editoras mineiras: o lugar da poesia

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Organizadoras Patrícia Fonseca Sônia Queiroz Editoras mineiras o lugar da poesia FALE/UFMG Belo Horizonte 2011

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Volume 3 da coleção de Editoras mineiras

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  • OrganizadorasPatrcia Fonseca Snia Queiroz

    Editoras mineiraso lugar da poesia

    FALE/UFMG

    Belo Horizonte

    2011

  • 7 O lugar ocupado pela poesia em MinasPatrcia Fonseca de Souza

    11 Poesia em nmerosPatrcia Fonseca de Souza

    33 Associao Cultural PandoraPatrcia Fonseca de Souza

    37 Rotas alteradas: a participao de instituies

    oficiais na publicao de poesia em MinasMichelle Souto Falco Stphanie Paes Rodrigues

    49 Imprensa Oficial do

    Estado de Minas GeraisPatrcia Fonseca de Souza

    53 O Suplemento LiterrioCludia B. Garabini

    57 O Suplemento Literrio

    sob a direo de Carlos vilaPatrcia Fonseca de Souza

    61 O Suplemento Literrio

    em atual direo Jaime Prado GouvaPatrcia Fonseca de Souza

    Diretor da Faculdade de LetrasLuiz Francisco Dias

    Vice-DiretoraSandra Maria Gualberto Braga Bianchet

    Comisso editorialEliana Loureno de Lima Reis Elisa Amorim VieiraFbio Bonfim Duarte Lucia Castello Branco Maria Cndida Trindade Costa de Seabra Maria Ins de Almeida Snia Queiroz

    Capa e projeto grficoGlria Campos Mang Ilustrao e Design Grfico

    Preparao de originais Patrcia Fonseca de Souza

    DiagramaoGabriela Brasileiro

    Reviso de provasGabriela BrasileiroPaulo Henrique Alves

    Endereo para correspondnciaLABED Laboratrio de Edio FALE/UFMGAv. Antnio Carlos, 6627 sala 408131270-901 Belo Horizonte/MGTel.: (31) 3409-6072e-mail: [email protected]: www.letras.ufmg.br/labed

    Sumrio

  • 109 Mazza Edies:

    Poesia vende, sim!Juliane Matarelli

    113 Editora Scriptum:

    a poesia em posio de destaqueAna Lvia Resende Gomes Frederico Claret Freitas Teixeira Lucas Sander Mrio Vincius Ribeiro Gonalves

    117 A revelao de jovens

    poetas brasileiros na Revista

    Literria do Corpo Discente da UFMGEnio Luiz de Carvalho Biaggi

    121 Referncias

    123 Livros de poesia publicados por editoras mineiras

    65 Edies de Drummond e

    Henriqueta LisboaFernanda Bretas Santos Ksia Rodrigues de Oliveira

    75 Poemix: o Selo do

    Livro ColaborativoKeuler Torres Michele Guimares Paola Evangelista Rayanne Teles

    81 As margens da poesiaAna Carolina Clayton Vilaa Eduardo Soares Tiago Garcias

    89 Edies Vale do JequitinhonhaFelipe Alves Mrcio Lopes Maria Fernandina Batista

    97 Um recorte geogrfico:

    as grandes cidades mineirasElaine Cristina Fernanda Maral Iuri Queiroz Maiara Marques

    99 Edies DubolsoElaine Cristina Fernanda Maral Iuri Queiroz Maiara Marques

    103 Mansur e a Tipografia

    do Fundo de Ouro PretoPatrcia Fonseca de Souza

  • O lugar ocupado pela poesia em MinasPatrcia Fonseca de Souza

    O percurso histrico da edio no Brasil bastante instigante. A presena

    da imprensa torna-se imprescindvel a partir da necessidade de veicula-

    o de mensagens, que perpassam desde a mera funo informativa s

    mais importantes para a vida poltica e social do pas, das quais resul-

    taram conquistas como a proclamao da independncia, a abolio da

    escravatura, a proclamao da repblica, entre muitas outras. A partir

    disso, j possvel perceber que a imprensa teve papel fundamental na

    construo da histria do Brasil. Mas, apesar da importncia desse per-

    curso editorial por todo o pas, a esta pesquisa interessa apenas a histria

    da edio em Minas Gerais, tanto pela localizao geogrfica de nossa

    Universidade, a UFMG, quanto pela constatao de que so pouqussimos

    os dados disponveis em documentos e publicaes que registram o tra-

    jeto da edio neste estado.

    A produo editorial brasileira se concentrou por muito tempo em

    apenas dois estados, So Paulo e Rio de Janeiro, o que fez com que

    somente esses fossem os locais de maiores enfoques para o processo de

    evoluo da imprensa no pas. A partir de pesquisa bibliogrfica acerca

    da histria da edio no Brasil, observa-se que s existem dois livros a

    respeito desse assunto que trazem informaes consideravelmente rele-

    vantes sobre o estado mineiro: O Livro no Brasil, de Laurence Hallewell,

    e Momentos do Livro no Brasil, organizado por Fernando Paixo e Maria

    Celeste Mira. Alm desses, foram lanados em 2009, pela editora labora-

    trio Viva Voz da Faculdade de Letras da UFMG, os livros Editoras Mineiras,

    volumes 1 e 2, contendo ensaios sobre a histria da edio em Minas e

    entrevistas realizadas com representantes de quinze editoras em ativi-

    dade no estado de Minas Gerais. Esses trabalhos so resultados de uma

    pesquisa iniciada em 2008 no Bacharelado em Letras, nfase em Edio.

    Por meio dessas poucas referncias, observa-se que, apesar de

    haver no pas impresses que datam de 1706, a primeira experincia

    de impresso em Minas Gerais s ocorreu em 1789, na antiga capital,

    Vila Rica, atual Ouro Preto. Trata-se de folhetos impressos das Cartas

  • 8 Editoras mineiras: o lugar da poesia O lugar ocupado pela poesia em Minas 9

    Bibliotecas da UFMG, o Acervo de Escritores Mineiros da UFMG, a Biblioteca

    Pblica Estadual Prof. Luiz de Bessa, a Coleo Mineiriana do Instituto

    Amilcar Martins, o catlogo online da Biblioteca Nacional e ainda o acervo

    particular da Professora Snia Queiroz. Alm disso, tambm foi utilizado o

    levantamento bibliogrfico referente edio de poesia em Minas presente

    na Monografia Histria da edio de poesia em Minas Gerais: um breve

    panorama, de Patrcia Fonseca de Souza. Depois de realizar o levantamento

    bibliogrfico, os alunos foram em busca de informaes sobre a instituio

    que mais tivesse publicado poesia dentro de cada um dos recortes citados

    acima. Dessa forma, chegou-se Associao Cultural Pandora, Imprensa

    Oficial, ao Suplemento Literrio, Editora UFMG, Tradio Planalto

    Editora, Unimontes e s Edies Dubolso. A partir desse levantamento,

    tais instituies foram procuradas e entrevistadas, visando obter informa-

    es exclusivas sobre o processo editorial de poesia em Minas Gerais. Alm

    disso, por se tratar de um nome importante nesse cenrio, tambm foi

    includa a entrevista realizada com o tipoeta Guilherme Mansur, presente

    na monografia de Patrcia Fonseca de Souza citada acima. Tambm foram

    trazidas do volume 1 do livro Editoras Mineiras para este livro um trecho da

    entrevista feita com a Mazza Edies, por ter a poesia um papel importante

    em sua histria, e a entrevista com a editora Scripum, pelo foco dado a

    esse gnero. Outro trabalho tambm includo neste volume um artigo de

    Enio Luiz de Carvalho Biaggi sobre a Revista Literria do Corpo Discente

    da UFMG, a qual se destaca pelo grande nmero de poesias publicadas em

    seus volumes durante sua existncia.

    Mesmo aps a coleta de todos esses dados, ainda no ser possvel

    traar um panorama completo da histria da edio de poesia em Minas,

    uma vez que, sendo o tema muito amplo, foi preciso fazer algumas deli-

    mitaes para que pudssemos, enfim, chegar, de maneira mais imediata,

    a algum resultado. Todavia, este trabalho, ainda que restrito, servir, no

    mnimo, para preencher um pouco da lacuna existente acerca desse tema

    e, ainda, para instigar a curiosidade daqueles que tambm se interessam

    por ele. A pesquisa, portanto, no se esgota aqui. Pelo contrrio, ela dar

    o pontap inicial para a descoberta do trabalho editorial mineiro referente

    publicao de poesia.

    Chilenas1 conjunto de poemas escritos em versos decasslabos e bran-

    cos, com uma metrificao parecida com a da epopia cujo contedo

    era um manifesto contra Lus da Cunha Meneses, governador da capitania

    naquela poca. Na mesma cidade, houve, em 1806, publicao feita por

    Padre Viegas de Menezes de um poema escrito por Diogo de Vasconcelos,

    denominado Canto Encomistico, em homenagem a outro governador, D.

    Pedro Maria Xavier de Atade. Nota-se, portanto, que o gnero literrio

    poesia deu incio circulao de textos no estado mineiro e, por isso,

    assunto de extrema importncia na construo dessa histria.

    Alm disso, sabe-se que, dentre os mais importantes poetas

    da literatura brasileira, encontra-se um grande nmero de escritores

    naturais de Minas Gerais, como Cludio Manoel da Costa, Alphonsus

    de Guimaraens, Bernardo Guimares, Carlos Drummond de Andrade,

    Affonso vila, Murilo Mendes e ainda Las Corra de Arajo, Adlia Prado

    e Henriqueta Lisboa. Portanto, tendo a poesia um papel importantssimo

    na histria de Minas Gerais, esse , de fato, um trabalho que merece

    ateno. Sabe-se que os esforos empreendidos ainda no sero sufi-

    cientes para traar um panorama dessa histria. Por outro lado, acredita-

    se que aos poucos, ela ser contada.

    Enveredando-se por caminhos ocultosO primeiro passo dado por esta pesquisa foi a utilizao de recortes que

    propiciassem algumas delimitaes especficas a respeito da edio de

    poesia em Minas Gerais. Sendo assim, a pesquisa realizada pelos alunos

    da disciplina Estudos Temticos de Edio: histria da edio em Minas,

    ministrada pela Professora Snia Queiroz, levantou dados relativos

    publicao de poesia da seguinte forma: edies feitas por rgos ofi-

    ciais e editoras universitrias; edies de Carlos Drummond de Andrade e

    Henriqueta Lisboa; edies colaborativas; poesia marginal; edies reali-

    zadas no Vale do Jequitinhonha e edies realizadas nas grandes cidades

    mineiras. Para tanto, foram consultados diversos acervos: o Sistema de

    1 Segundo Sebastio Uchoa Leite (1966), apesar das Cartas Chinenas que possuem esse nome pelo fato de a histria se passar, fingidamente, no Chile serem annimas, a maioria dos crticos indicam a autoria de Tomaz Antnio Gonzaga. Embora outros defendam o nome de Cludio Manoel da Costa, algumas anlises psicolgicas e estilsticas do poema, apontam traos pertinentes a autoria de Gonzaga.

  • Poesia em nmerosPatrcia Fonseca de Souza

    Aps realizada a pesquisa bibliogrfica acerca das edies de poesia fei-

    tas em Minas Gerais, possvel traar um breve panorama a respeito

    dessa histria. Considerando o nmero de livros editados por institui-

    o, observa-se a importncia da Imprensa Oficial do Estado de Minas

    Gerais quando se trata do processo de edio de poesia neste estado,

    pois s esse rgo responsvel por 16% do levantamento bibliogrfico.

    Essa porcentagem, diante dos dados colhidos, considerada altssima,

    visto que, como veremos adiante, a contagem por instituio, na maioria

    das vezes, no chega a 1%. Sendo assim, a Associao Cultural Pandora

    tambm merece destaque, pois, salvo o caso da Imprensa Oficial e da

    Mazza Edies1, com 16% e 8%, respectivamente, ela foi a nica a atin-

    gir a marca de 6% da bibliografia levantada. interessante observar que

    essa Associao, que ficou em terceiro lugar na pesquisa, considerando o

    nmero de publicaes, no existe como editora. Esse foi um selo criado

    pelo poeta Marcelo Dolabela especialmente para a publicao da coleo

    Poesia Orbital, que, como parte das comemoraes do centenrio de Belo

    Horizonte, publicou em torno de 63 livros de poetas da capital mineira por

    meio de subsdios da Prefeitura2 que contribuiu com 53% dos custos e

    de recursos advindos de outras fontes ou at dos prprios poetas. Esses

    nmeros demonstram a importncia dos rgos oficiais na publicao

    de poesia no estado de Minas Gerais. Afinal, somando-se as publicaes

    de todos eles, verifica-se que esses rgos so responsveis por nada

    menos do que 30% dos livros encontrados pela pesquisa realizada.

    As editoras universitrias foram um dos grupos com menor nmero

    de edies de poesia no estado, apenas 5%. Segundo o levantamento

    bibliogrfico, s a Universidade Federal de Minas Gerais somando-se as

    publicaes da Faculdade de Letras, da Editora UFMG, do D.A. Letras e

    da antiga UMG publicou 28 dos 60 livros de poesia editados pelo grupo.

    1 No volume 1 do livro Editoras Mineiras, h uma entrevista com a Mazza. O trecho do texto que se refere ao trabalho com a poesia foi trazido para este volume, que se dedica especialmente a esse gnero da literatura.

    2 Pelo fato de esse selo ter sido, majoritariamente, subsidiado pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, ele ser aqui considerado como edio de rgos oficiais.

  • 12 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 13

    A prxima editora universitria que mais publicou foi a Unimontes, com

    17 livros. Essa anlise demonstra a importncia da nossa universidade

    na publicao do gnero poesia em detrimento das outras universidades

    do estado, pois, enquanto UFMG soma 47% das publicaes do grupo de

    editoras universitrias, as demais universidades do estado, salvo o caso

    da Unimontes, possuem em torno de 1 a 5 livros de poesia publicados, o

    que representa no mximo 8%.

    J as editoras privadas no ultrapassam, cada uma, 2% das publi-

    caes marca que, alis, atingida por somente uma delas, a Itatiaia.

    As outras editoras no chegam a nem 1%. Ao todo, essas editoras so

    responsveis por apenas 5% dos livros levantados pela pesquisa biblio-

    grfica. Este nmero demonstra claramente a falta de espao existente

    para a poesia em meio atividade editorial privada quando esta ltima

    trata o livro de poesia como um produto no lucrativo.

    Outro ponto importante a destacar que muitas editoras e grfi-

    cas privadas, como Edies Dubolso, Tipografia do Fundo de Ouro Preto,

    Anome livros, Arte Quintal, Mazza, Cuatiara, Grf. Santa Maria, O Lutador,

    Orob Edies, So Vicente, Scriptum, SEGRAC e vrias outras, encaixam-

    se nas chamadas edies do autor quando este arca com todos os

    custos para a publicao do livro. Segundo o levantamento bibliogrfico

    realizado, verifica-se que 59% das publicaes podem ser includas nesse

    parmetro. Nessa porcentagem, consideram-se no s os livros de edito-

    ras privadas custeados pelo prprio poeta, mas tambm aqueles que j

    sinalizam serem edio do autor ou que no trazem o nome de alguma

    editora (estes so encontrados na tabela como Edio do Autor e [s. n.]).

    Essa constatao demonstra, mais uma vez, que a publicao de poesia

    em Minas Gerais possui pouco espao mercadolgico, visto que a maio-

    ria das edies privadas ocorre pelo fato de o autor desejar ver seu livro

    publicado, e no por iniciativa das prprias editoras. Essas informaes

    podem ser verificadas na tabela abaixo:

    Tabela 1: Publicaes por editoras mineiras

    Tipo de instituio

    Editoras N de publicaes

    total por tipo de instituio

    Edio do autor

    [s. n.] 77

    A. Nogueira 1

    Acaiaca 3

    ACBL 1

    Adi Edies 2

    Agora 2

    Alba 13

    Alcance 1

    Aldrava Letras e Artes 5

    Alfa Centauri 1

    Almeida Artes Grficas 1

    Alternativa 1

    Anome livros 13

    Apolo 2

    Ariel 1

    Armazm de Idias 3

    Arte Quintal 13

    Artes Grficas 1

    Artes Grficas Duarte 1

    Artes Grficas Irmo Gino 3

    Artes Grficas Santo Antnio 4

    Autntica 1

    Barvalle 4

    Bichinho Gritador 1

    Boca de Lobo 1

    Boreal 1

    C/Arte 1

    Caminho Novo 1

    Cave 1

    CEM 1

    Clesi 2

  • 14 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 15

    Tipo de instituio

    Editoras N de publicaes

    total por tipo de instituio

    Clesi; Aldrava Letras e Artes 3

    Clube Literario Marconi Montoli 1

    CONSAE 1

    CS Editora 2

    Cuatiara 12

    D Lira 3

    Da Anta Casa 1

    DGF Edies 1

    Didier 1

    Dimenso 1

    Dimenses 1

    Dom Bosco 1

    Dubolsinho 1

    Dubolso 23

    Ed. A Voz do Lenheiro 1

    Ed. Contbil 1

    Ed. Dadalobela 1

    Ed. Grf. Formato 1

    Ed. Os boreanos 1

    Ed. Tip. da Escola Profissional 8

    Eddal 2

    Edio do Autor 48

    Edies 1300 1

    Edies 2 Luas 11

    Edies ADL 1

    Edies Gerais 1

    Edies Instante 5

    Edies Mensagem 1

    Edifcil 1

    Editora do Professor 1

    Editora JM 1

    Editora Novilngua 1

    Editora Wleze 1

    Emil 7

    Eneida Maria de Souza 1

    Tipo de instituio

    Editoras N de publicaes

    total por tipo de instituio

    Esdeva 2

    Estao de Arte 1

    Estrela do Oeste Clube 1

    Express 3

    FAPI 1

    Folhetim 1

    Fortil 1

    Gatinhos Production 1

    Grf. Belo Horizonte 1

    Grf. Minas 1

    Grf. Santa Maria 10

    Grf. Star Editora 1

    Grfica Brasil 1

    Grfica Divinpolis 3

    Grfica e Editora Unio 1

    Grfica e Editora Valadares 1

    Grfica Edita 1

    Grfica Editora Folha Machadense 1

    Grfica Fiel 1

    Grfica Literatura 1

    Grfica Ouro Preto 2

    Grfica Sidil 5

    Grafipres 1

    Grmio Brasileiro de Trovadores 1

    Guarani 1

    Guimares 1

    Guimares & Toffani 1

    Gutemberg 1

    Imagem 1

    Impresses de Minas 1

    Imprimasset 1

    Independente 3

    Independente - Usicultura 1

    Interlivros 3

    J. Bergamini 1

  • 16 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 17

    Tipo de instituio

    Editoras N de publicaes

    total por tipo de instituio

    Joo Calazans 4

    Jos Henrique 1

    Kosmos 1

    Lemi 10

    Letra por Letra 1

    Liberdade 1

    Litocpias 1

    Litocpias 1

    Littera Maciel 5

    Mantiqueira 7

    Maria Celestina 1

    Mazza 88

    Mazza Edies; Edies DLira 1

    Minas Ed. 1

    Mirante Grfica & Editora 3

    Movimento Humanitrio Algamom da Alma

    1

    Mulheres Emergentes 8

    Multipress 1

    Nova Repblica 1

    Novilngua 1

    Number One 1

    O Escriba 1

    O Expresso 31

    Of. Grf. de Veloso 1

    Oliveira Costa 1

    Ophicina de Arte & Prosa 1

    Optimus Studio 1

    Opus Editora 1

    Oriki 1

    Orob 2

    Orob edies 12

    Os Amigos do Livro 3

    Pgina Stdio Grfico 1

    Panorama 4

    Tipo de instituio

    Editoras N de publicaes

    total por tipo de instituio

    Palesa 1

    Papel 3

    Paraibuna 2

    Pedro e Paulo 1

    Phrasis 2

    Plurarts 2

    Promoo-da-Famlia 1

    Quatro Irmos 1

    Rochart 2

    Rona 3

    Santa Clara 6

    Santa Cruz 1

    Santelmo 2

    So Vicente 7

    Saraiva 1

    Scriptum 12

    SEGRAC 6

    Slo 1

    SERFOR 2

    Sindicato dos Escritores de Minas Gerais 1

    Sografe 2

    Sulminas 1

    Templo 1

    Tendncia 2

    Terra 1

    Tetralogia Minimemria 1

    Tipografia Cosmos 1

    Tipografia do fundo de Ouro Preto 9

    Tipolitografia Escola Profissional 2

    Tratos Culturais Produes 1

    Typ Beltro & C 1

    Typ. Commercial 1

    Typ. Mineira 1

    Typ. So Jos 1

    Typographia do Itacolomy 1

  • 18 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 19

    Tipo de instituio

    Editoras N de publicaes

    total por tipo de instituio

    Unio Brasileira de Trovadores 1

    Vega 10

    Verbi 1

    Vereda 2

    Veredas & Cenrios 1

    Veritas 1

    Viglia 1

    Vitria 1

    Zardo 1 673

    Editoras universitrias

    D.A. Letras 1

    Diretrio Central dos Estudantes da UMG 1

    Ed. UFV 1

    Editora da UFU 5

    Editora UFMG 7

    Editora UFMG/SINTSPREV/MG 1

    Editora Universidade de Alfenas 1

    EDUFU 1

    Faculdade de Filosofia Santo Toms de Aquino

    3

    Faculdade Dom Bosco de Filosofia Ciencias e Letras

    1

    FALE/UFMG 7

    FALE/UFMG: CGEEI/SECAD/MEC 3

    FALE/UFMG: Departamento de Letras Vernculas

    1

    FALE/UFMG: NAPq 1

    Funrei 1

    Grfica da UFU 1

    Grfica da UFV 1

    UFJF 2

    UMG 1

    Unimontes 17

    UNIVALE 3 60

    rgos oficiais

    Academia de Letras de Par de Minas 2

    Academia de Letras de Viosa 1

    Tipo de instituio

    Editoras N de publicaes

    total por tipo de instituio

    Academia Feminina Mineira de Letras 7

    Academia Patense de Letras 4

    Academia Pouso-Alegrense de Letras 1

    Academia Sete-Lagoana de Letras; Clube de Letras de Sete Lagoas

    1

    Academia Valadarense de Letras 2

    Arcdia de Pouso Alegre 1

    Asbrapa 3

    Associao Cultural Pandora 63

    BDMG 2

    Centro Brasileiro de Cultura Italiana 1

    Comisso BH 100 6

    Comunicao: Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Esportes

    2

    Consrcio Mineiro de Comunicao 2

    Coordenadoria de Cultura do Estado de Minas Gerais

    2

    Departamento de Ao Cultural da Secretaria Municipal de Cultura

    1

    Difuso Pan-Americana do Livro 1

    Ed. Cid. Barbacena 5

    Folha de Minas 1

    Folha de Viosa 1

    FUNALFA Edies 8

    Fundao Cultural de Belo Horizonte 1

    Fundao Mariana Resende Costa 1

    Fundao Municipal de Cultura 2

    Governo do Estado de Minas Gerais 2

    Imprensa da UFMG 15

    Imprensa Oficial 184

    Instituto Brasileiro de Cultura rabe 1

    Instituto Montessori 1

    Instituto Triangulino de Cultura 1

    Jornal da Manh 1

    MEC Editora Empresa Jornalstica Ltda. 1

  • 20 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 21

    Tipo de instituio

    Editoras N de publicaes

    total por tipo de instituio

    Movimento-Perspectiva (Imprensa Oficial)

    3

    Prefeitura Municipal de Belo Horizonte/ Secretaria Municipal de Cultura

    3

    Prefeitura Municipal de Turmalina/ ASE Empreendimentos Culturais Ltda.

    1

    Prefeitura Municipal de Varginha 3

    Secretaria de Estado da Educao/ Biblioteca Pblica de Minas Gerais

    1

    Secretaria Municipal de Cultura, Informao,Turismo e Esportes/Comunicao

    3

    SESC/MG 2

    Unio Brasileira de Trovadores; Seo Minas Gerais

    1

    Unio Colegial de Minas Gerais; Uniao Municipal dos estudantes secundrios de Belo Horizonte

    1 345

    Editoras privadas

    Caminho Novo Empresa Jornalstica e Editora Ltda

    2

    Comunicao 6

    ELCEAA 1

    FUMARC 1

    Garnier 2

    GEEC Publicaes 1

    Itatiaia 26

    Lar Catlica 1

    L 1

    Leitura 3

    Miguilim 4

    Mosteiro da Santa Cruz 1

    Queiroz Breyner 6

    Villa Rica 1 56

    Edies colaborativas

    Tradio Planalto Editora 4 4

    Total geral 1138

    Ao observar o local de publicao, nota-se que a capital mineira, Belo

    Horizonte, ocupa uma posio considervel no volume de publicaes se

    comparada s outras cidades do estado. S na capital foram publicados

    72% dos livros levantados pela pesquisa bibliogrfica. No difcil perceber

    o motivo que, alis, bem plausvel, uma vez que, como pode ser obser-

    vado em Paixo1, comum a concentrao das atividades editoriais nos

    maiores centros urbanos. Outras 41 cidades mineiras, que tambm apa-

    recem na pesquisa, dividem os 28% restantes. Essas cidades, que so na

    maioria interioranas, ocupam um espao muito singular com relao ati-

    vidade editorial. Enquanto Belo Horizonte publicou em torno de 815 livros

    de poesia, desde 1906 at 2010, cidades como Alfenas, Bom Despacho, Bom

    Sucesso, Catanduvas, Formiga, Machado, Oliveira, Ribeiro das Neves, So

    Francisco e Trs Coraes publicaram apenas um volume. Outras, como

    Divinpolis, Juiz de Fora, Sabar, Montes Claros, Ouro Preto, Sete Lagoas

    e Varginha, possuem um nmero significativo de edies de poesia entre

    18 e 50 livros publicados mas ainda assim esse nmero pode ser conside-

    rado nfimo se comparado produo da capital (verificar tabela 2).

    Tabela 2: publicaes por cidades mineiras

    Cidades N de publicaes

    [s. l.] 2

    Alfenas 1

    Araguari 2

    Barbacena 5

    Belo Horizonte 815

    Belo Horizonte; Juiz de Fora 1

    Bom Despacho 1

    Bom Sucesso 1

    Catanduvas 1

    Contagem 12

    Diamantina 3

    Divinpolis 50

    Formiga 1

    1 PAIXO. Momentos do livro no Brasil.

  • 22 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 23

    Cidades N de publicaes

    Governador Valadares 11

    Ipatinga 9

    Ipatinga; Mariana 3

    Itabira 5

    Itabirito 2

    Juiz de Fora 27

    Lagoa Santa 5

    Machado 1

    Mariana 2

    Montes Claros 20

    Muria 2

    Oliveira 1

    Ouro Preto 18

    Par de Minas 2

    Passos 3

    Patos de Minas 6

    Poos de Caldas 2

    Pouso Alegre 21

    Povoado do Bichinho 1

    Ribeiro das Neves 1

    Sabar 24

    Santa Luzia 2

    So Francisco 1

    So Joo del Rei 6

    Sete Lagoas 18

    Tefilo Otoni 2

    Trs Coraes 1

    Uberaba 12

    Uberlndia 12

    Varginha 19

    Viosa 4

    Total geral 1138

    Com relao ao perodo de publicao, observa-se que a dcada de 1990

    foi aquela em que mais houve publicaes de poesia, pois, dentre 11

    dcadas, a de 1990 foi responsvel, sozinha, por 26% das publicaes.

    Outro perodo que merece destaque o de 2000 a 2010, em que foram

    publicados 25% dos livros levantados pela pesquisa bibliogrfica. A pr-

    xima dcada com mais publicaes de poesia foi a de 1980, com 21%.

    As outras oito dcadas dividem os 28% restantes (ver tabela 3). Essa

    constatao , alis, uma surpresa, uma vez que, com a expanso dos

    variados meios de comunicao, principalmente da internet, esperava-se

    que houvesse uma crescente diminuio no nmero de livros de poesia

    impressos. Afinal, segundo Carlos vila,

    A primeira metade do sculo 20 assistiu ao surgimento de uma sucesso de movimentos literrios e artsticos voltados para a explorao das novas formas de comunicao. Cinema, rdio, recursos de impresso utilizados nos jornais e revistas, fotografia, discos, telefone, televiso foram elementos que contriburam, cada qual em um tempo e espao determinados, para a criao de uma nova linguagem potica. Uma inter-relao entre os movimentos de vanguarda e as novas tecnologias estabeleceu-se desde ento e a linguagem potica sofreu um abalo e uma influncia decisivos no sentido de modificar o prprio tradicional suporte do livro [...] e mesmo o seu abandono em prol de recursos mais eficientes de comunicao.2

    No entanto, apesar de esses novos meios de comunicao terem

    aberto espao para diferentes formas de veiculao de poesia, o que se

    observa exatamente o contrrio do que se esperava quanto publica-

    o em livros, j que as trs ltimas dcadas so, curiosamente, aquelas

    em que mais houve publicaes impressas de poesia. Como Carlos vila

    tambm comenta,

    Desde o futurismo, passando pelo dadasmo e pelo surrealismo, at os movimentos mais recentes de poesia concreta e espacial, o livro sofreu transformaes diversas, foi abandonado e retomado muitas vezes e ainda resiste enquanto suporte da criao potica. Seu futuro ou seu fim como alguns j profetizam ainda, em grande parte, uma incgnita.3

    Tabela 3: publicaes por dcadas

    2 VILA. Poesia pensada, p. 14.3 VILA. Poesia pensada, p. 14.

  • 24 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 25

    Datas N publicaes Total

    1843 1 1

    1906 1 1

    1915 1

    1917 2 3

    192- 1

    1920 1

    1922 1

    1923 1

    1924 1 5

    1931 1

    1932 2

    1934 1

    1936 2

    1937 3

    1938 3

    1939 1 13

    1940 3

    1942 1

    1944 3

    1945 8

    1946 2

    1947 7

    1948 6

    1949 7 37

    195- 2

    1950 5

    1951 7

    1952 7

    1953 4

    1954 3

    1955 10

    1956 12

    1957 5

    1958 6

    Datas N publicaes Total

    1959 8 69

    1960 8

    1961 7

    1962 4

    1963 3

    1964 4

    1965 4

    1966 8

    1967 9

    1968 6

    1969 12 65

    197- 2

    1970 8

    1971 10

    1972 11

    1973 11

    1974 7

    1975 7

    1976 12

    1977 10

    1978 13

    1979 12 103

    198- 5

    1980 15

    1981 12

    1982 23

    1983 18

    1984 30

    1985 25

    1986 28

    1987 31

    1988 30

    1989 17 234

    199- 3

  • 26 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 27

    Datas N publicaes Total

    1990 26

    1991 26

    1992 23

    1993 17

    1994 28

    1995 12

    1996 24

    1997 88

    1998 26

    1999 25 298

    20-- 2

    200- 1

    2000 30

    2001 20

    2002 36

    2003 34

    2004 33

    2005 39

    2006 31

    2007 25

    2008 11

    2009 15

    2010 3 280

    [S. D.] 29

    Total geral 1138

    Outro fator que pode justificar o aumento crescente de publicaes

    salvo o caso dos anos 60 e do perodo de 2000 a 2010, em que houve

    diminuio a Revoluo de 1930, que, segundo Hallewell, ocasionou,

    intelectualmente, uma crescente valorizao das produes nacionais.

    Segundo o autor, a nova era de conscincia nacional e o efeito catas-

    trfico da depresso mundial sobre o poder aquisitivo externo do mil-ris,

    que resultou no preo proibitivo dos livros importados, at ento predomi-

    nantes no mercado brasileiro1 tiveram como consequncia um aumento

    na produo editorial nacional. Hallewell afirma que Ningum, na poca,

    punha em dvida uma realidade: a de que surgira praticamente do nada,

    no perodo que se seguira revoluo, uma indstria editorial brasileira

    vivel.2 Outra questo de relevncia para o mercado editorial ocorrida na

    dcada de 1930 foi uma maior abertura para as publicaes femininas. S

    as mulheres foram responsveis por 29% das edies levantadas por esta

    pesquisa. Embora, em nenhuma dcada, a escrita feminina tenha ultra-

    passado ou tenha sido equivalente masculina no levantamento biblio-

    grfico feito, esse nmero demonstra a participao ativa das mulheres

    no cenrio potico. Segundo Coelho3, entre 1930 e 1940 que se inicia o

    perodo de conscientizao da mulher sobre sua situao dentro de um

    sistema repressivo, passando a questionar os valores por ele consagra-

    dos. Como pode ser visto tambm em Souza,

    Uma leitura cuidadosa sobre a escrita feminina no final do sculo XIX, em Portugal e no Brasil, corrobora, de modo bastante signi-ficativo, para um entendimento mais consistente sobre a escrita feminina nas dcadas de 1930 e 1940, como elemento de denncia e luta pelos ideais de liberdade.

    No Brasil dos anos trinta, marcado pela crescente urbanizao e a rpida evoluo industrial, possvel vislumbrar o surgimento de alguns elementos que contriburam para ampliar a viso da mulher ultrapassando as fronteiras domsticas. O rdio surge como um dos instrumentos bastante representativo que vem informar sobre as rpidas mudanas da vida moderna. Dentre estas, aponta-se para aquelas decorrentes do movimento feminista, que comea a despontar em todo o Brasil, apesar da discordncia das alas conservadoras4.

    Tambm importante ressaltar outro aspecto curioso a respeito

    do perodo de publicaes de poesia no estado. Ao observar a tabela 3,

    possvel perceber que, apesar de as circulaes de poemas em Minas

    Gerais terem registros em 1789 e 1806, a primeira data que consta no

    levantamento bibliogrfico 1843, o que representa uma lacuna de 37

    1 HALLEWELL. O livro no Brasil: sua histria. p. 421-422.2 HALLEWELL. O livro no Brasil: sua histria. p. 422.3 COELHO. Dicionrio crtico de escritoras brasileiras: 1711 - 2001.4 SOUZA. Os manuais de conduta e a escrita feminina no incio do sculo xx: o que desvelam as

    narrativas?. p. 8.

  • 28 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 29

    anos sem registro de trabalhos de poesia impressos. Essa lacuna pode ser

    justificado pelo fato de ter ocorrido, apenas em 1832, a primeira impres-

    so oficial de um livro na provncia de Minas Gerais. Este livro, segundo

    o Atlas Cultural do Brasil, seria o Diccionario da Lingua Brasileira, de Luis

    Maria da Silva Pinto.5 Em 1835, de acordo com Hallewell, foi impresso

    em Vila Rica, atual Ouro Preto, a coleo Leis do Imprio do Brasil, por

    um impressor chamado Silva,6 o que prova no ter ocorrido, at ento,

    nenhuma publicao oficial de livros de nosso interesse, ou seja, de poe-

    sia. Ainda assim, tem-se oito anos sem registros de publicaes de poe-

    sia, o que pressupe a necessidade de haver um trabalho investigativo

    nesta rea.

    Outro ponto relevante a destacar sobre o levantamento bibliogr-

    fico feito o nmero de obras publicadas por autores. Segundo a pes-

    quisa bibliogrfica realizada, observa-se que o/a autor(a) que possui mais

    livros publicados Henriqueta Lisboa, com 22 publicaes. O segundo

    poeta mais publicado foi Soares da Cunha, com 13 livros, seguido de

    Ado Ventura e Z de vila, com 11 livros. Alguns autores, como Mercs

    Maria Moreira Lopes, Sebastio Bemfica Milagre e Edimilson de Almeida

    Pereira, aparecem na pesquisa com 10 livros de poesia publicados. O res-

    tante dos autores tem em torno de 1 a 9 livros publicados por editoras

    mineiras. Muitos deles, 80%, publicaram somente um livro. Esses dados,

    alis, corroboram a observao feita acima a respeito da importante par-

    ticipao das mulheres no levantamento bibliogrfico realizado, pois foi

    exatamente uma mulher a nica a ultrapassar a marca de 20 publicaes.

    Com relao aos poetas naturais de Minas, tambm possvel

    constatar que um dos mais importantes autores da poesia brasileira, o

    mineiro Carlos Drummond de Andrade, tem somente 3 livros de poesia

    publicados em seu estado natal. O restante dos livros do autor foram, na

    maioria das vezes, publicados no Rio de Janeiro. O mesmo acontece com

    Henriqueta Lisboa que, apesar de ter um volume considervel de livros

    publicados em Minas, possui muito mais publicaes fora do estado, em

    locais como So Paulo e Rio de Janeiro. J outra poetisa mineira tam-

    bm importante, Adlia Prado, no tem sequer um livro publicado por

    5 Atlas Cultural do Brasil citado por HALLEWELL, p. 129.6 HALLEWELL. O livro no Brasil: sua histria, p. 56.

    editoras mineiras, segundo a pesquisa bibliogrfica feita. Essas observa-

    es podem ser conferidas por meio da tabela 4 abaixo:1

    1 Devido grande extenso da tabela, esta foi simplificada, destacando-se somente os autores que publicaram mais de 10 livros. Os outros que apresentam menos do que isso foram agrupados no final da tabela.

    2 Apesar de ter poucos livros publicados em Minas, este autor foi destacado devido a sua grande importncia no cenrio potico brasileiro.

  • 30 Editoras mineiras: o lugar da poesia Poesia em nmeros 31

    Tabela 4: Publicaes por autores

    Autores N de publicaes

    Carlos Drummond de Andrade2 3

    Edimilson de Almeida Pereira 10

    Sebastio Bemfica Milagre 10

    Mercs Maria Moreira Lopes 10

    Z de vila 11

    Ado Ventura 12

    Soares da Cunha 13

    Henriqueta Lisboa 20

    Outros 772 autores 1049

    Total geral 1138

    O que se percebe por meio dessas anlises corrobora afirmaes j feitas

    anteriormente por diversos crticos, como Alfredo Bosi2 e Carlos vila3, os

    quais afirmam que a poesia tem tentado sobreviver a seu modo, mesmo

    que no haja espao para ela no mercado consumidor. Afinal, a inicia-

    tiva imprescindvel dos prprios poetas na veiculao de seus trabalhos e

    ainda a preocupao em criar um espao para a publicao de poesia no

    permite que essa atividade desaparea completamente. Dessa forma, o

    pblico leitor de poesia agradece, pois, segundo Carlos vila4, o homem

    nunca deixar, em nenhuma poca, de ter um carter ldico e, portanto,

    sempre haver a necessidade de se expressar de forma potica.

    Poesia e sociedade de consumoA sociedade, desde muito, vem sendo guiada pelas leis do consumo e, por

    causa desses permanentes ditames, a poesia tem enfrentado cada vez

    mais dificuldades para ser veiculada. Motivo disso a caracterstica da

    poesia como produto no consumvel, pois esta no foi nem produzida

    visando o mercado consumidor. Por isso, tambm no se torna um pro-

    duto das massas. A poesia tem pblico seleto. Contudo, no necessrio

    considerar essa questo como prejudicial, uma vez que, como defendia

    3 BOSI. O ser e o tempo da poesia.4 VILA. Poesia pensada.5 VILA. Poesia pensada.

    Marx, o escritor deve ganhar dinheiro para poder viver e escrever, mas,

    em nenhum caso, deve viver e escrever para ganhar dinheiro.5 Sendo

    a poesia, ento, a arte do anticonsumo, como definiu Dcio Pignatari,6

    no h, tambm, dentro do universo potico, algum escritor que v se

    enveredar pelos caminhos da poesia visando somente algum tipo de

    lucro, o que garante ao gnero (e talvez tambm a outros gneros lite-

    rrios), no mnimo, escritores fundamentalmente comprometidos com a

    criao artstica.

    Carlos vila cita, no livro Poesia pensada, algumas palavras do

    poeta e pensador mexicano Octavio Paz sobre o lugar da poesia no mer-

    cado consumidor. Segundo Paz,

    Submeter as artes e a literatura s leis que regem a circulao de mercadorias uma forma de censura no menos nociva e brbara que a censura ideolgica. A tradio de nossa literatura foi, desde o sculo XVIII, a tradio da crtica, da dissidncia e da ruptura [...]. A arte que mais sofreu com o mercantilismo atual foi a poesia, obrigada a refugiar-se nas catacumbas da sociedade de consumo. [...] Ante esta situao saudvel recordar que nossa literatura comeou com um NO aos poderes sociais. 7

    Essa declarao demonstra a dificuldade da poesia em se adequar

    ao mercado, restando a ela somente as catacumbas do mundo consu-

    midor. No entanto, sendo a poesia to incompatvel com esse mercado,

    Carlos vila questiona se no seria esse o local ideal para esse gnero

    literrio. Segundo o poeta, tais catacumbas se identificam como um

    espao de onde a poesia nunca deve sair, pois seria este o seu habitat

    natural.

    Sendo assim, a poesia vai se impondo a seu modo, sempre mar-

    gem, mas nunca ausente. Citando Hegel, Alfredo Bosi afirma: O esprito

    potico soube reecontrar, no meio das complicaes preexistentes da

    vida moderna, a independncia individual perdida. Reconhecemos aqui o

    corao da nossa tese mais cara: a resistncia da poesia [...].8 O que se

    pode concluir que, apesar do espao restrito, como afirma Bosi, Hoje

    6 MARX, 1974 apud VILA, 2004, p. 25.7 PIGNATARI, 1977 apud VILA, 2004, p. 24.7 PAZ, 1988 apud VILA, 2004, p. 19-20.8 HEGEL, 1964 apud BOSI, 2004, p. 177.

  • 32 Editoras mineiras: o lugar da poesia

    a [...] poesia, sob o imprio do mercado, tornou-se, como pensava [...]

    Hegel, e mais do que nunca, essencialmente uma pergunta, uma inter-

    pelao que ressoa, um chamado aos nimos e aos espritos.9

    9 BOSI. O ser e o tempo da poesia, p. 177.

    Associao Cultural PandoraPatrcia Fonseca de Souza

    Para comemorar os cem anos de Belo Horizonte, um grupo formado por

    Marcelo Dolabela, Jair Tadeu, Ana Caetano, Luciano Cortez, Camilo Lara,

    Adriana Versiani e Carlos Augusto Novais resolveu lanar a coleo Poesia

    Orbital. O objetivo inicial era publicar 100 livros inditos de poesia de 100

    poetas mineiros. No entanto, devido a algumas desistncias e a alguns

    problemas, a coleo publicou 69 poetas em 63 livros. Essa histria que

    se confere aqui foi relatada por um integrante desse grupo, Marcelo

    Dolabela, em entrevista exclusiva para os alunos do curso de Letras da

    UFMG, de modo a contribuir com a documentao da histria da edio

    de poesia em Minas.

    Os livros da coleo, como no contaram com a participao de

    nenhuma editora, foram lanados com o selo-fantasia Associao Cultural

    Pandora. Quando perguntado ao poeta sobre a razo desse nome, ele

    explicou que o conceito da caixa de Pandora reflete bem o que a cole-

    o, ou seja, assim como h na caixa todo tipo de sentimento, h na cole-

    o todo tipo de poesia. Dolabela disse que a iniciativa de criar esse selo-

    fantasia no veio da inteno de dar maior credibilidade s publicaes,

    como comumente feito em algumas edies independentes. Segundo

    ele, a deciso pelo selo-fantasia faz parte da ideologia do grupo, o qual

    tende a traduzir pelo nome aquilo que pretende apresentar. Da mesma

    forma se justifica o nome Poesia Orbital, que, de acordo com o poeta,

    vincula-se ideia de no haver um ponto central na produo, o que se

    tem so vrias rbitas, estilos poticos diversos.

    Por seu carter de ineditismo, Marcelo Dolabela disse que h de

    tudo na coleo, h trabalhos ditos muito bons, mas tambm alguns que

    foram considerados como muito ruins. Mas que, mesmo assim, foram

    publicados. Dolabela ressaltou que o grupo responsvel pelas publicaes

    tinha ideologias muito fortes e, por isso, tudo o que o grupo fazia ou j

    fez est relacionado a elas. E isso no se refere somente aos nomes con-

    cedidos aos seus trabalhos.

    Com relao a isso, o poeta citou o caso de uma poetisa que foi

    muito criticada por causa da peculiaridade do trabalho que publicou na

  • 34 Editoras mineiras: o lugar da poesia Associao Cultural Pandora 35

    coleo. Ele disse que, apesar de tantas crticas, esta poetisa foi a nica

    a ser citada em uma antologia sobre poesia mundial lanada nos Estados

    Unidos. Ou seja, para Dolabela, mesmo com toda rejeio que tal poetisa

    obteve no Brasil, o fato de seu nome ter sido citado em uma antologia no

    exterior revela que seu trabalho tem qualidade.

    Ainda por causa de suas ideologias, o poeta contou que o grupo

    no permitiu que alguns poetas colocassem fotos nas publicaes da cole-

    o Poesia Orbital, pois, segundo ele, se a coleo tinha carter padro,

    no haveria sentido em colocar uma foto em um livro e no colocar em

    outro. Alm disso, Marcelo Dolabela disse que o grupo compartilhava a

    ideia de que livro no era lugar para fotos. Estas deveriam ficar na car-

    teira de identidade ou no fotoblog. Portanto, a ideologia do grupo teve de

    ser respeitada e as fotos no foram permitidas nos livros.

    Para escolher os poetas a serem publicados, Marcelo Dolabela

    contou que foram convidados no incio dez grupos, como o grupo Os

    Mundanos, da regio Leste; Tnia Diniz, da editora Mulheres Emergentes;

    o grupo Dazibo, de Divinpolis; o grupo da Fahrenheit; o grupo da

    revista Cem Flores; o Grapes, da regio Leste; o Grupo Taquicardia; o

    grupo Razo de Dois; e ainda outros que no quiseram participar.

    Aps os grupos terem escolhido os poetas, estes eram procurados

    e, se houvesse interesse por parte do poeta em fazer parte da coleo,

    ele deveria aceitar a condio de ter de arcar com a publicao, que cus-

    taria em torno de R$ 590,00 (quinhentos e noventa reais). Se houvesse

    alguma arrecadao para pagar os custeios, os poetas s teriam de con-

    tribuir com o valor restante. Caso contrrio, eles assumiriam o valor total

    da publicao.

    Mas, para a felicidade dos poetas, a Prefeitura de Belo Horizonte

    resolveu contribuir, doando 53% dos recursos. Houve ainda outros doado-

    res, como a FUMEC, que participou com uma contribuio monetria sin-

    gela, mas que ofereceu apoio fundamental ao projeto. Segundo Dolabela,

    a FUMEC contatou alguns rgos importantes, como a FIEMG, com o obje-

    tivo de conseguir algum patrocnio para a coleo. Outra contribuio

    da FUMEC foi a concesso de espaos para o grupo se reunir e de alguns

    servios, como utilizao de seus telefones.

    Com relao a FIEMG, Dolabela contou um fato engraado: segundo

    o poeta, o rgo iria dar uma generosa contribuio, que arcaria com

    quase todos os dispndios para a publicao dos livros. Contudo, ele

    disse que a FIEMG desistiu de contribuir, pois, de acordo com o poeta, o

    grupo foi sincero demais. Ao se encontrarem com o diretor do SESI Minas,

    Dolabela contou que esse perguntou se, dentre os poemas que seriam

    lanados em todos aqueles livros, tinha algum que falava mal de empre-

    srios. Diante da pergunta, o poeta no mentiu e respondeu que sim. Por

    causa disso, o diretor desistiu da contribuio, pois, sendo um rgo que

    apoia as indstrias, seria incoerente incentivar uma iniciativa que falasse

    mal dessa prtica. Para contornar a situao, Dolabela disse que alguns

    membros do grupo sugeriram que o poema fosse retirado, mas ele disse

    que a outra parte no concordou com isso, pois o poema era bom e, por-

    tanto, deveria ser mantido. Mais uma vez a ideologia do grupo que,

    segundo Dolabela, compartilhava o desejo de levar a poltica para dentro

    da arte e a arte para dentro da poltica foi respeitada. Assim, o poema

    foi lanado e perdeu-se o patrocnio da FIEMG.

    Outro fato curioso da histria da Poesia Orbital foi a contribuio

    espontnea de um desconhecido. Dolabela contou que um dia o grupo

    estava participando de um recital de poesia e nele comentou-se sobre

    o Poesia Orbital e, ento, um homem que estava presente achou o pro-

    jeto interessante e resolveu contribuir sem que o grupo pedisse qualquer

    ajuda ao sujeito.

    No final, o custo dos livros caiu para aproximadamente R$ 290,00

    (duzentos e noventa reais). Ainda assim, Dolabela contou que havia poe-

    tas que queriam publicar, mas que no tinham condies financeiras para

    pagar pela publicao. Por isso, os 7 editores resolveram que estes poe-

    tas poderia dividir alguns livros, diminuindo, dessa forma, o valor com

    que cada um precisaria contribuir. Sendo assim, alguns compartilharam

    livros com um, dois ou trs poetas.

    O projeto grfico de todos os livros foi feito por Glria Campos.

    Segundo Dolabela, ela acompanhou todas as discusses a respeito do

    que o grupo queria, como tipo de papel, fonte, esttica etc. Como se tra-

    tava de uma coleo, o poeta enfatizou a necessidade de padronizar os

    livros. Logo, o autor no poderia optar por formatos diferentes daquele

  • 36 Editoras mineiras: o lugar da poesia

    escolhido como padro. Por isso, em todos os livros, havia sempre uma

    orelha, uma biografia e uma contracapa com um texto em comum. A

    nica coisa que o poeta tinha direito de escolher era a imagem da capa.

    A impresso da coleo foi feita pela grfica Rona, que, de acordo

    com Dolabela, era a melhor grfica da poca. O poeta contou que, inicial-

    mente, o grupo no queria que a impresso fosse feita na Rona, pois essa

    grfica tinha preos muito elevados. No entanto, como havia poetas na

    coleo muito exigentes com relao ao aspecto grfico do livro, o grupo

    decidiu ficar com a Rona assim mesmo. O problema era que essa deciso,

    segundo Dolabela, poderia elevar os custos da publicao de R$ 590,00

    (quinhentos e noventa reais) para mais de R$ 800,00 (oitocentos reais).

    Contudo, o poeta contou que a grfica se entusiasmou com o projeto e

    deu um bom desconto, deixando os custos na faixa do valor estimado

    inicialmente.

    Quando o livro ficou pronto, cada poeta teve direito a uma coleo.

    Alm dos poetas, mais cem lugares no Brasil a receberam, dentre eles

    bibliotecas pblicas e outros rgos pblicos de incentivo cultura.

    O lanamento dos livros foi feito no Conservatrio da UFMG, local

    que abrigou em 1997 eventos relacionados ao centenrio da capital

    mineira. O poeta contou que o lanamento foi um sucesso, pois s neste

    dia venderam-se em torno de trs a quatro mil livros.

    Dolabela considera que esse projeto foi muito bem sucedido, pois

    a idia de lidar com 69 cabeas pensando de maneira diferente, respon-

    sabilizar cada poeta pelo custo de seu prprio livro e ainda conceder

    autonomia a cada um para dar destino coleo que lhe fosse entregue

    caminhava para ser uma perfeita desordem. Mas, pelo visto, foi um tre-

    mendo sucesso.

    Rotas alteradas: a participao de instituies oficiais na publicao de poesia em Minas

    Michelle Souto Falco

    Stphanie Paes Rodrigues

    Seria no mnimo impreciso traar um panorama histrico da edio de

    qualquer produo escrita, literria ou no, em Minas Gerais e em qual-

    quer lugar sem mencionar a atuao de instituies universitrias e

    governamentais nesse processo. Ora de forma mais direta e impactante,

    ora de modo indireto e sutil, no de hoje que universidades e governos

    intervm nos rumos da atividade editorial mundial, alterando, direcio-

    nando e definindo s vezes delimitando seus caminhos. E o inverso

    igualmente verdade. Em suma, h muito que rgos oficiais e a atividade

    editorial tm influenciado mutuamente sua trajetria.

    Para ilustrar basta lembrar que, em Cuba e no Peru pioneiro da

    imprensa na Amrica do Sul , a criao da imprensa se deu concomi-

    tantemente ao surgimento de universidades,1 o que pode ser justificado

    pelo fato de estas instituies precisarem registrar e difundir o conheci-

    mento ali gerado, para que ele no se perca e sua atividade faa sentido.

    E esta uma relao de mtua dependncia pois, assim como as univer-

    sidades precisam das imprensas para difundir o produto de seu estudo e

    trabalho, as casas impressoras que o publicam dependem desse conheci-

    mento gerado pelas universidades para se manterem em atividade, pois

    esse conhecimento a sua matria-prima. O mesmo aconteceu na rela-

    o entre imprensa e governos, que em muitos casos as criaram com o

    objetivo, ao menos inicial, de publicar documentos e peridicos oficiais.

    A bibliografia por ns consultada no nos permite afirmar muito

    quanto ao passado, mas sabemos que hoje muitas universidades pos-

    suem sua prpria editora e/ou imprensa, cujos catlogos no se restrin-

    gem publicao de obras de carter cientfico, abrindo o seu leque para

    a publicao de ttulos de importncia cultural, entre eles, os de litera-

    tura, incluindo livros de poesia escopo de nosso trabalho. H ainda as

    que possuem ncleos de pesquisa que do vazo a outras produes,

    1 MATARELLI. Panorama da edio de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais, p. 8-9.

  • 38 Editoras mineiras: o lugar da poesia Rotas alteradas: a participao de instituies oficiais... 39

    at mesmo s ditas menores no por qualidade, mas por no serem

    cannicas abrindo espao inclusive para o trabalho de alunos. Em

    levantamento bibliogrfico, chegamos a uma listagem de 123 univer-

    sidades brasileiras que hoje possuem sua prpria editora,2 sendo que

    h chances de o nmero real ultrapassar esta marca. Destas 123 edito-

    ras (e correspondentes universidades), 7 localizam-se em Minas Gerais:

    Editora UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Editora PUC Minas

    (Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais), Editora UNIMONTES

    (Universidade Estadual de Montes Claros), EDUFU (Editora e Livraria da

    Universidade Federal de Uberlndia), Editora UFV (Universidade Federal

    de Viosa), Editora UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) e Editora

    UFLA (Universidade Federal de Lavras).

    Em momento posterior, buscamos fazer uma catalogao de livros

    de poesia publicados por essas editoras. A busca em seus catlogos mos-

    trou-se muito pouco produtiva pois algumas no o possuem disponvel

    on-line (editoras da UFV e da UFLA); ou o possuem sem ferramenta da

    busca (a editora da UFJF investiu em uma moderna apresentao grfica

    para seu catlogo, mas no oferece um sistema que permita ao usurio

    restringir e facilitar sua busca); ou nem mesmo possuem uma pgina

    na web (editora Unimontes). Mas j neste primeiro levantamento, por

    menos produtivo que tenha sido, pudemos suspeitar que a Editora UFMG

    a que mais abre espao para a publicao de livros de poesia (apenas seu

    catlogo de 2010 lista seis ttulos), suspeita que foi posteriormente con-

    firmada. Alm desta, o destaque ficou para a EDUFU, que apresentou trs

    livros de poesia em seu catlogo, sendo que um deles, Experimentando

    a vida cotidiana: cotidiano, esperanas e sensibilidades, de 2008, resul-

    tado de um concurso literrio promovido pela prpria universidade para

    revelar seus poetas annimos. As demais, quando possuam ttulos asso-

    ciados poesia, eram de teoria ou crtica literria.

    Mas os dados que nos permitiram tirar concluses mais seguras

    vieram de catalogao resultante do levantamento bibliogrfico feito

    pelos alunos da disciplina Estudos Temticos de Edio: histria da edi-

    o em Minas (primeiro semestre de 2010) em acervos disponveis online

    2 Este levantamento de editoras universitrias foi realizado nos sites da ABEU (Associao Brasileira de Editoras Universitrias) e Universia, em abril de 2010.

    e em contato direto com os livros do acervo da biblioteca da Faculdade de

    Letras da UFMG e do acervo particular da professora Snia Queiroz. Nesse

    amplo catlogo, somado aos dados obtidos no levantamento bibliogrfico

    anterior, encontramos em torno de 350 livros de poesia, 60 deles publi-

    cados por editoras universitrias, 3 o que representa um total de 5% das

    obras editadas. Embora este ndice parea pequeno, ele adquire relevn-

    cia quando consideramos que a maioria das editoras listadas entra com

    uma mdia de 1% dos livros lanados.

    Como antecipado acima, esse segundo levantamento reiterou nos-

    sas suspeitas, colocando 28 ttulos editados somente pela UFMG contra 32

    lanados pelas demais instituies (dez ao todo). Essa discrepncia pode

    se dever s fontes pesquisadas e seria interessante uma pesquisa poste-

    rior e mais ampla que confirmasse ou complementasse esses dados. De

    qualquer maneira, inegvel a importncia da Editora da UFMG para a

    publicao de livros de poesia dentro do universo acadmico. Outra edi-

    tora que merece nota Editora Unimontes, que, com 17 livros de poesia

    publicados, destaca-se como difusora de conhecimento e cultura no norte

    de Minas.

    Entre os autores publicados por essas editoras encontramos vrios

    nomes consagrados, como Carlos Drummond de Andrade, Henriqueta

    Lisboa e Abgar Renault; o que j era esperado. Mas, contrariando nossas

    expectativas, nos deparamos com um grande nmero de ttulos de auto-

    res menos conhecidos pelo menos poca da publicao de seus livros

    , a exemplo do j citado livro publicado pela Universidade de Uberlndia

    para divulgar seus poetas ocultos. Nesse campo se destacou a Imprensa

    Universitria da UFMG, que inclusive publicou uma obra vencedora de con-

    curso literrio: Durando entre vindimas, do poeta Geraldo Reis (Concurso

    Nacional de Literatura Cidade de Belo Horizonte, 1988). Convm ressal-

    tar as publicaes do ncleo de pesquisa Literaterras, da FALE/UFMG, que

    produz material didtico para escolas indgenas usando como matria-

    prima sua prpria cultura, suas prprias histrias, algumas publicadas

    em versos; e tambm as Edies Viva Voz, produzidas pelo Laboratrio

    3 Neste ponto da pesquisa foram encontrados, e listados, tambm livros publicados por grficas e imprensas universitrias, ncleos de pesquisa e demais rgos vinculados instituies de ensino superior que editaram livros de poesias.

  • 40 Editoras mineiras: o lugar da poesia Rotas alteradas: a participao de instituies oficiais... 41

    de Edio da Faculdade de Letras da UFMG, que publica trabalhos de alu-

    nos de professores, inclusive os volumes desta coleo Editoras minei-

    ras. Mas o grande elo que une todas as publicaes encontradas o fato

    de seus autores serem quase todos locais do estado ou da cidade , o

    que demonstra um interesse e uma preocupao com a valorizao de

    nossa produo literria.

    Durante a pesquisa bibliogrfica que nos forneceu os dados acima,

    percebemos uma grande presena de obras editadas ou financiadas por

    rgos governamentais, tais como o Governo do Estado de Minas Gerais

    e a Secretaria de Educao do Estado de Minas Gerais. Uma relao que

    vem atravessando os sculos, nem sempre de forma amigvel.

    Essa ligao entre governo e imprensa no geral se deu, de incio,

    por necessidades administrativas. No Brasil, at a vinda da Famlia Real,

    no se via necessidade da abertura de uma Imprensa Oficial, uma vez

    que a nossa administrao, at ento, era muito rudimentar e a popula-

    o [...] pequena e espalhada pelo territrio;4 o que no tornava neces-

    srio um controle administrativo muito rigoroso e dispensava existncia

    de indstrias de impresso.

    Muitos jornais tambm foram abertos por iniciativa de governos ao

    longo destes pouco mais de cinco sculos desde a inveno da imprensa

    por Gutenberg. Foi assim na Espanha, em 1626 (Gazeta de Madrid); na

    Venezuela, em 1804, e na Nicargua, em 1835. Em Portugal, a primeira

    publicao vai surgir apenas 22 anos aps a criao da primeira gazeta

    de Lisboa. O jornal mensal, que recebeu o nome de Mercrio Portugus

    e foi distribudo at 1667, era impresso a mando do rei Afonso VI por

    seu impressor oficial, Henrique Valente de Oliveira, e coordenado pelo

    escritor e secretrio de Estado Antnio de Sousa de Macedo, conforme

    relata Matarelli.5 Neste pas, outro registro importante de ligao entre

    governo e imprensa se d cem anos depois quando, em 1768, o Marqus

    de Pombal funda a Imprensa Rgia de Lisboa, posteriormente Imprensa

    Nacional.

    4 HALLEWELL citado por MATARELLI. Panorama da edio de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais, p. 8.

    5 MATARELLI. Panorama da edio de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais, p. 10.

    Outro caso interessante e talvez mais interessante para esta

    publicao do que os outros se deu na Espanha e no diz respeito a um

    jornal, mas a uma outra forma de publicao peridica. Trata-se de uma

    revista chamada Dirio de los literatos de Espaa, criada e custeada pelo

    ento rei Felipe V, da dinastia dos Bourbons, em 1737,6 numa tentativa

    de difundir a produo literria, j que os livros eram muito caros, o que

    dificultava o acesso da maior parte da populao produo livresca.7

    Era, j no sculo XVIII, um incentivo direto do governo produo lite-

    rria local.

    No Brasil, uma histria de incentivo governamental ao desenvol-

    vimento intelectual da populao atravs de incentivo ao processo edi-

    torial se deu no Rio de Janeiro, nos idos de 1747, quando a convite do

    ento governador daquele estado Gomes Freire de Andrade, conde de

    Bobadella , Isidoro da Fonseca um dos principais tipgrafos de Lisboa,

    responsvel pelas primeiras publicaes importantes em Portugal, 8 veio

    para o Rio abrir sua prpria tipografia, que funcionou at que a atividade

    fosse denunciada e sua volta a Portugal, juntamente com todo o equi-

    pamento, fosse ordenada, j que naquela poca essa atividade no era

    permitida no territrio sem autorizao Real. O estmulo legal impres-

    so apareceu no Brasil a partir da vinda da Famlia Real, em 1808, com

    a abertura da Imprensa Rgia no Rio de Janeiro, cuja funo principal

    seria a impresso de documentos oficiais e livros cientficos.9

    Em Minas Gerais, o primeiro relato de uma associao entre

    governo e imprensa ocorreu em Vila Rica, hoje Ouro Preto, em 1806.

    Como explica Matarelli, a obra no se tratava de um livro, propriamente,

    mas sim de um poema de carter bajulador, encomendado pelo ento

    Governador da provncia, Pedro Maria Xavier de Athayde e Melo, o vis-

    conde de Condeixa, ao poeta Diogo de Vasconcelos. O poema, que rece-

    beu o nome de Canto encomistico, foi impresso e reproduzido pelo

    padre Joaquim Viegas de Menezes.10 Somente em 1921 surge a primeira

    imprensa da provncia, trazida do Rio pelo governo.

    6 HISTORIA de La prensa espaola.7 MATARELLI. Panorama da edio de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais, p. 7.8 MATARELLI. Panorama da edio de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais, p. 14.9 MATARELLI. Panorama da edio de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais, p. 17.10 MATARELLI. Panorama da edio de livros em Minas Gerais: de 1806 aos dias atuais, p. 14.

  • 42 Editoras mineiras: o lugar da poesia Rotas alteradas: a participao de instituies oficiais... 43

    Mas, como j dissemos anteriormente, essa relao atividade edi-

    torial/governo nem sempre foi cooperativa. Portugal, no sculo XVIII e

    principalmente aps a queda do Marqus de Pombal, esteve sob forte

    censura, que podia proibir um livro tanto por no se adaptar aos cnones

    aceitos do gosto literrio quanto por seu contedo de idias.11 Tambm

    aqui no Brasil a censura imposta pelo Imprio se fez presente, porm de

    forma mais incisiva: at que a Famlia Real viesse para o Rio de Janeiro,

    toda e qualquer atividade impressora era proibida e coibida na colnia, a

    menos que houvesse autorizao real. Tanto que o visconde de Condeixa

    teve que aceitar assumir toda a responsabilidade pelas cpias do Canto

    encomistico para convencer o padre Joaquim Viegas a imprimi-las. E

    no nos esqueamos da tipografia de Isidoro da Fonseca, que foi man-

    dada fechar ainda que existisse por incentivo do governador do Rio de

    Janeiro.

    Posteriormente, j no sculo XX, no regime republicano, a censura

    voltou a controlar os rumos da atividade editora nacional. Foi quando o

    Presidente Bernardes (1922-1926) decretou a represso ao anarquismo

    em 1923, com uma lei que penalizava com quatro anos de priso quem

    escrevesse ou editasse material subversivo.12 A Constituio promul-

    gada em 1934 veio dar a iluso de retorno liberdade de imprensa, mas

    permitia que chefes de polcia interviessem quando necessrio. No ano

    seguinte, a presso dos regimes fascistas no mundo trouxe de volta o

    fantasma da censura com o governo Vargas. Durante este perodo, alis,

    todos os pases dominados pelo nazi-fascismo estiveram sob forte con-

    trole da censura.

    Entretanto, na era Vargas, a censura imposta pela Lei de Segurana

    Nacional, que durou at janeiro de 1953, acabou afetando mais dire-

    tamente a imprensa jornalstica. Por outro lado, segundo Hallewell, o

    comrcio de livros acabou sendo beneficiado, j que os jornais, temero-

    sos de publicar material ofensivo ao governo, preferiam publicar resenhas

    e crticas literrias a tecer comentrios polticos.13

    11 HALLEWELL. O livro no Brasil: sua histria, p. 22.12 HALLEWELL. O livro no Brasil: sua histria, p. 368.13 HALLEWELL. O livro no Brasil: sua histria, p. 369.

    Foi durante o Regime Militar iniciado em 1964 que o sufocamento

    da liberdade de imprensa se tornou mais pernicioso para a atividade edi-

    tora: com a promulgao do Ato Institucional n 5 (AI-5), todos os meios

    de comunicao eram obrigados a ter seu material avaliado pelos agentes

    da censura, que poderiam permitir ou no a divulgao da informao e

    ainda inspecionar e mesmo ordenar o fechamento das empresas que as

    pretendiam divulgar. Este controle governamental s teve seu fim defini-

    tivo em 1988, com a aprovao de uma nova Constituio.

    Mas nem tudo foi retrocesso nesse perodo de liberdades veladas.

    Foi em pleno regime militar, e com o financiamento do Governo Federal,

    que a tcnica de impresso em offset14 foi introduzida no pas. Com o

    Decreto-Lei n 46, de 18 de novembro de 1966, as casas impressoras

    ficaram isentas das taxas alfandegrias de importao dessas mquinas

    e em trs anos, 40 milhes de dlares j tinham sido investidos nesse

    maquinrio que ampliou a capacidade de produo e a versatilidade tc-

    nica da indstria editorial brasileira.15 Posteriormente, em 6 de setembro

    de 1980, foi o peridico Suplemento Literrio de Minas Gerais, produzido

    pela Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, que inaugurou o pro-

    cesso de impresso em offset no estado. Alis, em se tratando de relao

    colaborativa entre rgos oficiais e atividade editorial em Minas Gerais, o

    destaque fica para a Imprensa Oficial do estado, com a sua produo de

    livros de literatura, alm da publicao do Suplemento, como demonstrou

    a nossa pesquisa bibliogrfica.

    Por rgo oficial entendem-se prefeituras, bancos, Secretarias

    de Cultura de estados e municpios, Academias de Letras, enfim, todo

    rgo ou instituio vinculado aos governos federal, estadual ou munici-

    pal; sendo que alguns deles esto ligados, ainda que de forma indireta,

    ao incentivo cultura e literatura incluindo a produo potica.

    Em nossa pesquisa, registramos um total de 345 livros editados por

    42 desses rgos oficiais existentes em Minas Gerais. Destes, decantam-

    se a Associao Cultural Pandora, com 63 ttulos publicados, e a Imprensa

    Oficial de Minas Gerais, com 184 livros de poesias registrados, o que

    14 Evoluo da impresso linotpica, a impresso offset [...] um processo planogrfico cuja essncia consiste em repulso entre gua e gordura (tinta gordurosa). (IMPRESSO Offset)

    15 WOLLNY; FERREIRA. Breve apanhado sobre o processo de impresso em Minas Gerais, p. 27.

  • 44 Editoras mineiras: o lugar da poesia Rotas alteradas: a participao de instituies oficiais... 45

    representa em torno de 53% dos livros publicados por instituies oficiais

    em Minas e 16% do total de livros publicados no estado. A Associao

    Cultural Pandora, segundo Patrcia Fonseca de Souza, na realidade cor-

    responde a um selo criado pelo poeta Marcelo Dolabela especialmente

    para a publicao da coleo Poesia Orbital, srie de obras de poetas

    mineiros publicadas em razo da comemorao do centenrio da capi-

    tal mineira, por meio de subsdios da prefeitura.16 Um grande gesto de

    valorizao do fazer potico local.

    Outro rgo oficial que durante muito tempo valorizou e incentivou

    a atividade potica mineira a Imprensa Oficial do estado. S para citar

    alguns dos nomes mais importantes e recorrentes, encontram-se registra-

    dos no levantamento Henriqueta Lisboa (a favorita, com sete livros publi-

    cados), Emlio Moura, Paschoal Motta, Augusto de Lima e Librio Neves.

    Curiosamente, no sabemos se por falta de registro ou falha

    nos sistemas de busca dos acervos consultados, Carlos Drummond de

    Andrade no aparece em nosso levantamento. Mas fato que a Imprensa

    Oficial publicou pelo menos um de seus livros: Alguma poesia, sua pri-

    meira coletnea de poemas publicados, na dcada de 1930, em tiragem

    de 500 exemplares autorizada pela Imprensa e paga atravs de desconto

    em sua folha de pagamentos (Drummond era redator do Minas Gerais

    dirio oficial dos poderes do estado poca). Este fato um exemplo

    claro da atuao da Imprensa Oficial como impulsionadora dos talentos

    mineiros do fazer potico.

    Outro poeta que pode comprovar esse papel da instituio Librio

    Neves que, em entrevista concedida a ns, conta como conseguiu que

    dois de seus livros fossem publicados pela casa, incluindo o seu primeiro,

    o premiado Pedra solido:

    No meu caso, contei com a boa vontade do escritor e amigo Ildeu Brando, que levou os originais do Pedra solido ao conhecimento do ento Diretor da Imprensa Oficial, Guimares Alves, em 1965, que, por autonomia e verba prpria da Imprensa, para fins de publicao, mandou publicar o livro. Eram as edies MP (Movi-mento Perspectiva) [...] O mesmo aconteceu com o segundo livro

    16 SOUZA. Histria da edio de poesia em Minas Gerais: um breve panorama, p. 12.

    premiado, em 1969 (O rmo), j ento para as edies IP (Imprensa Perspectiva).17

    Mas no foi s atravs da publicao de livros que a Imprensa

    Oficial do Estado de Minas Gerais deu incentivo e divulgao poesia

    mineira. Ela o fez tambm atravs de seu rgo oficial, o jornal Minas

    Gerais, mais especificamente de seu Suplemento Literrio, que foi pro-

    duzido pela instituio entre os anos de 1966 e 1994, quando ele adquiriu

    autonomia administrativa e passou a ser responsabilidade da Secretaria

    de Cultura do Estado. O peridico, que, tomando emprestadas as pala-

    vras de Humberto Werneck, consistia em plantar um osis de cultura e

    arte em meio aridez dos despachos oficiais18 tinha a misso de aliar

    grandes nomes da literatura mundial aos seus jovens talentos, papel que,

    mesmo autnomo, continua prestando a cada nmero.

    Os rgos oficiais em geral parecem ter como meta principal publi-

    car, no sentido de tornar pblico, o produto local, a arte local, dentro

    de sua prpria casa. E uma das formas que eles encontram para fazer

    isto atravs de concursos literrios, que s vezes at mesmo oferecem

    como prmio para os autores a publicao de uma pequena tiragem dos

    livros vencedores. E ainda que no o faam, a premiao facilita a acei-

    tao da obra por casas editoras. Uma parte dos livros levantados em

    nossa pesquisa bibliogrfica foi publicada aps ter recebido algum prmio

    literrio, a publicao tendo sido financiada por seus organizadores ou

    no. Alguns exemplos encontrados so: Notcias da cela 4.578.321.069,

    de Paulo Sampaio e publicado em Belo Horizonte pelo Departamento de

    Ao Cultural da Secretaria Municipal de Cultura; e tambm os j men-

    cionados Pedra solido e O rmo: poesia 1964-1965, que sabemos no

    terem sido publicados com verba dos organizadores do concurso, alm

    de Circulao de sangue, de Librio Neves, e Das razes inquietas, de

    Max de Figueiredo Pontes, editadas pela Imprensa Oficial do Estado de

    Minas Gerais.

    17 NEVES, Librio. Resposta de entrevista Librio Neves [mensagem pessoal].18 WERNECK, Humberto. Meu Suplemento inesquecvel. Suplemento Literrio de Minas Gerais. n. 1287,

    Belo Horizonte, Secretaria do Estado de Cultura de Minas Gerais, dez. 2006, p. 3. Disponvel em: .

  • 46 Editoras mineiras: o lugar da poesia Rotas alteradas: a participao de instituies oficiais... 47

    Dois desses concursos que ainda so realizados periodicamente

    em Minas Gerais so o Prmio Cidade de Belo Horizonte, que premiou

    Librio Neves por duas vezes, por suas obras Pedra solido (1964) e

    Circulao de sangue (1972), e o Prmio Governo do Estado de Minas

    Gerais. O primeiro, criado em 1947 em comemorao dos 50 anos de Belo

    Horizonte, aceita apenas obras inditas que so julgadas em diferentes

    categorias, de acordo com o gnero: poesia, ensaio, dramaturgia, conto

    e romance. O prmio, que o mais antigo do pas, em 1984 passou a

    ser de mbito nacional e, desde 2009, oferece como prmio a publicao

    das obras vencedoras, alm de uma quantia em dinheiro.19 J o Prmio

    Governo do Estado de Minas Gerais uma iniciativa bem mais recente,

    tendo sido criado em dezembro de 2007 com o objetivo de promover e

    divulgar a literatura brasileira, reconhecendo grandes nomes e abrindo

    espao para os jovens escritores. Diferentemente do Prmio Cidade de

    Belo Horizonte, este concurso possui duas categorias por gnero (Poesia

    e Fico), na qual disputam escritores iniciantes e veteranos, uma cate-

    goria para premiar um jovem escritor mineiro (e que leva este nome),

    alm de uma para premiar e, por que no dizer, homenagear, um escritor

    brasileiro de grande relevncia, a categoria Conjunto da Obra.20

    Uma outra forma de incentivo que tem sido dada pelo Governo

    do Estado de Minas Gerais a Lei de Incentivo Cultura, destinada a

    fomentar projetos culturais de qualquer ordem no estado, incluindo a

    publicao de livros.

    Os projetos so analisados pela Comisso Tcnica de Anlise

    de Projetos (CTAP), que considera desde os critrios tcnicos

    pr-requisitos quanto ao empreendedor e enquadramento de

    seu projeto, viabilidade tcnica e exeqibilidade, detalhamento

    oramentrio, efeito multiplicador e benefcio social at o fato

    de possurem carter estritamente artstico-cultural e interesse

    pblico.21

    19 PREFEITURA de Belo Horizonte abre inscries para o Concurso Nacional de Literatura.20 PRMIO Governo de Minas Gerais de Literatura.21 LEI Estadual de Incentivo.

    No princpio deste ensaio dissemos que, ora de forma mais direta

    e impactante, ora de modo indireto e sutil, universidades e governos

    intervm nos rumos da atividade editorial que, de certa forma, tambm

    afeta as rotas desas instituies. Entretrato, aps toda a anlise feita e

    tudo o que foi dito, chegamos concluso de que no s estas rotas se

    alteram mutuamente, como, em resultado, elas alteram muitas outras:

    a do escritor veterano, ao ser prestigiado, homenageado e relembrado a

    cada edio que sai de suas obras; a do escritor iniciante, que sai do des-

    conhecido e v muitas portas se abrirem para si ao ter seu primeiro livro

    publicado; a da literatura, que ganha novas cores, sabores, texturas;

    a do conhecimento, que adquire novas formas, nuances e perfis; a das

    instituies polticas, que ganham ares mais suaves, e, em ltima instn-

    cia, pois est no fim do percurso, a do leitor, seja qual for seu perfil, que

    entra em contato com uma gama incomensurvel de ideias, de lgicas,

    de perspectivas, ampliando sua bagagem intelectual e cultural.

  • Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais

    Patrcia Fonseca de Souza

    A Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais responsvel pela publica-

    o de diversos atos e aes dos Poderes do Estado, publicaes em geral

    para terceiros, alm de edies e impressos de cunho cultural. Dentre

    os ltimos, esto alguns livros de poesia, que datam de 1915 a 2003. S

    para se ter uma ideia da dimenso da importncia desse rgo no cenrio

    editorial de poesia em Minas, em pesquisa bibliogrfica realizada, foram

    encontrados, dentre 1.128 publicaes que se dividem entre 252 institui-

    es , 184 livros de poesia publicados pela Imprensa Oficial (ver tabela 1

    nos itens Imprensa Oficial e Movimento Perspectiva Imprensa Oficial).

    A pesquisa que consultou acervos como o Sistema de Bibliotecas da

    UFMG, o acervo online da Biblioteca Nacional, o Acervo de Escritores

    Mineiros da UFMG, a Coleo Mineiriana do Instituto Cultural Amilcar

    Martins, e catlogos online de algumas editoras revelou que, alm de

    ter publicado obras de importantes poetas mineiros, como Henriqueta

    Lisboa e Emlio Moura, a Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais

    tambm tem um nmero significativo de livros de poesia publicados se

    comparada a outras editoras mineiras, j que estas possuem em torno

    de 1 a 2 edies desse gnero literrio. Pode-se concluir, portanto, que a

    atividade de edio exercida por esse rgo de suma importncia para

    a pesquisa que se pretende realizar.

    Por causa dessa expressiva atividade editorial no campo da poesia,

    entrevistar a Imprensa Oficial seria extremamente relevante para esta

    pesquisa, visando um acesso direto a informaes inditas a respeito da

    histria da edio de poesia que feita pela Imprensa. Todavia, ao tentar

    contatar algum que pudesse fornecer alguma informao sobre a hist-

    ria da Imprensa Oficial com relao a esse ofcio, o que se obteve foi uma

    srie de respostas insatisfatrias, pois no h mais nenhum funcionrio

    dentro do rgo que saiba dar esse tipo de informao que, alm disso,

    nunca foi registrada em nenhum tipo de documento.

  • 50 Editoras mineiras: o lugar da poesia Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais 51

    Diante dessa constatao, foi pedido a esse rgo que contribusse

    com esta pesquisa fornecendo, pelo menos, um catlogo com as obras j

    publicadas. Porm, mais uma vez a resposta foi desanimadora, pois no

    h disponvel um material desse tipo. Um funcionrio disse que o nico

    resqucio que ainda h das obras que j foram publicadas pela Imprensa

    Oficial uma vitrine que h do lado de fora do prdio, a qual expe alguns

    trabalhos feitos pelo rgo. O problema que nessa vitrine no h um

    exemplar de todas as publicaes feitas, uma vez que o objetivo da expo-

    sio somente dar aos cidados uma ideia do trabalho que realizado

    pela Imprensa Oficial.

    A nica sada plausvel, portanto, foi ir at esse rgo para buscar,

    l mesmo, alguma pista que orientasse esta pesquisa. Sendo assim, a

    cordialidade e boa vontade da Diretora de Relaes Institucionais, Denise

    Riera Toledo Nora, foi aproveitada como fonte de algumas informaes de

    que ela dispunha sobre essa histria. Apesar de no ter conhecimento de

    todo o processo editorial daquela poca, a Diretora forneceu informaes

    bastante curiosas a respeito do trabalho exercido pela Imprensa com

    relao publicao de poesia.

    Segundo Denise R. T. Nora, antigamente, havia, dentro do prdio

    da Imprensa, uma comisso editorial, vinculada Secretaria de Estado

    de Cultura. Essa comisso era responsvel pela seleo dos ttulos que

    seriam publicados por ano pela Imprensa Oficial. Segundo a Diretora,

    escolhiam-se 10 ttulos por ano. Aps a venda dos livros, a Imprensa

    Oficial detinha 40% do valor arrecadado e os outros 60% eram destinados

    ao autor. No entanto, aps a transferncia de uma parte dessa comisso

    editorial para a Secretaria de Estado de Cultura e ainda por questes

    mercadolgicas, essa poltica de publicao extinguiu-se.

    Ao ser questionada a respeito dessas questes mercadolgicas

    sobre as quais falou, Denise R. T. Nora contou que, como era de maior inte-

    resse para o Governo e para a Imprensa uma centralizao das atividades

    de impresso e publicao para rgos do Estado j que a Imprensa

    Oficial produz impressos para todos eles, tentou-se dar maior enfoque

    a essas questes, deixando de lado, portanto, as edies de livros de

    poesia. Agora, quem decide pela publicao por meio da Imprensa Oficial

    o prprio autor. Este pode entregar os originais diretamente ao rgo e

    pagar pela publicao. Mas o escritor precisa ter em mente que a quali-

    dade da obra, com relao ortografia, por exemplo, de sua responsa-

    bilidade, uma vez que a Imprensa Oficial, no sendo uma editora ainda

    que pudesse ser, de acordo com a lei no faz trabalhos de reviso. At

    mesmo os projetos grficos tm de vir prontos, pois, apesar de haver, no

    seu quadro de profissionais, programadores visuais da Autarquia, estes

    s so responsveis por revises dos trabalhos recebidos para publica-

    o. No entanto, se no quiser arcar com os custos do livro, o autor ainda

    pode valer-se da Lei de Incentivo Cultura.1 Sendo assim, o interessado

    envia o material para a Secretaria de Estado de Cultura, que faz a sele-

    o daquilo que ser publicado. Se escolhido, o autor ganha um valor de

    incentivo para realizar a publicao do livro.

    De acordo com o catlogo de peas grficas da Imprensa Oficial,

    nos livros publicados pelo rgo, so utilizados papis offset, couch liso

    ou matte, no miolo; e carto supremo, couch ou offset, na capa. A

    impresso feita em offset plana, rotativa ou impresso digital, podendo

    ser em 1, 2, 4 ou mais cores. J o acabamento costurado e colado, com

    a capa plastificada ou laminada. Pelo que se pode observar, a Imprensa

    Oficial conta com materiais de primeira qualidade em impresso e acaba-

    mento, o que garante ao rgo o ttulo de excelncia em impresso que,

    segundo Denise R. T. Nora, diversas vezes foi concedido a ele.

    A Diretora tambm forneceu um dado importante quanto ao des-

    tino dos antigos livros publicados pela Imprensa Oficial. Segundo Denise

    R. T. Nora, todas as edies que estavam disponveis em uma biblioteca

    que funcionava dentro do rgo, denominada Eduardo Frieiro,2 foram doa-

    das Biblioteca Pblica Estadual Luiz de Bessa, proporcionando, dessa

    forma, maior acessibilidade. Portanto, o que ainda resta das publicaes

    de interesse para esta pesquisa encontra-se, agora, na biblioteca pblica.

    1 Lei n 17.615, de 4 de julho de 2008, que visa a concesso de incentivo fiscal com o objetivo de estimular a realizao de projeto artstico-cultural no estado.

    2 Nome dado em homenagem ao escritor Eduardo Frieiro (1889-1982), que foi uma figura ilustre na histria da Imprensa Oficial.

  • O Suplemento LiterrioCludia B. Garabini

    O Suplemento Literrio foi lanado em 1966, sob a responsabilidade da

    Imprensa Oficial, que o publicava, semanalmente, como encarte do jor-

    nal do Estado, o Minas Gerais, que circula em Belo Horizonte, interior de

    Minas e outras capitais.

    Na poca o governador Israel Pinheiro decidiu criar um suplemento

    que acompanhasse o Dirio Oficial do Estado o Minas Gerais, distribu-

    do gratuitamente por todo o estado. O Suplemento Literrio de Minas

    Gerais tinha o objetivo apenas de recuperar a seo literria do Dirio

    Oficial de Minas Gerais. O projeto ganhou mais espao com a coordena-

    o do escritor Murilo Rubio.No Suplemento Literrio eram publicados

    textos referentes literatura, cinema, artes plsticas, teatro e msica,

    trazendo tambm reportagens, entrevistas, ensaios, crticas, poesia e

    depoimentos.

    Murilo Rubio, Las Correa de Arajo e Ayres da Mata Machado

    Filho foram os primeiros redatores da publicao. Murilo Rubio teve a

    colaborao de outros escritores como Carlos Drummond de Andrade,

    Clarice Lispector, Henriqueta Lisboa, Guimares Rosa, Murilo Mendes,

    Antnio Cndido, os irmos Augusto e Haroldo de Campos, Bueno de

    Rivera, Lcia Machado de Almeida, Emlio Moura, dentre outros. Nos anos

    seguintes, houve a colaborao de Humberto Werneck, Ivan ngelo,

    Roberto Drummond e Oswaldo Frana Jnior.

    Em 1966, quando o Suplemento Literrio foi criado, Minas Gerais

    era um estado com pouca expresso em relao divulgao de seus

    escritores, pois a maioria dos escritores mineiros trabalhava em So

    Paulo e no Rio de Janeiro, o eixo com maior expanso cultural daquela

    poca. Assim houve a colaborao de escritores mineiros que moravam

    fora, pensadores e escritores de outros Estados e at de outros pases.

    Os principais nomes foram Guimares Rosa, no Rio, e Murilo Mendes,

    em Roma. A proposta inicial do SLMG era publicar autores consagrados e

    desconhecidos caracterstica que mantida at hoje , mas tambm

    contemplar outras manifestaes culturais como o teatro, o cinema e as

    artes plsticas.

  • 54 Editoras mineiras: o lugar da poesia O Suplemento Literrio 55

    A capa da primeira edio chamava ateno pelo editorial sob

    o ttulo de Apresentao, com um trabalho do artista plstico lvaro

    Apocalypse, e o poema O pas dos laticnios, do poeta Bueno de Rivera.

    A publicao trouxe o artigo Funo da poesia renovadora, de Fbio

    Lucas e de Joo Camilo de Oliveira Torres, que enfocava o papel de Minas

    Gerais na conjuntura poltica do pas. Naquela poca no havia um jor-

    nal com um caderno somente literrio, por isso produzir o Suplemento

    Literrio foi uma conquista para a literatura.

    Murilo Rubio, que coordenou os trabalhos at 1969, foi denun-

    ciado como subversivo e teve que deixar o cargo. Foi substitudo pelo

    escritor e professor Rui Mouro, que tomou posse como coordenador do

    Suplemento Literrio em dezembro de 1969 e foi demitido dois meses

    aps a posse, por ordem do comandante da polcia de Belo Horizonte,

    porque no concordava com as brutalidades da ditadura militar. Outros

    nomes assumiram depois a direo do Suplemento Literrio, como ngelo

    Oswaldo de Arajo Santos, Ayres da Mata Machado, Dulio Gomes, Mrio

    Garcia de Paiva, Paschoal Motta, Wilson Castelo Branco etc.

    A publicao do Suplemento ocorreu at 1992 no Dirio Oficial do

    Estado de Minas Gerais semanalmente. Foi interrompida a publicao em

    1993. A partir de 1994 o Suplemento Literrio se desvinculou da Imprensa

    Oficial e passou a ser de responsabilidade da Secretaria de Cultura do

    Estado de Minas Gerais com o nome de Suplemento Literrio, sendo

    publicado mensalmente.

    O Suplemento Literrio tambm referncia para pesquisadores e

    apaixonados pela literatura, por conter textos inditos de vrios autores.

    Segundo o assessor editorial e revisor, Paulo de Andrade,

    A diversidade a principal marca do Suplemento Literrio, que tem desde ensaios reflexivos sobre literatura, textos de autores brasileiros e estrangeiros, alm de poemas, fotos e ilustraes de artistas plsticos de renome. O que difere o Suplemento mineiro dos outros que existem no pas o seu carter ensastico e literrio, j que a maioria dos veculos impressos que abordam a literatura, o faz com um carter jornalstico.1

    1 A presente pesquisa feita no site da Secretaria de Cultura do Estado de Minas Gerais em mostra as poesias publicadas no Suplemento. A tabela mostra apenas algumas das poesias publicadas no perodo de 1999 a 2010, tendo ttulos e autores diversos.

    As atividades do projeto Suplemento Literrio Preservao que

    desenvolvido, desde 1997, pela Biblioteca da Faculdade de Letras da

    UFMG tm permitido que as edies do Suplemento, de 1966 at os dias

    de hoje, sejam indexadas, digitalizadas e microfilmadas.

    Esse projeto da FALE/UFMG tem permitido tambm que as edies

    do Suplemento Literrio sejam consultadas, copiadas e impressas por

    meio da internet. Os originais impressos esto encadernados e guarda-

    dos na biblioteca da FALE/UFMG e o acervo antigo foi doado, por meio

    de microfilme, para o Suplemento Literrio. As edies do Suplemento

    podem ser encontradas no site www.letras.ufmg.br/websuplit.

    O site da Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais,

    desde 1994, tem tambm disponibilizado mensalmente as edies do

    Suplemento, podendo estas ser acessadas por meio do site http://www.

    cultura.mg.gov.br/.

    Podemos perceber, ento, que o importante trabalho desenvol-

    vido pela Biblioteca da Faculdade de Letras da UFMG e pela Secretaria de

    Cultura do Estado de Minas Gerais tem proporcionado, tanto aos alunos

    quanto ao pblico em geral, o fcil acesso s edies do Suplemento, per-

    mitindo o estudo das obras nele publicadas, incluindo as poesias.

  • O Suplemento Literrio sob a direo de Carlos vila

    Patrcia Fonseca de Souza

    Em entrevista concedida pelo poeta Carlos vila filho de dois outros

    importantes poetas mineiros, Affonso vila e Las Corra de Arajo tra-

    ou-se um panorama sobre a histria do Suplemento Literrio, na poca

    em que este esteve sob sua direo. Alm disso, o poeta tambm fez

    algumas consideraes sobre o seu fazer potico e outras acerca do mer-

    cado editorial com relao poesia.

    Carlos vila tem trs livros de poesia publicados: Aqui & Agora

    (Edies Dubolso, 1981), Sinal de Menos (Tipografia do Fundo de Ouro

    Preto, 1989) e Bissexto Sentido (Editora Perspectiva, 1999). Alm dos

    livros, o poeta tambm j publicou poemas em revistas mineiras, pau-

    listas e cariocas; j realizou trabalhos relacionados poesia em diversos

    veculos de comunicao, sendo um deles o Suplemento Literrio, peri-

    dico que editou por quatro anos, de 1995 a 1998.

    Quando Carlos vila foi escolhido para ser editor do Suplemento

    Literrio, este tinha acabado de se desvincular da Imprensa Oficial, pas-

    sando a ser de responsabilidade da Secretaria de Estado de Cultura, o

    que lhe rendeu o cargo de primeiro editor do peridico. No entanto, o

    poeta contou que, na verdade, no foi o primeiro editor. Houve, antes

    que ele assumisse o cargo, um editor provisrio