eduardo camargo bueno - campinas-sp · “os novos desafios epidemiológicos da ... atingir um...

31
Eduardo Camargo Bueno

Upload: vancong

Post on 09-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Eduardo Camargo Bueno

“os novos desafios epidemiológicos da modernidade só poderão ser resolvidos por uma atenção baseada num modelo com este enfoque biopiscossocial do indivíduo, da família e da comunidade ... Com o pediatra trabalhando em equipe e em parcerias com a sociedade, sob pena de “passar a ser gradativamente irrelevante para a saúde infantil.” 1

A etnologia não reconhece o termo adolescência, mas se encarrega de examinar “a maneira como as diferentes sociedades vêem a passagem da infância à idade adulta, o que chamamos, nós, adolescência, e que é marcada, entre outras coisas pela puberdade.”

Há uma grande variedade de modos como as diferentes culturas tratam dessa passagem tanto quanto ao tempo como quanto ao gênero.

“De maneira geral, lar, ou melhor, educação familiar e adolescência são em geral incompatíveis. A adolescência passagem do estado de criança ao estado adulto , escapa por quase toda parte ao controle familiar escrito.”

Meninas: irmão da mãe ou tio materno. Meninos: irmã do pai. A criança é confiado aos parentes aos 7 ou 8 anos, com quem

vivem até se casarem. Uma mulher pode exigir criar a terceira filha de sua filha casada, o

que geralmente coincide com o fim da vida sexual da avó. Estratégias que tentam responder a:

- instabilidade da vida matrimonial, permitindo às crianças encontrarem um lar;- elevada taxa de mortalidade de mulheres no parto;- barreira ao incesto.

Apesar das boas relações entre as crianças e os substitutos dos pais, nunca há reciprocidade nas relações.

Entre os Senoufo da Costa do Marfim esta estratégia visa “ensinar todo o saber relativo à sociedade para que adquiram os valores dessa sociedade.”

A iniciação consiste em passar de 1 a 3 dias em um bosque sagrado aprendendo os mitos e os valores da sociedade além de aprender uma língua nova.

A criança recebe um novo nome.

Os jovens guerreiros, chamados Moran, vivem separados do resto do grupo.

São admirados pela beleza e pela força, mas não têm acesso às mulheres.

A partir dos 8 anos os meninos passam a acompanhar os Moran em pequenos serviços.

A partir dos 12 podem apresentar-se para o rito de iniciação: circuncisão.

Os velhos são os detentores do poder e exercem seu poder através de ameaças de castigos dos céus.

Os Moran chegam a entrar em transe diante da pressão dos velhos.

O período da adolescência pode variar de 15 a 40 anos. A idade adulta varia dos 35 aos 60 anos.

Entre os Gouro da Costa do Marfim a menarca coloca as moças em condição de se casarem, geralmente entre os 14 e 17 anos

Antes do casamento são enviadas para uma floresta sagrada da sociedade das mulheres para uma iniciação ao prazer.

Alimentam-se muito bem, cantam e dançam intensamente – transe.

Aprendem diversos cantos que são usados em cerimônias, tal como os funerais.

Retornam a aldeia, expulsam os homens e são submetidas a um rito de excisão. Fazer sair o sexo.

São cuidadas e recebem muitos presentes. A partir desse momento estão autorizadas a

tocar nos objetos sagrados. Iniciação sexual entre as mulheres e dançam

até a exaustão. Aprendem o uso de plantas contraceptivas que

as protegem de amenorréias. E também técnicas abortivas.

Os jovens Gouro saem da adolescência quando recebem uma mulher.

Só recebem uma mulher em casamento quando o irmão mais velho já recebeu.

O primogênito de um home só tem direito a uma esposa quando todos os irmãos caçulas de seu pai estiverem casados.

Vivem livremente até este momento.

Os Embera da Colômbia são agricultores, colhedores e pescadores que vivem em palafitas.

A família pode ser nuclear ou ampliada com a permanência de filhos casados.

Para as atividades que exigem trabalho coletivo, tais como preparar a terra para o plantio, construção de cabanas e pirogas chamam os “outros”.

Ao final realizam o guarapo, festa em que se alimentam exclusivamente de uma bebida feita do suco de cana fermentada ou cerveja de milho.

O guarapo é também o momento de resolução de conflitos por meio das lutas. Na maioria das vezes os conflitos são resolvidos pela fuga.

Após a puberdade alguns rapazes formam um bando seguindo de cabana em cabana, de guarapo em guarapo, por uns 2 ou 3 anos.

Misturam-se pouco com as pessoas, dormem em local diferente nas cabanas e se fixam novamente quando encontram uma mulher.

As moças são iniciadas nos guarapos quando escolhem seus maridos entre os jovens errantes.

É graças a essa iniciação que os rapazes sabem dirigir-se e orientar-se na sociedade.

Grécia e Roma antigas. Idade Média. Idade Moderna.

Nossos jovens atuais parecem amar o luxo. Tem maus modos e desprezam autoridade. São desrespeitosos com os adultos e passam o tempo vagando nas praças...

Não vejo esperança para o futuro do nosso povo se ele depender da frívola mocidade de hoje, pois todos os jovens são, por certo, indizivelmente frívolos...

•(Sócrates – século V a.C.)

•(Hesíodo – século VIII a.C)

“A coluna vertebral da vida em sociedade é a paidéia, a educação a distinção que permite o aceso dos jovens a um saber partilhado sem o qual a cidade não poderia existir. A cidade depende de um equilíbrio de instituições e práticas que supõe uma arte de viver, uma estilização dos comportamentos, um savoir-faire social ...”(Schnapp, 1996)

“Os jovens recebiam uma educação epecial para atingir um saber social, que os preparava para um ideal de vida comunitária.” (Campos, G.F.V.A.2008)

“A finalidade do processo de formação do jovem parece ser a educação para a sociedade, ou seja, esta é considerada a continuidade das pessoas, todos agem em função da continuidade da cultura da qual fazem parte.” (Campos, G.F.V.A. 2008)

Os jovens eram vistos como irresponsáveis, dependentes e merecedores de cuidados..

Não havia diferenciação entre infância e adolescência, o que caracterizava esse período da vida era a dependência.

“Interessante perceber que os giovani não podiam deliberar sobre nenhum assunto, o que ressalta a desconfiança que pesava sobre eles. Nem a morte do pai ... Determinava a saída deste grupo.” (Frota 2001)

“A única função social que poderiam ocupar era a militar, pois era uma alternativa criada para mudar o comportamento intempestivo dos jovens e, ainda sob a égide da disciplina, aproveitar a rebeldia juvenil em uma função considerada social.” (Campos, G.F.V.A. 2008)

“com o avanço do amor cortês e da cavalaria, a imagem que iria se formar da juventude era a do jovem digno e apaixonado, gentil e corajoso.” (Campos, G.F.V.A. 2008)

O re-surgimento das cidades. Há uma valorização da família que deixou de

ser apenas uma instituição privada com direito a transmissão dos bens e do nome.

Família como unidade de cooperação econômica.

Separação entre local de trabalho e moradia. O aparecimento das escolas: as crianças não

aprendiam mais participando da vida dos adultos, passou a ser necessário um processo de escolarização.

Início da construção de um saber sobre as crianças e adolescentes – generalização.

Rousseau é considerado o pai dos conceitos modernos sobre a infância e a adolescência –Emílio 1759.

Para Rousseau “o homem natural se transformava no homem político por meio do contrato social, ou seja, como a visão atual dicotômica entre indivíduo e sociedade, existe uma adesão do indivíduo ao social.” Rousseau, Emílio.

“Não se conhece a infância; no caminho das falsas idéias que se têm, quanto mais se anda, mais se fica perdido. Os mais sábios predem-se ao que aos homens importa saber, sem considerar o que as crianças estão em condições de aprender. Procuram sempre o homem na criança, sem pensar no que ela é antes de ser homem.” Rousseau, J.J. Emílio

Rousseau propõe aos seus contemporâneos, tanto um novo método educativo , como um novo sujeito. Grosrichard, A.

Rousseau valoriza a família nuclear e inclui também a figura do educador, que com o desenvolvimento das ciências faz série: médicos, psicólogos, psicanalistas.

(Campos, G.F.V.A. 2008)

Para Rousseau a criança é pura e adolescência é “uma fase de diferenciação sexual entre a criança e o homem, pois até a idade núbil não há nada que diferencie as crianças dos dois sexos.”

As concepções modernas sobre família, criança e o adolescentes surgem com o processo de ressurgimento das cidades.

A revolução industrial promoveu a separação entre os locais de trabalho e de morar.

Na sociedade capitalista a exigência de um tempo maior de preparação para a vida adulta, prolongou esse período.

A construção histórica da adolescência não suplanta a perturbação causada pela puberdade.

O Pai não é mais o ordenador da sociedade. A verdade está na ciência. O enfraquecimento das instituições políticas. O esvaziamento do espaço das questões

publicas – coletivas. Os dramas individuais giram em torno do

acesso aos objetos. Rebeldes sem causa, até que surja a próxima. Liberdade para quê?

Descrença em relação “a eficácia do saber; a não ser que seja de um saber derivado dos números e encarnado na tecnologia.”

Mundo Cínico: o que conta é o gozo de cada um.

A paixão pelo consumo faz eclipse nas paixões.

Trata do consumo dos produtos que se fazem de semblantes do objeto que falta e que são ao mesmo tempo produtores de mais de gozar.

“Instala os sujeitos e categorias e os torna não-analisáveis.” Ou seja, não há nada a saber sobre aquele sujeito.

Puberdade há a reatualização das escolhas de objeto hetero ou homossexuais e as escolhas de posição quanto ao sexo.

No lugar da crise da adolescência a clínica dos sintomas.

Toxicomania, Anorexia, a morte são tentativas de evitar a questão: o que sou para o outro?

Na adolescência ”há uma certa dificuldade em localizar as estruturas clínicas, diferenciar um autêntico desencadeamento psicótico de uma desestabilização histérica.”

Fazer surgir o sujeito. Quando e como termina a adoelscência?

Bonilha Almeida, P.V. Atenção primária à criança e ao adolescente no século XXI: análise de situação e perspectivas. In: Campos, G.W.S. et al. (org.) Manual de Práticas de Atenção Básica – Saúde Ampliada e Compartilhada. São Paulo: Hucitec, 2008.

Deluz, A. et al. A crise da adolescência. Rio de Janeiro: Companhia de Freud, 1999.

Campos, G.F.V.A. Adolescência: de que crise estamos falando? Holambra-SP: Editora Setembro 2008.

Bauman, Z. Em busca da política. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor.

Curinga – Revista da Escola Brasileira de Psicanálise – MG nº 20. Clínica do Contemporâneo

Roussseu, J.-J. “Emílio ou da educação”. Hall, S.G. Adolescensce: its psychology and

relation psyology, antopology, sociology, sex, crime, religion and educantion.