educacao ambiental - secretaria do meio ambiente sp

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 1  E DUCAÇÃO vi nte ano s d e p o ti cas p ú bli c as A MBIENTAL GOVERNO DO ESTADO DE S Ã O P AULO GERALDO  A LCKMIN Governador S ECRETARIA DO MEIO A MBIENTE J OSÉ  G OLDEMBERG  Se c r etá r i o COORDENADORIA DE P LANEJAMENTO A MBIENTAL  E STRATÉGICO E  E DUCAÇÃO A MBIENTAL L UCIA  B ASTOS  R IBEIRO DE S ENA  Coordenadora GOVERNO DO ESTADO DE S Ã O P AULO GERALDO  A LCKMIN Governador S ECRETARIA DO MEIO A MBIENTE J OSÉ  G OLDEMBERG  Se c r etá r i o COORDENADORIA DE P LANEJAMENTO A MBIENTAL  E STRATÉGICO E  E DUCAÇÃO A MBIENTAL L UCIA  B ASTOS  R IBEIRO DE S ENA  Coordenadora E DUCAÇÃO A MBIENTAL vi nte ano s d e p o ti cas p ú bli c as

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vinte anos de polticas pblicas

AMBIENTAL

EDUCAO

GOVERNO DO ESTADO DE SO PAULO GERALDO ALCKMIN Governador SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE JOS GOLDEMBERG SecretrioCOORDENADORIA DE PLANEJAMENTO AMBIENTAL ESTRATGICO E EDUCAO AMBIENTAL LUCIA BASTOS RIBEIRO DE SENA Coordenadora

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Educao Ambiental: vinte anos de polticas pblicas COORDENADORIA DE PLANEJAMENTO AMBIENTAL ESTRATGICO E EDUCAO AMBIENTALLcia Bastos Ribeiro de Sena Coordenadora

COORDENAO GERAL E CONCEPO DO PROJETORosely Sztibe

REDAOJurema Aprile, Maria Beatriz de Campos Elias Rosely Sztibe.

ENTREVISTASFlvia S. Marcato Rosely Sztibe

REVISO DE TEXTOSWanda E.S. Barbosa

PROJETO GRFICO E ILUSTRAESVera Severo

PROJETO GRFICO DO SELO COMEMORATIVOJessie Palma Baldoni

APOIO PRODUO GRFICAMarta Arromba

FOTOLITOS E IMPRESSOImprensa Oficial do Estado

AGRADECIMENTOSAntonio de Andrade Betty Shienagel Abramowicz Elizabeth de Lourdes Avelino Fredmar Correa Germano Seara Filho Jos Flvio de Oliveira Kazue Matshima Laura Maria Regina Tetti Maria de Lourdes Pinheiros Simes Moema Libera Viezzer Regina Brito Ferreira Reginaldo Forti Zuleica Maria Lisboa Perez tcnicos, diretores e coordenadores que j atuaram na educao ambiental

Impressos 3 000 exemplares na primavera de 2003

Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (CETESB - Biblioteca, SP, Brasil)S242e So Paulo (Estado ). Secretaria do Meio Ambiente. Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratgico e Educao Ambiental. Educao ambiental : vinte anos de polticas pblicas / Secretaria de Estado do Meio Ambiente, CPLEA. - - So Paulo : SMA, 2003. 96 p. ; 28 cm Bibliografia. ISBN 1. Administrao pblica meio ambiente 2. Educao ambiental 3. Gesto ambiental 4. Meio ambiente planejamento 6. Poltica ambiental I. Ttulo.

CDD (21ed. Esp.) CDU (ed. 99port.)

354.3071 504.000,:37

Secretaria de Estado do Meio AmbienteAv. Prof. Frederico Hermann Jr. 345, So Paulo 05459 900 SP tel: 11 3030 6000 www.ambiente.sp.gov.br

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Foto Jos Jorge Neto

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EDUCAO AMBIENTAL VINTE ANOS DE POLTICAS PBLICAS tem como motivao fundamental contribuir para o resgate e a divulgao da educao ambiental desenvolvida nos rgos pblicos estaduais responsveis pela gesto do meio ambiente. Evoca fatos e episdios que marcaram o processo de institucionalizao da educao ambiental em So Paulo. Com esta publicao a Secretaria do Meio Ambiente procura instituir uma memria da educao ambiental compreendida como o espao onde se engendram relaes sociais resultantes de um passado instituidor que se atualiza no presente, e faz emergir as referncias para futuras aes educacionais no campo das polticas pblicas de meio ambiente. Significa, ainda, desvelar para a sociedade experincias e propostas de educao ambiental, em tempos diferentes, muitas vezes at conceitualmente divergentes, mas, todas, reveladoras de um nexo comum com as conjunturas polticas, social, econmica e ambiental vivenciadas . indicativo desse processo que o nascimento da educao ambiental em So Paulo, enquanto poltica de governo, tenha ocorrido com carter participativo e comunitrio e tendo como foco a regio de Cubato. O Brasil vivia, na poca, o perodo da redemocratizao, em que o processo participativo da sociedade nas aes governamentais constitua perspectiva poltica necessria consolidao da democracia recm-conquistada. Ao mesmo tempo, ampliava-se a crtica idia chave dos governos militares, do crescimento econmico a qualquer custo cujo exemplo mais expressivo era Cubato. Coube ao Governo de So Paulo dar respostas prticas s conseqncias socioambientais decorrentes do processo de industrializao adotado na regio, que a tornaram mundialmente conhecida como Vale da Morte. Para tanto, o Governo de So Paulo adotou a educao ambiental como um instrumento democrtico de gesto ambiental participativa e comunitria, em conjunto com as medidas tcnicas de conteno dos riscos de deslizamentos, de revegetao das encostas da Serra do Mar, e da obrigatoriedade de as industrias colocarem filtros para reduzir a poluio do ar. Nosso desejo que esta publicao possa contribuir para o avano das reflexes sobre a educao ambiental enquanto instrumento de gesto das polticas pblicas de meio ambiente, permitindo que sejam vislumbrados novos caminhos, sem, contudo, perder o fio condutor da memria que a religa com as aes e prticas do passado.

RESGATE EDIVULGAO DA EDUCAO AMBIENTAL

JOS GOLDEMBERG Secretrio do Meio Ambiente

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VINTE

ANOS DE

POLTICAS PBLICAS

Este livro resulta de vrias intenes: comemorar os 20 anos de trabalho no campo da educao ambiental, resgatar de alguns dos seus registros a memria desse perodo, estimular reflexes sobre a temtica da educao ambiental enquanto poltica pblica de meio ambiente, atualizar proposituras, visualizar outros caminhos e possibilidades, e sonhar com novos resultados. Todos esses propsitos, uma nica publicao no poderia encerrar. Seu papel apresentar as informaes organizadas, divulg-las, coloc-las em movimento e incentivar o debate e a participao dos atores que fazem a educao ambiental em So Paulo. O primeiro captulo - As polticas pblicas de educao ambiental - traz um breve histrico do desenvolvimento dessas polticas, destacando alguns marcos constitutivos do processo de institucionalizao nos mbitos federal e estadual, e revela que os principais instrumentos para alcan-las tiveram origem no Sistema Nacional de Meio Ambiente, caracterizando as polticas de educao ambiental como polticas de meio ambiente. Em So Paulo, no incio dos anos 1980, atmosfera de abertura poltica e de efervescncia dos movimentos sociais vem somar-se a incluso da questo ambiental na agenda poltica do governo. Nesse momento, o municpio paulista de Cubato passa a ser o grande destaque. Chamado pela imprensa internacional de Vale da Morte, Cubato entra para as prioridades do governo. O programa de combate poluio lanado para corrigir os riscos ambientais de Cubato contemplava, de forma integrada, um programa de educao ambiental voltado para a participao da comunidade no controle e gesto do seu prprio meio. E nesse momento que se cria uma rea especfica dentro da CETESB responsvel pelas atividades de planejamento e educao ambiental. O captulo 2 Troca-se poluio por educao ambiental trata com detalhes do assunto. O captulo 3 A formao da CEAM e os novos projetos aborda um perodo de reorganizao de funes e atividades dentro do sistema estadual de meio ambiente. Neste perodo, a prpria Secretaria de Meio Ambiente reestruturada, organizando-se nas quatro coordenadorias responsveis pela efetivao da poltica ambiental. As atividades de educao ambiental foram atribudas ento Coordenadoria de Educao Ambiental (CEAM). dessa fase o incio das campanhas aes em larga escala para dar visibilidade a um tema ambiental premente , realizadas em tempo determinado. Entre as primeiras est a Operao Praia Limpa que associou as atividades de educao ambiental ao controle de poluio das guas e balneabilidade das praias do litoral paulista. A arte-educao e o meio ambiente o tema do captulo 4. Encontrando no teatro e na dramatizao de temas ambientais um recurso para promover a participao da comunidade na discusso dos problemas ambientais, a CEAM promoveu um Programa de Teatro Itinerante com apresentaes por todo o Estado. A busca de novos recursos pedaggicos foi a marca desse perodo. A promoo de um concurso de vdeos ambientais e a criao de uma videoteca dedicada temtica ambiental so exemplos deste esforo. A Operao Rodzio implantada entre os anos de 1995 e 1999, na regio metropolitana de So Paulo, foi talvez a experincia de educao ambiental de maior impacto sobre a populao. Nos meses de inverno, quando a dificuldade de disperso dos poluentes na atmosfera maior, foram proibidos de circular, no perodo das 7 s 20 horas, aproximadamente 20% dos veculos da frota, de acordo com uma escala de final de placas. Esperava-se, com a retirada de circulao deste percentual de veculos e com o conseqente aumento da fluidez do trfego, a reduo das emisses de monxido de carbono. O programa teve repercusso

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imediata sobre a opinio pblica, gerando polmicas, adeses e protestos num mbito muito mais amplo do que sua prpria rea de abrangncia. Alm da Operao Rodzio, o Programa Ncleos Regionais de Educao Ambiental e a Operao Litoral Vivo so os temas abordados no captulo 5 Trs casos exemplares. O Programa Ncleos Regionais de Educao Ambiental ampliou significativamente o nmero de fruns regionais. Hoje so 49 Ncleos, que abrangem 425 dos 645 municpios paulistas. O captulo 6 Cultivando conscincia ambiental trata da continuidade desse programa e do Projeto Pomar que, com o objetivo de recuperar as reas degradas s margens do rio Pinheiros, acabou envolvendo amplos segmentos da sociedade na recuperao e preservao ambiental. O tema do captulo 7 Planejamento, educao e gesto ambiental. Resultado da reestruturao da Secretaria do Meio Ambiente, o planejamento e a educao ambiental esto novamente integrados na Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratgico e Educao Ambiental (CPLEA). O captulo destaca os projetos que esto sendo realizados com a nova diretriz: incorporar a educao ambiental ao processo de gesto, permeando o conjunto de aes e projetos realizados pela CPLEA. A ltima parte da publicao traz o inventrio Educao ambiental - 20 anos de produo editorial, que rene os ttulos publicados at esta data, acompanhados de uma pequena sinopse, revelando a riqueza de temas e de trabalhos publicados nas duas dcadas de polticas pblicas de educao ambiental. O livro apresenta, ainda, uma linha do tempo. Percorrendo todas as pginas, encontrase uma cronologia dos principais fatos e acontecimentos relevantes para o meio ambiente e a educao ambiental nos ltimos vinte anos.

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AS POLTICAS PBLICAS

de educao ambiental

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A

CONSTITUIO EDUCAO AMBIENTAL EM

DAS POLTICAS DE

MBITO FEDERAL

1980 Seminrio internacional sobre carter interdisciplinar da educao ambiental realiza-se em Budapeste, Hungria

os ltimos trinta anos a questo ambiental vem se configurando no mbito das grandes questes contemporneas. Expressando a falncia da noo de progresso ilimitado, a crise ambiental tem colocado para o mundo contemporneo o enfrentamento dos riscos produzidos tanto pelo acelerado desenvolvimento das foras produtivas, como pela degradao da biosfera (empobrecimento do patrimnio natural do planeta e da capacidade de recuperao dos ecossistemas). As relaes de interdependncia entre a sociedade e o meio ambiente, neglicenciadas pela modernidade industrial, colocam-se hoje como um dos grandes dilemas do mundo contemporneo. As respostas a este desafio tm sido mltiplas e variadas. Condicionadas pela prpria complexidade da problemtica ambiental, romperam os limites do discurso conservacionista ao qual estavam circunscritas, dando origem a novos movimentos sociais, institucionalidades polticas, sensibilidades, valores e saberes, enfim, a um novo campo o campo ambiental. Destacam-se neste campo um conjunto de atores, prticas e polticas que nele se inscrevem a partir de uma estratgia especfica para o enfrentamento da crise ambiental e que consiste na associao entre educao e meio ambiente. A profundidade e o estreitamento desta relao tem qualificado a prpria educao como educao ambiental e os seus atores como educadores ambientais. Uma etapa importante do processo de consolidao desta relao entre educao e meio ambiente, foi a realizao, em 1972, da Conferncia Internacional das Naes Unidas sobre Meio Ambiente. Esta Conferncia institucionaliza o tema meio ambiente, inserindo-o na agenda mundial. So dela as recomendaes sobre a importncia de um trabalho de educao em questes ambientais, sem distino de idades, e que acabou resultando na criao de um Programa Internacional de Educao Ambiental e nas vrias Conferncias Internacionais1 . Estes eventos tiveram um papel importante na divulgao e visibilidade das prticas de educao ambiental e so freqentemente citados como referncias para todos que trabalham ou se interessam pelo tema.

N

As polticas de educao ambiental tm sido, tradicionalmente, implementadas pelos rgos de meio ambiente, enquanto uma poltica de meio ambiente. Um olhar retrospectivo sobre a recente histria desta atividade revela que os principais instrumentos para a sua consecuo tiveram origem no Sistema Nacional de Meio Ambiente. Nos anos de 1970, quando o meio ambiente passa a se constituir como uma nova rea de atuao dentro das polticas pblicas e a criao da Secretaria Especial de Meio Ambiente, em 1973, um marco dentro deste processo as atividades de educao ambiental j estavam presentes na atuao dos seus rgos, embora de forma incipiente e espordica, como a prpria poltica de meio ambiente. Os anos de 1980 refletem o momento de constituio de um arcabouo jurdico institucional especfico para o setor ambiental. A Lei da Poltica Nacional do Meio Ambiente2 , que cria o Sistema Nacional de Meio Ambiente e estabelece seus fins, objetivos e instrumentos, foi o primeiro ordenamento jurdico a definir a educao ambiental dentro dos seus princpios e objetivos, indicando a necessidade de promov-la em todos os nveis de ensino, inclusive a educao da comunidade, objetivando capacit-la para participao ativa na defesa do meio ambiente. Posteriormente, a prpria Constituio Federal, no seu captulo sobre meio ambi-

1981 Lei 6.938 institui a Poltica Nacional de Meio Ambiente, cria o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) e o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA).

1981 CETESB automatiza Rede Telemtrica de Monitoramento da Qualidade do Ar, passa a monitorar vrios tipos de poluentes e a estabelecer parmetros meteorolgicos, direo e velocidade dos ventos, temperatura e umidade do ar.

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ente, indica como dever do poder pblico promover a educao ambiental em todos os nveis de ensino e a conscientizao pblica para a preservao do meio ambiente3 . Nos anos de 1990, as polticas de educao ambiental ganham um incremento considervel em termos de expanso e visibilidade. A realizao da II Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, na cidade do Rio de Janeiro, teve sem dvida, uma influncia importante no desenvolvimento deste processo. So desta dcada os principais marcos que deram educao ambiental uma outra institucionalidade, como a aprovao do Programa Nacional de Educao Ambiental PRONEA, em 1994, a criao da Cmara Tcnica de Educao Ambiental no Conselho Nacional de Meio Ambiente, em 1996, a realizao da I Conferncia Nacional de Educao Ambiental4 e a definio de um marco legal para a educao ambiental com a aprovao da Lei da Poltica Nacional de Educao Ambiental5 , em 1999. Estes fatos vm mostrando claramente um esforo no desenvolvimento institucional e na implementao das polticas de educao ambiental. Entretanto, talvez a deciso mais indita neste processo tenha sido a publicao dos Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental6 . Introduzindo o meio ambiente como tema transversal, os Parmetros Curriculares acabaram indicando como a educao ambiental deve ser trabalhada no currculo escolar7 . Este fato representa a possibilidade de construo de um campo de atuao especfico para o exerccio da educao ambiental nas escolas. Representa tambm um avano significativo na incorporao da educao ambiental enquanto poltica pblica de educao8 . Embora haja uma certa diviso do trabalho quanto s responsabilidades pelas modalidades de ensino formal e no formal, h um esforo no sentido de integrao das polticas e atividades. Na esfera federal, as polticas de educao ambiental sempre tiveram uma gesto compartilhada pelos sistemas de meio ambiente e de educao. Atualmente, esta gesto foi institucionalizada pela Lei da Poltica Nacional de Educao Ambiental, com a criao de um rgo Gestor, constitudo pelos Ministrios do Meio Ambiente e da Educao e a quem foi atribuda a responsabilidade pela coordenao da poltica nacional de educao ambiental. No estado de So Paulo as polticas de educao ambiental tambm tm sido uma atribuio dos rgos estaduais de meio ambiente. Aqui tambm as dcadas de 1970 e 1980 se caracterizam como etapas constitutivas de um novo campo de atuao da administrao pblica: com a criao da CETESB, do Conselho Estadual de Meio Ambiente e da prpria Secretaria de Meio Ambiente, institucionaliza-se um setor ambiental e uma poltica estadual de meio ambiente9 . Neste processo, as atividades de educao ambiental sempre estiveram presentes, enquanto instrumento das polticas de meio ambiente. Assim, no h plano, programa ou um simples conjunto de diretrizes da poltica ambiental que no incorpore, ou ao menos mencione, a educao ambiental no conjunto de suas preocupaes. Buscando os marcos institucionais deste processo, encontramos nos documentos que expressam as polticas e programas de meio ambiente, dos vrios governos estaduais, um conjunto de medidas que acabaram imprimindo as principais caractersticas da poltica de educao ambiental realizada no estado de So Paulo. Deste conjunto, a primeira medida a ser destacada refere-se elaborao, em 1984, de uma Poltica Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais10 . O documento, aprovado pelo CONSEMA e pela Comisso de Meio Ambiente da Assemblia Legislativa, indica as diretri-

AS

POLTICAS DE

EDUCAO AMBIENTAL NO

ESTADO DE SO PAULO

1982 Convocao de eleies diretas para governador. O movimento ambientalista comea a ter representao prpria no Congresso, com a eleio de trs deputados: Lizt Vieira (RJ), Walter Lazzarini (SP) e Caio Lustosa (RS).

1983 Argentina e Reino Unido entram em guerra pela posse das ilhas Malvinas.

1983 Comisso Brundtland instaurada para elaborar o relatrio das Naes Unidas sobre o meio ambiente. Dos 23 participantes, dois representam a Amrica Latina, entre eles o ambientalista Paulo Nogueira Neto. A elaborao do relatrio Brundtland, produto final da Comisso, durou trs anos.

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1983 Primeiro comcio suprapartidrio pelas Diretas J realiza-se na Praa Charles Miller, na capital paulista

zes, as prioridades e estratgias de implantao para as vrias questes ambientais tratadas, inclusive para a educao ambiental. Alm da importncia atribuda ao planejamento diante dos vrios problemas ambientais elencados, o documento destaca a importncia da educao ambiental neste processo:Acredita-se que a educao ambiental, como ao conscientizadora, um dos caminhos mais seguros para formar uma mentalidade conservacionista e comunitariamente abrangente para a defesa do meio ambiente e dos recursos naturais, e para a gesto desses recursos, tendo em vista a harmonizao dos objetivos econmicos e sociais. (p. 6)

O documento traz as seguintes diretrizes para a Educao Ambiental: incentivar a introduo de temas e atividades de educao ambiental, nos programas dos cursos da rede oficial e particular de ensino em todos os graus; incentivar o envolvimento da comunidade na conservao ambiental, atravs de programas de educao informal; promover a difuso de princpios de educao ambiental, atravs dos meios de comunicao de massa, prioritariamente o rdio e a televiso educativos; incentivar o uso das reas de parques, reservas, estaes ecolgicas, bem como de instituies de ensino e pesquisa de propriedade do Estado, para fins de educao ambiental; organizar programas de acesso da populao a reas onde existam monumentos naturais e arqueolgicos, visando a implementao de atividades de educao ambiental; incentivar a instalao de reas, espaos e laboratrios comunitrios destinados a programas de educao ambiental. (p. 9) Para a consecuo desta Poltica Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais havia sido criada, j em 1983, uma rea especfica dentro da estrutura da CETESB, a Superintendncia de Educao e Divulgao Ambiental. Atribuindo-se a responsabilidade pelas modalidades de educao formal e no formal, este rgo se estrutura em duas reas especficas: uma dirigida rede formal de ensino e outra voltada ao comunitria. Esta caracterstica inicial se mostrar uma constante durante todo o processo de desenvolvimento das atividades de educao ambiental implementadas pelos rgos estaduais de meio ambiente. Ainda neste mesmo ano, foi elaborado o Programa Conjunto de Educao Ambiental e Participao Comunitria11 . Este documento define as diretrizes e a metodologia para a atuao daquele rgo nas duas modalidades de ensino, e como objetivo geral das reas responsveis pelas duas modalidades, uma atuao conjunta,buscando a aplicao de propostas concretas de participao da sociedade no processo de recuperao e gerenciamento ambiental e na avaliao dos resultados obtidos. (p.26).

A originalidade deste documento est em explicitar, pela primeira vez, um conceito de educao ambiental:A educao ambiental significa alm de uma simples especialidade, uma nova dimenso, uma ampliao, ou melhor, um aprimoramento do prprio conceito de educao. Atravs dela fica uma oportunidade de restituir educao uma funo tica muitas vezes perdida, podendo contribuir de maneira decisiva na renovao do sistema educativo, pois a cincia do meio ambiente tem uma

1983 Andr Franco Montoro inicia gesto como primeiro governador eleito aps o restabelecimento das eleies diretas para os governos estaduais.

1983 Conselho Estadual de Meio Ambiente (CONSEMA) criado em So Paulo e na primeira reunio aprova a proposta de criao das reas Proteo Ambiental (APAs) de Silveiras, Campos do Jordo, Tiet e Corumbata-Botucatu-Tejub.

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amplitude holstica, abarcando o meio natural e artificial em sua totalidade. Isto significa que a Educao Ambiental est relacionada com todas as reas, isto , est relacionada com os sistemas criados pelo homem: social, cultural, poltico, econmico, esttico, legislativo, e com os sistemas naturais: atmosfrico, geolgico, biolgico e hidrolgico. Ela est interessada nas diversas formas de interao entre o homem e a natureza, assim como na melhoria da existncia de todas as coisas vivas. (p. 17).

Em 1987, j com uma nova gesto do Estado, a Poltica Estadual do Meio Ambiente12 proposta pelo novo governo coloca entre as suas principais estratgiasa mobilizao da sociedade, atravs da educao ambiental, da sua conscientizao e do estabelecimento de parcerias, a fim de aperfeioar o controle e a fiscalizao e de acelerar a melhoria da qualidade ambiental. (p.11).

Em 1989, a Secretaria do Meio Ambiente reorganizada13 e a educao ambiental passa a fazer parte da sua estrutura constitutiva. Para implementar a poltica estadual de meio ambiente so criadas quatro coordenadorias, entre elas a Coordenadoria de Educao Ambiental CEAM. Esta nova coordenadoria tambm se estrutura internamente em reas distintas de educao formal e no formal. Suas atribuies so as seguintes:Planejar, desenvolver e promover a educao ambiental, o ecoturismo e a difuso de procedimentos que visando a melhoria do meio ambiente, estimule a adeso da populao poltica de promover o desenvolvimento ecolgico sustentado, assim como a preservao, conservao, recuperao e melhoria do meio ambiente14 .

Em 1993, a Secretaria de Meio Ambiente divulga o documento Diretrizes para a Poltica Ambiental do Estado de So Paulo15 . Estas diretrizes orientam um conjunto de programas, entre eles, o Programa Instrumentos de Gesto Ambiental no qual est includa a educao ambiental. Sobre este tema o documento traz o seguinte:O mundo contemporneo, atento necessidade de preservao do meio ambiente, tem consagrado educao ambiental um papel de grande importncia no s onde o quadro ambiental exige medidas para sua recuperao, como tambm nas regies onde a conservao da riqueza natural, enquanto substrato para o desenvolvimento da vida humana, se faz necessria. Assim, a educao ambiental tornou-se instrumento imprescindvel das polticas de meio ambiente que a Secretaria do Meio Ambiente do Estado de So Paulo pretende implementar, cabendo a ela, atravs da Coordenadoria de Educao Ambiental CEAM planejar, desenvolver e promover a educao ambiental e a difuso de procedimentos que, em ltima instncia, estimulem a adeso da populao s aes para promoo do desenvolvimento sustentvel. meta da Secretaria, por intermdio da CEAM, coordenar, efetivamente, o planejamento e as aes de educao ambiental no mbito do Sistema Estadual de Meio Ambiente e tambm fornecer diretrizes para atividades afins, de iniciativa de instituies da sociedade civil, atravs de projetos conveniados e programas conjuntos. A Secretaria ser responsvel pela elaborao de uma poltica integrada de educao ambiental para o Estado de So Paulo, a partir do processo de discusso de proposta tcnica elaborada, no mbito da Secretaria, com a participao da comunidade cientfica e aprova da pelo CONSEMA. Este documento ter como finalidade propiciar uma efetiva estruturao e regulamentao das atividades de educao ambiental no Estado, conforme determinao da Carta Magma de So Paulo. (p. 27).

1983 Reestruturao da CETESB cria na Diretoria de Planejamento Ambiental a Superintendncia de Educao Ambiental e Participao Comunitria, rea especfica de educao ambiental, que nesse mesmo ano publica Diretrizes e Metodologias de um Programa Conjunto de Educao Ambiental e Participao Comunitria.

1984 Acidente na fbrica da Union Carbide, em Bhopal, ndia, despeja quarenta toneladas de isocianato de metila na atmosfera e causa a morte de 4.500 pessoas. Muitos dos mais de 200 mil atingidos contraem doenas respiratrias, apresentam problemas oculares permanentes e desordem mental. A exposio ao isocianato de metila pode matar uma pessoa em poucas horas.

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1984 Tancredo Neves eleito presidente da Repblica, em eleies indiretas no Colgio Eleitoral do Congresso.

Finalmente, em 1995, com o incio de uma nova gesto de governo, lanado o documento Implantao da Agenda 21 no Estado de So Paulo16 . Este documento traz um conjunto de programas considerados prioritrios para a implantao da Agenda 21 em So Paulo, entre eles, o Programa de Educao Ambiental. Neste mesmo ano, e com base neste programa inicial, elaborado o Programa Estadual de Educao Ambiental17 . Entre as principais diretrizes que orientam a sua elaborao esto:

o desenvolvimento de aes continuadas e permanentes que ultrapassem as conjunturas polticas e as gestes de governo; a incluso de novos atores sociais na gesto pblica do meio ambiente, como as ONGs, a sociedade civil, as universidades, o empresariado, os trabalhadores, as comunidades tradicionais e os municpios; a articulao das aes existentes nos diversos mbitos do governo, conferindo-lhes um sentido interativo e pedaggico; e a valorizao e a participao dos cidados na soluo dos problemas ambientais. (p.4)O Programa Estadual ressalta nos seus objetivos gerais a promoo do exerccio da cidadania atravs das prticas de educao ambiental, a integrao com as outras polticas pblicas, uma gesto descentralizada da poltica, e o estabelecimento de diretrizes para as aes de educao ambiental, tanto para o governo como para a sociedade civil. E estabelece como objetivos especficos:

o estmulo incluso da educao ambiental nos programas e aes dos rgos e entidades da SMA; o subsdio s prefeituras e demais organizaes governamentais, s organizaes no governamentais e sociedade organizada para que participem da gesto pblica do meio ambiente; a discusso, com as escolas e universidades, das formas de insero da questo ambiental nos currculos escolares de todos os nveis do ensino; a gerao, sistematizao e difuso de informaes para subsidiar o desenvolvimento de atividades de educao ambiental nos rgos vinculados ao Sistema Estadual de Meio Ambiente e nas instituies da sociedade civil. (p. 5)A partir destas diretrizes e objetivos, o Programa definiu os seguintes eixos de ao: ensino e meio ambiente, cidadania e participao popular, capacitao profissional e desenvolvimento sustentvel, e comunicao e informao. Ainda no ano de 1995, as Secretarias de Meio Ambiente e de Educao, com o objetivo de desenvolver uma poltica integrada de educao ambiental, constituram um Grupo de Trabalho para coordenar os projetos de educao ambiental das duas reas18 . As atribuies deste Grupo de Trabalho referem-se implantao de programas de educao ambiental nas escolas da rede estadual de ensino, capacitao do educadores da rede oficial para o tema, ao desenvolvimento de metodologias apropriadas ao ensino da educao ambiental, produo de material didtico-pedaggico, e ao acesso das escolas do sistema estadual de ensino s informaes ambientais. Embora esta formalizao tenha propiciado uma certa integrao

1984 Usina Hidreltrica de Itaipu, no rio Paran, comea a funcionar.

1984 CONSEMA e Comisso de Meio Ambiente da Assemblia Legislativa de So Paulo aprovam a Poltica Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais.

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dos trabalhos, sobretudo no que se refere aos cursos de capacitao para os profissionais da rede de ensino, ela pouco avanou nos outros aspectos. A Secretaria de Meio Ambiente vinha mantendo a mesma estrutura organizacional desde 1989, quando da sua criao. Em 2003, inicia-se um processo de reestruturao envolvendo as suas quatro coordenadorias. Neste processo, tanto as atividades de educao como as de planejamento ambiental so integradas numa nica Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratgico e Educao Ambiental CPLEA19 . Nesta nova coordenadoria, a educao ambiental passou a ser implementada pelo Departamento de Educao Ambiental. Dentre as diretrizes propostas para o Departamento de Educao Ambiental est a incorporao da educao ambiental aos processos de planejamento e gesto ambiental. Neste processo de reestruturao, foram propostas ainda as seguintes atribuies para a rea de educao ambiental:

desenvolver estudos, pesquisas e metodologias, produzir material educativo, promover a capacitao dos recursos humanos e o monitoramento e avaliao das prticas de educao ambiental; promover a difuso de programas e campanhas educativas de temas relacionados ao meio ambiente; coordenar a elaborao do Plano Estadual de Educao Ambiental; desenvolver atividades de educao ambiental que conduzam a uma mudana de valores, de prticas e de atitudes individuais e coletivas, buscando difundir e consolidar as idias de qualidade ambiental, participao pblica e cidadania.

incorporar a educao ambiental nas atividades desenvolvidas pela SMA;

O percurso traado at aqui recobre um perodo de quase trs dcadas. Particularmente, no caso de So Paulo, os documentos citados refletem as formulaes das polticas de meio ambiente dos governos estaduais desde 1982, quando a questo ambiental incorporada como uma atribuio do governo e, conseqentemente, como rea especfica da administrao pblica. Este perodo corresponde ao prprio desenvolvimento da educao ambiental enquanto poltica pblica. Nele, esto impressas as linhas constitutivas da educao ambiental realizada pelo sistema estadual de meio ambiente e que tm se mantido constantes ao longo destes anos. Uma dessas linhas refere-se preocupao sempre presente em definir a formulao e implementao das atividades de educao ambiental voltadas educao formal como uma atribuio do sistema estadual de meio ambiente. Esta preocupao acabou refletida na prpria estruturao dos rgos responsveis pelas atividades de educao ambiental, com um setor dedicado ao ensino formal e outro ao no formal. Dentro desta atribuio, a capacitao dos tcnicos e professores da rede de ensino, bem como a distribuio de material didtico-pedaggico tm sido atividades constantes ao longo destes anos. O Censo Escolar20 , realizado em 2001, mostrou que, no estado de So Paulo, nas escolas de 1 a 4 sries do ensino fundamental 79,7% trabalharam a questo ambiental com seus alunos, seja pela forma de projetos, ou como disciplinas especiais, ou mesmo como simples insero temtica. Este dados revelam que esta questo est definitivamente presente no universo escolar. Sem dvida, as polticas de educao ambiental, com sua contribuio

1984 CETESB comea a implantar programa para despoluio e recuperao ambiental de Cubato, com financiamento de US$ 60 milhes do Banco Mundial. O projeto detectou 320 fontes poluidoras do ar, da gua e do solo. Em 1998, 90% das fontes estavam controladas. Cubato tornou-se exemplo mundial no controle da poluio. Entre outras medidas, cuidou da recuperao da qualidade da gua do rio Cubato, da arborizao, da criao de parques ecolgicos e remanejou 17 mil habitantes.

1984 Rompimento de duto da Petrobrs provoca vazamento de 700 mil litros de gasolina, causa incndio na Vila Soc, em Cubato, e mata pelo menos 90 pessoas.

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1984 CETESB lana Projeto de Educao Ambiental e Participao Comunitria para a Recuperao e o Gerenciamento Ambiental em Cubato.

especfica, tiveram um papel importante neste resultado. Contudo, apesar dos esforos, as vrias tentativas de insero da questo ambiental no currculo seja como rea inter ou transdisciplinar, no discurso da dcada de 80, ou como tema transversal, no discurso atual mostraram-se pouco efetivas, porque a educao ambiental continua sendo tratada no universo escolar de uma perspectiva das polticas ambientais, a partir do imperativo da gesto dos problemas gerados pela degradao e/ou escassez dos recursos ambientais e pela preveno dos danos futuros. Com isso, talvez fosse mais correto afirmar que a preocupao sempre manifesta nas polticas de educao ambiental dos rgos de meio ambiente refere-se antes populao escolar como pblico alvo dos programas e aes de educao ambiental, do que ao ensino formal propriamente dito. Uma outra linha constitutiva desta educao ambiental aquela voltada educao no formal. Esta abordagem tem se caracterizado como uma educao ambiental para a gesto. Nesta linha esto refletidas as principais influncias da educao ambiental enquanto prtica educativa, tanto aquelas ligadas s suas origens no movimento ambientalista, como aquelas ligadas sua constituio enquanto instrumento das polticas de meio ambiente. Esta abordagem tem abrigado a maior parte das atividades de educao ambiental. A idia central aqui a da participao enquanto exerccio de cidadania H ainda uma terceira linha, ligada a uma abordagem preservacionista, preocupada em promover a visitao das unidades de conservao e que usa como principal metodologia a trilha interpretativa. Esta atividade realizada geralmente em reas naturais preservadas onde, a partir de um roteiro previamente definido, o educador ambiental discorre sobre o funcionamento do ecossistema, a composio dos diversos elementos da paisagem e suas interaes. Esta uma metodologia prxima aos estudos do meio. A prtica das trilhas interpretativas est entre as mais antigas de educao ambiental e, na esfera governamental, tem sido promovida pelos rgos gestores das unidades de conservao21 . O panorama traado at aqui procurou mostrar que as polticas de educao ambiental, tanto na esfera federal como estadual, tiveram origem e se desenvolveram como polticas de meio ambiente. Neste mbito, sua prpria formulao se d como um dos instrumentos desta poltica que, em ltima instncia, so instrumentos de gesto. Este condicionante contribuiu para consolidar uma abordagem da educao ambiental que vem sendo chamada de educao ambiental para a gesto. De certa forma, a Lei da Poltica Nacional de Educao Ambiental referenda esta abordagem ao definir como incumbncia dos rgos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente a promoo de aes de educao ambiental integradas aos programas de conservao, recuperao e melhoria do meio ambiente (inciso III, Art. 3). Ou ainda, pelo Decreto de regulamentao da lei, ao determinar que os programas de educao ambiental sejam preferencialmente integrados s atividades de gesto ambiental:conservao da biodiversidade, de zoneamento ambiental, de licenciamento e reviso de atividades efetivas ou potencialmente poluidoras, de gerenciamento de resduos, de gerenciamento costeiro, de gesto de recursos hdricos, de ordenamento de recursos pesqueiros, de manejo sustentvel de recursos ambientais, de ecoturismo e melhoria de qualidade ambiental (inciso II, Art. 6, do Decreto Federal n. 4.281, de 25 de junho de 2002).

Embora este olhar panormico tenha indicado os marcos constitutivos do desenvolvimento das polticas de educao ambiental, ele pouco revela do processo de formulao e

1984 CETESB lana audiovisual Qualidade do Ambiente, Qualidade de Vida acompanhado de caderno de apoio para facilitar o trabalho de educao ambiental.

1985 1 Encontro Nacional dos Seringueiros cria o Conselho Nacional dos Seringueiros. A luta dos seringueiros comea a ganhar repercusso nacional e internacional com a proposta Unio dos Povos da Floresta que une interesses de ndios e seringueiros em defesa da floresta amaznica. Outra proposta foi a criao de reservas extrativistas.

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implementao dessas polticas. Quando trazemos o olhar para perodos determinados, para atores especficos e casos concretos, a diversidade das experincias vividas, os conflitos e contradies enfrentados, as solues encontradas, enfim, a riqueza da realidade cotidiana situa-se a uma distncia considervel do desenvolvimento linear descrito por qualquer retrospectiva.

1 . Conferncia de Tbilisi em 1977; Conferncia de Moscou em 1987; Tratado de Educao Ambiental para Sociedades Sustentveis e Responsabilidade Global em 1992; e Conferncia de Thessaloniki em 1997. 2 . Lei n. 6.938, de 31 de agosto de 1981. 3 . Constituio da Repblica Federativa do Brasil, captulo VI do Meio Ambiente, art. 225, 1, inciso VI. 4 . A I Conferncia Nacional de Educao Ambiental foi constituda por uma Comisso Organizadora formada pelo MMA, MEC, MINC, MCT, IBAMA, CODEVASF, DNOCS, JBRJ, GDF, UnB, UNESCO/PNUMA e IV Frum de Educao Ambiental/Rede Brasileira de Educao Ambiental. Contou com 2.868 participantes, 56% de instituies governamentais e 44% da sociedade civil. A Conferncia foi organizada em cinco grandes temas: educao ambiental e as vertentes do desenvolvimento sustentvel; educao ambiental formal; papel e desafios; educao ambiental no processo de gesto ambiental; educao ambiental e as polticas pblicas; e educao ambiental tica e formao da cidadania. Para cada um dos temas, foram apresentados diagnsticos da situao e recomendaes. 5 . Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, regulamentada pelo Decreto n. 4.281, de 28 junho de 2002. 6 . Parmetros curriculares nacionais: apresentao dos temas transversais. Secretaria de Educao Fundamental. Braslia : MEC/SEF, 1998. 7 . Para dar continuidade ao Programa Parmetros em Ao, a Coordenao Geral de Educao Ambiental, do MEC, lanou o Programa Parmetros em Ao Meio Ambiente na Escola. O Programa se destina aos professores das sries finais do Ensino Fundamental e tem como objetivos introduzir e enraizar a educao ambiental como tema transversal por meio de contedos interdisciplinares nas escolas e nos sistemas de ensino a partir da formao permanente e continuada de docentes ( BRASIL/MINISTRIO DA EDUCAO. Polticas de melhoria da qualidade da educao - um balano institucional - educao ambiental. Braslia : MEC 2003). 8 . Em documento, no qual faz um balano institucional das polticas de educao ambiental realizadas pelo MEC, a Coordenao Geral de Educao Ambiental COEA - Secretaria de Educao Fundamental, apresenta o seguinte diagnstico: (...) a Educao Ambiental tinha at ento um carter predominantemente de aes ambientais e no de contedo curricular; utilizava a escola e seus alunos como espao de reivindicao para resoluo de problemas pontuais ou festejar datas comemorativas ligadas ao meio ambiente; no dialogava com a escola e seus projetos educativos, nem com os sistemas de ensino, tendo em vista as caractersticas especficas deste universo. E prossegue indicando que a COEA definiu como misso a institucionalizao da EA nos sistemas de ensino (federal, estadual e municipal). Para cumpri-la, optou pela estratgia de pautar o tema meio ambiente nas polticas educacionais como forma mais eficaz de sensibilizar as instituies educacionais para a incorporao do tema transversal meio ambiente em suas polticas, aes, currculos e projetos educativos escolares (idem, pp. 13-4). 9 . O CETESB Centro Tecnolgico de Saneamento Bsico, criado em 1968, tinha como principal campo de atuao a engenharia sanitria. Em 1975, a empresa incorpora outras atribuies, relacionadas com poluio do ar e do solo, e passa a denominar-se Companhia Estadual de Tecnologia de Saneamento Bsico e Defesa do Meio Ambiente. Em 1976, com a criao de uma legislao especfica de controle da poluio ambiental, passa a denominar-se Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental CETESB. Posteriormente, em 1981, a Lei da Poltica Nacional de Meio Ambiente instituiu o Sistema Nacional de Meio Ambiente SISNAMA, constitudo por um conjunto de rgos e entidades da Unio, dos Estados e dos Municpios. Em 1986, o Estado de So Paulo institui o Sistema Estadual de Meio Ambiente que tem entre os seus principais rgos a Secretaria do Meio Ambiente, a CETESB e a Fundao Florestal. Com a Constituio Estadual, de 1988, este Sistema passou a denominar-se SEAQUA Sistema

NOTAS

1985 Angra I, primeira usina termonuclear brasileira, entra em funcionamento.

1985 Mrio Guimares Ferri, botnico e ecologista paulista, pioneiro da ecologia dos cerrados e florestas tropicais no pas nos anos 40, e das pesquisas de campo em ecologia a partir de 1951, morre em 15 de junho.

1985 Fbio Feldmann, de So Paulo, o nico ambientalista eleito para o Congresso Constituinte.

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Estadual de Administrao da Qualidade Ambiental, regulamentado, em 1997, pela Lei da Poltica Estadual de Meio Ambiente. 10 . Poltica Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais. Governo do Estado de So Paulo, 1984. 11 . Superintendncia de Educao e Divulgao Ambiental/Gerncia de Educao Ambiental e Participao Comunitria. Programa Conjunto de Educao Ambiental e Participao Comunitria, Ago/1983. 12 . Poltica Estadual do Meio Ambiente. Governo do Estado de So Paulo, 1987. 13 . O Decreto Estadual n. 30.555, de 03 de outubro de 1989, reestrutura, reorganiza e regulamenta a Secretaria do Meio Ambiente. So criadas quatro coordenadorias: Coordenadoria de Informaes Tcnicas, Documentao e Pesquisa Ambiental, Coordenadoria de Proteo de Recursos Naturais, Coordenadoria de Planejamento Ambiental e a Coordenadoria de Educao Ambiental. 14 . Art. 78, do Decreto Estadual n. 30.555/89. 15 . Diretrizes para a Poltica Ambiental do Estado de So Paulo. Governo do Estado de So Paulo, Secretaria do Meio Ambiente,1993. 16 . O conjunto de programas que compem o documento Implantao da Agenda 21 no Estado de So Paulo (1995) o seguinte: Programa de Apoio s ONGs; Programa de Conservao da Biodiversidade; Programa Consumidor e Meio Ambiente; Programa de Controle Ambiental; Programa de Educao Ambiental; Programa de Gesto Ambiental Descentralizada; Programa de Mudanas Climticas Globais; Programa de Preveno Destruio da Camada de Oznio; Programa de Recursos Hdricos e Programa de Resduos Slidos. 17 . Programa Estadual de Educao Ambiental. Governo do Estado de So Paulo, 1996 e 1998. 18 . Resoluo Conjunta SMA/SE n. 5, de 1 de novembro de 1995. 19 . O Decreto Estadual n 47.604, de 28 de janeiro de 2003, extingue a Coordenadoria de Informaes Tcnicas, Documentao e Pesquisa Ambiental, subordinando o Instituto de Botnica, o Instituto Geolgico e o Instituto Florestal diretamente ao Titular da Pasta. Neste mesmo ato, as atribuies da Coordenadoria de Educao Ambiental so transferidas para a Coordenadoria de Planejamento Ambiental Estratgico e Educao Ambiental criada nesta ocasio. 20 . Censo escolar 2001. MEC/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. 21 . A Lei Federal n. 9.985, de 8 de julho de 2000, que criou o Sistema Nacional de Unidade de Conservao, define unidade de conservao como o espao territorial e seus recursos ambientais, incluindo as guas jurisdicionais, com caractersticas naturais relevantes, legalmente institudo pelo Poder Pblico, com objetivos de conservao e limites definidos, sob regime especial de administrao, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteo. Define ainda, duas categorias de unidades de conservao: unidades de proteo integral e unidades de uso sustentvel.

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TROCA-SE POLUIO POReducao ambiental

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UM MARCO INAUGURAL

Era fim de ditadura, 1980, quando Jos Pedro convidou-me para coordenar a rea de meio ambiente do programa de governo do Montoro. Ns no sabamos governar, claro. Acabara uma ditadura, quer dizer, era o fim de um ciclo da Histria deste pas. Comeava outro, com novos atores e personagens. Fredmar Corra O trabalho em Cubato foi suscitando a necessidade de se criar uma rea de Educao Ambiental. Estava-se constituindo uma nova maneira de pensar a parte ambiental. Nasceram a gerncia de educao informal e a de educao formal, que no trabalhavam s com Cubato, mas comearam a tratar tambm outros temas, como solo, gua, a trabalhar e a abranger outras regies do Estado. Elizabeth de Lourdes Avelino O governador lutou pela devoluo aos Estados e Municpios do poder de controle da poluio, inclusive com a competncia de interditar indstrias poluidoras. Para reduzir a contaminao dos alimentos, da gua e do solo, Montoro estabeleceu uma fiscalizao rgida do emprego de produtos txicos na agricultura. E simplificou o licenciamento de atividades industriais para livrar as pequenas empresas de exigncias burocrticas que no decorressem de critrios de proteo ambiental.

1985 CETESB lana Expedio Ecolgica ao Fundo do Quintal, livro de Samuel Murgel Branco.

1986 Acidente na Usina Nuclear Chernobyl, na Ucrnia, espalha 50 toneladas de material radioativo pela Ucrnia, Belarus e Rssia. Segundo as autoridades, a exploso matou 4.300 pessoas. Os efeitos nocivos da radiao liberada nunca foram totalmente esclarecidos. At hoje cientistas pesquisam mutaes genticas na produo agrcola e na populao local.

rescer cinqenta anos em cinco, j era o mote do Brasil de Juscelino Kubitschek. E o governo brasileiro na ditadura militar tambm no deixou por menos: como principal organizador do bloco dos pases em desenvolvimento, que viam no combate poluio um entrave ao progresso econmico, expressou claramente durante a conferncia de Estocolmo, em 1972, que o pas no se importaria em pagar o preo da degradao ambiental, desde que o resultado fosse o aumento do Produto Interno Bruto (PIB). Dito e feito: no municpio paulista de Cubato, o preo ambiental pago pela construo de um dos maiores parques industriais da Amrica Latina passou a ser uma tonelada diria de poluentes jogados na atmosfera. Dez anos depois de Estocolmo, com o incio da abertura poltica, So Paulo teve um governo democrtico. O governador Andr Franco Montoro traou as diretrizes para o meio ambiente no Estado, cujos ndices de poluio aumentavam junto com o crescimento econmico. A questo ambiental comeou a ser tratada como problema poltico e no somente como questo tcnica.

C

A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) foi reformulada em 1983. Tornou-se um instrumento mais efetivo na defesa da qualidade ambiental, agregando s suas funes de comando e controle o planejamento e a educao ambiental. A formao de uma rea especfica dentro da estrutura organizacional da Cetesb, voltada educao ambiental, foi o marco inaugural na execuo de uma poltica pblica dirigida a essa rea. Com esse novo campo de atuao, a Cetesb incorporou o social e o poltico no trato das questes ambientais. Criou-se a Diretoria de Planejamento Ambiental e, subordinada a ela, a Superintendncia de Educao e Divulgao Ambiental.

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A primeira misso ordenada por Montoro Cetesb foi corrigir os riscos ambientais de Cubato, que a imprensa chamara de Vale da Morte, e sara com triste destaque at no jornal The New York Times. Alm de criar os mecanismos de segurana nas indstrias, o governo estadual deveria gerar polticas que neutralizassem os problemas rotineiros de emisso de poluentes. Um trabalho tcnico e poltico gestado nas dcadas seguintes pela Secretaria do Meio Ambiente criada nesse processo.1 Na semana em que Montoro tomou posse, a matria do Times era Cubato, chamado de Vale da Morte. E a cidade ficou estigmatizada no mundo inteiro como Vale da Morte. E Cubato virou ponto de honra do governo Montoro. As pessoas que moravam em rea de risco viviam entre dois limites: um prprio desse tipo de local, e outro, o limite da existncia. Elas viviam no limite da pacincia, no limite do dar sem receber, no limite da anti-solidariedade. Em dois lugares isso se tornou realidade: nos Bairros Cota e nas favelas de Cubato. Naquela poca, se existisse um fim de mundo, as favelas de Cubato estavam alm dele. Mas no ponto extremo da vida do indivduo, h uma chama de vontade de passar por cima de tudo, e de recuperar as coisas. Era isso que nos levava a continuar o trabalho. Fredmar Corra A estratgia definida para Cubato consistia em controlar as fontes de poluio do ar, da gua e do solo, elaborar um Programa de Educao Ambiental e incentivar a participao da comunidade na gesto e controle do seu prprio meio. O projeto foi fortemente apoiado na educao ambiental para viabilizar o planejamento, sem o qual toda a operao seria invivel. Esse primeiro trabalho assumido em Cubato trouxe tona o cotidiano das mudanas que se faziam necessrias, a partir da opo de se desenvolverem trabalhos descentralizados, desburocratizados e com participao comunitria.

PLANEJANDO COM A COMUNIDADE

Toninho Andrade me fez ver que, se no crissemos uma rea de educao ambiental, no faramos planejamento ambiental. Ele me mostrou que a educao ambiental uma ferramenta do planejamento ambiental. Foi assim que comecei a mudar minha viso sobre o assunto. Planejamento at ento era feito por um grupo de sbios, em torno de uma prancheta, que vaticinavam: - Voc precisa disso e no daquilo. Foi assim que comecei a perceber que havia um enorme abismo entre o que voc acha que as pessoas querem e do que elas realmente precisam. E esse abismo tinha de ser superado. Fredmar Corra Educao Ambiental um processo de crtica. Educao ambiental no um folheto que se entrega s pessoas informando que uma flor amarela e tem plen. Educao ambiental um processo, por isso nela sempre vai estar impregnado o planejamento. Elizabeth de Lourdes Avelino Entrar na Cetesb para trabalhar em educao ambiental significou para mim o desafio de trabalhar conceitos de educao dialgica e mtodos e tcnicas de educao popular (diagnstico participativo, capacitao, comunicao, mobilizao) dentro de um rgo autrquico com altssimo know-how tcnico sobre questes ambientais. Foi o comeo de uma nova aprendizagem que, durante os anos restantes de minha vida, no deixou de aprofundar-se. Moema L. Viezzer

1986 Decreto 24.932 institui o Sistema Estadual do Meio Ambiente e cria a Secretaria de Meio Ambiente.

1986 Governo federal lana Plano Cruzado que substitui a antiga moeda, o cruzeiro.

1986 I Seminrio Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente, realiza-se em Braslia, com o fim de criar um marco conceitual para a temtica ambiental e a educao ambiental no pas.

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A educao ambiental formal totalmente diferente da no formal. Os materiais produzidos e utilizados so diferentes, at o instrumento de trabalhar outro. Com os professores voc trabalha de uma maneira, com a populao, de outra maneira. Regina Brito Naquela poca, Kazue foi tocando os trabalhos de Educao Ambiental formal, enquanto Moema aprofundou a informal. Moema tem uma histria de trabalho em comunidades fora do comum. Era uma mulher que trabalhava a ritmo alucinante; ningum conseguia acompanh-la. Antnio de Andrade Para que o pblico-alvo fosse o mais abrangente, foram desenvolvidas atividades de educao ambiental nas escolas, por meio de atividades de apoio s prticas curriculares. A Superintendncia de Educao Ambiental, criada nesse mesmo ano, realizou pesquisas do campo a ser trabalhado, tanto da estrutura do funcionamento da rede escolar quanto das produes realizadas nessa rea. Tambm levantou e analisou todo o material de educao ambiental existente, sobretudo o formatado para a rede de ensino. A bibliografia sobre o tema era rara e havia apenas dois ou trs ttulos disponveis. Naquele momento, o prprio campo de educao ambiental estava sendo construdo, com pesquisas, estudos e experincias prticas.

ATUANDO

E

CONSTRUINDO

A atuao na rede escolar procurou sensibilizar alunos, professores e seus crculos de relaes para identificar e compreender a dinmica e os fatos que ocorriam sua volta. O objetivo era contribuir para a formao de uma postura crtica e incentivar as pessoas a intervir em seu meio, levando-as a melhorar sua qualidade de vida. Afinal, a escola desempenha um papel importante na hora de educar a comunidade para a recuperao e o gerenciamento ambiental. O material didtico de apoio s diversas disciplinas continha atividades curriculares e extracurriculares destinadas aos alunos do Ensino Fundamental, a fim de reforar, orientar e dar subsdios para a prtica da educao ambiental. Os temas comearam com problemas mais prximos das pessoas e depois mostraram como cada um levado a compartilhar da degradao ambiental, com prejuzo para todos, e em benefcio de uma pequena parcela da sociedade. Os conceitos de processos que melhor defendem a qualidade ambiental foram transmitidos em cursos para profissionais de nvel

1986 Universidade Federal de Braslia, cria I Curso de Especializao em Educao Ambiental, para tcnicos do SISNAMA e professores universitrios.

1986 SOS Mata Atlntica nasce, e torna-se, em pouco tempo, uma das mais importantes ONGs do pas, com grande nmero de filiados e poder de atuao.

1986 CETESB lana Projeto de Educao Ambiental e Participao Comunitria em reas Rurais.

O planejamento incluiu a organizao da comunidade que foi instigada a tomar iniciativa na busca, reivindicao e exigncia de informaes que a instrumentassem para formar as propostas e encaminh-las. Isso pressups tambm proporcionar meios para o conhecimento e domnio de articulaes e canais para conduzir cada problema levantado. De posse dos dados apurados sobre o problema ambiental na regio, durante o primeiro semestre de 1983, comeou uma fase de experincias e de consolidao de propostas sobre como trabalhar com a populao, saber o que aproxima as pessoas das questes de seu ambiente e provoca seu senso crtico, criatividade, participao.

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mdio e superior, ligados, de alguma forma, aos complexos geradores dos riscos, dos desconfortos, das perdas energticas e de matria-prima responsveis direta ou indiretamente pela degradao do ambiente na regio. Foi preciso fiscalizar e manter em nveis adequados as emisses das 23 indstrias de grande porte instaladas no complexo de Cubato. Uma imensa siderrgica, refinarias, indstrias petroqumicas e de fertilizantes todo esse conjunto era responsvel por efeitos impactantes sobre o meio ambiente da Baixada Santista, de uma vasta extenso da Serra do Mar, e at de uma grande rea do Oceano Atlntico. Estudos tcnicos revelaram a situao crtica: gases e partculas txicos na atmosfera quase irrespirvel do Vale, enormes cargas de resduos txicos lanadas no solo, nas guas e nos manguezais, falta de saneamento bsico nisso consistia a tragdia ambiental construda dia aps dia, noite aps noite. Somava-se a esse quadro a falta de saneamento bsico, de informao, de uma poltica habitacional que evitasse a ocupao de reas imprprias e a formao de assentamentos e moradias irregulares. Os riscos sade humana ficaram demonstrados nos estudos feitos pelas equipes de toxicologia ambiental da Cetesb, assim como os realizados pela Universidade de So Paulo e pelos Centros de Sade locais. Verificaram-se, tambm, impactos sobre a fauna aqutica e a contaminao de peixes e de outros alimentos vindos da regio estuarina. Isso comprometeu a pesca em toda a Baixada, e a sade de quem ingerisse esses produtos. A atividade pesqueira j vinha sendo prejudicada pela destruio dos manguezais, verificada a longo prazo, e mais difcil de reverter. O mangue, que funciona como regenerador para as guas e a fauna costeiras, vinha sendo sistematicamente aterrado para a expanso de reas industriais e urbanas ou era contaminado por produtos txicos presentes no ar e na gua.

Comeamos a perceber que dar aula de educao ambiental dentro de quatro paredes era pouco. Por isso comeamos a fazer estudo do meio, a propor jogos, peas de teatro, vdeos. Maria de Lourdes Pinheiro Simes Quando resolvemos fazer um vdeo sobre Cubato, no queramos um produto convencional. Da, chamamos a Beth Kok que fez uma maquete do vale de Cubato utilizando sucatas como matria-prima. Ela filmou a maquete enquanto narrava a histria de um homem que se levanta toda manh para trabalhar na indstria. E o produto que ele fabrica polui a casa em que mora, polui o ar que seus filhos respiram. A riqueza que o trabalhador produz com seu trabalho embarcava em navio, ia embora. S restava para o trabalhador um mundo completamente poludo. Quando exibamos esse vdeo para os moradores do Cota, eles ficavam visivelmente assustados. Curioso que os trabalhadores que moravam em Santos negavam o vdeo, porque eles no se identificavam com o personagem. Mas os que moravam em Cubato se identificavam, sofriam com o que viam. Elizabeth de Lourdes Avelino A presena constante de poluentes gasosos e de materiais particulados cerca de trinta mil toneladas por ms, formando uma poeira txica em suspenso no ar , teve outra conseqncia: a destruio da vegetao das vertentes da Serra do Mar que interceptam os ventos na direo do complexo industrial. Milhares de rvores perderam as folhas e morreram pelo contato direto com o ar envenenado, deixando as encostas das montanhas nuas e desprovidas

1986 CETESB lana Meio Ambiente: Cubato, encarte com 10 cadernos sobre questes ambientais locais e Educao Ambiental Formal Livro para o professor, coletnea em 4 volumes dirigida ao ensino fundamental.

1986 Parque Nacional do Iguau, das Cataratas do Iguau, declarado Patrimnio Natural da Humanidade.

1987 CONAMA edita Resoluo 01/86 que institui a obrigatoriedade de estudos de impacto ambiental para a instalao de empreendimentos potencialmente causadores desses eventos. A Resoluo tornou-se um marco da legislao ambiental no pas.

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INFORMAO E AO

1987 Acidente em Goinia com uma cpsula de csio, rompida a marretadas, provoca morte de 4 pessoas e leses corporais em 16. Com mais de 200 pessoas expostas radiao, considerado o maior acidente radiolgico do mundo.

de proteo contra a eroso e os deslizamentos cada vez mais freqentes sobre estradas, com risco permanente de soterramento em larga escala, tanto de casas como de instalaes industriais. Pior ainda, a terra j comeara a deslizar mesmo nas vertentes dos morros fora do alcance dos ventos carregados de poluentes. O motivo logo foi descoberto: as chuvas cidas, consideradas um dos efeitos de mais longo alcance da poluio atmosfrica. Esse era o tamanho do problema causado, direta ou indiretamente, pela presena da indstria no plo formado sem a previso de suas conseqncias, numa poca em que se buscava o desenvolvimento econmico a qualquer preo. E esse objetivo foi atingido. O valor total da produo industrial alava o municpio ao quarto lugar dentro do Estado de So Paulo. Em 1983, Cubato arrecadou 100 bilhes de cruzeiros em taxas e impostos, 76 bilhes captados apenas da indstria. As exportaes atingiram a casa dos 500 milhes de dlares cerca de 2% das exportaes brasileiras. Mas a cidade no compunha um quadro social igualmente vigoroso. At 1984, sua rede de esgotos no chegava a um quilmetro de extenso.

O programa de controle da poluio havia sido implantado. Suas principais aes e atividades estavam centradas nas diretrizes de participao comunitria e divulgao de informaes ambientais: tipos de poluentes, efeitos sobre o meio ambiente e a sade, e formas de controle da emisso de poluentes. Havia, ainda, um cronograma acordado com as indstrias e transmitido populao para que ela pudesse acompanhar as etapas para cumprimento das correes. A Cetesb identificou 320 fontes de poluio industrial, determinando a origem de cada poluente e programou, progressivamente, a instalao de filtros e aparelhos redutores. Em 1984, j estava em condies de determinar o que cada indstria, das 22 autuadas, deveria fazer para reduzir ou tratar suas emisses de poluentes, instalando ou mudando equipamentos. A abordagem adotada foi o dilogo. Convocaram-se as indstrias da regio e a Federao das Indstrias do Estado de So Paulo (FIESP) para fixar os prazos necessrios realizao do projeto de controle de poluio, e discutir a obteno de financiamentos para construo, compra e instalao dos equipamentos necessrios a esse fim. O mtodo de identificar, informar, estabelecer prazos e fiscalizar deu resultado. Um ano depois do incio do Programa de Controle da Poluio Industrial de Cubato, em julho de 1985, a emisso de poluentes diminuiu 23,4%, passando de 236,6 toneladas por dia de poeiras para 181,3 toneladas dirias. Seis meses mais tarde, em janeiro de 1986, as emisses haviam cado 40% em relao ao total inicial, chegando a 94,8 toneladas dirias. Um plano de emergncia chamado Operao Inverno foi posto em prtica. No inverno de 1984 foram declarados 12 estados de alerta e um de emergncia. Pela ao de controle da Cetesb, durante os perodos de inverso trmica 960 toneladas de material particulado deixaram de ser emitidas naquele inverno. No ano seguinte, houve oito estados de alerta e um de emergncia (ver grfico). Isso se traduziu em menos 560 toneladas de partculas poluentes na atmosfera. Atualmente, 93% das fontes poluidoras esto sob controle, e a previso chegar a 100% em 2008.

1987 ONU divulga o relatrio Nosso Futuro Comum, que apresenta recomendaes para concretizar os propsitos estabelecidos na Conferncia de Estocolmo (1972). Pela primeira vez menciona-se a expresso desenvolvimento sustentvel.

1987 Lei 7.643 probe a pesca de cetceos nas guas jurisdicionais brasileiras. Espcies ameaadas de extino, como as baleias jubarte, tm em guas brasileiras um lugar seguro para reproduzir-se e criar os filhotes.

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Fonte: Prefeitura de Cubato.

O Projeto de Educao Ambiental e Participao Comunitria para Recuperao e Gerenciamento Ambiental em Cubato, iniciado em maio de 1983, fez parte, at 1986, do Programa de Controle da Poluio Ambiental. Tinha o objetivo de levar aos habitantes as informaes sobre o meio ambiente e desenvolver formas de promover a educao ambiental, alm de proporcionar uma ferramenta para que as pessoas pudessem participar ativamente e encaminhar suas propostas e questes.

UM PROJETO VITAL

O Programa Cubato era composto de trs vertentes. Uma era a de controle ambiental propriamente dito, capitaneada pelo Galvo e relacionada diretamente com as indstrias, com as quais foram negociados prazos, cronogramas, controle. Outra era a de projetos de pesquisa, cujo responsvel era Volker. A terceira vertente era a Educao Ambiental, que num primeiro momento teve como responsvel Antnio de Andrade. Esses eram os pilares do programa de governo da CETESB do governo Montoro para Cubato. Regina Brito Foram desenvolvidos os estudos necessrios ao direcionamento das aes de controle, de educao ambiental e um esquema preventivo de atendimento s reclamaes da sociedade. As aes educativas foram feitas em associaes de bairro, associaes de pais e mestres, grupos religiosos, sindicatos, partidos polticos, entidades ambientais, na Cmara Municipal e na Prefeitura de Cubato, na rede de ensino, no Conselho de Defesa Civil e no Centro de Sade de Cubato. Entrevistas feitas com as principais lideranas polticas, sindicais e comunitrias ajudaram a levantar os principais problemas do municpio, dos quais, sabidamente, a questo ambiental era apenas um. As lideranas no dispunham de informaes suficientes para se mobilizarem e identificar cada um dos problemas. A sada encontrada pela Superintendncia de Educao Ambiental foi promover reunies nos bairros de Cubato com a presena de tcnicos, e produzir Produzir os fascculos foi idia da Lourdes. E muita gente colaborou: pessoas ligadas diretoria de controle, os tcnicos do controle, os tcnicos da diretoria de pesquisa. Isso permitiu tratar de todos os assuntos, como poluio do ar, padres de qualidade, o efeito dos poluentes sobre a sade. O papel da Educao Ambiental era transmitir informaes tcnicas em linguagem acessvel para a populao. E no fcil passar informao da maneira mais didtica possvel. Ao contrrio, isso muito complicado. Elizabeth de Lourdes Avelino

1987 Governo federal lana Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, com as premissas da Conveno das Naes Unidas sobre os Direitos do Mar, aprovada em 1982.

1987 Conselho Federal de Educao aprova parecer 226/87 que determina a incluso da educao ambiental na proposta curricular das escolas de ensino mdio e fundamental.

1987 II Seminrio Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente, realizado em Belm, no Par, cria a Comisso Universidade e Meio Ambiente.

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1987 Orestes Qurcia inicia gesto no governo do Estado de So Paulo.

material informativo pedaggico destinado a ajudar os grupos da comunidade a compreender a situao de seu meio ambiente e a interferir para a recuperao ambiental. A partir de abril de 1984 foram produzidos dez fascculos de apoio abordando os principais problemas ambientais do municpio. O primeiro, Participao e Meio Ambiente, contava o que participar e definia meio ambiente de forma abrangente. Mostrava que o ambiente no apenas o ar, a gua, as plantas, os animais, nem uma fonte infinita de recursos a serem explorados: As aes humanas compem e definem tambm o quadro ambiental no qual vivemos. Fatores sociais e econmicos, modelos de desenvolvimento, estruturas polticas, caractersticas geogrficas, disponibilidade de recursos naturais todos esses fatores definem o que meio ambiente. Os demais fascculos foram: Controle da Poluio: Situao Atual, Reivindicaes da Populao, Quem Quem na Questo Ambiental em Cubato, Poluio do Ar Padres de Qualidade e Plano de Emergncia, Efeitos dos Poluentes sobre a Sade, As Escolas de Cubato e o Meio Ambiente, O Lixo Industrial em Cubato, O que Significa a gua para Voc? e Acidentes Ambientais que explica o que uma rea de risco ambiental, e o que transportam os dutos de Cubato (petroqumicos, gases, lcool etc.), mostrando populao o sistema de dutos no municpio, origem e destino do produto transportado. O material foi distribudo s entidades, lideranas locais e populao durante as reunies e seminrios realizados pela Cetesb no municpio. A partir da formaram-se Grupos de Estudo e Ao para alguns problemas ambientais. Uma vez informada, a comunidade definiu em duas assemblias populares, em 1985, os principais problemas ambientais do municpio: a recuperao do rio Cubato, o controle da poluio, os deslizamentos na Serra do Mar e os acidentes ambientais. O projeto de educao ambiental tambm incentivou nas associaes de bairro a formao dos chamados Ncleos de Meio Ambiente, em todos os bairros de Cubato, com o fim de organizar a comunidade para a questo ambiental. No entanto, em dois anos, apenas o Jardim Costa e Silva oficializou seu ncleo. Com o nome de Ambiente Cubato, boletins informativos dirigidos aos habitantes e com a participao de lderes comunitrios e de entidades, foram impressos a partir de abril de 1986, com a chamada: Organizao e Mobilizao Popular Dependem do Processo de Informao. Aos poucos, os primeiros resultados foram aparecendo. Duas dcadas depois, embora nem todas as fontes de poluio estejam extintas, j visvel a recuperao ambiental do Vale de Piaagera, onde se situa o municpio que perdeu o apelido de Vale da Morte.

1987 CETESB transfere atividades de educao ambiental da Diretoria de Planejamento Ambiental para a Diretoria de Educao Ambiental. Nesse mesmo ano, a Diretoria promove o primeiro concurso de redao ilustrada com o tema A cidade de So Paulo e o meio ambiente no qual so inscritos mais de 4.200 trabalhos. Lana ainda as publicaes Educao Ambiental: Guia do professor de 1 e 2 Graus, e gua, Lixo e Meio Ambiente, com a tiragem de 200 mil exemplares destinados rede pblica de ensino.

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A FORMAO DA CEAMe os novos projetos

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ABORDAGENSDIRETAS

no perodo da Laura que acontece uma grande mobilizao no centro da cidade de So Paulo contra a poluio do ar. A determinao da Laura foi fundamental para que todos os recursos humanos da CETESB fossem envolvidos naquela operao. Particularmente na CEAM, onde supostamente estavam os educadores ambientais, tnhamos a conscincia de estar aprendendo fazendo. Ningum tinha passado por cursos, treinamentos. Para sair a campo, pois a inteno era envolver professores, escolas, comunidades tivemos de produzir kits de material, preparar palestras, formatar eventos de uma hora, duas horas, e at quatro horas-aula. Germano Seara Filho

DUAS CARTILHASE UM GUIA

A cartilha distribuda a 400 mil estudantes da 5a srie da rede pblica de ensino do Estado de So Paulo recebeu o nome gua, Lixo e Meio Ambiente, e foi elaborada em funo de uma demanda especfica de professores e educadores que sentiam a necessidade de trabalhar de imediato com os alunos duas questes prementes nas cidades, devido urbanizao rpida e

1987 Campanha de Educao Ambiental Operao Praia Limpa tem incio.

1987 UNESCO-PNUMA realizam congresso internacional em Moscou, sobre educao e formao ambiental, para avaliar os avanos da educao ambiental desde Tibilisi, e reafirmar os princpios ento estabelecidos com destaque para a importncia da pesquisa e da formao em educao ambiental.

1988 Constituio da Repblica Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro, dedica captulo ao meio ambiente e destaca que preciso promover a Educao Ambiental em todos os nveis de ensino e a conscientizao pblica para a preservao do meio ambiente.

que tm em comum uma ilha, o mundo acadmico, uma operao que pra o centro de So Paulo, uma campanha para limpar as praias paulistas e um selo para brinquedos? Todos esses itens so apenas exemplos dos trabalhos desenvolvidos pela CEAM. A linha que interliga esses projetos so os graves problemas ambientais vividos pelo Estado de So Paulo e a necessidade de investir em solues de curto e longo prazos traduzidas em aes de educao ambiental, exatamente no perodo em que esto sendo criadas a Secretaria do Meio Ambiente e a prpria Coordenadoria de Educao Ambiental. No incio do governo Qurcia, as atividades de planejamento e educao ambiental da CETESB foram separadas e atribudas s diretorias de Planejamento Ambiental e de Educao Ambiental. Em 1989, a educao ambiental foi transferida para a Secretaria do Meio Ambiente e tornou-se a Coordenadoria de Educao Ambiental (CEAM).

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Quatro publicaes, um concurso e a criao de duas campanhas tambm se destacaram nas aes de educao ambiental em 1988. A primeira campanha, a Operao Praia Limpa, foi organizada pela Diretoria de Educao Ambiental da CETESB, para conscientizar turistas e moradores do litoral paulista sobre os danos do lixo nas praias, especialmente no vero, quando j se multiplicava por dez a populao dos municpios da regio. Com infra-estrutura montada para viabilizar a operao, as equipes da Praia Limpa distriburam material informativo e sacolas para recolher o lixo gerado. Outro projeto importante nesse perodo foi a Operao Alerta em So Paulo. Monitores, tcnicos da CETESB e voluntrios conseguiram bloquear por um dia a entrada de automveis no centro da cidade, no dia Mundial do Meio Ambiente. Prevenindo os motoristas sobre a Operao, eles distriburam adesivos e multas simblicas em folhetos que explicavam os perigos da poluio, com um resultado surpreendente: depois de informados, dos 200 mil carros que trafegavam normalmente pela regio, 180 mil deixaram de circular naquele dia, e a cidade passou a discutir o problema da poluio causada pelos escapamentos dos veculos.

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desordenada: a gua e o lixo. Os alunos puderam conhecer e estudar esses temas com a orientao dos professores e desenvolveram atividades que foram avaliadas, iniciando-se, assim, a formao de uma conscincia ambiental. Elaboramos um trabalho muito interessante voltado basicamente para o segundo ciclo do primeiro grau. Essa cartilha foi testada n vezes com alunos, professores e foi aplicada em todo o Estado de So Paulo. Teve um alcance total. No houve uma escola em que no se realizassem atividades sobre gua, lixo e meio ambiente. A cartilha tinha proposta de avaliao. Estudantes e professores ficaram realmente satisfeitos com o resultado. Foi uma coisa gratificante de fazer. Laura Tetti Economia de Energia e Menos Poluio, publicao dirigida indstria paulista e produzida em parceria com a Agncia para Aplicao de Energia, teve o objetivo de esclarecer a economia de energia em caldeiras, com o melhor rendimento desses equipamentos e a conseqente reduo da poluio causada pela queima de leo. Uma filosofia de ao poltica na rea do meio ambiente: essa a proposta implcita no Guia de Educao Ambiental para professores do Ensino Fundamental, coordenado pela Diretoria de Educao Ambiental da CETESB. A inteno era fazer com que a educao ambiental deixasse de ser encarada como uma nova disciplina do currculo escolar, mas que estivesse presente em todas as matrias e etapas do processo educativo. O Guia sugeriu estratgias de abordagem das questes ambientais nas disciplinas existentes, com idias e atividades j testadas em algumas escolas. importante destacar que essa publicao est entre as primeiras elaboradas para a educao formal distribudas no Brasil. A quarta publicao, A Cidade de So Paulo e o Meio Ambiente, liga-se ao 1o. Concurso de Redao Ilustrada promovido pela Diretoria de Educao Ambiental da CETESB. A idia era iniciar entre as crianas da 4a srie do Ensino Fundamental I a discusso dos problemas e das solues para as questes ambientais que afetavam a cidade. Mais de 4.200 trabalhos foram inscritos. Milhares de sugestes e propostas foram apresentadas. Trinta trabalhos com desenhos e textos escolhidos pelos educadores e especialistas em comunicao que compuseram o jri foram publicados em livro.

UM CONCURSODE REDAO

Ns fizemos um concurso de redao ilustrada para alunos da cidade de So Paulo. Queramos saber o que eles sentiam a respeito do meio ambiente da cidade onde moravam. Ficamos surpresos com o resultado: recebemos cerca milhares de redaes ilustradas. Laura Tetti

Um dos papis da educao ambiental restabelecer o vnculo com os elementos naturais. Essa percepo fez nascer programas educacionais para estudantes no contato direto com a natureza. Ao mesmo tempo, os srios problemas ambientais do Estado de So Paulo mostravam que era necessrio aumentar a participao da sociedade na discusso sobre a importncia da conservao dos recursos naturais.

UMA ILHA PARAEDUCADORES

1988 Painel de Mudanas Climticas criado para avaliar o conhecimento que existe sobre o clima ser a principal referncia s negociaes da Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudana do Clima, em 1992.

1988 Francisco Alves Mendes Filho, sindicalista e ativista ambiental, mais conhecido como Chico Mendes, assassinado em Xapuri, Acre, o que causa grande repercusso mundial. O delito associado atividade criminosa de fazendeiros que tentavam ocupar a floresta amaznica para criar gado.

1988 Brasil ratifica Conveno das Naes Unidas sobre os Direitos do Mar.

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1988 SMA promove o 1 Simpsio Estadual sobre Meio Ambiente e Educao Universitria.

Exemplo de programa com essa finalidade realizou-se no Parque Estadual da Ilha do Cardoso, em Canania, no extremo sul do litoral paulista. O local reunia condies adequadas para a proposta do trabalho: diversidade de ecossistemas, restinga, Mata Atlntica e ambiente marinho , muitos stios arqueolgicos (sambaquis) e pequenos ncleos populacionais que vivem em estreita relao com o ambiente natural. A Ilha do Cardoso conhecida como berrio do Atlntico pela funo de viveiro martimo exercida pelos mangues. Era grande o nmero de interessados em participar das atividades de educao ambiental realizadas na Ilha do Cardoso, mas poucos estavam em condies de pr os programas em prtica. Da surgiu a idia de complementar esse trabalho capacitando agentes para difundir os programas nas escolas e na prpria ilha, cenrio escolhido para a experimentao dessa estratgia de anlise participativa do ambiente. Assim, a ateno dos programas educacionais promovidos passou a centralizar-se nos professores e assistentes pedaggicos. Havia na ilha um programa, de anos anteriores, que promovia o contato de estudantes com a natureza. Dessa vez, porm, as aes miravam a formao de educadores. Foram quatro anos letivos (1987 a 1990) de cursos com a durao de cinco dias. Deles participaram equipes de centenas de professores da rede estadual de ensino das reas de Biologia, Sociologia, Histria, Geografia, Fsica e Qumica. Alm do contato direto com a natureza praticamente intacta do Parque Estadual da Ilha do Cardoso eles se familiarizaram com ambientes sobre os quais s tinham conhecimento terico. No entanto, o objetivo do programa era mais que provocar um contato com a natureza ou de contrapor o conhecimento terico dos educadores. Consistia em uma vivncia exemplar dos problemas ambientais. Lev-los ao local para que pudessem compreender a complexidade daqueles ecossistemas revelava outros objetivos do programa. Lidar com o meio ambiente significa trabalhar com uma complexidade da qual s uma abordagem holstica, inter e multidisciplinar consegue dar conta. Definiu-se um caminho metodolgico com base em trs princpios ou pressupostos que serviram de alicerce ao programa: interdisciplinaridade na abordagem das questes ambientais e na metodologia das aes educativas correspondentes; compreenso da realidade vivida como nfase de estudo; e construtivismo como mtodo pedaggico. Uma parte essencial do programa era fornecer aos professores os elementos para que compreendessem a importncia da regio estuarino-lagunar do Vale do Ribeira, incluindo os complexos de Iguape, Canania e Paranagu, uma das reas mais preservadas do Estado e, ao mesmo tempo, menos desenvolvida economicamente. Esperava-se, com a conscientizao, mobilizar os participantes e transform-los em difusores desse tipo de trabalho de preservao que poderia ser adaptado a outros ambientes. A fim verificar a possibilidade de aplicar o que tinham aprendido, no final do curso as equipes de educadores organizaram-se em grupos e elaboraram planos de trabalho considerando as especificidades ambientais de seu bairro, municpio ou regio de origem. Essa abordagem interdisciplinar visava a melhoria da qualidade de vida como resultado da melhoria das condies ambientais. Tambm foi realizado um acompanhamento do trabalho de alguns participantes que aplicaram o conhecimento adquirido em suas escolas com estudantes do Ensino Fundamental. Um dos resultados positivos do curso foi a presena de educadores na Ilha do Cardoso, acompanhados de outros professores e alunos. Palestras e oficinas realizadas em conjunto com os educadores destinavam-se a contribuir com mais conhecimentos e a ajud-los a en-

1988 SMA lana os livretos de educao ambiental: A Poluio do Ar em So Paulo, e A Verdade sobre a Poluio do Ar.

1989 Queda do Muro de Berlim, incio da reunificao da Alemanha e fim da Guerra Fria.

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contrar solues para as dificuldades com que se defrontaram em seus planos de trabalho nas escolas. Os cursos contaram com um nmero crescente de participantes. Passaram depois a ser promovidos pela Coordenadoria de Educao Ambiental-CEAM, criada em 1989, e contriburam igualmente para gerar novas propostas curriculares no ensino formal em Cincias e Geografia.

A Constituio da Repblica Federativa do Brasil, promulgada em 5 de outubro de 1988, aponta a necessidade de incluso da educao ambiental em todos os nveis de ensino. Uma parceria com as universidades para aperfeioar o controle e a fiscalizao e acelerar a melhora da qualidade ambiental, foi uma forma encontrada pela Secretaria do Meio Ambiente para mobilizar a sociedade por meio da educao ambiental. Com esse propsito realizou alguns trabalhos com uma parte significativa da sociedade: a comunidade acadmica. Para isso promoveu um intercmbio com as instituies de ensino universitrio, a elaborao de um diagnstico do quadro educacional universitrio do Estado em relao oferta e demanda de ensino relacionado ao meio ambiente, simpsios e seminrios sobre a abordagem da questo ambiental nos programas curriculares do ensino superior, e subsdios para futuros planejadores educacionais na rea do meio ambiente. Duas semanas antes da promulgao da Constituio Federal, a SMA organizou o I Simpsio Estadual sobre Meio Ambiente e Educao Universitria, em que se discutiu a questo ambiental na formao do profissional de Cincias Humanas, com a palestra de abertura tratando do perfil necessrio ao profissional atuante na rea do meio ambiente. Foi feito um levantamento prvio de tudo o que a universidade no Estado de So Paulo j acumulara de conhecimento em termos de meio ambiente. A pesquisa Diagnstico Preliminar do Quadro Educacional Universitrio em Relao Questo Ambiental no Estado de So Paulo aferiu o envolvimento das universidades pblicas e particulares com a questo ambiental. Dessa maneira, formou-se um tipo de banco de dados sobre onde est concentrado o saber de tudo o que diz respeito ao meio ambiente, til para estudiosos e para empresas. Seguiram-se mais dois encontros anuais, todos com especialistas, educadores e alunos das instituies de ensino e pesquisa de So Paulo e de diversos estados brasileiros. Foi criada a Gerncia de Educao Ambiental Universitria-GEAU, gerenciada por Germano Seara Filho, a partir de agosto de 1989.

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MEIO AMBIENTE

E A UNIVERSIDADE

Eu defendia a idia de que precisvamos envolver a universidade com o trabalho desenvolvido pela Secretaria, por isso formulei uma proposta que LauraTetti captou muito bem. Sugeri a criao da Gerncia de Educao Ambiental Universitria-GEAU, que passei a gerenciar a partir de agosto de 1989. Passei a ter contato muito estreito principalmente com a Universidade de So Paulo, de modo especial com os integrantes da Comisso de Estudos dos Problemas AmbientaisCEPA. Destaco como aes importantes desse perodo de um ano e poucos meses frente da GEAU o I Simpsio sobre Meio Ambiente e Educao Universitria, realizado na CETESB, e a pesquisa Diagnstico Preliminar do Quadro Educacional Universitrio em Relao Questo Ambiental no Estado de So Paulo que tentou aferir o envolvimento das universidades pblicas e particulares, notadamente os professores, com a questo ambiental. A parte da pesquisa que envolvia o corpo docente foi realizada. A que dizia respeito ao corpo discente no chegou, infelizmente, a ser concluda. Germano Seara Filho

1989 Vazamento do petroleiro Exxon-Valdez destri parte da fauna da costa do Alasca e causa uma das maiores catstrofes ambientais do mundo.

1989 Protocolo de Montreal para a Proteo da Camada de Oznio entra em vigor.

1989 Fernando Collor de Melo vence a primeira eleio direta para presidente da Repblica, desde 1960, disputada em dois turnos.

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NASCE O

SELO

AMBIENTAL

Outra iniciativa interessante daquele perodo foi o Projeto Brinquedo. Por sugesto do secretrio do Meio Ambiente, dr. Jorge Wilheim, contactamos alguns fabricantes de brinquedos a quem oferecemos a possibilidade de imprimir na caixa de brinquedos um selo com os dizeres Aprovado para Educao Ambiental. Mas s ganhariam o selo os produtos que tratassem de temas ecolgicos e obedecessem a normas de segurana. Germano Seara Filho Alguns fabricantes logo aceitaram a idia. Um dos primeiros a assinar um termo de compromisso e a produzir um brinquedo com o selo foi o empresrio Emerson Kapaz. Assim nasceu o Projeto Brinquedo, com o selo Aprovado para Educao Ambiental. Pretendia-se atingir o universo das crianas com um meio informal que as ajudasse a desenvolver uma boa relao com o meio ambiente. A idia de certificao de brinquedos com um selo ambiental foi uma proposta do secretrio Jorge Wilheim, com a participao da ABRINQ, e continuou a ser desenvolvida na gesto seguinte, formalizada por resolues da SMA. Outra parceria, com a Estao Cincia da USP, criou umas mquinas por sugesto de Laura Tetti batizadas com o nome de kinetoscpios. Cada uma delas consistia numa caixa retangular, com um visor no teto, dentro da qual girava um rolo acionado por uma manivela que a criana movimentava. A idia da manivela era envolver a criana na ao, e tambm permitir que ela visse um filminho com a velocidade mais conveniente para apreender seu contedo. Na minha passagem pela CEAM fizemos uma parceria com a Estao Cincia e conseguimos l um espao no qual desenvolvamos duas atividades que terminavam atingindo crianas e jovens, pblico principal que visita a Estao, e que podem ser considerados projetos de educao no-formal. A Beth Kok desenvolveu uns filminhos sobre temas ambientais vrios, que eram colocados nessas mquinas e vistos com prazer pelas crianas. A outra atividade era um teatro de fantoches. A crianada adorava aquele teatrinho. Germano Seara Filho Assim, para a educao no-formal, a organizao dos contedos obedeceu a outros parmetros que no os curriculares. Tambm foi contratado um grupo experimental de teatro de marionetes, que se encarregou de desenvolver e apresentar, sob a superviso da CEAM, uma pea que chamava a ateno para o problema do lixo. Depois de ver o filme e assistir a pea

1989 Governo brasileiro decide candidatar-se a pas-sede da Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a realizar-se em 1992.

1989 Criao do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis (IBAMA), para realizar a poltica nacional do meio ambiente, e do Fundo Nacional de Meio Ambiente, que se destina a financiar projetos de uso sustentvel de recursos naturais. O fundo tambm prev verbas para melhorar ou recuperar a qualidade ambiental. o primeiro instrumento para financiar a poltica pblica ambiental brasileira.

O segundo simpsio, em 1989, analisou os problemas educacionais, privilegiando a dimenso socioeconmica da questo ambiental. E o terceiro, em 1990, teve como tema os impactos ambientais causados pela sociedade industrial. Ali se examinou o papel do Estado e da sociedade civil no desenvolvimento tecnolgico e foi abordada a relao entre tecnologia e questo ambiental, especialmente no campo da Engenharia. Alm das polticas de financiamento para ensino e pesquisa direcionadas para o meio ambiente, foram analisados os instrumentos legais de gesto de recursos ambientais, riscos e desastres ecolgicos, e a necessidade de formao de recursos humanos para o gerenciamento ambiental. A CEAM fez contacto com alguns fabricantes de brinquedos a quem ofereceu, em 1991, a possibilidade de imprimirem nas caixas de seus produtos um selo de aprovao fornecido pela Secretaria do Meio Ambiente, desde que os brinquedos fossem desenvolvidos obedecendo a normas de segurana e tratassem de temas ecolgicos.

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teatral, as crianas desenhavam, escreviam ou conversavam com os educadores, que tentavam colher seus sentimentos e o que tinham aprendido. O teatro continuou na gesto seguinte e chegou a ser deslocado para alguns eventos institucionais no Estado. Esses projetos destinavam-se a criar uma conscincia ambiental e uma postura tica novas diante da natureza, sem deixar de considerar as tecnologias modernas que existem e mostrar que bem-vindo o desenvolvimento de tecnologias limpas, de tecnologias que usem e/ou reutilizem poucos recursos naturais. bvio que gostamos de geladeira para conservar alimentos ou nos dar uma gua fresquinha neste pas tropical, de poder voar rapidamente de um canto para outro do mundo, de notcias on-line etc. A tecnologia que fez a bomba nuclear desenvolveu tambm a medicina nuclear, til para o tratamento de certas doenas. O drama que o desenvolvimento tico da sociedade no corre pari passu com o desenvolvimento tecnolgico. Colocam-se armas na mo de pessoas que ainda no esto preparadas para utiliz-las e elas so usadas para a destruio. por isso que a meta primordial da educao ambiental justamente criar uma nova conscincia e uma nova postura tica do homem perante a natureza. Tenho de ser solidrio, sincronicamente, com todos aqueles que convivem comigo hoje no universo e, diacronicamente, com as geraes futuras.Os que viro depois tm o mesmo direito que eu tenho de usar o espao da biosfera e seus recursos, que so limitados. Da a necessidade de preservar, conservar ou recuperar, usar sem esgotar. Germano Seara Filho

1989 III Seminrio Nacional sobre Universidade e Meio Ambiente realizado em Cuiab, Mato Grosso. Nesse mesmo ano, o IBAMA, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco, realiza o Primeiro Encontro Nacional sobre Educao Ambiental no Ensino Formal.

1989 Constituio do Estado de So Paulo, promulgada em 5 de outubro, no captulo Do Meio Ambiente, dos Recursos Naturai