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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES Lepidoptera (Borboletas) da Colecção Entomológica do Museu Nacional de História Natural e da Ciência. Ilustração Científica de diferentes grupos taxonómicos: Sphingidae e outros. Pedro Lourenço Almeida de Araújo Trabalho de Projecto Mestrado em Desenho 2015

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES

Lepidoptera (Borboletas) da Colecção

Entomológica do Museu Nacional de História

Natural e da Ciência. Ilustração Científica de

diferentes grupos taxonómicos:

Sphingidae e outros.

Pedro Lourenço Almeida de Araújo

Trabalho de Projecto

Mestrado em Desenho

2015

2

3

UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE BELAS-ARTES

Lepidoptera (Borboletas) da Colecção

Entomológica do Museu Nacional de História

Natural e da Ciência. Ilustração Científica de

diferentes grupos taxonómicos:

Sphingidae e outros.

Pedro Lourenço Almeida de Araújo

Trabalho de Projecto orientado pelo Prof. Pedro Salgado

E co-orientado pelo Doutor Luís Filipe Lopes

Mestrado em Desenho

2015

4

5

Nota: Esta dissertação não foi escrita ao abrigo do novo acordo ortográfico.

6

7

Resumo

Neste relatório é descrito o trabalho de projecto de mestrado, incidindo

sobre a ilustração científica de borboletas nocturnas, e a produção de diversos

produtos associados, como o livro “Cem Traças”, material de merchandise e

exposições. Descrevem-se o processo seguido neste projecto, nomeadamente:

i) um estudo de caso; ii) a aprendizagem sobre a Biologia das borboletas, em

particular da família Sphingidae; iii) os materiais e metodologias da ilustração;

iv) a produção de um livro, outros materiais derivados e actividades de

divulgação. No estudo de caso, olhou-se para o trabalho de John Cody,

ilustrador reconhecido pelas suas ilustrações de saturnídeos, para se recolher

referências visuais. O estudo da Biologia foi essencial para tentar compreender

a anatomia e comportamento das borboletas, sobretudo da família Sphingidae,

para se poder partir para a ilustração com segurança. Na secção de materiais e

metodologias é descrito o processo de criação de todas as ilustrações. É

apresentada a produção do livro “Cem Traças”, publicado com o apoio da

Associação Tentáculo e do Museu Nacional de História Natural e da Ciência

(MUHNAC). Ao realizar este projecto trabalhou-se em colaboração com a

colecção entomológica do MUHNAC, a partir da qual, através de exemplares

estudados na mesma, se fizeram as ilustrações.

PALAVRAS-CHAVE

Ilustração Científica, Divulgação de Ciência, Borboletas nocturnas, MUHNAC,

Colecção Entomológica.

8

9

Abstract

This report describes the project work for the master’s degree in

Drawing, focusing on the scientific illustration of moths, and the production of

several associated products, such as the book "Cem Traças" (100 Moths),

merchandise material and exhibitions. The process followed in this project is

described as such: i) a case study; Ii) learning about the biology of moths, in

particular the Sphingidae Family; Iii) the materials and methodologies used in

illustration; Iv) the production of a book, other derived materials and

communication activities. In the case study, a look was taken at the work of

John Cody, an illustrator recognized for his illustrations of saturniids, to collect

visual references. The study of biology was essential to try to understand the

anatomy and behavior of moths, especially of the Sphingidae Family, allowing

to proceed with the illustrations with confidence. In the materials and

methodologies section the process of creating all the illustrations is described.

The production of the book "Cem Traças", published with the support of

“Associação Tentáculo” and the National Museum of Natural History and

Science (MUHNAC), is presented. In carrying out this project there was work

done in collaboration with the entomological collection of MUHNAC, from which,

through specimens studied in said collection, the illustrations were made.

KEYWORDS

Scientific Illustration, Science Communication, Moths, MUHNAC, Entomologic

Collection

10

11

Agradecimentos

Este projecto resulta do trabalho desenvolvido ao longo de dois anos,

entre 2013 e 2015. Só se tornou possível a sua realização com o apoio de

várias pessoas e instituições, às quais se expressam os mais sinceros

agradecimentos.

Agradeço a Luís Filipe Lopes, pela amizade, dedicação e carinho para

comigo e a Tetyana e este projecto.

Ao Professor Pedro Salgado, por ter inspirado uma paixão pela

ilustração científica, pela motivação constante e por ter sido o orientador deste

trabalho.

Ao Professor Doutor Pedro Saraiva e ao Professor Doutor António Pedro

Ferreira Marques, pelos conselhos no início desta aventura.

A todos os professores ao longo do primeiro ano de Mestrado, em que

recebi conhecimentos que me fizeram crescer enquanto artista.

À Faculdade de Belas-Artes, pelo ensino e vivência.

Ao investigador António Bívar de Sousa pelas revisões às ilustrações e à

Joana Vieira da Silva pelas revisões aos textos em inglês do livro “Cem

Traças”.

À Judite Alves, Roberto Keller, Cristiane Bastos,Silveira, Eva Monteiro e

Vítor Gens, do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da

Universidade de Lisboa, pela boa recepção.

Agradeço aos meus amigos, particularmente ao Bruno Fernandes

Tomás e ao Miguel Bernardino, pelas conversas, cafés e alegrias que

partilhamos.

À Lívia Heinerich, à Carolina Silva, à Rita Cardoso e à nossa turma de

Mestrado pela amizade e pelas memórias.

Um especial agradecimento à Tetyana Chkyrya, por estar ao meu lado e

por tudo o que passamos juntos.

Aos meus queridos pais, Carlos e Madalena, que sempre me apoiaram

nestas “coisas das artes” e aos meus irmãos, João e Kiko, por serem quem

são.

12

13

Índice

1. Introdução

21

1.1 O Desenho

21

1.2 Contextualização

21

1.3 Sphingidae: Biologia (breves notas)

23

1.4 Estudo de caso: John Cody – Wings of Paradise

25

1.5 A importância do trabalho em equipa

31

2. Metodologia e técnicas

33

2.1 Fase Inicial – selecção de espécimes e pesquisa

34

2.1.1. Escolha dos exemplares a ilustrar

34

2.1.2. Fotografia dos exemplares a ilustrar

36

2.1.3. Confirmação e determinação dos nomes das espécies

40

2.2 Ilustração

41

2.2.1. Desenho Monocromático (Analógico)

41

2.2.2. Desenho Digital

46

3. O Livro – Produto final

55

3.1. Paginação

56

3.1.1. Capa e contracapa

56

3.1.2. Página de Rosto

57

3.1.3. Ficha Técnica

58

3.1.4. Prefácios

58

3.1.5. Índice

58

3.1.6. Introdução

59

3.1.7. Currículos dos autores

60

3.1.8. Introdução às famílias representadas 60

14

3.1.9. Ilustrações

60

3.2. Actividades de divulgação e aplicações do projecto

61

3.2.1. Actividades de divulgação

62

3.2.2. Merchandise

65

3.2.3. Plataformas digitais online

66

4. Discussão

67

5. Bibliografia

69

5.1 Webgrafia

70

6. Apêndice de Ilustrações 71

15

Índice de imagens

Fig.1 – Fotografia de uma Hyles euphorbiae (Linnaeus, 1758), da colecção do MUHNAC. Com legenda das várias partes, para ajudar à compreensão do presente texto. (2015)

23

Fig.2 - Capa do livro Wings of Paradise de John Cody 26

Fig.3 – Prancha XXVIII do livro “Illustrations of Natural History”. Autor: Dru Drury.

28

Fig.4 – Gravura do Metamorphosis Insectorum Surinamensium, Prancha VI, 1705) Autor: Maria Sybilla Merian.

29

Fig.5 – Ilustração científica de John Cody. Atlas Moth, Attacus atlas (1981)

30

Fig.6 – Ilustração científica de John Cody. Malaysian Moon Moth, Actias maenas (1983)

30

Fig.7 – Ilustração científica de Joaquim Freire (1785) Arquivo do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa. Cedida por Vítor Gens.

31

Fig.8 – Momento da escolha de um exemplar de borboleta nocturna da colecção entomológica do MUHNAC. (2015)

35

Fig.9 – Máquina e lentes usadas no processo de fotografia. (2015) 37

Fig.10 – Momento da preparação de um exemplar para ser fotografado. (2015)

38

Fig.11 – Exemplo de colocação de um exemplar no suporte apropriado. A borboleta é uma Phiala constipuncta. (2015)

38

Fig.12 – Fotografia realizada em estúdio de um exemplar a ilustrar. Espécie Hyles euphorbiae (Linnaeus, 1758) (2015)

39

Fig.13 – Hyles euphorbiae (Linnaeus, 1758) em repouso. Foto Philippe Mothiron (15 Junho 2004)

41

Fig.14 – Hyles euphorbiae (Linnaeus, 1758), a alimentar-se de néctar. Foto Bem Trott.

41

Fig.15 – Lapiseira Rotring 500 e respectivas minas, dureza HB e espessura 0,5mm.

43

Fig. 16 – Desenho de contorno. Espécie Hyles euphorbiae (Linnaeus, 1758).

44

16

Fig. 17 – Lapiseira Rotring 500 e respectivas minas (HB 0,5mm), lápis Staedtler 2B; Caran D’Ache Technograf 7H e Caran D’Ache Grafwood.

44

Fig. 18 – Embalagem de Pan-Pastel, negro. Esponjas da marca Sofft. 44

Fig. 19 – Lâminas usadas para a raspagem do poliéster. 45

Fig. 20 – Desenho analógico finalizado, pronto para digitalização. Espécie Hyles euphorbiae (Linnaeus, 1758).

46

Fig. 21 – Processo de limpeza do Desenho Analógico, em Photoshop. 47

Fig. 22 – Processo de aplicação de cor, numa layer inferior à do Desenho Analógico, em Photoshop.

48

Fig. 23 – Desenho Digital finalizado, em Photoshop. 51

Fig. 24 – Tabela de ilustrações. 52

Fig. 25 – Ilustração da espécie Hyles euphorbia (Linnaeus, 1758). Técnica mista s/poliéster e digital. Pedro Araújo, 2015.

54

Fig. 26 – Ilustração da espécie Daphnis nerii (Linnaeus,1758). Técnica mista s/poliéster e digital. Pedro Araújo, 2015.

54

Fig. 27 – Capa e contra capa do livro “Cem Traças”. 57

Fig. 28 – Página de rosto do livro “Cem Traças”. 57

Fig. 29 – Ficha Técnica do livro “Cem Traças”. 58

Fig. 30 – Índice do livro “Cem Traças”. 59

Fig. 31 – Introdução do livro “Cem Traças”. 59

Fig. 32 – Páginas (100 e 101) de ilustrações do livro “Cem Traças”. 61

Fig. 33 – Páginas (114 e 115) de ilustrações do livro “Cem Traças”. 61

Fig. 34 – Exposição no Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa. 2016.

63

Fig. 35 – Exposição no Centro de Ciência Viva da Floresta. Proença-a-Nova, 2015.

63

Fig. 36 – Noite Europeia dos Investigadores. Museu Nacional da História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa, 2015.

64

Fig. 37 – Apresentação no Museu Bordalo Pinheiro, 2014. 64

Fig. 38 – Postais com algumas ilustrações do projecto. 65

Fig. 39 – Ilustração da espécie Albenus sp.

71

17

Pedro Araújo, 2015.

Fig. 40 – Ilustração da espécie Balacra rubrostriata Pedro Araújo, 2015.

71

Fig. 41 – Ilustração da espécie Cymbalophora pudica Pedro Araújo, 2015.

72

Fig. 42 – Ilustração da espécie Spilosoma luteum Pedro Araújo, 2015.

72

Fig. 43 – Ilustração da espécie Tyria jacobaeae Pedro Araújo, 2015.

73

Fig. 44 – Ilustração da espécie Cephonodes hylas Pedro Araújo, 2015.

73

Fig. 45 – Ilustração da espécie Maruca vitrata Pedro Araújo, 2015.

74

Fig. 46 – Ilustração da espécie Omiodes indicata

Pedro Araújo, 2015. 74

Fig. 47 – Ilustração da espécie Stemorrhages sericea Pedro Araújo, 2015.

75

Fig. 48 – Ilustração da espécie Amata sp.

Pedro Araújo, 2015. 75

Fig. 49 – Ilustração da espécie Euplagia quadripunctaria

Pedro Araújo, 2015. 76

Fig. 50 – Ilustração da espécie Menophra japyigiaria

Pedro Araújo, 2015. 76

Fig. 51 – Ilustração da espécie Filiola lanceolata

Pedro Araújo, 2015. 77

Fig. 52 – Ilustração da espécie Lasiocampa quercus Pedro Araújo, 2015.

77

Fig. 53 – Ilustração da espécie Lasiocampa trifolii

Pedro Araújo, 2015. 78

Fig. 54 – Ilustração da espécie Latoia sp. Pedro Araújo, 2015.

Fig. 55 – Ilustração da espécie Latoia vitilena

Pedro Araújo, 2015.

78

79

Fig. 56 – Ilustração da espécie Catocala nupta

Pedro Araújo, 2015. 79

Fig. 57 – Ilustração da espécie Erebus macrops 80

18

Pedro Araújo, 2015.

Fig. 58 – Ilustração da espécie Nola cicatricalis Pedro Araújo, 2015.

80

Fig. 59 – Ilustração da espécie Eudocima divitiosa Pedro Araújo, 2015.

81

Fig. 60 – Ilustração da espécie Eudocima materna Pedro Araújo, 2015.

81

Fig. 61 – Ilustração da espécie Heraclia sp. Pedro Araújo, 2015.

82

Fig. 62 – Ilustração da espécie Bena prasinana Pedro Araújo, 2015.

82

Fig. 63 – Ilustração da espécie Bena bicolorana Pedro Araújo, 2015.

83

Fig. 64 – Ilustração da espécie Anaphe reticulata

Pedro Araújo, 2015. 83

Fig.65 – Ilustração da espécie Galona serena Pedro Araújo, 2015.

84

Fig. 66 – Ilustração da espécie Gonimbrasia belina

Pedro Araújo, 2015. 84

Fig. 67 – Ilustração da espécie Bunaeopsis jacksoni

Pedro Araújo, 2015. 85

Fig. 68 – Ilustração da espécie Nudaurelia rectilineata

Pedro Araújo, 2015. 85

Fig. 69 – Ilustração da espécie Saturnia pavonia

Pedro Araújo, 2015. 86

Fig. 70 – Ilustração da espécie Acherontia atropos Pedro Araújo, 2015.

86

Fig. 71 – Ilustração da espécie Agrius convolvuli

Pedro Araújo, 2015. 87

Fig. 72 – Ilustração da espécie Daphnis nerii Pedro Araújo, 2015.

87

Fig. 73 – Ilustração da espécie Deilephila elpenor

Pedro Araújo, 2015. 88

Fig. 74 – Ilustração da espécie Deilephila porcellus Pedro Araújo, 2015.

88

Fig. 75 – Ilustração da espécie Hemaris fuciformis 89

19

Pedro Araújo, 2015.

Fig. 76 – Ilustração da espécie Macroglossum stellatarum Pedro Araújo, 2015.

89

Fig. 77 – Ilustração da espécie Hippotion balsaminae Pedro Araújo, 2015.

90

Fig. 78 – Ilustração da espécie Hippotion osiris Pedro Araújo, 2015.

90

Fig. 79 – Ilustração da espécie Hippotion eson Pedro Araújo, 2015.

91

Fig. 80 – Ilustração da espécie Hyles euphorbiae Pedro Araújo, 2015.

91

Fig. 81 – Ilustração da espécie Leothoe populi Pedro Araújo, 2015.

92

Fig. 82 – Ilustração da espécie Lophostethus dumolinii

Pedro Araújo, 2015. 92

Fig. 83 – Ilustração da espécie Macropoliana natalensis Pedro Araújo, 2015.

93

Fig. 84 – Ilustração da espécie Mimas tilliae

Pedro Araújo, 2015. 93

Fig. 85 – Ilustração da espécie Nephele accetifera

Pedro Araújo, 2015. 94

Fig. 86 - Ilustração da espécie Nephele rosae

Pedro Araújo, 2015. 94

Fig. 87 - Ilustração da espécie Poliana buchholzi

Pedro Araújo, 2015. 95

Fig. 88 - Ilustração da espécie Leptoclanis pulchra Pedro Araújo, 2015.

95

20

21

1. Introdução

1.1. O Desenho

O desenho pode ser considerado um meio de comunicação. Os

conceitos e a informação têm nele um meio de propagação ou divulgação.

Por ser universal o desenho pode complementar conteúdos escritos e orais,

que na sua forma original não sejam compreendidos facilmente ou não

consigam comunicar a totalidade de uma mensagem. O desenho torna-se

assim documento e veículo para transmitir conhecimentos ao longo do tempo e

espaço.

1.2. Contextualização

O trabalho de projecto apresentado, neste relatório tem como tema

“Lepidoptera (Borboletas) da Colecção Entomológica do Museu Nacional de

História Natural e da Ciência. Ilustração Científica de diferentes grupos

taxonómicos: Sphingidae e outros.

No âmbito deste projecto foram criadas 50 ilustrações de borboletas

nocturnas (ou traças), da colecção entomológica do Museu Nacional de

História Natural e da Ciência (MUHNAC). Estas ilustrações em conjunto com

50 ilustrações de Tetyana Chkyrya perfazem um total de 100 ilustrações que

serviram de base à criação do livro “Cem Traças”, que foi publicado no âmbito

deste trabalho e ao desenvolvimento de diverso material de divulgação, como

exposições e material de merchandise.

Os objectivos sobre os quais este projecto foi criado e desenvolvido

passam pela divulgação de conhecimento sobre as borboletas nocturnas1 ao

público-geral apelando à sensibilização para a importância e diversidade

destes seres vivos.

O ponto de partida do trabalho prático e que impulsionou a escolha do

tema, foi uma visita à colecção entomológica do MUHNAC. Esta detém, à data

da escrita deste relatório, cerca de 35.000 registos catalogados,

1 O termo borboleta nocturna é aplicado a grupos muito diversos e apesar deste nome, nem sempre os

espécimes têm actividade nocturna ou exclusivamente nocturna.

22

correspondendo a mais de 68.000 espécimes, com forte representação dos

territórios nacionais e de países Africanos de Língua Oficial Portuguesa como

Angola, Moçambique ou São Tomé e Príncipe. O ponto de partida para os

desenhos foi a observação de exemplares desta colecção e desde cedo ficou

definido o objectivo de dar a conhecer ao público a sua riqueza.

A ilustração científica tem a vantagem de poder representar uma

espécie, com seus padrões e formas, salientando estruturas de maior interesse

ou mesmo recuperar partes em falta ou degradadas, com recurso à observação

de várias referências. Neste aspecto particular, o acesso a uma colecção

entomológica que contém vários exemplares da mesma espécie é uma

vantagem.

Foi importante para o autor, por aconselhamento dos orientadores, fazer

um estudo sobre autores já existentes dentro do tema das borboletas

nocturnas. Essa reflexão foi feita sobre o trabalho de John Cody (1925-2016),

autor de ilustrações sobre a família Saturniidae.

Provou-se necessário estudar sobre a morfologia e a taxonomia ligada

às borboletas nocturnas, tendo como referência a família Sphingidae. Esses

estudos são apresentados de forma breve e concisa neste relatório.

Existem diversos guias de borboletas publicados por autores

Portugueses, tais como o livro “Borboletas de Portugal” de Ernestino

Maravalhas, ou o livro “Borboletas de Angola” dos autores Luís Mendes e

António Bívar de Sousa. Estes livros apresentam os espécimes em suporte

fotográfico, de borboletas diurnas de Portugal e Angola. No entanto, em muitos

outros casos, a ilustração científica tem sido usada na criação de guias da

natureza e na descrição de espécies e, nesta aproximação, pretendeu-se usar

a ilustração como meio de transmissão de conhecimento.

23

1.3. Sphingidae: Biologia (breves notas)

Na taxonomia, as borboletas nocturnas são da Ordem Lepidoptera. Por

ordem hierárquica, em ordem descendente: reino Animalia, filo Arthropoda,

classe Insecta, ordem Lepidoptera. A partir da ordem surgem as famílias.

Como já referido, neste trabalho o tema principal foram borboletas nocturnas

da família Sphingidae (também denominados de esfingídeos). Não obstante,

criaram-se ilustrações de outras famílias - Arctiidae; Bombycidae; Cossidae;

Crambidae; Erebidae; Eupterotidae; Geometridae; Lasiocampidae;

Limacodidae; Noctuidae; Nolidae; Notodontidae; Pterophoridae; Saturniidae;

Sphingidae e Zygaenidae como complemento.

O estudo realizado sobre os esfingídeos teve foco na fase adulta e as

ilustrações foram realizadas em vista dorsal. Os esfingídeos são borboletas de

tamanho médio a grande, de hábitos predominantemente nocturnos. As suas

asas anteriores são longas e aerodinâmicas, as posteriores curtas e de forma

triangular. Na maioria dos casos os corpos apresentam abdómen com forma

cónica (fig.1).

Fig.1 – Fotografia de uma Hyles euphorbiae (Linnaeus, 1758), da colecção do MUHNAC. Com legenda das várias partes, para ajudar à compreensão do presente texto.

(2015)

24

Os olhos são em forma de globo, quase sempre salientes quando vistos

a partir da vista dorsal do animal. O tórax é robusto e muitas vezes, apresenta

tufos de pêlo2 na base das asas anteriores.

Muitas das espécies desta família de insectos têm as antenas esguias e

em forma de um pequeno gancho na sua terminação. A probóscide3 é muito

longa nalgumas espécies, a alimentar-se de néctar de flores, mutas vezes

flutuando no ar como se de um beija-flor se tratasse4. Uma curiosidade

interessante é que na América do Sul há borboletas nocturnas que são tão

parecidas com beija-flores, que o famoso naturalista Bates (1825-1892), nas

suas viagens pela Amazónia, fotografou alguns destes insectos pensando que

eram as aves em questão5.

Uma espécie que é especialmente conhecida por causar estas caricatas

ocorrências é a Macroglossum stellatarum (Linnaeus, 1758), presente neste

trabalho.

Falando concretamente sobre a alimentação dos esfingídeos, à

excepção de algumas espécies, em que as partes bucais são demasiado

pequenas e que apenas se alimentam durante o seu desenvolvimento larvar, a

maioria alimenta-se de pólen das flores, durante a noite. Apresentam

geralmente preferência por flores brancas ou de cor pálida, que se abrem ao

pôr-do-sol e libertam no ar uma fragrância que perdura pela noite. Ao

amanhecer, estas fecham-se ficando o pólen inacessível. Parecem guardar-se

para as traças – mais especificamente, os esfingídeos que aparecem de noite

para se alimentar.

Há, no entanto, espécies que se alimentam e são activas durante o dia à

semelhança das borboletas diurnas, estas têm uma visão completa a nível do

espectro de cor, sendo atraídas para as flores com cores mais garridas. Estão

incluídas neste trabalho ilustrações de duas espécies que se enquadram neste

2 Na realidade estes pêlos são escamas alongadas. Tanto as asas como o corpo são cobertos por estas

escamas. 3 A probóscide é um apêndice alongado, que parte da cabeça de um animal. Este termo normalmente

refere-se a partes bucais que são usadas para sucção e alimentação. 4 Vídeo onde se pode observar este fenómeno, disponível em:

https://www.youtube.com/watch?v=87EPaLYVA88. Consultado no dia 14-12-2015. 5 D’ABRERA, Bernard, Sphingidae Mundi, Faringdon, Reino Unido, 1986. Pág. 3.

25

grupo – a Hemaris fuciformis (Linnaeus, 1758) e a Cephonodes hylas

(Linnaeus, 1771).

Foi de grande importância a consulta do livro Sphingidae Mundi por

Bernard D’Abrera (1986) – e a consulta de diversos recursos online, dos quais

é de salientar as bases de dados científicas nos websites Afromoths.net6 e

Africanmoths.com7. A consulta destas e outras fontes de informação foi

essencial para compreender a sistemática das espécies ilustradas. Essas

ferramentas foram também necessárias para a verificação da classificação das

espécies estudadas e em alguns casos, para a determinação da espécie8.

1.4. Estudo de caso: John Cody – Wings of Paradise

Uma das referências para o trabalho foi a arte de John Cody (1925-

2016), compilada no seu livro – Wings of Paradise (fig.2). Neste livro

apresentam-se inúmeras ilustrações, que são um ponto de referência pela

técnica e composição com que são elaboradas. As composições são

geralmente carregadas de dinamismo, através do movimento e poses das

borboletas e o ambiente apresenta conteúdo, principalmente com motivos

botânicos.

Este autor, ao longo dos anos, realizou inúmeras pinturas com o tema

dos saturnídeos9. Esta família de borboletas nocturnas, de grande impacto

visual foi largamente ilustrada pelo autor, impulsionado pela sua paixão à

temática.

No prefácio do livro, o Doutor Richard S. Pleiger, do Museu de História

Natural de Denver, escreve sobre o trabalho de Cody e a importância que este

tem sobre várias áreas como a Ciência, o Ambiente e sua preservação. Pleiger

chama a atenção para o impacto que os saturnídeos conseguem causar nas

pessoas, especialmente quando observados ao vivo.

6 Disponível em: http://www.afromoths.net/

7 Disponível em: http://www.africanmoths.com/index.html

8 Mais à frente neste relatório, é descrito que no caso de alguns exemplares ilustrados, se mostrou

necessário verificar os nomes científicos ou mesmo determinar a espécie, visto que essa determinação não havia sido efectuada.. 9 Saturnídeos ou Saturniidae – é uma família de borboletas nocturnas, das quais muitas vivem nos

trópicos, onde os insectos tendem a apresentar dimensões maiores em relação a outras famílias. Com envergaduras de asas que podem chegar aos 30cm e as suas cores garridas, os saturnídeos são uma das famílias de traças mais reconhecidas pelo público-geral.

26

<< (…) Uma caixa cheia de saturnídeos alfinetados, seja numa caixa entomológica ou numa

moldura na parede, não pode causar nenhuma outra reacção que não seja admiração. No

entanto, ver estes seres ao vivo, nas suas formas naturais de repouso, é um prazer

imensamente maior.>>10

Mais à frente no seu texto, podemos retirar uma ideia de como a

maneira de ilustrar estes insectos afecta a impressão que a obra tem no

observador. Richard diz que Cody, ao ilustrar as borboletas numa pose mais

natural, proporciona-nos uma imagem do que seriam estes insectos enquanto

vivos, capturando a sua beleza, tanto em cor como em forma.

<< (…) Se eu mostro uma borboleta alfinetada, obtenho a resposta que se espera; se mostrar

uma viva, a resposta é muito mais forte. A maior parte de nós nunca terá a oportunidade de ver

a maioria destes insectos vivos mas, sem embargo, John Cody consegue trazê-los à vida para

nós. (…) A sua habilidade de combinar poses anatomicamente correctas com fundos e

10

Cody, John, Wings of Paradise, The University of North Carolina Press, 1996; p.11, tradução livre.

Fig.2 - Capa do livro Wings of Paradise de John Cody

27

composições coloridas resulta em obras capazes de apelar a todos, independentemente do

seu background ou sofisticação. >>11

Um dos objectivos, ao trabalhar com a colecção entomológica do

MUHNAC, é divulgar ao público a beleza e diversidade destas espécies e a

importância das colecções científicas, algo que vem ao encontro da opinião de

Pleiger, ainda no prefácio que escreveu para o livro, sobre o trabalho de Cody:

<< Nenhum dos artigos científicos, meus ou de ninguém, conseguirão alcançar o público-geral

em nenhum fórum, mas as pinturas do Dr. Cody assim o têm feito durante anos. Nós podemos

apenas esperar que a sua arte continue a trazer consciência em larga escala e a provocar o

comum observador a preocupar-se com a perda de florestas tropicais e a tirar um tempo para

olhar para a beleza dos seus próprios quintais (…) >>12

Por outro lado, John Cody, na sua introdução ao livro, constata um facto,

que é pertinente: A menor atenção que é dada aos insectos em geral e às

traças em particular, com excepção das borboletas diurnas, na consideração

do público-geral e dos artistas enquanto tema a trabalhar.

<< Os insectos, com a excepção das borboletas, raramente são escolhidos como o foco de

atenção artística. As traças em particular, nunca tiveram um lugar de destaque na estima do

público, e a preponderância dos artistas tende a prender-se àquilo que for estimado >>13

Neste trabalho, uma condicionante observada, que foi também apontada

por John Cody como parte do seu trabalho enquanto ilustrador, foi a falta de

formação na área da entomologia. A sua especialidade era a psiquiatria e

desde logo não possuía grande conhecimento sobre as traças a não ser no

campo visual.

O apoio de especialistas da área foi essencial para garantir a fiel

representação dos exemplares e que a informação científica passada ao

observador fosse correcta - um dos princípios elementais da ilustração

científica. Para reforçar mais uma vez a ideia que este trabalho tem, de

11

Ibidem; p.11. 12

Cody, John, Wings of Paradise, The University of North Carolina Press, 1996; p.11, tradução livre. 13

Ibidem; p24., tradução livre.

28

sensibilizar as pessoas para a biodiversidade destes insectos, John Cody relata

ainda:

<< Mas que traças conhecem as pessoas pelo nome? Apenas as traças da roupa (…) >>14

O trabalho de Cody foi também admirador do trabalho de outros artistas,

influenciando o estilo que foi aplicando à sua arte. Estes inspiraram-no, com

trabalho sobre o tema das borboletas. Nomes como o inglês Benjamin Wilkes

(morreu cerca de 1749), cujos livros e pranchas coloridas surgiram por volta de

1740. Outro pintor, também inglês, Dru Drury (1725-1803) foi uma forte

inspiração para Cody.

Na ilustração acima (fig.3), podemos ver o tipo de trabalho realizado por

Drury. No seu livro “Illustrations of Natural History” (1770), apresenta uma

compilação de ilustrações de uma grande variedade de insectos, entre os quais

as borboletas e traças.

14

Ibidem; p25., tradução livre.

Fig.3 – Prancha XXVIII do livro “Illustrations of Natural History”. Autor: Dru Drury.

29

Um outro nome muito pertinente é o da pintora naturalista Maria Sybilla

Merian15 (1647-1717), que publicou o “Insects of Surinam”. As suas pranchas

(fig.4) apresentam as borboletas numa vista dorsal, na maioria das vezes. Esta

característica foi tida em conta enquanto referência para a decisão de ilustrar

as borboletas deste trabalho na mesma vista.

No trabalho destes artistas anteriores ao seu tempo Cody verificou que

os insectos eram representados em poses rígidas, como se tivessem sido

retirados das caixas entomológicas e postos no papel nessa mesma postura.

Tinham um aspecto genérico, “com um toque aqui e ali” poderiam passar por

vespas ou gafanhotos.

Sentiu-se imensamente encorajado:

15

Maria Sybilla Merian foi uma ilustradora científica. Descendente da família Merian da Suíça, fundadora de uma das maiores editoras da Europa no século XVII. Teve um papel importante na ilustração de insectos, que eram considerados na época como “asquerosos” demais para serem tratados na arte. Explicou a metamorfose de muitas espécies de insectos, grande parte borboletas, que era um processo largamente desconhecido do público-geral. Foi uma ilustradora de enorme importância para a área da Ilustração Científica e criadora de um trabalho extenso e inovador.

Fig.4 – Gravura do Metamorphosis insectorum Surinamensium, Prancha VI. 1705). Autor: Maria

Sybilla Merian.

30

<< Se os peritos admiram as pranchas daqueles artistas, poderão achar algum mérito nas

minhas. Os meus desenhos possuem, para mim, mais vida que os de Merian >>16

Aqui se nota a ambição que Cody tinha por um trabalho de cariz mais

dinâmico e natural, com movimento, mas que de alguma forma conseguisse

manter valor científico. Neste trabalho, optou-se por apresentar os espécimes

numa vista mais clássica, seguindo uma representação da vista dorsal das

traças, para que a informação relevante para a correcta identificação das

espécies, seja transmitida na sua totalidade. As composições de Cody são no

entanto, uma referência fundamental. No que diz respeito às ilustrações deste

projecto, a inspiração reflecte-se sobretudo na atenção dada ao detalhe nas

ilustrações de Cody.

No que diz respeito às ilustrações deste projecto, a inspiração reflecte-se

sobretudo na atenção dada ao detalhe nas ilustrações de Cody.

16

Cody, John, Wings of Paradise, The University of North Carolina Press, 1996; p25. Tradução livre.

Fig.5 – Ilustração científica de John Cody. Atlas Moth, Attacus atlas (1981)

Fig.6 – Ilustração científica de John Cody. Malaysian Moon Moth, Actias maenas (1983)

31

Fig.7 – Ilustração científica de Joaquim Freire (1785) Arquivo do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da

Universidade de Lisboa. Cedida por Vítor Gens.

1.5. A importância do trabalho em equipa

Segundo Vandelli (1735-1816), a combinação dos talentos e aptidões do

naturalista, do engenheiro e do pintor, cria uma panóplia de capacidades que

satisfazem necessidades a nível da História Natural como a selecção dos

objectos, respectiva classificação, desenho e localização geográfica, entre

outros que são de difícil execução para uma só pessoa17. Isto tomou verdadeira

importância a partir da época das expedições portuguesas a território além-

mar, em que predominava a multidisciplinaridade, com o naturalista e o

desenhador a formar uma equipa que aspirava conseguir a descrição de

qualquer sujeito ou tema através da produção de iconografia documental

rigorosa.

Um bom caso de estudo desta prática é Alexandre Rodrigues Ferreira e

a sua viagem pelo Brasil. Num bom número de desenhos do legado gráfico de

Joaquim Freire e Codina, estão presentes comentários atentos do naturalista,

pelo próprio, manuscritos com a sua inconfundível letra (fig.7).

Este exemplo é pertinente para o trabalho que foi desenvolvido neste

projecto, tendo em conta que o trabalho de ilustração para o livro “Cem Traças”

envolveu um trabalho em equipa – entre dois ilustradores, um ilustrador

17

FARIA, Miguel. A Imagem útil. Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa, 2001. Pág. 82.

32

orientador e um investigador científico, ligando desta forma, arte e ciência à

semelhança do caso apresentado.

33

2. Metodologias e técnicas

Procurando criar um corpo de ilustrações capazes de retratar cada

espécie com grande nível de detalhe, permitindo a sua identificação e

diferenciação morfológica e cromática, com rigor científico e técnico, foi criado

um modus operandi específico para este projecto.

Neste capítulo descreve-se a metodologia usada na realização do corpo

de trabalho prático. A representação de cada espécie, a partir de exemplares

provenientes da colecção entomológica, mostrando a morfologia e cor, da

forma mais fiel possível, com o propósito de preencher o principal objectivo da

ilustração científica – o rigor.

Ao cumprir esse objectivo é possível providenciar ilustrações para

estudo e divulgação. Para esse efeito um desenho tem de ser facilmente

compreendido pelo observador. Apesar da complexidade de informação que se

queira transmitir, é importante manter um equilíbrio entre a questão estética e a

informação-chave.

Tendo em conta o público-alvo deste trabalho (público não

especializado) as ilustrações têm, até certo ponto, que despertar algum

estímulo visual no observador de modo a apreender o olhar mais desatento.

Por si só, a maioria das borboletas nocturnas da colecção entomológica

já são chamativas. O desafio está em manter esse mesmo interesse, sem

acrescentar ou perder informação.

Com essas preocupações em consideração, as ilustrações realizaram-se

a cores, primeiramente executadas com grande detalhe, em Pan-Pastel e

grafite sobre poliéster, e posteriormente coloridas com recurso ao desenho

digital (Photoshop). Neste capítulo, serão abordados os materiais e métodos

utilizados nesse processo.

As técnicas utilizadas em cada fase do projecto são explicadas

detalhadamente e cada opção justificada, de acordo com as necessidades do

trabalho a realizar.

De forma a complementar a explicação, mostram-se imagens de

algumas etapas da ilustração de duas espécies, a Hyles euphorbiae (Linnaeus,

1758) e a Daphnis nerii (Linnaeus,1758), ambas da família Sphingidae, de.

34

Serão apresentadas as condicionantes encontradas em cada fase e as opções

tomadas para as ultrapassar. Esta secção divide-se em duas grandes fases –

fase inicial e processo de Ilustração.

2.1. Fase Inicial – selecção de espécimes e pesquisa

Aqui descreve-se o conjunto de procedimentos que formam a base para

a criação das ilustrações científicas deste projecto. Nesta fase procedeu-se à

selecção dos exemplares a ilustrar, à sua fotografia e à pesquisa e recolha de

informação sobre estes.

2.1.1. Escolha dos exemplares a ilustrar

O ponto de partida da parte prática do trabalho é a escolha dos

exemplares para serem ilustrados. Numa primeira aproximação, nas primeiras

visitas ao Museu e discussão com o curador da colecção de insectos, apontou-

se para a ilustração de 14 espécies de esfingídeos, oriundos de São Tomé e

Príncipe, a serem ilustrados. Estes exemplares encontravam-se em boas

condições (colectados em 1984) de conservação e representavam uma parte

interessante da colecção entomológica. Mais tarde, com o surgimento da ideia

de criar um catálogo, em conjunto com a colega Tetyana Chkyrya, com o intuito

de divulgar a colecção entomológica do MUHNAC, decidiu-se aumentar o

número de espécies a ilustrar. O número total de ilustrações ficou definido em

5018 para cada ilustrador. As espécies a ilustrar foram selecionadas tendo em

conta, principalmente, os seguintes parâmetros:

1) Prioridade à escolha de espécies catalogadas com dados científicos,

ou seja espécimes que apresentam no mínimo informação acerca de local e

data de colheita.

18

Como referido anteriormente, 50 ilustrações foram desenvolvidas nesta dissertação, tendo como tema principal os esfingídeos. A estas foram acrescentadas as ilustrações de borboletas nocturnas da colega Tetyana Chkyrya, com quem se trabalhou em contexto de atelier, juntando o trabalho de ilustrações resultantes das dissertações distintas, numa publicação com o apoio do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa; da Universidade de Lisboa em si; da Associação Tentáculo e do CE3C - Centre for ecology, evolution and environmental changes.

35

2) Sentido estético, seleccionando espécies que potencialmente

pudessem invocar uma reacção forte do observador, tanto a nível morfológico

como a nível do cromatismo.

3) Ampla cobertura espacial, incluindo espécimes de Portugal

Continental e Ilhas, e de países africanos de língua oficial Portuguesa como

Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Guiné Bissau.

4) Estado de conservação do espécime, dando preferência a espécimes

em boas condições de conservação. Nalguns casos, em que os espécimes

seleccionados apresentavam alguma degradação, procedeu-se ao exercício de

reconstrução através da ilustração.

Como referido previamente, a família Sphingidae foi tema principal deste

projecto. Esta escolha teve um fundamento na existência de bastantes

espécimes desta família na colecção e pela preferência estética do autor. Para

complementar este trabalho, e no sentido de o catálogo a publicar ser

representativo da diversidade de borboletas nocturnas da colecção, e de o

Fig.8 – Momento da escolha de um exemplar de borboleta nocturna da colecção entomológica do MUHNAC. (2015)

36

trabalho de ilustração ser mais variado, outras espécies foram englobadas

neste projecto. Representando a família dos esfingídeos, foram ilustradas neste

projecto 19 espécies. Além dos espécimes catalogados, da colecção científica,

uma parte dos espécimes da colecção estão afectos a uma “colecção

didáctica”, composta por exemplares que não têm dados suficientes para

serem incluídos na colecção científica e que têm como fim o uso para

actividades didácticas e expositivas. Alguns exemplares utilizados neste

trabalho são ainda provenientes de lotes que não estavam ainda catalogados,

apesar de terem dados que o permitiam. Dessa forma, estes espécimes foram

catalogados pelos ilustradores, que ao longo do tempo colaboraram em

diversas actividades de gestão da colecção entomológica. Estas determinações

foram feitas com o acompanhamento do curador da colecção, e mais tarde

revistas pelo especialista em Lepidoptera António Bívar de Sousa. A

proveniência dos espécimes pode ser vista na tabela de ilustrações.

2.1.2. Fotografia dos exemplares

Os exemplares de referência, depois de seleccionados, foram

detalhadamente fotografados. Esta acção é particularmente importante, pois

por um lado há a necessidade de garantir a aquisição de imagens de referência

para o processo de ilustração e por outro estas permitem a sua observação

evitando o constante manuseamento do espécime, evitande a sua degradação.

A câmara usada ao longo de todo o processo de fotografia foi uma Canon EOS

7D, com duas lentes da mesma marca, uma de zoom ajustável e uma macro

(fig.9).

37

A fotografia de base realizada foi da vista dorsal dos espécimes. Foram

também realizadas fotografias de detalhe que ajudam à melhor percepção das

estruturas a ilustrar. Com a distância focal da lente disposta nos 50mm

procura-se evitar a distorção do exemplar a fotografar, salvaguardando o

comprimento das asas e seus padrões, sendo este um dos pontos mais

importantes nas borboletas nocturnas, enquanto característica identificativa de

cada espécie. Foi também incluída uma escala milimétrica19.

Por regra foram tiradas duas fotografias principais aos exemplares, uma

com distância focal a 50mm já descrita e uma outra da mesma tipologia, mas

com uma lente macro de 100mm.

A fotografia é realizada sobre um fundo cinzento (fig.10) para evitar

alterar a cor original do exemplar. O exemplar é manuseado através do alfinete

entomológico e é colocado num pequeno cubo de plasticina ou algum material

providencie uma boa base de suporte (fig.11). É importante que as etiquetas

que acompanham a borboleta e que contêm informação que lhe é inerente,

estejam presentes na fotografia. O número de colecção e, nalguns casos, o

nome científico e local de captura estão presentes nestas etiquetas.

19

A colocação de escala na fotografia da borboleta permite depois aplicar uma escala à ilustração, na paginação do livro “Cem Traças”.

Fig.9 – Máquina e lentes usadas no processo de fotografia. (2015)

38

Todas as fotografias foram tiradas no estúdio disponível no

departamento de Zoologia do MUHNAC. A realização de fotografia em estúdio

permitiu um maior controlo das condições de luz, contribuindo para um registo

fotográfico mais homogéneo.

Dois flashes da marca Visico são posicionados, um de cada lado do

exemplar, com intensidade ligeiramente maior do lado esquerdo, de maneira a

iluminar a borboleta de acordo com o standard da ilustração científica - em que

a luz provém da esquerda, causando sombras sobretudo no lado direito da

borboleta20.

Junto ao exemplar colocou-se a escala de cor que actua

simultaneamente como escala de unidades métricas (fig.12).

20

HODGES, E.R.S (Ed.)The Guild handbook of scientific illustration. 2nd

edition. New Jersey, John Wiley & Sons. 2003. Pág. 97

Fig.11 – Exemplo de colocação de um exemplar no suporte apropriado. A borboleta é uma Phiala

constipuncta. (2015)

Fig.10 – Momento da preparação de um exemplar para ser fotografado. (2015)

39

A escala métrica é essencial para a percepção do tamanho do espécime

e foi necessária para a aplicação de uma escala apresentada junto a cada

espécime no livro “Cem Traças”.

As fotografias obtidas foram editadas, ajustando o cromatismo, brilho e

contraste no programa Adobe Photoshop. Recorrendo à ferramenta dos níveis,

e “picando”21 o tom mais negro e o mais branco na escala, o programa ajusta

automaticamente os brilhos. Na maioria das vezes foi também aplicada uma

configuração manual nos níveis. Além deste ajuste, procedeu-se ao controlo de

níveis de cor que permite controlar o contraste por todo o espectro de cores, de

forma a conseguir o tom mais fiel ao real de cada espécie (tendo já em vista a

reconstrução a nível de cor do exemplar, caso seja constatado que é

necessário).

21

Este termo “picar” refere-se ao uso da ferramenta color picker ou, em português, pipeta, que permite seleccionar cores a partir de qualquer ponto da imagem que se está a tratar. Esta cor fica seleccionada para ser utilizada pelas ferramentas de aplicação de cor, sejam elas pincéis ou outros.

Fig.12 – Fotografia realizada em estúdio de um exemplar a ilustrar. Espécie Hyles euphorbiae (Linnaeus, 1758)

(2015)

40

2.1.3. Confirmação e determinação dos nomes das espécies

Esta pesquisa foi necessária para o processo de ilustração e consiste no

acto de, ao escolher uma espécie para ilustrar, recolher informação relativa à

sua nomenclatura, morfologia e cromatismo. Isto por intermédio de biografia e

bases de dados disponíveis online22.

Numa primeira fase, recorreu-se à base de dados do MUHNAC, onde

muitas vezes a espécie dos exemplares de referência já estava determinada.

Nestes casos pesquisou-se o nome de forma a verificar a classificação

taxonómica mais actual. No entanto, nalguns casos as espécies não estavam

ainda determinadas e foi necessário proceder a esta determinação. Com

recurso a bases de dados online como o Afromoths.com e o Afromoths.net, que

são exaustivos na quantidade de informação que disponibilizam, pôde-se

comparar visualmente o exemplar em mão e o material apresentado nesses

sites. Na sua grande maioria a determinação foi conseguida com recurso a

comparação de fotografias, e quando foi preciso foi confirmada por um

especialista da área, que tem a competência para esse final.

Estes casos, em que a identificação das espécies foi feita através deste

trabalho de projecto, foram uma mais-valia para a colecção do MUHNAC, pois

permitiram a entrada de novos exemplares na base de dados da colecção

entomológica e corrigir vários nomes de espécies que estavam incorrectos ou

desactualizados.

Abaixo, apresentam-se duas imagens de dois pontos de vista da mesma

borboleta (figs. 13 e 14). Estas são de fontes externas ao Museu e à sua

colecção e são exemplo daquilo que se procura numa pesquisa preliminar para

este projecto. Vistas adicionais que permitem ver a borboleta noutras poses e

ângulos. Também é muito importante recolher referências sobre a cor nesta

pesquisa, pois vários são os casos em que as borboletas da colecção

entomológica do MUHNAC, por consequência do manuseamento e do passar

do tempo, apresentam um desgaste maior a nível da cor.

22

Existem edições em papel, que remontam há décadas atrás, onde eram descritas as espécies descobertas. Aí podemos comparar o exemplar que temos à nossa frente ao que está descrito no livro e verificar de que espécie se trata, através da observação de aspectos-chave escritos no texto.

41

2.2. Ilustração

No texto abaixo descreve-se o processo de ilustração utilizado neste

trabalho prático.

2.2.1. Desenho Monocromático (Analógico)

Dada por concluída a pesquisa anterior, passa-se à utilização da

fotografia do exemplar do MUHNAC, como base para a ilustração.

Com base na fotografia de referência, escolhe-se um par de asas do

exemplar – o par que apresente mais informação. Além de, quanto melhor o

estado de conservação das asas, melhor elas são como referência para a

ilustração.

Nesta escolha também é tido em conta o factor de simetria das asas.

Para evitar que as asas estejam desalinhadas na ilustração final, o par de asas

escolhida será posteriormente duplicada, no Photoshop, garantindo esse

aspecto.

Escolhido o par de asas para ser desenhado, recorta-se o oposto

digitalmente, para utilizar somente esse. Imprime-se uma cópia da fotografia

em formato A4 / paisagem a partir da qual se cria a arte final também em A4,

que posteriormente é reduzida para obter mais resolução. Esta opção foi

Fig.13 – Hyles euphorbiae (Linnaeus, 1758) em repouso.

Foto Philippe Mothiron (15 Junho 2004)

Fig.14 – Hyles euphorbiae (Linnaeus, 1758), a alimentar-se de néctar.

Foto Bem Trott.

42

tomada tendo em conta a dimensão das páginas do livro “Cem Traças” -

120x185mm23

Os primeiros desenhos foram feitos utilizando grafite sobre papel de

90gr/m2. Este método foi usado na realização de duas artes finais, das

espécies Hippotion eson (Cramer, 1779) e Daphnis Nerii (Linnaeus, 1758).

O papel de 90gr/m2 revelou-se inadequado para a execução das

restantes ilustrações, por duas razões:

- A lentidão do processo de transferência, que implica a dupla

transferência (passagem da fotografia para o papel vegetal e, posteriormente,

do papel vegetal para o papel branco onde se finaliza o desenho);

- O papel branco, por sua textura característica, com gramagem de 90

gr/m2 não permite a raspagem, para correcção e realce.

Foi então tomada a decisão de avançar para o uso de outro suporte. O

poliéster, com 121 gr/m2, foi o suporte escolhido para a continuação do

trabalho.

O poliéster é um papel, ou filme, que ostenta, em ambas as faces, um

tratamento especial de forma a garantir a total aderência do lápis e da tinta. É

um suporte muito resistente, não é afectado pela humidade, não amarelece, é

muito estável e permite excelentes transparências. Perfeito para desenho

técnico. É uma boa escolha para quando a solidez do suporte (manuseamentos

frequentes) é um factor de peso. É mate em ambos os lados.

Pela sua transparência, o poliéster permite que a transferência da

fotografia para o suporte seja feita numa só passagem. Assim, o poliéster

tornou-se o material eleito até ao fim da realização de todas as ilustrações.

Decidiu-se em equipa entre ilustradores e curador, que as borboletas

seriam apresentadas de asas abertas e de vista dorsal, permitindo transmitir a

maior quantidade de informação possível, como já foi referido no capítulo de

“estudo de caso”.

A folha de poliéster é colocada por cima e presa com fita-cola de papel à

fotografia impressa, para evitar oscilações a meio do trabalho.

23

As características completas do livro são descritas mais em baixo, no capítulo sobre o produto final.

43

Com recurso a lapiseira (Rotring 500, com minas de grafite HB

espessura 0,5mm) (fig.15) procede-se ao traço do contorno (fig.16).

Assegurada a exactidão do desenho, é dado por concluído o contorno e

passa-se ao trabalho de claro-escuro. Para além da grafite, aqui são

empregados outros materiais, como o Pan-Pastel24. A grafite em si é aplicada

por dois meios – lápis de diferentes durezas e lapiseira (fig.17).

24

Pan-Pastel é uma gama de pastéis secos. Ao invés de serem dispostos em barra, como é habitual, são dispostos num pequeno pote. Através do uso da embalagem, o Pan-Pastel tem a forma de pó. Esta forma em pó faz com que o pastel se comporte quase como uma tinta líquida. É por isso dotado de grande suavidade que, assim como a grafite de maiores durezas, se torna útil na sua aplicação no poliéster.

Fig. 16 – Desenho de contorno. Espécie Hyles euphorbiae (Linnaeus, 1758).

Fig.15 – Lapiseira Rotring 500 e respectivas minas, dureza HB e espessura 0,5mm.

44

Através de várias camadas de mancha e traços, pretende-se representar

as formas, os padrões e as volumetrias do corpo, cabeça e asas.

Trabalha-se todo o desenho, de forma a ser o mais fiel possível à

espécie. Aqui recorre-se às referências já recolhidas fora do material do

Museu.

A noção de volume no corpo das borboletas, alcança-se através de

degradês, usando ferramentas como o esfuminho, pinceis com pêlo suave e

pontas de algodão. É nesta etapa que entra a aplicação de Pan-Pastel (fig.18).

Através da utilização de esponjas suaves da marca Sofft, dispõe-se o pó

em pequenas camadas que vão sendo esbatidas, pelos mesmos auxiliares

usados para a grafite. O objectivo desta técnica é cobrir uma área maior de

Fig. 18 – Embalagem de Pan-Pastel, negro. Esponjas da marca Sofft.

Fig. 17 – Lapiseira Rotring 500 e respectivas minas (HB 0,5mm), lápis Staedtler 2B; Caran D’Ache Technograf 7H e Caran D’Ache Grafwood H.

45

uma maneira uniforme. O mesmo não aconteceria usando lápis ou lapiseira de

grafite. Aí o traço far-se-ia notar.

Quando se obtém uma mancha geral, prossegue-se para a aplicação de

novas texturas e para esse efeito há duas vertentes que podem ser usadas

alternadamente.

Com lapiseira desenham-se os detalhes como os pelos no corpo (tórax e

abdómen), no contorno de todas as asas e os pormenores das antenas da

espécie. Sempre observando com atenção as várias referências.

A outra vertente serve-se do uso de lâmina de x-acto25 (fig.19), raspando

o poliéster, o que retira grafite da sua superfície. Isto aclara o desenho através

de traços bastante finos, úteis para dar uma sensação de tridimensionalidade,

criar brilhos e desenhar pêlos.

Estas lâminas (fig.19), com uma inclinação de 30º e 45º, permitem uma

raspagem do poliéster sem que este se corte ou rasgue. Estas lâminas são

capazes de traçar linhas muito finas, mais finas que as da lapiseira usada.

Usando este método é possível chegar a um nível de detalhe muito elevado.

Não é esse o objectivo.

Este trabalho de escuros e claros, através de traços e raspagem, vai

prosseguindo. Avança-se com este intercalar de materiais, até chegar ao ponto

em que está representada a morfologia da borboleta, de forma cientificamente

25

HODGES, E.R.S (Ed.)The Guild handbook of scientific illustration. 2nd edition. New Jersey, John Wiley & Sons. 2003. Pág. 28.

Fig. 19 – Lâminas usadas para a raspagem do poliéster.

46

correcta e o desenho esteja com detalhes suficientes, capaz de apelar ao olho

do público. (fig.20)

Teve-se o cuidado de não carregar demasiado nos tons escuros,

deixando alguma transparência. Isto é particularmente importante, pois na fase

digital do desenho, a cor terá de conseguir transparecer através deste desenho

monocromático, vindo por baixo desta camada de grafite e Pan-pastel. De

outra forma, revelar-se-ia um desenho com muitos tons pretos sem que a cor

se possa revelar adequadamente.

2.2.2. Desenho Digital

Concluído o desenho sobre o poliéster, descrito na fase anterior (fig.20),

fez-se a sua digitalização26 a 600ppi’s27, de forma a trabalhar sempre num

tamanho superior ao do produto final .

Feita a digitalização, esta foi aberta no programa Adobe Photoshop e aí

se procedeu à limpeza das manchas residuais, que estão presentes à volta do

desenho (fig.21). Estas manchas resultam da passagem da mão sobre o

poliéster quando este é manejado e quando a mão desenha sobre ele,

26

Scanner usado ao longo do projecto: impressora com scanner incorporado - Canon MG5500. 27

Ppi – pixels per inch. Em português: “pixéis por polegada”. Esta denominação é usada para referência ao número de pixéis individuais existentes numa polegada linear, na superfície de uma imagem digital.

Fig. 20 – Desenho analógico finalizado, pronto para digitalização. Espécie Hyles euphorbiae (Linnaeus,

1758).

47

aplicando os vários materiais (sendo o Pan-Pastel o que mais sujidade pode

causar visto que larga mais pigmento). Para resolver parte do problema, antes

de começar qualquer desenho pode-se colocar por baixo da mão uma folha de

acetato ou polipropileno de pouca espessura. No entanto, é sempre possível

que algum pigmento fique no poliéster, deixando um leve vestígio.

A limpeza destes fez-se colocando o desenho numa camada (ou layer28,

de acordo com o idioma da versão de Photoshop que foi usada, em linguagem

inglesa). Apagou-se todo o conteúdo exterior ao contorno da borboleta,

deixando só o desenho nessa layer.

Posteriormente equilibraram-se os níveis de claros e escuros, através do

controlo de níveis de imagem do Photoshop, da mesma maneira que se fez na

fase da edição de fotografia, acima descrita mais detalhadamente. Na edição

dos tons do desenho monocromático, é normalmente necessário um pequeno

aumento nos tons escuros. Isto porque o sendo o poliéster um material

semitransparente, ao ser digitalizado, é colocado contra o fundo branco do

28

Uma layer no Photoshop é uma camada. As layers no Photoshop funcionam como vários papéis transparentes por cima uns dos outros. Pode-se desenhar o contorno numa camada e por baixo, noutra camada, desenhar a cor, sem adulterar o contorno em cima.

Fig. 21 – Processo de limpeza do Desenho Analógico, em Photoshop.

48

scanner, o que faz com que o desenho perca alguma força nos tons mais

escuros.

Acertados os brilhos e contrastes colocou-se a layer do desenho em

modo Multiply. O que se consegue deste modo no Photoshop, é que todos os

tons que não sejam de um preto puro completamente opaco, se tornem

transparentes, deixando passar a cor que for aplicada em qualquer layer que

esteja por baixo desta (fig.22).

Concluídos estes ajustes e preparações, passou-se à aplicação de cor.

Como referido anteriormente, na parte de pesquisa de outras fontes visuais,

são aqui utilizadas as referências externas à colecção entomológica do

MUHNAC, junto com a fotografia do exemplar em causa.

Antes de começar a colorir, o ficheiro digital tem que estar em modo

CMYK29, para permitir que a cor vista no ecrã seja semelhante àquela que será

impressa no final. As impressoras que são normalmente usadas para imprimir

este tipo de trabalhos imprimem a quatro cores: o sistema CMYK. Ao usar esta

29

CMYK – abreviatura para o sistema de cores subtrativas formado por: Cyan (C), Magenta (M), Amarelo (Y) e Preto (K). Este sistema é usado por impressoras para reproduzir a maioria das cores do espectro visível.

Fig. 22 – Processo de aplicação de cor, numa layer inferior à do Desenho Analógico, em Photoshop.

49

configuração na visualização do trabalho digital, pode-se colorir tendo a certeza

de que as cores que se estão a pintar serão aquelas que serão impressas, ou

algo muito perto disso.

Para criar a paleta de cores que permite a correcta coloração da

espécie, colocou-se a fotografia do exemplar da colecção e referências

exteriores numa outra layer separada e “picaram-se”, na fotografia, as cores

necessárias. Esta paleta de cores foi posicionada de lado do desenho, para ser

usada ao longo da pintura.

Tendo a layer do desenho monocromático preparada e bloqueada para

não ser colorida por engano, a cor foi aplicada em duas outras layers – uma

inferior e outra superior a esta.

Trabalhou-se em primeiro lugar a layer inferior. Com um pincel (ou

brush)30 de grande diâmetro, aplicou-se a cor em grandes e médias manchas,

com pouca opacidade, registando o cromatismo geral da borboleta. O diâmetro

do pincel vai diminuindo, afinando a aplicação de cor até chegar ao nível mais

preciso possível, passando da mancha ao traço. Em casos que assim o

justifiquem, pode-se mesmo chegar a trabalhar a cor em traços tão finos, que

exigem a magnificação da imagem a perto dos 200%, alcançando um nível em

que se podem ver os pixéis individuais da imagem digital. Assim a cor surge

sobretudo em mancha, não procurando representar a informação na sua

totalidade. Aqui o objectivo é criar uma base de cor sem grandes volumetrias.

Já na layer superior não se criaram manchas. Esta foi usada para

aplicação de traços muito mais finos do que a inferior referida acima. É nesta

que se representam os pêlos e texturas, que dão um aspecto mais realista e

com textura à ilustração.

Para criação dos pêlos, tendo em conta que são em grande número,

criaram-se pincéis no Photoshop31. Estes pincéis, permitiram desenhar

rapidamente os pêlos em grande quantidade e volume, em zonas maiores

30

O brush (pincel) é uma ferramenta do Photoshop que imita o que um pincel analógico faz. Funciona

como meio aplicador de cor. Tem muitos parâmetros que se podem controlar. Desde a pressão, largura da linha ou mancha, opacidade. Para este projecto em concreto, o brush usou-se para a aplicação de cor, desde manchas largas até traços muito afinados, por vezes não passando de um pixel de largura. 31

Criar pincéis no Photoshop é um processo que permite criar pincéis personalizados. Quer isto dizer

que, ao invés de usar a forma predefinida da ferramenta, pode-se criar uma nova forma e gravá-la em formato de pincel. Esta forma é depois aplicada pela ferramenta, tendo as mesmas características de qualquer brush já existente. Para este projecto, foram criados pincéis para o efeito de pêlos.

50

como o centro do tórax e o comprimento do abdómen, com eficácia em

qualidade e tempo. Estes pincéis consistiram na criação de uma linha curva,

por exemplo, que depois é repetida várias vezes (na quantidade que se definir

no programa), automaticamente, à medida que o cursor passa.

Através do trabalho intercalado nas duas layers, foi assim criada a

volumetria e os jogos de luz que dão realismo e aparência correcta à ilustração,

de acordo com a pesquisa feita.

O seguinte ponto a executar foi a duplicação das asas. Apenas um par

de asas é trabalhado desde o início, por duas razões:

- Muitas vezes, os exemplares de referência, com o seu desgaste,

apresentam alguma asa em melhor estado do que as outras. Nesses casos

escolheu-se o par de asas que estiver mais adequado e que apresente mais

informação;

- Mesmo com todas as asas em condições ideais, para se conseguir a

simetria optou-se por fazer a duplicação de um lado no Photoshop.

A duplicação foi feita copiando o par de asas desenhado para uma nova

layer, que fica por baixo da layer do corpo. A do corpo foi então colocada no

modo de sobreposição Darken32. Com o auxílio de guias, ou linhas, que se

colocam de forma a ajudar ao correcto posicionamento, moveu-se o par de

asas até ao ponto certo. Na zona em que o corpo e as asas se fundem,

apagou-se com a borracha, a 25% de opacidade, com um pincel esbatido.

Apagando um pouco essa área, tanto na layer das asas duplicadas, como na

layer do corpo, chega-se a um nível de fusão que não deixa perceber a

distinção entre layers.

32

O modo Darken, permite que a layer, que se coloque neste modo, deixe transparecer as zonas escuras. O que se pretende com este modo é que se consigam tornar idênticos os conteúdos entre duas layers. Normalmente, a layer que se coloca em modo Darken, é disposta por cima da outra.

51

Dada por concluída a ilustração (fig.23), fizeram-se os últimos ajustes de

brilho e contraste. Por vezes a cor foi alterada em saturação, maior ou menor,

para garantir a correcta representação do cromatismo da espécie a ilustrar.

Aqui recorreu-se à sempre presente referência fotográfica. Após terminado

esse último ajuste, a ilustração é gravada digitalmente nos formatos PSD;

JPEG e TIFF, para que haja alguma salvaguarda em termos de compatibilidade

de programas de imagem como o Photoshop. Isto tem também o objectivo de

permitir retocar o trabalho mais tarde, caso seja necessário.

Este processo foi aplicado a todas as 50 ilustrações científicas

realizadas neste projecto. Ao longo do mesmo a técnica foi apurada e afinada

para que houvesse coerência entre as suas ilustrações entre si e as de

Tetyana Chkyrya.

Em baixo segue uma tabela (fig.24) em que se listam todas as espécies

ilustradas. A tabela está organizada por famílias ilustradas, por ordem

alfabética. Junto, enuncia-se a espécie, o número de colecção do Museu (há

espécimes que fazem parte da colecção didáctica, sem número, sendo dada

essa indicação, quando necessário – com o código C.D.) e a técnica.

Fig. 23 – Desenho Digital finalizado, em Photoshop.

52

Família Espécie Nº Técnica

Arctiidae Alpenus sp. MB07-005852 Técnica mista s/poliéster e Digital

Arctiidae Balacra rubrostriata C.D. Técnica mista s/poliéster e Digital

Arctiidae Cymbalophora pudica MB07-000809 Técnica mista s/poliéster e Digital

Arctiidae Spilosoma luteum MB07-021257 Técnica mista s/poliéster e Digital

Arctiidae Tyria jacobaeae MB07-011397 Técnica mista s/poliéster e Digital

Bombycidae Cephonodes hylas MB07-005226 Técnica mista s/poliéster e Digital

Crambidae Maruca vitrata MB07-033619 Técnica mista s/poliéster e Digital

Crambidae Omiodes indicata MB07-033635 Técnica mista s/poliéster e Digital

Crambidae Stemorrhages sericea MB07-033585 Técnica mista s/poliéster e Digital

Erebidae Amata sp. C.D. Técnica mista s/poliéster e Digital

Erebidae Euplagia quadripunctaria MB07-032768 Técnica mista s/poliéster e Digital

Geometridae Menophra japygiaria MB07-033701 Técnica mista s/poliéster e Digital

Lasiocampidae Filiola lanceolata MB07-005222 Técnica mista s/poliéster e Digital

Lasiocampidae Lasiocampa quercus MB07-021087 Técnica mista s/poliéster e Digital

Lasiocampidae Lasiocampa trifolii MB07-008804 Técnica mista s/poliéster e Digital

Limacodidae Latoia sp. MB07-005356 Técnica mista s/poliéster e Digital

Limacodidae Latoia vitilena MB07-033659 Técnica mista s/poliéster e Digital

Noctuidae Catocala nupta MB07-008656 Técnica mista s/poliéster e Digital

Noctuidae Erebus macrops MB07-005287 Técnica mista s/poliéster e Digital

Noctuidae Nola cicatricalis MB07-032926 Técnica mista s/poliéster e Digital

Noctuidae Eucodima divitiosa MB07-033642 Técnica mista s/poliéster e Digital

Noctuidae Eudocima materna MB07-033643 Técnica mista s/poliéster e Digital

Noctuidae Heraclia sp. MB07-005231 Técnica mista s/poliéster e Digital

Nolidae Bena prasinana C:D. Técnica mista s/poliéster e Digital

Nolidae Bena bicolorana C.D. Técnica mista s/poliéster e Digital

53

Notodontidae Anaphe reticulata MB07-005343 Técnica mista s/poliéster e Digital

Notodontidae Galona serena MB07-005417 Técnica mista s/poliéster e Digital

Saturniidae Gonimbrasia belina MB07-005186 Técnica mista s/poliéster e Digital

Saturniidae Bunaeopsis jacksoni MB07-005190 Técnica mista s/poliéster e Digital

Saturniidae Nudaurelia rectilineata MB07-017089 Técnica mista s/poliéster e Digital

Saturniidae Saturnia pavonia MB07-008824 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Acherontia atropos MB07-000009 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Agrius convolvuli MB07-000001 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Daphnis nerii MB07-000082 Técnica mista s/papel e Digital

Sphingidae Deilephila elpenor MB07-032736 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Deilephila porcellus MB07-032726 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Hemaris fuciformis MB07-009229 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Macroglossum stellatarum MB07-009346 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Hippotion balsaminae MB07-000414 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Hippotion osiris MB07-000376 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Hippotion eson MB07-000409 Técnica mista s/papel e Digital

Sphingidae Hyles euphorbia MB07-007498 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Laothoe populi MB07-009224 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Leptoclanis pulchra MB07-017044 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Lophostethus dumolinii MB07-005213 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Macropoliana natalensis MB07-017030 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Mimas tilliae MB07-021246 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Nephele accentifera MB07-000119 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Nephele rosae MB07-017012 Técnica mista s/poliéster e Digital

Sphingidae Poliana buchholzi MB07-017024 Técnica mista s/poliéster e Digital

Fig. 24 – Tabela de ilustrações.

54

Como exemplo do processo completo, em baixo se apresentam as

ilustrações finais (figs.25 e 26) das espécies que foram usadas ao longo da

descrição. No apêndice podem-se ver em detalhe todas as ilustrações finais.

Fig. 25 – Ilustração da espécie Hyles euphorbia (Linnaeus, 1758).

Técnica mista s/poliéster e digital. Pedro Araújo, 2015.

Fig. 26 – Ilustração da espécie Daphnis nerii (Linnaeus,1758). Técnica mista s/poliéster e digital.

Pedro Araújo, 2015.

55

3. O Livro – Produto final

Como culminar da produção das ilustrações científicas, foi pensado e

criado um projecto que engloba toda uma gama de produtos e actividades

ligadas à divulgação da colecção entomológica e da biodiversidade das

borboletas nocturnas.

Projecto ao qual se deu o nome de “Cem Traças” – um jogo de palavras,

entre o número de ilustrações, compiladas no livro, e uma metáfora para algo

que é novo, limpo e cuidado, sem traças.

Como vem sendo defendido ao longo deste relatório, a ilustração

científica é tida como o principal meio de comunicação, capaz de ligar arte e

ciência. Almejando à divulgação de conhecimento científico o livro torna-se

assim o principal produto deste projecto.

Como foi referido atrás, a escolha das espécies, para ilustrar, e

consequente revisão das artes-finais, foi acompanhada pelo curador da

colecção. Os artistas tiveram o parecer principal na escolha dos espécimes,

tendo sido, essa escolha, alvo de aprovação pelo curador da colecção. Uma

revisão final das ilustrações e nomes científicos correspondentes foi efectuada

pelo investigador António Bívar de Sousa.

O livro foi publicado com aprovação e apoio do Museu Nacional de

História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa. Além disso foi criada

uma campanha de crowdfunding33, que foi financiada na totalidade.

O livro é uma co-edição da Associação Tentáculo e Museu Nacional de

História Natural e da Ciência, e contou com o apoio do centro de investigação

CE3C (Centre for ecology, evolution and environmental changes). A primeira

tiragem foi de 100 exemplares.

O livro é bilingue, apresentando texto em português e inglês, procurando

assim abranger um público mais vasto. Revisão do texto foi feita pela Joana

Vieira da Silva.

33

Crowdfunding é um sistema de angariação de fundos, normalmente através de plataformas online, que permite a qualquer cidadão submeter a sua ideia e tê-la, potencialmente, financiada. Submete-se uma descrição do projecto juntamente com várias opções de contribuição. As pessoas que assim o desejarem, podem contribuir com as quantias indicadas nas opções de contribuição, e receber as recompensas que lhes são associadas. Estas recompensas são, posteriormente, à responsabilidade dos autores da ideia, entregues aos contribuintes do projecto. Pode-se ver a página de crowdfunding deste projecto através do link: http://ppl.com.pt/pt/prj/cem-tracas.

56

A metodologia e técnicas usadas para a criação do design e paginação

do livro foram completamente digitais - em Photoshop, com utilização de

Indesign para a preparação do ficheiro final, para produção na gráfica.

3.1. Paginação

Em termos de estrutura, o livro está composto por duas partes distintas.

- Uma primeira parte, que inclui: Capa e contracapa; Página de rosto; Ficha

Técnica; Prefácios; Índice; Introdução e currículos dos ilustradores.

- Uma segunda parte, que contém breves notas sobre cada família

representada e o catálogo das 100 ilustrações.

Em relação às características técnicas do livro:

O formato das páginas é 120x185mm. A paginação do livro ficou definida em

128 páginas, frente e verso, a cores. O papel escolhido para o miolo foi papel

de 150 gr/m2, estucado com acabamento mate. A encadernação é colada, sem

badanas, com impressão na lombada. A fonte escolhida para o texto em todo o

livro foi a Helvética, por sua universalidade e adaptabilidade.

Sobre as várias partes do livro, explicando as escolhas tomadas:

3.1.1. Capa e contracapa

A capa (fig.27) foi alvo de discussão. Decidiu-se por uma ilustração de

uma Acherontia atropos (Linnaeus, 1758). Esta borboleta foi escolhida por ser

muito famosa entre o público não especializado. É facilmente reconhecível, foi

escolha óbvia. O fundo da capa é preto para impulsionar o impacto da

ilustração escolhida.

O nome do projecto figura na capa, alinhado com o fim do abdómen da

borboleta.

57

Na contracapa estão presentes os logótipos das instituições que apoiaram o

livro, como foi mencionado anteriormente. Também está presente, ajustado à

esquerda, o código de barras, com o ISBN do livro.

3.1.2. Página de Rosto

A página de rosto (fig.28) contém o título do projecto e um subtítulo –

“Catálogo de Ilustrações de Lepidoptera da Colecção Entomológica do Museu

Nacional de História Natural e da Ciência”. A borboleta que figura, enquadrada

à direita e com opacidade de 70%. Esta ilustração é de uma Zeuzera pyrina

(Linnaeus,1761), da autoria da colega e ilustradora Tetyana Chkyrya.

A escolha recaiu sobre esta borboleta pois é um exemplo de técnica muito

elevada.

Fig. 28 – Página de rosto do livro “Cem Traças”.

Fig. 27 – Capa e contra capa do livro “Cem Traças”.

58

3.1.3. Ficha Técnica

A ficha técnica (fig.29) contém os elementos obrigatórios numa

publicação, incluindo o ISBN e Depósito Legal.

O depósito-legal também está presente, logo abaixo. Está também

incluída a indicação de que é a primeira edição (ao momento de escrita desta

dissertação) “Dezembro 2015”. É incluída uma secção de agradecimentos.

São ainda apresentados os contactos do projecto.

Fig. 29 – Ficha Técnica do livro “Cem Traças”.

3.1.4. Prefácios

Para elaboração dos prefácios, convidaram-se duas pessoas envolvidas

de perto no desenvolvimento deste projecto: Luís Filipe Lopes, investigador e

curador na colecção entomológica do MUHNAC e Pedro Salgado, biólogo e

ilustrador científico.

3.1.5. Índice

Além do objectivo tradicional de indicar onde estão os conteúdos, o

índice (fig.30) foi pensado de forma a indicar as famílias das borboletas

ilustradas, permitindo uma leitura fácil. Atribuiu-se uma cor a cada família logo

no índice, que depois aparece nas páginas das ilustrações. Assim, vendo a cor

59

nas páginas das ilustrações, o leitor pode consultar o índice para saber de que

família é cada espécie.

Fig. 30 – Índice do livro “Cem Traças”.

3.1.6. Introdução

Na introdução (fig.31) está presente um texto que introduz o leitor ao

tema das borboletas nocturnas, incluindo um olhar ao trabalho que é feito na

colecção entomológica do MUHNAC. Descreve-se, sucintamente, o conteúdo

do livro em termos de ilustração científica.

Fig. 31 – Introdução do livro “Cem Traças”.

60

3.1.7. Currículos dos autores

Em duas páginas, estão presentes os currículos dos ilustradores: Pedro

Araújo e Tetyana Chkyrya. Escolheu-se incluir esta informação para promoção

do trabalho dos artistas e dar a conhecer ao leitor um pouco dos seus

percursos.

3.1.8. Introdução às famílias representadas

Nesta secção do livro, apresentam-se algumas informações, muito

breves, sobre cada família ilustrada. Estes textos foram trabalhados em

conjunto com o curador Luís Filipe Lopes, que, com a sua formação em

Biologia, orientou a informação para que seja correcta e concisa.

3.1.9. Ilustrações

Esta secção contém as 100 ilustrações escolhidas para integrar o livro.

Estas estão divididas em 16 famílias: Arctiidae; Bombycidae; Cossidae;

Crambidae; Erebidae; Eupterotidae; Geometridae; Lasiocampidae;

Limacodidae; Noctuidae; Nolidae; Notodontidae; Pterophoridae; Saturniidae;

Sphingidae e Zygaenidae.

As ilustrações fazem-se acompanhar por: nome científico de cada

espécie; mapa do local de captura do exemplar usado como base para a

ilustração; escala e etiqueta com o número de colecção do MUHNAC (figs. 32 e

33).

O nome científico está incluído por razões de conhecimento científico.

Permite ao leitor aprender e identificar as espécies ilustradas na vida real. O

mapa do local de captura está presente também por questões de conhecimento

científico. O local de captura é um dado que permite ao entomólogo, entre

outras coisas, determinar a distribuição das espécies pelo território. A escala é

um elemento fulcral, pois permite a leitura do tamanho real das espécies, tendo

em conta que estão todas ajustadas para encaixar nas páginas. Permite

também uma comparação entre espécies que é de valor científico, mais uma

61

vez. Por fim, a presença da etiqueta do número de colecção, cria o elo de

ligação entre as ilustrações e a colecção entomológica.

3.2. Actividades de divulgação e aplicações do projecto

O projecto “Cem Traças” tem sido utilizado na divulgação da diversidade

das borboletas nocturnas e da colecção de insectos através de vários meios,

como participação em actividades de divulgação, produção de merchandise e

exposições.

Fig. 32 – Páginas (100 e 101) de ilustrações do livro “Cem Traças”.

Fig. 33 – Páginas (114 e 115) de ilustrações do livro “Cem Traças”.

62

3.2.1. Actividades de divulgação

O projecto tomou parte em várias actividades de divulgação entre as

quais:

- Sessão de apresentação no Museu Bordalo Pinheiro “Arte, Ciência e

Ambiente”, no dia 14 de Julho de 201534;

- Presença na Noite Europeia dos Investigadores, no dia 25 de Setembro de

201535;

- Participação no Programa de Educação Ambiental (PEA) 2015/2016, no dia

29 de Outubro de 201536;

- Uma exposição no Centro de Ciência Viva de Proença-a-Nova. Com 30

ilustrações expostas, acompanhadas de etiquetas de identificação. A exposição

está patente desde o dia 15 de Dezembro de 2015 até ao dia 28 de Fevereiro

de 201637.

- Uma entrevista aos ilustradores para a revista Wilder38;

- Uma entrevista aos ilustradores para o Canal Superior39.

De seguida apresentam-se imagens de exposições do projecto “Cem

Traças”.

34

Link para o programa do evento em questão: http://www.cm-lisboa.pt/noticias/detalhe/article/conversa-a-volta-de-portugal-2055-no-museu-bordalo-pinheiro 35

Link para o programa do evento em questão: http://noitedosinvestigadores.org/programa/ 36

Link para a página do blog do projecto em que se apresenta esta participação:

http://100tracas.blogspot.pt/2015/11/participacao-no-programa-de-educacao.html 37

Link para o site do Centro de Ciência Viva da Floresta de Proença-a-Nova, onde se encontra informação sobre a exposição: http://www.ccvfloresta.com/actividades/exposicoes-temporarias/209-cem-tracas 38

Link para a entrevista na revista Wilder: http://www.wilder.pt/historias/tetyana-e-pedro-foram-para-o-museu-e-desenharam-100-borboletas-nocturnas/ 39

Link para a entrevista no Canal Superior: http://informacao.canalsuperior.pt/noticia/20259#anchor

63

Fig. 34 – Exposição no Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa. 2016.

Fig. 35 – Exposição no Centro de Ciência Viva da Floresta. Proença-a-Nova, 2015.

64

Fig. 36 – Noite Europeia dos Investigadores. Museu Nacional da História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa, 2015.

Fig. 37 – Apresentação no Museu Bordalo Pinheiro, 2014.

65

3.2.2. Merchandise

Foi criada uma panóplia de suportes físicos à divulgação do projecto

“Cem Traças”. Estes incluem postais e autocolantes40, panfletos, cartões de

contacto, um poster e um jogo didáctico para crianças, o qual esteve em uso na

Noite Europeia dos Investigadores. Ao momento da escrita desta dissertação,

estão em fase de produção t-shirts com ilustrações do projecto.

40

Como suportes adicionais ao livro, foram criados postais e autocolantes, que podem ser vistos no blog.

Fig. 38 – Postais com algumas ilustrações do projecto.

66

3.2.3. Plataformas digitais online

Para além da campanha de crowdfunding, que deu a conhecer o

projecto a algumas pessoas, foram criadas outras páginas online, onde o

projecto pode ser acompanhado de perto e entrar em contacto com os

ilustradores:

- Blog41; Página de Facebook42.

41

Link para o blog: http://100tracas.blogspot.pt/ 42

Link para a página de facebook: https://www.facebook.com/100tracas/

67

4. Discussão

Apresenta-se uma reflexão sobre as condicionantes e opções tomadas

ao longo do projecto.

O maior desafio foi manter a coerência entre as diversas ilustrações,

sobretudo entre o trabalho de cada ilustrador. Tendo em consideração o

grande número a produzir e o seu nível de detalhe foi trabalhado um método

com o intuito de alinhar os estilos dos dois ilustradores e permitir a maior

eficácia, de forma que o trabalho pudesse ser realizado no tempo disponível,

sem comprometer a sua qualidade e rigor.

Uma condicionante neste projecto, foi o ter de lidar com as questões da

biologia e sistemática dos insectos, sobretudo no grupo estudado, uma vez que

ambos ilustradores não detinham experiência nesse campo. No entanto, sendo

um trabalho na área de ilustração científica e em que a comunicação de ciência

é essencial, este campo não pôde ser descurado.

O acompanhamento do investigador e curador da colecção

entomológica, Luís Filipe Lopes, auxiliou à aprendizagem de métodos

adequados ao exercício de pesquisa, como para a determinação e identificação

das espécies. Esse leque de ferramentas provou ser um conhecimento

adquirido ao longo deste trabalho.

Ao ter-se realizado trabalho de colaboração com a Entomoteca, como

manuseamento, preparação, catalogação e determinação de espécies de

insectos, foi possível aprender mais sobre as borboletas a ilustrar. Esses

conhecimentos trarão com certeza frutos, na eventual realização de trabalhos

futuros que incidam no tema dos insectos, nomeadamente sobre a Ordem

Lepidoptera.

Foi possível compreender, e trabalhar, a ligação entre o investigador e o

artista, na medida em que o trabalho foi acompanhado e revisto por

especialistas da área dos lepidópteros.

Entendeu-se ao longo de todo o estudo e trabalho que a ilustração

científica pode ser confundida com um desenho foto-realista, na medida em

que dentro desta disciplina se podem criar artes finais com grande detalhe. O

que é importante reter é que uma ilustração científica para o ser tem que ter

rigor e por vezes pode-se pensar que o detalhe é sinónimo de rigor o que não é

68

verdade. Entendeu-se que o compromisso entre rigor e detalhe deve ser

acordado desde início pondo os objectivos do projecto em primeiro lugar. Neste

trabalho o rigor é importante e ganha com o detalhe, sendo que as borboletas

por serem de pequenas dimensões e tendo as asas com os padrões

complexos e texturados ficam mais legíveis no desenho quando este é bem

detalhado.

O objectivo principal de realizar um trabalho capaz de divulgar ciência foi

alcançado, tendo sido produzido um livro e publicado com o nome “Cem

Traças”.

Em perspectivas futuras, poder-se-á dar uma continuação ao trabalho

realizado, em futuras publicações, em continuidade com o tema das borboletas

nocturnas ou outros grupos taxonómicos da colecção entomológica do

MUHNAC.

69

5. Bibliografia

ANTUNES, Lúcia. Guia dos Morcegos de Portugal (Continental e Insular).

Morfologia e Etologia dos Quirópteros em Território Nacional. ISEC, 2013.

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FARIA, Miguel. A Imagem útil. Universidade Autónoma de Lisboa, Lisboa,

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HODGES, E.R.S (Ed.)The Guild handbook of scientific illustration. 2nd edition.

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SALGADO, Pedro. Provas de Professor Especialista, ISEC, 2012.

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70

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Ciência. Lisboa, 2014.

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ECO, Umberto – Como se faz uma tese em Ciências Humanas. Lisboa:

Presença, 1982.

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http://www.westafricanlepidoptera.com - consultado em 12.12.2014.

71

6. Apêndice de Ilustrações

Fig. 39 – Ilustração da espécie Albenus sp. Pedro Araújo, 2015.

Fig. 40 – Ilustração da espécie Balacra rubrostriata

Pedro Araújo, 2015.

72

Fig. 41 – Ilustração da espécie Cymbalophora pudica Pedro Araújo, 2015.

Fig. 42 – Ilustração da espécie Spilosoma luteum Pedro Araújo, 2015.

73

Fig. 44 – Ilustração da espécie Cephonodes hylas Pedro Araújo, 2015.

Fig. 43 – Ilustração da espécie Tyria jacobaeae Pedro Araújo, 2015.

74

Fig. 45 – Ilustração da espécie Maruca vitrata Pedro Araújo, 2015.

Fig. 46 – Ilustração da espécie Omiodes indicata Pedro Araújo, 2015.

75

Fig. 48 – Ilustração da espécie Amata sp.

Pedro Araújo, 2015.

Fig. 47 – Ilustração da espécie Stemorrhages sericea

Pedro Araújo, 2015.

76

Fig. 50 – Ilustração da espécie Menophra japyigiaria Pedro Araújo, 2015.

Fig. 49 – Ilustração da espécie Euplagia quadripunctaria Pedro Araújo, 2015.

77

Fig. 51 – Ilustração da espécie Filiola lanceolata Pedro Araújo, 2015.

Fig. 52 – Ilustração da espécie Lasiocampa quercus Pedro Araújo, 2015.

78

Fig. 53 – Ilustração da espécie Lasiocampa trifolii Pedro Araújo, 2015.

Fig. 54 – Ilustração da espécie Latoia sp.

Pedro Araújo, 2015.

79

Fig. 55 – Ilustração da espécie Latoia vitilena Pedro Araújo, 2015.

Fig. 56 – Ilustração da espécie Catocala nupta Pedro Araújo, 2015.

80

Fig. 57 – Ilustração da espécie Erebus macrops Pedro Araújo, 2015.

Fig. 58 – Ilustração da espécie Nola cicatricalis Pedro Araújo, 2015.

81

Fig. 59 – Ilustração da espécie Eudocima divitiosa Pedro Araújo, 2015.

Fig. 60 – Ilustração da espécie Eudocima materna Pedro Araújo, 2015.

82

Fig. 61 – Ilustração da espécie Heraclia sp.

Pedro Araújo, 2015.

Fig. 62 – Ilustração da espécie Bena prasinana Pedro Araújo, 2015.

83

Fig. 63 – Ilustração da espécie Bena bicolorana Pedro Araújo, 2015.

Fig. 64 – Ilustração da espécie Anaphe reticulata Pedro Araújo, 2015.

84

Fig. 65 – Ilustração da espécie Galona serena Pedro Araújo, 2015.

Fig. 66 – Ilustração da espécie Gonimbrasia belina Pedro Araújo, 2015.

85

Fig. 67 – Ilustração da espécie Bunaeopsis jacksoni

Pedro Araújo, 2015.

Fig. 68 – Ilustração da espécie Nudaurelia rectilineata Pedro Araújo, 2015.

86

Fig. 69 – Ilustração da espécie Saturnia pavonia

Pedro Araújo, 2015.

Fig.70 – Ilustração da espécie Acherontia atropos Pedro Araújo, 2015.

87

Fig. 71 – Ilustração da espécie Agrius convolvuli Pedro Araújo, 2015.

Fig. 72 – Ilustração da espécie Daphnis nerii Pedro Araújo, 2015.

88

Fig. 73 – Ilustração da espécie Deilephila elpenor Pedro Araújo, 2015.

Fig. 74 – Ilustração da espécie Deilephila porcellus Pedro Araújo, 2015.

89

Fig. 75– Ilustração da espécie Hemaris fuciformis Pedro Araújo, 2015.

Fig. 76 – Ilustração da espécie Macroglossum stellatarum Pedro Araújo, 2015.

90

Fig. 77 – Ilustração da espécie Hippotion balsaminae Pedro Araújo, 2015.

Fig. 78 – Ilustração da espécie Hippotion osiris

Pedro Araújo, 2015.

91

Fig. 79 – Ilustração da espécie Hippotion eson Pedro Araújo, 2015.

Fig. 80 – Ilustração da espécie Hyles euphorbiae Pedro Araújo, 2015.

92

Fig. 81 – Ilustração da espécie Laothoe populi Pedro Araújo, 2015.

Fig. 82 – Ilustração da espécie Lophostethus dumolinii Pedro Araújo, 2015.

93

Fig. 83 – Ilustração da espécie Macropoliana natalensis Pedro Araújo, 2015.

Fig. 84 – Ilustração da espécie Mimas tilliae Pedro Araújo, 2015.

94

Fig. 85 – Ilustração da espécie Nephele accentifera Pedro Araújo, 2015.

Fig. 86 – Ilustração da espécie Nephele rosae Pedro Araújo, 2015.

95

Fig. 87 – Ilustração da espécie Poliana buchholzi Pedro Araújo, 2015.

Fig. 88 – Ilustração da espécie Leptoclanis pulchra Pedro Araújo, 2015.