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Page 1: EDITORIAL - Biblioteca Virtual Espírita · Editoras espíritas na Bienal do Livro do Rio de Janeiro 26 ... “Perdoa-nos as nossas dívidas, ... turas, algemando-as a idéias fixas,
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R e v i s t a d e E s p i r i t i s m o C r i s t ã oAno 123 / Julho, 2005 / No 2.116

Fundada em 21 de janeiro de 1883

Fundador: Augusto Elias da Silva

ISSN 1413-1749Propriedade e orientação daFederação Espírita Brasileira

Direção e RedaçãoAv. L-2 Norte – Q. 603 – Conj. F (SGAN)

70830-030 – Brasília (DF)Tel.: (61) 321-1767; Fax: (61) 322-0523

Home page: http://www.febnet.org.brE-mail: [email protected]

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Para o BrasilAssinatura anual R$ 39,00Número avulso R$ 5,00Para o ExteriorAssinatura anual US$ 35,00

Diretor – Nestor João Masotti; Diretor-Substituto e Edi-tor – Altivo Ferreira; Redatores – Affonso BorgesGallego Soares, Antonio Cesar Perri de Carvalho,Evandro Noleto Bezerra e Lauro de Oliveira SãoThiago; Secretária – Sônia Regina Ferreira Zaghetto;Gerente – Amaury Alves da Silva; REFORMADOR:Registro de Publicação no 121.P.209/73 (DCDPdo Departamento de Polícia Federal do Ministério daJustiça), CNPJ 33.644.857/0002-84 – I. E. 81.600.503.

Departamento Editorial e GráficoRua Souza Valente, 17

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E-mail: [email protected] de Reformador:Tel.: (21) 2187-8264 / 8274

E-mail: [email protected]

Capa: Julio Moreira

Tema da Capa: PERDÃO E REPARAÇÃO – pre-ceitos da Lei Divina que resultam na prática doBem e na libertação do Espírito.

EDITORIAL 4

Perdão e Reparação

PRESENÇA DE CHICO XAVIER 10O Perdão – Humberto de Campos

ENTREVISTA: GEZSLER CARLOS WEST 13A Divulgação por um mundo melhor

ESFLORANDO O EVANGELHO 21Lógica da Providência – Emmanuel

FEB/CFN – COMISSÕES REGIONAIS 28Reunião da Comissão Regional Sul

A FEB E O ESPERANTO 33Memórias de um Suicida e o Esperanto –

Affonso Soares

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE 37Extrato do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro –

Allan Kardec

SEARA ESPÍRITA 42

O Espiritismo e as ciências – Juvanir Borges de Souza 5

Culpa e resgate – Valentim Magalhães 7

Perdão e autoperdão – Joanna de Ângelis 8

Renovar o homem para transformar a Terra – 12

Robinson Soares Pereira

Sem gravata não pode – Richard Simonetti 16

Uma história para contar – Carlos Abranches 18

Eu nada peço a Deus – Paulo Nunes Batista 19Cumprimento de uma promessa – Severino Barbosa 20

Vencendo nossos medos – Eurípedes Kühl 22

Renúncia com Jesus – Mário Frigéri 25

Editoras espíritas na Bienal do Livro do Rio de Janeiro 26

O jugo leve – Gebaldo José de Sousa 31

Lei de Deus – Maria Dolores 32

Monumento a Kardec em Lyon 35

Perdão e Paz – Corydes Monsores 38

Repensando Kardec – Da Lei de Igualdade – 39

Inaldo Lacerda Lima

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Anecessidade do perdão – como atitude essencial para a conquista da plenitude espiritual – foiensinada por Jesus em diversas ocasiões: “Se perdoardes aos homens as suas ofensas, tambémvosso Pai Celeste vos perdoará”1, “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos

nossos devedores”2 e “Reconcilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás com ele no cami-nho”3. Destacou, ainda, a importância de perdoar de forma ilimitada: “Não vos digo que perdoeisaté sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes.”4

Mas o Cristo não se limitou a teorizar sobre o perdão: Do alto da cruz humilhante, submetido adores extremas, orou por seus algozes, compreendendo-lhes a ignorância: “Pai, perdoa-lhes porquenão sabem o que fazem.”5

Antídoto do ódio, o perdão é gesto de generosidade que beneficia muito mais a quem perdoa doque àquele que é perdoado. Sentimentos como ódio, rancor e desejo de vingança escravizam as cria-turas, algemando-as a idéias fixas, estados mentais mórbidos, infelicidade e desequilíbrio. Quem per-doa se liberta do grilhão que o mantém prisioneiro. Mas quem é perdoado não está livre da necessi-dade de reparar o mal cometido. Este, registrado na consciência do Ser, exigirá corrigenda, a fim deque a criatura se reabilite perante a Lei Divina. Mesmo depois de perdoado, sofre o aguilhão do re-morso, que lhe cobra reparação dos prejuízos materiais ou morais que causou a outrem.

Jesus assinalou o imperativo de a criatura buscar o reajuste perante Deus e a própria consciênciamediante o exercício do amor incondicional. Ao reerguer a mulher que era acusada por seus vícios,o Cristo observa: “Seus muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou.”6

Assim, a reparação que favorece a paz interior virá pela vivência do amor, ao eleger o Bem comoprática. Mas poderá ser, também, profundamente dolorosa, quando aquele que foi perdoado perma-nece em clima de enfermidade moral, recusando-se à grandeza da fraternidade.

A lição que o Evangelho nos oferece e que a Doutrina Espírita explicita não deixa dúvidas: Nãose chega à felicidade, que todos buscam, sem a vivência da lei moral que emana de Deus e que con-siste na prática da Caridade. E só praticamos a Caridade, plenamente, perdoando os outros e repa-rando nossos erros, sempre!

1Mateus, 6:14 4Mateus, 18:222Mateus, 6:12 5Lucas, 23:343Mateus, 5:25 6Lucas, 7:47

EditorialPerdão e Reparação

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ADoutrina dos Espíritos, tal co-mo os Espíritos Reveladores atransmitiram ao Codificador,

através de diversos médiuns, nadatem de misticismo, de secreto e demistério.

Essa novel doutrina, oriundada Espiritualidade Superior, con-tou, em sua elaboração, com umelemento humano de raras qualifi-cações de saber e de caráter, con-quistadas através das eras, que ca-racterizam o missionário-chefe daDoutrina Espírita como “discípuloemérito do Cristo”.

Em Espiritismo, “a teoria nas-ceu da observação” como lembra oCodificador. “O que caracteriza arevelação espírita é o ser divina asua origem e da iniciativa dos Espí-ritos, sendo a sua elaboração frutodo trabalho do homem.” (V. AllanKardec – o Educador e o Codifica-dor – vol. II, cap. V, p. 328.)

Escoimadas de idéias que in-duzem ao sobrenatural, as reve-lações trazidas à Humanidade pelosEspíritos caracterizam-se por evi-denciar fatos. Há nessas revelaçõesum compromisso constante com averdade, perfeitamente demonstrá-vel pela razão e inteligência dospróprios homens.

Ora, se as ciências cultivadaspelos homens têm por escopo o co-nhecimento da verdade, nada justi-fica a separação e até o combate en-tre cientistas e espiritistas, uma vez

que uns e outros estão sempre embusca da verdade, dos fatos, das rea-lidades, das leis naturais.

Por que, então, as incompreen-sões e os antagonismos entre doiscampos de idéias tão importantespara os conhecimentos progressivose para o desenvolvimento e evolu-ção da Humanidade?

A resposta a essa indagação érelativamente fácil, para o espíritaconvicto e estudioso.

O que tem ocorrido nestemundo ainda tão atrasado, de pro-vas e expiações, é que as ciências,que se têm desenvolvido através deobservações, de experiências, dedescoberta de leis naturais e de mé-todos próprios, só se preocupamcom um dos elementos do Univer-so – a matéria – deixando de ladoo outro elemento, de vital impor-tância – o espírito.

Esse fato inusitado, estranho,levou as ciências a se fixarem, portradição, a um materialismo exclusi-vista, com sérios prejuízos para elasmesmas e para todas as filosofias debases e fundamentos materialistas.

No seu afã de saber e de desco-brir as Leis que regem tudo o quese encontra na Natureza, cientistase pensadores materialistas não fo-ram além da matéria, na sua expres-são mais grosseira em que se apre-senta na Terra.

O resultado desse posiciona-mento exclusivista com relação aoespírito levou o pensamento mate-rialista, quer nas ciências, quer nas

filosofias, a deparar-se com uma rea-lidade imprevista, com fatos inex-plicáveis, sem as luzes da realidadeespiritual.

Todo conhecimento, metódicoe eficaz, há que partir do conheci-do para o desconhecido.

Em um mundo material, co-mo a Terra, a matéria é que impres-siona mais os sentidos humanos.

Esse fato não exclui, entretan-to, a realidade do espírito, presenteem todos os reinos da Natureza, fa-to que as ciências, na fase atual emque se encontram, não mais podemnegar, diante de tantas comprova-ções.

Essa e outras questões congê-neres foram objeto de esclarecimen-tos de parte dos Espíritos Revelado-res, em respostas a indagações doCodificador, conforme se observanas questões 799 e 800 de O Livrodos Espíritos:“799 – De que maneira pode o

Espiritismo contribuir parao progresso?”

R – “Destruindo o materialismo,que é uma das chagas da so-ciedade, ele faz que os ho-mens compreendam onde seencontram seus verdadeirosinteresses.”

“800 – Não será de temer que oEspiritismo não consiga triun-far da negligência dos ho-mens e do seu apego às coi-sas materiais?”

R – “Conhece bem pouco os ho-mens quem imagine que

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O Espiritismo e as ciênciasJuvanir Borges de Souza

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uma causa qualquer os possatransformar como que porencanto. As idéias só pouco apouco se modificam, confor-me os indivíduos, e preciso éque algumas gerações passem,para que se apaguem total-mente os vestígios dos velhoshábitos. A transformação,pois, somente com o tempo,gradual e progressivamente,se pode operar. Para cada ge-ração uma parte do véu sedissipa. O Espiritismo vemrasgá-lo de alto a baixo.”

Esses esclarecimentos, e outrosno mesmo sentido, trazidos pelaTerceira Revelação, mostram osprejuízos resultantes das idéias ma-terialistas. Presentes na antiguidadeclássica, ressurgiram sobre novas ba-ses filosóficas no século XIX, im-pregnando sobremaneira as ciên-cias, num verdadeiro paradoxo, jáque, por definição, toda ciência de-veria constituir-se em fonte de sa-bedoria, de conhecimentos.

Não resta dúvida que o mate-rialismo deve ser destruído, comomostram os Espíritos, e o Espiritis-mo é, no mundo atual, seu grandeopositor, uma vez que as religiõestradicionais, por seus desvios e en-fraquecimento, se tornaram impo-tentes para se lhe oporem.

A destruição do materialismonão implica em nenhuma violência.Será resultante do confronto deidéias. As idéias materialistas, basea-das somente na matéria, confron-tadas com a realidade matéria–es-pírito, não encontram sustentaçãológica e desmoronam-se automati-camente. A verdade impõe-se por simesma, por maior seja a resistênciado que é falso.

Conforme instruem os Espíri-

tos na transcrição supra, a transfor-mação das idéias não se faz subita-mente, mas sim, de forma gradual,especialmente em casos como osdas ciências e cientistas, envolven-do individualidades inteligentesconvencidas de que estão com averdade.

O Espiritismo, como o Conso-lador, vem demonstrar a realidade,rasgando o véu que a oculta a mui-tas criaturas. Mas não pode imporsuas verdades a quem não as queraceitar ou aos que não têm aindacondições para a aceitação.

O mais belo exemplo de pa-ciência com a rebeldia dos homensnos vem do Cristo, que só conse-guiu convencer uns poucos de seuscontemporâneos com a excelênciade seus ensinos. A grande maioriarejeitou sua Mensagem, perseguin-do-O e crucificando-O.

No caso dos erros conceituaisdas ciências, as retificações virãocom a evolução natural, com o po-der da razão e com a atuação dasleis divinas, dentre as quais as dareencarnação e do progresso, queatuam direta e poderosamente nosentido da retitude como se podeobservar no curso da história hu-mana, no decorrer dos séculos emilênios.

Há, entretanto, uma profundadiferença na marcha das ciências edo Espiritismo, em função de suasorigens.

Enquanto as ciências, partindoda concepção errônea da existênciade um só elemento universal – amatéria – só atingiram o nívelatual após muitos séculos de pes-quisas e observações, com retifica-ções constantes, o Espiritismo, comsua origem na Espiritualidade Su-perior, demonstrou, em sua Doutri-

na, uma segurança de tal ordemque seus princípios fundamentais,formulados há menos de século emeio, não necessitaram de nenhu-ma reformulação, apesar de todosos progressos alcançados pela Hu-manidade, nesse período.

Esse fato demonstra a seguran-ça de uma realidade evidenciada pe-la Nova Revelação, que não despre-za as leis que regem a matériadescobertas pelas ciências, mas vaimuito além nas observações dos fe-nômenos da vida, nos quais estápresente o espírito, ignorado pelainfluência do materialismo.

Enquanto as ciências necessi-tam de reajustamentos, diante de no-vas descobertas, como tem ocorridonos campos da Astronomia, da Fí-sica, da Química, da Medicina, oEspiritismo permanece íntegro emsuas bases, sem prejuízo dos desdo-bramentos de muitos conhecimen-tos antes revelados, o que lhe permi-te acompanhar o progresso sem der-rogação dos fundamentos essenciais.

As próprias descobertas realiza-das pelas ciências, em seus camposde ação, são absorvidas e aceitas pe-la Doutrina Espírita, desde que ba-seadas em fatos decorrentes das leisdivinas ou naturais.

“(...) Caminhando de par como progresso, o Espiritismo jamaisserá ultrapassado, porque, se novasdescobertas lhe demonstrassem es-tar em erro acerca de um pontoqualquer, ele se modificaria nesseponto. Se uma verdade nova se re-velar, ele a aceitará.”

Esse princípio enfatizado peloCodificador, com a concordânciados Espíritos Reveladores, constan-te do cap. I, item 55 de A Gênese, dáà Doutrina a segurança que todosdesejamos, sem os prejuízos do ab-

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solutismo e autocracia dos mal in-formados a respeito dos fundamen-tos doutrinários.

A Doutrina dos Espíritos é aúltima das revelações trazidas pelaEspiritualidade aos habitantes destePlaneta. Ela veio na época adequa-da, no “século das luzes”, em que oshomens do mundo ocidental, a parde conquistas importantes, como aliberdade, ao lado da fraternidade,como aspiração para toda a Huma-nidade, deixaram-se envolver pordoutrinas materialistas.

O Espiritismo é o opositor na-tural às doutrinas materialistas quedominaram as massas humanas nosséculos XIX e XX, com conseqüên-cias graves na organização social dediversos países, na legislação huma-na e na concepção da vida.

Ao mesmo tempo visa a Dou-trina demonstrar às ciências, sem apretensão de substituí-las, ou de ocu-par o lugar que lhes compete, quetodas elas têm compromisso com averdade, com a realidade, com os fa-tos e, nesse caso, não mais se justifi-ca, em pleno terceiro milênio da EraCristã que elas desconheçam o ele-mento espiritual, presente em todoo Universo.

Mesmo em um mundo mate-rial, como a Esfera em que vivemos,a presença do Espírito é tão eviden-te, nos fenômenos da vida, que setorna difícil conceber a sua inexis-tência, especialmente por homensinteligentes acostumados às pesqui-sas dos fatos.

Antes do surgimento da Tercei-ra Revelação, os homens, religio-sos ou não, apenas formulavamhipóteses a respeito de seu futuro,após a morte: o nada, o inferno ouo paraíso.

Agora, entretanto, a certeza da

continuação da vida fora da maté-ria densa é fato comprovado.

São os seres espirituais que seapresentam e relatam a realidade,materializam-se e se desmateriali-zam em experiências controladas,com todo o rigor, por sábios huma-nas, como ocorreu com WilliamCrookes.

Como entender-se o posicio-namento da maioria dos cientistas,representando suas ciências, negan-do fatos comprovados, se seus com-promissos são com a verdade?

A Doutrina Espírita, em seusdesdobramentos após a Codifica-ção, mostra em sua rica literaturadetalhes da vida espiritual em situa-ções felizes e infelizes, nas quais osseres prosseguem em suas experiên-

cias, progredindo ou estacionando,reencarnando ou habitando na Es-fera em que se encontram.

Toda essa riqueza de informa-ções, que os espíritas estudiosos co-nhecem e aceitam com naturalida-de, precisa chegar ao conhecimentodos religiosos de todas as crenças eaos dedicados ao cultivo das diver-sas ciências.

Superando os homens o pre-conceito contra o que lhes é desco-nhecido, uma humanidade espi-ritual se desvenda à humanidadecorporal, com extraordinário pro-gresso para as ciências e as religiões,já que chegou o tempo em que omundo invisível se apresenta aovisível, como duas faces da mesmarealidade.

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Culpa e resgate– Senhora, compaixão! – a moça triste implora.– Não merece perdão a mulher que se aluga!...Acabarei contigo, infame sanguessuga!... –Grita no espancamento a impassível senhora.

A vítima doente anseia, tomba e chora,Tremendo, a soluçar, sob o pé que a subjuga...Rompe-se um grande vaso... E o sangue rola em fuga.A morte arranja o fim... Tudo é silêncio agora...

A ré que ninguém viu, como se nada houvera,Continua a viver qual flor na primavera,Mas a Lei vigilante assinala-lhe a trilha.

E antes que a dama nobre em remorsos se adentre,A alma da moça triste acolhe-se-lhe ao ventreE ela estende-lhe o seio, enlaçando-a por filha...

Valentim Magalhães

Fonte: XAVIER, Francisco C. VIEIRA, Waldo. Antologia dos Imortais, por Di-

versos Espíritos. 4. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2002, p. 273.

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Toda vez em que a culpa nãoemerge de maneira consciente,são liberados conflitos que a

mascaram, levando a inquietaçõese sofrimentos sem aparente causa.

Todas as criaturas cometemerros de maior ou menor gravidade,alguns dos quais são arquivados noinconsciente, antes mesmo de pas-sarem por uma análise de profundi-dade em torno dos males produzi-dos, seja de referência à própriapessoa ou a outrem.

Cedo ou tarde, ressumam demaneira inquietadora, produzindomal-estar, inquietação, insatisfaçãopessoal, em caminho de transtornode conduta.

A culpa é sempre responsávelpor vários processos neuróticos, edeve ser enfrentada com serenidadee altivez.

Ninguém se pode considerarirretocável enquanto no processo daevolução.

Mesmo aquele que segue reta-mente o caminho do bem está su-jeito a alternância de conduta, ten-do em vista os desafios que se apre-sentam e o estado emocional domomento.

Há períodos em que o bem-es-tar a tudo enfrenta com alegria enaturalidade, enquanto que, nou-tras ocasiões, os mesmos incidentesproduzem distúrbios e reações im-previsíveis.

Todos podem errar, e isso acon-tece amiúde, tendo o dever de per-doar-se, não permanecendo no equí-voco, ao tempo em que se esforcempara reparar o mal que fizeram.

Muitos males são ao próprioindivíduo feitos, produzindo re-morso, vergonha, ressentimento,sem que haja coragem para revivê--los e liberar-se dos seus efeitos da-nosos.

Uma reflexão em torno da hu-manidade de que cada qual é pos-suidor permitir-lhe-á entender que

existem razões que o levam a reagir,quando deveria agir, a revidar, quan-do seria melhor desculpar, a fazero mal, quando lhe cumpriria fazer obem...

A terapia moral pelo autoper-dão impõe-se como indispensávelpara a recuperação do equilíbrioemocional e o respeito por si mes-mo.

Torna-se essencial, portanto,uma reavaliação da ocorrência, numexame sincero e honesto em torno

do acontecimento, diluindo-o ra-cionalmente e predispondo-se adar-se uma nova oportunidade, deforma que supere a culpa e man-tenha-se em estado de paz interior.

O autoperdão é essencial pa-ra uma existência emocional tran-qüila.

Todos têm o dever de perdoar--se, buscando não reincidir no mes-mo compromisso negativo, desa-marrando-se dos cipós constringen-tes do remorso.

Seja qual for a gravidade do atoinfeliz, é possível repará-lo quandose está disposto a fazê-lo, recobran-do o bom humor e a alegria deviver.

...

Em face do autoperdão, da ne-cessidade de paz interior inadiável,surge o desafio do perdão ao próxi-mo, àquele que se tem transforma-do em algoz, em adversário contí-nuo da paz.

Uma postura psicológica ajudade maneira eficaz e rápida o proces-so do perdão, que consiste na aná-lise do ato, tendo em vista que ooutro, o perseguidor, está enfermo,que ele é infeliz, que a sua peçonhacaracteriza-lhe o estado de inferio-ridade.

Mediante este enfoque surgeum sentimento de compaixão quese desenvolve, diminuindo a reaçãoemocional da revolta ou do ódio,ou da necessidade de revide, des-cendo ao mesmo nível em que elese encontra.

Perdão e autoperdão

Seja qual for a

gravidade do ato

infeliz, é possível

repará-lo quando se

está disposto a

fazê-lo

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Reformador/Julho 2005 9247

O célebre cientista norte-ame-ricano Booker T. Washington, quesofreu perseguições inomináveis pe-lo fato de ser negro, e que muitoofereceu à cultura e à Agriculturado seu país, asseverou com nobre-za: Não permita que alguém o re-baixe tanto a ponto de você vir aodiá-lo.

Desejava dizer que ninguémdeve aceitar a ojeriza de outrem, oseu ódio e o seu desdém a ponto desintonizar na mesma faixa de infe-rioridade.

Permanecer acima da ofensa,não deixar-se atingir pela agressãomoral constituem o antídoto para oódio de fácil irrupção.

Sem dúvida, existem os invejo-sos, que se comprazem em denegriraquele a quem consideram rival,por não poderem ultrapassá-lo; tam-bém enxameiam os odientos, quenão se permitem acompanhar a as-censão do próximo, optando porcriar-lhes todos os embaraços pos-síveis; são numerosos os poltrõesque detestam os lidadores, porquepensam que os colocam em postu-ra inferior e se movimentam paradificultar-lhes a marcha ascensional;são incontáveis aqueles que perde-ram o respeito por si mesmos eauto-realizam-se agredindo os lida-dores do dever e da ordem, a fim denivelá-los em sua faixa moral infe-rior...

Deixa que a compaixão tomeos teus sentimentos e envolve-os nalã da misericórdia, quanto gostariasque assim fizessem contigo, casoainda te detivesses na situação emque eles estagiam.

Perceberás que um sentimen-to de compreensão, embora nãode conivência com o seu erro, to-mará conta de ti, impulsionando-

-te a seguir adiante, sem que te per-turbes.

Sob o acicate desses infelizes,aos quais tens o dever de compreen-der e de perdoar, porque não sabemo que fazem, ignorando que a simesmos se prejudicam, seguirásconfiante e invencível no rumo damontanha do progresso.

Ninguém escapa, na Terra, aosprocessos de sofrimento infligido poroutrem, em face do estágio espiritualem que se vive no Planeta e da popu-lação que o habita ainda ser consti-tuída por Espíritos em fases iniciaisde crescimento intelecto-moral.

Não te detenhas, porque nãoencontres compreensão, nem por-que os teus passos tenham que en-frentar armadilhas e abismos quesaberás vencer, caso não te permitascompartilhar das mesmas atitudesdos maus.

Chegarás ao termo da jornadavitoriosamente, e isso é o que im-porta.

O eminente sábio da Grécia,Sólon, costumava dizer que nadapior do que o castigo do tempo,referindo-se às ocorrências inespe-radas e inevitáveis da sucessão dosdias. Nunca se sabe o que irá acon-tecer logo mais e como se agirá.

Dessa forma, faze sempre todoo bem, ajuda-te com a compaixãoe o amor, alçando-te a paisagensmais nobres do que aquelas por on-de deambulas por enquanto.

...

Perdoa-te, portanto, perdoan-do, também, ao teu próximo, sejaqual for o crime que haja cometidocontra ti.

O problema será sempre dequem erra, jamais da vítima, que sedepura e se enobrece.

Pilatos e Jesus defrontaram-seem níveis morais diferentes.

A astúcia e a soberba num, asua glória mentirosa e a sua fatuida-de desmedida.

A humildade real, a grandezamoral e a sabedoria profunda nooutro, que era superior ao biltre re-presentante do poder terreno deCésar.

Covarde e pusilânime, Pilatosnão lhe viu culpa, mas não o libe-rou, porque estava embriagado deilusão sensorial, lavando as mãos,em torno da Sua vida, porém, nãose liberando da responsabilidade naconsciência.

Estóico e consciente Jesus acei-tou a imposição arbitrária e infame,deixando-se erguer numa cruz demadeira tosca, a fim de perdoar atodos e amá-los uma vez mais, con-vidando-os à felicidade.

Perdoa, pois, e autoperdoa-te!

Joanna de Ângelis

(Página psicografada pelo médium Dival-do P. Franco, na sessão da noite de 4de janeiro de 2005, no Centro Espíri-ta Caminho da Redenção, em Salvador,Bahia.)

O problema será

sempre de quem

erra, jamais da

vítima, que se

depura e se

enobrece

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10 Reformador/Julho 2005248

As primeiras peregrinações doCristo e de seus discípulos,em torno do lago, haviam al-

cançado inolvidáveis triunfos. Eramdoentes atribulados que agrade-ciam o alívio buscado ansiosamen-te; trabalhadores humildes que seenchiam de santas consolações an-te as promessas divinas da Boa Nova.

Aquelas atividades, entretan-to, começaram a despertar a reaçãodos judeus rigoristas, que viam emJesus um perigoso revolucionário.O amor que o profeta nazarenopregava vinha quebrar antigos prin-cípios da lei judaica. Os senhores daterra observavam cuidadosamenteas palestras dos escravos, que per-mutavam imenso júbilo, provenien-te das esperanças num novo reinoque não chegavam a compreender.Os mais egoístas pretendiam ver noprofeta generoso um conspiradorvulgar, que desejava levantar as iraspopulares contra a dominação deHerodes; outros presumiam na suafigura um feiticeiro incomum, queera preciso evitar.

Foi assim que a viagem doMestre a Nazaré redundou numaexcursão de grandes dificuldades,provocando de sua parte as obser-vações quase amargas que se encon-tram no Evangelho, com respeitoao berço daqueles que o deveriamguardar no santuário do coração.

Não foram poucos os adversáriosde suas idéias renovadoras que oprecederam na cidade minúscula,buscando neutralizar-lhe a ação pormeio de falsas notícias e desmora-lizá-lo, argumentando com infor-mações mal alinhavadas de algunsnazarenos.

Jesus sentiu de perto a delica-deza da situação que se lhe criaracom a primeira investida dos inimi-gos gratuitos de sua doutrina; mas,aproveitou todas as oportunidadespara as melhores ilações na esferado ensinamento.

No entanto, o mesmo nãoaconteceu a seus discípulos. Filipe eSimão Pedro chegaram a questionarseriamente com alguns senhores daregião, trocando palavras ásperas,em torno das edificações do Mes-sias. As gargalhadas irônicas, as apre-ciações menos dignas lhes acendiamno ânimo propósitos impulsivos dedefesas apaixonadas. Não faltavamos que viam no Senhor um servoativo do espírito do mal, um inimi-go de Moisés, um assecla de prínci-pes desconhecidos, ou de traidoresao poder político de Ântipas. Tama-nhas foram as discussões em Naza-ré, que os seus reflexos nocivos sefaziam sentir fortemente sobre to-da a comunidade dos discípulos.Pedro e André advogavam a causado Mestre com expressões incisivase sinceras. Tiago aborrecia-se com aanálise dos companheiros. Levi pro-testava, expressando o desejo de ins-tituir debates públicos, de maneiraa evidenciar-se a superioridade dos

ensinos do Messias, em confrontocom os velhos textos.

Jesus compreendeu os aconte-cimentos e, calmamente, ordenou aretirada, afastando-se da cidade comtranqüilo sorriso.

Não obstante a determinação eapesar do regresso a Cafarnaum, amaioria dos apóstolos prosseguiuem discussão, estranhando que oMestre nada fizesse, reagindo con-tra as envenenadas insinuações aseu respeito.

...

Daí a alguns dias, obedecendoàs circunstâncias ocorrentes naque-la situação, Pedro e Filipe procura-ram avistar-se com o Senhor, ansio-sos pela claridade dos seus ensinos.

– Mestre, chamaram-vos servode Satanás e reagimos prontamen-te! – dizia Pedro, com sinceridadeingênua.

– Observávamos que por vósmesmo nunca oporíeis a contradita– ajuntava Filipe, convicto de haverprestado excelente serviço ao Mes-tre bem-amado – e por isso revida-mos aos ataques com a maior forçade nossas expressões.

Não obstante o calor daquelasafirmativas, Jesus meditava comuma doce placidez no olhar profun-do, enquanto os interlocutores ocontemplavam, ansiando pela suapalavra de franqueza e de amor.

Afinal, saindo de suas reflexõessilenciosas, o Mestre interrogou:

– Acaso poderemos colher uvasnos espinheiros? De modo algum

PRESENÇA DE CHICO XAVIER

O Perdão

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me empenharia em Nazaré numacontradita estéril aos meus oposi-tores. Contudo, procurei ensinarque a melhor réplica é sempre a donosso próprio trabalho, do esforçoútil que nos seja possível. Nesse par-ticular, não deixei de operar na mi-nha esfera de ação, de modo a pro-duzir resultados a nossa excursãoà cidade vizinha, tornando-a pro-veitosa, sem desdenhar as palavrasconstrutivas no instante oportuno.De que serviriam as longas discus-sões públicas, inçadas de doestos ezombarias? Ao termo de todas elas,teríamos apenas menores probabi-lidades para o triunfo glorioso doamor e maiores motivos para a se-paratividade e odiosas dissensões.Só devemos dizer aquilo que o co-ração pode testificar mediante atossinceros, porque, de outra forma, asafirmações são simples ruído sono-ro de uma caixa vazia.

– Mestre – atalhou Filipe, qua-se com mágoa –, a verdade é que amaioria de quantos compareceramàs pregações de Nazaré falava malde vós!

– Mas, não será vaidade exigir-mos que toda gente faça de nossapersonalidade elevado conceito? –interrogou Jesus com energia e se-renidade. – Nas ilusões que as cria-turas da Terra inventaram para asua própria vida, nem sempre cons-titui bom atestado da nossa condu-ta o falarem todos bem de nós, in-distintamente. Agradar a todos émarchar pelo caminho largo, ondeestão as mentiras da convenção.Servir a Deus é tarefa que deve es-tar acima de tudo e, por vezes, nes-se serviço divino, é natural que de-sagrademos aos mesquinhos interes-ses humanos. Filipe, sabes de algumemissário de Deus que fosse bem

apreciado no seu tempo? Todos osportadores da verdade do céu sãoincompreendidos de seus contem-porâneos. Portanto, é indispensávelconsideremos que o conceito justoé respeitável, mas, antes dele, neces-sitamos obter a aprovação legítimada consciência, dentro de nossalealdade para com Deus.

– Mestre – obtemperou SimãoPedro, a quem as explicações da ho-ra calavam profundamente –, nosacontecimentos mais fortes da vida,não deveremos, então, utilizar aspalavras enérgicas e justas?

– Em toda circunstância, con-vém naturalmente que se diga o ne-cessário, porém, é também impres-cindível que não se perca tempo.

Deixando transparecer que aselucidações não lhe satisfaziam ple-namente, perguntou Filipe:

– Senhor, vossos esclarecimen-tos são indiscutíveis; entretanto,preciso acrescentar que alguns doscompanheiros se revelaram insu-portáveis nessa viagem a Nazaré:uns me acusaram de brigão e desor-deiro; outros, de mau entendedorde vossos ensinamentos. Se os pró-prios irmãos da comunidade apre-sentam essas falhas, como há de sero futuro do Evangelho?

O Mestre refletiu um momen-to e retrucou:

– Estas são perguntas que cadadiscípulo deve fazer a si mesmo.Mas, com respeito à comunidade,Filipe, pelo que me compete escla-recer, cumpre-me perguntar-te se jáedificaste o reino de Deus no ínti-mo do teu espírito.

– É verdade que ainda não –respondeu, hesitante, o apóstolo.

– De dentro dessa realidade,podes observar que, se o nosso co-légio fosse constituído de irmãos

perfeitos, teria deixado de ser irre-preensível pela adesão de um ami-go que ainda não houvesse conquis-tado a divina edificação.

Ambos os discípulos compre-enderam e se puseram a meditar,enquanto o Cristo continuava:

– O que é indispensável é nun-ca perdermos de vista o nosso pró-prio trabalho, sabendo perdoar comverdadeira espontaneidade de cora-ção. Se nos labores da vida um com-panheiro nos parece insuportável, épossível que também algumas vezessejamos considerados assim. Temosque perdoar aos adversários, traba-lhar pelo bem dos nossos inimigos,auxiliar os que zombam da nossa fé.

Nesse ponto de suas afirmati-vas, Pedro atalhou-o, dizendo:

– Mas, para perdoar não deve-remos aguardar que o inimigo se ar-rependa? E que fazer, na hipótese deo malfeitor assumir a atitude doslobos sob a pele da ovelha?

– Pedro, o perdão não exclui anecessidade da vigilância, como oamor não prescinde da verdade. Apaz é um patrimônio que cada co-ração está obrigado a defender, pa-ra bem trabalhar no serviço divinoque lhe foi confiado. Se o nosso ir-mão se arrepende e procura o nos-so auxílio fraterno, amparemo-locom as energias que possamos des-pender; mas, em nenhuma circuns-tância cogites de saber se o teu ir-mão está arrependido. Esquece omal e trabalha pelo bem. Quandoensinei que cada homem deve con-ciliar-se depressa com o adversário,busquei salientar que ninguém po-de ir a Deus com um sentimentode odiosidade no coração. Não po-deremos saber se o nosso adversárioestá disposto à conciliação; todavia,podemos garantir que nada se fará

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sem a nossa boa vontade e plenoesquecimento dos males recebidos.Se o irmão infeliz se arrepender, es-tejamos sempre dispostos a am-pará-lo e, a todo momento, preci-samos e devemos olvidar o mal.

Foi quando, então, fez SimãoPedro a sua célebre pergunta:

– “Senhor, quantas vezes peca-rá meu irmão contra mim, que lhehei de perdoar? Será até sete vezes?”

Jesus respondeu-lhe, calma-mente:

– Não te digo que até sete ve-zes, mas até setenta vezes sete.

...

Daí por diante, o Mestre sem-pre aproveitou as menores oportu-nidades para ensinar a necessida-de do perdão recíproco, entre oshomens, na obra sublime da reden-ção.

Acusado de feiticeiro, de servode Satanás, de conspirador, Jesusdemonstrou, em todas as ocasiões,o máximo de boa vontade paracom os espíritos mais rasteiros deseu tempo. Sem desprezar a boa pa-lavra, no instante oportuno, traba-lhou a todas as horas pela vitória doamor, com o mais alto idealismoconstrutivo. E no dia inesquecíveldo Calvário, em frente dos seusperseguidores e verdugos, revelandoaos homens ser indispensável aimediata conciliação entre o espíri-to e a harmonia da vida, foram es-tas as suas últimas palavras – “Pai,perdoa-lhes, porque não sabem oque fazem!...”

Humberto de Campos

Fonte: XAVIER, Francisco C. Boa Nova.33. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2005,cap. 10, p. 68-73.

Renovar significa refazer, tor-nar novo, mudar para me-lhor, inovar, reinventar. Em

função disso, “renovar” significa re-ver conceitos, atitudes, comporta-mentos, posturas e ações com quejá estamos acostumados e com asquais, muitas vezes, não estamosdispostos a “negociar” uma mu-dança, se não total pelo menos par-cial. Isso, raciocinando num pontode vista material da existência.

A coisa se complica de fatoquando essa renovação visa mexernos nossos valores morais. Aí, o“sacrifício” será muito maior. Poismuitas vezes nos leva a uma apa-rente “perda” de valores que tí-nhamos como verdades e dos quaisaté mesmo nos nutríamos. Signifi-ca, na maioria dos casos, uma mu-dança tão profunda, que até nósmesmos nos estranhamos o quantodiferentes ficamos.

Logo, essa perda aparente doinício se transforma em ganho deuma vida melhor, mais equilibrada,objetiva e consistente. Apoiada emvalores reais, que não se modificamcom as nuanças do tempo e das cir-cunstâncias.

Quando essa renovação tempor base uma religião com origemnos ensinos de Jesus, e sua aplica-bilidade passa pela prática do Evan-gelho na sua maior pureza, já nãosão mais capazes de perturbar a

tranqüilidade do ser como antes,sejam quais forem. Pois a sua esta-bilidade moral está intimamenteligada ao conhecimento da vida edo que Jesus espera de nós.

Até o sofrer ganha nova formadentro de uma resignação, não co-modista, mas compromissada comas Leis Naturais de causa e efeito– ação e reação –, mostrando quenada passa impune à justiça divina.

A renovação, quando efetivadade fato, torna-se irreversível, dandouma tranqüilidade definitiva na-quele que a possui. E como Paulode Tarso, aquele que se renovou,colocando Jesus dentro do seu co-ração, poderá finalmente dizer: “Jánão sou eu quem vive, mas Cristovive em mim.” (Gálatas, 2:20)

Como conseqüência natural, es-sa renovação leva o ser a tornar-seum homem de bem, que cumpre aLei de Justiça, de Amor e de Cari-dade na sua maior pureza, de acordocom a questão 918 de O Livro dosEspíritos e com o capítulo XVII, deO Evangelho segundo o Espiritisimo,que trata de “O homem de bem”.

Quando isso estiver acontecen-do, na maior parte da humanidadeterrena, e o mal for tão insignificanteno contexto social, que se torne des-prezível nas estatísticas comporta-mentais do homem, aí sim, teremoso nosso planeta Terra transformadopela prática do amor ao próximo erespeito às Leis de Deus.

Renovar o homem para transformar a Terra

Robinson Soares Pereira

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P. – A Associação Brasileirade Divulgadores do Espiritismo(ABRADE), é resultante de altera-ções na designação e nos objetivosda antiga ABRAJEE?

Gezsler – Costumo comparara caminhada do Movimento Espí-rita a uma escada, onde cada degrausó existe devido à construção dosanteriores. A Associação Brasileirade Jornalistas e Escritores Espíritas(ABRAJEE) foi um degrau no sur-gimento da Associação Brasileirade Divulgadores do Espiritismo(ABRADE), que nasceu de formamais ampla nos seus objetivos esta-tutários e conseqüentemente no seuformato de atuação. A nossa missãoé “promover e aprimorar a comuni-cação social espírita, fazendo inte-ragir as idéias espíritas na socieda-de de forma ética, fraterna e par-ceira, contribuindo para a trans-formação moral da Humanidade,a promoção da felicidade do serhumano e o equilíbrio da Nature-za”.

A ABRADE atua sintonizadacom os seguintes princípios e valo-res: não discriminação de qualquerespécie; respeito e independênciainstitucional; priorização dos pro-cessos democráticos e participati-

vos; intercâmbio de forma ampla ealteritária com a sociedade.

De forma macro, as nossasatuais prioridades na área da comu-nicação social espírita estão no apri-moramento das políticas, metodo-logias e tecnologias de comunica-ção, na cultura da alteridade e nainserção ética e parceira na socieda-de como um todo.

P. – Quais as principais atuaçõesda ABRADE?

Gezsler – A ABRADE em con-junto com as Associações de Divul-gadores do Espiritismo (ADEs), quesão de âmbito estadual ou munici-pal, vem desenvolvendo diversasatividades inseridas no seu plano es-tratégico, onde podemos exemplifi-car algumas delas: SOS ABRADE –

tem como objetivo interagir com osresponsáveis pelos programas espí-ritas na televisão, na rádio, na mí-dia impressa e na Internet, tanto noBrasil, como em outros países, vi-sando apoiar tecnicamente, realizarcursos específicos e trocar experiên-cias. Estamos trabalhando na cons-trução e no aprimoramento de umaPolítica de Comunicação SocialEspírita (PCSE). Na atual fase deconstrução coletiva, destacamos asseguintes diretrizes: Aceitar as par-ticipações para o debate, mesmoque elas sejam divergentes da maio-ria; Valorizar o diálogo, o intercâm-bio e a liberdade de pensamento;Disseminar a idéia da fraternidadecomo relação de alteridade; Valori-zar a relação com outras identida-des culturais; Priorizar as pessoasacima das instituições; Estabelecera ética da fraternidade como crité-rio de união interinstitucional; In-serir o sujeito não espírita, em regi-me de diálogo, no debate espírita;Gerar benefícios sociais pela parti-cipação em parcerias nas campa-nhas públicas; Superar quaisquerbarreiras discriminatórias e com-preender as diferenças; Reconhecera legitimidade do outro e de sua au-tonomia. >

ENTREVISTA: GEZSLER CARLOS WEST

A Divulgação por um mundo melhorGezsler Carlos West, Presidente da Associação Brasileira de Divulgadores do

Espiritismo (ABRADE), esclarece sobre as atividades dessa Entidade Especializada

de Âmbito Nacional, e fala sobre a divulgação do Espiritismo

Gezsler Carlos West

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Atualmente possuímos quator-ze listas na Internet. Cada uma temum objetivo específico, mas todassintonizadas com a missão daABRADE. Temos listas direcionadaspara o aprimoramento da comuni-cação (rádio, tevê, mídia impressa,Internet, palestras), parcerias, divul-gação de eventos, arte, juventude,notícias na mídia, entre outras. Te-mos também uma lista específicapara o curso a distância “como falarem público”, que neste momentoestá atuando na terceira turma. Sãocentenas de pessoas do Brasil e deoutros países participando das lis-tas.

O Movimento Alteridade con-siste em uma proposta de entendi-mento entre as pessoas, com baseno respeito recíproco e na maturi-dade de saber ouvir e relacionar-sedentro da diversidade de opiniões.Este movimento não tem donos, éplural e aberto, contando com to-das as pessoas que acreditam que odiálogo na diversidade é uma dasbases da união. Diversas outras ati-vidades são realizadas: boletim vir-tual, selo ABRADE, ambiência so-bre arte e comunicação, ambiênciapara os jovens, parcerias institucio-nais, participação em eventos, entreoutras.

P. – Esse trabalho envolve osprofissionais espíritas da área?

Gezsler – Sem dúvida, envolveos profissionais espíritas da área co-mo também pessoas não espíritasque queiram colaborar com as nos-sas atividades. A ABRADE é recepti-va nas suas diversas formas de atua-ção para todos os profissionais daárea de comunicação, que com cer-teza nos ajudarão na formulação eexecução de diversos projetos comfoco na comunicação social espírita.

Já dizia o escritor alemãoJohann Wolfgang Goethe que nãoexiste nada mais triste do que umgrupo de pessoas bem-intenciona-das, mas sem a necessária capacita-ção para fazer o que deve ser feito.Todos são importantes, tanto osprofissionais da área quanto os quea ela se dedicam das mais variadasformas. Precisamos de todos os ho-mens de bem que queiram colabo-rar nessa construção, sem nenhumaexceção. Queremos uma equipe am-pla e com sinergia.

O Movimento Espírita nãotem dono. As instituições devem serfacilitadoras e impulsionadoras dealguns processos, mas as pessoas se-rão sempre mais importantes doque as mesmas. Este é um dos prin-cípios que norteia a caminhada daABRADE.

P. – Há alguma interface coma mídia em geral (não espírita)?

Gezsler – Sim, inclusive o focode uma das nossas listas na Interneté debater assuntos de nosso interes-se abordados na mídia ou que me-reçam ir para a mesma. Visamoscom isto uma interação ágil emadura. A ABRADE já se posicio-nou formalmente para a mídia epara a sociedade sobre diversos as-suntos, onde destacamos: guerra noIraque, fome zero, reportagens pu-blicadas sobre médiuns espíritas,campanha da fraternidade, entreoutros. Se um assunto nos interes-sa, a ABRADE se faz presente deforma firme, nítida e pública, poisconsideramos o silêncio da omissãoum grande mal. No aspecto organi-zacional possuímos áreas específicasque atuam voltadas para a socieda-de como um todo. Esta cultura deabertura e inserção no dia-a-dia so-cial já está disseminada no âmago

da equipe abradeana. Somos favo-ráveis a um Espiritismo para todos,filhos e filhas do povo, relembran-do o nosso Léon Denis.

P. – Como contribuir com adifusão do pensamento espírita namídia sobre temas polêmicos comoo aborto?

Gezsler – Na Revista Espíritado ano de 1863, Allan Kardec jános falava dos períodos do Espiritis-mo, onde com muita propriedadecolocou o da renovação ou regene-ração social como o último. Sou fa-vorável a que nós espíritas parti-cipemos de forma ativa nos aconte-cimentos e decisões que afetem asociedade, seja o aborto, a corrup-ção, o desemprego, o efeito estufa,a violência, as drogas, entre outros.A nossa veia de cidadania espíritajamais deverá ser bloqueada ouminimizada. Relembro a afirmaçãodo escritor pernambucano Fernan-do Clímaco no seu livro O Cantodas Pedras: há silêncios e silêncios...

Especificamente sobre o abor-to, devemos utilizar todos os meioséticos possíveis para conscientizaçãoe diálogo com a sociedade, inclusi-ve com quem pensa diferente denós. Não temos o direito de imporas nossas idéias, mas temos a obri-gação de apresentá-las de forma lú-cida.

Todos os espaços na mídia edemais eventos devem ser aprovei-tados, bem como enviar artigos etextos sobre o tema para os órgãosde comunicação e demais institui-ções da sociedade civil organizada.Temos que ser determinados, mascom o cuidado de não transformar-mos este debate no grupo do bemcontra o do mal. Já participei deeventos com pessoas que pensavamdiferente de mim sobre o aborto,

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no entanto não as vi como pessoasmás. Elas raciocinavam dentro deum outro contexto e com diferen-tes convicções filosóficas.

Como um exemplo de deter-minação sobre o tema, cito o pro-fessor Marcondes Meireles, que éespírita e coordena a AJA – Associa-ção Jamais Abortar – Somos Vida–, na cidade do Recife (PE). Elepossui uma deformação óssea gené-tica, que atualmente o deixa apri-sionado em uma cadeira de rodas ecom sérias limitações físicas, acar-retando-lhe muitas privações. Noentanto, é um incansável trabalha-dor a favor da vida.

P. – Qual a sua opinião sobreo atual estágio de divulgação daDoutrina Espírita em nosso país?

Gezsler – Olhando para o pas-sado é notório o crescimento da di-vulgação do Espiritismo em nossopaís. Relembro que quando eu metornei espírita não conhecia ne-nhum amigo ou mesmo colega quefosse espírita. Durante o curso uni-versitário era uma dificuldade en-contrar alguém espírita ou mesmoque tivesse um conhecimento aomenos razoável sobre o assunto.

Admiro os corajosos empreen-dedores do passado, bem como nãopodemos negar o esforço pessoal einstitucional que muitos fazem nopresente no sentido de tornar opensamento espírita mais conheci-do. O crescimento do número deinstituições espíritas, de eventos,programas na rádio, na televisão,entre outros, são indicadores con-cretos deste esforço.

Todavia, ao lado da alegria dosavanços, temos que ter sempre os“pés no chão” para uma análise crí-tica construtiva da nossa caminha-da, a fim de que possamos corrigir

eventuais equívocos do presente eao mesmo tempo termos visão defuturo. Vejo a nossa inserção noschamados meios de comunicaçãode maior amplitude, onde destaca-mos a televisão, o rádio, a mídiaimpressa e a Internet, ainda aquémdas nossas potencialidades. Esta-mos tímidos nesta área, onde os es-paços hoje existentes são mais fru-tos de esforços heróicos e pontuais,do que de uma participação maisostensiva do meio espírita comoum todo. Façamos uma rápida aná-lise sobre um estudo que chegou aomeu conhecimento: se cada insti-tuição espírita, de um determinadolocal analisado, colaborasse comquatro reais mensais teríamos umprograma espírita na rádio com umpúblico ouvinte estimado em cin-qüenta mil pessoas. O programaainda não existe... Momento de re-flexão!

Destaco os seguintes pontospara análises e debates: Agregaçãodas pessoas e das instituições nosprojetos de comunicação social es-pírita; Aprimoramento do processode captação de recursos financeiros;Reavaliação da nossa linguagem nodiálogo com a sociedade; Amplia-ção de parcerias institucionais nasociedade em causas de interessescomuns.

P. – Que sugestão daria paraas instituições espíritas potenciali-zarem a difusão do Espiritismo?

Gezsler – Esta é uma questãoampla e que mereceria mais deta-lhamentos. No entanto, cito algunspontos que considero importantespara uma maior efetividade dasnossas ações: Interagir com outrasinstituições, evitando o isolamento,que enfraquece e desatualiza; Prio-rizar a capacitação na atividade,

tanto na metodologia como na tec-nologia; Respeitar e ouvir as diver-sas vertentes de opiniões e com elasdialogar. Temos que ter a humilda-de para saber que também temos aaprender com o outro. A nossa con-vicção não se pode transformar emarrogância; Dialogar, amadurecer ereavaliar no meio espírita os atuaisparadigmas sobre a captação de re-cursos financeiros. Esta questão temsido um sério entrave no avanço deprojetos.

Na ABRADE utilizamos um le-ma do já desencarnado japonês eespecialista em gestão, de nomeIshikawa: É preferível fazer aproxi-madamente hoje do que exatamen-te nunca. Dentro deste enfoque, es-tamos sempre procurando o “gol”,sem perdermos energia e tempocom “toques” desnecessários no meiode campo. Temos que ter a qualida-de do conteúdo e a ética na atua-ção, mas precisamos agilizar. Nestemomento de transição planetária,devemos interagir no dia-a-dia so-cial com o que temos de melhor e,junto com as pessoas de outras ver-tentes do pensar, mas bem-inten-cionadas na busca da paz e da fra-ternidade, unir esforços por ummundo melhor. Relembro a seguin-te passagem em O Livro dos Espí-ritos (FEB – 76a edição) – Pergun-ta 932: “Por que, no mundo, tãoamiúde, a influência dos maus so-brepuja a dos bons?” “– Por fraque-za destes. Os maus são intrigantese audaciosos, os bons são tímidos.Quando estes o quiserem, prepon-derarão.”

ABRADE – página eletrônica:www.abrade.com.br; endereço eletrônico:abrade@ abrade.com.br

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Mateus, 22:1-14

Estabelecendo uma de suas cos-tumeiras comparações, diz Je-sus que o Reino dos Céus as-

semelha-se a um rei que celebrou ocasamento de seu filho.

Para as festividades, enviou ser-vos com convites a muita gente.Mas os convidados não se dispuse-ram a comparecer.

Outros servos receberam a mes-ma missão, recomendando-lhes orei:

– Dizei aos convidados que jápreparei o banquete. Bois e cevadosforam mortos, e tudo está pronto.Que venham ao casamento.

Nova recusa. Alguns convida-dos foram para o seu campo, outrospara os seus negócios.

Outros fizeram pior: Agredi-ram os servos e os mataram.

Indignado, o rei enviou seuexército, que executou os homicidase destruiu a cidade.

Disse, então, aos servos:

– O banquete está pronto, masos convidados não eram dignos. Ideàs encruzilhadas e convidai para asbodas a todos os que encontrardes.

Assim fizeram os servos, quereuniram todos os que encontra-ram, maus e bons.

O salão das festividades ficourepleto.

Ao chegar, o rei percebeu apresença de um homem que nãoestava trajado com as vestes para asnúpcias¸ isto é, não estava vestidode acordo com a solenidade.

E logo o inquiriu:

– Amigo, como entraste aquisem veste nupcial?

O convidado, constrangido,não sabia o que dizer.

Ordenou o rei aos servos:

– Amarrai-lhe os pés e as mãose lançai-o fora, nas trevas exte-riores, onde haverá choro e rangerde dentes.

...

Estranha esta representação deDeus como o rei que faz o convitepara as bodas.

Está mais para o Jeová mo-saico, que costumava vingar-se atéa quarta geração dos que o abor-reciam e mandava os judeus pas-sarem a fio de espada, em terrainimiga, tudo o que tivesse fôlego,envolvendo homens e mulheres,velhos e crianças, sãos e doentes, ri-cos e pobres, animais, aves, peixes…

Generoso com os que corres-pondiam às suas expectativas, mascruel com os que se negavam aatendê-lo.

Diferente do pai de amor ejustiça anunciado por Jesus.

Há outros aspectos indigestos:

Ninguém se interessou emcomparecer ao casamento. Éestranho. Afinal, um convitereal soa sempre como irrecu-sável convocação, e haveria lau-to banquete, fartos comes ebebes...

Diante de novo convite, o po-vo permaneceu alheio. Cadaqual foi cuidar de seus interes-ses. Pior: assassinaram os emis-sários.

Por castigo o rei determinouque fosse destruída a cidade,exterminando seus moradores,inclusive os inocentes.

O convite foi estendido a todosos que fossem encontrados nasestradas, envolvendo bons emaus, sãos e doentes, e estro-piados de todos os matizes, queobviamente compareceram semtrajes adequados, que não pos-suíam. O rei não levou isso emconsideração, logo mandandocastigar o primeiro que surgiuà sua frente.

Difícil conceber que seja exata-mente assim que Jesus contou essaparábola.

Imagino que, dentro do espíri-to da época, Mateus, ou quem es-creveu em seu nome, agiu como osapateiro que foi além dos sapatos,

Sem gravata não podeRichard Simonetti

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conforme a expressão latina. Ex-trapolou o conteúdo da história,colocando nos lábios de Jesus o queele não diria.

É preciso, aqui, como em ou-tras passagens, separar o joio do tri-go e definir o que o Mestre real-mente ensinou.

Em princípio, podemos con-siderar que os antigos usavam aimagem do casamento para sim-bolizar os pactos de Deus com oshomens, favorecendo-os com suasbenesses, desde que observassemsua vontade.

Na parábola os judeus eram osprimeiros convidados para o ma-trimônio, depositários da novaaliança, envolvendo os ensinamen-tos cristãos.

As lições de Jesus, um aper-feiçoamento da revelação mosaica,deveriam estar inseridas no Judaís-mo, em desdobramento natural ecumulativo, como acontece emqualquer ramo de conhecimento.

Não há, por exemplo, váriasastronomias. O que temos é o acres-centar de conhecimentos, desde asidéias primitivas em que as estrelas,o Sol e a Lua eram situados pormeros enfeites celestes.

Ocorre que os judeus cristali-zaram-se em torno de conceitosdogmáticos e rejeitaram a reno-vação proposta por Jesus que, emprincípio, falou nas sinagogas e notemplo.

Foi expulso deles.Depois, foi perseguido e mor-

to, o mesmo acontecendo com seusdiscípulos.

Então, o convite foi estendidoao povo, fora dos círculos religiosos,nas encruzilhadas…

E surgiu o Cristianismo.No século dezenove veio a re-

velação espírita, desdobramento eaperfeiçoamento do Cristianismo.

Repetiu-se o mesmo problema. O Cristianismo, ao longo dos

séculos, cristalizou-se em torno deprincípios dogmáticos, ligou-se aomaterialismo e passou a negar, ve-ementemente, a possibilidade de in-tercâmbio com o Além, paradoxotanto maior quando se recorda queJesus conversava com os Espíritos,o mesmo acontecendo com a pri-mitiva comunidade cristã.

Recusado o convite, os arautosda nova revelação foram tambémpara as encruzilhadas, e o Espiri-tismo situou-se como nova opção,

não como o desdobramento doCristianismo, o que foi lamentável.

...

Os que comparecem ao Cen-tro Espírita são os convidados no-vos.

Como está na parábola, não hádistinção de condição social, raça,cor, posição social, moral, intelec-tual...

Todos podemos desfrutar desuas bênçãos.

O Espiritismo simboliza o ban-quete de luzes a que somos convi-dados.

Sabem do valor da DoutrinaEspírita os que se abeberam de seus

ensinamentos e, principalmente,aqueles que enfrentam dramas pes-soais, envolvendo a morte de umente querido, a doença grave, o de-sastre financeiro, a decepção senti-mental, os desequilíbrios da sensi-bilidade…

Há apenas uma condição: queestejamos convenientemente traja-dos.

Obviamente não se trata daroupa do corpo, mas das vestes es-pirituais, envolvendo nossos senti-mentos e a maneira como noscomportamos em relação à Doutri-na.

Na primeira metade do séculoXX não havia televisão. Automó-veis, poucos, importados. Com-putador, internet, nem na imagi-nação!

A única diversão era o cinema.Lembro-me do ritual para com-

parecer. Obrigatório o uso de paletóe gravata. Mesmo no verão, tem-peratura de quarenta graus em salasde projeção enormes e mal venti-ladas, não eram dispensados. EmBauru, nosso cinema maior, comduas mil poltronas, mantinha umserviço de aluguel de gravatas, paraquebrar o galho.

Hoje há liberdade até exagera-da. Os cinéfilos comparecem à von-tade, não raro cometendo excessos,em trajes sumários.

Sob o ponto de vista espiri-tual, quando comparecemos à ati-vidade religiosa, nos templos, nasigrejas, no Centro Espírita, não po-demos esquecer o essencial: que es-tejamos convenientemente traja-dos, não apenas sob o ponto devista formal.

Que compareçamos engrava-tados, espiritualmente falando, sim-bolizando seriedade de propósitos.

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O Espiritismo

simboliza o

banquete de luzes

a que somos

convidados

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Que não estejamos interessadosapenas em receber os favores da Es-piritualidade, sem nenhum envol-vimento com propósitos de reno-vação.

Diga-se de passagem, não hágravatas para quebrar o galho.

Não dá para sermos bons naatividade religiosa, achando tudomuito bonito, muito edificante e láfora sermos outra pessoa.

É preciso estarmos sempre en-gravatados.

Essa disposição íntima, sim-bolizada pela gravata, é o nossocrachá, marcando a disposição emparticipar do banquete, integran-do-nos no esforço do Bem.

Que as pessoas vejam nossagravata, onde estivermos, identifi-cando nossa condição de discípulosdo Cristo.

Que possam dizer:– É gente boa! Gente do

Cristo!Por outro lado, podemos ava-

liar se estamos trajados convenien-temente, observando os resultadosde nossos contatos com o Espiri-tismo.

Estamos em paz, não obstanteos dissabores e lutas próprios daTerra?

Guardamos a consciência denossos deveres diante do próxi-mo?

Estamos mais disciplinados ecomedidos?

Contemos a língua, exercita-mos o cérebro, damos espaço aocoração?

Movimentamos as mãos no es-forço do Bem?

Ótimo!Se acontece diferente, é bom

dar uma olhada no espelho d’alma.Talvez estejamos sem gravata.

256

Esta é uma história para sercontada em família. Um enre-do que só existe porque um

dia um homem e uma mulher de-cidiram ser pais e tiveram um, doisfilhos, ou quantos a vida lhes pro-porcionou.

E aí os dois decidiram que omais importante para a criançadaseria dar-lhes educação, uma boaescola, bons amigos, excelente for-mação. Para que isso se consolidas-se, seria preciso boas atividades ex-tracurriculares, cuidados adequadoscom a rotina escolar.

E as crianças cresceram. Só queoutros desafios chegaram, e algu-mas conclusões dessa vivência vie-ram acompanhadas de angústia etristeza.

...

Os pais descobriram que estu-do e formação eram, sim, e sãomuito importantes. Mas acabaramcompreendendo que havia algo quedeveria ter vindo primeiro, antes daescola, ou paralelo a ela, mas comforte peso de importância. Era umahistória de vida, uma carga precio-sa a ser carregada na memória afe-tiva dos pequenos.

Aos poucos, foram notandoque as páginas desse produto daconvivência nascia no dia-a-dia davida familiar, no nascimento e for-talecimento dos vínculos entre to-

dos, mesmo que a vida se incum-bisse de, um dia, afastar este ouaquela do lar, por este ou aquelemotivo...

...

Eles não queriam, mas nãoconseguiram evitar um certo desâ-nimo ao perceber que o recado si-lencioso do lar era o de convocá-losà sublime tarefa de transformar osfilhos em pessoas, e não apenas emseres preparados para encarar os de-safios da profissão e da sobrevivên-cia.

Sentiram alívio quando intuí-ram que o que havia sido feito nãose perderia, mas que o essencial erao que lhes teria exigido trabalhodiário, presença viva e participante,comprometimento, entrega e con-fissão diária de amor pleno e abso-luto pelos filhos. Nem sempre elesestavam presentes para dizer ouafirmar isso, num transbordar deamor necessário.

...

Que saudade daqueles tempos!Seria preciso apenas um olhar paraa própria história de vida deles pa-ra perceberem que cada convicção,cada atitude de caráter do homemde agora foi forjada nos pequenosdiálogos com o pai ou a mãe lá nainfância, talhados à sombra dosquintais ou no cantinho da camade dormir, quando um deles vinhae contava histórias de sua própriavida.

Aquelas lembranças tornaram--se hoje paradigmas. A alegria dos

Uma história para

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pais solidificou a esperança dos fi-lhos; a tristeza desta ou daquela ex-periência menos feliz deles estru-turou-se em alerta na consciênciada criança, para que a dor de quemse ama não volte a doer em quemestá crescendo e quer ser feliz.

Eles descobriram que havia tem-po – e sempre o há, para quem nãodesiste nunca de ser feliz – de reu-nir os pequenos (não mais tão pe-quenos assim) e contar-lhes muitas,ou todas as histórias possíveis, desuas vidas...

Notaram que é contando oque eles foram e o que são que osseus vão aos poucos construindosuas próprias identidades pessoais.Não há problema se haverá contes-tações, ou aflorar de mágoas e res-sentimentos. Esta é a hora de pe-dir-se perdão e de relembrar-se oquanto os outros foram e são im-portantes para nós.

Um filho com emprego! Comoé bom ver uma parte de nós bemencaminhada na vida. Só que nemsempre é assim. Eles podem nãoconseguir, e as circunstâncias difí-ceis dos tempos atuais revelam issode forma dura e cruel.

Mas nestes dias de disputa bru-tal por espaço na vida econômica,nem todos tiveram a riqueza de po-der saber quem são os que os amam,como é a família a que pertencem eo mundo que os espera. Isso só seconquista com disponibilidade pa-ra amar e tempo para dizer ao filhoque ele não está sozinho, que podeinvestir no conhecimento de simesmo para se entender melhor e,

por fim, encontrar o espaço que lhecabe ocupar na existência.

...

Esta é uma história que pode-ria terminar com um final feliz... Sóque, neste caso, ela não termina.Não deve terminar. Ela continuaem você, em seus filhos. Prosseguecomo deveriam prosseguir seus en-contros com suas crianças ou filhosjá adultos.

Mesmo que hoje você cheguetarde em casa, abrace-os e reservealguns minutos para lhes falar desua infância. Recoste-se na cama;no chão da sala, reúna-os e fale deseus brinquedos preferidos, dosamigos que marcaram seu afeto,dos joguinhos de que participava,das aventuras que viveu com os co-legas, das lágrimas de saudade ver-

tidas nos primeiros adeuses, dos so-pros de alegria que vieram juntocom as primeiras conquistas.

Conte, fale, dispa-se, entregue--se por inteiro a quem lhe dá ale-grias mas que está meio distante,por esta ou aquela circunstância desua vida pessoal.

Sempre há tempo de começar,e os que nasceram sob nossa res-ponsabilidade sempre vão nos sergratos porque um dia tivemos a dis-ponibilidade de lhes falar de nós,para que eles também começassema construir a própria memória fa-miliar, a fim de dizer aos filhos,quando estes chegarem, que lá atrástiveram pais dispostos a partilharcom eles do verdadeiro tesouro quea traça não corrói – uma história emcomum, guardada dentro de mim,que eu tenho para contar...

257

contarCarlos Abranches

Eu nada peço a DeusPaulo Nunes Batista

Eu nada peço a Deus. Deus sabe tudoe sabe então de tudo o que eu preciso.Nem espero algum Dia de Juízopra ser julgado... Enfim, já não me iludo.

O que dizer a Deus? Humilde mudo,hoje diante de Deus me conscientizode que Ele vive em mim – à Luz me irisoe me ilumino: Ele é meu conteúdo.

É Deus que me dá tudo: Ele é a vidaque vivo e que me vive e em que me agito,nem mesmo pela noite interrompida...

Se me fiz esse corpo de delitona inconsciência desta humana lida,foi Luz que Deus me fez para o Infinito!..

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Em seu livro O Céu e o Inferno,que consideramos vasto celei-ro de comunicações mediúni-

cas, conta-nos Allan Kardec* que agarota Clara Rivier, com 10 anos deidade e filha de uma família decamponeses do Sul da França, sofriade grave enfermidade, da qual nãose vislumbrava a menor possibilida-de de recuperação.

Possuindo pouca instrução, masdemonstrando considerável matu-ridade espiritual, a garota era resig-nada e transmitia muito confortoaos seus familiares. Apesar de suapouca idade, fazia comentários so-bre a felicidade que aguardaria navida espiritual.

Depois de alguns dias de inten-sos sofrimentos, durante os quaissempre orava buscando o confortodos bons Espíritos, enfim desencar-nou em setembro de 1862. Costu-mava dizer que não temia a morte eque, uma vez no mundo dos Espíri-tos, voltaria para visitar a família.Porém, um fato que muito sur-preendeu a todos, principalmente aseus genitores, foi, antes de falecer,dizer-lhes: “Apenas tenho cinco mi-nutos de vida; dêem-me as mãos.” Adespedida foi realmente comovente.

Fato curioso é que, após a de-

sencarnação de Clara, iniciou-seuma série de fenômenos na residên-cia dos Rivier. Segundo Kardec, emsua narrativa, diversos Espíritos ba-tedores provocavam barulho de to-da natureza. Batiam em móveis, sa-cudiam as cortinas, balançavam asroupas, mexiam nas louças etc. Eraum quebra-quebra insuportável.

Incrível, porém, é o fato de oEspírito Clara Rivier tornar-se fre-qüentemente visível à sua irmã maisnova, de apenas 5 anos, que, apósas visões, dizia alegremente: “Masvejam como Clara é bonita!”

Abrimos um parêntese para ex-plicar que empregamos o termo “in-crível” porque, em princípio, segun-do as orientações doutrinárias, umEspírito de nível relativamente ele-vado, como é o caso de Clara Rivier,não se presta à provocação de pertur-bação em nenhum ambiente. Entre-tanto, tudo depende dos fins a quepretendem chegar os Espíritos. Nes-se sentido, Allan Kardec, ao evocar agarota Clara Rivier já desencarnada,perguntou-lhe como se explicaria talperturbação em seu recinto domés-tico, uma vez que ela na vida físicaera dotada de bons sentimentos.

O Espírito, em resposta, disseque não retornou ao seu antigo larsem uma finalidade. E acrescentouque tinha uma missão especial arealizar.

Confirmou que o barulho erarealmente provocado por sua pre-

sença, mas era um aviso. E que, pa-ra a provocação daqueles fenôme-nos assustadores, recebia ajuda deEspíritos. Mas, pacíficos.

Declarou que tudo aconteciapor uma razão muita justa, mas oseu objetivo era despertar em seusfamiliares a crença na imortalidadeda alma, e assim, certamente mui-tas convicções desabrochariam; queseus pais, por serem céticos, teriamde passar pela dita provação.

O Espírito Clara esclareceu queas causas dos seus sofrimentos esta-vam em sua existência anterior. Elaabusou da saúde e da posição de des-taque que desfrutou na sociedade.Era orgulhosa e vaidosa da sua bele-za física. Precisou voltar, pela reen-carnação, para corrigir os abusos, so-frendo, ainda criança, o mal daenfermidade incurável, para apren-der a valorizar o tesouro da saúde,bem como a tornar-se humilde e ca-ridosa para com o seu próximo.

Como vemos, a garota ClaraRivier cumpriu a promessa. O seuretorno foi de grande proveito es-piritual para os familiares. Depoisque todos estavam convictos da suapresença, graças aos fenômenosprovocados pelos Espíritos, a seupedido, deixou sua última mensa-gem, em cujo final fez especial re-comendação: “Queridos pais, esta-rei sempre perto de vós. Adeus, ou,antes, até à vista. Tende resignação,caridade, amor por vossos seme-lhantes, e um dia sereis felizes .”

A história da garota Clara Ri-vier é comovente e expressa a maisviva e substanciosa lição para todos.Pois não devemos esquecer-nos deque somos os andarilhos da evolu-ção e ainda conduzimos, do passa-do, os vírus do orgulho, da vaidadee do egoísmo.

Cumprimento de uma promessa

Severino Barbosa

*KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. 1. ed. es-pecial. Rio de Janeiro: FEB, 2004, Parte 2a,cap. VIII, p. 498-501.

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Lógica da Providência“Depois que fostes iluminados, su-

portastes grande combate de aflições.”

– Paulo. (Hebreus, 10:32.)

Os cultivadores da fé sincera costumam ser indicados, no mundo, à conta de gran-des sofredores.

Há mesmo quem afirme afastar-se deliberadamente dos círculos religiosos, temen-do o contágio de padecimentos espirituais.

Os ímpios, os ignorantes e os fúteis exibem-se, espetacularmente, na vida comum,através de traços bizarros da fantasia exterior; todavia, quando se abeiram das verda-des celestes, antes de adquirirem acesso às alegrias permanentes da espiritualidade su-perior, atravessam grandes túneis de tristeza, abatimento e taciturnidade. O fenôme-no, entretanto, é natural, porquanto haverá sempre ponderação após a loucura eremorso depois do desregramento.

O problema, contudo, abrange mais vasto círculo de esclarecimentos.

A misericórdia que se manifesta na justiça de Deus transcende à compreensãohumana.

O Pai confere aos filhos ignorantes e transviados o direito às experiências mais for-tes somente depois de serem iluminados. Só após aprenderem a ver com o espírito eter-no é que a vida lhes oferece valores diferentes. Nascer-lhes-á nos corações, daí em dian-te, a força indispensável ao triunfo no grande combate das aflições.

Os frívolos e oportunistas, não obstante as aparências, são habitualmente almasfrágeis, quais galhos secos que se quebram ao primeiro golpe da ventania. Os espíritosnobres, que suportam as tormentas do caminho terrestre, sabem disto. Só a luz espi-ritual garante o êxito nas provações.

Ninguém concede a responsabilidade de um barco, cheio de preocupações e pe-rigos, a simples crianças.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso. 1. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005,

cap. 60, p. 133-134.

ESFLORANDO O EVANGELHOEmmanuel

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“Classificamos o medo comodos piores inimigos da criatura,por alojar-se na cidadela da al-ma, atacando as forças maisprofundas.” *

Medo

Segundo a Grande Enciclopé-dia Larousse Cultural, por defini-ção, medo é o sentimento de in-quietação, de apreensão em face deum perigo real ou imaginário.

A palavra medo relaciona-setambém com receio, temor, horror,pavor, pânico.

A propósito, vejamos como seexpressou sobre o medo ThomasHobbes (1588-1679), filósofo in-glês, há algum tempo muito discu-tido nos meios da psicanálise: “(...)o medo é um sentimento que nosinspira a possibilidade real de ser-mos afetados por um mal real, porum mal que conhecemos pela expe-riência.”

Nós, espíritas, bem sabemosque além dos “males reais”, visíveis,tangíveis, existem os também reais,invisíveis, intangíveis, do que nosdá conta a obsessão...

De início, se analisarmos des-de quando o homem tem medo,certamente chegaríamos à idade dapedra lascada, com nossos ances-

trais refugiando-se nos fundos dascavernas, ante os grandes perigosdos raios, dos trovões, dos furacões,dos vulcões, dos terremotos, dosmaremotos, dos eclipses cósmicos,etc.

Tais acontecimentos, hoje bemexplicados, antanho eram tidos co-mo sobrenaturais e determinadospor deuses terríveis, vingativos.Holocaustos, oferendas e promes-sas começaram ali e pelo jeito ain-da não aplacaram a cólera daquelesdeuses...

Vamos elencar algumas espé-cies de medo:

Medos naturais

São aqueles medos com osquais, praticamente, todos nasce-mos: medo do fogo, de grandes ruí-dos, de desequilíbrios, de morte ede mortos, do desconhecido...

OBS: Dizer que todos nascemcom medo da morte ou dos mortosremete, entre os ocidentais, à infân-cia, quando ainda sem despertar detodo a razão, vêem os familiarescom grandes sofrimentos em veló-rios e enterros de parentes ou ami-gos, com isso inculcando-instalan-do no subconsciente infantil queaquilo (a morte) é terrível...

“Medos amigos”

Os chamados “medos amigos”são aqueles ditados pela prudênciae basicamente é por eles que os se-

res vivos mantêm sua integridade,como por exemplo:

– o vegetal: procura a luz e aágua, pelo que, de forma indireta,está evitando a sombra e a seca, re-gime no qual feneceria;

– o animal: foge de um preda-dor ou do combate no qual estejaem desvantagem, e não o faz porcovardia, senão sim para continuarvivendo;

– o homem: num gradienteque vai ao infinito, pois que a inte-ligência abre um leque de infinitashastes de opções, sempre evitará aação de conseqüências prejudiciais;por exemplo: não ultrapassar nacurva, não brincar à beira do preci-pício, não riscar fósforos próximo acombustíveis, etc.

Afirmamos, enfaticamente, queesses não são medos, senão sim, fru-tos da prudência, ditada pelo aben-çoado instinto de conservação, en-gendrado por Deus e que nascecom todas as criaturas.

“Medos inimigos”

São os que causam prejuízos aoser humano, não por alguma ação,mas justamente ao contrário, pelainação, como por exemplo:

– medo de mudanças: é umarquiinimigo de toda a Humanida-de; num ambiente de trabalho oude reuniões, por exemplo, medo demudar de lugar: pessoas, objetos,móveis...

– medo de enfrentar desafios

Vencendo nossos medos Eurípedes Kühl

*Instrução do Governador – In: Nosso Lar, Fran-cisco C. Xavier, pelo Espírito André Luiz.48. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998, cap. 42, p. 230.

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da vida, tais como assumir respon-sabilidades (sejam familiares, profis-sionais ou sociais).

Medos irracionais

São aqueles sentimentos quebloqueiam o raciocínio e se edifi-cam sob bases que contrariam obom senso, como por exemplo:

– “medo de ir ao dentista”.

Medos reais

Situam-se entre as inquietaçõesque se seguem após traumas, comopor exemplo:

– assalto: alguém é assaltado epassa a ter receio de voltar a ser ví-tima; como defesa deixa de sair decasa, até quase que enclausurar-sepor completo; o correto seria con-tinuar normalmente saindo, mascom cuidado redobrado; e se voltara ser assaltado, com certeza já terámuito mais equilíbrio para proce-der sem riscos;

– falar em público: alguém dizalgo para algumas pessoas e é ridi-cularizado... aí implanta-se tal me-do; mas, se a pessoa treinar, nemque seja em frente ao espelho, e de-pois diante da família, verá que aospoucos dominará essa técnica, nãosendo necessário ser um brilhanteorador, mas sim alguém que falacom clareza;

– infecção: sempre lavar asmãos é excelente tal cuidado; sóhaverá problema se houver exa-gero...

– andar de avião: de fato,desastres aéreos ocorrem, mas oavião é dezenas, ou centenas de ve-zes mais seguro do que automó-veis...

OBS: Geralmente, esses medos

transformam-se em manias, daí emfobias, depois em neuroses, poden-do evoluir para psicoses...

Medos imaginários

Falsos sentimentos, pois aindanão aconteceram, mas já vivem namente, como se reais fossem. Con-siderando que o homem formulapensamentos, cuja fixação os con-verte em “realidade” mental, surgeaqui – apenas entre nós, homens –,o medo imaginário, isto é, temor dealgo que ainda não aconteceu. Esseé o mais prejudicial dos medos, poiso medo real, muitas vezes tem raí-zes no passado, a expressar-se nopresente. Agora: como ter medo dealgo que ainda não aconteceu?Exemplos:

– um estudante (ou muito ma-gro, ou de pouca estatura, ou deóculos, ou algo obeso) traz em esta-do latente o receio de não ser acei-to e com isso evita enturmar-se;

– um jovem que sofre, anteci-padamente, a angústia de não ar-ranjar namorada;

– medo de terroristas: o nívelde medo pode atingir a fase do pa-vor, muito comum nas pessoas quesofrem a “síndrome do pânico”.

OBS: Síndrome do pânico: aexpressão é originária de Pan, deusgrego, tocador de flauta, que ater-rorizava os camponeses com seuschifres e pés de eqüinos; os pacien-tes que apresentam essa síndromesofrem intensamente, com gravessintomas, que vão da angústia apalpitações, sudoreses, tremores, fal-ta de ar, náuseas, medo da loucurae medo extremo com sensação demorte.

Nos Estados Unidos, o traumapós 11 de Setembro de 2001 (der-

rubada das “torres gêmeas”, por ter-roristas) levou até mesmo a propa-ganda a colocar máscara contra ga-ses na famosa boneca “Barbie”...

Fobias

A fobia é acompanhada de ummedo exagerado e persistente (mór-bido) que não tem limites em rela-ção às causas que o produzem. Ofóbico sofre terrivelmente.

O exército de medos, nesse pa-tamar, é quase ilimitado.

Pela Psicanálise temos que amaioria das fobias, na verdade,mascaram um perigo simbólico,cujo objeto exato se esconde nasfímbrias do subconsciente, que mui-tas vezes, como defesa subjetiva,deriva um fato real para um perigoimaginário.

Como exemplo, podemos citaro caso de Hans, uma criança quefoi psicanalisada por Freud, e quetinha “pavor” de cavalos, aos quais,paradoxalmente, admirava... Emsuas pesquisas, o grande mestre aus-tríaco percebeu que, para Hans, ocavalo (animal forte) era uma repre-sentação simbólica do pai, que viviaameaçando-o de castração.

Vamos citar algumas fobias:– claustrofobia: é a mais citada

de todas as fobias e refere-se ao me-do de lugares fechados: [pela teoriajunguiana – Carl Gustav Jung(1875-1961), notável psiquiatrasuíço –, esse medo está relacionadoao nascimento – o ser precisa deixaro conforto e atravessar um túnel es-treito, rumo ao desconhecido...];também se manifesta junto a mul-tidões;

– nosofobia: o medo de adoe-cer, o que leva o fóbico a se julgardoente; começa pelo medo de in-

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fectar-se por micróbios e por issoaté não dá a mão nos cumprimen-tos... Essa fobia conduz rapidamen-te à hipocondria (busca obcecadade tratamento para doenças inexis-tentes);

– agorafobia: medo de espaçosabertos e amplos (medo de deslocar--se sem ajuda); (meditando sobre es-sa fobia, bem podemos calcular a co-ragem de Cristóvão Colombo...);

– altofobia: medo das alturas;– antropofobia: medo de en-

frentar a sociedade, levando o indi-víduo a trágicas solidões;

– gerontofobia: medo de enve-lhecer... e até do convívio com pes-soas idosas;

– necrofobia: medo da morte eaté dos mortos;

– obesofobia: medo de engor-dar (fobia muito cultivada pelas jo-vens modelos de modas); quasesempre leva à anorexia (perda doapetite), que é porta aberta ao com-prometimento do sistema orgânicode defesa auto-imune;

– talassofobia: medo das águas,rios, etc.

VENCENDO OS MEDOS

Auto-análise

Todos nós, sem exceção, temosmedos...

Disso, de alguma forma, sem-pre resultam grandes ou pequenosdesconfortos.

Assim, impõe-se que idealize-mos uma “administração” dos nos-sos medos.

Em primeiro lugar, nada me-lhor do que identificar e classificaro medo.

Uma vez identificados e classi-ficados os nossos medos, o trabalho

agora é realizar um mapeamento daorigem deles.

Para começar, devemos ter co-mo certeza que a Humanidadesempre se defrontou com o medo epoucos não foram os homens quese dedicaram a explicá-lo, primeiropara poderem entendê-lo, para emseguida eliminá-lo.

Todos fracassaram, uma vezque o medo, enquanto sentimentode evitação do mal, é um instru-mento de sobrevivência, sem exage-ros, de todos os seres vivos.

Até porque há a classe de medoque é muito benéfica, como vimos.

Dessa forma, o medo tanto po-de ser, em potencial, um amigoquanto um grande inimigo.

Se o perigo pode ser real ouimaginário, o medo também o será.

Para um medo ser identificadonecessário se torna compreendercomo ele se instalou, ou dizendo deoutra forma, como é que ele “apa-receu”: quando, como, porquê.

Quase sempre o medo se dis-farça, lançando mão de símbolos,num processo muito parecido comos sonhos, cuja interpretação é pro-blemática, justamente pelo simbo-lismo com o qual a maioria se apre-senta ao sonhador.

É sob convicção que afirma-mos que o medo pode e deve sertrabalhado para se tornar um in-comparável instrumento de equilí-brio no nosso dia-a-dia.

Em todos os medos, se a pes-soa não conseguir dominá-los racio-nalmente (autolibertação), um bomcaminho a seguir será procurar umaconselhamento:

– na fé: em primeiro lugar,orações a Deus e ao Anjo Guar-dião!

– na família: ouvindo a expe-

riência dos pais e familiares mais ín-timos;

– na ajuda espiritual: outra viaserá procurar um orientador espiri-tual; de nossa parte, sugerimos visi-ta a um Centro Espírita e um diá-logo com alguém disposto a ouviressa pessoa com tolerância e frater-nidade, sugerindo caminhos evan-gelho-terápicos.

OBS: Se a pessoa fizer questão,nada objeta o auxílio de um psi-canalista.

No Espiritismo

A Doutrina dos Espíritos le-ciona que todos temos um exten-so passado existencial, de multipli-cadas existências, que espelhamatualmente nosso painel mental deemoções e sentimentos, painel es-se que se atualiza segundo a se-gundo.

De posse de tão transcendentalentendimento, ao espírita convictoserá possível iniciar, por uma enér-gica e sincera auto-reforma, um in-tenso e permanente tratamento, vi-sando a libertar-se de seus medos,manias, fobias, neuroses e eventuaispsicoses.

Na questão 919 de O Livrodos Espíritos, o Espírito SantoAgostinho nos dá preciosa maneirade nos conhecermos a nós mesmos,através do balanço diário das nossasações, ao final de cada dia, bem co-mo interrogação constante à cons-ciência. Na “Introdução” da mesmaobra, Allan Kardec registrou, a pro-pósito dos nossos temores:

“Ele [o Espiritismo] mostra arealidade das coisas e com isso afas-ta os funestos efeitos de um temorexagerado.”

Tratando-se dessa realidade das

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coisas, aos espíritas acorre compreen-der muitos fatos da presente existên-cia, conjeturando que sua origempode estar em vidas passadas.

OBS: Em Psicologia, segundoC. G. Jung, que já citamos, esseatavismo recebe o nome de “som-bra”, caracterizando-se por compo-nentes da personalidade, formadopor instintos, que produzem senti-mentos e ações desagradáveis.

Sabendo que o perispíritoguarda indelevelmente as chamadas“matrizes psíquicas” (fatos marcan-tes de outras existências), não fica-rá difícil conjeturar que o medo, nopresente, pode ter-se originado emocorrências do passado, como, porexemplo:

– medo de multidão: será que es-sa pessoa não foi condenada e quemsabe até apedrejada em público?

– medo de altura: não teria sesuicidado atirando-se ou sido víti-ma de queda de penhascos?

– medo de água: não teria seafogado?

– medo de lugares fechados:não teria morrido num calabouço?

– medo de animais: não teriamorrido sob ataque de algum deles?

Além disso, a obsessão e seusagentes ocultos fragilizam a razãodo obsidiado. Daí que, vulnerável,ele se torna quase sempre cliente denovos medos... É nesse ponto que aprece sincera e a auto-reforma car-reiam-lhe o amparo do Mais Alto.

Conclusão

O medo edifica muros altos aodiscernimento, impedindo análises,reflexões e soluções para nosso dia--a-dia, qual lanterna que se apagana mente. Além disso, é um grandegerador de bloqueios, com perda de

novas oportunidades de aprendi-zado.

Infinitos medos existem e infi-nitas são também as maneiras deadministrá-los.

Uma constante, porém, se im-põe: é que o medo seja reconheci-do, analisado racionalmente e acei-to como parte da estrutura emo-cional.

Em sendo real, a prudência da-rá o toque de como agir.

Contudo, se imaginário, cons-cientizado disso, por si mesmo, em

auto-análise ou por aconselhamen-to, esse medo deverá ser enfrentadopelo “medroso”.

Logo se perceberá que até omedo tem medo...

Com base na Doutrina Espíri-ta, asseveramos: qualquer medo sedissolve, diante da fé, numa de-frontação racional. Com respeito,acrescentamos:

A luta entre o medo e a razãoÉ igual à da vespa contra o leão:Incomoda sim, mas vence não!

263

Renúncia com JesusMário Frigéri

“Se alguém tem sede, venha a mim e beba.” Jesus. (João, 7:37.)

Se não buscam teus pais a intimidadeDo Cristo, renuncia a tê-los maisPerto de ti, no culto da Verdade– E ajuda, cada dia mais, teus pais.

Se teus filhos não querem com JesusCaminhar, renuncia, nesses trilhos,A tê-los, por agora, junto à Luz– E ajuda, cada dia mais, teus filhos.

Se teus amigos não sentem o Mestre,Renuncia a tê-los já por trigosDa Boa Nova, na estação terrestre– E ajuda, dia a dia, teus amigos.

Não voltes tuas costas ao irmãoQue ainda não te entende o coração:Renúncia com Jesus – Modelo e Guia –É mais devotamento a cada dia.

Fonte de consulta: Página “Renúncia”, de Emmanuel/Francisco Cândido Xavier.In: O Espírito da Verdade, Autores Diversos. Ed. FEB.

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Dezenove editorasespíritas participaramda XII Bienal Interna-cional do Livro, queocorreu no período de12 a 22 de maio de2005, no Riocentro, Riode Janeiro. A FederaçãoEspírita Brasileira (FEB)teve participação insti-tucional, voltada exclu-sivamente para a divul-gação das obras do ca-tálogo, sem venda de li-vros para o público.Juntas, a FEB e a Asso-ciação de Editoras, Dis-tribuidoras e Divulga-dores do Livro Espírita(Adeler), que reuniu 15editoras, ocuparam umestande de 300 metros

quadrados, um dos maiores daBienal. As Rádios Rio de Janeiro eBoa Nova montaram estúdios paraentrevistas gravadas e transmissõesao vivo, diretamente do Riocentro.

Entre os autores que fizeramsessões de autógrafos no estande daAdeler estavam Zaira Silveira e aVice-Presidente da FEB, Cecília Ro-cha, as quais lançaram, no dia 21de maio, os livros O Gato Lindi-nho, A Sementinha Amarela e AGotinha de Orvalho, que integrama nova série infantil da FEB. O es-

critor Eloy Facco (Tieloy) autogra-fou no dia 15 de maio as novas edi-ções de seus livros O tatu cavalei-ro, O rei cansado, Bem me quer,bem me quer e O papagaio que fa-lava latim.

A FEB lançou, ainda, a coleçãocompleta da Revista Espírita – Jor-nal de Estudos Psicológicos, deAllan Kardec, e o tradutor, EvandroNoleto Bezerra, fez sessão de autó-grafos no dia 21 de maio.

Para os mais de 80 mil adultosque visitaram os estandes espíritas,

Editoras espíritas na Bienal doLivro do Rio de JaneiroFEB distribui mais de 300 mil produtos de divulgação da literatura espírita

O estande da FEB atraiu grande público, composto por crianças, jovens e adultos

Painel de Reformador

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a FEB preparou diversosprodutos – sacolas perso-nalizadas, kits, folhetos,marcadores de livro – afim de divulgar a literaturaespírita. Foram impressosmais de 300 mil produtos.Um encarte com as capas esinopses dos livros da FEBfoi distribuído a todos osadultos que visitaram o es-tande da Federação.

Distribuídos em vitri-nas, estantes e mostruáriosdiversos, os livros chama-ram a atenção do público,que recebia informação deatendentes espíritas treina-dos para explicar sobre o conteúdodas obras em exposição. A revistaReformador, editada há 122 anospela FEB, teve área especial para ex-posição de diversos números e ga-nhou centenas de novos assinantes.

A área infantil, decorada comlivros e personagens das publicaçõesda FEB, foi visitada por cerca de 20mil crianças, que receberam a pu-blicação Turma da Paz, além de sa-

colas, marcadores de livrose brindes como adesivos,canetas e quebra-cabeças.Durante seis dias houveatividades com balões, pin-tura de rosto e narração dehistórias com atores carac-terizados como persona-gens dos livros.

Os dez livros mais vendi-dos*1. Memórias deum Suicida – Yvo-nne do Amaral Pe-reira (Espírito Ca-milo Cândido Bo-telho);2. O Evangelho segundo oEspiritismo – Allan Kardec;3. Nosso Lar – FranciscoCândido Xavier (EspíritoAndré Luiz);4. O Livro dos Espíritos –Allan Kardec;5. Kit Allan Kardec –Obras de Allan Kardec;6. Revista Espírita – AllanKardec;

7. O Céu e o Inferno – Allan Kar-dec;

8. O que é o Espiritismo – AllanKardec;

9. O Livro dos Médiuns – AllanKardec;

10. Entrevistando Allan Kardec –Suely Caldas Schubert.

Sessão de autógrafos da nova série infantil da FEB, pelas autorasCecília Rocha (à direita) e Zaira Silveira

Sessão de autógrafos da Revista Espírita (FEB),pelo tradutor Evandro Noleto Bezerra

Sessão de autógrafos de livros infantis do autor Eloy Facco (Tieloy), editados pela FEB

*Esta lista inclui apenas os livros maisvendidos editados pela FEB e não os dasdemais editoras espíritas.

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A Reunião Ordinária de 2005da Comissão Regional Sul, do Con-selho Federativo Nacional, da Fede-ração Espírita Brasileira, ocorreuem Florianópolis (SC), no períodode 29 de abril a 1o de maio, com apresença de todas as Federativas daRegião: Federação Espírita do Para-ná (10 pessoas); Federação Espíritado Rio Grande do Sul (7); Conse-lho de Unificação do MovimentoEspírita do Estado do Rio de Janei-ro, composto pela União das Socie-dades Espíritas do Estado do Rio deJaneiro (10) e pela Federação Espí-rita do Estado do Rio de Janeiro(7); Federação Espírita Catarinense(8); e União das Sociedades Espíri-tas do Estado de São Paulo (11). AFEB compareceu com o seu Presi-dente e mais 15 membros. Total de69 participantes. A Associação Bra-sileira de Divulgadores do Espiri-tismo (ABRADE) esteve representa-da por Júlia Nezu de Oliveira, dadelegação da USE-SP.

Sessão de Abertura

Esta Sessão teve início na sex-ta-feira, dia 29, às 20 horas. O Pre-sidente da FEC, Gerson Luiz Tava-res, fez a prece e a saudação aos pre-sentes, passando a direção dos tra-balhos ao Coordenador da Comis-são Regional.

Palestra: Antonio Cesar Perri deCarvalho falou sobre as CampanhasEm Defesa da Vida, Viver em Famí-lia e Construamos a Paz Promoven-do o Bem!, que estão sendo relança-das conjuntamente, por decisão doConselho Federativo Nacional e doConselho Diretor da FEB, havendoa participação dos Dirigentes e repre-sentantes das Federativas.

Reunião Geral: Em seguida, oCoordenador prestou esclarecimen-tos sobre a Pauta e a metodologia daReunião da Comissão Regional, epromoveu a apresentação individualdos integrantes das delegações, en-cerrando as atividades da noite.

Reuniões Setoriais

Realizaram-se no sábado, dia30, a partir das 8h30, concomitan-temente, as seguintes Reuniões Se-toriais: dos Dirigentes; das Áreas:Atendimento Espiritual no CentroEspírita, Atividade Mediúnica, Co-municação Social Espírita, EstudoSistematizado da Doutrina Espíri-ta, Infância e Juventude, e Serviçode Assistência e Promoção SocialEspírita.

Reunião dos Dirigentes

Esta reunião contou com apresença dos seguintes Dirigentes:Paraná – Maria Helena Marcon(FEP); Rio Grande do Sul – GládisPedersen de Oliveira (FERGS); Riode Janeiro – Aloísio Ghiggino(USEERJ) e Hélio Ribeiro Loureiro(FEERJ); Santa Catarina – GersonLuiz Tavares (FEC); e São Paulo –Attílio Campanini (USE); os Diri-

FEB/CFN - COMISSÕES REGIONAIS

Reunião da Comissão Regional Sul

Mesa da Sessão Plenária: Palavra do Presidente da FEB

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gentes estavam acom-panhados de assessores.Pela FEB participaram:Nestor João Masotti(Presidente), Altivo Fer-reira (Coordenador), Ayl-ton Guido Coimbra Pai-va (Secretário), AntonioCesar Perri de Carvalhoe Evandro Noleto Be-zerra (Assessores).

Após a prece deabertura, foram aprova-das a Ata da reunião de2004 e a nova metodologia propos-ta para os trabalhos da Comissão,destinada a dar melhor aproveita-mento ao tempo e tornar mais di-nâmicas as reuniões setoriais.

O assunto da reunião anterior– “Critérios para o trabalho con-junto das Federativas no campo dadivulgação do livro espírita” – foiamplamente analisado, com relatodos Dirigentes sobre as experiênciasde suas Instituições acerca da distri-buição e venda do livro espírita,ressaltando-se a necessidade de asFederativas apoiarem-se mutua-mente na aquisição e comercializa-ção dos livros de sua própria edição.O assunto evoluiu para constituir--se uma Comissão composta por re-presentantes de cada Federativa, fi-cando marcada sua primeira reu-nião no Departamento Editorial daFEB (Rio de Janeiro), nos dias 17 e18 de maio, com visita de seus in-tegrantes à Bienal Internacional doLivro.

Antes da discussão em tornodo assunto da reunião – “Parti-cipação das Instituições Espíritasnas atividades comunitárias (Ór-gãos, Comissões, Conselhos e ou-tros)” – foram apresentadas, comapoio em datashow, exposições

concernentes a esse tema pelo Con-selho de Unificação do MovimentoEspírita do Estado do Rio de Janei-ro (USEERJ/ /FEERJ) e pela USE deSão Paulo. As Federativas informa-ram sobre sua participação nos re-feridos Órgãos. Hélio Ribeiro Lou-reiro (FEERJ) referiu-se à tentati-va de alteração do art. 3o da Lei daOrganização da Assistência Social(LOAS), no que respeita ao conceitode assistência social, cuja modifi-cação poderá representar risco paraas instituições espíritas. O Presiden-te Nestor sugeriu a criação de umGrupo de Trabalho para acompa-nhar o desenvolvimento do assunto.

Foram prestadas informaçõessobre o Assessoramento Jurídico--Administrativo às Casas Espíritas,enfatizando-se a necessidade de asFederativas criarem o seu Departa-mento Jurídico, sendo que algumasjá o possuem.

No item Sugestões para a re-visão do opúsculo Orientação aoCentro Espírita, o Presidente Nes-tor Masotti ressaltou o cuidado quedeve merecer essa revisão e esclare-ceu que ela abrange apenas a partedo opúsculo que trata da Orienta-ção, não alcançando os textos dosdocumentos “A adequação do Cen-

tro Espírita para o melhor atendi-mento de suas finalidades” e “Dire-trizes da Dinamização das Ativida-des Espíritas”. Essa matéria, dada asua importância, foi escolhida co-mo assunto para a Reunião de 2006.

Nos assuntos diversos, foi es-clarecida a questão do Censo Espí-rita, aprovado pelo CFN na Reu-nião de 2003, sendo apontada ainviabilidade da sua realização emnível nacional. Assim, a FEB pro-põe a transformação do Censo emCadastro das Instituições Espíritasatravés da Internet, havendo umaequipe que está trabalhando nessesentido.

A próxima reunião será emSão Paulo (SP), nos dias 28, 29 e 30de abril de 2006, com o assunto:“Orientação ao Centro Espírita”.

Sessão Plenária

Proferida a prece, teve início orelato sucinto das atividades desen-volvidas nas reuniões setoriais:

Dirigentes: O Secretário Ayl-ton Paiva fez uma síntese dos assun-tos tratados nessa reunião.

Área do Atendimento Espiri-tual no Centro Espírita, coordena-da por Maria Euny Herrera Ma-

Dirigentes: USEERJ-RJ; USE-SP; FERGS-RS; FEERJ-RJ e FEP-PR

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sotti. Assunto dareunião: “Montagemdas etapas do Aten-dimento Espiritual:Recepção; O diálo-go no AtendimentoFraterno; Irradiação”.Assunto para a pró-xima reunião: “Mon-tagem das etapas doAtendimento Espi-ritual: Passe e mag-netização da água;Explanação doutri-nária; Evangelho noLar”.

Área da Atividade Mediúni-ca, coordenada por Marta Antunesde Oliveira Moura, com assessoriade Edna Maria Fabro. Assunto dareunião: “Qualificação do tarefei-ro do grupo mediúnico: diretrizesdoutrinárias e orientações teórico--práticas”. Assunto para a próximareunião: Minicurso – “ConsciênciaMediúnica: Parâmetros religiosos;A questão ético-moral; O autoco-nhecimento e conhecimento dooutro; Livre-arbítrio e responsabi-lidade; Comprometimento com atarefa”.

Área da Comunicação SocialEspírita, coordenada por Merhy Se-ba, com assessoria de Sônia ReginaFerreira Zaghetto. Assunto da reu-nião: “Planejamento estratégico daComunição Social Espírita: apre-sentação, desempenho e avaliação”.Assunto para a próxima reunião:“Relacionamento com a Mídia: pla-nejamento e execução”.

Área do Estudo Sistematizadoda Doutrina Espírita, coordenadapor Cecília Rocha, com assessoriade Elzio Antônio Cornélio. Assun-to da reunião: “Aplicabilidade doManual de Organização e Funcio-

namento do ESDE e os resultadosobtidos na ação federativa”. Assun-to para a próxima reunião: “Censo;Interiorização do ESDE; Realizaçãode Minicurso: aspectos doutrináriose didáticos”.

Área da Infância e Juventude,coordenada por Rute Vieira Ribei-ro, com assessoria de Miriam LúciaHerrera Masotti Dusi. Assunto dareunião: “Avaliação x Plano Globalde Ação: a) Analisar os problemasencontrados na avaliação; b) Esta-belecer metas e planejar ações combase nos resultados da avaliação”.Assunto para a próxima reunião:“Avaliação do Plano de Ação, comvistas ao alcance das metas para2007: 1) Dinamização da Campa-nha; 2) Capacitação do Evangeliza-dor; 3) Currículo das EEEIJ; 4)Evangelização e Família; 5) Ava-liação das Atividades de Evange-lização”.

Área do Serviço de Assistênciae Promoção Social Espírita, coor-denada por José Carlos da Silva Sil-veira, com assessoria de Maria deLourdes Pereira de Oliveira. Assun-to da reunião: “Levantamento deinformações sobre a utilização do

Manual do SAPSE pelos CentrosEspíritas”. Assunto para a próximareunião: “Divulgação do Manualdo SAPSE através das seguintes ações:a) Capacitação de trabalhadores;b) Solicitação de espaço para essadivulgação nos encontros de Diri-gentes; c) Entrosamento do SAPSEcom as demais Áreas da Federati-va; d) Prosseguimento da pesqui-sa sobre a utilização do Manual; e)Apresentação dos resultados dessasações”.

Após os relatos, representantesdas Federativas opinaram sobre asatividades desenvolvidas nas res-pectivas Áreas.

Os Dirigentes e o Presidenteda FEB avaliaram positivamente ostrabalhos da Comissão e, com pa-lavras repassadas de emoção, fize-ram suas despedidas, agradecendo àFederação Espírita Catarinense pe-lo cuidadoso preparo da Reunião epelo acolhimento fraterno dispen-sado às delegações visitantes. Emseguida, os trabalhos foram encer-rados com a prece proferida porAttílio Campanini, Presidente daUSE-São Paulo, anfitriã do encon-tro de 2006.

Aspecto parcial da reunião da Infância e Juventude

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“Tomai sobre vós o meu jugo, eaprendei de mim, porque soumanso e humilde de coração; eachareis descanso para as vos-sas almas. Porque o meu jugo ésuave e o meu fardo é leve.”

Jesus (Mateus, 11:29-30.)

Início dos anos cinqüenta doséculo passado. Mediana cidadedo Triângulo Mineiro. Ruas de

ladeiras variadas, calçadas de para-lelepípedos. Uma carroça transportapesadas vigotas, rua acima. Sobre acarga, já de si enorme, ia o condu-tor a fustigar o cavalo, que fraque-java no aclive acentuado e escorre-gadio.

Após ingentes esforços, o pobreanimal pára, a bufar, incapaz deprosseguir a marcha, embora os gri-tos e reiterados açoites do carro-ceiro, jovem ignorante e impiedoso.Furioso, desceu da carroça, redo-brando xingamentos e chicotadasvigorosas! Também ele uma ali-mária, embora de outra espécie (ra-cional?), mas, na verdade, cruel, in-clemente!

Por sorte, passava por ali outrojovem. Só que este, sensato. E – ins-pirado em Francisco de Assis, ple-no de compaixão –, usou de mise-ricórdia para com ambos, cavalo econdutor.

Com humildade, propôs aocarroceiro:

– Posso ajudá-lo? Empurro acarroça e você puxa o cavalo.

– Esse desgraçado ‘tá’ commoleza! Não levanta porque é ma-nhoso!

– Ele está cansado. Vamos aju-dá-lo, que ele dá conta de subir.

– ‘Tá’ certo. Pode empurrar.Mas o cavalo não aceitou nem

a presença do condutor, recusando--se a segui-lo, seja pelo cansaço, se-ja por antipatia.

– Espera um pouco, uns cincominutos. Está muito cansado. E va-mos inverter as posições: você em-purra a carroça e eu guio o cavalo.

Proposta aceita a contragosto,nosso personagem pôs-se a conver-sar com o animal, ainda muito as-sustado. Com serenidade e palavrasamorosas ganhou-lhe a confiança,acariciando-lhe a crina, enquanto,aos poucos, descansava. Disse-lhe,em tom de voz amigável:

– São Francisco vai te ajudar,meu amigo!

Impaciente, o outro propunharetomar a caminhada. Nosso ami-go, sob o amparo de Francisco deAssis, e a força moral que a humil-dade e a paciência lhe favoreciam,respondeu-lhe:

– Espera mais um pouco, umminutinho só! Ele subirá com a car-ga.

Passado tempo razoável, o com-panheiro convidou o cavalo a selevantar, dizendo-lhe com carinho:

– Nós vamos ajudá-lo. Vemcomigo!

O bichinho atendeu ao chama-do, trôpego a princípio, mas, fir-

mando-se, venceu a íngreme ladeiraaté a esquina próxima, onde a ruatransversal amenizava a subida, embusca do destino visado.

Neste ponto, nosso amigo des-pediu-se de ambos, com palavrasamistosas para um e de bons con-selhos para o outro, para que ex-perimentasse a paciência semprecom seu companheiro de trabalho,que o ajudava a ganhar o pão decada dia.

...

O fato singelo, mas real, leva--nos a refletir sobre o convite deJesus com a promessa do jugoleve!

Perdemos todos os esforços sedesanimamos, quando o fim daprova poderia estar à vista (quemsabe, na próxima esquina?). Ao se-guir, encorajados pelo auxílio in-visível, que não falta, vencemos osaclives do caminho que nos cabepercorrer, ainda que a passos trôpe-gos!

Quando nos surgem sofrimen-tos, ao invés de nos desesperarmos,indaguemos ao Mestre, quais liçõesdevemos aprender com a Dor, essaSublime Mensageira!

Amigos espirituais, em nomedEle, acorrem aos nossos apelos,quando aprendemos a buscá-lO nasasas da prece, revestida de humil-dade e confiança!

Santo Agostinho – Cap. XXVII,item 23 de O Evangelho segundo oEspiritismo – afirma-nos:

O jugo leveGebaldo José de Sousa

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32 Reformador/Julho 2005270

“(...) A prece é o orvalho divi-no que aplaca o calor excessivo daspaixões. Filha primogênita da fé,ela nos encaminha para a sendaque conduz a Deus. No recolhimentoe na solidão, estais com Deus.”

Os bons Espíritos, quais sama-ritanos, não eliminam nossas pro-vas, mas encorajam-nos, inspiram--nos, quando a eles recorremos.

Ainda que distantes da fé ar-

dente, se cultivamos a prece sincera,buscando compreender as men-sagens que as dores nos trazem, elacresce, a pouco e pouco, em nossoíntimo, pelas respostas que nosoferece.

Se recorremos à oração since-ramente, cumprindo nossos pe-queninos deveres, e buscamos vi-venciar as lições do Evangelho, asrespostas sempre nos vêm.

E assim nosso jugo vai-se tor-

nando leve, suportável. Indispen-sável, para isso, aviar as receitas deamor do Divino Mestre, buscando,por nossa vez, suavizar provas deoutros irmãos de caminhada!

Com paciência e resignação ati-vas, reduzimos nossas dores, semaflição e desespero dispensáveis, queas reações desequilibradas favorecem.

A dor fustiga, inclemente, maso “orvalho divino” nos conduz aojugo leve, prometido por Jesus.

Quando a sombra te envolva, em cárcere de angústia,E entregas-te à oração, ante os golpes da vida,Perguntas, muita vez, alma querida,Onde a luz que te venha libertar...Do que tenho a rever em meus testes no mundo,Posso apenas dizer-te às horas de agoniaAs mesmas sugestões que a prece me trazia:– Esperar, esperar...

Espíritos na Terra, herdando de nós mesmos,Temos, quase nós todos, as raízesDe débitos e tramas infelizesQue assumimos outrora, sem pensar...Nos instantes de Hoje, o Tempo nos revisaE clamando ao colher de nossa plantação,Eis que o Mundo nos pede ao coração:– Esperar, esperar...

Não te lastimes, pois... Todos os seres,Do abismo aos céus, do mineral ao homem,Sem correções e lágrimas que os domem,Nunca se arredariam de lugar;

Não há lição sem preço no caminho,Toda ascensão exige esforço e luta,Por isso, a Vida fala e a própria Vida escuta:– Esperar, esperar...

A semente no chão aguarda a flor e a flor reclama o[fruto,

A noite espera o Sol retomar o horizonte,O deserto suplica o bálsamo da fonte,A fonte busca o rio e o rio pede o mar;A gradação, porém, tudo acompanha e rege,Na voragem do Tempo, a Justiça se escondeE, ao tumulto da pressa, a lógica responde:– Esperar, esperar...

Assim também, alma fraterna e boa,Aceita a prova justa, aguarda e pensa,Deixa que, um dia, a dor te elucide e convençaA esquecer-te no Bem e a servir por amar,Então compreenderás nas forças do UniversoQue o próprio Deus na Lei, que ele Mesmo

[estrutura,Diz, no imo do ser, em cada criatura:– Esperar, esperar...

Maria Dolores

Fonte: XAVIER, Francisco C. A Vida Conta. 3. ed. São Paulo:CEU, 1984, no 19, p. 58-59.

Lei de Deus

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Pelos idos de 1965, quando Be-zerra de Menezes, através deYvonne A. Pereira, já nos ha-

via apontado, como campo de tra-balho e via de redenção, os serviçosna seara do Esperanto a serviço doConsolador, a querida e saudosamédium nos levava em visita a Is-mael Gomes Braga, cujo endere-ço – Rua Ramon Franco no 63, naUrca – era conhecido de todo omundo esperantista, no Brasil e noExterior, em razão de sua invulgaratividade.

Entre tantos momentos de edi-ficação, ali ouvimos do grande pio-neiro espírita-esperantista as maisprofundas e emocionadas observa-ções acerca do que está revelado so-bre a Língua Internacional Neutraem Memórias de um Suicida.

Ao leitor bastaria consultar oreferido livro, na Terceira Parte,“Últimos traços”, para constatar, elepróprio, o imenso alcance das reve-lações do mundo espiritual, seja so-bre o valor do Esperanto para oprogresso geral da Humanidade, se-ja, principalmente, sobre a conve-niência de que os espíritas – comono Brasil é feito desde 1909 – con-tinuem a dedicar, com sempre cres-cente intensidade, seus esforços etalentos em favor da nobre causa.

Mas, para obviar a eventuaisimpossibilidades por parte daquelesque, nos serviços do MovimentoEspírita, vendo-se a braços commúltiplas e graves tarefas, não dis-põem do tempo necessário a con-centrar-se em tão sugestiva consul-ta, vamos aqui tentar um resumodo longo texto em que se evidenciao apreço que ao Esperanto dedicamos Espíritos Diretores da Instituiçãoonde Maria de Nazaré abriga os sui-cidas.

Tais Espíritos – todos inicia-dos nas Ciência do Infinito, na Mo-ral Superior do Evangelho, portan-to altamente credenciados para nosorientarem nos dois planos de vida– aconselhavam a seus pupilos quese dedicassem ao aprendizado da-quele idioma, que lhe dessem a me-recida importância, uma vez que ofuturo o veria consagrado como le-gítimo e poderoso instrumento daFraternidade entre os povos, comofator de construção do Progressoem geral e, por via de conseqüência,como veículo para fecundas mani-festações espirituais nas sociedadesterrenas, com o concurso de mé-diuns que se habilitassem em tãograve setor da seara.

Para tal aprendizado dispu-nham, os suicidas internos na Co-lônia Correcional Maria de Nazaré,de uma Academia que se alinhava,na chamada Cidade Universitária,entre outras tantas instituições con-gêneres, dedicadas a elevados estu-

dos sobre temas igualmente gran-diosos como Moral, Filosofia, Ciên-cia, Psicologia, Pedagogia, Cosmo-gonia, entre outros.

Essa Academia era, nada mais,nada menos, do que uma “(...) fi-lial da grande Universidade Espe-rantista do Astral, com sede em ou-tra esfera mais elevada, a qualirradiava inspiração para suas de-pendências do Invisível, como atéda Terra, onde já se iniciava apre-ciável movimentação em torno donobilíssimo certame, entre intelec-tuais e pensadores de todas as raçasplanetárias!” (p. 665).

E seus Diretores, embora nãofigurassem como iniciados em Dou-trinas Secretas, sendo com efeitoneutros em matéria religiosa em ge-ral, brilhavam entretanto por méri-tos adquiridos em devotamentos,abnegações e sacrifícios, ao longodos séculos, em favor da causa daFraternidade Universal. E, dentretantos eminentes vultos dessa invul-gar falange, ali pontificava o gêniouniversal da Literatura que a Terrateve a honra de hospedar sob o no-me de Victor Hugo, ardente entu-siasta, no Além-Túmulo, da causado Esperanto.

As aulas em tais recintos ti-nham como foco principal, alémdo próprio estudo do idioma, aidentificação do problema lingüís-tico, isto é, da multiplicidade delínguas na Terra, como um dosmaiores estorvos a se levantar con-

A FEB E O ESPERANTO

Memórias de um Suicida e o EsperantoAffonso Soares

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tra o Progresso, sendo apresentada,como sua solução justa e definitiva,a adoção do Esperanto nas relaçõesinternacionais.

Tão fecundas eram as exposi-ções e os estudos na Academia deEsperanto da Colônia Maria de Na-zaré, que o autor espiritual de Me-mórias de um Suicida não resisteao impulso de emitir esta vibranteefusão de coração:

“(...) E tais eram as perspecti-vas que nos acenavam os fatos docimo glorioso daquela conquista,que nos sentimos triplicemente ir-manados a toda a Humanidade:pelos laços amoráveis da Doutri-na do Cristo; pelo beneplácito daCiência que nos iluminava o cora-ção e pela finalidade a que nos ar-rastaria o exercício de um idiomaque futuramente nos habilitaria anos reconhecermos como em nossaprópria casa, estivéssemos em nossaPátria ou vivendo no seio de naçõessituadas nas mais diferentes plagasdo globo terrestre, como até no seiodo mundo invisível!” (P. 668.)

Essa Embaixada Esperantista,transplantada de elevadas regiões es-pirituais nos ambientes da Colôniadirigida pela Mãe de Jesus, dequando em quando promovia reu-niões festivas para edificação e con-solo dos suicidas ali abrigados, en-sejando a Espíritos que serviam àcausa do Esperanto em outras esfe-ras do Espaço visitar, em caravanasfraternas, a Academia e oferecer aosinternos os mais comoventes teste-munhos de fraternidade, simpatia,solidariedade, consolação, em no-me do Amor. Então, assistia-se à su-blimação da Arte em espetáculos ar-rebatadores de música, dança, poe-sia, cujo objetivo era reverenciar oSupremo Detentor da Beleza.

E Camilo Cândido Botelho,pseudônimo do autor espiritual deMemórias de um Suicida, enfatiza,nos períodos finais de sua notícia:

“Sucediam-se, porém, os con-certos: cânticos orfeônicos atingiamexpressões miríficas; peças musicaisperante as quais as mais arrebata-das melodias terrenas empalidece-riam; certamens poéticos em cenasde declamação cuja suntuosidadetocava o inimaginável, arrebatan-do-nos até ao êxtase! E o idioma se-leto de que se utilizava esse pugilomagnífico de artistas pertencentes afalanges que viveram e progrediramsob a bandeira de todos os climas,de todas as Pátrias do globo terres-tre, era o Esperanto, aquele que iriacoroar a iniciação que fizéramos, re-educando-nos aos conceitos da Mo-ral, da Ciência e do Amor!” (P. 671.)

Há ainda, na revelação aqui fo-calizada, um elemento implícito as-saz importante que gostaríamos dedestacar, pois que, de certa forma,justifica a presença do nobre idealnos serviços do Movimento Espíri-ta: é o fato de que o Esperanto ab-solutamente não era consideradomero objeto de lazer e distração nasluminosas regiões espirituais sob aguarda da Mãe de Jesus, como oprova a ênfase com que aqueles ele-vados educadores espirituais, aureo-lados de respeitabilíssimos conheci-mentos e virtudes, o incluíam entreas disciplinas ministradas a Espíri-tos em urgente processo de trata-mento e reeducação para o mergu-lho em dolorosas reencarnações ex-piatórias em que, em meio a inevi-táveis e dramáticas repercussões deum suicídio, deveriam também tra-balhar para a sua melhoria e para amelhoria dos cenários terrenos on-de outrora faliram fragorosamente.

A atualidade tem provado agrande utilidade do Esperanto nosserviços de divulgação da Doutrina.É portanto nosso dever – como aCasa de Ismael o faz desde 1909 –divulgá-lo, promover o seu estudoe utilizá-lo, para que ele se torneforte e mais eficazmente sirva nostrabalhos de construção da NovaEra.

Mas outro importantíssimo ser-viço aguarda o Esperanto na searado Consolador, a exigir empenhodos adeptos da Doutrina Espíritaem protegê-lo, divulgá-lo e estudá--lo: é que ele tende a tornar-se, co-mo imperativo do progresso, emlíngua para as relações internacio-nais da crescente família espíritamundial, o que igualmente exigiráconstante esforço do MovimentoEspírita brasileiro por prestigiá-lo,louvando-se nas orientações cons-tantes no opúsculo Orientação aoCentro Espírita (Ed. FEB), e nasmanifestações de respeitáveis Espí-ritos, disseminadas em nossa litera-tura mediúnica.

Finalizemos com a sempreatual exortação de Emmanuel co-lhida em sua mensagem A Missãodo Esperanto, recebida por Francis-co Cândido Xavier em 19 de janei-ro de 1940:

“Sim, o Esperanto é lição de fra-ternidade. Aprendamo-la, para son-dar, na Terra, o pensamento daque-les que sofrem e trabalham noutroscampos. Com muita propriedadedigo: “aprendamo-la”, porque so-mos também companheiros vossosque, havendo conquistado a expres-são universal do pensamento, vosdesejamos o mesmo bem espiritual,de modo a organizarmos, na Terra,os melhores movimentos de unifi-cação.”

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No dia 18 de abril de 2005, às15 horas, foi inaugurado mo-numento em homenagem a

Allan Kardec, na região central deLyon (França), entre as pistas deuma das principais avenidas da ci-

dade – Quai Docteur Gailleton, es-quina com a Rue Sala –, local ondeexistia a casa em que nasceu Rivail.A solenidade, bastante concorrida,foi presidida por Roger Perez, Pre-sidente da União Espírita France-sa e Francofônica. Prestigiaram oevento histórico: Nestor João Ma-sotti, Secretário-Geral do CEI; Mi-chel Chomarat, representante econselheiro do Prefeito de Lyon; re-presentante da Prefeitura do bairro(2e. arrondissement); Charles Kempfe Michel Buffon, respectivamente,Vice-Presidente e Diretor da USFF;Antonio Cesar Perri de Carvalho,assessor do CEI; Maria Euny Her-rera Masotti, colaboradora da FEB;Olivier Geneviève, um dos colabo-radores para a edificação do monu-

mento; e Gilles Fernandez, Presi-dente do Centre Spirite LyonnaisAllan Kardec.

Em sua saudação, Roger Perezfez uma síntese biográfica do cida-dão lionês Hippolyte Léon Deni-zard Rivail, mundialmente conhe-cido pelo pseudônimo Allan Kar-dec, destacando que a homenagem“representa moral e espiritualmen-te a marca do reconhecimento dooutro lado da vida do pedagogoilustre que foi Allan Kardec”, e fezreferência à expansão da DoutrinaEspírita pelo mundo, com destaqueao Movimento Espírita do Brasil.Enfatizou que nas obras de AllanKardec se encontra “um sólido ape-lo para a paz, harmonia e a solida-riedade universal”. >

273

Monumento a Kardec em Lyon Solenidade de inauguração

Solenidade de inauguração. A partir do Monumento (esq./dir.): Nestor Masotti, Roger Perez e Michel Chomarat

Saudação de Roger Perez, Presidente da USFF

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Em seguida, manifestou-se orepresentante do Prefeito de Lyon,que enalteceu a oportunidade dainauguração do monumento emhomenagem a Allan Kardec e pro-jeção do trabalho do importante ci-dadão de Lyon.

Nestor João Masotti, contandocom a tradução imediata de Char-les Kempf, enfatizou os laços que aFrança mantém com o MovimentoEspírita mundial, europeu e inter-nacional, e cumprimentou os espí-ritas franceses pela iniciativa do mo-numento em memória a Kardec.

No final da cerimônia, a pedi-do de um espírita lionês, Maria Eu-ny H. Masotti depositou uma rosabranca, tendo um laço com a frase“Hors la charité, point de salut”(Fora da caridade não há salvação),junto à base do monumento.

A convite de Roger Perez, ospresentes atravessaram a avenida ese encaminharam até às margens dorio Rhône, junto ao Quai, ondepuderam conhecer a placa ofertadapelos espíritas de Niterói (Brasil) ejá fixada no muro de pedra.

Na oportunidade, Olivier Ge-neviève informou que o medalhãoem bronze do monumento há pou-co inaugurado foi fundido emNiterói. Aproveitou para explicarque a pedra de granito utilizada nomonumento, em forma de “me-nhir” (monumento megalítico cons-tituído de um só bloco de pedravertical), é um símbolo druídicoque representa o nascimento, en-quanto o dólmen erigido no Cemi-tério do Père-Lachaise significa adesencarnação.

Após a cerimônia, todos foramconvidados por Gilles Fernandez eCatherine Perrinet para acompa-nhar o diálogo fraterno com Nestor

João Masotti, nas dependências doCentre Spirite Lyonnais Allan Kar-dec, em Bron, onde predominaramas perguntas sobre o MovimentoEspírita internacional e do Brasil.

Pierre Ettiene Jay e Charles Kempfatuaram como tradutores. Finali-zando as atividades do dia, houvemomento de confraternização e delanche no referido Centro.

Monumento a Kardec na esquina da Quai Docteur Gailletoncom a Rue Sala (onde nasceu Kardec)

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Apropósito dos espectros dosteatros, assim concluiu o cor-respondente, depois de haver

feito o seu histórico:“Assim, no próximo inverno,

cada um poderá brindar seus ami-gos com o espetáculo, tornado po-pular, de alguns fantasmas e outrascuriosidades sobrenaturais. À sobre-mesa apagarão as velas e ver-se-ãoaparecer, envoltos em seus sudários,os espectros modernos, substituin-do as antigas canções que outroracantavam nossos avós. Nos bailes,em vez de refrescos, desfilarão fan-tasmas. Que distração encantadora!Só de pensar a gente se arrepia.”

Depois o autor passa ao Espiri-tismo:

“Já que falamos de coisas so-brenaturais, não passaremos em si-lêncio O Livro dos Espíritos. Quetítulo atraente! que mistérios nãooculta! E se voltarmos ao ponto departida, que caminho não percorre-ram essas idéias nos últimos anos! –No começo esses fenômenos, aindanão explicados, consistiam numasimples mesa posta em movimentopela imposição das mãos; hoje as

mesas não se contentam mais emgirar, saltar, erguer-se num pé, fazermil piruetas; vão mais longe: falam!Quando digo: falam, é que têm umalfabeto próprio e, mesmo, vários.Basta dirigir-lhes uma pergunta elogo é dada a resposta por pequenasbatidas seguidas, com o pé, ou pormeio de um lápis que, seguro pelamão, põe-se a traçar, no papel, si-nais, palavras, frases inteiras ditadaspor uma vontade estranha e des-conhecida. Então a mão se tornaum simples instrumento, um meroporta-lápis, e o Espírito da pessoafica completamente estranho a tu-do o que se passa.

“O Espiritismo – é assim quechamam a ciência desses fenôme-nos – em poucos anos fez grandesprogressos nos fatos e na prática;mas a teoria, em minha opinião,não fez o mesmo caminho, ficouestacionária e direi por quê.

“É incontestável, a menos queas pessoas que se ocupam dessa ma-téria não tenham interesse em seenganar e nos enganar, que os fatosexistem. Não só se revelam pormeio das mesas, mas, também, senos apresentam todos os dias e a to-das as horas. Excitam a admiraçãode todos, mas cada um fica nisto.Por exemplo:

“Duas pessoas concebem a

mesma idéia ou se encontram si-multaneamente na mesma palavra;alguém que não encontramos comfreqüência e em quem acabamos depensar apresenta-se inopinadamen-te; batem à nossa porta e, a despei-to de nada vir de fora que nos indi-que a pessoa, adivinhamos quem é;uma carta com dinheiro nos cheganum momento de urgência; e tan-tos outros casos freqüentes, tão nu-merosos e conhecidos de todo omundo. Tudo isto pode ser atribuí-do ao acaso? Não; não pode ser oacaso em caso algum. E por quenão seria uma comunicação fluídi-ca, inapreciável à nossa organizaçãomaterial, enfim um sexto sentido denatureza mais elevada? Ninguémsabe onde reside a alma; ela não évisível, nem ponderável, nem tan-gível e, todavia, cheios de convicçãocomo estamos, afirmamos a suaexistência.

“Qual a natureza do agente elé-trico? O que é o ímã?... E, contudo,os efeitos da eletricidade e do mag-netismo estão sempre patentes aosnossos olhos. Estou convencido deque um dia se dará o mesmo com oEspiritismo, ou seja qual for o no-me que a ciência, em última instân-cia, haja por bem lhe dar.

“Desde algum tempo tenhovisto numerosos casos de catalepsia,

Extrato do Jornal do Commercio

do Rio de Janeirode 23 de setembro de 1863

Crônica de Paris

PÁGINAS DA REVUE SPIRITE

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de magnetismo, de Espiritismo enão posso conservar a menor dúvi-da a seu respeito; mas o que me pa-rece mais difícil é poder explicá-lose os atribuir a esta ou àquela causa.Assim, é necessário proceder comprudência e reserva de opinião, abs-tendo-se de cair nos dois extremos:ou negar todos os fatos, ou sub-metê-los todos a uma teoria pre-matura.

“A existência dos fenômenos éincontestável; sua teoria ainda estápor descobrir: eis hoje o estado daquestão. Não se pode negar que ha-ja algo de singular e digno de serexaminado nesta idéia que agitou omundo inteiro e que reaparece commais intensidade que nunca, nessaidéia que tem os seus órgãos perió-dicos, seus anais de observaçãoe que tem emocionado os espíritosna Áustria, na Itália e na América,fazendo nascerem reuniões na Fran-ça, país onde elas raramente se for-mam, e onde o governo dificil-mente as tolera.

“Esta invasão geral, além deproduzir uma viva impressão, temaltíssima importância. É necessário,pois, sem precipitação nem idéiaspreconcebidas, verificar esses fenô-menos com boa-fé, até que venhama ser explicados, o que será feito umdia, se a Deus aprouver nos revelara natureza desse agente misterioso.”

Como se vê, o autor não émuito adiantado; mas, pelo menos,não julga o que não sabe. Reconhe-ce a existência dos fatos e sua causaprimeira, mas desconhece seu mo-do de produção. Ignora os progres-sos da parte teórica da ciência e, arespeito, dá um conselho muito sá-bio: o de não fazer teorias arrisca-das, como no começo dos fenôme-nos muitos se apressaram em fazer,

em que cada um se desdobrava pa-ra os explicar à sua maneira. Assim,a maioria desses sistemas prematu-ros caiu por efeito de experiênciasulteriores, que vieram contradizê--los. Hoje possuímos uma teoria ra-cional, na qual nenhum ponto foiadmitido a título de hipótese; tudoé deduzido da experiência e da ob-servação atenta dos fatos. Pode di-zer-se que, a tal respeito, o Espiri-tismo tem sido estudado à maneiradas ciências exatas.

Negada ontem, esta ciêncianão disse tudo; ao contrário, aindaresta muita a aprender. Mas dissebastante para ser fixada em basesfundamentais e saber que esses fe-nômenos não saem da ordem dosfatos naturais. Foram qualificadoscomo sobrenaturais e maravilhosospor falta de conhecimento da leique os rege, como ocorreu com amaioria dos fenômenos da Na-

tureza. Dando a conhecer esta lei, oEspiritismo restringe o círculo domaravilhoso, ao invés de o ampliar.Dizemos mais: ele lhe desfecha oúltimo golpe. Os que falam de ou-tro modo provam que não o estu-daram.

Constatamos com satisfaçãoque a idéia espírita faz sensíveis pro-gressos no Rio de Janeiro, ondeconta expressivo número de repre-sentantes, fervorosos e devotados. Apequena brochura O Espiritismoem sua expressão mais simples, pu-blicada em português, muito con-tribuiu para ali espalhar os verda-deiros princípios da doutrina.

Allan Kardec

Fonte: Revue Spirite (Revista Espírita) –julho de 1864, p. 286-290, tradução deEvandro Noleto Bezerra – Ed. FEB.

Perdão e PazCorydes Monsores

Quem busca a paz negando-se ao perdão,nega a si mesmo, em grande incoerência,pois conflitando a própria consciêncianão abrirá, jamais, o coração.

Tanto o perdão que busca a conveniênciaquanto a paz que se exime do perdão,são frutos enganosos dos que estãoainda afastados da benevolência.

Só pode a paz um coração serenoque, de misericórdia, estará plenose conscientizado no perdão.

Quando a chama do ódio se desfazo perdão, de mãos dadas com a paz,ao homem facilita a evolução.

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De vinte e duas questões nosocuparemos neste estudo emtorno do capítulo IX da Par-

te 3a de O Livro dos Espíritos. ARevista Espírita de outubro de1861 registra o Banquete oferecidoa Allan Kardec em Lyon, no dia 19de setembro de 1861, no qual é li-da a Epístola do Espírito Erasto, emque, referindo-se às palavras de Je-sus “Dai a César o que é de César”,afirma Erasto: “Pois bem, espíri-tas! a igualdade proclamada peloCristo, e que nós mesmos professa-mos nos vossos grupos amados, é aigualdade perante a justiça de Deus,isto é, nosso direito, conforme nos-so dever cumprido, de subir na hie-rarquia dos Espíritos e um dia atin-gir os mundos avançados, ondereina a perfeita felicidade.” (2. ed.FEB, p. 441.)

Com esse mesmo conceito deigualdade, analisemos as questões aque se refere o capítulo em estudo.

Igualdade natural (questão 803do mestre Kardec): “Perante Deus,são iguais todos os homens?” Res-

pondem os Espíritos Reveladores:“Sim, todos tendem para o mesmofim e Deus fez suas leis para todos.”E o Codificador comenta, con-cluindo que “(...) Deus a nenhumhomem concedeu superioridadenatural, nem pelo nascimento, nempela morte: todos, aos seus olhos,são iguais”.

Desigualdade das aptidões(questões 804 e 805): Às indaga-ções de Kardec – “Por que não ou-torgou Deus as mesmas aptidões atodos os homens?” e “Passando deum mundo superior a outro infe-rior, conserva o Espírito, integral-mente, as faculdades adquiridas?” –dão-lhe os Espíritos as seguintes res-postas para nossas reflexões: “Deuscriou iguais todos os Espíritos, mascada um destes vive há mais oumenos tempo, e, conseguintemente,tem feito maior ou menor soma deaquisições. A diferença entre elesestá na diversidade dos graus de ex-periência alcançada e da vontadecom que obram, vontade que é olivre-arbítrio. E continuam, paramelhor esclarecimento: “Daí o seaperfeiçoarem uns mais rapida-mente do que outros, o que lhes dáaptidões diversas.” Isto se nos afigu-

ra naturalmente óbvio. Esclarecem,finalmente, que “(...) sendo solidá-rios entre si todos os mundos, ne-cessário se torna que os habitantesdos mundos superiores, que, na suamaioria, foram criados antes dovosso, venham habitá-lo para vosdar o exemplo.”

Quanto à segunda indagação,respondem com clareza: “Sim, játemos dito que o Espírito que pro-grediu não retrocede. Poderá esco-lher, no estado de Espírito livre, uminvólucro mais grosseiro, ou posiçãomais precária do que as que já te-ve, porém tudo isso para lhe servirde ensinamento e ajudá-lo a pro-gredir.” Kardec, em seu comentá-rio, confirma que “assim, a diversi-dade das aptidões entre os homensnão deriva da natureza íntima dasua criação, mas do grau de aperfei-çoamento a que tenham chegado osEspíritos encarnados (...)”. Ou seja,deriva da responsabilidade e con-quista de cada um!

Desigualdades sociais (ques-tões 806 e 807): O Codificador in-daga se “é lei da natureza a desi-gualdade das condições sociais” Eisa resposta: “Não; é obra do homeme não de Deus.” E busca melhor

Repensando Kardec

Da Lei de Igualdade(O Livro dos Espíritos, questões 803 a 824)

Inaldo Lacerda Lima

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entendimento ao perguntar se al-gum dia tal desigualdade desapare-cerá. Eles respondem:“Eternas so-mente as leis de Deus o são. Não vêsque dia a dia ela gradualmente seapaga? Desaparecerá quando oegoísmo e o orgulho deixarem depredominar. Restará apenas a desi-gualdade do merecimento.”

Na questão seguinte, perguntaKardec a respeito do que se devepensar dos que abusam da superio-ridade de suas posições sociais emproveito próprio e oprimindo osfracos. Os Mensageiros do Cristorespondem, numa expressão de ad-vertência: “Merecem anátema! Aideles! Serão, a seu turno, oprimi-dos: renascerão numa existência emque terão de sofrer tudo o que tive-rem feito sofrer aos outros.” Kardecnos sugere reler o que se encon-tra expresso na questão 684, já estu-dada.

Desigualdade das riquezas(questões 808 a 813): Pergunta,agora, Allan Kardec: “A desigualda-de das riquezas não se originará dadas faculdades, em virtude da qualuns dispõem de mais meios de ad-quirir bens do que outros?” Elesrespondem: “Sim e não. Da velha-caria e do roubo, que dizes? Kardeccontemporiza: “Mas, a riqueza her-dada, essa não é fruto de paixõesmás.” Atentemos nesta resposta:“Que sabes a esse respeito? Busca afonte de tal riqueza e verás quenem sempre é pura. Sabes, porven-tura, se não se originou de uma es-poliação ou de uma injustiça? Esalientam: “Mesmo, porém, semfalar da origem, que pode ser má,acreditas que a cobiça da riqueza,ainda quando bem adquirida, osdesejos secretos de possuí-la o maisdepressa possível, sejam sentimentos

louváveis? Isso o que Deus julga eeu te asseguro que o seu juízo é maissevero que o dos homens.”

Prosseguindo o assunto, inda-ga ainda Kardec (questão 809) se“aos que, mais tarde, herdam umariqueza inicialmente mal adquirida,alguma responsabilidade cabe poresse fato”. Os Espíritos respondem:“É fora de dúvida que não são res-ponsáveis pelo mal que outros ha-jam feito, sobretudo se o ignoram,como é possível que aconteça. Mas,fica sabendo que, muitas vezes, ariqueza só vem ter às mãos de umhomem, para lhe proporcionar en-sejo de reparar uma injustiça. Felizdele, se assim o compreende!” Eis oporquê da reencarnação...

Neste mundo nada é nosso,nada nos pertence. Justo é fazer dariqueza que nos vem às mãos umbem útil, sobretudo à sociedade,colocando-nos na posição de admi-nistradores, gerando empregos eproporcionando, assim, bem-estarsocial, contribuindo para diminuiros desconfortos das desigualdadessociais. Em resposta à questão 810,afirmam os Espíritos Superiores que“toda ação produz seus frutos; do-ces são os das boas ações, amargossempre os das outras. Sempre, en-tendei-o bem”.

Insiste Kardec (questão 811):“Será possível e já terá existidoigualdade absoluta das riquezas?” Ve-jamos a resposta segura deles: “Não;nem é possível. A isso se opõe a di-versidade das faculdades e dos ca-racteres.” Kardec, porém, redargueque há homens que julgam ser esseo remédio aos males da sociedade.E indaga, ainda, sobre o que pen-sam a respeito. Não vamos repro-duzir toda a resposta, mas registrarque para eles, os homens são siste-máticos, ambiciosos e cheios de in-veja. E advertem ao final: “Comba-tei o egoísmo, que é a vossa chagasocial, e não corrais atrás de qui-meras.”

Nas questões seguintes (812 e813), Kardec quer saber se, nãosendo possível a igualdade das ri-quezas, o mesmo se dá com o bem--estar social e se será possível quetodos venham a entender-se. Ob-servemos como lhe responderam osMensageiros da Espiritualidade, es-clarecendo-nos: “Não; mas o bem--estar é relativo e todos poderiamdele gozar, se se entendessem con-venientemente, porque o verdadei-ro bem-estar consiste em cada umempregar o seu tempo como lheapraza e não na execução de traba-lhos pelos quais nenhum gosto sen-te.” Quanto à possibilidade de to-dos se entenderem, um dia: Sim,“quando praticarem a lei de jus-tiça”. Finalmente, na questão (813),ao afirmar o Codificador que “hápessoas que, por culpa sua, caem namiséria”, indaga se “nenhuma res-ponsabilidade caberá disso à socie-dade”, ao que respondem: “Mas,certamente. Já dissemos que a socie-dade é muitas vezes a principalculpada de semelhante coisa.” E ex-plicam que tem ela o dever de velar

Combatei o

egoísmo, que é a

vossa chaga social,

e não corrais atrás

de quimeras

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pela educação moral dos seus mem-bros, pois “é a má-educação quelhes falseia o critério, ao invés desufocar-lhes as tendências perni-ciosas”. Aqui mesmo, em nosso país,vemos o desinteresse pela educaçãosocial!

As provas da riqueza e da mi-séria (questões 814 a 816): Veja-mos estas três importantes ques-tões: 1) “Por que Deus a uns con-cedeu as riquezas e o poder, e a ou-tros, a miséria?” 2) “Qual das duasprovas é mais terrível para o ho-mem, a da desgraça ou a da ri-queza?” 3) “Estando o rico sujeitoa maiores tentações, também nãodispõe, por outro lado, de maismeios de fazer o bem?” Eis comoforam respondidas: Em primeirolugar, “(...) essas provas foram esco-lhidas pelos próprios Espíritos, quenelas, entretanto, sucumbem comfreqüência”; para experimentá-losde modos diferentes é que Deus asconcede. Ambas são provas terrí-veis, pois “(...) a miséria provocaqueixas contra a Providência” en-quanto “a riqueza incita a todos osexcessos”. Kardec está correto aolembrar que o rico, embora sujeitoa maiores tentações, “dispõe, poroutro lado, de mais meios de fazero bem”. Respondem os Mensa-geiros: “Mas, é justamente o quenem sempre faz. Torna-se egoísta,orgulhoso e insaciável. Com a ri-queza, suas necessidades aumen-tam e ele nunca julga possuir obastante para si unicamente.” Daí,em seu comentário ao término doassunto, salientar o Codificadorque a alta posição e a autoridadesão provas tão grandes e escorrega-dias como a própria desgraça! Oque nos leva a discernir, do pontode vista espiritual, que a miséria é

preferível à riqueza assessorada pe-lo poder.

Igualdade dos direitos do ho-mem e da mulher (questões 817 a822): Como resumir assunto decunho tão fundamental? Tentemos.São iguais realmente perante Deuso homem e a mulher.“Não outor-gou Deus a ambos a inteligência dobem e do mal e a faculdade de pro-gredir?” perguntam os Espíritos.Quanto à inferioridade moral damulher em alguns países, decorre,entendem eles, “do predomínio in-justo e cruel que sobre ela assumiuo homem” imperfeito e atrasado,para quem “a força faz o direito”.O atraso do homem nesses paísesnão lhe permite entender o porquêapresentar-se a mulher mais fracado que ele, fraqueza apenas aparen-te na ordem física! Afirmam osBenfeitores que ambos, a mulher eo homem, foram criados por Deuspara se ajudarem mutuamente e su-portar, juntos, as provas de umaexistência de amargores, não nosentido de dependência um do ou-tro, mas unidos na ordem dos valo-res de que ambos dispõem.

As funções a que é destinada amulher têm, realmente, caracterís-ticas por vezes bem acima das quesão destinadas ao homem. Em res-posta à questão 822, informamos Espíritos Superiores que “o pri-meiro princípio de justiça é este:Não façais aos outros o que nãoquereríeis que vos fizessem”. Acres-centam, ainda, que “todo privilégioa um ou a outro concedido é con-trário à justiça. (...) Devem, porconseguinte, gozar dos mesmos direi-tos”. E mais, a ignorância não per-mite a esses homens entenderemque o Espírito não tem sexo; demodo que um mesmo Espírito po-

de encarnar como homem ou co-mo mulher!...

Igualdade perante o túmulo(questões 823 e 824). Indaga AllanKardec: “Donde nasce o desejo queo homem sente de perpetuar suamemória por meio de monumentosfúnebres?” A resposta da Espiritua-lidade é incisiva: “Último ato deorgulho”. E quando o Codificadorargumenta, na mesma questão, quea suntuosidade dos túmulos não édo defunto mas dos parentes, eles,os Espíritos, ratificam:“Orgulho dosparentes, desejosos de se glorifica-rem a si mesmos.” E exclamam:“Oh! sim, nem sempre é pelo mor-to que se fazem todas essas demons-trações.” O Codificador, encerran-do o capítulo em estudo (questão824), pergunta: “Reprovais então,de modo absoluto, a pompa dosfunerais?” Atentemos na resposta,bem como no comentário precisode Kardec, em seguida: “Não; quan-do se tenha em vista honrar a me-mória de um homem de bem, é jus-to e de bom exemplo.” E Kardec:“O túmulo é o ponto de reunião detodos os homens. Aí terminam ine-lutavelmente todas as distinções hu-manas. Em vão tenta o rico perpe-tuar a sua memória, mandandoerigir faustosos monumentos.” (...)E conclui, em seu comentário, que“a pompa dos funerais não o limpa-rá das suas torpezas, nem o fará su-bir um degrau que seja na hierar-quia espiritual”. Kardec sugere ler(com bastante proveito intelectuale moral), as questões 320 e seguin-tes (do capítulo VI, da Parte 2a, quetrata de Comemoração dos mor-tos. Funerais.)

Eis, leitor amigo e espiritista, aimportância auto-educacional deler e repensar Kardec!

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USE-SP: Encontro Estadual de Educadores Será realizado em Ribeirão Preto (SP), nos dias 17 e18 de setembro próximo, o Encontro Estadual deEducadores da Infância e Juventude, promovido peloDepartamento da Infância da União das SociedadesEspíritas do Estado de São Paulo, organizado pelo De-partamento da Infância da USE Intermunicipal de Ri-beirão Preto e voltado para o estudo e as práticas pe-dagógicas que orientam as atividades dos educadoresda infância. O evento ocorrerá no Sanatório Vicentede Paulo (Rua Pará, 1280 – Bairro Ipiranga) e esperareceber 250 participantes, das casas espíritas e órgãosde unificação do Estado de São Paulo.

Paraná: Encontros Inter-RegionaisA Federação Espírita do Paraná prossegue com o seunovo ciclo das Inter-Regionais, cuja programaçãocompreende a realização de um Seminário Geral equatro Seminários Setoriais, das Áreas Administrati-va/Institucional, Doutrinária/Difusão, Infância e Ju-ventude, e Serviço de Assistência Espírita.

A Inter-Regional Noroeste ocorreu no dia 12 dejunho, em Paranavaí, com abrangência das UREs se-diadas em Maringá, Paranavaí, Umuarama e CampoMourão.

A Inter-Regional Oeste está programada para PatoBranco, dia 3 de julho corrente, na Faculdade de Pa-to Branco (FADEP), e reúne as cidades pertencentesàs UREs de Cascavel, Foz do Iguaçu e Pato Branco.

Porto Rico: Movimento EspíritaO Movimento Espírita porto-riquenho a cada dia seconsolida mais. Já existem seis instituições voltadas aoestudo do Espiritismo no país; na parte de imprensahá um órgão de divulgação doutrinária, a RevistaUnión Espiritista, editada pela Unión Espiritista –Escuela de Consejo Moral de Puerto Rico. Endereçopostal da Unión: P.O. Box 360592 San Juan – PortoRico – 00936-0592 – Telefone (787) 751-4872.(SEI.).

R. G. do Sul: Seminário sobre Infância e JuventudeO Ministério Público do Rio Grande do Sul promo-veu em Porto Alegre, no dia 16 de abril, o seminário

“Infância e Juventude numa Visão Jurídico-Espírita”,em ação conjunta com a Associação Jurídico-Espíritado Rio Grande do Sul. O evento ocorreu no auditó-rio do Palácio do Ministério Público e foi uma conse-qüência direta das intervenções que os espíritas têmfeito na área jurídica, mostrando a interpretação daDoutrina com relação aos fatos da atualidade. Diver-sas autoridades do Judiciário e do Ministério PúblicoEstadual e Federal estiveram presentes, além de gran-de público. (Diálogo Espírita.)

Minas Gerais: Encontro de TrabalhadoresRealizou-se no dia 3 de abril o III Encontro dos Tra-balhadores da União Espírita Mineira, com a presen-ça de diretores, conselheiros, departamentos/setores,diretores de reuniões, funcionários e voluntários da-quela federativa. No Encontro houve a apresentaçãodo site da UEM e foram abordados diversos assuntos,entre os quais as atribuições da COMAP – Comissãode Apoio à Diretoria –, criada para dar suporte aos de-partamentos junto à Diretoria. Foram mencionadasas campanhas aprovadas pelo Conselho FederativoNacional, da FEB: Viver em Família, Em Defesa daVida e Construamos a Paz Promovendo o Bem! Fa-lou, no encerramento, o Presidente Honório Onofrede Abreu, que abordou assuntos atinentes à UEM.

Itália: Estudo sobre o homem espíritaA Associazione Sentieri dello Spirito (Associação Ca-minhos do Espírito), de Milão, promoveu, no dia 9de maio, um estudo sobre o tema O homem espírita,cuja exposição coube a Elsa Rossi, Secretária da Co-ordenadoria de Apoio ao Movimento Espírita naEuropa, do Conselho Espírita Internacional. Infor-mações: Telefone 328-00776557; correio eletrô[email protected]

Bélgica: Simpósio espíritaA Union Spirite Belge (União Espírita Belga) realizou,no dia 14 de maio, o seu 6o Encontro, com o temaO trabalho fundamental dos Centros Espíritas. Oevento ocorreu em sua sede social, onde está em fun-cionamento a Fédération Spirite de la Province deLiège.

SEARA ESPÍRITA

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