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ISSN 2176-1396
EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS NO ENSINO MÉDIO:
CONCEPÇÃO DE LAZER E QUALIDADE DE VIDA
Simone Aparecida Pinheiro de Almeida1
Grupo de Trabalho - Educação de Jovens e Adultos
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O presente artigo é resultado de Pesquisa realizada no curso de Especialização em Educação
Profissional Integrada a Educação Básica na Modalidade Educação de Jovens e Adultos no
ano de 2012 na Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Neste mesmo período fui
docente da disciplina de Sociologia e História para Educação de Jovens e Adultos da
Educação Básica. Uma das temática bimestrais que estava sendo trabalhada na disciplina de
Sociologia era Revolução Industrial e a concepção de trabalho, mão de obra,
proletariado/burguesia e a relação ao tempo livre e lazer. Assim apropriando-se de reflexões
críticas os alunos puderam participar e contribuir com a pesquisa. O estudo segue como
Pesquisa Qualitativa por se tratar do contato com a percepção dos sujeitos de pesquisa. O
levantamento caracteriza-se como Quantitativo por se tratar de dados tabulados por meio de
questionário com perguntas fechadas e abertas. O problema levantado nesta pesquisa abordou
o seguinte questionamento: Como os alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos)
compreendem o Lazer e a Qualidade de Vida? Buscando responder essas indagações destaca-
se o Objetivo Geral: Realizar levantamento da percepção dos alunos da EJA no ensino Médio
de Ponta Grossa – PR, sobre o entendimento dos mesmos em relação ao conceito de Lazer e
Qualidade de vida. Em relação aos objetivos específicos: - Analisar a percepção dos alunos
em relação aos espaços de lazer. Para coleta de dados foram aplicados. O estudo foi realizado
com uma população de 20 alunos de EJA ensino médio público em duas escolas centrais e
uma de periferia no período noturno sendo distribuídos 07 questionários para duas Unidade
Educacional de EJA na disciplina de Sociologia.
Palavras-chave: Educação de Jovens e Adultos. Lazer e Qualidade de Vida. Ensino de
Sociologia.
1 Licenciada em História e Ciências Sociais. Bacharel em Turismo. Especialista em Educação de Jovens e
Adultos. Especialista em Educação Patrimonial, Especialista Em Mídias na Educação (UFPR). Especialista em
Educação do campo (UFPR). Mestre em Turismo e Hotelaria. Professora da Rede Estadual de Ensino do Paraná.
Doutoranda em Educação pela UEPG. Pesquisadora de Políticas Públicas para Universidade Aberta para
Terceira Idade. [email protected]
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Introdução
A presente proposta de Pesquisa tinha como foco o entendimento sobre Qualidade de
vida e lazer para alunos da EJA em Ponta Grossa – PR. Tomamos como referência de
currículo para esse estudo a disciplina de Sociologia.
Os alunos da EJA, quando retornam à escola, trazem muitos saberes e as situações do
cotidiano escolar oferecem condições favoráveis ao processo de formação continuada e
produção de saberes pelos alunos e professores.
A função social da escola compreende, antes de tudo, a (re)inserção do aluno nas
situações de vida cotidiana, uma vez que ele está inserido em uma sociedade que marginaliza
e discrimina, dificultando a realização de seus anseios e perspectivas.
Para pensar em qualidade de vida, é preciso pensar no ser humano em sua
integralidade física, psíquica e espiritual.
A sociedade pós-industrial traz no seu âmago a complexidade das relações humanas
onde cada dimensão da vida sofre interferências e também interfere com as demais. A
sociedade é multicultural e as realidades do lazer, da educação e da cultura passam por
transformações resultantes da globalização da evolução tecnológica mudando
comportamentos e estilos de vida.
São muitas as implicações sociais nos modos de vida contemporâneos, especialmente
considerando que esses não mais se estruturam a partir de um polo unificado. Estamos
participando de uma revolução nos pilares básicos que constituem o meio social. No contexto
da globalização econômica e cultural, uma perspectiva a ser observada é que a acumulação do
capital econômico passou a depender da rapidez da circulação de bens, da popularização de
serviços e das consequentes mudanças nos estilos de vida.
A discussão sobre lazer, qualidade de vida e dimensão institucional pode ser iniciada a
partir das negociações que buscam inferir no controle do ritmo social imposto pelas
instituições. Isso gera novos significados de lazer, dadas as diferenças culturais na sua
apropriação e consumo. Assim convivem, no mesmo contexto, diferentes compreensões dos
papéis, interesses e poder das instituições como determinantes de estilos de vida e de lazer.
Para levantamento sobre a concepção de lazer e qualidade de vida dos alunos da EJA
selecionamos alunos da disciplina de Sociologia em três unidades de ensino diferenciadas,
duas localizadas na área central e uma na periferia.
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O campo da Sociologia apresenta importância epistemológica à vida cotidiana,
permitindo uma análise privilegiada para os estudos do lazer.
Apresenta-se em seguida a fundamentação teórica em relação à temática proposta. A
educação de jovens e adultos (EJA), referencial sobre lazer e qualidade de vida e analise de
descrição dos dados que foram levantados por meio de questionário.
Educação de jovens e adultos – EJA
A proposta pedagógica parte do princípio de que a construção de uma educação básica
para jovens e adultos voltada para a cidadania, não se resolve apenas garantindo oferta de
vagas, mas proporcionando ensino comprometido com a qualidade, ministrado por
professores capazes de incorporar ao seu trabalho os avanços das pesquisas nas diferentes
áreas do conhecimento e de estar atentos às dinâmicas sociais e suas implicações no âmbito
educacional.
O ensino e aprendizagem na educação de jovens e adultos, através dos seus
pressupostos teóricos, têm como referência “a pedagogia da libertação” e a educação popular
de Paulo Freire, que destaca a alfabetização desse segmento da população, como um ato
político, um ato criador.
Nesse sentido, escreve Freire (1989, p. 22):
É preciso, na verdade, que a alfabetização de adultos e pós-alfabetização, a serviço
da reconstrução nacional, contribuam para que o povo, tomando mais e mais a sua
história nas mãos, se faça na feitura da História. Fazer história é estar presente nela e
não simplesmente nela estar representado [...] quanto mais conscientemente faça a
sua história, tanto mais o povo perceberá com lucidez, as dificuldades que tem a
enfrentar, no domínio econômico, social e cultural, no processo permanente da sua
libertação.
O processo educativo desse segmento fundamenta-se na socialização dos sujeitos,
agregando elementos e valores que proporcionem à emancipação política e à afirmação de sua
identidade cultural e histórica. Ao ingressarem na EJA os alunos ampliam os horizontes de
socialização, convivendo em um ambiente saudável com grupos que se assemelham, não só
na escola, mas em espaços da educação não formal, como por exemplo: igrejas, associações
culturais e/ou esportivas, clubes, sindicatos e outros. Desse modo, a escola deve ser
mobilizadora e organizadora de um processo em que a comunidade possa se envolver,
integrando os diversos espaços educacionais que estão inseridos na sociedade.
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Assim, a EJA evidência mudanças significativas no ser humano, em relação à ciência,
trabalho e cultura, por meio de uma base sólida de formação científica e histórica,
contribuindo para o desenvolvimento de suas potencialidades, pois, o aluno é constantemente
levado a refletir sobre sua ação e a buscar respostas aos desafios propostos transformando sua
realidade social. Ser escolarizado é condição básica para participar da sociedade com relativa
autonomia e independência, o que implica entre outras coisas, a possibilidade de melhor
inserir-se no mercado de trabalho, de usufruir dos benefícios da sociedade industrial e de
manter o acesso aos diversos bens culturais.
A educação Profissional e também a Educação de Jovens e Adultos sofreram inúmeras
mudanças ao longo da história recente da Legislação. A EJA passou a ser reconhecida como
modalidade de ensino através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, (LDB)
9596/ 96, nesse momento tem-se a preocupação de oferta não só da escolaridade a esse
público, mas também formação para o mundo do trabalho. A EJA deve cumprir três funções:
a reparadora, a equalizadora e a permanente/qualificadora que visa a inclusão social desses
atores no processo produtivo e sua permanência no mundo do trabalho. (BRASIL, 2006).
A EJA deverá ser vista como uma modalidade de ensino que contemple um modelo
pedagógico próprio que concretize a inclusão de estratégias de valorização da experiência de
vida social, cultural e profissional buscando satisfazer as necessidades de aprendizagem dos
alunos.
Machado (2009), enfatiza a necessidade de uma política pública voltada
especificamente para a EJA:
Como condição histórica, a EJA chega ao século 21 com imensos desafios de
conquista de espaço na agenda educacional e de superação de velhas práticas e
concepções equivocadas, fortemente marcadas pelas relações que se estabeleceram
no Brasil entre o Estado e a sociedade civil, destacadas antes como a constituição de uma
“hegemonia couraçada de coerção” (MACHADO, 2009, p. 29).
A educação e Jovens e Adultos no Brasil é marcada por diversas situações de políticas
públicas improvisadas, que de forma paliativa tentava acabar com o analfabetismo.
Na história recente, em que as funções do Estado vêm sendo redefinidas e
restringidas, os governos têm buscado ativamente a colaboração dos movimentos e
organizações sociais para o desenvolvimento de políticas públicas, como as de
formação dos jovens e adultos. As parcerias configuram uma estratégia duplamente
conveniente ao poder público, pois atende às demandas de participação dos
movimentos e organizações sociais, ao mesmo tempo que permite desonerar a
máquina pública de encargos permanentes, como a contratação de pessoal docente.
(UNESCO, p. 52-53).
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Cabe pontuar que as políticas públicas direcionadas à EJA estão em construção e
reconstrução, ainda se tem muito a fazer para que a Educação de Jovens e Adultos seja
realmente igualitária e atenda aos interesses de seus alunos. Neste sentido cabe frisar que uma
educação para esse segmento deverá atender metodologias apropriadas.
A obra de Janeiro (2010), “Educação em valores humanos e Eja”, apresenta exercícios
que podem ser aplicados em sala de aula de EJA, acompanhadas de orientação para os
educadores, destacando que a metodologia de ensino para o segmento da EJA envolve um
direcionamento voltada para a característica de cada um. “O uso social da leitura e da escrita
se dá perante as solicitações culturais do contexto em que os indivíduos estão inseridos”.
(JANEIRO, 2010, p. 12).
Vagula, (2006) menciona que a diversidade das histórias de vida dos diferentes
saberes marcam a trajetória dos alunos de EJA, destacando que é no espaço escolar que elas
aparecem de forma explícita. Esses alunos são marcados pela diversidade e pela
heterogeneidade com diferentes culturas, diferentes saberes em diferentes áreas do
conhecimento.
Os alunos de EJA devem pensar sua autoestima relacionada com sua Qualidade de
vida e a prática do lazer. Muitos chegam do trabalho cansados e vão para escola recuperar o
tempo de estudo que um dia não tiveram por diversos motivos. Assim apresentar para eles o
conceito de lazer e como este pode contribuir com sua qualidade de vida é de suma
importância no âmbito da Educação.
A disciplina de Sociologia apresenta em seu currículo à temática lazer relacionado ao
contexto do trabalho. Portanto cabe ao professor uma análise mais aprofundada e crítica em
relação à concepção de lazer e sua relação com espaços de socialização.
O público da EJA merece considerações cuidadosas. A ela se dirigem jovens e adultos
com suas múltiplas experiências de trabalho, de vida e de situação social.
É preciso considerar que o aluno(a) de EJA tem uma visão de mundo diferenciada do
aluno regular, por isso são necessários investimentos em uma política séria educacional que
proporcione a todos os alfabetizadores uma ação coletiva de união e solidariedade, com
responsabilidade voltada para as dificuldades dos alunos que já fazem parte do processo de
exclusão e que jamais o poder dominante dará condições necessárias para que o professor
possa transformar e formar cidadãos críticos e conscientes ideologicamente.
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Qualidade de vida
Com as transformações ocorridas no mundo resultantes do processo de globalização e
do capitalismo, o homem acabou alterando seu modo de vida, deixando de lado o lúdico,
acabou se tornando sedentário. Muitos estudos apontam a falta de atividade física como uma
das causadoras de doenças, stres. Foram deixadas de lado atividades simples e fundamentais
que interferem na qualidade de vida.
Saúde e Qualidade de Vida são dois conceitos que estão presentes hoje em todos os
contextos vitais: família, escola, trabalho, mídia. Constituem-se em prioridades que
almejamos conquistar e defender frente aos ataques quotidianos das pressões ambientais.
Muitos estudos têm abordado a qualidade de vida no trabalho, porém poucos têm
referenciado a saúde do trabalhador, no seu contexto mais amplo. Além dos fatores
ambientais, (poluição, ruídos, muito agito, etc), que podem ser prejudiciais ao homem,
existem outros fatores que também devem ser considerados.
A saúde do trabalhador pode ser afetada por hábitos e atitudes adquiridas em sua
função profissional. Dentre esses podemos citar a inatividade física, considerada hoje um
agente de risco primário e comprometedor do bem estar. Um estilo de vida com qualidade
requer uma dose adequada de atividade física, alimentação balanceada e controle do estresse
emocional e psicológico. Tudo que põe em risco esses três componentes tende a interferir na
qualidade de vida, diminuindo assim a expectativa e vida.
Um estilo de vida que combina alimentação saudável, atividade física regular, controle
do stress, etc., pode aumentar a expectativa de vida e, acima de tudo, proporcionar uma vida
mais saudável. Para isso, deve-se considerar o comportamento nas diferentes opções de vida
incluindo o exercício, o tempo de lazer, a atividade física, o trabalho e num sentido mais
completo, a espiritualidade das pessoas.
Os programas de exercício podem beneficiar o setor corporativo e através do
melhoramento da imagem da companhia, o relacionamento dos empregados, aumentando a
satisfação dos mesmos, melhorando a produtividade, a redução do absenteísmo e substituição
do pessoal, uma diminuição dos custos médicos, redução de lesões e acidentes e um melhor
estilo de vida em geral. (ALVAREZ, 1996).
Apesar das evidências da importância da prática regular de atividade física, a maioria
da população não tem este comportamento no lazer. As pessoas, quando não estão
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trabalhando, realizam tarefas para manutenção pessoal ou de sua família (compras, educação
dos filhos, tarefas domésticas, estudos).
A prática de atividade física exige um mínimo de segurança, como, por exemplo,
locais adequados para caminhar, parques ou praças com infraestrutura, tanto nos aspectos
ambientais como a segurança, já que a violência nos grandes centros tem aumentado
drasticamente. Com isso, tanto os adultos quanto as crianças têm ocupado o seu lazer com
atividades fisicamente mais passivas. É mais seguro deixar os filhos dentro de casa com um
computador ou vídeo game do que correr o risco da violência das pessoas e do trânsito nas
ruas.
O estilo de vida é a forma com que cada indivíduo conduz a suas atividades diárias, as
quais refletirão diretamente na sua saúde física e mental. Assim, o estilo de vida engloba o
trabalho, a família, o lazer; enfim, tudo o que cerca as pessoas em seu dia-a-dia.
O trabalhador possui outros fatores que influenciam na sua satisfação além do
trabalho. Estas são realizações pessoais, reconhecimento no ambiente de trabalho,
participação em tomadas de decisão, posição social, crescimento profissional permanente,
promoções, treinamento, etc.
A partir disto, dois fatores foram responsáveis por esta mudança: o crescente
desenvolvimento tecnológico, que possibilitou a utilização de máquinas e equipamentos nas
tarefas mais repetitivas e simples, e o desenvolvimento econômico da sociedade, que
possibilitou a elevação do nível de instrução dos trabalhadores, dando-lhes certa autonomia e
maior satisfação e realização pessoal. (CHANLAT, 1992).
As funções do organismo, nas variações periódicas, mostram-nos quatro pontos
importantes: as mudanças de temperatura; as funções cardiocirculatórias e respiratórias, com
atenuação destas durante o dia e diminuição à noite; as funções endócrinas, a atividade renal e
as secreções digestivas obedecem a flutuações periódicas; e a alternância vigília/sono obedece
igualmente a uma periodicidade de vinte e quatro horas.
A definição de saúde, como visto anteriormente, não é apenas a ausência de doenças,
mas, sim um estado de bem-estar geral, incluindo os aspectos físicos, psicológicos,
emocionais, espirituais, sociais e ambientais.
A necessidade do sono varia de pessoa para pessoa, independe da sua atividade ou
trabalho. Observa-se que alguns fatores, como a idade, podem modificar hábitos e padrões de
sono, mas segundo, a duração do sono é claramente menor nas pessoas que trabalham à noite.
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Este mesmo autor verificou, num estudo realizado com maquinistas das ferrovias alemãs em
1974, que muitos turnos noturnos consecutivos sempre levam a um déficit de sono.
Timossi (2009, p. 29) em sua dissertação de mestrado apresenta o conceito de
qualidade de vida:
Os primeiros conceitos sobre QV inicialmente preocupavam-se com questões
materiais na vida dos indivíduos como salário, bens conseguidos, sucesso na área
profissional, ou seja, priorizavam fatores externos. Atualmente, percebe-se uma
abordagem um pouco diferenciada, apontando uma valorização de fatores inerentes
ao ser humano como grau de satisfação, realização tanto profissional como pessoal,
bom relacionamento com a sociedade e acesso à cultura e ao lazer como exemplos
reais de bem estar.
A pesquisadora destaca que atualmente o conceito de qualidade de vida refere-se ao
grau de satisfação pessoal seja na escola no trabalho em espaços culturais/naturais de esporte
e outros espaços que gerem bem estar as pessoas.
O local de trabalho assim como o ambiente escolar se configura como importante
espaço para o desenvolvimento de intervenções visando à promoção da saúde e qualidade de
vida, pela possibilidade de atingir grande número de pessoas.
As reflexões sobre a sociedade pós moderna e a construção da subjetividade sobre
qualidade de vida e lazer tornam-se o foco dessa pesquisa.
Com a grande quantidade de informações é possível o sujeito identificar como está sua
qualidade de vida e procurar em alguns casos melhorá-la.
Lazer: origem e significações
Iniciamos essa discussão teórica apresentando o termo lazer com suas raízes no latim
licere (ser permitido: folga, descanso) indica oposição às obrigações e ao tempo de trabalho.
As palavras loisir (em francês) e leisure (em inglês), também originárias do latim, mantêm o
sentido da palavra licere, já apresentado. Requixa (1980) destaca que o termo usado em
espanhol ócio é derivado do latim otium que significa tranquilidade, repouso, parada. O
antônimo de ócio é negócio, derivado da palavra negotium, que significa a negação do ócio.
O lazer, desde a antiguidade grega, aparece tendo como referência dois elementos: o
trabalho - atividades necessárias à sobrevivência e o tempo - o intervalo das atividades
laborais (ou mesmo simultâneo às mesmas, dependendo do modo e ritmo em executá-las),
necessário à recuperação das forças de trabalho e alívio das tensões oriundas do mesmo.
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Os estudiosos do lazer destacam o tema como o conjunto de ocupações às quais o
indivíduo pode entregar-se de livre e espontânea vontade, seja para repousar, seja para
divertir-se, recrear-se, entreter-se ou, ainda para desenvolver sua informação desinteressada,
sua participação social voluntária ou sua livre capacidade criadora após livrar-se ou
desembaraçar-se das obrigações profissionais, familiares e sociais.
Alguns estudiosos consideram que o lazer existia em todos os períodos, em todas as
civilizações. O tempo fora-do-trabalho é, evidentemente tão antigo quanto o trabalho, porém
o lazer possui traços específicos, característicos da civilização nascida da Revolução
Industrial.
[...] nas sociedades pré-industriais do período histórico o lazer não existe tampouco.
O trabalho inscreve-se nos ciclos naturais das estações e dos dias: é intenso durante
a boa estação, e esmorece durante a estação má. [...] Alguns pesquisadores fazem
remontar o lazer ao modo de vida das classes aristocráticas da civilização tradicional
(De Grazia). Entretanto, também não acreditamos que a ociosidade dos filósofos da
Grécia ou dos fidalgos do sec. XVI possa ser chamada de lazer. (DUMAZEDIER,
1999, p. 25-26).
Considerando que a formação da sociedade de consumo teve sua origem embrionária
na Revolução Industrial, consolidando o capitalismo como forma de organização do trabalho
faz se uma discussão em relação ao tempo livre e trabalho. A sociedade de consumo tem
como meta principal produzir mercadorias para vendê-las no mercado produção em série.
Historicamente, as conquistas sociais dos trabalhadores como a redução da jornada de
trabalho para 8 horas diárias, melhores salários, férias e aposentadoria remuneradas
aumentaram o tempo livre direcionando e estimulando o homem a exercer atividades que lhe
proporcionassem prazer, nas quais se insere o lazer. (CAMARGO, 1998).
Descrevendo a relação entre trabalho e tempo livre Antunes (2001, p. 175) argumenta
que a redução da jornada diária de trabalho foi uma das mais importantes reivindicações no
mundo do trabalho. Entretanto, “[...] a redução da jornada de trabalho não implica
necessariamente a redução do tempo de trabalho”. A redução da jornada de trabalho poderia
refletir na duplicação da intensidade das atividades realizadas. O autor adverte a respeito do
fato de que lutar pela redução da jornada de trabalho significa lutar pelo controle do tempo
opressivo do trabalho, para que a redução não signifique aumento da carga de trabalho.
Destaca-se que o tempo livre é o elemento básico para que o lazer aconteça. O tempo
livre é o tempo empregado para desfrutar o lazer, um tempo de descanso, de distração e de
entretenimento, que o cinema, o teatro, a televisão, o esporte.
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As atividades sociais em geral passaram a ser reguladas pelo novo ritmo de trabalho
imposto pelas atividades de produção industrial: as atividades rituais reguladas pela
comunidade e pelo trabalho que obedecia aos ciclos naturais cederam a uma nova organização
e, consequentemente a uma nova ordem social; o trabalho profissional foi desvinculado das
demais atividades da vida cotidiana e adquiriu um "limite arbitrário", não mais regulado pela
natureza e pelas regras comunitárias. Este limite arbitrário impôs uma nova organização,
separando claramente trabalho profissional e o tempo de sua execução, das outras atividades.
Coleta de dados: População e Amostra
O estudo foi realizado com uma população de 20 alunos de EJA ensino médio em duas
escolas centrais e uma de periferia no período noturno sendo distribuídos 07 questionários
para duas Unidade Educacional de EJA na disciplina de Sociologia, uma Unidade central
tinha 8 alunos na sala.
Os sujeitos de pesquisa são alunos de ensino médio da EJA de duas escolas centrais de
Ponta Grossa e uma escola de periferia da Educação Básica pública. CEEBJA Paschoal Salles
Rosa e CEEBJA – UEPG e no Colégio Padre Arnaldo Jansen na vila Borsato, em Ponta
Grossa/Pr.
Descrição e análise dos dados
Após aplicação do questionário as três instituições com modalidade EJA em Ponta
Grossa. Foram 8 alunos presentes no CEEBJA – UEPG, no CEEBJA Paschoal Salles Rosa e
na Escola Estadual Padre Arnaldo Jansen foram 7 questionários aplicados em cada uma
dessas 2 unidades, totalizando 14. Foram tabulados os dados no geral e não separados por
instituição
De todos os alunos(as) que responderam o questionário a maioria de estudantes
matriculados na disciplina de Sociologia são do sexo feminino. Os alunos estavam
concentrados em suas atividades e conforme planejamento da disciplina no momento que
estudaram sobe a sociedade e a Revolução Industrial tomaram contato com discussões sobre
tempo livre.
Para ser um aluno de EJA ensino médio tem que ter completado 18 anos, e não há
limites para idades mais avançadas. A partir do questionário aplicado levantou-se uma
diversidade em relação à idade presentes na escola naquele momento.
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Quanto à idade levantou-se 25% entre 22 e 26 e 25% entre 36 e 46.
Figura 1- Idade
Fonte: Elaborado pela autora, 2012.
Considerando que a maioria 60% é do sexo feminino a profissão que mais apareceu foi
ser do lar, executar atividades em casa, não estar trabalhando fora no momento. Estão
estudando para conseguir um espaço no mercado de trabalho. Conforme podemos observar na
pergunta aberta sobre por que voltou a estudar, a fazer EJA.
Figura 2 - Profissão
Fonte: Elaborado pela autora, 2012.
Em relação à pergunta aberta sobre “Por que procurou a Educação de Jovens e
Adultos (EJA)?”, as respostas foram: “para ter mais chance no mercado”, “para terminar o 2º
grau”, “muito atraso nos estudos e me sinto no dever da rápida conclusão do ensino médio”,
“para ter uma oportunidade de trabalho e pessoal, para que possa ter um salário melhor e
condição de vida mais tranquila para minha família”, “para poder concluir o ensino médio e
poder fazer um curso superior”, “por causa da idade e de meus horários”, “porque não tive a
oportunidade de terminar meu estudo ainda adolescente”, “para compensar o erro de ter
deixado os estudos quando adolescente e agora concluir o ensino médio”, “para concluir os
estudos e ingressar no mercado de trabalho”.
Conforme levantamento do depoimento do profissional pedreiro, o mesmo menciona
que buscou a EJA para: “poder adquirir conhecimento e crescer profissionalmente, no futuro
eu penso em fazer mais cursos e cursar em uma faculdade”. A aluna que assinalou a profissão
do lar mencionou: “porque as oportunidades para as pessoas que pararam de estudar por
motivos aos quais não pode continuar. Eu voltei porque me fez muita falta eu gosto e quero
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fazer magistério para poder aprender fazer algo que eu possa passar para meus futuros
alunos”.
Quanto ao hábito de acordar destacamos que 45% acordam entre 6h e 7h, pois
precisam trabalhar.
Figura 3 - Hábito/Horário de acordar
Fonte: Elaborado pela autora, 2012.
Figura 4 – Hábito/Horário de dormir
Fonte: Elaborado pela autora, 2012.
Os participantes da pesquisa costumam dormir entre 22h e 23h totalizando um
percentual de 50%.
Em relação à pergunta “quanto tempo você dorme em média?”, a maioria mencionou
dormir 8h por média, só teve um aluno que mencionou dormir em média 4h por dia.
Em relação à pergunta sobre o entendimento de Qualidade de vida os alunos deveriam
enumerar de 1 ao 4 por ordem do que eles fazem no dia a dia enquanto Qualidade de vida.
As perguntas eram: ( ) me alimentar bem ( ) fazer caminhada ( ) praticar esporte ( ) ir
à igreja ( ) tomar remédios ( ) dormir bem ( ) estudar.
As ordens foram às seguintes: 4 alunos declararam que qualidade de vida é se
alimentar bem, seguindo de dormir bem, 2 mencionaram que ir à igreja é qualidade de vida, e
dois mencionaram que tomar remédios é qualidade de vida. Um aluno respondeu que estudar
é qualidade de vida, ficando caracterizado praticar esportes e fazer caminhada como última
opção.
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Respondendo a questão o que é lazer para você destaca-se que a maioria dos alunos
que responderam o questionário mencionou que lazer é conversar com amigos e jogar futebol.
Porém percebemos em menor escala a presença do shopping como espaço de lazer e
até mesmo a escola considerada como espaço de lazer.
Figura 5 - O que é lazer para você.
Fonte: Elaborado pela autora, 2012.
Os alunos (as) consideram que jogar futebol (22%) e conversar com amigos (22%) é
lazer, seguidos de ir à escola e a igreja com 17%.
Figura 6 - O que costuma fazer em seu tempo livre?
Fonte: Elaborado pela autora, 2012.
30% costumam em seu tempo livre conversar com os amigos, e 20% caracterizado
como outros apareceu na descrição que usam de seu tempo livre para ver TV ou visitar
familiares.
Considerando a pergunta sobre atividade cultural procurada pelos alunos destacamos
que 65% não procuram nenhuma atividade cultural, os 10% que aparecem na pesquisa
participam de grupo de teatro e grupo de jovens ligado à igreja.
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Figura 7 - Prática alguma atividade cultural?
Fonte: Elaborado pela autora, 2012.
Esta análise foi muito interessante por apresentar 65% que não realizam nenhuma
atividade cultural. Aparecendo apenas 10% para as categorias grupo de dança, grupo de
jovens e teatro.
Em relação às atividades realizadas em casa a pesquisa mostra que a maioria costuma
escutar música (25%) e também executam tarefas domésticas (25%), seguido de 15% que
estudam em casa e 5% que jogam videogame. Mesmo estando na era digital apenas 1 aluno
respondeu que no seu tempo livre em casa costuma usar a internet.
Quanto aos espaços para lazer foi bem dividido a opinião dos participantes, 50%
mencionando não ser necessário espaços apropriados para o lazer, pois consideram que
qualquer espaço poderia ser praticado lazer desde que haja tempo livre.
Figura 8 - Lugares apropriados para prática de lazer
Fonte: Elaborado pela autora, 2012.
O gráfico 08 apresenta 85% respondendo que se tivesse lugar apropiado para o lazer
próximo de sua casa faria atividadades para preencher seu tempo.
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Figura 9 - Você considera seu trabalho cansativo
Fonte: Elaborado pela autora, 2012.
A maioria dos pesquisados 70% não consideram que o trabalho atrapalha suas
atividades de lazer, pois não é cansativo.
E se o poder público construísse espaços apropriados de lazer na localidade de sua
residência 95% faria alguma atividade.
Figura 10 - Se o poder público construísse espaços físicos de lazer na sua localidade! Você faria?
Fonte: Elaborado pela autora, 2012.
Figura 11 - Espaços que o poder público poderia investir
Fonte: Elaborado pela autora, 2012.
Após tabulação dos dados verificou-se que 40% preferem investimento do setor
público em academias ao ar livre, porém que tivesse alguém responsável para orientar sobre
as atividades que poderiam ser realizadas para melhorar sua qualidade de vida. Temos na
sequência 25% da solicitação de praças poliesportivas para que a comunidade pudesse
escolher o esporte que mais lhe agrada.
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Figura 12 - Considera que a prática de lazer poderá melhorar sua qualidade de vida?
Fonte: Elaborado pela autora, 2012.
Apenas 1 participante considerou que a prática de lazer não melhoria sua qualidade de
vida.
Considerações finais
A categoria sociológica da cotidianidade tem muito a contribuir para os estudos do
lazer. O cotidiano escolar é um espaço privilegiado da análise sociológica das transformações
dos conflitos dos anseios.
Por isso destacamos a importância da disciplina de Sociologia para Educação de
Jovens e Adultos (EJA) a qual contribui com as discussões sobre tempo livre, concepção de
lazer e o que leva o sujeito a melhorar sua qualidade de vida.
O estilo de vivência do lazer passivo ou ocioso, puramente vinculado ao não desfrute,
à inatividade, e não apenas voltado para a opção do descanso em si, tem associado, entre
outros pressupostos, especialmente, ao despreparo social para usufruir, adequadamente, esse
tempo disponível, em função da primazia que já há muito tempo, tem se dado ao trabalho ao
longo do desenvolvimento da história social humana.
O trabalho ainda é o sustentáculo da sociedade, no entanto o ser humano cada vez
mais busca espaços apropriados de lazer para amenizar os efeitos negativos que envolvem o
cotidiano como a rotina e o estresse.
O lazer dos participantes revela aspectos da cultura local, as atividades culturais
demonstram ser restritas, tanto em diversificação de tipos de atividade, quanto em sua
frequência de realização. Ressaltando-se conversar com amigos em seu tempo livre uma das
preferências. Escutar música em casa também ocupa lugar de destaque nas atividades de lazer
realizadas em casa.
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Ao que se refere às políticas de lazer, muito pouco se faz no sentido de buscar
melhorias para os cidadãos de periferia, os participantes requerem uma articulação contínua
entre os diversos atores sociais.
Após descrição dos dados percebe-se que os alunos da EJA em sua maioria sexo
feminino consideram que o lazer está atrelado a qualidade de vida.
Respondendo a problemática inicial sobre o entendimento dos participantes em relação
ao conceito de lazer e qualidade de vida, percebe-se que a disciplina de Sociologia com suas
discussões foi um aporte fundamental para o entendimento sobre lazer.
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