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  • Editorial

  • Eric de Carvalho Doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo Coordenador do Centro Interdisciplinar de Pesquisa da Faculdade Cásper LíberoE-mail: [email protected]

    Editorial

    Anderson Gurgel Campos Professor doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP), desenvolve pesquisa sobre as relações entre comunicação, esporte e economia, com particular interesse para os aspectos espetaculares e imagéticos do desporto. É professor de cursos de Comunicação Social da Universidade Presbiteriana Mackenzie e do Centro Universitário Belas Artes.

    Ary Rocco Professor doutor da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (EEFE/USP). Líder e fundador do Grupo de Estudos e Pesquisa em Marketing e Comunicação no Esporte (GEPECOM) da EEFE/USP.

  • Editorial 9

    Volume 18 – Edição 1 - 1º Semestre de 2018

    Quase uma década após o anúncio da realização de megaeventos esportivos no Brasil, seu legado ainda é incerto. Desde então, foram realizados os Jogos Pan--Americanos (2007), os Jogos Mundiais Militares (2010) e a Copa das Confedera-ções (2013) no Rio de Janeiro (RJ), a Copa do Mundo da Fifa (2014) em todo país e Jogos Mundiais Indígenas (2015) em Palmas (TO), além dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos (2016) também no Rio de Janeiro (RJ); os megaeventos ocorreram e a expectativa de desenvolvimento social pelo esporte e turismo não se efetivou. Desde então, diversos estudos foram realizados, muitos deles na área de Comunicação So-cial, analisando impactos e consequências desse ciclo de eventos ligados ao mundo esportivo para a área de comunicação e correlatas.

    O dossiê “Legado comunicacional dos megaeventos esportivos” foi organi-zado com a colaboração dos co-editores Anderson Gurgel (Mackenzie/Belas Artes) e Ary Rocco (USP/Fecap) tendo em vista representar a multiplicidade de olhares sobre o tema, explorando vieses diversos, da comunicação à gestão, do estrangeiro ao regional, dirigido aos megaeventos e às mais diversas modalidades desportivas.

    A revista se inicia com a entrevista de Jamil Chade, correspondente inter-nacional do Jornal Estado de S. Paulo, colunista da rádio Eldorado e colaborador dos canais ESPN, realizada por Anderson Gurgel e Gabriel Fidalgo. Jamil acompanhou de perto momentos cruciais da evolução dos megaeventos esportivos brasileiros, inclusive os complexos processos de preparação desses eventos, com atrasos e estou-ros de orçamento das obras preparadas especialmente para eles. Dessas experiências e de muitas apurações e entrevistas, o jornalista escreveu e lançou em 2015 o livro “Política, Propina e Futebol” (Editora Objetiva), obra na qual realiza um profundo retrato sobre as relações de poder e corrupção envolvendo Fifa, Copa do Mundo e dirigentes no mundo todo, incluindo o Brasil.

    Na sequência, os artigos apresentam a pluralidade de olhar do repertório de seus autores. Começando por um olhar internacional para os megaeventos esportivos rea-lizados no Brasil, em “El legado periodístico de los megaeventos desportivos”, o professor José Luis Rojas Torrijos, doutor e professor de jornalismo na Facultad de Comuni-cación da Universidad de Sevilla, analisa a possibilidade de inovação nas fórmulas narrativas do jornalismo esportivo, buscando atrair a atenção do público e levando a ele a emoção da competição combinada à análise de um jornalismo informacional.

    Em “A etnografia como método para a observação e cobertura de megaeventos es-portivos”, Elcio Cassola Padovez e José Eugenio de Oliveira Menezes propõem que o uso de observações de campo e métodos como o olhar participante e atitude etnográfica po-dem ajudar no enriquecimento do trabalho tanto do pesquisador acadêmico quanto do jornalista quando se trata da cobertura in loco dos megaeventos esportivos. Tendo como base os estudos de Yves Winkin, Gregory Bateson, Dell Heymes e Ryszard Kapucinski, propõem a construção de um olhar etnográfico mais voltado ao campo social e cultural no contexto de megaeventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas.

  • Revista Communicare

    10 Editorial

    Carlos Roberto Gaspar Teixeira e Roberto Tietzmann analisam os perfis dos atletas medalhistas olímpicos em suas redes sociais digitais durante os Jogos Olím-picos do Rio em 2016. “O desempenho dos perfis oficiais dos atletas olímpicos nas redes sociais como representação do ‘ciclo de vida’ de um produto da indústria cul-tural” relaciona a teoria crítica da indústria cultural com conceitos de marketing do ciclo de vida do produto e da cauda longa através de uma comparação visual gráfica.

    A expressão “legado olímpico” e o Plano de Legado dos Jogos Olímpicos do Rio em 2016 são objetos de estudo de “O legado olímpico em questão: do equívoco conceitual à avaliação negativa da imprensa brasileira”, de Flávio Agnelli Mesquita e Wilson da Costa Bueno. Os autores analisam a construção da expressão a partir de um equívoco conceitual e registram a percepção da imprensa sobre os Jogos, a partir da análise de textos publicados sobre o tema em 19 veículos de comunicação brasileiros, entre julho de 2016 e janeiro de 2018.

    Um olhar regional é dirigido à Copa do Mundo de 2014 em “A fortaleza da Copa do Mundo: representações sociais e consumo na cidade-sede”, no qual Alissa Cendi Vale de Carvalho e Silvia Helena Belmino investigam de que forma jornais de Fortaleza (CE) construíram representações sociais da cidade-sede e guiaram os per-cursos de consumo na cidade durante a Copa do Mundo de 2014. Com base na teoria sobre cidade-mercadoria e representações sociais, a pesquisa categorizou aspectos, características e regiões de Fortaleza mencionados em notícias de dois jornais locais, utilizando do método da análise de discurso crítica para analisar essas representações.

    De volta ao Rio de Janeiro, Maria Helena Carmo dos Santos e Flávio Lins conduzem uma reflexão sobre os impactos dos principais megaeventos esportivos ocorridos na cidade em um momento no qual o Rio de Janeiro voltou a enfrentar o caos na segurança pública em “Rio de Janeiro pós Copa do Mundo e Jogos Olímpi-cos: de cidade-megaevento ao caos da violência urbana – que legado é esse?”.

    “Paixões em ebulição: a Copa do Mundo de 2014 em capas de jornais” apre-senta um estudo realizado por Magnos Cassiano Casagrande e Ada Cristina Ma-chado Silveira, no qual os autores analisam trinta e duas capas de jornais brasileiros publicadas durante o período de realização da Copa do Mundo de Futebol de 2014, identificando o caráter passional e polarizado das representações que constituem o discurso e as próprias instâncias enunciativas dessas mídias.

    Os Jogos Mundiais dos Povos Indígenas são objeto de estudo de Cássia Lo-bão Assis em “Jogos mundiais indígenas e o possível exercício da alteridade midiáti-ca” no qual a autora analisa a inserção desse evento no contexto midiático, avaliando o exercício da alteridade na promoção desse megaevento esportivo como um legado dos mais significativos à construção do discurso midiático na contemporaneidade.

    “A transmissão televisiva da ginástica artística produzida por diferentes emissoras” foi o estudo de Tatiana Zuardi Uhinohama, Letícia Passos Affini e Marco Roxo, no qual comparam como as emissoras de televisão internacionais mediaram

  • Volume 18 – Edição 1 - 1º Semestre de 2018

    Editorial 11

    as apresentações da Ginástica Artística ocorridas nos Jogos Olímpicos em 2016 por meio do modelo construído por Whannel para análises de transmissões televisivas de eventos esportivos discutindo a abordagem técnica versus a banalização da mo-dalidade pela cobertura esportiva.

    Helen Anacleto e Kelly Prudencio analisaram o conteúdo de 1.238 posta-gens feitas pela conta do Comitê Paralímpico Brasileiro (@cpboficial) durante os Jogos Paraolímpicos à luz da teoria do reconhecimento feita por Nancy Fraser e Axel Honneth para identificar os tipos de reconhecimento que foram expressos aos atores sociais desses jogos em um importante espaço de visibilidade e reconhecimento dos atletas paraolímpicos, o Twitter.

    A transformação da cidade do Rio de Janeiro em cidade-sede dos Jogos Olím-picos de 2016 trouxe diversos tipos de impactos para moradores da região. No en-tanto, as narrativas da mídia corporativa estiveram muito focadas em destacar tais mudanças de maneira positiva, o que nem sempre se concretizou desta forma para todos. “Experiências e espaços de mídia utilizados por moradores da favela da Pro-vidência no período pós-Olímpico”, de Luiza Cunha Barata, percorre, por meio da etnografia, outros espaços de mídia que grupos favelados utilizam para relatar expe-riências com o espaço da cidade, neste momento posterior ao megaevento.

    “Do ‘país do futebol’ à desconstrução da marca Rio: deslocamentos de sentidos sobre o esporte em documentários internacionais pré-olímpicos”, de Ana Teresa Go-tardo, analisa comparativamente narrativas do esporte em documentários interna-cionais de televisão em dois períodos: 2012, “auge” da marca Rio, e 2014 e 2016, anos de realização da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos na cidade, comparando os clichês de “país do futebol” e de amor e salvação por meio do esporte aos questiona-mentos em relação a esses estereótipos.

    Karla Caldas Ehrenberg e Daniel dos Santos Galindo em “Os megaeventos es-portivos e suas correlações simbólicas para além da publicidade” promovem uma reflexão sobre a apropriação simbólica dos megaeventos esportivos como produtor de sentido junto às organizações e suas marcas por meio da análise de campanhas e ações das marcas McDonald’s, Visa e Coca-Cola, patrocinadoras da Copa do Mundo Fifa 2014 e Jogos Olímpicos e Paralímpicos 2016.

    “Jornalismo Esportivo, Copa do Mundo & Seleção Brasileira de Futebol − Titelê e a lembrança de uma crônica de Matinas Suzuki Jr” , de Luciano Victor Barros Maluly e Ed-waldo Costa, traça um paralelo entre as representações dos técnicos da seleção Telê San-tana e Tite como personagens icônicos das Copas do Mundo da Fifa para os brasileiros.

    A sustentabilidade é tema do artigo “A sustentabilidade no discurso oficial dos jogos olímpicos Rio 2016 e nas capas de jornais brasileiros”, de Roberta Ferreira Brondani e José Carlos Marques, uma análise da presença do assunto nos discursos oficiais do comitê de organização dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro de 2016 e suas representações nos jornais brasileiros da época.

  • Revista Communicare

    12 Editorial

    Finalmente, em “Apupos e brasilidade: A representação pela imprensa das ce-rimônias de abertura e encerramento dos Megaeventos Esportivos no Brasil”, Fran-cisco Ângelo Brinati e Filipe Fernandes Ribeiro Mostaro analisam as representações das críticas e manifestações contrárias à realização dos megaeventos esportivos no jornal Folha de São Paulo.

    Toda essa gama de artigos de diversas abordagens compõem um painel hetero-gêneo e multifacetado sobre os estudos de comunicação realizados sobre e durante esse período, que podem revelar com algum distanciamento o que representaram esses megaeventos para a comunicação sobre o esporte no país e qual legado deixa-ram após sua ocorrência. O veredito será seu após a leitura. Aproveite!