais

idade, o que certamente favorece a disponibilização de uma força de trabalho mais

escolarizada no futuro próximo. Mais precisamente, é na população de 15 a 24 anos

em que se verificam as menores taxas do estado. (Gráfico 1). Em absolutos, o número

de pessoas alfabetizadas, com idade entre 15 e 24 anos, evoluiu de 1,5 milhão (2003)

para 1,6 milhão (2008), um incremento de 9,4%.

Tabela 2 – Taxa de Analfabetismo, por Situação do Domicílio e Sexo, segundo os

Grupos de Idade – Estado do Ceará - 2003/2008 (Em %)

Ano/Grupos de idade

Total Situação do domicílio Sexo

Urbana Rural Homem Mulher

2003

7 a 14 anos 18,1 13,4 29,8 21,6 14,7

15 a 19 anos 5,1 4,1 7,7 7,5 2,5

15 anos ou mais 22,8 18,0 38,8 25,8 19,9

2008

7 a 14 anos 12,5 9,8 19,8 14,5 10,4

15 a 19 anos 3,9 3,0 6,6 5,8 1,9

15 anos ou mais 19,1 15,0 33,5 21,7 16,7

Fonte: IBGE - PNAD 2003/2008.

81,0

72,8

18,1

12,5

5,13,9

9,1

4,9

12,9

7,6

20,1

15,3

27,4

22,6

38,4

30,6

51,2

46,5

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

5 a 6 7 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 39 40 a 49 50 a 59 60 ou

mais

2003 2008

Gráfico 1 - Taxa de Analfabetismo por Faixa Etária - Estado do Ceará – 2003/2008 Fonte: Elaboração do Autor com Base nas PNADs de 2003 e 2008.

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15

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), de 2009, com base na

PNAD 2008, alerta para o fato de que, em termos nacionais,

[...] apesar de ter havido acentuada redução do analfabetismo no segmento de

jovens nos últimos dez anos, esse avanço não foi acompanhado de redução das

disparidades regionais, o que reforça a necessidade de intensificar e ampliar ações

que priorizem as regiões Norte e, em particular, a Nordeste. (IPEA, 2009).

O referido estudo destaca que as taxas de analfabetismo, na faixa de 15 a 29 anos, no

Brasil e no Nordeste, foram de 2,82% e 5,99%, respectivamente, em 2008. As regiões

Norte, Sudeste, Sul e Centro-Oeste tiveram as seguintes taxas: 3,09%, 1,27%, 1,13% e

1,58%, respectivamente. Para a realidade cearense, aponta-se uma taxa de

analfabetismo dos jovens de 15 a 29 anos de 5,32%, similar à taxa nordestina, cujo

analfabetismo é bem maior que nas demais regiões, sendo equivalente ao dobro da

média nacional. Considerando essa mesma faixa etária, o analfabetismo no meio rural

cearense é três vezes maior que na zona urbana e, entre os homens, o dobro do

observado entre as mulheres7. Dessa forma, apesar das boas perspectivas dos últimos

anos, convive-se, no Ceará, com um patamar de analfabetismo significativo,

relativamente às demais regiões do país. Tais números ilustram que o problema do

analfabetismo no estado é bem mais grave na zona rural e entre os homens. Daí a

prioridade das ações para o Norte e Nordeste e, em particular, para o Ceará.

Reforçando a

constatação de maior

nível de analfabetismo

no Nordeste,

principalmente entre os

mais pobres, o Gráfico 2

apresenta os

diferenciais regionais

das taxas de frequência

líquida a

estabelecimentos de

ensino da população de

15 a 17 anos, por

quintos do rendimento

mensal familiar per

capita, calculados pelo

IBGE, ilustrando que a

7 No Ceará, as taxas de analfabetismo dos jovens de 15 a 29 anos, nas zonas urbana e rural, foram de 3,8% e 11,1% e, para homens e mulheres, 7,3% e 3,4%, respectivamente, em 2008.

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

80,0

90,0

Total 1º quinto 2º quinto 3º quinto 4º quinto 5º quinto

Brasil Norte Nordeste

Sudeste Sul Centro-Oeste

Gráfico 2 - Taxa de Frequência Líquida a Estabelecimentos de Ensino da População de Quinze a Dezessete Anos, por Quintos do Rendimento Mensal Familiar Per Capita, por Grandes Regiões – 2008 Fonte: IBGE - PNAD 2008.

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16

frequência à escola ainda é bastante diminuta no Nordeste. Observa-se que a menor

taxa de frequência a estabelecimentos de ensino ocorre na Região Nordeste, inferior

até mesmo às taxas da Região Norte, tanto no indicador global quanto nos quintos de

renda per capita. Para os mais pobres, a taxa de frequência líquida do Nordeste é

metade da vivenciada pela Região Sudeste, realidade que vai sendo lentamente

amenizada ao se passar para os quintos de renda mais elevada, com equivalência de

59% no 4º quinto, alcançando 78% somente no quinto superior. Fica também notória a

constatação de que à medida que se eleva a renda familiar per capita se intensifica a

frequência à escola da população de 15 a 17 anos, independente da região.

Retomando a análise da realidade local, outros indicadores que ressaltam algumas

melhoras da educação no Ceará são, por exemplo, as taxas de escolarização líquida8,

nos níveis fundamental e médio. No primeiro caso, ela recupera o mesmo patamar

observado em 2003/2004, chegando a 94,2%, em 2008. No segundo, apresenta um

crescimento continuado em 2003/2007, atingindo a marca de 57,3%, em 2007, e

50,4%, em 2008, diante de 31,8%, em 2003. Complementarmente, a taxa de distorção

idade-série9 no Ceará passou de 37,4% (2003) para 11,2% (2008), no ensino

fundamental, e de 57,6% para 39,1%, respectivamente, no ensino médio, ou seja,

houve redução em ambos os casos, indicativo de uma evolução positiva no período.

Adicionalmente, no ensino fundamental, as taxas de aprovação situam-se no patamar

de 84% (2007/2008), superando as de 2003/2005, e as de abandono estão abaixo de

5%, apesar de as taxas de reprovação ainda se manterem na casa dos 11%. No ensino

médio, a taxa de aprovação chegou a 78,5%, em 2008, a mais alta do interstício

analisado, e a de abandono, 13,9%, em queda desde 2005. (Tabela 3).

Embora a taxa de abandono esteja em queda no ensino fundamental e no ensino

médio, a análise da relação entre as duas taxas apresenta um problema, no mínimo,

preocupante, que é a intensificação do abandono no ensino médio, diante do que vem

ocorrendo no ensino fundamental. No triênio 2003/2005, esta relação se situava em

torno de 2,0, chegando a pouco mais de 3,0, em 2007/2008, ou seja, a taxa de

abandono no ensino médio intensificou-se no biênio 2007/2008, sendo três vezes

maior que a verificada no ensino fundamental.

8 A taxa de escolarização líquida compara o total de matrículas de determinado nível de ensino com a população na faixa etária adequada a este nível de ensino. 9 A taxa de distorção idade-série expressa o percentual de alunos que concluem determinado nível de ensino com idade superior à recomendada.

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Tabela 3 – Taxas de Escolarização, Aprovação, Reprovação e Abandono nos Níveis de

Ensino Fundamental e Médio – Estado do Ceará – 2003 - 2008 (Em %)

Nível de ensino/Taxas Ano

2003 2004 2005 2006 2007 2008

Ensino Fundamental

Escolarização Bruta1

129,7 125,3 126,1 113,8 95,8 106,7

Escolarização Líquida 95,7 94,0 98,0 90,3 90,2 94,2

Aprovação 79,7 77,7 79,0 ... 83,8 84,5

Reprovação 11,5 13,1 13,0 ... 11,4 11,1

Abandono 8,8 9,2 8,0 ... 4,8 4,4

Ensino Médio

Escolarização Bruta1 72,7 75,4 72,1 76,9 72,2 80,8

Escolarização Líquida 31,8 34,9 34,2 37,4 57,3 50,4

Aprovação 74,7 74,1 72,5 ... 76,7 78,5

Reprovação 8,7 7,9 9,9 ... 8,6 7,7

Abandono 16,6 18,0 17,6 ... 14,7 13,9

Fonte: Secretaria de Educação Básica do Estado do Ceará (SEDUC).

(1) As taxas superiores a 100% indicam que há matrículas de alunos fora da faixa de idade

adequada ao nível de ensino.

Atendo-se ao número de anos de estudo, analisando a população de dez anos ou mais,

percebe-se que houve uma elevação nesse indicador. No Ceará, em 2003, a população

sem instrução e com menos de um ano de estudo correspondia a 20,5% da população

de dez anos ou mais, chegando a 17,0%, em 2008. A representação daqueles com um a

três anos de estudo passou de 17,7% para 15,0% e, no segmento com quatro a sete

anos, a variação foi de 31,0% para 26,6%, isto é, o conjunto da população de dez anos

ou mais com até sete anos de estudo teve sua representação reduzida de 69,2% (2003)

para 58,7% (2008), uma redução de 10,5 pontos percentuais (p.p.), no período.

Consequentemente, as participações dos segmentos com oito anos ou mais de estudo

foram crescentes10, indicando crescimento no número de anos de estudo da

população cearense de dez anos ou mais de idade, outro indicador de educação que

apresentou melhora – Gráfico 3. Ressalte-se que este comportamento é observado

independente de sexo, posto que a proporção de homens de dez anos ou mais de

idade com oito anos ou mais de estudo variou de 28,5% (2003) para 37,8% (2008) e,

entre as mulheres da mesma faixa etária, o incremento foi de 32,9% para 44,6%,

respectivamente.

10 O total de cearenses de dez anos ou mais de idade com quinze anos ou mais de estudo variou de 165,8 (2003) para 280,0 mil pessoas (2008), elevando sua participação de 2,68% para 3,95%. Na zona urbana do estado, esta evolução foi de 3,4% para 4,9%.

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18

20,50

17,03

17,72

15,04

30,94

26,61

13,61

16,43

14,52

20,92

2,71

3,97

0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 35,00

Menos 1 ano

1 a 3 anos

4 a 7 anos

8 a 10 anos

11 a 14 anos

15 anos e mais

2003 2008

Gráfico 3 - Pessoas de Dez Anos ou Mais de Idade, segundo os Anos de Estudo Estado do Ceará - 2003/2008 (Em %) Fonte: IBGE - PNADs 2003/2008.

Nesse particular, em 2008, em nível estadual, o número médio de anos de estudo da

população de dez anos ou mais de idade foi de 6,1 anos, sendo de 5,7 para os homens

e de 6,4 para as mulheres e, na RMF: 7,4, 7,2 e 7,6 anos, nessa mesma ordem. No

paralelo com o Brasil e a Região Nordeste, constata-se que, embora a média cearense

de anos de estudo supere ligeiramente a nordestina, esta se encontra aquém do

indicador nacional (7,1 anos), o que não é o caso da média da área metropolitana, que

ultrapassa os números nacionais, independente de sexo. (Gráfico 4). Para se ter

alguma referência internacional, a escolaridade média em países como Estados

Unidos, Inglaterra e Alemanha situa-se entre treze e quatorze anos de estudo, o dobro

da média nacional.

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19

7,1

5,9 6,1

7,4

6,9

5,5 5,7

7,2 7,2

6,3 6,4

7,6

0

1

2

3

4

5

6

7

8

Total Homens Mulheres

Brasil Nordeste Ceará Reg. Met. Fortaleza

Gráfico 4 - Média de Anos de Estudo das Pessoas de Dez Anos ou Mais de Idade, por Sexo, segundo Regiões Selecionadas - 2008 Fonte: IBGE - PNAD/2008.

Ademais, considerando-se os números sobre a média de anos de estudo da população

de quinze anos ou mais do Ceará, segundo os decís de renda per capita, constantes em

trabalho do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP), da Universidade Federal do

Ceará, percebe-se que houve avanço no número médio de anos de estudo em todos os

segmentos de renda per capita no estado, no triênio 2006/2008, com um incremento

de 5,63% na média estadual; a escolaridade é crescente com o nível de renda, ou seja,

maior média de anos de estudo é vivenciada nos decis superiores e, apesar de o maior

avanço na escolaridade ter sido constatado no 9º decil (17,47%), de modo geral, os

incrementos proporcionalmente maiores na média de anos de estudo ocorreram entre

os mais pobres, mais precisamente entre os 40% mais pobres. (Gráfico 5).

Estatísticas recentes divulgadas pelo Ministério da Educação, relativas ao Índice de

Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb)11, confirmam que ocorreram alguns

avanços na qualidade da educação no Brasil e, mais especificamente, no Ceará, no

triênio 2007/2009, com o índice crescendo em todas as etapas de ensino, inclusive

11 O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado em 2005, como parte do Plano de Desenvolvimento da Educação, para medir a qualidade de cada escola e de cada rede de ensino, utilizando uma escala que varia de zero a dez pontos e sendo medido a cada dois anos. Ele atribui uma nota para cada escola, assim como para as redes estadual e municipal, que precisam cumprir metas bienais para melhorar a qualidade do ensino, visando o objetivo maior de que o país alcance a nota seis em 2021, correspondente à qualidade do ensino nos países desenvolvidos.

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superando as metas projetadas para 2007 e 2009, tanto em nível nacional quanto

estadual, conforme Tabela 4. Em termos nacionais, a média ficou em 4,6, o índice da

Região Nordeste foi de 3,8 e o Estado do Ceará ficou em uma situação intermediária,

com um índice de 4,4, em 2009, nas séries iniciais do ensino fundamental. Observar

que, no Ceará, os índices de 2009 para a 4ª série/5º ano (4,4) e para a 8ª série/9º ano

(4,0) já alcançaram as metas projetadas para 2013, assim como o índice para a 3ª série

do ensino médio (3,6), em que a meta de 2011 já foi cumprida.

5,42

6,026,34

4,76 4,735,08

5,77 5,846,09

7,45

5,515,32

10,21

5,82

4,68

4,234,42

5,75

10,37

5,787,67

11,60

8,64

-3,89

4,52

6,136,38

8,08

17,47

1,57

0

2

4

6

8

10

12

D1 D2 D3 D4 D5 D6 D7 D8 D9 D10

-5,00

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

2006 2008 Variação

Gráfico 5 - Anos Médios de Estudo da População de Quinze Anos ou Mais de Idade, segundo os Decis de Renda Per Capita - Estado do Ceará - 2006/2008 Fonte: Laboratório de Estudo da Pobreza (LEP)/Pós-Graduação em Economia (CAEN)/ Universidade Federal do Ceará (UFC).

Tabela 4 – Resultados e Metas do Ideb – Brasil e Ceará – 2005, 2007, 2009

Série/Região Ideb Observado Metas Projetadas

2005 2007 2009 2007 2009 2021

4ª Série/5º Ano

Ceará 3,2 3,8 4,4 3,2 3,6 5,4

Brasil 3,8 4,2 4,6 3,9 4,2 6,0

8ª Série/9º Ano

Ceará 3,1 3,5 3,9 3,1 3,3 5,1

Brasil 3,5 3,8 4,0 3,5 3,7 5,5

3ª Série/Ensino Médio

Ceará 3,3 3,4 3,6 3,3 3,4 5,1

Brasil 3,4 3,5 3,6 3,4 3,5 5,2

Fonte: Ministério da Educação (MEC).

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No paralelo do Ideb, entre as diversas etapas de ensino, o Ceará acompanha o

comportamento nacional, cujos maiores avanços aconteceram nos anos iniciais do

ensino fundamental, com o índice ampliando-se em 15,8%, diante do crescimento de

5,9% no ensino médio, em 2007/2009. Ademais, merece atenção especial a

constatação de que, no Estado do Ceará, não obstante a evolução positiva do

indicador, a exceção do Ideb do ensino médio de 2009, todos os demais estão abaixo

da média nacional, embora esta diferença venha perdendo intensidade nos últimos

anos, mostrando-se bem menor em 2009. O mesmo deve ocorrer com a taxa de

frequência líquida a estabelecimentos de ensino da população de quinze a dezessete

anos, visto que, nas regiões Norte e Nordeste, ela está bem abaixo da média nacional,

sendo inclusive superada pelas demais regiões, conforme já exposto.

Para se ter noção da qualidade do ensino no Ceará perante outros estados,

apresentam-se os índices dos dois estados com os índices mais elevados para cada

etapa de ensino, nos anos de 2007 e 2009. Nos primeiros anos do ensino fundamental,

destacam-se o Distrito Federal, com índices de 5,0 e 5,6, e Minas Gerais (4,7 e 5,6); nos

anos finais do ensino fundamental, Santa Catarina e São Paulo com índices idênticos

(4,3 e 4,5); e no ensino médio, Distrito Federal (4,0 e 3,8) e Paraná (4,0 e 4,2),

respectivamente.

Diante dessa realidade e posto os níveis de crescimento econômico dos anos recentes,

assim como as boas perspectivas no futuro próximo, tanto no plano nacional quanto

no estadual, dado o novo círculo virtuoso de crescimento econômico nacional, com

uma crescente demanda por trabalhadores mais escolarizados e qualificados, em

decorrência das inovações tecnológicas e das novas formas de organização do

trabalho, é imperativo que a educação seja vista como uma estratégia de ascensão

social, redução da pobreza e das desigualdades sociais, fortalecendo a cidadania e

contribuindo para a diminuição do desemprego no estado, notadamente da população

juvenil de menor escolaridade e de mais baixa renda. Deve-se atentar para o fato de

que a escolaridade é um atributo valorizado quando da contratação de um

trabalhador, que os níveis de rendimento do trabalho tendem a ter uma relação direta

com o grau de escolaridade e que a baixa escolaridade acrescenta mais dificuldades

para uma inserção mais favorável no mercado de trabalho. (TONI, 2009).

Ademais, urge investir-se em melhoramentos de ordem qualitativa na educação

estadual12, mesmo porque, no contexto de emergência da sociedade do

12 Números do Exame Nacional do Ensino Médio 2009, demonstrando a nítida supremacia das escolas do Sul e Sudeste do país e das instituições particulares, ratificam esta necessidade premente, visto que: 63,5% das escolas estaduais não alcançaram a média de 500 pontos; nenhuma escola cearense foi classificada entre as 50 melhores do país; no ranking local das 50 melhor colocadas, 43 são particulares

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conhecimento, os requisitos educacionais do emprego ampliaram-se exigindo um

tempo bem mais longo de preparação para o ingresso no mercado de trabalho.

(POCHMANN, 2004). Além disso, a baixa qualidade do ensino é um dos principais

entraves para a ampliação da escolarização das camadas mais pobres da sociedade, na

medida em que favorece a repetência e incentiva a evasão escolar desses jovens,

tirando-lhes a chance de, no futuro próximo, competir no mercado de trabalho em

condições mais igualitárias, ou seja, com uma escolaridade mais compatível com a

demandada pelo mercado. Assim, são muito bem-vindas algumas mudanças nos

métodos de ensino que têm sido pensadas/implementadas em decorrência do Exame

Nacional do Ensino Médio, por exemplo, as quais privilegiam mais o raciocínio e a

interpretação do que o mero decorar, tanto nas escolas públicas quanto privadas.

Pochmann (2004, p. 391) ratifica a necessidade de mudanças no sistema educacional

destacando que

Não sem motivo, torna-se absolutamente fundamental proceder a um conjunto de

alterações no atual sistema educacional e de formação profissional. Justamente

porque a fase de transição da economia tradicional para uma nova economia exige

uma educação geral ampliada e formação continuada ao longo do ciclo de vida

ativa das classes trabalhadoras condizente como estágio de desenvolvimento

econômico e o avanço da expectativa média de vida da população.

Nesse contexto, a título de alerta, oportuno citar uma das conclusões de uma pesquisa

realizada pela Manpower, empresa mundial de recursos humanos, que mostra que

64% dos quase mil empresários brasileiros entrevistados apontaram falta de

profissionais adequados para o preenchimento das vagas disponíveis, o segundo maior

índice entre os 36 países pesquisados, ficando atrás apenas do Japão, que lidera o

ranking de escassez de talentos, com 76%. Para se ter uma idéia da seriedade do

problema, este índice nacional (64%) se situa 33 pontos percentuais acima da média

dos países, de 31%. (DIFICULDADE..., 2010). Ainda nessa linha de raciocínio, outro

estudo do IPEA (2010b), abordando as perspectivas da oferta e demanda de mão de

obra qualificada no Brasil e Unidades da Federação, em 2010, destaca que, no Estado

do Ceará, os setores econômicos com escassez de mão de obra qualificada são:

comércio (-8.205 profissionais), educação, saúde e serviços sociais (-3.398) e indústria

(-7.191).

Deve-se, pois, estar atento, envidar novos esforços e ser pró-ativos para que o Estado

do Ceará não venha a sofrer escassez de mão de obra mais escolarizada e

adequadamente qualificada, diante das boas perspectivas de crescimento econômico

nacional/estadual, perdendo oportunidades de investimento e/ou empregos para

outros estados.

e cinco federais e apenas uma estadual, dentre outras estatísticas, claras evidências de que há equívocos/problemas diversos com o sistema educacional do estado. (BRUNO; MOSCOSO, 2010).

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A PIRÂMIDE ETÁRIA CEARENSE

A pirâmide etária é um instrumental bastante ilustrativo para se representar a

estrutura de uma população por idade e sexo. Nela, o eixo horizontal representa o

número absoluto, como no presente estudo, ou a proporção da população, e o eixo

vertical, os grupos de idade. O lado direito do eixo horizontal é destinado à

representação do contingente ou proporção de mulheres e o esquerdo, dos homens.

Ressalte-se que a base da pirâmide é constituída pela população de até quatro anos de

idade, significando dizer que quanto maior for este contingente populacional, mais

larga será a citada base. Portanto, uma pirâmide com bases largas e ápices estreitos

representa uma população bastante jovem, como no caso dos residentes cearenses

em 1991, quando a população com até nove anos equivalia a 26,2% da população

estadual. Na medida em que essa base vai se estreitando, muitas vezes em decorrência

da queda da fecundidade, a pirâmide dá os primeiros passos na direção de uma forma

mais retangular, passando a representar uma população um pouco mais velha, como

está ocorrendo com a população brasileira13, pois, conforme dados de 2009 do

Sistema de Informações Sociais do IBGE,

Na última década (1998-2008), a intensa e rápida queda da fecundidade no país

acarretou redução na participação das crianças, adolescentes e jovens no total da

população, em todas as faixas de idade desses grupos. A participação das crianças

de 0 a 6 anos diminuiu de 13,3% para 10,2%, nesse período, passando de 21

milhões para 19,4 milhões. No grupo de 7 a 14 anos, houve queda de 16,6% para

14,5%: no de 15 a 17 anos, caiu de 7% para 5,4%; e entre os jovens de 18 a 24 anos,

passou de 12,9% para 12,2%. (IBGE, 2010).

Considerando-se os anos de 2000 e 2008, cônscio da brevidade do período para

estudos sobre a dinâmica populacional, mesmo porque não é o foco do presente

trabalho, os números sobre a população cearense exprimem esta mesma tendência na

medida em que o segmento de zero a nove anos de idade experimenta uma redução

de 14,5%, passando de 1.626 mil (2000) para 1.390 mil pessoas (2008). Tal fato

estreitou a base da pirâmide populacional do estado, que passou a ser mais larga nas

faixas delimitadas pelo intervalo de dez a 24 anos, em decorrência do crescimento

desses segmentos14. Em 2000, 31,9% da população do estado tinha entre dez e 24

13 A taxa geral de fecundidade expressa o número anual de nascidos vivos em uma determinada população em relação ao número de mulheres em idade reprodutiva. No Brasil, ela caiu substancialmente de 5,76 (1970) para 1,9 filhos por mulher (2007), de acordo com o IBGE. Segundo a mesma fonte, a expectativa de vida do brasileiro avançou de 52,4 para 72,7 anos, respectivamente. 14 Este processo é mais visível quando da análise das pirâmides populacionais do Ceará dos anos de 1991 e 2008, por exemplo, conforme disponibilizado em Ceará em Números 2009, publicação do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará. Disponível em: <www.ipece.ce.gov.br>.

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anos, chegando a 30,3%, em 2008. Por seu turno, a população de quinze a 24 anos

manteve inalterada sua representação, no patamar de 20%, com 852,5 mil pessoas na

faixa de quinze a dezenove anos e 827,5 mil com idade entre vinte e 24 anos, em 2008,

e cresceu a uma taxa média anual de 1,39%, um pouco menos do que o registrado na

população total do estado (1,65%), nos anos de 2000 a 2008. Desse modo, do

acréscimo da população estadual de 1.042 mil pessoas, no citado período, o segmento

de quinze a 24 anos foi responsável por 176 mil (16,9%). Deve-se ainda atentar para o

fato de que enquanto a população de quinze a dezenove anos cresceu, em média,

apenas 0,47% ao ano, a de vinte a 24 apresentou um crescimento cinco vezes maior,

com uma taxa anual de 2,43%. Assim, o crescimento da população de quinze a 24 anos

foi muito concentrado no segmento de vinte a 24 anos e a população jovem tem uma

participação relativa no Ceará (19,8%) acima do número nacional (17,6%), em 2008.

0 a 4

5 a 9

10 a 14

15 a 19

20 a 24

25 a 29

30 a 34

35 a 39

40 a 44

45 a 49

50 a 54

55 a 59

60 a 64

65 a 69

70 e mais

Homens Mulheres

Gráfico 6 - Pirâmide Etária da População - Estado do Ceará - 2008 Fonte: Elaboração do Autor a partir da PNAD 2008.

Ademais, ao se elaborar um ranking da população cearense segundo as faixas etárias,

constata-se uma inversão nas primeiras faixas, comparando-se a realidade atual com a

observada em 1991. Nesse ano, as faixas de cinco a nove e dez a quatorze anos

assumiam as duas primeiras colocações, com 835,8 mil e 792,8 mil pessoas,

respectivamente, sendo as terceira e quarta posições ocupadas pelas faixas de quinze

a dezenove e vinte a 24 anos. Em 2008, a primeira posição foi assumida pela faixa de

dez a quatorze anos (885,2 mil pessoas), a segunda pelo grupo de quinze a dezenove

anos (852,5 mil), ficando a população com idade entre vinte e 24 anos na terceira

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25

colocação (827,5 mil), ratificando o já citado estreitamente da pirâmide populacional

do estado e a elevação da idade média da população cearense, como muito bem

ilustra o Gráfico 7, com o crescimento mais intenso da população urbana cearense de

quarenta a 59 anos de idade.

Em síntese, o que se pode concluir a partir dos Gráficos 6 e 7 é que a população do

Estado do Ceará passa por um processo de envelhecimento, a exemplo do que vem

ocorrendo com a população brasileira, em que a população de até 9 anos de idade está

encolhendo, há uma maior participação do segmento com idade de dez a 24 anos, tal

qual daqueles com mais idade, elevando a idade média da população cearense em

decorrência das diferentes dinâmicas populacionais nos diversos intervalos etários,

com um crescimento mais elevado da população idosa diante do constatado nas

demais faixas. Esta constatação certamente implica em demandas crescentes de

políticas públicas tanto para a juventude quanto para os mais velhos e, sobre o

envelhecimento da população brasileira, para Beto Cury, secretário Nacional da

Juventude, este envelhecimento aumenta a importância das políticas públicas

orientadas para o jovem, sobretudo porque questões cruciais para o desenvolvimento

do Brasil, como previdência social e crescimento populacional, dependem hoje

diretamente da juventude. (REVISTA DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO, 2010).

12 ,3 0

7,6 0

12 ,4 3

8 ,4 0

11,8 8

9 ,9 5

10 ,77

10 ,0 1

9 ,50

10 ,18

8 ,6 5

8 ,58

6 ,76

7,19

5,6 6

6 ,6 9

4 ,9 3

7,2 9

3 ,8 0

5,8 0 5,9 2

8 ,2 1

4 ,2 3

5,2 5

3 ,17

4 ,8 6

0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

10,00

12,00

14,00

0 a 4 5 a 9 10 a 14 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 34 35 a 39 40 a 44 45 a 49 50 a 59 60 a 69 70 e

mais

1991 2008 Gráfico 7 - Composição da População Urbana, por Faixa Etária - Estado do Ceará - 1991/2008 Fonte: Elaboração do Autor com Base no Censo Demográfico de 1991 e PNAD 2008.

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26

Nesse contexto, na medida em que a taxa de participação dos jovens sofre influência

da dinâmica demográfica, associada à união de fatores econômicos, sociais e culturais

da localidade (DIEESE, 2008), dado o propósito maior do estudo, se quer enfatizar que

a população-alvo dessa investigação abrange 20% da população estadual, com 1.681

mil pessoas (Gráfico 8), e vem mostrando-se mais numerosa nos anos recentes,

principalmente por ter apresentado crescimento absoluto, em que se destaca o

crescimento da população de vinte a 24 anos, o que pode resultar em taxas cada vez

maiores de participação juvenil, nos próximos anos, isto é, uma maior demanda por

trabalho por parte dos jovens cearenses, ao mesmo tempo em que os jovens de 15 a

19 poderão intensificar suas demandas na área da educação, não apenas

quantitativamente, mas inclusive por uma educação de melhor qualidade.

6.367

1.254

19,70%

7.646

1.502

19,64%

7.763

1.551

19,98%

7.880

1.598

20,28%

7.999

1.666

20,83%

8.107

1.638

20,21%

8.238

1.621

19,68%

8.358

1.646

19,70%

8.472

1.681

19,84%0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

8.000

9.000

1991 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Pop. Total Pop. Jovem (%)

Gráfico 8 - População Total e População Jovem - Estado do Ceará - 1991 e 2001 a 2008 (Em 1.000 Pessoas) Fonte: IBGE - Censo Demográfico/1991 e PNADs 2001-2008.

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27

PARTICIPAÇÃO JUVENIL NO MERCADO DE TRABALHO

No intuito de se analisar a evolução da presença ou pressão dos jovens sobre o

mercado de trabalho cearense, utilizar-se-á a taxa de participação15 dos anos de 1995

e 2008, conforme Tabela 5. O comportamento geral da taxa de participação no Ceará

foi de queda, de 63,57% (1995) para 61,25% (2008), independente de faixa etária,

redução esta originada pela saída do mercado de trabalho de parte da força de

trabalho masculina, posto que a respectiva taxa declinou em quase 5 p.p. Por sua vez,

a taxa de participação feminina manteve-se acima dos 51%, assegurando que mais da

metade da população de mulheres com dez anos ou mais de idade estava inserida no

mercado de trabalho do estado, como ocupada e/ou buscando trabalho.

Considerando-se os segmentos na faixa de quinze a 24 anos, constata-se que se, por

um lado, ocorreu redução na participação dos jovens de quinze a dezenove anos (de

58,96% para 46,19%), por outro, houve estabilidade dentre aqueles de vinte a 24 anos

(pouco mais de 74%), ou seja, no paralelo entre 1995 e 2008, não houve alteração na

presença da mão de obra de vinte a 24 anos de idade no mercado de trabalho local, ao

mesmo tempo em que se verifica uma presença bem menor daqueles de quinze a

dezessete anos. Esta mesma realidade acontece no mercado de trabalho brasileiro,

pois, segundo comprovação de estudo do IPEA (2009), o jovem adolescente (quinze a

dezessete anos) tem diminuído sua participação de forma consistente, cuja taxa caiu

de 45% (1998) para 37% (2008). Destaque-se a similaridade da taxa nacional (37%)

com a taxa cearense (35,5%), o que reforça o argumento de que o mesmo fenômeno

esteja, de fato, ocorrendo no estado.

Assim,

A redução da participação no mercado de trabalho dos jovens entre 15 e 17 anos, a

princípio, pode ser vista como um fator positivo. Um grande número de

pesquisadores e gestores argumenta justamente que, nesta fase da vida, é

fundamental postergar a entrada no mercado de trabalho para viabilizar,

sobretudo, a permanência na escola e a conclusão do ensino médio com qualidade.

Este período corresponde ao que vem sendo chamado de moratória social: um

crédito de tempo que permite ao jovem protelar as exigências sociais típicas da

vida adulta, especialmente relativas ao casamento e ao trabalho, e possibilita-lhe

um maior contato com experiências e experimentações que podem favorecer o seu

pleno desenvolvimento, não apenas em termos de formação educacional e

aquisição de treinamento e capacitação, mas também em termos de outras

vivências típicas que fazem parte da sociabilidade juvenil. (IPEA, 2009).

15 A taxa de participação quantifica a pressão sobre o mercado de trabalho e é calculada pela relação entre a População Economicamente Ativa (PEA) e a População em Idade Ativa (PIA) (dez anos ou mais de idade). Em grande medida, este indicador demonstra o quão atrativo é o mercado de trabalho para a sua população.

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28

Em termos absolutos, a redução da taxa participação no segmento de quinze a

dezenove anos significa dizer que cerca de 35,4 mil jovens dessa faixa de idade

deixaram de pressionar o mercado de trabalho estadual, ou seja, saíram da população

economicamente ativa juvenil, entre 1995 e 2008. Os homens foram os grandes

responsáveis por esta migração para a inatividade, respondendo por 83% desta. De

outra forma, nesse intervalo de tempo, para cada mulher de quinze a dezenove anos

que deixou a PEA houve cinco homens. Já no segmento de vinte a 24 anos, a respectiva

PEA foi acrescida de 208,9 mil jovens, passando de 408,1 para 617,0 mil pessoas.

Em maiores detalhes, a expressiva redução da taxa de participação na faixa de quinze a

dezenove anos (21,7%) refletiu as menores participações dos segmentos de quinze a

dezessete anos e dezoito a dezenove anos, com um impacto substancial da saída do

mercado de trabalho dos jovens de quinze a dezessete anos, uma vez que estes

apresentaram queda de 37,3% na respectiva taxa, diante do encolhimento de apenas

1,5% na participação do segmento de dezoito a dezenove anos. A queda na taxa de

participação na faixa de quinze a dezessete anos ocorreu entre homens (38,3%) e

mulheres (35,1%), isto é, com intensidades similares, jovens homens e mulheres

deixaram de pressionar o mercado de trabalho cearense, no período analisado.

Tabela 5 – Taxa de Participação, por Faixa Etária e Sexo – Estado do

Ceará – 1995/2008 (Em %)

Faixas Etárias

Total Homens Mulheres

1995 2008 1995 2008 1995 2008

15 a 19 58,96 46,19 71,75 54,63 45,66 37,29

15 a 17 56,67 35,53 70,79 43,70 40,88 26,53

18 a 19 63,29 62,31 73,78 72,84 53,76 52,57

20 a 24 74,66 74,52 91,31 86,99 59,37 62,38

≥ 25 72,93 70,83 86,97 83,60 60,89 59,83

Total 63,57 61,25 76,31 71,69 51,94 51,67

Fonte: Elaboração do Autor com Base nas PNADs de 1995 e 2008.

Nesse período, apesar da relativa estabilidade da taxa de participação no segmento de

vinte a 24 anos, a intensidade de inserção destes jovens no mercado de trabalho local

(acima de 74%) superou a observada entre aqueles de 25 anos ou mais (72,93% em

1995 e 70,83%, em 2008), independente de sexo, conforme Tabela 5, uma sinalização

da opção pela contratação da mão de obra de vinte a 24 anos, dificultando a obtenção

de trabalho por parte daqueles com idade entre quinze e dezenove anos, o que

também fornece elementos para entender a saída desses jovens do mercado de

trabalho. Não obstante, os jovens estão buscando elevar a escolaridade e/ou melhor

qualificarem-se diante das maiores exigências do mercado no que concerne à

qualidade da mão de obra.

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29

Abordando ainda a estabilidade da participação no intervalo de vinte a 24 anos, esta

foi proporcionada pela participação masculina declinante (de 91,31% para 86,99%), o

equivalente a uma queda de 4,7%, e pela elevação da participação feminina (de

59,37% para 62,38%), com um incremento de 5,1%. Tal fato pode estar a retratar,

além de uma evolução conjuntural mais propícia ao emprego juvenil, a postergação do

ingresso no mercado de trabalho de parte dos homens de vinte a 24 anos que buscam

elevar sua escolaridade, como também a intensificação da inserção feminina juvenil no

mundo do trabalho, reduzindo o déficit de equidade de gênero no mercado de

trabalho do estado, dado o número de empregos gerados na economia cearense, nos

últimos anos. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do

Ministério do Trabalho e Emprego, no biênio 2005/2006, aproximadamente 90% dos

empregos formais gerados no Ceará foram ocupados pela população jovem (quinze a

24 anos); em 2008, dos 41,4 mil novos empregos, 35,9 mil destinaram-se a estes

(86,72%) e, em 2009, do saldo de 64,4 mil empregos com carteira de trabalho

assinada, 69,91% foram absorvidos pela população juvenil (45,0 mil).

Diante das tendências das taxas de participação nos segmentos de quinze a dezenove

e vinte a 24 anos, para o conjunto dos jovens cearenses de quinze a 24 anos, este

indicador declinou de 65,69% (1995), para 60,14% (2008), refletindo o crescimento da

População em Idade Ativa (PIA) e da PEA (ocupados e desempregados) de quinze a 24

anos, em que a PIA deteve um crescimento médio anual de 2,15%, perante 1,46% da

PEA, no período compreendido entre os anos de 1995 e 2008, um crescimento ainda

significativo, demonstrando que a oferta de mão de obra de quinze a 24 anos se

processa em um ritmo inferior ao do crescimento da referida população.

Assim sendo, em termos da participação juvenil no mercado de trabalho cearense, é

notória a saída expressiva dos jovens de quinze a dezessete do mundo laboral local,

independente de sexo, tal qual ocorrido em nível nacional, o que pode ser uma

constatação positiva, principalmente se tiver sido motivada pela busca de mais e

melhor escolaridade e/ou formação para o trabalho, mesmo porque

[...] a inserção precoce, especialmente entre as famílias de menores salários,

é um dos mecanismos de perpetuação da pobreza: um jovem que inicia sua

trajetória laboral prematuramente, é quase certo que não concluiu uma

educação suficiente e, portanto, estará fadado a trabalhar em troca de uma

baixa remuneração, em situação de desvantagem para prosperar e para dar

a seus filhos melhores oportunidades do que as que teve. (OIT, 2010, p. 9).

Outro fator que influenciou esta realidade foi a estabilidade da presença daqueles com

vinte a 24 anos, decorrente da menor participação masculina associada à crescente

presença das jovens mulheres, o que contribui para reduzir o grau de desigualdade de

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gênero nesse mercado de trabalho deveras segmentado. Uma consequência desse

movimento é que os jovens menos preparados/escolarizados, leia-se, os mais pobres,

certamente enfrentarão dificuldades de inserção no mercado de trabalho ainda

maiores, o que contribuirá para a manutenção da pobreza, violência, a presença

juvenil em atividades ilegais e demais sequelas, o que ratifica a necessidade de

políticas públicas cada vez mais eficazes e eficientes focadas nesse segmento.

Portanto, as autoridades, quer municipal e/ou estadual, devem aproveitar essa

tendência e implementar estratégias para oferecer um ensino de melhor qualidade,

incentivar a docência, ofertar cursos de profissionalização mais compatíveis com as

necessidades do mercado, ampliar a oferta de vagas nas escolas, fomentar a educação

técnica, dentre outras, a exemplo de iniciativas do governo estadual como a

construção das Escolas Estaduais de Educação Profissional, do Centro de Treinamento

Técnico Corporativo do Complexo Industrial e Portuário do Pecém e a inauguração de

sete Centros de Inclusão Tecnológica e Social (Cits), onde espera capacitar 7.700 jovens

e adultos, em 2010.

Iniciativas como estas são de suma importância posto que, mesmo nesse momento

conjuntural favorável à contratação de uma mão de obra mais jovem, não se pode

esquecer o tratamento diferenciado existente no mercado de trabalho, entre jovens e

adultos, manifestado na taxa de desemprego, por exemplo. Essas diferenciações

ocorrem mesmo no interior do segmento juvenil, que é bastante heterogêneo em

inúmeros aspectos, tais como: escolaridade, renda familiar, acesso a um trabalho de

qualidade, nível salarial, tempo de busca por trabalho, acesso à qualificação, dentre

outros. De modo mais amplo, como afirma o IPEA (2009):

[...] assim como é fundamental reconhecer o jovem como sujeito de direitos, é

importante considerar também que, a despeito da singularidade e identidade

geracional, as questões que afetam a juventude são vividas de forma diversificada

e desigual entre os jovens, variando de acordo com a origem social, os níveis de

renda, o sexo, a raça, as disparidades socioeconômicas entre campo e cidade, entre

as regiões do país, os padrões de discriminação e preconceito vigentes, que

repercutem sobre as oportunidades efetivamente disponíveis a cada um.

Oportuno lembrar que uma das características do mercado de trabalho nacional é a

sua abundante oferta de mão de obra, o que dificulta sobremaneira o acesso a uma

vaga de segmentos populacionais mais fragilizados, menos preparados para o mundo

laboral. Por outro lado, em situações várias, os jovens são forçados a iniciar suas

experiências laborais devido à inexistência de oportunidades de estudo ou, no caso de

existirem, elas não estão ao seu alcance em decorrência da situação de pobreza da

família, isto é, a pobreza em si é um dos indutores, possivelmente o mais relevante, da

inserção precoce no mercado de trabalho, um círculo vicioso de perpetuação da

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própria pobreza. Se considerada a variável renda, pode-se verificar que, quanto menor

o rendimento familiar, mais alto é o desemprego juvenil e maior a taxa de atividade.

(POCHMANN, 2007).

São qualificadas como pobres as pessoas em famílias com renda mensal per capita de

até ½ salário mínimo (R$ 207,50, em 2008). O já citado trabalho do Laboratório de

Estudos da Pobreza revela que, apesar do crescimento de 64,26% no rendimento

individual médio dos 10% mais pobres, entre 2006 e 2008, bem acima da média

estadual de 16,92%, variação que foi superada por 60% da população local, no Ceará,

metade da população ainda vivia abaixo da linha de pobreza16, em 2008. O estudo

ilustra também a forte correlação positiva existente entre nível de renda e

escolaridade, em que o número de anos de estudo cresce com a renda, conforme já

exposto. Na população de quinze anos ou mais de idade, se para os 30% mais pobres a

média de anos de estudo é de, no máximo, cinco anos, no decil superior (10% mais

ricos) esta é duas vezes maior (10,4 anos).

Adicionalmente, a pobreza impossibilita a família de manter os filhos na escola ou

estudando por muito tempo, o que é determinante para a manutenção das altas taxas

de desemprego juvenil, mesmo porque

Nas famílias de baixos rendimentos – sobretudo urbanas, onde a disponibilidade

monetária é indispensável para alimentar-se - em especial para os jovens com

responsabilidades familiares, o trabalho se reveste de uma necessidade urgente,

independentemente das intenções de prosseguir os estudos. (OIT, 2010, p. 10).

Dadas as iniciativas já citadas, além das não mencionadas, espera-se realmente que os

indicadores de educação do estado continuem a apresentar resultados cada vez mais

positivos, com uma mão de obra mais escolarizada e melhor preparada para enfrentar

os novos desafios/exigências do mercado de trabalho nos próximos anos, propiciando

aos jovens cearenses maiores oportunidades de se beneficiar mais e melhor desse

novo ciclo de desenvolvimento econômico e social do estado que se aproxima.

Setores como a indústria17, comércio18, construção civil e serviços (informação e

comunicação, assim como hotelaria e turismo, dentre outros) têm um grande

16 Estudo do IPEA comprova que a taxa de pobreza absoluta no Estado do Ceará se mostra em queda, seguindo a tendência nacional, declinando de 70,3%, em 1995, para 49,3%, em 2008, uma redução de 29,9%, ligeiramente acima da queda da Região Nordeste (28,8%), mas inferior ao resultado nacional (33,6%), o que fez com 330,7 mil pessoas saíssem da condição de pobres e 400,5 mil, da condição de indigentes (pobreza extrema). É uma melhora importante, mas, mesmo assim, metade da população do estado é ainda constituída de pobres, diante de 28,8% da população brasileira. No citado ano, o Ceará foi o sexto estado brasileiro em proporção de pobreza absoluta, atrás de: Alagoas (56,6%), Maranhão (55,9%), Piauí (52,9%), Paraíba (51,9%) e Pernambuco (50,1%). 17 Segundo a Associação das Empresas dos Distritos Industriais do Estado do Ceará (Aedi), os distritos industriais do Ceará vêm experimentando expansão nos últimos anos, em que ramos, como o metal-

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32

potencial tanto em termos de crescimento quanto de geração de emprego para

jovens, notadamente os mais escolarizados. E como fica a situação dos jovens mais

pobres, menos instruídos e qualificados? Portanto, é preciso implementar políticas

públicas de emprego para este segmento, especialmente associando atividades

laborais em tempo parcial com o retorno às salas de aula. Dessa forma, é necessário

vincular mais eficazmente a educação, qualificação e emprego juvenis à agenda de

desenvolvimento econômico e social do estado, o que fortalecerá um eixo

fundamental de combate à pobreza no Ceará, estado que tem uma participação de 4%

na população brasileira e concentra 8% da população nacional de pobres.

mecânico, têxtil e construção civil, têm sido estimulados com a vinda de novas empresas para várias regiões do estado, como Pacatuba, Horizonte e Maracanaú. As indústrias de alimentos e de calçados têm também um grande potencial empregatício no estado. 18 É crescente o número de bandeiras de supermercados que chegam ao Ceará, tal qual o emprego no setor. Além do mais, os super e hipermercados têm se destacado como os maiores empregadores do varejo brasileiro, com ocupações diversas: operador de caixa, repositor de estoque, padeiro, açougueiro, empacotador, promotor de vendas, supervisor de pessoal, serviços gerais, etc. (GERAÇÃO..., 2010).

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33

O PERFIL DO JOVEM DA RMF

Após as análises anteriores, que se detiveram às considerações mais em nível de

estado do Ceará, embora a área metropolitana exerça forte influência nas estatísticas

estaduais e apresente transformações similares, pela sua relevância populacional e

econômica, nesse momento do trabalho, restringir-se-ão as análises ao espaço

geográfico da RMF, em que se apresentarão algumas características da população de

quinze a 24 anos nela residente (dimensão, sexo, escolaridade, frequência à escola,

desemprego e estratégias e duração da procura por trabalho), o que será

complementado com as percepções acerca das formas de ocupação do tempo juvenil,

explicitadas no próximo módulo.

Segundo estimativas da Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana

de Fortaleza, em 2009, a população residente nessa metrópole era de 3.569 mil

pessoas, das quais 728 mil tinham de quinze a 24 anos de idade, ou seja, os jovens

denotam aproximadamente 20,40% dos residentes da região, representação similar à

diagnosticada para o Estado do Ceará, no interstício de 2005 a 2008, de acordo com a

Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios

(PNAD). De outra forma,

em função de seu peso

na população do estado,

o perfil etário da

população da RMF

parece delinear o perfil

etário da população

cearense.

A composição de sexo

da população juvenil é

muito equilibrada, em

que, de modo geral,

homens e mulheres

ficam com frações de

aproximadamente 50%

cada, independente do nível de renda familiar per capita. (Gráfico 9). No cômputo

geral, são 49,2% de homens para 50,8% de mulheres.

48,1

51,9

50,0

50,0

49,4

50,6

49,1

50,9

49,2

50,8

46,0 47,0 48,0 49,0 50,0 51,0 52,0

Q1

Q2

Q3

Q4

Q5

Homens Mulheres

Gráfico 9 - População Residente por Sexo, segundo os Quintos de Renda Familiar Per Capita - RMF – 2009 (Em %) Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED/RMF 2009.

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34

Quanto à escolaridade, 41,2% dos jovens residentes na metrópole cearense têm

instrução de, no máximo, nível fundamental (300 mil), uma proporção considerável,

50,7% detêm instrução de nível médio (369 mil) e os 8,1% restantes, instrução superior

(59 mil), percentagem esta bem abaixo das registradas em outros mercados

metropolitanos do país19. Em outros termos, quase 60% dos jovens têm, no mínimo,

instrução de nível médio incompleto e o acesso à instrução superior é algo ainda

deveras restrito, demonstrando que uma das características da população juvenil da

RMF ainda é a baixa escolaridade, apesar dos avanços obtidos. Observa-se ainda que,

conforme a Tabela 6, expressiva parcela de jovens não frequentava a escola (54,3%),

superando a marca dos 50% no ensino fundamental e alcançando mais de 60% no

ensino médio, significando dizer que inúmeros jovens deixaram de estudar sem

mesmo ter concluído o ensino fundamental ou médio20, uma constatação preocupante

na medida em que o mercado está a exigir dos trabalhadores, no mínimo, instrução de

nível médio, mesmo porque, conforme o DIEESE (2008, p. 46):

A demanda do mercado de trabalho por maior educação acaba por agir como um

mecanismo de exclusão para aqueles que não contam com ela. Em outras palavras,

uma vez que o mercado tem requerido a finalização do ensino médio como pré-

requisito mínimo para acesso e permanência no mercado de trabalho, uma parte

relevante dos jovens metropolitanos persiste nos estudos, a despeito das

dificuldades de conciliação de escola e trabalho e dos resultados incertos

relacionados à formação.

Dessa forma, as razões do abandono dos estudos merecem uma reflexão mais

profunda de suas causas, é uma temática que necessita de estudos mais detalhados

para que sejam investigadas as verdadeiras causas do problema, tais como: problemas

financeiros, gravidez, qualidade do ensino, violência nas escolas, desconhecimento

e/ou incerteza dos ganhos futuros com educação, dificuldade de aprendizagem, falta

de vagas nas escolas, necessidade de trabalhar, desinteresse pelos estudos, maior

facilidade de obter trabalho, independência financeira, etc., de modo que sejam

melhores entendidas as necessidades juvenis e que tais empecilhos possam ser mais

bem avaliados/enfrentados e os jovens incentivados a retomar os estudos.

19 Números da Pesquisa de Emprego e Desemprego estimaram que a proporção de jovens com instrução superior (completa ou incompleta), nas diversas regiões pesquisadas, variou de 13% para 16%, em 2007. 20 A idade adequada para o ingresso no ensino fundamental é de sete anos, ou seja, os jovens de sete a quatorze anos deveriam estar cursando o ensino fundamental e aqueles com idade entre quinze e dezessete anos, o ensino médio. Como o presente trabalho abrange jovens de quinze a 24 anos, dados os citados limites etários, a realidade é que, para boa parte desses jovens, a escolaridade não se apresenta compatível com a idade.

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35

Tabela 6 – População Juvenil segundo a Freqüência à Escola, por Grau de

Instrução – RMF – 2009 - (Em %)

Instrução Frequência à escola

Total Sim Não

Até o nível fundamental 49,7 50,3 41,2

Nível médio 37,2 62,8 50,7

Nível superior 77,9 22,1 8,1

Total 45,7 54,3 100,0

Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED/RMF 2009.

A análise da frequência à escola revela que 54,3% dos jovens estavam ausentes da sala

de aula e apenas 45,7% frequentavam a escola, em 2009. Segundo os quintos de renda

familiar per capita, as maiores parcelas de jovens frequentando a escola foram

encontradas entre os 20% mais pobres (48,9%) e no quinto superior (53,5%). Verificou-

se também uma preocupante redução dessa participação nos quintos intermediários

de renda, quando deveria ocorrer um comportamento ascendente dessa proporção de

estudantes, o que pode estar relacionado ao baixo nível de renda da maioria das

famílias residentes na RMF. Na situação dessas famílias de renda intermediária, quase

60% dos jovens estão fora da escola, números que ilustram o descompasso social que

ainda atinge milhares de jovens na área metropolitana de Fortaleza. (Gráfico 10).

48,9

51,1

44,6

55,4

40,8

59,2

40,4

59,6

53,5

46,5

45,7

54,3

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

Q1 Q2 Q3 Q4 Q5 Total

Frequênta a escola Não frequênta a escola

Gráfico 10 - População de Quinze a 24 Anos segundo a Frequência à Escola, por Quintos de Renda Familiar Per Capita - RMF - 2009 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED/RMF 2009.

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36

Investigando-se a renda familiar na RMF, a proporção de jovens de 15 a 24 anos em

famílias com renda per capita mensal de até ½ salário foi de 48%, em 2009,

significando dizer que quase metade dos jovens estava exposta à pobreza, com uma

taxa de pobreza absoluta de 48%, consequentemente com dificuldades de acesso à

renda. Em outras palavras, metade dos jovens residentes na RMF deve ser qualificada

como pobre, na medida em que pertencem a famílias com renda média individual de,

no máximo, ½ salário mínimo, ou seja, R$ 232,50. No Brasil, segundo a PNAD 2008,

considerando o segmento de 16 a 24 anos, a taxa de pobreza absoluta encontrava-se

em 32%, diante de 43%, em 1995 (IPEA 2010), demonstrando o quanto o Ceará tem

que avançar no combate à pobreza, principalmente porque esta realidade é ainda mais

grave para aqueles de 15 a 17 anos, em que 59% são pobres. Adicionalmente, apenas

7,5% dos jovens da RMF são de famílias com renda per capita superior a dois salários

mínimos, o equivalente à metade do resultado nacional de 2008, segundo números da

PNAD, que foi de 15%. Assim, são estimados 351,6 mil jovens classificados como

pobres e 54,6 mil pertencem a famílias com renda per capita superior a dois salários

mínimos, concluindo-se que, para cada jovem nessa situação de renda, havia 6,4

pobres, em 2009.

Na medida em que o trabalho se reveste de suma importância para os jovens com

responsabilidades familiares, notadamente aqueles de famílias mais pobres, tornando-

se um forte impeditivo à continuidade dos estudos, pertinente averiguar a realidade

local, com base na proporção de jovens chefes de família segundo a renda disponível

para os familiares. Foi estimada uma proporção de 8,4% de jovens chefes de família na

RMF (61 mil), em 2009, sendo que esta participação é maior nas famílias de menor

renda familiar per capita, como as 20% mais pobres, em que esta proporção chegou a

10,1%. No outro extremo, caso das 20% mais ricas, registraram-se 7,2% e, nas faixas

intermediárias, pouco mais de 8%. Em outras palavras, quase 1/4 dos jovens chefes de

família pertencia às famílias do quinto inferior (as 20% mais pobres). Assim, se a

pobreza já é um empecilho à continuidade dos estudos, o que dizer sobre a situação

dos jovens chefes das famílias mais pobres?

Os jovens de quinze a 24 anos (728 mil) também respondiam por 48,4% dos

desempregados, totalizando 94 mil jovens em busca de trabalho, no universo de 194

mil desempregados. Em termos médios anuais, no segmento dos ocupados (1.512 mil

pessoas), eles perfaziam 20,7%, uma representação bem inferior à constatada no

desemprego, demonstrando que os jovens são mais susceptíveis ao desemprego.

Assim, os jovens são maioria no desemprego e integram 1/5 da ocupação total, de

forma que, para cada três jovens trabalhando na RMF, há um desempregado. (Gráfico

11).

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37

0,8

20,7

15,525,2

33,2

4,6

0,8

48,4

18,1

18,3

13,9

0,5

0 10 20 30 40 50

Ocupação

Desemprego

(Em %)

10 a 14 15 a 24 25 a 29 30 a 39 40 a 59 60 ou mais

Gráfico 11 - Ocupação e Desemprego segundo as Faixas de Idade - RMF – 2009 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED/RMF 2009.

Quanto a esta realidade, que não é uma especificidade local, muito pelo contrário, a

OIT (2010, p. 6), destaca que

A vulnerabilidade ao desemprego que têm os jovens é a cara mais visível das

desvantagens juvenis. A última edição - 2009 – do Panorama Laboral da Oficina

Regional da OIT mostra que em diversos países com informação disponível o

desemprego juvenil adquire dimensões sumamente elevadas. [...] o panorama da

inserção ao trabalho tem, para os jovens, na maioria dos países, notórias

dificuldades.

Mais especificamente, números da PED demonstram que a intensidade do

desemprego na faixa de dezesseis a 24 anos era, no mínimo, duas vezes maior do que

a observada tanto no interstício de 25 a 39 anos quanto relativamente à taxa de

desemprego total, ao longo de 2009, por exemplo. Enquanto a taxa juvenil se

apresentava acima de 24% (jan–ago/2009), a taxa de desemprego total superava o

patamar de 12%. (Gráfico 12). Em termos anuais, a taxa de desemprego total de 2009

foi estimada em 11,4% (194 mil desempregados), na faixa de dezesseis a 24 anos, ela

ficou em 23,1% (92 mil) e, na faixa de 25 a 39 anos, 10,3%. Dessa forma, enquanto os

jovens de dezesseis a 24 anos representavam aproximadamente 23,4% da população

economicamente ativa da RMF, eles conformavam algo em torno de 47,5% do

desemprego local.

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38

(Em %)

24,8 24,6 24,824,2

24,924,2

25,5

24,223,2

20,9 20,720,1

12,8

8,28,88,8

9,510,1

10,710,711,512,111,310,3

12,8

9,69,810,010,8

11,712,3

12,412,512,612,212,0

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

Jan Fev Mar Abr Maio Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

16 a 24 anos 25 a 39 anos Total

Gráfico 12 - Taxas de Desemprego Total, segundo as Faixas Etárias Selecionadas – RMF - 2009 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED/RMF 2009.

Além do mais, a ilustração gráfica também sinaliza alguma dificuldade de inserção no

mercado de trabalho de certos segmentos juvenis, na medida em que, no transcorrer

de 2009, o desemprego de 25 a 39 anos começou a declinar já a partir de abril,

enquanto na faixa de dezesseis a 24 anos, ele só apresentou queda a partir de

setembro.

Falando-se em dificuldades de inserção, no ano em apreço, o tempo médio de procura

por trabalho dos jovens foi estimado em 8,7 meses, em que metade estava à procura

de trabalho há, no mínimo, 5,0 meses. Adicionalmente, é baixa a incidência de jovens

com procura de trabalho há mais de doze meses, não chegando a 15%, sendo a maior

frequência observada no intervalo de até quase três meses (41,2%). (Gráfico 13).

Quanto às estratégias juvenis de busca por trabalho, dentre os que declaram ter

buscado trabalho nos trinta dias anteriores ao dia da entrevista, quase 62%

procuraram empresa(s), agência(s) ou sindicato(s), aproximadamente 16% buscaram

as Unidades de Atendimento do SINE/IDT e 16,3% procuraram parente(s), amigo(s) ou

conhecido(s), conforme Tabela 7. Segundo a idade, constata-se que enquanto os

jovens de dezoito a 24 anos buscam mais frequentemente as Unidades do SINE/IDT, ou

seja, o Sistema Público de Emprego, os jovens de quinze a dezessete anos têm suas

estratégias de busca mais voltadas aos parentes, amigos e conhecidos, apesar da

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39

relevância da procura na(s) empresa(s), agência(s) ou sindicato(s), fato observado em

outras metrópoles brasileiras, posto que o DIEESE (2008, p. 75) verificou que

Enquanto as formas de procura de trabalho dos jovens de 16 e 17 anos estão

relativamente mais associadas às redes de relações sociais em que estão inseridas

suas famílias, o esforço individual da prospecção direta junto às empresas, agências

de emprego, aos sindicatos, anúncios em jornais, além do Sistema Nacional de

Emprego, caracteriza-se como principal fonte de pressão sobre o mercado de

trabalho exercida pelos jovens adultos (18 a 24 anos).

Na sequência, o DIEESE (2008, p. 77) explicita que

Vale ressaltar que as diferenças dos meios mais utilizados pelos desempregados na

procura por uma ocupação nas regiões metropolitanas podem ser vistas como um

indicador do menor grau de estruturação do mercado de trabalho metropolitano,

visto que em regiões onde o mercado de trabalho é pouco estruturado, há maior

facilidade de inserção em atividades precárias, autônomas e de curta duração que,

geralmente, podem prescindir dos mecanismos formais de colocação no mercado

de trabalho.

41,2

18,5

26,1

9,6

4,6

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

< 3 meses 3 a 6

meses

6 a 12

meses

12 a 24

meses

≥ 24 meses

Gráfico 13 - Desempregados de Quinze a 24 Anos segundo o Tempo de Procura por Trabalho - RMF - 2009 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED/RMF 2009.

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Tabela 7 – Estratégias de Procura de Trabalho da População Juvenil – RMF – 2009

Estratégias de procura Idade

Total 15 a 17 anos 18 a 24 anos

Procurou empresa(s), agência(s) ou sindicato(s) 65,9% 61,0% 61,8% Procurou o SINE (1) 18,3% 15,9% Procurou parente(s), amigo(s) ou conhecido(s) 25,5% 14,6% 16,3%

Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED/RMF 2009. Nota: Tal qual o ocorrido com a procura dos jovens de quinze a dezessete anos por meio do SINE, outras estratégias declaradas não detiveram a representatividade estatística requerida pela PED.

E, na comparação com as demais regiões pesquisadas pelo Sistema PED, o mercado de

trabalho da RMF, conforme estudos já realizados pelo Instituto de Desenvolvimento do

Trabalho, é o que se apresenta menos estruturado, com maior incidência de

trabalhadores em atividades precárias, sem registro formal, ou autônomas com menor

remuneração média real, notadamente entre os jovens, facilitando a utilização de

estratégias informais de inserção no mundo laboral.

Na relação entre instrução e inserção precária, dentre os jovens que trabalhavam com

carteira assinada na RMF, em 2009, 16,8% estavam no ensino fundamental, enquanto

71,2% tinham instrução de nível médio e 11,8% cursavam o ensino superior, o que

possibilita concluir que os empregos de mais qualidade, formalizados, etc. são

destinados aos mais instruídos. Assim, em um mercado de trabalho precarizado, as

evidências de precarização são ainda mais fortes entre aqueles com menos

escolaridade, notadamente tratando-se de jovens trabalhadores, o que favorece taxas

mais elevadas de rotatividade e desemprego, dada a facilidade de desligamento do

trabalhador. Complementarmente, em termos de contribuição para a previdência

social, os resultados de 2009 externam um comportamento que evidencia as

características de precarização nas relações de trabalho na RMF, haja vista que a

maioria dos jovens ocupados não contribuía para a previdência (56,4%), situação

oposta à parcela menos expressiva de jovens contribuintes (43,6%).

Estatísticas oficiais comprovam que, dentre as empresas formais cearenses, 98% delas

são classificadas como micro ou pequenas, as quais absorvem 42% do emprego com

carteira assinada. Dessa forma, segundo o porte da empresa, os dados da PED/RMF

revelam que as oportunidades de trabalho estão ocorrendo com mais intensidade

entre as micro e pequenas empresas, apesar de se reconhecer a importância das

médias e grandes empresas na geração de empregos para os jovens. O percentual de

jovens ocupados nestes estabelecimentos foi de 11,8% e 13,6%, em 2009,

respectivamente, ou seja, aproximadamente um quarto das oportunidades de

trabalho, um aspecto adicional que ajuda no entendimento das precárias relações de

trabalho entre tais empresas e os jovens.

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41

Enfim, cabe o alerta feito por Toni (2009, p. 20), quando do trabalho sobre os

trabalhadores com contratação flexibilizada, em Porto Alegre, enfatizando que

Os resultados encontrados mostram, portanto, que a precarização do trabalho

ainda constitui um tema relevante quando se analisam as condições de inserção

ocupacional dos trabalhadores, tema este que parece ter ficado um tanto à

margem nos anos mais recentes, possivelmente ofuscado pela melhora do

mercado de trabalho, principalmente pelo crescimento expressivo do emprego

com carteira de trabalho assinada.

E complementa-se tal assertiva dizendo que as condições precárias de inserção no

mercado de trabalho se mostram um tema ainda mais relevante quando se trata de

jovens, notadamente de jovens pobres que buscam inserção em mercados de trabalho

pouco dinâmicos e menos estruturados, como o da RMF.

Dessa forma, a realidade da inserção precária e do desemprego juvenis na RMF não

difere da observada em outras áreas metropolitanas do país, em que a força de

trabalho mais jovem enfrenta inúmeras dificuldades na obtenção de trabalho,

alternando situações de trabalho com momentos de desemprego, característico de

mercados de trabalho urbano, precipuamente se se tratar de uma oportunidade de

trabalho com qualidade, com carteira, salário digno, etc. E, certamente, alguns

dificultadores estão correlacionados com a pouca escolaridade, falta de experiência

profissional, obviamente, qualificação insuficiente, dentre outros.

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42

ALOCAÇÃO DO TEMPO JUVENIL: ESCOLA, TRABALHO E INATIVIDADE

Nessa temática, inicialmente, cabem duas citações da OIT. A primeira destaca que a

ausência de trabalho decente21 entre os jovens é um elemento essencial na

determinação dos círculos de geração da pobreza e na deterioração da coesão social; a

segunda menciona que a trajetória dos jovens desde o início de sua educação até a

obtenção de um trabalho decente vem sendo determinada por suas opções de estudo

e trabalho e pelas condições nas quais o trabalho se desenvolve. (OIT, 2010). Elas

enfatizam a geração de trabalho decente para o jovem, e não qualquer tipo de

trabalho, como uma estratégia de combate à pobreza, e que as trajetórias futuras dos

jovens mantêm forte correlação com as suas opções de educação e trabalho, dando

ênfase à escolarização e à realização de trabalhos de qualidade. Assim, a educação e as

formas iniciais de inserção dos jovens no mercado de trabalho têm forte impacto nas

suas condições de vida futura, contribuindo ou para a redução da pobreza ou para a

sua perpetuação.

Em face de tais

considerações e

levando-se em apreço

que o período de

moratória concedido ao

jovem pede, em troca,

a sua inserção no

sistema de ensino e,

após a fase escolar, sua

quase imediata

inserção no mercado de

trabalho (IPEA, 2009),

aborda-se a seguir o

binômio

estudo/trabalho juvenil

na RMF, em 2009.

Segundo os números da

PED/RMF, esta realidade

tinha a seguinte

conformação: 33,5% dos jovens somente estudavam (243,9 mil), 31,7% somente

trabalhavam (230,8 mil), 22,6% não trabalhavam e nem estudavam (164,5 mil) e

apenas 12,2% trabalhavam e estudavam (88,8 mil). Por conseguinte, esta é uma

21 Segundo a OIT, trabalho decente é um trabalho produtivo e adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade e segurança, sem quaisquer formas de discriminação, e capaz de garantir uma vida digna a todas as pessoas que vivem de seu trabalho.

Gráfico 14 - Situação de Estudo/Trabalho dos Jovens de 15 a 24 Anos - RMF - 2009 Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED/RMF 2009.

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realidade muito semelhante à relatada pela OIT para a América Latina, em 2010, com

base em pesquisas domiciliares de 2008, cujos percentuais foram: 34%, 33%, 20% e

13%, respectivamente – Gráfico 14.

Estes resultados mostram certo equilíbrio nas frações de jovens que só trabalhavam

(31,7%) e só estudavam (33,5%), que havia quase dois jovens que nem estudavam e

nem trabalhavam (22,6%) para cada jovem que trabalhava e estudava (12,2%), que

quase 46% dos jovens estudavam e ainda que quase 44% dos jovens trabalhavam.

Dessa forma, o trabalho não deveria ser um obstáculo à continuidade/conclusão dos

estudos. Mas a realidade é bem mais complexa. No ano estudado, na metrópole

cearense, a jornada média semanal da força de trabalho de quinze a 24 anos era de 41

horas, semelhante à jornada dos trabalhadores de trinta a 59 anos (45 horas) ou

daqueles maiores de 59 anos (43 horas), dificultando sobremaneira o exercício

concomitante das duas atividades, com perdas significativas no tempo dedicado aos

estudos.

O fato de trabalharem em jornadas de trabalho iguais as dos adultos, em tempo

integral, denota o caráter sofrido do cotidiano de trabalho dos jovens, notadamente

entre aqueles que buscam compatibilizar trabalho e estudo, situação que envolvia

aproximadamente ¼ dos jovens na maioria das regiões pesquisadas pelo Sistema PED,

em 2007. (DIEESE, 2008). Verificar que esta proporção registrada pelo Sistema PED

(1/4 de jovens que estudam e trabalham), apesar dos dois anos de diferença, é duas

vezes maior que a observada na RMF (12,2%), possivelmente por serem mercados de

trabalho mais dinâmicos e com maiores oportunidades de trabalho para jovens22.

Mas como se ocupam os jovens que declararam não estar frequentando a escola?

Como já citado, eles constituem 54,3% da população juvenil (395,3 mil pessoas).

Destes, a maioria trabalha (58,4%), 15,2% encontravam-se buscando trabalho e, na

condição de inativos, foram qualificados 26,4%. Em resumo, quase 74% dos jovens que

não estavam estudando declararam-se inseridos no mercado de trabalho como

ocupado ou desempregado, o que se conclui que uma das principais razões do não

estar na escola é a necessidade de trabalhar, principalmente entre os homens, mesmo

porque significativa parcela dos jovens convive com a pobreza e dificuldades diversas

na obtenção de trabalho.

A magnitude dos quatro segmentos citados (somente estudam, somente trabalham,

não trabalham e nem estudam e trabalham e estudam), como proporção da população

22 Segundo estudo do DIEESE (2008), a área metropolitana de São Paulo e o Distrito Federal eram as regiões pesquisadas pela PED com as maiores taxas de participação da população jovem de dezesseis a 24 anos, em 2007, com taxas de 76,4% e 72,5%, respectivamente. As menores foram observadas nas regiões metropolitanas de Recife (54,8%) e Salvador (66,7%).

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juvenil, assume tendências distintas ao se considerarem os níveis de renda da família.

Os segmentos dos que trabalham e estudam e somente trabalham são ampliados à

medida que se elevam os níveis de renda familiar per capita, ou seja, quanto maior a

renda individual disponível das pessoas, maior a participação dos jovens que

trabalham e estudam e daqueles que somente trabalham. O inverso ocorre com os

jovens que não trabalham e nem estudam, que evoluem de 34,9% (quinto inferior)

para 10,2% (quinto superior), ilustrando a concentração mais intensa de jovens que

não trabalham e nem estudam nas famílias mais pobres, o que ratifica a observação

anterior do círculo vicioso ou de perpetuação da pobreza. (Gráfico 15). Em nível

nacional, o IPEA chegou a mesma conclusão ao analisar a condição de estudo/trabalho

dos jovens brasileiros de quinze a dezessete anos, segundo a renda familiar per capita,

em que é mencionado que a condição de não trabalhar nem estudar é muito mais

frequente entre os mais pobres e, dentre estes, entre as jovens adolescentes do sexo

feminino. (IPEA, 2009).

41,9

16,2

34,9

7,1

35,3

26,0

29,4

9,3

29,6

36,0

23,2

11,2

25,6

44,0

15,5

14,8

34,9

36,4

10,2

18,5

0%

20%

40%

60%

80%

100%

Q1 Q2 Q3 Q4 Q5

Somente estudam Somente trabalham

Não trabalham, nem estudam Trabalham e estudam

Gráfico 15 - Situação de Estudo/Trabalho dos Jovens de Quinze a 24 Anos, segundo os Quintos de Renda Familiar Per Capita - RMF - 2009

Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED/RMF 2009.

Por outro lado, um resultado surpreendente na RMF é que a maior percentagem de

jovens que somente estudam (41,9%) é encontrada no primeiro quinto, composto

pelas famílias mais pobres, percentagem esta que declina até o quarto quinto (25,6%),

para então se elevar a 34,9% no quinto superior (famílias mais ricas).

Por último, os jovens que representam maior risco social são aqueles que não

estudam, não trabalham e nem buscam trabalho. Estes compõem 14,2% da população

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juvenil local, aproximadamente 103,4 mil jovens. Segundo os níveis de renda familiar

per capita, eles são mais incidentes nas famílias mais pobres, proporção que decresce

com a elevação da renda. Se no total eles são 14,2%, a proporção desses jovens nos

dois primeiros quintos de renda familiar per capita atinge os patamares de 24% e 19%,

respectivamente. Ademais, a proporção estimada no primeiro quinto (23,5%) é quase

quatro vezes maior do que a registrada no quinto superior (6,5%). (Gráfico 16).

Portanto, o grupo de risco mais evidente está alocado nas famílias mais pobres, na

medida em que quase 60% dos jovens que não estudam, não trabalham e nem buscam

trabalho pertencem aos 40% das famílias mais pobres.

Q1; 23,5

Q2; 18,7

Q3; 14,0

Q4; 8,3

Q5; 6,5

Total; 14,2

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

Gráfico 16 - Proporção de Jovens que não Estudam, não Trabalham e nem Buscam Trabalho, segundo os Quintos de Renda Familiar Per Capita - RMF - 2009

Fonte: Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED/RMF 2009.

Assim, a inserção precoce e precária no mercado de trabalho está relacionada com o

nível de pobreza e a baixa escolaridade a que a população juvenil do estado está

submetida, haja vista que aproximadamente 3/4 dos jovens, que não estavam

estudando, afirmaram estar inseridos no mercado de trabalho local. Esta inserção

precoce e precária alimenta a pobreza, constituindo um círculo vicioso com sérias

consequências sociais. Nesse contexto, os investimentos e melhorias na educação no

Ceará certamente fortalecerão um dos mais importantes eixos de combate à pobreza

no estado, que é a educação de sua juventude, mesmo porque a maior proporção de

jovens que não trabalham nem estudam incide sobre as famílias mais pobres, tal qual

os jovens que representam maior risco social, ou seja, aqueles que não estudam, não

trabalham e nem buscam trabalho.

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46

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os jovens conformam um segmento populacional relevante e em expansão, com

necessidades e carências peculiares, em que o contexto atual de transição da

adolescência para a vida adulta tem se mostrado bem mais complexo.

O presente estudo aponta uma evolução favorável da educação no Ceará, pois, apesar

de deter uma taxa de analfabetismo duas vezes maior que a média nacional, em 2008,

o analfabetismo declinou, inclusive, entre os de quinze a 24 anos, segmento que

detém o mais baixo nível de analfabetismo no estado. Outros indicadores ratificam tal

melhora na educação estadual, a exemplo dos números do Ideb e da elevação na

média de anos de estudo, apesar de esta ainda se encontrar abaixo da média nacional.

Oportuno recordar que, no estado, as taxas de abandono no ensino médio têm se

intensificado, sendo três vezes maior do que as observadas no ensino fundamental e

que 40% dos jovens têm instrução de nível fundamental. Adicionalmente, metade dos

jovens de nível fundamental e 63% dos com instrução de nível médio, residentes na

RMF, declaram não estar frequentando a escola, em 2009, totalizando 54,3% de jovens

fora dos bancos escolares. Portanto, apesar das melhoras, avanços adicionais fazem-se

necessários, em face do desempenho das escolas do estado, de acordo com o Enem

2009, das atuais exigências do mercado de trabalho e, principalmente, das

perspectivas do significativo crescimento econômico do Ceará nos anos vindouros. Tais

avanços devem inclusive acelerar a velocidade com que os indicadores do estado estão

evoluindo, de forma a reduzir mais rapidamente os diferenciais entre os indicadores

locais e os nacionais, minimizando, consequentemente, as disparidades regionais.

Quanto à composição etária da população cearense, embora os jovens de quinze a 24

anos tenham mantido sua participação relativa praticamente estável ao longo dos

anos 2000, na casa dos 20%, este contingente apresenta contínuos acréscimos anuais,

chegando a 1.681 mil pessoas, em 2008, contexto em que o segmento de vinte a 24

anos cresceu a uma taxa média anual cinco vezes maior do que a observada na

população de quinze a dezenove anos, em 2000/2008. Assim, o momento atual de

lento crescimento da população de quinze a dezenove anos, de apenas 0,47% a.a,

apresenta-se como uma ótima oportunidade para implementação de melhorias

qualitativas no ensino de nível médio, posto que a idade adequada para este é de

quinze a dezessete anos. Ademais, na medida em que a taxa de participação dos

jovens sofre influência inclusive da dinâmica demográfica, este comportamento pode

estar a sinalizar maiores pressões dos jovens sobre o mercado de trabalho local, ou

seja, uma demanda juvenil por trabalho crescente nos próximos anos, e nesse caso, se

estes não forem mais bem preparados, esta maior demanda pode resultar em taxas de

desemprego ainda mais elevadas, com todas as consequências sociais inerentes.

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Por seu turno, se a população de até nove anos de idade perde expressividade, a

presença daqueles com mais idade (quarenta anos ou mais) ganha mais relevância,

implicando na elevação da idade média da população estadual, conformando um

quadro de envelhecimento populacional.

Sobre a presença juvenil no mercado de trabalho da RMF, conclui-se que a redução da

taxa de participação no interstício de quinze a 24 anos foi devida à saída do mercado

de trabalho de 35,4 mil jovens de quinze a dezenove anos, sendo expressiva a saída

dos jovens de quinze a dezessete anos do sexo masculino, tal qual ocorrido em nível

nacional, motivada possivelmente pela busca de mais e melhor escolaridade, formação

para o trabalho e/ou certo desalento desses jovens, devido à opção do mercado por

aqueles de vinte a 24 anos de idade, cuja participação não sofreu alteração no período

estudado, sendo, inclusive, mais intensa do que a taxa de participação verificada entre

os adultos (25 anos ou mais).

Quanto à estabilidade da participação daqueles de vinte a 24 anos, esta foi devida à

menor participação masculina associada à crescente presença das jovens mulheres, o

que contribui para reduzir o grau de desigualdade de gênero no mercado de trabalho

local.

O perfil dos jovens de quinze a 24 anos residentes na RMF, que integravam um

contingente de 728 mil pessoas, em 2009, e representam aproximadamente 20,4% da

população metropolitana do estado, apresenta as seguintes especifidades:

A sua composição de sexo é muito equilibrada, independente do nível de renda

familiar per capita, sendo, no total, 49,2% de homens para 50,8% de mulheres.

41,2% têm instrução de, no máximo, nível fundamental (300 mil), 50,7% detêm

instrução de nível médio (369 mil) e 8,1%, instrução superior (59 mil).

Expressiva parcela não frequentava a escola (54,3%), superando a marca dos

50% no ensino fundamental e alcançando mais de 60% no ensino médio.

As maiores incidências de jovens frequentando a escola foram encontradas

entre os 20% mais pobres (48,9%) e os 20% mais ricos (53,5%). Por outro lado,

quase 60% deles estavam fora da escola nas famílias de renda intermediária.

É elevada a proporção de jovens em famílias com renda per capita mensal de

até ½ salário, dada a taxa de pobreza absoluta estimada em 48%, em 2009,

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significando dizer que quase metade dos jovens estava exposta à pobreza.

Apenas 7,5% são de famílias com renda per capita superior a dois salários.

8,4% de jovens residentes na RMF são chefes de família (61 mil). Esta

participação é maior nas famílias de menor renda familiar per capita, como as

20% mais pobres, em que esta proporção chegou a 10,1%.

Os jovens são maioria no desemprego (48,4%), com tempo médio de procura

por trabalho estimado em 8,7 meses, e integram 1/5 da ocupação total.

A intensidade do desemprego na faixa de dezesseis a 24 anos era duas vezes

maior do que a observada tanto no interstício de vinte e cinco a 39 anos quanto

relativamente à taxa de desemprego total.

Quanto ao binômio estudo/trabalho juvenil na RMF, em 2009: 33,5% dos jovens

somente estudavam (243,9 mil), 31,7% somente trabalhavam (230,8 mil), 22,6% não

trabalhavam e nem estudavam (164,5 mil) e apenas 12,2% trabalhavam e estudavam

(88,8 mil).

Há certo equilíbrio nas frações de jovens que somente trabalhavam (31,7%) e somente

estudavam (33,5%), havendo quase dois jovens que nem estudavam e nem

trabalhavam (22,6%) para cada jovem que trabalhava e estudava (12,2%) e quase 44%

dos jovens trabalhavam.

O exercício concomitante do estudo e do trabalho é dificultado sobremaneira pela

extensa jornada de trabalho. A jornada média semanal da força de trabalho de quinze

a 24 anos era de 41 horas, semelhante à jornada dos trabalhadores de trinta a 59 anos

(45 horas) ou daqueles maiores de 59 anos (43 horas).

A proporção de jovens que conciliam estudo e trabalho nas regiões investigadas pela

PED (por volta de 25%) é duas vezes maior que a observada na RMF (12,2%),

possivelmente por serem mercados de trabalho mais dinâmicos e com maiores

oportunidades de trabalho para jovens.

Quanto às formas de ocupação dos jovens que declararam não estar frequentando a

escola (54,3%): expressiva maioria trabalha (58,4%), 15,2% encontravam-se buscando

trabalho e, na condição de inativos, foram qualificados 26,4%, um indicativo de que a

ausência dos bancos escolares é devida principalmente à necessidade de trabalhar.

Quanto maior a renda individual disponível das pessoas, maior a participação dos

jovens que trabalham e estudam e daqueles que somente trabalham e a concentração

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mais intensa de jovens que não trabalham e nem estudam ocorre nas famílias mais

pobres, o que ratifica a existência de um círculo vicioso ou de perpetuação da pobreza.

Os jovens que representam maior risco social são aqueles que não estudam, não

trabalham e nem buscam trabalho, 14,2% da população juvenil local, e eles são mais

incidentes nas famílias mais pobres.

Em síntese, os números analisados no presente trabalho possibilitam concluir que,

apesar dos avanços nos indicadores de educação no Ceará, é preciso melhoras

adicionais na medida em que o cenário se apresenta incompatível às exigências atuais

do mercado de trabalho e às boas perspectivas de desenvolvimento econômico do

estado, dado o baixo nível de escolaridade da força de trabalho juvenil da RMF, de

modo que a juventude cearense possa se apropriar um pouco mais das benesses do

crescimento econômico local. A tal constatação aliam-se outros fatores, tais como: o

envelhecimento da população, com crescimentos anuais da população de quinze a 24

anos, a expressiva proporção de jovens fora das escolas, os problemas associados à

qualidade do ensino e seus impactos sobre a repetência e evasão escolar, a magnitude

e as consequências do desemprego juvenil, dadas as perspectivas de maior demanda

por trabalho dos jovens, o pertencimento da maioria destes às famílias mais pobres, a

desigualdade nas formas de inserção no mercado de trabalho e de acesso à educação

existente nesse segmento, dentre outros, os quais amplificam a relevância das políticas

públicas focadas na juventude cearense, precipuamente quando aliadas às

perspectivas de crescimento econômico do estado no curto prazo.

Concomitantemente, a educação deve ser encarada como uma estratégia de combate

à pobreza, ascensão social e de fortalecimento do desenvolvimento econômico,

devendo estar mais vinculada à agenda de desenvolvimento econômico e social do

estado, fortalecendo um eixo fundamental de combate à pobreza no Ceará, portanto,

uma questão social de alta relevância.

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