educacao ambiental -secretaria curitiba

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  • 8/4/2019 Educacao Ambiental -Secretaria Curitiba

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    EDUCAO AMBIENTAL

    CURITIBASEED/PR

    2008

    SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAO DO PARAN

    SUPERINTENDNCIA DA EDUCAO

    DIRETORIA DE POLTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

    COORDENAO DE DESAFIOS EDUCACIONAIS CONTEMPORNEOS

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    Re-impresso 2008

    SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAO DO PARAN

    Superintendncia da Educao

    Diretoria de Polticas e Programas EducacionaisAvenida gua Verde, 2140 Vila IsabelTelefone (XX41) 3340-1597Endereo eletrnico: [email protected] Site http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.brCEP80240-900 CURITIBA-PARAN-BRASIL

    DISTRIBUIO GRATUITAIMPRESSO NO BRASIL

    Srie Cadernos Temticos dos Desaos Educacionais Contemporneos, v. 3

    Depsito legal na Fundao Biblioteca Nacional, conforme Lei n 10.994, de 14 de dezembro de 2004.

    permitida a reproduo total ou parcial desta obra, desde que seja citada a fonte.

    Capa, Projeto Grco e DiagramaoEvandro Pissaia - MEMVAVMEM

    Reviso OrtogrcaSilvana Seffrin - MEMVAVMEM

    Paran. Secretaria de Estado da Educao. Superintendncia de Educao. Departamento da Diversidade.Coordenao de Desaos Educacionais Contemporneos.

    Educao ambiental / Secretaria de Estado da Educao. Superintendncia de Educao. Departamento da

    Diversidade. Coordenao de Desaos Educacionais Contemporneos. - Curitiba : SEED PR., 2008. - 112 p.- (Cadernos Temticos da Diversidade, 1).

    ISBN 978-85-85380-76-2

    1. Educao ambiental, 2. Meio ambiente. 3. Sustentabilidade. 4. Ecologia. 5. Legislao ambiental. 6. Agenda21. 7. Clima. 8. Poluio. 9. Conferncias ambientais. I. Paran. Secretaria de Estado da Educao. Superintendnciade Educao. Departamento da Diversidade. II. Coordenao de Desaos Educacionais Contemporneos. III.Ttulo. IV. Srie.

    CDU 591.5CDD 590

    CATALOGAO NA FONTE CEDITEC-SEED-PR

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    Governador do Estado do ParanRoberto Requio

    Secretria de Estado da EducaoYvelise Freitas de Souza Arco-Verde

    Diretor Geral da Secretaria de Estado da EducaoRicardo Fernandes Bezerra

    Superintendente da EducaoAlayde Maria Pinto Digiovanni

    Diretora de Polticas e Programas EducacionaisFtima Ikiko Yokohama

    Coordenador dos Desaos Educacionais ContemporneosSandro Cavalieri Savoia

    Equipe Tcnico-Pedaggica de Educao AmbientalKatia M. de Jesus

    Paula M. de CarvalhoCristiane J. Weyand

    Luciane Cortiano Liotti

    Assessor PedaggicoFrancisco de Assis Mendona

    Material elaborado e Organizado no ano de 2007Roberto Requio Governador do Estado do Paran

    Maurcio Requio de Mello e Silva Secretrio de Estado da EducaoRicardo Fernandes Diretor Geral

    Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde Superintende da Educao

    Ftima Ikiko Yokohama Departamento da DiversidadeSandro Cavalieri Savoia Coordenador dos Desaos Educacionais Contemporneos

    Katia M. de Jesus, Paula M. de Carvalho, Cristiane J. Weyand, Luciane Cortiano Liotti Equipe Tcnico-Pedaggica de Educao Ambiental

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    Ao nos aproximarmos das nossas escolas, observamos as mltiplas determinaes,sua cultura, as inuncias do ambiente e as diversas interferncias do processo educa-cional nelas prprias e no seu entorno, trazendo o seu signicado, as oportunidadescriadas, os processos nelas vividos e as experincias ali realizadas.

    O desao maior sem dvida, o conhecimento em si, razo do nosso trabalho efuno essencial da escola. No entanto, constantemente vai alm, demonstrando-nosdemandas novas, exigindo um posicionamento em relao aos novos desaos que seopem para a educao e que devem ser trabalhados neste contexto, tanto para osprossionais da escola, como para os educandos, seus pais e a comunidade, em todaa complexidade de cada um desses segmentos. Tais desaos trazem as inquietudeshumanas, as relaes sociais, econmicas, polticas e culturais, levando-nos a avaliar osenfrentamentos que devemos fazer. Implica, imediatamente, a organizao de nossastarefas e o projeto poltico-pedaggico que aponta a opo pela direo educacionaldada pelo coletivo escolar, nossos planos, mtodos e saberes a serem enfrentados, parahoje, sobre o ontem e com a intensidade do nosso prximo passo.

    A reativao constante nos impele a pedir mais: mais estudos, pesquisas, deba-

    tes, novos conhecimentos, e aquilo que nos abastece e reconhecemos como valoroso,inserimos e disponibilizamos nessa escola que queremos fazer viva replanejamos ereorganizamos nossas prticas. Os princpios, sem dvida, diretrizes que nos guiam soos mesmos, os quais entendemos como perenes. A escola , na nossa concepo, porprincpio, o local do conhecimento produzido, reelaborado, sociabilizado dialeticamente,sempre na busca de novas snteses, construdas na e com a realidade.

    A tarefa de rever a prtica educativa nos impulsiona para que voltemos aoslivros, analisemos os trabalhos desenvolvidos por nossos professores, adicionemos,co-participemos, contribuamos, faamos a releitura das realidades envolvidas e cami-nharemos par ao futuro.

    Este Caderno um pouco de tudo isso e parte de uma coleo que pretendedar apoio a diferentes propostas emanadas das escolas. uma produo que auxilia nasrespostas dadas aos desaos educacionais contemporneos que pairam sobre nossa aoescolar e precisam ser analisados, bem como reetidos para as necessrias intervenese superaes no contexto educacional.

    Yvelise Freitas de Souza Arco-VerdeSECRETRIA DA EDUCAO

    PALAVRA DA SECRETRIADA EDUCAO

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    A EDUCAO AMBIENTAL NA REDEESTADUAL DE ENSINO

    Dando seqncia s aes da Secretaria de Educao dedicadas EducaoAmbiental, apresentamos o primeiro volume deste Caderno. sabido de todosque atualmente as questes ambientais no mais podem ser tratadas como acess-rias, visto que os padres e modelos de desenvolvimento esto resultando, entreoutros problemas, em desequilbrios climticos e no esgotamento dos recursosnaturais no renovveis, alguns deles, como a gua doce, indispensveis vida noPlaneta. Ante essa congurao, indispensvel que sujeitos e instituies sociais,entre elas as escolas, conheam mais profundamente e debatam a problemtica,e planetria, questo do meio ambiente, indo alm da enumerao dos efeitosda chamada crise ambiental, ou seja, relacionando-a com suas causas, em suamaioria identicadas aos fatores de natureza econmica. Entendemos que esteesforo deve ser feito por todos e todas com um objetivo muito claro: a elabora-o e, conseqente prtica, de alternativas, quer sejam elas individuais, coletivas,regionais ou globais, visando enfrentar ao desao de manter o desenvolvimentocom sustentabilidade e, sobretudo, realiz-lo de forma a superar os dramas dadesigualdade e da explorao humanas.

    Entre as peculiaridades do material, destacamos a preocupao em discutir,de modo cientco e, ao mesmo tempo, acessvel, aspectos importantes relacio-nados ao atual quadro da Educao Ambiental no Brasil. Nos textos, a comuni-dade escolar ter acesso a um painel geral sobre a questo ambiental e sobre aaplicao pedaggica dos temas ligados ao meio ambiente e sustentabilidade.O ttulo contm, desde os desaos scioambientais contemporneos, passandopor uma srie de registros e reexes sobre a situao legal e institucional acercada matria, at os principais marcos legais da Educao Ambiental , acompa-nhados de reexes sobre as bases para a aplicao pedaggica e sugestes detratamento pedaggico e formas de insero desses contedos no currculo daEducao Bsica.

    Mediante a leitura e estudo do conjunto de textos, os coletivos escolares po-dero atualizar seus conhecimentos acerca do tema, alm de encontrar subsdiospara a melhor forma de abord-lo no conjunto dos contedos curriculares.

    Alayde Maria Pinto DigiovanniSUPERINTENDENTE DA EDUCAO

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    APRESENTAO DO CADERNO

    com satisfao que apresentamos o Caderno de Educao Ambiental,por meio da Coordenao de Desaos Educacionais Contemporneos.

    O material tem dupla nalidade: de um lado, busca dar subsdios tericosque ampliem a bagagem de conhecimento dos educadores, direcionando-os a uma

    discusso consistente sobre a Educao Ambiental. Aponta-se para a necessidadede se formular aes permanentes, integrando a matria ao currculo, ao cotidianoescolar e ao Projeto Poltico-Pedaggico. Por outro lado, pretende despertar areexo acerca das questes ambientais que se apresentam, compreendendo aabrangncia das tomadas de deciso da sociedade em geral nesse processo.

    Portanto, o Caderno de Educao Ambiental foi elaborado para os pros-sionais da Educao Bsica da Rede Pblica Estadual de Ensino e para os demaisinteressados no s na transformao da realidade em que esto inseridos, mastambm na mediao da aprendizagem e na introduo de prticas comprome-tidas com os interesses da comunidade fruto de mudanas de perspectivas emrelao ao mundo e aos problemas que esto postos.

    Ftima Ikiko YokohamaDIRETORA DE POLTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS

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    SUMRIO

    INTRODUO ........................................................................................................11

    CENRIO DA EDUCAO AMBIENTAL NA ATUALIDADEProcesso de institucionalizao da Educao Ambiental .......................................... 15Anglica Gis Muller Morales

    Mudanas climticas aquecimento global e sade: uma perspectiva a partir datropicalidade .......................................................................................................................31Francisco de Assis Mendona

    EDUCAO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADEA Agenda 21 e o desao do sculo .......................................................................... 47Schirle Margareth dos Reis Branco

    Por uma cidade sustentvel .................................................................................... 55Antonio Manuel Nunes Castelnou

    Sociedade e meio ambiente: algumas reflexes ..................................................... 63Mrcia Maria Fernandes de Oliveira

    LEGISLAO AMBIENTALLegislao aplicada ao meio ambiente como aporte Educao Ambiental e Agenda 21 escolar ............................................................. 71Luiz Otvio Cabral

    Insero da Educao Ambiental nos currculos escolares: o que diz a lei ........ 87Cristiane Janete Weyand

    Katia Mara de JesusLuciane Cortiano Liotti

    Paula Maria de Carvalho

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    Lei n 9.795, de 27 de abril de 1999 .........................................................................89

    Decreto N 4.281, de 25 de junho de 2002 ..............................................................97

    SUGESTES DE FILMES, LIVROS E STIOSFilmes ..................................................................................................................... 103Livros ..................................................................................................................... 109Stios........................................................................................................................ 117

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    INTRODUO

    Caros/as Educadores/as,

    Atualmente as questes ambientais e a sua crise se impem perante a sociedade. Um dos instru-mentos apresentados como meio para minimizar, mitigar esta problemtica a Educao Ambiental.No que concerne a esse assunto, necessrio estimular um processo de reexo e tomada de consci-ncia dos aspectos sociais que envolvem as questes ambientais emergentes, para que se desenvolvauma maior compreenso crtica por parte de educadores e educandos. Assim, almeja-se incentivar acomunidade escolar a adotar uma posio mais consciente e participativa na utilizao e conservaodos recursos naturais, contribuindo para a diminuio contnua das disparidades sociais e do consu-mismo desenfreado.

    No entanto, o desao que se coloca de formular uma Educao Ambiental EA - que sejacrtica e inovadora. Dessa forma, proposta uma discusso acerca das questes ambientais locais emundiais, numa perspectiva crtica, scio-histrica, poltica, econmica e pedaggica com o intuito defornecer subsdios terico-metodolgicos referentes a esta demanda.

    Trabalhar sob esta perspectiva signica atuar pedagogicamente por meio do conhecimento sis-tematizado, em busca de um sujeito histrico capaz de pensar e agir criticamente na sociedade, com

    vistas emancipao e transformao social.

    Tendo como pressuposto incentivar a reexo acerca das questes ambientais e colaborar coma formao pedaggica do professor foi produzido este material, que est organizado em trs partes.

    Desse modo, na primeira parte deste material apresentado um breve histrico da EA, a m deque se possa compreender, temporal e espacialmente, o envolvimento da sociedade mundial com estedebate, apresentando algumas articulaes polticas e econmicas presentes nos contextos regionais elocais e suas conse-qncias. Traz tambm um texto relativo s mudanas climticas globais, tema deconsidervel relevncia nos dias atuais, e que consta deste caderno na perspectiva de trazer esclareci-mentos a educadores e educandos acerca da problemtica do aquecimento global atual. No se tratade um texto diretamente relacionado EA, mas seu contedo perpassa por preocupaes de grandeinteressante ao desenvolvimento da mesma.

    Na segunda parte a sustentabilidade abordada, enfocando tambm questes relacionadas Agenda 21 Escolar e ao ambiente urbano.

    Por m, reproduzida a regulamentao que orienta o trabalho desta SEED e a legislao aplicadaao Meio Ambiente, por ser necessrio o conhecimento dos princpios legais que regem as atividadesde EA, tanto em termos formais, como informais.

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    Acreditamos que este Caderno e a busca constante por novos conhecimentos cientcos auxiliarovoc, prossional da educao, a trabalhar a EA de maneira mais segura e com uma perspectiva pedaggicaadequada nossa realidade escolar.

    Boa Leitura!

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    CENRIO DA EDUCAO AMBIENTALNA ATUALIDADE

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    PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAODA EDUCAO AMBIENTAL

    Anglica Gis Muller Morales (UEPG)[email protected]

    No s por suas relaes e por suas respostas o homem criador de cultura, ele tambm fazedorda histria. Na medida em que o ser humano cria e decide, as pocas vo se formando e reformando(FREIRE, 2001, p. 38).

    1 Docente da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universi-dade Federal do Paran (UFPR). Mestra em Educao Ambiental pela Fundao Universidade Federal de Rio Grande (FURG).Licenciada em Cincias Biolgicas pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).

    RESumo

    A atual crise ambiental, com seus respectivos problemas, marcada pela degradaosocioambiental e fruto da fragilidade dos valores que orientam a relao ser humano enatureza, se intensica ao longo do tempo e de forma cada vez mais acentuada, resultandona misria, no consumismo e na excluso social e econmica. Esta deteriorao geracrises, entre elas, a do conhecimento. Nesse contexto, a educao vista como umdos processos do desenvolvimento humano, responsvel pelas estruturas das polticasde conhecimento, pela mudana de mentalidades, bem como pela formao de novasidentidades sociais. Portanto, nessa construo e compreenso que a educao ambiental

    parece surgir, como mediadora problemtica socioambiental e caracterizada como umfenmeno social complexo. Assim, este artigo teve o objetivo de apresentar o processoformativo da educao ambiental, pautado na sua trajetria mundial e nacional, paracompreender a sua constituio e institucionalizao, bem como as bases de pensamentoque permeiam a sua narrativa.

    PALAVRAS-CHAVE: Educao Ambiental; Processo Formativo; Institucionalizao.

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    diante desse formar e se reformar que a sociedade, inserida em contextos histricos e culturaisde sua poca, cria sentidos que reetem sua maneira de conceber o mundo. Por sua vez, o processoformativo da educao ambiental, comportando uma historicidade, tambm formado e reformadodentro de um processo histrico de dilogos e disputas diante da manifestao da humanidade e, porconseqncia, de produo de pensamentos signicativos sobre a relao da sociedade e da natureza.

    A relao do ser humano com o ambiente sempre teve sua essncia na transformao da naturezamediante a dominao. Entretanto, como se pode constatar, esse domnio do ambiente, hoje no temmais sentido. O ser humano no est mais no centro do universo, mas sim na periferia e, para tanto, preciso desvencilhar desse modo de pensar e de agir, prprio de uma educao tradicional, na buscade uma alternativa pautada num processo reexivo e crtico, com carter poltico.

    Assim, cabe reconhecer que foi diante do repensar a relao sociedade e natureza, e da necessidadede interveno poltica e cultural, que as primeiras iniciativas de educao ambiental se desencadearam,como componente educativo essencial na tentativa de deagrar ao consciente, crtica e transformadoradas posturas em relao ao modo de conceber o ambiente, o mundo e seus semelhantes, assinalandopossvel articulao entre as cincias naturais e as cincias humanas e sociais.

    Perante essa articulao, Mauro Grn (1996, p.21) arma a

    necessidade de se adicionar o predicado ambiental educao. A educao ambiental surge hoje comouma necessidade quase inquestionvel pelo simples fato de que no existe ambiente na educao moderna.Tudo se passa como se fssemos educados e educssemos fora do ambiente.2

    No mesmo sentido de Grn, Paula Brugger tambm questiona a incorporao ambiental que

    pressupe [...] a aceitao de que a educao no tem sido ambiental (1994, p. 34). Assim, a educaotradicional totalmente no ambiental, e a educao ambiental parece surgir como um complementoou alternativa para pensar esta educao, que tem carter acumulativo e concepo esttica doconhecimento.

    Nota-se que a conexo com conceitos e pressupostos tericos da cincia ecolgica semprefoi o eixo norteador da educao ambiental, apresentando desde a origem, uma forte matriz noambientalismo3. Soma-se a isso proposio de Carvalho (2001, p. 46) de que a educao ambiental sesitua na conuncia dos campos ambiental e educativo, porm no emergiu das teorias educacionais,o que implica estar mais relacionada [...] aos movimentos ecolgicos e ao debate ambientalista doque propriamente ao campo educacional e teoria da educao. Assim, da tradio ambiental, dasheranas e perspectivas culturais e da fora criadora que animam o campo da educao ambiental que

    provm a maior parte dos valores ticos e polticos.

    2 Mauro Grn (1996) ainda complementa ressaltando que a educao deveria ser capaz de reorientar as premissas do agir hu-mano em sua relao com o meio ambiente (p.19) e dessa forma, [...] a educao, ento, deveria responder a esse quadro deperplexidade educando os cidados para o meio ambiente. Assim, rmou-se hoje uma forte convico no meio acadmico-cientco e poltico de que precisamos de uma educao ambiental (p.20).

    3 Movimento mundial ligado s manifestaes e s organizaes de vontade coletiva, que embora apresentem interesses diferen-ciados, despontam com o protestar, o reivindicar mudanas e participao na tomada de decises.

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    Como se observa, nesse debate dos movimentos ambientalistas que surge a educao ambiental,no intuito de (re)discutir a relao natureza e sociedade prevalecida na sociedade contempornea e asimplicaes dessas concepes com aquilo que se interpreta e se entende por educao ambiental, nabusca de um novo saber ambiental4.

    No campo da educao incorpora-se o adjetivo ambiental, assinalando educao para o meioambiente; e a educao ambiental parece surgir como resposta problemtica ambiental, 5 que buscaformar educadores que levem em conta a diversidade de olhares sobre o mundo, na tentativa de reintegrarsociedade, natureza, aceitao, reconhecimento e valorizao da diversidade cultural.

    No entanto, prenuncia-se, desde j, que a educao ambiental no deve ser idealizada comopanacia salvacionista para resoluo de problemas, mas, sim, como uma via de acesso para aconstruo de uma sociedade mais crtica e reexiva. Por isso, concorda-se com Sato, quando arma

    que educao que no seja ambiental no pode ser chamada de educao. Para essa autora, a educaoambiental :

    um substantivo composto, indissocivel em sua essncia ontoepistemolgica, com dimenses no somentenaturais, mas igualmente culturais. Valorizar a identidade da educao ambiental , portanto, reconhecer queas duas dimenses so intrinsecamente conectadas e interdependentes, tornando os campos epistmicosfortalecidos pelas lutas ambientalistas e movimentos sociais (2001, p.4).

    Embora a verdadeira educao seja ambiental por excelncia, uma vez que o planeta no asomatria de indivduos isolados em redomas, a educao comeou a se tornar ambiental a partir de publicaes,conferncias, encontros, simpsios, reunies e movimentos realizados ao longo do processo histrico, construindo aspremissas iniciais que fundamentam a educao ambiental e que so amplamente utilizadas pelos

    prossionais educadores ambientais.A lgica histrica, aqui assumida, tem o propsito de compreender o processo formativo da

    educao ambiental, a m de buscar ocorrncias contextuais e conceituais. Anal, a trajetria mundialinuencia a institucionalizao da educao ambiental no contexto brasileiro, bem como delimita suasconquistas, impasses e a diversidade de discursos e prticas que demarcam diferentes tendncias econcepes dos educadores ambientais.

    4 Aqui, concorda-se com Enrique Leff (2001), que utiliza a expresso saber ambiental para a emergncia da construo de um

    novo saber que ressignica as concepes do progresso atual para conformar nova racionalidade ambiental, por meio do campoda produo do conhecimento, da poltica e das prticas educativa. Sob esse prisma, o saber ambiental, para Leff, problema-tiza o conhecimento fragmentado em disciplinas e a administrao setorial do desenvolvimento, para construir um campo deconhecimentos tericos e prticos orientado para a rearticulao das relaes sociedade-natureza (2001, p.145).

    5 Aqui, refere-se aos problemas ambientais que foram enfatizados no centro da discusso da crise ambiental. So eles: poluio,modicaes nos ecossistemas, lixo produzido pelo crescimento populacional, entre outros, todos com enfoque nos recursosnaturais, demonstrando vertente conservacionista e preservacionista, decorrentes das tendncias dos movimentos ambientalis-tas. Como se nota, no sculo XX, a natureza passa a ser considerada como problema e, por conseguinte, a educao ambientalemerge na perspectiva de mediar esse problema.

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    Trajetria mundial da educao ambientalA trajetria da educao ambiental em termos mundiais e cronolgicos remonta esforos que

    desdobram desde a dcada de 1960. Nesse momento, o mundo iniciava uma reexo sobre o futuro doplaneta e da civilizao, na medida em que, os prejuzos causados pela emisso das bombas atmicas emHiroshima e Nagasaki (1945) durante a Segunda Guerra Mundial, entre outros acidentes, acarretaramdebates, manifestaes e muita polmica diante da temtica ambiental.

    Frente a essas manifestaes, destaca-se o movimento ambientalista, que representa todas asformas de comportamento coletivo que, tanto em seus discursos como em sua prtica visam corrigirformas destrutivas do relacionamento entre o homem e o ambiente natural (CASTELLS, 1999, p.143).

    Tal movimento foi assinalado pela exigncia de mudanas das condies sociais, humanas, ambientais

    e ticas, embasadas na crtica ao prprio modo de vida das sociedades industriais modernas.A essa crtica surgida no interior do prprio sistema capitalista, pode-se citar a publicao do

    livro Silenciosa Primavera, da biloga e jornalista Rachel Carson (1962). O livro alertou quanto ao usoexcessivo de agrotxicos, que se alastrou pelo mundo pela eccia no extermnio das populaes deinsetos, assinalando o controle da natureza pelo ser humano. Em seu livro, possvel identicar situaesalarmantes frente relao antropocntrica entre ser humano e natureza, como esta em que

    A rapidez da mudana e a velocidade com que novas situaes se criam acompanham o ritmo impetuosoe insensato do Homem, ao invs de acompanhar o passo deliberado da Natureza. A radiao, agora, no mais apenas a radiao, de plano secundrio, das rochas; nem mais o bombardeio dos raios csmicos,e menos ainda os raios ultravioletas do Sol, que j existiam antes que houvesse qualquer forma de vidasobre a Terra. A radiao, agora, criao no-natural dos malfazeres do Homem com o tomo. As

    substncias qumicas, em relao s quais a vida solicitada a efetuar os seus ajustamentos, j no somais meramente o clcio, o silcio e o cobre, juntamente com todo o resto dos minerais lavados pelaschuvas, e por elas levados para longe das rochas, a caminho dos rios e dos mares; tais substncias so ascriaes sintticas do esprito inventivo do Homem; so substncias compostas nos laboratrios, e queno tm as contrapartes na Natureza. (...) Entre tais substncias, guram muitas que so utilizadas naguerra do Homem contra a Natureza (CARSON, 1962, p.16-17).

    Diante dessas denncias, Rachel Carson enfatiza em sua obra, que todo ser humano est sujeitoao contato com perigosos produtos qumicos durante toda sua vida6, e as suas fbulas marcam essecontrole da natureza pelo ser humano.

    Pode-se citar, outrossim, o Clube de Romaque, organizado por Peccei, em 1968, reuniu vrioscientistas para discutir os problemas ambientais e o futuro da humanidade, resultando no relatrio Os

    limites do Crescimento,que denunciou a busca pelo crescimento a qualquer custo, alertando a sociedade danecessidade de maior prudncia nos estilos de desenvolvimento, sob os prismas da produo industrial,produo alimentar, poluio e consumo dos recursos no-renovveis.

    6 Aqui, remete-se ao conceito de risco de Ulrich Beck, como conseqncia da sociedade moderna, tendo como pano de fundo oindustrialismo e a tecnologia. Como ele prprio aborda, este conceito designa uma fase no desenvolvimento da sociedademoderna em que os riscos sociais, polticos, econmicos e individuais tendem cada vez mais a escapar das instituies para ocontrole e a proteo da sociedade industrial (1997, p.15). Dessa forma, o autor traz que os riscos so universais, sejam elesnaturais, humanos como tecnolgicos, podendo estar relacionados a perigos visveis (como catstrofes, mudana climtica)como invisveis e incertos (aqueles que esto por vir e que no tem como se prevenir).

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    A esse contexto, somam-se a oportunidade de reexes e uma srie de manifestaes e protestos

    que questionavam os valores da sociedade capitalista e os problemas de ordem social, ambiental epoltica, impulsionando o fortalecimento do movimento ambientalista, bem como o desencadeamentode diversas discusses em eventos nas diferentes reas de conhecimento.

    Historicamente, a expresso educao ambiental (environmental education) foi utilizada pelaprimeira vez no evento de educao The Keele Conference on Education and the Countryside, promovido pelaUniversidade de Keele, na Gr-Bretanha, no ano de 19657. No evento em questo, a concepo deeducao ambiental estava interligada aos princpios bsicos da ecologia e de conservao, revelandoindcios de confuso com o ensino de Ecologia.

    Em 1966, a Organizao das Naes Unidas (ONU) promove o Simpsio Internacional sobre Educaoem Matria de Conservao, na Sua, e logo aps criado um Conselho para Educao Ambiental, no anode 1968, reunindo mais de 50 organizaes voltada para temas de educao e meio ambiente. Comtais discusses ao entorno da temtica socioambiental, a educao ambiental comea a ser difundidano nal dos anos da dcada de 1960 e, fundada em 1969, na Inglaterra, a Sociedade para a Educao

    Ambientale lanado nos Estados Unidos o Jornal da Educao Ambiental.

    Em conseqncia dessa expanso, em 1970 acontece em Paris a Reunio Internacional sobre EducaoAmbiental nos Currculos Escolares, sendo resultado de um estudo sobre meio ambiente na escola, realizadopela Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO). No anoseguinte, ocorre no mesmo pas, a primeira reunio do Conselho Internacional de Coordenao doPrograma sobre o Homem e a Biosfera, que um programa mundial de carter cientco sobre as interaesentre ser humano e seu meio, analisando a necessidade constante de se conceber e aprimorar um planointernacional de uso racional e conservao dos recursos naturais da biosfera, bem como desenvolveruma educao para o ambiente.

    As discusses em torno da educao ambiental ganharam espao, principalmente em 1972, naConferncia das Naes Unidas sobre o Ambiente Humano, em Estocolmo, Sucia. A grande discusso deEstocolmo cou em torno da crise atual, pois se abordou o crescimento populacional, os modelos dedesenvolvimento e a necessidade de se tomar medidas preventivas e efetivas de controle dos fatoresque causam danos ambientais, sobretudo a poluio ocasionada pelas grandes indstrias8. Emcontrapartida, foi ressaltada a importncia de se trabalhar a conexo entre ambiente e educao, bemcomo a responsabilidade do ser humano em relao ao ambiente, solicitando a responsabilidade coletivae individual.

    7 Vale destacar que, segundo Caride (1991, p.47) e Disnger (1983, citado por SUREDA e COLOM, 1989, p.47), a expresso edu-cao ambiental foi cunhada por Thomas Pritchard, por ocasio da fundao da ento denominada Unio Internacional para aProteo da Natureza.

    8 Vale destacar que, nessa discusso, os representantes do governo brasileiro, surpreendentemente, pediram a poluio em trocado desenvolvimento, divergindo-se das discusses de reduo do crescimento industrial. E diante dessa posio, a opinio p-blica nacional e internacional interpretou que o Brasil prega o desenvolvimento econmico a qualquer custo e em algumasmanchetes de peridicos na Europa e EUA, diziam que os brasileiros querem a poluio (BRASIL, 1998a; DIAS, 1994). Estaatitude s arma e rearma a postura antropocntrica em que o ser humano continua sendo o centro de interesse e a naturezasubmetida explorao exacerbada para um possvel progresso, frente base ideolgica desenvolvimentista no momento.

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    A partir desse evento, a elaborao do Programa Internacional de Educao Ambiental (PIEA)cou a cargo da Organizao das Naes Unidas para a Educao, Cincia e Cultura (UNESCO) e doPrograma das Naes Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

    Desde ento, a educao ambiental passou a ser apreciada como campo da ao pedaggica,adquirindo relevncia e vigncia internacionais. Como resultado do evento, retomou-se a necessidadede nova tica ambiental9, capaz de promover a erradicao da pobreza, da fome, do analfabetismo, dapoluio, da explorao e da dominao humana. E, tambm foi tratada a educao interdisciplinar,na perspectiva de que a educao ambiental deveria contribuir na formao de um cidado conscientedo ambiente total. Perante essa perspectiva, a necessidade de cunhar um amplo programa de educaoambiental,

    enfoque interdisciplinar e com carter escolar e extra-escolar, que envolva todos os nveis de ensino ese dirija ao pblico em geral, ao jovem e ao adulto indistintamente, com vistas a ensinar-lhes as medidas

    simples que, dentro de suas possibilidades, podem tomar para ordenar e controlar seu meio (Recomendao96, citado por MININI-MEDINA, 1994, p. 28).

    Percebe-se que a educao ambiental tratada como um dos enfrentamentos da crise ambiental eassinalada como uma ttica para resolver os problemas ambientais sendo vista como uma possvel resposta crise ambiental e um processo estratgico com o propsito de formar valores, habilidades e capacidadespara orientar uma transformao socioambiental (LEFF, 2001; GONZLEZ-GAUDIANO, 1997).

    Depois, em 1975, a UNESCO promoveu, em Belgrado, o Encontro Internacional sobre EducaoAmbiental, cujo resultado foi o documento Carta de Belgrado que traz uma nova tica mundial no qualfocaliza que a reforma dos processos e sistemas educacionais central para a constatao dessa novatica de desenvolvimento e ordem econmica mundial e que seja

    uma tica que promova atitudes e comportamentos para os indivduos e sociedades, que sejam consonantescom o lugar da humanidade dentro da biosfera; que reconhea e responda com sensibilidades s complexase dinmicas relaes entre a humanidade e a natureza, e entre os povos (CARTA DE BELGRADO,1975).

    De acordo com a Carta de Belgrado, a Educao Ambiental aparece como um dos elementos maiscrticos para que se possa combater rapidamente a crise ambiental do mundo. A educao ambientalsurge como uma resposta crise ambiental, sendo uma crise relacionada, sobretudo, exausto dosrecursos naturais, sendo pouco destacado o aspecto social nesse momento. E, talvez, por esse sentidode situar o ser humano para uma mudana face s dimenses da crise ambiental e os perigos dadegradao alarmada, a educao ambiental carrega algumas lacunas no seu plano epistemolgico, bemcomo discursos predominantemente naturalistas que se deve pela aproximao subordinada ao modelodas cincias naturais, onde o ecolgico-biolgico se impe a outros componentes do ambiental, comodenuncia Gonzlez-Gaudiano (1997, p. 59).

    9 Notica-se que, quanto ao conceito de tica aqui tratado, parte-se de discusso contempornea sobre tica ambiental e tica dasustentabilidade, rmado em encontro sobre tica e desenvolvimento em Bogot, Colmbia. Em nenhum momento, tem-se apretenso de entrar na tradio losca.

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    Em 1977, aconteceu em Tbilisi, (ex-URSS), a Primeira Conferncia Intergovernamental sobre EducaoAmbiental, como um dos eventos mais signicativos para legitimao e institucionalizao quefundamentou todo o processo da educao ambiental no mundo e no Brasil.

    Nessa conferncia foram determinados os objetivos e as estratgias pertinentes em mbitonacional e internacional que so subsdios para sua prpria legitimao at nos dias atuais. Postulou-se,que a educao ambiental elemento essencial para a educao global, orientada para a resoluo dosproblemas por meio da participao ativa dos educandos na educao formal e no-formal, em favordo bem-estar da comunidade humana. Acrescentou-se, tambm, aos princpios bsicos da educaoambiental, a importncia que dada s relaes natureza-sociedade que, posteriormente, na dcada de1980, deu origem vertente socioambiental da educao ambiental.

    Dentre as recomendaes, a Conferncia de Tbilisi sugeriu aos Estados-membros da ONU aimplementao, em suas polticas de educao, de medidas que incorporassem, ao contedo, diretrizese atividades da temtica ambiental, de modo a consolidar a formao ambiental; rearmou que omeio ambiente considerado em sua totalidade e o propsito da educao ambiental mostrar comclareza essas interdependncias entre as dimenses; declarou que a educao ambiental deve se dirigirao pblico em geral, desde crianas, adolescentes e adultos e em todos os nveis da educao formal,assim como as diversas atividades de educao no-formal.

    Essa conferncia tornou-se referncia por alguns avanos na discusso socioambiental, bemcomo no delineamento das polticas e diretrizes desse campo, sendo que passados mais de 28 anos, asnalidades e recomendaes da Educao Ambiental estabelecidas em Tbilisi continuam vigentes epersistentes (GONZLEZ-GAUDIANO, 1997, p.164-165).

    O Congresso Internacional de Educao e Formao Ambiental, ocorrido em Moscou, em 1987, dez anosaps Tbilisi, tornou-se importante por discutir a educao ambiental na formao dos prossionais,instigando e defendendo a formao de prossionais de nvel tcnico e universitrio.

    Diante das estratgias da Educao Ambiental e Formao Ambiental foram discutidos osseguintes tpicos: a) o acesso informao;b) a pesquisa e experimentao; c)programas educacionais e materiais deensino;d)formao de pessoal;e) educao tcnica e vocacional; f) educao e informao do pblico; g) educao universitria;h) formao de especialistas; ei) Cooperao Internacional e Regional.

    Como se destaca, a preocupao centrou-se em fomentar e reforar os objetivos de Tbilisi enovos mtodos capazes de tornar as pessoas mais preparadas para lidar com os desaos da problemticasocioambiental, dando maior nfase na necessidade de formao de recursos humanos numa perspectivado Desenvolvimento Sustentvel.

    Em 1992, ocorreu a Conferncia das Naes Unidas sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente, no Riode Janeiro, sendo esta de fundamental importncia para a educao ambiental brasileira, pois legoudocumentos importantes para a rea, entre os quais, a Agenda 21, que trata da educao no captulo

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    36 (Promoo do Ensino, da Conscientizao e do Treinamento); o Tratado das ONGs, que focalizaa educao ambiental no Tratado de Educao Ambiental para as Sociedades Sustentveis e ResponsabilidadeGlobal10e a Carta da Terraque serve de referncia valorativa para a maioria dos educadores ambientaisat hoje.

    Nessa conferncia, a base conceitual sobre as quais se concebeu a educao ambiental, em suasdimenses tericas e prticas, foi que:

    a educao ambiental se caracteriza por incorporar as dimenses scio-econmica, poltica, culturale histrica, no podendo basear-se em pautas rgidas e de aplicao universal, devendo considerar ascondies e estgio de cada pas, regio e comunidade sob uma perspectiva histrica. Assim sendo, aeducao ambiental deve permitir a compreenso da natureza complexa do meio ambiente e interpretara interdependncia entre os diversos elementos que conformam o ambiente, com vistas a utilizarracionalmente os recursos do meio na satisfao material e espiritual da sociedade no presente e futuro(COMISSO INTERMINISTERIAL PARA A PREPARAO DA CONFERNCIA RIO-92 citadapor DIAS, 1992, p. 27).

    Observa-se, portanto, que a educao ambiental, no contexto mundial, arma e rearma anecessidade de se considerar as diversas dimenses, tornando-se visvel a abordagem interdisciplinar esistmica que impera nesse novo saber ambiental.

    Por sua vez, ao analisar documentos decorrentes dos eventos em destaque no cenrio da educaoambiental mundial, perceptvel que o discurso da educao ambiental, com a sua institucionalizao,acompanha uma corrente conservadora. Dessa forma, a educao ambiental se apresenta dentro deum discurso supercial e ingnuo, que vem ao encontro do discurso dos segmentos dominantes ehegemnicos.

    Concordando com Guimares (2000), existe intencionalidade pelas classes dominantes em tornarhegemnica a viso da educao e, conseqentemente, fazer da educao ambiental um projeto positivopara todos que se conformam com o sistema neoliberal. Assim, se desenvolve a viso homognea sobrea educao ambiental, trazendo-a como resposta crise ambiental e como vnculo linear entre educaoe desenvolvimento.

    notvel que so mais privilegiadas as expectativas polticas e econmicas dos pases desenvolvidosdo que propriamente a prxis direcionada possvel mudana na relao ser humano, natureza e sociedade.

    Apresenta-se, nesse debate ambiental, um senso comum pouco reexivo e muito generalizado, compatvel,muitas vezes, com a economia do mercado.

    10 Tomando-nos como referncia o Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis e Responsabilidade Global, al-guns princpios so relevantes, pois se concebe a Educao Ambiental como:- um ato poltico, com base no pensamento crticoe inovador, fomentando a transformao social e a (re)construo da sociedade; - uma perspectiva holstica, relacionando o serhumano, a natureza e o universo de forma interdisciplinar;- um estmulo solidariedade, igualdade, e respeito atravs de estra-tgias democrticas e interao entre as culturas;- um (re)criar de novos estilos de vida, desenvolvendo uma conscincia ticae valorizando novas formas de conhecimento; entre outros (TRATADO, 1992). Estes princpios, de forma geral, so decor-rentes das discusses dos eventos que antecederam a Rio-92, porm so vistos com um valor peculiar, por destacar o objetivoda Educao Ambiental em contribuir para a construo de sociedades sustentveis, que foi onde o termo DesenvolvimentoSustentvel passou a ser mais explorado, bem como por ser fruto de um trabalho coletivo da sociedade civil e fortalecido porum movimento internacional da educao ambiental.

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    Dessa forma, esses documentos cunharam os primeiros pressupostos tericos da educaoambiental, todavia, foram elaborados em presena de tenso de negociao entre diferentes representantes(governamentais, no governamentais, instituies privadas, etc.) com interesses variados.

    Assim, so ntidos os diversos conitos entre os pases desenvolvidos e subdesenvolvidos, porno questionarem o problema dos nveis desiguais de desenvolvimento e a relao com as diversidadesculturais, sociais, econmicas, naturais e histricas de dominao existente entre os variados pases. Essastenses esto presentes, principalmente, na discusso da educao ambiental frente ao desenvolvimentosustentvel, contradizendo, muitas vezes, o prprio intuito da educao ambiental que no tem a pretensode nivelar as diferenas e, muito menos, as divergncias, pois leva em considerao toda a diversidade.

    Os documentos da ONU oferecem uma ampla lista de recomendaes, porm arraigada de leiturasupercial, de discurso identicado comoformalismo idealizado 11 e imperativo, e expressam redao camuadade conitos e interesses, muitas vezes, alheios s prprias dinmicas do campo educativo-ambiental(MEIRA, 2005).

    Nesses discursos ociais, as vises antropocntrica e naturalista ainda so predominantes, j queso percebidas em muitas das prticas e das atividades de educao ambiental. Isso porque, na maior partedos documentos respectivos aos eventos mundiais, as questes ambientais encontram-se restringidas problemtica da poluio da gua, do ar, bem como o exacerbado uso inadequado dos recursosno-renovveis12, sendo esses considerados problemas naturais e prioritrios que trazem riscos vidahumana.

    A constituio da educao ambiental em suas origens se encontra subordinada ao modelo dascincias da natureza, em que os componentes ecolgicos e biolgicos se impem a outros componentesdo ambiental, porque os discursos iniciais estiveram atrelados proteo da natureza, direcionando-secom maior freqncia contemplao da natureza, do que interao na natureza (LOUREIRO, 2006,p. 47; GONZALEZ-GAUDIANO, 1997, p. 59).

    Contudo, as concepes mudam de acordo com o processo de construo e reconstruo daeducao ambiental, j que esse um campo constante de expanso e reformulaes, transformando-se de acordo com a problematizao da prpria percepo de meio ambiente.

    Trajetria Nacional da Educao Ambiental

    Sob esses reexos do cenrio mundial, a educao ambiental, no Brasil ganha destaque no cenrio

    11 Expresso utilizada por Mello (2002) em seu trabalho de dissertao, no qual tece reexes e anlises sobre o formalismo naeducao ambiental frente aos documentos internacionais e nacionais. Como a autora evidencia, o formalismo idealizado naeducao ambiental consiste no carter ideal e fantasioso de recomendao ocial, que, muitas vezes, se encontra distante darealidade.

    12 Esta restrio representa ainda a reduo do ambiente, como conseqncia das cincias naturais, em que o embate da educaoambiental centrou-se inicialmente de forma predominante.

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    poltico com a dcada de 1970, com a manifestao do movimento ambientalista como oposios empresas multinacionais que se instalavam no territrio nacional, com o rtulo de promover odesenvolvimento.

    Com a crescente institucionalizao no cenrio das polticas pblicas na dcada de 1970, pode-se destacar a Lei Federal n 6.938/81, que estabelece a Poltica Nacional do Meio Ambiente. Nesseaporte legal, a educao ambiental situada como um dos componentes que contribui na soluo dosproblemas ambientais, sendo ofertada em todos os nveis de ensino (EA formal) e na comunidade (EAno-formal), consolidando a poltica ambiental do Pas.

    Em 1986, acontece em Braslia, o I Seminrio Universidade e Meio Ambiente13 que teve comoeixo central, a insero da temtica ambiental no ensino superior. Foi apresentado nesta ocasio, umdiagnstico sobre os cursos, chegando a constataes que a temtica ambiental estava sendo tratada,sobretudo no mbito da Biologia e da Ecologia. A respeito deste modo de pensar e de agir, a dimensoambiental foi conduzida por muitos professores como ensinamentos de ecologia, sendo destaque asdescries dos problemas ambientais vinculados s cincias naturais.

    Como respostas a estas primeiras fragilidades, o Parecer 266/87 aprovado pelo Conselho Federalde Educao prope uma abordagem interdisciplinar a partir do espao escolar, instigando a comunidadea tomar posicionamentos em relao aos fenmenos complexos do ambiente. Neste mesmo ano, aSecretaria de Meio Ambiente (SEMA), junto com a Universidade Federal de Braslia organiza o primeiroCurso de Especializao em Educao Ambiental, com intenes de ter uma perspectiva interdisciplinar,direcionada s instituies integradas ao Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e aos docentesuniversitrios (MININI-MEDINA, 2001).

    Em 1988, com a nova Constituio Federal, destaca-se no artigo 225, Captulo VI que correspondeao Meio Ambiente, inciso VI, as incumbncias do Poder Pblico de promover a Educao Ambientalem todos os nveis de ensino e a conscientizao pblica para a preservao do meio ambiente.Para o devido cumprimento destas primeiras exigncias constitucionais, foram implantados algunsempreendimentos e instrumentos legais nos mbitos federal, estadual e municipal.

    H a criao do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), em 1989, resultado da fusoda SEMA entre outras superintendncias, ressaltando em sua organizao a Diviso de Educao

    Ambiental; e do Fundo Nacional de Meio Ambiente (FNMA), designado obteno de recursos parasuporte a implementao de projetos relacionados ao ambiente. Neste mesmo ano, acontece o PrimeiroEncontro Nacional sobre Educao Ambiental no Ensino Formal, promovido pelo prprio IBAMAem Parceria com a Universidade Federal de Recife.

    13 Estes seminrios aconteceram tambm nos anos de 1987, 1988, 1990 e 1992, apresentando-se como discusses norteadoras: asbases epistemolgicas, conceituais e metodolgicas; a Universidade e a sociedade civil, sendo levantadas as primeiras propostasde Desenvolvimento Sustentvel e por ltimo a temtica centrou-se no Meio Ambiente, no Desenvolvimento e na Nova OrdemMundial.

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    Em 1991, a Portaria n 678 do MEC, estabelece que a Educao Ambiental deve estar contempladano currculo escolar, em todos os nveis de ensino. Com esta Portaria, comeam aparecer muitosgrupos de trabalho, encontros e cursos de Educao Ambiental, principalmente para a formao deprofessores (MININI-MEDINA, 1998), bem como a criao de Centros de Educao Ambiental(CEAs), reconhecido como espao de referncia, visando a formao em diversos nveis e modalidadesde ensino e tambm de implementao de prticas de educao ambiental junto s comunidades(BRASIL, 2005).

    Na esfera federal, no ano de 1992 criado o Ministrio de Meio Ambiente (MMA) e na estadualso criados os Ncleos Estaduais de Educao Ambiental (NEAs) do IBAMA; desenvolvendo atividadesde educao ambiental no mbito formal e no-formal, contribuindo na elaborao de diretrizes e deprioridades nos estados frente a Educao Ambiental.

    No caminhar do fortalecimento da educao ambiental no cenrio brasileiro, foram criadasas Redes de Educao Ambiental, no intuito de integrar e articular instituies e pessoas para queformem elos regionais e locais na difuso e na discusso da temtica, por meio de encontros, ocinase divulgao da informao ambiental.

    Assim, no II Frum Brasileiro de Educao Ambiental, em 1992, constituda a Rede Brasileirade Educao Ambiental (REBEA), que, aps a implantao no domnio nacional, cada estado tambmbuscou cunhar suas redes locais, como so os casos da Rede Paulista de Educao Ambiental (REPEA),da Rede Pantanal de Educao Ambiental (Rede Aguap), da Rede de Educao Ambiental da Regio Sul(REASul), da Rede de Educao Ambiental do Paran (REA-PR), da Rede Universitria de Programasde Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis (RUPEA), entre outras, que ganharam maisapoio no incio do sculo atual, que juntamente com as Organizaes No Governamentais (ONGs),exercem importante papel no processo de aprofundamento e expanso das aes de educao ambiental,impulsionando iniciativas governamentais.

    Em decorrncia dos compromissos assumidos na Conferncia Internacional da Rio-92 e daConstituio Federal de 1988, no ano de 1994, foi inspirado o Programa Nacional de Educao Ambiental(PRONEA), elaborado em conjunto com o Ministrio de Meio Ambiente (MMA) e o Ministrio deEducao e Cultura (MEC). O PRONEA caracterizou-se como um dos avanos signicativos nainstitucionalizao da educao ambiental no pas, na perspectiva de aprofundamento e sistematizao,bem como de nova viso da relao ser humano e natureza ao evidenciar a compreenso integrada domeio ambiente.

    O PRONEA anunciava trs componentes: a capacitao de gestores e educadores, o desenvolvimentode aes educativas e o desenvolvimento de instrumentos de metodologias contemplando os diversossetores da sociedade. Apresentava tambm sete linhas de ao: 1) educao ambiental no ensino formal,2) educao ambiental no processo de gesto, 3) realizao de campanhas especcas de educaoambiental, 4) cooperao com os meios de comunicao e comunicadores sociais, com nalidade deinstrumentalizar esses prossionais para a atuao ambiental, 5) articulao e integrao comunitria, 6)articulao intra e interinstitucional, com o intuito de fomentar o intercmbio no campo da educaoambiental e 7) criao de centros especializados em educao ambiental em todos os estados.

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    Portanto, vale destacar que esse programa, institudo em 1994, atualmente (re)visitado pelaDiretoria de Educao Ambiental do MMA e pela Coordenao Geral de Educao Ambiental doMEC, a m de aprimorar seus objetivos e estratgias de ao com enfoque mais participativo14.

    Em 1996, sancionada a Lei de Diretrizes e Bases da Educao (LDB), que evidencia a dimensoambiental na educao escolar, na amplitude dos processos formativos do cidado e na introduo denovos temas, considerando as inter-relaes decorrentes dos processos sociais, culturais e ambientais,como enunciados em alguns dos seus artigos.

    Em decorrncia dessa legislao, so aprovados em 1997, os Parmetros Curriculares Nacionais15(PCNs) pelo MEC, que deniram temas transversais, como: sade, tica, orientao sexual, pluralidadecultural e meio ambiente, a serem inseridos em todas as reas de conhecimento no ensino fundamental.Porm, esse documento acompanhou algumas crticas pelo modo que se pensou esta transversalidade,como tambm pela baixa operacionalizao no nosso sistema educativo.

    interessante ressaltar aqui que a terminologia transversalidade que os PCNs adotam tem aperspectiva de trabalho pautado na Interdisciplinaridade, com trabalhos de integrao das diferentes reasde conhecimento, cooperao e troca; trabalho aberto ao dilogo e ao planejamento que encaminhama elaborao de projetos interdisciplinares.

    De acordo com os PCNs, em se tratando da transversalidade e interdisciplinaridade,

    ambas apontam a complexidade do real e a necessidade de se considerar a teia de relaes entre osdiferentes e contraditrios aspectos. Mas diferem uma da outra, uma vez que a interdisciplinaridaderefere-se a uma abordagem epistemolgica dos objetos do conhecimento, enquanto a transversalidadediz respeito principalmente dimenso da didtica (BRASIL, 1998b, p. 30).

    Assim, em uma discusso conceitual, a interdisciplinaridade questiona os conhecimentosfragmentados, sendo estes, produtos de um pensamento cartesiano e reducionista, e a transversalidadeest relacionada a uma possibilidade de uma prtica educativa que relacione o aprender sobre a realidadena e da realidade.

    Ainda no ano de 1997, em comemorao aos cinco anos da Rio-92 e vinte anos de Tbilisi, acontecea Primeira Conferncia Nacional de Educao Ambiental em Braslia, no qual resultou a Declarao deBraslia, contendo recomendaes e aes relacionadas s seguintes temticas: a Educao Ambiental e

    14 Como exemplo desse processo de aperfeioamento, destaca-se a 3 edio do ProNEA (2005), sendo resultado do processo de

    debate aberto nos Fruns Brasileiros da Educao Ambiental. Nesta ltima verso, o eixo norteador do ProNEA est direciona-do perspectiva da sustentabilidade ambiental, assumindo as diretrizes da transversalidade e interdisciplinaridade, da descentra-lizao espacial e institucional, da sustentabilidade socioambiental, da democracia, da participao social, do aperfeioamento edo fortalecimento dos sistemas de ensino, meio ambiente e outros que apresentam novas interfaces com a educao ambiental.Dentre esses (re)direcionamentos, o Programa se traduz em cinco linhas de ao: 1) gesto e planejamento da educao ambien-tal, 2) formao de educadores e educadoras ambientais, 3) comunicao para a educao ambiental, 4) incluso da educaoambiental nas instituies de ensino e 5) monitoramento e avaliao de polticas, programas e projetos de educao ambiental(BRASIL, 2005).

    15 Vale retratar que esse documento inspirado no modelo educativo da Espanha.

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    as vertentes do Desenvolvimento Sustentvel; a Educao Ambiental formal, a Educao no processode Gesto Ambiental, a Educao Ambiental e as polticas pblicas e a Educao Ambiental, tica eformao da cidadania, persistindo neste documento a constatao de muitas carncias ainda no cenriobrasileiro (BRASIL, 1998a).

    Com a publicao da Poltica Nacional de Educao Ambiental, Lei n 9795/99, a educaoambiental, no Brasil, impulsionada ainda mais. So entendidos como educao ambiental os processospor meio dos quais o indivduo e a coletividade estabelecem valores sociais, conhecimentos, habilidades,atitudes e competncias voltadas preservao e conservao do meio ambiente, o que rearmaum carter interdisciplinar, sistmico e integrador (BRASIL, 1999). No entanto, apenas em 2002 h aregulamentao da Lei n 9795/99 e do rgo Gestor da Poltica Nacional de Educao Ambiental,que denem as bases para a sua execuo. Aqui, ca explcito que a educao ambiental ainda muitoinconsistente no ambiente poltico, dependendo dos interesses de cada representante poltico e partidrio

    vigente no mbito nacional.

    O Plano Nacional de Educao (PNE), lei n 10172/2001, rearma em seu artigo 28, que aeducao ambiental, tratada como tema transversal, dever ser desenvolvida como prtica integrada, oque refora um currculo integrado.

    Em 2003, com o atual governo16, inaugurada a Comisso Intersetorial de Educao Ambiental(CISEA) no MMA, com representaes de todas as secretarias atreladas ao MMA e com nalidade decriar espao para um processo coordenado de consultas e deliberaes, para facilitar a transversalidadeinterna das aes em educao ambiental desenvolvidas pelas secretarias e rgos vinculados. Dessa forma,instaura-se ambiente de sinergia, sendo visvel o dilogo constante entre as universidades, as redes deeducao ambiental, o MMA e o MEC, reconhecido como importante passo para a execuo das aesem educao ambiental no governo federal e institucional.

    A participao dos jovens tambm merece destaque nesse processo, pois o seu nmero aumentasignicativamente, como possvel constatar na Conferncia Nacional do Meio Ambiente, em suas

    verses adulto e infanto-juvenil.

    Em 2004, realizado o V Frum Brasileiro de Educao Ambiental em Goinia, construdo deforma participativa e coletiva a partir da REBEA. No evento, trs eixos temticos foram norteadores,sendo eles: Poltica Nacional de Educao Ambiental, Formao do Educador Ambiental e RedesSociais e Educao Ambiental, no qual foram bastante difundidas as Redes de Educao Ambiental e aspreocupaes relacionadas formao do Educador Ambiental no mbito da Universidade.

    Desde ento, muitas iniciativas foram se consolidando, como as vrias organizaes queimplantaram programas de educao ambiental e os municpios que criaram as Secretarias Municipaisde Meio Ambiente, as quais, entre outras funes, desenvolvem atividades de Educao Ambiental.Paralelamente, as Organizaes No Governamentais (ONGs) tm ainda, exercido importante papel noprocesso de aprofundamento e expanso das aes de Educao Ambiental, impulsionando iniciativasgovernamentais.

    16 Em termos de preciso histrica, vive-se sob a segunda gesto do governo Lula.

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    Destarte, percebe-se que, ao tratar da institucionalizao da educao ambiental no Brasil, se supeo entendimento da dinmica ao longo do tempo, remetendo a cruzamento de um feixe de discursos eaes que, gradualmente, se constitui em uma rea de saber particular. Assim, por meio de programasinstitucionais, polticas pblicas, conferncias, organizaes governamentais e no governamentais e gruposcivis e empresariais que se congura o processo formativo da educao ambiental, porm, muitas vezes,em processo conitante, de modo descontnuo, contraditrio e precrio.

    Observa-se que as razes nacionais da educao ambiental, mesmo com muitas conquistas apontadas,apresentam alguns impasses no seu percurso. Com o enfoque inicial de uma educao ambiental tecnicista,a maioria dos posicionamentos de educadores e educadoras ambientais vem enraizada de um fazerpragmtico17, pouco reexivo e supercial.

    A educao ambiental, em seu processo de institucionalizao, com base nesta relao antagnicae complementar entre avanos e impasses apontados, apresenta uma fragilidade epistemolgica, comoenunciam Carvalho (2001), Guimares (2004), Floriani e Knechtel (2004) e Leff (2001). H uma carnciaquanto fundamentao terica, e a educao ambiental de certa forma, termina apoiando-se mais nalegitimao do fazer e menos num corpo de conhecimentos sistematizados compatveis com a mudana deum paradigma epistmico e pedaggico sugerido pela crtica ambiental (CARVALHO, 2001, p.157).

    No entanto, com a expanso da educao ambiental no cenrio mundial e nacional, observa-seum avanar na discusso de uma educao ambiental como prtica educativa socioambiental crtica,que seja capaz de apreender a complexidade ambiental, reconhecendo que o ato de perceber o mundoparte do prprio ser de cada sujeito, reconhece o conhecimento, contempla o mundo como potnciae possibilidade e entende a realidade como construo social (LEFF, 2002, p. 218).

    Nesse contexto, a educao ambiental diante de sua prpria trajetria, tece caminhos que seaproximam de uma nova congurao terica e metodolgica. Assim, destaca-se que o processoformativo estabelecido pela educao ambiental busca por meio da interdisciplinaridade e complexidade,contribuir para a formao de sujeitos polticos, capazes de pensar e agir criticamente na sociedade,baseado nas vias de emancipao e transformao social.

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    17 Destaca aqui a carncia de uma fundamentao terica e epistemolgica reconhecida pelos prprios educadores ambientaisque possuem cursos de formao na rea. Como eles prprios chamam a ateno, suas experincias so baseadas mais em umaformao prtica-utilitarista, desacompanhada de um suporte terico, como reconhece Carvalho (2001, p.154) ao nomear deformao pela ao.

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    MUDANAS CLIMTICAS AQUECIMENTO GLOBAL E SADE:

    UMA PERSPECTIVA APARTIR DA TROPICALIDADE

    Francisco de Assis Mendona (UFPR)[email protected]

    1 Possui Graduao (UFG, 1983), Mestrado (Geograa Fsica / Meio ambiente - USP, 1990), Doutorado (Clima e planejamento urbano- USP, 1995) e Ps-doutorado (Epistemologia da Geograa - Universit Sorbonne/Paris I/Frana, 2005) em Geograa. Pro-fessor Titular do Departamento de Geograa da UFPR. Foi professor convidado da Universit de Sorbonne/Paris I/Institut deGographie (2002), da Universit de Haute Bretagne/Rennes II/Frana (2004) e pesquisador convidado da London School ofHygine and Tropical Medecine (Londres/Inglaterra 2005) e do Laboratoire PRODIG/Frana (Univ. Sorbonne/Paris I, 2005).

    Tem experincia na rea de Geograa e Geocincias, com nfase em Geograa e Meio Ambiente, atuando principalmente nosseguintes temas: Estudo do Ambiente Urbano, Climatologia, Geograa da Sade, e Epistemologia da Geograa.

    RESumo

    O interesse pelo conhecimento dos climas do planeta, e de sua dinmica, torna-semais importante no atual contexto das mudanas climticas globais. A intensicaodo aquecimento climtico planetrio na Era Moderna um fato aceito pela maiorparte de cidados e cientistas de todo o mundo. As referidas mudanas podero causarconsiderveis impactos na sade de parcelas importantes da humanidade, todavia

    ocorrero de maneira bastante distinta na superfcie da Terra. Na zona tropical asalteraes sero bem menos expressivas que aquelas a se processarem nas mdias e altaslatitudes. Nos trpicos, acredita-se, as doenas transmissveis e parasitrias encontraromelhores condies para sua expanso, sendo que constituiro um elevado risco ante vulnerabilidade da maioria da populao. Doenas como a malria e a dengue, dentreoutras, podero ter seus espaos ampliados em latitude e em altitude, envolvendo umnmero bastante elevado de vitimados num futuro prximo. O conhecimento destaproblemtica e a tomada de posies buscando seu equacionamento envolve, diretamente,perspectivas de interesse da Educao Ambiental.

    PALAVRAS-CHAVE: Clima; Tropicalidade; Aquecimento Global; Sade.

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    A perspectiva de que as mudanas climticas e outras mudanas ambientais afetaro a sade da populao

    apresenta radicais desaos aos cientistas ().

    Martens and McMichel (2002, p. 9)

    Introduo

    Ainda que, em vrios aspectos, a inuncia do clima sobre as atividades humanas tenha sidoreduzida devido aos avanos da tecnologia, o signicado do tempo atmosfrico no diminuiu nasociedade moderna () (REITER, 2001, p. 141). Mesmo considerando que o anacrnico determinismoclimtico esteja fora de discusso no quadro do debate atual, cuidados so necessrios para no se

    buscar explicaes que subestimem a inuncia da natureza nas atividades humanas e no bem estar dapopulao. De toda maneira, a abordagem da relao entre a sociedade e a natureza, devido s profundastransformaes produzidas por aquela sobre esta, demanda novas abordagens no presente. , ento,neste quadro de novos desaos ao conhecimento e sua aplicao que o clima se coloca e se reforacomo elemento de interesse cientco-tcnico e cultural, de grande importncia para o equacionamentode determinados problemas socioambientais.

    De maneira geral os estudos da relao entre o clima e a sade humana, objeto deste texto, soelaborados na perspectiva da inuncia daquele nesta. O clima desempenha tanto efeitos favorveisquanto desfavorveis boa sade, e a abordagem aqui esboada volta-se esta ltima, pois que ()a ao do ambiente fsico s se torna evidente quando os elementos do meio exterior agem em excesso e determinam uma

    desordem patolgica; ela no menos efetiva em todos os lugares e em todas as circunstncias() (BESANCENOT,

    2000, p. 9).

    Desde os trabalhos de Hipocrates, na Grcia Clssica, at o momento presente, uma quantidadeconsidervel de estudos voltados anlise da inuncia do clima sobre a sade siolgica e ocomportamento dos homens foi desenvolvida. A grande maioria deles enfoca o efeito desempenhadopelas condies climticas e meteorolgicas sobre a incidncia de determinadas doenas, pois o clima atuatanto sobre os agentes patognicos (vrus e bactrias, principalmente) e os vetores quanto diretamentesobre o corpo humano. Assim que a relao entre os dois meios, o do corpo e o do ambiente externo - atmosfrico,constitui a base da bioclimatologia (LAMARRE ET PAGNEY, 1999, p. 105).

    Para Besancenot (1997, p. 87) a bioclimatologia humana tem por objetivo o estudo dos efeitos diretosou indiretos, irregulares, flutuantes ou cclicos, do tempo que faz ou do clima sobre a sade e a ocorrncia de doenas, sendo

    entendido que o tempo age a curto prazo e o clima a mdio e longo prazo. Este autor a concebe como subdivididaem trs campos principais, que so a climatosiologia, a climatopatologia e a climatoterapia. Interessantetambm a associao por ele estabelecida entre os riscos climatopatolgicos (derivados de climas fortementeagressivos ou de paroxsmos climticos particularmente violentos) e a vulnerabilidade humana aos mesmos (ligadas especicidades de determinados indivduos a fenmenos climticos particulares) (OpCit,p. 99).

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    A partir desta relao entre riscos e vulnerabilidades da sade humana ao clima, Besancenot (1997,p. 100) avana a idia de climatosensibilidade, atravs da qual evidencia a inuncia de determinadascondies climticas sobre um certo nmero de indivduos no interior de um mesmo grupo. Assim,o risco climtico no est diretamente relacionado a uma patologia claramente caracterizada, poiscada pessoa reage diferentemente, segundo uma srie de elementos, inuncia do clima sobre si.De toda maneira, os efeitos do clima no desenvolvimento de doenas humanas se fazem sentir maisacentuadamente na parcela da populao que est mais diretamente merc de sua ao, ou seja, osmais pobres e de menor acesso aos recursos tecnolgicos.

    Desta maneira se observa, uma vez mais, que a concepo determinstica da relao entre oclima e a sade humana no atende aos objetivos dos estudos elaborados no presente. tambm

    vlido assinalar que estes estudos ultrapassam a longa e duradoura fase de busca de explicaes para areferida relao e avanam para uma nova fase, na qual prevalecem a analise e a correlao, pois o clima somente mais um fator a ser considerado no processo sade-doena da populao. Ele pode assumirimportncia capital num determinado processo, ou ser apenas fator coadjuvante de outro.

    Temperatura, presso e umidade atmosfricas, e seus fenmenos derivados (calor, frio, ventos,chuva, neve, etc.), compem o conjunto de elementos formadores do clima (MENDONA; DANNI-OLIVEIRA, 2005). Quando se desenvolve a abordagem da interao entre os mesmos e o organismohumano se retoma, indubitavelmente, um deles em particular ou a associao entre mais de um. O estudoreveste-se de um carter, na maioria das vezes, multi e interdisciplinar, pois que evoca conhecimentos dameteorologia, da climatologia, da medicina, da epidemiologia, da estatstica, dentre outras. Em estudosde determinadas problemticas, como o caso da sade humana aqui enfocada, a abordagem a partirde um nico campo disciplinar torna-se claramente insatisfatria e insuciente quanto compreenso

    e proposio de equacionamento para a mesma.Um estudo sobre as interaes entre as condies climticas e as reaes fisiolgicas e

    comportamentais humanas evidencia uma considervel pluralidade de exemplos nos mais diferentescontextos, aspecto que reete a importante diferenciao de biomas do mundo. Sorre (1984), analisandoesta interao concebeu o conceito de complexo patognico, no qual evidenciou determinadasparticularidades do mundo Tropical. Alguns aspectos da interao entre o clima e a sade humana na zonainter-tropical do planeta foram enfocados em Mendona (2004), e so aqui retomados e enriquecidosna perspectiva da discusso das repercusses da intensicao do aquecimento climtico global.

    1 Aquecimento global e sade: Um debate acirrado

    Ao longo de sua evoluo a atmosfera terrestre apresentou estgios bastante diferenciados quanto sua composio qumica e fsica. Perodos quentes e midos se alternaram com quentes e secos,frios e midos e frios e secos, gerando condies climticas bastante distintas daquelas observadas naatualidade. Todavia, foi somente aps as ltimas grandes glaciaes que se registraram na Terra condiesfavorveis ao desenvolvimento da vida humana no planeta, fato este decorrente do aquecimento da

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    atmosfera observado de meados para o nal da Era Cenozica (Holoceno). Estas evidncias levam

    constatao, primeira e necessria, de que a atmosfera terrestre no apresentou uma evoluo lineare uniforme, ou seja, sua historia marcada por alteraes signicativas e que contemplam tambm aintensicao das temperaturas na atualidade. Assim, parece necessrio rearmar, a intensicao doefeito-estufa planetrio na Era Moderna no est dissociada da prpria dinmica da natureza, aindaque ela evidencie impactos derivados das atividades humanas.

    Perodos com condies trmicas mais elevadas que as atuais j ocorreram na Terra, todaviaatualmente, o clima mundial est numa fase de aquecimento que comeou nas primeiras dcadas do sculo dezoito.Temperaturas, at mesmo no Hemisfrio Norte, apresentam-se similarmente ao que foram na Idade Mdia, nos sculos

    antecedentes Pequena Idade do Gelo. Este aquecimento tem gerado uma nova preocupao: dizem respeito s atividades

    humanas e sua influncia no regime natural dos climas, tanto quanto podem mudar outros aspectos do ambiente ()

    (REITER, 2001, p. 141 - 142).

    Embora se observe uma crena geral entre os cientistas da atmosfera de que o aquecimentoglobal apresenta uma tendncia de intensicao considervel neste sculo XXI, momento no qual asimplicaes sobre a sade humana, dentre outros, se far mais evidente, observa-se tambm armaesque apontam a ocorrncia do processo contrrio, ou seja, do resfriamento da atmosfera. Dentre asargumentaes que tomam esta perspectiva cita-se a interferncia das cinzas e gases derivados dasexploses vulcnicas no processo de radiao Sol-Terra-Espao, bem como a ODP Oscilao Decadaldo Pacco (Mollion apudMENDONA, 2004).

    Ainda que dissonantes no mbito do discurso globalizado das mudanas climticas atuais, pareceprudente no desacreditar totalmente nas perspectivas que postulam o processo de resfriamento,embasadas que esto em princpios de lgica cientca e tcnica vel. Estas concepes explicitam,por sua vez, tanto posies discordantes acerca da evoluo da atmosfera terrestre e seus impactossobre as atividades humanas, quanto deixam em evidncia a caracterstica especulativa da maioria dosprognsticos lanados acerca dos efeitos daquela sobre estes.

    A posio aqui assumida, ainda que atenta aos argumentos relativos ao resfriamento da atmosferaterrestre partidria da concepo da intensicao do aquecimento climtico global. Neste mbito, econsiderando que as principais mudanas climticas globais (regionais e locais) ocorrero de maneiramais evidente no sculo XXI, passando posteriormente a uma maior estabilidade (IPCC, 2005), importaaqui evidenciar alguns de seus impactos sobre a sade humana, particularmente nas reas tropicaiscomo se ver a seguir.

    Vrios estudiosos tm construdo e divulgado cenrios derivados do impacto das mudanasglobais sobre a sade humana, sendo que poucos se contradizem quanto s perspectivas generalizantes.Cliff and Hagget (1995), ao argumentar sobre a importante transio epidemiolgica relacionada aoexpressivo crescimento populacional no sculo XX, consideraram trs temas como resultantes destasmudanas, quais sejam: a) os impactos do trabalho a grandes distncias, b) as implicaes geogrcas doaquecimento global sobre as doenas, e c) os fatores relacionados s novas doenas (ou aparentementenovas). O segundo tema - e parte do terceiro - de interesse direto da discusso elaborada neste texto,

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    pois que as mudanas globais abrangem uma gama de temas bastante ampla e complexa, da qual oclima um dos componentes. Neste sentido retoma-se aqui a contribuio de Besancenot (2001), porexemplo, que esquematizou, de maneira bastante didtica, os impactos do aquecimento global sobreas condies de mortalidade e morbidade humana (Figura 1), evidenciando reexos diretos e indiretosdaquele nestas; retoma-se tambm a abordagem introdutria de Mendona (2004) que atribuiu nfasenas especicidades do mundo tropical.

    FONTE: BESANCENOT, 2001.

    FIGURA 1 AQUECIMENTO CLIMTICO E SADE

    Em relao aos impactos do aquecimento global sobre as condies de doena e de sade dapopulao, Besancenot (2001, p. 121) considera que A questo de saber quais sero as conseqncias sanitriasdo fenmeno. Algumas se exercero diretamente sobre o organismo humano, ao passo que outras se faro sentir em

    relao s condies ecolgicas mais ou menos favorveis vida, multiplicao e ao desenvolvimento de tal ou tal germe

    patgeno, ou ainda de tal ou tal inseto vetor deste germe. Acrescenta ainda ele a necessidade da reexo acercada escala temporal de manifestao das mudanas climticas ao dizer que (p. 123) De fato, tudo dependeda brutalidade com a qual se operar o aquecimento. Uma evoluo lenta, permitindo uma aclimatao progressiva, ter

    poucas consequncias sanitrias nefastas. Mas se a evoluo se faz a passos violentos (e as simulaes no as excluem),

    os efeitos riscam de ser muito mais inquietantes, at que se realize o retorno a um novo equilbrio .

    Alm do sumarizado no esquema (Figura 1) e da necessria importncia a ser atribuda ao ritmodas mudanas climticas, vale tambm citar os efeitos de ordem psicolgica sobre indivduos e gruposhumanos, mais difceis de mensurar, mas bastante previsveis quando se consideram as profundasalteraes no modo de vida, na migrao forada, no empobrecimento alimentar, na perda de bens

    materiais, etc. associados. Os efeitos tornam-se, assim, muito relativos sobre a populao como um todo,pois a concentrao da riqueza material e cientco-intelectual numa pequena parcela da humanidadecoloca a grande maioria dos homens, sobretudo na zona intertropical, numa agrante condio deelevados riscos e vulnerabilidades climticas, como o considerou Confalonieri ao tratar de problemasespeccos do Brasil (2003). A este respeito acrescenta-se tambm a concepo de Martens andMcMichel (2001, p. 12) ao assinalarem que populaes humanas varia sua vulnerabilidade aos acidentes naturais.

    A vulnerabilidade de uma populao uma funo de como e quanto sua sade sensvel s mudanas climticas, e de

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    como a populao capaz de se adaptar elas. A vulnerabilidade de uma populao depende de fatores como a densidade,

    nvel de desenvolvimento econmico, disponibilidade alimentar, condies ambientais locais, condies de sade pr-existentes,

    e qualidade e disponibilidade dos servios pblicos de sade.

    Cenrios futuros relacionados intensicao do aquecimento planetrio so construdos cada vezmais, e a partir deles uma gama considervel de especulaes so elaboradas quanto s suas repercussessobre a sade humana. Ainda que a maioria das conjecturas apresente um futuro sombrio, cheio deproblemas e de conitos, parece necessrio realar o fato de que a atmosfera em particular, e a naturezacomo um todo, possuem dinmicas prprias e em boa parte das vezes imprevisveis. Na sua condiode movente (MONTEIRO, 1991) ela est sempre apresentando novos desaos ao conhecimento, previso e adaptabilidade humana s novas condies. Espera-se, de acordo com esta perspectiva,que a negatividade acenada para o futuro prximo possa ser revertida tanto por dinmicas naturaismenos impactantes quanto pela ao mais consciente e responsvel da humanidade no que concerne apropriao e uso dos bens e recursos naturais.

    2 Tropicalidade e sade: Alguns aspectos atuais e cenriosfuturos

    De acordo com o IPCC (2005) as mais profundas alteraes da atmosfera planetria seroobservadas nas latitudes mdias e altas do planeta, destacando-se uma elevao trmica e pluviomtricamximas da ordem de 3C a 12C e de 0 a 0,50 mm/dia (cenrios A2 e B2), respectivamente, no entornodo Plo rtico como a mais expressiva alterao climtica global dos prximos 100 anos. As alteraesprevistas para a zona intertropical so menos expressivas, mas no menos preocupantes (arroladas

    que esto numa maior ocorrncia de fenmenos extremos e impactantes associados a uma alteraogenrica da paisagem como resposta a processos de ordem regional e global).

    As baixas latitudes conjugam, geralmente, altas temperatura e umidade, embora apresentemtambm a conjugao entre altas temperaturas e ambientes secos (MCGREGOR; NIEUWOLT, 1998;DEMANGEOT, 1999). A noo climtica de trpico encerra esta condio, mas as reas montanhosasdistribudas dentro desta zona no so abrangidas pela noo de clima tropical, pois nelas predomina ochamado clima de montanha, cujas caractersticas diferem-no daquele. Nesta faixa do planeta a previsode intensicao do aquecimento da ordem de 0C a 4C e 5C (cenrios B2 e A2, respectivamente) ea pluviosidade mdia apresentaria uma reduo de 0 a 50mm/dia (no entorno dos desertos do Sahara,Kalahari, Atacama e na Indochina e Caribe) concomitante a uma elevao mdia de 0 a 3mm/dia (comdestaque sobre o centro do Oceano Pacico) (IPCC, 2005).

    A vida siolgica em condies de clima tropical apresenta-se perfeitamente adaptada scaractersticas ambientais fortemente cambiveis em espaos de tempo curto (sazonalidade climtica),mas a ocorrncia de fenmenos meteorolgicos em escala temporal muito rpida (horria, diria esemanal) lhe traz perturbaes. O clima tropical, por suas caractersticas particulares, rene excelentes

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    condies para o desenvolvimento de um considervel nmero de doenas, tanto ligadas ao excesso decalor quanto queda abrupta do mesmo e variabilidade termo-higro-pluviomtrica. A entrada rpidade frentes frias de forte intensidade, por exemplo, engendra considerveis impactos sobre os seres vivose sobre a populao humana desta rea (MENDONA; DANNI-OLIVEIRA, 2005).

    Neste sentido observa-se que boa parte das doenas tropicais so variveis no tempo e no espao,algumas so endmicas (bilharziose, hepatite b, malria, etc.) outras so bastante imprevisveis (dengue,peste, clera, ebola, etc.), o que diculta consideravelmente a ao das polticas publicas para seu controle,fato que tambm est associado ao desrespeito s regras sanitrias elementares (DEMANGEOT, 1999)por parte do estado e da populao em geral.

    Para este ltimo autor as doenas especificamente tropicais, aquelas cuja ligao com o meio clara, sodoenas de carncias, doenas parasitarias, doenas infecciosas (bacterianas ou virais), doenas micsicas. Nesta zona doplaneta, continua o autor, a no ser as secas, no existem catstrofes naturais to graves quanto estas grandes doenastropicais: nenhum sismo, nenhum ciclone no fazem, sem exceo, tantos mortos, estropiados e infelizes. De maneiramais direta ele faz referncia ao Mal de Chagas (10 Milhes de pessoas vitimadas, principalmente na

    Amrica Latina sobretudo no Brasil), Doena do Sono (centenas de milhares de vitimas na frica), Bilharziose (200 000 mortes por ano) e Malria (1 a 2 milhes de mortos por ano, principalmentecrianas) - (DEMANGEOT, 1999, p. 297 - 298).

    Germes, vetores e parasitas das doenas tropicais no conseguem viver e se reproduzir emoutras condies ambientais, da se falar que as doenas tropicais so naturais, pois somente ali quese desenvolvem, numa interao natural perfeita. Estes microorganismos vivos dependem diretamenteda temperatura, do uxo das guas, dos tipos de culturas, das formas e da natureza dos telhados,das paredes, da vegetao natural, etc., enm de um meio geogrco particular o tropical, o quelevou Max Sorre a criar o conceito de Complexo Patognico (DEMANGEOT, 1999, p. 299), comoanteriormente citado. As atividades e construes humanas imprimem novas caractersticas nestesmeios, anteriormente controlados pela dinmica natural, como o caso das grandes reas agrcolas,dos grandes represamentos de guas e da urbanizao catica, o que favorece o desenvolvimento demuitas das doenas supramencionadas, derivando casos epidmicos graves, ou introduzindo novas.

    Contingncias scio-econmicas e polticas como a dbil atuao do estado e dos governantes, aintensicao da pobreza e da miserabilidade humana, a decincias das campanhas de sade pblica,a exploso da urbanizao em cidades gigantescas e a formao de condies socioambientais de altadegradao concorrem para agudizar os problemas de sade tpicos da zona tropical. Observa-seassim, no somente a reincidncia e emergncia de doenas transmissveis e parasitarias, mas tambm

    o desenvolvimento crescente das neoplasias, particularmente de doenas ligadas obesidade e aosedentarismo. A intensicao do aquecimento climtico planetrio coloca-se como mais um elementoa complicar a j complexa realidade desta zona do planeta. Isto especialmente preocupante, poisobserva-se uma forte tendncia de expanso em altitude e em latitude das condies de tropicalidade,ou seja, estariam sendo criadas condies de expanso das doenas tropicais no mundo.

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  • 8/4/2019 Educacao Ambiental -Secretaria Curitiba

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    3 Algumas doenas emergentes no contexto brasileiroA tropicalidade do Brasil uma de suas principais caractersticas geogrcas. Associada extenso

    do territrio ela lhe garante uma innidade de riquezas naturais, mas propicia, ao mesmo tempo e devidoaos aspectos do seu clima, a formao de um ambiente favorvel ao desenvolvimento de inmeras doenas(MENDONA, 2001 e 2004). Assim, as condies de calor e umidade do ambiente brasileiro favorecema atuao de determinados vetores, assim como de alguns veculos de transmisso, de vrias doenas viraise bacterianas, das quais alguns exemplos so comentados a seguir.

    Ao clima no se deve creditar toda a causa da incidncia das doenas tropicais, mas no se devetambm menosprezar sua inuncia na manifestao das mesmas. Reiter (2001, p. 158), a respeito destaconcepo e ao abordar algumas enfermidades tropicais como a malria, dengue e febre amarela, considera

    que o recente ressurgimento de muitas doenas algo preocupante, mas fcil atribuir esta ressurgncia mudana climtica.Os principais determinantes so polticos, econmicos e as atividades humanas. Uma criativa e organizada aplicao dosrecursos urgentemente demandada para controlar doenas tendo em vista a futura mudana climtica.

    Neste contexto, a inuncia do clima sobre algumas doenas reemergentes deve ser considerada. Omelhor conhecimento do mesmo, e de sua participao na incidncia de algumas delas, continua sendo,independentemente da intensicao do aquecimento ou do resfriamento climtic