a temÁtica “origem da vida” em algumas ediÇÕes de...
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ISSN 2176-1396
A TEMÁTICA “ORIGEM DA VIDA” EM ALGUMAS EDIÇÕES DE UM
LIVRO DIDÁTICO: UMA VIAGEM NO TEMPO
Aline Borges Rodovalho1- UFU
Sara Hissae Hiraiwa2 - UFU
Ariadine Cristine de Almeida 3- UFU
Viviane Rodrigues Alves de Moraes 4 - UFU
Grupo de Trabalho – Didática: Teorias, Metodologias e Práticas
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
O livro didático é um importante instrumento na educação, por se constituir em um poderoso
mecanismo de seleção e organização curricular e de método de ensino. O presente trabalho
analisou o conteúdo, os recursos visuais e as atividades propostas nos capítulos referentes à
Origem da Vida do livro didático “Biologia”, nas edições de 1993, 2002 e 2010, dos autores
Cezar e Sezar. Esta temática foi escolhida por ser apontada como um desafio para os alunos,
uma vez que para a compreensão das teorias, estes deverão ter noções de tempo e espaço,
além de imaginar o ambiente primitivo da terra, compreendendo as reações que iniciaram os
processos que deram origem à vida. Reconhecendo que o livro didático é um instrumento
amplamente utilizado pelos professores, pensamos que, em decorrência das alterações
políticas, econômicas, culturais e até mesmo de novas descobertas científicas, este recurso
poderia também ter passado por mudanças. Por isso, neste estudo, a pesquisa exploratória, de
cunho bibliográfico, consistiu na investigação comparativa entre as três edições anteriormente
citadas, considerando o momento sócio histórico em que cada livro foi produzido. Para isso,
utilizamos os parâmetros de avaliação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD),
publicado pelo Ministério da Educação. Constatamos, de uma forma geral, que no decorrer de
quase duas décadas, as três edições mantiveram uma consistência epistemológica no que diz
respeito à apresentação do conteúdo e das atividades, visto que, teve pouca inserção de
conteúdo, no entanto, as imagens tiveram melhorias, devido à evolução dos recursos
tecnológicos utilizados nessa ferramenta de ensino.
1 Graduada em Ciências Biológicas pela UFU. Aluna do Curso de Especialização em Coordenação Pedagógica
da UFU. Professora da Educação Básica da Prefeitura Municipal de Uberlândia-MG. E-mail:
[email protected] 2 Mestranda em Biologia Celular Estrutural e Aplicadas na Universidade Federal de Uberlândia. Email:
[email protected] 3 Doutora em Zoologia pela UNESP. Professora Adjunta do Instituto de Biologia da Universidade Federal de
Uberlândia. Email: [email protected] 4 Doutora em Educação em Ciências e Matemática pela USP. Professora Adjunta do Instituto de Biologia da
Universidade Federal de Uberlândia. Email: [email protected].
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Palavras chave: Livro didático. Origem da vida. Ensino de Ciências.
Introdução
É indiscutível a que o livro didático ocupa um lugar importante no cenário
educacional, por se constituírem um poderoso mecanismo de seleção e organização curricular
e de métodos de ensino. Esta importância é confirmada por diversos fatores, tais como o
debate em torno de sua função social relativa à democratização de saberes de diferentes
campos de conhecimento, pela polêmica acerca do seu papel como estruturador da atividade
docente, pelos interesses econômicos em torno da sua produção e comercialização, e ainda
pelos investimentos públicos em programas de avaliação (SELLES; FERREIRA, 2004).
Nessa linha, Spiassi (2008) salienta que o livro didático pode assumir diferentes
funções, dependendo das condições, do lugar e do momento em que é produzido e utilizado
nas diferentes situações escolares. Por ser um objeto de "múltiplas facetas", o livro didático é
pesquisado enquanto produto cultural; como mercadoria ligada ao mundo editorial, dentro da
lógica de mercado capitalista; como suporte de conhecimentos e de métodos de ensino das
diversas disciplinas e matérias escolares; e, ainda, como veículo de valores, ideológicos ou
culturais.
[...] estudos indicam que o livro didático configura-se como um auxílio essencial.
Pois, como instrumento de controle curricular, o livro didático pode orientar o
conteúdo a ser ministrado, sua sequência e as atividades de aprendizagem e
avaliação, possibilitando ao professor mediar as informações ali contidas de forma mais segura e sistemática. (SPIASSI, 2008, p.47).
Situando historicamente o livro didático, temos que sua Legislação foi criada em 1938
(BRASIL, 1938) e nesse período o livro já era considerado uma ferramenta da educação
política e ideológica. Mas, o mecanismo jurídico que o implementou legalmente foi o decreto
9154/85 com a criação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), no qual em seu
artigo 2º estabeleceu-se a avaliação rotineira dos mesmos (NUÑEZ et al., 2003, p.1). Em
1994, o MEC publicou o documento Definição de Critérios para Avaliação dos Livros
Didáticos. Os critérios estabelecidos pela equipe de Ciências foram organizados em quatro
grupos (BRASIL, 1994): Descritores da estrutura, descritores das concepções de natureza,
descritores das atividades e descritores do livro do professor.
De acordo com Krasilchik (2000, p.86), as mudanças ocorridas em nossa sociedade,
sejam elas políticas, econômicas, sociais ou culturais afetam direta e/ou indiretamente a
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elaboração do conteúdo tratado nos livros didáticos, bem como o ensino nas escolas.
Tomando como marco inicial os últimos 60 anos, durante os quais a Ciência e a Tecnologia
foram reconhecidas como essenciais no desenvolvimento econômico, cultural e social, o
ensino das Ciências em todos os níveis foi também crescendo de importância, sendo objeto de
inúmeros movimentos de transformação e servindo como modelo para algumas tentativas das
reformas educacionais.
A autora destaca que materiais didáticos específicos apareceram durante a “guerra
fria”, quando os Estados Unidos no intuito de vencer a batalha espacial, fez investimentos em
recursos humanos e financeiros, para produzir os primeiros projetos de ensino de Física,
Química, Biologia e Matemática para o ensino médio. A justificativa desse empreendimento
baseava-se na ideia de que a formação de uma elite que garantisse a hegemonia norte-
americana na conquista do espaço dependia, em boa parte, de uma escola secundária na qual
os cursos das Ciências identificassem e incentivassem jovens talentos a seguir carreiras
científicas. Esse período foi marcante e crucial na história do ensino de Ciências, e influencia
até hoje as tendências curriculares das várias disciplinas, tanto no ensino médio como no
ensino fundamental, com repercussões significativas nos livros didáticos (KRASILCHIK,
2000, p.85).
Nas últimas décadas, Bittencourt (2004) aponta que as pesquisas sobre livros
didáticos, no Brasil e no exterior, passaram por uma evolução no sentido de compreender este
artefato cultural em sua complexidade. Especificamente no campo da Educação em Ciências,
o livro didático, como objeto de investigação, tem permitido variadas abordagens com a
problematização de questões que vão desde as leituras e critérios para escolha do livro por
professores de Ciências, passando por críticas acerca das visões de Ciência veiculadas pelos
livros didáticos, até reflexões sobre usos, práticas de escolha e representações do livro nos
currículos e no ideário de professores, entre outras (BITTENCOURT, 2004, p.471).
Destacamos que neste estudo, a temática origem da vida, que está presente na grade
curricular dos ensinos fundamental, médio e superior. Estudos mostram que a complexidade
deste conteúdo resulta em dificuldades, tanto de ensino para os professores, como de
aprendizagem para os alunos (NICOLINI; FALCÃO; FARIAS, 2010). Os autores ressaltam
que as causas apontadas para tais dificuldades são as lacunas nas hipóteses explicativas da
ciência sobre os fenômenos a respeito da origem da vida na Terra, a diversidade de teorias que
envolvem esse tema, além de ser um conteúdo de difícil visualização, pois apresenta
informações que não estão fundamentadas em nosso cotidiano. Além disso, é preciso que o
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professor esteja preparado para elucidar questões sobre investigações científicas e a teorização
dos experimentos realizados, bem como saber lidar com as questões de ordem religiosa e
cultural que esta temática envolve (VIEYRA; SOUZA BARROS, 2000). Assim, traçamos
uma linha do tempo para o conteúdo Origem da Vida contido nas edições de 1993, 2002 e
2010 do livro de Biologia de César e Sezar. Escolhemos essas edições devido ao fato de
apresentarem significativos intervalos de tempo entre um e outro, além de serem acessíveis
devido à sua disponibilidade no Laboratório de Ensino (LEN) da Universidade Federal de
Uberlândia. Portanto, no presente trabalho analisamos especificamente se ocorreram
alterações no conteúdo, nas imagens e atividades referentes aos capítulos que tratam sobre o
tema Origem da Vida nas edições anteriormente mencionadas.
Metodologia
Esta investigação se caracteriza como uma análise documental, por meio da
perspectiva qualitativa, que teve como objetivo identificar e analisar cronologicamente os
conteúdos apresentados em edições diferentes de livros didáticos da coleção “Biologia” dos
autores César e Cezar referentes à “Origem da vida na Terra”. De acordo com Lüdke e André
(1986), a análise documental pode constituir-se numa técnica valiosa de abordagem
qualitativa, seja complementando as informações obtidas por outras técnicas, seja desvelando
aspectos novos de um tema ou problema.
A pesquisa foi desenvolvida no período de janeiro a abril de 2013, por meio da análise
dos capítulos de livros didáticos da coleção “Biologia” dos autores Cesar e Sezar, sendo que
nossa escolha baseou-se no fato desta coleção ser adotada por várias escolas de Ensino Médio
de nosso município. Para traçarmos uma linha do tempo utilizamos três edições de anos
distintos, 1993, 2002 e 2010.
Como critérios para a análise (Quadro 1), utilizamos os parâmetros de avaliação do
PNLD 2012, levando em consideração os seguintes tópicos:
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Quadro 1: Critérios de análise
Quanto ao conteúdo: Quanto aos recursos visuais: Quanto às atividades
propostas
Adequação à série Qualidade das ilustrações (nitidez, cor)
Propõe questões ao final de cada
capítulo/ tema?
Clareza do texto Grau de relação com as informações
contidas no texto
As questões têm enfoque
multidisciplinar?
Nível de atualização do texto Veracidade da informação contida na
ilustração
Propõe atividades em grupo e/
ou projetos para trabalho do
tema exposto?
Grau de coerência entre as
informações apresentadas
Grau de inovação
Indica fontes complementares
de informação? Estimula a utilização de novas tecnologias
como a internet
Fonte: PNLD (2012)
Definidos os parâmetros de análise, o trabalho passou para a segunda etapa com:
• Leitura criteriosa das três edições seguidas de comparação entre as mesmas,
buscando identificar as mudanças relacionadas às categorias citadas acima, levando em
consideração o momento sócio histórico do livro e as descobertas científicas ao longo dos
anos.
• Elaboração de um quadro explicativo contendo informações das três edições quanto à
retirada ou implementação do conteúdo ao longo do capítulo.
Resultados e discussão
Conteúdo
O conteúdo “Origem da Vida” é considerado multidisciplinar, pois há a necessidade
de noções de geografia, química, física e biologia para compreendê-lo. Esse conteúdo é um
desafio para alunos de ensino fundamental, pois para a compreensão das teorias, o aluno
deverá ter noções de tempo e espaço, além de imaginar o ambiente primitivo da terra e
entender as reações que iniciaram o processo para a formação dos primeiros indivíduos
(NICOLINI; FALCÃO; FARIAS, 2010).
Com a análise dos livros, conseguimos notar que houve uma evolução no pensamento
científico. Na edição de 1993, os autores apresentaram o conteúdo dando atenção às
experiências e aos processos relacionados à teoria, deixando o texto mais rico em
informações, porém pensamos que o excesso de informações muitas vezes dificulta o
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entendimento da matéria como um todo. Pois, a quantidade de informações acerca dos
experimentos é muito detalhada, provavelmente com a intenção de que o leitor consiga
compreender porque o cientista fez cada passo do experimento e qual foi seu o resultado.
Entretanto, pensamos que este aprofundamento excessivo, de base cartesiana, dificulta a
contextualização e o estabelecimento de uma aprendizagem significativa para o aluno.
Segundo Santomé (1998), os alunos frequentemente têm dificuldades de aprendizagem
geradas por um currículo disciplinar, fragmentado, que não possibilita uma visão global sobre
o assunto tratado.
Este aspecto, também foi observado nas explicações sobre a formação dos oceanos,
nos experimentos de Oparin, Miller e Fox (ZAIA; ZAIA, 2008).
Nas edições de 2002 e 2010, os detalhes como o motivo de se realizar o experimento,
as condições da época e os materiais utilizados não são expostos de forma clara, apenas
descrevem quais foram os resultados dos experimentos.
Na edição de 1993, o capítulo inicia com o tópico “A ideia de geração espontânea”, o
que nas outras edições tornaram-se texto complementar, disponível no final do capítulo. Neste
contexto, percebe-se uma mudança de visão epistemológica, pois em 1993 a explicação da
geração espontânea possuía tal importância que a situava no início do capítulo, isso talvez
seja possível devido à relevância que esta teoria tinha na época em que o livro foi editado.
Nas outras edições, o capítulo inicia com o tópico “A história da vida” em 2002 e “Vida fora
da Terra” em 2010 e, colocando a geração espontânea num quadro apenas para curiosidade.
Em nossa opinião, essa teoria deve ser lembrada e contextualizada, pois ela faz parte da
história da evolução do conhecimento científico acerca da origem da terra e que por muito
tempo foi aceita.
Os livros de 1993 e 2010 trazem informações sobre pesquisadores dos anos entre 1745
e 1770, Needham e Spallanzani, falando sobre as primeiras experiências acerca da geração
espontânea, somente depois desses dois pesquisadores em 1860 que Oparin conseguiu mostrar
que essa hipótese não era verdadeira. Essas informações são valiosas para que se possa
entender a dinâmica dessas teorias. Curiosamente, na edição de 2002 não há essas
informações, isso pode ser explicado pela valorização da história da Ciência no momento
atual, pois segundo Henry (1998), no livro Revolução Científica e as origens da Ciência
Moderna, é possível analisar o pano de fundo da questão na tentativa de reconstruir o passado.
Como descrito na introdução, há a necessidade de um mediador para elucidar questões
da investigação científica, como as definições de hipóteses, objetivos, experimentação e
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resultados. Daí, a importância de uma formação docente que envolva a história e a filosofia da
Ciência, para construir com os fios da explicação história uma malha significativa de eventos
que leve o aluno a compreender o porquê da hipótese da geração espontânea ter perdido
relevância, com a demonstração de Pasteur.
Textos complementares
Os textos complementares aparecem nas duas últimas edições (2002 e 2010) e vêm
ressaltando informações adicionais ou curiosidades que não encontram espaço na edição de
1993.
Em um texto complementar na edição de 2002, relacionado às bactérias autotróficas e
a possível vida em Marte, o título está confuso “Bactérias que comem pedras e vida em
Marte” apresentando uma ambiguidade na frase. Ao ler a frase rapidamente, o aluno pode ter
duas interpretações: a primeira que existem bactérias que comem pedras e há vida em Marte,
e a segunda que existe bactérias que comem pedras e comem a vida em Marte. Entretanto, a
maior parte dos textos complementares de 2002 não apresentam títulos, há apenas uma caixa
de texto com o assunto. Em 2010, os textos complementares ganham títulos, direcionando o
aluno ao conteúdo de forma mais rápida e consequentemente facilitando a leitura e possível
compreensão daquilo que se irá ler.
Em 1993, havia um pequeno trecho do artigo “A origem da vida” de George Wald,
porém o consideramos inadequado para alunos do ensino médio, pois os termos utilizados não
condizem com a realidade vivenciada nas escolas. O autor usou argumentos confusos para
defender sua ideia. Isso é evidente quando ele cita: “[...] pelo número de casos abrangidos por
uma vida humana, ou, quando muito, pela história humana conhecida” (CÉSAR; SEZAR,
1993, p. 222). No trecho: [...] o ponto importante está no fato de a origem da vida pertencer à
categoria dos fenômenos do ‘pelo menos uma vez’ ”(CÉSAR; SEZAR,1993, p. 218) e
também no trecho: “[...] um intervalo de tempo suficientemente longo permitirá quase com
certeza que ele aconteça pelo menos uma vez” (CÉSAR; SEZAR,1993, p. 224).
Mudanças estruturais do conteúdo
Comparando o conteúdo de 2002 e 2010 observamos pequenas alterações. Ao longo
do texto do livro de 2010, os autores grifaram certas palavras (Figura 1) que apenas apareciam
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na edição de 2002, o que pode significar que queriam intencionalmente destacá-las chamando
a atenção do aluno para as palavras-chaves daquele tópico.
Figura 1 – Trecho do conteúdo mostrando o realce de algumas palavras no texto na edição de 2010. Palavras
não grifadas, edição 2002.
Fonte: César e Sezar (2002, p.304) e César e Sezar (2010, p.307).
Em alguns tópicos, o que era texto principal do conteúdo em 1993, em 2002 virou
texto complementar, o que pode ser um indicativo da mudança de visão dos autores sobre o
que era relevante em 1993, e que, em 2002, não passava de curiosidade. Entretanto,
percebemos o caminho inverso da edição de 2002, na qual determinado texto era
complementar, para 2010, o qual passou a ser inserido no conteúdo geral daquele capítulo
(TABELA 2).
No livro de 1993, não apresentava o tópico “Ideias Recentes – Oparin rediscutido”, já
que se tratava de um artigo mais recente, e que aparece na edição de 2002, porém para 2010,
não houve alterações significativas nesse tópico. Os subtópicos incluídos nas edições de 2002
e 2010 foram: “As condições primitivas foram outras”, argila ou rochas quentes?”, “como
apareceram os genes.”, “Células ou genes: quem veio primeiro?” e “Código genético: a
grande dúvida”.
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Tabela 2 – Relação entre conteúdo e texto de aprofundamento nas três edições (----- = não existe; X= existe)
Tema/ano 1993 2002 2010
Bactérias autotróficas Conteúdo ----- ----- X
Texto de
aprofundamento
----- X -----
Hipótese de Robertson Conteúdo X ----- X
Texto de
aprofundamento
----- X -----
Argumentos a favor e
contra da teoria
endossimbiótica
Conteúdo ----- ----- -----
Texto de
aprofundamento
----- X -----
Coacervado Conteúdo X ----- -----
Texto de
aprofundamento
----- X X
Evolução Conteúdo X ----- -----
Texto de
aprofundamento
----- X X
Fonte: As autoras
Comparando as edições de 1993 e a de 2002, há um grande acréscimo de informações,
evidentemente pelo avanço das pesquisas nessa área de conhecimento, podemos citar, por
exemplo, a explicação sobre a formação dos rios, o conhecimento dos coacervados, a teoria
endossimbiótica e o conhecimento de bactérias autotróficas. Já de 2002 para 2010, há pouco
acréscimo de conteúdo, sendo que, o mais significativo foi o desdobramento da descoberta de
bactérias autotróficas, já citada em 2002, porém não explicada com detalhes. Percebemos
aqui, uma modificação importante, de cunho epistemológico por parte dos autores, pois esta
descoberta fez com que as teorias fossem analisadas mais a fundo, mas, em 2002 a teoria mais
aceita para os primeiros seres vivos era de que eles fossem heterotróficos, no entanto, a
descoberta dessa bactéria autotrófica, em 1977, fez com que essa teoria fosse questionada.
Pensamos que a inserção de uma hipótese nos livros didáticos pode causar uma grande
repercussão, nesse sentido, podemos citar também os experimentos de Oparin, causando
alterações no modo de ensinar e explicar o conteúdo, fazendo conceitos antigos serem
repensados e analisados.
Em 2010, notamos que há a retirada de parte do conteúdo, que indicavam opiniões dos
autores, evidentes na edição de 2002, como por exemplo, “Assim, essa crença, embora
respeitável, tem mais que ver com fé do que com ciência” (CÉSAR; SEZAR, 2002, p. 301)e a
retirada de pontos de exclamação no meio do texto “[...] além de outras moléculas orgânicas,
continha também alguns aminoácidos, as matérias-primas das proteínas!” (CÉSAR; SEZAR,
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2002, p. 300) e “[...] além de não haver cientista que disponha de tempo tão longo para
realizar essa experiência!” (CÉSAR; SEZAR, 2002, p. 301). Isto poderia ser um indicativo de
voltar a uma imparcialidade e neutralidade do texto científico, que objetivaria apenas a
informação, sem a pretensão de formar alguma opinião.
Recursos Visuais
Quanto às imagens, levamos em consideração o ano que o livro foi editado e os
recursos tecnológicos da época. A diferença da época de publicação entre o livro mais antigo
e o mais novo é de 17 anos, portanto consideramos aspectos que influenciaram as mudanças,
tais como estudos sobre ensino/aprendizagem e recursos didáticos, os avanços tecnológicos na
área de recursos visuais, o incentivo das editoras para produzirem livros com mais qualidade,
ilustrações mais chamativas e autoexplicativas, financiamento para a produção dos livros,
demanda de livros na área de ciências, entre outros.
No livro de 1993, as imagens eram desenhos com poucas cores, porém para o contexto
da época, as imagens estão nítidas e contextualizadas com as informações do livro.
Analisando a primeira imagem do conteúdo de Origem da vida, no livro de 2010 a
imagem mostra a terra primitiva, porém com um vulcão em erupção, fumaça e meteoritos
caindo na terra. Já no livro de 2002, a imagem da terra primitiva é um ecossistema muito rico,
com cores vivas e marcantes, que pensamos ter mais potencial para aguçar a criatividade e a
imaginação do aluno (Figura 2).
Figura 2 – Diferença das imagens de abertura do capítulo “Origem da Vida” nas edições de 2002 e 2010,
respectivamente.
Fonte: César e Sezar (2002, p.302) e César e Sezar (2010, p. 301).
Notamos que nas edições de 2002 e 2010, algumas imagens não se alteraram, como
por exemplo, a figura da linha do tempo. Nessa imagem notamos a existe uma falta de
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inovação do livro por parte dos autores, pois após 8 anos, pensamos que o livro poderia
acrescentar ou melhorar suas imagens e ilustrações. A imagem da evolução da célula está
presente nas três edições analisadas, isso pode ter relação também com o fato dessa imagem
ser autoexplicativa e de fácil compreensão, porém o fato das edições atuais terem em mãos
uma ferramenta inexistente na edição mais antiga, os recursos tecnológicos, indicam a falta de
inovação no livro (Figura 3).
Figura 3 – A e B imagens das edições de 2002 e 2010, respectivamente, mostrando a linha do tempo, não há
modificações significativas. C, D e E imagens das 3 edições, 1993, 2002 e 2010 respectivamente, mostrando a
imagem idêntica da formação das células, já que esta ideia ainda prevalece.
Fonte: César e Sezar (1993, p.226) e César e Sezar (2002, p.302) e César e Sezar (2010, p. 301).
Nos três livros não há a inserção de informações relacionadas à veracidade da
ilustração, como por exemplo, escalas, cores fantasias, imagem real ou fictícia e
referência/autor da imagem, salvo algumas exceções na edição de 2010.
Entretanto, com esta análise conseguimos ver a evolução dos recursos tecnológicos
utilizados nos livros didáticos, como nas imagens da formação dos oceanos (Figura 4), em
1993 a imagem está em preto e branco, na edição de 2002, é a mesma imagem, porém em
versão colorida, já no livro de 2010 a mesma imagem foi inovada, pois já se trata de um
desenho computadorizado.
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Figura 4 – Imagens das 3 edições em ordem cronológica, mostrando a inovação das imagens em relação aos
avanços tecnológicos de cada época.
Fonte: César e Sezar (1993, p.218) e César e Sezar (2002, p.301) e César e Sezar (2010, p. 308).
No livro de 2010, percebemos um avanço nos recursos visuais com a inserção de
imagens reais no capítulo, porém algumas imagens não estão nítidas (FIGURA 5),
apresentam-se escuras, dificultando a interpretação da mesma, e em uma delas não há a
informação do local de onde a imagem foi retirada. Essas fotos estão relacionadas ao tema das
bactérias autotróficas, que não estavam presentes nas edições anteriores, porém pelos recursos
do ano, pensamos que as imagens poderiam ser mais nítidas e chamativas.
Figura 5 – Imagens reais não nítidas e sem legenda objetiva, edição 2010.
Fonte: César e Sezar (2010, p. 302). César e Sezar (2010, p. 301).
No esquema sobre a hipótese de Robertson combinada com a teoria endossimbiótica
notamos alterações entre as edições de 2002 e 2010. Na figura da edição de 2002, a da direita,
o esquema está autoexplicativo e de fácil interpretação, já na edição de 2010, à esquerda, há
um detalhe que pode induzir o aluno ao erro. Pois, num olhar mais desatento, na ilustração
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indicando a célula procarionte (anucleada), pode-se confundir o que está sendo indicado como
DNA como um possível núcleo (FIGURA 6).
Figura 6 – Hipótese de Robertson combinada com a teoria endossimbiótica. Esquema de 2010 induz o erro
devido ao DNA se encontrar no centro da célula, enquanto que o esquema de 2002 apresenta-se de forma clara e
explicativa.
Fonte: (A) César e Sezar (2010, p.316) e (B) César e Sezar (2002, p.308).
Atividades propostas
As três edições apresentam questões no final do capítulo, sendo estas questões de
vestibulares e questões discursivas. Nas duas últimas edições há mais questões ao longo do
capítulo, com questões de interpretação e reflexão dos textos complementares, o que pode ser
um indicativo de avanços de cunho epistemológico no que diz respeito ao entendimento da
aprendizagem do aluno e sua relação com atividades problematizadoras e instigantes de
raciocínio e reflexão, entretanto não há proposição de atividades em grupo, nem de aulas
experimentais. Sendo que, a edição de 2002 e 2010, as questões apresentam-se similares,
modificando apenas aspectos da linguagem. Por exemplo, nos livros de 2002 e 2010,
encontramos uma questão de vestibular idêntica (FIGURA 8). Acreditamos que essa questão
possa ser clássica de vestibulares, haja vista que ela pode contemplar todo o conteúdo
estudado, o que não impediria uma inovação em sua formulação.
A B
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Figura 8 – Questões idênticas nas edições de 2002 e 2010
Fonte: César e Sezar (2002, p. 309) e César e Sezar (2010, p.317).
Somente no livro de 2010, há a inserção de um tópico que indica fontes
complementares para acessar na internet, estimulando a pesquisa em outros recursos a não ser
o livro didático. Pensamos que, esse tópico foi inserido em 2010 devido às inovações
tecnológicas e o fácil acesso dos estudantes às informações na internet, o que nas demais
edições não era possível ou tão difundido.
A escola deve integrar as tecnologias de informação e comunicação, pois elas já estão
presentes e influentes em todas as esferas da vida social. Por isso vemos no mercado editorial
um grande interesse na mudança da produção dos livros didáticos, com conteúdos cada vez
mais digitais e multimídia (BELLONI, 2005; MORAES, 2012).
Considerações Finais
Ao realizar este estudo, percebemos a importância da linguagem na temática abordada,
pois notamos que os autores procuraram manter este conteúdo neutro no livro, certamente
para que o aluno tivesse o livre arbítrio de escolher o que ele julga ser a explicação mais
coerente com sua crença.
Com a análise da edição de 1993, nos surpreendemos com a quantidade de
informações que o livro traz sobre os experimentos realizados para provar uma hipótese, com
dados ricos dos resultados encontrados, o que poderia proporcionar aos alunos mais dados
para discussão em sala de aula, o que não é bem evidenciado nas edições mais recentes. Ainda
neste livro, percebemos que houve um grande acréscimo de conteúdo, devido às descobertas
científicas ao longo das últimas décadas, porém muitos parágrafos das edições de 2002 e 2010
estão semelhantes, não mostrando inovação do conteúdo ao longo dos últimos 8 anos.
Levando em conta que nas duas últimas décadas houve grandes mudanças nas tecnologias
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relacionadas à produção de livros, justificam-se as diferenças da edição de 1993 para as
demais. Entretanto, o mesmo não acontece em relação às edições de 2002 comparadas com a
de 2010.
As imagens e ilustrações estão de acordo com a época em que cada livro foi publicado,
no entanto algumas ilustrações apresentadas pela edição mais antiga, 1993, permanecem nos
demais livros, com a diferença da utilização dos recursos computadorizados Outro problema
detectado nas três edições foi a falta de informação referente à veracidade das ilustrações
(sem identificação necessária para melhor entendimento do aluno), salvo algumas exceções
contidas na edição de 2010.
Constatou-se que o sistema de distribuição de atividades nas edições analisadas mudou
muito pouco, pois a maioria das atividades propostas encontra-se no final do capítulo
seguindo a mesma ordem, primeiro as questões discursivas referentes ao conteúdo e em
seguida as questões fechadas de vestibulares passados. Esta organização pode ser uma
evidência da visão epistemológica dos autores com relação à aprendizagem do aluno, que
avança um pouco nas edições mais recentes, principalmente a de 2010, na qual foram
colocadas mais atividades relacionadas aos textos complementares, o que poderia
proporcionar ao aluno uma oportunidade de reflexão e raciocínio sobre o tema.
Acreditamos que este estudo pretendeu chamar a atenção para a elaboração de nossos
livros didáticos ao longo do tempo. Pensamos que outras análises serão necessárias para nos
proporcionar uma visão mais crítica e argumentos mais satisfatórios sobre a evolução do livro
didático, principalmente nesta temática específica.
REFERÊNCIAS
BELLONI, Maria Luiza. O que é mídia-educação. 2. ed. Campinas: Autores associados,
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