edição 01 | agosto 2019 - ufrgs · n.01 | agosto 2019 | página 6 foto: janice ramm - técnica de...

22
Foto: Luis Gustavo Ruwer da Silva N o 01 Agosto 2019

Upload: others

Post on 24-Jun-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

Foto: Luis Gustavo Ruwer da Silva

No 01Agosto 2019

Page 2: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

Edição 01 | Agosto 2019

Ser mulher e mãe: entre culpas, desafios e superaçõesQuando o tema escolhido é aleitamento materno, falar sobre evidências científicas e condutas

bem embasadas parece ser algo fácil. Entretanto, o maior desafio para os profissionais, não é definir se a melhor conduta é reforçar o aleitamento ou a prescrição da fórmula láctea. O maior desafio é enxergar a mulher que está presente, escondida atrás daquela mãe.

O empoderamento da mulher, as inúmeras possibilidades profissionais e a independência finan-ceira trouxeram um amplo leque de opções, diferentes sonhos e perspectivas de realização pessoal. O anterior caminho linear de sucesso - casamento e filhos -, hoje é um referencial presente nas rodas de conversas familiares: “Quando vais casar?” ou “Quando vão ter filhos?” ou “Como assim não quer ter fi-lhos?”.

A mulher que decide engravidar e assumir a maternidade na sua vida, está abrindo mão de parte da sua individualidade, trocando sonhos e construindo novas perspectivas de futuro. Ela tem direito a ter dúvidas sobre a modificação do corpo, sobre a sua vida sexual, sobre o comprometimento da carrei-ra profissional, sobre os direitos e deveres trabalhistas. Dúvidas sobre educação dos filhos, sobre como escolher escolas, sobre uso de fraldas, sobre o que levar na mala para a maternidade! São infinidades de novos questionamentos que surgem de forma desenfreada associados a uma expectativa social que diz: “A mãe é uma fortaleza, capaz de amar os filhos acima de qualquer coisa e que nunca erra.”

Na realidade, a mãe é apenas uma mulher! Uma mulher que, na maternidade, também dedica seu tempo para que tudo dê certo! Que pode ter sonhado muito com esse bebê ou uma mulher que sonhou em ser astronauta e nunca imaginou que teria filhos. Não importa! Essa pessoa precisa também ser vista, apoiada, “desculpabilizada” para que possa exercer a sua maternidade de forma plena e o mais próximo dos seus planos.

A experiência positiva em relação ao parto, à maternidade e ao aleitamento materno são pre-conizadas, e os profissionais de saúde são treinados para que o aleitamento materno aconteça em livre demanda, exclusivo até os seis meses e pelo menos por dois anos: ótimo! As evidências científicas supor-tam todas essas recomendações: elas são excelentes para abordagens populacionais e políticas públicas. E na abordagem individual, no consultório, conversando com uma amiga que está em aleitamento, qual a melhor recomendação?

A melhor recomendação sempre será a da escuta qualificada, ou seja, ouvir a pessoa – mulher, mãe, esposa, profissional – de forma atenta, com verdadeiro interesse. Entender os medos, os anseios e as dúvidas. A melhor recomendação é a mais adequada para a realidade daquela pessoa, construída em conjunto. Talvez seja a prescrição de fórmula, para que a mulher consiga ter algumas horas de sono com qualidade. Talvez seja uma reunião familiar e qualificar a rede de apoio. Talvez seja parabenizar e dizer que esse período é muito difícil mesmo. Talvez seja explicar que ela não pode amamentar, mas que isso não diminui o amor nem a qualidade dela como mulher e mãe.

As melhores evidências ajudam a mostrar o rumo, mas a abordagem individualizada e empática é capaz não apenas de ajudar alguém a superar a restrição de sono, o cansaço, os medos, a dor física, as rachaduras e o empedramento das mamas, mas também é capaz de diminuir a culpa. A abordagem indi-vidualizada é também capaz de mostrar que fazer o possível é excelente e pode realmente construir uma experiência positiva e boas memórias da amamentação.

Cynthia Molina-Bastos – mulher, mãe, médica

Em agradecimento à Prof. Dra. Luciana Friedrich – por ter me auxiliado a

construir lindas memórias em dois anos de amamentação sem culpa.

Page 3: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

Sumário

Relato

Entrevista

CapaMaternidade

Agenda

Divulgação Científica

Relato de experiência acadêmica em Unidade Básica de Saúde de Dourados

O complexo e multifatorial câncer de mama

Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário

Os dois primeiros anos de vida: uma janela de oportunidades

Um olhar sobre a chegada de um bebê na família: depressão pós-parto

04

13

Aleitamento materno exclusivo: desafios e possibilidades

1707

11 Entrevista: Cesar Victora18

Opinião: o desafio da amamentação

21

16

10

06

ExpedienteA Revista Fonte é uma publicação eletrônica do núcleo de Telessaúde da Universidade Federal do Rio Grande do Sul - TelessaúdeRS-UFRGS, editada pelas equipes de Comunicação e Teleducação trimestralmente. O objetivo da Fonte é levar informação de qualidade a profissionais de saúde da atenção primária de forma rápida e facilitada.

TelessaúdeRS-UFRGSDIRETORIA: Roberto Nunes Umpierre e Marcelo Rodrigues Gonçalves (Coordenação Geral do TelessaúdeRS-UFRGS); Ana Célia da Silva Siqueira (Gerente de Projetos); Rodolfo Souza da Silva (Coordenação Executiva); Ana Paula Bongräber Corrêa (Coordenação equipes de Teleducação e Comunicação).

Uso da informaçãoTextos podem ser utilizados, reproduzidos, compartilhados, desde que citada a fonte original.

Revista Fonte TelessaúdeRS

JORNALISTA RESPONSÁVEL: Angélica Dias Pinheiro

REPORTAGEM: Angélica Dias Pinheiro e Jovana Dullius

REVISÃO/EDIÇÃO: Cynthia Goulart Molina-Bastos, Rodolfo Souza da Silva, Ana Célia da Silva Siqueira e Ana Paula Borngräber Corrêa

COLABORADORES DA EDIÇÃO: Cynthia Goulart Molina-Bastos, Laura Santos Ferraz, Gabriela Vescovi, Giorgio Aldigueri Trentin e Vanessa Muller Stürmer.

DOCUMENTAÇÃO: Camila Hofstetter Camini

ARTE: Isabella Smaniotto Bello

FOTOGRAFIA: Luis Gustavo Ruwer da Silva

DIAGRAMAÇÃO: Iasmine Paim Nique da Silva, Lorenzo Costa Kupstaitis

Você tem alguma sugestão de conteúdo?

Envie para o email

[email protected]

Page 4: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 4

Relato de experiência acadêmica em Unidade Básica de Saúde de Dourados

#planejamentofamiliar #UBS

#equipemultidisciplinar #APS

Relato

A nossa ação foi realizada na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Jardim Guai-curus, Dourados - Mato Grosso do Sul, no segundo semestre do ano de 2018, entre os meses de Setembro e Novembro, durante o es-tágio da disciplina de Saúde da Comunidade II, do curso de Medicina da Universidade Federal da Grande Dourados. Ela foi pensada durante o acompanhamento dos serviços da unidade, principalmente nas consultas pré-natais, na triagem e nas visitas domiciliares. Só foi possível conhecer realmente a situação de saúde do lo-cal adscrito à unidade quando acompanhamos o trabalho dos agentes comunitários de saúde (ACS), das enfermeiras e dos médicos, afirman-do a importância da equipe multidisciplinar na Atenção Primária à Saúde.

Dentre os vários desafios que surgiram no estágio, os que mais nos chamaram a aten-ção foram: o subdimensionamento da UBS, na qual eram atendidos mais de 30.000 pessoas, sendo a capacidade de atendimento da unidade próxima a 10.000 pessoas (2 equipes de estra-tégia saúde da família, com capacidade de aten-der de 4.000 a 5.000 pessoas por equipe, como preconizado pelo Ministério da Saúde), e a falta de aplicação do Planejamento Familiar, impli-cando, na região assistida, um grande aumento do número de Infecções Sexualmente Trans-missíveis (ISTs) e de gravidezes não planejadas, principalmente em adolescentes.

Para nós, estudantes, a realidade da-quela UBS era chocante. O fato de ser uma UBS nova, finalizada em 2012 e inaugurada em 2014, demonstra que a cobertura em saúde e o crescimento da cidade não ocorreu concomi-tantemente. O número de gestantes em trata-mento para sífilis e o número de adolescentes grávidas era extremamente preocupante para as enfermeiras encarregadas dos pré-natais que estavam sobrecarregadas com o núme-

ro de gestantes em acompanhamento; para os ACS, que buscavam melhorar as condições de saúde da população por meio do trabalho de campo; e para nós, pois era uma realidade muito distante do que esperávamos encontrar. Doura-dos é uma região muito acometida por casos de Tuberculose, muitos deles tratados no Hospital Universitário ou no Hospital da Missão Caiuá, então, esperávamos encontrar casos dessas do-enças ou de outras afecções que são de preocu-pação da saúde pública, como a hipertensão e o diabetes. Além disso, infelizmente, os médicos da UBS não permaneciam por muito tempo no serviço, ocorrendo sempre a substituição de profissionais e a perda da continuidade do cui-dado com a saúde da população.

Para colocar em prática nossa ação, utilizamos o método participativo, o qual pro-porciona a articulação do acadêmico com a comunidade, com o propósito de interagir, orientar e transformar determinada situação, com o foco sobre o planejamento familiar e a divulgação da sua importância e direitos ga-rantidos à população.

Foram realizados dois momentos de educação em saúde, sendo um na sala de espe-

Gabriel Navarro da Luz, Linda Inês Camacho Leiguez, Lucas Carvalho Vital, Lucas Dutra Nehme, Paulo Henrique Costa Alem, Ana Paula Dossi de Guimarães e Queiroz (professora)

Acadêmicos de Medicina da Universidade Federal da Grande Dourados

Foto

: Arq

uivo

pes

soal

Page 5: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 5

com a atenção ao paciente, seja durante as con-sultas ou durante as visitas domiciliares. Como futuros médicos, o mínimo que podemos fazer é aprender o que a população precisa e oferecer o máximo de conforto possível.

Esperamos que a troca de experiências e conhecimentos transmitidos entre a gente, a equipe de saúde da família e a população abor-dada funcionem sinergicamente na construção de um melhor bem-estar, a longo prazo, e no fortalecimento dos vínculos entre usuários e serviço de saúde, de maneira a promover o em-poderamento da população e, sobretudo, efeti-var o direito à saúde em nosso país.

Rel

ato ra dentro da UBS, e o outro nas residências de

moradores que se encaixavam nos padrões do público alvo – mulheres de 14 a 30 anos, com ou sem filhos e gestantes, bem como suas res-pectivas famílias. Nós coordenamos a roda de conversa no dia de atendimento às gestantes, no qual a UBS ficou relativamente cheia e com público alvo do nosso tema, numa área em que as cadeiras eram dispostas em círculo, para propiciar um ambiente estimulante ao diálogo. O material educativo utilizado foram banners e cartazes oficiais aprovados e desenvolvidos pelo Ministério da Saúde sobre educação em saúde feminina, métodos contraceptivos e ISTs. A partir disso, realizamos uma ação dinâmica para interagir com a população.

Num segundo momento, a educação em saúde foi direcionada aos moradores da região que se encaixavam no público alvo através de visitas domiciliares, a fim de transmitir de uma maneira mais direta, informativa e receptiva, por ser no ambiente do próprio domicílio do pa-ciente.

Para nós, o resultado dessa ação foi a aproximação com a comunidade do Jardim Guaicurus e suas imediações e a vivência da realidade da saúde pública brasileira já desde o início do curso, fatos que nos proporcionaram reflexões e ideias acerca dos desafios existen-tes e da disparidade entre realidades de regiões distintas da mesma cidade.

Foi de extrema importância ter o conta-to com a Atenção Primária à Saúde, pois, para o sucesso de toda a rede existente do SUS, o acompanhamento da população nos níveis mais básicos de saúde, e que demandam menos tec-nologia, é imprescindível para o sucesso do sis-tema e o estado de saúde e bem-estar plenos da população. Como estudantes de medicina, ter tido essa experiência, mesmo com pouco tempo de curso, mostrou-nos que a população carece de atenção e que a maioria dos problemas po-deriam ser evitados com a educação em saúde e

Você é estudante e tem uma história interessante com a Atenção Primária?

Ou é profissional e tem uma história com a telessaúde?

Envie seu relato para

[email protected]

Page 6: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

Exame de teledermatologia realizado pela Secretaria Municipal de Saúde e Saneamento de Sorriso/MT

Foto

: Jan

ice

Ram

m -

Técn

ica

de E

nfer

mag

em

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 6

Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuárioCatia Freitas Luciano, Devanil Barbosa, Valdelírio Venites - Secretaria Municipal de Saúde e Saneamento de Sorriso/MT

Em um cenário com uma oferta de 100 consultas de dermatologia por mês e mais de 1.600 pacientes aguardando para atendimento cujo tempo de espera chegava há 20 meses, o município de Sorriso, no Mato Grosso, aderiu em 2017 a teledermatologia. A parceria entre Se-cretaria de Saúde e Saneamento de Sorriso com o Núcleo Telessaúde Mato Grosso e Instituto Assistencial de Desenvolvimento – IAD veio com o objetivo de diminuir a fila, em especial o tempo de espera pela avaliação do especialista.

Em outubro, após visita ao Núcleo de Te-lessaúde de Santa Catarina, onde esse trabalho em nível estadual já estava implantado, e a capa-citação dos profissionais, aconteceu a implanta-ção em Sorriso. Nos primeiros quatro meses do projeto piloto, de livre adesão dos profissionais, 11 diferentes médicos, representando 47% dos profissionais das USFs, referenciaram 46 usuá-rios para o projeto. Foram examinadas 83 lesões e gerados 63 exames, em que cada exame pode conter até três diferentes lesões do paciente, e os laudos realizados por dermatologistas segui-ram protocolos clínicos.

Os primeiros resultados apontam que 56% dos pacientes não precisaram passar por consulta presencial com especialista, tendo seu

problema resolvido na atenção primária com apoio diagnóstico e, quando necessário, suges-tão de tratamento no próprio laudo. E os pa-cientes com indicações de consulta presencial foram priorizados de acordo com a indicação contida no laudo.

Uma segunda análise aponta para a con-solidação do projeto: até abril de 2019 foram realizados 147 exames. Os números mostram que 43% dos pacientes não precisaram de ava-liação presencial do especialista, tendo seu pro-blema resolvido na Unidade de Saúde, gerando agilidade no atendimento da queixa do usuário e economia aos cofres públicos.

A gestão municipal avalia como positiva e destaca o custo-efetividade do projeto, por ter um baixo custo de implantação e ser altamen-te resolutivo, pois os pacientes que entrariam numa fila de espera, hoje têm seus exames reali-zados no município e laudados em até 72 horas.

Sobre a Teledermatologia

Com o uso da dermatoscopia é possível visualizar a pele ou lesão a partir de um método não invasivo que permite a avaliação de estru-turas morfológicas da pele não acessíveis a olho nu, aumentando a acurácia do exame clínico de 60% para 90%. Na prática, os pacientes atendi-dos nas Unidades de Saúde com lesões de pele suspeitas são encaminhados para a realização de um exame, onde a lesão é fotografada com o dermatoscópio e essa imagem encaminhada junto com um questionário de avaliação do pa-ciente para que especialistas avaliem a lesão.

Em um tempo curto, o laudo dessa ima-gem é devolvido para o médico da unidade, que de posse dessa informação define a con-tinuidade do tratamento. Quando necessária a realização de exames complementares, o paciente é encaminhado para avaliação pre-sencial do dermatologista.

#dermatologia #telessaúde

#encaminhamento #telediagnóstico

Relato

Page 7: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 7

Os dois primeiros anos de vida: uma janela de oportunidades

#introduçãoalimentar #tecnologiaparabebês

#1000dias #desenvolvimentodacriança

Saúd

e da C

riança

Por Jovana Dullius

Os primeiros passos, as primeiras pala-vras e a aquisição de novas habilidades - o início da vida de uma criança é fundamental no desen-volvimento de uma pessoa. Isso porque inicia-se a construção de estruturas de desenvolvimento cognitivo, social e afetivo. Além disso, os 1.000 dias, período que compreende desde a gestação até os 2 anos da criança, caracterizam-se por ser o momento em que as crianças aprendem quem são e adquirem informação sobre a sociedade.

Estudos mostram que, nesse momento, é imprescindível a atenção, o carinho e o cuida-do. Os aspectos emocionais são tão importan-tes quanto os biológicos. Se essas questões não forem levadas em consideração, o desenvol-vimento cognitivo e a linguagem podem apre-sentar dificuldades para se estabelecer. Dessa forma, o colo, o carinho e o toque entre pais e bebês são estruturantes para o desenvolvimen-to da criança.

Para que os bebês possam se desenvol-ver física e emocionalmente é preciso que sejam acompanhados por cuidadores afetuosos, pre-sentes, estáveis e disponíveis. Como explicaram a nutricionista Inês Rugani, doutora em Saúde Pública, e a psicóloga Elisa Azevedo, especialista em Saúde da Criança, é relevante que a família tenha consciência do quão importante é essa fase e quais os riscos que podem expor a criança.

“Quanto mais a gente estuda essa faixa etária, mais a gente descobre que esse começo da vida define o futuro da criança. Falamos do período desde a gestação até os dois primeiros anos de vida como uma janela de oportunidade para muita coisa dar certo ou não”, explica a nu-tricionista Inês Rugani, doutora em Saúde Pú-blica pela Universidade de São Paulo (USP).

O desenvolvimento inicial do bebê é como

se fosse um conjunto de ações. Conforme o bebê se desenvolve, as mudanças afetam o seu com-portamento em todas as áreas e evolui à medida que a criança age sobre o ambiente. Assim que o processo vai se desenrolando, a criança atribui significado às coisas que a cercam.

“É como se fosse a construção de um pré-dio.” - define Elisa Cardoso Azevedo, psicóloga especialista em Psicoterapia de Orientação Psi-canalítica da Infância e Adolescência, em Saú-de da Criança e em Psicologia Hospitalar. “Se a base do prédio não for suficientemente sólida e estável, então os andares que serão constru-ídos acima ficarão comprometidos e correm o risco de desabar. Com o desenvolvimento in-fantil ocorre o mesmo: se os primeiros anos de vida não forem bem estruturados, o resto do desenvolvimento pode ficar bem prejudicado e a criança pode apresentar dificuldades”, com-pleta a psicóloga.

Mais olho no olho, menos olho na tela

Com o avanço das tecnologias e as pos-sibilidades de entretenimento que proporcio-nam, cada vez mais cedo as crianças estão em frente às telas. Para os pais, a prática nem sem-pre é vista como negativa, porque muitas vezes é a solução encontrada por eles para deixar a criança entretida e conseguirem fazer as ativi-dades pessoais.

Entretanto, a Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta que seja evitado o uso de telas para bebês e crianças de até 2 anos. A OMS destaca ainda a importância de inserir hábitos saudáveis desde os primeiros anos de vida, como brincar, realizar atividades físicas e

Foto

: Lui

s G

usta

vo R

uwer

da

Silv

a

Page 8: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 8

Saú

de

da

Cri

ança ter horas de sono de qualidade. Além disso, é

orientado que os celulares, tablets e a televisão sejam substituídos por histórias, quebra-cabe-ças e música.

As Sociedades de Pediatria de diferen-tes países (Brasil, EUA, Canadá) orientam que o tempo de uso de telas deve ser limitado e proporcional às idades das crianças. Para be-bês menores de 2 anos o oferecimento de telas deve ser evitado e para crianças com idades en-tre 2-5 anos, é sugerido que o tempo de uso seja restrito a 1 hora por dia.

Elisa Cardoso Azevedo é psicóloga e doutoranda atuante no impacto das tecnologias no desenvolvimento dos bebês. Para a psicólo-ga, é importante que a família faça uma reflexão sobre como é o uso de tecnologias em sua casa, lembrando que os pais são os exemplos para os filhos. Além disso, ela destaca que é necessário entender em quais os momentos as telas estão sendo usadas e a serviço de que ou de quem que são oferecidas às crianças. “Eu sou a favor da ideia de mais olho no olho e menos olho na tela. O que me preocupa é pensar que esse uso esteja substituindo as interações familiares. Deve-se ter um cuidado para que o mundo vir-tual não tome o lugar do mundo real. É impor-tante ressaltar que as interações presenciais devem ser priorizadas, pois a tecnologia por si só jamais cumprirá a função de trocas sem a participação do outro”, explica.

Da mesma forma, a Sociedade Brasilei-ra de Pediatria (SBP) recomenda que crianças menores de seis anos precisam ser mais prote-gidas da violência virtual, pois não conseguem distinguir fantasia de realidade. Além disso, sugere que os pais estabeleçam limites de ho-rários e participem desses momentos para auxi-liar na compreensão de imagens. A família deve conversar sobre limites de uso, regras, configu-rações de segurança e de privacidade nas redes ,bem como monitorar o que os filhos acessam nos meios digitais. Ainda, a SBP enfatiza que a família esteja mais com as crianças, fique próxi-ma delas e participe das atividades da escola e da comunidade para construir uma relação de confiança.

Segundo Azevedo, os estudos mostram que os pais usam as tecnologias para distrair, acalmar ou entreter o bebê enquanto estão re-alizando alguma tarefa ou resolvendo questões

de trabalho em casa. É importante que em todas as questões relacionadas a vida do bebê haja envolvimento e divisão de tarefas entre todos os membros do núcleo familiar.

É interessante que cada família encontre algum meio para que os filhos não fiquem expos-tos às tecnologias e não percam o contato e a in-teração que deveriam ter com os seus cuidado-res. “Já ouvi o relato de famílias que instituíram um momento sem telas nas suas rotinas, a fim de valorizar a companhia um do outro, de fazer ati-vidades juntos que não envolvam as tecnologias. Penso que é um jeito interessante de preservar os encontros e as conexões reais. Mas cada famí-lia vai ter que encontrar o seu jeito, um que fun-cione para ela”, destaca a psicóloga.

É interessante que o uso das tecnologias seja feito em interação com os cuidadores, evi-tando que os bebês e crianças pequenas utili\em sozinhas, a fim de proporcionar um uso se-guro e evitar possíveis riscos e exposições a conteúdos inadequados. “Já que as tecnologias estão muito presentes na vida das famílias e está difícil evitar o uso, então tem que se pensar em estratégias mais criativas com as telas”, de-fende a psicóloga.

Paladar, gostos e sabores: a alimentação durante os pri-meiros anos de vida

Além dos primeiros 1.000 dias da crian-ça serem determinantes para o desenvolvimen-

Alimentação saudável e racionalização do uso das tecnolo-gias é essencial nos primeiros anos de vida.

Foto

: Lu

ís G

ust

avo

Ru

wer

da

Silv

a

Page 9: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 9

to cognitivo, social e afetivo, esse período deve receber atenção para a alimentação. Isso por-que, para crescer e se desenvolver de forma de-sejável, a criança necessita de uma alimentação saudável e adequada, cuidado, proteção e afeto para que se sinta segura, amada e valorizada.

Para 2019, está programada a publicação da atualização do Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 anos. Criado em 2004, o Guia foi revisado em 2010 e está com nova edição total-mente revisada e atualizada. O novo Guia inova ao abranger a família, a escola, a saúde e a polí-tica, sendo uma fonte de consulta segura e con-fiável que pode ser usada por toda a população.

“O Guia Alimentar para crianças meno-res de 2 anos de idade é dirigido para a popu-lação e fala para a família e para a rede de apoio que cuida da criança. Traz princípios muito ino-vadores que assumem que a criança é priori-dade absoluta, e que, para cuidar, todo mundo deve se mobilizar”, explica Inês Rugani, que está coordenando a revisão do Guia pela Universi-dade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

De acordo com o Guia, o leite materno oferece para a criança tudo o que ela necessita para crescer e se desenvolver até os seis meses de idade. Além disso, proporciona o contato com os sabores da comida consumida pela mãe, facilitando a aceitação dos alimentos quando passar a consumi-los.

Após essa idade, a criança necessita de mais nutrientes e deve começar a receber ou-tros alimentos. As práticas alimentares esta-belecidas nesse período desempenham papel importante na formação dos hábitos saudáveis que influenciarão durante toda a vida a relação dela com a comida.

Inês Rugani é nutricionista e Doutora em Saúde Pública, professora associada do Institu-to de Nutrição da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (INU/UERJ), bolsista Pró-Ciên-cia dessa universidade e membro da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco). Rugani defende que se deve entender a alimentação no início da vida não só como um aporte de nu-trientes à criança, mas como um processo de apresentar o bebê ao mundo, de interagir com as pessoas, conhecer os sabores, as cores e as texturas. “Até os dois anos a criança aprende o seu padrão alimentar. Então protegê-la nesse período e oferecer para ela o que a natureza

oferece de sabores, cores e texturas é uma ma-neira interessante de iniciar a alimentação da criança”, destaca a nutricionista.

Além disso, nessa fase a alimentação complementar deve ser introduzida por meio de alimentos in natura e minimamente proces-sados. Se tão cedo forem apresentados alimen-tos ultraprocessados à criança, pode ser que ela não sinta tanto o gosto dos alimentos naturais por estar lidando sempre com sabores fortes. “Eu costumo dizer que quando a gente oferece para criança só os alimentos ultraprocessados ou eles entram muito cedo na vida da criança, é como se a criança tivesse uma paleta de cores e abrisse mão das cores pastéis e só ficasse com as cores fortes, com os sabores muito fortes”, explica a nutricionista.

Todos os membros da família devem es-tar envolvidos no processo de cuidar da criança e devem saber diferenciar as necessidades de higiene, interação, afeto e refeição. É uma tarefa coletiva e deve ser dividida e compartilhada por todos os integrantes da família, para não sobre-carregar uma pessoa só. Portanto, a chegada de uma criança pode ser o momento para rever a alimentação da família inteira. Nesse sentido, os profissionais de saúde cumprem um importante papel na educação alimentar das famílias. É im-portante que orientem os membros da família quanto aos alimentos que devem ser introduzi-dos, priorizando os alimentos in natura.

Para saber mais sobre o guia e sobre a alimentação complementar, confira no link abai-xo o vídeo com a íntegra da entrevista com a nu-tricionista Inês Rugani.

Assista a seguir a entrevista completa com a nutricionista e doutora em Saúde Pública, Inês Rugani (Clique aqui)

Webpalestra - As tecnologias e os possíveis impactos no desenvolvimento dos bebês(Clique aqui)

Quer saber mais sobre a Saúde da Criança? Acesse:

Saú

de

da

Cri

ança

Page 10: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 1

0

Divulgação Científica

Canal de Atendimento 0800 644 6543 do Telessaúders-UFRGS para todos os Profissionais da Atenção Primária à Saúde do Brasil: Experiência e Desafios

GRENDENE et al. Canal de Atendimento 0800 644 6543 do Telessaúders-UFRGS para todos os Profissionais da Aten-ção Primária à Saúde do Brasil: Experiência e Desafios. Jornal Brasileiro de Telessaúde, v. 6, n. 1, 2019.

O artigo apresenta a experiên-cia do TelessaúdeRS-UFRGS com o uso do Canal de Aten-dimento 0800 644 6543. A publicação traz uma análise das teleconsultorias realiza-das durante os seis primeiros meses do serviço, após a sua ampliação para profissionais de saúde da Atenção Primá-ria à Saúde de todo o Brasil e profissionais de outras espe-cialidades, bem como as per-cepções dos teleconsultores sobre o uso do mesmo.

Leia o artigo completo aqui

Percurso Metodológico da Criação de um Curso a Distância Sobre Alimentação e Nutrição para Profissionais da Atenção Primária à Saúde

RODRIGUES et al. Percurso Metodológico da Criação de um Curso a Distância Sobre Alimentação e Nutrição para Profissionais da Atenção Pri-mária à Saúde. Jornal Brasileiro de Telessaúde, v. 6, n. 1, 2019.

O desenvolvimento e a criação de estratégias de educação permanente para os profissio-nais de saúde se faz necessá-rio no contexto atual do nível primário de saúde do Brasil. O presente artigo teve por obje-tivo descrever e discutir a me-todologia do curso de Alimen-tação e Nutrição na Atenção Primária à Saúde, desenvolvido pelo TelessaúdeRS-UFRGS.

Leia o artigo completo aqui

O Uso da Teleconsultoria em Enfermagem como Ferramenta de Apoio na Epidemia de Sífilis Brasileira

KINALSKI et al. Percurso Me-todológico da Criação de um Curso a Distância Sobre Ali-mentação e Nutrição para Pro-fissionais da Atenção Primária à Saúde. Jornal Brasileiro de Telessaúde, v. 6, n. 1, 2019.

Em 2016, a Sífilis foi declara-da como emergência de saúde pública no Brasil. Somente em 2017, mais de 119 mil casos de sífilis foram notificados, mais de 49 mil casos em gestantes e mais de 24 mil casos congêni-tos. O artigo traz um relato de experiência sobre o uso de te-leconsultoria de enfermagem na solução de casos clínicos so-bre sífilis no contexto da Aten-ção Primária à Saúde.

Leia o artigo completo aqui

#telessaúde#alimentaçãoenutrição

#sífilis

Você tem algum artigo ou publicação que pode ser publicada na Revista Fonte?

Envie para: [email protected]

Page 11: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 1

1

Um olhar sobre a chegada de um bebê na família: depressão pós-parto

#depressãopósparto #sinaisdealerta

#prevenção #envolvimentofamiliar

Por Jovana DulliusColaboradores: Gabriela Vescovi

Saúd

e Men

tal

Dúvidas e expectativas de algo que pode ser maravilhoso e ao mesmo tempo assustador tomam conta dos pensamentos da família du-rante uma gravidez. A chegada do primeiro fi-lho modifica a estrutura de uma família. Junto a um bebê surgem novas rotinas, novos hábitos e uma nova rede de relacionamentos. O nasci-mento de uma criança transforma uma família e pode gerar um grande impacto na saúde mental dos integrantes, em especial da mãe.

A depressão pós-parto atinge mais de 25% das mães no Brasil, de acordo com pesqui-sa publicada no Journal of Affective Disorders, que ouviu cerca de 23 mil mulheres. A depres-são pós-parto não é uma condição exclusiva de mães de primeira viagem e também não tem relação com o amor da mãe por seu bebê. Para Giana Bitencourt Frizzo, pós-doutora em Psico-logia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professora do Instituto de Psicologia e de Pós-graduação em Psicologia da Universidade, é importante que a família e os profissionais de saúde estejam atentos quanto aos fatores de risco para diagnosticar e tratar o transtorno. “Se a mãe já teve episó-dios depressivos, se já teve casos de depressão pós-parto em outras gestações, se ela nunca teve episódios, mas vem de uma família onde são frequentes, são aspectos biológicos rela-cionados à depressão pós-parto. Fora isso, em termos de fatores psicológicos, deve-se pensar em como o nenê está vindo, como essa gravidez foi desejada e planejada e, principalmente, qual a aceitação dela pela mãe e pela família”, explica a professora.

De acordo com o Ministério da Saúde, a depressão pós-parto pode interferir negativa-mente no vínculo mãe-filho se não acompanha-da correta e imediatamente. Filhos de mães que têm depressão pós-parto não tratada são mais propensos a terem problemas de comporta-mento, como dificuldades para dormir e comer, crises de birra e hiperatividade. Os sintomas são semelhantes aos de depressão, sendo co-mum tristeza, alterações do apetite e do sono, falta de interesse e prazer em realizar suas ati-vidades diárias, inclusive cuidar do bebê, senti-mento de culpa sem causa aparente, irritação e cansaço. No entanto, diferente da depressão que ocorre em outros momentos da vida, a de-pressão pós-parto acontece no início da vincu-lação mãe-bebê, período importante para o de-senvolvimento da criança.

Além disso, a psicóloga afirma que a maior parte dos casos de depressão pós-par-to tende a ser leve ou moderado, e mesmo assim, já pode impactar a interação com a criança, com outros familiares e a vivência do momento da maternidade que muitas vezes é idealizado para que a mãe esteja feliz. “Des-sa forma, se ela está deprimida, sofre dupla-mente: uma porque não se sente bem e outra porque não consegue encontrar satisfação no cuidado com o filho. É importante deixar cla-ro que isso não tem a ver com o quanto essa gravidez foi desejada ou o quanto ela ama ou pode vir a amar esse bebê, realmente é um problema que acomete algumas mulheres e a gente não tem uma etiologia, uma causa clara para isso ainda”, sustenta.

Foto

: Lu

is G

usta

vo R

uwer

da

Silv

a

Page 12: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 1

2

ADDSEsse aplicativo foi criado para auxiliar no diagnóstico de depressão e na definição do risco de suicídio. Ele não substitui o julgamento clínico.Disponível para download gratuito no iTunes e na Google Play.

Fatores de RiscoHistórico de depressão pós-parto anterior.

Falta de apoio da família, parceiro e amigos.

Estresse, problemas financeiros ou familiares.

Falta de planejamento da gravidez.

Limitações físicas anteriores, durante ou após o parto.

Depressão antes ou durante a gravidez.

Depressão anterior.

Transtorno bipolar.

Histórico familiar de depressão ou outros trans-tornos mentais.

História de desordem disfórica pré-menstrual (PMDD), que é a forma grave de tensão pré--menstrual (TPM).

Violência doméstica. Fonte: Ministério da Saúde

Saú

de

Men

tal

Para Frizzo, nesse momento o apoio da família pode dar um rumo diferente para mãe. “Daqui a pouco a mãe não está bem, mas o pai está conseguindo cuidar, tem uma avó, uma babá, uma tia, outras pessoas que ajudam a cui-dar dessa criança e isso minimiza o impacto da depressão da mãe nessa criança”, completa.

Quando os cuidados de um bebê são divididos, é mais difícil de uma pessoa só ficar sobrecarregada. “Temos que bater na tecla de que as mães podem e devem contar e confiar na sua rede de apoio. O pai não é ajudante da mãe, o pai é pai da criança e deve participar dos cuidados. Tem um ditado africano que diz que nenhuma criança merece ser cuidada por um único adulto, precisa de uma tribo inteira para cuidar de uma criança.”, completa.

Drop News - Sofrimento mental(acesse aqui)

Como tratar a depressão pós-parto?(acesse aqui)

Como o Agente Comunitário da Saúde pode identificar sinais de depressão pós-parto?

(acesse aqui)

Transtornos mentais na gestação e no puerpério: (acesse aqui)

AnsiedadeEsse aplicativo visa auxiliar na avaliação e no diagnóstico de ansiedade. Ele não substitui o julgamento clínico.Disponível para download gratuito na Google Play.

Quer saber mais sobre saúde mental? Acesse:

Quer saber mais sobre depressão pós-parto? Acesse:

Quer saber mais sobre diagnóstico de depressão e ansiedade? Acesse:

Page 13: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

Entrevista

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 1

3

Sabe-se hoje que o câncer de mama, como diversos tipos de câncer, é multifatorial, e que, portanto, sua prevenção, prognóstico, tratamento e cura são variáveis. Desse modo, muitas são as ações possíveis para promoção da saúde com ou sem o diagnóstico. Além disso, há diferentes tipos de câncer de mama e entre eles, diferentes formas de evolução e tratamen-to. Esses comportamentos distintos se devem a características próprias de cada neoplasia.

Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres no Brasil e no mundo, atrás apenas do câncer de pele não melanoma, cor-respondendo a cerca de 25% dos casos novos a cada ano. No Brasil, a incidência é de 29%.

A revista Fonte TelessaúdeRS entre-vistou a médica Alice Zelmanwicz, doutora em epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com experiência na área de medicina com ênfase em Cancerologia, epidemiologia do câncer, fatores de risco, cân-cer de mama e prevenção do câncer, e o resulta-do dessa entrevista você confere abaixo.

Revista Fonte TelessaúdeRS - Sabemos que o câncer de mama é o principal tipo de câncer

em incidência no sexo feminino e tem um importante fator genético hereditário rela-

cionado. Esse aspecto genético é mais impor-tante para esse tipo de câncer do que outros?

Se sim, por quê?

Alice Zelmanwicz - O câncer de mama, como todos os outros tipos de câncer, é multifato-

rial e na maioria das vezes pode-se identificar alguns fatores de risco, mas não necessaria-

mente uma causa. As mutações genéticas relacionadas ao câncer se dividem em germina-tivas e somáticas. As germinativas são aquelas

que herdamos dos nossos pais e que podem nos conferir um “risco hereditário”. Essas

mutações podem ser encontradas em todas as nossas células. As mutações somáticas, por outro lado, são aquelas que ocorrem ao longo

da vida e estão presentes apenas naquelas células que foram atingidas pelo agente agres-

sor que causou o dano no genoma. Todos os cânceres vão apresentar um ou outro tipo de mutação ou os dois tipos. Mutações genéticas germinativas vão estar presentes em cerca de

5 a 10% de todos os tipos de cânceres. Mais

O complexo e multifatorial câncer de mama

#prevenção #tratamento

#fatoresderisco #amamentaçãoecâncerdemama

Entrevista com Alice Zelmanwicz, doutora em epidemiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Alice Zelmanwicz, doutora em epidemiologia pela UFRGS

Foto

: Arq

uiv

o P

esso

al

Page 14: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 1

4E

ntr

evis

ta de 50 síndromes genéticas hereditárias que aumentam o risco de câncer já foram descritas. E em alguns tipos de câncer conhecemos quais

são estas mutações e temos testes específi-cos para identificá-las nos indivíduos. Nesses casos, é possível estimar a probabilidade do

indivíduo vir a desenvolver algum dos cânceres associados ao longo de sua vida. A mutação

mais comum envolvida em todos os cânceres é o TP53, presente na Síndrome Li-Fraumeni

ou HNPCC (Câncer de Cólon Hereditário não associado à Polipose), que aumenta o risco de

câncer de cólon e outros cânceres também. O câncer de mama está associado a algumas síndromes e a mais conhecida é a Síndrome

do Câncer Hereditário de Mama e Ovário, em que frequentemente há uma mutação no gene BRCA1 ou BRCA2. Esta mutação também au-menta o risco de outros tipos, inclusive câncer

de mama masculino. Assim, é importante o paciente e o médico pensarem numa síndrome

genética que aumenta o risco de câncer de mama sempre que houver mais de uma pessoa

com câncer de mama na mesma geração ou em gerações consecutivas, mais de um câncer na mesma pessoa, câncer de mama na mulher

jovem ou em homens e quando alguma mulher for diagnosticada com câncer de ovário, tuba

ou peritônio.

Revista Fonte - É possível tratar o câncer de mama sem a necessidade de quimioterapia?

Em que situações?

Alice Zelmanwicz - Sim. Sempre que o câncer de mama for retirado, além do anatomopatoló-gico (avaliação macro e microscópica de células e tecidos de biópsia), um exame de imuno-his-

toquímica (método de localização de antígenos em tecidos) é realizado. Neste, várias carac-terísticas são descritas, como por exemplo, a presença de receptores de estrogênio e pro-

gesterona no tumor. Isso não quer dizer que o tumor “é hormonal”, e sim que pode ser tratado

com uma medicação que bloqueia estes re-ceptores, comprometendo o funcionamento

da célula neoplásica. Em alguns casos, apenas a cirurgia (com a radioterapia complementar se não for mastectomia radical) e o bloqueio hormonal pode ser a terapia oncológica de

escolha. Porém, não é só a expressão destes receptores que define a terapia mais adequa-

da e sim um conjunto de fatores da paciente e do tumor como idade, status de menopausa e

estadiamento.

Revista Fonte - Que terapêuticas alternativas e complementares podem ser citadas na pre-venção ou tratamento desse tipo de câncer?

Alice Zelmanwicz - Não há até o momento tra-tamentos complementares que tenham se mos-trado cientificamente relevantes para prevenir o câncer de mama. Porém, manter um estilo de

vida saudável é muito importante. Estima-se que 40% dos cânceres podem ser prevenidos

através de hábitos saudáveis. Não fumar, limitar a ingestão de bebidas alcoólicas, ter uma dieta saudável e manter o peso ideal, bem como ser ativo fisicamente e buscar a saúde emocional

são medidas que reduzem o risco de câncer de mama e de outras doenças.

Revista Fonte - Embora seja muito importan-te, o rastreamento deve seguir as orientações

do Ministério da Saúde, da OMS, a fim de evitar sobrediagnóstico e sobretratamento.

Poderia comentar sobre isso?

Alice Zelmanwicz - Várias pesquisas demons-tram que o melhor exame de rastreamento para

ao câncer de mama é a mamografia. Porém, a sua principal importância é que faz o diagnósti-

co do câncer de mama tão cedo quanto possível, precocemente. E quanto mais cedo ele é diag-

nosticado, maior é a chance de cura e a morbida-de do tratamento é menor. É muito importante salientar para as pacientes que a mamografia

não “previne” o câncer de mama como por exemplo o citopatológico de colo uterino ou a colonoscopia, que ao identificar as lesões pré-

-malignas, permite seu tratamento precoce. No entanto, uma porção das lesões identificadas na mamografia se examinadas têm alterações ana-

tomopatológicas compatíveis com câncer, nunca evoluíram para uma doença clinicamente rele-vante. A isso se chama sobrediagnóstico e esse leva ao sobretratamento. Tratamos uma altera-ção que não se traduz em algo relevante para o paciente. Esse conceito é contra intuitivo para

o câncer, já que a maioria dos cânceres diag-nosticados carregam uma carga de sofrimento

e estigma, e pensar na possibilidade de não intervir nestes casos parece que se está “per-

dendo tempo e possibilidade de cura”. As pesqui-sas demonstram que isso é possível para todos

Page 15: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 1

5

os tipos de câncer e, como câncer de mama é o mais comum na mulher, corre-se o risco de se

atingir um gravnde número de pessoas. Assim, seguir as diretrizes do Ministério da Saúde e dis-cutir os prós e contras com a paciente sempre é

a melhor conduta.

Revista Fonte - Ainda nesse sentido, sobre o autoexame, até que ponto ele é importante e necessário? Uma vez que o autoconhecimen-to da mama é muito importante na detecção

de sinais diferentes, por outro lado, pode gerar ansiedade e falsos positivos. Ainda de-

vemos aconselhar essa prática?

Alice Zelmanwicz - Todas as pessoas devem conhecer o seu corpo. E devem ser capazes de identificar o que é uma variabilidade normal ou

algo que pode ser um sinal ou um sintoma de uma doença. A mama da mulher tem um ciclo dependente dos níveis de hormônios ao longo

da vida e durante a idade fértil, ao longo do mês. Assim, variações são normais e a mulher deve reconhecê-las. Se há alguma dificuldade, deve

ser ensinada e tranquilizada. Assim, quando um nódulo ou uma alteração na pele aparecer ela vai ser capaz de identificar como anormal e procurar o sistema de saúde para investigar. A detecção precoce neste caso ajudará no trata-mento e evolução da doença. Porém, o método

de rastreamento através do autoexame da mama, como era preconizado no passado, já foi demonstrado que não tem uma relação de cus-to-efetividade favorável e não deve ser exigido

da mulher.

Revista Fonte - Qual a relação entre a ama-mentação e a redução do risco de câncer de mama? Que mecanismos estão envolvidos?

Alice Zelmanwicz - A amamentação reduz o risco de câncer de mama na mulher na pré e na pós

menopausa. E a diminuição deste risco é propor-cional ao tempo de amamentação (somando de todos os filhos). Apesar de não se ter uma evi-

dência científica definitiva sobre o mecanismo de ação, o mais aceito no momento é que o tempo

de amenorreia induzido pela amamentação causa uma diminuição de exposição aos hormônios

androgênicos endógenos, associados ao câncer de mama. Além disso, há uma descamação dos

ductos mamários durante a lactação e uma apop-tose ao final do período que eliminaria as células

que apresentassem danos no DNA.

En

trev

ista

Material de saúde - Mamografia, um exame para todas?(Clique aqui)

Posicionamento TelessaúdeRS-UFRGS sobre o Outubro Rosa: (Clique aqui)

Qual é a diferença entre rastreamento e investigação de câncer?(Clique aqui)

Quer saber mais sobre câncer de mama? Acesse:

Quer saber mais sobre rastreamento e diagnóstico de câncer de mama? Acesse:

MAMAEsse aplicativo visa auxiliar no ras-treamento e diagnóstico do câncer de mama. Ele não substitui o julga-mento clínico.Disponível para download gratuito no iTunes e na Google Play.

Page 16: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

#eventos#congressos

#savethedate

Agen

da

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 1

6

XV Encontro Nacional de Aleitamento Ma-terno (XV ENAM) e do V Encontro Nacional de Alimentação Complementar Saudável (V ENACS)

Com o objetivo de buscar uma construção conjunta de uma plataforma de ação por meio do compartilhamento de experiências entre atores comprometidos com a amamentação, o encontro abordará a a amamentação como um direito humano a ser protegido, enfatizan-do os direitos das mulheres, os direitos das crianças, o direito à alimentação saudável e a proteção legal à maternidade, entre outros temas fundamentais.

Data: 11 a 15 de novembro de 2019

Local: Centro de Convenções SulAmérica, Rio de Janeiro, RJ

Para mais informações clique aqui

I Congresso REBRATS

Como o objetivo de fortalecer a rede de Ava-liação de Tecnologias em Saúde (ATS) , o Con-

gresso REBRATS, pela primeira vez, reunirá especialistas, acadêmicos e gestores promo-

vendo conexões entre os participantes e facili-tando a troca de experiências entre eles.

Data: 1º a 4 de outubro de 2019

Local: Royal Tulip Brasília Alvorada, Brasília, DF

Para mais informações clique aqui

Outubro Novembro

2019

Page 17: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

Aleitamento materno exclusivo: desafios e possibilidades

#amamentação #mitoseverdades

#benefícios #beneficiosedesafios

#bancodeleitehumano

Por Angélica Dias PinheiroColaboraram: Giorgio Trentin, Laura Ferraz e Vanessa Muller Stürmer

Cap

an

.01

| ag

ost

o 2

01

9 |

Pág

ina

17

Nem todas as histórias sobre a materni-dade e suas implicações são belas e inspirado-ras. Tudo que permeia o processo de dar à luz um novo ser, criá-lo, alimentá-lo e educá-lo é complexo e exige energia, disposição e engaja-mento de todos os envolvidos. Uma responsa-bilidade que não é apenas da mãe nem mesmo só da família, mas de toda a sociedade.

Profissionais de saúde de todo o mundo conhecem a importância do aleitamento ma-terno exclusivo até os seis meses. Saber disso, entretanto, não basta para que a população es-teja engajada na promoção e permanência do aleitamento materno exclusivo, pelo menos até os seis meses. É preciso oferecer apoio e acolhi-mento às mulheres, bem como conscientizar a população e esses profissionais sobre a impor-tância desse tipo de aleitamento, que faz bem para saúde da mãe e da criança, reduzindo taxas de mortalidade infantil e melhora geral na saú-de de ambos.

Por isso, os profissionais de saúde, es-pecialmente da Atenção Primária, devem estar capacitados para oferecer a melhor orientação e apoio desde o pré-natal à gestante e a sua fa-mília quanto à importância do aleitamento ma-terno, as dificuldades e como transpô-las, além de desfazer crenças incorretas do leite materno e do processo de amamentação.

Benefícios são incontáveis

Um estudo recente corrobora o que já vem sendo encontrado no campo da amamen-tação. As crianças que são amamentadas por

Existem alguns consensos populares que se pro-pagam como verdade sobre a amamentação, mas que não passam de mitos. Essas crenças são muitas vezes a razão por que muitas mulheres desistem de amamentar seus filhos no peito. Algumas dessas crenças mais comuns são desmistificadas abaixo, segundo informações da Organização Mundial da Saúde e do Ministério da Saúde.

Leite fraco – Nenhum leite materno é fraco. Mesmo as mães com algum grau de desnutrição po-dem produzir um bom leite, com as características nutricionais necessárias ao bebê. O leite materno é naturalmente mais ralo que o leite de vaca, o que pode causar a impressão de que é mais fraco, mas contém todas as substâncias na quantidade certa para o bebê crescer e se desenvolver sadio.

Tamanho do seio e quantidade de leite

– O tamanho do seio se deve ao tecido gorduroso e não à glândula produtora de leite, portanto, o ta-manho é irrelevante para definir a possibilidade de amamentar.

Água para o bebê – O leite materno contém tudo o que o bebê precisa até os seis meses. Ele não precisa nem deve receber qualquer outro líquido en-quanto estiver sob aleitamento materno exclusivo.

Horário da amamentação – Não há reco-mendação de intervalos de horários específicos para a amamentação. Nos primeiros meses, o bebê ainda não tem um horário para mamar, por isso, o peito deve ser oferecido sempre que ele apresentar sinais de fome. Com o tempo, a dupla mãe-bebê es-tabelecerá seu próprio horário. Além disso, o tempo de mamada, pode variar de criança para criança. Por isso, a mãe deve continuar amamentando até o bebê perder o interesse, pois é ele quem vai determinar o tempo suficiente de cada mamada.

Foto

: Lui

s G

usta

vo R

uwer

da

Silv

a

Page 18: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 1

8

Pesquisador Cesar Victora, UFPEL

Foto

: Arq

uiv

o p

esso

al

de 100%. Há muitas barreiras a serem ainda en-frentadas, como as pressões da indústria de fór-mulas infantis, a duração da licença maternida-de, o grande número de mulheres em empregos informais onde não existe esta licença, e assim por diante. Outro desafio muito importante são os alimentos complementares ultraprocessa-dos, como as papinhas industrializadas, que po-dem conter altos níveis de açúcar, contribuindo para a epidemia de obesidade infantil.

Fonte - Ao que se deve a amamentação mais prevalente em países subdesenvolvido

e em desenvolvimento? É um fator apenas econômico ou o senhor identifica outros

fatores envolvidos?

Victora - Estamos terminando agora uma análise para a Organização Mundial da Saúde sobre o uso de fórmulas infantis em 90 países. O uso é mais frequente nos países mais ricos, e dentro de cada país é mais frequente para crianças de famílias ricas do que pobres. O uso de fórmulas está claramente afetan-do negativamente a duração do aleitamento, conforme nossas análises. Os motivos são não apenas econômicos, com as famílias pobres não tendo recursos suficientes para comprar as fórmulas industrializadas, mas também uma questão de normas sociais. Amamentar ainda é considerado em muitos países algo antiqua-do e primitivo, enquanto que as fórmulas são ligadas à modernidade. Nossas pesquisas, e de vários outros grupos, mostram que o alei-tamento também traz inúmeras vantagens

Cap

a mais tempo têm menor morbidade e mortalida-de. Para as mães, a amamentação pode ajudar a prevenir o câncer de mama e reduzir o risco da mulher desenvolver diabetes ou câncer de ovário.

O leite materno é um alimento comple-to e personalizado para o bebê, contendo tudo o que ele precisa, em um equilíbrio perfeito de gorduras, carboidratos e proteínas na medida exata para prover o crescimento saudável do bebê até os seis meses de idade. Estudos apon-tam que o leite humano é capaz de reduzir em até 13% as mortes evitáveis de crianças até os 5 anos de vida. Além disso, a criança amamentada dessa forma têm menos chances de desenvol-ver alergias e contrair infecções, pois estão for-talecidas pelo anticorpos da mãe. Dessa forma, evitam-se os problemas como diarreias, pneu-monias, otites etc.

Os benefícios do aleitamento materno exclusivo são muitos e estão bem demonstra-dos pela ciência. Alguns dos mais importantes estudos na área são do pesquisador Cesar Victora, da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), que é um dos líderes mundiais em saúde infantil, que cujos estudos definiram o rumo de políticas e campanhas mundiais sobre amamentação e nutrição materno-infantil pre-coce. A seguir você pode conferir a entrevista especial com o pesquisador.

Entrevista com Cesar Victora

Fonte TelessaúdeRS-UFRGS - Depois de tan-tos avanços e tantas evidências amplamente aceitas acerca dos benefícios e da importân-

cia da amamentação, o senhor diria que ainda estamos em um momento crítico de luta

contra o avanço das fórmulas infantis?

Victora - No caso do Brasil, tivemos um progresso impressionante na melhoria dos ín-dices de aleitamento materno. Na década de 1970, a duração mediana do aleitamento era de menos de 3 meses, e a partir do ano 2000 atin-giu cerca de 12 meses. Nenhum outro país do mundo apresentou progresso desta magnitude. Infelizmente, alguns de nossos indicadores, es-pecialmente a amamentação exclusiva (sem ou-tros alimentos) até os 6 meses ainda estão bem abaixo do ideal – temos cerca de 50% ao invés

Page 19: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 1

9

para mães e crianças ricas, como a prevenção do câncer de mama para as mães e o aumento da inteligência para as crianças, são essenciais para reverter esta noção equivocada de que amamentar é para pobres.

Fonte - Diversos estudos têm mostrado que o uso de telessaúde e ou outras tecnologias da

informação podem ser aliadas do aleitamento materno exclusivo. Como o senhor vê esse

tipo de integração?

Victora - Sem dúvida, a telessaúde e as redes sociais podem contribuir para melhorar as práticas de aleitamento, e tem agido nesse sentido em muitos países. É extremamente po-sitivo contar com o apoio do TelessaúdeRS.

Infelizmente (e esse não é o caso da Te-lessaúde) as redes sociais tem também sido utilizadas de forma negativa. Creio que o maior exemplo são as “fake news” sobre os falsos pe-rigos das vacinas. Aqui em Pelotas, já estamos observando uma queda nos níveis vacinais para crianças de famílias mais ricas, cujos pais têm mais acesso às redes sociais. Veicular informa-ções cientificamente corretas, e evitar as fake news é um grande desafio para a saúde pública no contexto atual.

Fonte - Em sua opinião, qual a responsabili-dade do pesquisador com a publicização dos

seus achados? Há um papel político envolvido no uso adequado dessas informações para

que elas cheguem adequadamente na ponta, na visão dos profissionais de saúde e mesmo

da população?

Victora - Sem dúvida, particularmente na área da saúde coletiva, a pesquisa tem um papel político importante, por exemplo ao de-nunciar o surgimento de novos problemas de saúde, ao evidenciar desigualdades sociais e geográficas ou ao avaliar programas e políticas públicas para a saúde. Nosso grupo de pesquisa inclui uma profissional de Comunicação Social em tempo integral que atua no sentido de divul-gar para a sociedade os principais resultados de nossos estudos, que podem impactar na saúde da população. A pesquisa não pode terminar na publicação de um artigo científico, muitas vezes em um periódico de língua inglesa (que é a lín-gua-franca da ciência), mas precisa ser traduzi-do para a comunidade como um todo.

Sucção natural e o desenvolvi-mento crânio-facial

O aleitamento natural possui uma rela-ção direta e importante ao trabalho muscular realizado durante a amamentação, sendo este um tópico de interesse a médicos, dentistas, fonoaudiólogos e nutricionistas. Isso porque a amamentação representa o fator inicial para o bom desenvolvimento de um equilíbrio neuro-muscular dos tecidos que envolvem o apare-lho mastigatório. Desse modo, o aleitamento materno favorece um bom desenvolvimento dentofacial, provém a obtenção de uma oclusão dentária normal e, consequentemente, masti-gação correta no futuro.

De acordo com a fonoaudióloga Mari-na Souto Dalmaso, Mestranda em Ensino da Saúde pela UFCSPA, a amamentação natural é de extrema importância nesse aspecto do de-senvolvimento infantil, uma vez que permite que a criança coordene os reflexos de sucção e deglutição com a respiração. Os cirurgiões dentistas Giorgio Trentin e Vanessa Muller Stürmer explicam como isso ocorre. Segundo Vanessa, que também é teleconsultora do Te-lessaúdeRS-UFRGS, a amamentação no pei-to é o primeiro estímulo para o crescimento mandibular, pois o recém-nascido apresenta retrognatismo (um tipo de má oclusão maxilar causada pela posição mais posterior da mandí-bula) fisiológico. O movimento de propulsão e retrusão da mandíbula, necessário à ordenha do leite, é um movimento exclusivo durante a amamentação, que permite que as articula-ções temporomandibulares recebam a correta excitação simultânea e bilateral, proporcio-nando o desenvolvimento mandibular.

Ao nascimento há uma via aérea adequa-da para a passagem de ar para os pulmões. A pas-sagem é mantida através da atividade muscular da língua, das paredes da faringe e da postura an-terior da mandíbula. A amamentação promoverá a vedação anterior do espaço oral, pois estabele-ce uma relação correta entre as estruturas duras e moles do aparelho estomagnático, permitindo uma respiração adequada, tonicidade e postura correta da língua e lábios. O vedamento para a apreensão da mama, com os lábios evertidos, es-timula a atividade dos músculos periorais. Dessa

Cap

a

Page 20: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 2

0

forma, a amamentação é uma forma de preven-ção para a síndrome do respirador bucal, favore-cendo a respiração nasal.

O padrão de sucção realizados na ama-mentação artificial pela mamadeira e a natural no peito oferecem diferentes fisiologias, uma vez que a pressão na musculatura para a sucção da mamadeira é predominante bucal, enquan-to a sucção produzida na amamentação pelo peito é realizada por um vácuo, predominante-mente torácica. Quando se faz o uso exclusivo de mamadeira em substituição ao aleitamento natural, deixa de haver o estímulo para o cres-cimento postereoanterior da mandíbula, pois para sugar o leite da mamadeira, a criança não precisa realizar o exercício muscular que leva à propulsão e retrusão da mandíbula. O bebê aprende a engolir sem sincronia com a respira-ção, tendenciando ao aparecimento da respira-ção oral.

Além disso, nos primeiros estágios de desenvolvimento da cavidade oral, o palato é ex-tremamente maleável e é suavemente modelado pela língua da criança para um formato de U. O tecido mamário é flexível e macio, possibilitando essa modelagem e o alinhamento dentário favo-rável. O bico artificial, por ter um formato pré--definido e ser mais rígido, obriga a musculatura a se adaptar ao seu formato, modificando o de-senvolvimento fisiológico oral da criança.

Dados todos os mecanismos envolvidos, se mantido até os seis meses, o aleitamento ma-terno exclusivo pode trazer diversos benefícios orais, como a preparação da musculatura para a mastigação, reforço da respiração nasal, de-senvolvimento muscular para a fonação, entre outros já citados.

Muitas benefícios permeados de muitas dificuldades

Apesar dos inúmeros benefícios e do con-senso quanto à importância de estimular, engana--se quem pensa que é fácil. Fatores do ambiente e fatores emocionais podem interferir tanto na produção de leite quanto na sensibilidade da mãe, que pode referir dor e desconforto. Entretanto, a maioria desses desafios pode ser transposto com o apoio adequado dos profissionais de saúde, da família e da sociedade como um todo.

No local de trabalho, por exemplo, é im-portante que a mulher que amamenta tenha um local adequado, bem como um tempo específico para a ordenha do leite ou amamentação após o retorno da licença maternidade. Em casa e em qualquer lugar, é fundamental que a dupla mãe--bebê tenha sossego durante a amamentação, para que possam juntos encontrar a pega corre-ta e a conexão um com outro para compreensão de suas necessidades naquele momento.

O excesso de orientações divergentes, vindas de familiares, de mídias alternativas e profissionais de saúde podem ser um fator es-tressante e conflitante no processo de ama-mentação. Por essa razão é importantíssimo que o profissional de saúde que acompanha a nutriz ofereça informação de confiança e apoio.

Banco de leite humano

Uma ferramenta de apoio à amamenta-ção é a Rede de Bancos de Leite Humano (rB-LH-BR). A iniciativa se configura como ação estratégica da Política Nacional de Aleitamento Materno. Por meio dos Bancos de Leite Huma-no (BLHs), é possível coletar, processar e dis-tribuir leite humano a bebês prematuros e de baixo peso. Além disso, no local são realizados atendimentos de orientação e apoio à amamen-tação.

Toda mulher que amamenta pode doar leite materno para atender a demanda de bebês prematuros e de baixo peso. A rede conta com mais de 200 bancos de leite por todo o Brasil, sendo a maior rede de bancos de leite humano do mundo. Ainda, o modelo brasileiro é reco-nhecido mundialmente pela tecnologia que alia baixo custo à alta qualidade, distribuindo o leite

Cap

a

Na pega adequada a boca do bebê está bem aberta, seu lábio inferior está virado para fora e o queixo tocando a mama, de

modo que a aréola é mais visível acima da boca do bebê

Foto

: Lu

ís G

ust

avo

Ru

wer

da

Silv

a

Page 21: Edição 01 | Agosto 2019 - UFRGS · n.01 | agosto 2019 | Página 6 Foto: Janice Ramm - Técnica de Enfermagem Teledermatologia: conhecimento e tecnologia a favor do usuário Catia

n.0

1 |

ago

sto

20

19

| P

ágin

a 2

1

Pergunta da Semana Telessaúders-UFRGS - Mulheres que amamentam devem fazer alguma restrição alimentar? (Clique aqui)

Webpalestra - TelessaúdeRS-UFRGS - Promovendo o Aleitamento Materno na APS(Clique aqui)

Webpalestra - TelessaúdeRS-UFRGS - Agosto Dourado: Amamentação na Prática da APS(Clique aqui)

Cap

a humano conforme as necessidades específicas de cada bebê, contribuindo para a redução da mortalidade neonatal.

No portal da rBLH-BR é possível pesqui-sar por bancos de leite pelo Brasil. Além disso, no site da rede encontram-se muitas informa-ções sobre aleitamento materno, leite humano, mitos e verdades, entre outros tópicos e mate-riais úteis tanto às mães quanto aos profissio-nais de saúde.

Opinião: o desafio da amamentaçãoPor Laura Ferraz (enfermeira, teleconsultora do TelessaúdeRS-UFRGS e consultora em amamentação)

É consenso para muitas pessoas que ama-mentar é um desafio para a mulher. Eu prefiro di-zer que amamentar é um desafio coletivo; ou, pelo menos, deveria ser! Não à toa, o tema da Semana Mundial da Amamentação em 2019 é “Empower parents, Enable breastfeeding” ou, em tradução li-vre, “Empodere os pais, Habilite a amamentação”. Empoderar os pais compreende um processo que requer informação imparcial e baseada em evidên-cias científicas e, o principal, dar apoio.

Parte-se do princípio que não há complexi-dade em amamentar, afinal mamíferos já sugam o seio materno com vigor, de forma instintiva, assim que nascem. Mas quem dá tempo para o “seruma-ninho” chegar lá?

Penso que é ainda na gestação que come-çam os desafios. Por exemplo, é mandatório que os profissionais de saúde incluam nas rotinas do pré-natal um plano para o aleitamento materno. Outro ponto fundamental é que já no momento do nascimento e, independente da via de parto, deve--se garantir que o recém-nascido vá direto para o seio da mãe aproveitando os benefícios da “golden hour”. Ou seja, são necessárias rotinas institucio-nais adaptadas e profissionais de saúde sensibiliza-dos para a importância desse momento.

Não havendo intercorrências, em 48h a 72h após o parto vem a alta da maternidade e o en-contro com o dilema: dedicação exclusiva ao “seru-maninho” 100% dependente ou dar conta de todas as outras rotinas da vida (para não dizer rotinas da casa). Com quem a mulher pode contar para poder escolher, com tranquilidade, a primeira opção?

Ainda sem ter decidido, a apojadura (prepa-

ro da mama para a produção de leite) dá sinais: que maravilha! Tem muito leite vindo por aí, mas dói, inflama e endurece as mamas, dificulta a pega do bebê. Será que alguém lembrou de dizer a ela que isso é absolutamente normal e vai passar?

Com sorte, algumas mães serão orientadas a amamentar em livre demanda, mas nem sempre elas sabem que livre demanda não significa passar o dia e a noite com o bebê no seio. Talvez, a nova mãe seja do time ao qual a orientação foi amamen-tar de “x” em “x” horas, primeiro a mama direita, até esgotar, depois a esquerda; ou, ainda, a esquerda só na próxima mamada daqui a “x” horas imprete-rivelmente.

Até chegar aqui, os artifícios já foram apre-sentados para aumentar a insegurança: o bico intermediário de silicone para facilitar a pega, a chupeta para acalmar o choro, a mamadeira com fórmula láctea artificial para garantir que o bebê não está passando fome - a mensagem subliminar de que ela não será capaz.

Na maior parte desse processo, sempre ha-verá alguém com a mulher. A amamentação está no domínio dela, mas quando parceiros(as), famílias, profissionais e instituições de saúde, locais de tra-balho, comunidades e sociedade a apoiam, as difi-culdades são superadas e a amamentação estabe-lecida com sucesso.

E aí, vamos aceitar esse desafio?

Política Nacional de Atenção Integral à saúde da Criança (PNAISC) 2018(Clique aqui)

Material de saúde - Amamentação quando as condições de saúde da mãe ou do bebê contraindicam o leite materno(Clique aqui)

Quer saber mais sobre amamentação? Acesse: