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uando Mercedes Gleitze se lançou no Canal da Mancha, em Outubro de 1927, este acto representou um pequeno mergulho para uma mulher... mas um passo gigante para a indústria relojoeira. Hans Wilsdorf, o fundador da Rolex, tinha conseguido que a intrépida aventureira usasse no pulso um relógio de caixa revolucionária, apelidada Oyster – que Wilsdorf garantia ser à prova de água. E ficou provado que sim. Partindo da localidade francesa de Cap Gris Nez, em direcção a Dover, a estenógrafa londrina, de 26 anos, logrou mesmo atravessar a nado o Canal, tornando-se na primeira mulher a consegui-lo e também a primeira pessoa a fazê-lo com um relógio de pulso. Quinze horas e 15 minutos depois de ter entrado na água, chegou ao destino exausta e sofreu um colapso. Curiosamente, logrou a travessia apenas na oitava tentativa... precisamente, a primeira vez em que usou relógio! O Rolex Oyster manteve-se intacto, fazendo jus ao seu nome (Oyster significa ostra, o molusco que se fecha hermeticamente na concha), e Hans Wilsdorf não perdeu a oportunidade de capi- talizar o feito: fez uma página inteira de publicidade, na primeira página do Daily Mail, a 24 de Novembro. No ano seguinte, os seus relógios eram apresentados imersos em água nas montras das relojoarias e joalharias. Estava lançada a lenda Rolex e ficava, definitivamente, ultrapassado o estigma da vulnerabilidade dos relógios à água. INIMIGA NÚMERO UM A água representa um perigo fatal para qualquer mecanismo – já que integra partes e ligas metálicas extremamente sensíveis à humidade. Durante séculos a fio, os relojoeiros foram sujeitos a um constante trabalho de manutenção devido às poeiras alojadas nas delicadas rodagens, às chuvadas que se infiltravam nas caixas ou à humidade dos vapores emanados dos sistemas de aquecimento. O fecho das caixas, as aberturas dos botões, o orifício para a coroa e a fixação do vidro não conseguiam ser suficientemente vedados. A Primeira Grande Guerra popularizou o uso dos relógios de pulso, mas a difícil vida nas trincheiras lamacentas inutilizou 084 | ESPIRAL A estanquicidade sempre foi uma quimera para a relojoaria tradicional... até que, após a Primeira Guerra Mundial, se conseguiram conceber os primeiros relógios de pulso, realmente, à prova de água. Hoje em dia, há diversos níveis de estanquicidade – desde a patenteada por instrumentos de mergulho profissional até à que se verifica em peças destinadas ao uso desportivo normal. Uma reportagem que se impõe em tempo de férias para todos aqueles que não dispensam os seus relógios mecânicos! por Miguel Seabra Estanquicidade Água à vista! S P EDITORIAL SUMÁRIO PERFIL CORREIO LEITOR CALEIDOSCÓPIO EM FOCO REPORTAGEM HISTÓRIA CRÓNICA ENTREVISTA TÉCNICA Q ESPIRAL | 085

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uando Mercedes Gleitze se lançou no

Canal da Mancha, em Outubro de

1927, este acto representou um

pequeno mergulho para uma

mulher... mas um passo gigante

para a indústria relojoeira. Hans

Wilsdorf, o fundador da Rolex, tinha

conseguido que a intrépida aventureira

usasse no pulso um relógio de caixa

revolucionária, apelidada Oyster – que Wilsdorf garantia ser

à prova de água. E ficou provado que sim.

Partindo da localidade francesa de Cap Gris Nez, em direcção

a Dover, a estenógrafa londrina, de 26 anos, logrou mesmo

atravessar a nado o Canal, tornando-se na primeira mulher a

consegui-lo e também a primeira pessoa a fazê-lo com um relógio

de pulso. Quinze horas e 15 minutos depois de ter entrado na

água, chegou ao destino exausta e sofreu um colapso.

Curiosamente, logrou a travessia apenas na oitava tentativa...

precisamente, a primeira vez em que usou relógio!

O Rolex Oyster manteve-se intacto, fazendo jus ao seu nome

(Oyster significa ostra, o molusco que se fecha hermeticamente

na concha), e Hans Wilsdorf não perdeu a oportunidade de capi-

talizar o feito: fez uma página inteira de publicidade, na primeira

página do Daily Mail, a 24 de Novembro. No ano seguinte, os seus

relógios eram apresentados imersos em água nas montras das

relojoarias e joalharias. Estava lançada a lenda Rolex e ficava,

definitivamente, ultrapassado o estigma da vulnerabilidade dos

relógios à água.

INIMIGA NÚMERO UM

A água representa um perigo fatal para qualquer mecanismo – já

que integra partes e ligas metálicas extremamente sensíveis

à humidade. Durante séculos a fio, os relojoeiros foram sujeitos

a um constante trabalho de manutenção devido às poeiras alojadas

nas delicadas rodagens, às chuvadas que se infiltravam nas caixas

ou à humidade dos vapores emanados dos sistemas de

aquecimento. O fecho das caixas, as aberturas dos botões, o

orifício para a coroa e a fixação do vidro não conseguiam ser

suficientemente vedados.

A Primeira Grande Guerra popularizou o uso dos relógios

de pulso, mas a difícil vida nas trincheiras lamacentas inutilizou

084 | ESPIRAL

A estanquicidade sempre foi uma quimera para a relojoaria tradicional... até que, após a Primeira GuerraMundial, se conseguiram conceber os primeiros relógios de pulso, realmente, à prova de água. Hoje em dia,há diversos níveis de estanquicidade – desde a patenteada por instrumentos de mergulho profissional até àque se verifica em peças destinadas ao uso desportivo normal. Uma reportagem que se impõe em tempode férias para todos aqueles que não dispensam os seus relógios mecânicos!

por Miguel Seabra

EstanquicidadeÁgua à vista!

SPEDITORIAL SUMÁRIO PERFIL CORREIO LEITOR CALEIDOSCÓPIO EM FOCO REPORTAGEM HISTÓRIA CRÓNICA ENTREVISTA TÉCNICA

Q

ESPIRAL | 085

SPEDITORIAL SUMÁRIO PERFIL CORREIO LEITOR CALEIDOSCÓPIO EM FOCO REPORTAGEM HISTÓRIA CRÓNICA ENTREVISTA TÉCNICA

Estanquicidade

muitos exemplares e tornou imperativo que os fabricantes

se debruçassem seriamente sobre a resolução do problema

da estanquicidade face à água, à humidade ou ao pó. Havia muito

que se tentara o recurso a peles, óleos especiais e até substâncias

elásticas... sem grande resultado prático face às inevitáveis

infiltrações.

Na altura do pós-guerra, o inglês John Harwood associou-se à

Fortis para a concretização do projecto de um modelo sem coroa –

considerada o ‘calcanhar de Aquiles’ dos relógios, já que era

através dela que as nocivas partículas minavam o mecanismo; a

solução consistia num sistema em que a corda era dada pela

rotação da luneta, mas nunca granjeou a desejada unanimidade.

Por sua vez, Hans Wilsdorf, mesmo contrariando os colabo-

radores, seguiu teimosamente outra via: complementando a

concepção de uma caixa monobloco, resolveu o problema das

infiltrações através da coroa, idealizando um sistema de rosca –

uma solução simples e genial quando comparada com outros

processos assaz elaborados, e mesmo exóticos, experimentados

por várias casas relojoeiras de renome.

PIONEIRISMO ROLEX

Em 1935, a Rolex lança uma primeira definição de estanquicidade

para os seus relógios: “Impermeáveis à água, ao pó, ao clima

tropical, ao gás, ao ar, à neve e fecho hermético assegurado contra

qualquer influência exterior nociva ao bom funcionamento”.

A estanquicidade tornou-se na bandeira da marca e a colecção

foi-se enriquecendo ao longo dos anos, com modelos cada vez

mais resistentes.

O Oyster Submariner tornou-se, a partir da apresentação em 1953,

numa referência incontornável – já que, na altura, um relógio

normal, usado na humidade de um país tropical, tinha uma

duração de vida muito curta. Começou por alardear uma estanqui-

cidade até 100 metros, depois 200 e mais tarde 300. Em 1960, um

Rolex Oyster especial dotado de um vidro em forma de bolha foi

acoplado ao flanco exterior do batiscafo Trieste e, ao largo de

Guam, no Pacífico, desceu a 10 916 metros de profundidade; a

pressão exercida foi superior a uma tonelada por centímetro

quadrado, mas o relógio passou o teste com distinção.

A partir de 1967, o Sea-Dweller permitiu à Rolex apresentar um

modelo de produção regular capaz de mergulhar ainda mais fundo

do que o Submariner. O segredo residia numa válvula capaz de

descarregar uma reserva de hélio dentro do relógio, de maneira a

permitir, aquando da subida, uma descompressão similar àquela

que faz o mergulhador. Em 1971, o Sea-Dweller 2000 chegava

aos 610 metros e, em 1980, o novo Sea-Dweller 4000 estava

garantido até aos 1220 metros.

Hoje em dia, uma caixa Oyster esculpida num único bloco de metal

passa por 162 operações. O fundo é enroscado na carroceria e a

coroa aparafusada com elevada precisão (a sua feitura exige 35

operações) é dotada de um sistema de segurança dupla baptizado

Twinlock – ou Triplock, para os modelos de mergulho mais radical.

Depois do Submariner e do Sea-Dweller, o Yacht-Master foi lança-

do em 1992 e completa a trilogia de vocação marítima da Rolex,

mesmo que a estanquicidade deste seja inferior (100 metros).

OS PROGRESSOS DA CONCORRÊNCIA

Enquanto a Rolex publicitava a sua imunidade à água, as restantes

marcas de alta relojoaria desenvolviam os seus próprios sistemas.

Em 1911, e sob a chancela da Jaeger-LeCoultre, Edmond Jaeger

já havia depositado uma patente para uma caixa estanque;

em 1939, a manufactura de Le Sentier passa a comercializar

um relógio com um sistema de fecho patenteado e estanque

graças a duas calottes encaixando-se uma na outra.

No ano passado, e à semelhança do que foi feito com o Gran’Sport

em relação à linha tradicional Reverso, a Jaeger-LeCoultre inau-

gurou uma gama mais desportiva para a linha Master Control: a

gama Master Compressor, cujo nome advém precisamente de um

original sistema de válvulas com indicador de fecho, destinado a

preservar os mecanismos de qualquer infiltração. O primeiro foi o

Master Compressor Memovox, dotado de alarme estanque até 100

metros, surgindo depois o Master Compressor Géographique

(também 100 m) e o Master Compressor Automatique (200 m).

Interessante é também o sistema que Roberto Carlotti desen-

volveu para os seus relógios fabricados pela European Company

Watch: uma caixa monobloco em que quatro parafusos seguram a

luneta. Para se chegar ao mecanismo, é preciso desapertar os para-

fusos, retirar a luneta, o vidro e o mostrador; no entanto, uma

pequena tampa, que só pode ser aberta com uma chave especial,

permite aceder por trás à coroa e às partes vitais do mecanismo.

A SAGA KONTIKI

Um dos mais famosos exploradores do século transacto foi

o norueguês Thor Heyerdahl. A mais famosa das suas inúmeras

expedições foi a travessia em jangada destinada a provar que os

ancestreais dos polinésios eram incas e não asiáticos. Para confirmar

tão polémica tese migratória, o cientista nórdico fez questão de

provar ao mundo que uma tão longa viagem de barco seria possível.

Seguindo as técnicas rudimentares da época dos incas, construiu

uma jangada com a imagem de KonTiki (o deus do sol inca) na vela

e saiu do porto do Collao (no Peru), em 26 de Abril de 1947, rumo á

Polinésia – atravessando mesmo o Pacífico e chegando ao destino

7 600 quilómetros e 101 dias depois, após ter ultrapassado tempes-

tades, vagas de cinco metros e ataques de tubarões.

01. Hans Wilsdorf (1881-1960), presidente da Rolex e inventordo relógio estanque “Oyster”. 02. Publicidade antiga doRolex Oyster. 03. Relógio Rolex Oyster utilizado porMercedes Gleitze na travessia do canal da mancha em 1927.04. Relógio Rolex Sea-Dweller. 05. Esquema de 1935 dapatente de 1926 de Hans Wilsdorf do relógio Rolex “Oyster”.06. Relógio automático estanque John Harwood fabricadopela Fortis em 1929. 07. Publicidade antiga do Jaeger--LeCoultre Etanche Reverso. 08. Relógio Jaeger-LeCoultreMaster Compressor. 09. Esquema de estanquicidade da coroada colecção Jaeger-LeCoultre Master Compressor.

Fotos 01. 03. e 05. – L’encyclopédie des montres, ETAI.Foto 02 – Armband Uhren, Callwey.

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O único objecto contemporâneo que fez questão de levar era um

relógio de pulso (os cronómetros marinhos de grandes dimensões

poderiam cair da jangada), mas, atendendo à especificidade da

missão, o relógio tinha obrigatoriamente de ser imune às infil-

trações de água. Heyerdahl dirigiu-se então à manufactura Eterna

com uma lista de requisitos que redundaram na concepção de um

modelo particularmente hermético. Este foi o primeiro relógio de

uma linhagem apropriadamente baptizada com o nome KonTiki e

que continua presente (com modelos renovados pontualmente) no

catálogo da casa sedeada em Grenchen. Os vários modelos

KonTiki, concebidos ao longo das décadas, são especialmente

cobiçados por coleccionadores de relógios e de sonhos...

FORMAS DIFÍCEIS

A par dos progressos evidenciados na construção das caixas e

coroas com o respectivo sistema de rosca, o fabrico de juntas

tornou-se mais eficaz na segunda metade do século.

Em matérias variadas (borracha, neoprene, plásticos), as juntas

são indispensáveis para um fecho hermético das diversas partes

móveis da caixa (fundo, coroa, botões, vidro) e permite à maioria

dos relógios – mesmo os que não têm coroa de rosca – anunciar

uma estanquicidade até 30 metros. Este nível de resistência, para

modelos que não têm vocação desportiva, é mais uma norma de

conforto suficiente para resistir a projecções de água e à natação

em superfície ou não deixar entrar pó durante os acertos através da

coroa.

Geralmente, os relógios de forma (rectangulares, tonneau, quadra-

dos) oferecem um menor grau de estanquicidade, com algumas

excepções (como o novo Dubey & Schaldenbrand Aquadine de

mergulho ou o Jaeger-LeCoultre Reverso Gran’Sport). Devido ao

formato regular e ao facto de a maior parte dos mecanismos serem

redondos (proporcionando um melhor encaixe nas caixas

regulares), os relógios redondos são, tradicionalmente, mais

capazes de resistir à água e aguentar as extremas pressões das

profundidades.

MERGULHO NAS PROFUNDEZAS

Os relógios de mergulho representam uma importante e

especial categoria no universo dos relógios desportivos, já

que estão sujeitos a uma enorme pressão e são instrumentos

vitais para os próprios mergulhadores: uma falha mecânica

ou uma falha na estanquicidade pode ter consequências bem

funestas...

Por esta razão, só podem integrar a categoria de relógios de

mergulho peças com uma impermeabilidade declarada superior a

dez atmosferas (equivalente a cerca de 100 metros de profundi-

dade); segundo os valores de impermeabilidade da Norma da

Indústria Relojoeira Suíça (NHIS), cada exemplar com estanquici-

dade superior a 100 metros tem de ser submetido a exigentes con-

trolos de impermeabilidade sob pressão da água e do ar. Os testes

de ar implicam uma pressão de duas atmosferas, enquanto os

testes de água incluem a submersão numa solução de clorato

de sódio (30 gramas por litro) a uma temperatura de 23 graus;

os testes de resistência aos choques térmicos implicam variações

súbitas de temperatura na ordem dos 35 graus.

Os relógios de mergulho devem ter características distintas que os

identifiquem como uma categoria à parte: mostradores de

assinaláveis dimensões e tratamento anti-reflexo, grandes lunetas

giratórias de sentido unidireccional, com números gravados para

balizar os tempos de mergulho e passíveis de serem vistos à

distância de 25 centímetros em precárias condições de luz, coroas

de rosca com assinaláveis dimensões e, ainda, ponteiros e índices

luminescentes (actualmente com SuperLuminova, depois de

o rádio e o trítio terem sido abolidos devido às radiações) para

facilitar a leitura debaixo de água.

As principais associações de mergulho recomendam uma

profundidade máxima de segurança para mergulho amador entre

30 e 40 metros, valores que permitem a utilização de uma

boa parte dos relógios de qualidade actualmente no mercado.

A partir daí, convém optar, contudo, por modelos mais adaptados

às exigências aquáticas e utilizar relógios estanques pelo menos

a 100 metros.

ADEREÇOS COMPLEMENTARES

Muitos dos modelos com especial vocação submarina são dotados

de extensores para a bracelete ou são comercializados num estojo

com bracelete alternativa (para uso sobre o fato de mergulho).

É o caso do relógio da Japy, equipado com um interessante sistema

de pressão sobre a coroa assimétrica, e do novo Aquagraph

da TAG Heuer – um inovador instrumento para profissionais

cujas funções cronográficas podem ser accionadas a 500 metros

debaixo de água.

O Vulcain Nautical é outro modelo estanque com uma função

extra (o alarme, preparado para se ouvir debaixo de água!) que vem

complementar a actual oferta de versáteis relógios subaquáticos,

ostentando ainda no mostrador várias tabelas informativas para os

mergulhadores. A Daniel JeanRichard apresenta o Diverscope,

que tem a particularidade de apresentar a luneta giratória dentro

do vidro, podendo ser comandada por uma coroa exterior à direita

da caixa.

Existem, actualmente, autênticos computadores de pulso destina-

dos ao mergulho, completamente atulhados das mais variadas

funções. No entanto... são a pilhas e o último lugar em que nos

devemos preocupar com a duração de pilhas é debaixo de água.

Muitos mergulhadores optam declaradamente por relógios

mecânicos de mergulho porque não querem correr o risco de ter

um relógio de quartzo que fique sem bateria durante um mer-

gulho nas profundezas.

Para mais, um prestigiado relógio mecânico é mais elegante tanto

dentro como fora de água...

LIMPEZA É IMPORTANTE

Após o uso em condições aquáticas, é forçoso proceder-se à

limpeza do relógio. Se o relógio tiver estado em contacto com água

salgada ou tiver mesmo sido utilizado apenas numa prova de vela,

tem de ser passado por água fresca logo de seguida. Se o relógio

estiver equipado com uma luneta giratória, dever-se-á fazer rodar

a luneta enquanto se procede à limpeza, para remoção de quais-

quer partículas de sujidade ou de grãos de areia – em caso con-

trário, estes podem travar a capacidade rotativa da luneta.

A limpeza da caixa do relógio deve ser efectuada com uma

escova de dentes velha e água com sabão, o mesmo acon-

tecendo com as braceletes de metal – que acumulam areia e

sujidade entre os elos.

Estanquicidade

01. Percurso da jangada do cientista noroeguês Thor Heyer-dahl. 02. Conjunto de relógio e bússula de pulso Panerai Lu-minor Marina Militare. 03. Navegadores de combate em plenaacção sobre o submarino de ataque.

Fotos 02. e 03. – L’encyclopédie des montres, ETAI.

03.

02.

O explorador noroeguês Thor

Heyerdahl dirigiu-se à manufactura

Eterna com uma lista de requisitos

que redundaram na concepção de um

modelo particularmente hermético.

01.

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Estanquicidade

SPEDITORIAL SUMÁRIO PERFIL CORREIO LEITOR CALEIDOSCÓPIO EM FOCO REPORTAGEM HISTÓRIA CRÓNICA ENTREVISTA TÉCNICA

01. Relógio Eterna Kontiki.02. Relógio Audemars PiguetOffshore. 03. Relógio TAGHeuer Aquagraph. 04. RelógioEuropean Company WatchPanhard Diablo. 05. RelógioDaniel JeanRichard Diver-scope. 06. Relógio SectorDiver 600.

SEGUNDO A NORMA DIN 8310

Devido ao perigo inerente ao mergulho em profundidade,

os relógios utilizados em actividades subaquáticas são submetidos

a normas estabelecidas. A designação ‘estanquicidade está

também balizada:

– a simples menção water resistant que alguns relógios ostentam

não significa que são destinados ao mergulho, mas que ultrapas-

saram, com sucesso, os testes efectuados aquando do fabrico: uma

imersão de 30 minutos a um metro de profundidade de água e

uma de 90 segundos a 20 metros de profundidade;

– a menção water resistant 10 m. (1 bar/atm) assegura protecção

contra a água (chuva, suor) e o pó;

– a menção water resistant 30 m. (3 bar/atm) indica um

hermetismo normal; o relógio está continuamente protegido

contra as molhas, o suor, a chuva, o uso corrente (lavar as mãos ou

a roupa); o duche é desaconselhado, já que a pressão da água pode

facilmente atingir as três atmosferas;

– a menção water resistant 50 m. (5 bar/atm) confirma que o reló-

gio é estanque e pode ser usado em natação à superfície, banho ou

duche; é o grau mínimo de estanquicidade e devem evitar-se, o

mais possível, as manipulações da coroa e dos botões dos cronó-

grafos sob a água;

– a menção water resistant 100 m. (10 bar/atm) assegura que

o relógio está preparado para imersão prolongada; é particular-

mente indicado para o mergulho em águas pouco profundas;

– a menção water resistant 150 m. (15 bar/atm) – ou a partir desse

valor – confirma que o relógio é indicado para a prática de

mergulho em profundidade com botija de ar comprimido.

As garantias são referentes a modelos novos. É forçoso contar

com o envelhecimento das juntas e com a deterioração dos vidros

de menor qualidade, como os de plexiglass, que se tornam

porosos devido às dilatações sucessivas decorrentes do calor

e do frio – a temperatura de um relógio usado ao sol pode ascen-

der aos 60 graus e de seguida sofrer uma queda abrupta se

mergulhado, por exemplo, em águas com dez graus de tempe-

ratura. Os relógios de mergulho devem ser revistos periodica-

mente para que as propriedades iniciais sejam mantidas ao longo

do período de vida.

VELAS INTRÉPIDAS

Várias marcas relojoeiras apresentam instrumentos com funções

adaptadas ao uso em regatas, como seja a exibição de uma

contagem decrescente até à partida. Estas funções permitem ao

participante sincronizar o relógio com o tempo oficial do juiz. Nos

momentos cruciais anteriores à partida, o velejador tem de estar

constantemente a olhar para o relógio ao mesmo tempo que

manobra a embarcação, de modo a estar na melhor posição

possível quando o tiro de partida é dado.

O Searacer, da TAG Heuer, está dotado de um mecanismo crono-

gráfico de quartzo programado para as regatas; uma seta vermelha

indica a contagem decrescente de dez e cinco minutos até à parti-

da. Outros modelos estão intimamente ligados aos barcos e têm

inspiração marítima – como a carismática linha Royal Oak, da

Audemars Piguet, cujo próprio nome foi inspirado num famoso

navio de guerra da Marinha Real Britânica e cuja variante Royal

Oak Offshore exibe prestações ainda mais radicais, nas mais

exigentes condições.

O Royal Oak esteve em destaque na última edição da America’s

Cup, já que equipava a tripulação do Alinghi. A associação vito-

riosa da Audemars Piguet com o sindicato suíço que conquistou o

famoso troféu foi celebrada em duas edições limitadas: o Royal

Oak City of Sails e o Royal Oak Offshore Alinghi.

Talvez o mais inovador relógio de pulso dos últimos tempos, inspi-

rado na saga marítima, seja, porém, o Longitude, da Arnold & Son:

está preparado para apresentar o cálculo da longitude!

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