8 capitulo 8 - ecologia, biodiversidade, educacao ambiental , etica e cidadania

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sicaced.uninorte.com.br PARTE VIII ECOLOGIA, BIODIVERSIDADE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL 8.1 Ecologia 8.1.1 Conceito A Ecologia é o estudo científico da distribuição e abundância dos seres vivos e das interações que determinam a sua distribuição. É a ciência que estuda os ecossistemas. As interações podem ser entre seres vivos e o meio ambiente. A palavra Ecologia tem origem no grego “oikos", que significa casa, e "logos", estudo. Por extensão seria o estudo da casa, ou de forma mais genérica, do lugar onde se vive. Mas antes desta definição houve muitas discussões e conceitos: A primeira definição foi: durante algum tempo a ecologia foi entendida como um subcapítulo da biologia que estuda o relacionamento do s seres vivos entre si e como o seu meio ambiente. Assim a entedia seu primeiro formulador, HERNST HAEKEL, 1866. Mas logo em seguida, abriu-se o leque de sua compreensão com três famosas ecologias (conforme estudo de F. Guatari): a ambiental, que se ocupa com o meio ambiente e as relações que as várias sociedades históricas entretêm com ele ora benevolentes, ora agressivas, ora integradas ao ser humano na natureza, ora distanciando-o; a social, que se ocupa principalmente com as relações sociais como pertencentes às relações ecológicas, pois o ser humano pessoal e social é parte do todo natural e a relação para com a natureza passa pela relação social de exploração, de colaboração ou de respeito e veneração; por fim a mental, que parte da constatação de que a natureza não é exterior do ser humano, mas interior, encontrando-se sob forma comportamental que concretizam atitudes de agressão ou de respeito e acolhida das natureza. De acordo com o vocabulário Básico, compilado por Iara V. de Moreira Rio de Janeiro, FEEMA, 1992. A segunda definição: O termo “ECOLOGIA” foi criado por HERNST HAEKEL (1834-1919) em 1869, em seu livro “Generelle Morphologie des Organismen”, para designar “o estudo das relações de um organismo com seu ambiente inorgânico ou orgânico, em particular, o estudo das relações do tipo positivo ou amistoso e do tipo negativo (inimigos) com as plantas e animais com que convive” (HAEKEL APUD MARGALEF,1980). Em português, aparece pela primeira vez em Pontes de Miranda, 1924, “Introdução à Política Científica”. O conceito original evoluiu até o presente no sentido de designar uma ciência, parte da biologia, e uma área específica do conhecimento humano quer tratam do estudo das relações dos organismos uns com os outros e com todos os demais fatores naturais e sociais que compreendem seu ambiente. A terceira definição: Em sentido literal, a Ecologia é a ciência ou estudo dos organismos em “sua casa”, isto é em seu meio... Define-se como o estudo das relações dos organismos, ou

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PARTE VIII – ECOLOGIA, BIODIVERSIDADE E EDUCAÇÃO AMBIENTAL

8.1 Ecologia

8.1.1 Conceito

A Ecologia é o estudo científico da distribuição e abundância dos seres vivos e das interações

que determinam a sua distribuição. É a ciência que estuda os ecossistemas. As interações podem ser

entre seres vivos e o meio ambiente. A palavra Ecologia tem origem no grego “oikos", que significa

casa, e "logos", estudo. Por extensão seria o estudo da casa, ou de forma mais genérica, do lugar

onde se vive.

Mas antes desta definição houve muitas discussões e conceitos: A primeira definição foi:

durante algum tempo a ecologia foi entendida como um subcapítulo da biologia que estuda o

relacionamento do s seres vivos entre si e como o seu meio ambiente. Assim a entedia seu primeiro

formulador, HERNST HAEKEL, 1866. Mas logo em seguida, abriu-se o leque de sua compreensão com

três famosas ecologias (conforme estudo de F. Guatari): a ambiental, que se ocupa com o meio

ambiente e as relações que as várias sociedades históricas entretêm com ele ora benevolentes, ora

agressivas, ora integradas ao ser humano na natureza, ora distanciando-o; a social, que se ocupa

principalmente com as relações sociais como pertencentes às relações ecológicas, pois o ser humano

pessoal e social é parte do todo natural e a relação para com a natureza passa pela relação social de

exploração, de colaboração ou de respeito e veneração; por fim a mental, que parte da constatação

de que a natureza não é exterior do ser humano, mas interior, encontrando-se sob forma

comportamental que concretizam atitudes de agressão ou de respeito e acolhida das natureza. De

acordo com o vocabulário Básico, compilado por Iara V. de Moreira Rio de Janeiro, FEEMA, 1992.

A segunda definição: O termo “ECOLOGIA” foi criado por HERNST HAEKEL (1834-1919) em

1869, em seu livro “Generelle Morphologie des Organismen”, para designar “o estudo das relações

de um organismo com seu ambiente inorgânico ou orgânico, em particular, o estudo das relações do

tipo positivo ou amistoso e do tipo negativo (inimigos) com as plantas e animais com que convive”

(HAEKEL APUD MARGALEF,1980). Em português, aparece pela primeira vez em Pontes de Miranda,

1924, “Introdução à Política Científica”. O conceito original evoluiu até o presente no sentido de

designar uma ciência, parte da biologia, e uma área específica do conhecimento humano quer tratam

do estudo das relações dos organismos uns com os outros e com todos os demais fatores naturais e

sociais que compreendem seu ambiente.

A terceira definição: Em sentido literal, “a Ecologia é a ciência ou estudo dos organismos

em “sua casa”, isto é em seu meio... Define-se como o estudo das relações dos organismos, ou

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grupos de organismos, com seu meio...Está em maior consonância com a conceituação moderna, ou

seja, Ecologia como estudo da estrutura e da função da natureza, entendendo-se que o homem dela

faz parte” (ODUM,1972)

Ela pode ser dividida em Autoecologia, Demoecologia e Sinecologia. Entretanto, diversos

ramos têm surgido utilizando diversas áreas do conhecimento: Biologia da Conservação, Ecologia da

Restauração, Ecologia Numérica, Ecologia Quantitativa, Ecologia Teórica, Macroecologia,

Ecofisiologia, Agroecologia, Ecologia da Paisagem. Ainda pode-se dividir a Ecologia em Ecologia

Vegetal e Animal e ainda em Ecologia Terrestre e Aquática.

1.1.2 Importantes conceitos da ecologia

1. Indivíduo: É a unidade de vida que se manifesta. É um representante de uma espécie.

2. Espécie: Grupo de todos os indivíduos que, cruzando entre si, deixam descendentes férteis.

3. População: Grupo de organismos de uma mesma espécie que habitam uma determinada

área, numa determinada época/ período.

4. Comunidade ou biocenose: Conjunto de espécies diferentes que sofrem interferência umas

nas outras.

5. Ecossistema: Relação das comunidades (conjunto de várias populações) com os fatores

abióticos. E se divide em Componentes bióticos (Seres vivos) e Componentes abióticos (Meio

ambiente, Fatores físico-químicos, Luminosidade, Umidade, Nutrientes – solo, Temperatura)

6. Hábitat: Lugar onde vive o organismo. “Endereço da espécie”. Exemplos: numa árvore, no

solo de um jardim, no pelo de outro animal.

7. Nicho: Conjunto das interações do organismo com o ambiente e com outros seres. “È o

modo de vida da espécie”. Exemplos: tipo de alimentação, modo de reprodução.

8. Biomas: São ecossistemas com características próprias, normalmente ditadas pela

localização geográfica (latitude ou altitude), clima e tipo de solo. São divididos em: Terrestres

ou continentais e Aquáticos. Geralmente se dá um nome local a um bioma em uma área

específica. Por exemplo, um bioma de vegetação rasteira é chamado estepe na Ásia central,

savana na África, pampa na região subtropical da América do Sul ou cerrado no Brasil,

campina em Portugal e pradaria na América do Norte.

9. Biosfera: É o conjunto de todos os ecossistemas da Terra. É um conceito da Ecologia,

relacionado com os conceitos de litosfera, hidrosfera e atmosfera. Incluem-se na biosfera

todos os organismos vivos que vivem no planeta, embora o conceito seja geralmente

alargado para incluir também os seus habitats. O termo "Biosfera" foi introduzido, em 1875,

pelo geólogo austríaco Eduard Suess. Entre 1920 e 1930 começou-se a aplicar o termo

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biosfera para designar a parte do planeta ocupada pelos seres vivos. O conceito foi criado

por analogia a outros conceitos empregues para nomear partes do planeta, como, por

exemplo, litosfera, camada rochosa que constitui a crosta, e atmosfera, camada de ar que

circunda a Terra.

8.1.2 Greenpeace

Criada em 1971 no Canadá por imigrantes americanos, tem atualmente cerca de três milhões

de colaboradores em todo o mundo - quarenta mil no Brasil - que doam quantias mensais que variam

de acordo com o país. Entre os primeiros ativistas que ajudaram a fundar a organização na década de

1970 havia pessoas com estilo de vida hippie e membros de comunidades quakers americanas, que

migraram para o Canadá por não concordarem com a guerra do Vietnã.

Os nomes mais destacados entre os fundadores da organização são Robert (Bob) Hunter

(falecido em maio de 2005), foi membro do grupo por toda sua vida, Paul Watson que saiu em 1977

por divergências com a direção do grupo, fundando no mesmo ano a Sea Shepherd Conservation

Society, dedicada à proteção dos oceanos e Patrick Moore se desligou em 1986 e, em 1991, criou a

empresa Greenspirit, que presta consultoria ambiental à indústria madeireira, nuclear e de

biotecnologia. O Greenpeace recebe ainda doações de equipamentos e outros bens materiais,

usados geralmente nas campanhas e ações do grupo.

O grupo não aceita recursos de governos, empresas e partidos políticos. Atualmente, esta

postura é colocada em dúvida. Entidades como o Activistcash rastreiam e revelam ao público as

fontes de financiamento de ONGs, como o Greenpeace.

Entretanto, para a organização, sua independência financeira é um valor de maior

importância, pois é o que garante sua total liberdade de expressão. Dessa forma, pode assumir riscos

e confrontar alvos, tendo compromisso apenas com a sociedade civil. São aceitas doações (em

dinheiro ou recursos / equipamentos) apenas de pessoas físicas ao redor do globo, independente do

valor.

8.1.2.1 A ORIGEM DO NOME

O nome da organização veio do acaso. Na ocasião da estreia da organização, para impedir um

teste nuclear norte-americano nas Ilhas Aleutas, os ativistas tiveram a ideia de fazer e vender um

"button" para ajudar a arrecadar fundos para a viagem. Ela deveria conter as palavras 'Green' (verde)

e 'Peace' (paz), que constavam em duas bandeiras separadas, hasteadas a bordo da embarcação da

organização, até então conhecida como 'Comitê Não Faça Onda' (Don't Make a Wave Committee). As

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palavras haviam sido pensadas para expressar a ideia de pacifismo e defesa do meio ambiente,

porém, vistas nas bandeiras e separadas, pareciam muito grandes para caber num button, assim

foram juntadas e nascia a expressão 'Greenpeace', que passou a ser o nome adotado pela

organização.

8.1.2.1 CAMPANHAS

As campanhas procuram confrontar e constranger os que promovem agressões ao meio ambiente.

Dessa forma o grupo conseguiu textos e ações do Greenpeace que procuram atrair a atenção da

mídia para assuntos urgentes e conquistou ao longo de sua história algumas importantes vitórias

como o fim dos testes nucleares no Alasca e no Oceano Pacífico, o fechamento de um centro de

testes nucleares americano, a proibição da importação de pele de morsa pela União Europeia, a

maratona à caça de baleias e a proteção da Antártida contra a mineração. No Brasil, o Greenpeace

conseguiu vitórias principalmente na Amazônia, denunciando a extração ilegal de madeira da região.

A instituição mantém, ainda, vigilância sobre a exploração do urânio na cidade baiana de

Caetité, tendo veiculado o vazamento do minério e a contaminação da água no município por

diversas ocasiões, tendo inclusive levado água caetiteense contaminada por vazamento de urânio até

ministros do governo Lula, como Carlos Minc, sem que medidas concretas de proteção tenham sido

adotadas.

8.1.2.2 ECOLOGIA URBANA

Ecologia urbana é uma nova área de estudos ambientais que procura entender os sistemas

naturais dentro das áreas urbanas. Ela lida com as interações de plantas, animais e de seres humanos

em áreas urbanas. Ecologistas urbanos estudam árvores, rios, vida selvagem e áreas livres

encontrados nas cidades para entender até que ponto esses recursos são afetados pela poluição,

urbanização e outras formas de pressão.

Estudos em ecologia urbana podem ajudar as pessoas a verem as cidades como parte de um

ecossistema vivo.

Podemos notar claramente, que o meio ambiente foi alterado de forma radical e devido a

isto esta área da Ecologia adquiriu uma importância tão grande que a fez torna-la essencial.

Nascentes de água e reservas subterrâneas foram infectadas ou extinguidas através da ocupação

humana descontrolada. Essa dura realidade se mostra clara quando vemos as grandes cidades com

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altos índices de poluição ambiental gerada após anos de descaso e só agora estamos sentindo o

quanto fomos irresponsáveis ao consumirmos irracionalmente o nosso planeta.

Aplicar políticas que visem criar a conscientização das pessoas e a introdução da cultura de

sustentabilidade e ecologia urbana nas populações de todas as faixas sociais é fundamental para

garantir uma melhor condição de vida para todos e dar a oportunidade de aprenderem que a

utilização de meios sustentáveis pode ser muito mais do que meramente "agir ecologicamente de

forma correta"

Uma área muito conhecida da população e que está intimamente ligada a ecologia urbana é

a reciclagem. E devido a sua grande importância, esses programas envolvendo reciclagem de

materiais e o processamento de resíduos, deveriam passar a ser subsidiado pelos governos assim

como patrocinados pela iniciativa privada.

A sustentabilidade urbana consiste em um dos grandes desafios da sociedade atual e

consequentemente de seus governantes.

8.2 BIODIVERSIDADE

8.2.1 INTRODUÇÃO

Biodiversidade ou diversidade biológica (grego bios, vida) é a diversidade da natureza viva.

Desde 1986, o termo e conceito têm adquirido largo uso entre biólogos, ambientalistas, líderes

políticos e cidadãos conscientizados no mundo todo. Este uso coincidiu com o aumento da

preocupação com a extinção, observado nas últimas décadas do Século XX.

Refere-se à variedade de vida no planeta Terra, incluindo a variedade genética dentro das

populações e espécies, a variedade de espécies da flora, da fauna, de fungos macroscópicos e de

microrganismos, a variedade de funções ecológicas desempenhadas pelos organismos nos

ecossistemas; e a variedade de comunidades, hábitats e ecossistemas formados pelos organismos.

Não há uma definição consensual de Biodiversidade. Uma definição é: "medida da

diversidade relativa entre organismos presentes em diferentes ecossistemas". Esta definição inclui

diversidade dentro da espécie, entre espécies e diversidade comparativa entre ecossistemas.

A Biodiversidade refere-se tanto ao número (riqueza) de diferentes categorias biológicas

quanto à abundância relativa (equitatividade) dessas categorias. E inclui variabilidade ao nível local

(alfa diversidade), complementariedade biológica entre hábitats (beta diversidade) e variabilidade

entre paisagens (gama diversidade). Ela inclui, assim, a totalidade dos recursos vivos, ou biológicos, e

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dos recursos genéticos, e seus componentes. A espécie humana depende da Biodiversidade para a

sua sobrevivência.

O termo diversidade biológica foi criado por Thomas Lovejoy em 1980, ao passo que a

palavra Biodiversidade foi usada pela primeira vez pelo entomologista E. O. Wilson em 1986, num

relatório apresentado ao primeiro Fórum Americano sobre a diversidade biológica, organizado pelo

Conselho Nacional de Pesquisas dos EUA (National Research Council, NRC). A palavra

"Biodiversidade" foi sugerida a Wilson pelo pessoal do NRC a fim de substituir diversidade biológica,

expressão considerada menos eficaz em termos de comunicação.

Outra definição, mais desafiante, é "totalidade dos genes, espécies e ecossistemas de uma

região". Esta definição unifica os três níveis tradicionais de diversidade entre seres vivos:

diversidade genética - diversidade dos genes em uma espécie.

diversidade de espécies - diversidade entre espécies.

diversidade de ecossistemas - diversidade em um nível mais alto de organização, incluindo

todos os níveis de variação desde o genético.

A diversidade de espécies é a mais fácil de estudar, mas há uma tendência da ciência oficial

em reduzir toda a diversidade ao estudo dos genes. Isto leva ao próximo tópico.

8.2.2 ABORDAGENS DA BIODIVERSIDADE

Para os biólogos geneticistas, a Biodiversidade é a diversidade de genes e organismos. Eles

estudam processos como mutação, troca de genes e a dinâmica do genoma, que ocorrem ao nível do

DNA e constituem, talvez, a evolução.

Para os biólogos zoólogos ou botânicos, a Biodiversidade não é só apenas a diversidade de

populações de organismos e espécies, mas também a forma como estes organismos funcionam.

Organismos surgem e desaparecem. Locais são colonizados por organismos da mesma espécie ou de

outra. Algumas espécies desenvolvem organização social ou outras adaptações com vantagem

evolutiva. As estratégias de reprodução dos organismos dependem do ambiente.

Para os ecólogos, a Biodiversidade é também a diversidade de interações duradouras entre

espécies. Isto se aplica também ao biótopo, seu ambiente imediato, e à ecorregião em que os

organismos vivem. Em cada ecossistema os organismos são parte de um todo, interagem uns com os

outros mas também com o ar, a água e o solo que os envolvem.

A cultura humana tem sido determinada pela Biodiversidade, e ao mesmo tempo as

comunidades humanas têm dado forma à diversidade da natureza nos níveis genético, das espécies e

ecológico.

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É fonte primária de recursos para a vida diária, fornecendo comida (colheitas, animais

domésticos, recursos florestais e peixes), fibras para roupas, madeira para construções, remédios e

energia. Esta "diversidade de colheitas" é também chamada Agrobiodiversidade.

Os ecossistemas também nos fornecem "suportes de produção" (fertilidade do solo,

polinizadores, decompositores de resíduos, etc.) e "serviços" como purificação do ar e da água,

moderação do clima, controle de inundações, secas e outros desastres ambientais.

Se os recursos naturais são de interesse econômico para a comunidade, sua importância

econômica é também crescente. Novos produtos são desenvolvidos graças a biotecnologias, criando

novos mercados. Para a sociedade, a biodiversidade é também um campo de trabalho e lucro. É

necessário estabelecer um manejo sustentável destes recursos.

Finalmente, o papel da Biodiversidade é "ser um espelho das nossas relações com as outras

espécies de seres vivos", uma visão ética dos direitos, deveres, e educação.

8.2.3 Pontos críticos da Biodiversidade.

Um ponto crítico (hot spot) de Biodiversidade é um local com muitas espécies endêmicas.

Ocorrem geralmente em áreas de impacto humano crescente. A maioria deles está localizada nos

trópicos.

Alguns deles:

O Brasil tem 1/5 da Biodiversidade mundial, com 50.000 espécies de plantas, 5.000 de

vertebrados, 10-15 milhões de insetos, milhões de microrganismos.

A Índia apresenta 8% das espécies descritas, com 47 000 espécies de plantas e 81.000 de

animais.

8.2.4 Biodiversidade: tempo e espaço

A Biodiversidade não é estática. É um sistema em constante evolução tanto do ponto de vista

das espécies como também de um só organismo. A meia-vida média de uma espécie é de um milhão

de anos e 99% das espécies que já viveram na Terra estão hoje extintas.

A Biodiversidade não é distribuída igualmente na Terra. Ela é, sem dúvida, maior nos

trópicos. Quanto maior a latitude, menor é o número de espécies, contudo, as populações tendem a

ter maiores áreas de ocorrência. Este efeito que envolve disponibilidade energética, mudanças

climáticas em regiões de alta latitude é conhecido como efeito Rapoport.

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Existem regiões do globo onde há mais espécies que outras. As riquezas de espécies tendem

a variar de acordo com a disponibilidade energética, hídrica (clima, altitude) e também pelas suas

histórias evolutivas.

8.2.5 O valor econômico da Biodiversidade

Ecólogos e ambientalistas são os primeiros a insistir no aspecto econômico da proteção da

diversidade biológica. Deste modo, Edward O. Wilson escreveu em 1992 que a Biodiversidade é uma

das maiores riquezas do planeta, e, entretanto, é a menos reconhecida como tal (la biodiversité est

l'une des plus grandes richesses de la planète, et pourtant la moins reconnue comme telle).

A maioria das pessoas veem a biodiversidade como um reservatório de recursos que devem

ser utilizados para a produção de produtos alimentícios, farmacêuticos e cosméticos. Este conceito

do gerenciamento de recursos biológicos provavelmente explica a maior parte do medo de se

perderem estes recursos devido à redução da Biodiversidade. Entretanto, isso é também a origem de

novos conflitos envolvendo a negociação da divisão e apropriação dos recursos naturais.

Uma estimativa do valor da Biodiversidade é uma pré-condição necessária para qualquer

discussão sobre a distribuição da riqueza da Biodiversidade. Estes valores podem ser divididos entre:

valor intrínseco – todas as espécies são importantes intrinsecamente, por uma questão

de ética.

valor funcional – cada espécie tem um papel funcional no ecossistema. Por exemplo,

predadores regulam a população de presas, plantas fotossintetizantes participam do

balanço de gás carbônico na atmosfera, etc.

valor de uso direto – muitas espécies são utilizadas diretamente pela sociedade

humana, como alimentos ou como matérias primas para produção de bens.

valor de uso indireto – outras espécies são indiretamente utilizadas pela sociedade. Por

exemplo, criar abelhas em laranjais favorece a polinização das flores de laranja,

resultando numa melhor produção de frutos.

valor potencial – muitas espécies podem futuramente ter um uso direto, como por

exemplo espécies de plantas que possuem princípios ativos a partir dos quais podem

ser desenvolvidos medicamentos.

Em um trabalho publicado na Nature em 1997, Constanza e colaboradores estimaram o valor

dos serviços ecológicos prestados pela natureza. A ideia geral do trabalho era contabilizar quanto

custaria por ano para uma pessoa ou mais, por exemplo, polinizar as plantas ou quanto custaria para

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construir um aparato que serviria como mata ciliar no antiaçoriamento dos rios. O trabalho envolveu

vários "serviços" ecológicos e chegou a uma cifra média de US$ 33.000.000.000.000,00 (trinta e três

trilhões de dólares) por ano, duas vezes o produto interno bruto mundial.

8.2.5 Como medir a Biodiversidade?

Do ponto de vista previamente definido, nenhuma medida objetiva isolada de Biodiversidade

é possível, apenas medidas relacionadas com propósitos particulares ou aplicações.

Para os conservacionistas práticos, essa medida deveria quantificar um valor que é, ao

mesmo tempo, altamente compartilhado entre as pessoas localmente afetadas.

Para outros, uma definição mais abrangente e mais defensível economicamente, é aquela cujas

medidas deveriam permitir a assegurar possibilidades continuadas tanto para a adaptação quanto

para o uso futuro pelas pessoas, assegurando uma sustentabilidade ambiental. Como consequência,

os biólogos argumentaram que essa medida é possivelmente associada à variedade de genes. Uma

vez que não se pode dizer sempre quais genes são mais prováveis de serem mais benéficos, a melhor

escolha para a conservação é assegurar a persistência do maior número possível de genes.

Para os ecólogos, essa abordagem às vezes é considerada inadequada e muito restrita.

8.2.6 Inventário de espécies

A Sistemática mede a Biodiversidade simplesmente pela distinção entre espécies. Pelo

menos 1,75 milhões de espécies foram descritas; entretanto, a estimativa do verdadeiro número de

espécies existentes varia de 3,6 para mais de 100 milhões. Diz-se que o conhecimento das espécies e

das famílias tornou-se insuficiente e deve ser suplementado por uma maior compreensão das

funções, interações e comunidades. Além disso, as trocas de genes que ocorrem entre as espécies

tendem a adicionar complexidade ao inventário.

8.2.7 A Biodiversidade está ameaçada?

Durante as últimas décadas, uma erosão da Biodiversidade foi observada. A maioria dos

Biólogos acredita que uma extinção em massa está a caminho. Apesar de divididos a respeito dos

números, muitos cientistas acreditam que a taxa de perda de espécies é maior agora do que em

qualquer outra época da história da Terra.

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Alguns estudos mostram que cerca de 12,5% das espécies de plantas conhecidas estão sob

ameaça de extinção. Todo ano, entre 17.000 e 100.000 espécies são varridas de nosso planeta.

Alguns dizem que cerca de 20% de todas as espécies viventes poderiam desaparecer em 30 anos.

Quase todos dizem que as perdas são devido às atividades humanas, em particular a destruição dos

hábitats de plantas e animais.

Alguns justificam a situação não tanto pelo sobre uso das espécies ou pela degradação do

ecossistema quanto pela conversão deles em ecossistemas muito padronizados. (ex.: monocultura

seguida de desmatamento). Antes de 1992, outros mostraram que nenhum direito de propriedade

ou nenhuma regulamentação de acesso aos recursos necessariamente leva à sua diminuição (os

custos de degradação têm que ser apoiados pela comunidade).

Entre os dissidentes, alguns argumentam que não há dados suficientes para apoiar a visão de

extinção em massa, e dizem que extrapolações abusivas são responsáveis pela destruição global de

florestas tropicais, recifes de corais, mangues e outros hábitats ricos.

A domesticação de animais e plantas em larga escala é um fator histórico de degradação da

biodiversidade, gerando a seleção artificial de espécies, onde alguns seres vivos são selecionados e

protegidos pelo homem em detrimento de outros.

8.2.8 Manuseio da Biodiversidade: conservação, preservação e proteção

A conservação da diversidade biológica tornou-se uma preocupação global. Apesar de não

haver consenso quanto ao tamanho e ao significado da extinção atual, muitos consideram a

Biodiversidade essencial.

Há basicamente dois tipos principais de opções de conservação, conservação in-situ e

conservação ex-situ. A in-situ é geralmente vista como uma estratégia de conservação elementar.

Entretanto, sua implementação é às vezes impossível. Por exemplo, a destruição de hábitats de

espécies raras ou ameaçadas de extinção às vezes requer um esforço de conservação ex-situ. Além

disso, a conservação ex-situ pode dar uma solução reserva para projetos de conservação in-situ.

Alguns acham que ambos os tipos de conservação são necessários para assegurar uma preservação

apropriada. Um exemplo de um esforço de conservação in-situ é a construção de áreas de proteção.

Um exemplo de um esforço de conservação ex-situ, ao contrário, seria a plantação de germoplasma

em bancos de sementes. Tais esforços permitem a preservação de grandes populações de plantas

com o mínimo de erosão genética.

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A ameaça da diversidade biológica estava entre os tópicos mais importantes discutidos na

Conferência Mundial da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, na esperança de ver a fundação

da Global Conservation Trust para ajudar a manter as coleções de plantas.

8.2.9 Status jurídico da Biodiversidade

A Biodiversidade deve ser avaliada e sua evolução, analisada (através de observações,

inventários, conservação...) que devem ser levadas em consideração nas decisões políticas. Está

começando a receber uma direção jurídica.

A relação "Leis e ecossistema" é muito antiga e tem consequências na Biodiversidade. Está

relacionada aos direitos de propriedade pública e privada. Pode definir a proteção de ecossistemas

ameaçados, mas também alguns direitos e deveres (por examplo, direitos de pesca, direitos de caça).

"Leis e espécies" é um tópico mais recente. Define espécies que devem ser protegidas por

causa da ameaça de extinção. Algumas pessoas questionam a aplicação dessas leis.

"Lei e genes" tem apenas um século. Enquanto a abordagem genética não é nova

(domesticação, métodos tradicionais de seleção de plantas), o progresso realizado no campo da

genética nos últimos 20 anos leva à obrigação de leis mais rígidas. Com as novas tecnologias da

genética e da engenharia genética, as pessoas estão pensando sobre o patenteamento de genes,

processos de patenteamento, e um conceito totalmente novo sobre o recurso genético. Um debate

muito caloroso, hoje em dia, procura definir se o recurso é o gene, o organismo, o DNA ou os

processos.

A convenção de 1972 da UNESCO estabeleceu que os recursos biológicos, tais como plantas,

eram uma herança comum da humanidade. Essas regras provavelmente inspiraram a criação de

grandes bancos públicos de recursos genéticos, localizados fora dos países-recursos.

Novos acordos globais (Convenção sobre Diversidade Biológica) dá agora direito nacional

soberano sobre os recursos biológicos (não propriedade). A ideia de conservação estática da

Biodiversidade está desaparecendo e sendo substituída pela ideia de uma conservação dinâmica,

através da noção de recurso e inovação.

Os novos acordos estabelecem que os países devem conservar a Biodiversidade, desenvolver

recursos para sustentabilidade e partilhar os benefícios resultante de seu uso. Sob essas novas regras

são esperadas que o Bioprospecto ou coleção de produtos naturais tem que ser permitido pelo país

rico em Biodiversidade, em troca da divisão dos benefícios.

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Princípios soberanos podem depender do que é mais bem conhecido como Access and

Benefit Sharing Agreements (ABAs). O espírito da Convenção sobre Biodiversidade implica num

consenso informado prévio entre o país fonte e o coletor, a fim de estabelecer qual recurso será

usado e para quê, e para decidir um acordo amigável sobre a divisão de benefícios. O Bioprospecto

pode vir a se tornar um tipo de Biopirataria quando esses princípios não são respeitados.

8.2.10 CONCLUSÃO

Fica assim definido o termo biodiversidade, segundo o artigo 2 da Convenção sobre

Diversidade Biológica, "a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo,

dentre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos

ecológicos de que fazem parte; compreendendo ainda a diversidade dentro de espécies, entre

espécies e de ecossistemas.

Em outras palavras, refere-se a toda a variedade de vida no planeta, incluindo a variedade

genética dentro das populações e espécies, a variedade de espécies da flora, da fauna e de

microrganismos, a variedade de funções ecológicas desempenhadas pelos organismos nos

ecossistemas; e a variedade de comunidades, habitats e ecossistemas formados pelos organismos.

Para entender o que é a biodiversidade, devemos considerar o termo em dois níveis

diferentes: todas as formas de vida, assim como os genes contidos em cada indivíduo, e as inter-

relações, ou ecossistemas, na qual a existência de uma espécie afeta diretamente muitas outras.

A diversidade biológica está presente em todo lugar: no meio dos desertos, nas tundras

congeladas ou nas fontes de água sulfurosas. A diversidade genética possibilitou a adaptação da vida

nos mais diversos pontos do planeta. As plantas, por exemplo, estão na base dos ecossistemas. Como

elas florescem com mais intensidade nas áreas úmidas e quentes, a maior diversidade é detectada

nos trópicos, como é o caso da Amazônia e sua excepcional vegetação.

Você sabia!

1. Quantas espécies existem no mundo? Não se sabe quantas espécies vegetais e animais

existem no mundo. As estimativas variam entre 10 e 100 milhões, mas segundo o Ministério do Meio

Ambiente, a realidade dos fatos, entretanto, é que o número de espécies hoje conhecido em todo o

planeta esteja em torno de 1,7 milhões, valor que atesta o elevado grau de desconhecimento da

biodiversidade, mormente nas regiões tropicais. Entre os especialistas, o Brasil é considerado o país

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da "megadiversidade": aproximadamente 20% das espécies conhecidas no mundo estão aqui. É

bastante divulgado, por exemplo, o potencial terapêutico das plantas da Amazônia.

2. O que é a Convenção da Biodiversidade? A Convenção da Diversidade Biológica é o

primeiro instrumento legal para assegurar a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais.

Mais de 160 países assinaram o acordo, que entrou em vigor em dezembro de 1993. O pontapé

inicial para a criação da Convenção ocorreu em junho de 1992, quando o Brasil organizou e sediou

uma Conferência das Nações Unidas, a Rio-92, para conciliar os esforços mundiais de proteção do

meio ambiente com o desenvolvimento socioeconômico.

Contudo, ainda não está claro como a Convenção sobre a Diversidade deverá ser

implementada. A destruição de florestas, por exemplo, cresce em níveis alarmantes. Os países que

assinaram o acordo não mostram disposição política para adotar o programa de trabalho

estabelecido pela Convenção, cuja meta é assegurar o uso adequado e proteção dos recursos

naturais existentes nas florestas, na zona costeira e nos rios e lagos.

O WWF-Brasil e sua rede internacional acompanham os desdobramentos dessa Convenção

desde sua origem. Além de participar das negociações da Conferência, a organização desenvolve

ações paralelas como debates, publicações ou exposições. Em 2006, a reunião ocorreu em Curitiba,

PR.

Para saber mais, acessem o site sobre o RIO+20 e saiba o que vem sendo discutido

sobre a Biodiversidade.

Disponível em: http://www.rio20.gov.br/sobre_a_rio_mais_20/rio-20-como-chegamos-ate-

aqui/at_download/rio-20-como-chegamos-ate-aqui.pdf. Acesso em 08 de set de 2013.

3. Quais as principais ameaças à biodiversidade? A poluição, o uso excessivo dos recursos

naturais, a expansão da fronteira agrícola em detrimento dos habitats naturais, a expansão urbana e

industrial, tudo isso está levando muitas espécies vegetais e animais à extinção. A cada ano,

aproximadamente 17 milhões de hectares de floresta tropical são desmatados. As estimativas

sugerem que, se isso continuar, entre 5% e 10% das espécies que habitam as florestas tropicais

poderão estar extintas dentro dos próximos 30 anos.

A sociedade moderna - particularmente os países ricos - desperdiça grande quantidade de

recursos naturais. A elevada produção e uso de papel, por exemplo, é uma ameaça constante às

florestas. A exploração excessiva de algumas espécies também pode causar a sua completa extinção.

Por causa do uso medicinal de chifres de rinocerontes em Sumatra e em Java, por exemplo, o animal

foi caçado até o limiar da extinção. A poluição é outra grave ameaça à biodiversidade do planeta. Na

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Suécia, a poluição e a acidez das águas impede a sobrevivência de peixes e plantas em quatro mil

lagos do país.

A introdução de espécies animais e vegetais em diferentes ecossistemas também pode ser

prejudicial, pois acaba colocando em risco a biodiversidade de toda uma área, região ou país. Um

caso bem conhecido é o da importação do sapo cururu pelo governo da Austrália, com objetivo de

controlar uma peste nas plantações de cana-de-açúcar no nordeste do país. O animal revelou-se um

predador voraz dos répteis e anfíbios da região, tornando-se um problema a mais para os

produtores, e não uma solução.

Bibliografia indicada:

- Políticas Públicas e Indicadores para o Desenvolvimento Sustentável Autor: Silva, Christian Luiz da; Souza-lima, José Edmilson de

Editora: Saraiva Temas: Meio Ambiente, Ecologia

- Desenvolvimento Sustentável - Dimensões e Desafios Autor: Camargo, Ana Luiza de Brasil

Editora: Papirus Temas: Meio Ambiente, Ecologia

8.3 EDUCAÇÃO AMBIENTAL UMA PRÁTICA DE CIDADANIA.

As premissas teóricas em torno do diálogo de saberes entre educação e meio ambiente, nas

suas múltiplas dimensões e como campos teóricos em construção têm sido apropriadas de formas

diferentes pelos educadores ambientais, que buscam uma nova transversalidade de saberes, um

novo modo de pensar, pesquisar e elaborar conhecimento, que possibilite integrar teoria e prática.

Deve-se, entretanto, ressaltar que as práticas educacionais inseridas na interface dos

problemas socioambientais devem ser compreendidas como parte do macrossistema social,

subordinando-se ao contexto de desenvolvimento existente, que condiciona sua direção pedagógica

e política.

Quando nos referimos à educação ambiental, situamos num contexto mais amplo, o da

educação para a cidadania, configurando-se como elemento determinante para a consolidação de

sujeitos cidadãos (JACOBI, 2000). O principal eixo de atuação deve buscar, acima de tudo, a

solidariedade, a igualdade e o respeito à diferença por meio de formas democráticas de atuação

baseadas em práticas interativas e dialógicas. Entende-se que a educação para a cidadania trata não

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só da capacidade do indivíduo de exercer os seus direitos nas escolhas e nas decisões políticas, como

ainda de assegurar a sua total dignidade nas estruturas sociais. Desse modo, o exercício da cidadania

implica autonomia e liberdade responsável, participação na esfera política democrática e na vida

social. Os cidadãos desenvolvem ações de integração social, conservação do ambiente, justiça social,

solidariedade, segurança e tolerância, as quais constituem preocupações da sociedade atual.

Pretende-se, assim, sensibilizar-nos para uma participação mais consciente no contexto da

sociedade, questionando comportamentos, atitudes e valores, além de propor novas práticas. Assim,

nossa argumentação vai ao sentido de reforçar que as práticas educativas articuladas com a

problemática ambiental não devem ser vistas como um adjetivo, mas como parte componente de

um processo educativo que reforce um pensar da educação orientada para refletir a educação

ambiental num contexto de crise ambiental, de crescente insegurança e incerteza face aos riscos

produzidos pela sociedade global, o que, em síntese, pode ser resumido como uma crise civilizatória

de um modelo de sociedade. Nesse sentido, a formulação de Leff (2001, p. 256) nos permite

enfatizar que:

Este processo educativo deve ser capaz de formar um pensamento crítico, criativo e sintonizado com a necessidade de propor respostas para o futuro, capaz de analisar as complexas relações entre os processos naturais e sociais e de atuar no ambiente em uma perspectiva global, respeitando as diversidades socioculturais.

O objetivo é o de propiciar novas atitudes e comportamentos face ao consumo na nossa

sociedade e de estimular a mudança de valores individuais e coletivos (JACOBI, 1997).

Isto requer um pensamento crítico da educação ambiental, e, portanto, a definição de um

posicionamento ético-político, “situando o ambiente conceitual e político onde a educação

ambiental pode buscar sua fundamentação enquanto projeto educativo que pretende transformar a

sociedade” (CARVALHO, 2004, p. 18).

A partir das sínteses realizadas por Lima (2002, p. 109-141) e Loureiro (2004) podem

observar-se dois eixos para o discurso da educação ambiental: um conservador e outro

emancipatório, com suas diferentes leituras. A abordagem conservadora, pautada por uma visão

reformista, propõe respostas instrumentais. Observa-se, de fato, que o modus operandi que

predomina é o das ações pontuais, descontextualizadas dos temas geradores, frequentemente

descoladas de uma proposta pedagógica, sem questionar o padrão civilizatório, apenas

realimentando uma visão simplista e reducionista.

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1. A abordagem emancipatória, que tem como referenciais no campo da educação o pensamento crítico (Paulo Freire, Snyder e Giroux) - Para estes, a escola apresenta rupturas por meio das quais é possível exercer práticas críticas e trabalhar a resistência à reprodução e à dominação ideológicas. (LOUREIRO, 2004, p. 121)

- e, no que se refere ao meio ambiente, autores como Capra, Morin, Leff, e Boff, dentre

outros, propõe uma educação baseada em práticas, orientações e conteúdos que transcendem a

preservação ambiental.

Parafraseando Morin (2002, p. 36),

na educação ambiental crítica, o conhecimento para ser pertinente não deriva de saberes desunidos e compartimentalizados, mas da apreensão da realidade a partir de algumas categorias conceituais indissociáveis ao processo pedagógico.

Para a vertente crítica, a educação ambiental precisa construir um instrumental que promova

uma atitude crítica, uma compreensão complexa e a politização da problemática ambiental, a

participação dos sujeitos, o que explicita uma ênfase em práticas sociais menos rígidas, centradas na

cooperação entre os atores.

Na ótica da modernização reflexiva, a educação ambiental tem de enfrentar a fragmentação

do conhecimento e desenvolver uma abordagem crítica e política, mas reflexiva.

Portanto, a dimensão ambiental representa a possibilidade de lidar com conexões entre

diferentes dimensões humanas, possibilitando entrelaçamentos e trânsitos entre múltiplos saberes.

Atualmente, o desafio de fortalecer uma educação para a cidadania ambiental convergente e

multirreferencial se coloca como prioridade para viabilizar uma prática educativa que articule de

forma incisiva a necessidade de se enfrentar concomitantemente a crise ambiental e os problemas

sociais. Assim, o entendimento sobre os problemas ambientais se dá por meio da visão do meio

ambiente como um campo de conhecimento e significados socialmente construídos, que é

perpassado pela diversidade cultural e ideológica e pelos conflitos de interesse.

O mundo deve estar cada vez mais preparado para reelaborar as informações que recebem,

e, dentre elas, as ambientais, para poder transmitir e decodificar para as pessoas a expressão dos

significados em torno do meio ambiente e da ecologia nas suas múltiplas determinações e

intersecções. A ênfase deve ser a capacitação para perceber as relações entre as áreas e como um

todo, enfatizando uma formação local/global, buscando marcar a necessidade de enfrentar a lógica

da exclusão e das desigualdades. Nesse contexto, a administração dos riscos socioambientais coloca

cada vez mais a necessidade de ampliar o envolvimento público através de iniciativas que

possibilitem um aumento do nível de preocupação dos educadores com o meio ambiente,

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garantindo a informação e a consolidação institucional de canais abertos para a participação numa

perspectiva pluralista.

A educação ambiental assume, assim, de maneira crescente, a forma de um processo

intelectual ativo, enquanto aprendizado social, baseado no diálogo e interação em constante

processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significados, que se originam do

aprendizado em sala de aula ou da experiência pessoal do aluno. A abordagem do meio ambiente na

escola passa a ter um papel articulador dos conhecimentos nas diversas disciplinas, num contexto no

qual os conteúdos são ressignificados. Ao interferir no processo de aprendizagem e nas percepções e

representações sobre a relação entre indivíduos e ambiente nas condutas cotidianas que afetam a

qualidade de vida, a educação ambiental promove os instrumentos para a construção de uma visão

crítica, reforçando práticas que explicitam a necessidade de problematizar e agir em relação aos

problemas socioambientais, tendo como horizonte, a partir de uma compreensão dos conflitos,

partilhar de uma ética preocupada com a justiça ambiental.

A ótica inovadora refere-se à forma como se apreende o objeto de conhecimento e à

dinâmica que se estabelece com os atores sociais que propõem uma nova forma de integração e

articulação do conhecimento ambiental. A prática educativa deve estar norteada pela formação de

um indivíduo que supere o que Guimarães (2004, p. 30) denomina de “armadilhas paradigmáticas” 2

,contribuindo para o exercício de uma cidadania ativa visando a mudar o atual quadro de crise

socioambiental. Esta abordagem busca superar o reducionismo e estimula um pensar e fazer sobre o

meio ambiente diretamente vinculado ao diálogo entre saberes, à participação, aos valores éticos

como valores fundamentais para fortalecer a complexa interação entre sociedade e natureza. Nesse

sentido, o papel dos professores é essencial para impulsionar as transformações de uma educação

que assume um compromisso com o desenvolvimento sustentável e também com as futuras

gerações. Autores como Carvalho (2003); Leff (2003); Sauvé (1999) e Gaudiano (2000) mostram

como um discurso ambiental dissociado das condições sócio-históricas pode ser alienante e levar a

posições politicamente conservadoras, na medida em que mobiliza o que Carvalho (2003, p. 116-117)

denomina de um consenso dissimulado, em virtude da generalização e do esvaziamento do termo

desenvolvimento sustentável, das diferenças ideológicas e os conflitos de interesses que se

confrontam no ideário ambiental. Isto nos leva à reflexão sobre a necessidade da formação do

profissional reflexivo para desenvolver práticas que articulem a educação e o meio ambiente numa

perspectiva crítica, que abra perspectivas para uma atuação ecológica sustentada por princípios de

criatividade e capacidade de formular e desenvolver práticas emancipatórias norteadas pelo

empoderamento e pela justiça ambiental e social.

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A inserção da educação ambiental numa perspectiva crítica ocorre na medida em que o

professor assume uma postura reflexiva. Isto potencializa entender a educação ambiental como uma

prática político-pedagógica, representando a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para

transformar as diversas formas de participação em potenciais fatores de dinamização da sociedade e

de ampliação da responsabilidade socioambiental. Esta se concretizará principalmente pela presença

crescente de uma pluralidade de atores que, por meio da ativação do seu potencial de participação,

terão cada vez mais condições de intervir consistentemente e sem tutela nos processos decisórios de

interesse público, legitimando e consolidando propostas de gestão baseadas na garantia do acesso à

informação e na consolidação de canais abertos para a participação.

As experiências interdisciplinares são recentes e incipientes, até mesmo em nível de pós-

graduação. O que prevalece são práticas multidisciplinares e, segundo Tristão (2002, p. 175),

como as disciplinas de geografia e biologia têm uma afinidade de conteúdos em relação à dimensão ambiental, a inserção da educação ambiental ocorre por meio de um exercício multidisciplinar, às vezes até de uma cooperação entre os conteúdos dessas disciplinas.

Tristão (2002) observa que existem quatro desafios da educação ambiental que,

entrelaçados, estão associados ao papel do educador na contemporaneidade. O primeiro desafio é o

de “efrentar a multiplicidade de visões”, e isto implica a preparação do educador para fazer as

conexões (CAPRA, 2003, p. 94-99) e articular os processos cognitivos com os contextos da vida.

Assim, entender a complexidade ambiental, não como “moda” ou “reificação” ou “utilização

indiscriminada”, mas como construção de sentidos fundamental para identificar interpretações e

generalizações feitas em nome do meio ambiente e da ecologia.

O segundo desafio é o de “superar a visão do especialista”, e para tanto o caminho é a

ruptura com as práticas disciplinares. O terceiro desafio é “superar a pedagogia das certezas”, e isto

converge com as premissas que norteiam a formação do “professor reflexivo”, o que implica

compreender a modernidade, os “riscos produzidos” (GIDDENS, 1991, p. 140) e seu potencial de

reprodução, além de desenvolver no espaço pedagógico uma sensibilização em torno da

complexidade da sociedade contemporânea e suas múltiplas causalidades. O quarto desafio é

superar a lógica da exclusão, que soma ao desafio da sustentabilidade a necessidade da superação

das desigualdades sociais.

O momento atual é o de consolidar práticas pedagógicas que estimulem a

interdisciplinaridade, na sua diversidade. Recorremos a Stengers (1990, p. 148) para expressar nosso

ponto de vista: “A noção de complexidade é perigosa do ponto de vista da política dos saberes. É,

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com efeito, uma noção que está na moda, e essa moda contém uma armadilha. A armadilha dos

grandes discursos sobre a complexidade”.

O desafio da interdisciplinaridade é enfrentado como um processo de conhecimento que

busca estabelecer cortes transversais na compreensão e explicação do contexto de ensino e

pesquisa, buscando a interação entre as disciplinas e superando a compartimentalização científica

provocada pela excessiva especialização.

Como combinação de várias áreas de conhecimento, a interdisciplinariedade pressupõe o

desenvolvimento de metodologias interativas, configurando a abrangência de enfoques e

contemplando uma nova articulação das conexões entre as ciências naturais, sociais e exatas. Cabe

ressaltar que o contexto epistemológico da educação ambiental permite um conhecimento aberto,

processual e reflexivo, a partir de uma articulação complexa e multirreferencial. Nesse sentido, o

conhecimento transdisciplinar se configura como um horizonte mais ousado de conhecimento. Para

Morin (2000, p. 37), a transdisciplinariedade estaria mais próxima do exercício do pensamento

complexo, pelo fato de ter como pressuposto a transmigração e diálogo de conceitos através de

diversas disciplinas.

A preocupação em consolidar uma dinâmica de ensino e pesquisa a partir de uma

perspectiva interdisciplinar enfatiza a importância dos processos sociais que determinam as formas

de apropriação da natureza e suas transformações, por meio da participação social na gestão dos

recursos ambientais, levando em conta a dimensão evolutiva no sentido mais amplo e incluindo as

conexões entre as diversidades biológica e cultural, assim como as práticas dos diversos atores

sociais e o impacto da sua relação com o meio ambiente.

Dessa forma, a ênfase na interdisciplinaridade na análise das questões ambientais deve-se à

constatação de que os problemas que afetam e mantêm a vida no nosso planeta são de natureza

global e que a compreensão de suas causas não pode restringir-se apenas aos fatores estritamente

biológicos, revelando dimensões políticas, econômicas, institucionais, sociais e culturais.

Porém, não é suficiente reunir diferentes disciplinas para o exercício interdisciplinar. A

educação ambiental deve apoiar-se em trocas sistemáticas e no confronto de saberes disciplinares

que incluam não apenas uma problemática nas interfaces entre as diversas ciências naturais e sociais

e isto só se concretizará a partir de uma ação orgânica das diversas disciplinas, superando a visão

multidisciplinar.

Posto que os problemas ambientais transcendem as diferentes disciplinas, tanto o

aprofundamento disciplinar quanto a ampliação do conhecimento entre as disciplinas são elementos

fundamentais, porém de grande complexidade quanto à sua implementação. Considerando como

ponto de partida uma realidade socioambiental complexa, esse processo exige, cada vez mais, a

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internalização de um saber ambiental emergente num conjunto de disciplinas, visando a construir

um campo de conhecimento capaz de captar as multicausalidades e as relações de interdependência

dos processos de ordem natural e social que determinam as estruturas e mudanças socioambientais.

Conclui-se que o desafio político-ético da educação ambiental, apoiado no potencial

transformador das relações sociais, encontra-se estreitamente vinculado ao processo de

fortalecimento da democracia e da construção de uma cidadania ambiental. Nesse sentido, o papel

dos educadores e professores é essencial para impulsionar as transformações de uma educação que

assume um compromisso com a formação de uma visão crítica, de valo e de uma ética para a

construção de uma sociedade ambientalmente sustentável.

A necessidade de uma crescente internalização da questão ambiental, um saber ainda em

construção, demanda um esforço de fortalecer visões integradoras que, centradas desenvolvimento,

estimulam uma reflexão em torno da diversidade e da construção de sentidos nas relações

indivíduos-natureza, nos riscos ambientais globais e locais e nas relações ambiente-desenvolvimento.

Nesse contexto, a educação ambiental aponta para a necessidade de elaboração de propostas

pedagógicas centradas na conscientização, mudança de atitude e práticas sociais, desenvolvimento

de conhecimentos, capacidade de avaliação e participação dos educandos.

A relação entre meio ambiente e educação assume um papel cada vez mais desafiador,

demandando a emergência de novos saberes para apreender processos sociais cada vez mais

complexos e riscos ambientais que se intensificam.

Nas suas múltiplas possibilidades, abre um estimulante espaço para um repensar de práticas

sociais e o papel dos educadores na formação de um “sujeito ecológico” (Carvalho, 2004).

A restrita presença do debate ambiental, seja como disciplina, seja como eixo articulador nos

currículos dos cursos de formação de professores (MEC, 2000), é um bom indicador do desafio de

internalização da educação ambiental nos espaços educativos. Isto coloca a necessidade de uma

permanente sensibilização dos professores, educadores e capacitadores como transmissores de um

conhecimento necessário para que os alunos adquiram uma base adequada de compreensão dos

problemas e riscos socioambientais, do seu impacto no meio ambiente global e local, da

interdependência dos problemas e da necessidade de cooperação e diálogo entre disciplinas e

saberes.

8.3.1 EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO BRASIL HOJE

No país, o órgão gestor da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA) - composto pelo

Ministério do Meio Ambiente (MMA) e Ministério da Educação (MEC) - cumpre o papel de coordenar

o Programa Nacional de Educação Ambiental, o ProNEA. Suas ações destinam-se a assegurar, no

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âmbito educativo, a integração equilibrada das múltiplas dimensões da sustentabilidade - ambiental,

social, ética, cultural, econômica, espacial e política - ao desenvolvimento do País. Assim, é possível

promover melhor qualidade de vida para toda a população brasileira, por intermédio do

envolvimento e participação social na proteção, conservação ambiental e manutenção dessas

condições a longo prazo.

Com a regulamentação da Política Nacional de Educação Ambiental, o ProNEA compartilha a

missão de fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama), por intermédio do qual

a PNEA (Lei Federal nº 9.795/1999) deve ser executada, em sinergia com as demais políticas federais,

estaduais e municipais de governo. Dentro das estruturas institucionais do MMA e do MEC, o ProNEA

compartilha da descentralização de suas diretrizes para a implementação da PNEA, no sentido de

consolidar a sua ação no Sisnama.

Aqui, no Distrito Federal, a coordenação da Política de Educação Ambiental Distrital deve ser

efetivada de forma conjunta pelo IBRAM e Secretaria de Estado de Educação, conforme dispõe a Lei

nº 3.833/2006 regulamentada pelo Decreto nº 31.129/2009. A Política de Educação Ambiental do

Distrito Federal engloba as iniciativas voltadas para a formação de cidadãos e comunidades capazes

de tornar compreensíveis a problemática ambiental e de promover uma atuação responsável para a

solução dos problemas ambientais.

A Educação Ambiental é a ferramenta que dissemina o diálogo, como essência do

intercâmbio, da participação e do controle social. Dessa forma, é um passo rumo à sustentabilidade,

entre nós e em todo o planeta.

Educação Ambiental é um vocábulo composto por um substantivo e um adjetivo, que

envolvem, respectivamente, o campo da Educação e o campo Ambiental. Enquanto o substantivo

Educação confere a essência do vocábulo “Educação Ambiental”, definindo os próprios fazeres

pedagógicos necessários a esta prática educativa, o adjetivo Ambiental anuncia o contexto desta

prática educativa, ou seja, o enquadramento motivador da ação pedagógica.

Educação Ambiental, portanto, é o nome que historicamente se convencionou dar às práticas

educativas relacionadas à questão ambiental. Assim, “Educação Ambiental” designa uma qualidade

especial que define uma classe de características que, juntas, permitem o reconhecimento de sua

identidade.

O Brasil abriga uma rica discussão sobre as especificidades da Educação na construção da

sustentabilidade. Tem sido um país com grande fertilidade de ideias, por ter atribuído ou

incorporado novos nomes para designar especificidades identitárias desse fazer educativo. Exemplo

disso é a Carta das Responsabilidades Vamos Cuidar do Brasil, elaborada pelos delegados da II

Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, com base nos sonhos e desejos de

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milhares de escolas e de milhões de estudantes, professores e pessoas das comunidades. A Carta

simboliza o compromisso das escolas de incentivar a sociedade a refletir sobre as questões

socioambientais urgentes e a participar de ações que contribuam para melhoria da qualidade de vida

de todos.

Vive-se um momento bastante propício para a Educação Ambiental atuar na transformação

de valores nocivos que intensificam o uso degradante dos bens comuns da humanidade. Para tanto,

ela precisa ser uma educação permanente e uma proposta de compartilhar saberes, ideias e práticas.

Diversos pontos de vista e dimensões trazem uma temática em comum: a relevância de trabalhar

comunidades de vida em cada projeto de educação ambiental. Esse é um consenso dos gestores e

executores de ações de educação ambiental no Brasil.

Bibliografia indicada:

Identidades da educação ambiental brasileira / Ministério do Meio Ambiente. Diretoria de Educação Ambiental; Philippe Pomier Layrargues (coord.). – Brasília: Ministério do Meio Ambiente, 2004.

Programa Nacional de Educação Ambiental. Disponível em: www.mma.gov.br. Acesso em: 10 set. 2013.

Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola / [Coordenação: Soraia Silva de Mello, Rachel Trajber]. – Brasília: Ministério da Educação, Coordenação Geral de

Educação Ambiental: Ministério do Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental: UNESCO, 2007.

LINKS IMPORTANTES

Lei Federal Nº 9.795, DE 27 DE ABRIL DE 1999 - Política Nacional de Educação Ambiental. Lei Distrital Nº 3.833, DE 27 DE MARÇO DE 2006 - Política de Educação Ambiental do Distrito Federal. Decreto Distrital Nº 31.129, DE 04 DE DEZEMBRO DE 2009 - Regulamenta a Lei nº 3.833 de 2006. Resolução Nº 01- 2012 - CNE - Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental. Unesco e MEC - Vamos cuidar do Brasil. Conceitos e Práticas em Educação Ambiental na Escola. Unesco e MMA - Identidades da Educação Ambiental Brasileira.

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8.4 ÉTICA E CIDADANIA

8.4.1 Introdução

É uma característica inerente a toda ação humana e, por esta razão, é um elemento vital na

produção da realidade social. Todo homem possui um senso ético, uma espécie de "consciência

moral", estando constantemente avaliando e julgando suas ações para saber se são boas ou más,

certas ou erradas, justas ou injustas.

Existem sempre comportamentos humanos classificáveis sob a ótica do certo e errado, do

bem e do mal. Embora relacionadas com o agir individual, essas classificações sempre têm relação

com as matrizes culturais que prevalecem em determinadas sociedades e contextos históricos.

A ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros,

relações justas e aceitáveis. Via de regra está fundamentada nas ideias de bem e virtude, enquanto

valores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numa existência plena e feliz.

O estudo da ética talvez tenha se iniciado com filósofos gregos há 25 séculos.

8.4.1.1 A ética tem varias definições e conceitos

Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, ÉTICA é "o estudo dos juízos de

apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e

do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”. Etimologicamente

falando, ética vem do grego "ethos", e tem seu correlato no latim "morale", com o mesmo

significado: Conduta, ou relativo aos costumes. Podemos concluir que etimologicamente ética e

moral são palavras sinônimas.

"Ethos; ética, em grego; designa a morada humana. O ser humano separa uma parte do

mundo para, moldando-a ao seu jeito, construir um abrigo protetor e permanente. A ética, como

morada humana, não é algo pronto e construído de uma só vez. O ser humano está sempre tornando

habitável a casa que construiu para si. Ético significa, portanto, tudo aquilo que ajuda a tornar

melhor o ambiente para que seja uma moradia saudável: materialmente sustentável

psicologicamente integrada e espiritualmente fecunda." (BOFF, 1997).

A ética é um comportamento social, ninguém é ético num vácuo, ou teoricamente ético.

Quem vive numa economia a ética, sob um governo antiético e numa sociedade imoral acaba só

podendo exercer a sua ética em casa, onde ela fica parecendo uma espécie de esquisitice. A grande

questão destes tempos degradados é em que medida uma ética pessoal onde não existe ética social

é um refúgio, uma resistência ou uma hipocrisia. Já que ninguém mais pode ter a pretensão de ser

um exemplo moral sequer para o seu cachorro, quando tudo à sua volta é um exemplo do contrário.

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A ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de

explicar, quando alguém pergunta. (VALLS,1993, p.7)

8.4.1.2 Origem

A origem da palavra ética vem do grego “ethos”, que quer dizer o modo de ser, o caráter. Os

romanos traduziram o “ethos” grego, para o latim “mos” (ou no plural “mores”), que quer dizer

costume, de onde vem a palavra moral. Tanto “ethos” (caráter) como “mos” (costume) indicam um

tipo de comportamento propriamente humano que não é natural, o homem não nasce com ele como

se fosse um instinto, mas que é “adquirido ou conquistado por hábito” (VÁZQUEZ). Portanto, ética e

moral, pela própria etimologia, diz respeito a uma realidade humana que é construída histórica e

socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem.

No nosso dia-a-dia não fazemos distinção entre ética e moral, usamos as duas palavras como

sinônimos. Mas os estudiosos da questão fazem uma distinção entre as duas palavras. Assim, a moral

é definida como o conjunto de normas, princípios, preceitos, costumes, valores que norteiam o

comportamento do indivíduo no seu grupo social. A moral é normativa. Enquanto a ética é definida

como a teoria, o conhecimento ou a ciência do comportamento moral, que busca explicar,

compreender, justificar e criticar a moral ou as morais de uma sociedade. A ética é filosófica e

científica.

“Nenhum homem é uma ilha”. Esta famosa frase do filósofo inglês Thomas Morus, ajuda-nos

a compreender que a vida humana é convívio. Para o ser humano viver é conviver. É justamente na

convivência, na vida social e comunitária, que o ser humano se descobre e se realiza enquanto um

ser moral e ético. É na relação com o outro que surgem os problemas e as indagações morais: o que

devo fazer? Como agir em determinada situação? Como comportar-me perante o outro? Diante da

corrupção e das injustiças, o que fazer?

Portanto, constantemente no nosso cotidiano encontramos situações que nos colocam

problemas morais. São problemas práticos e concretos da nossa vida em sociedade, ou seja,

problemas que dizem respeito às nossas decisões, escolhas, ações e comportamentos - os quais

exigem uma avaliação, um julgamento, um juízo de valor entre o que socialmente é considerado bom

ou mau, justo ou injusto, certo ou errado, pela moral vigente.

O problema é que não costumamos refletir e buscar os “porquês” de nossas escolhas, dos

comportamentos, dos valores. Agimos por força do hábito, dos costumes e da tradição, tendendo a

naturalizar a realidade social, política, econômica e cultural. Com isto, perdemos nossa capacidade

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critica diante da realidade. Em outras palavras, não costumamos fazer ética, pois não fazemos a

crítica, nem buscamos compreender e explicitar a nossa realidade moral.

No Brasil, encontramos vários exemplos para o que afirmamos acima. Historicamente

marcada pelas injustiças socioeconômicas, pelo preconceito racial e sexual, pela exploração da mão-

de-obra infantil, pelo “jeitinho” e a “lei de Gerson”, etc, etc. A realidade brasileira nos coloca diante

de problemas éticos bastante sérios. Contudo, já estamos por demais acostumados com nossas

misérias de toda ordem.

Naturalizamos a injustiça e consideramos normal conviver lado a lado as mansões e os

barracos, as crianças e os mendigos nas ruas; achamos inteligente e esperto levar e os mendigos nas

ruas; achamos inteligente e esperto levar vantagem em tudo e tendemos a considerar como sendo

etário quem procura ser honesto. Na vida pública, exemplos é o que não faltam na nossa história

recente: «anões do orçamento”, impeachment de presidente por corrupção, compras de

parlamentares para a reeleição, os medicamentos "b o", máfia do crime organizado, desvio do

Fundef, etc. etc.

Não sem motivos fala-se numa crise ética, já que tal realidade não pode ser reduzida tão

somente ao campo político-econômico. Envolve questões de valor, de convivência, de consciência,

de justiça. Envolve vidas humanas. Onde há vida humana em jogo, impõem-se necessariamente um

problema ético. O homem, enquanto ser ético enxergar o seu semelhante, não lhe é indiferente.

Neste sentido, a Ética vem denunciar toda realidade onde o ser humano é coisificado e animalizado,

ou seja, onde o ser humano concreto é desrespeitado na sua condição humana.

8.4.1.3 Principais teóricos

Historicamente, a ideia de Ética surgiu na antiga Grécia, por volta de 500 – 300 a.C, através

das observações de Sócrates e seus Discípulos.

Ética Grega

A ética surge na Grécia, quando os filósofos de cultura ocidental apontam suas teorias aos

“contemporâneos dos mistérios do universo e das forças cósmicas (cosmogonia), para a essência

moral e o caráter dos indivíduos” (GALVÃO, 2002, p. 4), então o homem passa a ser objeto de

pesquisa, iniciando a temática do discurso moral e político como forma de enquadramento social, e

essa tendência movimenta o mundo das ideias, que, percorre em diversos períodos na visão de

filósofos até os dias atuais.

Sócrates (470-399 a.C.) considerou o problema ético individual como o problema filosófico

central e a ética como sendo a disciplina em torno da qual deveriam girar todas as reflexões

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filosóficas. Para ele ninguém pratica voluntariamente o mal. Somente o ignorante não é virtuoso, ou

seja, só age mal, quem desconhece o bem, pois todo homem quando fica sabendo o que é bem,

reconhece-o racionalmente como tal e necessariamente passa a praticá-lo. Ao praticar o bem, o

homem sente-se dono de si e consequentemente é feliz. A virtude seria o conhecimento das causas

e dos fins das ações fundadas em valores morais identificados pela inteligência e que impelem o

homem a agir virtuosamente em direção ao bem.

Platão (427-347 a.C) ao examinar a ideia do Bem a luz da sua teoria das ideias, subordinou

sua ética à metafísica. Sua metafísica era a do dualismo entre o mundo sensível e o mundo das ideias

permanentes, eternas, perfeitas e imutáveis, que constituíam a verdadeira realidade e tendo como

cume a ideia do Bem, divindade, artífice ou demiurgo do mundo.

Aristóteles (384-322 a.C), não só organizou a ética como disciplina filosófica, mas além disso,

formulou a maior parte dos problemas que mais tarde iriam se ocupar os filósofos morais: relação

entre as normas e os bens, entre a ética individual e a social, relações entre a vida teórica e prática,

classificação das virtudes, etc. Sua concepção ética privilegia as virtudes (justiça, caridade e

generosidade), tidas como propensas tanto a provocar um sentimento de realização pessoal àquele

que age quanto simultaneamente beneficiar a sociedade em que vive. A ética aristotélica busca

valorizar a harmonia entre a moralidade e a natureza humana, concebendo a humanidade como

parte da ordem natural do mundo sendo, portanto uma ética conhecida como naturalista.

Ética Medieval

Na idade média, os valores éticos são marcados pela influência da religião católica e suas

doutrinas.

O cristianismo que se tornou a religião oficial de Roma a partir do século IV sobreviveu ao fim

do império e ganhou força sobre as ruínas da sociedade antiga imperou seu domínio por dez séculos.

Neste período a igreja enriqueceu e manteve um forte domínio sobre o modo de pensar fazendo

com que o teocentrismo passasse a definir as formas de ver e sentir, contribuindo para a formação

ética medieval. Para a ética cristã medieval a igualdade só podia ser espiritual ou no futuro para um

mundo sobrenatural e a mensagem cristã tinha um conteúdo moral, não havendo proposta por uma

igualdade real dos seres humanos. Com isto, a ética cristã procura regular o comportamento dos

humanos com vistas ao outro mundo, sendo o valor supremo encontrado em Deus.

Teorias Éticas Fundamentais

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Santo Agostinho (354-430). Fundamentou a moral cristã, com elementos filosóficos da

filosofia clássica. O objetivo da moral é ajudar os seres humanos a serem felizes, mas a felicidade

suprema consiste num encontro amoroso do homem com Deus. Só através pela graça de Deus

podemos ser verdadeiramente felizes.

St. Tomás Aquino (1225-1274). No essencial concorda com Santo Agostinho, mas procura

fundamentar a ética tendo em conta as questões colocadas na antiguidade clássica por Aristóteles.

Ética Moderna (Séc. XV-XVII)

A filosofia moderna reduz o homem à Razão. A ética doutrinante deste século é a ética

moderna. Aqui neste período, a ética se caracteriza pelo contraste à ética Teocêntrica e Teológica da

Idade Média. A ética moderna surge com a sociedade que sucede a sociedade feudal da Idade Média,

moldada pelas consequências da Reforma Protestante que provoca um retorno aos princípios

básicos da tradição cristã, porém o individuo passa a ter responsabilidades, tomadas como mais

importantes que obediências aos ditames religiosos e a autoridades e costumes, assim, com essa

transformação, em varias ordens, leva o surgimento da ética moderna.

Neste período ocorrem mudanças na Ciência, na Política, na Economia, na Arte e

principalmente na Religião, onde se transfere o centro de Deus para o homem que passa a adquirir

um valor pessoal, que “*...+ acabará por apresentar-se como o absoluto, ou como o criador ou

legislador em diferentes domínios, incluindo nestes a moral” (VASQUEZ, 1978, p. 248).

Teorias éticas fundamentais da idade moderna

Descartes (1596-1650). Este filósofo simboliza toda a fé que a Idade Moderna deposita na

razão humana. Só ela nos permitiria construir um conhecimento absoluto. Em termos morais

mostrou-se, todavia muito cauteloso. Neste caso reconheceu que seria impossível estabelecer

princípios seguros para a ação humana. Limitou-se a recomendar uma moral provisória de tendência

estoica: O seu único princípio ético consistia em seguir as normas e os costumes morais que visse a

maioria seguir, evitando deste modo rupturas ou conflitos.

John Locke (1632-1704). Este filósofo parte do princípio que todos os homens nascem com

os mesmos direitos (Direito á Liberdade, à Propriedade, à Vida). A sociedade foi constituída, através

de um contrato social, que visava garantir e reforçar estes mesmos direitos. Neste sentido, as

relações entre os homens devem ser pautadas pelo seu escrupuloso respeito.

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David Hume (1711-1778). Defende que as nossas ações são em geral motivadas pelas

paixões. Os dois princípios éticos fundamentais são a utilidade e a simpatia.

Ilustração. Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) concebe o homem como um ser bom por

natureza (mito do "bom selvagem”) e atribui a causa de todos os males à sociedade e à moral que o

corromperam. O Homem sábio é aquele que segue a natureza e despreza as convenções sociais. A

natureza é entendida como algo harmonioso e racional.

Ética contemporânea (Séc. XIX-XX)

O Utilitarismo ou Universalismo Ético. Este é formulado por Jeremy Bentham (1748-1832). A

maior felicidade para o maior número de pessoas. Esta ética é chamada “moral do bem estar”, o bem

é útil para o individuo e o coletivo.

A ética contemporânea também surge numa época de progressos em varias ordens, e

exercem seus influxos até os dias de hoje. “No plano filosófico, a ética contemporânea se apresenta

em suas origens como uma reação contra o formalismo e o racionalismo abstrato kantiano”

(VASQUEZ, 1978, p. 251), e também no racionalismo de Hegel.

Éticas Fundamentais Contemporâneas

Kant (1724-1804). Partindo de uma concepção universalista do homem, afirma que este só

age moralmente quando, pela sua livre vontade, determina as suas ações com a intenção de

respeitar os princípios que reconheceu como bons. O que o motiva, neste caso, é o puro dever de

cumprir aquilo que racionalmente estabeleceu sem considerar as suas consequências. A moral

assume assim, um conteúdo puramente formal, isto é, não nos diz o que devemos fazer (conteúdo

da ação), mas apenas o princípio (forma) que devemos seguir para que a ação seja considerada boa.

Utilitarismo. Jeremy Bentham (1748-1832) e Stuart Mill (1806-1873) desenvolverão uma

ética baseada no princípio da utilidade. As ações morais são avaliadas em função das conseqüências

morais que originam para quem as pratica, mas também para quem recai os resultados. Princípio que

deve nortear a ação moral: "A máxima felicidade possível para o maior número possível de pessoas".

O Bom é aquilo que for útil para o maior número de pessoas, melhorando o bem-estar de todos, e o

Mal o seu contrário. Esta concepção deu origem no século XX às éticas pragmáticas.

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Sartre. A moral é uma criação do próprio homem que se faz a si próprio através das suas

escolhas em cada situação. O relativismo é total. Mas este fato não o desculpa de nada. A sua

responsabilidade é total dado que ele é livre de agir como bem entender. A escolha é sempre sua.

Habermas (1929). Após a 2ª Guerra Mundial, Habermas surge a defender uma ética baseada

no diálogo entre indivíduos em situação de equidade e igualdade. A validade das normas morais

depende de acordos livremente discutidos e aceites entre todos os implicados na ação.

Hans Jonas (1903-1993). Perante a barbárie quotidiana e a ameaça da destruição do planeta,

Hans Jonas, defende uma moral baseada na responsabilidade que todos temos em preservar e

transmitir às gerações futuras uma terra onde a vida possa ser vivida com autenticidade. Daí o seu

princípio fundamental: "Age de tal modo que os efeitos da tua ação sejam compatíveis com a

permanência da uma vida humana autêntica na terra".

Crítica. Ao longo de todo o século XIX e XX sucederam-se as teorias que denunciaram o

caráter repressivo da moral, estando muitas vezes ao serviço das classes dominantes (Karl Marx,

1818-1883) ou dos fracos (Nietzsche,1844-1900).Outros demonstram a falta de sentido dos conceitos

éticos, como "Dever", "Bom" e outros (Alfred J.Ayer), postulando o seu abandono por se revelarem

pouco científicos. Sigmund Freud (1856-1939) demonstrou o caráter inconsciente de muitas das

motivações morais. Um das correntes que maior expressão teve no século XX, foi a que procurou

demonstrar que as raízes biológicas da moral, comparando o comportamento dos homens e de

outros animais.

Aquilo que denominamos por "ética" é apresentado como uma forma camuflada ou

racionalizada de instintos básicos da nossa natureza animal idênticos a outros animais.

Novas Problemáticas. As profundas transformações sociais, culturais e científicas das nossas

sociedades colocaram novos problemas éticos, nomeadamente em domínios como a tecnociência

(clonagem, manipulação genética, eutanásia), ecologia, comunicação de massas, etc.

8.4.1.4 Importância da Ética

A importância da ética hoje se dá pela necessidade, por uma questão de sobrevivência;

considerando que a humanidade passa por um momento de anseio por uma vida melhor e acima de

tudo digna e feliz. Podemos dizer que o tema mais ecumênico que existe atualmente é o da

dignidade humana, vida com qualidade e por fim, a felicidade. No entanto percebemos que o mundo

se tornou um caus, e o homem como um todo se encontra perdido em meio a tanta confusão; é o

verdadeiro “jogo dos interesses”.

O comportamento ético não consiste exclusivamente em fazer o bem a outrem, mas em

exemplificar em si mesmo o aprendizado recebido. É o exercício da paciência em todos os momentos

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da vida, a tolerância para com as faltas alheias, a obediência aos superiores em uma hierarquia, o

silêncio ante uma ofensa recebida.

8.4.1.5 A Ética no Trabalho

A ética está ligada a verdade e este é o primeiro passo para aproximar-se do comportamento

correto. No campo do trabalho, a ética tem sido cada vez mais exigida, provavelmente porque a

humanidade evoluía em tecnologia, mas não conseguiu se desenvolver na mesma proporção naquilo

que se refere à elevação de espírito. A atitude ética vai determinar como um profissional trata os

outros profissionais no ambiente de trabalho, os consumidores de seus serviços: clientes internos e

externos entre outros membros da comunidade em geral.

A ética é indispensável ao profissional, porque na ação humana “o fazer” e “o agir” estão

interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que todo profissional deve possuir para

exercer bem a sua profissão. O agir se refere à conduta do profissional, ao conjunto de atitudes que

deve assumir no desempenho de sua profissão.

8.4.2 Cidadania

A origem da palavra cidadania vem do latim “civitas”, que quer dizer cidade. A palavra cidadania

foi usada na Roma antiga para indicar a situação política de uma pessoa e os direitos que essa pessoa

tinha ou podia exercer. Segundo Dallari:

A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social”.(1998. p.14).

8.4.2.1 A Construção da Cidadania

Pode-se definir cidadania como um status jurídico e político mediante o qual o cidadão

adquire direitos civis, políticos e sociais; e deveres (pagar impostos, votar, cumprir as leis) relativos a

uma coletividade política, além da possibilidade de participar na vida coletiva do Estado. Esta

possibilidade surge do princípio democrático da soberania popular.

Poucas profissões contribuíram tão intensamente para a consolidação da cidadania

brasileira como os advogados. Inicialmente, engajando-se nas grandes lutas nacionais em defesa das

liberdades e da democracia – da abolição da escravatura até o impeachment do então presidente

Collor. Em todas as importantes lutas em defesa dos direitos humanos, pela justiça social, pela

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observância das leis, pela dignidade do povo brasileiro, pelo direito a ter direitos, contra a violência,

os advogados e sua entidade - a Ordem dos Advogados do Brasil - estiveram presentes. A missão do

advogado está em garantir a todos os cidadãos o pleno direito à defesa, que está ligado diretamente

ao exercício da cidadania. A OAB é uma das poucas entidades que possuem entre os objetivos legais

de sua organização defender a cidadania (Lei 8.906/94)

O conceito de cidadania, em sua origem, vem da Grécia antiga, onde significava vivência

política ativa na comunidade, na cidade (pólis). Durante muito tempo a ideia de cidadania esteve

ligada aos privilégios, pois os direitos dos cidadãos eram restritos a determinadas classes e grupos de

pessoas. Ao longo da história, o conceito de cidadania foi se aprimorando e na Idade Moderna uniu

os direitos universais com o conceito de nação, introduzindo os princípios de liberdade e igualdade

perante a lei e contra os privilégios. Mas ainda era uma cidadania restrita às elites, porque dependia

dos direitos políticos, vetados para a maioria.

Atualmente o conceito de cidadania foi ampliado, constitui um dos princípios fundamentais

do Estado Democrático de Direito e pode ser traduzido por um conjunto de liberdades e obrigações

políticas, sociais e econômicas. Ser cidadão hoje implica em exercer seu direito à vida, à liberdade, ao

trabalho, à moradia, à educação, à saúde, à cobrança de ética por parte dos governantes. Sempre

que o cidadão tem um direito violado, ele constitui um advogado para postular, em seu nome, na

Justiça. Por isso, o advogado presta serviço público e tem função social. Exercer plenamente a

cidadania consiste em participar ativamente das decisões da comunidade, da cidade, do Estado e do

país; propondo soluções para os problemas em todos os âmbitos do convívio social. Quanto mais

consolidada estiver a cidadania no Brasil, mais chance ter-se-á um país justo e igualitário para todos

os brasileiros.

Direitos e deveres na legislação brasileira

Os direitos e deveres do cidadão estão previstos na Constituição do Brasil, principalmente no

Título II, Capítulo I (Dos direitos e deveres individuais e coletivos).

Principais direitos e deveres do cidadão brasileiro:

DEVERES

Respeitar e cumprir a legislação (leis) do país;

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Escolher, através do voto, os governantes do país (presidente da República, deputadores

federais e estaduais; senadores, prefeitos, governadores de estados e vereadores);

Respeitar os direitos dos outros cidadãos, sejam eles brasileiros ou estrangeiros;

Tratar com respeito e solidariedade todos os cidadãos, principalmente os idosos, as crianças

e as pessoas com deficiências físicas;

Proteger e educar, da melhor forma possível, os filhos e outras pessoas que dependem de

nós;

Colaborar para a preservação do patrimônio histórico-cultural do Brasil;

Ter atitudes que ajudem na preservação do meio ambiente e dos recursos naturais.

DIREITOS

Direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade;

Direito à educação, saúde, moradia, trabalho e lazer;

Proteção à maternidade e à infância;

Liberdade de manifestação de pensamento, sendo vedado o anonimato;

Seguir a crença religiosa que desejar;

Exercer a profissão que quiser, respeitando as exigências relacionadas às qualificações

profissionais;

Não ser tratado de forma desumana ou degradante. Não ser submetido a atos de tortura

física, psicológica ou de qualquer outra natureza.

Bibliografia indicada:

Ética e Cidadania Organizacional Autor: Barsano, Paulo Roberto

Editora: Érica Temas: Administração

Ética na Escola - filosofia e valores na escola Autor: Thums, Jorge

Editora: Ulbra Temas: Pedagogia, Ética, Educação, Escola

Ética Profissional Autor: Sá, Antonio Lopes de

Editora: Atlas Temas: Admininstração, Recursos Humanos

Saber Cuidar - Ética do Humano – Compaixão Pela Terra Autor: Boff, Leonardo

Editora: Vozes

Os Dez Mandamentos da Ética Autor: Chalita, Gabriel

Editora: Nova Fronteira